Você está na página 1de 5

O livro é a continuação de A Preparação do Ator, que, aliás, ainda não li, e estou pensando se

lerei as outras obras do autor. Estou com A Criação de um Papel, do Stanislavski, na minha
mesa-purgatório, aguardando uma oportunidade de ser lido. De volta ao livro, gostei bastante
da obra, tanto pela linguagem utilizada, quanto pelos conhecimentos transmitidos. E para
quem – como eu –, sonha em se tornar um escritor, é preciso abrir a mente para várias artes,
sendo inclusive uma ótima forma de lidar com os bloqueios criativos e aprender mais sobre o
comportamento humano.

Na nota sobre a tradução norte-americana é abordado brevemente quando é que o ator,


diretor teatral, pedagogo e escritor russo Constantin Stanislavski mandou os seus manuscritos
e permitiu sua tradução, para que artistas do mundo inteiro pudessem aprender mais sobre a
arte teatral e suas experiências. Elizabeth Reynolds Hapgood descreve os objetivos gerais do
autor: “Ajudar o ator a desenvolver todas as suas capacidades intelectuais, físicas, espirituais e
emocionais – tornando-o assim capaz de preencher seus papeis com as proporções de seres
humanos inteiros, personagens que terão o poder de levar o público ao riso, às lágrimas, a
emoções inesquecíveis”. Pelo pouco que provei do autor, deu para perceber que Stanislavski
era um amante das artes cênicas e, como visto no seu personagem, Tórtsov, o diretor da
escola e do teatro, ele nunca desistiu de aprender e ensinar, deixando essa lição para seus
alunos e para quem ler o livro.

O que torna a obra mais gostosa de ler é a maneira que ela foi escrita. A Construção da
Personagem traz vários conselhos práticos e é bem didático, no entanto para não se tornar
maçante e nem técnico demais, Constantin Stanislavski inventou uma ficção que passa numa
escola dramática, com seu próprio palco e auditório. Seus personagens, além de Tórtsov (que
representa o autor), são diferentes arquétipos de estudantes de teatro, tornando a
experiência de avalição dos aprendizados de cada um deles mais interessante, por causa da
identificação entre leitor e personagem.

À medida que os personagens vão tendo lições teóricas e prática sobre diferentes elementos
cênicos, o leitor vai aprendendo junto – é claro, na medida do possível, sem achar que só
porque você leu o livro, você vai virar ator. Seguem os títulos de cada um dos capítulos do livro
A construção da personagem: Para uma Caracterização Física; Vestir a Personagem;
Personagens e Tipos; Tornar Expressivo o Corpo; Plasticidade do Movimento; Contenção e
Controle; A Dicção e o Canto; Entonação e Pausas; Acentuação: a Palavra Expressiva; A
Perspectiva na Construção da Personagem; Tempo-Ritmo no Movimento; Tempo-Ritmo no
Falar; O Encanto Cênico; Para uma Ética do Teatro; Padrões de Realização; Algumas Conclusões
sobre a Representação.

Os títulos dos capítulos definem bem o que se aprende em cada um deles. Os atores lidam
com a dificuldade inicial de darem vida para seus personagens, aprendendo que não se trata
somente da caracterização externa (roupas, maquiagens, perucas e demais acessórios), mas
também da caracterização interna (emoções, manias, personalidade). Então, o leitor aprende
mais sobre o movimento corporal, a fala e o tempo-ritmo. Cada um dos elementos
apresentados por Stanislavski fazem toda a diferença a nível consciente e subconsciente na
atuação e o desafio principal de quem está em cima do palco é combinar todas essas técnicas
de forma natural, como se o personagem fosse uma pessoa viva e não simplesmente um
papel.

Seguem alguns trechos que gostei do livro e que além de aprenderem mais sobre o teatro, me
fizeram refletir sobre a arte em geral, até mesmo a literatura:

“A arte confere beleza e dignidade e tudo que é belo e nobre tem o dom de atrair”.

“O sucesso é transitório, fugaz. A paixão verdadeira está na pungente aquisição de


conhecimentos sobre todos os matizes e sutilezas dos segredos criadores”.

“Tolstoi, Tchekov e outros grandes artistas achavam que era necessário sentarem-se todos os
dias a uma certa hora para escrever, se não um romance, um conto, ou peça, pelo menos um
diário, registrando pensamentos ou observações. O objetivo principal era cultivar dia a dia os
modos mais delicados e precisos de transmitir todas as sutis complexidades dos pensamentos
e sentimentos humanos, as observações visuais e as impressões emocionais”.

“Quanto maior é o talento do ator, mais ele se preocupa com sua técnica, sobretudo quanto às
suas qualidades interiores”.

Stanislavski faz uma crítica interessante aos seus alunos que pode descrever bem a inquietação
atual dos jovens artistas, independente de suas áreas, comentando que é necessário aprender
as coisas com o passar dos anos, e não achar que a técnica pode ser dominada perfeitamente
num curto período de tempo. O autor diz que é necessário estudar parte por parte e depois
fundir no todo, para compreender os fundamentos e aprender sua inteireza e acrescenta:

“Não podem pretender fazê-lo de uma só vez. É como ir à guerra: tem-se de conquistar o
terreno pouco a pouco, consolidar os ganhos, manter contato com as comunicações da
retaguarda, expandir, conquistar novas vitórias, antes que se possa falar em conquista
definitiva”.

Depois desse trecho inspirador do Stanislavski, fica aqui a minha recomendação: leia A
Construção do Personagem se você aprecia teatro e deseja aprender mais sobre as artes
cênicas, tendo em mente que quando adquirimos o conhecimento sobre uma área, muitas
vezes, podemos aplicar esses conceitos aprendidos em outra. Por exemplo, através dos
ensinamentos, pude aprender a dificuldade do ator de interpretar uma personagem por causa
de sua complexidade, logo como escritor, percebi que é preciso prestar atenção não só na
aparência, mas também no jeito que a pessoa se comporta, anda, corre, fala, ri, chora, enfim,
como ela se expressa. Além deste, também é recomendável ler as outras obras do Constantin
Stanislavski. Nesta busca pelo conhecimento artístico, você pode acabar aprendendo mais
sobre si mesmo e as pessoas ao seu redor.

***********************************************************

Na introdução realizada por Joshua Logan, ela nos mostra que Stanislavski não é um método
para ser copiado, e sim, ele deve ser estudado e analisado nas condições de cada País, cada
cultura e esta conclusão não é dela, é do próprio Stanislavski. Ela e Charles Leatherber, dois
estudantes norte-americanos que chegaram até ele através de uma bolsa de estudos do
Friendship Fund, de Charles R Crane, uma organização que Se iniciou com Bretaigne Windust e
que tinha por objetivo reproduzir o ?Teatro de Arte de Moscou?. Quando Stanislavski
descobriu a intenção deles, ele disse: ?Vocês devem ficar aqui para observar e não copiar. Os
artistas têm de aprender a pensar e sentir por si mesmos, e a descobrir novas formas?. Ele
explicou que o método que usaram EM 1898, quando fundaram o ?Teatro de Arte de Moscou?
já havia se modificado várias vezes e que muitos dos seus alunos já haviam rompido e
formaram novas Cias. Eles ficavam observando um ensaio de uma ópera, ?O Galo de Ouro?,
verificaram como Stansilavski executou um trabalho árduo para com que o cantor executasse
o canto sem exageros de gestos, para que o cantor representasse com verdade. Depois
Stanislavski explicou-lhes que a pior coisa que temos de combater nos cantores são os
professores de canto que, ensinam gestos horríveis, que os cantores não podem obter um
certo tom se não estiverem de pé. Durante os meses que estiveram em Moscou com
Stanislavski, assistiram também à várias montagens no Teatro de Arte de Moscou. Ao
despedirem- se de Stanislavski, ele lhes deu uma foto a cada um e na foto de Joshua Logan ele
escreveu: ?Antes ame a arte em você do que você na arte.? E vamos ao que interessa.

Capítulo I Nesta aula, Stanislavski pediu para Tórtsov, diretor da escola e teatro, algumas
demonstrações de caracterizações externas. Ele explicou que sem uma forma externa de
caracterização, para o público fica difícil a visualização e o traçado interior do papel que está
sendo realizado. Depois de alguns exemplos de truques externos, verificamos que a sua
personalidade estava oculta, mas Tórtsov não havia realizado nenhuma adaptação interior.
Mas, como encontrar o truque certo? Isto é coisa que se aprende na vida, nos livros ou
estudando anatomia. Tórtsov explicou que cada indivíduo desenvolve uma caracterização
exterior a partir de si mesmo e de outros; tirando da vida, real ou imaginária conforme sua
intuição e observando a si mesmo e aos outros, tirando-a da sua própria vida, experiência da
vida ou da de seus amigos, de quadros, gravuras, desenhos, livros etc...

Capítulo II ? Vestir a personagem - Esta aula tem como discussão, a descoberta do


personagem pelo externo caminhando para o interno, e discute também outros detalhes.
Todos foram para as salas de figurinos procurar roupas e acessórios para a mascarada que
seria realizada 3 dias depois. Os outros alunos escolheram rapidamente mas, o rapaz
observador não achava nada. Procurava algo atraente. Depois de algum tempo ele identificou-
se com um velho fraque meio esverdeado/amarelado. Mas ele não achava uma personagem
para aquela roupa de homem mofado. Ao ir para a casa, ele tentou encontrar a personagem
entre fotos velhas em uma loja de artigos de Segunda mão, mas não achou nada. No dia da
mascarada, ainda não havia achado o personagem. No camarim todos se preparavam na maior
algazarra e isso o irritava, pois ele não conseguia concentrar-se em como seria aquele homem
mofado. Já maquiado e com a roupa, ficou sozinho no camarim estava desistindo de
apresentar-se ao diretor. Começou a remover a maquilagem quando surgiu com a mistura um
tom esverdeado/amarelado no seu rosto. Ele espalhou mais creme pela barba e cabelo.
Mudou a cartola de ângulo e entortou as pernas para dentro, de uma forma ridícula. Pegou
uma bengala e também solicitou a um serventeque buscasse uma pena de pato para pôr atrás
da orelha. Surgia para ele o personagem de um crítico rabugento, destes que têm prazer em
achar o defeito dos outros. Kóstia se transformou neste crítico. O diretor Tórtsov viu aquela
figura e começou a questioná-lo: - É você Kóstia? ele respondeu com outra voz e com um
andar diferente - Sou o crítico! - Que crítico é você? perguntou Tórtsov - Da pessoa com quem
vivo! - E quem é? prosseguiu Tórtsov - Kóstia. - E você entrou na pele dele? - Se entrei! - Quem
deixou? - Ele. E prosseguiu. O diretor o cumprimentou pelo belíssimo trabalho. Ele voltou para
casa realizadíssimo por Ter experimentado a vida de um outro ser. ?Enquanto ele tomava
banho, lembrou-se de que representando o papel do critico ainda assim não perdia a sensação
de que era ele mesmo. Chegou a esta conclusão porque enquanto representava, sentia um
prazer imenso em acompanhar a sua transformação. Era o seu próprio observador ao mesmo
tempo em que a sua outra parte estava sendo uma criatura crítica, censuradora. Ele levanta
uma pergunta.? Mas posso acaso afirmar que essa criatura não faz parte de mim? Derivei-a
da minha própria natureza. Dividi-me, por assim dizer , em duas personalidades. Uma,
permanecia ator, a outra, era um observador. Por mais estranho que pareça essa dualidade
não só não impedia, mas até promovia meu trabalho criador. Estimulava-o e lhe dava ímpeto.

Capítulo III ? Personagens e tipos - Neste capítulo, o diretor fez as conclusões sobre a
mascarada. De como os jovens atores se prendem com a vaidade para a interpretação, isto é,
não existindo a preocupação em ser um personagem diferente, mas sim em brilhar em cena e
exibir seus dons de beleza. Ele também fala sobre outros tipos de atores que procuram
caminhar para o campo da caracterização, porque não dotados de belezas físicas e então
procuram cativar o público por outros meios. Destes tipos de atores, eles acabam seguindo por
2 caminhos e estes exemplos estiveram na mascarada. O primeiro é o dos atores que se
deixam levar para a trilha falsa dos clichês e da super atuação. Um dos exemplos dados neste
capítulo é como representar um camponês. Ele assoa o nariz sem lenço, anda
desajeitadamente, enxuga a boca na ponta do seu gibão de pele de carneiro, etc... Todos estes
clichês generalizados são tirados da vida real e transmitem um personagem, mas não são
individualizados. De todos os alunos que realizaram a mascarada, somente Kóstia realizou um
personagem individualizado. Kóstia explicou que não conseguia discutir com o diretor (encará-
lo), como havia feito quando representava, porque na vida real ele tinha uma admiração e
respeito pelo diretor. Este foi um dos fatores que mostram como ele viveu o personagem do
crítico asqueroso. ?Este capítulo pode ser resumido em uma frase que está nele: A
Caracterização é a mascara que esconde o indivíduo-Ator. Protegido por ela, pode despir a
alma até o último, o masi íntimo detalhe. Este é um importante atributo ou traço da
transformação.
Capítulo IV ? Tornar expressivo o corpo - Neste Capítulo, Kóstia conta sobre as pequenas
tarefas de exercícios do corpo que ajudam o ator. Os exercícios físicos também ajudam no
raciocínio, como o diretor explicou quando começaram a Ter aulas de cambalhota com um
palhaço de circo. Esta atividade ajuda a desenvolver a qualidade da decisão. ?Trecho do livro:
Para um acrobata seria desastroso demais ficar devaneando logo antes de

executar um salto mortal ou qualquer outra proeza de arriscar o pescoço! Nesses momentos
não há margem de indecisão. Sem parar para refletir, ele tem de entregar-se nas mãos do
acaso e da sua própria habilidade. Tem de saltar, haja o que houver.? È exatamente isso que o
ator tem de fazer quando chega ao ponto culminante do seu papel. Tem de agir e tem de
executar o salto a todo pano.

Você também pode gostar