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CATE BLANCHETT:

UMA VIDA DE AÇÃO,


INTERPRETAÇÃO E
ORIGINALIDADE
O repertório de personagens que Cate Blanchett escolhe interpretar mostra uma
preferência por mulheres fortes, inteligentes, personalidades livres. São papéis
desafiantes e grandiosos que parecem ser coerentes ao modo de ser da atriz
australiana que não tem medo de dizer o que pensa e sabe cair nas graças de alguns
dos maiores diretores de cinema da atualidade. A qualidade irretocável de suas
atuações a fez ser merecedora de inúmeros prêmios e, enquanto muitas atrizes
diminuem o ritmo de trabalho após os 40, Cate Blanchett, completando meia década
de vida, vem mostrando que será um dos grandes nomes do cinema ainda por muito
tempo. Nesta entrevista, a renomada atriz fala sobre seus trabalhos, sobre valores e
sobre liderança, nas telas, na carreira e na vida.

por Ana Maria Bahiana e Clarissa Miranda

Quando a australiana Cate Blanchett entra em da trilogia O Senhor dos Anéis e nos filmes da se­
cena nas telas do cinema, uma grande interpretação quência O Hobbit, Lady Marion, em Robin Hood
está garantida. Ela começou sua carreira no teatro (2010), a ousada produtora de TV da rede CBS in­
em 1993, na tradicional Sydney Theatre Company terpretada em Conspiração e Poder (2015), a espiã
e, de lá, partiu para uma vertiginosa trajetória de da II Guerra Mundial em Charlotte Gray (2001),
sucesso. Participou de uma série da TV australiana a ladra de Oito Mulheres e um Segredo (2018) e a
(Heartland) e, com ela, foi descoberta para o ci­ madrasta de Cinderella (2015). Enfrenta também
nema. Em poucos anos, ganhou o mundo em ter­ com desenvoltura o desafio de reviver personagens
mos tanto de reconhecimento de público como de reais próximos a seu tempo: Cate encarnou a atriz
crítica. Katherine Hepburn em O Aviador (2004) e viveu
As personagens interpretadas por Cate Blan­ o papel de uma das facetas de Bob Dylan no longa
chett mostram sua preferência por mulheres for­ Eu não estou lá (2007).
tes, inteligentes, personalidades livres. Suas esco­ Esses papéis desafiantes e personagens gran­
lhas sempre demonstram versatilidade e coragem diosas parecem ser coerentes ao modo de ser de
para ousar, encarnando nomes como a rainha Cate Blanchett, uma atriz sem medo de dizer o
Elizabeth I, vivida nos dois longas-metragens de que pensa, ao mesmo tempo em que sabe cair
Shekhar Kapur, Elizabeth (1998) e Elizabeth: a Era nas graças de alguns dos maiores diretores de
de Ouro (2007), a rainha elfa Galadriel, nos filmes cinema da atualidade, como Woody Allen, Steven

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Em 2005, pela interpretação da atriz Katherine “Não acho que devemos


Hepburn, em O Aviador, recebeu o Oscar de
Melhor Atriz Coadjuvante. Em 2007, foi indicada subestimar a inteligência da
mais uma vez nessa categoria do Oscar por seu
trabalho no filme Notas sobre um escândalo. Em plateia, dizer a ela o que deve
2008, alcançou um feito raro, sendo indicada a dois pensar, que opiniões deve ter.
Oscar simultaneamente: o de Melhor Atriz por sua
interpretação no filme Elizabeth: a Era de Ouro e O importante é deixar que a
o de Melhor Atriz Coadjuvante por seu papel no
filme Não Estou Lá. Em 2014, por seu papel em história respire, se desenvolva,
Blue Jasmine, de Woody Allen, recebeu o Oscar de e dê algo para o público
Melhor Atriz e uma série de outras premiações. A
personagem principal de Carol (2015) lhe rendeu refletir.”
mais uma indicação ao Oscar de Melhor Atriz.
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Abrindo novas fronteiras, em 2017, estreou
um espetáculo da Broadway: a peça O Presente, contrário de Vitória, que eu vejo como uma
uma adaptação, feita por seu marido, da peça de monarca relutante e que estava à vontade sen­
Tchekhov chamada Platonov. Por sua atuação, do rainha enquanto seu marido estava ao seu
Spielberg, Alejandro González Iñárritu e Martin Scorsese. Em seu discurso de ganhou uma nomeação ao prêmio Tony como lado, Elizabeth era bem diferente. Ela era incri­
aceite do Oscar de Melhor Atriz, em 2014, pelo filme Blue Jasmine, Blanchett Melhor Atriz em uma Peça. Também em 2017, velmente ambiciosa e capaz. Seria pouco dizer
mostrou classe ao homenagear todas as colegas que concorriam na mesma Cate Blanchett recebeu a maior honraria conferida que ela cresceu em um lar em crise. O pai dela
categoria naquele ano (as atrizes Amy Adams, Meryl Streep, Julia Roberts, pelo governo australiano, a Companion of the mandou matar a sua mãe. Só isso já basta.
Sandra Bullock e Judi Dench) e defendeu a importância de fazer filmes com Order of Australia. Ela cresceu nesse ambiente, com essa tragédia
mulheres como protagonistas: “[...] para aqueles de nós da indústria que Enquanto muitas atrizes diminuem o ritmo após em seu passado, e em uma cultura onde o
ainda, de modo tolo, inclinam-se para a ideia de que filmes femininos com os 40 anos de idade, Cate Blanchett, completando casamento era apenas mais uma manobra
mulheres no centro são experiências de nicho. Eles não são. A audiência meia década de vida, vem mostrando que será um política. Se ela se casasse, teria que submeter
quer vê-los e, de fato, eles ganham dinheiro. O mundo é redondo, senhoras dos grandes nomes do cinema ainda por muito a seu marido todo o seu poder político.
e senhores”. tempo. Ela mantém o ritmo de participar de cerca Elizabeth não era capaz de se submeter. Creio
Cate Blanchett ocupa posições de liderança com naturalidade. Em 2018, de três produções por ano, estrela de campanhas que há pessoas neste mundo que nasceram
foi a escolhida para presidir o prestigioso júri do Festival Interna­cional de publicitárias frequentemente e foi, em 2017, a para liderar, e Elizabeth era uma delas.
Cinema de Cannes. Entre 2008 e 2013, dividiu com o marido, o escritor Andrew oitava atriz mais bem paga de Hollywood, com
Upton, a direção artística da Sydney Theatre Company, local em que iniciou um cachê de US$ 12 milhões. Multifacetada, Elizabeth I dizia que, para liderar, era preciso, às
sua carreira. No cargo, foi responsável pela escolha e acompanhamento do comprova seu talento no teatro, na televisão e no vezes, ter um coração masculino. Isso se aplica a
repertório interpretado pela famosa companhia cujos principais palcos estão cinema em diferentes gêneros (de filmes infantis a você?
localizados na região das docas, em Sydney, na Austrália. Cate Blanchett dramas históricos), sagrando-se uma das estrelas Meu coração é estritamente feminino. Mas
aproveitou o tempo à frente da companhia para retomar que brilham no universo das grandes intérpretes. acho que isso não é uma definição limitada.
suas raízes no teatro e de­senvolver ainda mais sua técnica Uma prova de que o talento perdura e se multiplica Não se pode esperar este ou aquele comporta­
“Uma coisa na qual de interpretação. em diferentes frentes de atuação com o passar do mento de uma pessoa por causa de seu gênero.
eu quebro os clichês: A qualidade irretocável de suas atuações foi reco­ tempo. Para meu trabalho como atriz, é importante
nhecida por inúmeros prêmios. Em 1993, ganhou o re­ compreender e abraçar os clichês masculinos
não tomo decisões conhecimento Newcomer Award da própria Sydney Quando o grande público “descobriu” você na tri- e os clichês femininos dentro de mim, porque
Theatre Company, por sua performance em Kafka Dances. logia O Senhor dos Anéis, como Galadriel, você já quando se compõe um personagem é impor­
movida por emoções – No ano seguinte, foi a vez de ganhar o Rose­mont Best Actress tinha quase uma década de carreira. E, logo a seguir, tante ver o comportamento masculino e femi­
por instinto, sim. Mas Award, o seu segundo prêmio por aquela companhia, por você foi aclamada mundialmente em Elizabeth, nino do modo como ele é recebido pelos ou­
sua atuação em Oleanna, em que contracenou com Geoffrey como a rainha Elizabeth I da Inglaterra. Como tros. Uma coisa na qual eu quebro os clichês:
sempre informada Rush. Por seu papel como rainha em Elizabeth, ganhou você vê essa mulher tão poderosa, hoje? não tomo decisões movida por emoções – por
em 1999 o Globo de Ouro de Melhor Atriz de Drama e a Elizabeth tinha uma mente brilhante. Eu me instinto, sim. Mas sempre informada pelo in­
pelo intelecto.” primeira indicação a um Oscar na categoria Melhor Atriz. senti um pouco boba comparada com ela. Ao telecto. »

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Os papéis desafiantes e Você já fez uma imensa variedade de personagens em filmes completa- Os papéis interpretados por Cate Blanchett mostram sua preferência por mulheres com personalidades fortes. Da esquerda, a
personagens grandiosas atriz Katherine Hepburn em O Aviador (2004); a rainha Elisabeth, em Elizabeth: a Era de Ouro (2007); a rainha elfa Galadriel, em
interpretados por Cate
mente diferentes – ação, fantasia, drama, biografias... Como você escolhe um dos filmes da trilogia O Senhor dos Anéis (2010); e a Lady Marion, em Robin Hood (2010).
Blanchett parecem ser seus projetos?
coerentes ao modo de ser, Prefiro escolher projetos com personagens complexos, ambíguos mes­
uma atriz sem medo de dizer mo. Não acho que devemos subestimar a inteligência da plateia, dizer e investe em fazer o melhor em cada um deles. É o que tenho feito com minha
o que pensa, ao mesmo
tempo em que sabe cair nas a ela o que deve pensar, que opiniões deve ter. Para mim, para o meu carreira. Não tenho uma direção preestabelecida. Não há nenhuma filosofia ou
graças de alguns dos maiores trabalho, o importante é deixar que a história respire, se desenvolva, e ambição guiando minha trajetória, exceto a vontade de abraçar cada oportuni­
diretores de cinema da dê algo para o público refletir. dade que se apresenta. Eu gosto de ser surpreendida.
atualidade.

Qual é a sua melhor lembrança de trabalho? Nem mesmo a fama?


Meu marido e eu viajamos muito por conta de nosso trabalho, e eu Não penso muito sobre fama. Penso sempre que gostaria que muita gente fosse
às vezes me sinto desconectada do mundo, porque, como atriz, es­ ver os filmes e peças em que trabalho. É um trabalho de todos. Também não
tou sempre em um mundo inventado. Eu sinto, muitas vezes, quando gosto de falar sobre mim. Prefiro falar sobre outras pessoas.
estou viajando, que não consigo participar da cultura local, porque,
por conta do meu trabalho, estou vivendo em uma bolha, em um Você já fez o papel de líderes no cinema, e você mesma é uma líder em sua atividade.
mundo separado. Uma exceção importante foi Babel O que, na sua opinião, é essencial para ser um líder?
[filme de 2006], quando filmamos no Marrocos, e Ale­ Uma parte importante de ser um líder é saber resolver conflitos. É saber ceder e
jandro [González Iñárritu, o diretor] tinha uma preo­ ver o outro lado. Em uma atividade criativa, não ceder nem sempre é uma boa
“Quem vive no mundo criativo cupação de integrar a cultura local no filme. Estáva­ coisa. Muitas vezes os resultados do trabalho não são tão bons. Muitas vezes os
vai de momento a momento mos em um vilarejo e procuramos nos integrar ao dia melhores momentos criativos vêm de acordos, de chegar a um meio-termo.
a dia dos residentes. Estava com meus filhos no Marro­
e investe em fazer o melhor cos e nunca mais vou esquecer a experiência de vê-los Você é uma das pessoas mais ativas na luta por melhores condições de trabalho para
brincando com as crianças do lugar, correndo atrás mulheres nas artes. Isso é uma opção política sua?
em cada um deles. Não há das cabras. Estou em uma profissão muito visível, muito pública, na qual qualquer coisa que
nenhuma filosofia ou ambição se diga além do que a pessoa está vestindo pode provocar críticas. Mas eu acredito
Você tem uma meta, um plano para sua carreira? que artistas podem e devem fazer mais que isso. Artistas sempre abriram cami­
guiando minha trajetória, exceto Aprendi muito vendo horas e horas de entrevistas com nhos. Por isso acho importante o que tantos de nós estamos fazendo em nossa
Bob Dylan [para o filme “Eu não estou lá”]. Em uma profissão, abordando as questões de representatividade, inclusão, respeito e se­
a vontade de abraçar cada delas, alguém pergunta para ele “quais seus planos gurança, contra os abusos sexuais. Porque, através do que está acontecendo em
oportunidade que se apresenta. para o futuro?”. E ele responde: “meu plano é não ter nossa profissão, isso pode também acontecer em outras profissões menos públicas.
planos”. Eu acho que sei o que ele quis dizer: quem Porque não existe profissão imune à falta de salário de igual para igual ou ao abuso
Eu gosto de ser surpreendida.” vive no mundo criativo vai de momento a momento de poder. Igualdade não é uma questão política, é uma questão humana. »

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Enquanto muitas atrizes


diminuem o ritmo com
o avançar da idade, Cate
Blanchett, completando
meia década de vida,
vem mostrando que

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será um dos grandes
nomes do cinema ainda
por muito tempo.

Quais as qualidades que você acha mais im­portantes?


Compaixão e gratidão. O trabalho como atriz deve ajudar a entender
a vida de vários pontos de vista – para mim, pelo menos, foi muito
importante, e reforçou esse sentimento. Como diz o ditado, “ser capaz
de andar uma milha nos sapatos de outra pessoa”. Uma consequência
disso é a gratidão. Sou uma pessoa apaixonada por história. Ver como
outras mulheres abriram portas na minha profissão sempre me lembra
de ser grata. As oportunidades que tenho hoje não existiriam sem es­
sas mulheres.

Como você vê a trajetória dessas mulheres na sua profissão?


O panorama para mulheres na minha profissão – no teatro, no cine­
ma, na televisão – mudou tremendamente nos últimos anos. Uma mul­
tidão de mulheres abriu caminhos antes de mim e tornou possível uma
carreira como atriz. Hoje minha carreira pode ter uma
longa vida, graças a essas mulheres. Quando eu come­
“Eu sempre tentava cei, as pessoas me diziam: aproveite, porque a carreira de
atriz tem uns cinco, seis anos pela frente. Tentei ficar oti­
subverter os clichês e mista, mas pensava “é capaz disso ser verdade”. O lado
fazer algo diferente e novo positivo disso é que sempre tratei cada projeto como se
fosse o último. Isso fez com que eu tratasse cada um deles
com aquele personagem. como algo especial. No começo eu aceitava papéis que
outras atrizes mais tarimbadas tinham negado, como pa­
A lição que ficou para mim péis de namoradinhas. Mas eu sempre tentava subverter
até hoje foi: tudo pode ser os clichês e fazer algo diferente e novo com aquele per­
sonagem. A lição que ficou para mim até hoje foi: tudo
uma oportunidade.” pode ser uma oportunidade.

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ELIZABETH
Complementaridade entre as inteligências
masculina e feminina na lógica do poder e na
construção de um grande projeto

por Clarissa Miranda

Quem gosta de cinema sabe: um mesmo filme pode ser visto sob diferentes pris­
mas. O envolvimento emotivo que temos ao ver uma produção cinematográfica
nos faz aprender, amar, odiar, torcer, chorar e rir. Vivemos dramas e alegrias por
meio dos personagens. Nossa subjetividade nos leva a sentir e viver internamente a
ação projetada na tela grande. Ao mesmo tempo em que nos emocionamos, somos
observadores externos daquela história e conseguimos ver, por trás do que aconte­
ce, um significado mais profundo, as dinâmicas e motivações envolvidas em cada
personagem.
Esse prelúdio se faz necessário para explicar o exercício a que esse texto se
propõe. Falando em liderança feminina e em mulheres que representam mudan­
ças históricas, culturais, sociais e econômicas para seu tempo, fomos buscar no
cinema personagens que são lideranças incontestáveis. O número de opções não
é pequeno, mas escolhemos o filme Elizabeth (1998), do diretor indiano Shekhar
Kapur, com roteiro de Michael Hirst. A trama é um olhar inteligente sobre a lide­
rança verídica exercida por uma mulher em meio ao jogo de xadrez mortal que era
a corte do Reino Unido no século XVI – tendo no tabuleiro questões de poderio
político, religioso, militar, econômico, cultural e social. Elizabeth consegue o feito
de reinar por 45 anos e tem seu reinado chamado até hoje de “A Era de Ouro”. O
filme escolhido conta essa história de liderança feminina, mas também, mostra, de
modo claro e um pouco raro no cinema, a complementaridade das inteligências
masculina e feminina na construção de um grande projeto.
Entre os significados mais profundos e as dinâmicas desse filme, centramos
atenção nas lições de liderança que sobressaem aos olhos a partir da convivência
entre os personagens da rainha Elizabeth, vivida por Cate Blanchett, e de Sir Fran­
cis Walsingham, interpretado por Geoffrey Rush, o secretário principal da rainha.
Walsingham começa a trajetória junto à monarca como adido de segurança e chega
a seu principal conselheiro.
Como bem se sabe, filmes podem reescrever a história e Elizabeth utiliza, é cla­
ro, essa prerrogativa. Mas muitos fatos históricos ali mostrados são concretos e
importantes para compreender as motivações entre esses dois personagens: o nas­
cimento da grande potência que é a Inglaterra, os aspectos de amor e traição na
corte, atentados à vida dos monarcas, diplomacia intrincada, disputas religiosas, o
florescimento das artes sob o reinado de Elizabeth, entre outros. »

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Atacada por todos os lados por ser filha ilegíti­ De que modo, na prática, podemos dizer que
ma do rei Henrique VIII com Ana Bolena, criada a presença de uma inteligência de caráter mascu­
dentro da fé protestante e, por isso, sem o apoio lino, como é a de Walsingham, auxilia na chega­ C

da Igreja Católica Romana e das nações católicas da ao poder de Elizabeth? Repare que é ele quem M

da Europa, e sofrendo a concorrência ao trono por descobre a trama de traição liderada pela Igreja Y

parte de sua prima, Maria da Escócia, Elizabeth Católica envolvendo representantes do círculo mais CM

tinha tudo para ser eliminada nos primeiros próximo da rainha. Calmo e racional, Walsingham
anos de seu governo. Porém, a supremacia dese­ aconselha Elizabeth na reação que ela deve tomar, MY

jada pela jovem rainha encontra um aliado em orientando a abandonar o vínculo de amor ou fi­ CY

Walsingham, que permite a ela fazer as escolhas delidade a qualquer pessoa que já não seja fiel ao CMY

e renúncias capazes de garantir sua liderança. Ele projeto para o qual ela se dedica. Ele observa o K

é o decodificador das passagens de sucesso que sofrimento da rainha enquanto precisa decidir o
Elizabeth precisa fazer se deseja manter seu poder. que fazer com seu amor de juventude que está en­
O filme constrói um belo conjunto de cenas volvido na trama. Fala pouco a seu lado, mas sabe
que mostram a aproximação entre os dois per­ direcioná-la para a ação, apesar da dor. Percebe
sonagens nos primeiros momentos do governo a realidade de vida dessa jovem que, a partir do
elisabetano. O respeito mútuo entre Elizabeth e momento em que se torna soberana, tem sua vida
Walsingham vai transparecendo em olhares cúm­ privada posta em cheque em relação ao que são os
plices e diálogos exatos interpretados magistral­ deveres de uma rainha naquela época.
mente por dois grandes atores. Entre essas cenas, Walsingham nunca insiste para que ela se case.
um exemplo está na divertida passagem em que Sempre entende que é a ambição de Elizabeth ter
Elizabeth dialoga com os representantes da Igre­ voz própria e brilhar sozinha à frente de seu rei­
ja da Inglaterra solicitando que apoiem o Ato de no. A rainha tem força suficiente para enunciar a
Unificação que ela propõe. Enquanto o debate todos que, em seu governo, haveria apenas uma
transcorre, Walsingham consegue manter presos “senhora” e nenhum “senhor”. Enquanto os outros
em um porão os párocos que eram mais críticos conselheiros aguardavam apenas o casamento real
à medida. Tranquilo, após ter tirado de cena os para poder tirar a voz de comando de Elizabeth,
inimigos da proposta da rainha, ele acompanha Walsingham, ao contrário, ensina-a a usar sua for­
com um sorriso de admiração no rosto, enquan­ ça com inteligência para não perder o espaço de
to Elizabeth, habilidosamente, com inteligência e poder. Ela tem o sangue real necessário para ocu­
senso de humor acurado, conduz os membros da par a posição de monarca, mas não sabe como so­
assembleia a votar a favor de seu pleito. breviver naquele meio. Ele tem o conhecimento e a

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astúcia para compreender que, por meio dessa rainha, é possível

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construir algo grandioso.
Walsingham percebe em Elizabeth um verdadeiro business.
Um modo de tornar grande a Inglaterra e de colocar em prática
a inteligência dele próprio. Sagaz conhecedor da natureza huma­
na, é capaz de identificar os intrincados jogos de traição presen­
tes na corte e salvaguardar Elizabeth deles. Por meio da política
que ela adota, Walsingham consegue ter uma vida livre mesmo
convivendo com uma sociedade puritana. Faz de Elizabeth uma
passagem para que essa sociedade possa ser melhorada. Sendo
protestante, a Inglaterra fica imune ao domínio do papado, que
tanto influenciava no comando das outras nações da época. As
leis implantadas permitem manter benefícios importantes para a
economia do país, contratando, por exemplo, corsários e consti­
tuindo uma verdadeira “máfia” que vai transformar a Inglaterra
na potência colonizadora mais importante do mundo.
Se essa nação fosse uma empresa, a parceria entre os dois só­
cios que a constroem juntos naquele momento histórico pode
ser definida como uma relação de ganho para ambas as partes.
Walsingham é um investidor capaz de orientar o projeto daquela A FORÇA E A VIVACIDADE DA INTELIGÊNCIA FEMININA
jovem para o sucesso. Elizabeth, ainda ingênua nos modos do
poder, mas com inteligência, força e ambição para chegar ao que
deseja ser, aceita a orientação e a grandeza desse mentor ao seu
lado. Conheça o projeto e incentive a produção e a
Ela homologa sua força como monarca usando todos os re­
cursos que tem à sua disposição. Constrói a imagem da Rainha circulação de um Documentário realizado com as
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Virgem utilizando o que está ao seu alcance: vestuário, o am­ principais lideranças femininas da atualidade,
biente em que vivia, o modo como fala com seus súditos, o estilo bem como ações para a formação
de vida pleno em arte, a voz firme que adota nas decisões de de futuras líderes.
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governo, o círculo de pessoas de confiança... Tudo reflete suas


escolhas. Investe-se por inteiro no projeto de tornar grande sua
nação.
Entre Elizabeth e Walsingham, pode-se dizer, há um profundo
amor compartilhado. Porém, não é o amor de romance que vemos
em muitas produções cinematográficas. Um dos pontos fortes que Entre em contato e conheça as formas
tornam esse filme único sobre liderança é o amor em comum que de participação e contrapartidas.
esse homem e essa mulher compartilham por um imenso empre­ comunicacao@performancelider.com.br
endimento. A filmografia mundial é repleta de grandes histórias +55 55 9 9941-1100 | +55 55 9 9926-0793
de romance, mas, nesse inusitado encontro de almas que Elizabeth
propõe, o amor de ambos está centrado em um projeto em co­
mum e, por intermédio desse projeto, as inteligências feminina e
masculina se complementam em resultados que, 400 anos depois,
Projeto aprovado pela Lei Federal de Incentivo à Cultura
ainda são exemplos de grandeza e glória para a humanidade. e apto para captação de recursos via renúncia fiscal.

Este artigo é inspirado nos estudos do Acad. Prof. Antonio Meneghetti sobre
cinema e sua influência na sociedade atual. Para uma análise mais aprofundada
do filme Elizabeth e de outros filmes sobre liderança, sugere-se a obra Cinelogia
Ontopsicológica. Informações: www.ontopsicologia.com.br.

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