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Este encarte é parte integrante da Revista Biodiesel nº 47.

Não pode ser vendido separadamente. Número 14 • Julho 2010

Assuntos Impacto da adição de biodiesel ao óleo diesel durante a estocagem:


um enfoque microbiológico e controle
técnicos FÁTIMA M. BENTO1; FRANCIELLE BÜCKER 1; NAIARA SANTESTEVAN 1; EDUARDO H. S. CAVALCANTI 2; ADRIANE ZIMMER 1;
CHRISTINE GAYLARDE; FLÁVIO CAMARGO 3;
1 UFRGS- Departamento de Microbiologia , Parasitologia e ImunoIogia CBS, Porto Alegre, Rio Grande do Sul. e-mail: fatima.bento@
Nesta edição de número 14 ufrgs.br
2 Instituto Nacional de Tecnologia - Divisão de Corrosão e Degradação, Rio de Janeiro, Rio de Janeiro
temos um importante artigo 3 UFRGS - Departamento de Solos, Porto Alegre, Rio Grande do Sul

gênio e da umidade, verifica-se A baixa estabilidade ao ar-


sobre o impacto da adição de
Introdução que tanto a interferência da luz, mazenamento do biodiesel é
do calor, como o contato com particularmente reportada para
biodiesel ao óleo diesel durante a
O biodiesel, não obstante metais, aceleram sobremaneira tipos de biodiesel ricos em ca-
as suas inúmeras vantagens téc- o estabelecimento de proces- deias carbônicas com predo-
estocagem.
nicas e estratégicas, que o cre- sos degradativos de natureza minância de compostos insatu-
denciam como um sucedâneo abiótica, também denominados rados, como as presentes no
Nele , poderemos acompanhar
natural para o diesel de petróleo, de processos de envelhecimen- biodiesel metílico de soja, que
é um combustível extremamen- to, acima relatados. Observa-se domina o mercado brasileiro.
um enfoque microbiológico sobre
te instável, notadamente quando com efeito a elevação da cor- Os processos de natureza degra-
exposto a ação da umidade e rosividade do biodiesel, bem dativa acima mencionados, afli-
o assunto, elucidando diversas
do oxigênio do ar. A sua eleva- como nas fases mais avançadas gem notadamente empresas
da susceptibilidade à oxidação, dos processos oxidativos a for- produtoras, comercializadoras e
questões importantes que
que tem como subprodutos pri- mação de polímeros solúveis distribuidoras de combustíveis,
mários a formação de peróxidos e insolúveis, sob a forma de e exigem atenção analítica re-
afetam o sistema de distribuição
e ácidos, é retratada como um depósitos e borras, que geram dobrada, monitoramento con-
dos principais gargalos limitan- entupimentos e perdas. Com tínuo e adoção de medidas
do biodiesel.
tes para a sua plena aceitação efeito, é comum a adoção pelo mitigadoras, como a utilização
face as alterações observadas mercado do termo vida de pra- de aditivos antioxidantes (Caval-
em muitas de suas característi- teleira do biodiesel, que retrata canti et al, 2009). As condições

índice cas físico-químicas essenciais


para garantir o seu uso pleno
o período em que o biodiesel
estocado permanece aderente a
úmidas e quentes, que prevale-
cem em boa parte do território
(Lutterbach et al, 2007). A ação sua especificação estabelecida brasileiro, bem como a sua ex-
Impacto da adição de da umidade também promo- pela ANP (ANP, 2008). posição a climas temperados e
biodiesel ao óleo diesel
durante a estocagem: ve alterações no perfil de qua-
um enfoque microbiológico lidade do biodiesel, induzindo
e controle não só o aparecimento de água
1 dissolvida ou de emulsões na
massa de biodiesel estocado por
O papel da produtividade no longos períodos. Teores eleva-
aumento do valor bruto da pro- dos de água dissolvida geram o
dução de soja no mato grosso surgimento crescente de micro-
de 1975 a 2007
6 gotículas, que culminam com a
presença indesejável de uma ter-
Incorporação de novas áreas ceira fase de água livre no fundo
ao cultivo do dendê na bahia de tanques, condição essa ex-
e seu impacto sobre o valor tremamente atrativa para a pro-
da produção, 1988 - 2007 liferação de microorganismos.
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Simultaneamente a ação do oxi-
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As alterações de qualidade 2009; Klinkspon, 2009; Bucker et Frederick Passman tem como
do biodiesel e misturas ao longo al., 2010). Esta percepção reflete objetivo apresentar a um publi-
do tempo de estocagem não se o impacto dramático e inequívo- co bem diverso, uma visão ge-
restringem apenas ao estabele- co dos entupimentos de filtros, ral sobre a biodeterioração que
cimento de processos abióticos, por bio-sedimentos, e da inci- ocorre em combustíveis armaze-
como a oxidação, absorção de dência de corrosão influenciada nados por todo o mundo. Com
água, formação de emulsões e por microorganismos presentes algumas exceções, as especifica-
de depósitos acima relatados. O nos tanques (bio-corrosão), duas ções do sistema e programas de
aparecimento de uma fase de consequências importantes que monitoramento não facilitam a
água livre é geralmente acom- geralmente aparecem quando o detecção da biodeterioração. Em
panhado pelo estabelecimento processo de contaminação mi- 1991, Hartmam e seus colegas
de processos de contaminação crobiana está instalado. Outras no Instituto de Pesquisa Biológi-
por microrganismos no fundo consequências como a redução ca em Israel, apresentaram um
de reservatórios e tanques. Se- na estabilidade química ou o programa de computador custo-
gundo Passman (2005), é na aumento da corrosividade do mizado para pessoas responsá-
frios, que predominam no sul do presença de água, que os micro- combustível geralmente ocor- veis pelo sistema de estocagem
Brasil, tendem a acirrar o estabe- organismos encontram as con- rem concomitantemente (Hill & de combustível, salientando
lecimento de condições capazes dições ideais para seu desen- Hill,2008). Vários fatores contri- que através da coleta regular de
de introduzir alterações significa- volvimento, comprometendo a buem, pois tradicionalmente os dados que deveriam melhorar
tivas nas características originais qualidade final do combustível. técnicos em microbiologia, têm o entendimento do processo
de fábrica do produto. Caso não Historicamente, a contaminação pouco acesso a literatura que de biodeterioração. Mas várias
sejam tomadas medidas preven- microbiana durante o armaze- apresenta detalhamentos sobre questões permanecem e geram
tivas e de controle, como as re- namento sem controle tem sido a biodeterioração do produto, um debate filosófico: Quais são
comendadas na norma brasilei- percebida como um problema além do que muitas caracterís- os números de microorganismos
ra ABNT NBR 15552 (ABNT, 2008), agudo em óleo diesel. Com a ticas são similares ao processo que representam uma significan-
é possível que um biodiesel “OK introdução de biodiesel tem-se deteriogênico de natureza não te contaminação microbiana? A
posto-fábrica”, ou seja, reconhe- verificado uma maior suscetibili- biológica. Neste sentido, a pu- integridade do produto é afeta-
cido como em conformidade dade da nova mistura (diesel e blicação pela ASTM em 2003 da? Apenas a drenagem dos tan-
com a especificação brasileira, biodiesel), devido a um aumen- do Manual de Combustíveis e ques pode evitar a geração de
torne-se inadequado para adição to na geração de sedimentos Microbiologia de Combustíveis- sedimentos biológicos? Os cus-
ao diesel e inapropriado para uso biológicos (Bento et al., 2006; Fundamentos, Diagnóstico e tos de biodeterioração justificam
(Cavalcanti, 2009). Mariano et al., 2008; Siegert, Controle da Contaminação por os custos de monitoramento?

Medidas para prevenção e tra- se detectar a presença de se- contaminado. A preservação uso durante o armazenamento
tamento da contaminação microbia- dimentos, indicativa do cresci- do combustível também pode de combustíveis incluem: am-
na: Para evitar o desenvolvimen- mento microbiano nesta região. ocorrer através da aplicação de plo espectro de ação (atividade
to de populações microbianas Os procedimentos de limpeza compostos químicos (biocidas) contra fungos, bactérias aeró-
deteriogênicas no combustível e drenagens regulares são me- que impedem e controlam o bias e anaeróbias); capacidade
durante o armazenamento são didas físicas que impedem o desenvolvimento de populações de manter o seu efeito inibidor
indicados procedimentos físicos acúmulo da água formada nos microbianas deteriogênicas. Os em presença de outras substân-
e químicos que são fundamen- lastros e constituem-se em uma biocidas ou antimicrobianos cias no meio em condições de
tais para a qualidade final do forma estratégica no controle da compreendem produtos com operação semelhantes; não ser
produto. Os tanques de arma- infecção microbiana (Passman, largo espectro de componentes corrosivo ao sistema; apresentar
zenamento que apresentam 2005; Siegert, 2009; Klinkspon, de estruturas químicas diversas propriedades de biodegradabi-
contaminação microbiana são 2009). Em alguns tipos de for- (compostos inorgânicos e orgâ- lidade; coeficiente de partição
identificados pela presença de mato de tanque, torna-se im- nicos). Com relação ao procedi- que garanta ação nas fases ole-
uma fase aquosa e uma fase possível a drenagem em certos mento de aplicação pode-se ci- osa e aquosa e ter baixo custo
oleosa, cujo monitoramento pontos, além da infecção micro- tar o tratamento contínuo (mais (Passman, 2003; Siegert, 2009;
deve ser feito de forma espe- biana se difundir de um tanque frequente, com concentrações Hill & Hill, 2008; Klinkspon, 2009)
cífica e separadamente (Bento para outro com a passagem de baixas) e o tratamento de cho- . Recomenda-se um ensaio pré-
& Gaylarde, 2001; Klinkspon, um combustível sem contami- que (com concentrações altas) vio, preferencialmente nas con-
2009). Na presença das duas nação, através de mangueiras, pouco frequente, aplicados a dições reais de operação, ou em
fases, deve-se inspecionar a ou filtros, que tenham sido uti- intervalos pré-determinados. As laboratório, com a determinação
interface óleo - água, a fim de lizados para um combustível exigências de um biocida para o de concentração ótima, assim

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Material e Métodos (CMI), retirou-se uma alíquota de
como da natureza do compo- um preservante químico traz esta 50µL, que foi inoculada em pla-
nente ativo mais apropriado. garantia, outra preocupação do Biocidas: Foram conduzidos cas de 96 poços de poliestireno
Segundo Scott (2000), uma das setor tem sido como liberar um experimentos para determinar a (150µL de caldo malte). Uma alí-
falhas que podem ocorrer, por combustível tratado com biocida efetividade de quatro antimicro- quota de 50µL dos tubos com as
exemplo, em programas de mo- no ambiente de forma segura. A bianos indicados para uso em concentrações de biocida supe-
nitoramento da biocorrosão é a orientação dos produtores des- combustíveis sobre fungos dete- riores a mínima inibitória também
medida incorreta dos biocidas. tes compostos químicos, para o riogênicos isolados de óleo die- foi retirada e inoculada. As placas
Geralmente, são adicionados caso da água de lastro do tanque sel (Bento et al., 2005) Aspergillus foram incubadas a 28°C, durante
no sistema automaticamente, é a de se diluir em água e em fumigatus e Candida silvicola, 10 dias. A concentração mínima
conforme rotinas programadas, alguns casos realizar a desativa- e as de biodiesel Paecilomyces biocida (CMB) foi determinada
segundo dosagens informa- ção com outros compostos (sais sp. e Rhodotorula sp. (Bucker et através da ausência absoluta de
das pelo fabricante. Entretanto, inorgânicos). Algumas empresas al., 2010): Biocida A (5-cloro-2- crescimento dos fungos nas dife-
poucos são os detalhes sobre a garantem que se o biocida é cor- metil-4-isotiazolin4-ona e 2-me- rentes concentrações do biocida
quantidade de biocida efetivo retamente utilizado, juntamente til-4 isotiazolin-4-ona), Biocida testadas.
recebido, ou uma medida de com o combustível ele deveria B (4,4-methylene-bis-5-methyl- Avaliação do biocida em
seu efeito residual no sistema. ser transformado em produtos oxazolidine e isotiazolinonas), misturas de diesel e biodiesel:
Outro aspecto a ser considera- de combustão pelo motor (Sie- Biocida C (2,2’ - (1-methyltrime- A partir dos resultados da CMI e
do, é a falha em correlacionar gert, 2009). A utilização de bio- thylenedioxy) bis - (4-methyl-1, 3, CMB foi avaliado a atividade an-
as doses de biocida com con- cidas sintetizados especialmente 2-dioxaborinane);2,2’ - oxybis (4, timicrobiana dos produtos com
tagens microbianas e taxas de para o uso em combustíveis e 4, 6 - trimethyl-1, 3, 2-dioxaborina- combustível. Foram utilizados
corrosão. Os números micro- biocombustíveis tem sido reco- ne) e Biocida D (sodium dime- amostras de biodiesel metílico
bianos no sistema devem ser mendada nos Estados Unidos e thyldithiocarbamante). de soja de origem comercial em
analisados antes, durante e por Europa (Passman, 2003; Siegert, Concentração Mínima Ini- consonância com a Especifica-
períodos frequentes depois da 2009). No Brasil, poucos traba- bitória e Biocida (CMI e CMB): ção da ANP (ANP, 2008), bem
ação do biocida. Assim como lhos na literatura abordam estu- A determinação da concentração como de óleo diesel metropo-
as taxas de corrosão de cupons dos com biocidas no controle da mínima inibitória (CMI) do bioci- litano, com um teor máximo
metálicos deveriam ser acompa- contaminação microbiana com da foi realizada através do méto- de enxofre de 500 ppm (S 500).
nhados durante o tratamento combustíveis. Carecemos de es- do de diluição em caldo de cul- Foram preparados frascos com 4
com o biocida. tudos sistemáticos sobre os efei- tura. Uma solução de 2000ppm mL de diesel puro B0 (100% de
A utilização de agentes quí- tos, a ação antimicrobiana com foi preparada e em frascos este- óleo diesel metropolitano), de
micos no controle da contami- microorganismos deteriogêni- rilizados, com capacidade para biodiesel metílico de soja puro
nação microbiana em tanques cos e principalmente estudos de 15mL, adicionou-se 4mL de caldo B100 (100% biodiesel metílico de
de estocagem de combustíveis validação de produtos biocidas, malte e 4mL da solução-estoque soja), bem como das misturas:
ainda se constitui em uma alter- bem como do impacto decor- do biocida de 2000ppm. Foram B2 (2% biodiesel e 98% diesel) e
nativa pouca conhecida e com rente do descarte inapropriado realizadas diluições sucessivas B5 (5% biodiesel e 95% diesel).
muitas dúvidas a serem esclare- no ambiente. Neste sentido, o em caldo malte, obtendo-se as Amostras de 4 mL de solução
cidas para o setor do petróleo. objetivo do presente trabalho concentrações de 1000ppm; com meio mineral M1 (Bucker et
Dentre elas, qual o biocida indi- foi apresentar os resultados preli- 500ppm; 250ppm; 125ppm; al, 2010) na concentração final de
cado, quais as concentrações a minares de estudos conduzidos 62,5ppm; 31,2ppm; 15,6ppm; 0, 10, 50, 100, 200 e 400 ppm do
serem utilizadas, qual a fase a no âmbito dos projetos associa- 6,4ppm; 3,2ppm; 1,6ppm e 0ppp biocida Biocida A e, 0, 100, 300
se tratar (fase oleosa, interface dos ao estabelecimento de pro- (controle). Os ensaios foram e 500 ppm do Biocida B foram
ou a fase aquosa), qual o tem- cessos microbianos no biodiesel realizados em triplicata e após também preparadas. Cada trata-
po de preservação do combus- estocado, ora desenvolvido pe- realizada as diluições, foram adi- mento foi realizado em triplicata
tível pelo biocida, como realizar las equipes integrantes da Rede cionados 107 esporos ou células. e a cada frasco foi adicionado o
o descarte da fase aquosa dos Brasileira de Estudos e Projetos mL-1. Os tubos foram incubados inóculo dos fungos. Os tempos
tanques de óleo diesel com bio- sobre Estabilidade, Armazena- a 28°C, e a observação do cres- estipulados para o contato com
diesel tratado com biocida. Por mento e Problemas Associados cimento após 48 horas e 7 dias o biocida foram de 30 minutos,
se tratar de um produto biocida (REDE ARMAZBIODI), iniciativa para filamentosos e leveduras 1, 4, 6, 24, 48, 72 horas, 7 e 10
é preciso que esteja licenciado financiada com recursos do MCT respectivamente. A determina- dias, e amostras de 50µL foram
junto ao órgão ambiental com- e da FINEP, liderada pelo Institu- ção da CMI foi realizada através retiradas e inoculadas em placas.
petente pela indústria produtora. to Nacional de Tecnologia. Neste da inibição do crescimento dos As placas com caldo malte e com
Uma das maiores preocupações trabalho analisa-se a efetividade fungos nas diferentes concentra- as alíquotas retiradas após cada
de quem armazena o combustí- de quatro biocidas em controlar ções do biocida pela observação tempo de contato com o biocida,
vel esta em manter a qualidade e eliminar fungos deteriogêni- visual. A partir do tubo, em que foram incubadas á 28ºC. A res-
final do produto. Se a adição de cos em diesel e biodiesel. houve a inibição do crescimento posta de cada microorganismo

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testado foi expressa com escores nesta condição, podem não para a inviabilidade do esporo. ser considerada e sua possível
que indicaram crescimento ou corresponder a concentração O Biocida B de uma forma ge- introdução no conjunto de exi-
não no meio de cultura, ou seja, necessária para controlar uma ral foi eficiente na inviabilização gências futuras da Resolução
a presença de micélio para os determinada população nas con- das células de leveduras e sobre Normativa Nº 7/2008 da Agên-
fungos filamentosos, e a turva- dições de um ambiente real, o os esporos fúngicos, porém sua cia Nacional do Petróleo (ANP).
ção do meio para as leveduras. tanque. Na segunda etapa do eficiência esporicida ou biocida Destaca-se o potencial de ado-
estudo, avaliou-se as concentra- foi observada após um maior pe- ção de produtos biocidas, uma
Resultados ções CMI e CMB em um sistema ríodo de contato com os esporos vez superadas as limitações
modelo, com uma fase aquosa e células (quando se compara a de descarte que ainda interfe-
A concentração mínima ini- e uma fase oleosa (Tabelas 2 e atuação de ambos biocidas na rem na adoção dessa medida
bitória (CMI) de um biocida cor- 3). Uma característica importante concentração a 100 ppm. mitigadora dos processos de
responde a menor concentração do produto a ser considerada é o contaminação microbiana. As
em que um agente antimicrobia- coeficiente de partição, que é a Considerações Finais concentrações dos biocidas A e
no impede o crescimento visível afinidade que o biocida tem pela B obtidas nos testes (condições
de um microorganismo no teste fase combustível e ou pela fase A resolução brasileira estabe- ideais) de CMI e CMB foram efe-
de sensibilidade por diluição água, sendo que esta proprie- lece que todo o biodiesel produ- tivas no controle do crescimento
em ágar ou caldo, enquanto a dade tem uma relação direta de zido no país apresente um Cer- dos microrganismos testados.
concentração mínima biocida efetividade e tempo de preser- tificado de Qualidade emitido Os resultados apresentados nes-
(CMB) se refere à quantidade do vação (Gaylarde et al., 1999; Pas- pelo fabricante, com um prazo ta oportunidade são de apenas
biocida que é capaz de erradicar sman, 2003) . O Biocida A vem máximo de validade de um mês, quatro fungos, que são consi-
a população alvo. Na Tabela 1, sendo investigado com relação a a contar da data de certificação. derados como deteriogênicos
pode-se observar a comparação sua efetividade a baixas concen- Passado este prazo devem ser de combustível diesel e biodie-
entre as concentrações CMI e trações contra microorganismos conduzidas novas análises de sel. Outros grupos microbianos
CMB dos biocidas A, B e C. A de- isolados de óleo diesel conta- densidade, conforme preconi- igualmente importantes, como
terminação da concentração mí- minado e os resultados obtidos zado no parágrafo terceiro do as bactérias aeróbias e anaeró-
nima biocida (CMB), assim como neste estudo corroboram com artigo quarto da citada especi- bias (BRS-redutoras de sulfato)
a CMI revelou que nenhum dos os encontrados na literatura. Am- ficação, bem como determina- que fazem parte do consórcio
microorganismos avaliados foi plo espectro de atividade é uma ções de suas características mais de microrganismos com com-
suscetível ao ingrediente ativo das características desejadas significativamente afetadas pelo petência de se estabelecer du-
presente no Biocida D, sendo de um antimicrobiano para uso processo de envelhecimento, rante o armazenamento, serão
assim não foi considerado na em tanques, pois é necessário tais como: o teor de água, o ín- apresentados em outro artigo.
etapa seguinte. A avaliação da avaliar a efetividade do biocida dice de acidez, a estabilidade à É fundamental o conhecimen-
CMI e CMB é apenas orientativa, sobre outros microorganismos oxidação a 110ºC. Não é consi- to da efetividade de diferentes
com a informação do espec- deteriogênicos do sistema. Ben- derada dentro do cenário brasi- antimicrobianos que estão apa-
tro possível de ação, porém é to & Gaylarde, (2001) em uma leiro a participação microbiana, recendo no mercado, a luz da
conduzida em condições ideais avaliação em laboratório de dife- como um dos contaminantes diversidade microbiana brasilei-
(meios de cultura e condições rentes concentrações do biocida potenciais de sistemas de arma- ra, que dependendo da região
assépticas). As concentrações isotiazolona, observaram que 1 zenamento. Desta forma, se faz do país conta com condições
determinadas como inibitórias e 10ppm de ingrediente ativo fo- importante conhecer e elucidar climáticas distintas e de praticas
ram capazes de prevenir o cres- a participação microbiana (e sua de logística e estocagem dife-
cimento de microorganismos formas de controle mais efica- renciadas.
em meio Bushnell-Hass e óleo zes) como uma das variáveis a
diesel, até 450 dias. No mesmo
estudo verificaram que a levedu- Tabela 1. Comparação entre as CMI e CMB dos Biocidas A, B e C sobre os
quatro microorganismos avaliados.
ra Candida silvicola foi caracteri-
zada como um dos fungos mais Biocida A Biocida B Biocida C
sensíveis as concentrações de 1 Concentração (ppm)
e 10 ppm (ou 60 e 600 ppm do
Microorganismo CMI CMB CMI CMB CMI CMB
produto, respectivamente). No
entanto, os fungos Aspergillus Paecilomyces sp. 31,2 62,5 250 500 7,8 7,8
fumigatus e Hormoconis resinae A. fumigatus 15,6 31,2 125 250 15,6 7,8
no trabalho desenvolvido por
Bento (2001), foram caracteriza- C. silvicola 125 250 125 250 + a
-b
dos como mais resistentes, suge- Rhodotorula sp. 125 125 62,5 125 + -
rindo uma maior concentração a
crescimento foi detectado em todas as concentrações avaliadas
e tempo de contato do biocida b
não apresentou CMB

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Tabela 2. Tempos de morte (em minutos) de C.silvicola, Rhodotorula sp., Tabela 3. Tempos de morte de C.silvicola, Rhodotorula sp., A.fumigatus e
A.fumigatus e Paecilomyces sp. diante das diferentes concentrações testa- Paecilomyces sp. diante das diferentes concentrações testadas do Biocida
das com o com o Biocida A em diferentes misturas de diesel/biodiesel B em diferentes misturas de diesel/biodiesel.

B0 B2 B5 B100 B0 B2 B5 B100
Concentração Concentração
C. silvicola C.silvicola
10ppm +a + + + 100ppm 2h a 2h 2h 24h
100ppm 15 min b
4h c
30min 30min
300ppm 30 min b 15min 15min 15min
300ppm 15 min 15 min 15 min 15min
500ppm 15 min 15 min 15 min 15 min
Rhodotorula sp.
10ppm + + + + 100ppm 24 horas 24 horas 24 horas 6 horas
100ppm 15 min 15 min 15 min 15 min 300ppm 15 min 15 min 15 min 15 min
300ppm 15 min 15 min 15 min 15 min 500ppm 15 min 15 min 15 min 15 min
A. fumigatus
10ppm 15min 1h 15 min 4h
Paecilomyces sp.

100ppm 15 min 15 min 15 min 15 min 100ppm 4 horas 4 horas 4 horas 15min
300ppm 15 min 15 min 15 min 15 min 300ppm 15 min 15 min 15 min 15 min
Paecilomyces sp.
500ppm 15 min 15 min 15 min 15 min
10ppm 15 min 48h 48h 48h
100ppm 30 min 15 min 15 min 15 min
a
minutos; b horas

300ppm 15 min 15 min 15 min 15 min


a
foi detectado crescimento em todos os tempos avaliados; b minutos; c horas
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REVISTA BIODIESEL CADERNO TÉCNICO


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