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IVIÊ A. M. LOUREIRO GOMES
Líder Técnica de Qualidade Editorial: Maria Angélica Leite
Analistas de Operações Editoriais: Damares Regina Felício, Danielle Castro de Morais, Felipe Augusto da Costa Souza, Gabriele Lais
Sant’Anna dos Santos, Maria Eduarda Silva Rocha, Mayara Macioni Pinto, Patrícia Melhado Navarra, Rafaella Araujo Akiyama e Thaís
Rodrigues Sampaio
Analistas de Qualidade Editorial: Carina Xavier, Daniela Medeiros Gonçalves Melo e Maria Cecilia Andreo
Estagiários: Angélica Andrade, Beatriz Brandão Belo Bicker, Miriam da Costa Leite, Nicolas Eugênio Almeida Bueno e Sthefany Moreira
Barros
18-17267 CDU-347.733(81)(094)
Índices para catálogo sistemático: 1. Brasil : Direito antitruste 347.733(81)(094)
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Impresso no Brasil
[07-2018]
Profissional
Fechamento desta edição:
[30.05.2018]
ISBN 978-85-549-4717-0
modo, como uma instância da realidade. Por isso mesmo, aliás, é que o livro
da Professora Paula é um livro de Direito Econômico brasileiro.
Há alguns poucos meses, quando o CADE apreciou contratação celebrada
entre duas cervejarias, telefonou-me um jornalista que – discorrendo a respeito
da matéria com a segurança própria de quem não tem a menor ideia do tema
de que cogita e, concomitantemente, não é dotado do menor senso de autocrí-
tica – indagou qual a minha opinião a respeito de certa jurisprudência norte-
-americana, considerada na decisão tomada na mesma tarde. Respirei fundo e
disse ao meu interlocutor que propunha um exercício anterior, de análise da
jurisprudência do Congo Belga e do Curdistão! Depois passaríamos ao Japão,
à Índia, aos Estados Unidos... Até que talvez, quem sabe, pudéssemos estudar
um pouco de direito brasileiro. A entrevista não prosperou, evidentemente.
Esses diálogos geralmente não prosseguem, senão à custa de muito sacri-
fício. Lógico que não me refiro a diálogos meus com jornalistas, até porque já
não me telefonam quase nunca, por certo em razão da minha falta de paciência.
Refiro-me, agora, ao diálogo que o pesquisador trava consigo mesmo ao se
colocar diante das lições do direito comparado e das experiências da histó-
ria, do direito positivo, da doutrina brasileira. É evidente que aquelas lições
não podem ser desprezadas, sem que se admita, contudo, que afetem a plena
apreensão das nossas experiências. Lembro-me bem de ter ouvido da Profes-
sora Paula, a esse respeito, a seguinte e muito expressiva frase: “Procurar esse
equilíbrio é um calvário, que me causa profundas e constantes crises”. Essas
crises, contudo, por elas apenas passam – mas todos eles por elas passam – os
autênticos intelectuais, que padecem de incerteza e insegurança. Os apedeutas,
estes encontram-se a salvo de tais crises – padecem de non aggiornamento, ainda
que geralmente compensam essa falha exibindo síndromes de universidades
alienígenas, sobretudo norte-americanas, e gravatas bem vistosas.
O livro da Professora Paula A. Forgioni tem a virtude, ademais, de não ser
preconceituoso. Há alguns anos vivi uma experiência notável em uma cidade
da Alemanha, durante um jantar, com colegas da universidade local. Men-
cionei, em determinado momento, o nome de Carl Schmitt, o que provocou
certa surpresa, informando-me um dos convivas que Schmitt sofria reservas
intelectuais (= não era lido!) por ter sido simpatizante do nacional-socialismo...
Preconceitos desse tipo não podem ser admitidos. A circunstância de recusar-
mos alguns dos pressupostos teóricos – ou mesmo todos eles – da Escola de
Chicago não significa que não se possa ou deva citar Bork ou Posner. Atitudes
desse tipo são, simplesmente, burras, profundamente burras.
1. Quando a primeira edição deste livro foi escrita, a Internet ainda não
havia se espraiado pelo mundo e o acesso à informação era incrivelmente di-
fícil. Para ter notícia das decisões antitruste europeias ou norte-americanas,
éramos obrigados a esperar que revistas especializadas chegassem até nós;
viajávamos para copiar artigos e comprar livros. A pesquisa era manual, com
total dependência dos índices das revistas especializadas.
Por mais que nossos jovens alunos recusem-se a crer, no Brasil, mu-
lheres solteiras não costumavam ser aceitas na Magistratura, não se falava
em direito ambiental, a ideia de responsabilidade objetiva causava arrepios
na maior parte de nossos professores, não existia direito do consumidor e
muito menos preocupação com a disciplina jurídica da competição entre os
agentes econômicos.
Em 1996, na EAESP-FGV, Prof. Gesner de Oliveira, Prof. Arthur Barrio-
nuevo e eu tentávamos transmitir um pouco da matéria a alguns moços que
ficariam um mês no apertado anexo do Ministério da Justiça, em que tudo era
improvisado. Na verdade, Prof. Gesner, recém-empossado na Presidência do
CADE, desejava levar consigo alguns alunos para assessorá-lo na organização
das coisas e, para tanto, solicitou nosso auxílio.
2. Ao entrar pela primeira vez na nova e imponente sede do CADE em
Brasília, não pude deixar de pensar na longa estrada percorrida, em tão pouco
tempo. O pé-direito altíssimo, especialmente na sala de espera, deve mesmo
intimidar empresários acusados da prática de cartel que, há uma década, nada
teriam a temer.
3. Na síntese de Avelãs Nunes: “A ciência económica não pode continuar a adiar a busca
de um outro padrão de racionalidade. A ciência económica tem de assumir-se de
novo como economia política, como um ramo da filosofia social (...). O que está em
4. causa, em última instância, é um dos pontos fundamentais do neoliberalismo reinante: a
ideia de que o mercado é o único mecanismo racional de afectação de recursos escassos
a usos alternativos, nele se realizando o princípio universal de racionalidade inerente à
natureza humana, que o marginalismo imprimiu no código genético do homo oeconomi-
cus (um agente racional maximizador)” (Neoliberalismo e direitos humanos, 62). E, mais
adiante: “(...) a história das sociedades humanas mostra que o mercado não é um puro
mecanismo natural de afectação eficiente e neutra de recursos escassos e de regulação
automática da economia. O mercado deve antes considerar-se, como o estado, uma
instituição social, um produto da história, uma criação histórica da humanidade, que
surgiu em determinadas circunstâncias económicas, sociais, políticas e ideológicas.
Uma instituição que veio servir (e serve) os interesses de uns (mas não os interesses
de todos), uma instituição política destinada a regular e a manter determinadas
estruturas de poder que asseguram a prevalência dos interesses de certos grupos
sociais sobre os interesses de outros grupos sociais” (64).
Avelãs Nunes, baseado em David Miliband (Neoliberalismo e direitos humanos, 64)
6. À época, Milton Friedman afirmou: “Under the circumstances, given that we do have
antitrust laws, is it really in the self-interest of Silicon Valley to set the government
on Microsoft? Your industry, the computer industry, moves so much more rapidly
than the legal process, that by the time this suit is over, who knows what the shape
of the industry will be. Never mind the fact that the human energy and the money
that will be spent in hiring my fellow economists, as well as in other ways, would
be much more productively employed in improving your products. It’s a waste! But
beyond that, you will rue the day when you called in the government. From now on
the computer industry, which has been very fortunate in that it has been relatively
free of government intrusion, will experience a continuous increase in government
regulation. Antitrust very quickly becomes regulation. Here again is a case that seems
to me to illustrate the suicidal impulse of the business community”.
AGRADECIMENTO DA AUTORA.............................................................. 7
INTRODUÇÃO DA AUTORA...................................................................... 13
PANORAMA DO TRABALHO...................................................................... 37
1.1. Introdução.................................................................................... 41
2. A CONCORRÊNCIA NO BRASIL........................................................... 93
BIBLIOGRAFIA............................................................................................ 461
1.1. Introdução
O interesse pelo estudo da história da concorrência motiva-se pela busca
de resposta à seguinte questão: a partir de que momento a concorrência e o
livre-mercado foram identificados como valores dignos da tutela de um orde-
namento jurídico?
Ao referir um ordenamento jurídico, partimos da pressuposição da exis-
tência da pluralidade de ordenamentos. Não é nossa preocupação exclusiva,
no momento, o ordenamento jurídico estatal. Interessa-nos analisar a regu-
lamentação dos mercados por normas emanadas de qualquer poder capaz
de impor sistema munido de sanções externas e institucionalizadas, ou seja,
sanções jurídicas,1 ainda que esse poder seja corporativo.
justo preço,8 o que lhes fazia utilizar a palavra com claro sentido coloquial, e
não técnico.
É bem verdade que não existia, antes do século XVIII, a regulamentação
da concorrência tendo em vista a manutenção do sistema de produção, ou a
preservação/disciplina do próprio mercado.9 Da mesma forma, tudo indica
que não havia, no senso comum, a consciência da necessidade da regulamen-
tação da concorrência. Os monopólios não eram regulados na antiguidade,
pois que contrários a uma forma de mercado escolhida como ótima, mas por
razões extremamente práticas, ligadas ao fornecimento de mercadorias10 e ao
abastecimento da população.
Existe, portanto, diferença fundamental entre a proteção/regulamentação
da concorrência, no Estado liberal, e aquela que lhe foi anterior. Essa diversi-
dade que se coloca pode ser de finalidade, e, muitas vezes, não se trata de uma
diferença formal das normas utilizadas.
Traça-se, assim, a linha da evolução do fenômeno da concorrência ou, se
quisermos, das normas que disciplinam a atividade dos agentes econômicos
no mercado. Contudo, no antitruste, uma fase de desenvolvimento não supera
a precedente, de forma que, hoje, os vetores que passamos a expor convivem
no seio dessa disciplina. Três passos principais da evolução, que resultam nos
três principais vetores do direito concorrencial, podem ser identificados:
(i) a determinação de regras para o comportamento dos agentes econô-
micos no mercado por razões absolutamente práticas, visando a resultados
eficazes e imediatos, eliminando distorções tópicas;11
8. “What is essential here is that neither Aristotle, nor the Roman jurists, nor the early
scholastic writers directly identified competition as the concomitant of the just
price, because they were not concerned as scientists with the explanation of market
behaviour so much as they were anxious as ethical theorists to lay down the rules of
justice in exchange” (“Competition” in the history of economic thought, p. 20).
9. Remo Franceschelli, Trattato di diritto industriale, p. 34.
10. Franceschelli, Trattato di diritto industriale, p. 54. A respeito, Dennis, “Competition” in
the history of economic thought, p. 19: “It seems quite ludicrous to attribute to medieval
scholars what amounts to a competitive ethic, and yet is what happens when the medie-
val condemnation of monopoly is set alongside the doctrine of the just price with little
attention to the underlying essence of the case. Monopoly was widely condemned through
the Middle Ages for economic reasons which are now familiar, the restricting of output to
artificially raise price which it usually entailed, and the scholastic writers objected to
monopoly for its arbitrariness and the ‘iniquity’ or inequality it led to in the process of
economic exchange, following the lines of Aristotle’s analysis of justice” (grifamos).
11. No entender de Ascarelli, até a metade do século XVIII, inexistia princípio geral de
liberdade de acesso ao mercado, sendo a economia regulada mediante a estrutura
história antiga: circa 2100 a.C. – Código de Hamurábi, contendo referências a práticas
monopolísticas; 347 a.C. – a palavra “monopólio” é utilizada, pela primeira vez, na
Política de Aristóteles, em discussão sobre as pessoas que instituíram monopólios de
lagares e ferro, para posteriormente revendê-los com lucro em tempo de alta procu-
ra; circa 160 a.C. – Cato faz referência a associações entre companhias rivais para o
estabelecimento de preços de monopólio; circa 30 d.C. – Tiberius introduz a palavra
“monopólio” na língua latina em um comunicado ao Senado; circa 79 d.C. – Plinius
faz referência às reclamações dos cidadãos contra os excessos dos monopólios; 483
d.C. – Zenão proíbe todos os monopólios, públicos ou privados, combinações e
acordos de preços; 533 d.C. – o Código de Justiniano contém proibições de práticas
monopolistas.
15. A referência é feita por Luzzatto (Monopolio – Storia, Enciclopedia Italiana, p. 694), por
Harold G. Fox (Monopolies and patents: a study of the history and future of the patent
monopoly, p. 19) e por Isabel Vaz (Direito econômico da concorrência, p. 54 e ss.).
16. Aristóteles, Política, p. 34.
17. Alguns autores sustentam que havia na obra de Aristóteles a clara referência da con-
corrência como fator determinante na formação do preço. Baseiam-se no fato que,
ao iniciar a narração do episódio de Tales de Mileto, Aristóteles afirma: “There is the
anecdote of Thales the Milesian an his financial devide, which involves a principle
of universal application, but is attributed to him on account of his reputation for
wisdom” (transcrição de Harold G. Fox, Monopolies and patents, p. 19 – grifamos).
19. Para adicionais comentários sobre esse discurso de Lísias, v. Manuel Couceiro No-
gueira Serens, A monopolização da concorrência e a [re-]emergência da tutela da marca,
p. 57 e ss.
20. Fox, Monopolies and patents, p. 22.
21. Franceschelli adverte que a prática dos agentes econômicos, ao menos no período
pós-clássico, previa a utilização de pactos ou acordos limitativos da concorrência,
ou pactos que hoje seriam chamados de atividade ou mesmo zona (Trattato di diritto
industriale, p. 54).
22. “That no one may presume to exercise a monopoly of any kind of clothing or of fish
or of any other thing serving for food or for any other use, whatever its nature may
be, either on his own authority or under a rescript of an emperor already procured,
or that may hereafter be procured, or under an imperial decree or under a rescript
signed by our Majesty; nor may any person combine or agree in unlawful meeting
that different kinds of merchandise may not be sold at a less price than they may have
agreed upon among themselves”. A tradução para o inglês é de Thorton, Combinations
in restraint of trade, p. 32, apud Fox, Monopolies and patents, p. 23.
23. Franceschelli, Trattato di diritto industriale, p. 35.
24. No original: “ne risulta che, accanto ai divieti relativi all’accaparramento di merci,
ce ne sono di quelli che concernono il commercio di esse o la produzione di beni o
servizi, e l’esercizio di attività economiche, con un’ampiezza di contenuto veramente
notevole e significativa” (Franceschelli, Trattato di diritto industriale, p. 35).
25. Franceschelli, Trattato di diritto industriale, p. 37.
26. “Non so se se ne può dedurre, come, con suggestiva anticipazione delle moderne
alternative dell’economia, fanno alcuni storici che anche nel mondo antico l’antitesi
sarebbe stata tra concorrenza e monopolio, e che mentre in Egitto era prevalsa
quest’ultima forma di mercato, onde l’attività di produzione e di scambio si svolgeva
attraverso monopoli statali esclusivi, a Roma e lungo l’attività economica si sarebbe
svolta sotto il segno della libertà di iniziativa. Ma è certo, da un lato, che mentre sarebbe
antistorico attribuire agli antichi propositi o pensieri di un sia pur vago liberalismo
economico giacchè altri sono i principi ispiratori delle vicende economiche di quel
mondo, il risultato fu – per lungo tempo – proprio quello di un libero scambio quasi
completo, con l’elaborazione spontanea di nuovi e informali strumenti giuridici,
sorti nell’ambito dello jus gentium; ed è probabile dall’altro che la funzione vera del
divieto dei monopoli e dei patti sui prezzi e di non concorrenza fosse quella annonaria,
e cioè avesse tratto a quelle preoccupazioni di approvvigionamento, controllo dei
prezzi e limitazione dei consumi, assicurazione di prestazioni e servizi essenziali,
che condurranno ad una vaga e propria economia regolata, all’Editto di Diocleziano
sui prezzi, all’appartenenza obbligatoria alle corporazioni di mestiere, all’assunzione
statale diretta di compiti e funzioni economico-produttive, al dominio dei pubblici
monopoli” (Franceschelli, Trattato di diritto industriale, p. 36-37).
1.2.3. Idade Média27
Desde a alta Idade Média,28 e também no período histórico sucessivo, o
conceito de monopólio ligava-se à regalia, ao privilégio concedido pelo sobe-
rano29 e exercido, no mais das vezes, por particulares.30
A intervenção direta da autoridade na estocagem e distribuição de gêneros
alimentares, em especial cereais, é determinada não por razões fiscais, mas
sim sociais e políticas. Geralmente, ao particular era conferida a liberdade de
negociar, assegurando-se à autoridade o direito de preferência ou exclusividade
na aquisição de mercadorias até que fossem restabelecidos os estoques desti-
nados à manutenção dos militares e da população das cidades, nos momentos
de escassez.31
Nos lugares de maior desenvolvimento econômico, ao lado desses mo-
nopólios (concedidos pelo soberano e exercidos por agentes privados), vão
se colocando autênticos monopólios privados,32 que assumem, como afirma
27. Harold Fox, Monopolies and patents, p. 20. Sobre o sistema de comércio na Roma
antiga: “The Roman theory of trade was that of free competition, but the practice of
obtaining exclusive sale was so widespread that the Senate received many complaints
on the subject” (p. 22). Essa posição é criticada por Franceschelli, que entende não
existir na antiguidade a antítese entre concorrência e monopólio (Trattato di diritto
industriale, p. 36).
28. Sobre o comércio e a produção na alta Idade Média, no setor rural, cf. Georges Duby,
Economia rural y vida campesina en el occidente medieval, p. 202 e ss.
29. O caráter de privilégio do monopólio concedido ao particular constituirá instrumento
de que lançarão mão os Estados para estimular a expansão comercial e colonial, e
será questionado, já no século XVI, na Inglaterra.
30. Luzzatto (Monopolio – Storia, Enciclopedia Italiana, p. 694) adverte que dentre esses
tipos de monopólios figura, em primeiro lugar, aquele de cunho da moeda, sempre
considerado uma regalia. Na Lombardia, aqueles que procuravam ouro nas areias dos
rios do Vale Padano eram obrigados a vender todo o metal à câmara real de Pavia por
preço estabelecido pelo próprio comprador, ou seja, tinha-se o autêntico monopólio
de compra do produto.
31. Luzzatto, Monopolio – Storia, Enciclopedia Italiana, p. 695.
32. O ordenamento das corporações (estatutos) era autenticamente jurídico, no sentido
dado por Norberto Bobbio. Havia, portanto, na Idade Média, pluralidade de ordena-
mentos jurídicos, como Francesco Calasso assinala com a habitual clareza: “È questa,
como s’è avvertito più volte, l’epoca in cui il principio associativo trionfa, o, come
l’abbiamo definita, della pluralità degli ordinamenti giuridici. Lo statuto comunale
fu la più celebre e appariscente forma di codificazione di ius proprium” (Medio Evo
del diritto, p. 431).
33. Luzzatto, Monopolio – Storia, Enciclopedia Italiana, p. 695. Segundo o mesmo autor, no
duecento alguns comerciantes genoveses, concessionários de várias minas estrangeiras de
alume, concentraram nas próprias mãos toda a exportação do Levante para os mercados
italianos e de Flandres. Como faria também, dois séculos mais tarde, a família Medici,
concessionária do alume de Tolfa, tendo assegurado, mediante a celebração de um acordo
entre a S. Sede e o Reino de Nápoles, a exportação do alume dessa região. No final do século
XV, a família Fugger, com alguns associados, consegue garantir para si o monopólio do
cobre em toda a Europa central, triplicando o preço do produto em poucos anos.
34. Armando Sapori, Studi di storia economica medievale, p. VIII e ss. Cf., também, sobre
Sapori, Franceschelli, Trattato di diritto industriale, p. 86 e ss.
35. Cf. Fábio Konder Comparato sobre o Banco da Família Medici, de Florença: Na
proto-história das empresas multinacionais: o Banco Medici de Florença, Direito
empresarial, p. 261.
36. Franceschelli, Trattato di diritto industriale, p. 92.
37. Outros exemplos são trazidos por Wilberforce, Campbell and Elles, The law of res-
trictive trade practices and monopolies, p. 27 e ss.
38. Os autores americanos não costumam situar a Idade Média como origem de algumas
normas de concorrência que temos até hoje, sejam referentes à concorrência desleal,
por crença em sua adequação, mas como resposta a uma mesma necessidade,
há muito sentida, de união, para a melhor proteção dos interesses mercantis.42
Essa união implica, no caso das corporações de ofício, a neutralização de
qualquer concorrência entre os agentes econômicos partícipes da coalizão,43
chegando-se a afirmar que esses corpos de mercadores representam a “negação
do princípio da livre-concorrência”.44 Em linguagem atual, as corporações de
ofício poderiam ser consideradas grandes cartéis.
Percebe-se, daí, que dois eram os tipos de normas que disciplinavam a
atividade das corporações de ofício: as primeiras, os estatutos das próprias
corporações, ordenamentos jurídicos moldados pelos comerciantes ou arte-
sãos para disciplinar sua atividade. O outro sistema era aquele da Comuna
medieval,45 que procurava regular a atividade das corporações, fazendo-o,
na maioria das vezes, pelo controle dos estatutos e imposição de normas de
conduta obrigatórias para seus membros.46 Muito da disciplina das ativida-
42. A respeito, nota Nicoletta Sarti, em estudo sobre os estatutos da sociedade dos notá-
rios de Bolonha, de 1336, que os membros dessa corporação eram, salvo Johannes
de Garfagninis, filhos de notários, e, continua, “significativo indice, sia di una cor-
porazione che tendeva a irrigidirsi in casta, guardinga e circospetta nei confronti
di coloro che non vi appartenevano elettivamente per discendenza familiare, sia di
una generalizzata situazione di crisi economica e demografica, che rendeva quasi
necessario il monopolio dell’esercizio professionale” (Gli statuti della società dei notai
di Bologna dell’anno 1336, p. XLI).
43. Por todos, Sapori, Studi di storia economica medievale, p. IX.
44. José Ferreira de Souza, Uniões de emprezas concorrentes, 1939, 19.
45. John Gilissen explica que o direito de legislar, na Baixa Idade Média, foi estendido
às cidades e, por vezes, às comunidades de habitantes, havendo mais de dez mil
estatutos de Comunas e senhorios italianos (Introdução histórica ao direito, p. 296).
46. Calasso, Medio Evo del diritto, p. 434; Paul Rehme, Historia universal del derecho
mercantil, p. 66; e H. Sieveking e C. Becker, Historia económica universal (de la
Prehistoria a 1943): enseñanzas económicas para durante la Guerra y la post-Guerra,
p. 111. A propósito dos conflitos políticos entre as corporações e a Comuna, cf.,
também, Franceschelli, Trattato di diritto industriale, p. 94. Em Florença, anota
Gene Brucker, houve verdadeiro conflito entre a “aristocracia” e os “artesãos”, que
buscavam maior participação política (Dal comune alla signoria: la vita pubblica a
Firenze nel primo Rinascimento, p. 48 e ss.). As corporações enfrentavam, constan-
temente, problemas com a autoridade da cidade em que estavam localizadas, sendo
obrigadas, muitas vezes, a fazer concessões e a adequar-se a determinado padrão de
conduta: “Se la corporazione, per la sua destinazione stessa, era un ordinamento
completo e chiuso, è evidente che, dovendo svolgere la propria vita, economica
e giuridica, entro l’orbita dell’ordinamento comunale, era obbligata a fare i conti
con questo; (...). La lotta scoppiò apertamente nel corso del Duecento, e diede i
des dos membros das corporações foi estabelecida por atos dos governantes
das cidades.47
Algumas regras de controle das corporações e dos comerciantes vinham
postas no interesse daquele que hoje chamaríamos de “consumidor”. Assim,
a vedação do açambarcamento de mercadorias em Florença, punindo com
multas os acordos monopolísticos, e a Ordenança de Ricardo de Messina e
Felipe Augusto, no ano de 1190, assegurando que os membros das Cruzadas
tivessem pão a preço não excessivo. Sapori dá, ainda, notícia de várias outras
normas impostas pela Comuna: também em Florença, um fiscal, ao fim do dia,
cortava a cauda de todos os peixes que haviam sido postos à venda, para que
se visse, no dia seguinte, que o produto não era fresco.
O mecanismo das feiras era utilizado para evitar abusos de preços, prin-
cipalmente de gêneros de primeira necessidade. Exigia-se que os agricultores
levassem suas mercadorias a determinado lugar (praça do mercado), em horas
preestabelecidas, viabilizando a concorrência. Impunha-se, ainda, a obrigação
dos vendedores de liquidar sua mercadoria antes do final da feira. Por outro
lado, proibia-se aos compradores a aquisição de mercadoria acima da neces-
sitada (“acaparramento”), bem como a compra para revenda. A desconfiança
em relação ao comerciante impunha a contratação de funcionários públicos
para a pesagem das mercadorias.48 Em Verona e arredores, era proibida a incetta
de animais selvagens, frangos, ovos para revenda. Igualmente, vedava-se a
exportação de trigo, para que os habitantes da cidade conseguissem o produto
a melhor preço.49 No século XIII, as Comunas de Viterbo e Urbino possuíam
regras que proibiam as peixarias de se associar na aquisição e venda dos pro-
dutos que comerciavam. Na Boêmia de Wenceslau II, eram vedados acordos
para aumentar o preço de minérios.50
suoi frutti” (Francesco Calasso, Gli ordinamenti giuridici del rinascimento medie-
vale, p. 145). Cf., ainda, Calasso, Medio Evo del diritto, p. 434, sobre a fiscalização
dos estatutos das corporações pela Comuna, e Paul Rehme, Historia universal del
derecho mercantil, p. 66.
47. Franceschelli ressalta, baseado em Visconti (Dardanariatus e monopolium), as dis-
posições de dois desses documentos, Honorantie civitatis Papiae e Libro del Prefetto,
dos quais são tiradas as regras de conduta adiante referidas.
48. Cf. Clive Day, Historia del comercio, p. 51.
49. Bonfante, Storia del commercio, p. 243.
50. Wilberforce, Campbell and Elles, The law of restrictive trade practices and mono-
polies, p. 22. Os mesmos autores dão notícias de várias outras regras das comunas
italianas com o mesmo escopo, especialmente as leis de Florença, de 1322 e 1325.
Reportam, também, regras de cidades germânicas e francesas.
51. O que levou Sapori a observar a força política das corporações mais poderosas: o
lucro médio do comércio de tecidos franceses era da ordem de 12%, sendo certo que
o lucro de um padeiro e de outros profissionais pertencentes a categorias menores
estava bem abaixo desse percentual.
52. Historia del comercio, p. 51.
53. Para detalhado estudo dos aspectos (anti)concorrenciais das corporações de ofício,
bem como inúmeros exemplos de regras, v. texto de Manuel Couceiro Nogueira
Serens, A monopolização da concorrência e a [re-]emergência da tutela da marca, 99
e ss.
54. Sobre a identidade de forma dos estatutos das corporações de ofício e aqueles das
cidades, cf. Calasso, Gli ordinamenti giuridici del rinascimento medievale, p. 140 e ss.,
e Paul Rehme, Historia universal del derecho mercantil, p. 66 e ss. Sobre as regras das
corporações, cf. Calasso, Gli ordinamenti giuridici del rinascimento medievale, p. 144
e ss.; Franceschelli, Trattato di diritto industriale, p. 94 e ss., e Paul Rehme, Historia
universal del derecho mercantil, p. 67 e ss.
Tal como hoje, também àquela época houve reações contra os cartéis e
monopólios estabelecidos pelas corporações. Alguns historiadores da con-
corrência65 apontam que, nesse período, a literatura jurídica, glosando ou
comentando o Édito de Zenão, acusava a ilicitude dos monopólios e de alguns
acordos entre os agentes econômicos. O pós-glosador Azone, em sua obra Sum-
ma codicis, condenou veementemente os acordos (ou quaisquer consórcios)
de preços e a prática de conservarem-se na família os segredos das artes e do
ofício.66 Posteriormente, moldando casos práticos, ressaltou que, muito embora
o Édito de Zenão condenasse pactos anticompetitivos (como diríamos hoje),
frequentemente eles eram celebrados por negociantes e artesãos bolonheses.67
1.2.4. Mercantilismo68
Foi-se desenvolvendo na literatura, principalmente a partir dos comen-
tários ao Édito de Zenão, certa ideia de condenação per se dos monopólios
ou das atividades e acordos monopolísticos. Nas palavras de Franceschelli,
“gli scrittori avevano oramai e da tempo sott’occhio gli statuti delle arti, e le
pratiche e i patti degli operatori economici, che avevano dato vita a numerose
altre pratiche contrarie alla libertà economica”.69
Com esse espírito, os estatutos das cidades italianas da época vedavam
o açambarcamento de mercadorias, buscavam controlar ou fixar os preços
78. Sobre o processo de evolução da contestação aos monopólios, que culminou com
os Statutes of Monopolies, v. Harold Fox, Monopolies and patents, p. 86 e ss. Ainda
sobre o mesmo argumento, H. Sieveking e C. Becker assinalam que, com a derrota
do soberano na questão dos monopólios, a liberdade de comércio converteu-se em
princípio fundamental do direito inglês, não obstante o fato de que “el mercantilismo
inglés no otorgó en modo alguno plena libertad de tráfico; antes bien, fué unido a un
intenso favorecimento de las fuerzas productivas nacionales” (Historia económica
universal, p. 194-195).
79. A análise do “caso dos monopólios” resta incompleta se não ponderarmos a disputa de
poder existente entre o Parlamento e o soberano inglês. Como é logo de se perceber,
mais do que questão de liberdade econômica ou bem-estar da população, tratava-se de
retirar da rainha um de seus mais poderosos instrumentos, enfraquecendo seu poder.
matéria. Geraldo Vidigal destaca a doutrina que entende que o Sherman Act
norte-americano, de 1890, teria tido sua inspiração no próprio Édito de Zenão.80
Tomando em consideração essas normas, não parece haver diferença
marcada entre a estrutura e a forma utilizadas para a regulamentação da con-
corrência. E, se pensarmos apenas na finalidade estrita e imediata das regras
que eram emanadas por um poder exterior ao dos comerciantes (com o escopo
de evitar distorções tópicas), podemos efetivamente vislumbrar a tão falada
identidade.81 Tenha-se em mente, entretanto, que essas normas reguladoras da
concorrência não a protegiam como um bem em si mesmo considerado, e muito
menos como correlata a um tipo de estrutura de produção tida como ótima.82
De outra parte, consideradas as normas postas pelos próprios comerciantes
para a disciplina de sua atividade, vê-se a identidade com os acordos que, até
nossos dias, são celebrados pelas empresas.83 Por exemplo, no caso que nos é
entre os dois grupos em um mesmo mercado: foram criadas duas companhias, uma
com sede em Londres e outra em Plymouth (cf. Bernard Bailyn, The New England
merchants in the seventeenth century, p. 3).
84. A oferta e a procura, p. 26.
85. Lambros E. Kotsiris, An antitrust case in ancient greek law, The International Lawyer,
p. 451.
qui veulent accroître leurs ressources en s’appropriant une partie des ressources des
autres” (Antonis Manitakis, La liberté du commerce et de l’industrie, p. 19).
89. Dennis, a respeito, ressalta que “The Wealth of Nations is a classic not because it was
first to ennuciate the fundamental principles of competition and liberalism. In this
regard, it came at the end, rather than at the beginning, of the truly liberal intellec-
tual tradition. It is a classic because it gave economic liberalism its first really sound
economic calculus” (“Competition” in the history of economic thought, p. 90).
90. No Brasil, o representante máximo da escola liberal foi José da Silva Lisboa, o Viscon-
de de Cairu. Paul Hugon assinala que esse autor não se limitou a seguir as ideias de
Adam Smith. Por exemplo, enquanto este se mostrava defensor da agricultura, Cairu
é francamente favorável à indústria (Paul Hugon, História das doutrinas econômicas,
p. 158-159). A obra de Cairu será referida quando da análise da história das normas
de concorrência no Brasil.
91. Antonis Manitakis, La liberté du commerce et de l’industrie, p. 23.
92. Marthe Torre-Schaub, Essai sur la construction juridique de la catégorie de marché, p. 3.
93. Pierre Rosanvallon, Le libéralisme économique, p. 70.
94. Para referência às obras anteriores a Adam Smith que, de certa forma, já carregavam
o ideário liberal, v. Kenneth Davis, Competition in the history of economic thought, p.
43 e ss.
95. Marthe Torre-Schaub, Essai sur la construction juridique de la catégorie de marché, p. 4.
nunca teriam sido celebradas”. Da mesma forma, é feita referência à atuação de França
e Grã-Bretanha, que subsidiariam o pescado nacional ou imporiam tarifas àquele
importado dos Estados Unidos, buscando neutralizar sua vantagem competitiva:
“Rivalizamos com a França e a Grã-Bretanha na pesca, e podemos abastecer seus
mercados a menor custo que eles próprios, a despeito de todos os seus esforços para
evitá-lo por meio de subvenções ou da imposição de tarifas ao pescado estrangeiro”
(James Madison et al., Os antigos federalistas (1787-1788), p. 107 e 105).
99. “(...) quando l’interesse particolare” – dirá Turgot, ministro di Luigi XVI – “è esat-
tamente lo stesso che l’interesse generale, ciò che di meglio si può fare è di lasciare
ciascun uomo libero di fare ciò che vuole” (Francesco Galgano, Storia del diritto
commerciale, p. 61).
100. Para a completa referência às obras científicas acompanhando a evolução que culmi-
nou no liberalismo econômico, cf. Dennis, “Competition” in the history of economic
thought, p. 43 e ss.
101. Referido por Franceschelli, Trattato di diritto industriale, p. 289.
102. Cf. Dennis, “Competition” in the history of economic thought, p. 43.
103. Fábio Nusdeo, a respeito, anota: “O mercado funcionaria, assim, como um imenso
aparelho regenerador, promovendo a reciclagem do hedonismo individual em aco-
Essa livre atuação dos agentes econômicos acabou por gerar elevada
concentração de capitais e poder em mãos de alguns, trazendo fatores de ins-
tabilidade que comprometiam a preservação do mercado. As concentrações e
os monopólios causavam distúrbios sociais não indiferentes. Basta pensar na
prática dos chamados “preços de monopólio”, que propiciam alto lucro para
o produtor ou comerciante, pagos pela população. De outra parte, os mono-
pólios, ou as grandes concentrações de poder econômico, acabam por sujeitar
a classe operária a condições desfavoráveis de trabalho.109-110 Com sua união,
conheceu, nos últimos cento e cinquenta anos, uma elevação jamais ocorrida em
qualquer período anterior da história. Grande parte das obras contemporâneas sobre
filosofia do direito também está repleta de clichês ultrapassados acerca da suposta
tendência autodestrutiva da complexidade do mundo moderno, clichês decorrentes
do entusiasmo pelo ‘planejamento’ de trinta ou quarenta anos atrás, quando a ideia
gozava de grande prestígio e suas implicações totalitárias ainda não eram claramente
compreendidas” (Direito, legislação e liberdade, v. 1, p. 76). Segundo Massino Egidi
(Mercato e democrazia: il processo di distruzione creatrice, Capitalismo, socialismo
e democrazia, p. XVII), essas ideias de Hayek, compartilhadas pela chamada escola
austríaca, são retomadas por Schumpeter: “Schumpeter espande ulteriormente questo
punto di vista e suggerisce un modello che integra selezione ed innovazione: egli sos-
tiene infatti che il cuore del processo (ciclico) di sviluppo risiede nell’attività di inno-
vazione, che viene posta in atto dagli imprenditori quando le condizioni economiche
sono favorevoli (...). Il sucesso dell’attività di innovazione crea una diminuzione nei
costi e nei prezzi dei nuovi beni che richiede a tutti i produttori di adeguarsi rapida-
mente, per non essere selezionati sfavorevolmente ed espulsi dal mercato”. O processo
de desenvolvimento tem origem, assim, no entender de Schumpeter, na sequência
inovação-imitação, desenvolvendo a concorrência papel primordial. Lembra que, no
período em que o big business estava relativamente “livre”, o nível de vida das massas
melhorou sensivelmente. A concorrência viabiliza, assim, o processo da “destruição
criativa” (Capitalismo, socialismo e democrazia, p. 77).
111. Orlando Gomes, sobre as modificações introduzidas no sistema jurídico com o escopo
de retomar (ou garantir) a estabilidade do sistema: “Todas as medidas destinadas
a proteger o trabalhador, amparar o devedor e tutelar os fracos, consubstanciadas
numa legislação cada vez mais audaciosa, não respondem outra finalidade do que a
de restabelecer um equilíbrio social, irremediavelmente perdido” (A crise do direito,
p. 15).
112. Cf. Oscar Dias Corrêa, O sistema político-econômico do futuro: o societarismo, p. 169.
113. Keynes anota que talvez o primeiro economista ortodoxo a atacar frontalmente o
laissez-faire tenha sido Cairnes, em 1870, na aula inaugural sobre “Economia política
e laissez-faire”, proferida na University College de Londres: “A máxima do laissez-
-faire – declarou – não tem qualquer base científica mas, na melhor das hipóteses,
trata-se de uma simples regra cômoda para a prática” (O fim do laissez-faire, de Tamás
Szmrecsány (org.), John Maynard Keynes: economia, p. 115).
co.120 Essa legislação é entendida como o mais significativo diploma legal que
corporificou a reação contra a concentração de poder em mãos de alguns agentes
econômicos, procurando discipliná-la. Não se há de dizer que o Sherman Act
constitui reação ao liberalismo econômico, pois visava, justamente, a corrigir
distorções que eram trazidas pela excessiva concentração do capital, ou seja,
corrigir as distorções criadas pelo próprio sistema liberal.121 Não obstante a
opinião contrária de parte da doutrina norte-americana,122 o Sherman Act tratou,
em um primeiro momento, de tutelar o mercado (ou o sistema de produção)
contra seus efeitos autodestrutíveis.
123. “The Congress that passed the Sherman Act was concerned with business concen-
tration, acquisition of monopoly power, and cartels that might lead to increased
prices and overcharges to consumers. Entrepreneurial independence and freedom
for independent decisionmaking and contracting in the market were, in addition,
themes expressed in the legislative debates by those favoring legislation” (Unders-
tanding antitrust and its economic implications, p. 3). No mesmo sentido é a lição de
Edward P. Hodges: “(...) it is important to bear in mind that the purpose of the Act as
indicated by its title, was to protect trade and commerce against unlawful restraints
and monopolies” (The Antitrust Act and the Supreme Court: an analysis of the Supreme
Court decisions construing Section I of the Sherman Antitrust Act, p. 1).
124. Understanding antitrust and its economic implications, p. 3.
125. Não se fala, ainda, de condução da economia pelo governo, mediante a implementa-
ção de determinados programas. A respeito, Modesto Carvalhosa: “As medidas eram
puramente episódicas, supletivas, casuísticas e empíricas, dentro de uma conotação
eminentemente pragmática. O Estado não possuía um projeto para conduzir a eco-
nomia privada através de determinados programas. A liderança do Estado, através da
implantação do dirigismo, seria fruto de outros fatores históricos, surgidos a partir
de 1914, os quais ensejaram os primeiros elementos para a formulação do Direito
Econômico” (Considerações sobre direito econômico, p. 89).
126. Para resumo da economia norte-americana entre os anos de 1815 e 1860, v. Clive
Day, Historia del comercio, p. 519 e ss.
131. A referida associação pode ser entendida como resultante das próprias peculiaridades
desse setor da economia, pois, como é notório, os recursos necessários à construção
de estradas de ferro são bastante elevados, o que implica longo espaço de tempo para
o retorno do investimento efetuado.
132. O caso dessa associação, organizada formalmente no ano de 1889, foi uma das pri-
meiras práticas julgadas sob a égide do Sherman Act (United States v. Trans-Missouri
Freight Association – 166 U. S. 290 – 1897). V. Willian Letwin, Law and economic
policy in America: the evolution of the Sherman Antitrust Act, p. 167 e ss.
133. United States v. Trans-Missouri Freight Association – 166 U. S. 290 – 1897.
134. Fox e Sullivan (The good and bad trust dichotomy: a short history of a legal idea, The
Antitrust Bulletin, p. 60) apontam que, devido mesmo a esta instabilidade, sistemas de
transporte de petróleo faliram. Da mesma forma, um acordo celebrado para o trans-
porte de carvão, estabelecendo preços do serviço, teve curta duração. Ainda sobre a
instabilidade, Heilbroner relata episódio bastante típico, ocorrido durante reunião dos
dirigentes de estradas de ferro destinada a fixar o preço das tarifas: o presidente de uma
das companhias aproveitou breve intervalo para telegrafar os novos preços à sua em-
presa, para ser a primeira companhia a baixá-los, violando, assim, o acordo que acabava
de ser celebrado. “Por acaso, seu telegrama foi interceptado de modo que, quando o
grupo se reuniu de novo, o nosso homem foi obrigado a reconhecer que mesmo entre
ladrões nem sempre existe honra” (A formação da sociedade econômica, p. 155).
135. Essa questão é analisada no capítulo referente aos acordos entre empresas.
136. Sobre a evolução histórica dos cartéis, cf. Alberto Moniz da Rocha Barros, O poder
econômico do Estado contemporâneo e seus reflexos no direito, p. 23-46.
137. Segundo Heilbroner, a ideia de utilizar o trust como forma de associação de empresas
ocorreu ao advogado da nova Standard Oil Company, Samuel Dodd, no ano de 1879
(A formação da sociedade econômica, p. 155).
138. Berle e Means explicam o trust: “Corresponde à criação de um grupo de ‘fideico-
missos’ ou trustees, muitas vezes membros da diretoria, que ficam com o poder
completo de voto de todas as ações que lhes são entregues. Quando a maioria das
ações é controlada pelo fideicomisso como geralmente ocorre, os trustees exer-
cem o controle quase completo sobre os negócios da empresa, embora sem terem,
necessariamente, importante participação na mesma. Os acionistas, por sua vez,
recebem, em lugar de ações, trust certificates, que os habilitam a participar dos
dividendos resultantes das operações, quando os diretores julgarem conveniente
distribuí-los” (A propriedade privada na economia moderna, p. 104). Francesco de
Franchis assim define o trust, após ressaltar que não existe, na civil law, instituto
idêntico: “In breve, il concetto fondamentale del trust sta in questo: il costituente,
detto settlor of the trust aliena taluni beni o diritti a favore del trustee che li am-
ministra nell’interesse di un’altra persona, detta cestui que trust e ora, più spesso,
beneficiary (...)” (Dizionario giuridico, p. 1.477). Carvalhosa, por sua vez, explica
que “caracteriza-se o truste pela transferência de capitais e valores econômicos de
uma determinada pessoa física ou jurídica, que tem como objetivo gerir e admi-
nistrar aqueles capitais e valores; exerce esta última o papel de agente fiduciário,
trustee, cabendo-lhe, com plena autonomia, aplicar tais bens e valores da melhor
forma, no interesse do agenciador. Ao trustee cabe a direção, de maneira uniforme,
do conjunto de negócios que lhe são confiados” (Poder econômico: a fenomenologia
– Seu disciplinamento jurídico, p. 41).
139. Na opinião de Heilbroner, “não se deve pensar que foi apenas o movimento no
sentido da trustificação e da fusão que promoveu o surgimento da firma gigantesca,
144. Como transcrito por Dilorenzo, The origins of antitrust: an interest-group perspec-
tive, International Review of Law and Economics, p. 77.
145. Cf. Areeda e Kaplow, Antitrust analysis: problems, texts, cases, p. 49: “Agrarian dis-
content furnished strong and often persistent pressure toward reform. The farmers
were numerous and they formed pressure organizations, such as the National Grange.
They were distressed because they received low agricultural prices while paying
high prices for farm equipment and other manufactures because of monopolies
and import tariffs. Harried by high and discriminatory railroad and grain elevator
charges, they were also appessed by tight credit and high interest rates exacted by
the eastern money magnates, whose opposition to easier money and silver coinage
‘crucified’ the West ‘upon a cross of gold’. Dissatisfaction with manufactures of farm
machinery and other goods, railroads, and eastern financiers became a cry against
monopoly, a cry that also came to voice the frustrations of urban dislocation. Long
hours, child labor, crowded slums, and related conditions reinforced the pressure
toward reform”. Para Dilorenzo, a ação dos agricultores era motivada pelo temor que
alimentavam em relação ao processo de livre competição dos agentes econômicos.
Buscavam proteção contra os chamados land monopolies ou grandes fazendas de trigo
(The origins of antitrust: an interest-group perspective, The International Review of
Law and Economics, p. 75).
146. Cf. T. J. Dilorenzo, The origins of antitrust: an interest-group perspective, The Inter-
national Review of Law and Economics, p. 75.
147. Fox e Sullivan relatam esse estado de espírito da população: “During the 1880s,
people became more focused on negative economic developments and began to
look to law and government to remedy what had gone wrong in economy. The trust
became a symbol of the new order. To its supporters, it signified wealth, coopera-
tion, and progressive development. To its detractors, these impersonal, centrally
administered monoliths represented greed, inhumanity, and economic stratification.
Consequently, despite the fact that only eight industrial consolidations during the
1880s actually took the form of trusts, the term trust came to denote more than a
specific legal device for corporate combination. It was the catchphrase in a public
debate over the course of economic growth and the distribution of wealth” (The
good and bad trust dichotomy: a short history of a legal idea, The Antitrust Bulletin,
p. 63). Handler, Blake, Pitofsky e Goldschmid (Trade regulation, p. 57), por sua vez,
complementam: “The kind of remedy that the public desired was also clear enough:
it wanted a law to destroy the power of the trusts”.
148. As discussões entre democratas e republicanos na tramitação que antecedeu o Sherman
Act são comentadas por Handler, Blake, Pitofsky e Goldschmid (Trade regulation, p.
59 e ss.).
149. Para Milton Handler, o Sherman Act não introduziu, no sistema jurídico norte-
-americano, qualquer princípio novo, mas “[the] Congress merely affirmed its faith
in competition as the principal regulating force in our economy by forbidding res-
traints of trade and monopolization in interstate and foreign commerce” (Antitrust
in perspective: the complementary roles of rule and discretion, p. 3).
150. A respeito do Comitê Pujo, confira-se Eleanor Fox e Lawrence Sullivan, Cases and
materials on antitrust, p. 94. O mesmo comitê demonstrou que o grupo bancário Mor-
gan detinha 341 diretorias em 112 companhias, cuja riqueza agregada era três vezes
superior ao valor de todas as propriedades imobiliárias e pessoais da Nova Inglaterra.
O problema que se colocava não era apenas o sacrifício da livre-concorrência, mas
principalmente o temor do poderio dos grandes grupos (Heilbroner, A formação da
sociedade econômica, p. 157-158).
151. A terminologia é de Fox e Sullivan, Cases and materials, on antitrust, p. 95.
152. Fox e Sullivan, Cases and materials on antitrust, p. 95. De outra parte, cria exceções
legais à aplicação das normas antitruste, pois estabelece que os sindicatos (trade
unions) não estão sujeitos às restrições das leis de regulamentação da concorrência.
153. Cf. Pitofsky, The political content of antitrust, transcrito por E. Thomas Sullivan e
Herbert Hovenkamp, Antitrust law, policy and procedure: cases, materials, problems,
p. 4, e também Viscusi, Vernon e Harrington Jr., Economics of regulation and antitrust,
p. 58.
154. “A contemporary application of the antitrust laws has a certain déjà vu quality. The
central arguments heard today in antitrust are similar to those echoed in the early,
formative years of this country. The genesis of the antitrust debate predates the first
antitrust statute, the Sherman Act, in 1890” (Edward Thomas Sullivan e Jeffrey L.
Harrison, Understanding antitrust and its economic implications, p. 2). No mesmo
sentido, o clássico estudo de James May, Antitrust in the formative era: political and
economic theory in constitutional and antitrust analysis, 1880-1918, Ohio State Law
Journal, v. 50, 1989, especialmente p. 288 e ss.: “The congressional debates preceding
passage of federal antitrust legislation in 1890 and 1914 reflected the contemporary
diversity of national antitrust sentiment”. Ver também, Victor H. Kramer, The Su-
preme Court and tying arrangements: antitrust as history, Minnesota Law Review, v.
69, 1985, p. 1.014.
155. David J. Gerber dá notícia de discussões travadas no final do século passado, na
Áustria, sobre questões antitruste. Expondo uma das correntes que se formavam,
assevera: “Some people believed that no legislation was needed, he reported, because
free competition would itself prevent the cartel from significantly raising prices and
would eventually lead to its collapse” (The origins of European competition law in
fin-de-siècle Austria, The American Journal of Legal History, p. 423).
156. Explicam McChesney e William Shughart: “the literature critical of antitrust suggests
that enforcement of the laws may not enhance economic efficiency. Indeed, because
the antitrust authorities may bring cases against the wrong firms or impose relief
that are ineffective in some instances and have unintended consequences in others,
vigorous enforcement efforts may in fact lead to an economy characterized by lower
rates of growth in real output, higher prices, and lower employment levels than
otherwise” (Fred McChesney e William Shughart II, The causes and consequences of
antitrust. The public choice perspective, p. 168).
that was relatively free of government intrusion and that future technological
progress in the industry will be impeded as a result.157
Por sua vez, Alan Greenspan, um dos principais arautos do liberalismo
econômico:
Antitrust laws prevent firms from actions that may benefit society due to
fear of antitrust violations. (…) No one will ever know what new products,
processes, machines, and cost-saving mergers failed to come into existence,
killed by the Sherman Act before they were born. (…) The antitrust laws in
the United States have led to the condemnation of the productive and efficient
members of our society because they are productive and efficient.158
De outra parte, prega-se a necessidade da efetiva proteção dos consumi-
dores, preservando seu direito de escolha e não os sujeitando aos monopó-
lios, assim como a manutenção de pequenas e médias empresas no mercado,
garantindo-lhes abrigo contra práticas abusivas de agentes com elevado grau
de poder econômico.
Também no Brasil, os mesmos dois grupos de interesses se defrontaram e
se defrontam, discutindo a conveniência da regulamentação da concorrência e
do controle do exercício do poderio econômico, como será visto nos próximos
capítulos.
160. “A economia, em conjunto, tinha de modificar a sua orientação num sentido definido
pelo Estado (...). Pela primeira vez na história moderna, o Estado dominou a vida
econômica” (Alberto Moniz da Rocha Barros, O poder econômico do Estado contem-
porâneo e seus reflexos no direito, p. 45).
161. V. Habermas, A crise de legitimação do capitalismo tardio, p. 11 e ss.
162. Cf. Capograssi sobre as “novas” funções do Estado, que é chamado a “agir” (L’ambiguità
del diritto contemporaneo, La crisi del diritto, p. 20 e ss.). Indispensável, também,
a leitura da obra de Alberto Moniz da Rocha Barros, O poder econômico do Estado
contemporâneo e seus reflexos no direito, p. 89 e ss.
163. Ascarelli, há muito, vislumbrava a existência de “(...) uno Stato, non più agnostico,
ma che afferma vigorosamente e rigorosamente la propria sovranità in ogni campo,
che considera organicamente e concretamente gli individui nelle loro categorie, tutore
sempre più vigile dell’economia nazionale, regolatore nell’interesse di fini superiori
delle forze in conflittto, che riconosce il valore dell’iniziativa privata non assumendo
in linea generale la gestione diretta delle imprese, ma insieme la disciplina subordi-
natamente ai suoi fini che trascendono quelli individuali, assumendo veramente la
direzione dell’economia nazionale” (La funzione del diritto speciale e le transforma-
zioni del diritto commerciale, Rivista di Diritto Commerciale, v. 32, p. 9).
164. Habermas primeiramente observa que “no capitalismo liberal as crises aparecem na
forma de problemas econômicos de direção não resolvidos”, para, mais adiante, com-
plementar: “(...) as funções socialmente integrativas da manutenção da legitimidade
não podem mais ser efetuadas através de funções sistêmicas integrativas do mercado
e dos restos decrépitos das tradições pré-capitalistas (...). A atividade governamen-
tal agora busca a meta declarada de condução do sistema para evitar crises (...)” (A
crise de legitimação no capitalismo tardio, p. 39 e 71). Vittorio Ottaviano também
discorre sobre essas novas funções assumidas pelo Estado (Il governo dell’economia:
i principi giuridici, Trattato di diritto commerciale e di diritto pubblico dell’ economia:
la costituzione economica, p. 193 e ss.). Entre nós, a questão foi abordada por Fábio
Nusdeo (Fundamentos para uma codificação do direito econômico, p. 25): “Mas, como
já se deixou antever, não se conteve o Estado naquele papel de relativa neutralidade
e platonismo. Aberto o caminho para a sua entrada no sistema, passa gradualmente
a assumir um segundo papel, dentro do qual marca presença ao impor finalidades
outras que não a de mero suprimento de condições para superar as imperfeições an-
teriormente apontadas. Trata-se, agora, de lograr a obtenção de objetivos de política
econômica, bem definidos para o desempenho do mesmo sistema, o que implica, em
última análise, impor-lhe distorções, alterá-lo, interferir no seu funcionamento, a
fim de fazer com que os resultados produzidos deixem de ser apenas os naturais ou
espontâneos, para se afeiçoarem às metas fixadas”.
165. A respeito, Alberto Venancio Filho, A intervenção do Estado no domínio econômico: o
direito público no Brasil, p. 16.
166. Fábio Konder Comparato, O indispensável direito econômico, Ensaios e pareceres
de direito empresarial, p. 465.
167. Adolf Berle, The American economic republic, referido por Alberto Venancio Filho, A
intervenção do Estado no domínio econômico, p. 12.
168. Elementos de direito econômico, p. 63 e ss. Cf., também, sobre a atuação do Estado
na economia e sobre a economia, Francesco Galgano, Pubblico e privato nella re-
identificar esse fenômeno. Para nós, entretanto, importa notar que muitas
vezes a atuação do Estado sobre a economia (“intervenção”) é efetuada mediante
utilização de norma destinada a tutelar a livre-concorrência entre os agentes ou
reprimir o abuso do poder econômico, ou seja, uma norma antitruste. Dentre
as técnicas de organização dos mercados171 colocam-se as normas destinadas a
regular a concorrência entre os agentes econômicos e o abuso do poder econômico.
A análise contemporânea das normas antitruste não pode prescindir de
sua consideração como uma técnica, como um instrumento de que lança mão o
Estado para dar concreção à determinada política pública.
Especificamente no campo do direito da concorrência, temos, no exem-
plo europeu pós-guerra, sua caracterização como instrumental à determinada
política.172-173 Pensemos, primeiramente, na atuação da União das Repúblicas
Socialistas Soviéticas, Estados Unidos, França e Inglaterra sobre a economia
alemã. As quatro potências não lograram acordar a política industrial que
deveria ser implementada na Alemanha, de sorte que cada uma passou a agir
independentemente nas zonas de influência que lhes haviam sido atribuídas
pelo Tratado de Potsdam.174
175. As informações são sempre de D. G. Goyder, EC competition law, p. 17. Ainda sobre
a utilização do antitruste para enformar a economia alemã e japonesa no pós-guerra,
v. Wyatt Wells, Antitrust and the formation of the postwar world, p. 137 e ss.
176. Por essa razão, Giorgio Bernini frisa que nos Tratados CECA e CEE “a salvaguarda da
liberdade de concorrência não pode ser considerada como um fim em si mesmo. As
disposições em causa inscrevem-se no contexto dos objectivos gerais prosseguidos
pelos Tratados, tendo a sua aplicação lançado as bases de uma ‘filosofia antitrust’
verdadeiramente comunitária” (As regras de concorrência, CE, p. 346). Já nos Es-
tados Unidos, coloca o mesmo autor, “a liberdade de concorrência é considerada
como inseparável da noção de democracia política que caracteriza o ‘american way
of life’” (p. 346).
177. Jorge de Jesus Ferreira Alves, Direito da concorrência nas Comunidades Européias,
p. 16.
178. Costuma-se situar, como faz Jorge de Jesus Ferreira Alves (Direito da concorrência
nas Comunidades Européias), a concorrência-instrumento (tipicamente europeia) em
contraposição à concorrência-condição norte-americana, pela qual “a concorrência
é um fim em si mesmo. É um valor absoluto que só por ela se realiza o progresso e
o equilíbrio econômico”. No entanto, muito embora de forma mais diluída que a
184. Sobre a atual política antitruste europeia, v. a 6.ª edição de Wallace, Pollack e Young,
Policy-making in the European Union, p. 133 e ss.
185. Em sentido mais amplo, o “direito antitruste” pode ser entendido, como quer Isabel
Vaz, como “o conjunto de regras e instituições destinadas a apurar e a reprimir as
diferentes formas de abuso de poder econômico e a promover a defesa da livre-
-concorrência” (Direito econômico da concorrência, p. 242). No mesmo prisma,
coloca-se a definição de José Ignácio Gonzaga Franceschini: “O ramo do Direito
Penal-Econômico que disciplina as relações de mercado entre os agentes econô-
micos, tutelando-lhes, sob sanção, o pleno exercício do direito constitucional da
livre-concorrência, em prol da coletividade nacional” (Disciplina jurídica do abuso
do poder econômico, RT 640/257). Atualmente, entretanto, quando se compreende
o caráter instrumental das normas antitruste, insertas em um contexto de direito
econômico, não se pode deixar de referi-lo como técnica relacionada à implementação
de políticas públicas.
6. Cf. Lemos Britto, Pontos de partida para a história econômica do Brasil, p. 85.
7. Para Sérgio Buarque de Holanda: “A reclamação maior referia-se ao problema do
abastecimento regular. O estanco assegurado à companhia parecia inconveniente.
É que, conforme as denúncias havidas, ocorria uma especulação desmedida. Não
remetendo as quantidades necessárias, a companhia, por seus dirigentes, ou por
meio de intermediários, suspeitos de estarem ligados a eles ou a funcionários sem
escrúpulos, forçava a alta dos gêneros. O tabelamento não se cumpria na realidade.
Porque a venda não se fazia diretamente ao público e sim a intermediários que
adquiriam as grandes partidas e, por sua vez, impunham os preços que desejavam
no negócio com o consumidor” (História geral da civilização brasileira, p. 324).
Sobre os abusos da Companhia de Comércio, cf. Lemos Britto, Pontos de partida
para a história econômica do Brasil, p. 86-91, contendo transcrições dos protestos
apresentados pela população.
12. Por essa razão, Heinrich Sieveking e C. Becker referem-se à “fundação de uma política
econômica do Estado”, baseada em sua intervenção na economia, e aos “meios para
implementar essa política”, durante o período mercantilista (Historia económica
universal, p. 166 e ss.).
13. Alberto Venancio Filho comenta, a respeito, que o descaso da metrópole para com o
Brasil era um “sistema de prevalência do poder privado sobre o poder público, que
vai marcar até os nossos dias a feição do Estado Brasileiro” (A intervenção do Estado
no domínio econômico, p. 23).
14. Ambas as companhias traziam proventos para a coroa. Sérgio Buarque de Holanda
anota que “a Casa Real não se limitou, porém, a comerciar esporadicamente; lançou-se
ao monopólio das produções mais lucrativas da época” (História geral da civilização
brasileira, t. 1, v. 2, p. 346).
15. Para breve resumo dos atos de D. João VI, no Brasil, cf. Waldemar Martins Ferreira,
História do direito constitucional brasileiro, p. 37 e ss.
16. Heitor Ferreira Lima nos dá notícia de aspirações absolutamente liberais presentes,
no Brasil, pouco antes da chegada da família real portuguesa: “Aquele, porém, que
melhor soube sintetizar em palavras as reivindicações das forças produtoras nacionais
da época foi, sem dúvida, o desembargador João Rodrigues de Brito, homem letrado,
que conhecia Adam Smith e J. B. Say. Em inquérito mandado abrir pelo conde de
Ponte, em 1807, às vésperas, por conseguinte, da chegada da Corte portuguesa ao
Brasil, respondeu ele que, ‘para os lavradores lograrem a plena liberdade que pede
o bem da lavoura, era preciso que eles tivessem, 1) a de cultivar quaisquer gêneros,
que bem lhes parecessem; 2) a de construir quaisquer obras e fábricas que julgassem
convenientes para o aproveitamento de seus frutos; 3) a de os mandar vender em
qualquer lugar, por qualquer caminho, e pelo ministério de quaisquer pessoas, de
que se quisessem servir, sem ônus ou formalidade alguma; 4) a de preferir quaisquer
compradores que melhor lhes pagassem; e 5) finalmente a de venderem em qualquer
tempo que lhes conviesse’” (História político-econômica e industrial do Brasil, p. 119).
17. Comenta Hélio Jaguaribe: “O que determinou a mudança de atitude e da política
(...), mais do que quaisquer outras influências, foi a total transformação das relações
entre a coroa e o Reino causada pela invasão napoleônica de Portugal e pela vinda da
Corte para o Brasil” (Desenvolvimento econômico e desenvolvimento político, p. 143).
afirmado. Com efeito, se, ao mesmo tempo em que foi permitida a indústria,
abriram-se os portos às nações amigas, sujeitou-se, na verdade, a incipien-
te indústria nacional à devastadora concorrência estrangeira. Essa mesma
concorrência, a que se refere Topik, e “que veio a perseguir os empresários e
industriais durante todo o período do Império e da República”.21
D. João VI adota um “liberalismo pragmático, não ortodoxo, que visava
a retirar do princípio da liberdade de comércio e de iniciativa todas as vanta-
gens que pudesse proporcionar, deixando de aplicá-lo quando contrariasse os
interesses nacionais”.22 Com a implementação dessa política, acabou-se por
contentar, ao menos imediatamente, as aspirações dos lavradores e comercian-
tes, que ansiavam por liberdade de atuação.23
É incontestável a influência que exerciam, à época, as obras e os estudos
desenvolvidos pelo Visconde de Cairu,24 para quem D. João VI criou, no Rio de
Janeiro, a cadeira de ciência econômica.25 A teoria do liberalismo econômico
entrava no Brasil, através do filtro de Cairu.26
21. A presença do Estado na economia política do Brasil de 1889 a 1930 (p. 151). A seguir,
Steven Topik expõe que o “maior problema da atividade manufatureira no Brasil,
porém, seria mais a escassez de oportunidades econômicas do que a concorrência
estrangeira”.
22. Hélio Jaguaribe, Desenvolvimento econômico e desenvolvimento político, p. 146.
23. Heitor Ferreira Lima, História político-econômica e industrial do Brasil, p. 131.
24. Essa influência é sintetizada por Heitor Ferreira Lima: “Um investigador da econo-
mia nacional assinala que toda a geração intelectual que fez a nossa independência
política, estava cheia de Gournay, Adam Smith e Say, salientando essa influência em
Cairu (...), acrescentando: ‘Tudo que D. João fez foi em grande parte inspirado nas
inteligentes ideias espalhadas pelos discípulos brasileiros de Adam Smith e Say’”.
Ainda sobre Cairu: “Tido como uma espécie de ministro sem pasta, era consultado
para os atos importantes desse período extraordinário de nossa história, em que foi
lançado o fundamento definitivo do que é hoje o Brasil” (História do pensamento
econômico no Brasil, p. 77).
25. E não economia política, como se tem noticiado (cf. Decreto de 23 de fevereiro
de 1808, com a rubrica do Príncipe Regente). Passa José da Silva Lisboa a ocupar,
cumulativamente, os cargos de Deputado e Secretário da Mesa da Inspeção da Agri-
cultura e Comércio da Cidade da Bahia e a “propriedade e regência” da “Cadeira
e Aula Pública” de ciência econômica na cidade do Rio de Janeiro. Heitor Ferreira
Lima nota que essa cadeira criada pelo Príncipe Regente nunca foi exercida por José
da Silva Lisboa (História do pensamento econômico no Brasil, p. 73).
26. Jorge Caldeira, comentando a obra de Cairu: “Em seus ‘Princípios de economia po-
lítica’, pretensamente um folheto de divulgação de Smith, o bom Cairu remontou as
ideias do mestre a seu modo, dando uma cor toda local a sua versão. Começou por
39. “Faltava sobretudo o que a moderna indústria fabril e mecanizada exige como condi-
ção essencial de vida: um mercado amplo e em contínua expansão, o que as condições
sociais e econômicas da grande massa da população brasileira não podiam oferecer.
Não era assim possível às manufaturas nacionais concorrerem com a importação
estrangeira proveniente de indústrias altamente desenvolvidas, em constante e ace-
lerado progresso. Era a esta que caberia satisfazer às necessidades limitadas do país;
as manufaturas indígenas só excepcionalmente estariam em condições de supri-las”
(Caio Prado Jr., História econômica do Brasil, p. 199).
40. De acordo com Gilberto Bercovici, a promulgação do Código Comercial de 1.850
visou a proteger os investimentos estrangeiros, principalmente ingleses. Essa lição
coaduna-se com o testemunho de Brasilio Machado que, em 1907, ensinava aos
seus alunos das Arcadas: “Entre nós (...) quasi todo commercio é explorado por
estrangeiros” (O Codigo Commercial do Brasil em sua formação histórica, 268).
41. Heitor Ferreira Lima, História do pensamento econômico no Brasil, p. 84 e ss.
42. Interessante é a observação de Caio Prado Jr. no que diz respeito à concorrência en-
tre os fazendeiros de café, na disputa pela mão de obra dos imigrantes, fator que se
reverteu a favor destes últimos. Em centros como São Paulo, foi bastante limitada a
adoção de uma política, por parte dos fazendeiros, que “escravizasse” o trabalhador
imigrado: A procura por mão de obra e sua relativa escassez impediu que os pro-
prietários de terras lançassem mão de recursos para reter os empregados contra sua
própria vontade (História econômica do Brasil, p. 212).
43. O que nada tem de contraditório pois, como já vimos no Capítulo I, o próprio libera-
lismo não trouxe consigo um Estado apenas “provedor do direito e da segurança”, e
a liberdade econômica não surge como direito ilimitado. Sobre a diferenciação entre
limites dos poderes do Estado (relacionada ao “Estado de Direito”) e das funções do
Estado (“Estado-mínimo”), v. Norberto Bobbio, Liberalismo e democracia, p. 17.
44. “Art. 116. Por motivo de interesse público e autorizada em lei especial, a União
poderá monopolizar determinada indústria ou atividade econômica, asseguradas as
indenizações devidas, conforme o art. 112, n. 17, e ressalvados os serviços munici-
palizados ou de competência dos Poderes locais”. Comentando este dispositivo em
coletânea por eles organizada, José Inácio Gonzaga Franceschini e José Luiz Vicente
de Azevedo Franceschini: “Obviamente não era o texto autoexequível; e, a seguir,
não foi objeto de regulamentação. Não deixou, contudo, de ser o primeiro preceito
constitucional pátrio a preocupar-se em retirar o Estado da posição de mero espec-
tador de fenômenos econômicos que atingissem à coletividade, correlacionando a
organização da ordem econômica a ‘princípios de justiça e às necessidades da vida
social’, com o escopo de possibilitar ‘a todos existência digna’. Só presentes esses
parâmetros, garantia a Carta Magna a liberdade econômica” (Poder econômico: exer-
cício e abuso. Direito antitruste brasileiro, p. 7).
45. “Art. 117. A lei promoverá o fomento da economia popular, o desenvolvimento do cré-
dito e a nacionalização progressiva dos bancos de depósito. Igualmente providenciará
sobre a nacionalização das empresas de seguros em todas as suas modalidades, devendo
constituir-se em sociedades brasileiras as estrangeiras que atualmente operam no País”.
46. Cf. Cláudia Perrone Moisés e Lígia Maura Costa, Brazilian law: the cases of abuse
of dominant position and behaviors restricting the competition, Revue de Droit des
Affaires Internationales, n. 2, 1993, p. 238.
47. A segunda república (1930-1937), p. 185. Sobre a mesma questão, comenta Alberto
Venancio Filho: “A partir da década dos anos trinta, acentua-se o mecanismo de
intervenção do Estado no domínio econômico, com a criação de autarquias econô-
micas para defesa de produtos da agricultura e da indústria extrativa” (A intervenção
do Estado no domínio econômico, p. 32).
48. Sobre o conceito de “intervenção” (do qual nos valemos), v. Eros Roberto Grau, A
ordem econômica na Constituição de 1988, itens 34 e seguintes. V., ainda, do mesmo
autor, considerações sobre os primórdios do planejamento no Brasil (Planejamento
econômico e regra jurídica, p. 128 e ss.)
49. Steven Topik assinala que “na realidade, o Estado brasileiro já era um dos mais
intervencionistas da América Latina, muito antes do colapso do comércio exterior
em 1929” (A presença do Estado na economia política do Brasil de 1889 a 1930,
p. 11).
50. Ainda Steven Topik: “A presença preponderante do Estado brasileiro em sua econo-
mia não tem recebido suficiente atenção, sendo sempre considerada secundária por
historiadores da Primeira República. (...) Outros autores acham que o liberalismo
econômico fora introduzido num esforço de imitar a prosperidade europeia, aceitando
cegamente as suas ideias intelectuais. Hélio Jaguaribe conclui que ‘o pensamento
brasileiro (...) permaneceu fiel às doutrinas do laissez-faire, aplicadas com sectaris-
mo doutrinário’. Celso Furtado afirma que ‘a ciência econômica europeia no Brasil
vinha filtrada através das faculdades de direito, sendo transformada numa doutrina
aceita sem qualquer tentativa de comparação com a realidade. Sempre que essa
realidade estava longe da teoria ideal da doutrina, era isso considerado um sintoma
de patologia social’. Seja por motivos materiais ou por questões ideológicas, ‘as ações
econômicas do Estado republicano brasileiro ficaram extremamente reduzidas’. (...) A
interpretação dominante é que no Brasil, só depois do fim da Primeira República e da
tomada do poder por Getúlio Vargas, em 1930, ter-se-ia formado no país, nas palavras
de Robert Haynes, ‘um espírito nacionalista que determinou o fim do laissez-faire
econômico e enfatizou uma nova posição de força do governo federal na economia’.
Assim, foi só a partir de 1930 que a política econômica do Estado passaria a ser um
tema importante para estudos” (A presença do Estado na economia política do Brasil
de 1889 a 1930, p. 12-13).
51. Sobre a atuação do governo brasileiro, a partir do Estado Novo, colocando em prática
projetos de planejamento, v. Edgard Carone, A república liberal I: instituições e classes
sociais (1945-1964), p. 76 e ss. V., também, L. C. Bresser Pereira, Desenvolvimento
e crise no Brasil, p. 35 e ss. Sobre as principais medidas intervencionistas do Estado
brasileiro, no período, cf. Eros Roberto Grau, A ordem econômica na Constituição de
1988, item 5.
52. A concorrência entre os agentes econômicos foi disciplinada, sob uma ótica indivi-
dual, mediante a promulgação do Código da Propriedade Industrial.
53. Sobre a aproximação entre o setor industrial e o governo, o profundo estudo publica-
do em obra coletiva sob a direção de Boris Fausto, de autoria de Eli Diniz, O Estado
Novo: estrutura de poder relações de classes, História geral da civilização brasileira,
p. 80 e ss.
54. A terminologia, mais uma vez, é de Grau (Planejamento econômico e regra jurídica,
p. 23-24) e Francesco Galgano (Pubblico e privato nella regolazione dei rapporti
economici, Trattato di diritto commerciale e di diritto pubblico dell’economia: la costi-
tuzione economica, v. 1, p. 123).
55. Alberto Venancio Filho anota que a Constituição de 1937 tem sua inspiração direta
na Constituição polonesa de 1934, enquanto Waldemar Ferreira aponta a influência
fascista sobre o governo da época (História do direito constitucional brasileiro, p. 102).
56. Pubblico e privato nella regolazione dei rapporti economici, Trattato de diritto com-
merciale e di diritto pubblico dell’economia: la costituzione economica, v. 1, p. 120.
57. Shieber compila a opinião de autores que veem, no Decreto-lei 869, de 1938, o decal-
que da legislação norte-americana (Abusos do poder econômico: direito e experiência
antitruste no Brasil e nos EUA, p. 17).
58. “No direito brasileiro a gênese da Lei Antitruste encontra-se nos dispositivos que
tratam dos crimes contra a economia popular (...). Este dispositivo (referindo-se ao
art. 141 da Constituição de 1937] foi regulamentado pelo Decreto-lei 869, de 18 de
novembro de 1938, em que foram enumerados os crimes contra a economia popu-
lar. Neste decreto-lei com normas definindo e punindo crimes contra a economia
popular, tem-se a primeira norma jurídica antitruste brasileira” (Benjamin Shieber,
Abusos do poder econômico, p. 4).
59. Cf. Shieber, Abusos do poder econômico, p. 6. No entender desse autor, a pouca efe-
tividade do diploma deveu-se, acima de tudo, à falta de instituição de “um órgão
especializado com competência para executar os dispositivos antitruste do Decreto-
-lei 869”.
60. V. transcrição de Carlo Barbieri Filho, Disciplina jurídica da concorrência: abuso do
poder econômico, p. 34.
61. Isso não quer dizer que Agamemnon Magalhães não se tenha voltado contra o poder
econômico nacional, considerado que for o testemunho de Paulo Germano Magalhães
(As origens do nome “Lei Malaia”. Revista do CADE, p. 13).
62. O que faz com que José Alexandre Tavares Guerreiro refira-se a Delmiro Gouveia
como um “empresário nacionalista” (Formas de abuso de poder econômico, Revista
de Direito Mercantil, p. 41).
63. É sintomática a posição de Moniz Bandeira: “Efetivamente, ao contrário do que su-
cedeu nos Estados Unidos e em outros países mais adiantados, onde a concentração
resultou do desenvolvimento capitalista, no Brasil, país retardatário, os monopólios
implantados pelas corporações estrangeiras constituíam fator de atraso e entrave ao
seu próprio esforço de industrialização” (Cartéis e desnacionalização: a experiência
brasileira – 1964-1974 (Retratos do Brasil, v. 96), p. 5).
64. Por todos, cf. Paulo Germano Magalhães, Revista do CADE, n. 4, p. 12.
65. Discurso de Agamemnon Magalhães perante a Câmara dos Deputados, publicado
no Anexo A ao DCN – Diário do Congresso Nacional, n. 123, p. 4, 4.ª coluna.
66. Moniz Bandeira assinala que a opinião pública não tinha qualquer dúvida de que a
morte de Delmiro Gouveia teria sido encomendada pela Machine Cotton (Cartéis e
desnacionalização, p. 5).
67. Cf. intervenção de Afonso de Carvalho ao discurso de Agamemnon Magalhães perante
a Câmara dos Deputados, publicada no Anexo A ao DCN, p. 4, 4.ª coluna.
68. A prática de adquirir empresas para depois sucateá-las e absorver sua participação de
mercado é expressamente vedada por nossa Lei Antitruste e também pela Lei 6.404,
de 1.976 (Lei das Sociedades por Ações).
71. A nova liberdade: combate aos trustes e cartéis, Brasil Hoje, v. 10, p. 21. Comenta,
ainda, o mesmo autor: “A ameaça ao poder econômico nacional e internacional que
conspirava pela queda de Getúlio era terrível. A luta era titânica. Mas o jagunço
estava na tocaia. Redigiu a ‘Lei Malaia’, a Lei Antitruste, que Getúlio promulgou sob
a forma do Decreto-lei 7.666” (p. 19).
72. Cartéis e desnacionalização, p. 3.
73. Isabel Vaz, Direito econômico da concorrência, p. 249-50. Benjamin Shieber, Abusos
do poder econômico, p. 8.
74. Abusos do poder econômico, p. 8. A expressão “judicialismo americano” é de Agamem-
non Magalhães, quando apresentou o Projeto 122/1948 à apreciação da Câmara dos
Deputados (cf. Suplemento A ao DCN, n. 123, p. 4, 1.ª coluna).
apresentados acabou por cambiar a expressão “por efeito” por “por fim”, dando,
pois, destaque à intenção do agente e não aos efeitos decorrentes de seu ato.
Em 1962, finalmente, foi promulgada a Lei 4.137.95 Cria-se, por seu art.
8.º, o CADE – Conselho Administrativo de Defesa Econômica, incumbido da
apuração e repressão dos abusos do poder econômico.
A promulgação desse diploma, desconsiderando a opinião dos que en-
tendiam que a repressão ao abuso do poder econômico deveria dar-se pela
modernização e aplicação das Leis 1.521 e 1.522, de 1951, aparta a Lei An-
titruste, finalmente, dos dispositivos que tratam da economia popular e do
abastecimento.96
Regulamentando o art. 146 da Constituição Federal, vieram, poste-
riormente, as Leis Delegadas 4 e 5, de 26 de setembro de 1962, dispondo,
respectivamente, sobre “a intervenção no domínio econômico para assegurar
a livre distribuição de produtos necessários ao consumo do povo” e sobre a
organização da Superintendência Nacional do Abastecimento (Sunab) como
autarquia federal. O art. 148 da Constituição Federal, por sua vez, vinha re-
gulado pela Lei 4.137, de 1962.
Em termos de sistematização das práticas abusivas, com o texto aprovado
da Lei 4.137, de 1962, em muito ficou prejudicado o projeto apresentado por
Agamemnon Magalhães. Quebrando a linha que poderia decorrer do Dec.-lei
7.666, de 1945, as práticas passam a não mais a ser consideradas ilícitas em
virtude de seus efeitos e sequer de sua finalidade, pretensamente eliminando
a “insegurança jurídica” que havia sido apontada por muitos.97
2.7.1.3. A constante busca por segurança e previsibilidade
No processo de interpretação e aplicação da Lei 4.137 de 1962, dúvidas
foram suscitadas a respeito do caráter taxativo, ou não, das práticas elencadas
também para reconhecer a improcedência de denúncia que não encontre prova nos
fatos. É pelo julgamento imparcial e sem paixões que se deve firmar o CADE” (cf.
transcrição de Guilherme A. Canedo de Magalhães, O abuso do poder econômico:
apuração e repressão, p. 45).
103. Para subsídios sobre essa controvérsia, cf. Guilherme A. Canedo de Magalhães, O
abuso do poder econômico: apuração e repressão, p. 67 e ss. Cf., também, as opiniões
favoráveis à necessidade de tipificação exaradas por Pontes de Miranda (Acusação
injustificada de abuso de poder econômico e interpretação do art. 2.º, IV, b, da Lei
4.137, de 10 de setembro de 1962, in José Inácio Gonzaga Franceschini e José Luiz
Vicente de Azevedo Franceschini, Poder econômico: exercício e abuso, p. 481 e ss.) e
Orozimbo Nonato (Cláusula de exclusividade em contrato de fornecimento – Su-
bordinação de utilização de serviço à compra do bem, in José Inácio Gonzaga Fran-
ceschini e José Luiz Vicente de Azevedo Franceschini, Poder econômico: exercício e
abuso, p. 486 e ss.).
104. José Inácio Gonzaga Franceschini e José Luiz Vicente de Azevedo Franceschini, Su-
mário histórico dos antecedentes legislativos da chamada “Lei Antitruste” brasileira,
in Poder econômico: exercício e abuso, p. 15.
107. Tercio Sampaio Ferraz Junior, Lei de defesa da concorrência: origem histórica e base
constitucional, Revista dos Mestrandos em Direito Econômico da UFBA, n. 2, p. 69.
108. Quais sejam: “a) equilibrar a produção com o consumo; b) regular o mercado;
c) padronizar a produção; d) estabilizar os preços; e) especializar a produção ou
distribuição; f) estabelecer uma restrição de distribuição em detrimento de outras
mercadorias do mesmo gênero ou destinadas à satisfação de necessidades conexas”.
A respeito, é interessante a ementa transcrita por Franceschini, que sustenta ser a
concentração de empresas ato controlado posteriormente: “A mera constituição,
fusão ou incorporação de empresas, por si só, não se insere na sistemática específica
de controle prévio prevista no art. 74 da Lei 4.137, de 1962, estando submetida
apenas ao sistema de fiscalização a posteriori, estabelecido nos arts. 72 e 73 da lei do
CADE” (Ementa 455, Poder econômico: exercício e abuso, p. 393).
109. Poder econômico: exercício e abuso, p. 383 e ss.
110. Conselheiros do CADE fizeram constar de seu relatório que enviaram ofício ao Ga-
binete do Ministro da Fazenda, para sua audiência, “tendo em vista a dimensão da
pretensão e os relevantes interesses envolvendo o Estado e a economia nacionais”.
111. Cf. ementas transcritas por Guilherme A. Canedo de Magalhães, O abuso do poder
econômico: apuração e repressão, p. 45 e ss.
112. Trata-se do Processo Administrativo 11, julgado em 24 de setembro de 1974, em que
foi representada Refrigerantes Sul-Riograndense S. A. – Indústria e Comércio, tendo
sido autoras da representação Pampa Refrigerantes Ltda. e Refrigerantes Vontobel
Ltda. Decidiu o CADE que “a destruição proposital dos instrumentos de comércio
de empresa concorrente constitui abuso do poder econômico”. Interessante é o teor
do voto de Guilherme A. Canedo de Magalhães no processo em questão, transcrito
em seu livro (O abuso do poder econômico: apuração e repressão, p. 67 e ss). Moniz
Bandeira sustenta que a condenação da Pepsi Cola “teve como objetivo salvar as
aparências e dar uma satisfação à opinião pública”, tendo em vista a inoperância do
CADE e, principalmente, o fato de que, não obstante as provas coletadas, na totalidade
dos processos levados a julgamento até então, o denunciado havia sido absolvido,
na maioria das vezes, por ausência de provas (Cartéis e desnacionalização, p. 136).
113. Cf. Franceschini, Poder econômico: exercício e abuso, ementa 146, p. 155.
114. A notícia é dada por Hermes Marcelo Huck, em artigo publicado no jornal O Estado
de S. Paulo (Eficácia da Lei Antitruste no Brasil), em 27 fev. 1977, p. 46.
115. Cf. Franceschini, Poder econômico: exercício e abuso, ementa 146, p. 156.
116. Vale referir Moniz Bandeira: “(...) o CADE, em todos os seus anos de existência, sempre
se caracterizou pela inoperância, jamais tomando qualquer atitude para coibir os abusos
do poder econômico, que lhe chegaram ao conhecimento” (Cartéis e desnacionaliza-
ção, p. 136). Ao que tudo indica, a proporção elevada de absolvições no CADE, em
relação aos processos efetivamente levados a julgamento, gerava certa revolta e crença
na inoperatividade do órgão. Cf., por exemplo, todas as discussões que envolveram o
Processo Administrativo 1, que teve como indiciadas a Associação Técnica Brasileira
das Indústrias Automáticas de Vidros e suas associadas (absolvidas por falta de provas).
Da mesma maneira, no Processo Administrativo 9, que teve como representada Indús-
trias Elétricas Brown Boveri S. A. (também este caso de grande repercussão pública),
o CADE absolveu a representada, mais uma vez, por falta de provas.
117. Tercio Sampaio Ferraz Junior coloca que a franca política de agregação empresarial
verificou-se, sob o prisma jurídico, pelas Leis 5.727/71 e 6.151/74 e, nesta última,
com a criação do COFIE, FMRI e PMRC, no âmbito do BNDE, “todos, destinados a
incentivar a política de fusão e incorporação nos setores em que a excessiva disse-
minação de empresas nacionais lhes retire o poder de competição e as coloque em
posição frágil, perante o concorrente estrangeiro”. Salienta, ainda, o mesmo autor, que
a atuação do CIP estabelecendo preços máximos a serem praticados também seria um
fator de “desorientação” na aplicação da Lei Antitruste (Lei de defesa da concorrência:
origem histórica e base constitucional, p. 70). Nos termos do II PND: “Emergência
e Forte Expressão da Capacidade Empresarial Nacional, para a formação de número
significativo de grupos nacionais sólidos e, não raro, grandes, no Centro-Sul, no
Nordeste e nas demais áreas. Para esse objetivo serão acionadas as seguintes linhas
de operação: Criação de fortes estruturas empresariais, através de: (...) 3) Política de
fusões e incorporações, com estímulos financeiros (o FMRI e o PMRC, no BNDE) e
fiscais (COFIE), nos setores em que a excessiva disseminação de empresas nacionais
lhes retire o poder de competição e as coloque em posição frágil, perante o concor-
rente estrangeiro. 4) Formação de conglomerados nacionais, realizando a integração
financeira, financeiro-industrial, financeiro-serviços, assim como outras fórmulas,
de maneira flexível, em alternativas de liderança financeira, liderança industrial ou
supervisão por empresa controladora holding. O objetivo central deve ser a maior
produtividade no uso dos recursos, pela fluidez intersetorial das aplicações, e a ga-
rantia de estrutura financeira sólida” (II Plano Nacional de Desenvolvimento – PND,
Lei 6.151, de 4 de dezembro de 1994, Capítulo IV, A estratégia econômica: opções
básicas, Modelo de Mercado e Funções de Governo, I, 3 e 4). Cf., sobre o I e II PND,
Eros Roberto Grau, Planos nacionais de desenvolvimento, Enciclopédia Saraiva do
Direito, v. 58, p. 497 e ss., e Planejamento econômico e regra jurídica, p. 158 e ss. Esse
mesmo autor observa que havia três regimes em relação às concentrações, seguidos
pelo governo federal: poderiam ser admitidas, coibidas ou incentivadas. Seriam ad-
mitidas na medida em que se encontrava prevista uma série de formas mediante as
quais poder-se-ia dar a associação de empresas (v.g. na Lei das Sociedades por Ações).
Seriam coibidas por leis como aquela de número 4.137, de 1962 (Lei Antitruste) e
ainda seriam incentivadas por atuação de órgãos governamentais como o COFIE.
118. Ementa 53, referida por José Inácio Gonzaga Franceschini e José Luiz Vicente de
Azevedo Franceschini, Poder econômico: exercício e abuso, p. 58.
119. Ementa 55 (Poder econômico: exercício e abuso, p. 58).
123. José Tavares de Araújo Jr., Mercosul, Plano Bush e competitividade internacional da
indústria brasileira, Brasil: o desafio da abertura econômica, p. 99.
Dilui-se a aplicação da Lei 8.158, de 1991, como uma lei antitruste, quer
para corrigir disfunções que se apresentam no mercado, quer para auxiliar a
implementação de determinada política pública. Tirada do bolso em momentos
de conveniência política, a Lei Antitruste foi lançada, com grande bulha por
parte do governo e da imprensa, contra agentes econômicos que auferissem
“lucros abusivos”.
2.9. Lei 8.884, de 1994
O diploma de 1994 sistematizou a matéria antitruste, aperfeiçoando seu
tratamento legislativo, além de transformar o CADE em autarquia federal,
beneficiando-lhe com destinação orçamentária própria. Alguns progressos no
texto normativo foram introduzidos, derivados, principalmente, da evolução
brasileira e europeia.
A Lei 8.884, de 1994, implementou o que se convencionou chamar
de “Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência” – SBDC, composto pelo
CADE, pela SEAE – Secretaria de Acompanhamento Econômico, vinculada
ao Ministério da Fazenda, e pela SDE – Secretaria de Direito Econômico, do
Ministério da Justiça.
No início, houve aplicação menipeica da legislação antitruste por parte
de algumas autoridades administrativas. Por exemplo, dias depois do início
de sua vigência, foi decretada a prisão preventiva de acionista de “importante
rede atacadista”, do gerente-geral da empresa e de executivos de “lojas de de-
partamentos”, acusados de “aumentos abusivos dos preços”.124 De outra parte,
algumas decisões proferidas pelo órgão desde o final dos anos 90, autorizando
acentuado acréscimo do nível de concentração em determinados mercados, fez
emergir certa imagem de “tribunal político”, em detrimento da credibilidade
do CADE junto à opinião pública.
Não obstante, desde o final do século passado, a atuação do Poder Execu-
tivo na área do antitruste vem se dando de forma a não mais se vislumbrarem
“surtos” de aplicação da Lei Antitruste, mas linha contínua de atuação, embora
com altos e baixos. Incrementou-se o interesse acadêmico pela matéria e o
aumento do número de monografias jurídicas publicadas sobre o tema.
Em resumo, após mais de quinze anos de vigência da Lei 8.884, de 1994,
conclui-se que o progresso da matéria no Brasil foi bastante grande, destacando-
-se os seguintes aspectos:
– Consolidação do controle das concentrações empresariais: Não obstante os
textos normativos anteriores previssem a necessidade da apresentação dos atos
teme-se que essa redução dos parâmetros legais da sanção implique incentivo
à atuação dos cartéis;
– Aumento dos recursos materiais à disposição do CADE mediante a criação
de duzentos cargos de “especialistas em políticas públicas e gestão governa-
mental” para exercício prioritário no CADE.
129. Veremos nos capítulos seguintes que a matéria tratada pela Lei Antitruste aparta-se
em dois grandes eixos: (i) repressão às práticas anticompetitivas [vedação dos acor-
dos – horizontais e verticais – restritivos da concorrência, bem como a repressão ao
abuso de posição dominante, conforme previstos no art. 36 da Lei 12.529, de 2011];
e (ii) disciplina das concentrações entre agentes econômicos (art. 88 e seguintes). Os
primeiros dizem respeito a “condutas” que podem acarretar a aplicação de sanções
(art. 37).
130. Informa o sítio do CADE que, de janeiro de 2004 a dezembro de 2011, 93,2% dos
atos de concentração foram aprovados sem restrição, 6,7% aprovados com restrição
e 0,1% reprovados (cf. www.cade.gov.br, acesso em 2 de janeiro de 2012).
3.1.1. Superintendência-Geral
A principal figura da Superintendência é o Superintendente-Geral,
que atua com auxílio de dois Superintendentes-Adjuntos por ele indica-
dos (cf. art. 12, § 7.º). Entre as competências da Superintendência-Geral,
destacam-se:
(i) apuração e investigação de infrações à ordem econômica;
(ii) instrução das análises dos atos de concentração econômica, apro-
vando-os ou impugnando-os perante o Tribunal Administrativo de Defesa
Econômica (art. 13, XII).3
Extensos poderes são atribuídos à Superintendência-Geral, tais como:
(i) requisitar informações e documentos de quaisquer pessoas, físicas ou
jurídicas, bem como determinar as diligências que entender necessárias (art.
13, VI, a);
(ii) realizar inspeção na sede social, estabelecimento, escritório, filial
ou sucursal de empresa investigada, de estoques, objetos, papéis de qualquer
natureza, assim como livros comerciais, computadores e arquivos eletrônicos,
podendo extrair ou requisitar cópias de quaisquer documentos ou dados ele-
trônicos (art. 13, VI, c);
3.1.4. Procuradoria-Geral do CADE
A atuação da Procuradoria-Geral do CADE (PROCADE), cuja existência
é prevista no art. 15 da Lei 12.529/2011, tem a principal função de defender os
interesses do órgão em juízo, incluindo a promoção da execução das decisões
proferidas pelo Tribunal. O Procurador-Chefe, tal como o Economista-Chefe,
poderá comparecer às sessões do CADE e usar da palavra (art. 16, § 2.º e art.
18, § 1.º).
4. Em 1950, com o escopo de tornar mais efetiva a aplicação do art. 7.º do Clayton Act,
o diploma foi complementado pelo Congresso americano, mediante a promulgação
do Celler-Kefauver Antimerger Amendment.
Ou seja, tem-se três suportes fáticos distintos, para três hipóteses distintas (acordos
– verticais ou horizontais – abuso e concentração).
O Tratado sobre o Funcionamento da União Europeia – TFUE veda os
acordos entre empresas que possam prejudicar o comércio entre os Estados-
-membros e que tenham por objeto ou efeito impedir, restringir ou falsear o
jogo da concorrência no mercado interno (art. 101), ao mesmo tempo em que
o art. 102 coíbe o abuso da posição dominante, também na medida em que este
possa ser prejudicial àquele comércio. As concentrações foram inicialmente
abrigadas sob o manto desses artigos; no ano de 1989, passaram a ser regidos
por diploma especial (Regulamento CE 4.064). Hoje, são disciplinadas pelo
Regulamento do Conselho 139, de 20 de janeiro de 2004, e pelo Regulamento
802/2004, da Comissão Europeia, com as alterações introduzidas pelo Regu-
lamento 1.269, de 2013. Novamente: três suportes fáticos distintos, para três
hipóteses distintas.
Tanto no mencionado art. 101 quanto no art. 102, há elenco exemplifi-
cativo das práticas vedadas. Destarte, o sistema europeu situa o acordo entre
empresas (v.g., acordo de fixação de preços, acordo de limitação ou controle
da produção, acordo de divisão dos mercados, vendas casadas) e o abuso da
posição dominante (v.g., imposição de preços não equitativos, limitação da
produção, discriminação, vendas casadas) em dois dispositivos separados, com
suportes fáticos e hipóteses de incidências diversos.
Ademais, porque na Europa a disciplina da concorrência é instrumen-
tal aos objetivos delimitados especialmente no art. 3.º do Tratado da União
Europeia, adota-se sistema de determinação da ilicitude pelo objeto ou efeito
das práticas, de sorte que estas somente serão proibidas se (i) prejudicarem o
comércio com os Estados-Membros ou, especificamente no caso de acordos
entre empresas, (ii) tiverem por objeto ou efeito impedir, restringir ou falsear
o jogo da concorrência no mercado interno europeu.
Já o sistema da lei brasileira é híbrido, que aproveita o europeu no que
tange à caracterização do ilícito pelo objeto ou efeito,5 mas supera tanto esta
tradição quanto aquela norte-americana no que toca à tipificação dos atos.
tomada como exemplo de prática restritiva tanto no elenco do art. 101 quanto
no do art. 102).8
Voltando à lei brasileira, a partir do momento em que a venda casada
(tipificada no inc. XVIII do § 3.º do art. 36 da Lei 12.529, de 2011) implique
a incidência de um dos incisos do art. 36, caput, será considerada contrária à
ordem econômica.
Tanto nos Estados Unidos quanto na Europa, existe a preocupação de ca-
racterizar a posição dominante do agente econômico em determinado mercado
relevante, para que se lhe possa imputar o abuso9 (afinal, não se pode abusar de
posição que não se detém). No Brasil, o intérprete não precisa necessariamente
lançar mão desse raciocínio, uma vez que a lei não exige que se caracterize o ato
como abuso de posição dominante para que seja vedado: basta, como visto, a
existência de determinados objetivos ou a produção de um dos efeitos previs-
tos no art. 36, caput, da Lei 12.529, de 2011. Entre nós, não é necessário deter
posição dominante para infringir a ordem econômica.
Embora a caracterização da posição dominante, do acordo entre empresas
ou da concentração seja dispensável à verificação do ilícito no sistema brasileiro,
há algumas ocasiões em que a diferenciação assumirá relevância, e deverá ser
efetuada para fins de:
(i) Determinação dos agentes que devem ser responsabilizados. Se tratarmos
de típico acordo entre empresas, muito provavelmente todos os partícipes terão
contribuído para a prática, sendo sujeitos ativos de comportamento tipificado
como ilícito. Ao contrário, em se tratando de abuso de posição dominante,
geralmente será responsabilizado apenas o agente detentor dessa posição.
(ii) Argumentação quanto à existência de infração à ordem econômica, quando
se sustenta que uma empresa com diminuto poder de mercado não é apta a
praticar atos que levem ao prejuízo para a livre-iniciativa ou livre-concorrência10
(v., a esse respeito, o capítulo referente ao abuso de posição dominante).
Art. 36 Disciplina das infrações à or- Art. 36, caput: Definição geral das prá-
dem econômica ticas ilícitas, i.e., das infrações à ordem
econômica.
Art. 36, § 3.º: Exemplos de práticas que
podem configurar infração à ordem eco-
nômica, conforme a incidência, ou não,
dos incisos previstos no caput do art. 36.
13. “Art. 36, § 3.º, XV – vender mercadoria ou prestar serviços injustificadamente abaixo
do preço de custo”.
19. Eros Roberto Grau, A ordem econômica na Constituição de 1988, item 88.
20. Por essa razão, afirma F. C. de San Tiago Dantas: “As leis antitrust exprimem a
concepção de que a liberdade econômica não é um princípio absoluto, em nome
do qual se possam admitir os próprios pactos que excluem tal liberdade, mas é um
regime social e econômico a defender mesmo contra a liberdade individual, se esta
o ameaçar” (Problemas de direito positivo, p. 21).
21. Voto do Min. Carlos Velloso, do STF, na ADIn 1.094-8-DF.
e não há notícias na lei de seu traço, podendo ser vivificada somente se consi-
derados os efeitos anticoncorrenciais da prática analisada, atuais e potenciais.
O parâmetro que devemos colocar toca ao ditame constitucional da prote-
ção à livre-iniciativa e à livre-concorrência, e a coibição ao aumento arbitrário
de lucros. Todo abuso de posição dominante implica restrição à livre-iniciativa,
à livre-concorrência ou aumento arbitrário de lucros. Só podemos dizer que
um agente econômico abusou da posição dominante que detinha se prejudi-
cou a livre-concorrência ou a livre-iniciativa ou aumentou arbitrariamente
seus lucros. Caso contrário, trata-se de um ato que não há de ser sancionado
pela Lei Antitruste. Outra exegese nos conduzirá à absurda possibilidade de
condenação, per se, de todo e qualquer ato praticado por empresa em posição
dominante, conforme o livre entendimento da autoridade antitruste.
De outra parte, nem toda restrição à concorrência implica domínio ilícito
de mercado, pois pode ser derivada de vantagem competitiva, prevista no § 1.º
do art. 36. O ato da empresa em posição dominante, restritivo da concorrên-
cia, poderá não configurar abuso por decorrer do exercício normal da posição
dominante.
Em resumo: nem toda a restrição à livre-concorrência ou à livre-iniciativa
é domínio de mercado ou abuso de posição dominante, mas não há domínio de
mercado ou abuso de posição dominante sem restrição à livre-concorrência, à
livre-iniciativa ou que dê lugar a aumento arbitrário de lucros.
Considerando-se os incs. I e IV do art. 36 da Lei 12.529/2011, para caracte-
rizar a ilicitude de uma prática, não há a necessidade de se comprovar a posição
dominante do agente econômico. Com efeito, o monopólio e o abuso de posição
dominante são vedados apenas na medida em que consubstanciam prática
prejudicial à livre-concorrência e à livre-iniciativa (prejudiciais ao mercado
e, portanto, subsumíveis, desde logo, ao inciso I do art. 36 da Lei Antitruste).
23. Tullio Ascarelli, ainda na vigência do Dec.-lei 869, de 1938, já enfrentava a questão:
“Qual, entretanto, o sentido de ‘aumento arbitrário dos lucros’?” e “Quando se pode
definir o lucro como arbitrário”, perguntava o mestre, concluindo que a resposta,
dada pela lei francesa, seria que “o lucro será arbitrário quando não seja ‘le resultat
du jeu naturel de l’offre et la demande’” (...) “o lucro normal não pode ser arbitrário”
29. É sempre atual a advertência lançada por Ascarelli quanto aos riscos da mera trans-
posição de institutos jurídicos de um sistema para outro (Premissas ao estudo do
direito comparado, Problemas das sociedades anônimas e direito comparado, p. 4 e ss.).
30. Essa função sistêmica do art. 36, III, da Lei 12.529/2011 (então art. 20, III, da Lei 8.884,
de 1994), que viabiliza a repressão ao abuso da dependência econômica, é desenvolvida
em Paula A. Forgioni, Contrato de distribuição, especialmente p. 343 e ss.
31. Tullio Ascarelli, na vigência do Dec.-lei 869, de 1938, referia os efeitos potenciais
das práticas restritivas da concorrência (Os contratos de cartel e os limites da sua
legitimidade no direito brasileiro, Ensaios e pareceres, p. 229).
32. Cf. Frignani e Waelbroeck, Disciplina della concorrenza nella CEE, p. 8.
33. Não se deve confundir a questão aqui tratada com a possibilidade de previsão de
isenção em bloco para determinadas práticas, como explicado em capítulo específico
deste livro (capítulo 5).
38. Sobre a distinção entre atividade econômica em sentido amplo e em sentido estrito, v.
Grau, A ordem econômica na Constituição de 1988, item 36 e ss. Esclarece o autor que a
expressão atividade econômica pode ser empregada em distintos sentidos: ao afirmar-
mos que serviço público é tipo de atividade econômica, a ela atribuímos a significação de
gênero no qual se inclui a espécie, serviço público; ao afirmarmos que o serviço público
está para o setor público assim como a atividade econômica está para o setor privado,
a ela atribuímos a significação de espécie. Resta bem claro que o gênero – atividade
econômica – compreende duas espécies: o serviço público e a atividade econômica. A
Constituição do Brasil aparta (i) as atividades econômicas em sentido estrito, cujo de-
senvolvimento é próprio ao setor privado, (ii) e os serviços públicos, cuja prestação é
atribuída, direta ou indiretamente, sob sua responsabilidade, ao Estado.
39. A esse respeito, v. Eros Roberto Grau e Paula A. Forgioni, Loterias: serviços públicos.
Livre-iniciativa/livre-concorrência e imposição de restrições à atividade dos lotéricos,
O Estado, a empresa e o contrato, p. 123.
40. Alfredo Lamy Filho e José Luiz Bulhões Pedreira, A Lei das S.A., Rio de Janeiro, Re-
novar, 1992. Cf. ainda, sobre os conceitos de grupo de direito e grupo de fato, Clóvis
V. do Couto e Silva, Grupo de sociedades, RT 647/7 e ss., set. 1989.
41. A Lei 12.529/2011 é não apenas complexa, mas também confusa no que diz
respeito aos procedimentos administrativos no âmbito do CADE. Limitaremos
nossa análise a aspectos gerais dessas práticas, até mesmo porque inexistem ainda
decisões administrativas ou judiciais capazes sanar as lacunas e contradições do
texto normativo.
42. O art. 48 da Lei Antitruste prevê seis procedimentos administrativos: (i) procedi-
mento preparatório de inquérito administrativo para apuração de infrações à ordem
econômica; (ii) inquérito administrativo para apuração de infrações à ordem econô-
mica; (iii) processo administrativo para imposição de sanções administrativas por
infrações à ordem econômica; (iv) processo administrativo para análise de ato de
concentração econômica; (v) procedimento administrativo para apuração de ato de
concentração econômica; e (vi) processo administrativo para imposição de sanções
processuais incidentais.
43. Dispõem o art. 66, caput e seu § 1.º da Lei Antitruste: “O inquérito administrati-
vo, procedimento investigatório de natureza inquisitorial, será instaurado pela
Superintendência-Geral para apuração de infrações à ordem econômica. § 1.º O
inquérito administrativo será instaurado de ofício ou em face de representação
fundamentada de qualquer interessado, ou em decorrência de peças de informação,
quando os indícios de infração à ordem econômica não forem suficientes para a
instauração de processo administrativo”. De acordo com o § 6.º do mesmo art. 66,
“A representação de Comissão do Congresso Nacional, ou de qualquer de suas
Casas, bem como da Secretaria de Acompanhamento Econômico, das agências
reguladoras e da Procuradoria Federal junto ao CADE, independe de procedimento
preparatório, instaurando-se desde logo o inquérito administrativo ou processo
administrativo”.
44. Ao final desse procedimento, abrem-se as seguintes opções: (i) arquivamento do
processo preparatório ou (ii) indeferimento do requerimento de abertura de inquérito
administrativo ou seu (iii) arquivamento, bem como (iv) instauração de inquérito
administrativo para apuração de infrações à ordem econômica, ou finalmente,
(v) abertura de processo administrativo para imposição de sanções administrativas
por infrações à ordem econômica. Nas três primeiras hipóteses, caberá recurso de
qualquer interessado ao Superintendente-Geral (cf. art. 66, § 4.º).
45. A Lei Antitruste prevê, ainda, a existência de dois outros ritos: (i) procedimento
administrativo para apuração de ato de concentração econômica e (ii) processo
administrativo para imposição de sanções processuais incidentais. Embora a Lei
não seja clara a esse respeito, presume-se que o primeiro tem lugar para investigar
se determinada operação econômica deveria ter sido submetida à sua apreciação do
CADE, nos termos do art. 88, e não o foi. O segundo relaciona-se ao descumprimento
de deveres ancilares das empresas representadas ou que pleiteiam a aprovação de
operação de concentração econômica.
recurso de terceiros
aprovação total
aprovação avocação por conselheiro
rejeição total
remessa
recurso da agência ao Tribunal
Superintendente
reguladora aprovação parcial
(com restrições)
impugnação recurso da parte
ð
de cessação da prática sob investigação ou dos seus efeitos lesivos, sempre que, em
juízo de conveniência e oportunidade, devidamente fundamentado, entender que
atende aos interesses protegidos por lei”.
48. Sobre o consent decree no sistema norte-americano, Richard Epstein, Antitrust consent
decrees in theory and practice.
49. Para Milton Goldberg: “The consent decree is, of course, a compromise between two
parties in a civil suit, the exact terms are fixed by negotiation between the parties and
formalized by the signature of the federal district judge” (Nature, purpose and use of
consent decrees, paper n. 08, Bureau of Business and Economic Research, p. 1). Mais
recentemente, James Rob Savin: “The decree is essentially a court-approved contract
between the defendant and the Attorney General with the legal effect of a litigated
judgment. Due to the frequency of their use, the dictates of consent decrees govern a
substantial number of businesses and even entire industries”. Ademais, “the Tunney
Act requires a district court to determine that a proposed consent decree is in the
public interest before the court enters the decree as a judgment. (...) A consent decree
represents an agreement between the federal government and a defendant created
to settle a pending antitrust action. (...) The settlement, once entered, is permanent
and has the same res judicata and estoppel effects against the government as would
a judgment after trial”. (Tunney Act ’96: two decades of judicial misapplication).
50. Sobre o compromisso de desempenho e o compromisso de cessação, v. Eros Roberto
Grau e Paula A. Forgioni, Compromisso de cessação e compromisso de desempenho
na Lei Antitruste brasileira, O Estado, a empresa e o contrato, p. 229 e ss.
54. “Art. 4.º Constitui crime contra a ordem econômica: I – abusar do poder econômico,
dominando o mercado ou eliminando, total ou parcialmente, a concorrência mediante
qualquer forma de ajuste ou acordo de empresas; II – formar acordo, convênio, ajuste
ou aliança entre ofertantes, visando: a) à fixação artificial de preços ou quantidades
vendidas ou produzidas; b) ao controle regionalizado do mercado por empresa ou
grupo de empresas; c) ao controle, em detrimento da concorrência, de rede de distri-
buição ou de fornecedores.; VII – elevar sem justa causa o preço de bem ou serviço,
valendo-se de posição dominante no mercado.”.
55. Sobre as atribuições de competência do Ministério Público Federal e Estadual nas
questões de concorrência, v. Lafayete Josué Petter, Direito Econômico, 227 e ss. V.,
também, de Waldir Alves, Atuação do Ministério Público Federal junto ao CADE
e nos processos cíveis e penais de infração contra a ordem econômica e as relações
de consumo. Disponível em: [http://www.lafayetepetter.com/DoutrinaDirEcon/
Waldir_Artigo_MPF_e_o_CADE_Del_Rey.htm#_ftn1]. Acesso 21.07.2010.
56. Lei 12.529/2011, art. 20.
57. Direito econômico, p. 226.
58. Para comentários, v. Caroline Cauffman, The European Commission Proposal for a
Directive on Antitrust Damages: A first Assessment. Disponível em: [http://papers.
ssrn.com/sol3/papers.cfm?abstract_id=2339938]. Acesso em: 01.04.2014. V. também,
Maier-Rigaud, Frank P. and Schwalbe, Ulrich, Private Enforcement Under EU Law:
Abuse of Dominance and the Quantification of Lucrum Cessans (November 25, 2013).
Disponível em SSRN: [http://ssrn.com/abstract=2359327]. Acesso em: 01.04.2014.
Sempre com base no art. 47 da Lei 12.529/2011, bem assim nas regras
gerais do Código Civil, as partes que experimentam prejuízos em decorrência
de práticas empresariais que configuram atentado à ordem econômica pos-
suem legitimidade para requerer, junto ao Poder Judiciário, a condenação das
infratoras ao pagamento de perdas e danos.59
Se os advogados não levarem ao conhecimento dos juízes os abusos come-
tidos pelos agentes econômicos com posição dominante, a Magistratura não
será impelida a enveredar pela matéria, prejudicando a sociedade brasileira.
Advirta-se, contudo: isso somente poderá ser feito a partir do momento em que
o conhecimento do direito concorrencial disseminar-se entre os advogados. A
eficácia material da Lei 12.529/2011 não repousa exclusivamente nas mãos do
CADE e do Ministério Público, exigindo postura ativa da advocacia nacional.
59. Roger Blair e David Kaserman indicam três métodos que, na sua opinião, poderiam
ser utilizados para a determinação dos prejuízos decorrentes de prática restritiva
da concorrência: (i) before and after; (ii) yard-stick; e (iii) market share. O primeiro,
como o próprio nome sugere, implica o exame dos preços (ou lucro) no período
anterior à prática restritiva, projetando-os de forma a determinar o lucro que teria
sido obtido pelo prejudicado se nenhuma violação houvesse ocorrido. O segundo
método requer a comparação da situação do prejudicado, após a prática restritiva,
com a de outra empresa que não sofreu qualquer efeito decorrente da violação. Por
fim, mediante a aplicação do método da market share busca-se determinar qual a
parcela de mercado que foi perdida pelo prejudicado, sendo, portanto, uma variação
dos dois primeiros apontados (Antitrust economics, p. 78 e ss.).
60. V. Eros Roberto Grau, Ensaio e discurso sobre a interpretação do direito, A linguagem
e os conceitos jurídicos.
61. Embora os entes integrantes do CADE sejam versados em questões concorrenciais,
deve-se entender que, pela própria natureza da Lei 12.529/2011, sua atuação implica
corte horizontal da realidade, pois lhe cabe analisar os mais diversos setores, cada
qual com características e dinâmica bastante peculiares; o mercado de chocolates
não se comporta da mesma forma do que o de shopping centers de luxo na cidade
de São Paulo que, por sua vez, é diverso do de cimento ou de produção de suco de
laranja. Dessa forma, as atividades do CADE diferenciam-se daquelas das agências
reguladoras, que lidam com corte vertical, aprofundando-se específica e exclusiva-
mente no setor regulado. Assim, por exemplo, a Anatel cuidará de questões relativas
às telecomunicações, a Anac do setor de aviação civil; todos os casos que enfrentam
dizem respeito ao setor que regulam. Ao contrário, o SBDC, a cada novo processo,
deve debruçar-se sobre um segmento diferente, tomando decisões que impactam
desde o mercado de cervejas até o de pasta de dentes.
“It should be noted that to obtain oil for the lamp from
economists is to gain no assurance of a steady flame”
– Lawrence Anthony Sullivan.
9. V., a esse respeito, o excelente escrito de Gerber, Fairness in competition law: European
and U.S. experience. Disponível em: [http://www.kyotogakuen.ac.jp/o_ied/informa-
tion/fairness_in_competition_law.pdf]. Acesso em 21.07.2010.
10. Jonathan Neville Antitrust, p. 10.
11. Valéria Guimarães de Lima e Silva, Direito antitruste. Aspectos internacionais, p. 25.
12. Afirma-se haver “general agreement that the Paramount economic objective of
antitrust is to promote consumer welfare by preserving the free private competitive
market system as the principal institution for allocation resources and determining
price and output”. Nesse sentido, o antitruste seria “a compulsory economic non-
-planning” (cf. Oppenhein, Weston e McCarthy, Federal antitrust laws, p. 9). Essa a
corrente dominante nos Estados Unidos, bem defendida por Herbert Hovenkamp,
Implementing antitrust´s welfare goals. Disponível em: [http://papers.ssrn.com/sol3/
papers.cfm?abstract_id=2154499]. Acesso em: 08.02.2013. Afirma esse conhecido
autor: “The dominant view of antitrust policy in the United States is that it should
promote some version of economic welfare. More specifically, antitrust promotes
allocative efficiency by ensuring that markets are as competitive as they can practi-
cably be, and that firms do not face unreasonable roadblocks to attaining productive
efficiency, which refers to both cost minimization and innovation”.
13. Un secolo di filosofia antitrust, p. 91. Em trabalho posterior, o mesmo autor explica
seu pensamento sobre a filosofia da legislação antitruste: “Si tratta del tipico esempio
di quella che i francesi definiscono ‘législation par principles’: e, cioè, un modello
legislativo che si limita ad incorporare criteri di apprezzamento e giudizi di valore,
senza indulgere in regolamentazioni di dettaglio, e così riservando all’interprete un
ampio margine di discrezione” (L’analisi economica del diritto: pietra filosofale nella
genesi, interpretazione e messa in opera della normativa antitrust, Consumatore,
ambiente, concorrenza, p. 193).
14. Vale a transcrição da advertência lançada por Gunnar Myrdal: “But in most questions
of economic policy there are conflicts of interests. This in fact should not be con-
cealed by obscure talk of a priori principles. In those cases neither an economist nor
anybody else can offer a ‘socially’ or ‘economically correct’ solution” (The political
element in the development of economic theory, p. 193. Há tradução para o português
de José Auto: Aspectos políticos da teoria econômica).
15. Thomas Piraino, Reconciling the Harvard and Chicago Schools: a new antitrust approach
for the 21st century, p. 346. Disponível em: [http://www.repository.law.indiana.edu].
Acesso em outubro de 2016.
16. “Por muito que o crescente recurso a métodos matemáticos lhe dê uma aura de
ciência exacta, a verdade é que ela [a economia] é uma ciência argumentativa; e,
pese embora o consenso que hoje encontramos em torno de alguns princípios fun-
damentais, a aplicação do Direito da Concorrência não se compadece nem com a
excessiva simplificação de modelos, por muito úteis que estes nos sejam para suportar
algumas intuições e regras de decisão, nem com a enorme quantidade de dados que
é indispensável para uma análise empírica que nos permita concluir se uma prática
concreta, adoptada por um ou mais agentes determinados num mercado e contexto
reais, é ou não contrária à defesa da concorrência” (Miguel Moura e Silva, Direito da
concorrência, 9).
17. Antitrust, p. 376. Contra, entre nós, José Inácio Gonzaga Franceschini: “A finalidade
e propósito do Direito da Concorrência é a eficiência econômica, em benefício do
consumidor, tutelando um bem jurídico da coletividade” (Introdução ao direito da
concorrência, Revista de Direito Econômico 21/119).
18. Ainda sobre a evolução da base teórica do antitruste, v. Calixto Salomão Filho,
Regulação e concorrência, p. 55 e s. Sobre sua interface com regulação e desenvolvi-
mento, v., do mesmo autor, Regulação da atividade econômica, especialmente p. 135
e s. Vale, ainda a referência à sua obra Direito concorrencial. As estruturas, na qual o
autor analisa as várias Escolas de pensamento relativas ao direito concorrencial.
19. Sobre o debate entre as duas escolas, v. Roger van den Bergh, Introduzione: l’analisi
economica del diritto della concorrenza, Diritto antitrust italiano p. 16 e ss.; Rudolph
J. Peritz, A counter-history of antitrust law, Duke Law Journal, 1990, p. 300 e ss., e
também François Souty, Le droit de la concurrence de l’Union Européenne, p. 35.
20. Thomas Piraino chega a se referir a “the battle for the soul of antitrust”. Hovenkamp
(The Harvard and Chicago Schools and the Dominant Firm) e Elhauge (Harvard,
not Chicago: which antitrust school drives recent U.S. Supreme Court decisions?)
também seguem analisando as decisões a partir dos referenciais essas duas escolas.
21. Utilizamos aqui a seminal obra, publicada em 1961, de J. M. Clark, Competition
as a dynamic process (A concorrência como processo dinâmico, na tradução de Ruy
Jungman), que é, como diz o próprio autor, a “ampliação de uma linha de pesquisas
originadas de um artigo do autor, intitulado ‘Em direção a um conceito de concor-
rência viável’, publicado em junho de 1940 da American Economic Review”.
22. No mercado idealizado pela doutrina liberal, não haveria lugar para o poder econômi-
co. Ao contrário, a atomização do ambiente faria com que nenhum agente econômico
pudesse agir com indiferença ou independência em relação aos demais. Entretanto,
para que as livres forças de mercado se manifestassem de forma a atuar a lei da oferta
e da procura, alguns requisitos haveriam de estar presentes. Primeiramente, não se
poderia verificar a existência de economias de escala, ou mesmo a diferenciação
dos produtos. Despiciendo frisar que muito raramente esses pressupostos se en-
contram presentes na pululante realidade dos mercados. Ao contrário, como nos
ensina Fábio Nusdeo, existem cinco “inoperacionalidades” que, “se não aniquilam
o mercado como mecanismo dúctil e ágil de coordenação de controle das decisões
econômicas, mostram, no entanto, a sua inaptidão para eficiência quando alguns de
seus pressupostos deixam de estar presentes. São elas: [i] a falta de mobilidade de
fatores que gera as crises de super ou subprodução; [ii] o deficiente acesso a todas as
informações relevantes pelos agentes econômicos que falseia as suas decisões; [iii] a
concentração empresarial derivada do fenômeno das economias de escala que elimina
o jogo concorrencial por inquinar a estrutura mercantil; [iv] os efeitos externos da
atividade econômica produzindo custos e benefícios sociais – as externalidades – que
se quedam incompensados e, assim, deixam de sinalizar adequadamente a escassez;
[v] a impossibilidade de captar as necessidades da comunidade por bens de caráter
coletivo, isto é, aqueles que atendem concomitantemente às necessidades de um
número razoavelmente grande de pessoas” (numeração introduzida, por nós, no
texto original). A realidade contraria, portanto, o princípio da atomização e impõe
o fenômeno da concentração do mercado. Esta, como é logo de se perceber, permite
e pressupõe a criação de um “poder de mercado” e pode levar até a uma situação de
monopólio absoluto ou de monopsônio. Entre o modelo da concorrência atomística
(pressuposto do teórico mercado liberal) e o mercado no qual exista a atuação de
apenas um agente econômico como comprador ou vendedor, existe uma infinidade
de situações intermediárias, caracterizando a concorrência imperfeita ou monopo-
lística. Destarte, tal qual o poder econômico, também a concorrência é uma questão
de grau. A ausência completa de poder econômico em determinado mercado, assim
como a concorrência absolutamente perfeita, correspondem a “estado utópico do
sistema econômico”, encontrado apenas excepcionalmente na realidade (a explica-
ção sobre concorrência imperfeita, na forma que ora expomos, é efetuada por Fábio
Nusdeo, v. seus Fundamentos para uma codificação do direito econômico, Cap. I, p. 7
e ss., especialmente p. 22 a 24, e Abuso do poder econômico, Enciclopédia Saraiva
de Direito, vol. 2, p. 121 e ss. e, mais recentemente, Curso de economia, 6.ª edição,
especialmente capitulo sexto).
23. O que não significa que esses autores fossem “radicais”. Assiste razão a Hovenkamp,
ao comentar o difundido tratado de Areeda e Turner (Antitrust Law): “The Antitrust
Law treatise is in fact something of an economics scavenger, picking and choosing
among economics’ diverse theories for doctrine that is both theoretically defensible
and administratively useful” (Harvard, Chicago and transaction cost economics, p. 4).
24. Cf., também, Roger van den Bergh, Introduzione: l’analisi economica del diritto della
concorrenza, Diritto antitrust italiano, p. 16-17.
25. Phillip Areeda e D. Turner, expoentes da Escola de Harvard, escreveram, em 1978:
“Populist values are served, to a very considerable extent, by the antitrust policies
that promote economic efficiency and progressiveness. The competitive market is
one in which power is not unduly concentrated in the hands of one or a few firms.
They are sufficiently numerous to offer real alternatives to their suppliers and custo-
mers, whose fate is thus determined by impersonal market forces rather than by the
arbitrary fiat of another. And the several firms that share that market will necessarily
have less individual economic or political significance than would be had by a single
firm, or by substantially fewer firms, controlling that market. Accordingly, the goals
of dispersed power and wider business opportunities are served by an antitrust policy
which eliminates monopoly not attributable to economies of scale or superior skill,
and which prevent those mergers, agreements, or practices which obstruct efficient
competition. Populist goals and efficiency goals are consistent over a wide range”
(Antitrust law, p. 7-25).
26. Para análise dos argumentos favoráveis e contrários à concorrência atomística, cf.
Richard Markovits, Antitrust: alternatives to delegalization, Juridification of social
spheres, p. 340 e ss.
27. Cf. Schumacher, apud Roger van den Bergh, Introduzione: l’analisi economica del
diritto della concorrenza, Diritto antitrust italiano, p. 33, nota 77.
28. Cf. Hovenkamp, Harvard, Chicago and transaction cost economics, p. 2.
29. Michel L. Glassman, em entrevista concedida durante o governo Reagan e publica-
da em Antitrust Law and Economics Review, descreve, sinteticamente, as mudanças
implementadas na política antitruste governamental: “First, say the critics, they’ve
abandoned vertical restraints of all kind in accordance with Chicago theory; then
they believe that product differentiation, far from being anticompetitive, is in fact
procompetitive, so they’re not interested in that; they’re not interested in concen-
tration since they don’t believe it leads to collusion of either the overt or implicit
varieties; they’ve greatly reduced the level of merger enforcement since they don’t
believe either conglomerate or vertical mergers are a problem and, even when a ho-
rizontal one appears, all they do is say okay, you’ve got a 3% overlap here in your two
operations so sell these 2 grocery stores and we’ll approve the merger; and in the price
fixing area – since they don’t believe that implicit solution follows from oligopolistic
interdependence or anything sophisticated like that – all they’re interested in is the
relatively petty variety where 50 small highway-construction people get caught set-
ting prices in a local motel room” (Changing presumptions in antitrust: there’s more
competition than we thought, Antitrust Law and Economics Review, vol. 16, n. 1, 1984,
p. 76). Indispensável, para que possamos entender as modificações introduzidas pela
Escola de Chicago, a análise dos registros do seminário ocorrido em abril de 1982,
promovido pela School of Business and Administration e pela School of Law, ambas
de Saint Louis University. Conforme o relato de E. Perry Johnson, pode-se observar
pelas lições de Aaron Director e Ronald Coase nos anos 50,30 tem como prin-
cipais expoentes Bork, Bowman, Mac Gee, Telser e Posner. Revolucionando o
entendimento que se tinha da matéria, Telser inicia a contestação à ilicitude dos
acordos verticais valendo-se da doutrina do free-rider. Mac Gee ataca a teoria
tradicional dos preços predatórios, afirmando que não há base racional para
que as leis antitruste começam a ser vistas como um mal a ser exorcizado (Current
antitrust goals and policies: how different are they really?, Saint Louis University Law
Journal, vol. 27, 1983, p. 321). Algumas vozes, como a de David Stockman, chegam a
sustentar que “You don’t have to structure competition, that’s where I disagree with
the whole antitrust tradition (...) My view is that a monopoly never develops unless
it’s sanctioned by government authority. There’s no such thing as privately developed
and composed monopoly. (...) The antitrust process is totally useless and a sink of
economic resources and wealth we can do without”. Atuando a política propugnada
pela Escola de Chicago, com a eleição de Reagan: (i) o Congresso diminui os recursos
para FTC; (ii) James C. Miller (economista e não jurista) é nomeado para chefiar a
FTC; (iii) Willian Baxter passa a comandar o Justice Department’s Antitrust Division
e, conjuntamente com outros Justice officials, propugna nova e mais permissiva polí-
tica para os acordos verticais. Em 1987 Harold G. Fox observava que, mesmo com a
substituição de Reagan, a derrota da Escola de Chicago talvez não fosse tarefa fácil,
tendo em vista os inúmeros juízes seguidores dessa linha econômica que foram por
ele apontados (Economists and antitrust policymaking: the “communications” GAP
(III), Antitrust Law and Economics Review, vol. 19, n. 1, 1987, p. 55).
Posteriormente, no ano de 1992, foi publicado o editorial de Charles E. Mueller, reco-
mendando uma “agenda” a ser seguida pelo Presidente Clinton, buscando a reversão
de algumas distorções apresentadas nos governos Reagan e Bush (pai), bem como
apontando as decisões da Suprema Corte que deveriam ter suas linhas modificadas
(An antitrust agenda for President Clinton: demote “theory” and restore the private
cases, Antitrust Law and Economics Review, vol. 24, n. 1, 1992).
Para uma visão geral dos efeitos da era Reagan na política antitruste, cf. Marc Allen
Eisner, Antitrust and the triumph of economics: institutions, expertise, and policy
change, p. 2 e ss. Douglas Ginsburg e Eric Fraser apresentam análise sobre o gradativo
aumento de importância dos economistas nas agências norte-americanas (The role
of economic analysis in competition law).
Apanhado geral da evolução até o governo Obama é realizado por Pitofsky, na in-
trodução da obra How the Chicaco School overshot the market, organizada por ele e
Steven C. Salop.
30. Cf. Edmund W. Kitch, The fire of truth: a remembrance of law and economics at
Chicago, 1932-1970, The Journal of Law and Economics, vol. 26, abr. 1983, p. 163-
233. Nesse artigo é efetuada a transcrição de debate entre economistas da Escola de
Chicago analisando suas raízes e o início da interpenetração entre as escolas de direito
e de economia. A análise econômica é vista como nova perspectiva de abordagem dos
casos antitruste, apta a explicar “o que os juízes não haviam entendido” (p. 194).
Sobre a relação entre o texto legal e a eficiência, cf. Michael A. Crew e Charlotte
Twight, On the efficiency of law: a public choice perspective, Public Choice, n. 66,
1990, p. 15-36; Oliver E. Williamson (Antitrust enforcement: where it’s been, where
it’s going, Saint Louis University Law Journal, vol. 27, 1983, p. 289-314). Já na déca-
da de 70 a doutrina cingiu-se à análise da eficiência do mercado. Efetivamente, na
literatura daquela época podemos identificar essa preocupação, que passa a pautar a
análise do antitruste: tudo era ponderado de acordo com a “eficiência”. Cf., a título
exemplificativo, H. Michael Mann e James W. Meeham Jr., em trabalho no qual se
propõem a estudar “the effort being made at the Federal Trade Commission (FTC) to
allocate its resources so as to maximize social benefit” (Policy planning for antitrust
activities: present status and future prospects, The antitrust dilemma, p. 15).
36. Richard Markovits explica: “A policy is said to increase allocative efficiency if it gives
its beneficiaries the equivalent of more dollars than it takes away from its victims”
(Antitrust: alternatives to delegalization, Juridification of social spheres, p. 334). Nas
palavras de Francesco Denozza: “L’ efficienza allocativa (...) coincide, dal punto di
vista della produzione, con una situazione in cui non esiste un’allocazione alter-
nativa che consenta di produrre una maggiore quantità di almeno un bene, senza
che diminuisca la produzione di alcuno degli altri beni. Più in generale, come è ben
noto, una situazione è ottimale, secondo il criterio di Pareto, quando non esiste la
possibilità di migliorare la situazione di alcuno dei membri della società considerata
senza peggiorare quella di alcuno degli altri” (Antitrust: leggi antimonopolistiche e
tutela dei consumatori nella CEE e negli USA, p. 27).
37. Para resumo dos pontos cardeais da Escola de Chicago, v. Herbert Hovenkamp, Fe-
deral antitrust policy: the law of competition and its practice, p. 61 e ss. E, para visão
global mais atualizada, Post-Chicago developments in antitrust law (org. Cucinotta,
Pardolesi e Bergh).
38. Em 1987, Robert Bork chegou a ser indicado para a Suprema Corte estadunidense
por Ronald Reagan, mas seu nome não foi aprovado pelo Senado.
42. Ainda segundo Bork, no que diz respeito ao antitruste, a escolha do legislador já teria
sido pela proteção do bem-estar do consumidor, o que levaria à constante busca pela
eficiência econômica: “So far as I’m aware, Congress, in enacting these statutes, never
faced the problem of what to do when values come into conflict in specific cases.
(...) They did, however, make certain choices that suggest that in cases of conflict
consumer welfare is to be preferred to small producer welfare, as well as to all other
values. For example, the clear indication that price-fixing rings are to be unlawful,
and that monopoly gained through superior efficiency is to be lawful, are indicators
of that” (The role of the courts in applying economics, Antitrust Law Journal, p. 24).
Posner não comunga da mesma opinião no que diz respeito à “vontade do legislador”
(cf. Interview with Judge Richard Posner, Seventh Circuit Court of Appeals, Antitrust,
Spring 1992, vol. 6, n. 2, p. 4-7).
43. Vale a remissão a crítica à Escola de Chicago e sua busca por “verdades naturais”,
lançada por Charles B. Cohler (The new economics and antitrust policy, The Antitrust
Bulletin, Summer 1987, p. 401 e ss.). Dworkin, por sua vez, contesta a afirmação de
Posner de que o direito antitruste deveria ser atuado sempre de forma a maximizar
o bem-estar social (social wealth) (A matter of principle, p. 275 e ss.). Essa crítica
mereceu resposta de Posner (The economics of justice, p. 107 e ss.).
44. Cf. Fabio Nusdeo, Fundamentos para a codificação do direito econômico, p. 88.
45. Cf. Natalino Irti, L’ordine giuridico del mercato, p. 35.
46. Natalino Irti, L’ordine giuridico del mercato, p. 35.
47. Cf. Richard Posner, “Kelsen, Hayek, and the economic analysis of law”.
48. Exemplo dessa aplicação e da redução do escopo do ordenamento jurídico à con-
cretização de um único objetivo é dado por Posner. Buscando inspiração apenas
na racionalidade econômica, afirma: para realizar todo o seu potencial, as crianças
requerem considerável investimento de seus pais, que será maior ou menor confor-
me o comportamento dos pequenos e a disponibilidade dos genitores. Dependerá,
também, de quanto uma pessoa ama seus filhos: maior o apreço, maior o dinheiro
gasto. Mas mesmo quando há um profundo carinho, existe o risco de gastos insufi-
cientes se a família for pobre. É fato que, no “mercado” de adoção, a procura supera
a oferta, ou seja, há mais casais procurando um filho do que crianças disponíveis
(Posner refere-se à realidade norte-americana). Para Posner, isso decorre de uma
ineficiente intervenção estatal, que não leva em conta a racionalidade dos agentes
e a eficiência econômica. Afinal, várias pessoas que podem ter filhos não querem
criá-los, ao mesmo tempo em que há famílias prontas para acolhê-los. Os “custos
de produção” dos pais naturais são infinitamente menores do que os da família que
cria o bebê (por isso existe o mercado negro de crianças). Se as mulheres grávidas
pudessem celebrar contrato de venda dos seus filhos, sem qualquer tabelamento de
preços, o problema estaria resolvido, com ganhos para as crianças, porque quem está
disposto a pagar mais tratá-las-á melhor. É bem verdade que os pais adotivos pode-
riam estar dispostos a gastar dinheiro por motivos “errados” (wrong reasons), como
a exploração sexual. Mas, aí, agirão as leis de proteção dos menores. Igualmente,
poder-se-ia argumentar que os ricos ficariam com todos os bebês – ou pelo menos
com os melhores. Para Posner, embora tal resultado fosse ótimo para as crianças, não
se verificaria: ricos têm famílias menores do que os pobres; então, ricos precisarão
de menor quantidade de bebês do que os pobres. Ademais, a desregulamentação do
mercado aumentaria o incentivo de produção de crianças para a venda (Economic
analysis of law, p. 149-154); em suma, haveria filhos adotivos para todos (ou seja,
oferta e demanda tenderiam a se equilibrar).
49. Chicago baseia-se em trindade, assim resumida na crítica de Pedro Mercado Pacheco:
quando existem condições de concorrência perfeita, ao direito não é reservada ne-
nhuma função decisória ou de intervenção para obter o resultado eficiente. O direito
seria, assim, “uma estrutura redundante em relação ao mercado”, e sua única função,
nesta hipótese, é garantir as condições de liberdade e segurança do tráfico mercantil.
Na presença de falhas de mercado (externalidades, monopólio, bens coletivos) a
função do direito é reduzir a existência desses obstáculos, diminuindo os custos de
transação “que impedem que um resultado eficiente seja atingido por intermédio
de um acordo negociado”. Quando a decisão de mercado é impossível porque os
obstáculos não podem ser eliminados, a função do direito seria “atuar como um
mercado simulado”; o juiz ou o legislador deve tomar “a solução que o mercado teria
adotado, se não existissem obstáculos ao seu funcionamento” (El análisis económico
del derecho, p. 38).
50. Pedro Mercado Pacheco, El análisis económico del derecho, p. 38. V., também, François
Souty, Le droit de la concurrence de l’Union Européenne, p. 35.
51. Nas palavras de Hovenkamp que, nos últimos anos, tem se colocado como defensor
dessa linha dogmática: “The Chicago School has produced many significant contri-
butions to the antitrust literature of the last half century. Thanks in part to Chicago
School efforts today we have an antitrust policy that is more rigorously economic,
less concerned with protecting noneconomic values that are impossible to identify
and weigh, and more confident that markets will correct themselves without gover-
nment intervention” (The Harvard and Chicago Schools and the Dominant Firm.
Disponível em: [http://papers.ssrn.com/sol3/papers.cfm?abstract_id=1014153].
Acesso em: 21.07.2010).
52. “The ideology of antitrust slowly evolved, however, from a debate about political
economy to one about economic theory” (Gavil, Kovacic e Baker, Antitrust law in
perspective, 61).
53. Para ilustrar essa afirmação, v. estudo de Clair Wilcox e William G. Shepherd (Public
policies toward business, especialmente p. 111 e ss.), que contém ponderações bas-
tante contundentes: “a correct or optimal policy will increase competition up to the
margin at which the benefits of extra competition are just offset by the lost technical
economies of scale”.
54. Phillip Areeda e Louis Kaplow anotam as diversas interpretações dadas ao Sher-
man Act, que implementaram políticas completamente diversas: “As we shall see,
antitrust courts have rejected such preferences in condemning cartels but have been
more receptive to them in other contexts. Even so, no criteria have appeared by which
a judge is to decide how much to prefer particular producers (and their shareholders
and employees) over other members of society” (Antitrust analysis, p. 57).
55. Lawrence Anthony Sullivan, Antitrust, p. 5.
56. Para análise dos pressupostos da Escola de Chicago, bem como de seus principais
paradigmas, v. Paula A. Forgioni, Análise econômica do direito: paranoia ou misti-
ficação? e A evolução do direito comercial brasileiro, da mercancia ao mercado, p. 194
e ss.
57. “If economics cannot supply the law with prefabricated policy goals, it can provide
techniques which the law may use as tools in pursuit of its own objectives” (Sullivan,
Antitrust, p. 9).
58. Expressam Michael H. Riordan e Steven C. Salop: “These new post-Chicago theories
neither ignore nor reject the economic analysis of the Chicago School. Instead, they
apply the newer methodology of modern industrial organization theory to more
realistic market structures in which vertical mergers can have anticompetitive effects.
(...) it does identify situations where vertical mergers and other vertical restraints
can raise significant competitive concerns” (Stephen Ross, Network economic effects
and the limits of GTE Sylvania’s efficiency analysis, p. 947).
59. Ainda sobre a diferença entre as correntes, Alan J. Meese, Price theory and vertical
restraints: a misunderstood relation, UCLA Law Review 45:143, 1997. Também Eleo-
nor M. Fox, Dopo Chicago, dopo Seattle e il dilemma della globalizzazione, Mercato
Concorrenza Regole 1:53, 2001 e de Herbert Hovenkamp, Un esame dell’antitrust
del dopo Chicago, Mercato Concorrenza Regole 1:11, 2001 e The reckoning of
post-Chicago antitrust, Post-Chicago developments in antitrust law, p. 1-33. Mais
recentemente, alguns autores indicam aproximação entre as Escolas de Harvard e
de Chicago, mostrando que vários de seus expoentes não defenderiam postulados
condizentes com o padrão conduta-estrutura-performance. Segundo Hovenkamp:
“while structuralism is sometimes associated with a ‘Harvard School’ of antitrust,
Harvard´s own economists and antitrust scholars abondoned most of it more than
thirty years ago, prior to the time that TCE [Transaction Costs Economy] became
well established in the economics literature”. Embora as arestas desse embate te-
nham, hoje, diminuído, é difícil chegar a conclusões peremptórias sobre os limites
[ou inexistência de limites] entre essas correntes, tantas são as esfumaturas dos au-
tores que se debruçam sobre o estudo do direito concorrencial. De uma forma ou de
outra, a doutrina especializada, especialmente a norte-americana, segue utilizando
que não pode ficar enclausurado nos limites da economia. Ou, nas palavras de
Eleanor Fox: “antitrust is Law; it is not economics”.64
Mas essa reação de parte da doutrina norte-americana longe está de alterar
o cenário de supremacia da escola de Chicago e as crenças de muitos de seus
seguidores. O antitruste norte-americano tem aplicação rareada. Quase todas as
práticas são permitidas; pouca ou nenhuma é a contestação às concentrações.65
Os governos que se seguiram à Era Reagan perseveraram na linha conservadora
e a maioria consolidada da Suprema Corte parece acreditar que “o antitruste
faz mais mal do que bem”.66 De tanto em tanto, proclama-se que o antitruste
71. Cf. Giorgio Bernini, Linee per una legislazione antimonopolistica in Italia, Diritto
economico, p. 399.
72. Guyon, Droit des affaires, p. 972.
73. William J. Kolasky, What is competition? Disponível em: [http://www.justice.gov/
atr/public/speeches/200440.htm]. Acesso em: 07.01.2012.
74. Eleanor Fox, The efficiency paradox. Disponível em: [http://ssrn.com/abs-
tract=1431558]. Acesso em: 05.01.2012. No original: “The European Union
values openess, access, rivalry, and the competitive structure of markets as me-
chanisms to produce economic welfare, competitiveness, innovation, and market
integration”.
75. Admite a doutrina europeia que “[c]ertaines pratiques sont em réalité condamnées
pour dês raisons purement politiques, dans la mesure où elles sont contraires à l’
intégration dês marches européens” [Lois e Joseph Vogel, Droit de la distribution, 31].
79. Deixa-se claro, ainda, que aquela normativa “baseia-se num sistema de competências
paralelas em que todas as autoridades responsáveis em matéria de concorrência têm
competência para aplicar os artigos 81 ou 82 do Tratado e são responsáveis por uma
repartição do trabalho eficiente relativamente aos casos em que se considera neces-
sário proceder a um inquérito. Simultaneamente, cada membro da rede permanece
livre de decidir se deve ou não instruir um processo”. O sítio oficial da ENC salienta
a cooperação entre o ente central e as autoridades nacionais: que “[t]he Commission
and the competition authorities in the Member States, operating within the European
Competition Network (ECN), are urged to cooperate in a close and complementary
81. Para análise da jurisprudência europeia, cf. Giuliano Marenco, La giurisprudenza co-
munitaria sulle misure di effetto equivalente a una restrizione quantitativa (1984-1986),
p. 166-196, artigo no qual encontramos vários dos exemplos de que ora nos valemos.
condições “violate the EC Treaty’s rules […] since they are not justified on
public security grounds and that in any event they are neither necessary nor
proportionate for the protection of public security”. A Comissão contestou
ainda a competência dos espanhóis para apreciar aquela operação. Outros casos
de evidente protecionismo interno costumam ser apontados: Sanofi/Aventis,
Suez/Gaz de France, Albertis/Autostrade, Telecom Italia e UniCredit/HBV.
Em julho de 2010, a Corte de Justiça, corroborando posicionamento da
Comissão Europeia, entendeu que o governo de Portugal, ao vetar a aquisição
da participação da Portugal Telecom na sociedade brasileira Vivo pela espanhola
Telefônica, estaria dando lugar à “restrição não justificada à livre circulação
de capitais”. De nada adiantou o argumento embasado na defesa do “interesse
nacional” utilizado pelos portugueses.
84. Formas de abuso de poder econômico, Revista de Direito Mercantil 66, p. 45 e ss.
85. Loterias: serviços públicos. Livre iniciativa/livre-concorrência e imposição de res-
trições à atividade dos lotéricos, O Estado, a empresa e o contrato, p. 123.
86. ADIn 319/4/DF, Rel. Min. Moreira Alves. Julgada em 3 de março de 1993.
87. Vale mencionar, ainda, a seguinte passagem do mesmo julgado: “A ordem econô-
mica, também fundada na livre iniciativa, deve conformar-se aos ditames da justiça
social (CF, art. 170). A respeito desses princípios retores da ordem econômica, pon-
dera José Afonso da Silva (...) ‘Assim, a liberdade de iniciativa econômica privada,
num contexto de uma Constituição preocupada com a realização da justiça social
(o fim condiciona os meios), não pode significar mais do que liberdade de desen-
volvimento da empresa no quadro estabelecido pelo poder público, e, portanto,
possibilidade de gozar das facilidades e necessidades de submeter-se às limitações
postas pelo mesmo. É nesse contexto que se há de entender o texto do (...) art.
170, parágrafo único, sujeito aos ditames da lei e, ainda, dos condicionamentos
91. Por essa razão, Kelvin Jones afirma que: “Antitrust legislation is an attempt to res-
tructure economic relations by legal means and, as such, it is an excellent example
of the law intervening in the conduct and organization of economic affairs” (Law
and economy, p. 18).
92. Sobre a intervenção governamental mediante a disciplina da concorrência e o direi-
to comunitário europeu, cf. Jean-Marie Rainaud e René Cristini, Droit public de la
concurrence, p. 11 e ss.
93. “La legislazione antimonopolio costituisce allora uno strumento utilizzabile per la
concorrenzialità internazionale dei gruppi nazionali; in questo senso va interpretata
l’esplicita tendenza in molti paesi europei a favorire la crescita di ‘campioni nazionali’:
imprese in grado di affrontare adeguatamente il confronto mondiale” (Matteo Caroli,
La regolamentazione dei regimi concorrenziali, p. 177).
94. La legislazione antimonopolistica nella politica economica, La libertà di concorrenza,
p. 45.
95. Disciplina della concorrenza nella CEE, p. 8.
96. Sobre a prática administrativa de não aplicação das regras de direito, em matéria de
concorrência, cf. Lucile Tallineau, La non-application in des règles de droit, Droit
public de la concurrence p. 169 e ss.
97. Para visão da política atuada pela Europa mediante a utilização das normas que
disciplinam a concorrência, cf. Giorgio Bernini, As regras de concorrência, CE,
trinta anos de direito comunitário. Por exemplo, salienta aquele autor que nos anos
60, “nomeadamente em relação aos problemas colocados pelos acordos de distribuição
exclusiva, a interpretação das regras de concorrência parece ter tido por objectivo a
realização da unidade do mercado comum” (p. 347).
98. No original de Irti: “Ci piace ripetere con Talleyrand che intervento e non intervento
sono la stessa cosa: decisione, ambedue, di politica economica, e non naturalmente o
tecnicamente pure. Ambedue postulano una presa di posizione rispetto all’economia,
e la volontà di strutturarla in un modo o nell’altro” (Teoria generale del diritto e pro-
blema del mercato, Rivista delle Società, anno XLV, n. 1, gennaio-febbraio, 1999, 14).
99. Cf. Sullivan e Hovenkamp (Antitrust law, policy and procedure, p. 97): “The new
interpretation is designed to protect American exporters without regard to harm to
American consumers, as long as the challenged conduct would violate the antitrust
law of the United States if the conduct has occurred within United States boundaries”.
100. Cf. Sullivan e Hovenkamp, Antitrust law, policy and procedure, p. 97. A mesma questão
é analisada sob prisma diverso por J. Mark Ramseyer (The antitrust pork barrel in
Japan, Antitrust, Summer 1992, p. 40-3), que parte do pressuposto de que a política
antitruste japonesa não prejudica as vendas americanas. Sobre a visão europeia, v.
European integration: trade and industry (org. L. Alan Winters e Anthony Venables),
especialmente p. 220 e ss.
101. Para análise dos primeiros julgados americanos baseados na Lei Antitruste, cf. Wil-
liam Howard Taft, The Antitrust Act and the Supreme Court, p. 49 e ss.
102. Antitrust policy in transition, 1908: ideal and reality, 48, Miss. Valley Hist. Review, 415,
referida por Fox e Sullivan, Cases and materials on antitrust, p. 56.
103. William Howard Taft escreveu em 1914 que “The object of the anti-trust law was
to suppress the abuses of business (...). It was not to interfere with a great volume
of capital which, concentrated under one organization, reduced the cost of produc-
tion and made its profits thereby and took no advantage of its size by methods akin
to duress to stiffe competition with it. I wish to make this distinction as emphatic
as possible, because I conceive that nothing could happen more destructive to the
prosperity of this country than the loss of that great economy in production which
has been and will be affected in all manufacturing lines by the employment of large
capital under one management” (The Antitrust Act and the Supreme Court, p. 127).
104. O exemplo é cogitado por A. V. Lowe, tratando das blocking laws britânicas: “In
Britain, cartels of shipowners, known as conferences, have been accepted for more
than a century as a necessary evil if stable, regular, and efficient scheduled shipping
services are to be maintained. (...) To this day, it remains the firm and deliberate policy
of the British Government to exempt international shipping conferences from the
application of general British (and, at least at present, of EEC) competition legisla-
tion, and to allow operators freely to enter into conference agreements” (Blocking
extraterritorial jurisdiction: the British protection of trading interests act, 1980, The
American Journal of International Law, vol. 75, 1981, p. 258).
105. Essa visão é fortemente sentida nos dias de hoje. Por todos, v. Herbert Hovenkamp,
Implementing Antitrust’s Welfare Goals, 81 Fordham L. Rev. 2471 (2013). Disponível
em: [http://ir.lawnet.fordham.edu/flr/vol81/iss5/11]. Acesso em: 01.04.2014.
106. Steven Salop “What Consensus? Ideology, Politics and Elections Still Matter” (2013).
Disponível em: [http://scholarship.law.georgetown.edu/facpub/1207]. Acesso em:
01.04.2014.
1. É impossível prever tudo na lei de forma a autorizar aquilo que tem que ser autorizado
e reprimir o que tem que ser reprimido (The political economy of monopoly, p. 103).
2. Há de ser salientado o caráter flexível das normas de direito econômico: “Com efeito,
versando continuamente a ordenação de situações conjunturais, assumindo as dis-
somente o contrato que restringir o comércio de forma não razoável for incluído
no significado da lei e, portanto, apenas este for declarado ilegal, fica claro que
a determinação daquilo que é razoável será alcançada com grande incerteza”.
Mas essa interpretação restritiva e literal do Sherman Act foi perdendo
força. O próprio Justice Peckham, posteriormente, no caso United States vs.
Joint Traffic Association, colocou o que se convencionou chamar de “primeira
regra da razão”: o Sherman Act vedaria, apenas e tão somente, as restrições
suportadas direta e efetivamente (directly and effectually) pelo comércio. Ao
invés, se os efeitos da prática fossem indiretos e incidentais, esta não estaria
incluída na proibição legal.
De qualquer forma, não existia, ainda, regra que fizesse a interpretação do
Sherman Act consistente e efetiva.11 Percebe-se, da análise das primeiras decisões
em que a Suprema Corte aplicou aquela lei antitruste, que seus juízes estavam
divididos, em linha de princípio, entre duas posições:12 a primeira, tendo por
principal expoente Peckham, que entendia ilícita qualquer prática que, direta
e efetivamente, prejudicasse o livre comércio; e a outra linha de pensamento,
liderada por White, sustentando que o Sherman Act vedava somente as práticas
que restringiam a concorrência de forma não razoável.
Finalmente, no caso Standard Oil Co. of New Jersey vs. United States, a
Corte Suprema americana coloca, de forma clara, a regra da razão. O Sherman
Act no entender de White, deixava transparecer a intenção do legislador de
não restringir o direito de celebrar contratos, desde que não restringisse o
comércio nacional ou internacional. Ao contrário, a lei visaria a, apenas,
proteger aquele comércio de práticas que implicassem sua indevida restrição
(undue restraint).13
Pela regra da razão, somente são consideradas ilegais as práticas que res-
tringem a concorrência de forma não razoável14 (que se subsumiriam, por via de
15. Para breve e conclusiva explicação da per se rule, cf. Phillip Areeda, The changing
contours of the per se rule, Antitrust Law Journal, vol. 54, p. 27 e ss., 1985. A consi-
deração de uma prática como ilícito per se faz com que ela seja tomada em si mesma
como anticompetitiva, dispensando maior ponderação entre os benefícios e prejuízos
para a concorrência que dela adviriam. “Per se rules of antitrust illegality are reser-
ved for those situations where logic and experience show that the risk of injury to
competition from the defendant’s behaviour is so pronounced that it is needless and
wasteful to conduct the usual judicial inquiry into the balance between the behaviour’s
procompetitive benefits and its anticompetitive costs” (voto dissidente proferido pelo
Juiz Scalia no caso Eastman Kodak Co. vs. Image Tech. Svcs. (504 U.S. 451 – 1992).
16. De forma clara, manifestou-se o Juiz White no caso United States vs. American Tobacco
Company (221 U. S.106 – 1911): “The words ‘restraint of trade’ (...) only embraced
acts or contracts or agreements or combinations (...) which, either because of their
inherent nature or effect or because of the evidente purpose of the acts etc., injuriously
restrained trade” (transcrição de Robert H. Bork, The antitrust paradox, p. 36).
17. Sobre as diferenças entre a regra da razão e a per se condemnation, v. Giorgio Bernini,
L’analisi economica del diritto: pietra filosofale nella genesi, interpretazione e messa
in opera della normativa antitrust, Consumatore, ambiente, concorrenza (Il diritto
privato oggi), p. 195 e ss.
18. Shieber, Abusos do poder econômico: direito e experiência antitruste no Brasil e nos
EUA, p. 75.
19. From Peckham to White: economic welfare and the rule of reason, The Antitrust
Bulletin, summer 1980, p. 275.
20. A respeito da identidade entre as duas regras da razão, cf. John R. Carter, From
Peckham to White: economic welfare and the rule of reason, The Antitrust Bulletin,
p. 275 e ss. Vale, ainda, a referência à analise da regra da razão efetuada por Robert
Bork, The antitrust paradox, p. 33-41.
26. United States vs. Philadelphia Nat. Bank, 374 U.S. 321 (1963).
27. Schwartz, Flynn e First, Problems in antitrust, p. 798. Vale transcrever parcialmente
a decisão proferida no caso Philadelphia, 374 U.S. 321 (1963): “The doctrine of
‘primary jurisdiction’ (...) requires judicial abstention in cases where protection of
the integrity of a regulatory scheme dictates preliminary resort to the agency which
administers the scheme. (...) Court jurisdiction is not thereby ousted, but only
postponed. (...) Thus, even if we were to assume the applicability of the doctrine
to merger-application proceedings before the banking agencies, the present action
would not be barred, for the agency proceeding was completed before the antitrust
action was commenced”.
28. 499 U.S. 365 (1991).
by the State” – o que não ocorria naquele caso concreto. “An entity may not invoke
Parker immunity unless its actions are an exercise of the State’s sovereign power”.
Segue a Corte: “The question is whether the State’s review mechanisms provide
‘realistic assurance’ that a non-sovereign actor’s anticompetitive conduct ‘promotes
state policy, rather than merely the party’s individual interests.’ [North Carolina state
board of dental examiners v. Federal Trade Commission, 574 U. S. ____ (2015)].
Embora o caso não mencione expressamente, a questão que parece estar por trás da
discussão é a da captura de entes reguladores por agentes econômicos privados. Para
os primeiros comentários, v. Herbert Hovenkamp, “Antitrust, capture, federalism
and the North Carolina Dental Case”, disponível em [http://papers.ssrn.com/sol3/
papers.cfm?abstract_id=2570807]. Acesso em 27.04.2015.
34. Cf. Stephen F. Ross, Principles of antitrust law, p. 496-497.
35. Cf. Herbert Hovenkamp, Federal antitrust policy, p. 705.
36. V. sobre o sistema de isenções (tanto no Brasil como em outros sistemas jurídicos):
Lei Antitruste e sistema portuário brasileiro. Competência dos órgãos integrantes
38. A respeito, a explicação de Pontes de Miranda: “(...) a regra jurídica pode ser con-
cebida para o geral, mas admitir atenuações, gradativas ou não, e exceções, além
das limitações que são comuns a todas. Então, há dois suportes fáticos: o da regra
jurídica e o da regra jurídica atenuação, ou exceção. A limitação é apenas a negação
do suporte fático da regra jurídica geral” (Tratado de direito privado, vol. 1, p. 26).
39. Atendidas determinadas condições, quais sejam: “a) Não imponham às empresas
em causa quaisquer restrições que não sejam indispensáveis à consecução desses
objectivos; b) Nem deem a essas empresas a possibilidade de eliminar a concorrência
relativamente a uma parte substancial dos produtos em causa”.
40. Ainda como art. 85 do Tratado de Roma.
41. James S. Venit indica os seguintes motivos como determinantes da adoção das
isenções em bloco: (i) caráter dúplice do art. 85 do Tratado da União Europeia
(hoje art. 101), que permite a isenção de uma prática restritiva da concorrência;
(ii) inexistência de uma regra da razão que impedisse a incidência do art. 85 (1)
do Tratado CE sobre práticas que poderiam ser consideradas “benéficas”; e (iii)
incapacidade da Comissão, derivada da limitação de seus recursos, para isentar
(ou isentar em um período razoável de tempo) todas as práticas notificadas que
não deveriam ser proibidas (Technology licensing in the EC, p. 485). Ainda sobre
os motivos da introdução das isenções em bloco, cf. Paolo Mengozzi, Il diritto della
Comunità Europea, p. 335.
42. Como exemplo, a isenção em bloco referente às restrições verticais, instituída pelo
Regulamento 330, de 2.010, que substituiu o Regulamento 2.790, de 1999.
truste (na versão inglesa consta a expressão acting on its own initiative, enquanto no
documento em língua italiana utiliza-se a expressão d’ufficio).
47. Marcelo Martins Proença explica que o sistema europeu não adota a regra da razão,
mas sim as isenções (Concentração empresarial e o direito da concorrência, p. 46).
48. Remete-se o leitor para o capítulo 8, em que é analisado o procedimento para obtenção
de autorização para concentrações.
por outro pode aumentar o grau de insegurança jurídica caso pairem dúvidas
quanto à licitude do contrato, ou seja, sobre a incidência ou não do art. 36,
caput, da Lei Antitruste.
Visando a diminuir os efeitos adversos dessa imprevisibilidade, é facultado
às empresas formular consultas ao CADE, conforme previsto no art. 9.º, § 4.º,
da Lei 12.529, de 2.011, porquanto “[o] Tribunal poderá responder consultas
sobre condutas em andamento, mediante pagamento de taxa e acompanhadas
dos respectivos documentos”.
Na mesma linha, o CADE poderá com base no art. 9.º, inciso XIV, por
meio do Tribunal, instruir as empresas sobre as formas de infração à ordem
econômica, emitindo textos de orientação sobre os limites da licitude das prá-
ticas e os critérios empregados para a abertura de processos administrativos.
Essas instruções poderão ser prestadas por meio de regras gerais escritas, que
funcionarão como balizas para o comportamento das empresas que preferirem
evitar contestações por parte da autoridade antitruste.
51. Eros Roberto Grau, Licitação e contrato administrativo: estudos sobre a interpretação
da lei, p. 11-12. V., também, do mesmo autor, Direito urbano, p. 129.
52. Natalino Irti, L’età della decodificazione, p. 53 e ss. A referência ao estudo de Irti é de
Eros Roberto Grau (v. nota anterior).
53. “(...) le norme di un ordinamento hanno un certo rapporto tra loro, e questo rapporto
è il rapporto di compatibilità” (Norberto Bobbio, Teoria generale del diritto, p. 208).
54. Hermenêutica e aplicação do direito, p. 168.
55. Não se pode deixar de notar, ainda com Bobbio, que a antinomia no sistema jurídico
é sempre aparente e nunca real, já que o próprio ordenamento contém regras que
devem necessariamente levar à solução de possíveis conflitos entre suas normas
(Teoria generale del diritto, p. 218-235).
56. Mais uma vez, a lição de Carlos Maximiliano: “Se existe antinomia entre a regra geral
e a peculiar, específica, esta, no caso particular, tem a supremacia. Preferem-se as
disposições que se relacionam mais direta e especialmente com o assunto de que se
trata: in toto jure generi per speciem derogatur, et illud potissimum habetur quod
ad speciem directum est – ‘em toda disposição de Direito, o gênero é derrogado pela
espécie, e considera-se de importância preponderante o que respeita diretamente à
espécie’” (Hermenêutica e aplicação do direito, p. 169). Nessa esteira, Bobbio: “Il (...)
criterio (...) della lex specialis, è quello in base a cui di due norme incompatibili,
una generale e una speciale (o eccezionale), prevale la seconda: lex specialis derogat
generali. Anche qui la ragione del criterio non è oscura: legge speciale è quella que
deroga ad una legge più generale, ovvero che sottrae ad una norma una parte della
sua materia per sottoporla ad una regolamentazione diversa (...)” (Teoria generale
del diritto, p. 220-221).
57. Sobre as imunidades antitruste no Brasil, v. Calixto Salomão Filho, Direito concor-
rencial: as estruturas, p. 209 e ss.
que é dado pelo próprio autor: a Comissão não considerou como integrantes de um
mesmo mercado relevante os programas televisivos semanais e aqueles diários. Ora,
mais do que identificarmos um “mercado relevante temporal”, trata-se, na verdade,
de diversos mercados relevantes materiais. Cf., a respeito dessa questão, os comentários
de Werter Faria, Direito da concorrência e contrato de distribuição, p. 24.
63. “The geografic relevant market is that area where that allegedly dominant firm
faces competition in respect of the practices which are considered abusive” (Bael e
Bellis, Competition law of the EEC, p. 65). O Capítulo 5 do fomulário CO (utilizado
pelos agentes econômicos, na União Europeia, para informar à Comissão as práticas
concentracionistas) prevê: “O mercado geográfico relevante compreende a área em
que as empresas em causa fornecem e procuram produtos ou serviços relevantes,
em que as condições de concorrência são suficientemente homogéneas e que podem
distinguir-se de áreas geográficas vizinhas devido ao facto, em especial, de as condi-
ções da concorrência serem consideravelmente diferentes nessas áreas. Os factores
que interessam para a apreciação do mercado geográfico relevante incluem a natureza
e características dos produtos ou serviços em causa, a existência de obstáculos à en-
trada ou de preferências dos consumidores, diferenças consideráveis das partes de
mercado das empresas entre áreas geográficas vizinhas ou diferenças substanciais de
preços”. Cf., também, Benjamin M. Shieber, O conceito de dominação dos mercados
nacionais na lei antitruste, RT 338/27-29, 1963.
64. Nas palavras de Hovenkamp: “The size of the geografic market depends on the nature
of the product and of the people who buy and sell it” (Federal antitrust policy: the
law of competition and its practice, p. 108).
65. Cf. Hovenkamp, Federal antitrust policy, p. 108.
66. No caso Souza Cruz vs. Philip Morris, trilha semelhante foi seguida pela SDE na
elaboração de parecer no Processo Administrativo 08012.003303/98-25, em que a
Philip Morris S.A. lamentava-se da conduta da Souza Cruz S.A. de celebrar acordos
de exclusividade com vários pontos de venda situados em locais estratégicos da
cidade de São Paulo: “Não se pode ignorar o desconforto enfrentado pelo fumante,
que esteja sem o cigarro de sua preferência e queira comprá-lo num local em que a
totalidade dos pontos de venda tenha celebrado contrato de exclusividade de ven-
das com a representada. Há desconforto para o consumidor fiel a uma marca, que,
impossibilitado de locomover-se por razões variadas, tenha que fumar outra marca
de cigarros. Mesmo que o consumidor já saiba que uma determinada área da cidade
esteja totalmente fechada por contratos de exclusividade, há o desconforto de sempre
ter de lembrar de comprar o produto de sua preferência antes de chegar nessa área.
É importante ter em mente que o ato de fumar é um vício, o que torna este mercado
bem distinto dos demais, nos quais os consumidores não precisam comprar o bem
de que necessitam no exato momento em que o demande”.
67. A autoridade antitruste italiana já afirmou que, em princípio, cada aeroporto cons-
titui um mercado relevante geográfico distinto. No entanto, como adverte Aldo
Frignani, essa premissa pode ser válida para cidades como Roma, mas em Milão há
certa relação de substituição entre os dois aeroportos da região. Ademais, algumas
vezes, há fungibilidade entre aeroportos situados em cidades diversas. Vale também
lembrar o método normalmente adotado pela Comissão Europeia quando da análise
de práticas envolvendo companhias aéreas: o aspecto mais importante na definição
antitruste considerada. Por essa razão, Lawrence Sullivan afirma: “(...) em mer-
cados geográficos há tendências ao invés de certezas absolutas. Empresas que
se encontram em um raio de 50 milhas podem ser diretamente concorrentes.
Pode ser possível ignorar 100 milhas de distância caso ocorra um aumento de
1% do preço, mas não se ocorrer um aumento de 3%”.73
Muitas vezes, a consideração dos hábitos dos adquirentes traz a definição
do mercado relevante geográfico em bases locais, porque é raro que o consu-
midor, para obter produtos de seu uso pessoal e constante, esteja disposto a
afastar-se de sua zona de residência.74
Com a popularização da Internet, tal como se deu em virtude do aumento
das estradas de ferro nos Estados Unidos do século XIX, alguns mercados re-
levantes que tendiam a ser regionais passam a ser considerados de forma mais
ampla. Entretanto, o idioma do consumidor pode constituir barreira, que leva
à segmentação do mercado relevante.75
(ii) Incidência de custos de transporte. Os custos de transporte consti-
tuem um dos mais influentes fatores na determinação do mercado relevante
geográfico,76 fazendo com que, muitas vezes, os produtores locais encontrem-
-se em posição de independência e indiferença em relação a agentes econômicos
localizados em áreas diversas. A desigualdade entre os preços dos produtos
locais e aqueles que devem ser transportados pode ser tão alta a ponto de
impedir a relação de concorrência entre os fornecedores, isolando-os em
mercados relevantes geográficos apartados. Da mesma forma, algumas ve-
zes, a existência de várias fábricas em diversas regiões indica a existência
77. Considera-se barreira à entrada qualquer fator que torne o acesso de novos agentes
econômicos ao mercado mais custosa ou mais difícil, inclusive a diferenciação do
produto (cf. Viscusi, Vernon e Harrington Jr., Economics of regulation and antitrust,
p. 56).
78. Areeda e Kaplow ensinam: “Even if they are not a single market, the imports may
mean that the remote firms constrain the defendant’s power” (Antitrust analysis,
p. 578).
79. Assim é definido o mercado relevante material, no já citado formulário CO: “Um mer-
cado do produto relevante compreende todos os produtos e/ou serviços considerados
permutáveis ou substituíveis pelo consumidor devido às suas características, preços
e utilização pretendida. Um mercado do produto relevante pode em alguns casos ser
composto por um certo número de produtos e/ou serviços individuais que apresentam
características físicas ou técnicas amplamente indênticas e que sejam permutáveis (...).
Os factores importantes para a avaliação do mercado de produto relevante incluem a
análise da razão da inclusão dos produtos ou serviços nestes mercados e da exclusão de
outros através da utilização da definição acima referida e tendo em conta, por exemplo,
a substitutibilidade, condições de concorrência, preços, elasticidade de preços cruzados
da procura ou outros factores relevantes para a definição dos mercados de produto”.
80. Antitrust, p. 41.
81. “When cross-elasticity is high, the two products should be included in the same
market” (Areeda e Kaplow, Antitrust analysis, p. 576). O critério da elasticidade
cruzada para determinação do mercado relevante material foi pela primeira vez uti-
lizado, pela Suprema Corte Americana, no caso Du Pont (United States vs. E. I Du
Pont de Nemours e Co. (351 U. S. 377 – 1956). Esse método, como salienta Ross,
foi posteriormente empregado nas Mergers Guidelines do ano de 1984 (Principles of
antitrust law, p. 46) e também naquelas do ano de 1992.
82. Para análise das críticas que são feitas pela Escola de Chicago ao critério da elastici-
dade cruzada, v. comentários de Ross sobre a opinião de Turner e Posner (Principles
of antitrust law, p. 47 e ss.).
que sobre as mesas encontravam-se não apenas refrigerantes cola, mas também
águas minerais, cervejas e vinhos.
Assim, a empresa “X-cola” afirmava que não detinha a posição dominante
no mercado relevante, porque este incluiria não apenas o mercado de refrige-
rantes cola, mas também aquele de águas, cervejas e vinhos. Ora, se não detinha
a posição dominante, não poderia dela abusar e muito menos ser punida por
infração ao art. 86 do Tratado CE (hoje art. 102 do TFUE).
Em 2007, interessante caso foi analisado pelo CADE. As requerentes,
que pleiteavam a aprovação da aquisição da tradicional Mate Leão pela Coca-
-Cola, alegaram que, de início, o mercado relevante a ser considerado seria o
“mercado de bebidas não alcoólicas, que inclui bebidas carbonatadas à base
de colas, outras bebidas carbonatadas, água, sucos de fruta prontos para be-
ber ou concentrados, refrescos, chás prontos para beber, isotônicos, sucos
de frutas não concentrados”, e, “possivelmente, inclusive, todas as bebidas
comercializáveis”.83As mesmas partes admitiram, contudo, a hipótese de outra
análise, considerando os segmentos de mate e ice tea. No Brasil, Mate Leão é
tradicional marca de chá-mate, enquanto que a Coca-Cola, indiretamente, está
ligada ao Nestea (em virtude de joint-venture mundial com a Nestlé).
Na hipótese de chá-mate e ice tea serem considerados concorrentes, ha-
veria concentração de mercado, pois o consumidor, que antes poderia optar
entre duas fabricantes diversas, passaria a ter uma escolha. Tomadas essas
bebidas de forma apartada, a concentração seria praticamente inexistente.
Mate Leão e Coca-Cola não concorriam antes da operação e seguiriam não
concorrendo depois.
O CADE afirmou que os consumidores percebiam ambas as marcas como
substitutas decidindo, primeiramente, que o mercado proposto, de bebidas
não alcoólicas, era de “abrangência desarrazoada”. O mercado relevante seria
o de chás prontos para beber e os guaranás não gaseificados.84
Ainda no que toca à delimitação do mercado relevante material, assumem
relevo os efeitos dos sinais distintivos dos produtos, tais como as marcas. Regra
geral, podemos dizer que a identificação do bem ou serviço com uma marca
não é por si só suficiente para caracterizar a existência de mercado relevante
distinto.85 Entretanto, quando os consumidores não têm por hábito substituir
o produto identificado pela marca por outro que lhe é em tudo semelhante,
pode haver a caracterização de vários mercados, derivada da infungibilidade dos
produtos. O critério que deve ser utilizado, mais uma vez, parte não apenas da
necessidade, mas também dos hábitos do consumidor, motivo por que devemos
cogitar de “substituição razoável”.86
Em situações nas quais a dependência dos consumidores é tal que os impe-
de de se valer de outros produtos em princípio intercambiáveis, considera-se a
existência de vários mercados relevantes distintos. A Comissão Europeia assim
decidiu apreciando a prática ABG Oil Companies operating in the Netherlands,
durante a chamada crise do petróleo da década de 1970:87 “Restrições econô-
micas tais como existiram nos Países Baixos durante a crise do petróleo podem
alterar substancialmente as relações comerciais existentes entre fornecedores
que detêm parcela substancial do mercado, quantidades disponíveis de pro-
duto e seus clientes. Por razões alheias ao controle dos fornecedores normais,
seus clientes podem se tornar completamente dependentes para o suprimento
de produtos escassos. Assim, enquanto perdura a situação, os fornecedores
encontram-se em posição dominante em relação a seus clientes”.
Por fim, a identificação das relações de concorrência (e do mercado re-
levante) pode levar em consideração a oferta, se o comportamento do agente
econômico considerado for condicionado pela concorrência que é oferecida
por outros produtores. Fala-se em elasticidade cruzada da oferta para referir a
possibilidade de substituição do fornecedor.88
Por exemplo, tomemos uma produtora de tintas do tipo X, destinadas ex-
clusivamente à pintura de determinado bem. Poderá ocorrer que as produtoras
de tintas Y (que possuem diversa finalidade) sejam capazes de, imediatamente,
passar a fabricar tintas tipo X, sem que, para isso, sejam obrigadas a incorrer
em elevados custos para iniciar a produção da outra tinta e tampouco amargar
elevados prejuízos se abandonarem aquela atividade. Por essa razão, o mer-
cado relevante poderia incluir as fabricantes de tintas X e Y (ou seja, deveria
86. Cf. Bael e Bellis, Competition law of the EEC, p. 61. Para Areeda e Kaplow, “product
differentiation, like product substitution generally, is a matter of degree”, pois “some
smokers would walk a mile for a cigarette C while others would quickly shift to
cigarette L in response to a fractional price change” (Antitrust analysis cit., p. 575).
87. Cf. referência de Bael e Bellis, Competition law of the EEC, p. 70-71.
88. No entender de Massimo Mota: “there might also be substitutability on the side of
supply, when producers that are currently supplying a different product possess
those skills and assets that make it possible to switch production in a short period
of time (say, up to six months or one year) if a price rise occurs” (Competition Policy,
p. 103).
94. Hoffmann-LaRoche vs. EC Commission [1979] ECR 461, referido por Bael e Bellis,
Competition law of the EEC, p. 63.
95. Michelin vs. EC Commission [1983] ECR 3461, referido por Bael e Bellis, Competition
law of the EEC, p. 63, e por Aldo Frignani, Abuso di posizione dominante, Diritto
antitrust italiano, p. 320.
96. Tetra Pak I (BTG licence), OJ 1988 L272/27, referido por Bael e Bellis, Competition
law of the EEC, p. 64.
97. Bollettino, 1992, n. 7, referido por Aldo Frignani e Cristoforo Osti, 20 mesi di legge
antitrust italiana, Diritto del Commercio Internazionale, p. 352.
98. Case T. 85/89 [1990] 4 CMLR 464, referido por D. G. Goyder, EC competition law,
p. 349.
99. In G.U. n. L 284, 19.10.88, referida por Aldo Frignani, Abuso di posizione dominante,
Diritto antitrust italiano, p. 320.
100. Dec. 87-D-08, Rapport du Conseil de la Concurrence, 1987, annexe 18, referido
por Aldo Frignani, Abuso di posizione dominante, Diritto antitrust italiano,
p. 320.
101. Trib. Milano, 08.06.1972, Giur. ann. dir. ind., 1972, n. 135, referido por Aldo Frignani,
Abuso di posizione dominante, Diritto antitrust italiano, p. 321.
114. Cf. Frignani e Waelbroeck, Disciplina della concorrenza nella CEE, p. 113; Fox e
Sullivan, Cases and materials on antitrust, p. 41. Aldo Frignani, Il divieto di abuso
di posizione dominante (nei primi quattro anni di applicazione della l. n. 287/90),
Diritto del Commercio Internazionale, p. 56.
115. Aldo Frignani faz referência ao caráter “soggettivo ed aleatorio della delimitazione
del mercato” (Abuso di posizione dominante, Diritto antitrust italiano, p. 336).
116. Disponível em [http://eur-lex.europa.eu/legal-content/EN/TXT/PDF/?uri=CELEX:
31997Y1209(01)&from=EM], acesso em 23.07.2016. Texto em português: Comu-
nicação da Comissão relativa à definicação de mercado relevante para efeitos do direito
119. Ato de Concentração 16/94. Requerentes: Siderúrgica Laísa S.A. (Grupo Gerdau) e
Grupo Korf GmbH (Cia. Siderúrgica Pains). Relator: Conselheiro José Matias Pereira.
120. A título exemplificativo, podemos ainda lembrar as definições de mercado relevante
realizadas nos casos Direct TV e Nestlé/Garoto. Ato de Concentração 53500.000359/99.
Requerentes: TV Globo Ltda e TV Globo São Paulo Ltda. Relator: Conselheiro João
Bosco Leopoldino da Fonseca. Ato de Concentração 08012.001697/2002-89. Reque-
rentes: Nestlé Brasil Ltda. e Chocolates Garoto S.A. Relator: Conselheiro Thompson
Almeida Andrade. Os votos estão disponíveis no sítio do CADE: www.cade.gov.br.
121. United States vs. Du Pont & Co., 351 U.S. 377 (1956).
122. Como veremos adiante, vários autores assinalam que a presença de certo grau de
elasticidade cruzada não indica, necessariamente, que dois produtos são intercam-
biáveis pelo consumidor, mas, ao contrário, pode significar que a empresa em posição
dominante está abusando do poder de mercado, impondo preços acima daqueles que
seriam normais em um mercado concorrencial. Assim, conclui o autor, a elasticidade
cruzada somente deve ser considerada para fins de delimitação do mercado relevante
se – e somente se – os agentes econômicos estiverem praticando preços competitivos
(v. Hovenkamp, Federal antitrust policy, p. 98 e ss. e Massimo Mota, Competition
Policy, 105 e ss.).
123. David Harbord e Georg von Graevenitz, Market definition in oligopolistic and ver-
tically related markets: some anomalies, European Competition Law Review 3:151,
2000, p. 151-152. V., também, Hovenkamp, Federal antitrust policy, p. 105 e ss.
124. Nessa linha, a crítica de David Harbord e Georg von Graevenitz: “If the purpose
of market definition is to identify those firms which are potentially able to exerci-
se ‘market power’, then it is a redundant step in competition policy investigations,
which leads to logical absurdities, and should be eliminated (...). If our purpose in
defining relevant markets is simply to identify firms with market power, then it may
not appear to matter very much if we distinguish market power from monopoly po-
wer in market definition. However, if this is the aim then it is far from clear why we
should undertake a market definition exercise in the first place” (Market definition
in oligopolistic and vertically related markets: some anomalies, European Competition
Law Review 3:151, 2000, p. 151-152).
125. “In recent years a distinct trend has emerged in the Federal Trade Commission’s (FTC
or the Commission) approach to nonmerger antitrust enforcement. The FTC has
begun to eschew the ‘traditional’ structural method of proving harm to competition in
favor of a more fashionable and flexible approach. Gone are the days when a precisely
delineated market definition and rigid structural market analysis were invariably
the starting point in Sherman Act or FTC section 5 cases. Indeed, the position often
now articulated by the FTC is that a rigorous structural analysis, including market
definition, is essentially unnecessary where a defendant’s conduct can be characte-
rized as ‘inherently suspect’ or where it believes there is ‘direct’ evidence of harm to
competition. (…) Nor has the FTC’s use of direct anticompetitive effects analysis
been confined to the nonmerger context. For the past several years, particularly
following the Staples decision, the FTC has been pursuing a strategy of challenging
mergers under section 7 based primarily, if not solely, on the idea that the acquisition
eliminates significant head-to-head competition between close substitutes; in the
FTC’s view, defining traditional antitrust markets in such circumstances is unneces-
sary. This approach is most often used when challenging a combination’s so-called
unilateral effects. Taken together, the FTC’s infatuation with these new modes of
Essa postura foi acolhida nas novas Guidelines de 2011 que expressamente
admitem: “Relevant markets need not have precise metes and bounds”.
128. Na nota 6 ao texto resta esclarecido: “Destaque-se que este [teste do monopolista
hipotético] não é o único instrumental possível de ser utilizado na delimitação do
mercado relevante. Outros métodos, tais como o da elasticidade cruzada ou o teste
da correlação de preços ao longo do tempo (price correlation over time), também
podem ser úteis. Entretanto, seja qual for o método utilizado, a lógica do teste do
‘monopolista hipotético’ deve estar sempre presente, isto é, identificar os produtos
e as regiões geográficas que possam limitar a capacidade de decisão da nova firma
criada quanto a preços e quantidades”.
129. Jhering, La dogmática jurídica, p. 189.
130. “Qu’il nous soit donc permis de conclure à la non-existence actuelle d’une définition
satisfaisante des droits protégés. Ceci est dû essentiellement à la variété des intérêts
en cause. ULMER remarque justement que la question du droit protégé n’est au fond
rien d’autre que celle du but et du rôle de la réglementation législative” (Dietrich
Reimer, La répression de la concurrence déloyale en Allemagne, p. 103).
131. Fox e Sullivan fazem referência a essa problemática destacando as diferenças nas
decisões decorrentes da proteção de diversos interesses (Cases and materials on
antitrust, p. 10).
132. Ralph Miliband alerta para o fato de que os grandes “interesses” organizados nas
sociedades pluralistas-democráticas não competem em termos iguais e que, por
conseguinte, é possível que alguns deles sejam capazes de obter uma vantagem de-
cisiva e permanente no processo de competição. O poder econômico manifestado,
inclusive, nos lobbies constitui um fato que nenhum governo pode ignorar (O Esta-
do na sociedade capitalista, p. 179 e 180). V., também, Fábio Nusdeo, Fundamentos
para uma codificação do direito econômico, p. 120 e ss. Nessa mesma linha, aponta a
doutrina que a razão dessa disparidade entre os graus de tutela conseguidos pelos
grupos sociais pode repousar nos elevados custos de coordenação enfrentados por
algumas categorias de agentes, como os consumidores.
133. Vivifica-se a definição que Emilio Betti dá à interpretação jurídica, como sendo “il
procedimento ricognitivo diretto a identificare e a riprodurre negli apprezzamenti
dell’interprete le valutazioni comparative degli interessi in conflitto che sono già
contenute nelle norme giuridiche” (Diritto, metodo, ermeneutica, p. 544). O intérprete
deve levar em consideração a multiplicidade de interesses protegidos, contidos no
texto normativo. No caso do antitruste, a tarefa do hermeneuta se complica sobre-
maneira, considerada a natureza dos interesses contidos nas leis e, muitas vezes, dos
conflitos entre eles existentes.
134. Não se pode deixar de notar a semelhança do raciocínio que aqui efetuamos e aquele
de Esser, a respeito da escolha entre os vários métodos de interpretação jurídica.
Diz o autor que, em princípio, existem o método gramatical, histórico, lógico e
sistemático de interpretação do direito e que, dependendo da ocasião ou do caso
concreto que se está levando em consideração, elege-se um desses métodos como
ótimo para fins daquela interpretação específica. Não obstante, “ciò che ancora non
è stato spiegato a proposito di questi elementi e criteri di una corretta interpreta-
zione, sono i motivi che stanno alla base della decisione sull’importanza del singolo
criterio di interpretazione teleologico o grammaticale, sistematico o anche storico,
nel caso singolo”. A conclusão a que chega Esser é inquietante: “Così si chiarisce il
fatto che, nonostante le spiegazioni metodologiche sull’importanza e la portata del
singolo schema interpretativo, a mala pena prese in considerazione dalla prassi, a
seconda dell’utilità di un elemento interpretativo da riconoscere ufficialmente, in
realtà caratteristiche interpretative sistematiche o riflettenti il loro fine, grammaticali
o storiche, vengono utilizzate selettivamente, in modo sommamente arbitrario, o
apparentemente arbitrario, in un modo cioè determinato da risultato” (Precomprensione
e scelta del metodo nel processo di individuazione del diritto: fondamenti di razionalità
nella prassi decisionale del giudice, p. 121-122 – grifamos). Cf., ainda, Larenz (Meto-
dologia da ciência do direito, p. 142).
135. Allan Fels expõe a multiplicidade de interesses que podem ser afetados pela regula-
mentação do mercado pelo governo: “(a) the general consumer or public interest; (b)
particular groups of an industry’s consumers who receive discriminatory treatment,
either favourable or unfavourable, as a result of regulation; (c) producers, or sub-
-groups of producers, in the regulated industry itself; (d) employees or other suppliers
of inputs to a particular industry; (e) producers of substitute or complementary
goods; (f) groups which do not consume the principal output of an industry but
which are subject to actual or self-perceived externalities arising from its activities.
Examples include persons living near factories which cause pollution, and tempe-
rance grops seekling liquor regulation; (g) the regulators; (h) the goverment (for
exemple, where regulation allows the industry to make monopoly profits which the
government appropriates for itself through taxation or other means); (i) politicians
and political parties. This enumeration suggests that many hypothesis concerning
the effects of regulation are possible. Empirical studies of regulation only sometimes
conclude that regulation serves one interest exclusively at the expense of all others”
(The political economy of regulation, U. N. S. W. Law Journal, vol. 5, p. 32, 1982).
Sobre a prevalência do interesse especial (ou seja, de uma determinada categoria)
sobre o interesse público (inclusive na Escola de Chicago), cf. M. L. Greenhut e Bruce
Benson, American antitrust laws in theory and in practice, p. 145 e ss.
142. Em princípio, existem duas formas de controlar o preço utilizando-se as normas an-
titruste: a primeira, é assegurando que a concorrência exerça seu papel, impedindo
a prática de preços muito acima do custo marginal. Assim, por exemplo, quando se
desfaz um monopólio, estabelecendo a concorrência em um setor da economia, os
preços tendem (se não houver acordo entre os agentes econômicos, neutralizando
essa mesma concorrência) a estabilizar-se em patamar inferior àqueles típicos do
monopólio. Esse foi um dos principais motes que inspirou a desestatização de vários
setores da economia a partir dos anos 80. Outra técnica consiste em controlar os preços
praticados pelos agentes econômicos com posição dominante no mercado. No primeiro
caso, fomenta-se a concorrência; no segundo, reprime-se o abuso do poder econômico.
consonância com o texto constitucional e com o art. 1.º da própria Lei Antitrus-
te: “Art. 1.º. Esta Lei estrutura o Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência –
SBDC e dispõe sobre a prevenção e a repressão às infrações contra a ordem
econômica, orientada pelos ditames constitucionais de liberdade de iniciativa,
livre-concorrência, função social da propriedade, defesa dos consumidores e
repressão ao abuso do poder econômico”.
O texto legal menciona expressamente uma miríade de interesses dignos
de tutela jurídica. O art. 36, caput, como expusemos no capítulo terceiro,
trata da livre-concorrência, da livre iniciativa e da tutela daqueles que se encon-
tram em posição de sujeição em relação ao titular de poder econômico ou de
posição dominante. Além disso, o art. 88, § 6.º, I a da Lei 12.529, 2011, prevê
a possibilidade de autorização de concentrações restritivas da concorrência
que propiciem “a eficiência e o desenvolvimento tecnológico ou econômico”.
O texto legal faz também referência aos “consumidores” e aos benefícios que
lhes são repassados pelas operações.
Em momento algum, nosso sistema jurídico corrobora a afirmação, re-
verberada por muitos, de que a Lei Antitruste brasileira visaria, apenas e tão
somente, à tutela da “eficiência alocativa”, nela encontrando seu valor supremo.
Ao contrário, encontramos na Lei complexa constelação de princípios, valores
e interesses que não pode ser ignorada pelo intérprete.
5.4.2. Lei Antitruste, Lei da Propriedade Industrial e Código de Defesa do
Consumidor
Existe, no Brasil, tendência a se misturar áreas de incidência de diplomas
diversos, como a Lei da Propriedade Industrial, o Código Brasileiro de Defesa
do Consumidor e a Lei Antitruste. A confusão muitas vezes se justificaria,
considerando-se que os bens jurídicos tutelados mediatamente por uma lei
são protegidos de forma direta e imediata por outra,143 não sendo difícil que se
percam os contornos da nítida individualização.
Sem embargos às dificuldades encontradas, é necessário que esses diplo-
mas sejam tecnicamente apartados, sob pena de comprometer sua aplicação
eficaz.
5.4.2.1. Concorrência desleal e lei antitruste
No campo da repressão à concorrência desleal, costuma-se referir à dupla
finalidade de suas normas: a proteção dos concorrentes contra a concorrência
36, caput, da Lei 12.529, de 2011, pois o dano a apenas um concorrente pode
implicar lesão ao bem imediatamente protegido pela Lei Antitruste.154
Especialmente em ambientes concentrados, a prática desleal do agente
econômico, que tenha por objeto ou por efeito a eliminação de apenas um
concorrente, trará consequências não desprezíveis para o mercado, de forma
a caracterizar o prejuízo à livre-concorrência ou à livre iniciativa. Considere-
mos, por exemplo, o suborno de dirigente de concorrente, em mercado no qual
atuam apenas duas empresas: essa prática não apenas acarretará a incidência
da Lei 9.279, de 1996, mas também da Lei Antitruste.155
Em conclusão, a diferenciação dos interesses imediatamente protegidos
pelas Lei Antitruste e Lei de Concorrência Desleal faz com que regulamentem
fenômenos diversos: a proteção do concorrente muitas vezes pode não impli-
car proteção da concorrência. De outra parte, considerando-se que também as
normas de concorrência desleal (de forma mediata) fomentam a concorrência
e o progresso tecnológico, colocam-se pontes entre as duas legislações que nos
permitem, em alguns casos, a interpenetração das matérias.
Atualmente, os problemas de intersecção entre a Lei Antitruste e Lei da
Propriedade Industrial muito longe estão de se restringir a questões ligadas
aos efeitos dos atos de concorrência desleal capitulados no art. 195 da Lei
9.279, de 1996. A realidade da nossa “Sociedade da Informação” exige que
andemos muito além, percebendo como as normas de tutela da livre iniciativa,
154. Comenta Hugo L. Black, juntamente com outros autores: “Where, as here, the practice
is one that’s inherently anticompetitive, the finding of public injury has already been
made: ‘Congress’, said that the Court, has ‘determined its own criteria of public harm’
and it is ‘not for the courts to decide whether in an individual case injury had actually
occurred’. In addition, the Court’s prior cases ‘have made clear that an effect on prices in
not essential to a Sherman Act violation’. As to the plaintiff’s insignificant market share,
the practice is by its nature anticompetitive: ‘As such, it is not to be tolerated merely
because the victim is just one merchant whose business is so small that his destruction
makes little difference to the economy. Monopoly can as surely thrive by the elimination
of such small businessmen, one at a time, as it can by driving them out in large groups’”
(“Price effect” not essential to Sherman Act violation: even the single “small merchant”
has antitrust rights, Antitrust Law and Economics Review, vol. 24, n. 2, p. 39, 1992).
155. Na opinião de Hermano Duval (Concorrência desleal, p. 338), a instituição de um cartel
é perfeitamente lícita, do ponto de vista da legislação de repressão à concorrência
desleal, levando-se em consideração, para determinar a incidência dessas normas,
apenas os efeitos que aquele cartel produzirá. Assim, v.g., um cartel que inclua todos
os agentes econômicos do mesmo mercado relevante não será contrário à Lei 9.279,
de 1996. De outra parte, esse cartel será seguramente sancionado pela Lei Antitruste,
a partir do momento em que restringir a livre-concorrência e a livre iniciativa.
156. Cf., ainda, sobre a posição da Escola de Chicago, o capítulo referente aos objetivos
da Lei Antitruste.
157. Sobre a questão da segurança jurídica no mercado, v. Paula A. Forgioni, Teoria geral
dos contratos empresariais.
158. Competition law and purchase of companies, Revue de Droit des Affaires Internationa-
les, n. 4-5, 1989, p. 383. Kingman Brewster Jr. toca o problema da certeza/flexibilidade
das normas antitruste, no campo das relações internacionais: “Any reevaluation of
foreign commerce antitrust policy must give high priority to the competing claims
of certainty and flexibility” (Antitrust and american business abroad, p. 11).
159. No Brasil, a questão da insegurança jurídica das normas antitruste sempre assume
lugar de destaque na imprensa. O CADE que, como vimos, não possuía tradição de
atuação (ocupando, via de consequência, um papel secundário), no início da década
de 90 iniciou atuação mais intensa. A “subjetividade” da lei passou a preocupar não
apenas os empresários, mas também o governo federal, todos espantados diante
de decisões da autoridade antitruste que seriam conflitantes com a política econô-
mica adotada. Vale referência à extensa reportagem publicada no jornal A Gazeta
Mercantil, nesse conturbado período em que a “insegurança” causada pelas normas
antitruste se fez sentir de forma aguda. O CADE teria conseguido obstar as concen-
trações “graças a critérios nebulosos da própria lei”. A “subjetividade” permitiria
que casos semelhantes tivessem decisões distintas. Em conclusão: “Subjetividade.
No fundo, essa é a grande preocupação do ministro da Justiça, Nelson Jobim, com
relação ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica” (edição de segunda-feira,
05.02.1996, 1.ª página e p. A-6 e A-7).
160. A respeito da rule of reason, dizem Fox e Sullivan: “If only that kind of contract which
is in unreasonable restraint of trade be within the meaning of the statute, and decla-
red therein to be illegal, it is once apparent that the subject of what is a reasonable
rate is attended with great uncertainty. What is a proper standard by which to judge
the fact of reasonable rates? (...) To say, therefore, that the act excludes agreements
which are not in unreasonable restraint of trade, and which tend simply to keep up
reasonable rates for transportation, is substantially to leave the question of reasona-
bleness to the companies themselves” (Cases and materials on antitrust cit., p. 41). A
insegurança jurídica que seria causada pela aplicação da regra da razão foi comentada
163. A explicação histórica de que se vale Enrique Marí pode trazer algumas luzes à
afirmação que efetuamos. Inicialmente, o autor explica que a teoria hermenêutica
esteve sujeita a profundas mudanças como consequência de seu papel de mediação
entre o caráter geral das normas e sua aplicação fática. O período histórico em que
essas alterações mais se fazem presentes é, na opinião do autor, a Idade Moderna:
com a burguesia em ascensão, reclamava-se segurança e previsibilidade, a ser orien-
tada pela lei do mercado e sua expansão. Dentre as aspirações e necessidades da
burguesia, coloca Marí (i) normas de procedimento válidas para todos, (ii) proteção
dos direitos individuais; (iii) cientificidade para os textos legais; (iv) pretensão de
verdade e objetividade; (v) certeza e previsibilidade confiáveis; e (vi) controle do
voluntarismo dos governantes. Essas aspirações da burguesia desembocarão no
movimento da codificação, orientando ambos, a exegese e a codificação, para duas
correntes centrais do racionalismo moderno: utilitarismo e positivismo legal (Enrique
E. Marí, La interpretación de la ley. Análisis histórico de la escuela exegética y su nexo
con el proceso codificatorio de la modernidad, p. 233 e ss.). O mesmo Marí observa
que a redescoberta do direito romano indica, no campo econômico, a presença
de interesses vitais dos agentes agrários e urbanos em um momento de crescente
desenvolvimento do intercâmbio de mercadorias. A utilização do direito romano,
conjuntamente com o incipiente direito mercantil e marítimo, produzidos por esses
mesmos agentes, visava obter: (i) noções precisas e claras de propriedade absoluta;
(ii) procedimentos racionais de prova; e (iii) estrutura jurídica profissional. Não
obstante, na transposição do direito romano, os glosadores viram-se diante de uma
realidade que já não se adaptava ao texto. Daí a tarefa que lhes foi imputada de recons-
truir o direito, sem contradições (p. 250-51). Conclui, com apoio em Max Weber,
que os glosadores buscavam, mais uma vez, a segurança e previsibilidade jurídica,
mediante: (i) construção de um complexo normativo compacto; (ii) consistência
lógica, aliada à ausência de contradições; (iii) inexistência de lacunas; e (iv) direito
hermeticamente fechado e autossuficiente (p. 252). Em resumo, busca-se um sistema
de direito.
164. Pois, como assinala Claus-Wilhelm Canaris, as codificações são “essencialmente
redutoras e simplificadoras”, provocando, em um primeiro momento, atitudes po-
A aplicação estrita do direito codificado, por sua vez, já não bastou e não
basta, pois que se percebeu que a interpretação literal do texto normativo
não levaria à solução de todos os problemas,165 sendo incapaz de se moldar à
realidade social.166 Karl Engisch relata a linha de evolução em que procuramos
situar o direito concorrencial: “Houve um tempo em que os juristas aderiram
firmemente à opinião de que deveria ser possível estabelecer uma clareza e
segurança jurídicas absolutas através de normas rigorosamente elaboradas, e
especialmente garantir uma absoluta univocidade a todas as decisões judiciais e
a todos os actos administrativos. Esse tempo foi o do iluminismo (...). A descon-
fiança que haviam chamado sobre si os juízes no período da justiça de arbítrio
e de gabinete (quer dizer, de uma justiça que se acomodava às instruções dos
senhores da terra) e, por outro lado, a adoração da lei animada por um espírito
racionalista, fizeram com que a estrita vinculação do juiz à lei se tornasse no
postulado central. Ao mesmo tempo foi-se conduzindo ao exagero de estabele-
cer insustentáveis proibições de interpretar e comentar a lei (...). O juiz deveria
ser ‘o escravo da lei’. Esta concepção da relação entre a lei e o juiz entrou de
vacilar no decurso do século XIX. Começa então a considerar-se impraticável
o postulado da estrita vinculação do juiz à lei, por isso que não é possível ela-
borar as leis com tanto rigor e fazer a sua interpretação em comentários oficiais
de modo tão exacto e esgotante que toda a dúvida quanto à sua aplicação seja
afastada. (...) A situação actual é a seguinte: a vinculação à lei dos tribunais e
das autoridades administrativas não está tão reduzida quanto, no começo do
nosso século, a chamada Escola do Direito Livre considerou ser inevitável e
tempo, a estreita vinculação do intérprete à letra da lei pode levar a uma incapa-
cidade do sistema para disciplinar os casos concretos que se lhe apresentam.170
Não se descobriu solução para esse problema, como ainda não se vis-
lumbrou o remédio para a crise geral do direito (formal) apontada, já há tanto
tempo, pelos mais diversos autores, das mais variadas tendências ideológicas:
de Orlando Gomes a Ripert, de Capograssi a Ravá, de Calamandrei a Carnel-
lutti, de Engisch a Dworkin.
Percebido que a estreita vinculação do intérprete ao texto normativo, no
caso do antitruste, é impossível, continua a busca de soluções. Neste passo,
somos levados às doutrinas econômicas que, algumas vezes, acenam com um porto
seguro, qual seja, a possibilidade de fórmulas matemáticas fixas e previsíveis a serem
utilizadas pelos intérpretes, dando-lhes a ilusão de segurança e de previsibilidade.
Mas também essas fórmulas logo se mostram insuficientes para acomodar a
pululante realidade a ser disciplinada pelo antitruste.
Há uma perene busca da doutrina pelas formas de que se poderia revestir
um “novo” direito, mais apto a disciplinar a realidade social. Neste contexto,
passou-se mais recentemente por muitas estradas, como aquela da tentativa de
entender a interpretação jurídica como inserta em uma teoria da interpretação
unitária no campo teórico.171
tante óbvio que não se pode garantir, em grau máximo, a adequação súbita das
normas à realidade e a um só tempo ter, também em grau máximo, generalidade
e previsibilidade: a operação de concentração que foi interessante aprovar hoje
poderá admitir outra solução amanhã. Mas isso, como é logo de se perceber,
nada tem que ver com arbitrariedade, mas com o fato de o sistema jurídico,
inúmeras vezes, admitir como certa ou possível mais de uma solução. Assim
não fosse e, por exemplo, não teríamos presenciado a superação (overruling) de
vários precedentes jurisprudenciais norte-americanos, para que fosse adotada
nova visão (geralmente mais liberal) de determinadas práticas.
No que diz respeito ao atual contexto brasileiro, a correta aplicação dos
princípios evitará que a análise, interpretação e aplicação das normas antitruste
continuem a deslizar sobre duas ilusões que, há muito, Ascarelli condenava:179
“A primeira é a que julga estar, qualquer problema social ou econômico, já
inteiramente resolvido quando resolvido juridicamente; ser apenas suficiente
ditar uma lei ou um decreto para que os problemas sejam resolvidos. Esquece-
-se que, afinal, a eficiência das normas jurídicas é condicionada pela situação
econômica e social e assenta, sempre, em parte, sobre fatores extrajurídicos e
sobre a ‘virtude’ lembrada por Montesquieu. As normas jurídicas não acarretam,
diretamente, um determinado resultado; ditam deveres, cuja observância não
é automática, e cuja sanção tem um custo. A segunda é a que confia apenas
em fatores extrajurídicos, descuidando do aperfeiçoamento do tecnicismo
jurídico. Esquece-se a importância e a eficiência do direito na disciplina da
conduta humana jurídica só à vista da sua humana imperfeição, entrando num
caminho que pode levar a substituir o direito pelo arbítrio”.
Está bastante claro que as normas antitruste são um sistema de princípios,
como bem salientou Bernini,180 e se os abandonarmos como pautas interpreta-
tivas, aí sim estaremos no mais puro campo da arbitrariedade,181 do “pragma-
tismo caótico”.182-183 Contudo, para que se possa lançar mão dos princípios,
179. Tullio Ascarelli, Problemas das sociedades anônimas e direito comparado, p. 87, nota
126-bis.
180. Un secolo di filosofia antitrust, p. 91.
181. Por essa razão, as autoridades antitruste de muitos países procuram diminuir o
grau de insegurança jurídica a que estão sujeitos os agentes econômicos, expedindo
Guidelines ou normas de orientação. No Brasil, isso poderá ser feito pelo CADE, com
base no art. 9.º, XIV, da Lei Antitruste.
182. A expressão é utilizada por Paulo Bonavides expondo as ideias de Müller, Curso de
direito constitucional, p. 416.
183. Talvez para afastar a insegurança causada pelo desvio dos princípios, segundo Ross
(Principles of antitrust law, p. 496-7), a tradição antitruste norte-americana rejeita a
Sumário: 6.1. Considerações iniciais sobre posição dominante. 6.1.1. Poder econômi-
co, posição dominante e potestas. 6.1.2. Vantagem competitiva e posição dominante.
Uso e abuso do poder econômico. 6.2. O agente econômico detentor de posição
dominante. 6.3. Determinação da existência de posição dominante. 6.3.1. Indicativos
da existência de posição dominante. 6.3.1.1. Market share x market power. 6.3.1.2.
Concorrência potencial e barreiras à entrada de novos agentes econômicos. Mer-
cados contestáveis. 6.3.1.3. Comportamento/dependência dos consumidores e/ou
fornecedores. 6.3.1.4. Potência econômica da empresa. 6.3.1.5. Estrutura avançada
da empresa, com alto grau de integração vertical. 6.3.1.6. Domínio de tecnologia.
6.3.1.7. Grau de crescimento do setor. 6.3.1.8. Aspecto temporal. 6.3.1.9. Vantagem
da primeira jogada; existência de consumidores cativos. 6.3.1.10. Domínio dos canais
de distribuição. 6.3.2. A necessária conjugação dos indicativos. 6.3.3. Da estrutura
do mercado ao comportamento da empresa. 6.4. Posição dominante derivada de
vantagem competitiva. A atenção das autoridades antitruste. A “responsabilidade
especial” das empresas em posição dominante. 6.5. Abuso de posição dominante.
Algumas práticas típicas. 6.5.1. Imposição de preços abaixo do custo. 6.5.1.1. Venda
justificada. 6.5.1.2. Racionalidade da conduta de preços predatórios. 6.5.1.3. Os
parâmetros para a determinação do “custo” referido pelo art. 36, § 3.º, XV, da Lei
12.529/2011. 6.5.2. Imposição de preços de aquisição de matérias-primas dos con-
correntes. 6.5.3.Vendas casadas. 6.5.3.1. Definição de vendas casadas e critérios para
aferir sua ilicitude. 6.5.3.2. A venda casada e o aumento de participação no mercado
do produto vinculado. 6.5.3.3. Fechamento (foreclosure) do mercado do produto
vinculado. 6.5.3.4. Discriminação entre os adquirentes. 6.5.3.5. Segurança da qua-
lidade do produto. 6.5.3.6. Outros efeitos das vendas casadas. 6.5.3.7. A visão norte-
-americana das vendas casadas. O caso Kodak. 6.5.3.8. A visão europeia das vendas
casadas. 6.5.3.9. Vendas casadas: as lições dos casos Microsoft nos EUA e na União
Europeia. 6.6. A interface entre direito da concorrência e propriedade intelectual:
o grande desafio dos próximos anos. Práticas ligadas ao abuso de “exclusivos” (ou
direitos de propriedade intelectual). 6.6.1. A importância da inovação. 6.6.2. Recusa
de contratar e facilidades essenciais. 6.6.2.1. A posição norte-americana. 6.6.2.2. A
posição europeia. 6.6.3. A Lei Antitruste brasileira e a Propriedade Intelectual. 6.7.
Dependência econômica e abuso de posição dominante.
1. Cf. Fritz Machlup, The political economy of monopoly, p. 82-3. Talvez a confusão entre
as expressões “posição monopolista” e “monopólio” tenha origem na tradução do
termo monopoly para as línguas latinas. Como assinala Thomas E. Kauper, monopoly
é comparável à expressão “posição dominante” e não, necessariamente, a monopólio
(Article 86, Excessive prices, and refusals to deal, Antitrust Law Journal, p. 443).
Monopólio, lembra-nos Modesto Carvalhosa, origina-se “de duas palavras gregas:
monos só; polein vender; donde vender só” (Poder econômico: a fenomenologia, seu
disciplinamento jurídico, p. 30). Esse mesmo autor faz a distinção entre monopólio
no sentido estrito (vender só) e monopólio em sentido lato, que significa “uma po-
sição de força dos vendedores em relação aos seus compradores, ou vice-versa, em
um determinado mercado” (p. 31).
2. A respeito, Frignani e Waelbroeck: “Se un’impresa è capace di esercitare sul mercato
un’influenza preponderante, ciò significa che essa può agire senza dover tener conto
delle reazioni dei concorrenti, mentre questi ultimi devono tener conto delle sue: essa
è dunque sottratta ad una concorrenza effettiva. Nelle due ipotesi, fattore decisivo è
l’assenza di pressione concorrenziale, e conseguentemente la concorrenza non gioca il
suo ruolo di regolatrice del mercato” (Disciplina della concorrenza nella CEE, p. 100).
Entre nós, afirmava Modesto Carvalhosa, em 1967: “Caracteriza-se, assim, o poder
econômico pela capacidade de opção econômica independente, naquilo em que essa
capacidade decisória não se restringe às leis concorrenciais do mercado. Titular do
poder econômico, portanto, é a empresa que pode tomar decisões econômicas apesar
ou além das leis concorrenciais do mercado” (Poder econômico: a fenomenologia, seu
disciplinamento jurídico, p. 2).
3. Foi por essa razão que a Corte de Justiça Europeia asseverou, no caso United Brands,
que: “Non è necessario che un’impresa abbia eliminato ogni possibilità di concor-
renza per essere in posizione dominante”. Mas, se por um lado, posição dominante
não implica monopólio, de outro, o monopólio pressupõe a posição dominante (cf.
Frignani, Abuso di posizione dominante, Diritto antitrust italiano, p. 350-351).
8. Valentine Korah, Concept of a dominant position within the meaning of article 86,
Common Market Law Review, p. 395-396.
9. Isso não significa que o poder econômico confere a seu titular direito potestativo,
o que seria mesmo uma incongruência jurídica, pois o poder econômico é um fato
(ainda que regulamentado pelo direito) e não um direito atribuído pelo ordenamento
jurídico (para corroborar nossa posição basta uma vista de olhos no elenco de típicos
direitos potestativos, notando-se, de início, a patente diferença. Consulte-se Carlos
Alberto da Mota Pinto, Teoria geral do direito civil, p. 175-176, e também Pontes de
Miranda, Tratado de direito privado, vol. 5, p. 241). Ao invés, o que há de comum
entre o direito potestativo e o poder econômico é a potestà (que inclui, como vimos,
a capacidade de atuação de um comportamento indiferente e independente) e a
posição de sujeição que lhe é correlata. Sobre direitos potestativos, cf. ainda Fabio
Konder Comparato, O poder de controle na sociedade anônima, p. 101 e ss.; Francesco
Santoro-Passarelli, Dottrine generali del diritto civile, p. 56 e ss.; A. von Tuhr, Tratado
de las obligaciones, t. 1, p. 14 e ss.; e Karl Larenz, Derecho civil, p. 281 e ss.
10. Francesco Santoro Passarelli. Dottrine generali del diritto civile, p. 55.
11. Luigi Capogrossi Colognesi, de forma ampla, assim coloca a potestas: “Potestas ap-
partiene ad un gruppo di termini derivati da potis che esprimono, in varie sfumature
e con diverse qualificazioni, l’idea del “potere” nella sua forma più immediata. Esso
è il termine più generale per indicare il comando, la supremazia di um soggetto su
altri sia nel campo del diritto privato (...) che in quello del diritto pubblico (...)”
(Potestas, Nuovissimo Digesto italiano, p. 508).
12. United States v. E. I. Du Pont de Nemours e Co. – 351 U. S. 377 (1956). A Suprema
Corte também já definiu o poder de mercado como “the power to force a purchaser
to do something that he would not do in a competitive market” e também como
“the ability of a single seller to raise price and restrict output” (Eastman Kodak Co.
v. Image Tech. Svcs. – 504 U.S. 451 (1992).
13. A referência é de Frignani e Waelbroeck a duas sentenças da Corte de Justiça europeia:
caso United Brands (Banana Chiquita) e Hoffmann-La Roche (vitaminas) (Disciplina
della concorrenza nella CEE, p. 101).
14. Cf. item 7 da Comunicação contendo orientação sobre as prioridades da Comissão
na aplicação do art. 82 do Tratado CE (hoje, art. 102 do TFUE), de 2009.
de poder econômico redunda, no mais das vezes, em desvio de poder econômico, pois
o poder econômico, em si mesmo, não é ilícito, enquanto instrumento normal ou
natural de produção e circulação de riquezas numa sociedade, como a nossa, regida
por normas constitucionais que consagram a ‘liberdade de iniciativa’, a ‘função social
da propriedade’ a ‘harmonia e solidariedade entre as categorias sociais de produção’ e
a ‘expansão das oportunidades de emprego’” (Abuso do poder econômico e garantias
individuais. In: José Inácio Gonzaga Franceschini; José Luiz Vicente de Azevedo
Franceschini. Poder econômico: exercício e abuso, p. 521).
18. A contrario sensu, há de se considerar ilícita a concorrência oferecida por agente
econômico que não conquistou seu poder de mercado com base em vantagem
competitiva. É o que ocorre nos casos em que o concorrente oferece preço inferior
porque deixou de pagar os impostos e contribuições devidos.
19. Os autores de língua inglesa costumam utilizar a expressão anticompetitive advantage
para os casos em que o agente econômico conquista (ou tenta conquistar) parcela de
mercado utilizando-se de meio “fraudulento”, porque não embasado apenas na sua
superioridade. Por exemplo, a prática da Microsoft de divulgar falsos pré-lançamentos
de produtos, bem como de criar, propositadamente, incompatibilidades entre os
produtos que fabrica e aqueles de concorrentes teriam dado origem a anticompetitive
advantages, ou vantagens não competitivas (cf. United States v. Microsoft Corporation
Civ. N. 94-1564 (SS) (D.D.C.); Response of the United States to Public Comments
Concerning the Proposed Final Judgment and Notice of Hearing, Federal Registrer,
vol. 59, n. 221, 17-11-1994, p. 426).
20. The political economy of monopoly, p. 102. Josserand, em sua clássica obra De l’esprit
des droits et de leur relativité, já havia perguntado: “Mais à quelles conditions en
sera-t-il ainsi? Où découvrir le critérium permettant de distinguer l’acte permis de
l’acte défendu, la concurrence licite de la concurrence indue? Comment concevoir
et établir les limites qu’il convient d’apporter à la liberté commerciale?” (p. 233).
Dabin, por sua vez: “dónde descubrir la línea de demarcación entre el uso y el abu-
so?” (El derecho subjetivo, p. 352). Mario Siragusa se coloca praticamente as mesmas
questões referidas por Machlup, Josserand e Dabin (La nozione di abuso di posizione
dominante, Diritto antitrust italiano, p. 358).
21. 11 Hen. IV, f. 47, pl. 21 (1410), transcrito por Fox e Sullivan, Cases and materials on
antitrust, p. 18-19.
22. “Thus, if a struggle between competitors ends with the complete elimination of one
of them, it is difficult to establish whether he succumbed to superior efficiency or to
an expensive assault with intent to kill” (Machlup, The political economy of monopoly,
p. 101).
23. “We have seen that the basic ‘merits’ of competition lie in its contribution to economic
efficiency (optimum allocation of productive resources) and dispersion of power. Com-
petition resulting in the elimination of firms because they are less efficient serves one
of the functions assigned to it” (Machlup, The political economy of monopoly, p. 102).
24. Sobre a doutrina do abuso do direito (ou abuso de direito, como preferem alguns)
e resumo das principais correntes de pensamento, consultar a dissertação de Paulo
de Araújo Campos, Abuso do direito, apresentada como exigência para obtenção de
título de mestre na área de Direito Civil da Faculdade de Direito da Universidade de
São Paulo, em dezembro de 1982, e também à obra de Fernando Augusto Cunha de
Sá, Abuso do direito, Lisboa, 1973.
25. “Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede
manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé
ou pelos bons costumes.”
26. Mario Rotondi, L’abuso di diritto, p. 17.
27. Markovitch, citado por Philadelpho Azevedo em parecer publicado na RT 129/36.
Nas clássicas palavras de Jorge Americano: “O abuso desnatura o direito e faz com
que o deixe de ser” (Parecer publicado na RT 129/59).
28. Nesse sentido, Giulio Levi, L’abuso del diritto, p. 105.
29. Saleilles, Étude sur la théorie générale de l’obligation, p. 375. Cf., também, já sobre o
sistema brasileiro, Plinio Barreto, em parecer publicado na RT 129/24.
30. Cf. Jean Dabin, El derecho subjetivo, p. 366.
31. Quando se menciona o “abuso de poder” está se tratando de abuso do poder confe-
rido por um direito. Assim, por exemplo, o abuso do poder de controle da sociedade
anônima pressupõe o poder que é atribuído ao acionista controlador, conforme os
termos da Lei 6.404, de 1976 (Lei das Sociedades por Ações). A doutrina especiali-
zada geralmente se refere à expressão “abuso de poder” como sendo correlata a um
poder-dever funcional (abuso de autoridade) (cf., a esse respeito, P. Grippo, Abuso di
autorità o di potere, Enciclopedia giuridica italiana, vol. 1, parte 1, Milano, Vallardi, p.
92 e ss.; José Luiz Sales, Abuso de poder, Repertório enciclopédico do direito brasileiro,
p. 356 e ss.; Fernando Díaz Palos, Abuso de autoridad o poder, Nueva enciclopedia
jurídica, t. 2, p. 121 e ss.).
32. Alguns autores apontam que o poder econômico é inerente à natureza das coisas,
“inébranlable, invincible, inexpugnable” (Anne-Sophie Choné, Les abus de domi-
nation, 1).
33. Nesse sentido, Giulio Levi: “Tuttavia è stato detto anche che, parlando sempre di
abuso di posizione dominante, si faccia in realtà riferimento ad una situazione
di fatto, più che di diritto” (L’abuso del diritto, p. 113).
34. O mesmo se diga em relação à posição dominante: trata-se de “fato” e não de “direito”.
35. Diz-se que uma pessoa é mais forte fisicamente do que outra. Ora, essa superioridade
física não é um direito, mas sim um fato. O mesmo se dá com empresa titular de poder
econômico: não se trata de um direito seu, mas sim de mero fato.
41. A Comissão europeia já se manifestou no sentido de que empresas ligadas por força
contratual deteriam posição dominante no mercado, pois: (a) apresentavam-se como
uma só entidade, de forma que sua individualidade não aparecia aos olhos do públi-
co; (b) suas decisões econômicas revelavam elevado grau de interdependência em
matéria de preços e de condições de venda, relacionamento com a clientela e estraté-
gias comerciais; (c) no que tange à produção, haviam estabelecido entre si vínculos
estruturais mediante a troca de mercadorias (Aldo Frignani, Abuso di posizione
dominante, Diritto antitrust italiano, p. 315). Ademais, no caso Vetro Plano, segundo
nos contam Aldo Frignani e Cristoforo Osti, a Corte de Justiça determinou que “non
si può escludere che più imprese siano unite da tali vincoli economici che, per tale
motivo, esse detengono insieme una posizione dominante rispetto agli altri opera-
tori sullo stesso mercato” (20 mesi di legge antitrust italiana, Diritto del Commercio
Internazionale, p. 357). Ainda Aldo Frignani coloca que: “Si può convenire che non
sussistono obiezioni di principio all’applicazione dell’art. 86 ad una situazione simile.
Certo le parti non costituiscono una unità economica; esse rimangono indipendenti
e sono in grado di riacquisire la loro intera libertà di azione in caso di scioglimento
dell’intesa. È indubitabile tuttavia che, nella misura in cui esse sopprimono o limitano
la loro concorrenza reciproca, rafforzando la loro indipendenza di comportamento nei
confronti dei terzi. Se la posizione così acquisita le mette al riparo da ogni concorrenza
effettiva, non c’è alcuna ragione di non applicare loro l’art. 86, almeno nella misura
in cui il comportamento loro rimproverato non si identifica con quello attraverso il
quale esse hanno eliminato la reciproca concorrenza” (Abuso di posizione dominante,
Diritto antitrust italiano, p. 316). Essa, entretanto, não é a opinião de Enrico Raffaelli:
“(...) il comportamento vietato può essere realizzato anche da più imprese. Da ciò
consegue un problema di coordinamento tra l’art. 86 e l’art. 85, che pone il divieto di
accordi tra imprese e di pratiche concordate pregiudizievoli della concorrenza.(...)
La questione è controversa. Si può comunque affermare che quando i comportamenti
vietati sono posti in essere da più imprese troverà applicazione l’art. 85 nel caso in
cui tali comportamenti siano il risultato di accordi o pratiche concordate, mentre si
applicherà l’art. 86 quando il gruppo di imprese in considerazione è contraddistinto
da una società dominante che impone la sua volontà alle altre, e ciò in assenza di
particolari legami tra queste imprese” (Cronache Comunitarie – Il divieto di abuso
di posizione dominante nel diritto comunitario, Il Foro Italiano, p. 78).
42. “There is no sharp division between monopoly and competition: market power is
a matter of degree” (Valentine Korah, Concept of a dominant position within the
meaning of article 86, Common Market Law Review, p. 396). No mesmo sentido, René
Joliet, Monopolisation and abuse of dominant position, p. 76, e Richard Wish e David
Bailey, Competition Law, 25.
43. Partindo da necessária vinculação entre posição dominante e poder de atuar certo
comportamento de indiferença e independência em relação aos demais agentes
econômicos, admite-se que a determinação da posição dominante é decorrência da
estrutura do mercado relevante: o número e o poder econômico de cada uma das
empresas atuantes, o grau de diferenciação dos produtos e as barreiras à entrada
daquele mercado são todos fatores a serem analisados e que nos revelarão algo sobre
a estrutura do mercado que estamos analisando (cf. René Joliet, Monopolisation and
abuse of dominant position, p. 92).
44. Denozza a respeito da determinação da existência de posição dominante: “L’accer-
-tamento dell’esistenza di una posizione dominante sembra porre il giudicante di
fronte alla necessità di confrontare una situazione reale (quella in cui l’agente impone
concretamente un prezzo o una certa condizione contratuale) con una situazione
ipotetica (quella che si avrebbe se il mercato fosse concorrenziale) per verificare se in
questa ipotetica situazione quel reale comportamento sarebbe ugualmente possibile.
Si procede allora ad un accertamento necessariamente indiziario: vengono accertati
dei fatti, considerati indizi dell’esistenza di una posizione dominante (fatti, cioè, in
assenza dei quali – si suppone – l’impresa non potrebbe tenere certi comportamenti
senza essere punita dall’azione dei concorrenti)” (Antitrust, p. 47).
45. Vale a consulta a Motta, Competition policy, p. 118, sobre a análise das market shares
dos agentes econômicos no processo de determinação da posição dominante.
46. Nas palavras de Hovenkamp, “Market power is the ability of a firm to increase its
profits by reducing output and charging more than a competitive price for its product.
(...) More appropriately, market power is the power to raise prices above competitive
levels without losing so many sales that the price increase is unprofitable” (Federal
antitrust policy, p. 79).
47. Cf. Sullivan e Hovenkamp, Antitrust law, policy and procedure, p. 590. Também ana-
lisando a jurisprudência dos tribunais americanos, E. Thomas Sullivan e J. Harrison
afirmam que “the analysis of power frequently involves two questions. First, what
is the relevant market for ascertaining the defendant’s market share? Second, what
does market share indicate about market power, especially when actual share is not
high?” (Understanding antitrust and its economic implications, p. 220). René Joliet,
por sua vez, assinala: “All judicial searches for monopoly power start with the pri-
mary fact of the relative size” (Monopolisation and abuse of dominant position, p. 92).
Sobre a utilização da quota de mercado como critério para determinação da posição
dominante, na Itália, v. Aldo Frignani e Cristoforo Osti, 20 mesi di legge antitrust
italiana, Diritto del Commercio Internazionale, p. 355. Alguns autores, muito embora
afirmem que a questão do poder de mercado deve ser analisada caso a caso, identificam
as parcelas de mercado que foram tomadas pelos tribunais como um indicativo da
econômico do agente pode ser medido pela parcela do mercado relevante que
controla. É o que se deduz do § 2.º do art. 36, que presume a posição dominante
ligada ao percentual de 20%.
Entretanto, nem sempre o elevado percentual de mercado detido pela
empresa significa existência de posição dominante,49 assim como sua diminuta
participação pode não implicar ausência de poder. Primeiramente, o market
share só adquire algum valor, para fins de verificação da existência de posição
dominante, se comparado àquele dos concorrentes.50
Ademais, é fato que a posição dominante deriva não da parcela de mercado
de que a empresa é titular, mas do poder econômico que detém e que lhe permite
independência e indiferença em relação ao comportamento de outros agentes,
colocando-lhe a salvo de pressões concorrenciais. Não basta, pois, a determi-
nação da parcela de mercado detida pela empresa para mesurar seu poder, ou
seja, seu market power, porque, ainda que titular de parcela não substancial
existência de posição dominante, buscando uma regra geral que se possa deduzir (cf.
René Joliet, Monopolisation and abuse of dominant position, p. 93, e Aldo Frignani,
Abuso di posizione dominante, Diritto antitrust italiano, p. 338-339). Não obstante,
os percentuais não constituem gabarito definitivo para a determinação da posição
dominante, sendo apenas indicativo.
48. Nas palavras da Corte de Justiça europeia (United Brands c. Commissione delle
Comunità Europee (causa 27/76), Racc. 1978, p. 207): “Furthermore although the
importance of the market shares may vary from one market to another the view may
legitimately be taken that very large shares are in themselves, and save in exceptional
circumstances, evidence of the existence of a dominant position. An undertaking
which has a very large market share and holds it for some time, by means of the vo-
lume of production and the scale of the supply which it stands for – without those
having much smaller market shares being able to meet rapidly the demand from
those who would like to break away from the undertaking which has the largest
market share – is by virtue of that share in position of strength which makes it an
unavoidable trading partner and which, already because of this secures for it, at the
very least during relatively long periods, that freedom of action which is the special
feature of a dominant position”.
49. “But large market share is not the evil that the Sherman Act condemns. The evil
of monopoly is not the fact that the monopolist has a large percentage of a certain
market. The evil is that, perhaps because it has a large percentage, it is able to charge
more than a competitive price for the monopolized product” (Sullivan e Hovenkamp,
Antitrust law, policy and procedure, p. 589).
50. No caso Hoffmann-LaRoche v. EC Commission [1979] ECR 461, para a determinação
da posição dominante da empresa, a Corte de Justiça considerou a relação entre sua
participação no mercado e aquela dos maiores concorrentes.
51. A questão foi bastante discutida no caso Dimmitt Agri Indus. v. CPC Int’l, 679 F2d
516 (5th Cir. 1982), referida por Sullivan e Hovenkamp, Antitrust law, policy and
procedure, p. 608.
52. Nesse sentido, diz-se que a posição do agente econômico no mercado pode ser “contesta-
da” por outros agentes ou fatores, o que faria com que essa posição não fosse “dominante”.
53. Sobre os efeitos da concorrência potencial, cf. Schumpeter, Capitalismo, socialismo
e democrazia, p. 80.
54. Podemos considerar, a exemplo da Comissão e da Corte de Justiça europeia, que
qualquer custo a ser suportado pelos agentes econômicos para viabilizar sua entrada
no mercado deve ser tomado como barreira à entrada (cf. Frignani, Abuso di posizione
dominante,” Diritto antitrust italiano, p. 341). Fábio Nusdeo explica que as barreiras
de entrada são “um obstáculo ao acesso de novas unidades produtoras em virtude
da posição de privilégio que conferem às já atuantes num dado mercado” (Abuso do
poder econômico, Enciclopédia Saraiva do Direito, p. 125).
55. Nada impede que as barreiras à entrada sejam colocadas pelos próprios agentes,
com a utilização de sua potência econômica. Por exemplo, (a) o agente econômico
o comportamento das empresas que ali atuam. Essa vigilância seria realizada
pelo próprio mercado.
Entretanto, ainda que haja certa mobilidade dos fatores de produção, para
que os concorrentes potenciais entrem no mercado é necessário determinado
espaço de tempo.61 Daí que os efeitos danosos do comportamento da empresa
que abusou de seu poder podem ser desde logo sentidos, e não compensados,
posteriormente, pela entrada dos novos agentes.
Deve, pois, ser vista com certa reserva a premissa de que a existência de
concorrência potencial fará com que não seja adotado comportamento abusi-
vo. Ora, se por um lado, é bem verdade que o agente, ao aumentar seu preço
de forma excessiva, pode atrair para seu mercado outras empresas, tornando
atual a concorrência potencial, de outra, a demora na correção da distorção
poderá trazer consequências danosas para o mercado (e, como contrapartida,
vantagens para o agente econômico que abusa de sua posição e desvantagens
para os consumidores), que não podem e não devem ser desprezadas. Para jus-
tificar esse entendimento, valemo-nos, mais uma vez, da arguta observação de
Denozza:62 “A tese segundo a qual o poder monopolístico será destruído pela
entrada de novas empresas no mercado está, sem sombra de dúvidas, correta,
na medida em que tudo na história da humanidade está destinado a mudar (até
o Império Romano caiu com o tempo). Deduzir, desse fato, argumentações
contra a intervenção judicial para impedir a formação ou acelerar a dissolução
de posições de poder monopolístico seria como sustentar a desnecessidade da
repressão ao homicídio porque todos os seres humanos devem morrer um dia”.
As advertências da Comissão europeia, ao explicitar seus critérios para de-
terminação da posição dominante, demonstram a cautela a se adotar em relação
trativos que limitem ou impeçam a entrada ou saída naquele setor da economia; (b)
as condições de oferta e demanda são praticamente as mesmas para os concorrentes
atuais e potenciais; (c) os investimentos efetuados naquele setor podem ser utili-
zados trabalho alternativos e existe mercado secundário de bens de capital em que
seu valor pode ser inteiramente recuperado (cf. Matteo Caroli, La regolamentazione
dei regimi concorrenziali, p. 33). Por essas razões, ensina Roger Van den Bergh, “le
imprese che operano in mercati contendibili sono soggette alla ‘toccata e fuga’ di
rivali occasionali” (Introduzione – L’analisi economica del diritto della concorrenza,
Diritto antitrust italiano, p. 42).
61. A entrada no mercado é elemento diverso da existência de barreiras. Explica Caroli:
“Anche senza alcun ostacolo strutturale all’entrata, è comunque necessario un certo
intervallo temporale per stabilire ed organizzare la capacità produttiva nel nuovo
settore e per attivare i canali di distribuzione nel mercato” (La regolamentazione dei
regimi concorrenziali, p. 36).
62. Antitrust, p. 64-65.
6.3.1.6. Domínio de tecnologia
A vantagem competitiva, derivada do domínio da tecnologia a que as
outras empresas, por qualquer razão, não têm acesso, é capaz de colocar o
agente econômico em posição de independência e indiferença em relação ao
comportamento dos demais.
A esse respeito, a questão que envolveu a Microsoft, nos Estados Unidos
e na Europa. Não há dúvidas que, principalmente após o lançamento do Mi-
crosoft Windows, essa empresa domina o mercado a tal ponto que sua atuação
condiciona o comportamento dos demais agentes econômicos. A vantagem
efficient in producing the goods and services with which it competes, but merely be-
cause it commands overwhelming financial strength. This is the kind of competition
that is called oppressive or predatory and injurious to the public interest” (The political
economy of monopoly, p. 102). No caso Eastman Kodak Co. v. Image Tech. Svcs. (504
U.S. 451 – 1992), a Suprema Corte Americana afirmou que: “The Court has held many
times that power gained through some natural and legal advantage such as a patent,
copyright, or business acumen can give rise to liability if ‘a seller exploits his dominant
position in one market to expand his empire into the next’”.
6.3.1.8. Aspecto temporal
Ainda que certa empresa detenha elevado percentual de mercado, não
é dito que, necessariamente, será titular de posição dominante. Isso porque,
considerando-se a concorrência sob seu aspecto dinâmico, sua “superioridade”
pode ser absolutamente esporádica, de forma a não assegurar qualquer inde-
pendência de comportamento.
Julgando prática relacionada à distribuição de filmes cinematográficos,
a Comissão Europeia considerou que as profundas variações anuais entre as
parcelas detidas pelas várias empresas não decorriam de modificações em seu
poder econômico, ou mesmo na estrutura do mercado. Ao contrário, a elevada
parcela de mercado detida, em um determinado ano, significava apenas que o
84. Caso T-65/98, Van den Bergh Foods Ltd. v. Commission [2003]. No original: “Those
considerations, which are applicable in the normal situation of a competitive market,
cannot be accepted without reservation in the case of a market of wich, precisely because
of the dominant position held by one of the traders, competition is already restricted”.
85. Margrethe Vestager, responsável pela política de concorrência, declarou: “A Google
tem criado muitos produtos e serviços inovadores que mudaram as nossas vidas, o
que é uma boa coisa! Porém, a estratégia da Google para o seu serviço de comparação
de preços não era apenas a de atrair clientes tornando o seu produto melhor do que
o dos seus concorrentes. Em vez disso, a Google abusou da sua posição dominante
no mercado na vertente de motor de busca, promovendo o seu próprio serviço de
comparação de preços nos seus resultados de pesquisa e despromovendo os dos
concorrentes. O que a Google tem feito é ilegal ao abrigo das regras anti-trust da
UE. Negou a outras empresas a possibilidade de competir com base nos seus mé-
ritos e de inovar. Mais importante ainda, negou aos consumidores europeus uma
escolha genuína de serviços e a possibilidade de tirar pleno partido dos benefícios
da inovação”. Press release disponível em: [http://europa.eu/rapid/press-release_IP-
17-1784_pt.htm]. Acesso em: 23.02.2018.
ser) produzidos sobre o mercado. A Lei 12.529/2011, em seu art. 36, § 3.º,
limita-se a enumerar práticas abusivas mais comuns.86 Em termos simples: não
se procure na lei a resposta para qualquer indagação do tipo “o que é abuso de
posição dominante?” Encontraremos apenas alguns de seus exemplos.
A maioria das condutas mencionadas no art. 36, § 3.º, refere-se a práticas
de abuso de posição dominante e não a acordos entre empresas. Não se trata de
inovação do atual diploma antitruste, pois, desde a promulgação das primeiras
leis de tutela da concorrência no Brasil, já havia a preocupação preponderante
de controlar o abuso da posição dominante.
Essa opção explica-se pelo fato de que na estrutura industrial brasileira
encontram-se, de há muito, agentes econômicos detentores de grande poder
de mercado, ou seja, a concentração de poder não é, para nós, fenômeno novo.
A principal preocupação sempre disse respeito à regulamentação do abuso
de posições fortes de mercado, procurando-se dar ao governo federal meios de
controlar a atividade dos agentes com significativo poder econômico.
A partir da promulgação do Sherman Act, em 1890, muitas práticas fo-
ram condenadas pelas cortes norte-americanas por serem típicos exercícios
abusivos de posição dominante, tais como: (a) espionagem ou sabotagem; (b)
concentrações; (c) diminuição da produção; (d) aumento da produção; (e)
discriminação de preços; (f) recusa de contratar; (g) integração vertical; (h)
vendas casadas; (i) aumento dos custos a serem suportados pelos concorrentes
(price squeeze); (j) manipulação da pesquisa e desenvolvimento tecnológico;
(k) abuso de direito de propriedade industrial; (l) abuso do direito de demanda,
mediante a propositura de ações judiciais ou medidas administrativas vexatórias
contra concorrente; (m) preços predatórios, entre outras.87
No Brasil, algumas dessas práticas são encaradas como atos de concorrên-
cia desleal, tipificados na Lei da Propriedade Industrial. Entretanto, na medida
em que prejudicam não apenas o concorrente, mas também a concorrência e
88. A bibliografia sobre as vendas casadas é extensa. Cite-se Areeda e Kaplow, Antitrust
analysis, p. 704 e ss.; Herbert Hovenkamp, Economics and federal antitrust law, p.
214 e ss.; Guillermo Cabanellas Jr., Antitrust and direct regulation of international
transfer of technology transactions, p. 105 e ss.; Werter Faria, Direito da concorrência
e contrato de distribuição, p. 93 e ss. Para competente análise histórica dos tying
arrangments nos Estados Unidos da América, v. Victor Kramer, The Supreme Court
and tying arrangements: antitrust as history, Minnesota Law Review, p. 1013-1070.
Vide, também, capítulo específico em Paula A. Forgioni, O contrato de distribuição.
6.5.1.1. Venda justificada
Ocasiões há em que a venda abaixo do preço de custo é considerada lícita,
bastando, para tanto, que seja “justificada”. Não cogita a Lei 12.529, de 2011,
da intenção do agente, mas do objeto e dos efeitos da prática. Se esses forem
suficientes para justificá-la, poderá ser considerada como lícita.
A venda abaixo do preço de custo feita em caráter esporádico implica,
geralmente, a necessidade de venda imediata do produto. Aqui, a atuação do
agente econômico é destinada a corrigir ou evitar prejuízo potencial superior
àquele que adviria da comercialização do bem por menos de quanto custou.
Não se trata de comportamento habitual do agente econômico. É o que ocorre
nas “desovas” de produtos perecíveis próximos da data de validade, em que o
empresário, por opção racional, prefere suportar menores prejuízos a perder
a produção disponível para a venda.
Outra justificativa para a venda abaixo do custo poderá ser o acesso ao
mercado, mostrando-se como alternativa razoável para que o agente econô-
mico, desejando iniciar suas atividades em determinado mercado relevante,
atraia o consumidor a experimentar o produto.
Muito se discute o problema dos brindes e descontos promocionais, que
determinam a comercialização do produto com preço abaixo de seu custo.
Trata-se de estratégia utilizada pelos agentes econômicos não apenas para
viabilizar a entrada em novo mercado, mas também para desviar clientela dos
concorrentes.89 Contudo, muitas vezes, a política de brindes ou de descontos
camufla esquemas anticompetitivos, que visam a tornar o adquirente cativo
e inacessível aos competidores. A partir do momento em que a concessão do
brinde ou desconto determinar a incidência do art. 36, caput, da Lei Antitruste,
haverá de ser considerada ilícita.90
89. A prática também pode ser considerada ato de concorrência desleal segundo os
efeitos atuais ou potenciais produzidos. Reimer traz o exemplo do caso Suwa, em
que a corte alemã julgou desleal a distribuição massiva e gratuita de caixas de sabão
em pó (La répression de la concurrence déloyale en Allemagne, p. 111).
90. Sobre os descontos de fidelidade que consubstanciam prática discriminatória, cf.
Goyder, EC competition law, p. 358 e ss., e Giorgio Massina, La disciplina della con-
correnza e del mercato: i cartelli interbancari – Gli sconti di fedeltà, Giurisprudenza
Commerciale, 19.1/121-123. No Brasil, a legislação que regulamenta a distribuição
gratuita de prêmios, mediante sorteio, vale-brinde ou concurso, a título de propa-
ganda, veda que a autorização da promoção pelas autoridades competentes seja con-
cedida caso implique distorção do mercado, objetivando-se, através da promoção, o
alijamento de empresas concorrentes (cf. art. 11, IV, do Dec. 70.951, de 09.08.1972).
91. Eleanor M. Fox e Lawrence A. Sullivan conceituam preço predatório como “pricing
below an appropriate measure of cost for the purpose of eliminating competitors
in the short run and reducing competition in the long run” (Cases and materials on
antitrust, p. 864). Sobre a mesma questão, Kitch e Perlman: “Sales below cost are
part of what is recognized as ‘predatory pricing’, a pricing strategy that lowers prices
in an area to drive out competition with the expectation that losses sustained can
be made up by higher prices once a monopoly position is established. The success
of such a strategy depends on not only the ability to obtain some market power but
also to sustain it long enough to recoup past losses with interest and to secure higher
profits than would have resoluted in the absence of the strategy” (Edmund W. Kitch
e Harvey S. Perlman, Legal regulation of the competitive process, p. 423).
92. Veja-se a lição de José Frederico Marques: “E que é justa causa? É aquela que, embora
não prevista em lei, está em harmonia com o direito: é a causa secundum jus, aquela
que lícita se apresenta diante dos mandamentos da ordem jurídica, ou dos princípios
gerais de direito, tanto que, quem procede com justa causa, está no exercício regular
de um direito”. Entretanto, restaria em aberto a questão, no caso concreto, de saber
se a prática estaria “em harmonia com o direito” (José Frederico Marques, Direito
penal econômico – Princípios sobre a interpretação de suas normas – Do conceito
de monopólio, RF 215/50).
93. Cf. Herbert Hovenkamp, Economics and federal antitrust law, p. 172-173.
94. Para Hovenkamp: “The predator’s worst nightmare goes like this: after a long, expen-
sive period of predation the victim files for bankruptcy and its plant and equipment
are auctioned off to a prospective rival who intends to stay in the market (...)” (Federal
Antitrust Policy, p. 312).
95. Como exemplo, tomemos o caso Brooke Group Ltd. v. Brown & Williamson Tobacco
Corp. (1993), em que a Suprema Corte norte-americana afastou a condenação da
ré por preço predatório porque a recuperação dos prejuízos havidos com a prática
seria improvável. A venda abaixo do custo teria restado comprovada, bem como a
intenção de praticar preços predatórios. Em 2010, a Corte de Justiça europeia decidiu
que, para a condenação por preços predatórios, não é necessária a demonstração da
possibilidade de recuperação do “investimento” feito na prática ilícita (caso France
Télécom, C-202/07. V., também, MEMO/09/146).
96. O estudo a que nos referimos é exposto no artigo de McGee Predatory price cutting.
The Standard Oil (NJ) Case, 1 J. L. e Econ., p. 137 (1958). Também disponível em:
[http://www-personal.umich.edu/~twod/oil-ns/articles/research-oil/research-oil/
john_mcgee_predatory_pricing_standard_oil1958.pdf]. Acesso em: 27.02.2012.
pelo agente econômico que pratica o preço predatório, bem como se essa seria
uma alternativa racional a ser adotada pelas empresas.
McGee sustentava que dificilmente a venda do produto abaixo do custo
teria por resultado o domínio do mercado, implicando, portanto, decisão abso-
lutamente irracional:97 os prejuízos decorrentes da fixação do preço do produto
abaixo de seu custo seriam certos e sentidos imediatamente, enquanto não se
poderia garantir os eventuais lucros futuros. O preço predatório seria praticado,
apenas, por empresas incompetentes, com o intuito de se proteger da superio-
ridade dos competidores. A opção racional seria a compra do concorrente.98
Posteriormente, Richard Posner e Frank H. Easterbrook99 estudaram as
críticas lançadas contra as ideias de McGee, concluindo que, embora esse autor
estivesse correto ao afirmar que a prática de preços predatórios era bastante
rara, não implicava sempre escolha irracional da empresa. Se a empresa obtém
recursos financeiros a preço inferior àquele que é imposto ao seu concorrente,
o preço predatório pode ser uma opção racional.100
Nos Estados Unidos, não se tem notícia de condenação recente pela prática
de preços predatórios. Ao contrário, da última vez que se manifestou sobre o
assunto, em 1993 [caso Brooke Group Ltd. vs. Brown & Williamson Tobacco
Corp.], a Suprema Corte norte-americana afastou a condenação da ré porque
a recuperação dos prejuízos havidos com a prática seria improvável, embora a
venda abaixo do custo, bem como a intenção de praticar preços predatórios
tenham sido comprovadas.
Na Europa, a visão é diversa. No caso Wanadoo, tanto a Comissão europeia
quanto o Tribunal de Justiça afirmaram não ser indispensável para a condenação
que se comprove a possibilidade de recuperação das perdas experimentadas pela
empresa que pratica o preço predatório; o dano à concorrência está presente
ainda que o retorno do “investimento” não aconteça.101
97. A respeito, Machlup afirma que “price wars are often more a matter of emotions than
of rational deliberations with calculated risks and estimated chances of success” (The
political economy of monopoly, p. 120).
98. Sobre a irracionalidade da prática do price cutting, v. Robert H. Bork, The antitrust
paradox, p. 148 e ss.
99. Posner e Easterbrook, Antitrust, p. 682 e ss.
100. Cf., também, a posição de Steven C. Salop de que o preço predatório é raro, mas não uma
“miragem” (Measuring entry barriers and the rule of reason: a sophisticated approach
to antitrust analysis, Antitrust Law and Economics Review, vol. 15, n. 4, p. 63).
101. Como ventilado acima, em 2003, a Comissão aplicou multa de mais de 10 milhões
de Euros à Wanadoo Interactive S.A., naquela época subsidiária da France Télécom,
105. A palavra “custo” assume vários sentidos. Custo fixo é o custo que não varia e inde-
pende da quantidade de bens produzida. Custo variável, como o próprio nome diz, é
aquele que varia conforme a alteração da produção. A soma dos custos fixos e daqueles
variáveis nos traz o custo total. O custo médio é o custo total dividido pela quantidade de
bens produzidos. Custo marginal é a modificação no custo total, advinda do aumento
da produção de um determinado bem. Em palavras bastante simples, é o aumento do
custo que deriva do aumento da produção (cf. Posner, Economic analysis of law, p. 684).
106. Barry Kellman assinalou, em 1985, que nenhuma Corte americana havia condenado
qualquer agente econômico pela prática de preços predatórios quando tais preços
eram superiores ao average total cost (Private antitrust litigation, p. 163).
107. Cf. Hovenkamp, Economics and federal antitrust law, p. 185.
108. Cf. Hovenkamp, Federal antitrust policy, p. 311.
109. Orientação 2009/C 45/02.
110. Especialistas afirmam que “total cost but above average variable cost are only to
be considered abusive if they form part of a plan to eliminate competitors” (Iratxe
Gurpegui Ballesteros and Agnes Szarka, Predatory pricing in the telecoms sector:
the ECJ rules on the issue of recouping losses. Disponível em: [http://ec.europa.eu/
competition/publications/cpn/2009_2_8.pdf]. Acesso em 28.07.2010).
111. Thomas Sullivan e Jeffrey Harrison, Understanding antitrust and its economic impli-
cations, p. 234.
112. O elevado custo a ser suportado pelo concorrente para entrar no mercado pode não
constituir prática abusiva da empresa dominante, mas deverá ser computado como
6.5.3. Vendas casadas
6.5.3.1. Definição de vendas casadas e critérios para aferir sua ilicitude
As vendas casadas são tradicionalmente vistas como abusivas quando
praticadas por empresas que detêm a posição dominante. Dizemos que existe
venda casada quando um sujeito subordina a venda de um bem (produto
principal, produto subordinante ou tying product) à aquisição de outro, ou à
utilização de um serviço (produto ou serviço vinculado, subordinado ou tied
product). Também é considerada venda casada a vinculação da prestação de
um serviço à utilização de outro ou à aquisição de determinado bem.
the scope of the patent monopoly, thus in effect extending the power to the
owner of the patent to fix the price to the public of the unpatented supplies as
effectively as he may fix the price on the patented machine”.
Essa pressuposição de que o agente pode lançar mão da posição em um
mercado para ganhar market share em outro é alvo de constantes críticas,
principalmente na Escola de Chicago. O trabalho de Bowman, de 1957,121 é
pioneiro nesse sentido, sustentando que o sujeito será capaz de impor preços
típicos de monopólio somente em um dos mercados e não em ambos. Para
ilustrar, tome-se uma empresa que detém posição dominante na fabricação
de janelas e resolve vincular a venda desse produto à aquisição de vidros. Esse
agente econômico sabe que o preço máximo que logra fixar para os vidros é
de R$ 10,00 em um mercado competitivo. As janelas custam R$ 50,00 cada. O
preço total seria R$ 60,00. Melhor e mais fácil do que impor um preço superior
a R$ 60,00 pelo pacote seria vender individualmente o produto principal por
R$ 50,00. Caso contrário, os consumidores tentariam obter os produtos de
outras fontes, mesmo que mais distantes ou menos convenientes, alargando
os limites do mercado relevante geográfico. Posner complementa a crítica,
dizendo que a teoria da alavancagem seria falha ao não explicar porque uma
empresa dominante em um mercado interessar-se-ia em entrar no outro, se é
capaz de alcançar os lucros monopolistas atuando apenas em um deles.
O exemplo de Posner é uma empresa titular da patente de computador,
arrendando-o para seus clientes com a condição de que sejam utilizados apenas
os disquetes que fabrica. Essa firma obteria a posição dominante no mercado de
disquetes. No entanto, não iria auferir lucros típicos de monopólio no segundo
mercado: se ela cobrasse pelos disquetes valor acima daquele concorrencial,
seus clientes iriam encarar o aumento como incremento no preço do leasing.
Se eles estivessem dispostos a pagar mais, a empresa poderia ter explorado
diretamente sua posição dominante no mercado de computadores, sem pre-
cisar valer-se do subterfúgio da venda casada.122 Por essas razões alguns, como
Pardolesi, dizem que a teoria do leverage faz parte do folclore do antitruste.123
121. Artigo do Yale Law Journal citado por Laurence A. Sullivan e Warren S. Grimes, The
law of antitrust, p. 402.
122. Economic analysis of law, p. 312. V., também, Richard A. Posner e Frank H. Easter-
brook, Antitrust, p. 870 e ss.
123. “Laddove siano necessari due prodotti per fornire un servizio – mettiamo, tabulatrici
e relative schede; macchine brevettate e sale usato nella relativa lavorazione; case
prefabbricate e mutui per il loro acquisto; interventi chirugirci ed anestesia; computers
e software operativo, per citare alcune fra le più significative fattispecie statuniten-
se – chi monopolizzi l’un bene può estrarre il profito massimo (corrispondente a
129. Caso contrário, poderia ocorrer “arbitragem”, ou seja, o fornecedor não conseguiria
discriminar os adquirentes mediante preços diferenciados porque os compradores
que usassem mais as máquinas fariam a aquisição por meio dos outros, que as uti-
lizam menos. Nas palavras de Curtis Eaton e Diane Eaton, “[p]ara estabelecer um
esquema bem-sucedido de discriminação de preços comum, o monopolista deve
ser capaz de identificar diferentes elasticidades-preços da demanda e de segmentar
seu mercado de acordo com isso, isolando uma porção do mercado da outra. Uma
atividade empresarial, denominada arbitragem, pode minar o propósito de segmen-
tação de mercado do monopolista. A arbitragem consiste em comprar um produto
em um mercado de preço baixo e revendê-lo em um mercado de preço alto. Quando
a arbitragem ocorre, a segmentação de mercado não pode ser realizada de modo
efetivo” (Microeconomia, p. 345).
demonstra, entretanto, que os julgadores não costumam acatar tal defesa quan-
do a qualidade do produto ou do serviço poderia ser garantida de outras formas.
Uma delas é o estabelecimento dos requisitos mínimos (e razoáveis) a serem
cumpridos por terceiros independentes que pretendem fornecer o produto
ou serviço, asseverando sua qualificação técnica. No caso Kodak, que será
adiante tratado, a argumentação da necessidade de manutenção da qualidade
do produto foi rechaçada quando se comprovou que os agentes independentes
prestavam serviços de manutenção das copiadoras Kodak adequadamente. O
mesmo ocorreu no caso IBM, porque havia terceiros que também poderiam
fabricar os cartões perfurados utilizáveis nas tabulating machines.
133. Cf. Sullivan e Harrison, Understanding antitrust and its economic implications, p. 185.
134. São significativas e irônicas, a esse respeito, as palavras de Stephen Ross: “To illustrate,
consider a variation on a tied sale – the common practice of allowing only one beer
company to sell overpriced beer at baseball games. If Richard Posner were to think
about venturing from his chambers up to Wrigley Field, he might carefully consider
in advance the ticket price and the number of beers he anticipated consuming, and
then decide whether the outing was worthwhile. Most of us, however, are likely to
decide first whether we can afford the ticket; once we get in the stadium and are hot
and thirsty, we will go ahead and buy the beer, even though, had we considered the
full cost of the day’s activity, we might have stayed home. We would prefer compe-
tition among beer vendors” – Antitrust tie-in analysis after Kodak: understanding
the role of market imperfections, p. 273].
135. Principles of antitrust law, p. 283.
136. Para estudos iniciais, v. os seguintes textos: Richard Thaler e Cass Sunstein, Nudge;
Cass Sunstein, Going to extremes. How like minds unite and divide; Richard Layard,
Hapiness e Christine Jolls, Cass Sunstein e Richard Thaer, A behavioral approach
to law and economics. Disponível em: [http://www.law.harvard.edu/programs/
olin_center/papers/pdf/236.pdf]. Acesso em: 08.01.2012.
137. Motion Picture Patents v. Universal Film Co., 243 U.S. 502 (1917).
138. Cf. Sullivan e Grimes, The law of antitrust, p. 428.
139. V., ainda, para análise da evolução norte-americana sobre as vendas casadas, os se-
guintes casos: International Business Machines Corp. v. United States, 298 U.S. 131
(1936); International Salt Co. v. United States, 332 U.S. 92 (1947); Times-Picayune
Publishing Co. v. United States, 345 U.S. 594 (1953); Northern Pacific Railway Co. v.
United States, 356 U.S. 1 (1958); Fortner Enterprises v. United States Steel (Fortner
I), 394 U.S. 495 (1969); United States Steel Corp. v. Fortner Enterprises, Inc., 429
U.S. 610 (1977); Jefferson Parish Hospital v. Hyde, 466 U.S. 2 (1984).
140. Jefferson Parish Hospital v. Hyde, 466 U.S. 2 (1984).
141. Eastman Kodak Co v. Image Tech. Svcs., 504 U.S. 451 (1992).
142. United States v. Microsoft Corp., 253 F3d 34 (D.C. Cir. 2001).
143. No caso United States v. Loew’s (371 U.S. 38 – 1.962), decidiu-se que o poder de
mercado deve ser presumido quando o produto principal é protegido pela lei de
propriedade industrial ou por direitos autorais. Discutia-se a legalidade de “pacotes”
para a venda de filmes para televisão, de forma que o adquirente não poderia escolher
aqueles que mais lhe interessassem, mas deveria aceitar a vinculação de fitas de
maior sucesso com outras de menor penetração. O fato de que havia outros títulos
e programas no mercado não afastou a conclusão pela ilicitude. Sobre as posterio-
res modificações dessa presunção, v. Hovenkamp, Federal antitrust policy, p. 400,
para relação de casos julgados pelas Cortes inferiores. Para Hovenkamp: “Courts
have traditionally presumed a seller’s market power in the tying product when the
product is patented or copyrighted. A few courts give the same presumption when
the tying product is trademarked. In most cases courts regard the presumption
as reputable, and there is a strong recent trend away from the presumptions” (p.
400). A Suprema Corte, no ano de 2006, modificou o precedente, assentando que
“[b]ecause a patent does not necessarily confer market power upon the paten-
tee, in all cases involving a tying arrangement, the plaintiff must prove that the
defendant has market power in the tying product”. Caso Illinois Tool Works Inc.
et al. v. Independent Ink, Inc., no qual se expõe toda a evolução americana sobre o
tratamento das vendas casadas.
144. Para Stephen Ross, “a structured rule of reason would better describe the judicial
practice in these cases” (Principles of antitrust law, p. 296).
145. Cf. Roberto Pardolesi e Cristoforo Osti, Disciplina delle concentrazioni in Europa e
negli Stati Uniti: una convergenza difficile, cópia fornecida pelo autor. V., também,
Nicholas Economides e Ioannis Lianos, The elusive antitrust standard on bundling
in Europe and in the United States in the aftermath of the Microsoft cases, de 2009,
e A critical appraisal of remedies in the EU Microsoft cases, de 2010.
146. Nesse sentido, Milton Friedman: “Under the circumstances, given that we do have
antitrust laws, is it really in the self-interest of Silicon Valley to set the government
on Microsoft? Your industry, the computer industry, moves so much more rapidly
than the legal process, that by the time this suit is over, who knows what the shape.
147. Sobre as diferenças entre as decisões e linhas adotadas pela União Europeia e pelos
Estados Unidos nos casos Microsoft, v. Miguel Moura e Silva, O abuso de posição
dominante na nova economia, 469 e ss.
148. Naquela ocasião, afirmou o Comissário Mario Monti: “As empresas em posição
dominante têm especial responsabilidade por velarem para que a forma como exer-
cem as suas actividades não entrave a concorrência em função do mérito próprio e
não prejudique os consumidores, nem a inovação” (...) “A decisão hoje adoptada
restabelece as condições para uma concorrência leal nos mercados relevantes e
define princípios claros quanto ao futuro comportamento a ser adoptado por uma
empresa com uma posição dominante tão forte”. Disponível em: [http://europa.eu/
rapid/pressReleasesAction.do?reference=IP/04/382&format=DOC&aged=1&lang
uage=PT&guiLanguage=en]. Acesso em: 26.07.2010.
become this country’s number one export. As such, their creation and protection is
critical to maintaining a vibrant economy. But, with the rapid pace of globalization,
intellectual property rights are increasingly crucial to all sectors of the global economy
as well” (International antitrust and intellectual property: challenges on the road to
convergence. Disponível em: [http://www.justice.gov/atr/public/speeches/205629.
htm]. Acesso em: 26.07.2010).
153. Na dicção de Karin Grau-Kuntz, “[a] escolha do termo propriedade para designar o
direito exclusivo que recai sobre bens intelectuais foi calcada em razões de cunho
ideológico. A passagem da Idade Média para a Idade Moderna foi marcada especial-
mente por uma mudança no eixo do pensamento filosófico; a sociedade se libertou
da religião e o homem passou a ser considerado em sua individualidade. O conceito
de propriedade exerceu, naquele momento histórico de grandes transformações
sociais, um papel importantíssimo, até mesmo revolucionário. O reconhecimento
estatal da propriedade privada como direito político viabilizaria o desaparecimen-
to das corporações de ofício e dos odiados privilégios ou, em outras palavras, dos
meios de controle do Estado mercantilista. A essência desse pensamento vem bem
expressa no famoso grito de batalha de Gournay: “Laissez-faire” (O que é direito de
propriedade intelectual e qual a importância de seu estudo). Disponível em: [http://
ibpibrasil.org/44072.html]. Acesso em: 26.07.2010).
154. A obra de Ascensão intitulada “Direito autoral” é indispensável para aqueles que
pretendem estudar a interface entre o direito da concorrência e a propriedade inte-
lectual. V., também, artigo de sua autoria Direito intelectual, exclusivo e liberdade,
publicado no sítio do Instituto Brasileiro de Propriedade Intelectual – IBPI. Também
são relevantes os modernos textos de Karin Grau-Kuntz, vários deles disponíveis no
mesmo sítio: [http://ibpibrasil.org/].
155. Alguns dos dados empíricos trazidos por Landes e Posner são úteis para demonstrar a
modificação desse cenário e a valorização da propriedade intelectual, ocorridas a partir
dos anos 80. Entre 1985 e 2001, o número de patentes concedidas pelo U.S. Patent and
Trademark Office aumentou de 111.000 para 269.000. No mesmo período, dobrou
o número de ações judiciais sobre direitos de propriedade industrial. Entre 1980 e
2001, os membros da Intellectual Property Section of the American Bar Association
aumentaram de 5.526 para 21.670. De duas revistas especializadas em propriedade
intelectual, existentes em 1980, saltou-se para 26, em 2003. Em 1981, a Universidade
de Chicago oferecia sete cursos ou seminários sobre direito tributário e apenas um
sobre propriedade intelectual; nos primeiros anos do século XXI o número igualou-
-se. Revistas econômicas publicaram cinco artigos sobre propriedade intelectual em
1982, e 235 no ano 2000. E, mais importante do que tudo, entre 1987 e 1999, a renda
anual norte-americana derivada do comércio da propriedade intelectual aumentou
de US$ 10 bilhões para US$ 36,5, enquanto os pagamentos externos realizados no
ano de 1999 não ultrapassaram o montante de US$ 13 bilhões (The economic structure
of intellectual property law, 3).
156. The antitrust enterprise, p. 3.
157. Na explicação de Hovenkamp: “In a private market economy, individuals will not
invest sufficiently in invention or creation unless the expected return from doing
so exceeds the cost of doing so” (IP and antitrust. An analysis of antitrust principles
applied to intellectual property law, § 1.1). Para Landes e Posner: “The dynamic benefit
of a property right is the incentive that possession of such a right imparts to invest
sociedade restará privada das inovações, algumas, como no caso dos remédios,
indispensáveis à vida.
Em suma: de uma parte, a garantia à propriedade intelectual pode es-
timular o desenvolvimento tecnológico, de outra, porém, é capaz de gerar
situação propensa ao abuso, especialmente em ambientes nos quais a força
concorrencial é arrefecida pela outorga da exclusividade.161 Nota-se potencial
tensão entre as duas legislações.162 Tudo está em acertar o “tênue equilíbrio
entre a justa recompensa do esforço intelectual humano (...) e o estímulo à
evolução cultural e industrial do país”.163
cing the social benefit of providing economic incentives for creation and the costs of
limiting the diffusion of knowledge” (Herbert Hovenkamp et alii, IP and Antitrust.
An analysis of antitrust principles applied to intellectual property law, 1-10).
164. Concretizou-se a intuição de Fábio Konder Comparato, que, no início dos anos
70, afirmava: “A verdadeira concorrência empresarial (...) será travada em tôrno de
produtos novos e técnicas novas” (Aspectos jurídicos da macro-emprêsa, p. 5).
165. No ano de 1986, na doutrina brasileira, a tecnologia é apontada como um dos fatores
de produção por Fábio Konder Comparato (“Função social da propriedade dos bens
de produção”, p. 31).
166. Lea Shaver, Access to knowledge in Brazil. New research on intellectual property, inno-
vation and development, p. 8.
167. Direito intelectual, exclusivo e propriedade.
168. A sociedade em rede, p. 69. A tecnologia sempre foi fundamental em todas as revolu-
ções industriais: a primeira ocorreu pela máquina a vapor; a segunda, pela energia
elétrica. Na Terceira Revolução Industrial, papel diverso lhe é reservado: o acesso
ao conhecimento significa capacidade de produzir novo conhecimento. Ao reverso,
sua obstrução implica tornar inacessíveis as possibilidades de desenvolvimento. O
conhecimento somente pode se desenvolver a partir dele próprio. Daí falar-se em
“retroalimentação” do saber.
172. Como já se observou: “historically IP regimes have been used by countries to further
what they perceive as their own economic interests. Countries have changed their
regimes at different stages of economic development as that perception (and their
economic status) has changed” (Integrating intellectual property rights and develo-
pment policy, relatório produzido no ano de 2002 pela Commission on Intellectual
Property Rights do Reino Unido).
173. Sobre a controvertida questão da patente “pipeline”, v. [http://ibpibrasil.org/media
/155123c1662385b4ffff819cac144221.pdf]. Acesso em: 26.07.2010.
174. Em sua obra Capitalismo, socialismo e democracia, escrito em 1942 (item 7).
175. Essas preocupações orientam a atuação da União Europeia, mas não dos Estados
Unidos. Para a análise da diferença desses posicionamentos, v. John Vickers, Com-
petition policy and property rights. Disponível em: [http://www.economics.ox.ac.
uk/materials/working_papers/paper436.pdf]. Acesso em 08.01.2011.
176. É necessário analisar detidamente institutos e teorias estrangeiros antes de “trans-
plantá-los”, tal e qual, para a nossa realidade. Nas palavras de Calixto Salomão Filho,
Brisa Lopes de Mello Ferrão e Ivan César Ribeiro: “não seria nenhum excesso afirmar
que o que alguns autores denominam de transplante legal pode ser interpretado como
uma imposição de instrumentos jurídicos protetivos das estruturas concentradoras”
(Concentração, estruturas e desigualdade, p. 25).
177. The antitrust enterprise, p. 14.
178. Lea Shaver, Access to knowledge in Brazil. New research on intellectual property, inno-
vation and development, p. 8.
179. No Brasil, para a análise da questão da recusa de contratar, v. Priscila Brolio Gonçalves,
A obrigatoriedade de contratar no direito antitruste, São Paulo, Singular, 2010.
180. Em 2011, afirma a Federal Trade Commission: “one of the most unsettled areas of
antitrust has to do with the duty of a monopolist to deal with its competitors”.
182. Verizon Communications Inc. v. Law Offices of Curtis v. Trinko, LLP., n. 2-682,
julgado em 13.01.2004.
183. In verbis: “Firms may acquire monopoly power by establishing an infrastructure that
renders them uniquely suited to serve their customers. Compelling such firms to
share the source of their advantage is in some tension with the underlying purpose of
antitrust law, since it may lessen the incentive for the monopolist, the rival, or both
to in-vest in those economically beneficial facilities. Enforced sharing also requires
antitrust courts to act as central planners, identifying the proper price, quantity, and
other terms of dealing a role for which they are ill-suited. Moreover, compelling ne-
gotiation between competitors may facilitate the supreme evil of antitrust: collusion.
Thus, as a general matter, the Sherman Act “does not restrict the long recognized
right of [a] trader or manufacturer engaged in an entirely private business, freely to
exercise his own independent discretion as to parties with whom he will deal.” “a
firm with no antitrust duty to deal with its rivals has no obligation to provide those
rivals with a ‘sufficient’ level of service”.
184. V. John Vickers, Competition policy and property rights. Disponível em: [http://
www.economics.ox.ac.uk/research/WP/pdf/paper436.pdf]. Acesso em 08.01.2011.
185. Sea Containers/Stena Sealink, julgado de 1993 e disponível em: [http://eur-lex.eu-
ropa.eu/LexUriServ/LexUriServ.do?uri=CELEX:31994D0019:PT:HTML]. Acesso
em: 08.01.2012.
186. Cf. Orientação sobre as prioridades da Comissão na aplicação do art. 82.º do Tratado
da Comunidade Europeia (atual art. 102 do TFUE) a comportamentos de exclusão
abusivos por parte de empresas em posição dominante, de 2009. Essa passagem das
Guidelines tem por referência o julgamento dos casos Microsoft.
187. John Vickers, Competition policy and property rights. Ainda sobre o tema, Eirik
Osterud, Identifying exclusionary abuses by dominant undertakings under EU
Competition Law, 216 e ss.
188. Louis Vogel, Droit de la concurrence, 336.
189. Cf. Written declaration pursuant to Rule 116 of the Rules of Procedure on investi-
gating and remedying the abuse of power by large supermarkets operating in the
European Union. Disponível em: [http://www.europarl.europa.eu/sides/getDoc.
do?pubRef=-//EP//NONSGML+WDECL+P6-DCL-2007-0088+0+DOC+PDF+V0//
EN&language=EN]. Acesso em: 02.05.2015.
190. No original: “[t]he Commissions’s objective with the establishment of this double
threshold is to protect small businesses against the buyer power of large retailers in
the distribution sector” (Louis Vogel, EU Competition Law applicable to distribution
agreements: review of 2010 and Outlook for 2011).
191. Decreto-Legge 24 gennaio 2012, n. 1 (Raccolta 2012). “Disposizioni urgenti per la
concorrenza, lo sviluppo delle infrastrutture e la competitivita”.
192. Países do leste europeu e a Finlândia também adotaram medidas para evitar a repres-
são a esse tipo de abuso de dependência econômica, conforme noticiam Philippe
Chauve e An Renckens, “The European food sector: are large retailers a competition
problem?”, 8 e 9.
193. “The economic impact of modern retail on choice and innovation in the EU food
sector. Final report”. Disponível em [http://ec.europa.eu/competition/publications/
KD0214955ENN.pdf]. Último acesso em 2 de maio de 2015.
194. Marie-Laure Allaind, Claire Chambolle, Stephane Turolla e Sofia B. Villas-Boas, “The
impact of retail mergers on food prices: evidence from France”: “prices on competing
firms in areas where the merger occurred (treated group) increased significantly
relative to the controle areas where existing firms were not affected by a merger”.
195. O tema do abuso da dependência econômica, em seus aspectos contratual e concor-
rencial, é desenvolvido em Paula A. Forgioni, O contrato de distribuição, especialmente
Parte III.
“A contract among competing sellers (...) is like any other contract in the sense
that the parties would not sign it unless they expected it to make them all
better off” – Richard A. Posner.
1. Utilizamos a palavra “acordo” em seu sentido mais amplo, que compreende as ex-
pressões “decisão de associação de empresas”, “prática concertada”, ou ainda “prática
orquestrada”, podendo todas ser subsumidas à palavra “atos”, prevista na hipótese
do caput do art. 36 da Lei 12.529, de 2011.
Essa distinção entre os tipos de acordo não se opera simplesmente para fins
didáticos, pois evidencia os diversos efeitos produzidos para a concorrência.
Enquanto os acordos horizontais neutralizam a competição principalmente
entre os agentes econômicos que atuam no mesmo mercado relevante (encon-
trando-se, portanto, em relação de competição), os acordos verticais podem
produzir efeitos anticoncorrenciais em três mercados relevantes (mercado
do fornecimento de matéria-prima, mercado da produção e da distribuição),
como será visto adiante.
Para que se possa corretamente analisar os efeitos do acordo, hão de se
individualizar, com exatidão, todos os mercados que serão atingidos. Deve-se,
ainda, identificar a posição que os agentes econômicos ocupam em cada um
desses segmentos (fornecedor, intermediário, adquirente ou financiador de
um produto, serviço ou tecnologia a ele relativa).4
Como exemplo, tomemos a produção e distribuição de cerveja em de-
terminado país. No primeiro estágio da cadeia, está a empresa que produz o
malte. Adiante, a cervejaria. Depois, os distribuidores de cerveja no atacado
e, por fim, os bares e restaurantes que vendem aos consumidores finais. Os
contratos entre esses agentes econômicos são verticais. Já aqueles celebrados
entre duas ou mais cervejarias são horizontais.
Por sua vez, o Dec.-lei 7.666, de 22 de junho de 1945, proibia “os en-
tendimentos, ajustes ou acordos entre empresas comerciais, industriais ou
agrícolas, ou entre pessoas ou grupo de pessoas vinculadas a tais empresas
ou interessadas no objeto de seus negócios, que tenham por efeito: a) elevar
o preço de venda dos respectivos produtos; b) restringir, cercear ou suprimir
a liberdade econômica de outras empresas; c) influenciar no mercado de
modo favorável ao estabelecimento de um monopólio, ainda que regional”
(art. 1.º, I).
A Lei 4.137, de 10 de setembro de 1962, considerava forma de abuso
do poder econômico dominar os mercados nacionais ou eliminar total ou
parcialmente a concorrência por meio de ajuste ou acordo entre empresas,
ou entre pessoas vinculadas a tais empresas ou interessadas no objeto de suas
atividades (art. 2.º, I, a).
A Lei 8.884, de 1994, no art. 21, I, II e III, exemplificava como ilícitas as
práticas de “fixar ou praticar, em acordo com concorrente, sob qualquer for-
ma, preços e condições de venda de bens ou de prestação de serviços”, “obter
ou influenciar a adoção de conduta comercial uniforme ou concertada entre
concorrentes” e “dividir os mercados de serviços ou produtos, acabados ou
semiacabados, ou as fontes de abastecimento de matérias-primas ou produtos
intermediários”.
Hoje, o art. 36, § 3.º, I, da Lei 12.529, de 2011, refere-se à eventual ilicitude
das práticas de “acordar, combinar, manipular ou ajustar com concorrente, sob
qualquer forma: a) os preços de bens ou serviços ofertados individualmente;
b) a produção ou a comercialização de uma quantidade restrita ou limitada
de bens ou a prestação de um número, volume ou frequência restrita ou li-
mitada de serviços; c) a divisão de partes ou segmentos de um mercado atual
ou potencial de bens ou serviços, mediante, dentre outros, a distribuição de
clientes, fornecedores, regiões ou períodos; d) preços, condições, vantagens
ou abstenção em licitação pública”, bem como a incitação de cartéis (inc. II),
por “promover, obter ou influenciar a adoção de conduta comercial uniforme
ou concertada entre concorrentes”.
Os acordos horizontais têm como pressuposto o fato de que a concorrência,
ainda que lícita, prejudica os concorrentes, pois faz com que o empresário acabe
por auferir lucros menores, força o cuidado com a qualidade do produto e gera
a necessidade de investimentos para que o agente econômico possa manter-se
no mercado, competindo. O processo de expansão da empresa torna-se mais
penoso em mercados onde há efetiva disputa da clientela. “A concorrência
obriga os produtores a procurarem, constantemente, a melhoria de seus
entendimento entre empresas para determinados fins ou objetivos. (...) Assim, livres
de tudo, acordam em vender as suas mercadorias concorrentes pelo mesmo preço,
restringindo, neste caso, a luta pela captação da clientela (...). Igualmente, podem
convencionar, as empresas concorrentes, em limitar, em certa proporção, a produ-
ção de cada uma, dada a superprodução dos produtos no mercado consumidor. Ou,
também, limitar ou dividir as zonas de influência para evitar os transportes inúteis
na satisfação da clientela. Além dessas formas simples de cartel para limitação dos
preços da produção, do mercado, ainda é possível engendrar-se meio mais racional
de entendimento ou cartelização através da criação de um escritório central que se
incumbirá da repartição dos lucros ou então, mais completo, com gestão comercial
e organização central de venda” (José Pinto Antunes, A produção sob o regime de
empresa, p. 142).
15. Tratar-se-á de ato ilegal (porque contrário a normas imperativas) e, pela sua realiza-
ção, os agentes econômicos perseguem fim que não é admitido pelo ordenamento
jurídico. Vê-se, portanto, a ilegalidade do ato na tentativa de realizar determinado
escopo vedado pelo ordenamento jurídico (cf. Messineo, Dottrina generale del
contratto, p. 268-269).
16. O CADE, desde a vigência da Lei 4.137, de 1962, tem entendido que somente podem
ser considerados cartéis (e, portanto, reprimidos pela Lei Antitruste) os acordos
entre agentes econômicos que produzem os efeitos anticompetitivos capitulados
no texto normativo. No Processo Administrativo 26, de 1971, interpretando a siste-
mática estabelecida pelo art. 2.º do diploma então vigente, estabeleceu a autoridade
antitruste: “(...) não há que falar em infrações ao item I, alíneas a e f, do art. 2.º da
Lei do CADE, pois que os atos capitulados naquelas alíneas são simples meios para
obtenção dos fins previstos no caput do item. Se esses fins não forem alcançados,
ainda que por outros meios, não podemos cogitar de violações autônomas às alíneas
a e f ” (Voto transcrito por José Inácio Gonzaga Franceschini e José Luiz Vicente de
Azevedo Franceschini, Poder econômico: exercício e abuso, p. 69, ementa 67).
17. Para a análise dos argumentos a favor dos cartéis, bem como para a contra-argumen-
tação, cf. Areeda e Kaplow, Antitrust analysis, p. 190 e ss.
18. Entre nós, há muito Shieber observava que: “Falências e desemprego causados
por preços vis que resultam de uma concorrência ruinosa, não podem ser evitados
legitimamente através de atos das empresas atingidas que visam restringir esta con-
corrência. Considera-se que estes males são preferíveis aos que podem resultar da
entrega a particulares do poder de controlar significativamente a vida econômica do
país, por meio de restrições da concorrência” (Abusos do poder econômico: direito e
experiência antitruste no Brasil e nos EUA, p. 95).
19. A partir do século XIX, as cortes iniciam a recusa à execução de acordos de preços
(cf. Posner, Economic analysis of law, p. 285).
20. Nesse sentido foi a decisão do CADE no Processo Administrativo 53, de 1992. Os
hospitais do Estado de Sergipe praticavam exatamente o mesmo preço pelos serviços
que prestavam, sem levar em conta as diferenças existentes entre os vários estabe-
lecimentos. A tabela de preços fixada pela Associação dos Hospitais do Estado de
Sergipe foi declarada ilícita pela autoridade antitruste.
21. Jhering, A evolução do direito, p. 140.
Unidos, entende-se que há proibição per se dos acordos que têm por objeto ou
efeito a fixação dos preços.22-23
Podemos individuar dois tipos de acordos de uniformização de preços,
conforme a estrutura do mercado relevante em que atuam os partícipes:
a) acordos celebrados entre agentes econômicos que possuem poder
econômico semelhante, como:
• acordos que determinam a elevação do preço de determinado produto
seguindo percentual fixo (v.g., todos os produtores aumentam o preço de seus
produtos em 5%, uma vez a cada semestre); a ilicitude pode estar presente ainda
que os preços praticados pelos partícipes sejam diversos;
• acordos mediante os quais agentes econômicos concorrentes fixam o
preço de venda ou ainda fixam preço mínimo de venda;
• acordos de estabilização de preços, efetivados mediante a recompra siste-
mática de produtos no mercado pelos próprios agentes econômicos fabricantes;
b) price leadership, em que há um agente econômico com poder suficiente
para impor sua política de preços aos demais participantes do mercado.
Nos acordos de liderança de preço, conforme a capacidade do agente
econômico de resistir à atuação de seu concorrente mais forte, ser-lhe-á (ou
não) imputada a prática de ato restritivo da concorrência.24 Neste segundo
22. “[The per] se rule is a valid and useful tool of antitrust policy and enforcement. And
agreements among competitors to fix prices on their individual goods or services
are among those concerted activities that the Court has held to be within the per se
category” (Milton Handler, Harlam M. Blake, Robert Pitofsky, Harvey J. Goldsch-
mid, Trade regulation, p. 271). Cf., também, A. D. Neale, El contenido político de la
legislación antitrust, Monopolio y competencia, p. 184-195.
23. Entretanto, segundo alguns autores, mesmo essa proibição não é aplicada de forma
rígida, ou seja, muitas vezes, para as Cortes americanas, determinada prática que
tenha por objeto ou efeito a fixação de preços não seria subsumível à proibição per
se. Para análise dos leading cases norte-americanos, embasando a afirmação de que
“the per se rule is not as prohibitive as is often assumed”, cf. estudo de Areeda, The
changing contours of the per se rule, Antitrust Law Journal, p. 27 e ss. O mesmo Aree-
da, em conjunto com Kaplow, afirma, resumindo seu pensamento, que “although
the per se prohibition against price fixing has become settled law, it has long been
understood that certain forms of collaborative activity should be permitted even
though they limit price or other dimensions of competition among collaborators”
(Antitrust analysis, p. 187).
24. A. D. Neale entende que “cuando las pruebas de un caso sólo establecen la existencia
de una situación de liderazgo de precios, no se considerará que el lider o sus segui-
dores han violado las leyes antitrust. Naturalmente, y sobre otros fundamentos, será
caso, não se poderá falar, sequer, em “acordo”, pois que a empresa de menor
poder apenas “sujeitou-se” à outra, adotando o comportamento que lhe foi
imposto pelo concorrente.25
posible probar que el dominio del lider resulta de la monopolización, en cuyo caso
es factible iniciar un juicio conforme al Título 2 de la Ley Sherman” (El contenido
político de la legislación antitrust, Monopolio y competencia, p. 193).
25. Não se trata de determinar a intenção do agente econômico ou ainda sua culpa,
mas as características fáticas do mercado relevante, de forma a identificar eventual
impossibilidade/total irracionalidade do agente de adotar comportamento diverso
daquele de seu concorrente mais forte.
26. É clássico o exemplo dos acordos entre as ferrovias norte-americanas, anteriores à promul-
gação do Sherman Act. Setores da economia que requerem custo fixo ou inicial bastante
elevado são aqueles em que mais se afirma o caráter ruinoso da competição, buscando
justificar a celebração dos cartéis (cf. Areeda e Kaplow, Antitrust analysis, p. 190).
27. Posner e Easterbrook asseveram que: “Each member has an incentive to cheat his
fellows (...). If enough members of the cartel succumb to this kind of temptation, the
cartel will collapse” (Antitrust, p. 97). Cf., ainda, sobre a instabilidade dos cartéis, Ro-
berto Pardolesi, Analisi economica della legislazione antitrust italiana, Consumatori,
ambiente, concorrenza, p. 115 e ss., e Posner, Economic analysis of law, p. 285 e ss.
28. Sullivan e Hovenkamp destacam que, caso os agentes econômicos tenham custos
de produção diversos, as vantagens para os membros do cartel de preços não serão
uniformes. Assim, com sua celebração, alguns se sentirão lesados. Daí também de-
correria a instabilidade dos cartéis (Antitrust law, policy and procedure, p. 183).
29. Antitrust law, policy and procedure, p. 183.
No que diz respeito aos pactos de uniformização dos produtos que têm
consequências sobre os preços, Handler, Blake, Pitofsky e Goldschmid36 relatam
caso julgado nos Estados Unidos, no ano de 1965 (National Macaroni Manu-
facturers Association v. FTC).37 Macarrões podem ser fabricados, em princípio,
com dois tipos de trigo: durum wheat e hard wheat. O macarrão elaborado com
durum wheat é de melhor qualidade e melhor recebido pelo mercado consumi-
dor. No início do ano de 1961, constatou-se que haveria falta de durum wheat.
Os membros da National Macaroni Manufacturers Association, com o ale-
gado escopo de manter a melhor qualidade possível dos produtos e garantir
o fornecimento de durum wheat, decidiram que os vários tipos de macarrão, a
partir daquele momento, seriam produzidos, todos eles, com metade de durum
wheat e metade de hard wheat. A FTC, por sua vez, havia considerado aquele
ajuste ilegal, pois as empresas atuantes no mercado, ao uniformizar seu pro-
duto, haviam acabado por deprimir o preço da matéria-prima, violando a regra
que veda a fixação de preços. Por esses motivos, a corte condenou a prática.
38. Machlup (The political economy of monopoly, p. 129), após analisar a estrutura de
várias price leaderships nos Estados Unidos, assevera que: “Price leadership invites
particular disapprobation if the ‘leader’ enforces his will upon the ‘followers’ by
force, threat and intimidation. There are even cases, mostly in local trades, where
the ‘forceful influences’ are extra-economic, such as social boycott and similar sorts
of moral suasion or acts of violence committed or threatened by racketeers and
‘protective societies’”.
39. Federal Trade Commission v. The Cement Institute, referido por Machlup, The political
economy of monopoly, p. 129. A “natural” consequência do alijamento do mercado
poderia ser considerada “punição” a ser imposta ao agente econômico, constituindo,
portanto, elemento de coerção.
40. “Conscious parallelism refers to parallel pricing decisions by firms in oligopolistic
industries, carried out in the absence of explicit price-fixing agreements” (Keith
Hylton, Antitrust Law. Economic theory and common Law evolution, p. 21).
41. Shieber anota o caso United States v. National Malleable e Steel Catsings Co. Naquela
ocasião, a identidade das curvas de preços dos agentes econômicos foi tomada pelo
Procurador Federal dos EUA, como prova absoluta da conspiração. A defesa salientou
que, por serem os produtos intercambiáveis, as pequenas empresas seriam obrigadas
a seguir a política de preços do agente dominante. O juiz acolheu essa argumentação,
preço de venda, o que as conduziria a uma “guerra de preços” que tende não
ter vencedores.
Conscientes desse fato, os agentes econômicos simplesmente não di-
minuem seus preços, não “compram a briga”, porque sabem que isso não
os levará ao incremento de sua market share. Ao contrário, aumentam, de
forma “natural” os preços praticados, sem que qualquer pacto entre eles seja
estabelecido; os preços subirão em todo o mercado. Isso porque “[q]uando
oligopolistas reconhecem sua interdependência e diminuem a concorrência
nos preços, os resultados podem assemelhar-se àqueles de um monopolista,
procurando maximizar seu proveito”.
A constatação do fenômeno do paralelismo consciente traz um dos prin-
cipais problemas das autoridades antitruste nos dias de hoje: não é possível
a condenação dos agentes econômicos por terem agido de forma racional,
respondendo a estímulos do mercado, sem que tenham se lançado na prática
de qualquer ato ilícito.
Nos Estados Unidos, respeitado especialista em antitruste escreveu, em
1962, opinião que é seguida pela doutrina e pelas cortes daquele país até os
dias atuais:
“[C]onscious parallelism is devoid of anything that might reasonably
be called agreement when it involves simply the independent responses of a
group of competitors to the same set of economic facts – independent in the
sense that each would have made the same decision for himself even though
his competitors decided otherwise”.45
A Corte de Justiça Europeia, no julgamento do caso Materie Coloranti,
deixou clara a impossibilidade de condenação dos agentes pelo mero para-
lelismo de preços, embora este possa constituir forte indício da existência
de conluio:
“(...) ainda que o paralelismo de comportamentos não possa sozinho iden-
tificar uma prática concordada, ele pode constituir, todavia, um sério indício,
desde que leve a condições de concorrência que não correspondem àquelas
normais do mercado, considerando a natureza dos produtos, da entidade e do
número de empresas, e do volume do mercado considerado.”
output and pricing decisions are taken with an eye to what the competitive response
will be” (Sullivan e Grimes, The law of antitrust: an integrated handbook. Saint Paul:
West Group, 2000, 39).
45. Turner, “The definition of agreement under the Sherman Act: consious paralllism
and refusal to deal”, Harvard Law Review, 75:655 (1962).
“(...) cada produtor é livre para modificar como quer os próprios preços
e pode levar em conta, com tal fim, os comportamentos atuais os previsíveis
dos seus concorrentes”.46
A questão é que a prova da combinação entre os agentes econômicos é
difícil de ser obtida. Salvo alguns casos patológicos (ainda comuns no Brasil),
as empresas, sabedoras da ilicitude de sua conduta, não costumam produzir
documentos que a comprovem. Valendo-nos da expressão em língua inglesa,
no que tange às combinações, é difícil encontrar uma smoking gun; não se há
de esperar que o agente econômico lavre ata da reunião em que foi acertado o
aumento de preços entre os concorrentes.
A realidade demonstra, ainda, ser possível que empresas, na busca do
arrefecimento da competição, não deem lugar propriamente a um acordo
sobre determinada conduta, mas troquem informações e ajam de maneira tal
a catalisar a prática de comportamento orquestrado.47
É por essas razões que, para a condenação de agentes econômicos por
práticas colusivas, não basta o paralelismo de suas condutas.48 É necessário
que se comprove um “plus”, um elemento adicional 49 apto a demons-
Nos Estados Unidos, o texto do art. 1.º do Sherman Act não deixava dúvidas
quanto à sua incidência também sobre os cartéis de exportação. Necessitava-se
da criação de válvula de escape que permitisse ao governo proteger as associa-
ções entre exportadores.58
Buscando a introdução de mecanismo seguro e que não dependesse da boa
vontade do Poder Judiciário, o Congresso norte-americano editou, em 1918,
o Webb-Pomerene Act,59 concedendo isenções a acordos e práticas colusivas de
empresas, reunidas em associações, com o escopo único de comerciar com o
exterior.60
Em 1982, o mesmo Congresso editou o Export Trading Company Act,
aprimorando a sistemática existente e deixando claro que a Lei Antitruste
norte-americana protege, apenas e tão somente, exportadores e consumidores
norte-americanos,61 estando, portanto, isentados os cartéis de exportação.
No Brasil, sem qualquer sombra de dúvidas, os cartéis de exportação são
passíveis de autorização com base no art. 88 da Lei 12.529, de 2011. No entan-
to, a complacência expressa e pública da autoridade nacional pode mostrar-se
inconveniente para as empresas participantes, a quem não interessa admitir
que agem de forma concertada perante governos estrangeiros.
7.3. Acordos verticais: a proteção da concorrência entre não concor-
rentes
Ao envolver agentes econômicos que atuam em estágios diversos da
mesma cadeia de produção/comercialização, os acordos verticais colocam-se
States Alkali Export Assn. – 86 F. Sup. 59 (SDNY 1949), referido por Areeda e Kaplow,
Antitrust analysis, p. 161.
58. Cf. Areeda e Kaplow, Antitrust analysis, p. 160.
59. Sobre o Webb-Pomerene Act e sua reduzida aplicação, cf. Posner e Easterbrook, An-
titrust, p. 77.
60. Aqui, não se trata da aplicação da regra da razão, pois o Congresso norte-americano
editou lei que concede isenção a determinadas práticas.
61. O Export Trading Company Act permite ao Secretário de Comércio norte-americano,
com a concordância do Procurador-Geral (Attorney General), a concessão de verdadei-
ras e próprias isenções, corporificadas em certificados dos quais consta que a prática
(i) não prejudica a concorrência no mercado norte-americano; (ii) não restringe as
exportações de qualquer concorrente norte-americano; (iii) não altera, de forma não
razoável, os preços do produto exportado praticados no mercado interno; e (iv) não
consubstancia ato de concorrência desleal entre os exportadores. Os exportadores
assim isentados são imunes à condenação em ações cíveis e criminais, cuja causa de
pedir seja o descumprimento do Sherman Act, a menos que descumpram qualquer
um dos quatro requisitos necessários à concessão da isenção.
62. John Kenneth Galbraith adverte que os acordos verticais, quando possibilitam o
controle do abastecimento, são medidas de “proteção elementar”, pois diminuem
a “grande e incontrolável incerteza” quanto ao preço da matéria-prima (O novo
estado industrial, p. 33). Na mesma linha, E. A. G. Robinson (A indústria em regime
de concorrência, p. 141 e ss.) afirma que a integração vertical, frequentemente, é
resultado da busca de segurança. Classifica as integrações verticais em “para frente”
e “para trás”. As primeiras visam “garantir mercados e escoadouros para a produção
da parte dominante da integração” e são comumente formadas “em épocas em que a
capacidade de produção supera o consumo, pois seu objetivo é o controle de certos
mercados”. Já a integração “para trás” assegura o abastecimento de matérias-primas
e “se forma principalmente nas fases de bons negócios, já que existem para evitar que
os proprietários de fontes de matérias-primas temporariamente limitadas explorem
as firmas consumidoras”. Robinson observa ainda que as vantagens asseguradas,
em épocas de preços altos, pelo controle das fontes de matérias-primas se anulam,
até certo ponto, nos períodos de preços baixos, “pelas perdas que representaria a
aquisição forçada de matérias de uma determinada fonte”.
63. Sobre a integração vertical, comentam Areeda e Kaplow: “A firm may be said to be
vertically integrated to the extent that it does for itself what otherwise could be done
by independent firms in the market-place” (Antitrust analysis, p. 507). A opção pela
integração, com a perda da autonomia entre as empresas, será, acima de tudo, uma
questão de análise da relação entre seu custo e benefício (p. 625).
64. “Ainda que os acordos entre empresas concorrentes em restrição da concorrência
sejam mais significantes do que os acordos entre não concorrentes, cuja função
normal é de restringir a concorrência, estes são também importantes. Estes, tanto
como aqueles, podem eliminar a concorrência no mercado. Assim, um acordo entre
um produtor e seus revendedores fixando o preço de revenda do produto que ele
fabrica elimina a concorrência entre os revendedores com respeito ao preço deste
artigo” (Benjamin Shieber, Abusos do poder econômico, p. 139). A restrição colocada
pelo art. 36, caput, da Lei 12.529/2011 diz respeito não apenas a acordo que possa
De uma parte, colocam-se aqueles que veem nos acordos verticais prejuízos
para a concorrência e para o sistema tão perniciosos quanto os dos acordos
horizontais,73 na medida em que neutralizam a competição entre os distribui-
dores de um mesmo produto (intrabrand competition) e fecham oportunidades
de mercado.74 De outra, alega-se que não se pode perceber, nos acordos verti-
cais, efeitos restritivos iguais aos produzidos pelos cartéis,75 pois fomentam a
concorrência entre os produtores (interbrand competition).
No que diz respeito aos efeitos sobre a concorrência provocados pelos
acordos verticais, devemos levar em conta duas ordens de questões: esse tipo
de acordo pode restringir a concorrência entre os agentes econômicos distri-
buidores de um mesmo bem ou serviço (intrabrand competition) e, ao mesmo
tempo, fomentar a concorrência no mercado relevante em que atua o produtor
(interbrand competition). Os acordos verticais acabariam por trazer benefícios
e não prejuízos para a concorrência, já que: (i) implicariam redução de custos
na distribuição (inclusive economia dos chamados “custos de transação”),76
viabilizando economias de escala; (ii) facilitariam a entrada de novos agentes
econômicos no mercado de distribuição, pois permitiriam o retorno do in-
vestimento efetuado; (iii) impediriam a atuação de free riders; (iv) evitariam
a concentração dos distribuidores, de forma a não permitir que aqueles mais
agressivos acabassem por incorporar outros, causando um indevido grau
de concentração no mercado; (v) permitiriam a preservação da imagem do
business, the law has changed to be more hospitable to vertical restraints” (Cases
and materials on antitrust, p. 522). V., também, Damien Geradin e Caio Mario da
Silva Pereira Neto, For a rigorous “effect-based” analysis of vertical restraints
adopted by dominant firms: an analysis of the EU and Brazilian competition law,
disponível em: [http://papers.ssrn.com/sol3/papers.cfm?abstract_id=2173735].
Acesso em: 13.02.2013.
73. Handler, Blake, Pitofsky e Goldschmid, Trade regulation, p. 573.
74. Para a Comissão Europeia “[n]a maior parte das restrições verticais só poderão surgir
problemas em matérias de concorrência se existir uma concorrência insuficiente
num ou mais estádios da actividade comercial, ou seja, se existir um certo grau de
poder de mercado a nível do fornecedor ou do comprador ou a ambos os níveis”
(Orientações relativas às restrições verticais, de 2010, item 23).
75. Cf. Roberto Pardolesi, Intese restrittive della libertà di concorrenza, Diritto antitrust
italiano, p. 244-245.
76. Para explicação da teoria dos custos de transação, v. Paula A. Forgioni, Contrato de
distribuição, p. 306 e ss.; Calixto Salomão Filho, Direito concorrencial. As condutas,
p. 28 e ss.; e Jorge Fagundes e João Luiz Pondé, Economia institucional: custos de
transação e impactos sobre a política de defesa da concorrência, principalmente
p. 161-168.
80. Cf. Paul Milgrom e John Roberts, Economics, organization and management. Para
os juristas, é ainda de grande utilidade a obra Competitividade: mercado, Estado e
organizações, de Elizabeth Farina, Paulo Furquim de Azevedo e Maria Sylvia Mac-
chione Saes, que explica conceitos basilares para o entendimento dos contratos de
distribuição, como custos de transação e oportunismo.
81. Cf. Viscusi, Vernon e Harrington, Economics of regulation and antitrust, p. 221.
82. No original: “In order to carry out a market transaction, it is necessary to discover
who it is that one wishes to deal with, to inform people that one wishes to deal and on
what terms, to conduct negotiations leading up to a bargain, to draw up the contract,
to undertake the inspection needed to make sure that the terms of the contract are
being observed, and so on” (The problem of social cost, The firm, the market and the
law, p. 114).
83. V. Andy C. M. Chen e Keith N. Hylton, Procompetitive theories of vertical control,
p. 573.
84. Nas palavras de Hovenkamp: “Use of the market can be expensive. Negotiating costs
money. Dealing with other persons involves risk, and the less information one firm
has about the other, the greater the risk”. (Federal antitrust policy, p. 372).
85. Na dicção de Williamson: “The ex ante costs of drafting, negotiating, and safeguarding
an agreement and, more especially, the ex post costs of maladaptation and adjustment
that arise when contract execution is misaligned as a result of gaps, errors, omis-
sions, and unanticipated disturbances; the costs of running the economic system”
(The mechanisms of governance, p. 379. V., também do mesmo autor, The vertical
integration of production: market failure considerations).
86. Economics, organization and management, p. 30.
87. Enuncia Coase, em 1960, que “[b]ut where contracts are peculiarly difficult to draw
up and an attempt to describe what the parties have agreed to do or not to do (...)
would necessitate a lengthy and highly involved document, and where, as is proba-
ble, a long-term contract would be desiderable, it would be hardly surprising if the
emergence of a firm or the extension of the activities of an existing firm was not the
solution adopted of many occasions to deal with the problem of harmful effects”
(The problem of social cost, The firm, the market and the law, p. 116). Isso remonta à
lição de 1937: “If one contract is made for a longer period instead of several shorter
ones, then certain costs of making each contract will be avoided” (The nature of the
firm, The firm, the market and the law, p. 39).
88. Com efeito, é bastante comum que o agente econômico mais necessitado da con-
tratação submeta-se às exigências do outro, aumentando o risco assumido com a
realização do negócio.
89. O Código Civil considerou esse aspecto, viabilizando a recuperação dos custos
incorridos na execução do contrato celebrado por prazo indeterminado em caso
de sua ruptura abrupta e imotivada (V., Paula A. Forgioni, Contrato de distribuição,
capítulo 12, p. 469 e ss.).
92. Introduzione – L’analisi economica del diritto della concorrenza, Diritto antitrust
italiano, p. 37.
93. “Vertical integration is a potential source of substantial cost savings. An integrated
firm saves the costs of finding, negotiating and enforcing contracts with suppliers
(...); it can achieve technical efficiencies by locating productive facilities close to one
another (...) at reduced risk of opportunistic behavior (...). Because the demand for
a firm’s output may be uncertain, so may its demand for inputs, and it may be able to
economize on input costs by acquiring facilities to supply its ordinary needs, going
into the market only for unexpected purchases of inputs” (Antitrust: cases, economic
notes and other materials, p. 869).
94. Essa afirmação, contudo, deve ser tomada com reservas. V., neste livro, comentário
sobre a relação entre a propriedade industrial e o direito da concorrência.
95. O exemplo é dado por E. Thomas Sullivan e Jeffrey L. Harrison, Understanding anti-
trust and its economic implications, p. 150, e, também por Ross, Principles of antitrust
law, p. 225.
96. Cf. D. G. Goyder, EC competiton law, p. 271.
97. É preciso considerar, como faz Diane Wood, que “all contracts exclude somebody”.
Se B decide comprar de um determinado produtor A, outros agentes não terão acesso
àquela quantidade transacionada (International competition policy advisory committee
– Hearings).
98. “Foreclosure occurs when vertical integration by one firm denies another firm access
of the market” (Hovenkamp, Federal antitrust policy, p. 382).
99. A obstrução do mercado também pode advir de outras práticas relacionadas aos con-
tratos de distribuição, como as vendas casadas. Por todas, a explicação de Sullivan e
Grimes (The law of antitrust, p. 382): “(...) foreclosure restraints, such as tie-ins and
exclusive dealing, directly preclude competitors from making sales to a buyer, who
is required not to deal in certain products of rival sellers as a condition of sale”.
100. Teoria della concorrenza e dei beni immateriali, p. 64-65.
105. Valentine Korah e Warwick Rothnie anotam que a preocupação com o efeito raising
rivals’ costs é mais americana do que europeia (Exclusive distribution and the ECC
competition rules, p. 28).
106. Cf. Lei 6.729, de 1979, art. 3.º, § 1º, b.
para o consumidor ter que mudar de local de venda quando pretenda adquirir
determinados artigos incluídos noutras gamas de produtos. O consumidor
não optará por essa solução para satisfazer uma necessidade que se manifesta
sob a forma de impulso e não persistente”.110
Discute-se se, efetivamente, em virtude das restrições impostas aos ad-
quirentes, um viés anticoncorrencial macularia as cláusulas de exclusividade,
pois tal aspecto estaria mais ligado ao direito do consumidor do que ao direito
da concorrência. Nesse ponto, devemos lembrar que a limitação ao consumi-
dor somente será um ilícito antitruste na medida em que prejudicar a livre-
-concorrência ou a livre iniciativa. Muitos sustentam que, nessas hipóteses,
a concorrência entre as marcas não restaria prejudicada, porque se deslocaria
da competição “no ponto” de distribuição, para aquela “pelo ponto” de distri-
buição. No nosso exemplo dos refrigerantes, as duas marcas disputariam os
estabelecimentos privativos. Como quase sempre, em antitruste, não há uma
única resposta correta porque o impacto dependerá do mercado analisado.
De qualquer forma, a concorrência “no ponto” de venda (e não apenas “pelo
ponto” de venda) pode ser importante para o mercado, forçando competição mais
efetiva entre os produtores e impedindo-os de agasalharem-se em exclusividades
que têm por efeito o arrefecimento da concorrência e o levantamento de barreiras
à entrada de outros produtores.
110. Mais recentemente, v. o julgamento do caso C-549/10-C, julgado pela Corte de Justiça
europeia em 19 de abril de 2.012. A Corte confirmou a penalidade que a Comissão
impôs por abuso de posição dominante a empresa Tomra, detentora de mais de 70
% do mercado de máquinas para coleta de embalagens não descartáveis de bebidas
[“reverse vending machines”]. Na decisão da Comissão, entendeu-se que cláusulas
de exclusividade, na medida em que exigem dos adquirentes que adquiram toda ou
grande parte [“significant part”] de suas necessidades da empresa dominante, res-
tringem a concorrência na medida em que fecham o mercado aos competidores. Na
mesma linha, descontos oferecidos conforme a quantidade adquirida pelo cliente,
mas que implicam a compra de toda ou quase toda sua necessidade no fornecedor
dominante, são ilícitas, pois induzem-no a concentrar suas compras no fornecedor
que domina o mercado, prejudicando os outros ofertantes. No entender da Comis-
são, “So far as [Tomra’s] agreements were concerned, the contested decision states
that the stipulated quantity targets constituted individualised commitments which
were different for each customer, regardless of its size and purchasing volume, and
which corresponded to the customer’s entire requirements or to a large proportion of
them, or even exceeded them. The contested decision adds that [Tomra’s] policy of
tying their customers, in particular their key customers, into agreements that aimed
at excluding competitors from the market and denying them any chance of growth
is evident from the documents relating to [Tomra’s] strategy, their negotiations and
the offers made by them to their customers”.
121. “For in the neo-Chicago version, discount stores are seen as parasitical. Their lower
prices are ascribed entirely to the avoidance of the costs incurred by traditional sto-
res to provide the services on which the discounters free ride” (Robert Steiner, The
nature of vertical restraints, The Antitrust Bulletin, spring 1985:143, p. 153).
122. Comanor, Vertical price-fixing, vertical market restrictions, and the new antitrust
policy, Harvard Law Review 98:949, 1985, p. 999.
les e seus distribuidores. Para o Justice Hughes, era claro que as estipulações
restringiam o tráfico comercial.
Uma das principais razões pelas quais a prática foi condenada não reside
no prejuízo concorrencial, mas na indevida restrição da liberdade do distribuidor
de fixar o preço de um produto que lhe pertence. Argumentou Dr. Miles que, pelo
fato de o fabricante poder optar por efetuar ou não a venda, ser-lhe-ia faculta-
do estabelecer condições de uso do bem, além de fixar os preços de revenda.
“The property of the restraint is sought to be derived from the liberty of the
producer”. A Corte refutou a argumentação, porque uma restrição geral na
alienação seria inválida. Veja-se passagem desse voto, geralmente esquecida
pela doutrina apesar de ser um dos pilares da decisão:
“The right of alienation is one of the essential incidents of a right of gene-
ral property in movables, and restraints upon alienation have been generally
regarded as obnoxious to public policy, which is best subserved by great free-
dom of traffic in such things as pass from hand to hand. General restraint in
the alienation of articles, things, chattels, except when a very special kind of
property is involved, such as a slave or an heirloom, have been generally held
void. ‘If a man,’ says Lord Coke, in 2 Coke on Littleton, 360, ‘be possessed ...
of a horse or of any other chattel, real or personal, and give or sell his whole
interest or property therein, upon condition that the donee or vendee shall
not alien the same, the same is void, because the whole interest and property
is out of him, so as he hath no possibility of a reverter; and it is against trade
and traffic and bargaining and contracting between man and man’”.
Observe-se: uma das justificativas mais utilizadas para a condenação da
imposição dos preços de revenda no sistema norte-americano não é diretamente
ligada a problemas concorrenciais, mas principalmente a questões pertinentes à
propriedade e às faculdades que lhe são inerentes.126
126. Destaque-se o voto dissidente do Justice Holmes: “I think that we greatly exaggerate
the value and importance to the public of competition in the production or distribu-
tion of an article (here it is only distribution) as fixing a fair price. What really fixes
that is the competition of conflicting desires. We, none of us, can have as much as
we want of all the things that we want. Therefore, we have to choose. As soon as the
price of something that we want goes above the point at which we are willing to give
up other things to have that, we cease to buy it and buy something else. Of course, I
am speaking of things that we can get along without. There may be necessaries that
sooner or later must be dealt with like short rations in a shipwreck, but they are not
Dr. Miles’s medicines. With regard to things like the latter, it seems to me that the point
of most profitable returns marks the equilibrium of social desires, and determines
the fair price in the only sense in which I can find meaning in those words. The Dr.
Miles Medical Company knows better than we do what will enable it to do the best
business. We must assume its retail price to be reasonable, for it is so alleged and the
case is here on demurrer”.
127. U.S. v. Colgate & Co, 250 U.S. 300 (1919).
“A retail dealer has the unquestioned right to stop dealing with a whole-
saler for reasons sufficient to himself, and may do so because he thinks such
dealer is acting unfairly in trying to undermine his trade”.
A decisão lembra ainda que no caso Dr. Miles: “The unlawful combination
was effected through contracts which undertook to prevent dealers from freely
exercising the right to sell”.
Ou seja, o direcionamento adotado no caso Colgate não seria conflitante
com o precedente do caso Dr. Miles porque, naquela ocasião, a Corte impediu
que o distribuidor fosse privado do seu direito de comerciar nas condições que
melhor entendesse; no caso Colgate, esse direcionamento (i.e., não permitir que
o proprietário do bem fosse privado do seu poder de livre disposição) teria sido
absolutamente respeitado: não se permitiu que o distribuidor fosse obrigado
pelo fornecedor a negociar em circunstâncias que não achasse convenientes e
oportunas. A liberdade de agir dos comerciantes foi, portanto, o embasamento
central de ambas as decisões.
Para qualquer não americano que lance os olhos atentamente sobre o
caso Colgate, afigura-se claro que, em termos práticos (e também para efeitos
concorrenciais), não há muita diferença entre estabelecer o preço de revenda
ou sugeri-lo, acenando com a exclusão do distribuidor que não cumprir a de-
terminação. Essa distinção apenas fazia sentido no sistema norte-americano
em face de sua evolução jurisprudencial; chega, portanto, a ser grotesco pro-
curar transpô-la, tal e qual, para realidades jurídicas diversas, como chegou a
ocorrer no Brasil.
Alguns julgamentos americanos posteriores, na década de 60, parecem
diminuir a diversidade formal que haveria entre a RPM e a sugestão com
ameaça de não fornecimento. Foram identificadas manobras que os agentes
econômicos adotariam para evitar a condenação automática. No caso Parke,
Davis & Co.,128 estabeleceu-se que um fornecedor não poderia usar de coerção
128. 362 U.S. 29 (1960). Nota-se claramente a indisposição da Corte com a isenção dada
no caso Colgate. No entanto, para contornar o precedente, acolheu-se a argumen-
tação do governo no sentido de que “[t]he Government concedes for the purposes
of this case that under the Colgate doctrine a manufacturer, having announced a
price maintenance policy, may bring about adherence to it by refusing to deal with
customers who do not observe that policy. The Government contends, however,
that subsequent decisions of this Court compel the holding that what Parke, Davis
did here by entwining the wholesalers and retailers in a program to promote general
compliance with its price maintenance policy went beyond mere customer selec-
tion and created combinations or conspiracies to enforce resale price maintenance
in violation of 1 and 3 of the Sherman Act”. E, ressaltando a diferença com o caso
precedente, destaca que Parke, Davis “did not merely announce its policy and then
decline to have further dealings with retailers who failed to abide by it, but, by
utilizing wholesalers and other retailers, it actively induced unwilling retailers to
comply with the policy”.
129. 377 U.S. 13 (1964).
130. “If the ‘consignment’ agreement achieves resale price maintenance in violation of
the Sherman Act, it and the lease are being used to injure interstate commerce by
depriving independent dealers of the exercise of free judgment whether to become
consignees at all, or remain consignees, and, in any event, to sell at competitive
prices. The fact that a retailer can refuse to deal does not give the supplier immunity
if the arrangement is one of those schemes condemned by the antitrust laws”.
131. United States v. General Electric Co, 272 U.S. 476 (1926).
132. Ernest Gellhorn, Antitrust law and economics in a nutshell, p. 291: “It should be noted
that the focus under GE is on the method of the manufacturer’s control over the resale
price and not on its effect on competition or consumer welfare”.
133. Leegin Creative Leather Products, Inc. v. PSKS, Inc., DBA Kloset … Kay´s Shoes – 551
U.S. (2007).
134. Na literatura econômica, o ambiente adequado, por vezes ligado à imagem de gla-
mour, vendedores atenciosos e treinados, adequada exposição dos produtos etc. são
considerados e denominados “serviços” oferecidos pelos distribuidores.
135. “The manufacturer has a number of legitimate options to achieve benefits similar
to those provided by vertical pricerestraints. A manufacturer can exercise its Col-
gate right to refuse to deal with retailers that do not follow its suggested prices.
(…) The economic effects of unilateral and concerted price setting are in general
the same”.
136. No original: “discounting retailers can free ride on retailers who furnish services and
then capture some of the increased demand those services generate”.
137. Como já havia sido decidido no caso Sylvania: ““[N]ew manufacturers and manu-
facturers entering new markets can use the restrictions in order to induce competent
and aggressive retailers to make the kind of investment of capital and labor that is
often required in the distribution of products unknown to the consumer.”
138. Afinal, “[o]ffering the retailer a guaranteed margin and threatening termination
if it does not live up to expectations may be the most efficient way to expand the
manufacturer’s market share by inducing the retailer’s performance and allowing it
to use its own initiative and experience in providing valuable services”.
139. “As should be evident, the potential anticompetitive consequences of vertical price
restraints must not be ignored or underestimated”.
144. A esse respeito, esclarece a Comissão nas Orientações relativas às restrições verticais:
“Desde que não incluam distorções graves da concorrência, que constituem restri-
ções da concorrência por objecto, o Regulamento de Isenção por Categoria cria uma
presunção de legalidade relativamente aos acordos verticais, em função da quota de
mercado do fornecedor e do comprador” (item 23).
145. Cf. item 11 dos Consideranda das Orientações relativas às restrições verticais.
146. Ou seja, são proibidas as práticas que impliquem “restrição da capacidade de o
comprador estabelecer o seu preço de venda, sem prejuízo da possibilidade de
o fornecedor impor um preço de venda máximo ou de recomendar um preço de
venda, desde que estes não correspondam a um preço de venda fixo ou mínimo, em
resultado de pressões ou de incentivos oferecidos por qualquer uma das partes”. Para
comentários a essa “hardcore restriction”, v. Frank Wijckmans e Filip Tuytschaever,
Vertical agreements in EU competition law, 139 e ss.
147. Por exemplo, (i) a criação de sistema de controle dos preços ou (ii) a obrigação de os
distribuidores denunciarem outros membros da rede que infrinjam a determinação.
148. Sobre tais práticas, v. o estudo de Baker, Vertical restraints with horizontal conse-
quences: competitive effects of “most-favored-customer” clauses, Antitrust Law
Journal 64/517, 1996. Explica o autor haver três maneiras de implementação da
cláusula do cliente mais favorecido que ameaçam a competição em nível horizontal:
(i) incentivando a coordenação horizontal entre empresas, devido à menor margem
de negociação individual no plano vertical; (ii) aumentando os custos das empresas
concorrentes, uma vez que o nivelamento dentro da rede vertical conduz à formação
de uma espécie de “cartel”, o qual tem a possibilidade de fixar preços anticompetiti-
vos e assim excluir empresas rivais; e, finalmente, (iii) desencorajando diretamente
a competição entre os rivais no nível horizontal, visto que a cláusula torna menos
agressiva a empresa a ela vinculada; isso, por sua vez, faz com que os concorrentes
respondam com igual diminuição de agressividade concorrencial.
149. A mera existência de lista com preços recomendados ou preços máximos não leva à
conclusão de que há fixação ilícita.
podem tocar tanto aos fabricantes quanto aos distribuidores, de forma que a
mesma palavra é empregada para designar veios contratuais diversos.152
Para os norte-americanos, exclusividade vem geralmente associada à
exclusive dealing, ou seja, à obrigação imposta a uma das partes de somente
comprar ou comercializar os produtos da outra. Areeda e Kaplow esclarecem
que a exclusive dealing refere-se a acordos por força dos quais o comprador não
se vale ou não se abastece de bens fornecidos por um concorrente do vende-
dor.153 Para Hovenkamp, há exclusive dealing quando o comprador obriga-se
a adquirir produtos apenas de determinado vendedor.154 Por outro lado, o que
nós chamamos de exclusividade territorial pode ser traduzido para o inglês como
territorial limitation, um expediente de que lança mão o fabricante para evitar
que seus distribuidores concorram entre si, assegurando-lhes áreas exclusivas
de atuação.155 Na Europa, as expressões exclusive purchase e non-compete são às
vezes tidas como sinônimas, ou seja, com o mesmo significado atribuído pelos
norte-americanos para exclusive dealing.156 No entanto, explica-nos Joanna
Goyder que a Comissão separa uma da outra:
“An exclusive purchase clause imposed by a supplier requires a buyer to
obtain all its supplies of the contract goods (e.g. Bally shoes) from the supplier,
whereas a non-compete clause requires him to obtain all his supplies of a parti-
cular product (that is, all his shoes requirements) from the supplier. The former
does not prevent the buyer from obtaining and distributing competing goods,
but the latter does. In practice a supplier may want to impose both exclusive
purchasing and non-compete”.157
Baseados na doutrina americana, dizemos que há exclusividade quando o
distribuidor está obrigado a vender apenas os produtos provenientes de um certo
152. Interessante caso sobre cláusula de exclusividade foi julgado pelo Superior Tribunal de
Justiça, em março de 2010, entendendo ilícita a proibição da atuação de médicos fora
da cooperativa à qual pertencem: “5. A cláusula de exclusividade em tela é vedada pelo
inc. III do art. 18 da Lei 9.656/98, mas, ainda que fosse permitida individualmente a sua
utilização para evitar a livre-concorrência, através da cooptação de parte significativa da
mão de obra, encontraria óbice nas normas jurídicas do art. 20, I, II e IV, e do art. 21, IV
e V, ambos da Lei 8.884/1994 (revogado pela Lei 12.529/2011)” (REsp 1172603/RS).
153. “(...) arrangements under which a buyer does not use or deal in the goods of the
seller’s competitors” (Antitrust analysis, p. 772).
154. Hovenkamp, Federal antitrust policy, p. 430.
155. Areeda e Kaplow, Antitrust analysis, p. 651.
156. Sobre o significado do termo exclusividade, v. Sylvie Lebreton, L’exclusivité contrac-
tuelle et les comportements opportunistes, p. 1.
157. EU distribution law, p. 78.
fornecedor. Isso significa que esse mesmo distribuidor somente deverá adquirir o
produto relevante (ou seja, o objeto principal da distribuição) daquele fabrican-
te, ou de outro por ele expressamente indicado. A exclusividade normalmente
implica que o revendedor, salvo autorização expressa em sentido contrário, (i)
não poderá comerciar qualquer outro produto concorrente (exclusividade de
comercialização) e/ou (ii) deverá obter os bens a serem distribuídos junto a de-
terminado fabricante ou a terceiro por ele indicado (exclusividade de aquisição
ou exclusiva de compra,158 esclusiva d’acquisto, exclusive purchase for resale).
As partes podem ainda contratar limitações sobre outras aquisições do
dealer, que não relacionadas ao produto relevante (ou seja, sobre bens que não
concorrem diretamente com aquele distribuído). Esse tipo de restrição pode
interessar ao fornecedor, evitando a confusão da imagem do produto distri-
buído ou seu indevido aproveitamento por terceiros ou pelo distribuidor.159
Enfim, a exclusividade pode significar:
a) obrigação do distribuidor de comercializar apenas os produtos fabri-
cados pelo fornecedor (i.e., obrigação de abstenção de comercializar produtos
concorrentes);
b) obrigação do distribuidor de comercializar apenas os produtos ad-
quiridos de terceiros indicados pelo fabricante (também há, nesta hipótese, a
obrigação de abstenção de comercializar produtos concorrentes);
c) obrigação do distribuidor de não comercializar quaisquer outros pro-
dutos, mesmo que não concorrentes com aqueles que são objeto do contrato
de distribuição;
d) obrigação do fornecedor de vender sua produção exclusivamente por
intermédio do distribuidor (imposição comum quando se trata do sistema de
distribuição no grande varejo);
e) direito do distribuidor de ser o único a comercializar o produto distri-
buído em determinada área (ou em relação a determinados consumidores).
Esse sentido do termo exclusividade, contudo, é ligado à divisão de mercado e
não se confunde com aquele de que ora tratamos.
Rubens Requião dá destaque a dois fenômenos que decorrem da aposição
da cláusula de exclusividade nos acordos verticais: por um lado, potencializa
horizonte que se expande cada vez mais.164 Foi preciso repensar os acordos
e as restrições verticais nesse cenário, pois é evidente o aumento do grau de
concorrência propiciado pela Web: mercados antes apartados aproximam-se
de outros, abrindo o leque de opções para o consumidor. Aqueles que, antes,
adquiriam obras estrangeiras em uma pequena livraria situada na frente da
Faculdade, agora as encomendam pelo computador.
Sem exagero, podemos comparar as estradas medievais à Internet. Em
determinados setores da economia, seu domínio é o controle do comércio, e
o bloqueio do acesso à rede, a expulsão do mercado.
Por conta dessas mudanças, no campo concorrencial, o novo regulamento
europeu sobre restrições verticais passou a preocupar-se com vendas feitas pela
Internet. Para compreendê-lo, é preciso considerar a distinção entre vendas
“ativas” e vendas “passivas”.
As primeiras implicam abordagem ativa dos clientes, por exemplo, median-
te encaminhamento de publicidade não solicitada por correio tradicional ou
eletrônico (spans), visitas, publicidade ou promoções dirigidas especificamente
a certo grupo de clientes etc.
Já as vendas passivas envolvem a venda (ou prestação de serviços) a consu-
midores que procuram o distribuidor espontaneamente. A publicidade assume
carácter geral e seria de qualquer modo realizada pelo fornecedor, mesmo que
não atingissem clientes nos territórios ou grupos de clientes (exclusivos) de
outros distribuidores.
De acordo com o Regulamento n. 330, de 2010, não poderão ser isenta-
dos os acordos verticais que, directa ou indiretamente, tenham por objeto a
restrição das vendas activas ou passivas aos adquirentes finais. Permite-se,
contudo, a proibição de os distribuidores exercerem suas actividades além
do território que lhes seja eventualmente atribuído, desde que não o façam
ativamente.
Esclarece a Comissão Europeia que “[e]m princípio, todos os distribuido-
res devem poder utilizar a Internet” e as vendas feitas por meio de sítio próprio
do distribuidor são consideradas passivas. Ademais, “o simples facto de oferecer
diferentes opções linguísticas no sítio Internet não altera o caráter passivo da
venda”.165 As seguintes restrições não são admitidas no âmbito da isenção, pois
desencorajam a concorrência na venda dos produtos pela Internet:
a) cláusulas que tenham por efeito impedir que os clientes de certo terri-
tório visualizem o sítio Web de outros dealers. Igualmente, é vedado obrigar o
distribuidor a adotar sistema de reencaminhamento automático dos clientes
para os sítios do fabricante ou de outros distribuidores (exclusivos);
b) obrigar distribuidor (exclusivo) a encerrar transações com consumi-
dores na Internet quando as informações do cartão de crédito revelam que o
endereço não integra seu território;
c) obrigar o distribuidor a limitar a percentagem das vendas globais rea-
lizadas na Internet;
d) obrigar o distribuidor a pagar preço mais elevado pelos produtos que
se destinam à revenda pela Internet.
É facultado ao fornecedor impor normas de qualidade para as vendas on
line, assim como faz para estabelecimentos físicos, vendas por catálogo ou para
publicidade e promoção em geral. Igualmente, como condição para integrar
a rede, o distribuidor pode ser obrigado a manter uma ou mais lojas físicas ou
salões de exposição.
Esse posicionamento da União Europeia em prol da liberdade de atuação
dos distribuidores pela Internet implica o reconhecimento dos benefícios decor-
rentes [i] do aumento do grau de concorrência intramarcas e [ii] da atuação dos
free riders, especialmente no interesse dos consumidores. É preciso reconhecer
que, como apontado acima, o free rider estimula a concorrência intramarca,
oferecendo preços inferiores aos consumidores.
Os acordos verticais podem trazer um dos mais nocivos efeitos das práticas
empresariais: o fechamento do mercado mediante a criação artificial de barreiras
à entrada de novos competidores. Em economias como a brasileira, a admissão
de restrições verticais (especialmente das exclusividades) pode significar
verdadeira “reserva” da empresa com maior poder econômico sobre os novos
consumidores que se agregarão ao mercado. Há de ser discutida, portanto, a
postura de certas agências antitruste que concentram a utilização de seus re-
cursos quase unicamente para a coibição dos cartéis. Embora estes sejam, na
maioria dos casos, perniciosos à concorrência, a tolerância às restrições ver-
ticais pode impor ao país, a médio prazo, os deletérios efeitos de uma política
concorrencial equivocada.
Da mesma forma, como regra geral, não podemos tratar os não integran-
tes de redes oficiais de distribuição como criminosos, que violariam direitos
adquiridos de terceiros. Esses agentes econômicos, ao atuar livremente no
mercado, costumam oferecer preços inferiores aos consumidores, exercendo
importante pressão concorrencial em benefício da população. Basta pensar,
por exemplo, nas redes não autorizadas de oficinas mecânicas, ou mesmo no
problema da importação paralela.
É preciso atenção: o mercado norte-americano encontra-se em patamar
diverso de desenvolvimento e de maturidade daquele brasileiro. Consequente-
mente, a tolerância aos acordos verticais, típica dos estadunidenses, não pode
constituir o norte para aplicação de nossa legislação antitruste, devendo ser
objeto de maior reflexão.
“Non sono le indagini economiche che fanno dire se il monopolio sia un bene
o un male. È la valutazione che ne dá l’ordinamento giuridico, col complesso
delle sue leggi, dei suoi provvedimenti e delle sue sentenze. Il giudizio di valore o
disvalore viene dunque dallo spirito dell’ordinamento, spirito mutevole come i
vari popoli, e diverso nel tempo como è nel tempo diverso lo spirito del popolo”
– Mario Franzosi.
Este capítulo não se propõe a esgotar o tema das concentrações entre agen-
tes econômicos, por si só tão amplo que impossível contê-lo em trabalho no
qual se pretende dar notícia, apenas, dos fundamentos do antitruste. Trataremos
dos aspectos mais relevantes do controle das concentrações, tomando-se em
consideração, principalmente, seu caráter instrumental em relação a uma polí-
tica econômica, ligado principalmente à formatação da estrutura do mercado.
Para contextualizar a análise, imagine-se um país em que, no dia de sua
criação, todas as empresas, de todos os setores da economia, fossem do mes-
mo tamanho e dispusessem dos mesmos recursos. Não é equivocado supor
que, em pouco tempo, haveria grande diferença entre elas. Algumas sairiam
do mercado, pelas mais variadas razões, inclusive por incompetência. Outras,
mais capazes de gerar lucros, expandir-se-iam, comprariam suas concorrentes,
fornecedores ou distribuidores. Ou seja, a concentração econômica ocorreria
em grande parte dos setores, em alguns mais rapidamente do que em outros.
Observando a realidade conclui-se que, muitas vezes, a concentração tende
a diminuir o grau de competição no mercado, por atribuir poder econômico
A nossa Lei enumera expressamente o que deve ser entendido como con-
centração econômica em nosso sistema, mencionando em seu art. 90:
(i) operações de fusão, ou seja, em que duas ou mais empresas, anterior-
mente independentes, fundem-se, dando origem à terceira sociedade. Nos
termos do art. 228, caput da Lei 6.404, de 1976 (Lei das Sociedades Anônimas),
a fusão é “a operação pela qual se unem duas ou mais sociedades para formar
sociedade nova, que lhes sucederá em todos os direitos e obrigações”. Assim,
a sociedade A e a sociedade B fundem-se, dando origem à sociedade C. Por
questões tributárias, operações de fusão são raras na prática brasileira.
(ii) aquisição, direta ou indireta, de participações societárias ou de ativos de
terceiros, tangíveis ou intangíveis. A lei determina serem ato de concentração
as operações mediante as quais “uma ou mais empresas adquirem, direta ou
indiretamente, por compra ou permuta de ações, quotas, títulos ou valores
mobiliários conversíveis em ações, ou ativos, tangíveis ou intangíveis, por via
contratual ou por qualquer outro meio ou forma, o controle ou partes de uma
ou outras empresas”(art. 90 da Lei 12.529). Incluem-se, portanto, nos atos de
concentração, a aquisição de:
– controle direto ou indireto de empresa;
– participações minoritárias;
– direitos de propriedade industrial, tais como patentes, know-how, de-
senhos industriais, marcas etc.;
– ativos físicos, como maquinários.
(iii) incorporação de empresas, ou seja, “a operação pela qual uma ou mais
sociedades são absorvidas por outra, que lhes sucede em todos os direitos e
obrigações” (art. 227, caput da Lei 6.404, de 1976). Assim, se A incorpora
B, B desaparece e tem seus ativos, direitos e obrigações transferidos para o
patrimônio de A.
(iv) constituição de consórcios, i.e., celebração de contratos entre socie-
dades para execução de determinado empreendimento tipificado no art. 278
da Lei 6.404, de 1976. O consórcio “não tem personalidade jurídica e as con-
sorciadas somente se obrigam nas condições previstas no respectivo contrato,
respondendo cada uma por suas obrigações, sem presunção de solidariedade”
(art. 278, § 1.º).
(v) celebração de “contratos associativos” ou de “joint ventures”. Embora
inexista definição legal ou consenso doutrinário sobre o sentido das expressões
“contratos associativos” ou “joint ventures”, referem-se a negócios jurídicos
mediante os quais duas ou mais empresas, sem constituir consórcio formal
nos termos do art. 278 da Lei Societária, associam-se para realizar o empreen-
11. Para o estudo das joint ventures no campo do Direito Concorrencial, v. Luis Silva
Morais, Joint ventures and EU competition law.
12. Cf. Denozza, Antitrust, p. 73.
13. Ou seja, mesmo mercado relevante material e geográfico (cf. Hovenkamp, Federal
antitrust policy, p. 443).
14. Sobre as concentrações verticais, v. José Paulo Fernandes Mariano Pego, O controlo
dos oligopolies pelo direito comunitário da concorrência, 223 e ss.
15. Uma das grandes inovações trazidas pela Escola de Chicago foi a modificação da
visão sobre as concentrações verticais. Durante as décadas de 50 e 60, as autori-
dades antitruste norte-americanas assumiram atitude bastante hostil em relação
a esse tipo de negócio, pois os entendiam aptos a privar os rivais de oportunidade
leal de competição, estabelecendo ligação exclusiva entre agentes econômicos que
atuam em mercados relevantes complementares. Após a metade da década de 70,
essa postura foi alterada, argumentando-se que as concentrações verticais somente
ocorrerão quando delas advier um aumento de eficiência para o setor. De qualquer
forma, a questão dos efeitos das concentrações verticais sobre a concorrência é cada
vez mais controvertida, especialmente por conta do controle de insumos, canais de
distribuição e, especialmente, da tecnologia.
16. Cf. McCall, Sum and substance of antitrust, p. 251.
17. Hovenkamp, Federal antitrust policy, p. 501.
8.3. Razões da concentração
São diversos os fatores que podem compelir o agente econômico à concen-
tração. Não se trata de inquirir a intenção do agente econômico ao buscar sua
união com outros, mas de possíveis objetos ou efeitos trazidos pela operação.
20. “The important point is that neither social harm nor social benefit will be precisely
identifiable or quantifiable in every case. Yet, the lawmaker or interpreter must take
care to remember the general benefits of a free market in capital assets” (Areeda e
Kaplow, Antitrust analysis, p. 805). A operação de concentração raramente terá apenas
um objeto ou efeito determinante, sendo, ao invés, comum a conjugação de muitos
dos fatores aqui expostos.
21. Baseamo-nos no estudo de Areeda e Kaplow sobre as razões das concentrações (An-
titrust analysis, p. 800 e ss.).
22. Neide Malard aponta que a integração ao conglomerado possibilita “a reciprocidade
de operações, situação em que as empresas compram e vendem umas das outras”
(Integração de empresas: concentração, eficiência e controle, Revista do IBRAC, vol.
1, n. 4, p. 46, 1994).
não seriam viabilizados (ou seriam muito mais lentos) caso o mesmo capital
permanecesse pulverizado. O processo de concentração econômica é capaz
de levar a maior grau de eficiência, propiciando inovação, desenvolvimento
tecnológico28 e benefícios para os consumidores. A concentração de capitais
pode fomentar economias de escala29 e propiciar o aproveitamento de sinergias
em benefício da sociedade.30-31 Ou, como se lê no Parecer da Secção de Indús-
tria, Comércio, Artesanato e Serviços sobre o Livro Verde relativo à revisão do
regulamento europeu das concentrações, este é um “instrumento não apenas
28. Frank H. Easterbrook lembra que, muitas vezes, se determinado ato de concentração
for obstado, a empresa adquirente poderá, simplesmente, depois de algum tempo,
eliminar a menor em virtude de sua eficiência econômica (Is there a ratchet in anti-
trust law?, Texas Law Review, vol. 60, p. 716, 1982).
29. “O fenômeno das economias de escala consiste na progressiva redução do custo
unitário da produção de um bem, à medida que o volume produzido aumenta.
Constitui, pois, uma relação inversa entre custo unitário e volume” (Fábio Nusdeo,
Abuso do poder econômico, Enciclopédia Saraiva do Direito, p. 125). Patrizio Bian-
chi e Giuseppina Gualtieri insistem em que o argumento de obtenção e aumento da
economia de escala não pode ser indiscriminadamente utilizado como justificativa
para as concentrações de empresas: “(...) se è vero che in molti settori possono
sussistere economie di scala tali da favorire la crescita tecnica delle imprese al fine
di migliorarne l’efficienza, è anche ampiamente dimostrato che al di là di una certa
dimensione la crescita esterna si giustifica più per il bisogno di controllare i mercati
che non per ottenere maggiori efficienze nella produzione da riversare sui consu-
matori” (Economia di mercato ed istituzioni pubbliche per il funzionamento del
mercato nella nuova fase di integrazione europea: un’analisi di economia politica,
Concorrenza e controllo delle concentrazioni in Europa, p. 36).
30. Ross lembra que uma empresa com moderna linha de produção, mas com ineficiente
sistema de vendas, pode fundir-se com outra, que utiliza maquinário obsoleto, não
obstante sua distribuição seja extremamente eficiente (Principles of antitrust law,
p. 315). O resultado será uma nova empresa em condições de oferecer concorrência
efetiva aos demais agentes e, portanto, aumento do grau de competitividade no
mercado relevante.
31. Por essa razão, comentando os Mergers Guidelines de 1992, Areeda e Kaplow apon-
tam: “The primary benefit of mergers to the economy is their efficiency enhancing
potential, which can increase the competitiveness of firms and result in lower prices
to consumers. Because the antitrust laws, and thus the standards of the Guidelines,
are designed to proscribe only mergers that present a significant danger to compe-
tition, they do not present an obstacle to most mergers. As a consequence, in the
majority of cases, the Guidelines will allow firms to achieve available efficiencies
through mergers without interference from the Agency” (Antitrust analysis, suple-
mento de 1994, p. 129, relacionado ao Capítulo 5, Mergers: horizontal, vertical,
and conglomerate).
34. Bernini, As regras de concorrência, CE, trinta anos de direito comunitário, p. 372.
No mesmo sentido, Alberto Toffoletto, Le concentrazioni nel diritto comunitário
antitrust, Giurisprudenza Commerciale, 17.3/451-2, maio-jun. 1990 e Aurelio Pap-
palardo, Giurisprudenza comunitaria e straniera – Il regolamento CEE sul controllo
delle concentrazioni tra imprese, Il Foro Italiano, p. 201.
35. De qualquer forma, a ausência de regulamento específico para as concentrações de
empresas não impediu que tanto a Comissão Europeia quanto a Corte de Justiça
aplicassem os arts. 85 e 86 do Tratado CE às práticas concentracionistas (cf., a res-
peito, os célebres casos Continental Can e Philip Morris e a exposição de Bael e Bellis,
Competition law of the EEC, p. 300 e ss.).
36. Divieto delle operazioni di concentrazioni restrittive della libertà di concorrenza,
p. 528.
37. Basta, para comprovar tal afirmação, analisar os fatores que eram tomados para con-
cessão de incentivos fiscais às concentrações, enumerados por Waldirio Bulgarelli ao
comentar a Resolução 1, de 20.08.1971 da Comissão de Fusão e Incorporação de Em-
presas (Cofie): “(a) obtenção de economias de escala (redução de custos e incremento
da produtividade); (b) redução de preços de venda no mercado interno; (c) conquista
e ampliação de mercados externos; e (d) fortalecimento do mercado de capitais” (O
direito dos grupos e a concentração de empresas, p. 54). Cf., também, Modesto Carva-
lhosa, Poder econômico: a fenomenologia, seu disciplinamento jurídico, p. 16.
38. Para uma análise (econômica) do processo de concentração da indústria brasileira na
década de 70, v. Regis Bonelli, Concentração industrial no Brasil: indicadores da evolução
Mas, de outra parte, não obstante ser capaz de gerar inegáveis vantagens
econômicas para a sociedade, o processo de concentração pode trazer o com-
prometimento do normal funcionamento do mercado, prestando-se a reunir
o poder econômico em mãos de poucos agentes.39 Estes, depois de obtida a
condição monopolística, agem com independência e indiferença em relação a
outros agentes econômicos, muitas vezes abusando dessa sua posição.
Lembre-se, a respeito, que o movimento que deu origem à promulgação
do Sherman Act baseava-se na reação contra os trusts, ou seja, contra poderosas
empresas e o uso que faziam do poder econômico que detinham. A Lei Antitruste
foi, em um primeiro momento, concebida e vista como forma de limitar esse
poder, mantendo-se a chamada “estrutura democrática”.40
A concentração de poder, como abordado no primeiro capítulo, colocava
em risco a estabilidade do sistema, e o meio encontrado para eliminar os efeitos
autodestrutíveis dessa mesma concentração foi (i) combater a formação de
grandes núcleos de poder econômico, ao mesmo tempo em que (ii) se procura-
va controlar o exercício desse poder. Como consequência direta dessa postura,
durante os governos americanos de Eisenhower, Kennedy, Johnson, Nixon, Ford
e Carter, o seguinte entendimento orientava a política das concentrações: “Que
grandes concentrações levaram à inércia, produziram inúmeras ineficiências e
causaram custos mais elevados, reduziram a inovação e a capacidade de respon-
der rápida e flexivelmente a mudanças de mercado e a aumentos de preços”.41
Percebemos o paradoxo que se coloca:42 ao mesmo tempo em que a con-
centração de capitais é vista como útil ou até mesmo indispensável ao progresso e
49. Não pode deixar de causar surpresa a decisão da Comissão, estranha à tradição da
jurisprudência que já se consolidara. Diz-se, a esse respeito, que muito é devido ao
fato de que, no momento do voto final, o Presidente Delors absteve-se de proferir voto
e o Comissário francês, Scrivener, encontrava-se ausente. Assim, as razões expostas
por Brittan puderam prevalecer, tendo sido, afinal, declarada a incompatibilidade
da operação com o mercado comum.
50. Alberto Saravalle, Il caso De Havilland: tutela della concorrenza o politica industriale,
Diritto del Commercio Internazionale, p. 252.
51. Cf. Alberto Saravalle, Il caso De Havilland: tutela della concorrenza o politica indus-
triale, Diritto del Commercio Internazionale, p. 249.
52. Durante o processo de realização do mercado único europeu, os governos nacionais
incentivaram o processo interno de concentração de empresas, sob o olhar compla-
cente da Comissão Europeia, que intervinha apenas em casos de grave infração ao
“espírito comunitário”. Os governos nacionais encontraram, assim, nas políticas
concentracionistas regionais, um instrumento para afrontar a crise dos anos 80. (i)
A República Federal Alemã, durante os anos 70, promoveu o aumento da capaci-
dade de vários de seus agentes econômicos. Posteriormente, sobretudo durante os
anos 80, a autoridade nacional procurou incentivar a concentração entre grandes
empresas, intervindo, a autoridade antitruste, de forma a evitar que as excessivas
concentrações de poder comprometessem o equilíbrio político do país. (ii) Política
semelhante foi adotada na França, com o incentivo às concentrações, visando afrontar
a concorrência americana e japonesa. A autoridade antitruste francesa não apenas
56. Fox e Sullivan assinalam que era bastante simples para os agentes econômicos esquiva-
rem-se da incidência do Clayton Act, bastando, para tanto, adquirir os ativos de outras
empresas e não seu controle acionário (Cases and materials on antitrust, p. 740).
57. Os dados históricos desse parágrafo nos são fornecidos por James McCall (Sum and
substance of antitrust, p. 219 e ss.) É de se ressaltar, entretanto, que não há consenso
entre os autores americanos ao indicar os períodos dessas ondas de concentração. Ho-
venkamp, por exemplo, coloca a primeira delas entre os anos de 1895 e 1904, quando
mais de 15% das empresas americanas teriam sido envolvidas em alguma operação de
concentração (Federal antitrust policy, p. 443). Já segundo Fox e Sullivan, uma primeira
onda concentracionista iniciou-se por volta do ano de 1849, intensificou-se no ano
de 1890 e estendeu-se até 1893. Outra onda teve início em 1895, perdendo sua força
no ano de 1904 (Cases and materials on antitrust, p. 738). Para profunda análise do
processo de concentração das empresas norte-americanas, cf. Daniel Guérin e Ernest
Mandel, La concentración económica en Estados Unidos, Capítulos I e II, p. 37-52.
58. Federal antitrust policy, p. 443. O mesmo autor indica evidências de que a aplicação
da Lei Antitruste americana teria levado ao movimento concentracionista das décadas
de 70 e 80. Altos custos fixos e elevada produção forçavam os agentes econômicos à
integração, mas as práticas concertadas eram consideradas ilegais. Desta feita, uma
vez que as concentrações eram vistas de forma mais liberal, muitos empresários
voltaram-se para essa alternativa. Conclui o autor que, provavelmente em virtude
desse caminho, as empresas americanas desenvolveram-se com mais eficiência e
tornaram-se maiores. Ao contrário, na Inglaterra, mais tolerante com os cartéis e
práticas colusivas, as pequenas empresas efetivaram práticas concertadas, em alter-
nativa ao processo de concentração. Por essa razão, na metade deste século, muitas
empresas britânicas eram pequenas, familiares e dominadas pela ineficiência. Assim,
“so agressive American antitrust policy may have had an efficient consequence,
although it was not the consequence that its planners had in mind” (idem, ibidem).
sobre o caso Microsoft: “The problem isn’t Microsoft’s ambition; it’s Microsoft’s
position”.63
Em meados da década de 70, a Suprema Corte americana (e sua recém-
-formada maioria) marcou o início do domínio da Escola de Chicago.64 Essa
linha envolvia o retorno a um “neoclassicismo” econômico, sustentando o
adequado funcionamento do mercado sem a necessidade de intervenção go-
vernamental. As concentrações de empresas não eram vistas como algo a ser
evitado: se há concentração no mercado, não se deve inferir que ali há excessivo
poder econômico, mas sim economias de escala.65
our new products, defend us, entertain and inform us, and pay most of our taxes.
Notwithstanding these bounties, Americans have always mistrusted big business.
We have written and read about the ‘organization man’ who has ceded his freedom
and identity to his employer. We believe that big business homogenizes us, over-
-standardizes us and – worse of all – makes us pay high prices for shoody products
or poor service. Antitrust is properly concerned only with the last of these sins”
(Hovenkamp, Federal antitrust policy, p. 241-242). Na década de 70, afirmavam
Daniel Guérin e Ernest Mandel (La concentración económica en Estados Unidos, p.
86): “Los monopolios no sólo anulam al ciudadano norteamericano como individuo;
también lo oprimen como ‘animal político’”.
63. Antitrust and common sense – Judge Sporkin is right: Microsoft has gotten too
powerful, Newsweek, 06.03.1995, p. 39, coluna 2.
64. Durante a década de 60, nos Estados Unidos, a estrutura industrial era governada
pelo paradigma da “estrutura – conduta – desempenho”, que sugeria tornarem-se
as empresas menos competitivas (e levadas à colusão ou conduta oligopolística)
em mercados concentrados. Era o chamado S-C-P Paradigm. Na década de 70, este
paradigma começa a ser contestado por aqueles que alegavam (i) ser o alto grau de
concentração necessário em muitos mercados para obtenção de economias de escala e
(ii) que os mercados poderiam continuar a ser competitivos mesmo se funcionassem
em estruturas concentradas (Hovenkamp, Federal antitrust policy, p. 444). Assim,
“the more efficient a firm is, the faster its share will grow; as less efficient smaller
firms are driven out, concentration will naturally increase” (Fox e Sullivan, Cases
and materials on antitrust, p. 749). Neide Malard resume da seguinte forma a posição
da Escola de Chicago, com relação às concentrações: “Segundo a Escola de Chicago,
a concentração econômica não deve ser vista como uma presunção da ilegalidade, e
sim da eficiência. Os agentes econômicos, atuando no mercado de forma racional,
em busca da maximização dos lucros, combinam seus bens de produção da maneira
mais eficiente. Se fracassarem, serão punidos pelas forças competitivas do mercado.
Assim, a intervenção do Estado, por se constituir num movimento estranho ao
mercado, adiciona a ele mais ineficiência ao invés de torná-lo mais competitivo”
(Integração de empresas: concentração, eficiência e controle, RIBRAC, p. 49).
65. Essa posição estava em óbvia contraposição ao paradigma “estrutura – conduta –
desempenho”. Com efeito, considerada essa pauta, seria suficiente verificar que em
68. Esse método tem sido discutido nos Estados Unidos, propondo-se a análise de con-
centrações mediante o estudo do comportamento dos preços. V., a esse respeito, as
atuais “Horizontal Merger Guidelines” de 2010.
69. Fox e Sullivan, Cases and materials on antitrust, p. 750.
70. Como assinala Herbert Hovenkamp, em 1972, no caso Ford Motor Co. vs. U.S. (562,
92, S. Ct. 1142), a Suprema Corte americana condenou a aquisição, por parte da
citada empresa, de fabricante de velas de automóvel, por entender que a operação
econômicos à margem do mercado prontos para alçar voo e aptos a nele en-
trar a qualquer momento (in the wings), a concentração pode não prejudicar
a livre-concorrência.71
Mas essa análise tradicional pode transcurar aspectos concorrenciais im-
portantes, especialmente quando tratamos de concentrações conglomeradas.
Lembram McCall e Denozza72 que, aparentemente, a união de uma empresa
produtora de detergente com outra de alvejantes não produzirá alteração na
composição de ambos os mercados relevantes, mas poderá gerar concentração
(conglomerada) de poder econômico, além de levantar barreiras à entrada de
novos agentes naqueles setores da economia. Sustenta-se que a concentração
pode prejudicar a livre-concorrência, ainda que os partícipes não sejam concor-
rentes, nos casos em que a operação tem o condão de eliminar a concorrência
potencial a que estava (ou seria) exposto um dos agentes.73
Destarte, sobretudo no que tange à avaliação das operações conglome-
radas, fatores outros que não apenas o aumento do grau de concentração em
determinado mercado relevante deverão ser tomados em consideração. A con-
jugação de todos esses valores leva-nos à ponderação que vai além de aspectos
meramente técnicos.
As análises das concentrações costumam também deixar de ponderar fa-
tores ligados ao mercado da distribuição e do fornecimento dos produtos envolvidos
na operação, ou seja, relacionados aos aspectos verticais da concentração. Hoje,
parte da doutrina destaca esse “terceiro mercado relevante”, pouco tratado pela
doutrina e pela jurisprudência produzidas a partir da análise de concentrações
horizontais e não verticais. Esse instrumental limitado não é suficiente para a
solução dos problemas concretos que tem surgido.
76. Esses patamares têm sido criticados porque permitem que um grande agente eco-
nômico aumente sua participação no mercado mediante a compra de empresas com
faturamento inferior a R$ 75 milhões, sem ter o dever, sequer, de dar notícia das
operações à autoridade antitruste. Essa estratégia tem sido empregada por grandes
grupos para adquirir concorrentes de menor porte, concentrando acentuadamente
o mercado em determinados setores e regiões.
77. O § 7.º do art. 88 da Lei 12.529/2011 reserva ao CADE a competência para, no prazo
de um ano contado da data de consumação, requerer as empresas que apresentem
atos de concentração que não se enquadrem na hipótese normativa do art. 90.
O art. 90, IV, da Lei 12.529/2011 menciona que, para fins de submissão ao
CADE, considera-se ato de concentração qualquer “contrato associativo, con-
sórcio ou joint venture”. Essa redação sempre gerou dúvidas, porque não existe
definição unívoca do que venha a ser um “contrato associativo”, tampouco uma
“joint venture”. Deveriam ser reportados todos e quaisquer contratos celebra-
dos entre agentes econômicos, desde que atingidos os parâmetros objetivos do
artigo 88? Visando à redução da insegurança, foi editada a Resolução CADE
17, de 18 de outubro de 2016, mas que, infelizmente, não foi capaz de dissipar
a polêmica. Dispõe o art. 2.º da Resolução CADE 17/2016 que, respeitados os
critérios estabelecidos no artigo 88, devem considerar-se “associativos quais-
quer contratos com duração igual ou superior a 2 (dois) anos que estabeleçam
empreendimento comum para exploração de atividade econômica, desde que,
cumulativamente: I - o contrato estabeleça o compartilhamento dos riscos e
resultados da atividade econômica que constitua o seu objeto; e II - as partes
contratantes sejam concorrentes no mercado relevante objeto do contrato”.
Primeiramente, o texto não elimina amplo expectro de interpretações pos-
síveis. Ademais, levado ao pé da letra, o ato normativo (nesta parte decorrente
de forte negociação política) poderia autorizar a liberação de acordos verticais,
que não necessitariam, assim, ser submetidos à apreciação do CADE. Infeliz-
mente, é isso que tem acontecido na prática, embora o texto da Lei Antitruste
não autorize essa exclusão.
A Lei prevê, também, importante exceção em relação aos atos que devem
ser apresentados ao CADE. É comum que empresas unam-se para participar
de licitações públicas. Contudo, a análise dessas associações não é função da
autarquia, conforme expressamente disposto no art. 90, parágrafo único, da
Lei Antitruste. Isso porque o CADE não tem competência para se colocar no
ápice da Administração Pública, interferindo em suas políticas. Julgamentos
das autoridades concorrenciais não podem modificar as políticas econômicas
formatadas pelo governo federal e tampouco entrar em conflito com decisões
tomadas por outros entes da Administração que implementem políticas públicas
com as quais o CADE eventualmente não concorde, sob pena de aviltar a orga-
nização e estrutura do Poder Executivo insculpidas na Constituição Federal.
78. Com valor não inferior a R$ 60.000,00 e não superior a R$ 60.000.000,00, sem
prejuízo da abertura de processo administrativo.
81. Trata-se, como comenta Renato Alessi, de caso em que a própria norma estabelece
limites, indicando especificamente as condições de fato em presença das quais a
administração poderá revogar o ato administrativo. Observa, ainda, que, confor-
me as condições de fato indicadas são “precisas” ou “imprecisas”, restará ou não à
Administração uma margem de discricionariedade na apreciação da “suficiência”.
Haveria casos, então, em que a revogação seria vinculada e não discricionária (La
revoca degli atti amministrativi, p. 116-17).
82. Sobre a influência política nas decisões de concentrações, v. Mihir N. Mehta e outros,
Political influence and merger antitrust reviews. Disponível em: [https://papers.ssrn.
com/sol3/papers.cfm?abstract_id=2945020]. Acesso em: 25.02.2018.
CADE. Contudo, mesmo no passado, não se tem notícia de que esse poder
tenha sido exercido por nossa autoridade.
83. A disciplina do acordo em controle de concentrações era feita pelo art. 92 da Lei
Antitruste, que acabou vetado pela Presidenta da República.
87. Uma das principais críticas que se faz à autoridade antitruste brasileira refere-se
à falta de oposição firme a duas das principais concentrações de nossa história,
que teriam gerado malefícios ao mercado e aos consumidores. Os casos sempre
lembrados são, na indústria de cervejas, a junção da Antártica com a Brahma, ge-
rando a AMBEV [1.999] e, no setor alimentício, da Sadia com a Perdigão, origem
da BrasilFoods [2.009].
“If most nations act more or less selfishly in matters of international trade,
each must protect its own interests as best as it can”
– Areeda E Kaplow.
4. O ato pode produzir efeitos em mercados de vários países. Por exemplo, um cartel
celebrado na Europa pode produzir efeitos também no Brasil e, neste caso, a autori-
dade brasileira será competente para apreciar a prática (o que não impede a jurisdição
concorrente europeia).
5. Sobre a evolução da jurisprudência norte-americana na criação da doutrina dos efeitos,
cf. José Ângelo Estrella Faria, Aplicação extraterritorial do direito da concorrência,
e Valéria Guimarães de Lima e Silva, Direito antitruste. Aspectos internacionais. Cf.,
também, Americo Beviglia Zampetti, Applicazione della legislazione antitrust
statunitense in materia di commercio internazionale: recenti sviluppi, Diritto del
commercio internazionale, 7.2/304 e ss., abr./jun. 1993.
6. V. Fábio Ulhôa Coelho, Direito antitruste brasileiro, p. 7-8.
7. Cf. Frignani e Waelbroeck, Disciplina della concorrenza nella CEE, p. 29. O TFUE,
versa, somente, sobre os acordos entre empresas que “(...) sejam susceptíveis de
afectar o comércio entre os Estados-membros e que tenham por objetivo ou efeito
impedir, restringir ou falsear a concorrência no mercado interno (...)” (art. 101). Da
mesma maneira, o art. 102 veda o abuso de posição dominante apenas na medida em
que tal prática seja “(...) susceptível de afectar o comércio entre os Estados-membros
(...)”. Daí decorre a orientação da jurisprudência europeia, que sistemativamente
afirma não ter competência para julgar práticas cujos efeitos são sentidos além do
território europeu (cf. D.E.C.A. e AEG-Elotherm, e atestados negativos concedidos
à Bendix-Mertens, Grosfillex-Fillistorf, Nicholas-Vitapro, referidos por Frignani e
Waelbroeck, Disciplina della concorrenza nella CEE, p. 29) e também aplica penali-
dades às empresas ou sociedades que não possuem sede em qualquer país da União
Europeia, mas que praticaram atos cujos efeitos ali são sentidos.
8. Direito antitruste. Aspectos internacionais, p. 75. Ainda sobre a mesma questão, v. p.
241 e s.
9. Nota-se, assim, que o sistema americano abriga os três critérios a que fazemos referên-
cia: territorialidade, nacionalidade e efeitos. É importante que se diga, no entanto, que o
texto original do Sherman Act não prevê a existência de qualquer um dos mencionados
critérios. Estes foram colocados, primeiramente, pelo trabalho da jurisprudência
norte-americana. No que tange à legislação, as modificações foram introduzidas com
a alteração da sec. 7 do Sherman Act, com a promulgação do Foreign Trade Antitrust
Improvements Act de 1982, e pelo Restatement of Foreign Relations Law of the United
States (cf. Bernini, Un secolo di filosofia antitrust, p. 120). Hovenkamp (Federal anti-
trust policy, p. 701), esclarece que é dado às Cortes daquele país declinarem de sua
competência, com base no sistema da comity, ou seja, seu “desire to live peacefully
with and accommodate the interests of other nations”. Também a doutrina ameri-
cana assinala que, na primeira metade do século XX, as cortes relutavam em aplicar
sanções decorrentes das leis antitruste às práticas realizadas no exterior. Tome-se, a
título exemplificativo, a seguinte manifestação de Justice Holmes no caso American
Banana Co. vs. United Fruit Co. (1909): “General and almost universal rule is that
the character of an act as lawful or unlawful must be determined wholly by the law
of the country where the act is done” (referido por Hovenkamp, Federal antitrust
policy, p. 699-700). Entretanto, a orientação americana muda em meados da década
de 40, com a afirmação do princípio dos efeitos (United States vs. Aluminum Co. of
America). Para maiores referências e outros julgados posteriores sobre a questão, v.
Handler, Blake, Pitofsky e Goldschmid, Trade regulation, p. 1114 e ss. V., também,
Bernini, Un secolo di filosofia antitrust, p. 119.
10. A respeito, comenta Daniele de Giovanni: “Il Regno Unito si caratterizza per un par-
ticolare approccio al problema dell’extraterritorialità. Il governo britannico ha infatti
9.1. Conflito de jurisdições
international law”. O mesmo autor assinala, ainda, que “the Canadian government
‘tolerates’ extraterritorial impact when it serves to promote objectives consonant
with Canadian interests, but rejects U. S. action with conflicts with ‘established and
important economic and social policies’”. Cf., ainda, Americo Beviglia Zampetti,
Applicazione della legislazione antitrust statunitense in materia di commercio in-
ternazionale: recenti sviluppi, Diritto del Commercio Internazionale, p. 304.
14. Por exemplo, a lei antitruste brasileira, em seu art. 2.º, refere-se, claramente, à lei
aplicável e não à jurisdição competente. O mesmo se diga do Foreign Trade Antitrust
Improvements Act, de 1982, que dispõe sobre a aplicabilidade do Sherman Act (cf.
Hovenkamp, Federal antitrust policy, p. 700). Trata-se de questão de “competência
internacional” que, como assinala José Ignacio Botelho de Mesquita: “Não é propria-
mente um problema de competência; é, antes e mais precisamente, um problema de
limite da extensão da jurisdição nacional em face da jurisdição de outros Estados
igualmente soberanos” (Da competência internacional e dos princípios que a infor-
mam, Revista de Processo, n. 50, p. 51).
15. “Si tratta – come è intuitivo – di norme che, attenendo all’organizzazione econo-
mica, hanno il rango di ordine pubblico, talchè non si può sfuggire al loro impero,
neppure sottoponendo il contratto ad altra legge o delocalizzando quanto più è
immaginabile. Esse comunque non solo fungerebbero come norme impeditive del
riconoscimento e/o esecuzione di sentenze o lodi, emanati in base a norme non
conformi, ma troverebbero applicazione automatica in quanto tutti gli Stati ne pre-
vedono l’amministrazione ad opera di autorità ad hoc o delle autorità giudiziarie,
che agiscono ex officio” (Frignani, Il diritto del commercio internazionale, p. 102).
16. Sobre a análise da jurisdição no campo do antitruste, v. o consistente estudo de Valéria
Guimarães de Lima e Silva, Direito antitruste. Aspectos internacionais, p. 44 e ss.
jurisdição sobre aqueles casos. Em outras palavras, atrai para a competência das
autoridades brasileiras (que passam a ter poder – ainda que concorrente – para
julgar) todas as condutas que possam vir a afetar os interesses econômicos, so-
ciais ou políticos do país. Jurisdição e lei aplicável, no caso, confundem-se.17-18
A aplicação de diversos critérios para determinação dos limites da juris-
dição (ou da lei aplicável) acarreta a possibilidade da existência de autêntico
conflito positivo de jurisdição.19 É o que acaba por acontecer, na maioria das
vezes, com os cartéis de exportação, que não raro são isentados ou ignorados
pela autoridade do país em que se verificou o acordo (pela aplicação do critério
da territorialidade), mas acabam condenados pelo país importador (conforme
o princípio dos efeitos).
Nos casos de jurisdições concorrentes, sucede com certa frequência
que ambos os países aplicam suas leis nacionais e proferem decisões sobre a
mesma prática, gerando questões que tangem à efetividade dos julgados e da
política por eles atuada. O país que isentou determinada conduta restritiva da
concorrência da aplicação da lei antitruste nacional muito provavelmente não
permitirá a execução, em seu território, de sentença ou decisão de autoridade
estrangeira condenando aquele mesmo ato.
Caso os agentes econômicos punidos possuam ativos, distribuidores ou
representantes no país que acabou por penalizar ou vedar a prática, a sanção
poderá ser direcionada sobre esses ativos, representantes ou distribuidores,
o que já não ocorre se o agente econômico considerado infrator não possuir
qualquer bem ou ligação com o país no qual se produzem os efeitos da prática
anticoncorrencial. Neste caso, serão por demais restritos os instrumentos de
que pode lançar mão o Estado para assegurar efetividade à sanção que aplicou.20
Há de se reconhecer que, como adverte José Ângelo Estrella Faria, “[a] capa-
cidade do Poder Executivo e dos tribunais nacionais de fazer face a práticas
transacionais restritivas da concorrência depende dos meios a seu alcance para
assegurar o cumprimento do direito nacional de concorrência por empresas
sediadas no estrangeiro”.
Bastante ilustrativo a esse respeito é o caso, constantemente referido
pela doutrina especializada, conhecido como o cartel dos relógios suíços. Os
exportadores suíços de relógios deram lugar a pacto neutralizando a concor-
rência entre eles e exportaram seus produtos para os Estados Unidos. Pelo
sistema americano, com base no princípio dos efeitos, a autoridade nacional
era competente para decidir sobre a questão, aplicando o Sherman Act. Com
o escopo de superar o problema da efetividade da decisão (uma vez que de
nada adiantariam decisões que devessem ser executadas na Suíça), o julgado
atingiu apenas os acordos entre empresas suíças e distribuidores americanos.21
A sentença foi dirigida às pessoas que estavam efetivamente (materialmente)
sujeitas à soberania norte-americana, de sorte que o ordenamento jurídico
interno assegurou a efetividade do julgado.
No ano de 1982, o Congresso estadunidense emanou o Foreign Trade An-
titrust Improvement Act (FTAIA) sobre a aplicação extraterritorial do Sherman
Act, determinando que, regra geral, a lei americana somente deve incidir sobre
situações em que o comércio daquele país é afetado. Assim, os arts. 1 a 7 do
Sherman Act incidem sobre as condutas que tenham (i) “direct, substantial,
and reasonable foreseeable effect” em seu comércio e (ii) cujos efeitos deem
origem à reclamações (“claim”) baseadas naqueles mesmos dispositivos legais.
Um dos escopos de tal disciplina, como comenta a doutrina especializada, foi
negar força às decisões estrangeiras que eventualmente contrariem interesses
econômicos ou empresas norte-americanos.
Embasada no FTAIA, em 2004, a Suprema Corte recusou a pretensão dos
reclamantes estrangeiros, que alegavam ter sofrido prejuízos decorrentes da
fixação de preços pelos fabricantes e distribuidores de vitaminas. Os julgadores
entenderam que a lei americana não poderia ser aplicada quando os prejuízos
sofridos pelos consumidores norte-americanos fossem independentes dos danos
experimentados pelos consumidores de outros países.22 A ideia principal, ex-
posta por Justice Breyer, é que “a purchaser in the United States could bring a
Sherman Act claim under the FTAIA based on domestic injury, but a purchaser
in Ecuador could not bring a Sherman Act based on foreign harm”.
22. Nas palavras da Suprema Corte norte-americana: “No one denies that America’s anti-
trust laws, when applied to foreign conduct, can interfere with a foreign nation’s ability
independently to regulate its own commercial affairs. But our courts have long held
that application of our antitrust laws to foreign anticompetitive conduct is nonethe-
less reasonable, and hence consistent with principles of prescriptive comity, insofar
as they reflect a legislative effort to redress domestic antitrust injury that foreign anti-
competitive conduct has caused. (…) We recognize that principles of comity provide
Congress greater leeway when it seeks to control through legislation the actions of
American companies, see Restatement § 402; and some of the anticompetitive price-
-fixing conduct alleged here took place in America. But the higher foreign prices of
which the foreign plaintiffs here complain are not the consequence of any domestic
anticompetitive conduct that Congress sought to forbid, for Congress did not seek to
forbid any such conduct insofar as it is here relevant, i.e., insofar as it is intertwined
with foreign conduct that causes independent foreign harm. (…). Regardless, even
where nations agree about primary conduct, say price fixing, they disagree dramati-
cally about appropriate remedies. The application, for example, of American private
treble-damages remedies to anticompetitive conduct taking place abroad has generated
considerable controversy. See, e.g., 2 ABA Section of Antitrust Law, Antitrust Law Deve-
lopments 1208-1209 (5th ed. 2002). And several foreign nations have filed briefs here
arguing that to apply our remedies would unjustifiably permit their citizens to bypass
their own less generous remedial schemes, thereby upsetting a balance of competing
considerations that their own domestic antitrust laws embody (F. Hoffman-La Roche
Ltd. et al. v. Empagran S. A. et al., 542 U.S. 155 (2004).
23. Luigi Fumagalli, Conflitti tra giurisdizioni nell’assunzione di prove civili all’estero,
p. 150.
26. Como relata Lowe, foi argumentado à época que “1) The antitrust laws of the Uni-
ted States of America (‘U. S.’) should not provide jurisdiction for U. S. courts to
investigate non U. S. companies and non U. S. individuals in respect of their actions
outside the U. S.; 2) For the purposes of United Kingdom sovereignty the U. K.
does not recognise any such investigation as having validity or as being proper; 3)
The matters set out above are rendered a fortiori by virtue of the penal character of
the antitrust laws; 4) Any use of the U. S. antitrust laws or procedures for the above
purposes, except with the authority of the U. K., is an invasion of and prejudicial
to U. K. sovereignty”. A Casa dos Lordes, por sua vez, acolheu integralmente essa
argumentação que havia sido deduzida pelo Poder Executivo (Blocking extraterri-
torial jurisdiction: the British protection of trading interests act, 1980, The American
Journal of International Law, p. 270). O desenrolar do caso do cartel do urânio foi
decisivo para que a Grã-Bretanha emanasse, em 1980, o British Protection of Trade
Interest Act, a que nos referimos adiante.
27. V., sobre o caso, Luigi Fumagalli, Conflitti tra giurisdizioni nell’assunzione di prove
civili all’estero, p. 158, nota 122. Verifique-se, também, Michel Calabrese (Jurisdic-
tion – Limitations on concurrent jurisdiction – U. S. Court may order discovery of
foreign documents, notwithstanding foreign law, if discovery will support national
policy, is vital to the litigation, and may be accommodated by the foreign sovereign,
Virginia Journal of International Law, p. 925 e ss.).
28. Cf. declaração do Secretário de Estado para o Comércio (Secretary of State for Trade),
transcrita por A. V. Lowe, Blocking extraterritorial jurisdiction: the British protec-
tion of trading interests act, 1980, The American Journal of International Law, p. 257.
Como assinala o mesmo autor, é sabido que esta lei de 1980 dirigia-se, frontalmente,
contra os efeitos extraterritoriais da legislação norte-americana.
mais, as cortes não podem dar execução a julgados estrangeiros que envolvam
questões de indenizações por perdas e danos ou relacionadas à apreciação de
práticas restritivas da concorrência (“involving the award of multiple damages
and of certain other judgements touching upon the control of restrictive prac-
tices”). Por fim, assegura-se ao cidadão britânico, contra quem foi imposto o
pagamento de indenização por uma corte estrangeira, direito de propor ação,
perante cortes nacionais, buscando recuperar a quantia paga em excesso.29
As leis de bloqueio, algumas vezes, assumem caráter desvantajoso para os
agentes econômicos nacionais, chegando a prejudicar suas atividades. Se, na
origem, a promulgação desse tipo de lei foi destinada a proteger os cidadãos e
as empresas, permitindo-lhes autênticos álibis para não cumprirem ordens de
autoridades estrangeiras, acabou por colocar o destinatário da norma em situa-
ção de conflito: caso cumpra sua lei nacional, pode ser sancionado pelo outro
país; de outra parte, se decidir colaborar com a autoridade estrangeira, deverá
suportar as penalidades que lhe são impostas pelas autoridades nacionais.
Em face dessa questão, a jurisprudência norte-americana posicionou-
-se afirmando a necessidade da adoção de um case by case approach, com a
consideração minuciosa do ato analisado.30 Fixaram-se algumas pautas de
interpretação que mandam considerar (i) a boa-fé do agente, de forma a se
constar que este não induziu voluntariamente a subsunção do caso à restrição
legal imposta por seu país, e (ii) os interesses que o país estrangeiro procurou
proteger quando da promulgação da blocking law.31
32. Vale a referência à opinião de Areeda e Kaplow (Antitrust analysis, p. 158): não se tra-
taria necessariamente de proteção dos interesses dos Estados Unidos, mas da atuação,
pelos tribunais americanos, de princípios gerais de antitruste: “(...) our courts do in
fact apply the antitrust laws in these situations, emphasizing the presence and deep
involvement of a U. S. firm, some domestic actions, substantial restraints on U. S.
markets at the core of the restrictive arrangement, conduct highly reprehensible by
antitrust standards, and usually minimal involvement by the foreign government,
which may have permitted but certainly did not require the challenged conduct”.
38. Na opinião de David Gerber, uma das maiores falhas dessa visão que pretende im-
por a análise antitruste baseada em critérios que seriam puramente econômicos é a
não consideração das especificidades dos países em desenvolvimento. (Economic
development and global competition Law convergence, 2013).
39. Charles A. James, Guiding principles and recommended practices for merger notification
and review.
40. Cf. David E. Vann e Ethan Litwin, Recent developments in international cartel en-
forcement.
41. Exemplos de outros convênios ou acordos de colaboração mantido pelas autoridades
antitruste brasileiras são União Europeia, Portugal, Federação Russa, Canadá, Chile,
Argentina e Mercosul.
42. Thomas Fritz, The wrong forum: competition policy in the WTO.
43. As palavras de Bernini (Un secolo di filosofia antitrust, p. 122) sintetizam essa cor-
rente de pensamento: “Manca, inoltre, un ente, agenzia od organo internazionale,
con giurisdizione internazionale, in materia antitrust. La disciplina giuridica degli
scambi internazionali è lasciata alle singole Autorità giudiziarie statali, che appli-
cano la loro legge nazionale. È un approccio unilaterale, esclusivo. Non ci si chiede
quale, di una moltitudine di leggi, nazionali od estere, sarebbe più opportunamente
applicabile ad un caso concreto. Ci si preoccupa solo di rivendicare egoisticamente
la giuridizione del proprio ordine giudiziario. Ciò provoca conflitti e sovrapposizioni
nel commercio internazionale, senza favorire la creazione di un tessuto unitario,
capace di comporre antinomie che non restano limitate al settore economico, ma
si spingono anche a livelli più marcatamente socio-politici”. A respeito da mesma
questão, é indispensável, para que se conheça a opinião mais difundida entre juristas
de países desenvolvidos, a consulta ao artigo de Karl M. Meessen, que, após analisar
as principais decisões tratando de conflitos derivados da extraterritorialidade das
leis antitruste, apresenta uma série de sugestões para seu superamento (Antitrust
jurisdiction under customary international law, The American Journal of International
Law, p. 783-810).
O primeiro ponto que merece relevo é que essa linha de pensamento deno-
ta a percepção do antitruste apenas como instrumento para eliminarem-se os
efeitos autodestrutíveis do mercado. Parte-se do seguinte raciocínio: práticas
restritivas da concorrência podem ser prejudiciais ao fluxo de mercadorias e,
portanto, devem ser reprimidas. Não vem valorizada, entretanto, a aplicação
de determinada política pública mediante a utilização das normas antitruste,
motivo suficiente para afastar a submissão da prática às autoridades estran-
geiras, não comprometidas com políticas internas.
Se por um lado a criação de uma autoridade supranacional pode ser solução
viável e útil para países que possuem política antitruste comum (como, por
exemplo, os países da União Europeia), de outro parece-nos bastante desa-
conselhável para os chamados países subdesenvolvidos. A adoção de modelo
estrangeiro pode implicar intromissão em política interna, principalmente
se estabelecida a submissão das cortes nacionais às linhas determinadas por
outra autoridade.
Ora, a partir do momento em que enxergamos as isenções como válvulas de
escape da legislação antitruste, permitindo sua permeabilização pela realidade
econômico-política de determinada sociedade, percebe-se que algumas deci-
sões de caráter absolutamente interno passariam a ser decididas por autoridade
supranacional.
Por fim, não se pode deixar de notar fenômeno que reiteradamente
tem se feito presente na jurisprudência antitruste brasileira. O fácil acesso a
precedentes norte-americanos tem feito com que muitas decisões do CADE
venham embasadas em decisões estrangeiras que nos são estranhas. Em outras
palavras, percebe-se, em muitos casos, uma “aplicação uniforme” de legisla-
ções bastante díspares e a referência a doutrinas e teorias moldadas a outra
realidade econômica e social que não a nossa. Não são raros os casos nos quais,
ao cotejar as peças dos processos administrativos, temos a nítida impressão
de estarmos todos trabalhando alhures, e não no Brasil. Lança-se, mais uma
vez, a advertência já colocada neste trabalho e que denota – acima de tudo –
profunda preocupação que se instalou nos meios especializados: a experiência
estrangeira, sem dúvida, constitui referencial útil para a condução de nossas
autoridades, mas não podemos perder de vista que tratamos, sempre, de vá-
rios ordenamentos jurídicos, com diversos princípios embasadores que não
podem ser ignorados. Em suma, precisamos vivificar e construir a nossa própria
tradição antitruste e, nisso, o empenho de advogados, agentes públicos, juízes
e membros do Ministério Público será fundamental.
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A.S. L8004