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INTRODUÇÃO

Em 2004 levantou-se a proposta da criação de Papucaia,


localidade do 2° distrito de Japuiba, no município de Cachoeiras de
Macacu (RJ), tendo como base o decreto n° 30.077, de 19 de outubro
de 1951, do então presidente Getúlio Dornelles Vargas, que criou o
Núcleo Colonial de Papucaia. A premissa adotada foi de que, a partir

NÚCLEO COLONIAL deste decreto, se teria originado a mencionada localidade. Poderíamos


então afirmar que ela não existiria antes de exarado esse documento?

DE PAPUCAIA Nas cópias de documentos apresentados pela Divisão de


Pesquisa e Patrimônio Histórico da Secretaria Municipal de Educação e
Cultura, em 2004, como colaboração à comissão organizadora do “Dia
de Papucaia”, já teria sido possível ter uma análise mais crítica da
proposta de uma “origem” da localidade a partir do mencionado decreto,
face ao que foi apresentado naquele momento - e que vai novamente
exposto aqui. Entretanto, o decreto existe, criou o Núcleo Colonial de
Papucaia e isto, evidentemente, não contestamos.
Propomos neste ensaio analisar as hipóteses abaixo, na busca
de um contexto histórico mais amplo do que nos possibilita o decreto n°
30.077, de 19 de outubro de 1951, o que entendemos, constitui-se numa
abordagem extremamente reducionista na explicação da formação da
CACHOEIRAS DE MACACU
localidade:
OUTUBRO/2005
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O Decreto de 1951, exarado pelo presidente Getúlio Dornelles Vargas, não partir de 1951, contrapondo-as ao mesmo decreto.Corroboradas nossas
nos parece destinado à “fundação” da localidade de Papucaia como um hipóteses, parece-nos possível que a escolha de um “dia de Papucaia” é
lócus geográfico de origem a partir daquela data. política, no sentido que a mesma provém da busca de uma demarcação
que nos pareceu, na visão de seus idealizadores, aleatória.
O Decreto tem objetivo de oficializar uma ação governamental de posse e Isto, porém, não significa que esta mesma intenção - de
uso da terra em local pré-definido e já, histórica, geográfica e politicamente “fundação” de Papucaia - tenha sido expressa no período
conhecido, como etapa de uma política de desenvolvimento de um “cinturão contemporâneo à criação do Núcleo Colonial, ou seja, que a publicação
verde” para produção de gêneros alimentícios nas periferias dos grandes do Decreto n° 30.077e a efetiva criação deste Núcleo significa menos a
centros urbanos. “fundação” de uma localidade que uma recorte no processo histórico da
região, vista num âmbito macro, a um projeto político do governo Vargas
A criação do Núcleo Colonial de Papucaia, portanto, não nos parece ligado à ocupação da terra e à fixação de mão-de-obra na área rural
referendar sua “fundação”, mas um recorte no processo histórico da através da criação de projetos de expansão e utilização de imigrantes e,
localidade – e por extensão, do município em questão, independente de sua como já dissemos, produção de gêneros alimentícios para o grande
denominação. centro urbano.
Cumpre esclarecer que: os documentos apresentados neste
A criação do Núcleo Colonial de Papucaia veio trazer uma dinâmica social e estudo devem ser relativizados, no tocante ao fato que se tratam de
econômica àquela localidade, transformando a ocupação do espaço e as documentação emitida por instituições de governo, portanto, significando
relações sociais no decorrer dos anos seguintes. o discurso destas mesmas instituições e o não esgotamento do assunto
em si, visto que certamente outros agentes históricos estiveram
Há outras referências de reconhecimento da localidade como local já presentes no processo de desapropriação, repartição, distribuição,
historicamente consolidado, como um definido lócus de ocupação e posse e uso da terra, como elementos presentes no sucesso ou não da
exploração econômica inerentes a cada recorte histórico privilegiado. política governamental proposta, bem como satisfação de interesses
destes outros agentes históricos envolvidos. Isso, só um estudo
Na tentativa de justificar essa, apresentar-se-ão fontes que aprofundado, que não é o objeto deste trabalho, pode oferecer.
fundamentam a antítese a uma “criação” ou “fundação” de Papucaia a
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Nosso objetivo é oferecer subsídios para a busca das identidades CAPÍTULO I


de Papucaia, buscando o resgate da história desta localidade que
contribua - junto com outros trabalhos afins - para o estabelecimento de O município de Cachoeiras de Macacu é originado do extinto
uma visão de conjunto da história regional de Cachoeiras de Macacu. município de Santo Antônio de Sá, criado em 05 de agosto de 1697 pelo
então governador da capitania do Rio de Janeiro, capitão-general Arthur
Vinicius Maia Cardoso de Sá e Menezes. Fundada entre a confluência dos rios Macacu e
Divisão de Pesquisa e Patrimônio Histórico Cacerebu e na proximidade da foz do Guapiaçu naquele, a sede desse
município antigo, a vila homônima de Santo Antônio de Sá ficava como
ponto de controle do acesso aos “sertões” e um entreposto comercial da
região da bacia do Macacu, para onde confluía a produção agrícola de
propriedades situadas em parte do recôncavo da baía da Guanabara, de
onde seguia para a “mui leal e heróica cidade do Rio de Janeiro.”
Até a segunda metade do século XIX, o rio Macacu foi, para
Santo Antônio de Sá e suas freguesias, a principal via de escoamento
de pessoas e produtos. A partir do estabelecimento da rede ferroviária,
em 1860, o abandono da via fluvial foi acelerado e transferido o eixo
econômico para as localidades de Sant`Ana de Macacu (Japuiba) e
Cachoeiras, localizadas à beira dos trilhos. Incluímos aí a parada da
localidade de Papucaia, como centro de atração de passageiros e
mercadorias - arroz, feijão, milho, farinha, madeiras etc. Com a extinção
da ferrovia no final dos anos 60 do século passado, com a posição
hegemônica do transporte rodoviário através das RJ 116 e 122,
deslocaram-se os eixos econômicos para as margens destas rodovias.
Se as ferrovias foram vias por onde fluiu a exportação de
gêneros da produção agrícola, bagagens, animais, madeiras e o trânsito
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de passageiros, o mesmo se daria com as estradas de rodagem, tendo Estes “proprietários” entrariam em conflito com produtores rurais
às suas margens se estabelecido, e aqui entramos no objeto deste que encontravam-se, ainda, naquelas áreas, num processo de expulsão
nosso trabalho, o Núcleo Colonial de Papucaia, na intenção de viabilizar do homem do campo através da grilagem, onde a violência foi um
um eficiente escoamento da produção. elemento presente neste processo. Tal realidade irá aparecer de forma
Dentro do contexto da posse da terra, a região da bacia do mais evidente nas disputas pela posse da terra na área da fazenda São
Macacu, altamente irrigada por uma capilaridade fluvial de vulto, vai José da Boa Morte e com a Agro Brasil Empreendimentos Agrícolas S/A.
ocasionar, por motivo do surgimento de áreas alagadiças, uma
quantidade considerável de brejos e pântanos, incubadores naturais de
doenças parasitárias e transmissíveis por vetores aéreos, como
mosquitos transmissores de malária.
No acertado dizer de Maia Forte, de que a Vila de Santo Antônio
de Sá foi construída em local nada apropriado - e uma visita ao sítio
onde se encontrava a Vila nos demonstra claramente o que afirmamos -
a constância de surtos de febres epidêmicas trouxe o abandono de
áreas, aliado ao não aproveitamento de várias extensões de terras
situadas em terrenos alagados.
Com os projetos de saneamento realizados na região a partir dos
anos 30, na busca de solução dos surtos malarígenos, valorizaram-se
estas áreas antes abandonadas - hoje Agro-Brasil e São José da Boa
Morte - o que provocou o aparecimento de “proprietários” das terras,
portadores de documentos que “confirmavam” a propriedade destas
áreas, agora economicamente valorizadas pela eliminação das doenças
e pela ampliação de áreas aproveitáveis, para a produção agrícola,
criação de animais de pasto ou para a especulação imobiliária,
viabilizadas pelos projetos de drenagem das áreas alagadas,.
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Este distrito, dentro de um contexto geográfico atual, juntamente


CAPÍTULO II
com o 1º, de Cachoeiras de Macacu, compunham a freguesia da
Santíssima Trindade, que possuía o conjunto de igrejas seguinte: Igreja
Como primeira hipótese tem-se que:
Matriz da Santíssima Trindade (Igreja Velha, na localidade de Papucaia)
e 4 capelas filiais à Matriz: Nossa Senhora do Monserrate1, que
O Decreto de 1951, exarado pelo então presidente Getúlio Dornelles
pertenceu à Ordem de Nossa Senhora do Carmo (desaparecida),
Vargas, não nos parece se destinar à “fundação” da localidade de Papucaia
localizada na região de Papucaia; Nossa Senhora da Conceição da
como um lócus de origem a partir daquela data. 2
Papocaia (desaparecida); Santa Anna,3 (particular) na Fazenda da

O vocábulo Papucaia - cujo significado não nos parece ter sido, 1


“- da Senhora do Monte do Carmo, na Fazenda da Religião Carmelitana. Não sei da sua fundação
ainda, elucidado através de uma fonte confiável - sofreu várias pela mesma causa apontada na capela de Santa Ana, da mesma Religião, na Freguesia de
Magepí. Achei-a muito asseada e bem paramentada pelo atual Fazendeiro Fr. Inácio Gonçalves,
alterações no decorrer das décadas e, nas primeiras referências, que que mostra ter sobre ela muito especial zêlo. Nesta há só o uso de Sepulturas. Dista da Matriz [da
Vila de Santo Antônio de Sá] 8 legoas.” E no rol dos engenhos daquela freguesia, Pizarro
datam do século XVI, não se encontrava grafado desta forma. Afim de menciona o engenho de açúcar “da Religião do Carmo, que terá pouco mais de 40 escravos, e móe
com bestas. Dista 8 legoas.” (ARAÚJO, José de Souza Azevedo Pizarro e.Visitas Pastoraes - 1794-
discorrermos sobre esta denominação, será necessário seguir o 1795 Freguesia da Santíssima Trindade. Cópia datilografada do original manuscrito. Arquivo da
Cúria Metropoilitana do Rio de Janeiro)
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caminho das igrejas da região, em especial, a capela de Nossa Senhora “Eréta pelos Jesuítas, e conservada por eles como Curada. Com a extinção [os Jesuítas foram
expulsos do Brasil em l759]deste passou com a Fazenda a mesma capela para o domínio do
Capitão Nicoláo Bonarrota, por compra feita à fazenda Real; e por falecimento deste, casando-se a
da Conceição da Papocaia, que pertenceu à Companhia de Jesus, a mulher com Antonio de Oliveira Braga, passou ao mesmo o Senhorio da Fazenda com a Capela.
De paramentos, e alfaias, e de prata para o seu uso, e serviço, está muito bem sortida; e tudo se
única, ao que nos parece e confirmam os documentos, de origem e conserva com asseio. Tem Sacrário, que é doirado por dentro, e ornado com cortinas de seda
d’oiro, da qual também é o pavilhão da Píxide: e deles se faz uso no tempo da Quaresma. Tem Pia
propriedade desta ordem religiosa, ao contrário do que se pensava para Batismal de barro, porém muito perfeita, lavrada e sã, e Âmbulas para os Santos Óleos. Tem um só
Altar; e a Capela é muito esbelta, e asseada: nela faz-se uso de Sepulturas para os escravos da
a “Igreja Velha”, de Papucaia, Sant´Ana e São José da Boa Morte. Fazenda, por conceção do Pároco. Dista 1/2 légua para o Sul”. (ARAÚJO, José de Souza Azevedo
Pizarro e.Visitas Pastoraes - 1794-1795 Freguesia da Santíssima Trindade. Cópia datilografada do
Acerca da Pedra do Colégio, o “fato” de ter existido lá alguma original manuscrito. Arquivo da Cúria Metropoilitana do Rio de Janeiro)

organização jesuítica se encontra ainda no campo do lendário e da mera 3


“Sant’Ana, na Fazenda chamada Japoahiba, hoje do Convento de N. Sra. D’Ajuda desta Cidade,
por doação e ttº de dote de 3 filhas de Manoel Ferreira da Silva, que alí professaram em 1759. Foi
especulação, e não existe qualquer comprovação para tal afirmação. eréta por faculdade do Ilmo. Sr., Bispo D. Fr. Antonio de Guadalupe, em despacho de 22/4/1731 á
requerimento do dito Manoel Ferreira da Silva , e de sua mulher Mariana Rodrigues, passando-lhe
Portanto, a presença jesuítica em nossa região, esteve certamente Provisão de ereção aos 3/9/1.732. Foi benzida aos 11/4/1.733 pelo R. Vigário José Rodrigues
Paixão. Á requerimento dos mesmos foi-lhe concedido o uso de Pia Batismal em Provisão de
delimitada ao atual 2° distrito, de Japuíba. 5/6/1.734 que é de pedra mármore, grande e muito perfeita. Tem patrimônio estabelecido na
mesma Fazenda, por escritura celebrada no ano de 1.732. Aqui faz-se uso de Batismos, e de
Santos Óleos para os Enfermos: Tem uso de Sepulturas, das quais se utiliza grande parte da
Freguesia com notável prejuízo da Fabrica da Matriz, e dos direitos paroquiais, de que são causa
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Japoahiba, ereta por Manuel Ferreira da Silva e Mariana Rodrigues, em da Jurisdição Eclesiástica Dr. Francisco da Silveira Dias. O apontamento
1732 (atual igreja de Japuíba) e Nossa Senhora da Conceição, na mais antigo sobre ela foi extraído por Pizarro de um livro para registro de
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Cachoeira , de 1750, erigida por Antônio Possidônio (particular - batismos, feita a abertura pelo 1º Capelão Curado R. José Pereira. Diz o
desaparecida) texto:
Referindo-se à capela que seria sua igreja matriz, a Igreja da “1675 - Livro dos Assentos - para os batizados brancos, negro, e
Santíssima Trindade, Pizarro anotou que: do gentio da terra, que se fizerem na Capela da Trindade, sita no Rio de
Macacú Recôncavo desta Cidade do Rio de janeiro, a qual comecei a
“(...) em 1600 e tantos anos; foi essa mesma criada em Cura, servir a 10 de agosto de 1675 anos.” 6
para com mais prontidão serem socorridos com os Sacramentos os
povos mais vizinhos...” 5 Daí surgiria a freguesia da Santíssima Trindade. Esta primeira
matriz arruinou-se e, em 1737, o Visitador José de Souza Ribeiro
Esta foi uma das mais antigas igrejas construídas nessa região. d’Araújo...
Em 1675, foi elevada à categoria de Curada pelo Revmo. Administrador
... “lamentando a decadência, ruína, e indignidade em que ela se
principalmente os RR capelães, que tem havido, e os Administradores da Fazenda assalariados achava, conseguiu que o povo tomasse em deliberação a construção de
pela Me. Abadessa do mesmo Convento.[...] Atualmente residia aqui por Capelão o R. José Carlos,
a quem pagam ordenado alguns Fregueses Aplicados, e vizinhos por não quererem ir á sua Matriz, novo Templo, que se efetuou em outro lugar pouco mais distante
ou por lhes ser mais cômodo a satisfação dos preceitos da Igreja nesta Capela. Dista 1.1/2 leg. Ao
NE da Matriz.” (ARAÚJO, José de Souza Azevedo Pizarro e.Visitas Pastoraes - 1794-1795
Freguesia da Santíssima Trindade. Cópia datilografada do original manuscrito. Arquivo da Cúria
daquele.” 7
Metropoilitana do Rio de Janeiro)
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“Nossa Senhora da Conceição, na Cachoeira, eréta por faculdade do Exmo. Sr. Bispo D. Fr.
Antônio do Desterro em Provisão de 23/11/1750; e benzida por faculdade do mesmo Senhor em o Foi construída a segunda igreja da Santíssima Trindade, e em
1º de agosto de 1.754 á requerimento de Antonio de Sam Possidônio. Tem patrimônio feito na
mesma Fazenda, por Teresa de Jesus, viúva do mesmo, como consta da certidão da sentença 1743...
dada aos 02/07/1787, que me foi apresentada. Não tem faculdade de Pia Batismal, nem faz uso de
Sepultura. Está bem ornada, e asseada pelos seus administradores, que são os herdeiros daquele
Possidôneo. Dista 2.1/2 leg. Para o N. da Matriz.” (ARAÚJO, José de Souza Azevedo Pizarro
e.Visitas Pastoraes - 1794-1795 Freguesia da Santíssima Trindade. Cópia datilografada do original ... “concluída a Capela Maior e em termos asseada, para ela foi
manuscrito. Arquivo da Cúria Metropoilitana do Rio de Janeiro)
mandado pelo Revmo. Dr. Visitador Henrique Moreira de Carvalho, em
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ARAÚJO, José de Souza Azevedo Pizarro e.Visitas Pastoraes - 1794-1795 Freguesia da
Santíssima Trindade. Cópia datilografada do original manuscrito. Arquivo da Cúria Metropoilitana do
Rio de Janeiro 6
Idem
7
Ibidem
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sua Visita do mês de fevereiro de 1743, que se mudasse as Imagens, N. S. do Monserrate, como já dissemos, foi igreja construída pela
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Pia Batismal, Santos Óleos e tudo o mais...” Ordem de N. S. do Carmo10. Pizarro menciona a doação da fazenda
feita aos Carmelitas feita pelo capitão Domingos Garcia.
A capela principal da segunda Matriz da Santíssima Trindade foi Na Biblioteca Nacional, Setor de Manuscritos, o “Livro de Tombo
benzida em 3/5/1743 pelo Vigário Anastácio Rodrigues de Barros. O das Terras e Bens dos Carmelitas no Rio de Janeiro” apresenta uma
corpo da igreja e o terreno que serviria de Cemitério, em 16/12/1744, escritura de compra da fazenda do Monserrate, que Domingos Garcia
pelo mesmo Vigário. Ainda podemos ver os restos desta igreja na fez a Gaspar de Magalhães, a qual depois legou àquela Ordem. O
localidade de Belém, em Papucaia, 2º distrito de Japuíba. Restam duas documento nos resgata informações sobre um engenho de açúcar, na
paredes da nave e uma da capela-mor, com seu óculo. É popularmente região de Papucaia, já no século XVII (1651) e a existência também de
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conhecida como Igreja Velha. um pequeno “porto” para o escoamento da produção.
Entre as igrejas, a que sobreviveu e, pelo menos, ainda está em
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“Aos trinta e hum dias do mês de Julho de mil sete centos e sincoenta e coatro na Capella do
uso, embora já muito modificada em seu projeto original, é a de Monserrate da fazeenda dos religiozos do Carmo, desta fregezia da Santíssima Trindade; o
Reverendo Superior da dita fazenda Frei Bartholomeu de Santa Anna co licença minha baptizou
Sant’Anna, “salva’ provavelmente por encontrar-se em área urbana. Foi ssolenemmente e pos os Santos Óleos ao innocente Manoel filho legitimo de Jozeph Seberino e de
sua mulher Brites Barboza assistentes em caza de Jozeph Pereira Sarmento Parochiano desta.
ereta em 1732 por Manuel Ferreira da Silva e sua esposa, Mariana Foram padrinhos Jozeph Pereira Sarmento e sua filha Agueda Pereira, solteira; nasceu aos vinte e
sete deste prezente mês e anno e por ser verdade, fiz este assento, que assignei, era ut supra: de
Rodrigues.9 claro que me foi aprezentada huma certidão jurada do dito Religiozo de haver feito o dito baptizado.
Vig. Joze Ferreira da Silva.” Livro de Assento de Batizados Brancos da Freguesia da Santíssima
Trindade. Original manuscrito. s/d.

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“Escreptura de venda de terras q’ fes Gaspar de Magalhães a Domingos Garcia q’ pertenssem a
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Ibidem fazenda do Mons-Serate em Macacú. 1651
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“Sant’Ana, na Fazenda chamada Japoahiba, hoje do Convento de N. Sra. D’Ajuda desta Cidade, Saibam quantos este p.co instrum.to de Escriptura de venda de Engenho virem que, no
por doação e ttº de dote de 3 filhas de Manoel Ferreira da Silva, que alí professaram em 1759. Foi anno do Nascim.to de Nosso Senhor Jezus Christo de mil e seis centos e cincoenta e hum annos, e
eréta por faculdade do Ilmo. Sr., Bispo D. Fr. Antonio de Guadalupe, em despacho de 22/4/1731 á nos catorze dias do mês de Abril do ditto anno em esta cidade de Sam Sebã.º do Rio de Janeyro
requerimento do dito Manoel Ferreira da Silva , e de sua mulher Mariana Rodrigues, passando-lhe em pouzadas de Gaspar de Magalhaiñs, aonde eu t.am fui, e sendo lá por elle e bem assim sua
Provisão de ereção aos 3/9/1.732. Foi benzida aos 11/4/1.733 pelo R. Vigário José Rodrigues molher Catherina Roiz’, por ambos juntos me foi dito em prezença das testemunhas ao diante
Paixão. Á requerimento dos mesmos foi-lhe concedido o uso de Pia Batismal em Provisão de asignadas, que elle tinha hum Engenho de fazer asuquar no Rio de Macacú da Emvocação N. ª Sr.ª
5/6/1.734 que é de pedra mármore, grande e muito perfeita. Tem patrimônio estabelecido na do Mons-Serrate; o qual engenho estava situado em quinhentas brassas de testada, que comessam
mesma Fazenda, por escritura celebrada no ano de 1.732. Aqui faz-se uso de Batismos, e de donde acabam duzentas brassas , que elles vendedores deram a seu genro Fran.co Vieira, e
Santos Óleos para os Enfermos (...) Tem uso de Sepulturas, das quais se utiliza grande parte da acabam athe emtestar com Pedro Pinheiro com todo o sertam q’se achar do Rio de Macacú athe o
Freguesia com notável prejuízo da Fabrica da Matriz, e dos direitos paroquiais, de que são causa Rio de Imbuy, o qual engenho e caza de engenho, e caldeiras, com huã caldeira e tres tachos e sua
principalmente os RR capelães, que tem havido, e os Administradores da Fazenda assalariados bacia de Resfriar, e os coias meudos com desaseis bois de Roda, e carro com coatro carros, trez
pela Me. Abadessa do mesmo Convento.[...] Atualmente residia aqui por Capelão o R. José Carlos, vzados, e hum novo a moenda chapeada, com tres aguilhoiñs de sobresalente, corenta e sete
a quem pagam ordenado alguns Fregueses Aplicados, e vizinhos por não quererem ir á sua Matriz, chapas entre novas e velhas formão de tijolos os q’se acharem e tudo o mais pertençente ao d.º
ou por lhes ser mais cômodo a satisfação dos preceitos da Igreja nesta Capela. Dista 1.1/2 leg. Ao engenho; o q’tudo atras declarado disseram vendiam, como com efeito venderam a Domingos
NE da Matriz.” Garcia em presso, e contia de quatro mil, e quinhentos cruzados pagos na maneyra seguinte:saber
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Sobre Nossa Senhora da Conceição da Papocaia (v.Nota 2), ao Brasil, parece não ter se interessado em aventurar-se em lugar de
precisamos recuar um pouco no tempo e caminhar um pouco pela vida tão dura como era a Colônia, tanto que, em 1571 fez doação de sua
historiografia tradicional de Cachoeiras de Macacu. sesmaria em Macacu para a Companhia de Jesus.
Em 1567 foi doada uma sesmaria a Miguel de Moura, escrivão da Em “História da Companhia de Jesus no Brasil”, do padre
Fazenda Real, fiel secretário do rei português D. Sebastião, “o Serafim Leite, temos:
Desejado”. Esta sesmaria, que começava na foz do rio Macacu na baía
da Guanabara e se estendia cerca de quatro léguas (mais ou menos 25 “...a doação confirmada em Lisboa, por El Rei, a 17 de
quilômetros) para o interior. Miguel de Moura, que, diga-se, nunca veio dezembro de 1571, supriu todos os possíveis defeitos, e registrou-se no
Rio de Janeiro com o cumpra-se do Governador Cristóvão de Barros, a
mil cruzados da feitura desta a hum anno, e os mais pagamentos hiram correendo de anno em
anno, e no ultimo anno que vem a ser no de sincoenta e seis, os quinhentos cruzados em 27 de outubro de 1573. Nesse mesmo dia, tomou posse das terras o
asuqueres brancos, e mascavados, postos no engenho de Estevão Tourinho, a como valerem no tal
tempo em pagamentos nesta prassa com declaração q’elles vendedores se passam p.ª outras procurador do Colégio, Gonçalo de Oliveira. Para isso, ele e as
terras que estam, alem do Rio de Imbuessim nas quais terras sendo a elle comprador necessario
alguns paos Reais, e madeiras p.ª o engenho elles vendedores seram obrigados a lhos dar, e deixar autoridades competentes foram numa canoa ao Rio Macacu, com as
tirar, e fazer caminhos p.ª os tirar, a elle d.º comprador, e que sendo cazo que as terras q’ficam a
elles vendedores se queiram vender sera afrontado a elle Senhor de Engenho, e querendoas tanto cerimônias usuais. Não se fizeram então as devidas demarcações “por
pelo tanto seram vendidas a elle comprador com declaraçam que nas terras q’ ficam a elles
vendedores hajam de meter gado seram obrigados a se çercar, e pastoralo de modo q’ não lhe faça causa da guerra”, ficando para logo que houvesse paz.”
dano as terras e plantas, delle comprador e declaraçam q’ nesta venda entrava a cana, q’ elles
vendedores tem de prezente, e a posse, e administração da Ermida com seus aviamentos p.ª nella
selebrarem; com mais declaraçam q’ elles vendedores se serviram pello caminho q’ esta feito de
carro, athe o porto, e havendosse de servir com carro ajudaram a comcorrerlhe, e havendo de Os jesuítas encarariam este problema da guerra que, digamos,
trazer bois p.ª hum carro no pasto do Engenho o poderam fazer com tanto que ajudaram a limpar o
pasto; e nesta maneira me mandaram fazer esta Escreptura em q’ obrigaram suas pessoas, e beiñs
moveis, e de Rais, em comprimento desta Escriptura, cada hum na parte q’ lhe tocar, dizendo mais
teria “atrasado” a posse das terras recebidas de Moura. Serafim Leite,
elles vendedores, q’ de si tiravam toda a posse, e dominio, e senhorio, q’ tinhão no d.º engenho,
terras, e mais couzas declaradas na Escreptura, e de tudo o havia por empossado pella clauzula
sobre esta “guerra” com os índios da região do Macacu comenta que,
constituti p.ª q’ de tudo façam o q’ bem lhe estiver como couza sua que he comprada pr seu
dinheyro, e com feé de testemunho de verdade, fis esta Escriptura, em q’ pella vendedora e a seu logo após o seu término teria sido possível fazer a medição das
Rogo, asignou se genrro Fran.co Vieyra, sendo mais pr Testemunhas Manoel Antunes Viana - e
Bertholameu da Figr.ª pessoas de mim T.am conhecidas q’com os contrahentes asignaram, e eu sesmarias e, igualmente, ser criada a Aldeia de São Barnabé, próxima à
Pero da Costa T.am do publico judicial e notas q’ o escrevi Gasppar de Magalhaiñs // asigno a Rogo
de Çatherina Roiz // Fran.º Vieyra // Bertholameu Figueira Testemunha // Manoel Antunes // A qual freguesia de N. Senhora do Desterro de Itambi.
Escrtipura eu M.el da Silva Viana T.am publico do judicial e notas nesta villa de S. Antonio de Sâa
fis tresladar, de hum treslado q’ esta junto a huns auctos de cauza cível q’ correm neste juizo Após encerrada esta “guerra” com os índios, os jesuítas
ordenario entre partes o R.do Pe Reitor do Collegio Fr. De Souza contra Fr.co de oliur.ª Pais
capp.am major Anto Pinheiro Garcia f. 101 e vs os quais ficam em meu poder, e cartorio a q’ me passaram à medição das terras em julho de 1579, tendo sido encerradas
Reporto, e na propria forma em q’ esta junta aos d.os auctos, a corri, concertei e subescrevi, e
asignei de meus signais Razos de q’ vzo nesta ditta villa aos desasete dias do mês de Janeyro de em 1599 (20 anos!). As medições encontram-se registradas no “Livro de
1717 annos”.
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Tombo do Colégio de Jesus do Rio de Janeiro”, transcrição feita por D. (6.600 m) acima, em linha reta, atingiriam com certeza as terras hoje do
Leite de Macedo, publicada pela Biblioteca Nacional. município, na região de Agro-Brasil, e Papucaia. No Tombo jesuítico
O Macacu tinha valor como ponto de reunião e fixação de Índios, estas terras aparecem denominadas de “a légua da Sapucaia.”
que adquiriram à sua roda várias sesmarias. E até, para irem, entretanto Como Cristóvão de Barros possuía terras em Magé e os jesuítas
vivendo, se alojaram às vezes nas terras dos Padres, os Índios descidos em 1571 passariam a donos das terras de Miguel de Moura, conflitantes
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do sertão, enquanto não recebiam dos Governadores terras próprias. com as de Cristóvão de Barros, em Macacu, aconteceu uma coisa bem
As terras onde se localizaria a Vila de Santo Antônio de Sá natural: os jesuítas e o fidalgo permutaram seus lotes; permuta realizada
principiavam na desembocadura do Macacu na baía da Guanabara, em 10 de maio de 1580. O negócio foi confirmado pelo “Instrumento do
subindo pelo sertão as mencionadas 4 léguas. Associar estas terras à conserto das terras de Magé com Cristóvão de Barros”, existente no
localização da cidade de Cachoeiras de Macacu é erro injustificável. A Tombo jesuítico.
distribuição de sesmarias foi vasta e outros fidalgos receberam grandes No mesmo “Livro de Tombo do Colégio de Jesus do Rio de
extensões de terra. Janeiro”13 estão transcritos o início das medições da “légua da
Um deles, Cristóvão de Barros, foi governador da Capitania do Sapucaia”, em 03 de setembro de 1587, demarcadas em 08 de
Rio de Janeiro e recebeu terras, como Miguel de Moura, em Macacu, setembro do mesmo ano. Os jesuítas ampliaram em mais uma légua a
através de despacho do Governador Geral Mem de Sá, datado de extensa sesmaria recebida de Miguel de Moura. Esta légua “da
29/10/1567, além de terras em Magé, pelo despacho de Mem de Sá Sapucaia” também aparece no Índice Toponímico do mesmo Tombo,
emitido na mesma data. Os jesuítas também possuíam terras em Magé. publicado como “Pacocaya”, à pág. 204, na mesma página da
A sesmaria de Cristóvão de Barros em Macacu principiava no transcrição da medição da “légua da Sapucaia”, local onde os jesuítas
final das terras de Miguel de Moura, pela extensão de uma légua sertão instalaram uma fazenda, intitulada “da Papocaia”. Também na pág. 208
adentro. Fazendo-se a medição, as terras de Miguel de Moura do Livro de Tombo, os topônimos “Tapera de Pacacaya” ou
estendiam-se da Baía de Guanabara, na foz do rio Macacu, subindo em
linha reta, terminando dentro do território atual de Cachoeiras de
Macacu. Se as terras de Cristóvão de Barros iam daí adiante uma légua

12 13
Idem Anais da Biblioteca Nacional, volume 82 (Índices), da Divisão de Publicações e Divulgação, BN.
1973.
19 20

“Pacaraya”14. Medidas e confirmadas, as terras de Miguel de Moura em Para o serviço de lavragem e carretos existiam nela 117 bois e 20
15
Macacu, os jesuítas fizeram venda de lotes a várias pessoas. cavalos. A Igreja dessa fazenda, recebeu nesse ano, para as despesas
O padre Serafim Leite em “História da Companhia de Jesus no do culto, 89 escudos romanos e gastou 67. Tomou conta dela para o
Brasil”, apresenta, no Volume 06, uma pequena referência sobre uma Estado, em 1759, e da farinha que nela achou e era muita, o Ouvidor do
Fazenda de Macacu ou Macacu na Papucaia, de propriedade da cível, homem correto, Gonçalo José de Brito.
Companhia de Jesus, a qual teria sido criada anexada à Aldeia de São
Barnabé (hoje Itambi): Monsenhor Pizarro, em sua Visita eclesiástica de 1795, comenta
que os jesuítas haviam sido expulsos de suas propriedades, referência à
“Entretanto, ficaram terras ainda suficientemente vastas para expulsão ordenada pelo Marquês de Pombal, primeiro-ministro do rei de
nelas se situar com o tempo esta Aldeia [de São Barnabé] e constituir, Portugal D. José I, que governou com mão de ferro o reino português de
separada dela, uma importante fazenda, a que se dá o nome ora de 1750 a 1777 e mencionada acima por Serafim Leite, quando, na
Macacu, ora de Papucaia e às vezes Macacu na Papucaia. A Fazenda Fazenda da Papocaia, ou Macacu na Papocaia, ocorreu o mesmo, o que
incluía em si outros sítios, toponímia miúda, que às vezes aparece nos comprovamos através de documento existente na Biblioteca Nacional.
documentos, e nos quais havia a sua Casa e pequena Capela e Cruz,
que a tradição ainda hoje conserva, aqui e além, na região. Tentou-se “Da lista a que se refere o precedente officio, conta em resumo,
em Macacu a criação do gado e a policultura, habitual às Fazendas dos que o número dos Padres que existião na Capitania, era de 199,
Jesuítas, mas verificando-se que as suas terras se prestavam mais à repartido pelo modo seguinte:
cultura da mandioca, centralizou-se nela a fabricação da farinha do Padres assistentes no Collegio no dia 3 de Novembro de 1759 - 97
Brasil e diz-se em 1757 que era a mais importante fazenda do Colégio Padres que vierão no dito dia do Engenho Velho, remettidos pelo
na produção de farinha. Ocupavam-se então nesse trabalho 223 servos. Dezembargador Manuel da Fonseca Brandão - 3
Padres que vieram no dia 4 do dito mez do Engenho novo, remettidos
14
Existem ainda os vocábulos, mencionados no Livro de Tombo do Colégio de Jesus do Rio de
pelo dito Dezembargador - 3
Janeiro, de “Pacacaya”, “Pacaraya”, e Maia forte ainda menciona os de “Paquequaia”, “Pacocay”,
“Papaocaya”, “Papocaia” e o mais moderno, Papucaia. Padres remettidos pelo dito Ministro em 4 do dito mez de S. Christóvão -
15
No Tombo jesuítico há registros de confirmação e medição das terras de 4
1577,1579,1584,1587,1597,1599 e em 1651e 1652.
Padre que veiu neste dia dos Campos novos - 1
21 22

Padres que vieram de Santa Cruz no dia 6 de Novembro, 9 e 11 - 6 Março de 1760. Gaspar Pinheiro da Cam.ra M.el. [Intendente da
Padres vindos no dito dia 11, remettidos da Fazenda de Macacu, pelo Marinha] 16
Dezembargador Gonçalo José de Brito Barros - 2
- da Aldeia de Taguai dia 20 de Novembro Antônio de Oliveira Braga, com seu engenho de açúcar na
- da Aldeia de São Barnabé - 2 “Papocaia,” aparece em outro documento. A propriedade jesuítica, como
- da Bahia em 5 de Dezembro de 1759 - 16 já comentamos, havia sido “seqüestrada” pelo Estado e após repassada
- de Campos novos em 7 de Dezembro - 3 para um proprietário ou a este delegada sua posse, não o sabemos ao
- da Villa de Sanctos - (9/12) - 11 certo, praticou-se nela a retirada de madeira.
- de Macaé 15 de Dezembro - 2 Dois documentos, existentes na Seção de Manuscritos da
- Campos dos Goitacazes em 1 de Janeiro de 1760 - 2 Biblioteca Nacional nos apresentam dados acerca deste interesse nas
- da Capitania do Espírito Sancto (24/01) - 17 madeiras da região.
- de São Paulo em 02 de Fevereiro - 23
- de Parnagua em 12 de Março - 5" “Pelo q pertence ao Corte das Madeiras da Papaocaya ou
Collegio em Macacú. Este Corte se faz nas grandes Matas q deixarão
E ainda: quaze intactas os Jesuítas possuidores da Faz. chamada Papaocaya, a
qual pertence a Antônio de Oliveira Braga. Haverá huma legua na maior
“Recebi a bordo desta Nau 119 Padres da Companhia distancia q vay desde lugares em que se tem Cortado Madeiras, athe o
denominada de Jesus por ordem do Ilmo Exmo Sr Conde de Bobadela Rio Macacú., onde ligadas aos lados das Canôas rodão athe a sua
General destas Capitanias, para os transportar ao porto da Cidade de confluencia com o Rio Guapiguasú, para daly serem conduzidas em
Lisboa, como S. Magestade Manda a bordo da Nau N. Senhora do Barcos, athe esta Cidade”(...)17
Livramento e S. José, dada fundo no porto do Rio de Janeiro aos 14 de

16
Officios ao Conde de Bobadela, tratando do seqüestro dos bens, reclusão e expulsão e demais
providências tocantes aos Jesuítas” (21/07/1759 a 19/10/1760) - Biblioteca Nacional
17
Ofício do Intendente da Marinha José Caetano de Lima, datado do Rio de Janeiro a 14 de Agosto
de 1800 e dirigido a d. Rodrigo de Sousa Coutinho, sobre objetos relativos aos cortes de madeira
de construção nas mattas da Posse e da Papaocaya ou collegio, nos districtos de Tapacurá e de
Macacu. Cópia manuscrito. Localização: 7,4,55
23 24

E ainda: “No território circunvizinho à Igreja, acham-se fundadas algumas


casas de pouco valor; por que á exceção de 3 ou 4 que são cobertas de
“Dom Fernando Jozé de Portugal, Vice Rey e Captam general de Már e telhas, todas as outras são de palhas: mais essas mesmas não deixam
Terra do Estado do Brazil de ser atualmente ocupadas por afetivos moradores, e de formalizarem
Amigo. Eu, o Príncipe Regente vos envio muito saudar. Sendo Me assim mesmo uma semelhança de Arraial.”
prezente a Reprezentação que consta(?) vos Remetto, do Intendente da
Marinha dessa capitania Joze Caetano de Lima, Sou Servido ordenarvos Ano Local de nascimento N° de assentos
Freg. da SSma Trindade 14
que tomeis em consideração todas as justas reflexoens, que o mesmo
Lisboa 01
Intendente expoem a respeito do estabelecimento do Corte de Madeiras
1763 Cabo Frio 01
de Construcção nas Matas da Posse da Papaocaya e de Macacu e
Santo Antonio de Sá (Vila) 01
todos os principios economicos que a este respeito podem estabelecer
Não identificado 01
se ordenando que desde logo adianteis nos competentes Portos
TOTAL 19
áquelles que manifestarão zelosos na vizita que se fez das mesmas
Freg. da SSma Trindade 23
Mattas como refere o sobredito pretendente, louvando-os no Meu Real Arcebispado de Braga - Portugal 02
Nome pelo zelo que mostrarão naquela ocaziam. Devereis também ficar 1764 Rio de Janeiro 01
da inteligencia que, nas occazioens em que o Intendente da Marinha Santo Antônio de Sá (Vila) 01
dessa capitania se achar auzente por cauza do Real Serviço, vereis vós Não identificado 01
quem nomeareis interinamente. Pessoa habil, que [ilegível] o seu Posto. TOTAL 28
O que assim cumprireis. Escrita no Palacio de Queluz aos sinco de
Local de origem de falecidos brancos na Freguesia da Santíssima Trindade - 1763 / 1764
Janeiro de mil oitocentos e hum. Principe” Fonte: Livro de Assento de Falecidos Brancos da Freguesia da SSma Trindade

Temos ainda menção de Pizarro a uma pequena localidade, Outros documentos nos informam sobre a ocupação das regiões
situada ao redor da hoje conhecida Igreja Velha, em sua Visita de 1795: de sertão, subindo-se o Macacu e Guapiaçu. A instalação de ordens
religiosas como a de N. S. do Carmo e da Cia de Jesus, ao que parece
na segunda metade do séc. XVII, nas regiões de Papucaia e Guapiaçu.
25 26

As igrejas de Sant´Ana (meados do séc. XVIII), Santíssima Trindade


(finais do séc. XVII e meados do XVIII) e São José da Boa Morte
(meados do séc. XVIII), construídas por particulares, demonstram o
empreendimento de moradores,l proprietários de terras e escravos.
Assentos de falecidos brancos da freguesia da Santíssima Trindade
(século XVIII) demonstram a ocupação do território. Escolhemos
registros de 1763 e 1764:
Observa-se em sua maioria, para os dois anos, falecidos
nascidos na própria localidade, juntamente com outros procedentes de
outras regiões (Rio, Cabo Frio, Vila e Portugal), configurando-se a
ocupação da região por efetivos moradores, o que não descaracteriza a
mobilidade colonial, tese defendida por Sheila de Castro Faria em “A
Colônia em Movimento”. Fica demonstrada, aqui, a ocupação deste
território em particular, no século XVIII”.18 Podemos ignorar a presença
de habitantes que pudessem se sentir membros, de alguma forma, de Transcrevemos o texto:
uma “comunidade” - não nos moldes urbanos que conhecemos -
“Aos doze dias do mês de Mayo de mil sete centos e sincoenta e
inseridos numa realidade a eles contemporânea, de base agrária, e coatro, na Capella da Senhora Santa Anna, filial desta Freguezia da
Santíssima Trindade, baptizei e pus os Sanctos Óleos a innocente
mesmo que esparsamente distribuídos no território em estudo?
Maria, filha legítima de Seraphim Monteyro Messias e de Michaella
Mais um elemento é este registro de batismo do século XVIII, Cordeyra, residentes nesta ditta Freguezia: neta pela paterna de Antonio
Pinheyro Garcia e de Maria Messias já defuntos e pella materna de
onde nos é fornecido um interessantíssimo dado relacionado á
Antonio de Souza Moniz e de Anna da Silva Pinheyra, naturaes da Villa
religiosidade do período colonial. de Santo Antonio. Foram padrinhos Manoel de Campo Dias, morador na
Cidade do Rio, solteiro, o qual mandou procuraçam a Manoel Ferreira da
Silva, cazado com Mariana Rodrigues, desta Freguezia para em seu
nome tomar parte na criança; e a Coroa de Nossa Senhora da
Conceyção da Pacocaya por devoçam que os Pays tiveram: nasceu
18
em dezoito do mês de Abril deste prezente anno; e por verdade fiz este
OLIVEIRA, João Ferreira de & CARDOSO, Vinicius Maia. Ensaio de História Econômica e Social
de Cachoeiras de Macacu. SMECEL, 2004. assento, que assignei era ut supra. Vig. Joze Ferreira da Silva”
27 28

O registro de batismo de Maria, há 251 anos, nos traz a menção


a Nossa Senhora da Conceição da Pacocaia. Boa evidência de um local
já definido, a ponto de servir como referência a uma santa de devoção
local?
No século XIX, com a Estrada de Ferro de Cantagalo, inaugurada
em abril de 1860, vamos encontrar referências à localidade de Papucaia.
No Relatório da Província do Rio de Janeiro de 1875, entre outras
informações, encontramos dados sobre as paradas dos trens, que
funcionavam em conjunto com as estações. A seção a que se refere o
texto é a que compreendia o trecho entre Cachoeiras e Porto das
Caixas.

No Mapa n° 05 do Relatório Anual do Engenheiro Fiscal da


Estrada de Ferro de Cantagalo, de 1876, encontramos o cálculo do
movimento de passageiros na parada de Papucaia. Desmembramos o
mapa por motivos de espaço.
Trecho Papucaia a Vila Nova
29 30

Trecho Papucaia - Porto das Caixas


Trecho Papucaia- Sant´Ana
31 32

Trecho Papucaia - Cachoeiras

No “Relatório apresentado ao Ilmo. e Exmo. Sr. Marcellino de


Souza Gonzaga Presidente da Província do Rio de Janeiro em 20 de No “Relatório apresentado ao Ilmo e Exmo Sr. Dr. Américo de
Julho de 1880 pelo Engenheiro Ernesto Eugenio da Graça Bastos, Moura Marcondes de Andrade Presidente da Província do Rio de
Director da mesma Estrada”, temos um item referente às paradas de Janeiro em 20 de Julho de 1879 pelo Engenheiro Ernesto Eugenio da
trens e faz referência à construção da parada de Papucaia. Graça Bastos Director da mesma Estrada’, referindo-se às paradas de
trens, numa continuidade ao documento anterior
33 34

se recusem a realisar, à expensa suas, este melhoramento, tomar a


administração da estrada a providência de não permitir que os trens ahi
continuem a parar.”

Acreditamos ter conseguido, aqui, demonstrar que a


denominação Papucaia, independente das grafias que lhe precederam,
já servia para delimitar um lócus conhecido e utilizado pelos habitantes
da região, nos diferentes recortes históricos privilegiados em nossa
explanação.
Um exemplo simples: no século XIX, uma pessoa poderia pegar
um trem em Cachoeiras, ou Sant´Ana ou Porto das Caixas etc, pagar
sua passagem e dirigir-se a Papucaia, ou vice-versa, e este movimento
ser registrado nos mapas da empresa ferroviária. Pouco movimento, é
Podemos perceber que as paradas de trens eram “terceirizadas” verdade, mas presente.
a proprietários locais, responsáveis pela compra do material, mão-de- Abordando nossa segunda hipótese:
obra e construção, com a devida conivência da administração da
diretoria da estrada de ferro, certamente no interesse do escoamento da O Decreto tem objetivo de oficializar uma ação governamental de posse
produção local. e uso da terra em local pré-definido e já, histórica, geográfica e
Os documentos informam da “reconstrução” da parada de politicamente conhecido, como etapa de uma política de desenvolvimento de
Papucaia, entre outras e o fato nos parece explicitado pelo “Relatório do um “cinturão verde” para produção de gêneros alimentícios nas periferias
Director Interno da Estrada de Ferro de Cantagallo”, de 1877, dos grandes centros urbanos.
mencionando sobre o estado precário em que se encontravam as
paradas por possível abandono por particulares “a quem essas plata- No Relatório do Ministério da Agricultura no período de 1930 -
formas interessão”. E resolve agir com rigor “caso elles [os proprietários] 1944, no item Colonização, encontramos que...
35 36

“...verificou-se, pelos dados comparados dos recenseamentos


“...outros Núcleos Coloniais foram criados na Baixada gerais de 1940 e 1950, esta situação grave: a população geral do País
Fluminense, para aproveitamento das terras saneadas, como os de cresceu de 25% enquanto o das capitais aumentou de 50%. O fator
Tinguá e Duque de Caxias” . importante dessa anomalia é o precário nível de vida do homem do
campo, que carece de um mínimo de bem-estar.”
E o documento prossegue:
De fato, a partir dos anos 50, com o processo de industrialização
“Cada um desses núcleos de colonização tornará célula de brasileira, por motivo da política governamental adotada pelo governo
civilização nova, com todos os recursos indispensáveis a uma vida Vargas, acelerou-se a concentração populacional nos núcleos urbanos,
sadia, empregando, em seus trabalhos agro-industriais, os mais havendo um êxodo nas áreas rurais.
modernos recursos da técnica. Destarte, servirão ainda de modelo No estudo “Distribuição Espacial da População Brasileira:
aos lavradores mais abastados da região, quer quanto a essas mudanças na segunda metade deste século”, do IPEA - Instituto de
novas práticas agrícolas, quer quanto a outros hábitos de vida, tais Pesquisa Econômica Aplicada, do Ministério do Planejamento,
como necessidade de proverem aos indivíduos aí localizados de Orçamento, realizado por de Ana Amélia Camarano, da Diretoria de
vivendas confortáveis e higiênicas, ainda que simples.” Estudos Sociais do IPEA e Kaizô Iwakami Beltrão, da Escola Nacional
de Ciências Estatísticas (Ence/IBGE), publicado em 2000, encontramos
No Relatório do Ministério da Agricultura, de 1938, que trata do o gráfico abaixo, de distribuição da população brasileira nas zonas rural
Núcleo Colonial de Santa Cruz, periferia da cidade do Rio de Janeiro, e urbana, no período de 1940 a 1996.
podemos ver que existe ao menos uma expressa intenção em se
realizar uma política agrária através da instalação de núcleos coloniais,
e sua expansão através de “Novas Colônias Nacionais, já planejadas
[que] serão oportunamente criadas no interior do país.”
Na Mensagem ao Congresso Nacional, do presidente Getúlio
Vargas, em 1951, intitulada “O problema do homem do campo”, são Enquanto que no ano de 1940, a distribuição da população,
apresentadas as linhas gerais de uma política governamental que respectivamente, nas áreas rural e urbana, era de 68,8% para 31,2%,
apresenta como fulcro a intenção de fixação do homem no campo. O em 1980 essa relação é praticamente inversa, de 32,4% para 67,7%.
documento expõe, como primeiro argumento que... para o ano de 1996 a relação é quase que assustadora: apenas
22% da população brasileira está distribuída nas áreas consideradas
“...o estudo das correntes migratórias internas revela o rurais, enquanto que esmagadores 78% concentram-se nas zonas
desenraizamento dos que se dedicam à lavoura e à criação, urbanas.
especialmente pequenos proprietários, posseiros, arrendatários e meros Para o Estado da Guanabara, escolhemos o gráfico de Habite-se
assalariados rurais”. concedidos entre 1941 e 1951:
No item “Colonização”, o documento continua:
Estabelecendo seu argumento inicial, temos que, o crescimento
de áreas urbanas, em detrimento de zonas rurais... “No passado, a colonização tinha por objeto alargar a área de
ocupação econômica do território e o efetivo de população”, e apresenta
outros objetivos “mais importantes”, como o de “ampliar os suprimentos
37 38

alimentares, com a criação dos cinturões verdes em torno das cidades; o Tal intento seria implementado a partir do “...Distrito Federal
de melhor aproveitar as terras acessíveis, utilizando as facilidades de [indo] até as paragens mais distantes do território nacional.”
transporte e até contribuindo para a recuperação econômica das terras As Colônias Agrícolas, em número de oito, regidas pelo Decreto-
que marginam as estradas de ferro e outras vias; o de facilitar a lei 3.059, de 14 de fevereiro de 1941,20 localizadas em Goiás,
propriedade da terra, constituindo-se um fator de fixação no campo e a Amazonas, Pará, Maranhão, Paraná, Mato Grosso, Piauí e Minas
revitalização de nossa economia agrária; o de fixar o imigrante, visando Gerais, com área total, reservada de dois milhões e quinhentos mil
precipuamente ao aumento da produção e à introdução de novas hectares, e cerca de 6.000 colonos, “na sua maioria em condições
técnicas de trabalho nos meios rurais.” bastante precárias”, e critica o documento que “nenhuma colônia
conseguiu ainda levantar o seu perímetro e a maioria dos lotes
O documento conclui, fixando o objetivo do governo federal em distribuídos ainda não foi demarcada.”
fazer o projeto de Colonização através de suas próprias expensas, Acerca dos Núcleos Coloniais, o Relatório menciona a existência
mediante a liberação de crédito rural, assistência técnica e apela “para a de nove, já criados: seis no Estado do Rio, um em São Paulo, um no
iniciativa dos governos locais e dos particulares...” Paraná e um na Bahia, compondo um total de duzentos mil hectares,
No Relatório das Atividades do Ministério da Agricultura, feito com cerca de 1.600 colonos, sendo regidos pelo Decreto-lei 6.117, de
pelo ministro João Cleofas, de 1951, no que tange à colonização, 16 de dezembro de 1943.21
apresenta que o governo federal implementaria sua política agrária Deste último decreto. destacamos alguns pontos que
através de um órgão, a Divisão de Terras e Colonização, criada pelo consideramos importantes, mas a leitura do yexyo integral desta
Decreto n° 25.291, de 30 de julho de 1948. 19 regulamentação, no Anexo 03, poderá dar uma visão bem mais ampla
Esta política foi organizada subdividindo-se o órgão em três dos objetivos e organização destes núcleos em áreas rurais do Estado
seções distintas: do Rio de Janeiro.
Nos artigos 1º e 2° encontramos a definição e as informações de
onde se poderia ser instalado um núcleo colonial. Desta forma, “Núcleo
1- Seção de Terras;
Colonial é uma reunião de lotes medidos e demarcados, formando um
2- Seção de Colonização; grupo de pequenas propriedades rurais”. A intenção é formar um local
de produção de alimentos, através da instalação de um conjunto de
3- Seção de Administração.
propriedades rurais produtivas, com a perspectiva de sua expansão,
Tais seções deveriam atuar para a implantação dos núcleos com como veremos mais à frente.
modalidades distintas “de acordo com as conveniências regionais”, em: Os promotores de sua formação poderiam ser: a União; os
Estados e Municípios e “emprêsas de viação férrea ou fluvial,
1- Núcleos Coloniais (o caso de Papucaia); companhias, associações ou por particulares.”
Tendo sido fundado, “o núcleo colonial, a D. T. C. entrará em
2- Colônias Agrícolas,
acôrdo com o govêrno da localidade para ser estabelecida, no ponto
3- Granjas Modelos mais conveniente, uma feira livre”. (art.9°). Os núcleos, portanto, eram
4- Núcleos Agro-Industriais.
20
Cf. Anexo 02
19 21
Cf. Anexo 01 Cf. Anexo 03
39 40

instalados inclusive, como menciona o decreto de fundação do de trabalhos agrícolas, possam servir como exemplo e estímulo aos
Papucaia, por exemplo, com ciência do poder público municipal. nacionais.
E continua do documento em seu artigo 6º: § 2º E' vedada a concessão de lotes a quem quer que exerça função
pública federal, estadual no municipal.”
“Se a posição e importância do núcleo exigirem a formação de uma
sede, será reservada, para isso, área suficiente, bem situada, na parte A concessão de lotes é estabelecida, preferencialmente, para
mais plana da zona e que preencha as condições necessárias de brasileiros e, excepcionalmente, a estrangeiros e com um traço de certo
salubridade, realizando-se o preparo local e as construções e obras preconceito contra os “nacionais”, já que os estrangeiros poderiam...
indispensáveis, de acôrdo com o projeto aprovado pelo diretor da
Divisão de Terras e Colonização (D.T.C.). A sede será o ponto de “...por seus conhecimentos especiais dos trabalhos agrícolas,
convergência das principais estradas do núcleo. No caso de já existir, [...] servir como exemplo e estímulo.”
em terras onde se leve a efeito a fundação de um núcleo colonial,
povoação que satisfaça as exigências constantes, dêste decreto será a Dos três Núcleos Coloniais que haviam sido instituídos, no
mesma considerada como sede do núcleo.” mesmo ano (1951), dois o foram no Estado do Rio, a saber, Papucaia e
Macaé, e um na Bahia, no município de Una, com área total de vinte e
Evidentemente, a região de Papucaia não possuía um centro cinco mil hectares.
urbano como o atual e, portanto, a distância de outras áreas, como E o documento também analisa:
Japuíba e Cachoeiras de Macacu, foram consideradas, possivelmente,
como inadequadas para servirem como sede. Houve então, a “Até mesmo na Baixada Fluminense, sob os olhos da alta
necessidade de se construir as instalações para tal fim. para tanto, administração do País, a situação dos Núcleos é a mais desfavorável
estabelece o decreto, em seu artigo 5º que: que se possa imaginar. basta que se diga que, a esta altura, mais de
70% dos colonos não produzem o mínimo necessário á subsistência das
“Fixada a região onde a colônia deverá ser fundada, será suas famílias, E esse fato vem determinando a formação de verdadeiros
projetada a sua futura sede, escolhendo-se para isso a zona que desajustados á vida rural, cujos reflexos sentimos através dos
melhores condições oferecer. No projeto da sede serão observadas constantes pedidos de transferência de lotes com o sentido
todas as regras urbanísticas, visando a criação de um futuro núcleo de exclusivamente comercial” (sic!)
civilização no interior do país”.
O documento ainda menciona iniciativa a ser viabilizada de se
O artigo 20 nos pareceu bem curioso: verificar, in loco, qual a produção de cada lote, no sentido de se buscar
as “causas determinantes da improdutividade dos lotes distribuídos.”
“Art. 20. Os lotes rurais serão concedidos a cidadãos brasileiros A idéia inicial era realizar uma produção integrada entre as
maiores de 18 anos, que não forem proprietários rurais e Colônias e os Núcleos Agrícolas “na sua verdadeira finalidade
reconhecidamente pobres, desde que revelem aptidão para os trabalhos (...)preparar e capacitar os colonos nacionais e estrangeiros para o
da agricultura e se comprometam a residir no lote que lhes for melhor cumprimento das suas tarefas como agricultores.”
concedido. A criação do Núcleo Colonial de Papucaia, portanto, se insere
§ 1º Excepcionalmente, poderão ser concedidos lotes a agricultores como etapa nesta política de criação e acompanhamento de Núcleos
estrangeiros qualificados que, por seus conhecimentos especiais dos
41 42

Coloniais para produção agrícola, em conjunto com as outras e Colonização, do Departamento Nacional da Produção Vegetal, do
modalidades acima mencionadas. Ministério da Agricultura.’
Apresentamos outros dois itens de nossa hipótese de trabalho: Não nos parece ser um texto referente à emancipação política de
qualquer território, visto porque, como já colocado neste trabalho, tal
A criação do Núcleo Colonial de Papucaia, portanto, não nos ação pressupunha uma ação conjunta com os estados e os municípios.
parece referendar sua “fundação”, mas um recorte no processo Podemos atribuir a mesma lógica igualmente para Papucaia, localidade,
histórico da localidade – e por extensão, do município em questão, àquela época, integrante da zona rural do município de Cachoeiras de
independente de sua denominação. Macacu.
Podemos talvez, corroborar nossa exposição com os
A criação do Núcleo Colonial de Papucaia veio trazer nova dinâmica documentos do Ministério da Agricultura que encontramos para o ano de
social e econômica àquela localidade – já pré-existente – transformando a 1960, na seção IX - Programas Específicos, sobre estes mesmos
ocupação do espaço e as relações sociais no decorrer dos anos seguintes, Núcleos Coloniais:23
através de um processo de transferência das modalidades de posse e uso da O documento nos apresenta uma posterior regularização dos
terra, que ocasionaram um processo de urbanização, resultando na presente Núcleos de Papucaia e Macaé somente para o ano de 1960, visto que
forma de ocupação, pose e uso da terra. outros Núcleos, segundo a fonte, vinham “absorvendo dezenas de
milhões de cruzeiros anualmente”, tendo sido alguns deles
A criação do Núcleo Colonial de Papucaia, portanto, fez parte de emancipados. Será que elas davam prejuízo? Uma realidade de
um projeto, em âmbito federal, que preconizava a instalação de desorganização destes mesmos Núcleos? Ou outras questões ligadas á
unidades de produção agrícola, fixação do homem no campo, distribuição e posse da terra entravaram o processo?
juntamente com outras localidades como Caxias, Macaé e Uma (BA). Percebemos que, em 1960, os Núcleos Coloniais são tratados
O fato de se mencionar, no documento, a construção da sede e como “unidades”, ou “Núcleos”, não como unidades administrativas,
instalações da “futura cidade de Papucaia” 22(Ver Anexo......) nos soa visto que os entendemos, reafirmamos, como elementos de uma ampla
mais como uma previsão de futuro para o próprio Núcleo, em um política federal de expansão da produção agrícola, a qual atravessou
“previsto” processo de expansão, já que todos os demais núcleos outros governos.
possuíam respectivas sedes e instalações. Aqui apresentamos nossa última hipótese, a qual após todo o
Por uma analogia, a criação do Núcleo Agrícola de Macaé, como explanado, consideramos privilegiada, mas aberta à análise e crítica.
o de Duque de Caxias, não significaram, em absoluto, a fundação :
destas mesmas localidades, posto que já estas anteriormente já existiam Há outras referências de reconhecimento da localidade como local já
como unidades administrativas do Estado do Rio de Janeiro. historicamente consolidado como um definido lócus geográfico, de
Por outro lado, o decreto de criação deste Núcleo menciona que características de ocupação e exploração econômica inerentes a cada recorte
o mesmo estaria sendo instalado ”em terras de propriedade da União, histórico a ser privilegiado.
situadas no Município de Santana de Japuiba - o que nos parece uma
contradição já que o município tinha já a denominação de cachoeiras de
Macacu - no Estado do Rio de Janeiro, subordinado á Divisão de Terras

22 23
Conf. Anexo 04. Cf. Anexo 05
43 44

CONCLUSÃO esmagadora proporção de seu território caracterizado como área rural,


conforme levantamento do Setor de Geoprocessamento da Prefeitura
Nos parece bem claro que, em face de toda a documentação Municipal. Confira o mapa nos anexos.
anteriormente demonstrada neste trabalho, a localidade de Papucaia Portanto, pode ser possível, a nosso ver, a comemoração da
possui um passado histórico que se estende para períodos anteriores a data de inauguração do Núcleo Colonial de Papucaia, mas sem se
1950, e que o próprio Núcleo Colonial de Papucaia só poderia ter configurar, face ao já exposto, uma data que denotasse o marco inicial
recebido esta mesma denominação por anteriormente existir a da localidade, como sua “fundação”.
referência “Papucaia”, para sua instalação, tendo sido parte de um Como anteriormente afirmamos, esta é uma escolha que deve
projeto governamental que instalou núcleos do mesmo tipo, e não passar pelos organizadores do mencionado “Dia de Papucaia” e, por ser
necessariamente mesma extensão e modelo de exploração, em outras escolha, um ato político. Percebemos a necessidade que aquela
várias regiões do País. comunidade - ou parte dela - busca por sua identidade, embora a
Assim, não nos parece configurar aqui a “fundação” de Papucaia, identidade de uma povo nunca seja única. Melhor seria falarmos de
mas um caminho para sua expansão. Vale frisar que o projeto previa a “identidades”. Atribuir identidade única a qualquer comunidade é correr o
criação de núcleos de produção agrícola, com sede e área para risco de ver essa identidade subordinada a um “modelo” representativo
residência dos colonos ali instalados - notadamente brasileiros e de uma única representação de classe.
italianos, não mencionados os japoneses, na primeira “leva” - e Desta forma, a identidade marcada por um “Dia de Papucaia”,
recebedores de lotes de terra para produção. com base num decreto presidencial, ao qual se atribui um ato de
Daí uma nova proposta de pesquisa se apresenta: a fundação, configura a construção desta mesma identidade em torno de
desocupação destes lotes através da venda, tendo sido neles instaladas uma inexistente unicidade. Haja vista as manifestações culturais
casas de veraneio, como no caso de Agro-Brasil e mesmo Papucaia; o presentes em eventos da localidade que diferem tanto de uma
surgimento de propriedades não produtivas e o crescimento de um predominante identidade a alguma atividade agrária - ou de
pequeno centro comercial, que possivelmente tem sua origem a partir da desdobramentos ligados a esta atividade.
satisfação das necessidades de consumo destas novas populações Concluindo, deixamos este documento aberto à análise e
ocupantes destes sítios anteriormente destinados especificamente à esperamos que o mesmo possa oferecer parâmetros explicativos
produção agrícola. Não podemos deixar de mencionar aqui, a localidade plausíveis, que apóiem a localidade de Papucaia a buscar, não apenas o
da Ribeira, oriunda de loteamento instalado mediante o aproveitamento seu “dia”, mas o conhecimento de sua História.
de terras alagadas, contíguas ao centro urbano de Papucaia, onde
instalou-se, inclusive, a sede de um parque de exposição agropecuário
controlado por fundação de cunho privado.
No processo de conurbação ora presente naquela região, através
da ocupação de áreas margeantes da erradicada Estrada de Ferro
Leopoldina, as localidade de Agro Brasil, Papucaia, Ribeira e Japuíba,
tendem, um dia a fundir-se numa grande “mancha urbana” no 2° distrito.
Essa expansão urbana também se dá através da instalação de
loteamentos, com a possibilidade de, nem todos, estarem devidamente
regularizados. Um processo, na longa duração, do crescimento urbano
de Cachoeiras de Macacu, que, apesar disto, ainda detém uma
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BIBLIOGRAFIA ANEXOS

CARDOSO, Vinicius Maia. Páginas da História Macacuana - de Santo 01 - DECRETO Nº 30.077, DE 19 DE OUTUBRO DE 1951.
Antônio de Sá a Cachoeiras de Macacu. Trielli Editorações: Rio de
Janeiro, 2000

OLIVEIRA, João Ferreira de & CARDOSO, Vinicius Maia. Ensaio de DECRETO Nº 30.077, DE 19 DE OUTUBRO DE 1951.
Cria O Núcleo Colonial "Papucaia", No Estado do Rio de Janeiro
História Econômica e Social de Cachoeiras de Macacu. SMECEL, 2004 O PRESIDENTE DA REPUBLICA, usando da atribuição que lhe confere o artigo 87,
nº I, da Constituição Federal e nos têrmos do Decreto-lei nº 6.117, de 16 de novembro de
ARAÚJO, José de Souza Azevedo Pizarro e Araújo. Visitas Pastoraes - 1943.
Freguesia da Santíssima Trindade. Cópia datilografada do original Decreta:
Art. 1º Fica criado o núcleo colonial de Papucaia, em terras de propriedades de União,
manuscrito. Arquivo da Cúria Metropolitana do Rio de Janeiro.
situadas Município de Santana de Japuiba no Estado do Rio de Janeiro, subordinado a
divisão de terras e colonização, do Departamento Nacional da Produção Vegetal, do
LEITE, Serafim. História da Companhia de Jesus no Brasil. Ministério da Agricultura.
Parágrafo único. O Núcleo Colonial referido neste artigo e´ constituído por
Livro de Tombo do Colégio de Jesus do Rio de Janeiro. Anais da terras desmembradas do patrimônio da Companhia Nacional de Navegação Costeira,
podendo ser ainda a ele incorporadas outras áreas limítrofes ou próxima destinadas ao,
Biblioteca Nacional. Tomo 52. mesmo fim.
Art. 2º Revogam-se as disposições em contrario.
Sites Rio de Janeiro, 19 de outubro de 1951; 130º da Independência e 63º da Republica.
Getulio Vargas
João Cleofas
www.genealogias.org - Relatório da Província do Rio de Janeiro/
Mensagens Presidenciais (1951)/Relatórios Ministeriais (Ministério da
Agricultura - 1930 a 1960).

www.senado.gov.br - legislação federal. Anexo 02 - Decreto-Lei n° 3.059, de 14 de fevereiro de 1941

DECRETO-LEI N. 3.059, de 14 de fevereiro de 1941

Dispõe sobre a criação de Colônias Agrícolas Nacionais


O Presidente da República, usando da atribuição que Ihe confere o Art. 180 da
Constituição,
decreta:
Art. 1º Alem dos núcleos coloniais a que se refere o decreto-lei nº 2.009, de 9 de
fevereiro de 1940, o Governo Federal, em colaboração com os Governos estaduais e
municipais e todos os órgãos da administração pública federal e por intermédio do
Ministério da Agricultura, promoverá a fundação e instalação de grandes Colônias
Agrícolas Nacionais, as quais serão destinadas a receber e fixar, como proprietários
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rurais, cidadãos brasileiros reconhecidamente pobres que revelem aptidão para os Art. 12. Os lotes casas e quaisquer bemfeitorias nele existentes, serão concedidos
trabalhos agrícolas e, excepcionalmente, agricultores qualificados estrangeiros. gratuitamente, observadas as seguintes condições:
Parágrafo único. Todas as despesas decorrentes da fundação, instalação e a) o colono terá, o domínio útil do lote, nele residindo e recebendo, para a sua
manutenção das colônias, inclusive construção e conservação das vias principais de exploração agrícola, sementes e material agrário mais urgente;
acesso, serão custeadas pela União, dentro dos créditos que forem destinados a esse b) de acordo com a região e possibilidade de escoamento da produção agrícola para
fim. os centros de consumo, será marcado o prazo em que o lote deverá ser utilizado
Art. 2º As colônias serão criadas por decreto executivo e fundadas em grandes glebas agriculamente em condições satisfatórias de técnica e extensão;
de terras que deverão reunir as seguintes condições: c) findo o prazo a que, se refere o item anterior e preenchidas as demais condições
a) situação climatérica e condições agrológicas exigidas pelas culturas da região: constantes deste decreto-lei, o colono receberá em plena propriedade o lote a casa e o
b) cursos permanentes dágua ou possibilidade de açudagem para irrigação. material agrícola em seu poder, independentemente de qualquer pagamento.
Art. 3º Na escolha da região para a fundação da colônia, ter-se-á em vista a Art. 13. Aos colonos serão facultados os seguintes auxílios, a partir da data de sua
existência de quedas dágua para a produção de energia hidroelétrica. localização no núcleo:
Art. 4º Escolhida a região para a colônia, proceder-se-á à elaboração do plano geral 1) trabalho a salário ou empreitada em obras ou serviços da colônia, pelo menos
de colonização e orçamento dos respectivos trabalhos, os quais deverão ser submetidos durante o primeiro ano;
à aprovação do Presidente da República. 2) assistência médica e farmacêutica e serviços de enfermagem até a emancipação
§ 1º A área do lote variará de 20 a 50 hectares. de colônia;
§ 2º Tratando-se de regiões de florestas naturais, em cada lote será mantida uma 3) empréstimo, durante o primeiro ano de localização na colônia de máquinas e
reserva florestal não inferior a 25 % da sua área total. instrumentos agrícolas e de animais de trabalho;
§ 3º Sempre que possivel será mantida uma grande reserva florestal típica da região, 4) transporte da estação ferroviária, porto marítimo ou fluvial até a sede da colônia.
em torno da colônia. Art. 14. Na região em que for fundada a colônia, os lotes em que estiverem riquezas
§ 4º Na elaboração do plano geral de colonização, serão respeitadas as belezas naturais exploráveis ou quedas dágua utilizáveis em benefício coletivo, não serão
naturais da região, bem como cuidar-se-á da proteção à sua flora e fauna. concedidos.
Art. 5º Fixada a região onde a colônia deverá ser fundada, será projetada a sua futura Art. 15. Na área em que for fundada a colônia, transferida por qualquer título ao
sede, escolhendo-se para isso a zona que melhores condições oferecer. domínio da União, os Estados e Municípios não poderão praticar atos que importem na
Parágrafo único. No projeto da sede serão observadas todas as regras urbanísticas, cobrança de impostos e taxas sobre o lote, culturas veículos destinados ao transporte de
visando a criação de um futuro núcleo de civilização no interior do pais. colono e o de sua produção, instalação para beneficiamento dos produtos
Art. 6º Na sede da colônia será fundado um aprendizado agrícola destinado a agropecuários, bem como sobre o valor da terra, enquanto a colônia não houver sido
ministrar aos filhos dos colonos instrução rural adequada, dotado de oficinas para emancipada.
trabalhos de ferro, madeira, couro, etc., onde os colonos e seus filhos farão Art. 16. Os lotes serão rurais e urbanos, segundo a definição do Art. 14 do decreto-lei
aprendizagem desses misteres necessários ao homem rural. 2.009, de 9 de fevereiro de 1940.
Parágrafo único. Poderão ser instituídos cursos rápidos, para menores e para adultos Art. 17. Os lotes urbanos serão concedidos gratuitamente ou vendidos mediante
com carater eminentemente prático. condições estabelecidas para cada colônia e submetidas à aprovação do Presidente da
Art. 7º Serão mantidos postos de monta com reprodutores selecionados; instalação República.
para beneficiamento dos produtos agrícolas florestais, agrícolas e de origem animal. Art. 18. Até a expedição do título definitivo de propriedade o ocupante do lote não
Art. 8º Serão mantidas ainda escolas primárias para alfabetização de todas as poderá vender, hipotecar, transferir, alugar, dar em anticrese, permutar ou alienar, de
crianças em idade escolar. qualquer modo, direta ou indiretamente, o lote, a casa e as bemfeitorias, ficando vedado
Art. 9º Os colonos serão reunidos em cooperativas de produção, venda e consumo. aos escrivães passar escrituras e procurações de qualquer natureza, desde que os
Art. 10. Em cada lote será construída pequena casa para residência do colono e sua concessionários não exibam o respectivo título definitivo de propriedade.
família, do tipo mais conveniente à região. Art. 19. Ao colono, a partir de um ano da sua localização na colônia, caberá a limpeza
Art. 11. Aprovado o plano geral de colonização e executados os respectivos das valas e valetas, até dois metros, inclusive, de largura e a conservação das estradas
trabalhos, será organizada a relação dos candidatos aos lotes, dando-se preferência, na de rodagem e caminhos, com menos de sete metros de plataforma, que atravessarem
distribuição, aos elementos locais e dentre estes os de prole numerosa assim as referidas terras.
considerados os chefes de família que tenham, no mínimo, cinco filhos menores que Art. 20. Os lotes rurais serão concedidos a cidadãos brasileiros maiores de 18 anos,
vivam sob a sua dependência. que não forem proprietários rurais e reconhecidamente pobres, desde que revelem
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aptidão para os trabalhos da agricultura e se comprometam a residir no lote que lhes for Art. 29. Os edifícios existentes na sede das colônias emancipadas poderão ser
concedido. transferidos para os Estados ou Municípios, mediante prévio acordo com o Governo da
§ 1º Excepcionalmente, poderão ser concedidos lotes a agricultores estrangeiros União. ou vendidos em concorrência pública.
qualificados que, por seus conhecimentos especiais dos trabalhos agrícolas, possam Art. 30. Emancipada a Colônia, a cooperativa nela existente tomará a seu cargo o
servir como exemplo e estímulo aos nacionais. estipêndio do agrônomo encarregado da assistência técnica aos colonos.
§ 2º E' vedada a concessão de lotes a quem quer que exerça função pública federal, Art. 31. As Colônias Agrícolas Nacionais, fundadas em observância às disposições
estadual no municipal. deste decreto-lei, serão administradas por agrônomos de reconhecida capacidade
Art. 21. Os títulos definitivos de propriedade serão passados pela Divisão de Terras e profissional e reputação ilibada, nomeados em comissão, com o vencimento que for
Colonização, deles constando os elementos indispensáveis à sua individuação, e serão fixado.
assinados pelo Presidente da República. Art. 32. Revogam-se as disposições em contrário.
Art. 22. No caso de falecimento do chefe de família ocupante de lote, este passará Rio de Janeiro, 14 de fevereiro de 1941, 120º da Independência e 53º da República.
aos herdeiros ou legatários, nas mesmas condições em que fora possuído. GETULIO VARGAS.
Art. 23. Qualquer débito que, porventura, haja contraído o chefe de família que
falecer, deixando viuva e orfãos, será considerado extinto.
Art. 24. Será excluído do lote que ocupar, o colono que:
a) deixar de cultivá-lo dentro dos prazos estabelecidos para cada colônia, salvo motivo
de força maior, devidamente comprovado, à juizo da administração da colônia;
b) desvalorizar o lote, explorando matas sem o imediato aproveitamento agrícola do
solo e o respectivo reflorestamento, em desacordo com o plano previamente aprovado;
c) por sua má conduta tornar-se elemento de perturbação para a colônia.
§ 1º A exclusão por motivo das alíneas a e b, deste artigo, será feita depois de
intimado o colono e de proceder-se à vistoria no lote, de que se lavrará o termo.
§ 2º No caso da alínea c será feito inquérito administrativo.
§ 3º Cabe ao Diretor da Divisão de Terras e Colonização, do Departamento Nacional
da Produção Vegetal, do Ministério da Agricultura, de acordo com os documentos
comprobatórios, autorizar a exclusão, de cujo ato caberá recurso, ao Ministro de Estado.
§ 4º Autorizada a exclusão, será o colono notificado administrativamente para, no
prazo de dez (10) dias, a partir da notificação, desocupar o lote respectivo. Não sendo
encontrado depois de procurado dois dias consecutivos, será feita a notificação por
edital publicado no Diário Oficial e em jornal editado na região, mais próxima com o
mesmo prazo de dez dias.
§ 5º Se decorrido o prazo estabelecido no parágrafo anterior, não for o lote
desocupado pelo colono, a União reocupa-lo-á administrativamente.
Art. 25. Ao colono excluído nenhuma indenização caberá pelas benfeitorias acaso
existentes no lote.
Art. 26. A emancipação da colônia será declarada pelo Governo, mediante decreto
executivo, quando houver sido expedido a todos os concessionários de lotes os títulos
definitivos de propriedade, ou antes, se conveniente.
Art. 27. Emancipada a colônia, o Governo cederá à cooperativa organizada pelos
colonos, as instalações, máquinas agrícolas, animais de trabalho e reprodutores nela
existentes.
Art. 28. A concessão dos remanescentes das colônias emancipadas será regulada
por instruções baixadas pelo Ministro da Agricultura.
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F. Negrão de Lima. Oswaldo Aranha. Art. 6º Se a posição e importância do núcleo exigirem a formação de uma sede, será
A. de Souza Costa. Fernando Costa. reservada, para isso, área suficiente, bem situada, na parte mais plana da zona e que
Eurico G. Dutra. Gustavo Capanema. preencha as condições necessárias de salubridade, realizando-se o preparo local e as
Henrique A. Guilhem. Waldemar Falcão. construções e obras indispensáveis, de acôrdo com o projeto aprovado pelo diretor da
João de Mendonça Lima. Salgado Filho Filho Filho Filho Filho Divisão de Terras e Colonização (D.T.C.).
. Parágrafo único. A sede será o ponto de convergência das principais estradas do
núcleo. No caso de já existir, em terras onde se leve a efeito a fundação de um núcleo
Anexo 03 - Decreto-Lei n° 6.117, de 16 de dezembro de 1943 colonial, povoação que satisfaça as exigências constantes, dêste decreto será a mesma
considerada como sede do núcleo.
Art. 7º Os núcleos coloniais, além das casas destinadas à residência do pessoal
DECRETO-LEI N. 6.117 - DE 16 DE DEZEMBRO DE 1943 técnico, administrativo e operário e de trabalhadores, terão:
a) um campo de demonstração destinado às culturas próprias da região ou de outras
Regula a fundação dos Núcleos Coloniais a dá outras providências econômicamente aconselháveis;
O Presidente da República, usando da atribuição que lhe confere o artigo 180 da b) escolas para ensino rural, de acôrdo com os programas estabelecidos pela
Constituição, Superintendência do Ensino Agrícola;
Decreta: c) pequenas oficinas para o trabalho do ferro e da madeira;
Art. 1º Núcleo Colonial é uma reunião de lotes medidos e demarcados, formando um d) serviço médico e farmacêutico;
grupo de pequenas propriedades rurais. e) cooperativas de venda, consumo e crédito.
Art. 2º A formação de núcleos coloniais poderá ser promovida: Art. 8º Além do que refere o artigo anterior, o núcleo colonial poderá manter:
a) pela União; a) estações de monta, com reprodutores selecionados e aconselhados à região;
b) pelos Estados e Municípios; b) instalação para beneficiamento dos produtos agrícolas;
c) por emprêsas de viação férrea ou fluvial, companhias, associações ou por c) postos meteoro-agrários;
particulares. d) animais de trabalho;
Art. 3º O Ministério da Agricultura reserva para si o direito de inspecionar os núcleos e) máquinas, instrumentos e utensílios agrícolas, sementes, adubos, inseticidas e
coloniais fundados pelos Estados, Municípios, emprêsas de viação férrea ou fluviais, fungicidas, para venda aos colonos, pelo preço do custo.
companhias, associações e particulares, embora os fundadores gozem ou não dos Art. 9º Fundado o núcleo colonial, a D. T. C. entrará em acôrdo com o govêrno da
auxílios oficiais, de acôrdo com o decreto número 3.010, de 20 de agôsto de 1938. localidade para ser estabelecida, no ponto mais conveniente, uma feira livre.
Art. 4º Os núcleos coloniais serão estabelecidos em zonas rurais, desde que reunam Art. 10. No projeto de organização do núcleo ficarão reservados os lotes:
as seguintes condições: a) em que existirem riquezas naturais exploráveis ou quedas d'água utilizáveis em
a) situação climatérica e condições agrológicas exigidas pelas culturas da região; benefício coletivo;
b) constituição física e composição natural que representem os tipos principais de terras b) que não possuírem condições especiais para serem habitados, podendo, neste caso,
apropriadas às culturas da região; ser oportunamente aproveitados os alienados.
c) Iocalização em ponto próximo de centro de população servida por estrada de ferro, Art. 11. Satisfeitas as exigências previstas no art. 23 e a legislação de entrada de
rodovia ou companhia de navegação; estrangeiros, os lotes rurais dos núcleos coloniais serão distribuídos individualmente a:
d) salubridade; a) nacionais que queiram dedicar-se à agricultura;
e) existência de cursos permanentes dágua ou sistema de açudagem para irrigação e b) estrangeiros agricultores.
outros misteres agrícolas; Art. 12. Ficam isentos os concessionários de lotes rurais, durante os três primeiros
f) área nunca inferior a mil hectares de terras de culturas ou cultiváveis, salvo casos anos de sua localização no núcleo, de todos os impostos e taxas federais, estaduais e
especiais em que seja conveniente o aproveitamento de terras da União. municipais, que incidam ou venham incidir sôbre seus lotes, culturas, veículos destinados
Parágrafo único. Nenhum núcleo colonial poderá ser estabelecido sem que tenha sido ao seu transporte e instalações de beneficiamento de seus produtos, inclusive os
demarcado no todo ou na parte destinada à divisão em lotes. impostos territorias de transmissão inter-vivos e causa-mortis, para os lotes rurais
Art. 5º Escolhida a localidade para o núcleo e organizados e submetidos à aprovação integralmente pagos.
do Ministro o plano geral e orçamento provável dos trabalhos, serão as terras divididas em Art. 13. O produto da venda dos lotes, nos núcleos coloniais da União, pertencerá ao
lotes e executadas as respectivas obras. Govêrno Federal e constituirá o fundo especial a que se refere o art. 72 do decreto-lei n.
Parágrafo único. A fundação de núcleos coloniais federais será feita por decreto. 406, de 4 de maio de 1938.
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Art. 14. Os lotes, nos núcleos coloniais, serão classificados em: § 1º Tal preço poderá ser alterado periódicamente, de acôrdo com o valor das terras,
a) rurais, destinados à lavoura e criação, cujo limite variará entre 10 e 30 hectares, para os lotes vagos.
salvo casos especiais, devidamente justificados e submetidos à aprovação do Presidente § 2º Ao preço do lote será adicionado, quando houver, o valor venal das casas,
da República; benfeitorias e culturas, salvo quando estas já pertencerem ao respectivo ocupante, que
b) urbanos, situados na sede do núcleo, destinados a formar a futura povoaçao, tendo a terá preferência para a aquisição do respectivo lote.
sua frente voltada para ruas e praças e com uma área máxima de 3.000 metros § 3º O valor venal, referido no parágrafo anterior, será avaliado de acôrdo com as
quadrados, salvo se destinados a fins especiais. instruções baixadas pela D. T. C., lavrando-se o respectivo têrmo.
Art. 15. Os lotes serão vendidos mediante pagamento à vista ou a prazo, na forma § 4º As culturas e benfeitorias, existentes no lote a ser vendido, serão avaliadas pelo
prevista no art. 22 e seus parágrafos. menor preço local, pela administração do núcleo, com aprovação do diretor da D. T. C.,
Art. 16. Os lotes urbanos serão vendidos ao possuidor de lote rural mantido bem preço que será adicionado ao valor do lote.
cultivado ou beneficiado, e ao estrangeiro ou nacional que, dispondo de recursos, se Art. 18. É permitido ao colono adquirir, a prazo, segundo lote rural, de preferência
obrigue a construir imediatamente a casa para residência, estabelecimento de comércio, contíguo ou próximo, desde que obtenha o título definitivo do primeiro e tenha
indústria ou oficina de trabalho, de acôrdo com a planta aprovada pela administração do desenvolvido a cultura ou beneficiamento do mesmo, a juízo do diretor da D. T. C.
núcleo. Art. 19. O colono não poderá, sem prévia autorização do diretor da D. T. C., vender,
§ 1º Os lotes urbanos serão cercados pelo adquirente, pelo menos na frente, voltada hipotecar, transferir, alugar, dar em anticrese, permutar ou alienar, de qualquer modo,
para ruas e praças, de acôrdo com o sistema de cercas aprovado pela administração do direta ou indiretamente, o respectivo lote, a casa o as benfeitorias, inclusive matas o
núcleo. quaisquer bens no lote existentes:
§ 2º Dentro do prazo máximo de seis meses, a partir da data da expedição do título a) enquanto dever ao núcleo, mesmo que êste esteja emancipado;
provisório de propriedade, deverá o adquirente de lote urbano satisfazer a exigência do b) mesmo que já possua o respectivo título definitivo de propriedade, antes da
parágrafo anterior e concluir a construção da respectiva casa, estabelecendo-se multas de emancipação do núcleo.
Cr$ 100,00 a Cr$ 500,00 pela falta de cumprimento dessas obrigações. § 1º Fica vedado aos notários e escrivães passar escrituras e procurações de qualquer
§ 3º Para garantia das obrigações estabelecidas nos parágrafos anteriores, será natureza, desde que os concessionários a que se refere êste decreto-lei não exibam a
expedido o título provisório de propriedade, o qual será substituído pelo definitivo, depois autorização mencionada neste artigo.
de satisfeitas as referidas obrigações. § 2º Os atos referidos neste artigo serão regulados em instruções especiais, baixadas
§ 4º Ao adquirente de lote urbano caberá a conservação das ruas a praças da sede, pelo diretor da D. T. C. e aprovadas pelo Ministro de Estado.
bem como a limpeza das valas que existirem no lote. Art. 20. Ao colono, a partir de um ano após a sua localização no núcleo, caberá a
§ 5º Quando o lote urbano for pretendido por mais de uma pessoa, será pôsto em limpeza das valas e valetas, até dois metros de largura e a conservação das estradas de
concorrência administrativa o adjudicado a quem maiores vantagens oferecer. rodagem e caminhos, com menos de sete metros úteis de plataforma, que atravessarem
Art. 17. O preço de venda será estabelecido por uma comissão de avaliação, composta as respectivas terras.
de três funcionários designados pelo Diretor da D. T. C., para cada grupo de lotes Art. 21. Nos núcleos coloniais poderão ser mantidos armazens ou depósitos de
componentes do núcleo colonial, antes de sua distribuïção a colonos, por proposta da D. gêneros alimentícios e outros, de primeira necessidade, para garantia do abastecimento
T. C. e aprovação do Ministro de Estado, observados os seguintes fatores: da população, a preços módicos, por meio de cooperativas.
a) situação em relação aos mercados consumidores; Art. 22. Os preços dos lotes, com ou sem casa, quando comprados a prazo, bem como
b) distância média da sede do núcleo; quaisquer auxílios, quando não sejam remuneração de trabalho ou classificados como
c) vias de comunicação; gratuitos, constarão de cadernetas entregues ao devedor, organizadas em forma de conta
d) salubridade; corrente, e constituïrão débito dos colonos levado à conta do chefe da família
e) sistemas hidrográfico e orográfico, de forma a ser verificada a possibilidade da § 1º A amortização do débito do concessionário do lote rural ou urbano será feita em
irrigação e do trabalho mecânico da terra; dez prestações iguais e anuais, vencendo-se a primeira no último dia do terceiro ano e a
f) constituïção física e composição natural, de maneira a caracterizar os principais tipos última no fim do décimo segundo ano de estabelecimento. Em falta de pagamento, cobrar-
de terras apropriadas às culturas da região; se-á o juro de móra à razão de 5% ao ano sôbre as prestações vencidas, não sendo
g) florestas; permitido atrazo superior a dois anos, quando se fará a cobrança executiva, na forma da
h) culturas adaptáveis economicamente à região; legislação em vigor, a juízo da D. T. C.
i) preço médio dos terrenos limítrofes; § 2º O concessionário de lote, que solver seus débitos antecipadamente terá direito à
j) finalidade social da colonização. bonificação, calculada à razão de 1% ao mês se o respectivo prazo for inferior a um ano; e
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no caso de ser igual ou superior a um ano o prazo do vencimento, ou a venda se efetuar à § 2º É expressamente vedado aos administradores ou zeladores dos núcleos coloniais
vista, o desconto será de 12% sôbre a soma a ser paga na ocasião. receberem as importâncias relativas às prestações dos lotes, ou quaisquer outras, salvo
§ 3º Até o pagamento da primeira prestação anual, o colono será considerado ocupante casos especiais, autorizados pelo diretor da D. T. C.
do lote a título precário. Art. 27. Aos colonos poderão ser concedidas as seguintes vantagens:
Art. 23. Só poderão adquirir lotes rurais: a) alimentação gratuita, durante três primeiros dias da chegada ao núcleo;
a) quem, sendo maior de 18 anos, não for proprietário de terreno rural, de b) trabalho a salário ou empreitada, em obras ou serviços do núcleo, durante o primeiro
estabelecimento de indústria ou de comércio; ano, a partir do dia da chegada do colono ao núcleo;
b) quem se comprometer a passar a residir com sua família no lote que lhe for c) assistência médica gratuita até a emancipação do núcleo;
concedido; d) dieta e medicamentos, plantas, sementes, adubos, inseticidas, fungicidas e
c) quem, satisfazendo as exigências da letra a, se obrigar a trabalhar e dirigir, no local, ferramentas agrícolas, gratuitos, durante o primeiro ano, a contar da data da chegada do
os trabalhos agrícolas do lote; colono ao núcleo;
d) quem, satisfazendo as condições exigidas pelas letras a, b e c, não exercer função e) empréstimo, durante o primeiro ano da chegada ao núcleo, de máquinas e
pública, quer como funcionário, quer como extranumerário. instrumentos agrícolas e de animais de trabalho;
Parágrafo único. Serão respeitadas as concessões já outorgadas, bem como aquelas f) transporte da estação ferroviária, pôrto marítimo ou fluviail até a sede do núcleo.
que decorrerem das legalizações e regularizações previstas no decreto-lei n. 893, de 26 § 1º Após o primeiro ano, os fornecimentos especificados nas alíneas d e e poderão ser
de novembro de 1938. feitos mediante pagamento, ou levados à conta corrente do colono até o limite
Art. 24. Aos colonos adquirentes de lotes serão expedidos os seguintes títulos: estabelecido pelo diretor da D.T.C.
a) provisório, ou de designação do lote rural ou urbano, que será entregue ao § 2º Os colonos que derem grande desenvolvimento às culturas dos lotes, a juízo da
concessionário em seguida ao seu estabelecimento no lote; administração, poderão receber reprodutores ou máquinas agrícolas, a juízo do Ministro.
b) definitivo, ou de propriedade do lote, que será expedido depois de haver o Art. 28. Serão cassadas as vantagens e prêmios estabelecidos neste decreto-lei aos
concessionário liquidado integralmente a sua dívida, quer seja o lote adquirido à vista ou a colonos que, nos núcleos coloniais, transgredirem ou deixarem de cumprir as disposições
prazo, ou quando nas condições expressas no artigo 30. do decreto n. 3.010, na forma de seu art. 265.
Art. 25. Os títulos provisórios e definitivos serão passados pela D. T. C., de acôrdo com Art. 29. Falecendo o chefe da família, em cujo nome houver sido expedido o título
os elementos técnicos aí existentes. provisório de propriedade, o lote passará aos herdeiros ou legatários, nas mesmas
§ 1º Do título provisório passado ao adquirente do lote deverão constar o preço total do condições em que fôra possuído.
lote e as principais condições para obtenção do título definitivo. Parágrafo único. Se o núcleo ainda não estiver emancipado, a transferência, será feita
§ 2º No verso do talão do título definitivo, tanto do lote rural como do urbano, serão administrativamente, por ordem oficial, sem intervenção judiciária.
anotados os números e as datas dos recibos de pagamento, o nome e a sede da estação Art. 30. Qualquer débito que, porvertura, haja contraído com o núcleo o chefe da família
fiscal arrecadadora, designação do livro e folha de escrituração do núcleo, onde foram que falecer, deixando viúva e órfãos, será considerado extinto, salvo o proveniente da
lançados os pagamentos, bem como um esboço do lote extraído da planta do núcleo, com compra do lote, casa, e benfeitorias.
indicação dos azimutes verdadeiros e comprimento dos lados do polígono de divisas. Art. 31. Se o lote, casa e benfeitorias tiverem sido comprados a prazo e falecer o
§ 3º Quando ocorrerem os casos previstas no artigo 30, serão os mesmos anotados, adquirente, deixando pagas, pelo menos 3 prestações, serão dispensadas, em favor da
igualmente, no verso do talão do título. viúva e órfãos, as demais prestações ainda não vencidas expedindo-se título definitivo de
§ 4º As anotações referidas nos parágrafos anteriores serão assinadas pelo funcionário propriedade.
encarregado da escrituração da dívida colonial e visadas pelos chefes de secção. Parágrafo único. A requerimento dos herdeiros dos concessionários de lotes, depois de
Art. 26. Os pagamentos de lotes, casas e benfeitorias serão feitos na estação verificada a extrema pobreza, poderá o Ministro relevar a dívida total contraída, pela
arrecadadora mais próxima do núcleo, mediante guia do administrador ou zelador do aquisição do lote, casa e benfeitorias, determinando a expedição de título definitivo.
núcleo, na qual será marcado o prazo máximo de quinze dias para o recolhimento da Art. 32. Será excluído do lote em que estiver localizado, o colono que:
importância respectiva. a) deixar de cultivar o seu lote por espaço de três meses, salvo motivo de fôrça maior, a
§ 1º Os recibos expedidos pela estação arrecadadora serão registrados em livro juízo da administração do núcleo;
próprio, no núcleo, designando-se o nome de quem efetuou o pagamento, importâncias b) deixar de cultivar a área mínima dentro do prazo máximo, estabelecido pela
pagas, discriminadamente, número e data dos recibos, nome e sede da estação administração, de acôrdo com as propostas aprovadas pelo diretor da D.T.C., salvo justa
arrecadadora. causa, reconhecida pela administração;
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c) desvalorizar o lote, explorando matas sem o imediato aproveitamento agrícola do Art. 38. Emancipado o núcleo, ficará êste integrado na vida autônoma do respectivo
solo e o respectivo reflorestamento, de acôrdo com o plano prèviamente aprovado, bem município, ressalvado o disposto no art. 19.
como deixar de cumprir as exigências constantes da artigo 20; Art. 39. Os lotes vagos nos núcleos emancipados serão vendidos separada ou
d) por inobservância a quaisquer dos dispositivos dêste decreto-lei e respectivas englobadamente, em concorrência pública bem como as terras que forem requeridas e
instruções em vigor. que estiverem por medir e demarcar, sendo as condições de venda estipuladas pelo
§ 1º A exclusão, por motivo das alíneas a, b, c e d dêste artigo, será feita depois de Ministro.
intimado o colono e de proceder-se vistoria no loto, de que se lavrará o têrmo. Art. 40. Aos colonos do núcleo emancipado e que estiverem em dia com as prestações
§ 2º Cabe no diretor da D.T.C., de acôrdo com os documentos comprobatórios, de seus lotes será concedida uma redução de 25% sôbre o restante de sua dívida, desde
autorizar a exclusão do colono, com recurso ao Ministro de Estado. que paga de uma só vez, dentro do prazo de três meses, a contar da data da
§ 3º Autorizada a exclusão, será o colono notificado administrativamente para, no prazo emancipação do núcleo.
de 10 dias, a partir da notificação, desocupar o lote respectivo. Se não for encontrado o Art. 41. A cobrança do débito dos concessionários de lotes dos núcleos emancipados,
colono, depois de procurado em dois dias consecutivos, será feita a notificação por edital proceder-se-á por intermédio da coletoria federal mais próxima do núcleo, nas condições
publicado no Diário Oficial, com o mesmo prazo de dez dias. estabelecidas nêste decreto-lei.
§ 4º Se decorridos os prazos fixados neste artigo, não for o lote desocupado pelo Parágrafo único. Para o fim indicado nêste artigo, a D.T.C. fornecerá à coletoria
colono, a União reocupá-lo-á administrativamente. respectiva, uma relação da dívida dos concessionários de lotes, da qual deverão constar
§ 5º As benfeitorias existentes nos lotes revertidos é União serão avaliadas por uma as datas dos vencimentos dos débitos.
comissão técnica, designada pelo diretor da D.T.C., procedendo-se a respectiva venda em Art. 42. Havendo terras devolutas no núcleo emancipado, o Govêrno poderá quando
concorrência administrativa aprovada pela referida autoridade. entender conveniente, mandar dividí-las em lotes, promovendo para isso, os necessários
§ 6º Ao colono excluído será entregue a importância correspondente à avaliação a que meios.
se refere o § 1º, deduzido o valor do seu débito para com o núcleo. Art. 43. Os casos omissos dêste decreto-lei serão resolvidos por portaria baixada pelo
§ 7º Do ato da exclusão do colono e da execução da respectiva decisão não caberá Ministro de Estado.
ação possessória, aplicando-se êste dispositivo aos processos em curso em quaisquer Art. 44. O presente decreto-lei entrará em vigor na data de sua publicação, ficando
instâncias e fases. revogado o decreto-lei n. 2.009 de 9 de fevereiro de 1940.
Art. 33. Será expulso do lote em que estiver localizado o colono que por sua má Rio de janeiro, 16 de dezembro de 1943, 122º da Independência e 55º da República.
conduta tornar-se elemento de perturbação para o núcleo. GETÚLIO VARGAS.
§ 1º A expulsão será precedida de inquérito administrativo; Apolônio Sales.
§ 2º Ao colono que for expulso caberá tão sòmente a restituïcão das importâncias que Alexandre Marcondes Filho.
haja recolhido aos cofres públicos, como pagamento, parcial ou total, das terras, casas e A. de Sousa Costa.
outras benfeitorias.
§ 3º Autorizada a expulsão, proceder-se-á, quanto ao colono expulso, pela forma
estabelecida nos parágrafos 2º, 3º, 4º e 7º, do artigo 32.
Art. 34. A partir dos pontos marginais de estradas de rodagem, em tráfego ou em
construção, ou de rios em que houver navegação, podem ser estabelecidas linhas
colonais.
Parágrafo único. A linha colonial a que se refere êste artigo é uma estrada de rodagem
ladeada de lotes, medidos e demarcados, seguidamente, ou próximos uns dos outros.
Art. 35. As linhas coloniais deverão estar situadas em zonas que satisfaçam as
condições exigidas para os núcleos.
Art. 36. A emancipação do núcleo colonial será declarada pelo Govêrno, quando
houver sido expedido a todos os concessionários de lotes, os títulos definitivos de
propriedade ou antes, se conveniente.
Parágrafo único. A emancipação dos núcleos coloniais dar-se-á por decreto.
Art. 37. Emancipado o núcleo, poderá o Govêrno ceder à cooperativa agrícola
organizada entre os colonos do núcleo, as instalações, instrumentos, máquinas agrícolas,
animais de trabalho, reprodutores e material dispensável.
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ANEXO 04 - Trecho do Relatório das Atividades do Ministério da ANEXO 05 - Trecho de relatório do Ministério da Agricultura, de
Agricultura, feito pelo ministro João Cleofas, de 1951, sobre o Núcleo 1960, Seção IX - Programas Específicos, sobre os Núcleos Coloniais.
Colonial de Papucaia, no item “Serviços e Obras”.
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ANEXO 06 - Planta da localidade de Papucaia


PRÉDIOS E SERVIÇOS - ÁREA URBANA PAPUCAIA

LEGENDA:
Igrejas Evangélic as
Unidades de Saúde
Prédios da Administração Pública Munic ipal
Emater
Telemar
Rodoviária
Incra
Igrejas Católic as
Centro Espírita
Bancos
DPO
Cerci
Correios
CCPL
Fo nte : Núcleo m unicipal de Informa çõe s
Se cretaia Municip al de Tursm o, Meio Amb iente e Urb anism o

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