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REVOLUÇÃO INDUSTRIAL

A Revolução Industrial representou a lenta e inevitável evolução do capitalismo que, em última instância, substituiu
a força motriz humana pelas máquinas, com profundas consequências econômicas, políticas, sociais e culturais.

Mas, não podemos esquecer que a produção manual que antecede à Revolução Industrial conheceu duas etapas
bem definidas, dentro do processo de desenvolvimento do capitalismo: primeiro o artesanato foi a forma de produção
industrial característica da Baixa Idade Média, durante o renascimento urbano e comercial, sendo representado por
uma produção de caráter familiar, na qual o produtor (artesão) possuía os meios de produção (era o proprietário da
oficina e das ferramentas) e trabalhava com a família em sua própria casa, realizando todas as etapas da produção,
desde o preparo da matéria-prima, até o acabamento final; ou seja não havia divisão do trabalho ou especialização
para a confecção de algum produto. Em algumas situações o artesão tinha junto a si um ajudante, porém não
assalariado, pois realizava o mesmo trabalho pagando uma “taxa” pela utilização das ferramentas. É importante
lembrar que nesse período a produção artesanal estava sob controle das corporações de ofício, assim como o
comércio também se encontrava sob controle de associações, limitando o desenvolvimento da produção.

Depois, lembremos que a manufatura, que predominou ao longo da Idade Moderna e na Antiguidade
Clássica, resultou da ampliação do mercado consumidor com o desenvolvimento do comércio monetário.
Nesse momento, já ocorre um aumento na produtividade do trabalho, devido à divisão social da produção,
onde cada trabalhador realizava uma etapa na confecção de um único produto. A ampliação do mercado
consumidor relaciona-se diretamente ao alargamento do comércio, tanto em direção ao oriente como em
direção à América. Outra característica desse período foi a interferência do capitalista no processo
produtivo, passando a comprar a matéria-prima e a determinar o ritmo de produção.
Na especificidade de seu contexto,
observaremos que a história
britânica contou com uma série de
experiências que fez dela o primeiro
dos países a transformar as feições
do capitalismo mercantilista. Entre
tais transformações históricas
podemos destacar o vanguardismo
de suas políticas liberais, o
incentivo ao desenvolvimento da
economia burguesa e um conjunto
de inovações tecnológicas que
colocaram a Inglaterra à frente do
processo hoje conhecido como
Revolução Industrial.

A Grã-Bretanha foi pioneira no


processo da Revolução Industrial
por diversos fatores:

Pela aplicação de uma


política econômica liberal desde
meados do século
XVIII. Antes da liberalização
econômica, as atividades industriais
e comerciais estavam cartelizadas
pelo rígido sistema de guildas,
razão pela qual a entrada de novos
competidores e a inovação
tecnológica eram muito limitados.
Com a liberalização da indústria e
do comércio ocorreu um enorme
progresso tecnológico e um grande
aumento da produtividade em um
curto espaço de tempo.
• O processo de enriquecimento
britânico adquiriu maior impulso
após a Revolução Inglesa, que
forneceu ao seu capitalismo a
estabilidade que faltava para
expandir os investimentos e ampliar
os lucros.
• A Grã-Bretanha firmou vários
acordos comerciais vantajosos com
outros países. Um desses acordos
foi o Tratado de Methuen, celebrado
com a decadência da monarquia absoluta portuguesa, em 1703, por meio do qual conseguiu taxas
preferenciais para os seus produtos no mercado português.
• A Grã-Bretanha possuía grandes reservas de ferro e de carvão mineral em seu subsolo, principais matérias-
primas utilizadas neste período. Dispunham de mão de obra em abundância desde a Lei dos Cercamentos
de Terras, que provocou o êxodo rural. Os trabalhadores dirigiram-se para os centros urbanos em busca de
trabalho nas manufaturas.
• A burguesia inglesa tinha capital suficiente para financiar as fábricas, adquirir matérias-primas e máquinas
e contratar empregados.
Para ilustrar a relativa abundância do capital que existia na Inglaterra, pode se constatar que a taxa de juros no final
do século XVIII era de cerca de 5% ao ano; já na China, onde praticamente não existia progresso econômico, a taxa
de juros era de cerca de 30% ao ano.
Com a Revolução Industrial, a qualidade das relações de trabalho no ambiente manufatureiro se transformou
sensivelmente. Antes, os artesãos se agrupavam no ambiente da corporação de oficio para produzirem os produtos
manufaturados. Todos os artesãos dominavam integralmente as etapas do processo de produção de um
determinado produto. Dessa forma, o trabalhador era ciente do valor, do tempo gasto e da habilidade requerida na
fabricação de certo produto. Ou seja, ele sabia qual o valor do bem por ele produzido.

As inovações tecnológicas oferecidas, principalmente a partir do século XVIII, proporcionaram maior velocidade ao
processo de transformações da matéria-prima. Novas máquinas automatizadas, geralmente movidas pela tecnologia
do motor a vapor, foram responsáveis por esse tipo de melhoria. No entanto, além de acelerar processos e reduzir
custos, as máquinas também transformaram as relações de trabalho no meio fabril. Os trabalhadores passaram por
um processo de especialização de sua mão de obra, assim só tinham responsabilidade e domínio sob uma única
parte do processo industrial.

Dessa maneira, o trabalhador não tinha mais ciência do valor da riqueza por ele produzida. Ele passou a receber
um salário pelo qual era pago para exercer uma determinada função que, nem sempre, correspondia ao valor daquilo
que ele era capaz de produzir. Esse tipo de mudança também só foi possível porque a própria formação de uma
classe burguesa – munida de um grande acúmulo de capitais – começou a controlar os meios de produção da
economia.

O acesso às matérias primas, a compra de maquinário e a disponibilidade de terras representavam algumas


modalidades desse controle da burguesia industrial sob os meios de produção. Essas condições favoráveis à
burguesia também provocou a deflagração de contradições entre eles e os trabalhadores. As más condições de
trabalho, os baixos salários e carência de outros recursos incentivaram o aparecimento das primeiras greves e
revoltas operárias que, mais tarde, deram origem aos movimentos sindicais.

Com o passar do tempo, as formas de atuação do capitalismo industrial ganhou outras feições. Na segunda metade
do século XIX, a eletricidade, o transporte ferroviário, o telégrafo e o motor a combustão deram início à chamada
Segunda Revolução Industrial. A partir daí, os avanços capitalistas ampliaram significativamente o seu raio de ação.
Nesse mesmo período, nações asiáticas e africanas se inseriram nesse processo com a deflagração do imperialismo
(ou neocolonialismo), capitaneado pelas maiores nações industriais da época.

Durante o século XX, outras novidades trouxeram diferentes aspectos ao capitalismo. O industriário Henry Ford e o
engenheiro Frederick Winslow Taylor incentivaram a criação de métodos onde o tempo gasto e a eficiência do
processo produtivo fossem cada vez mais aperfeiçoados. Nos últimos anos, alguns estudiosos afirmam que vivemos
a Terceira Revolução Industrial. Nela, a rápida integração dos mercados, a informática, a microeletrônica e a
tecnologia nuclear seriam suas principais conquistas.

A Revolução Industrial foi responsável por inúmeras mudanças que podem ser avaliadas tanto por suas
características negativas, quanto positivas. Alguns dos avanços tecnológicos trazidos por essa experiência
trouxeram maior conforto à nossa vida. Por outro lado, a questão ambiental (principalmente no que se refere ao
aquecimento global) traz à tona a necessidade de repensarmos o nosso modo de vida e a nossa relação com a
natureza. Dessa forma, não podemos fixar o modo de vida urbano e integrado à demanda do mundo industrial como
uma maneira, um traço imutável da nossa vida quotidiana.
AS TRÊS REVOLUÇÕES INDUSTRIAIS
A Primeira Revolução Industrial ocorreu na Inglaterra, no século XVIII (1780-1830). A
Inglaterra foi o primeiro país a passar por esta revolução.

Por volta de 1830, a Primeira Revolução Industrial se completou na Inglaterra, e daí migrou
para o continente europeu. Chegou à Bélgica e França, países próximos do arquipélago
britânico. Por volta dos meados do século XIX, atravessou o Atlântico e rumou para os Estados
Unidos. E, no final do século, retornou ao continente europeu para retomar seu fio tardio na
Alemanha e na Itália, chegando, também, ao Japão.

O ramo característico da Primeira Revolução Industrial é o têxtil de algodão. Ao seu lado,


aparece a siderurgia, dada a importância que o aço tem na instalação de um período técnico
apoiado na mecanização do trabalho.

O sistema de técnica e de trabalho desse período é o paradigma manchesteriano, nome dado


por referência a Manchester, o centro têxtil por excelência representativo desse período. A
tecnologia característica é a máquina de fiar, o tear mecânico. Todas são máquinas movidas a
vapor originado da combustão do carvão, a forma de energia principal desse período técnico. O
sistema de transporte característico é a ferrovia, além da navegação marítima, também movida
à energia do vapor do carvão.

A base do sistema manchesteriano é o trabalho assalariado, cujo cerne é o trabalhador por


ofício. Um trabalhador qualificado é geralmente pago por peça.

A Segunda Revolução Industrial começou por volta de 1870. Mas a transparência de um


novo ciclo só se deu nas primeiras décadas do século XX. Foi um fenômeno muito mais dos
Estados Unidos que dos países europeus.

E esta segunda revolução industrial que está por trás de todo desenvolvimento técnico,
científico e de trabalho que ocorre nos anos da Primeira e, principalmente, da Segunda Guerra
Mundial.

A Segunda Revolução Industrial tem suas bases nos ramos metalúrgico e químico. Neste
período, o aço torna-se um material tão básico que é nele que a siderurgia ganha sua grande
expressão. A indústria automobilística assume grande importância nesse período. O
trabalhador típico desse período é o metalúrgico. O sistema de técnica e de trabalho desse
período é o fordista, termo que se refere ao empresário Ford, criador, na sua indústria de
automóveis em Detroit, Estados Unidos, do sistema que se tornou o paradigma de regulação
técnica e do trabalho conhecido em todo o mundo industrial.

A tecnologia característica desse período é o aço, a metalurgia, a eletricidade, a


eletromecânica, o petróleo, o motor a explosão e a petroquímica. A eletricidade e o petróleo
são as principais formas de energia.

A forma mais característica de automação é a linha de montagem, criada por Ford (1920), com
a qual introduz na indústria a produção padronizada, em série e em massa.

Com o fordismo, surge um trabalhador desqualificado, que desenvolve uma função mecânica,
extenuante e para a qual não precisa pensar. Pensar é a função de um especialista, o
engenheiro, que planeja para o conjunto dos trabalhadores dentro do sistema da fábrica.
Temos aqui a principal característica do período técnico da Segunda Revolução Industrial: a
separação entre concepção e execução, separando quem pensa (o engenheiro) e quem
executa (o trabalhador em massa). É, pois, o taylorismo que está na base do fordismo. É
criação do taylorismo (Taylor, 1900) essa série de segmentações que quebra e dissocia o
trabalho em aspectos até então organicamente integrados, a partir da separação entre o
trabalho intelectual e o trabalho manual (operários).

Taylor elabora um sistema que designa de organização científica do trabalho (OIT).

O trabalho taylorizado é especializado, fragmentado, não-qualificado, intenso, rotineiro,


insalubre e hierarquizado.

A Terceira Revolução Industrial tem início na década de 1970, tendo por base a alta
tecnologia, a tecnologia de ponta (HIGH-TECH). As atividades tornam-se mais criativas,
exigem elevada qualificação da mão-de-obra e têm horário flexível. E uma revolução
técnicocientífica, tendo a flexibilidade do Toyotismo. As características do toyotismo foram
desenvolvidas pelos engenheiros da Toyota, indústria automobilística japonesa, cujo método foi
abolir a função de trabalhadores profissionais especializados para torná-los especialistas
multifuncionais, lidando com as emergências locais anonimamente.

A tecnologia característica desse período técnico, que tem início no Japão, é a microeletrônica,
a informática, a máquina CNC (Controle Numérico Computadorizado), o robô, o sistema
integrado à telemática (telecomunicações informatizadas), a biotecnologia. Sua base mistura, à
Física e à Química, a Engenharia Genética e a Biologia Molecular. O computador é a máquina
da terceira revolução industrial. É uma máquina flexível, composto por duas partes: o hardware
(a máquina propriamente dita) e o software (o programa). O circuito e o programa integram-se
sob o comando do chip, o que faz do computador, ao contrário da máquina comum, uma
máquina reprogramável e mesmo autoprogramável. Basta para isso que se troque o programa
ou se monte uma programação adequadamente intercambiável. A organização do trabalho
sofre uma profunda reestruturação. Resulta um sistema de trabalho polivalente, flexível,
integrado em equipe, menos hierárquico. Computadorizada, a programação do conjunto é
passada a cada setor da fábrica para discussão e adaptação em equipe (CCQ), na qual se
converte num sistema de rodízio de tarefa que restabelece a possibilidade de uma ação criativa
dos trabalhadores no setor.

Para efetivar esta flexibilização do trabalho de execução, distribui-se pelo espaço da fábrica um
sistema de sinalização semelhante ao do tráfego.

Elimina-se pela reengenharia grande parte da rede de chefias.

Toda essa flexibilização técnica e do trabalho toma-se mais adaptável ao sistema econômico.
Sobretudo a relação entre produção e consumo, por meio do JIT (just-in-time).

A verticalização do tempo fordista cede lugar à horizontalização. Com a horizontalização


terceirizada e subcontratada, o problema dos altíssimos investimentos que a nova tecnologia
pede é contornado e o controle da economia agora transnacionalizada fica nas mãos de um
punhado ainda menor de empresas. Sob a condução delas, a velha divisão imperial do planeta
cede lugar à globalização.

As novas regiões industriais de alta tecnologia, de ponta, unem centros produtores de


tecnologia com indústrias de informações, associados a grandes centros de pesquisa
(universidades): são os tecnopólos.
O principal tecnopólo é o Vale do Silício, localizado na Califórnia (EUA) ao sul de São
Francisco, próximo da Universidade de Stanford. Outros exemplos importantes são: a chamada
Route 128, perto de Boston e do MIT (EUA), a região de Tóquio-Yokohama (Japão), a região
Paris-Sud (França), o corredor M4, ao redor de Londres Reino Unido), a região de Milão (Itália),
as regiões de Berlim e Munique (Alemanha), Moscou, Zelenogrado e São Petersburgo
(Rússia), São Paulo-Campinas-São Carlos (Brasil).
O MODELO JAPONÊS

O modelo japonês de desenvolvimento caracterizou tanto o período de hipercrescimento (Boom


Japonês) de 1956-1973, quanto a ousada reestruturação econômica e tecnológica que
enfrentou com sucesso os desafios da década de 1970.

O cerne do processo de desenvolvimento japonês desde a década de 1950 é o projeto


nacionalista do Estado desenvolvimentista, implementado pela burocracia estatal em nome da
nação.

Os burocratas do Estado têm orientado e coordenado as empresas japonesas, organizadas em


redes, ajudando-as com políticas de comércio, tecnologia e crédito para competir com sucesso
na economia mundial.

O superávit comercial foi transformado em superávit financeiro e, aliado à alta taxa de


poupança interna, permitiu uma expansão não-inflacionária, possibilitando, ao mesmo tempo,
altas taxas de investimento, aumento rápido dos salários reais e a melhora dos padrões de
vida.

O Japão conseguiu combinar crescimento com redistribuição, elevar os salários reais de forma
substancial e reduzir a desigualdade de renda a um dos níveis mais baixos do mundo.

Índices elevados de investimento em P&D e enfoque em indústria avançada capacitaram o


Japão a assumir uma posição de liderança nos setores de tecnologia da informação em uma
época em que seus produtos e processos se tomaram essenciais na economia global.

Esse desempenho econômico contou com estabilidade social e alta produtividade da força de
trabalho, por meio da cooperação entre a gerência e os trabalhadores, possibilitada pela
estabilidade no emprego e pela promoção da força de trabalho permanente com base no tempo
de serviço.
A estabilidade social baseava-se em três fatores principais:

• comprometimento do povo para reconstruir o Japão;

• acesso ao consumo e grande melhoria dos padrões de vida;

• família patriarcal forte e estável que reproduzia os valores tradicionais, induzia à ética do
trabalho e proporcionava segurança pessoal a seus membros, à custa da manutenção da
submissão feminina.

Os mecanismos do “milagre japonês” foram:

• incansável direcionamento para exportações com base em alta competitividade, pelo aumento
da produtividade, pela qualidade do trabalho e pelo protecionismo dos mercados internos;

• abundância de capital resultante do alto índice de poupança e crédito de curto prazo para os
brancos, a baixas taxas de juros;

• esforço sustentado para o desenvolvimento tecnológico e inovação tecnológica, com


programas patrocinados pelo governo;

• ênfase na indústria;

• política industrial mudando da setores de baixa tecnologia para os de alta tecnologia,


acompanhando a demanda mundial.

No Japão, o governo orienta o desenvolvimento econômico, assessorando as empresas sobre


linhas de produtos, mercados de exportação, tecnologia e organização do trabalho. Ele
completa as orientações com grandes financiamentos e medidas fiscais, bem como com apoio
seletivo para programas estratégicos de P&D.

A intervenção governamental no Japão é organizada com base na autonomia do Estado em


relação a empresas e, em grande medida, em relação ao sistema político-partidário, embora o
conservador Partido Democrático Liberal governasse incontestado até 1993.

No geral, a forma tradicional de trabalho com base em emprego de horário integral, projetos
profissionais bem delineados e um padrão de carreira ao longo da vida está sendo extinta de
forma lenta, mas indiscutível.

A principal preocupação das autoridades japonesas da área do trabalho é a diminuição


potencial de futuros trabalhadores japoneses devido ao envelhecimento da população e à
relutância japonesa com respeito à imigração.

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