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Resumo
Os livros didáticos são importantes fontes de pesquisa da História da educação matemática por,
segundo Circe Bittencourt (2004), ser um material de "múltiplas facetas". Dessa forma, o
presente artigo tem como objetivo apresentar uma sucinta reflexão sobre o uso de livros
didáticos de matemática como fontes para a pesquisa historiográfica, bem como, apresentar o
acervo digital de exemplares desse material escolar do Grupo de Estudos em História da
Educação Matemática (GHEMAT-Brasil). Como referencial teórico, adotam-se os estudos de
Choppin (2004), Valente (2008), Costa e Valente (2016). Constatou-se que os livros didáticos
são fontes privilegiadas de pesquisa por apresentar múltiplas funções no processo de ensino e
que a coleção destes objetos acessíveis no Repositório de Conteúdo Digital de História da
Educação Matemática é um ambiente fundamental para o desenvolvimento de pesquisas e para
os pesquisadores.
Palavras-chave: Livros didáticos, História da educação matemática, acervo digital.
Introdução
No campo da História da Educação, uma área de pesquisa tem se desenvolvido com
destaque no Brasil: a História da educação matemática. Esta área de pesquisa investiga os
saberes e as práticas educativas no ensino da matemática e na formação de professores de
matemática nas diversas épocas da educação brasileira. Essas pesquisas têm sido impulsionadas
em todo país, sobretudo, pela atuação do Grupo de Estudos em História da Educação
Matemática (GHEMAT-Brasil) que reúne pesquisadores/historiadores de todas as unidades
federativas no estudo desta temática.
Entre as iniciativas do GHEMAT para o impulsionamento da pesquisa em História da
educação matemática em todo o país, está a criação de um acervo digital com
documentos/fontes de pesquisa em História da educação matemática que está disponível na
internet, por meio do Repositório de Conteúdo Digital (RCD) da Universidade Federal de Santa
Catarina (UFSC). Todo esse acervo é público e reúne cadernos escolares, livros didáticos,
manuais pedagógicos, normas legislativas, artigos, etc. de diferentes épocas que, segundo
Giusti et al (2020, p. 316), “torna o RCD um ambiente privilegiado para os pesquisadores de
História da educação matemática, já que nele se agregam vários documentos escolares”.
“um conjunto de documentos, textuais ou icônicos, cuja observação ou confrontação podem vir
a desenvolver o espírito crítico do aluno” (CHOPPIN, 2004, p. 553).
No entanto, Choppin (2004) ressalta que o livro didático não pode ser analisado de
forma isolada, pois segundo este autor existem outros instrumentos de concorrência ou de
complementariedade que coexistem com o livro didático dentro do ambiente escolar. O autor
afirma, ainda, que “é preciso levar em conta a multiplicidade dos agentes envolvidos em cada
uma das etapas que marca a vida de um livro escolar, desde sua concepção pelo autor até seu
descarte pelo professor” (CHOPPIN, 2004, p. 553). Neste sentido, fica evidente que o livro
didático sofre influências tanto pelos movimentos pedagógicos e agentes envolvidos nos
processos de elaboração, quanto no processo de seleção até chegar na sala de aula.
Diante do exposto, constata-se, embora este “material que até pouco tempo atrás era
considerado uma literatura completamente descartável, de segunda mão, os livros didáticos,
ante os novos tempos de História Cultural, tornaram-se preciosos documentos para escrita da
história dos saberes escolares”, afirma Valente (2008, p. 141). Portanto, os livros didáticos são
documentos/fontes de pesquisa fundamentais para investigar os saberes escolares atrelados ao
trajeto histórico da educação matemática no Brasil.
2Acesse a Coleção de Livros Didáticos e Manuais Pedagógicos do Repositório de Conteúdo Digital em História
da Educação Matemática pelo link: https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/1772.
XIII Fórum Baiano de Educação Matemática - 16 de outubro de 2021
Novas perspectivas na formação do professor que ensina Matemática
Dessa forma, em face da presença constante dos livros escolares nas salas de aulas de
todo país, sobretudo nas aulas de matemática, percebe-se que o “livro didático e educação
matemática parecem ser elementos indissociáveis”, de acordo com Valente (2008, p. 143).
Atualmente, há cerca de 5833 obras entre livros didáticos e manuais pedagógicos no
RCD de História de Educação Matemática, datados do século XVIII ao XXI. De acordo com
Costa e Valente (2016), “cada item presente no Repositório está associado e identificado em
seus respectivos metadados, o que permite os mecanismos de busca do DSpace operarem”
(COSTA E VALENTE, 2016, p. 103). Desse modo, o pesquisador poderá encontrar um
material inserido no ambiente de forma mais acessível sem a necessidade de precisar folhear
um livro tal como em uma biblioteca.
Esse trabalho desempenhado por integrantes do GHEMAT – administradores do RCD
de História de Educação Matemática – e a acessibilidade do acervo digital contribuem
significativamente à pesquisa dos saberes, práticas e elementos socioculturais do ensino de
matemática através do livro didático. Pois, de acordo com Valente (2008), “a digitalização de
acervos, a catalogação e a sistematização da produção didática acabam constituindo-se em
condição necessária para o bom andamento dos trabalhos que levam em conta os livros
didáticos” (VALENTE, 2008, p. 158).
Considerações finais
Este texto teve como propósito discutir sucintamente esse destacado material escolar
– o livro didático – que configura uma relevante fonte de pesquisa para a história da educação
matemática por apresentar “múltiplas facetas” e por ser presença quase constante nas salas de
aulas de todo país. Portanto, de acordo com Valente (2008, p. 143), o “livro didático e educação
matemática parecem ser elementos indissociáveis”.
Ademais, a coleção de livros didáticos acessíveis no RCD, pode-se constatar como
elemento importante para a pesquisa historiográfica do ensino de matemática por permitir o
acesso à exemplares raros de livros escolares e o fomento e diálogo de investigações científicas.
Portanto, pode-se observar que o livro didático tem seu lugar no passado, no presente e no
futuro como material essencial ao ensino e aprendizagem e, dessa forma, configura documento
histórico de pesquisa.
Referências
CHOPPIN, A. História dos livros e das edições didáticas: sobre o estado da arte. Educação e
Pesquisa – FEUSP, São Paulo, v. 30, n. 3, p. 549-566, set./dez. 2004. Disponível em:
<https://www.revistas.usp.br/ep/article/view/27957/29729>. Acesso em: 07/07/2021.
LAJOLO, Marisa. Livro didático: um (quase) manual de usuário. Revista Em Aberto. Brasília,
ano 16, n. 69, p. 2-9, jan./mar. 1996.