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Vol. 9(3) Special Issue págs. 19-30.

2011

www.pasosonline.org

Porto de Trás: etnicidade, turismo e patrimonialização

Patrícia de Araújo Brandão Coutoi


Universidade Federal Fluminense

Resumo: Este artigo tem por objetivo discutir o recente processo de patrimonialização cultural do
bairro do Porto de Trás, da cidade de Itacaré, situada no litoral sul do estado da Bahia; uma comunidade
étnica de afro-descendentes, tradicionalmente vinculada à pesca artesanal. Historicamente, os
moradores deste bairro, agrupados pelo pertencimento familiar, foram segregados no espaço urbano
por implicações raciais e sócio-econômicas. Com a introdução do turismo nos anos de 1990, o
bairro, que se preservou dos novos processos de ocupação, manteve suas práticas culturais e passou
a ser reconhecido como um reduto de “autenticidade” da cultura local. Pretendemos abordar os
processos de interação entre as esferas patrimoniais atuantes neste espaço turistificado, enfocando
particularmente a constituição da etnicidade dos moradores desta área.

Palavras-Chave: Turismo; Etnicidade; Patrimônio Cultural; Itacaré (BA); Populações Afro-brasileiras

Title: Porto de Trás: ethnicity, tourism and the recognition of heritage

Abstract: The article describes the process by which cultural heritage of Porto de Trás, a neigborhood
in Itacaré on the southern coast of Bahia, Brazil, has gained recognition. Porto de Trás is an ethnic
community of African Brazilians with a tradition of artisanal fishing. Historically, its residents,
organized in family groupings, have been segregated for their race and socioeconomic status.
Even with the arrival of the tourist industry in the 1990s and concomitant urban developments,
it maintained its traditional cultural practices, gaining recognition as an enclave of “authenticity”
referred to local culture. Interactions between the different spheres of heritage operating in this space
are discussed especially the construction of ethnicity by local residents

Keywords: Tourism; Ethnicity; Cultural Heritage; Itacaré (Bahia/ BR); African Brazilians.

iDoutora em Antropologia Pesquisadora Associada do INCT-InEAC / LeMetro – Laboratório de Etnografia Metropolitana.


IFCS/UFRJE-Mail: patcouto@centroin.com.br

© PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. ISSN 1695-7121


20 Porto de Trás: etnicidade, turismo e patrimonialização

Introdução dos moradores do Porto de Trás, ao viven-


ciarem o fenômeno turístico e refletirem
Este artigo1 tem por objetivo discutir sobre as atribuições internas e externas à
o recente processo de patrimonialização identificação do grupo.
cultural do bairro do Porto de Trás, uma
“comunidade étnica de afro-descendentes” O patrimônio em sua multiplicidade
(Barth, 2000) tradicionalmente vinculada de sentidos
à pesca artesanal e às atividades portuá-
rias da cidade de Itacaré, situada no lito- Ao discutir a noção de patrimônio en-
ral sul do estado da Bahia. Enquanto a tendido como portador de memória cole-
cidade foi um porto de escoamento da pro- tiva, Le Goff (1998) identifica três fases
dução de cacau da região - entre os anos de históricas para a configuração desta no-
1900 e 1960 – os moradores deste bairro, ção. Num primeiro período, está associa-
agrupados pelo pertencimento familiar, do ao processo de formação dos Estados
foram segregados no espaço urbano por Nações, quando seu sentido foi ancorado
implicações raciais e sócio-econômicas. pelo Estado na identificação de símbolos
Com a introdução da economia turística de um passado nacional comum. Seu uso
nos anos 1990 e o subseqüente processo crescente entre as duas grandes guerras
de reconfiguração urbana, o bairro, que mundiais, inaugura uma segunda fase
se preservou dos novos processos de ocu- quando passa a ser apropriado por insti-
pação, manteve suas práticas culturais e tuições e organizações internacionais. A
incorporou os novos sentidos da afro-baia- partir dos anos de 1960, a noção de patri-
nidade, passou a ser reconhecido como um mônio expande-se de sua condição históri-
reduto de “autenticidade” da cultura local. ca para sua condição social; do patrimônio
Compreendendo a multiplicidade de herdado ao reivindicado; de sua percepção
sentidos que o patrimônio como catego- visível e material a uma percepção invisí-
ria de pensamento evoca, entendemos vel e imaterial.
como “patrimonialização” os diferentes A noção de patrimônio intangível se
processos de resignificação e reapropria- vincula a moderna concepção antropoló-
ção desta categoria pelos distintos grupos gica de cultura, uma vez que seu sentido
de interesse que o atualizam em termos desmaterializado e simbólico o permite
normativos e pragmáticos. Neste sentido, trafegar no plano do intangível. Na atu-
pretendemos abordar os processos de inte- alidade, as diferentes abordagens que
ração entre as esferas patrimoniais atuan- convergem para o reconhecimento de um
tes neste espaço turistificado, privilegian- patrimônio e os significados que lhes são
do o enfoque de reapropriação do ponto de atribuídos não se excluem, pelo contrário,
vista nativo. Interessa-nos em particular, são complementares, posto ser necessário
analisar os alicerces culturais que possi- haver “ressonância” para a identificação
bilitaram a constituição da etnicidade de de um objeto como patrimônio (Gonçal-
seus moradores, essencial para o processo ves, 2004). Neste sentido, patrimônio e
de inversão simbólica na condição urbana memória coletiva, formam um léxico de
do Porto de Trás, um bairro historicamen- expressões cuja característica principal
te estigmatizado, que se distinguiu por é a multiplicidade de sentidos que lhes
uma identidade cultivada e na atualidade são atribuídos, tanto pelo senso comum,
patrimonializada em diferentes sentidos. quanto por agentes estatais especializa-
A seguir, apresento os parâmetros con- dos em coletar fragmentos culturais.
ceituais com os quais pretendo dialogar Portanto, como lugar da identidade
na presente situação etnográfica2, estabe- de um passado resguardado ou evoca-
lecendo neste caso, as interfaces entre pa- ção necessária do presente e do futuro,
trimônio e turismo, para ao longo da ana- como formas fixas ou intangíveis, porém
lise etnográfica demonstrar o processo de portadoras de tempo e de vivências, a ex-
constituição da “etnicidade” (Barth, 1994) pressão ao longo do tempo acumulou uma

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série de noções que se configuraram num dores que a cidade teve sua origem numa
vasto campo semântico. Justo por isto, aldeia indígena Guerém catequizada pe-
Gonçalves (2003) nos sugere posicionar o los jesuítas que aí vieram se instalar no
patrimônio como “categoria de pensamen- início do século XVIII e introduzir o plan-
to”, presente em toda e qualquer socieda- tio da cana-de-açúcar.
de humana. Em outras palavras, é neces- Os catequizadores construíram uma
sário identificar e comparar os diversos
contornos semânticos da categoria patri-
mônio para compreendê-la no tempo e no
espaço, estabelecendo as distinções entre
o que é normativo e o que é pragmático
sobre o patrimônio.
Isto significa dizer que em qualquer
situação que a questão patrimonial se
imponha, não devemos pensá-la como um
construto único, de amarras bem defini-
das e um sentido comum para o seu em-
prego. Seus sentidos e significados estão
diretamente associados aos atores, gru-
pos, agentes e agências que fazem uso Igreja de São Miguel e Monumento ao Cacau (Foto:
do conteúdo desta categoria, o que impli- Patricia A. B. Couto)
ca em afirmar que não necessariamente
um grupo ou segmento social que possui capela em homenagem a São Miguel e ba-
um patrimônio cultural faça uso desta tizaram a nova povoação de São Miguel
expressão de forma direta. Muitas vezes, da Barra do Rio de Contas no ano de 1718.
principalmente entre os grupos étnicos de Por sua extensa possibilidade de navega-
origem ágrafa, como é o caso dos morado- ção, ainda no século XVIII, o Rio de Con-
res do bairro do Porto de Trás, a compre- tas transformou-se no eixo de ligação en-
ensão do conteúdo patrimonial pode estar tre o interior da Chapada Diamantina e
condensada no plano simbólico, onde se o litoral, no qual São Miguel da Barra do
produzem os sentidos culturais. Rio de Contas servia como apoio náutico
Em termos etnográficos, tanto o “pa- devido às condições facilitadoras de sua
trimônio” quanto o “fenômeno turístico” foz. Assim, a pequena vila, devido a sua
podem ser qualificados como “fatos sociais localização no encontro das águas ribeiri-
totais” (Mauss, 1974) porque se caracteri- nhas junto ao mar, acabou por se consti-
zam como elementos mediadores que atra- tuir num ponto estratégico para embar-
vessam diversos planos simbolicamente que e desembarque de produtos da época
construídos no domínio social (Couto, e para o tráfico de escravos que serviam
2007b). Na situação em questão é o tu- às fazendas locais.
rismo, como “rizoma” (Barretto, 2003)3, A cana de açúcar não vingou como pro-
que em sua imprevisibilidade permite o duto regional. Foi somente em meados
engendramento de uma multiplicidade de do século XIX que a região do litoral sul
sentidos patrimoniais e produz uma nova do estado saiu de sua condição de forne-
consciência étnica nos moradores do por- cedora de produtos de subsistência para
to. ganhar relevância econômica e se tornar
a principal região produtora de cacau do
Um pouco da história do município estado (Falcon, 1995)4. A partir deste pe-
ríodo, o porto de Barra do Rio de Contas
De acordo com os habitantes do muni- ganhou um novo sentido. Como único vín-
cípio, a história de Itacaré se divide em culo de transporte náutico entre a região e
duas fases: antes e depois da construção a capital de São Salvador, passou a drenar
da estrada (1996-1998). Contam os mora- toda a produção cacaueira do sul do esta-

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do da Bahia. mercado internacional e a subseqüente


Até então, habitado essencialmente incidência do fungo chamado “vassoura
por pescadores e ribeirinhos, muitos de- de bruxa”, uma praga que varreu as plan-
les de origem indígena ou filhos e netos de tações de cacau do sul do estado da Bahia.
escravos, oriundos, tanto dos quilombos A partir de então o município entrou em
e mocambos regionais (Spix e Martius, franca decadência por não dispor de ou-
1981; Reis, 2005)5 quanto das fazendas tros produtos que mobilizassem recursos
locais, o pequeno povoado passou a atrair para a região.
e agregar novos interesses de segmentos A “crise do cacau” não afetou somente
sociais mais abastados. A intensidade da o município, mas todo o sul do estado da
vida comercial do Rio de Contas decorren- Bahia. Os baixos preços ditados pelo mer-
te da riqueza obtida com o cacau fez com cado e a ausência de um fruto saudável,
que o povoado de São Miguel ganhasse provocaram o endividamento dos fazen-
ares de vila. Durante o terceiro ciclo do deiros, o desemprego de grande parte dos
cacau (1895/1930), luxuosas casas de ve- trabalhadores rurais e a estagnação da
raneio foram construídas pelos fazendei- economia municipal.
ros do interior e comerciantes, que passa- Dentre as estratégias governamentais
ram a residir na área do porto. Assim, em
torno da igreja de São Miguel, no alto de
uma pequena colina junto ao mar, desen-
volveu-se o centro da vila.
A região portuária ganhou construções
portentosas que estampavam a riqueza de
seus proprietários. A abastança começa a
se esvair no final da década de 20, quando
o porto de Barra do Rio de Contas perde
parte de sua importância estratégica para
o escoamento da produção cacaueira. Esta
perda se deveu essencialmente a dois fato-
res: a construção do porto de Ilhéus entre
os anos de 1920 e 1926 e a extensão fer-
roviária que conectou os povoados desta
área ao novo porto, mais central para a
região sul. A partir de 1931, o município
e sua sede passam a se chamar Itacaré.
Embora tenha perdido sua relevância Fonte: http://www.costadocacau.com.br/pt/
portuária regional, seu porto continuou a costadocacau.php
escoar a produção municipal e a embarcar
os passageiros que rumavam para Salva- para reordenar a economia do estado, foi
dor até o final da década de 1960, quan- criado no ano de 1991, o PRODETUR/
do foi desativado devido ao assoreamento BAHIA - Plano de Desenvolvimento do
crescente do Rio de Contas. Turismo da Bahia – com a finalidade de
O fechamento do Porto de Itacaré en- reposicionar a indústria turística estadu-
cerrou seus habitantes num relativo iso- al no ranking nacional.
lamento uma vez que a população, antes Este planejamento elaborou uma sé-
acostumada à circulação costeira permi- rie de metas e redesenhou a geografia
tida pela navegação passou a enfrentar turística do estado dividindo-o em seis
sérias dificuldades de circulação devido áreas: Costa dos Coqueiros, Costa do
a seus frágeis caminhos terrestres. Esta Dendê, Costa do Descobrimento, Costa
situação se agravou ainda mais com a cri- das Baleias, Costa do Cacau e Chapada
se econômica do cacau nos anos de 1980, Diamantina. Como resultante do plane-
por decorrência da queda do produto no jamento governamental para a expansão

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e implantação de novas áreas turísticas, uma onda migratória em direção à região,


o município de Itacaré, situado na então tanto por parte das populações circunvi-
denominada Costa do Cacau e possuidor zinhas em busca de novas oportunidades
de um dos últimos redutos da mata-atlân- econômicas, quanto por parte de peque-
tica, foi beneficiado com a construção da nos empresários e grandes especuladores
Estrada Parque Ilhéus-Itacaré, entre os imobiliários internacionais e nacionais,
anos de 1996-1998. vindos da região sudeste. Tais transfor-
Observa-se, portanto, a atribuição de mações decorrentes do processo de absor-
valores patrimoniais por parte do Es- ção do fenômeno turístico têm desencade-
tado com relação à demarcação de seus ado a re-configuração social, econômica,
possíveis territórios turísticos. Em ou- territorial e simbólica das áreas urbanas
tras palavras, o estado nomeou os futu- e rurais do município (Couto, 2007a).
ros territórios turísticos de acordo com De fato, a estrada trouxe os turistas e o
suas características naturais, culturais turismo reaqueceu a economia municipal
e históricas, com o intuito de viabilizar com a presença de novos investidores que
economicamente o projeto governamental instalaram pousadas, hotéis, agências e
perante as agências de fomento interna- operadoras ecoturísticas na localidade,
cional a exemplo do Banco Interameri- mas as novas oportunidades de trabalho
cano de Desenvolvimento (BID) que teve também atraíram outros “estrangeiros”
intensa participação na concretização do (Simmel, 1983) dispostos a encontrar um
projeto turístico estatal (PRODETUR/ lugar no mercado de trabalho insurgente.
BAHIA) e posteriormente na efetivação As novas “co-presenças”(Urry, 2005), con-
do PRODETUR NE I (Couto, 2007)6 . seqüentes à facilidade de acesso e mobi-
No caso do município de Itacaré, o selo lidade, acabaram por gerar uma espécie
patrimonial atribuído pelo Estado está as- de antagonismo latente entre aqueles que
sociado ao imaginário coletivo posto que são considerados como “de dentro” e “de
no plano simbólico, vincula o território fora” do município (Couto, 2006), ou seja,
municipal às representações da “cultura antigos e novos moradores ou “estabeleci-
do cacau e seus coronéis”, extensamente dos e outsiders” (Elias e Scotson, 2000),
divulgada nas publicações internacionais uma vez que o “princípio da antiguidade”
da literatura produzida por Jorge Amado, vem acirrar as reivindicações pelo “direito
evocando o patrimônio cultural da região. ao lugar” e ao mercado de trabalho insur-
Mas a sustentabilidade econômica do pro- gente.
jeto foi viabilizada por seu patrimônio As disputas nas relações de poder, ex-
natural, através da criação de uma Área plicitadas nos pares de oposição; superio-
de Proteção Ambiental na mata atlântica ridade e inferioridade moral e social; au-
do município. Portanto, o selo patrimonial to-percepção e reconhecimento; exclusão e
recorre aos recursos naturais e culturais pertencimento; passaram a atravessar de
da região. forma objetiva as condições existenciais
Implementada com finalidades a priori de seus habitantes, que lutam para en-
econômicas, a estrada rapidamente atin- contrar uma posição na nova hierarquia
giu seu objetivo, pois se antes Itacaré era sócio-econômica local posto que o fluxo
freqüentada somente por veranistas baia- populacional que afluiu para o município
nos, viajantes alternativos e surfistas em reconfigurou valores, hábitos, costumes e
busca de paraísos naturais e ondas perfei- redesenhou as territorialidades urbanas
tas que enfrentavam as difíceis condições e rurais do lugar (Couto,2006). Mas o fe-
de acesso terrestre para usufruir das belas nômeno turístico, como um “rizoma”, se-
paisagens do município, a partir de então, gue os caminhos do imponderável e se por
esta localidade tornou-se acessível nacio- um lado reifica a acertiva de seu impacto
nal e internacionalmente. A facilidade de avassalador e mutante para as localida-
acesso, além de possibilitar a presença de des onde aporta, por outro, pode reservar
fluxos populacionais sazonais, acarretou gratas surpresas para os que dele partici-

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pam ou o observam. das áreas naturais, a partir das quais os


homens se organizam; o segundo obede-
A cidade como lugar: para entender ce à lógica das seqüências ordenadas de
a paisagem mudança e que no caso dos aglomerados
urbanos refere-se ao processo de expansão
Para um espaço ser reconhecido como nas diferentes direções. Dos doze bairros
lugar, é preciso que tenha sido contornado atuais da cidade de Itacaré somente qua-
e preenchido de sentidos, histórias, me- tro fazem parte de sua formação original,
mórias e representações, produzidas tan-
to pela humanidade que o habita, quanto
pelos demais coletivos com o qual intera-
ge, uma vez que as identidades sociais são
processos resultantes de interações cole-
tivas.
Ezra Park (1976) em seus estudos de
Ecologia Humana constata que os ho-

Segunda rua; fruto do crescimento populacional do


porto (Foto: Patricia A. B. Couto)

quero dizer, são anteriores a construção


da estrada, finalizada no ano de 1998: o
Centro, o Porto de Trás, o Marimbondo e
o Angelim.
O Centro, que se estende pela Orla ou
Remanescente da época de auge do cacau no centro Praia da Coroa, no passado fora reconhe-
da cidade (Foto: Patricia A. B. Couto) cido por seus casarões de grande porte
como o bairro da elite branca do lugar,
formada por comerciantes e grandes pro-
prietários da cultura cacaueira e em torno
do qual se estabeleceu o centro adminis-
trativo e comercial da cidade. O declínio
da economia cacaueira teve por conse-
qüência a decadência de seus casarões e
a mudança no perfil dos habitantes que
ali permaneceram como a gente branca e
remediada do lugar. O bairro manteve-se
como centro administrativo e aos poucos
foi se tornando uma área de cobiça para
o desenvolvimento das atividades turísti-
cas que na década de 1990 começaram a
Uma lateral da rua principal de Porto de Trás
(Foto: Patricia A. B. Couto) despontar e que ao longo dos últimos anos
foram responsáveis pela revitalização da
mens se organizam segundo dois princí- área. Como ocupação “sucessiva” na área
pios ecológicos que operam para estabele- sul da cidade existia somente o bairro do
cer uma ordem comunal. Estes princípios Angelim, um bairro de pescadores contí-
são denominados como de “dominância e guo ao Centro e que com o processo de tu-
sucessão”: o primeiro refere-se às chama- ristificação foi parcialmente integrado às

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atividades comerciais de novos moradores. da alegada diferença de procedência fami-


Posicionados a noroeste do centro, por- liar, muito embora admitam a existência
tanto situados na área ribeirinha, perma- de relações de parentesco.
neceram incrustrados e quase invisíveis O que se percebe é que existe uma
atrás do morro do cemitério, os bairros do relação de complementaridade entre as
Porto de Trás e do Marimbondo. Situado duas áreas, mas que estas cultivam certa
às margens do Rio de Contas, o Porto de rivalidade com relação à legitimidade e ao
Trás, teve sua origem no agrupamento reconhecimento dos legados culturais que
das famílias Cruz, Souza, Silva, Santos e lhes são atribuídos. São estes legados que
Rocha, cuja estreita relação de parentesco
é explicada pelos moradores como resul-
tante da proveniência do grupo, que teria
se originado no antigo quilombo do Oiti-
zeiro (Reis, 2005), em tempos idos, esta-
belecido rio acima.
Apesar dos sobrenomes citados, todos
se consideram como pertencentes a uma
única família e isto é o que se verifica,
quando se passeia pelo pequeno bairro,
onde a entrada de carros é socialmente
recriminada já que as crianças brincam
na rua até o anoitecer, sob os olhos e cui-
dados da extensa parentela de tios, avós e Porto de Trás da perspectiva do Rio das Contas
(Foto: Patricia A. B. Couto)
primos que os cerca. Cerca de 400 pessoas
vivem na área do Porto de Trás. Estas fa-
mílias, que vivem da atividade pesqueira conferem aos dois bairros uma posição
e que anteriormente também trabalha- diferenciada perante as demais áreas de
ram na estiva do porto, ainda hoje são ocupação. Mas é fato que após a constru-
conhecidas pela forma reservada como ção da estrada, somente o Porto de Trás
mantiveram a privacidade dos moradores manteve sua configuração anterior, pre-
estabelecidos na longa e estreita rua que servando-se espacialmente da heteroge-
desemboca no rio, e que atualmente con- neidade sócio-cultural desencadeada pelo
ta com um segundo quarteirão de casas fenômeno turístico.
construídas num sentido paralelo à mes- Já o Marimbondo, tornou-se uma
ma. área de passagem para as novas áreas
Dando continuidade à ocupação pre- de ocupação: a “Baixa da Gia”, uma es-
dominante nas margens do rio, na área treita faixa de mangue, ocupada pelos
interior ao Porto, situa-se o Marimbondo. ribeirinhos que desceram da área rural
Segundo seus moradores - também em à procura de trabalho nas atividades tu-
sua grande maioria negros – esta área rísticas e a “Passagem”, uma área de des-
teve por origem um aglomerado de casas dobramento da população nativa, recen-
de taipa, construídas pelos ribeirinhos de temente ocupada por algumas pousadas
mesma proveniência, que desceram o rio construídas na beira do Rio de Contas e
para comercializar os produtos de suas por moradores provenientes de outras lo-
roças e trabalhar nas docas do porto de calidades. Portanto o Marimbondo não
escoamento do cacau. Apesar de propiciar foi preservado do processo de hibridiza-
uma leitura exterior de continuidade étni- ção da nova configuração urbana e suas
ca e identitária, devido à sucessão espa- singularidades fronteiriças diluíram-se
cial que une os dois bairros7 e dos vínculos na paisagem.
de parentesco e práticas culturais co- Além dos dois novos bairros na área
muns, os dois lugares não se reconhecem noroeste da cidade surgiram na área sul
por uma identidade única, em decorrência e oeste da faixa litorânea: a Pituba, um

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bairro ícone da integração local atual, re- Digo ironicamente, porque no passa-
conhecido pela complexa mistura de seus do, durante o auge da cultura cacaueira,
habitantes - pescadores, surfistas e alter- os dois núcleos contíguos de ocupação, ti-
nativos; Conchas do Mar I e II, que em nham suas representações como lugares,
toda sua extensão litorânea concentra as remetidos ao espaço de moradia dos ne-
principais pousadas de bom padrão de Ita- gros, ex-escravos, servidores dos senhores
caré; São Miguel ou Alagados, um peque- do cacau, confinados no que os próprios
no trecho de habitações precárias entre a moradores do Porto e do Marimbondo
Pituba e os loteamentos da Concha; Alto denominam como a “antiga senzala da
da Ribeirinha, que vem se constituindo cidade”. A geografia deste confinamento
como um bairro de moradia para padrões
médio e alto em oposição ao seu vizinho

Moradores do porto na saída para a pesca e para


passeios turísticos (Foto: Patricia A. B. Couto)

se revela na própria posição que ocupa-


ram dentro do espaço urbano. Enquanto
os brancos ricos ou remediados do lugar,
se fixaram na região de “dominância” e
construíram seus casarões na colina ou
beira mar, os pretos e pobres elevaram
Canoas de pesca no Rio das Contas (Foto: Patricia suas casas de taipa numa área sucessiva
A. B. Couto) beira rio, num espaço de sombra, invisível
à vigilância e abastança dos primeiros.
Bairro da Linha, também conhecido como Esta segregação racial, social e econô-
Santo Antonio e reconhecido localmente mica, explicitada na própria configuração
como uma área de expansão desordenada do espaço urbano em suas áreas de con-
da cidade, que acolheu as populações ru- finamento e interação social, permitiu a
rais e circunvizinhas atraídas pelas novas constituição da etnicidade dos negros do
oportunidades de trabalho. Porto de Trás e do Marimbondo. Enten-
do o conceito de etnicidade no sentido que
Singularidades do Porto de Trás lhe confere Frederick Barth (2000), ou
seja, uma identidade étnica que se con-
Como o processo de hibridização turís- cebe como dinâmica e interativa e que se
tica tende por vezes a descaracterizar ou mantém de forma duradoura pela eficácia
tornar difusos os traços culturais origi- de sua atualização nos processos de dis-
nais das localidades onde este fenômeno tinção entre o nós e os outros. Portanto,
aporta, a manutenção das singularidades não se trata da preservação de práticas
culturais e identitárias do bairro do Porto culturais por uma situação de isolamento,
de Trás, fez com que esta área se tornas- mas sim, de uma identidade cultivada e
se um símbolo de resistência cultural dos propiciada pela construção de referenciais
novos tempos citadinos. Ironicamente, o étnicos amparados nas relações de perten-
que se percebe neste caso em particular, é cimento, exclusão, segregação e interação
uma inversão dos valores, uma vez que os entre os moradores do bairro e os demais
bairros do Porto de Trás e do Marimbondo habitantes da cidade.
passaram a ser reconhecidos no imaginá- A coesão interna se justifica em prin-
rio urbano como os guardiões da “cultura cípio por uma argumentação que se arti-
autêntica” da cidade de Itacaré. cula em torno do porto como um espaço

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comum a famílias negras que se uniram decorrentes. A construção da estrada per-


por alianças matrimoniais até constituí- mitiu não somente a chegada de novos mo-
rem uma coletividade. A história real ou radores e oportunidades de trabalho, mas
suposta do lugar remete seus fundadores facilitou sobremaneira a circulação dos
a remanescentes do quilombo do Oitizei- antigos moradores que até então sofriam
ro8, a escravos foragidos das fazendas e com a dificuldade de deslocamento. Neste
dos navios negreiros que por ali passa- sentido, a população jovem do Porto teve
vam. Reclusos nesta área de ocupação uma oportunidade diferenciada ao entrar
cultuaram seus ancestrais e perpetuaram em contato com outras realidades e loca-
a solidariedade étnica através de práticas lidades.
culturais que sobrevivem nas “festas do Ainda na década de 1990, muitos mo-
Porto”, tais como o samba de roda, a fo- radores jovens do Porto foram para Sal-
lia de reis, o bicho caçador, a capoeira dos vador e a livre circulação permitiu-lhes
estivadores e as festas de São João. Por- uma expansão da consciência cultural e
tanto, um “banco de símbolos” (Sansone, política. O acesso às questões emergentes
2000) amalgamado por uma identidade no movimento negro, o discurso pela valo-
cultivada. Observa-se deste modo que os rização da cultura afro-baiana, o cultivo
operadores simbólicos desta etnicidade da auto-estima e a entrada no fluxo da
se constituem a partir de um território cultura do Atlântico Negro, através de in-
comum entre partícipes de uma história terações com o movimento rastafari e com
real ou suposta que os uniu por laços con- o “banco de símbolos” das africanidades
sangüíneos e traços culturais perpetua- afro-baianas contemporâneas, redimen-
dos em suas práticas sociais independente sionaram a consciência étnica destes jo-
vens. Ao retornarem ao Porto de Trás, le-
varam consigo novos ingredientes para a
atualização da etnicidade de seus morado-
res. Digo atualização porque não negaram
as práticas culturais de seus pais e avós,
pelo contrário, reforçaram a importância
de seus legados culturais, portanto patri-
moniais, ao mesmo tempo em que incorpo-
raram o estilo da negritude baiana atual
e passaram a investir na manutenção da
coesão grupal.
Ao refletir sobre as “temáticas perma-
nentes e emergentes na etnicidade”, Bar-
Atividade na Associação de Moradores do Porto de th(1994), atualiza suas proposições face
Trás (Foto: Patricia A. B. Couto) às questões emergentes e estabelece três
níveis ou planos interpenetráveis para
dos infortúnios da exclusão. compreendermos as forças que interagem
Um fator essencial para a renovação e na formação de uma identidade étnica. No
cultivo desta identidade foi a “chegada da nível micro, modela-se os processos que
estrada”. Isto se explica pelo fato de que produzem a experiência e formação das
entre as décadas de 1960 e 1990, o assore- identidades; no nível médio, identificado
amento do Rio de Contas e as dificuldades como o campo da liderança e da retóri-
de acesso terrestre, mantiveram a cidade ca, criam-se os processos que mobilizam
de Itacaré num relativo isolamento, con- os grupos para diversos propósitos; no
sequentemente, a população do Porto de nível macro, referendado no Estado, está
Trás e do Marimbondo permaneceu vin- as criações de burocracias que distribuem
culada à atividade tradicional pesqueira, direitos e proibições de acordo com crité-
mantendo-se contida pelos limites da di- rios formais.
visão social do trabalho e dos estigmas No caso específico do Porto de Trás, o

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28 Porto de Trás: etnicidade, turismo e patrimonialização

“nível micro” se explicita através da cultu- Associação de Moradores que está plei-
ra compartilhada e cultivada pelo grupo, teando junto a Fundação Palmares o
que mesmo passando por uma longa traje- reconhecimento do Porto de Trás como
tória de estigma e segregação racial, não quilombo urbano, com o intuito de garan-
abre mão de seus valores, suas práticas e tirem a manutenção do território para as
de seu patrimônio cultural perpetuando-o famílias tradicionais locais, participarem
através de gerações. O nível médio surge das políticas de reparação propostas pelo
justamente quando os jovens do porto, ao Estado e gerarem capacitação profissional
saírem da localidade encontram a res- para a população jovem do Porto. Median-
sonância de suas praticas culturais de te o reconhecimento internacional das ri-
origem no “banco de símbolos” das afri- quezas patrimoniais do Porto, a prefeitu-
canidades afro-baianas contemporâneas, ra e as empresas turísticas locais, ainda
tomam consciência de seu patrimônio que de modo superficial, vem buscando
cultural e retornam com novos ideais, uma aproximação com os moradores, seja
valorizando a unidade e a coesão grupal, citando-os como patrimônio da cultura lo-
fundando inclusive, a Associação dos Mo- cal ou negociando sua inclusão nos calen-
radores do Porto de Trás, ainda em fins dários festivos.
da década de 1990. O contexto etnográfico atual nos re-
No nível macro o processo de reconhe- porta à De Vos (apud Vermeulen, H. e
cimento tem se dado num movimento di- Govers, 1994), segundo o autor, a proposi-
fuso, porém crescente. Embora o poder ção de organização social pressuposta por
público local, vinculado às velhas oligar- Frederic Barth, alega que a etnicidade,
quias da economia cacaueira tenha his- pensada enquanto organização social re-
toricamente ignorado as necessidades e quer interação regulada e como elemento
direitos dos habitantes desta área, a ar- da cultura implica na consciência da di-
ticulação dos moradores do Porto em tor- ferença, consciência esta que pode se dar
no de seu patrimônio, através de contatos em níveis tanto baixos quanto altos. No
com estrangeiros e turistas que visitam a primeiro caso, as pessoas aceitam as dife-
localidade de Itacaré e são atraídos pelas renças como adquiridas, não há um movi-
práticas culturais do bairro em busca dos mento étnico propriamente dito porque as
signos de “autenticidade da cultura local”, reflexões não ultrapassam as fronteiras
tem despertado o interesse de algumas do grupo. No segundo caso, a interação
ONGs internacionais, o que vem possibi- aumenta, o grupo toma consciência de sua
litando alguns benefícios para os morado- singularidade cultural e começa a exigir
res do Porto. seus direitos de reparação. A evidência
A título de exemplo, a CARE Brasil se dos fatos observados nos conduz a cons-
encarregou da construção dos banheiros tatação de que os moradores do Porto de
nas moradias do bairro, que até muito Trás vêm cumprindo a trajetória de cons-
recentemente só contava com um único tituição de uma etnicidade própria.
banheiro público. No ano de 2006, um
livro sobre “Biatatá”, uma lenda do Por- Conclusão
to foi confeccionado pelas crianças locais
e publicado pela editora espanhola Libre Ainda que consideremos o fenômeno
Obert, de Barcelona. Há cerca de três turístico como um “fato social total” que
anos, uma empresa turística internacio- provoca mudanças avassaladoras em qua-
nal financiou a construção de um centro se todas as sociedades onde aporta, é pre-
cultural no interior do bairro, solidifican- ciso observar que nem todas as mudanças
do um espaço anteriormente criado pelos implicam num processo de descaracteri-
jovens da “Tribo do Porto”, um grupo for- zação das culturas locais. Tal qual um
mado por capoeiristas da área. rizoma, este fenômeno imprevisível de-
Estes jovens, atualmente lideram a monstra que o movimento dialético é pos-
sível. No caso do Porto de Trás, o turismo,

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Patrícia de Araújo Brandão Couto 29

decorrente da construção da estrada, pro- Social Identities: global Frame works


vocou a reconfiguração do espaço urbano; and Local Realities:715-183. Oxford/
acirrou a resistência étnica mediante as Amsterdam: Elsevier
novas co-presenças, ao mesmo tempo em Couto, Patrícia .A.B.
que possibilitou novos processos de inte- 2007 O direito ao lugar: situações pro-
ração social. São estas interações que per- cessuais de conflito na reconfiguração
mitem a atualização e identificação dos social e territorial do município de Ita-
legados culturais locais que serão patri- caré, BA. Tese defendida no Programa
monializados, tanto pelos de dentro quan- de Pós-Graduação em Antropologia
to pelos de fora. da Universidade Federal Fluminense
Que não se pense que o reconhecimen- (PPGA/UFF).
to e a visibilidade tornaram os moradores Couto, Patrícia A.B.
do Porto menos atentos e desconfiados. Os 2007a “Cupidité et conflit : une reflexion
novos ventos de mudança não apagaram sur l’impact du tourisme dans la pro-
as lembranças da segregação étnica sofri- duction de nouvelles identités sur le
da por mais de um século. Mas é fato que territoire de la municipalité d’Itacaré
parecem mais convictos ou conscientes do dans l’Etat de Bahia”. In Teisserenc,
diferencial que a etnicidade, aqui compre- P. , Milanez N. e Magalhães, S. B. (org)
endida como consciência política da dife- Le Brésil à l’ epreuve de la modernité :
rença, lhes proporcionou, uma etnicidade 123-134. Paris : L’Harmattan,
construída sob os alicerces do patrimônio Couto, Patrícia A.B.
cultural acumulado pelo capital simbólico 2007b “Da viagem ao fenômeno turístico:
desta coletividade. Na atualidade, ser do uma breve digressão sobre sua histó-
Porto de Trás significa ter orgulho da pró- ria e inserção no campo das Ciências
pria origem e por ironia do destino e do Sociais”. Candelária. Revista do Ins-
capital, ser detentor da “cultura autentica tituto de Humanidades. Jul-Dez. Ano
do lugar”, tão cobiçada pelo turismo. IV: 127-142. Rio de Janeiro: UCAM,
Elias, Norbert. e Scotson John L.
Bibliografia 2000 Os Establecidos e os Outsiders. Rio
de Janeiro: Jorge Zahar.
Barretto, Margarita Falcon, Gustavo
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cias Sociais para o planejamento e a manjá.
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Vermeulen, H. e Govers, C. (org) An- Gonçalves, José Reginaldo
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30

Park, Robert Ezra da Universidade Federal Fluminense (PPGA/UFF:


2007).
1976 “A cidade: sugestões para a inves-
tigação do comportamento humano no 3 No referido artigo, a autora se inspira no concei-
meio urbano”. In Velho, Otávio (org). O to de rizoma desenvolvido por Deleuze e Guatarri,
Fenômeno Urbano:27-31. Rio de Janei- para pensar o turismo, uma vez que tal como o ri-
ro: Zahar, . zoma, o fenômeno turístico é imprevisível, nunca se
sabe para onde vai expandir ou como vai ressurgir.
Reis, João José
2005. “Escravos e Coiteiros no Quilombo 4 Segundo o autor, a cultura do cacau no sul da
do Oitizerio – Bahia, 1806” In:Reis J. Bahia se desenvolveu em 3 ciclos: 1746/1820 – plan-
J. e Gomes, F.S. (org) Liberdade por um tio e desbravamento da região seguindo-se a es-
fio. Histórias dos Quilombos no Brasil. tagnação sem consequências; 1820/1895 – reinício
do plantio com as primeiras exportações chegando
São Paulo: Companhia da Letras.
a atingir 100 mil sacos; 1895/1930 – afirmação do
Sansone, Livio cacau como base econômica da região sul do estado.
2000 Os objetos da identidade negra: con-
sumo, mercantilização, globalização e 5 De acordo com os relatos históricos a colonização
criação de culturas negras no Brasil. dispersa e as densas florestas de mata atlântica
muito contribuíram para a fuga de escravos e as
Mana 6(1) Abril. Disponível em http://
formações quilombolas desta região.
www.scielo.br/scielo.php?pid=s0104-
-93132000000100004&script=sci_art- 6 De acordo com os arquivos pesquisados e relativos
text aos projetos governamentais, o sucesso do projeto do
Simmel, Georg estado da Bahia deu subsídios para a elaboração do
PRODETUR NE I, que envolveu todos os estados do
1983 “O estrangeiro”. In Moraes Filho, E.
Nordeste e foi inicialmente financiado pelo Banco
(org) Sociologia. Coordenação Flores- Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
tan Fernandes. São Paulo: Ática. (BNDES)
Spix, Johann B. von e Martius, Karl F. P.
von 7 O Porto de Trás só tem acesso pelo Rio de Contas
e pelo Marimbondo.
1981 Viagem pelo Brasil. Belo Horizonte/
São Paulo/Itatiaia:EDUSP. 8 Segundo Reis (2005) por ordem do governador da
Urry, John Bahia João de Saldanha da Gama e Mello e Torres
2005 Mobility and proximity. Disponível Guedes de Brito, o Quilombo do Oitizeiro foi total-
em http://perso.wanadoo.fr/ville-en- mente dizimado no ano de 1807.
-mouvement/interventions/John_Urry.
pdf.Downloaded on 4/25/2005.
Vermeulen, Hans e Govers, Cora
s/d “Introdução”. In Vermeulen, H. e Go-
vers, C. (org) Antropologias da Etni-
cidade.Para além de Ethinics Groups
and Boundaries: 13-15. Lisboa: Fim de
Século.

NOTAS
1 O presente artigo foi originalmente apresentado
no grupo de trabalho “Turismo, cultura e sociedade:
tradição e modernidade” da 27ª Reunião Brasileira
de Antropologia, realizada em agosto de 2010, em
Belém do Pará, Brasil. Agradeço especialmente as
contribuições de Barretto e Banducci no que se refe-
re a ampliação reflexiva deste trabalho.

2 Resultante de pesquisa realizada para minha


tese de doutorado: “O direiro ao lugar: situações Recibido: 30/09/2010
processuais de conflito na reconfiguração social e Reenviado: 29/11/2010
territorial do município de Itacaré, BA”, defendida Aceptado: 18/12/2010
do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Sometido a evaluación por pares anónimos

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