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Bioquímica dos Hormônios 

III: Eixo Hipotálamo-Hipofisário

 
Introdução  
 
A interligação dos sistemas nervoso e  
endócrino está representada pelo sistema
Outros neurônios geram axônios que
hipotálamo-hipofisário.
  se dirigem à região da eminência
O hipotálamo é uma região altamente média, liberando suas secreções nos
especializada do sistema nervoso, desprovida
capilares que existem em grande
de barreira hematoencefálica e, portanto,
susceptível de sofrer influências humorais escala nessa região.
além das influências neurais, para modular seu  
funcionamento. Esses capilares formam a primeira
 
Transdutores neuro-endócrinos (hormônios região capilar do sistema porta
produzidos pelo hipotálamo e responsáveis hipofisário; eles se agrupam em
pela transformação dos diferentes impulsos vênulas e veias portais, as quais
neurais recebidos de várias partes do sistema
atravessam toda a região tuberosa da
nervoso central em variados níveis de taxas
hormonais) habitualmente atuam estimulando adeno-hipófise.
ou inibindo a produção de hormônios pela  
glândula hipófise, a qual funciona como uma
Praticamente todo o sangue que
amplificadora dos discretos sinais hormonais
gerados pelos neurônios do hipotálamo. atinge a adeno-hipófise passou
  previamente pela eminência média,
Dos núcleos supra-óptico e para-ventricular
de forma que pequenas quantidades
partem axônios que se dirigem à neuro-
hipófise através do pedículo hipofisário, de hormônios aí lançados pelo
terminando naquela porção posterior da hipotálamo resultam em grande efeito
hipófise. sobre as células alvo
 
Sob estímulos apropriados, os corpos adenohipofisárias, uma vez que
celulares daqueles neurônios sintetizam elevadas concentrações são aí
arginina-vasopressina (ADH) e oxitocina, os encontradas pois o volume de
quais migram para a neuro-hipófise ligadas às
distribuição dos mesmo é muito
neurofisinas, sendo estocados
provisoriamente na neuro-hipófise. pequeno (= há muito pouco sangue
 
Descargas neurais poderão, posteriormente, contido aí).
induzir a liberação destes hormônios no
sangue, com a resultante elevação de seus  
teores no plasma e, conseqüentemente, seus
efeitos biológicos. Os Hormônios Hipotalâmicos que regulam
  a hipófise são denominados
Hormõnios de liberação e inibição da hipófise hipofisiotrópicos.
 
Até o momento, foram identificados 5
Neurônios hipotalâmicos podem produzir duas (cinco) diferentes moléculas
qualidades de hormônios: Hipofisiotrópicos, hipofisiotrópicas:
que regulam o funcionamento da
adenohipófise, e Neurohipofisários, que são CRH (hormônio Estimulante da
estocados e liberados na neurohipófise. Liberação de ACTH)
 
TRH (hormônio Estimulante da Liberação
A secção do pedúnculo hipofisário resulta
de TSH)
sistematicamente na redução de liberação de
todos os hormônios adenohipofisários, à GnRH (hormônio Estimulante da
exceção da prolactina. Liberação de Gonadotropinas  -  FSH e
  LH)
Isto porque a liberação de hormônios
adenohipofisários está na dependência de GHRH (hormônio Estimulante da
Liberação de GH)
hormônios ou fatores de liberação de GH,
ACTH, TSH, gonadotrofinas (LH e FSH) mas a GHRIH (hormônio Inibidor da Liberação
prolactina é naturalmente produzida pela de GH  -  que é a somatostatina)
glândula hipófise seccionada, sendo, em
condições fisiológicas, sua produção inibida PRIH ((hormônio Inibidor da Liberação
pelo Hormônio de inibição da prolactina. de Prolactina  -  que é a Dopamina)
 
 
A secreção dos hormônios hipotalâmicos
hipofisiotrópicos é pulsátil.  
 
   
GH ou somatotrofina (STH)
   
Este hormônio afeta a velocidade de
 
crescimento e aumento do peso corporal.
Mecanismo de ação do GH
 
 
Ele é sintetizado sob a forma de um precursor
Os efeitos lipolítico e antiinsulina se
de cadeia longa, o qual é estocado na célula
devem à sua ação direta, enquanto
adenohipofisária em resposta à chegada de
que sobre o crescimento, como já
GH-RH via sistema porta hipofisário.
  exposto, se dá diretamente por elevar
  o teor de somatomedinas no plasma.
Principais efeitos
  Denomina-se somatomedina as
1. Aumento do crescimento corporal, devido à substâncias que possuem a
capacidade de elevar a captação de
sua ação sobre a cartilagem epifisária: muitos
sulfato marcado no ácido condroitin-
dos efeitos sobre o crescimento são mediados sulfúrico da cartilagem.
indiretamente, já que se operam somente após
a produção hepática GH-induzida de Pelo menos seis somatomedinas já
somatomedinas. foram até o momento identificadas, a
  saber:
2. Ação anabólica, que aumenta a incorporação
somatomedina A
de aminoácidos pelas células com aumento da
síntese de RNA e proteínas tanto pelo fígado somatomedina B
quanto por tecido periférico. somatomedina C
  IGF-I (fator I do crescimento,
  semelhante à insulina)
3. Efeito hiperglicemiante, um efeito IGF-II (fator II do crescimento,
semelhante à insulina)
antiinsulínico (pró-diabético) que envolve a
redução na captação periférica de glicose Atividade estimulante de
multiplicação (estimula cultura de
(resistência periférica à ação da insulina) além
células hepáticas).
de aumento na produção hepática de glicose,
por estímulo à gliconeogênese. Como as somatomedinas são
  diretamente controladas pelos níveis
  de GH, seus níveis plasmáticos são
4. Aumento no teor de glicogênio, nos muito baixos após hipofisectomia e
músculos esqueléticos e cardíaco. estão extremamente elevados na
acromeglia.
 
   
5. Efeito cetogênico, a administração contínua
de GH produz a hipercetonemia, cetonúria e Mecanismo de secreção do GH
acúmulo de gordura no fígado (aumento na  
mobilização de gorduras). Diversos estímulos geram aumento
  no teor plasmático de GH: sono,
exercícios, hipoglicemia, inanição,
Somatostatina:  depleção protéica e estresse são os
mais importantes. 
O responsável pela inibição de secreção do  
GH, a somatostatina, é um tetradecapeptídeo.
A secreção do hormônio do
  crescimento ocorre de modo pulsátil,
com muitos surtos pequenos ao
  longo do dia. 
   
  Níveis elevados de GH inibem a
  secreção de GH-RH pelo hipotálamo,
  fenômeno conhecido pelo nome de
TSH ou Hormônio Estimulante da Tireóide retroalimentação negativa de alça-
  curta. 
Também conhecido pelo nome de tireotropina
e tireotrofina, esta substância atua sobre  
receptores de membrana de célula folicular da
tireóide induzindo elevação na formação de  
tireoglobulina, elevação na velocidade de
 
captação e digestão do colóide e estímulo à
divisão celular folicular.   
 
Com isso, pode-se verificar aumento no  
tamanho da glândula e da produção do
hormônio pela mesma.   
 
 
O segundo mensageiro da tirotropina, o qual
medeia a ação intracelular do TSH, é o AMP  
cíclico.
   
 
   
 
 
 
3. Prolactina  
 
A prolactina executa pelo menos 3 diferentes  
efeitos:
   
1. Anabólico: semelhante ao do GH, porém de
 
muito menor intensidade biológica.
   
2. Mamotrófico e Lactogênico: o tecido
mamário não cresce adequadamente se além  
de estrógenos, glicocorticóides e GH também
existir níveis adequados de prolactina. A  
lactogênese depende da indução de síntese, na
célula da glândula mamária, da caseína
(proteína do leite) e da alfa-lactoalbumina (uma
substância envolvida na síntese do açúcar  
específico do leite, a lactose).
   
3. Antigonadotrópico: em condições de
 
hiperprolactinemia; como a que ocorre durante
a lactação pós-parto, é freqüente a ocorrência  
de amenorréia; a prolactina atua inibindo a
esteroidogênese induzida pela gonadotropina Mecanismo de ação da Prolactina
sobre os ovários, além de reduzir a  
sensibilidade hipotalâmica aos sinais É curioso salientar que a prolactina
habitualmente envolvidos na produção do exerce sobre seus receptores na
GnRH (liberador de gonadotropina). célula-alvo uma ação absoluta oposta
  àquela exercida normalmente pelos
  demais hormônios: a prolactina eleva
  a quantidade de receptores na célula-
  alvo. 
   
  Isto é conhecido como "up-
4. ACTH (hormônio adrenocorticotrófico) regulation": quanto mais hormônio,
  maior o número de receptores na
Sua ação principal consiste em elevar a célula-alvo e, portanto, maior a
velocidade de conversão de colesterol em sensibilidade tecidual á sua ação.
pregnenolona reação limitante da síntese de  
esteróides, razão porque seu efeito é aumento É desconhecido o mecanismo pelo
da síntese e secreção de esteróides supra- qual a prolactina induz seus efeitos
renais. após a interação com seu receptor.
 
   
 
 
 
   
 
5. Gonadotrofinas: FSH, LH:  
 
Serão abordados quando do estudo do Ciclo  
Menstrual
 
 
   
 
 
Hormônios Neurohipofisários
   
6. Vasopressina (ADH)
  ACTH é, além de trópico, um
hormônio trófico: o uso crônico de
A vasopressina acelera a reabsorção de água glicocorticóides como
ao nível dos túbulos distais renais, resultando antiinflamatório é comum, e leva à
na eliminação de urina mais concentrada. A supressão da produção de ACTH
este efeito deu-se o nome de Hormônio Anti- hipofisário.
diurético.
  Após corticoterapia de longa duração
a córtex adrenal pode estar atrofiada
No homem, 0,1 mg produz efeito anti-diurético
por falta do estímulo trófico do ACTH,
máximo.  podendo o paciente morrer de crise
  addisoniana (insuficiência supra-
Devido ao rápido metabolismo hepático, a meia renal aguda) se ocorre suspensão
vida do ADH é de apenas 12 minutos. abrupta da corticoterapia.
Em elevadas concentrações, o ADH induz
constricção de arteríolas.  
 
 
Nas células hipotalâmicas que sintetizam ADH
existem osmorreceptores altamente sensíveis,  
capazes de detectar alterações de apenas 2%
na osmolalidade.  
 
   
 
 
7. Oxitocina
   
Palavra derivada do grego (oxytos,
"nascimento rápido"), este hormônio  
determina a contração da musculatura lisa do
útero, além da contração de células  
mioepiteliais da mama, determinando desse  
modo e expulsão de leite previamente formado  
por atuação da prolactina (este efeito é  
chamado "ejeção de leite").  
   
O principal estímulo para a liberação da  
oxitocina é a sucção da mama.  
   
O controle da secreção de ADH e oxitocina são  
independentes, de modo que a sucção do
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Biossíntese e secreção
 
mamilo não resulta em secreção aumentada de
Os hormônios neuro-hipofisários são
arginina-vasopressina, ou vice-versa.
formados nos núcleos supra-óptico e
paraventricular do hipotálamo, por
células distintas.
 
Uma vez formados, são transportados
como complexos ligados às
neurofisinas (neurofisina I: liga-se à
oxitocina; neurofisina II: liga-se ao
ADH), sendo armazenados para
posterior liberação no lado posterior
(neuro-hipófise).
 
Fig 2: Oxitocina e ADH

Bioquímica dos Hormônios  IV: A Glândula Tireóide


 
Introdução  
   
Esta glândula deriva seu nome da raiz grega que significa O estudo da
"escudo" (tyros, escudo; óides, semelhante a).  glândula tireóide é
  relativamente
Enquanto glândula endócrina, a tireóide não possui antigo, dada a
quaisquer ductos por onde possa liberar sua produção; tem facilidade de
dois lobos ligados por um ístmo que descansa na porção acesso para
anterior da traquéia, logo abaixo da cartilagem cricóide.  estudo. 
   
A tireóide destingue-se das demais glândulas endócrinas  
por uma série de razões, sendo a mais curiosa o fato de A condição mais
armazenar um estoque de hormônio tireoidiano numa freqüentemente
quantidade suficiente para satisfazer o consumo de até 130 relacionada à
dias!  tireóide é o bócio
  endêmico.
Tal característica representa verdadeira temeridade, pois  
implica potencial perigo de vida caso quantidades elevadas  
desse hormônio estocado seja eventualmente liberado de Bócio é o nome
modo agudo para a corrente sangüínea.  dado a qualquer
  aumento da
Embora seja uma condição cada vez mais rara, essa glândula tireóide
alteração endócrina de graves repercussões metabólicas além de seus 40g).
eventualmente ocorre, determinando o fenômeno descrito  
como "tempestade tiroidiana".   
  No passado, o
A explicação para a existência desse extraordinário estoque bócio era uma
de hormônios foi encontrado através de estudos condição tão
conduzidos em animais inferiores, nos quais a glândula freqüente que era
tireóide se apresenta não como glândula endócrina, e sim considerado
como glândula exócrina.  deselegante não
  possuí-lo!
Nesse caso, existem túbulos que confluem para ductos de  
secreção que permitem a liberação da tireoglobulina para o  
tubo digestivo, onde sofre digestão pelas proteases  
gastrintestinais; assim os hormônios tireoidianos passam  
para a corrente sangüínea por absorção a partir da luz  
intestinal.   
   
A tireóide desempenha, então, seu papel hormonal sem que  
o animal corra risco de vida pelo acúmulo do hormônio Hormônios da
tiroidiano potencialmente fatal no interior do organismo.  Tireóide 

Bioquímica dos Hormônios  IV: A Glândula Tireóide

 
Aspectos filogênicos   

Tirosina iodada, como MIT (monoiodotirosina) e DIT  


(diiodotirosina) são encontrados já nos invertebrados, tais
como moluscos, crustáceos, anelídeos e mesmo insetos. 
No estágio larval da
Apesar disso, nenhum tecido tiroidiano foi encontrado lampréia, o tecido
nestes animais; de fato, somente nos vertebrados pode ser
capaz de iodinar
encontrado tecido reconhecível como tiroidiano. 
aminoácidos mantém
Existem outras provas filogênicas de que a tireóide era
comunicação com a
originalmente uma glândula exócrina anexa ao tubo
gastrintestinal.  faringe, mas durante
a metamorfose,
As glândulas salivares e as gástricas são, do mesmo modo
que a tireóide, capazes de concentrar iodeto, pois adquire a condição
possuem uma bomba de iodeto semelhante à encontrada
de tecido endócrino,
na tireóide. 
ao perder a referida
Ao longo do demorado processo de seleção natural, o
comunicação com o
homem e demais vertebrados perderam a capacidade de
gerar os sistemas caniculares que drenavam a tubo digestivo. 
tireoglobulina para o trato gastrintestinal. Isso impede que
a tireoglobulina passe a se acumular na própria glândula
Tal tireóide produz
tireóide (como ocorre no homem), sob a forma de colóide
cercado pelas células produtoras do hormônio tanto T3 (3,5,3’
(foliculares). 
triiodo-tironina)
O armazenamento do colóide pode ser uma adaptação quanto T4 (3,5,3’,5’
evolutiva, evitando os efeitos de períodos de carência com
tetraiodo-tironina ou
pouca captação de iodo. 
tiroxina). 
A glândula tireóide está localizada na frente da traquéia, na
porção anterior do pescoço. 
 
Ela atua primariamente sobre a taxa do metabolismo,
A calcitonina
formada nas células
segregando para o sangue os hormônios tiroxina (T4 um
pró-hormônio) e triiodotironina (T3 o hormônio ativo) C ou parafoliculares
produzidos nas células epiteliais de seus folículos, a partir da tireóide, influencia
da tirosina e do iodo inorgânico (iodeto inorgânico, I-). 
a taxa de
A glândula tireóide armazena seus hormônios, T3 e T4, metabolismo do osso
ligados a uma glicoproteína, a tireoglobulina, mantendo-a
fora da célula folicular, numa secreção viscosa, o colóide, e é secretada por
contido no lúmem dos folículos.  quatro glândulas

O iodo necessário à síntese hormonal é obtido a partir de paratireóides


pequenas quantidades presentes nos alimentos e nas mergulhadas no
bebidas. 
interior da tireóide. 

Bioquímica dos Hormônios  IV: A Glândula Tireóide

 
Aspectos Embriológicos   

A tireóide origina-se da faringe primitiva.  No embrião humano, a


tireóide se forma às custas de
Surge como uma invaginação da parede um esboço mediano na
ventrocentral da faringe, entre o primeiro e o parede ventral da faringe
segundo arcos braquiais, na quarta semana da vida primitiva (tubérculo
fetal.  tireoidiano), entre as
extremidades abertas do
O esboço tireoidiano, na sua descida, fica unido à segundo arco braquial. 
faringe por uma haste oca, denominada conduto
tireoglosso, o qual se atrofia completamente antes Recebe dois esboços laterais
do nascimento.  provenientes da quinta bolsa
braquial, que trazem as
Quando isto não ocorre podem-se formar cistos células produtoras da
tireoglossos em seu trajeto, os quais podem-se calcitonina (células
manifestar muitos anos após.  ultimobranquiais ou células
C). 
A persistência dessa união embrionária entre a
tiróide e a faringe, o canal tireoglosso, constitui a Cresce caldalmente até se
anomalia de desenvolvimento mais comum e colocar em contato com os
clinicamente importante.  grandes vasos do pescoço. 

O conduto tireoglosso pode terminar um fundo  


cego, próximo do osso hióide ou pode comunicar-
se com a faringe através do forâmen cego na base  
da língua. 
A evolução da glândula
Apresenta-se geralmente sob a forma de uma tireóide no feto compreende o
massa simétrica e lisa, na parte mediana do início de sua função ao fim
pescoço e em posição acima da tireóide, das primeiras 10 a 11
deslocando-se durante a deglutição.  semanas de vida, quando
surgem definitivamente T3 e
Freqüentemente, pode ser infectado e raramente dá T4. 
origem a um carcinoma da tireóide; por essas
razões, aconselha-se retirar todo e qualquer Como a placenta é totalmente
remanescente do conduto tireoglosso tão logo seja impermeável aos hormônios
descoberto.  tiroidianos, o feto depende de
sua própria tireóide para
Em casos de anomalia na descida do esboço obter estes hormônios. 
tireoidiano, pode ser encontrado no adulto um
tecido tireoidiano desde a base da língua até a parte O TRH (mas não o TSH)
inferior do pescoço e parte superior do mediastino.  materno atravessa livremente
a placenta, tendo importante
Os mais comuns são os bócios linguais, na base da papel na manutenção do eixo
língua, que podem existir como tireóide normal ou hipófise-tiroidiano do feto. 
constituir o único tecido tireoidiano funcionante. 

Bioquímica dos Hormônios  IV: A Glândula Tireóide

 
Aspectos Anatômicos   

Quando a glândula alcança a maturidade, está localizada A tireóide é considerada


em frente à quinta, sexta e sétima vértebras cervicais.  uma das maiores
glândulas endócrinas,
Como ela repousa em relação à traquéia e está envolvida pesando em média 25g,
pela aponeurose cervical, que é ligada à cartilagem tireóide, mas dotada de enorme
a glândula move-se juntamente com elas, para cima, potencial para
durante a deglutição.  crescimento, compondo
o bócio.
A tireóide possui dois lobos laterais conectados, ao nível
do terceiro ao quinto anéis traqueais, por um istmo Há casos de bócio em
formado por fina camada de tecido tireoidiano, do qual que a glândula pesa
pode surgir um lobo piramidal.  várias centenas de
gramas. 
 
 
 
 
 
Eventualmente, um lobo
  piramidal pode surgir
próximo ao istmo,
Aspecto Anatômico da Glândula sobretudo em glândula
hipertrofiada. 
O istmo tem aproximadamente 0,5 cm de espessura, 2 cm
de altura e 2 cm de largura.  O lobo piramidal,
quando existe, aparece
Cada lobo mede em média 2,0 cm de espessura, 2,5 de como uma delgada
largura e 4,0 cm de altura.  massa de tecido que
emerge do istmo e que
A glândula é circundada por cápsula fibrosa a partir da qual se dirige para cima e
trabéculas de tecido conectivo se invaginam na substância para um dos lados da
da glândula, dividindo-a, assim, em numerosos lóbulos.  linha média;
corresponde à última
A tireóide normal pesa cerca de 20 a 40 g no adulto, porção do duto
variando o peso com o sexo, a idade e fatores endêmicos, tireoglosso. 
como o bócio. 
 
O tamanho adulto da glândula (de 20 a 35 g) é alcançado na
idade de 15 anos.   

Cada lobo tiroidiano é formado por estruturas esféricas  


denominadas folículos, que consistem de colóide
arrodeado por uma camada única de células epiteliais  
dotadas de membrana basal. 
 
A composição do colóide é essencialmente protéica
(tiroglobulina), que contém o estoque de T3 e T4.   

   

   

Vascularização  Em portadores de bócio


hipertireoideo, a artéria
A glândula tireóide é um órgão muito vascularizado, tireoidiana inferior pode
sangrando abundantemente durante cirurgias tipo ser tão volumosa
tireoidectomia.  quanto a carótida
primitiva, ocasião em
A tireóide recebe sua irrigação sangüínea das artérias que pode ser audível
tireoidianas superior e inferior, e freqüentemente a artéria um sopro sobre a
tireóidea nasce da aorta ou da artéria inominada.  glândula. 

Há uma quantidade considerável de anastomoses  


vasculares ente os vasos tiroidianos. As artérias
tireoidianas superior e inferior comunicam-se através de  
um tronco anastomótico, atrás dos lobos laterais. Este
tronco é uma espécie de guia para as glândulas Existem três pares de
paratireóides.  veias que drenam a
glândula além de outras
  veias acessórias. As
veias tireoidianas
Circulação linfática superior e média
desembocam na jugular
A drenagem linfática é muito intensa e tem um significado interna, enquanto que a
especial quando existe um carcinoma. Os vasos linfáticos inferior conflui como um
intraglandulares conectam livremente um lobo a outro, tronco que desemboca
através do istmo.  na inominada esquerda.
As veias cobrem a
A drenagem externa é feita para os gânglios pré-traqueais, superfície da glândula,
freqüentemente em associação com o nervo recorrente da anteriormente e sobre a
laringe, para os gânglios da cadeia jugular profunda e traquéia, e se
triângulos secundários vizinhos e também para gânglios do anastomosam
mediastino superior.  livremente cruzando o
istmo. 
Tais linfonodos devem sempre ser pesquisados à procura
de características patológicas, que podem ocorrer quanto
há metástase de neoplasia tireoidiana. 

Inervação

A inervação da tireóide vem dos gânglios cervicais médio e


inferior da cadeira simpática, e acompanha os vasos
sangüíneos. 

Além desses, o laríngeo superior e o recorrente da laringe,


ambos sendo ramos do vago, estão tão estreitamente
próximos que podem ser vistos constantemente durante
uma tireoidectomia. 
Bioquímica dos Hormônios  IV: A Glândula Tireóide
 
Aspectos Histológicos   

Microscopicamente, a tireóide é composta por muitos As glândulas paratireóides


pequenos folículos esféricos.  estão dentro de um estroma
de tecido conjuntivo que
A unidade funcional básica da tireóide é o folículo está em continuid*-de com
tiroidiano, uma formação esferóide com diâmetro a cápsula da glândula
variado entre 50 a 500 m, com média ao redor de 180 tireóide. 
m. 
Os folículos são
Uma única camada de células reveste a vesícula circundados por rica rede
folicular, cheia de fluido viscoso , denominado colóide.  capilar.

O epitélio folicular é constituído por dois tipos  


celulares: células foliculares dotadas de
microvilosidades e que são produtoras dos hormônios  
tireoidianos, e células claras (ou parafoliculares), em
muito menor número, responsáveis pela produção de Cada lóbulo recebe sangue
calcitonina.  por uma artéria que lhe é
exclusiva. 
As células epiteliais que circundam o colóide são
cubóides.   

Uma membrana basal circunda o folículo e está  


estreitamente relacionado ou, mesmo, amoldada a uma
rica rede de capilares que a circunda.  No folículo em repouso, o
epitélio está achatado e há
Em repouso, o núcleo da célula folicular é central e, ao grande quantidade de
microscópio eletrônico, somente uma pequena colóide. Este epitélio torna-
microvilosidade ocasional pode ser vista se projetando se pregueado e as células
do citoplasma da célula para dentro do colóide.  aumentam de tamanho,
tornando-se colunares
Os folículos tiroidianos estão ligados um ao outro, em quando ocorrem hiperplasia
grupos de vinte a quarenta, formando o que se e hipertrofia no curso de
denomina lóbulo, grupos de lóbulos estão agrupados um quadro de
em um lobo.  hipertiroidismo. 

As células foliculares não possuem características  


estruturais específicos, apenas as usuais em células
especializadas na produção de proteínas para  
exportação. 
As células para-foliculares,
O citoplasma contém retículo endoplasmático extenso, um conjunto de células
com complexo de Golgi amplo, rico em vesículas engajadas no controle da
contendo principalmente tiroglobulina em vários calcemia, difusas pelo
estágios de amadurecimento. Há grande quantidade de tecido tiroidiano, produzem
mitocôndrias, refletindo o elevado nível de atividade calcitonina . 
metabólica. 
Elas diferem das células
Sob estímulo do TSH hipofisário, o complexo de golgi foliculares principalmente
aumenta adicionalmente, formam-se pseudópodes porque nunca fazem
aumentando a superfície apical da célula e invadindo o fronteira com o colóide, e
colóide, com intensa atividade de pinocitose (ou têm menor quantidade de
rofeocitose, "rofeo= colóide). mitocôndrias e retículo
endoplasmático rugoso. 
Os núcleos podem estar no centro das células, e
verificam-se numerosas mitoses. Nestas circunstâncias,
o colóide existe em pequena quantidade, a
vascularização da glândula aumenta e encontram-se, no
estroma, infiltrados linfocíticos. 

A hiperatividade leva à hipertrofia do aparelho de golgi e


ao aumento da quantidade de mitocôndrias. Eleva-se a
quantidade de microvilosidades que se estendem para
dentro do colóide, aumentando a área de superfície da
célula; isso facilita os mecanismos de transporte
através da membrana celular, em qualquer direção, ou
seja, tanto para colocar tiroglobulina recém-sintetizada
no colóide como para englobar o colóide presente no
interior do folículo. 

Quando a atividade glandular diminui com o tratamento


bem conduzido, segue-se à hiperplasia um processo de
involução no qual as células acinosas tendem a achatar-
se, e o colóide acumula-se novamente. 

Este acúmulo de colóide dentro dos folículos,


acompanhando pelas alterações fibróticas no estroma,
confere à glândula um aspecto globular. 
Bioquímica dos Hormônios  IV: A Glândula Tireóide

 
Biossíntese dos Hormônios Tireoidianos   

A glândula tireóide tem como precípua função É bem conhecido que a


produzir, armazenar e liberar para o consumo tiroxina e sobretudo a
periférico dois derivados aminoácidos iodados triidotironina estimulam
(tironinas): um tetrassubstituído, a tetraiodotironina, diretamente o metabolismo
ou tiroxina (T4) e outro trissubstituído, a tecidual em todas as idades,
triiodotitonina (T3).  atuando como um grande
catalisador na operação de
  vários sistemas enzimáticos. 

Metabolismo do iodo   

A absorção intestinal de iodeto é praticamente total, e A tireóide contém cerca de


as duas principais fontes de depuração plasmática 90% do iodo corporal total,
são a tireóide e o rim.  primariamente sob a forma
orgânica, ou seja, ligado a
A ingesta diária de iodo varia de acordo com a região compostos orgânicos. 
geográfica do mundo, numa faixa que vai de até
menos de 20 g a até 700 g, em certas regiões dos  
EUA; não há dados seguros a respeito de Brasil. 
Todo o iodo presente nos
É muito provável que os adeptos da chamada cozinha hormônios tiroidianos deriva
baiana tradicional, em função de freqüente abuso de basicamente, dos produtos
sal (que é iodado), faça ingesta de iodo ainda maior alimentícios salgados e da
que 700 g/dia.  água potável; somente em
alimentos de origem marinha
A captação ideal de iodeto para adultos é calculada é que há iodeto em
como sendo de 150 a 300 g/dia.  quantidades suficientes para
satisfazer as necessidades
Uma ingesta abaixo dessa faixa leva invariavelmente à diárias sem suplementação
condição conhecida como bócio endêmico.  presente no sal iodado. 

Um consumo diário de 150 g é normalmente  


suficiente para salvaguardar contra o
desenvolvimento do bócio.  O consumo dietético
inadequado constitui a causa
O elemento entra no organismo através do alimento mais importante da
ou da água, como iodeto iônico (I-), iodo (I2) ou como deficiência de iodo, gerando
iodo em combinação orgânica.  bócio endêmico. 

A maioria das formas é reduzida durante a digestão,


sendo absorvida como iodeto inorgânico, mas alguns  
compostos iodados orgânicos, incluindo a tiroxina,
podem ser absorvidas intactas do trato O iodeto absorvido deixa de
gastrintestinal.  circular pelo sangue através
dos mecanismos: absorvido e
Todo o iodeto absorvido distribui-se em um espaço concentrado pela tireóide ou
de aproximadamente 25 litros de líquido, atingindo excretado na urina. 
uma concentração plasmática no adulto normal entre
1 e 3 g/dl.  O percentual de iodeto
captado pela tireóide a cada
O organismo perde o iodo principalmente através do 24 horas varia amplamente, na
rim e, em menor quantidade, nas fezes.  dependência do nível de
ingesta. 
A quantidade de iodo eliminada diariamente na urina
depende da ingesta e é maior numa área onde o sal de Nas áreas em que a ingesta é
mesa é o iodado ou onde se consome muito peixe superior a 50 g, a captação
marinho e/ou os achados frutos do mar.  pela tireóide oscila entre 5 e
30%. 
A maior parte dos hormônios circulantes é
desiodinada e o iodo assim liberado retorna à reserva  
de iodo do plasma. 
 
O corpo humano contém um pool de 20 a 50 mg de
iodo e a maior parte dele se encontra na tireóide.   

No adulto, são movimentados 60 a 120 g de iodo  


hormonal por dia e o estoque de hormônio tireóideo
constitui uma reserva para 7 a 15 semanas.   

   

   

Biossíntese de Hormônio Tiroidiano   

São descritas quatro fases seqüenciais:   

1. Captação do iodeto   

2. Síntese da tiroglobulina   

3. Digestão da tiroglobulina   

4. Liberação do hormônio.   
   

Captação de iodeto pela tireóide   

Exceto na vigência de intoxicação por iodeto, em que  


os níveis plasmáticos deste halogênio está
enormemente elevada, a síntese adequada dos A entrada de iodeto na célula
hormônios tiroidianos requer que o iodeto penetre na excede o ritmo de
tireóide mais rapidamente que o possibilitado por organificação e o ritmo de
difusão passiva a partir do líquido extracelular.  retrodifusão de volta para o
interstício. 
Por este motivo, a glândula tireóide é dotada de um
mecanismo altamente sofisticado para captar iodeto Desse modo, a concentração
ou, simplesmente, bomba de iodeto, que se de iodeto intracelular é
responsabiliza por fornecer todo o iodeto necessário sempre de 25 a 40 vezes
à intensa síntese hormonal.  maior que a do plasma,
compondo aquilo que se
A tireóide concentra iodeto contra um gradiente convencionou chamar de
eletroquímico:  razão tireóido-plasmática de
iodeto. 
Elétrico porque o iodeto é negativo e o interior da
célula onde penetra também;  Em tireóides
hiperfuncionantes, esta razão
Químico, porque a concentração intracelular é 25 a 40 pode elevar-se para até 500. 
vezes maior que o externo.
O mecanismo íntimo de
Normalmente a tireóide contém cerca de 10 g de atuação da bomba de iodetos
iodeto livre ou permutável, em comparação com 5000 ainda não foi esclarecido, mas
a 7000 g de iodo organicamente ligado.  sabe-se hoje que a energia
necessária para este
O iodeto passa do capilar para o interstício tiroidiano transporte ativo deriva da
por simples difusão, mas do líquido intersticial para o operação de uma ATPase
interior da célula folicular há transporte ativo, Na+K+ modificada.
mediante operação da bomba de iodeto ATP-
dependente .   

Este iodeto bombeado mescla-se com o originado por  


desiodinação de aminoácidos iodados da própria
tireóide.   

A captação do iodeto pela tireóide é estimulado pelo  


TSH, que aumenta a quantidade (hiperplasia) e o
tamanho (hipertrofia) de cada célula.   

Assim, a captação de iodeto está diminuída pela


hipofisectomia ou quando a produção do TSH é  
deprimida por uso de hormônio tireóideo exógeno. 
 
Os íons perclorato e o tiocianato inibem o mecanismo
de transporte de iodeto, reduzindo deste modo a  
síntese de hormônio por falta de matéria-prima. 
 
Carbonato de litium, administrado em pacientes com
psicose maníaco-depressiva, interfere com várias  
etapas do metabolismo tiroidiano do iodo, podendo
inibir a liberação do hormônio.   

A dexametazona, um glicocorticóide sintético,  


também é capaz de interferir no metabolismo do iodo
pela tireóide.   

O tecido tireoidiano não é o único capaz de  


concentrar iodo, já que isso também ocorre com as
glândulas salivares, a mucosa gástrica e intestinal, as  
glândulas mamárias, o colo uterino e a placenta. 
 
Estes órgãos possuem bombas extra-tireoidianas de
iodetos. O iodeto incorporado pelas tireóides é logo  
organificado, isto é, fixado em aminoácidos para usa
utilização na síntese da tiroxina e da triiodotironina.   

Ao contrário, as glândulas salivares, a mucosa  


gástrica e intestinal e a placenta não são capazes de
organificar o iodeto captado, isto é, não o fixam em  
substâncias orgânicas. 
 
A glândula mamária, por sua vez, seria capaz de
produzir diiodotirosina em vez de tiroxina ou  
triiodotironina. 
 
 
 
 
 
 
 
A formação da tiroglobulina 
 
A tireoglobulina é uma glicoproteína contendo cerca
de 5 000 aminoácidos (PM 660 000); de conteúdo em O processo de glicosilação é
carboidrato não muito grande (aproximadamente muito mais lento que a síntese
10%), e que inclui glucosina, fucose, galactose, da cadeia polipeptídica,
manose e ácido siálico.  podendo representar a etapa
limite do processo de
Os aminoácidos que farão parte da tireoglobulina biossíntese da tiroglobulina. 
compõem o pool extracelular, sendo transferidos do
plasma para as células foliculares; os mesmos são Usualmente, cada molécula de
reunidos numa seqüência específica ditada pelo tiroglobulina leva 4 horas para
RNAm transcrito do gene para tiroglobulina, mediante ser sintetizada. 
tradução citoplasmática ribossômica. 
A tireoglobulina é armazenada
O produto que sai do retículo é a pré- no colóide folicular em
protireoglobulina.  camadas semelhantes a
escamas de cebola. As
A pré-pró-tireoglobulina é armazenada no complexo camadas mais superficiais,
de golgi, onde sofre reação com os carboidratos que são as formadas mais
(processo de glicosilação), convertendo-se em pré- recentemente, são também as
tireoglobulina.  primeiras a ser utilizadas. 

A passagem do retículo endoplasmático rugoso, onde  


é sintetizada, para o complexo de Golgi ocorre através
migração por canais específicos.   

A pré-tireoglobulina é transformada em tireoglobulina  


madura mediante as reações de iodinação
(organização do iodeto inorgânico), quando surgem  
MIT (em pequena proporção), DIT (grande
quantidade), T3 e T4.   

De uma maneira geral, cada tireoglobulina contém  


uma ou duas moléculas de T3, algumas moléculas de
T4 e várias moléculas de MIT e DIT.   

   

   

A Organificação do Iodeto  Peroxidase

A organificação do iodeto, ou seja, sua conversão A peroxidase da tireóide é


numa forma de maior valência capaz de iodinar encontrada fortemente ligada
resíduos tirosil da tiroglobulina, corresponde ao às membranas subcelulares
segundo passo da biossíntese hormonal.  da célula folicular da tireóide,
principalmente as do retículo
A iodinação é feita pela peroxidase da tireóide, a endoplasmático e a
hemoproteína cujo grupo prostético é muito membrana plasmática apical. 
semelhante à hemoglobina. 
A enzima é uma
A oxidação feita pelo iodo peroxidase da tireóide hemoproteína, com
utiliza peróxido de hidrogênio gerado normalmente necessidade absoluta de
pela célula.  H2O2. 

O peróxido de hidrogênio pode ser produzido na  


tireóide com participação do NADPH e da citocromo
redutase microssômica.  O iodeto deve perder um
elétron para que possa
No processo de organificação, parece que é formado deslocar o hidrogênio do anel
o íon iodinium (I+), sendo o peróxido de hidrogênio o aromático da tirosina.
agente oxidante.  Iodotirosina é então produzida
por uma reação entre o radical
O iodeto deve perder um elétron para que possa iodo e o radical tirosina. 
deslocar o hidrogênio do anel aromático da tirosina. 
O aceptor de elétrons,
Iodotirosina é então produzida por uma reação entre o portanto, oxidante imediato é
radical iodo e o radical tirosina.  o peróxido de hidrogênio,
formado através redução do
Cada molécula de tireoglobulina possui de 120 a 140 NADH por meio da citocromo
resíduos de tirosina (valores obtidos por diferentes redutase. 
laboratórios de pesquisa), dos quais somente 25
estão iodados.  A reação do iodo com a
tirosina engloba a produção
O iodo se une à posição 3 da molécula da tirosina, de um radical de iodo livre e
obtendo-se a 3-monoiodo-tirosina (MIT). Esta é em também a oxidação da
seguida iodinada no carbono 5, dando origem 3,5 tirosina ao unir-se a este
diiodo-tirosina (DIT).  radical. 

  Concentrações elevadas de
iodo podem inibir esta reação,
A iodoperoxidase da tireóide é um complexo compondo parte do efeito
enzimático presente na membrana celular voltada Wolf-Chairkoff. 
para o colóide (superfície apical), nas membranas do
retículo endoplasmático e nas cisternas do complexo  
de Golgi das células foliculares. 
 
A iodinação orgânica ocorre mais intensamente na
interface célula folicular-colóide (borda apical), onde  
está grande quantidade de tiroglobulina recém-
sintetizada sendo exocitada para dentro do colóide.   

No processo de acoplamento,
  uma molécula de DIT liga-se
ao grupo fenólico de outra
  molécula de DIT, formando
uma molécula de tiroxina (T4)
  e deixando a cadeia lateral da
alanina ainda presa à cadeia
A reação de acoplamento  polipeptídica. 

Após a formação de MIT e DIT, ocorre condensação Quando uma molécula de MIT
também oxidativa destas iodotirosinas, mediada outra se acopla a uma de DIT,
vez pela peroxidase ocorre dentro da molécula de forma-se triiodotironina (T3). 
tireoglobulina, gerando T3 e T4. 
 
Na superfície da molécula de tireoglobulina, a enzima
de conjugação (a mesma peroxidase) é capaz de unir  
duas moléculas de DIT, formando uma molécula de T4.
Pode, eventualmente, unir uma molécula de DIT com  
uma MIT, gerando T3. 
 
Como são formadas mais moléculas de DIT que de
MIT, é mais provável a formação de T4 que de T3, e por Este processo de
isso é maior a liberação de tiroxina que de acoplamento parece criar
triiodotironina.  condições de estabilidade à
estrutura da tireoglobulina. 
Quando totalmente iodinada, uma molécula de
tireoglobulina contém cerca de 6 a 7 resíduos de MIT  
(monoiodotirosina), 4 a 5 DIT (diiodotirosina), 3 a 4 T4
(tiroxiina) e 0,2 a 0,3 de T3 (triiodotironina).   

Esses percentuais indicam que nem toda molécula de Fig. 3  Hormônios da Tireóide
tireoglobulina contém T3. 

A reação de acoplamento é possível graças à


presença, na tireoglobulina, de 240 resíduos de
cisteína, a maioria estabelecendo pontes dissulfeto
intracadeia, o que aproxima uma parte da cadeia
polipeptídica de outra distante na estrutura primária;
desse modo, é possível a proximidade dos resíduos
MIT e DIT situados distantes uns dos outros quando
se considera a estrutura primária da proteína. 

Tanto a organificação do iodeto quanto o


acoplamento são inibidos pelas tiouréias, compostos
usados no tratamento de hipertiroidismo.
Bioquímica dos Hormônios  IV: A Glândula Tireóide

 
O efeito Wolf-Chairkoff   

O efeito Wolf-Chairkoff consiste no bloqueio, por altas doses O efeito usualmente é


de iodo dadas agudamente, sobre as reações de transitório, mas em
organificação e acoplamento, com inibição da glândula algumas pessoas o
tireóide. uso crônico de iodo
está associada a
Considerando-se o papel fisiológico do iodeto na síntese de diminuição da
hormônios tireóideos, parece paradoxal que a presença de atividade da glândula
elevadas concentrações plasmáticas de iodeto possa exercer tireóide.
efeitos inibitórios sobre a função da glândula tireóide. 
Indivíduos com
Este efeito antitireóideo requer concentrações elevadas de hipertireoidismo da
iodeto no sangue, os quais podem ser alcançados com doença de Graves-
ingesta de lugol (solução supersaturada de iodo).  Basedow são
particularmente
Tal ação parece ser devida ao bloqueio de alguns dos efeitos sensíveis ao efeito,
do TSH, tais como estimulação da adenilato-ciclase tireóidea podendo inclusive
e da captação de gotículas de colóides pelas células desenvolver
foliculares.  hipotireoidismo
quando tomam iodo
Devido a esse efeito, o iodeto tornou-se clinicamente útil no cronicamente. 
tratamento do hipertireoidismo, sobretudo como medida de
preparação no pré-operatório.  A tireóide fetal é
particularmente
  sensível ao efeito
Wolf-Chairkoff, de
Além dos efeitos das altas concentrações de iodeto acima modo que mulheres
descritos, pode-se administrar I131 (iodo radioativo) em altas grávidas devem evitar
doses a pacientes com hipertireoidismo.  o uso de iodo, pois
isso pode produzir
Este iodo acumula-se na glândula pela operação da bomba bócio com
de iodetos, sofre organificação em 10 segundos e mata a hipotiroidismo no
célula por lesão radioativa.  feto. 

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