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Recebido:

21/08/2018
Aprovado:
08/01/2019

A Importância de Incentivos Governamentais para Aumentar o Uso da Energia Solar

The Importance of Governmental Incentives to Increase the Use of Solar Energy

Monise Fernanda Maciel Melin1- Universidade Federal do Triângulo Mineiro


Flávia de Castro Camioto2- Universidade Federal do Triângulo Mineiro

RESUMO
A produção de energia renovável vem crescendo em todo o planeta tendo como um dos Editor Responsável: Prof.
objetivos atender a demanda crescente da população e cumprir o compromisso firmado
Dr. Hermes Moretti Ribeiro da
na 21ª Conferência das Partes. Nesta, os países se comprometeram a reduzir a emissão
de gases do efeito estufa, causada por fontes tradicionais como a queima do carvão, e Silva
assim manter a temperatura média global inferior a 2ºC. Diante desse cenário, a energia
solar tem obtido grande foco por ser uma energia limpa, abundante e pouco explorada
em todo o planeta. O Brasil recebe irradiação suficiente para atender toda a demanda do
país somente com esta fonte, mas devido ao investimento inicial, não tem atraído a
população a instalar os sistemas fotovoltaicos. Logo, o trabalho discutiu a importância
dos incentivos governamentais para que haja um aumento efetivo da produção de energia
solar fotovoltaica no Brasil. Para isso, países líderes nesta geração, como China, Japão,
Alemanha e Estados Unidos foram estudados, observando o crescimento antes e depois
das políticas implementadas, suas premissas e resultados, a fim de comparar com o que
vem sendo feito no Brasil, um país com grande potencial de geração, mas que possui
apenas 0,02% de sua energia produzida desta fonte. Averiguou-se que os incentivos
aplicados atualmente no Brasil são de âmbito fiscal, e pouco se investiu em políticas de
compra de energia ou mesmo subsídios efetivos para instigar a população, resultando no
baixo crescimento de geração solar anual comparado aos países analisados.
Palavras-chave: Energia Solar. Incentivos Governamentais. Sistemas Fotovoltaicos.
Compra de Energia. FiT. RPS.

ABSTRACT
Renewable energy production is growing across the globe to meet the growing demand of
the population and to fulfill the commitment made at the 21st Conference of the Parties,
where countries pledged to reduce the emission of greenhouse gases caused by traditional
sources, such as the burning of coal, and thus keep the average global temperature rise
below 2 ° C. Faced with this scenario, solar energy has received major attention, being a
clean, abundant and little exploited energy on the planet. Brazil receives sufficient
irradiation (sunlight) to meet all the country's demand using only this source, but due to
the initial investment, it has not attracted the public to install the photovoltaic systems.
Therefore, this work discussed the importance of government incentives for an effective
increase in the production of photovoltaic solar energy in Brazil. To this end, leading
countries in the use of solar energy , such as China, Japan, Germany and the United States,
were studied, and the growth before and after the policies implemented as well as their
premises and results were observed, in order to compare with what has been done in
Brazil, a country with great potential for solar generation, but that uses only 0.02% of its
energy produced from this source. It was found that the incentives currently applied in
Brazil are fiscal, and little was invested in energy purchase policies or even effective
subsidies to incentivize public use, resulting in low annual solar generation growth
compared to the countries analyzed.
Keywords: Solar energy. Government Incentives. Photovoltaic systems. Purchase of
Energy. FiT. RPS.
1. monise.melin@gmail.com; 2. R. Frei Paulino, 30 - Nossa Sra. da Abadia, Uberaba - MG, 38025-180, flaviacamioto@yahoo.com.br
MELIN, M.F.M.; CAMIOTO, F.C. A Importância de Incentivos Governamentais para Aumentar o Uso da Energia Solar. GEPROS.
Gestão da Produção, Operações e Sistemas, v. 14, n. 5, p. 89 - 108, 2019.

GEPROS. Gestão da Produção, Operações


GEPROS. e Sistemas,
Gestão Bauru,
da Produção, Ano 14,enºSistemas,
Operações 4, out-dez/2018,
v. 14, nº p. p. 89 – 108, 2019.
5, 1-23.
DOI: 10.15675/gepros.v13i4.1965
A Importância de Incentivos Governamentais para Aumentar o Uso
da Energia Solar

1. INTRODUÇÃO

Após a Revolução Industrial, a evolução da tecnologia proporcionou grande aumento


no uso de energia, resultando no aprimoramento da qualidade de vida nos países em
desenvolvimento (GOLDEMBERG; VILLANUEVA, 2003). O uso de energia no planeta
tornou-se uma preocupação constante, pois a escassez de terras, a necessidade de serviços
ecossistêmicos e as demandas de geração de energia aumentam concomitantemente a nível
mundial.
A energia solar é uma fonte promissora de fornecimento de energia eficiente, confiável
e facilmente acessível que pode solucionar essa necessidade. Porém, está atrelada a
variabilidade da radiação solar presente em sua superfície, além de sua topografia, clima e
geografia, que é um dos principais obstáculos a adoção de energia solar, junto com a dificuldade
de prever sua disponibilidade (ALMARAASHI, 2017).
A Terra recebe, anualmente, energia solar equivalente a 10 mil vezes o consumo mundial
de energia no mesmo período. Esta energia pode ser utilizada como fonte de energia térmica ou
ser convertida diretamente em energia elétrica. No Brasil sua maior incidência é no Nordeste,
porém tem grande potencial em todo o país, que chega a 50 mil vezes o consumo nacional anual
de energia (WANDERLEY; CAMPOS, 2013).
O uso de energia solar traz muitos benefícios, pois é uma fonte ilimitada de energia, está
presente em todo o mundo, não produz ruídos ou gases, tem baixo impacto ambiental, seus
módulos duram em torno de 30 anos, exigem manutenção mínima e ao final podem ser
reciclados. Além disso, a potência instalada pode ser aumentada a qualquer hora, apenas
incorporando módulos (WANDERLEY; CAMPOS, 2013).
Atualmente, existem muitos estudos sobre energia solar, mas seu maior foco é na
geração fotovoltaica. O uso da energia fotovoltaica, além de contribuir para reduções
significativas das emissões de gases de efeito estufa, proporcionará benefícios substanciais na
segurança da disponibilidade energética e no desenvolvimento econômico (IEA, 2010). Torani,
Rausser e Zilberman (2016) concluíram em sua pesquisa que a capacidade instalada dos
sistemas fotovoltaicos solares aumentou 60% no mundo nos últimos cinco anos, devido a
incentivos políticos para adoção destes sistemas.

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No Brasil, em 2017, a Comissão de Finanças e Tributação aprovou o projeto de Lei


8322/14, do Senado, que isenta do imposto sobre importação os equipamentos e componentes
de geração elétrica de fonte solar. Porém, pela proposta, a isenção somente será aplicada quando
não houver similar nacional, o que ainda acarretará pouca competitividade neste setor.
Diante deste contexto, o presente estudo busca contribuir com a seguinte pergunta de
pesquisa: Qual a importância dos incentivos públicos para incrementar o uso de energia solar
nos países? Para isso, o presente trabalho apresenta como principal objetivo analisar estudos de
casos do Brasil e dos países com maior potencial de produção de energia solar, em que
incentivos foram aplicados.

2. REFERENCIAL TEÓRICO
A energia solar consiste na luz e calor provenientes do sol, que chega em forma de
irradiação solar e pode ser utilizada diretamente como fonte de energia térmica para
aquecimento de fluidos e geração de energia por sistemas solares, além de poder ser convertida
diretamente em energia elétrica pelo uso de determinados materiais que causam o efeito
fotovoltaico (ANELL, 2003).
O aquecimento solar da água possui um enorme potencial na economia de energia.
Representa uma tecnologia ambiental que utiliza fontes limpas, abundantes e renováveis. O
funcionamento do sistema consiste em um dispositivo que capta o calor por meio de coletores
solares instalados em telhados. Dentro dos coletores existem tubos por onde circula a água que
é aquecida e depois armazenada em um reservatório. O objetivo desses sistemas é aquecer a
água utilizando diretamente o calor do sol, de forma simples, limpa e eficiente, poupando outros
recursos como o gás natural, o carvão e a energia elétrica (VILLALVA; GAZOLI, 2012).
Segundo as pesquisas realizadas por Medeiros et al. (2014) estima-se que 25% do total de
energia elétrica consumida nas residências brasileiras é usada no aquecimento de água, o que
torna a implementação desse sistema economicamente viável, reduz a necessidade de
construção de obras de geração para suprir o aumento do consumo da energia elétrica e traz
impactos ambientais benéficos com a diversificação da matriz energética.
O calor solar também pode ser empregado com a finalidade de produzir energia elétrica,
a partir de sistemas termo solares, que também podem ser considerados um tipo de energia solar
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térmica, porém com o propósito de gerar energia elétrica. Também conhecida como usinas
térmicas, o sistema consiste na captação e concentração do calor do sol para aquecer o fluido,
que é transportado até uma central geradora, onde é empregado para produzir vapor e acionar
uma turbina acoplada a um gerador elétrico. Este é o tipo menos difundido de energia solar
devido a sua complexidade e alto custo (VILLALVA; GAZOLI, 2012).
Outra forma de transformação da energia solar em energia elétrica é pelo efeito
fotovoltaico. Este fenômeno ocorre quando a luz ou radiação eletromagnética do sol incide
sobre uma célula composta de materiais semicondutores (ANEEL, 2003). Estas células são
constituídas por duas camadas de material semicondutor, uma do tipo P e outra N, que geram
uma diferença de concentração de elétrons, proporcionando uma barreira potencial no interior
da estrutura da célula. Em circuito fechado, a barreira produzirá a formação da corrente elétrica.
Atualmente, existem diversas tecnologias para a fabricação de células fotovoltaicas, sendo as
mais comuns de silício monocristalino, silício policristalino e silício de filme fino, pois é um
material abundante e barato. Várias células fotovoltaicas são agrupadas com outros elementos
em série para formar painéis ou módulos e assim criar tensões mais elevadas (VILLALVA;
GAZOLI, 2012).
Os módulos podem ser utilizados em dois tipos de sistema. O primeiro se trata de
sistemas fotovoltaicos autônomos, também chamados Off-Grid, que são comumente utilizados
em locais não atendidos pela rede elétrica. É composto por um ou vários módulos conectados,
um controlador de carga, que tem a função de controlar a vida útil da bateria; uma bateria, que
armazena a energia produzida para quanto for necessária; e um inversor de corrente contínua
para alternada. No segundo caso são sistemas fotovoltaicos conectados à rede elétrica, On-Grid,
com o objetivo de gerar eletricidade para o consumo local e mandar para a rede o excedente
produzido. Estes sistemas podem ser instalados em usinas, indústrias, comércios e residências.
O sistema On-Grid consiste em módulos fotovoltaicos, inversor especial para conexão com a
rede, quadros elétricos e um medidor de energia. A eletricidade gerada é consumida no local
ou enviada a rede para gerar créditos, o que explica a falta do uso das baterias (PALZ, 2002).
Considerando este contexto, vale analisar como a energia solar vem sendo adotada no
planeta. A Figura 1 ilustra a capacidade da geração fotovoltaica dos principais países, na qual
pode-se observar que atualmente, a China é o país que possui a maior potência instalada de
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sistemas fotovoltaicos no mundo, seguida pelos Estados Unidos, Japão, Alemanha, Itália,
Espanha e Índia que também possuem capacidades instaladas significativas, segundo o MME
(2016). Estes países tradicionalmente utilizam fontes energéticas poluidoras, como as
termoelétricas, e não seguras, como a nuclear. Diante do problema ambiental gerado por tais
fontes, o uso de tecnologias mais caras começou a se tornar importante para a diversificação da
matriz energética (MME, 2009).

Figura 1 - Geração de energia de fonte solar fotovoltaica por país

Outros
China
22%
Índia 34%
5%
Ítalia
5%
EUA Japão
11% Alemanha 12%
11%

China Japão Alemanha EUA Ítalia Índia Outros

Fonte: Renewable Capacity Statistics (2018).

Os panoramas atuais de utilização de energia solar fotovoltaica foram estimulados por


políticas governamentais, que fomentaram a diversificação de fontes de energia
tradicionalmente utilizadas, buscando adotar um modelo energético sustentável, promovendo
incentivos a indústria e barateando a tecnologia. Estes incentivos foram baseados em
empréstimos para a instalação de sistemas conectados à rede, um sistema de preços que pagava
tarifas superiores à da concessionária por toda energia fornecida, conhecidas como tarifas feed-
in, além de incentivos de descontos, redução de impostos e subsídios, dependendo do país em
que foi introduzido (GOMES; JANUZZI; VARELLA, 2009).
O Brasil, diferente dos países citados que possuem poucas alternativas renováveis para
produção energética, tem sua maior parte oriunda de usinas hidrelétricas, eólica e de biomassa,
que apresentam custos inferiores a energia solar produzida por painéis fotovoltaicos. Portanto,

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atualmente, os sistemas solares não possuem o incentivo governamental necessário para


competir com os países citados (CABELLO; POWPERMAYER, 2013). Porém, o Brasil possui
grande potencial de irradiação solar, que representa duas vezes o potencial da Alemanha, além
de uma das maiores reservas de quartzo para produção de silício, principal matéria prima das
placas fotovoltaicas, o que poderia gerar ganhos consideráveis para a redução de preços
(GOMES; JANNUZZI; VARELLA, 2009).

3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
3.1 Objeto de estudo
A produção de energia solar vem sendo alvo de pesquisas em todo planeta. Pensando
nisso, o estudo buscou discutir a importância de incentivos governamentais para a adoção de
energia solar, por meio da análise de estudos de casos do Brasil e do mundo. Para que tais
políticas públicas pudessem inspirar o Brasil neste sentido, foi realizada uma análise de
informações sobre os incentivos utilizados nos quatro países com maior capacidade de energia
solar fotovoltaica.

3.2 Procedimentos de coleta de dados


Por meio do relatório Renewable Capacity Statistic (2017) disponibilizado pela Agência
Internacional para as Energias Renováveis (IRENA), foram encontrados os países com maior
capacidade de energia solar fotovoltaica e seu crescimento nos últimos dez anos, sendo eles:
China, Japão Alemanha e Estados Unidos. Diante destes dados, pesquisou-se artigos e sites
governamentais quais foram as políticas públicas aplicadas durante este período nos quatro
países com maior capacidade instalada, além do Brasil.

3.3 Procedimentos de análise de dados


A partir dos dados coletados, explorou-se como as contribuições governamentais
auxiliaram para o crescimento da adoção desta energia, confrontando estes incentivos com o
crescimento real de capacidade em tais países. Para compara-las, foi criada uma tabela,
mostrando as principais políticas de incentivo dos países estudados, e assim comparadas ao

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Brasil, revelando o que já está sendo feito e como ainda se deve melhorar para que o
crescimento desta energia seja significativo nos próximos anos.

4. RESULTADOS
Para encontrar os incentivos governamentais que tornaram alguns países líderes em
potência instalada para a produção de energia solar fotovoltaica, foram analisados dados dos
últimos dez anos (Figura 2), que demonstram a evolução de instalação nestes países. China,
Japão, Alemanha e Estados Unidos juntos somaram, em 2017, 68% da capacidade mundial.

Figura 2 - Capacidade de energia solar fotovoltaica instalada

Fonte: IRENA (2018).


A seguir são apresentados os cenários para a energia solar nesses quatro países.

4.1 China
Nos últimos anos, expandir a quota de energias renováveis é um dos principais pilares
na China. Com isso, o país necessita de fontes alternativas de energia para atender sua demanda
interna, com uma geração que traga menos impactos ambientais que a tradicional queima de
carvão no país (YUAN; JIAN; MA, 2011). Em 2009, na Conferência das Nações Unidas sobre
Mudança Climática em Copenhague, a China prometeu reduzir a quantidade de emissões de
dióxido de carbono (CO2) emitida por unidade de PIB de 40 a 45% até 2020, com base nos
níveis de 2005, e aumentar sua quantidade de fontes não fósseis de energia a 15% de sua energia
primária - até o ano de 2009 significava apenas 9,9% (YUAN; JIAN; MA, 2011).

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Para atingir estes resultados, a China criou a Lei das Energias Renováveis, que tem o
objetivo aumentar o fornecimento de energia para áreas distantes, promover o desenvolvimento
e a utilização de energias renováveis, melhorar a estrutura, garantir a segurança energética,
proteger o ambiente e tornar o desenvolvimento economicamente e socialmente sustentável,
tratando sua implementação como prioritária para o desenvolvimento energético do país. Para
isso, o país criou quatro mecanismos chaves (SCHUMAN; LIN, 2012):
a) Planejamento do desenvolvimento e utilização de energia.
b) Política de conexão e compra obrigatória, na qual as empresas que fornecem energia
devem assinar um contrato com geradores de eletricidade em sua jurisdição e comprar toda a
eletricidade gerada por fontes renováveis e fornecer serviços de conexão de rede.
c) Preço da eletricidade para redes renováveis, semelhante a um sistema tarifário feed-
in, que paga aos geradores de eletricidade renovável um montante adicional fixo por cada
quilowatt-hora de eletricidade gerada, acima do preço da energia de fontes não renováveis.
d) Mecanismo de partilha de custos, financiado por uma sobretaxa na eletricidade
vendida, para pagar tarifas feed-in (FIT), com o Fundo Especial de Desenvolvimento de Energia
Renovável, que também custeia atividades em pesquisa e desenvolvimento (P&D) de
tecnologias para baratear a implementação destas fontes, incluindo projetos piloto e avaliação
de recursos, além de subsídios para sua implementação em áreas rurais.
Em 2010 a lei incluiu algumas mudanças: metas de geração por jurisdição, maior
supervisão do governo no planejamento e desenvolvimento e a aceleração de pagamentos das
tarifas para incentivar novas instalações. Além das FIT, que equivalem a $0,17/kWh para a
energia gerada por fonte solar fotovoltaica, o governo criou os programas de subsídios
chamados Golden Sun e Buinding, que fornecem subsídios de até 50% do custo de instalação
de sistemas fotovoltaicos conectados à rede e 70% do custo de instalação para sistemas
independentes rurais (SCHUMAN; LIN, 2012).
Anos após a aplicação da Lei das Energias Renováveis e dos programas de subsídios,
podemos verificar os grandes avanços que a China alcançou no aumento da capacidade de
energia solar fotovoltaica instalada no país, em que nos últimos dez anos essa potência passou
de 113 MW no ano de 2008 para 130.632 MW no ano de 2017, evidenciando a importância de
tais medidas governamentais e tornando o país líder em produção de energia solar. Para chegar
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a esse resultado, houve instalações de painéis fotovoltaicos em casas, prédios, empresas e em


grandes instalações conhecidas como fazendas de energia solar.

4.2 Japão
Atualmente o Japão é um dos destaques no crescimento de produção de energia por
fontes renováveis no mundo, em especial a fotovoltaica. Até o ano de 2011 poucos incentivos
governamentais eram implementados para estimular esse crescimento, sendo um deles o
programa FiT, que até então restringia a compra de energia para sistemas com capacidade
máxima menor que 500 kW (OGIMOTO et al,2013). Este quadro começou a se modificar em
2011, quando o país passou por um terremoto causando falhas na usina nuclear de Fukushima
e um grande apagão na região, fazendo com que o governo criasse medidas fundamentais para
modificar o cenário energético. As principais medidas foram (OGIMOTO et al,2013):
a) Programa de compra excedente PV Power: exige que concessionárias de energia
comprem o excedente produzido por fontes renováveis.
b) Reformulação do programa FiT: garante a compra da energia nos próximos 10 anos
pelo valor de $0,36/kWh para sistemas fotovoltaicos com capacidades superiores a 10 kW e
$0,38/kWh para os demais.
c) Programa de subsídios para compra de equipamentos: governo fornece $ 392/kW
para um sistema fotovoltaico com menos de 10 kW de capacidade instalada.
d) Foco no desenvolvimento de equipamentos fotovoltaicos, incluindo estudos sobre
comportamento da rede no caso de sobrecarga.
e) Criação de usinas fotovoltaicas de larga escala (capacidades superiores a 46 MW).
f) Instalação de sistemas fotovoltaicos em escolas e outras repartições públicas que
podem ser usadas como abrigo em situações de emergência.
Além da capacidade instalada que saltou de 5 GW para 48 GW apenas no setor
fotovoltaico, as medidas implementadas trouxeram nos últimos anos muitos benefícios ao país.
Diversas oportunidades de negócios em atividades locais foram criadas, tornando terras ociosas
em grandes usinas de produção de energia e trazendo um grande desenvolvimento financeiro,
conseguindo diversificar as fontes de energia e combater o aquecimento global.

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4.3 Alemanha
A Alemanha foi o primeiro país a produzir energia fotovoltaica em larga escala. Nos
anos 2000, o país iniciou uma transformação orientada a uma política verde, conhecida como
“Energiwende”, que envolve uma remodelagem energética, eliminação da produção de energia
nuclear até 2022 e redução de energia por queima de carvão, principal fonte energética até a
data. Para isso, a Alemanha implementou a Lei das Fontes Renováveis de Energia (EEG). Os
objetivos principais desse plano são (PEGELS; LUTKENHORST, 2014):
a) Desenvolvimento sustentável do fornecimento de energia;
b) Proteger o clima e meio ambiente;
c) Reduzir custos do fornecimento e energia para a economia nacional;
d) Desenvolvimento de tecnologias para geração de eletricidade a partir de fontes
renováveis.
Assim, o governo implementou a política FiT que garante a compra de energia advinda
de fontes renováveis por um período de 20 anos, sendo essas tarifas reajustadas a cada três ou
quatro anos para incentivar a competividade com outras fontes de geração. Em 2015 o valor era
de $ 7,16cota/kWh e deve chegar a $ 8,39 cota/kWh até 2023, e reduzida gradualmente após a
data, quando, segundo estimativas, 60% da energia do país adivir de energia renovável
(PESCIA; GRAICHEN, 2015). A política FiT é reconhecida como referência e se tornou
inspiração para mais de 50 países que a replicaram para uma concepção eficaz de políticas de
apoio às energias renováveis (PEGELS; LUTKENHORST, 2014).
Entre 2000 à 2014 o país investiu mais de 220 bilhões de euros em todas as áreas para
o desenvolvimento das energias renováveis, sendo estimado para próxima década 15 bilhões de
euros por ano. Em 2015 as leis de energia renovável começaram a ser modificadas, para se
atualizar a nova realidade energética do país, conhecida como EEG 2.0. Nesta nova fase o
objetivo é implementar um processo competitivo de fixação de tarifas FiT por meio de leilões
de energia, que possa garantir aos geradores um maior rendimento financeiro, tornando a
energia renovável mais vantajosa a cada ano (PESCIA; GRAICHEN, 2015).
Conhecida por muitos anos como maior produtora de energia fotovoltaica devido a sua
grande capacidade instalada, é possível analisar na Alemanha, além dos incentivos

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governamentais e aumento da capacidade instalada, os benefícios vistos em ampla escala após


estes anos, como (PEGELS; LUTKENHORST, 2014):
a) Transformação de energia ‘Energiwende” que colocou a Alemanha entre os países
mais ambiciosos do mundo na transição para a energia sustentável.
b) Estabilidade devido ao longo período do plano, proporcionando um ambiente de
investimento estável e a prontidão do mercado para financiar os projetos com baixas taxas.
c) Grande avanço tecnologico que foi capaz de reduzir os custos dos equipamentos em
60%, viabilizando a instalação em novos locais.
d) Criação de empresas renováveis de classes mundiais, pioneiras no mercado.
e) Diversificação energética nacional: reduzir emissão de gases e custo da energia.

4.4 Estados Unidos


Nos EUA a energia é regulada em nível estadual ou regional, que ocasiona políticas
distintas pelo país. Muitos estados têm implementado políticas na última década, sendo a mais
comum a Renewable portfolio standards (RPS), que se trata de um regulamento que exige que
de toda a energia fornecida por empresas de eletricidade, uma fração seja de energia renovável.
Para verificar o cumprimento da norma, criou-se os Certificados de Energia Renovável Solar
(SREC), que oferece aos geradores de energia certificados para cada unidade de eletricidade
produzida, sendo cada unidade equivalente a 1 MWh, e estes então são vendidos em conjunto
com a energia para as empresas fornecedoras (BURNS; KANG, 2012).
Outra distinção são as tarifas FiT, que enquanto fizeram muito sucesso na Europa e Ásia,
foi substituida pelo RPS no país, pois segundo seus defensores, permite uma maior competição
de preços entre diferentes tipos de energia renovável, resultando em maior competição,
eficiência e inovação no setor. Além da RPS, existem outras políticas no país, como (BURNS;
KANG, 2012):
a) Créditos fiscais ou Crédito Fiscal Residencial de Energia Renovável: âmbito federal
e proporciona que instalações de energia solar tenham crédito de 30% de seu custo, e não precisa
ser reembolsavel. Este subsidio inclui o equipamento, preparação do local, montagem, custos
de mão de obra e toda fiação necessária.
b) Descontos em dinheiro: plicado em muitos estados, o incentivo paga um valor em
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abatimentos na conta de acordo com a capacidade de energia solar instalada.


c) Medição de internet: medição da energia que é gerada, e a consumida pela residencia,
sendo a geração abatida na fatura mensal e acumulada como saldo positivo em caso da produção
ser maior que o consumo. Os estados diferem quanto a tarifa a ser paga.
Diante destes mecanismos de apoio, verificou-se que a força de cada política nos estados
varia de acordo com o preço da energia elétrica. Em locais com o preço maior, os equipamentos
residenciais são uma boa escolha, pois a população se sente incentivada por ele e precisa de
poucos incentivos para aderir a esta instalação, já em locais com a energia barata, incentivos
maiores são necessários para atrair a população. Os incentivos têm resultado em um bom
crescimento (de 40 GW) de capacidade instalada de geração de energia fotovoltaica.
Em 2009 o governo americano investiu $90 bilhões em energia limpa para atender todas
as cadeias de valor, financiando pesquisas de equipamentos de energias renováveis, como
baterias, veículos avançados, sequestro de carbono e diversas tecnologias para aumentar a
eficiência energética. Este investimento estimulou as empresas a investirem no setor,
fomentando ainda mais o crescimento da energia solar, como (THE WHITE HOUSE, 2016):
a) Criação de novos empregos: com o investimento do governo foi possível financiar
cerca de 180 projetos de manufatura e criar 900.000 anos-trabalho no país.
b) Aumento da geração de energia renovável: investimentos e créditos fiscais estimulou
a implementação de 100 mil projetos de geração de energia limpa.
c) Redução de custos: o investimento em pesquisa e tecnologia, tornou a energia
renovável competitiva comparada as fontes fósseis, chegando a redução de 60% para os
equipamentos de energia solar fotovoltaica.
d) Modernização da rede: instalou 16 milhões de medidores inteligentes até 2016.

4.5 Brasil
Nos últimos anos as mudanças climáticas têm preocupado todo o planeta. Buscando
soluções, dirigentes de todo mundo se reuniram na 21ª Conferência das partes (COP 21) em
Paris no ano de 2015, e firmaram o compromisso de manter o aumento da temperatura média
global inferior a 2ºC. Para isso, a redução dos gases que promovem o efeito estufa é essencial,
e cada país criou suas próprias metas para contribuir com o resultado global. O Brasil, após
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aprovação do Congresso Nacional, comprometeu-se a reduzir as emissões de gases do efeito


estufa em 43% até 2030, comparado a emissão de 2005 (MMA, 2017). Com isso, nos últimos
anos, a energia solar tem sido alvo de estímulos, como (SILVA, 2015):
a) Programa Luz para Todos: instala painéis solares em comunidades sem acesso à
energia.
b) Venda direta a consumidores: geradores de energia solar com potência inferior a 50
MW comercializam a energia elétrica sem intermediação de distribuidoras (carga inferior a 3
MW).
c) Garantia de conexão à rede: energia excedente gerada vai para a rede e é adicionada
como saldo positivo na fatura, que pode ser utilizado em energia nos próximos 60 meses ou
enviado para outro local a pedido do titular.
d) Isenção do ICMS as operações envolvendo equipamentos destinados a geração de
energia elétrica por células fotovoltaicas.
e) Isenção do imposto de renda da energia gerada por pessoa física.
f) Redução de alíquotas PIS/PASEP e COFINS sobre vendas no mercado interno ou
importação de máquinas, equipamentos e instrumentos.
g) Condições diferenciadas de financiamento: taxas inferiores e 20 anos para
amortização.
h) Fundo solar: oferece apoio financeiro no valor de R$ 1.000,00 à R$ 5.000,00 por
projeto de microgeração fotovoltaica conectado à rede.
i) Investimento de 395 milhões em pesquisa e desenvolvimento.
Os incentivos para energia solar no Brasil envolvem subsídios e benefícios tributários
(SILVA, 2015), porém muito pequenos comparado a outros países que conseguiram expandir
efetivamente a energia solar. Além de pouco vantajosos economicamente, os subsídios contam
com um orçamento muito restrito e necessitam de muita burocracia para serem aprovados, o
que causa uma lentidão no crescimento da capacidade instalada. O maior crescimento anual
corresponde a 1 GW de capacidade instalada no ano de 2017, enquanto a China cresceu mais
de 50 GW no mesmo período, demonstrando que apesar dos resultados obtidos nos últimos
anos, ainda há muito que precisa ser feito para que a fonte solar se consolide na matriz
energética nacional (NASCIMENTO, 2017).
GEPROS. Gestão da Produção, Operações e Sistemas, v. 14, nº 5, p. 89 - 108, 2019.

101
A Importância de Incentivos Governamentais para Aumentar o Uso
da Energia Solar

5. DISCUSSÕES
A índice de irradiação solar no Brasil é muito alto, com médias de 1.200-2.400
kWh/m²/ano, gerando um grande potencial a ser explorado de energia solar, muito superior à
média da Europa e países com grande capacidade instalada. Comparado a média global, o país
possui baixa variabilidade de incidência solar considerando as demais regiões geográficas. Os
valores máximos de irradiação correspondem a Bahia e noroeste de Minas Gerais, onde há
durante todo o ano condições climáticas que conferem um regime estável de baixa nebulosidade
(MME, 2017). Diante deste potencial inexplorado e dos dados apresentados, foi criada a Tabela
2 para comparar os programas aplicados nos países com maior capacidade instalada, a fim de
mostrar exemplos de sucesso que podem ser reformulados e aplicados no Brasil. Tais incentivos
foram primordiais para o cresimento do potencial energético solar nos países citados, pois nos
últimos 10 anos onde as políticas tiveram forte inserção, os países juntos somavam apenas 9,5
GW de potência instalada, e hoje somam 262,7 GW, tendo um crescimento de 2757% (ARENA,
2018).

Quadro 1 - Comparação entre os países


País/
China Japão Alemanha Estados Unidos
Incentivos
Início dos Reformulação e
2009 2000 2009
incentivos crescimento em 2011
Precaver futuros Transformar para
Reduzir emissão de
Diversificar matriz eventos naturais que política verde, reduzir
gases e preço da
energética e reduzir desestabilizem custo da energia e
energia para atender
emissão de CO2 pela energia, reduzir CO2, queima de carvão,
Objetivo mercado interno;
queima do carvão diversificar matriz eliminar energia
diversificar matriz
(YUAN; JIAN; MA, energética nuclear
energética (BURNS;
2011) (OGIMOTO et (PEGELS;LUTKENH
KANG, 2012)
al,2013) ORST,2014)
Capacidade
instalada
130,6 GW 48,6 GW 42,4 GW 41,1 GW
geração de
energia solar
Subsídios Golden Sun e Subsídios para compra Financiamentos a
Buinding:50% custo de de equipamentos ($ taxas baixas e longos Subsídios de 30% dos
sistemas conectados à 392/kW para sistema prazos para gastos com
Programas de
rede e 70% de sistemas fotovoltaico com amortização equipamentos e
subsídios
independentes rurais menos de 10 kW) (PEGELS; instalação (BURNS;
(SCHUMAN; LIN, (OGIMOTO et LUTKENHORST, KANG, 2012)
2012) al,2013) 2014)

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102
A Importância de Incentivos Governamentais para Aumentar o Uso
da Energia Solar

Programa de compra Conexão garantida e


Conexão e compra de Conexão e compra
excedente PV Power compra depende do
eletricidade de fontes garantida (próximos
(concessionárias de estado e demanda.
Conexão na renováveis por empresas 20 anos) de energia
energia conectam e Excedente em débito
rede que fornecem energia renovável (PEGELS;
compram excedente para próximas faturas
(SCHUMAN; LIN, LUTKENHORST,
gerado) (OGIMOTO (BURNS; KANG,
2012) 2014)
et al,2013) 2012)
Política RPS: regula a
Sistema FiT: paga Sistema FiT: paga aos
Sistema FiT: paga aos quantidade de SREC
Política geradores de geradores de
geradores um valor comprado dos
tarifária para eletricidade renovável eletricidade renovável
adicional (PEGELS; geradores pelas
energia valor adicional um valor adicional
LUTKENHORST, concessionárias
gerada (SCHUMAN; LIN, (OGIMOTO et
2014) (BURNS; KANG,
2012) al,2013)
2012)
$0,38/kWh C<10 kW
Valor pago $0,17/kWh Depende da demanda
$0,36/kWh C>10 kW $7,16/ kWh (PESCIA;
pela energia (SCHUMAN; LIN, do estado (BURNS;
(OGIMOTO et GRAICHEN, 2015)
gerada 2012) KANG, 2012)
al,2013)

Fundo Especial de Investimento


Investimento em
Desenvolvimento de Investimento de 250 governamental:
desenvolvimento de
Energia Renovável, bilhões até 2017 para redução de 60% do
equipamentos
financiado por sobretaxa financiamento direto custo de equipamentos
Investimento fotovoltaicos, e estudo
da energia de projetos e alianças e instalação de 16
em P&D sobre a rede em caso
vendida:custear de inovação com milhões de medidores
de sobrecarga
atividades em P&D empresas (PESCIA; inteligentes (THE
(OGIMOTO et
(SCHUMAN; LIN, GRAICHEN, 2015) WHITE HOUSE,
al,2013)
2012) 2016)
Fonte: Os autores.

Os subsídios nos países estudados vão desde financiamentos com taxas baixas e grande
prazo de amortização até subsídios que equivalem a 30% (BURNS; KANG, 2012) dos custos
de equipamentos e instalação. Em alguns países essa porcentagem pode ser bem superior, como
na China que oferece de 50% a 70% (SCHUMAN; LIN, 2012) de subsídio.
No Brasil os programas de subsídios têm orçamento muito restrito, em que a primeira
fase contou apenas com R$ 65 mil (SILVA, 2015), atingindo uma parcela de apenas 13 a 65
dos mais de 62,8 milhões de domicílios no país. Lembrando que o programa fornece o incentivo
de R$ 1.000,00 a R$ 5.000,00 por instalação, comparado ao custo de R$ 19.000,00 equivalente
a um equipamento instalado de geração fotovoltaica na cidade de Uberaba-MG (GOMES,
2016), este subsidio varia entre 5,2% à 26,3%. Além do subsídio financeiro, alguns bancos
oferecem tarifas com valor abaixo do mercado para financiamento destes módulos, com prazos

GEPROS. Gestão da Produção, Operações e Sistemas, v. 14, nº 5, p. 89 - 108, 2019.

103
A Importância de Incentivos Governamentais para Aumentar o Uso
da Energia Solar

de até 20 anos para amortização. Considerando as informações levantadas, foi elaborada o


Quadro 2 que evidencia em que aspectos positivos e a serem melhorados pelo país.

Quadro 2 - Aspectos positivos e a ser melhorados na política energética solar do Brasil


Aspectos positivos Aspectos a serem melhorados
Financiamentos a taxas baixas e tempo
Valor do subsídio
Subsídios longo de amortização
Instalação em locais sem acesso à Orçamento do projeto
energia Reduzir burocracia
Conexão na rede Excedente não pode ser resgatado, apenas
É obrigatória, prazo de 34 dias
crédito na conta
Política Tarifária Isenção de imposto de renda sobre
Políticas FiT e RPS para aumentar adesão
energia gerada para pessoa física
Isenção de ICMS de equipamentos de Isenção abranger todos os equipamentos até
Equipamentos células fotovoltaicas atingir o crescimento necessário
Redução de PIS e COFINS Continuar a redução
Incentivar industrias brasileiras a produzir
Investimento em painéis solares, utilizando o silício do país
P&D Investimento de R$395 milhões
Integrar empresa e universidade para
desenvolver equipamentos com custo baixo
Fonte: Silva (2015).
De acordo com o Plano Decenal de Expansão de Energia 2015 (2024), estima-se que o
Brasil aumente sua capacidade instalada de geração de energia elétrica em 73 GW, em que
metade será baseada em fontes eólica, solar, biomassa e PH. A geração de energia fotovoltaica
no Brasil alcançará os 7 GW até 2024, aumentando de 0,02% para 3,3% da produção de energia
do país. Este crescimento ressalta os impactos dos incentivos já implementados, porém ainda é
pouco significativo comparado ao alcançado pelos países citados no mesmo período e pensando
em todo potencial de energia solar a ser explorado. Logo, os incentivos estudados devem ser
estimulados para um avanço efetivo neste setor.

6. CONCLUSÕES
Neste estudo, os incentivos governamentais para adoção de energia solar fotovoltaica
foram analisados, buscando estudos de caso dos países com maior potencial instalado desta
fonte. Posteriormente, foi comparado as políticas atuais do Brasil, sua efetividade, os pontos
positivos e os que devem melhorar para atingir níveis significativos da geração desta energia.

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104
A Importância de Incentivos Governamentais para Aumentar o Uso
da Energia Solar

Averiguou-se que a maioria dos incentivos no Brasil são de âmbito fiscal, com reduções
de impostos, e pouco investiu-se para políticas de compra de energia, como as conhecidas RPS
ou FiT, ou mesmo subsídios para instigar a população a instalar sua geração de energia solar
nos telhados, apesar do grande potencial de irradiação no país, pois com o orçamento investido
de 65 mil reais, apenas de 13 a 65 residências poderiam ser contempladas com o benefício,
diante das 62,8 milhões de famílias. A falta de tais incentivos no Brasil pode ser apontada como
alguns dos possíveis motivos para não atingir os níveis de crescimento energético solar dos
demais países estudados, pois, de acordo com a projeção para os próximos anos, o país crescerá
até 2024 de 1 GW para 7 GW, aproximadamente 1 GW por ano, enquanto a China cresceu 50
GW no mesmo período.
Por fim, como sugestões de futuras pesquisas, estão: estudos de caso direcionados ao
crescimento em cada região do país, mensurar o impacto da redução de impostos e incentivos
para adesão da energia solar, acompanhar as metas propostas no Plano Decenal de Expansão
de Energia (2024), a evolução das políticas para incentivar a energia solar nos próximos anos,
além da mudança da economia resultante desta forma de geração. Novas medidas importantes
podem surgir nos próximos anos, assim como tecnologias que barateiam estes sistemas e este
avanço deve ser documentado e replicado.

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