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Educação Matemática com as Escolas da Educação Básica: interfaces entre pesquisas e salas de aula

O acervo pessoal do professor Ruy Madsen Barbosa: divulgação e


problematização de suas potencialidades para a pesquisa em Educação
Matemática

Maria Ednéia Martins Salandim1

Resumo
O objetivo com esse artigo é divulgar o acervo pessoal do professor Ruy Madsen Barbosa, doado
para o acervo de livros antigos do Grupo História Oral e Educação Matemática (GHOEM) e
problematizar suas potencialidades para pesquisas em História da Educação Matemática. Esse
acervo vem sendo organizado seguindo referenciais relativos à organização de acervos e arquivos
e as pesquisas, em desenvolvimento, que vêm analisando obras do acervo do professor Ruy, têm
mobilizado o referencial da Hermenêutica de Profundidade (HP). Tanto a organização do acervo
quanto essas pesquisas vêm reafirmando as potencialidades dos arquivos ou acervos pessoais para
a pesquisa educacional. Essas potencialidades podem ser percebidas em relação à produção
específica do professor Ruy, na identificando e estudo de quais de suas obras foram destinadas à
formação e uso de professores de Matemática brasileiros, na problematizando de como, a partir
de suas obras, ideias matemáticas vem circulando no Brasil.

Palavras-chave: Livros didáticos; Hermenêutica de Profundidade; Fontes; História da Educação


Matemática.

1. Introdução

O Grupo História Oral e Educação Matemática (GHOEM) vem mantendo um


Acervo de Livros Antigos desde início dos anos 2000, hoje contando com mais de 2500
obras. Destacamos desse acervo livros didáticos antigos de Matemática ou áreas afins
voltadas para o ensino e de legislações educacionais brasileira, como a Revista
Documenta, cujas informações podem ser consultadas em catálogo online disponível
www.ghoem.org. Um modo específico de catalogação das obras desse acervo foi proposto
por Hirata (2009), a qual vem sendo usada e aprimorada a partir de atividades de Projetos
de Extensão Universitária e de Núcleo de Ensino. Esse acervo está alocado em sala
específica na Faculdade de Ciências da Unesp, campus de Bauru.

1
Doutora em Educação Matemática pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho - Unesp
– Rio Claro. Professora do Departamento de Matemática e do Programa de Pós-Graduação em Educação
para a Ciência, ambos da Faculdade de Ciências da Unesp – Bauru, Brasil. E-mail:
maria.edneia@unesp.br.
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Em 2017, pela primeira vez, a esse acervo foi incorporado materiais de um Acervo
Pessoal. Trata-se de obras e materiais do Acervo Pessoal do professor Ruy Madsen
Barbosa, falecido em julho de 2017, que foi doado por sua família ao GHOEM, por
intermédio do professor Antônio José Lopes, o Bigode. Estimamos que mais de um milhar
de materiais foram doados, os quais estão sendo organizados, catalogados e
disponibilizados para consulta e estudos de professores e pesquisadores.

Uma breve biografia do professor Ruy Madsen Barbosa já nos dá elementos da


importância de sua atuação na pesquisa brasileira e na formação de professores. Com isso
já podemos destacar a relevância e as potencialidades de estudos com foco em materiais
de seu acervo ou no acervo como um todo como fontes para novas pesquisa em Educação
Matemática, em especial para a História da Educação Matemática. Tanto a organização e
disponibilização deste acervo para consultas quanto pesquisas específicas poderão nos
dar pistas do cenário educacional brasileiro a partir dos anos 1950, incluindo elementos
relativos à formação de professores de Matemática – campo para o qual o professor Ruy
dedicou muitas de suas produções.

O professor Ruy nasceu em Campinas-SP em 1931. Por ter cursado Desenho


Técnico Arquitetônico e em Mecânica, tornou-se professor da disciplina Perspectiva.
Bacharelou-se e licenciou-se em Matemática, nos anos 1950, na Universidade Católica
de Campinas. Foi professor de Desenho do Curso de Formação de Professores de
Trabalhos Manuais dessa mesma instituição e foi professor do Magistério Estadual do
Estado de São Paul, passando em primeiro lugar nos dois concursos públicos que realizou,
um em 1955 e outro em 1956. Participou e foi membro da primeira diretoria do Grupo de
Estudo do Ensino da Matemática (GEEM) e das discussões relativas à Matemática
Moderna no Brasil. Junto ao GEEM teve relevante produção, destacando-se a tematização
de Matrizes e Aspectos Combinatórios, sendo considerado o introdutor do assunto
Matrizes no currículo do curso secundário brasileiro. Nos 1960 foi convidado para
lecionar no curso de Química que acabara de ser criado na Faculdade de Filosofia,
Ciências e Letras de Araraquara, a qual foi encampada pela UNESP nos anos 1970. Com
essa encampação, foi transferido para o campus da UNESP de São José do Rio Preto, no
qual se aposentou. (MARTINS-SALANDIM, 2012). De acordo com seu currículo lattes,
com última atualização em 12/5/2000, disponível em
http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4701993D0, sabemos que

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fez doutorado em Probabilidade pela Escola Politécnica da USP-SP e Livre Docência em
Programação Linear e Matemática Aplicada. Atuou em curso de Pós-Graduação,
escreveu muitos artigos científicos, escreveu ou organizou livros de Matemática,
didáticos ou para formação de professores, além da produção de materiais instrucionais
relativos à Educação Matemática. São reconhecidas suas contribuições em Programação
linear e teoria dos grafos, com o Movimento da Matemática Moderna e as novas
Tendências em Educação Matemática, como as Investigações Matemáticas, a Resolução
de Problemas e as Tecnologias.

2. Fundamentação Teórica

Sistematizar e destacar as potencialidades de materiais do acervo pessoal do


professor de Matemática Ruy Madsen Barbosa está em consonância com o interesse em
incorporar um Acervo ou Arquivo pessoal ao Acervo do GHOEM e às atuais tendências
em História da Educação (Matemática), que visam ampliar as fontes e temas para a
pesquisa em Educação Matemática (VALENTE, 2002 e 2004; GARNICA e SOUZA,
2013; REIS, 2014, AMORIN e GOMES, 2019).

Especificamente em relação à organização e estudos de Arquivos Pessoais,


destacamos a produção do Grupo em História da Educação Matemática (Ghemat), o qual
tem desenvolvido projetos há mais de 15 anos. Essa produção poderá ser acessada na
página do Grupo, http://www2.unifesp.br/centros/ghemat, ou no Repositório do Ghemat
em https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/1769. Valente (2002) nos indica que
padrões internacionais de arquivística classificam os documentos, para servirem à
pesquisa, em: pessoais, de produção intelectual, técnico-administrativos e
complementares, e nos dá uma dimensão do trabalho com Arquivos de professores de
Matemática que, por algum motivo, destacaram-se. Segundo Reis (2014), que investigou
práticas educativas e propostas de formação de professores para os anos iniciais da
educação escolar a partir do Arquivo Pessoal Alda Lodi, em Belo Horizonte, “pesquisar
os arquivos privados de professores de Matemática que tiveram uma participação mais
ativa no desenvolvimento da educação matemática, em diversos aspectos e níveis, torna-
se uma prática não apenas relevante, como também valorizada (p. 71). Esse também é o

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caso do professor Ruy Madsen Barbosa, quem, como já destacamos, tem produção e é
reconhecido no campo da Matemática e da Educação Matemática.

Os Arquivos ou Acervos Pessoais são conjuntos de escritas de si (cartas,


biografias, diários, anotações etc) e de documentos e objetos relativos às suas atividades
profissionais, pessoais, culturais e políticas. Arquivos pessoais, de acordo com a página
do Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (CPDOC),
“são conjuntos documentais, de origem privada, acumulados por pessoas físicas e que se
relacionam de alguma forma às atividades desenvolvidas e aos interesses cultivados por
essas pessoas, ao longo de suas de vidas”. No caso do arquivo pessoal do professor Ruy
Madsen, uma seleção inicial foi feita pela família, que doou materiais mais relativos à sua
vida profissional. Gomes (2012), ao problematizar conceitos e diretrizes da escrita
autobiográfica e suas potencialidades para a pesquisa em História da Educação
Matemática, destaca que não apenas memórias, cartas e diários são escritas
autobiográficas, incluindo nessa modalidade também os acervos e arquivos pessoais.

O uso dos arquivos pessoais amplia as fontes e temas na pesquisa e visa também
contribuir com a preservação e problematização da memória educacional e dos
patrimônios cultural, científico e histórico do país e de sua memória (BAEZA, 2003). As
fontes são, segundo Garnica e Souza (2013):

/.../ resíduos de que o historiador (ou o educador matemático que decide


trabalhar com História da Educação Matemática ou o profissional –
qualquer que seja ele – que deseja compreender seu campo a partir de
uma investigação historiográfica) dispõe ou os resíduos que os
historiadores criam para iniciar suas investigações. /.../ Essas fontes,
segundo alguns autores, só serão chamadas de documentos quando um
autor atento /.../ usá-los como recurso para uma pesquisa específica. (p.
27)

Nesse sentido, podemos dizer que o acervo aqui em tela é uma fonte potencial e
alguns dos livros que o compõe são documentos para algumas pesquisas em
desenvolvimento, como veremos mais adiante.

3. Sobre a sistematização do acervo do professor Ruy Madsen Barbosa

A partir da intermediação do professor Bigode entre a família do professor Ruy,


após seu falecimento em 2017, e o coordenador do GHOEM, o professor Antonio Vicente
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Marafioti Garnica, iniciamos negociações e estabelecimento de uma logística para o
transporte do acervo de Campinas-SP para Bauru-SP. Essas negociações envolveram o
GHOEM, o departamento de Matemática e a diretoria da Faculdade de Ciências da
Unesp-Bauru, envolvendo disponibilização de recursos financeiros, de veículo e de um
motorista. No final de novembro de 2017 o Acervo foi, finalmente, alocado na sala de
Acervo de Livros do GHOEM, em Bauru.

Uma separação inicial dos materiais doados foi realizada por membros do
GHOEM, em uma ação coletiva e voluntária, já no mês de dezembro daquele ano.
Naquele momento os materiais foram separados em quatro grandes categorias: livros,
pastas, materiais instrucionais e outros objetos. Essa organização inicial visou melhor
alocação do grande volume de materiais e evitar riscos de perda ou extravio, além de
facilitar termos uma melhor dimensão e visualização do acervo.

Foto 1 – Livros do acervo sendo organizados

Fonte: arquivo pessoal da autora.

Uma organização e sistematização de livros desse acervo foi realizada durante um


Projeto do Núcleo de Ensino intitulado “Contribuições do professor de matemática Ruy
Madsen Barbosa: organizando e estudando um acervo”, em 2018. Devido a quantidade
de materiais e a diversidade temática, fizemos uma outra organização em livros e
materiais relacionados a jogos matemáticos, informativos (revistas de matemática,
boletins, dicionários), os de Educação Matemática e os de conteúdo específico da
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matemática. Foram separados em torno de 400 itens relativos a jogos, envolvendo livros,
revistas, pentaminós, dominós de quadriláteros e também objetos antigos como
compassos e espelhos; cerca de 600 livros relacionados à conteúdo matemático
específico, educação matemática, teses, dissertações; e mais ou menos 400 materiais do
tipo revistas, boletins e informativos relacionados à Matemática, dicionários e afins.
Quando necessário os materiais foram higienizados e/ou separados para reencadernação.
Essa sistematização vem sendo realizada a partir de referenciais específicos que
tematizam os cuidados em relação ao manuseio, separação e uso de materiais de arquivo,
além de destacarem suas potencialidades como fonte para a pesquisa (BAEZA, 2003;
BACELLAR, 2005).

A catalogação dos livros vem sendo feita de acordo com proposta de Hirata
(2009), a qual se baseou no método (Classificação Decimal de Dewey: 1 – conteúdo
matemático; 2 – Teoria dos Conjuntos e Lógica; 3 – Álgebra; 4 – Aritmética; 5 –
Topologia; 6 – Análise; 7 – Geometria; 8 – Probabilidade; 9 – Diversos; 10. – Didáticos
de Outras Disciplinas; 11. – Literatura de Referência. Durante o ano de 2018 foram
catalogadas e disponibilizadas informações a respeito de 293 livros para consulta
(MARTINS-SALANDIM, LUIZ, 2019). Visando identificar os livros que compõem o
acervo do professor Ruy, está sendo criado um campo específico para indicação de se
tratar de material de acervo pessoal e a quem pertencia. Esse campo tanto possibilitará
consultas de materiais do acervo por tipo de acervo pessoal e a etiqueta do material no
acervo físico também contém a sigla desse acervo, no caso do acervo do professor Ruy a
etiqueta terá, além de informações relativas à sua localização nos armários, uma sigla
APRMB (Acervo pessoal Ruy Madsen Barbosa).

Figura 1 – Informações disponíveis para consulta no catálogo online

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Para a catalogação de outros materiais, cuja especificidade ainda não compunham
o Acervo do GHOEM, serão criadas categorias específicas para catalogação e espaços
específicos para alocação na sala do acervo físico.

4. Potencialidades iniciais do acervo do professor Ruy Madsen Barbosa para a pesquisa


em História da Educação Matemática

Enquanto essas etapas de organização e catalogação dos materiais do acervo estão


sendo realizadas, algumas temáticas para pesquisa acadêmica foram sendo percebidas,
sendo que alguns projetos de pesquisa foram elaborados e estão em diferentes estágios de
desenvolvimento. Uma pesquisa de doutorado e duas de Iniciação Científica estão sendo
desenvolvidas sob orientação da professora doutora Maria Ednéia Martins Salandim e
uma pesquisa de mestrado em andamento está sendo orientada pelo professor doutor
Antonio Vicente Marafioti Garnica.

Tamiris Corrêas Luiz, estudante do curso de Licenciatura em Matemática da


Faculdade de Ciências da Unesp-Bauru, enquanto participava como bolsista do projeto
do Núcleo de Ensino, foi percebendo o volume e a diversidade temática e de tipos de
materiais do acervo do professor Ruy. A partir disso elaborou e está desenvolvendo uma
pesquisa de Iniciação Científica na qual continua catalogando materiais do acervo e se
pergunta? “O que pode nos contar um acervo pessoal de um professor de Matemática
sobre ensino e aprendizagem de Matemática e sobre produção Matemática? Quem é o
professor Ruy Madsen Barbosa? Que materiais ele guardou em seu acervo pessoal?
Podemos perceber influências teóricas desse professor a partir de seu acervo?” Seu
objetivo, nessa pesquisa é identificar obras de autoria do referido professor e aquelas por
ele adquiridas; identificar a materialidade de cada material (papel, vídeo) e a língua na
qual foi produzida; identificar a finalidade do material (teorização em Matemática ou
sobre o ensino de Matemática, divulgação ou instrução); identificar ano e local da
produção do material. A partir dessas identificações a estudante pretende problematizar
as potencialidades desse acervo pelo que ele guarda e dispara sobre a Educação
Matemática brasileira. Os procedimentos de Luiz envolvem gerar relatórios a partir de
informações cadastradas no catálogo do acervo do Ghoem e em observação e
sistematização de informações quando da manipulação dos materiais. Com essa pesquisa

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poderemos ter uma visão panorâmica do acervo do professor Ruy, identificando campos
nos quais ele publicou e nos quais mais atuou.

A pesquisa de doutorado de Leandro Josué de Souza, em desenvolvimento no


Programa de Pós-Graduação em Educação para a Ciência da Faculdade de Ciências da
Unesp-Bauru visa problematizar a Matemática Recreativa no Brasil a partir de uma
análise hermenêutica dos cinco livros da coleção “O Professor de Matemática em Ação”.
Essa coleção, composta por cinco livros, foi coordenada pelo professor Ruy Madsen
Barbosa e publicada pela editora Autêntica entre 2009 e 2014, na qual recreações
matemáticas são apresentadas e destinadas tanto para formação quanto para a atuação do
professor de matemática: Conexões e educação matemática – Brincadeiras, explorações
e ações; Conexões e educação matemática – Belas formas em caleidoscópios,
caleidosciclos e caleidostrótons; Geoplanos e redes de pontos – Conexões e Educação
Matemática; Aprendo com jogos – Conexões e Educação Matemática. Ainda que a
expressão Matemática Recreativa seja polifônica, e que problematizá-la seja intenção de
Souza em sua pesquisa de doutorado, destacamos aqui, com Lopes (2018), a Matemática
Recreativa como uma subárea da Matemática associada à cultura e a Educação
Matemática, já contando com uma comunidade própria, produção contínua e que, por sua
relevância para o ensino e a aprendizagem da Matemática, vem se constituindo como uma
linha de pesquisa em Educação Matemática. Souza vem mobilizando o referencial da
Hermenêutica de Profundidade (HP), proposto por Thompson (2011) para análise de
formas simbólicas – produções humanas intencionais. Para Thompson (2011), dialogando
com a hermenêutica de Paul Ricoeur, a expressão ‘de profundidade’ é elemento comum
a todas as hermenêuticas, já que interpretação nunca é superficial, baseada na aparência
imediata – ainda que isso também seja próprio do exercício hermenêutico –, mas se busca,
sempre, ir mais a fundo para atribuir novos sentidos ao que se interpreta. A HP
compreende três análises que ocorrem não-linearmente e interconectados denominados
Análise Sócio-Histórica – visando as situações espaço-temporais nas quais as formas
simbólicas foram produzidas e circularam, através de quais instituições e como vem se
dando seu uso e divulgação; análise formal ou discursiva – análise dos elementos internos
da forma simbólica, os quais são descritos detalhada e criteriosamente – e,
Interpretação/Reinterpretação - possibilitada pelas outras duas análises e constituída por
síntese e criação de significados possíveis (MARTINS-SALANDIM, 2018).

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Outro projeto de Iniciação Científica que mobiliza obra do acervo do professor Ruy
vem sendo elaborado pela estudante Beatriz Ribeiro Bello, do curso de Licenciatura em
Matemática da UNESP-Bauru, com co-orientação do doutorando Leandro Josué de
Souza. O objetivo desta pesquisa é fazer uma análise do livro Revisitando Conexões
Matemáticas com Brincadeiras, Explorações e Materiais Pedagógicos, do professor de
Matemática Ruy Madsen Barbosa, publicado pela Livraria da Física em 2012. Essa é uma
publicação posterior à publicação dos três primeiros livros da coleção O Professor de
Matemática em Ação. No livro aqui em tela o autor apresenta atividades e jogos e
promove discussões matemáticas a partir de objetos geométricos. Bello também pretende
mobilizar o referencial da Hermenêutica de Profundidade para analisar esse livro.

Também está em andamento uma pesquisa de mestrado de Natalia Cristina


Milanez, orientada do professor Antônio Vicente Marafioti Garnica no Programa de Pós-
Graduação em Educação Matemática da UNESP-Rio Claro, na qual também a HP é a
inspiração metodológica para estudar a coleção Matemática, metodologia e
complementos para professores primários, constituída por três volumes escritos por Ruy
Madsen, na década de 1960.

5. Considerações Finais

Com o desenvolvimento do projeto do Núcleo de Ensino, informações dos


materiais catalogados já podem ser acessadas online e as obras também já podem ser
localizados no acervo físico para consulta e/ou estudos. O catálogo online permite
visualizarmos as temáticas dos livros, ano de publicação, idioma no qual foi produzido,
autores e a qual nível de ensino são destinados. Assim, esse catálogo também pode ser
visto como uma fonte para as pesquisas em Educação Matemática.

A organização e sistematização do acervo pessoal do professor de Matemática


Ruy Madsen Barbosa, além de potencializá-lo como fonte para novas pesquisas também
contribuiu para percebermos a diversidade de materiais que compõe seu acervo, parte de
sua produção bibliográfica e a diversidade de temas da Matemática com os quais ele teve
contato. O destaque é a quantidade expressiva de materiais e livros de Geometria e
Trigonometria, ainda que estejam presentes materiais das diversas temáticas da
Matemática. Vale destacar o volume de livros de referência que compõe seu acervo, sendo
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que 293 livros já catalogados, apenas oito são de sua autoria. Seu acervo também
contempla materiais manipulativos e instrucionais como compassos e espelhos, além de
jogos e revistas.

Com a organização do acervo foi possível fazer um levantamento de materiais e


livros em duplicidade, que serão doados a escolas e projetos educacionais da região de
Bauru - já com o consentimento da família do professor Ruy. Essa é uma outra
contribuição do acervo pessoal do professor Ruy Madsen Barbosa: fazer chegar algumas
de suas obras àqueles que ensinam e aprendem Matemática em diferentes níveis e espaços
educacionais.

A partir do acervo organizado muitas questões têm surgido. Afinal, o que guarda,
um professor de Matemática, em um Arquivo Pessoal? O que, a partir dessas suas
memórias, podemos aprender e problematizar sobre formação de professores (que
ensinam matemática), sobre Matemática e sobre a Educação Matemática Brasileira? Que
proposta é essa de Matemática Recreativa que perpassa esse acervo específico? Quais e
como contribuições desse professor e de sua produção marcam a formação de professores
que ensinam Matemática no Brasil?

Esse arquivo é uma fonte potencial para pesquisa do campo da Educação


Matemática, sendo que as pesquisas já em andamento têm tornado fontes desse acervo
como documentos. Essa nossa contribuição para a ampliação de fontes para a pesquisa
em Educação Matemática também vem contribuindo com a preservação e
problematização da memória educacional e dos patrimônios cultural, científico e histórico
do país e de sua memória.

6. Agradecimentos

Ao Núcleo de Ensino da UNESP.

7. Referências

AMORIM, B.D.; GOMES, M.L.M. Três movimentos metodológicos para o estudo da


Biblioteca Pessoal Alda Lodi. Zetetiké, Campinas, SP, v.27, 2019, p.1-20

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BAEZA, T. M. M. Manual de trabalho em arquivos escolares. Secretaria da Educação


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