Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
MICHEL FOUCAULT:
reflexões acerca dos saberes
e dos sujeitos
Universidade do Estado do Rio Grande do Norte
Reitor
Pedro Fernandes Ribeiro Neto
Vice-Reitor
Fátima Raquel Rosado Morais
Diretora de Sistema Integrado de Bibliotecas
Jocelânia Marinho Maia de Oliveira
Chefe da Editora Universitária – EDUERN
Anairam de Medeiros e Silva
Capa:
Aryanne Sérgia Queiroz de Oliveira
Diagramação:
Lívia Brenda da Silva Barbosa
Lucas Súllivam Marques Leite
Revisão:
Aryanne Sérgia Queiroz de Oliveira
254p.
ISBN: 978-85-7621-241-6
PREFÁCIO_____________________________________________________7
APRESENTAÇÃO______________________________________________10
6. FOUCAULT E MARX:
entre a utopia e a heterotopia____________________________________138
Maria Veralúcia Pessoa Porto
Telmir de Souza Soares
2. FOUCAULT E A SEXUALIDADE:
Gênero, performance e tecnocorpo________________________________177
Lore Fortes
Kelvis Leandro do Nascimento
Ribamar José de Oliveira Júnior
103
Professora Adjunta IV, da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, Campus de Mossoró, R.N,
Mestre em Filosofia Prática por intermédio da Universidade do Estadual do Ceará - UECE, Doutora em
Filosofia Prática na Universidade Federal da Paraíba com bolsa sanduíche pela CAPES/CNPQ na
Universidade Católica de Louvain (UCL) - Louvain-La-Neuve, Bélgica
(veraluciapessoaporto@gmail.com).
104
Professor Adjunto IV, da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, Campus de Mossoró, R.N,
Mestre em Filosofia Prática por intermédio da Universidade do Estadual do Ceará - UECE, Doutor em
Filosofia Prática na Universidade Federal da Paraíba com bolsa sanduíche pela CAPES/CNPQ na
Universidade Católica de Louvain (UCL) - Louvain-La-Neuve, Bélgica (telmir@gmail.com).
Face a tal disposição dicotômica do espaço e aos limites a eles impostos, uma
concepção utópica, ou seja, de deslocamento dos lugares possíveis para um ainda não
lugar desejado e querido, até que fazia algum sentido. Em lugar de um espaço de
[...] O homem não está nunca satisfeito com seu trabalho, nem com
suas técnicas, nem com seus equipamentos. Procura continuamente
melhorar seus automóveis, seus aviões, seus mísseis e a forma de
produzi-los. Em todos os aspectos da tecnologia, o homem procura
incessantemente superar a si mesmo, alcançar novas metas. Procurar
superar os limites do tempo e da matéria, produzindo máquinas e
Jacques Bidet, na introdução do seu livro Foucault avec Marx, nos propõe a 146
seguinte e inquietante interrogação: “Porque e como reunir Marx e Foucault?”. Segundo
Bidet, esses dois filósofos podem ser associados, tendo em vista a contribuição dos
mesmos para uma investigação mais concreta da realidade histórica. Nesse sentido, ele
afirma como seu propósito: “[...] procurarei estabelecer sob quais condições Marx e
Foucault podem colaborar de maneira rigorosa, por oposição a todo tipo de
arranjamento eclético” (2014, p. 09). A proposta de Bidet mostra uma conciliação
possível entre os pensamentos dos dois pensadores, muito embora, reconheça ele, essa
relação não se faz sem sobras, à medida em que a obra de Foucault ultrapassa o projeto
de Marx e vice-versa (2014, p. 09).
Em Microfísica do poder, por exemplo, em entrevista à Magazine Littéraire,
Foucault é inquirido sobre sua relação com o marxismo, nos seguintes termos: “Em
relação a Marx e ao marxismo você parece manter uma certa distância [...]”, ao que ele
responde da seguinte forma:
Assim, no que diz respeito à Marx, não se trata de considerar que o Marx que
trata dos problemas da alienação e o Marx que aspira um socialismo científico são
controversos ao ponto de um eliminar o outro. Tal situação considerada por Mészáros
aponta para questões outras que, para além das teorias do pensador alemão, estão
envolvidas na teia de relações que envolvem os intérpretes de Marx. Ora, afirma o
pesquisador do pensamento marxiano, essas interpretações diferentes pertenciam a
pessoas de campos politicamente opostos, o que significa e apresenta indícios daquilo
que Foucault expõe na analítica do poder e, mais especificamente, no âmbito das teorias
da sociedade de tradição marxista.
Desse modo, a agonística presente nas relações de poder, essas relações de
antagonismos existentes na existência, vão se tornando aos poucos mais claras. O que
estava camuflado e pouco aparente se torna visível a partir dos interesses, das
dissociações, das lutas que se estabelecem entre indivíduos e grupos, algo que não está
ausente no campo do discurso teórico, que compreende macroestruturas de forma
dualista e, por outro lado, despreza essa microfísica do poder.
Tal perspectiva permite ao pensador francês ir além das concepções receptas do
marxismo. Ele considera, a partir de Marx e mesmo contra o pensamento deste, que,
O marxismo pode não ter explorado os enlaces das relações de força e poder
149
como um processo de subjetivação do indivíduo, mas é inegável que permite
diagnosticar o presente, de modo a perceber que o homem, em sua história, vive uma
agonística nas relações de poder. Contudo, não se trata de enaltecer, nessas relações,
traços angustiantes ou uma perspectiva existencial que abstraia o homem do seu entorno
e do seu lugar de classe ao nível de uma consciência desconectada da realidade
histórica. Nem, por outro lado, acolher e consolar o indivíduo situado em completo
enigma e escuridão diante do mundo e da vida, de modo a se apresentar como que
condenado ao fracasso. Em meio a essa diferença é que podemos ver o próprio da noção
de heterotopia em Foucault e da relação e, por que não dizer, diferença desta com a
noção de utopia:
Há igualmente, e isso provavelmente em qualquer cultura, em qualquer
civilização, lugares reais, lugares efetivos, lugares que são delineados na própria
instituição da sociedade, e que são espécies de contraposicionamentos, espécies de
utopias efetivamente realizadas nas quais os posicionamentos reais, todos os outros
posicionamentos reais que se podem encontrar no interior da cultura estão ao mesmo
tempo representados, contestados e invertidos, espécies de lugares que estão fora de
todos os lugares, embora eles sejam efetivamente localizáveis. Esses lugares, por serem
absolutamente diferentes de todos os posicionamentos que eles refletem e dos quais eles
falam, eu os chamarei, em oposição às utopias, de heterotopias; e acredito que entre as
utopias e estes posicionamentos absolutamente outros, as heterotopias, haveria, sem
dúvida, uma espécie de experiência mista, mediana, que seria o espelho. O espelho,
afinal, é uma utopia, pois é um lugar sem lugar. No espelho, eu me vejo lá onde não
estou, em um espaço irreal que se abre virtualmente atrás da superfície, eu estou lá
longe, lá onde não estou, uma espécie de sombra que me dá a mim mesmo minha
própria visibilidade, que me permite me olhar lá onde estou ausente: utopia do espelho.
Mas é igualmente uma heterotopia [...] (FOUCAULT, 2013, p. 415).
Conclusão
Referências
BIDET, Jacques. Foucault avec Marx. Paris: Difusion - Les Belles Letres, 2014.
______. Microfísica do poder (1979). Rio de Janeiro: Edições Graal, 1979. Tradução
de Roberto Machado.
______. Estética: literatura e pintura, música e cinema. Ditos e EscritosVol III. Rio de
Janeiro: Forense Universitária, 2013. Organização e seleção de textos Manoel Barros da
Motta, tradução Inês Autran.
MOUREAU, Pierre-François. Sur les Dits et écrits. In: BRUGÈRE, Fabienne; GROS,
Frédéric; MARINO, Adolfo et alli. Lectures de Michel Foucault Vol. 3: sur les Dits et
écrits. Lyon: ENS Éditions, 2003.