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Entre
Quatro Paredes
Centro Universitário “Barão de Mauá”
Disciplina: Direção
Docente: Robson
Discente: Rodolfo de Souza Campos

Elenco
1. Garcia: Alex Merino (3 Ano)
2. Inês Serrano: Juliana Margarete ( 2 Ano)
3. Estelle Rigault: Bárbara Heliodoro ( 3 Ano)
4. O Criado: João Luis (2 Ano)
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Relatório do Processo Criativo de Montagem.

Estamos em junho e tive praticamente dois meses de experiência de ensaio


com os atores da peça de Direção “Entre Quatro Paredes”.
Pude observar que durante os ensaios os atores se mostravam mais aptos a
improvisar do que fazer apenas uma leitura dramática. É claro que com a leitura
os atores tomam uma conscientização maior do enredo da peça, mas ela por si só
não basta para trabalhar individualmente cada personagem.
Foi neste ponto de minha observação que procurei fazer um trabalho com
os atores de forma que cada um pudesse liberar do inconsciente as
características próprias do personagem mais a sua contextualização dramática.
Em maio eu propus num exercício que os atores mediante o texto orientado,
ficassem com os olhos vendados e pudessem expressar a fragilidade dos
sentidos mais a situação desesperadora dos mesmos personagens se encontrarem
no inferno depois de mortos. A princípio pensei que os atores iriam atingir um
nível de angústia e de desespero maior do que fizeram no exercício. Por outro
lado houve uma linha condutora diferente da minha intenção de Diretor que foi
se manifestando pouco a pouco, onde os atores criaram uma auto-dependência e
fragilidade que era a minha intenção.
Depois desse exercício ainda repeti-o por mais duas vezes até que na
terceira vez eles já haviam captado a atmosfera sinistra do cenário, da situação e
do objetivo cênico e filosófico proposto por Sartre. A partir deste ensaio
procurei fazer com que os atores improvisassem em cima da história
conjuntamente criando a expressão vocal e corporal dos personagens. Um
exemplo: Garcia é um covarde e como deve ser a voz de um homem covarde?
Como seria seu andar, sua maneira de olhar Inês e Estela? Suas vontades não-
expressas nas falas, o subtexto do pensamento e os movimentos involuntários.
Esse conjunto de atitudes e sub-ações proposto nas práticas teatrais de
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Stanislawski é que deram uma base mais sólida para a construção dos
personagens da peça.
Numa outra semana buscamos fazer o exercício de concentração e a busca
do eu interior, aliada à leitura de textos existencialistas, como vários relatos de
Sartre, Heidegger e Kierkegaard. Esses filósofos contribuíram grandemente para
a fixação da doutrina existencialista e foram de grande utilidade para apoiar a
construção dos personagens.
No exercício de busca do eu interior propus aos atores que ficassem
deitados no chão ao som de música instrumental. Ficaram assim por vinte
minutos até que eu pedi para que suas mentes ficassem vazias e me relatassem
como é estar com a mente vazia. Os atores mencionavam que estar com a mente
vazia era ver uma luz dourada invadindo a sala e por todas as células do corpo.
Depois pedi para que eles relatassem as sensações inconscientes de forma verbal
e depois de forma corporal. Após algum tempo pedi para que os atores se
desvencilhassem da consciência do eu e introduzissem a outra consciência do
personagem. Exemplo: Pedi à Juliana que não é lésbica para que entendesse
naquele momento o universo de uma lésbica. Ela procedeu da seguinte forma:
Tentou entender o amor fraternal de sua irmã como se esse amor fraternal fosse
um amor lésbico e dessa forma transpôs o papel de irmã para o papel de Estela,
a sua amada.
A mesma coisa se deu com a atriz que faz a Estela. Pedi para que ela
entendesse o universo da alta sociedade parisiense, seus costumes, sua hipocrisia
e sua atitude de matar a própria filha como símbolo da frieza, da indiferença e da
crueldade humana.
A atriz começou a desenvolver um processo de relação com os conteúdos
existenciais da personagem, buscando algo de seu íntimo que se parecesse com
Estela e também criar os conteúdos não apreendidos da personagem.
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Até este ponto cheguei a um resultado parcial dos meus objetivos de


diretor, uma vez que os meus objetivos para este espetáculo se baseiam no
existencialismo filosófico.
Na segunda etapa do processo criativo, busquei fazer com que a história da
peça fosse convincente, eliminando possíveis inseguranças e deslizes, que
ocorrem freqüentemente nos ensaios.
Os personagens vivem um conflito existencial e existe uma
interdependência capaz de convencer o público de que a existência humana é
efêmera e a verdadeira consciência é aquela que está incutida em cada ser
humano, e o homem é livre para fazer o que bem entender. As conseqüências de
suas atitudes não têm relação com algum tipo de castigo ou punição vinda de
uma força superior chamado Deus. O homem age espontaneamente e pela lei de
Causa e Efeito, já exemplificada pela Física estabelece uma regra de causalidade
e não de culpa. Essa liberdade humana é o que justifica a síntese do
existencialismo filosófico e é aplicado nesta peça nas ações internas dos
personagens.
A síntese da peça além de mostrar a causa natural das coisas, também
remete o público a refletir sobre a questão do sentimento de culpa que nós
humanos devemos nos libertar.
Os meus procedimentos técnicos para se chegar ao resultado final, têm
sido, sob meu ponto de vista satisfatório, mas ainda acho que tem muito a ser
trabalhado.
A priori não estou me preocupando que meus atores decorem o texto e
depois o repitam no dia da apresentação com marcações de cena.
O meu principal objetivo de encenador é fazer com que os atores absorvam
a essência das problemáticas do texto e estejam seguros a partir deste princípio
para se apresentarem.
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Acredito que até o final de novembro eu tenha conseguido atingir todos os


meus objetivos e realizar um espetáculo que faça as pessoas refletirem sobre a
questão existencialista.
Tenho seguido os princípios de Stanislawski de interiorização e auto
conhecimento e os princípios de Antoine de verdade interior, uma vez que o
espetáculo todo é uma especulação intensa sobre o principal personagem da vida
terrena que é o homem.

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