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CADERNO TEMÁTICO

Uma conversa sobre o Projeto Político-Pedagógico - PPP


Recife – Pernambuco 2022
P452c Pernambuco. Secretaria de Educação e Esportes.
Caderno temático : uma conversa sobre o Projeto Político-Pedagógico
(PPP) / Secretaria de Educação e Esportes de Pernambuco, União dos
Dirigentes Municipais de Educação ; coordenação Jeanne de Oliveira Sousa
Rocha, Luís Henrique Hermínio Soares de Ramalho, Rosinete Salviano
Feitosa ; apresentação Ana Selva. – Recife : A Secretaria, 2022.
46p. : il.
Inclui referências.
1. EDUCAÇÃO – PERNAMBUCO. 2. ESCOLAS PÚBLICAS – PER-
NAMBUCO – CURRÍCULOS. 3. CURRÍCULO ESCOLAR – PERNAM-
BUCO. 4. PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO. I. Rocha, Jeanne de
Oliveira Sousa. II. Ramalho, Luís Henrique Hermínio Soares de. III. Feitosa,
Rosinete Salviano. IV. Selva, Ana. V. Título.
CDU 37(813.4)
CDD 370
PeR – BPE 22-055
Governador de Pernambuco
Paulo Henrique Saraiva Câmara
Vice-Governadora
Luciana Barbosa de Oliveira Santos
Secretário de Educação
Marcelo Andrade Bezerra Barros
Secretária Executivo de Desenvolvimento da Educação
Ana Coelho Vieira Selva
Secretário Executivo de Planejamento e Coordenação
Leonardo Ângelo de Souza Santos
Secretária Executiva de Educação Integral e Profissional
Maria de Araújo Medeiros Souza
Secretário Executivo de Administração e Finanças
Alamartine Ferreira de Carvalho
Secretário Executivo de Gestão de Rede
João Carlos de Cintra Charamba
Secretário Executivo de Esportes
Diego Porto Pérez
Gerente Geral de Ensino Médio e Anos Finais do Ensino Fundamental
Regina Celi de Melo André
Gerente de Políticas Educacionais dos Anos Finais do Ensino
Fundamental
Shirley Cristina Lacerda Malta
Unidade dos Anos Finais do Ensino Fundamental
Rosinete Salviano Feitosa

Presidente
Natanael José da Silva
Dirigente Municipal de Educação de Belém de Maria/ PE

Vice-Presidente
Andreika Asseker Amarante
Dirigente Municipal de Educação de Igarassu/ PE
APRESENTAÇÃO

A Secretaria de Educação e Esportes de Pernambuco com a elaboração


e publicação deste documento sobre o Projeto Político Pedagógico (PPP) traz
orientações para a atualização do PPP das escolas, tão importante e necessária
para materialização do Currículo de Pernambuco.
Após um grande movimento de construção coletiva do Currículo de
Pernambuco, com grandes inovações na educação infantil, ensino fundamental
e ensino médio, é fundamental que esse documento dialogue com as
especificidades de cada escola e de sua comunidade educativa. Assim, é no
PPP que a comunidade escolar e o currículo se encontram e materializam as
ações educativas, traduzem os conhecimentos socialmente construídos em
diversas iniciativas pedagógicas a serem vivenciadas, articulam conhecimento
às práticas culturais que fazem sentido para a comunidade, voltadas para a
formação cidadã de todos os estudantes.
O PPP é um documento em movimento constante, pois ainda que oriente
a prática educativa, é também modificado por ela. Neste sentido ressaltamos a
importância de um Projeto Político Pedagógico bem estruturado,
democraticamente construído e continuamente redesenhado. O documento de
orientação Uma Conversa sobre o Projeto Político Pedagógico almeja
constituir-se como mais um elemento de contribuição para o processo contínuo
de avanço da qualidade da educação pública no estado de Pernambuco.
Assim, esperamos que este Caderno possa contribuir com a comunidade
escolar na atualização do PPP, considerando a construção recente do Currículo
de Pernambuco, fortalecendo a escola no protagonismo e singularidade de suas
práticas pedagógicas, desenvolvidas coletivamente e alinhadas à política
educacional da rede estadual, assegurando formação crítica, humanista e cidadã
para todos estudantes.

Ana Selva
Secretária Executiva de Desenvolvimento da Educação
SUMÁRIO

Introdução ................................................................................................................ 9

1- Conhecendo alguns conceitos gerais que orientam a relação entre o Projeto


Político-Pedagógico (PPP) e o Currículo de Pernambuco (CPE) ........................... 12

2- Da contextualização histórica à construção da estrutura do Projeto Político-


Pedagógico ............................................................................................................ 17

3- O papel dos indicadores educacionais na análise e no diagnóstico da situação


para implementação da política curricular na escola .............................................. 24

4- Projeto Político-Pedagógico: desvendando as bases legais e a fundamentação


teórica .................................................................................................................... 30

5- A dialética no plano de ação e da concepção metodológica ............................ 34

6- Os processos de avaliação e ressignificação do Projeto Político-Pedagógico


(PPP) da/na escola ................................................................................................ 38

7- Considerações Finais ...................................................................................... 40

Referências ............................................................................................................ 41

Ficha Técnica ......................................................................................................... 45


INTRODUÇÃO

Este documento tem como principal objetivo suscitar o diálogo entre os


atores sociais envolvidos no contexto escolar sobre o Projeto Político-
Pedagógico e sua relação com o Currículo de Pernambuco (CPE).
Sua estruturação é norteada por duas perspectivas para a concepção de
currículo, então consideradas como norteadoras do processo de construção e
implementação da proposta em foco:

a) O CURRÍCULO COMO UMA PROPOSTA PÚBLICA PARA AS BASES DA


ESCOLARIZAÇÃO;
b) O CURRÍCULO COMO UM CONJUNTO DE DINÂMICAS IMPULSIONADORAS DAS
PRÁTICAS PEDAGÓGICAS NESSE PROCESSO.
De acordo com as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação
Infantil (DCNEIS), “ o currículo é concebido como um conjunto de práticas que
buscam articular as experiências e os saberes das crianças com os
conhecimentos que fazem parte do patrimônio cultural, artístico, científico e
tecnológico, de modo a promover o desenvolvimento integral das crianças de 0
a 5 anos de idades” (Resolução CNE/CEB n°5/2009, art.3°). No Ensino
Fundamental de Nove Anos, o currículo é definido como: “experiências escolares
que se desdobram em torno dos conhecimentos historicamente acumulados,
contribuindo para construir as identidades dos educandos” (Resolução
CNE/CEB n.º 7/2010.p.3). No Ensino Médio, as DCNEM tomam como referência
o currículo “como a proposta de ação educativa constituída pela seleção de
conhecimentos construídos pela sociedade, expressando-se por práticas
escolares que se desdobram em torno de conhecimentos relevantes e
pertinentes, permeadas pelas relações sociais, articulando vivências e saberes
dos estudantes e contribuindo para o desenvolvimento de suas identidades e
condições cognitivas e socioemocionais.” (Resolução CNE/CEB n.º 3/2018, Art.
7º).
Os Parâmetros Curriculares de Pernambuco, então, definem o currículo
como sendo “um conjunto de conhecimentos, habilidades e competências”
(PERNAMBUCO, 2012, p.23).

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O CPE traz o conceito de currículo “como fruto de uma construção coletiva
que envolve diversas etapas, instâncias, sujeitos, intenções e finalidades. Assim,
pode-se dizer que ele traduz a escola, norteia as relações estabelecidas dentro
e fora dela e se constitui como um dos elementos responsáveis pela formação
humana na instituição escolar”.
Nessa perspectiva, concebe-se o Projeto Político-pedagógico (PPP) como
instância de materialização do CPE, desde seus processos de constituição,
sobretudo ao considerar a busca pela superação de seu entendimento
direcionador ao priorizar a construção coletiva. O balizamento de todo esse
processo encontra-se, assim, radicado nas duas perspectivas norteadoras
citadas acima em suas respectivas possibilidades de incorporação ao cotidiano
escolar. Em outras palavras:

Ao apontar para uma formação que se articula com o mundo do


trabalho, da produção e das pautas concretas da vida em sociedade, a
proposta da formação por competências aqui pleiteada objetiva a
superação das antinomias que nos levaram a construir currículos
pautados nas separações fragmentárias e nas compreensões não
comunicantes. Essa reivindicação formativa vai ao encontro também
da desconstrução das naturalizações ou coisificações dos saberes
formativos na medida em que as referências que advêm dos mundos
não disciplinares acabam por colocar o saber acadêmico sob constante
tensão, no que concerne ao valor das suas verdades. [...] Trata-se,
portanto, de uma concepção de currículo mediada por uma pedagogia
ativa e construtivista, na qual a formação é configurada por um saber
teórico (formalizado) e prático (técnico e metodológico), os quais
podemos denominar de saberes em uso. (MACEDO, 2011, p.92-93).

Desse modo, compreende-se que as duas perspectivas: a) o currículo


como uma proposta pública para as bases da escolarização e b) como as
dinâmicas impulsionadoras das práticas pedagógicas nesse processo devem
nortear as relações entre o Projeto Político-Pedagógico (PPP) e o Currículo de
Pernambuco (CPE), sendo este a força motriz daquele na escola.
Este caderno está estruturado em três etapas fundamentais a saber: (1)
a apresentação dos princípios fundantes da relação entre o PPP e o CPE; (2) os
grandes desafios na elaboração do PPP, (3) as origens de suas bases
organizacionais e operacionais. Por exemplo, o lugar do Regimento Escolar,
bem como o necessário elo entre o CPE e a Base Nacional Comum Curricular.
No centro dessa discussão, os elementos a serem considerados na
consolidação e na avaliação do PPP, e a tríade habilidades/conteúdos/atitudes
buscam articular a construção de conhecimentos nas dimensões: conceitual,

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procedimental e atitudinal. Em seguida, na contextualização histórica da
elaboração do PPP, discorre-se sobre sua estruturação, reiterando o
indispensável vínculo com o CPE, destacando os cinco princípios a serem
observados, além dos principais questionamentos a serem suscitados nesse
percurso.
Nesse sentido, os indicadores educacionais podem, também, cumprir papel
relevante, uma vez que sua dimensão prioritariamente estatística dirigida a todo
o contexto político-econômico-educacional a que uma escola ou toda uma rede
de ensino está submetida potencializa uma leitura interpretativa e uma tomada
de decisão específica a cada realidade analisada. Nesse momento, é possível,
por exemplo, proporcionar uma reflexão sobre seu lugar na mensuração da
qualidade da educação, os aspectos a serem considerados nesse olhar. Na
continuidade, emergem as considerações acerca das bases legais e da
fundamentação teórica do PPP, apontando os dispositivos legais e a
organização curricular. No penúltimo tópico, encontra-se a discussão sobre a
importância do Plano de Ação nos processos de execução e de revisão do PPP;
finalizando as orientações, encontram-se as considerações em torno das etapas
constituintes do processo de revisão do Projeto Político-Pedagógico.
Em cada momento da discussão, você também encontrará links que o
conduzirão a outros textos para aprofundamento das reflexões acerca de
conceitos como Gestão Democrática e níveis de participação na construção do
PPP, entre outros, basilares na constituição do arcabouço teórico para uma
prática pedagógica que promova uma educação de qualidade. Você também
poderá aportar em links que lhe trarão subsídios, por exemplo, na articulação
das competências gerais da BNCC aos componentes curriculares da Educação
Básica.
Vamos, então, à exploração do documento, começando pelos conceitos
basilares da relação PPP/CPE.

Encontre sugestões para combinar Competências Gerais e Habilidades.


Navegue por um conjunto de possibilidades para articular as Competências
Gerais da BNCC com os componentes curriculares do Ensino Fundamenta
https://www.competenciasnabncc.org.br/
Acesse ainda uma versão comentada da BNCC do Ensino Médio.
https://www.institutoreuna.org.br/projeto/BNCC-Comentada

11
1. Conhecendo alguns conceitos gerais que orientaram a
relação entre o Projeto Político-Pedagógico (PPP) e o Currículo
de Pernambuco (CPE)

Em parceria com a União dos Dirigentes Municipais de Educação


(UNDIME–PE), a Secretaria de Educação e Esportes de Pernambuco elaborou
o Currículo de Pernambuco (CPE), que deverá ser tomado como referência pelas
redes municipais e servir de base para a construção do projeto político-
pedagógico das escolas da rede estadual e daquelas que estão sob a
responsabilidade dos municípios. Além disso, o CPE poderá constituir-se em um
referencial para as instituições privadas ofertantes da Educação Infantil, do
Ensino Fundamental e do Médio na construção de seus currículos.
Sendo o Projeto Político-Pedagógico (PPP) o documento fundamental à
gestão participativa das instituições da Educação Básica, torna-se importante
discutir os conceitos basilares à sua estruturação e os processos e
procedimentos deles decorrentes e essenciais à sua materialização no cotidiano
escolar.
Nesta seção, vamos conhecer a
relação do PPP, documento identitário de
cada escola, com o Currículo de
Pernambuco. Encontre sugestões para combinar
Competências Gerais e Habilidades.
O PPP é um dos principais
Navegue por um conjunto de
documentos norteadores do trabalho possibilidades para articular as
Competências Gerais da BNCC com os
pedagógico de uma instituição de ensino.
componentes curriculares do Ensino
Para Libâneo, Oliveira e Toshi (2012), ao Fundamental
se construir um projeto na escola, é https://www.competenciasnabncc.org.br/
registrado o que se planeja, o que se Acesse ainda uma versão comentada da
define como objetivos, bem como as ações BNCC do Ensino Médio.
e os métodos necessários para atingi-los, https://www.institutoreuna.org.br/projeto/
BNCC-Comentada
visando a um processo de escolarização
que atenda a todos os estudantes.
O grande desafio na construção do PPP é transformá-lo em ferramenta
de materialização do CPE mediante participação da comunidade escolar no que
se refere ao estabelecimento de prioridades, metas, processos e produtos

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decorrentes de demandas educacionais específicas. O caminho mais seguro
para atingir esse objetivo é obter o compromisso e o engajamento de todos os
atores sociais da comunidade escolar com as propostas nele contidas.
O currículo constitui significativo instrumento utilizado por diferentes
sociedades tanto para desenvolver os processos de conservação, transformação
e renovação dos conhecimentos historicamente acumulados como para
socializar as crianças e os jovens segundo valores tidos como desejáveis. Em
virtude da importância desses processos, a discussão em torno do currículo
assume cada vez mais lugar de destaque no conhecimento pedagógico
(MOREIRA et. al., 2010, p.11).
Em um documento dessa natureza, devem estar postas as concepções
de ensino, de aprendizagem, de avaliação, de escola e de suas funções sociais
norteadoras de sua elaboração coletiva1 frente à sociedade em geral e à sua
comunidade circundante em particular. Em sua elaboração, é imprescindível
que, além do CPE, considere-se o regimento escolar, que consiste nas diretrizes
organizacionais e operacionais que são norteadoras das práticas pedagógicas e
administrativas da escola em consonância com as normas do sistema
educacional. O regimento escolar pode, portanto, mediar os planos de ação do
PPP, contribuindo para que a comunidade escolar se aproprie das normas
administrativas.

Visite o site da Secretaria de Educação de


Pernambuco e conheça a abordagem
detalhada sobre as competências gerais
norteadoras
:http://www.educacao.pe.gov.br/portal/?pag=1
&cat=18&art=4419

1 “Antropologicamente, o conceito de cultura é uma realidade de construção coletiva, abarcando um sistema de


símbolos que conferem significado à experiência. [...] Intersectando os aspectos centrais dessa definição com a
educação, diremos que o currículo constrói-se na acção social, que os modos de pensar e agir são formalizados em
códigos curriculares e que as suas práticas são enquadradas por tradições [dentre as quais as concepções de escola,
de ensino, de aprendizagem e de avaliação]. O principal elo do currículo à sociedade faz-se através da cultura. [...] É
no espectro destas lutas que a escola desempenha uma função social, determinada pelas finalidades da socialização,
do desenvolvimento e da libertação dos sujeitos. ” (PACHECO, 2005, p.68-71).
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Como, então, compatibilizar o CPE com a construção do PPP?
Ao tratar da compatibilização do currículo com a elaboração do PPP e sua
concepção, Goodson (2002) afirma que o significado da palavra currículo
envolve a consideração de um constante conflito de aspirações e interesses
educacionais a partir de uma dicotomia entre currículo escrito e currículo ativo.
Para Rodrigues (2009), o primeiro tipo de currículo – o escrito – se refere
à apresentação pública e legitimadora de uma proposta de escolarização,
enquanto que o segundo – o currículo ativo – trataria das repercussões dessa
proposta na prática pedagógica cotidiana. É a partir dessa dicotomia que
trataremos da relação entre PPP e CPE no que se refere à materialização do
primeiro nas escolas.
Isso quer dizer que o Projeto Político-Pedagógico impõe a necessidade
de ser “vivido” pela escola e não existir apenas na teoria. Destaca-se, dessa
forma, a obrigatoriedade legal do currículo resultante da demanda legitimada.
Essa, por sua vez, advém tanto do caráter pedagógico (grupo profissional-
pedagógico) quanto do caráter social (comunidade escolar), que se
potencializam no que se refere às perspectivas de materialização do PPP e à
articulação entre família e escola, dando início ao modelo de gestão democrática
escolar (DI PALMA, 2011).
É importante que o PPP vigente em uma instituição de ensino esteja em
consonância com a rotina escolar, as necessidades dos estudantes e da
comunidade. É nessa perspectiva que o Currículo de Pernambuco e a Base
Nacional Comum Curricular – BNCC mostram-se como referenciais para orientar
pedagogicamente educadores de apoio, gestores, professores e estudantes da
Educação Básica. Com apoio nesses documentos, é preciso repensar a prática
pedagógica, os direitos de aprendizagem e de desenvolvimento, competências,
habilidades, os conteúdos e as metodologias no intuito de assumir novas
posturas, novos valores, os quais possam contribuir mais significativamente com
os processos de construção e de apropriação de conhecimentos e saberes para
a formação de cidadãos autônomos, críticos e criativos (PERNAMBUCO, 2019).
O CPE e a BNCC são importantes referências para direcionar um olhar
coletivo sobre a realidade escolar, pontuando as suas principais características,
potencialidades e fragilidades, as quais devem ser consideradas na elaboração
do PPP. Sua elaboração e constante revisão exigem a mobilização das diversas
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instâncias responsáveis pela organização da escola e da sala de aula. O ponto
principal nesse processo, quer em sua elaboração ou em sua revisão a cada ano
letivo, é o cronograma de trabalho e a definição da divisão de tarefas: definição
da periodicidade e das tarefas para a elaboração do projeto pedagógico.
A definição de um prazo institui organização e compromisso de todos os
envolvidos com o trabalho a ser feito. E quem seriam os atores participantes de
todo esse movimento? Vejamos, na Figura 1 a seguir, quem são os atores
sociais envolvidos no PPP, quais sejam: os estudantes e (seus familiares/
responsáveis); os gestores; os professores; os funcionários; os educadores de
apoio; e as instâncias de colegiado:

Figura 1 – Atores sociais envolvidos na construção e na revisão do PPP.

Os atores sociais envolvidos precisam conhecer bem os subsídios de que


disporão para esse trabalho de construção da identidade da unidade escolar.
Então, as primeiras ações projetadas no cronograma de trabalho devem dar
conta de colocar, no cerne das discussões, o histórico da unidade escolar e a
abrangência de sua ação educativa, bem como da comunidade externa: família
dos estudantes e entorno social. Para tanto, é necessário que se leve em
consideração, também, os objetivos gerais da escola em função dos marcos
legais que lhe dão suporte.

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No que se refere à organização do ensino, que deve estar pautada nas
competências – formadas pela tríade habilidade, conteúdos e atitudes – exige-
se que a escola repense e reorganize os conteúdos, de tal modo que tenham
significado e sentido para os estudantes.
Assim, a partir das implicações do que temos discutido até aqui, o CPE, à
luz da BNCC, aponta um conjunto de dez competências gerais norteadoras do
documento estadual. É necessário, portanto, que os professores se apropriem
desses pressupostos e planejem suas práticas pedagógicas pela abordagem de
competências, desconstruindo conceitos ainda cristalizados - tais como
currículo, ensino, aprendizagem, avaliação, conteúdo escolar, etc. – nos
modelos tradicionais que fragmentam os conhecimentos nos diversos
componentes curriculares.
Desse modo, a elaboração do PPP das escolas, mediante articulação
entre os documentos e instâncias educacionais que os norteiam – currículos,
propostas pedagógicas, regimentos escolares e os próprios PPP – tem no CPE,
nos termos até aqui discutidos, a referência para a sua elaboração em todas as
escolas das redes públicas (estadual e municipais) e privada de ensino de
Pernambuco.
Por ser um instrumento que estabelece as diretrizes administrativas e as
orientações para a vida escolar em conformidade com a legislação nacional
vigente, o Regimento Escolar colabora com a materialização do PPP na forma
de procedimentos, funções, atribuições e composição de cada um dos diferentes
segmentos e setores da unidade.
Considerando a imanente articulação do PPP com o currículo escolar, sua
materialização deve contemplar dois níveis de organização, a saber: (a) a
organização da escola; e (b) a organização da sala de aula.
Em síntese, para a consolidação/materialização da relação
existente entre o PPP e o CPE, têm de ser observados os seguintes elementos:

(1) As finalidades da escola - tanto como instituição social quanto por sua intervenção
contextual em termos de objetivos e ação educativa empreendida;

(2) A estrutura organizacional - articulação entre as estruturas administrativas em suas


respectivas funcionalidades dentro da rotina escolar;

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(3) A concepção de Currículo em sua relação com a Base Nacional Comum Curricular, tendo
em conta também o processo de construção contextual e coletiva daí decorrente;

(4) A organização do tempo pedagógico;

(5) O processo de decisão - viés democrático e participativo então potencializado;

(6) As relações de trabalho pedagógico, estabelecidas a partir do processo de decisão


coletiva;

(7) A avaliação - formativa, coletiva, crítica e contínua no sentido de potencializar o viés


processual de implementação do PPP na(s) escola(s).

Assim, a principal função do PPP é construir a realidade, convocando-nos


a pensar e a discutir coletivamente sobre a escola que temos e a escola que
queremos, imprimindo sentido à ação educativa, às expectativas desejadas e ao
caminho que se fará para alcançar o que foi desejado. Nesse sentido, a
articulação entre teoria e prática é fundamental. Quanto maior a coerência entre
as falas e as práticas, mais legítimo será o PPP.

O Prof. Celso Vasconcellos em entrevista na “Roda de Conversa” -


Tema: Projeto Político-Pedagógico. Você irá apreciar um debate
aprofundado sobre os marcos que compõem um PPP.
https://www.youtube.com/watch?v=f-dsgBWcdpw
E acesse também:
“Nós da Educação” - Ilma Passos Alencastro Veiga (parte 1 de 3)
traz um olhar crítico sobre o PPP na escola e suas principais
características
https://www.youtube.com/watch?v=k_I6M3lW6ss

2. Da contextualização histórica à construção da estrutura do


Projeto Político-Pedagógico

Sob a perspectiva histórica, como documento formal e pertinente à cultura


e à rotina escolares, o PPP surge, em meados do século XX, como uma legítima
demanda necessária à materialização nas escolas – em cada uma delas, na
realidade – do desenvolvimento dos ideais, dos estudos e pesquisas
educacionais, sendo legitimado quando da implementação da Lei de Diretrizes
e Bases da Educação Nacional (LDBEN) n.º 9.394/1996, (artigo 12).

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O PPP surge como um resultado dos postulados advindos de uma
pedagogia, cuja proposta é a formação do indivíduo reflexivo, atento a sua
realidade – a Pedagogia Crítica. Como tal, tem em vista a compreensão da
educação formal como um direito humano e social inalienável, materializado no
desenvolvimento interindividual das dimensões individual e social de seu
usufruto no que se refere ao acesso ao conhecimento sistematizado ao longo do
processo de civilização na escola (CAMBI, 1999; DI PALMA, 2011). Quando se
fala em Projeto Político-Pedagógico, imediatamente remete-se ao instrumento
que reflete a filosofia da escola, o que significa que o PPP se constitui por etapas
planejadas, a serem pensadas através de um movimento que deve gerar uma
metodologia para o trabalho coletivo, participativo e solidário de toda a
comunidade escolar.
Acerca da constituição do PPP, Vasconcelos (2010) aponta três etapas
as quais ele denomina de marcos na elaboração do PPP: o Marco (ato)
Situacional, o Marco (ato) Conceitual e o Marco (ato) Operacional.
O Situacional – nele são identificados, explicitados e analisados os
problemas, verificadas as mudanças na realidade e suas incidências no
movimento da escola e da sala de aula.
O Conceitual – nesse se evidenciam os fundamentos teórico-
metodológicos da unidade de ensino.
O Operacional constitui-se das propostas e linhas de ação,
enfrentamentos e organização da escola. Nele, está inserido, por exemplo, o
Plano de Ação.
O movimento entre esses marcos deve se dar para além de um
instrumento que define a identidade da escola, não visando apenas aos
componentes cognitivos da ação ou do fazer pedagógico. Ele precisa estar
comprometido com o Ser através de um processo de formação humana.
Dessa forma, para projetar o PPP, faz-se necessário pensar quais são as
ações e intenções já existentes e possíveis de serem realizadas, considerando,
prioritariamente, as concepções ligadas ao caráter social da escola.
Portanto, o PPP centra-se no fortalecimento da comunicação afetiva e
social e no compartilhamento de ideias, reflexões e raciocínios sobre a realidade
problematizada, estabelecendo relações complexas. Nessa perspectiva, é
imperativo o vínculo entre o PPP e o CPE na organização do processo de ensino,
18
sendo imanente ao PPP a organização de um ensino que tenha como eixo o
tripé: desenvolvimento de competências, incentivo à autonomia e valorização do
conhecimento prévio do estudante, conforme a figura 2 a seguir:

Figura 2 – Eixos para a organização do ensino

Contemplando a organização do trabalho da escola, o PPP deve estar


embasado em princípios que norteiam a escola democrática, pública e gratuita,
dando identidade à instituição escolar. De acordo com Veiga (2007, p.13), os
princípios do PPP são: igualdade, qualidade, equidade e gestão democrática,
liberdade e valorização do magistério.
É importante ressaltar que, no PPP, o termo liberdade deve ser
“traduzido”, sempre, na perspectiva de autonomia. Ou seja, remete a regras e
orientações criadas pelos próprios sujeitos da ação educativa. Por exemplo,
quando, na escola, a liberdade for pensada na relação entre os diferentes
segmentos em um contexto de tomada de decisões coletivas e, em
consequência, tiverem responsabilidades sobre elas, inclusive no que diz
respeito à elaboração desse documento de identidade da instituição.

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É fundamental compreender que quanto mais a instituição de ensino
adquire autonomia e competências, mais responsabilidade ela assume diante da
comunidade. Portanto, em seu PPP, a unidade de ensino tem autonomia para
definir as concepções e ações a serem desenvolvidas, sem perder de vista o que
lhe compete segundo os preceitos legais.
Nesse sentido, mobilizar a participação da comunidade nas discussões e
nas tomadas de decisão para que ela se torne corresponsável pelo alcance dos
objetivos da escola em função do aprendizado dos estudantes é o grande desafio
da gestão democrática.
Outra questão é a igualdade de oportunidades, mais do que a expansão
quantitativa de ofertas, visto que é necessária a ampliação do atendimento com
simultânea manutenção da qualidade. Por exemplo, além de assegurar um
padrão mínimo de qualidade para a instituição de ensino, o PPP deve propiciar
uma educação de qualidade para todos, não sendo esta um privilégio de
minorias econômicas e sociais.
O PPP deve, portanto, refletir e representar a concepção de escola que
se almeja e os fins a que ela se propõe a partir dos pressupostos sociais/
sociológicos norteadores que, devidamente articulados às concepções de
escola, de sociedade e de mundo, nortearão sua intervenção pedagógica. Desse
modo, a delimitação de uma concepção adotada faz-se essencial à construção
de um projeto de qualidade social, pois norteia as ações específicas para
atingimento dos fins pretendidos.
Nessa perspectiva, é fundamental compreender que a qualidade da
educação está estreitamente relacionada à formação inicial e à continuada, às
condições de trabalho e à remuneração, ou seja, à valorização dos profissionais
do magistério. A formação continuada é indispensável também para a discussão
da organização da escola como um todo e de suas relações com a sociedade.
Nesses momentos de continuidade formativa, podem vir à tona demandas que
apontam para a revisão do Projeto da escola. Então, o PPP deve contemplar a
formação dos profissionais da unidade, sendo necessário que o gestor e o
educador de apoio investiguem as necessidades destes para sua formação
continuada, elaborando seus programas com apoio da entidade mantenedora.
Assim, o princípio educativo da escola precisa, prioritariamente, expressar
um caráter social e o compromisso com a formação humana; para tanto, deve
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estar respaldado na Constituição Federal (CF) de 1988 e na LDB 9394/96, que
tratam da gestão democrática e das pluralidades cultural e pedagógica:

 Democratização do acesso e da permanência, e terminalidade com sucesso do


estudante;
 Autonomia escolar;
 Relação entre a escola e a comunidade;
 Qualidade de ensino para todas as escolas;
 Valorização dos profissionais da educação;
 Gestão democrática.

Com base nesses princípios, Gandin (1995), Padilha (2001) e Medel


(2008) apontam que, para construir um bom referencial, é importante ainda
suscitar alguns questionamentos, tais como:

 Qual o modelo de sociedade que deve nortear os passos dos envolvidos,


elaboradores e executores do Projeto?
 Como se relaciona a escola com o processo transformador da sociedade?
 Que parcerias serão feitas?
 Como se aumenta ou se diminui a força dos objetivos e da missão do projeto?
 Em que consiste o educar e, em consequência, qual o ideal para a prática
educativa da escola?
 O que é qualidade de ensino?
 O que quer dizer educação inclusiva?
 O que significa ensinar para a diversidade cultural?
 Em que consiste o atendimento às características individuais dos estudantes e
da escola?
 Que princípios serão destacados para a avaliação da escola?
 Qual o papel das tecnologias educativas na escola?
 Como é concebida a pesquisa na formação dos estudantes?
 Como se configuram as relações interpessoais no cotidiano escolar?
 Como está a escola em relação aos resultados e aos processos desenvolvidos
nas políticas públicas federais estaduais e/ou municipais, assim como a rede
privada, nos programas em andamento pelo SEB/MEC e pela Secretaria Estadual
de Educação (e ou Secretaria Municipal de Educação)?

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 O que se entende por currículo?
 Qual o currículo desejado?

Enfatize-se que os referidos questionamentos não podem ser observados


isoladamente, devendo ser mantido seu caráter dialético e dialógico, ou seja, as
relações entre eles. É importante ainda que eles sejam considerados mediante
a realidade das escolas, refletindo como o PPP vem sendo discutido e
desenvolvido nas escolas.
O Projeto Político-Pedagógico é, então, um documento particular que
materializa a autonomia de cada unidade de ensino; pode, portanto, apresentar
diferentes estruturas e elementos, constituídos de importantes componentes
quanto à contextualização histórica, ao diagnóstico de indicadores educacionais,
ao plano de ação, à função social, à visão, aos princípios e às concepções, à
fundamentação teórica e às bases legais.
Quando concebido e elaborado nessa perspectiva, o PPP possibilita a
cada escola construir e consolidar sua autonomia, considerando sua realidade e
trajetória, ao mesmo tempo que busca referência nas diretrizes pedagógicas da
escola. Exemplos de alguns elementos estruturantes de um PPP podem ser
observados na Figura 3, a seguir: Contextualização Histórica, Função Social,
Visão, Princípios e Concepções, Plano de Ação, Diagnóstico de Indicadores
Educacionais, Fundamentação Teórica e Bases Legais.

Contextualização Histórica

 Características sociais, culturais e físicas da cidade/bairro/comunidade


em que a escola está inserida;
 Característica da escola (organização da gestão, tempo de trabalho dos
professores, organização de trabalho do Atendimento Educacional
Especializado (AEE), autonomia dos estudantes, horários das atividades,
espaços físicos, equipamentos, recursos financeiros e projetos
desenvolvidos);
 Órgãos Colegiados – Conselho Escolar, Conselho de Classe,
Associações de Pais e Mestres, Grêmio Estudantil, Unidade Executora

1
O perfil e o número de profissionais e estudantes da escola.

22
Diagnóstico de indicadores educacionais

 Indicador de acesso - matrícula;


 Indicador de Permanência – evasão e abandono;
 Indicador de fluxo – reprovação, distorção idade-ano;
 Indicador de Aprendizagem – Avaliações Internas;
 SAEB, SAEPE e demais avaliações externas com análise por
Componente Curricular. Ed. Infantil – com base em Parâmetros e
Indicadores da Qualidade da Educação Infantil.
2

Função Social, Visão, Plano de Ação


Princípios e Valores
 Define estratégias para alcançar os
 Missão- “qual o propósito da objetivos de aprendizagens e
instituição de ensino? ” desenvolvimento dos estudantes (a
partir do Currículo e da realidade da
 Visão- “que a comunidade
escola);
escolar almeja consolidar e
conquistar? “  Determina metas a serem pretendida
para SAEPE – IDEPE – SAEBE –
 Princípios e Valores- “Quais
IDEB;
os atributos que norteiam
sua atuação? ”  Desenvolve competências gerais da

3 BNCC, de área e Específica da cada


Componente Curricular – Direito de
Aprendizagem;
 Define os materiais didáticos/
recursos
Fundamentação teórica,  Determina objetivos e metodologias
Bases Legais e objetivos para a formação docente;
 Determina formas critérios de
 Como é pensada a avaliação tanto de aprendizagem
organização dos processos quanto de formação de professores;
de ensino e aprendizagem;  Define metas, estratégias,
 Objetivo geral e específicos; responsáveis pelas ações, prazos e
 Projetos e programas. execução, monitoramento e

5
avaliação do plano.
4
Quadro Resumo – Alguns elementos estruturantes de um PPP

23
3- O papel dos indicadores educacionais na análise e no
diagnóstico da situação para implantação da política curricular
na escola

Comecemos falando sobre Diagnóstico de Indicadores Educacionais que


são de três tipos:

1. Indicadores de acesso: a matrícula e a evasão;


2. Indicadores de fluxo: a reprovação e a distorção idade-ano;
3. Indicadores de aprendizagem.

Tais indicadores consistem em referências correspondentes a valores


estatísticos cuja função está relacionada à mensuração e à atuação para atingir
patamares mais elevados da educação de qualidade. Isso quer dizer que os
indicadores consideram, além do desempenho do estudante, as condições
socioeconômicas pertinentes ao contexto conjuntural em que estão inseridas as
escolas. São considerados ainda os elementos que compõem o monitoramento
dos sistemas educacionais. E esses se traduzem como políticas públicas que
objetivam a melhoria da qualidade da Educação.
Outros exemplos de indicadores importantes são o Índice de
Desenvolvimento da Educação de Pernambuco (IDEPE) e o Índice de
Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB), periodicamente verificados no 3º
ano do Ensino Médio, no 9º ano e no 5º ano do Ensino Fundamental. A obtenção
desses dados subsidia a comunidade escolar no levantamento dos pontos fortes
e dos aspectos a serem melhorados na instituição. Esses, por sua vez, darão
pistas para definição da missão, da visão, dos princípios e valores da unidade,
assim como de seu Plano de Ação e/ou das Atividades.
Na primeira etapa da educação básica, a Educação Infantil, as instituições
precisam organizar os instrumentos de trabalho do professor, e isso precisa estar
muito claro no PPP de cada escola: “significa explicitar as formas como irão
organizar o planejamento de seu trabalho cotidiano com as crianças, bem como
a avaliação delas e de seu próprio trabalho” (FARIA e SALES, 2018, p. 36).
Sendo assim, precisam estabelecer com a comunidade escolar que instrumentos
serão utilizados e justificar sua escolha a partir do CPE. Na Educação Infantil, a
observação e o registro fazem parte do cotidiano e é a partir deles que os

24
professores irão refletir, repensar e reorganizar a sua prática acompanhando a
aprendizagem e o desenvolvimento dos bebês e das crianças.
“Na Educação Infantil, de acordo com a legislação, a avaliação não tem
como objetivo a promoção, devendo ser contínua, processual e coletiva...”
(FARIA e SALES, 2018, p. 37). Ou seja, não existe retenção ou reprovação e
sim um acompanhamento sistemático do processo de aprendizagem e do
desenvolvimento dos bebês e crianças, o que deve estar claro no PPP.
Vale ressaltar que:

A avaliação, conforme estabelecido na Lei n.º 9.394/96, deve ter


a finalidade de acompanhar e repensar o trabalho realizado.
Nunca é demais enfatizar que não devem existir práticas
inadequadas de verificação da aprendizagem, tais como
provinhas, nem mecanismos de retenção das crianças na
Educação Infantil, pois elas são inadequadas a essa etapa
(PARECER CNE/CEB N.º 20/2009, p.16).

Além dos documentos legais, outros importantíssimos instrumentos


poderão contribuir com os indicadores nas unidades de Educação Infantil, quais
sejam: os “Indicadores de Qualidade da Qualidade na Educação Infantil” (INEP,
2004), e “A Qualidade da Educação: conceitos e definições” (Ministério da
Educação, INEP, 2007).
O alcance da pretendida qualidade na educação infantil assim como na
Educação Básica estaria ligado à observância a diversos processos
pedagógicos, bem como à existência/ implementação de documentos legais que
consigam orientar o trabalho educacional, entre eles o Projeto Político
Pedagógico.
Sobre a razão do PPP existir, são feitas variadas indagações. E estas
podem ser respondidas sucintamente a partir das respostas aos seguintes
questionamentos:

1. Por que o PPP existe? (Esclarece seu grande propósito, sua missão);
2. O que ele quer ser? (Define sua visão e sua principal meta) e
3. O que norteia suas decisões, ou melhor, qual é sua política
educativa? (Em função de seus princípios e valores).

Considerando essas informações, é possível decidir qual é a missão, a


visão, quais são os princípios e os valores da escola. Esse momento do texto

25
requer muito cuidado, pois a descrição deve ser clara e simples, para que se
torne um lema conhecido por todos.

Os indicadores mais utilizados pelo INEP para avaliação de


escolas e redes de ensino básico são: a taxa de atendimento, as
taxas de rendimento (aprovação, reprovação e abandono) e o
Índice de Desenvolvimento da Educação Básica – IDEB. Outras
informações sobre o indicador podem ser obtidas através do link:
http://www.educacao.pe.gov.br/diretorio/pmg2/pmg.html

Assim, ao dizer que toda vez que se trata do propósito da instituição de


ensino, está sendo promovida uma reflexão sobre a Função Social. É preciso ter
ciência do que a comunidade escolar quer conquistar: a “Visão”. Mas ao observar
quais são os atributos que norteiam a sua atuação, estão sendo tratados os
“Princípios e Valores”. Nesse sentido, gerar engajamento em torno de uma visão
e de objetivos comuns fortalece a gestão democrática e participativa na escola.
Uma ação de diagnose para a Educação Básica – seja Educação Infantil,
Ensino Fundamental ou Médio, com alicerce nos Parâmetros e nos Indicadores
da Qualidade da Educação básica, é interessante para definir o que será feito,
bem como para elencar alguns pontos para questionamentos:

1. Onde a escola está neste momento?


2. Aonde ela quer chegar?
3. Como atingirá seus objetivos?
4. Quais seus pontos fortes?
5. Quais as dificuldades dos estudantes e dos professores?
6. Quais são as prioridades de atuação?

Confira também o relatório preliminar “Relatório Educacional


para todos no Brasil 2000-2015”.Os dados oficiais do MEC em
relação ao acesso e à permanência de outras faixas etárias e
modalidades de ensino http://goo.gl/K5jrRi
Veja também:

https://avaliacaoemonitoramentopernambuco.caeddigital.net/

26
Vê-se, assim, que os instrumentos institucionais de avaliação escolar
podem cumprir papel relevante tanto no que se refere à elaboração do PPP,
quanto no que toca à sua avaliação/ revisão sistemática (s). Um exemplo de
diagnóstico, neste caso, em níveis nacional e internacional, é a prova do Pisa:
uma avaliação voluntária, aplicada em escolas pelo Programa Internacional de
Avaliação de Estudantes (Programme for International Student Assessment -
PISA), da OCDE.
Esse Programa avalia conhecimentos de Matemática, Ciências e de
Leitura de estudantes de 15 anos. Seu objetivo é fornecer resultados em nível
nacional, possibilitar um panorama do sistema de ensino de cada país. O Pisa
para escolas foi elaborado para produzir resultados que possam servir ao
aperfeiçoamento individual das unidades de ensino. Como as duas avaliações
são baseadas no mesmo modelo, os resultados são comparáveis. Isso significa
que as escolas participantes podem ser avaliadas em relação ao sistema de
ensino brasileiro e também aos de outros países avaliados pelo PISA.
No âmbito estadual, temos o Sistema de Avaliação da Educação Básica
de Pernambuco – o SAEPE – que avalia o desempenho dos estudantes das
redes públicas municipal e estadual em todo o estado de Pernambuco. Aplicada
anualmente, essa avaliação visa monitorar a qualidade do ensino através do
acompanhamento periódico de indicadores essenciais para uma educação de
qualidade satisfatória.
Vale destacar que o diagnóstico realizado a partir de indicadores já é uma
metodologia de trabalho proposta no Pacto Pela Educação (PPE), que consiste
em “uma política voltada para a qualidade da educação, para todos e com
equidade, com foco na melhoria do ensino, das aprendizagens dos estudantes
e dos ambientes pedagógicos”. Baseia-se em uma política de gestão por
resultados; utiliza os indicadores de processo e de resultado como mecanismos
para avaliar e mensurar objetivamente o desempenho das ações educacionais
desenvolvidas pelo Estado de Pernambuco. Por exemplo: o aumento do número
de matrículas se deu pelo crescimento da população do bairro, pois uma nova
empresa foi instalada na área. Ao entender o ocorrido, é possível repensar o
Projeto Político-Pedagógico devido à observação do indicador de acesso da
escola.
Onde encontrar esses indicadores educacionais? Todos têm acesso?
27
Sim, todos têm acesso. Mas, para compreender melhor o tema, é preciso
esclarecer o que vem a ser um indicador. Um indicador é uma medida,
geralmente quantitativa, que fornece informações sobre um objeto, um
fenômeno ou uma realidade, permitindo comparabilidade. O monitoramento e a
avaliação dos indicadores oferecem vantagens como: identificar problemas – por
exemplo, metas não atingidas – e focos de ação, auxiliando na correção do
planejamento e na tomada de decisões. Nessa perspectiva, o acompanhamento
desses indicadores permite a definição de estratégias com o objetivo específico
de melhorar a qualidade do ensino público colocado à disposição da sociedade.
Um exemplo de possibilidade para esse acompanhamento é o site
(https://avaliacaoemonitoramentopernambuco.caeddigital.net/). Nele, é possível
ter informações sobre o SAEPE, proficiência, taxa de participação de escola, de
município, de gerência regional de educação e do Estado.
Esses indicadores podem ser encontrados como relatórios elaborados
pelo Núcleo de Gestão por Resultados da Secretaria de Planejamento e Gestão
(SEPLAG). Em tais relatórios, são apresentadas informações gerais de
Pernambuco, das Gerências Regionais de Educação (GREs), das escolas e
também dos estudantes. É importante observar que a apresentação detalhada é
dividida em duas partes: 1) Resultados e 2) Processos.
Na primeira parte, Resultados, encontram-se as informações gerais de
Pernambuco:

 Das escolas e GREs – quadro funcional, quantidade de escolas,


quantidade de estudantes, etc.;
 Dos indicadores de resultado – IDEPE, proficiências e taxas;
 Dos indicadores de processo – frequência dos estudantes,
cumprimento de conteúdos, participação de familiares, aulas dadas
X aulas previstas e participação no SAEPE.

Na segunda, estão localizados os indicadores de processo:

 Notas internas,
 Médias internas,
 Participação nas avaliações internas,
 Frequência dos professores e estudantes,
 Estudantes abaixo da média,
 Aulas dadas x aulas previstas;
 Participação dos familiares em reuniões,
28
 Cumprimento dos conteúdos curriculares,
 Participação dos professores nas formações, entre outros
aspectos que possam vir a ser monitorados pelo PPE (Pacto pela
Educação).

Contudo, vale ressaltar uma importante análise que se refere aos dados
de fluxo, isto é, ao número de estudantes que progridem ou não em determinado
sistema de ensino. São eles: evasão, reprovação, aprovação e distorção
idade/ano. Os questionamentos que norteiam a busca por esses dados são:

 Quantos estudantes a escola está aprovando e reprovando?


 Quantos no ano adequado à idade?
 Em que ano a escola aprova ou reprova mais e em qual área ou
componente curricular?

As respostas podem dar pistas sobre as ações que precisam ser


elencadas e priorizadas no PPP para melhorar esses indicadores. Desse modo,
o PPP deve revelar as intenções da instituição: o que a comunidade escolar quer
para conquistar uma educação de qualidade e o que pretende desenvolver e
oferecer aos estudantes e à comunidade externa. A figura 4, a seguir, mostra
alguns dos indicadores para análise da qualidade da educação escolar:

Figura 4 - Indicadores para análise da qualidade da educação escolar

29
Outro exemplo é o indicador de processo, que visa acompanhar variáveis
ao longo da execução do projeto. No caso do PPP, os indicadores de processo
são acompanhados bimestralmente, e foram estipuladas para eles faixas de
efetividade (desempenho) que são sinalizadas com as seguintes cores: verde
(boa), amarelo (regular) e vermelho (ruim). Como exemplo: o indicador “Nota
Interna“, que corresponde à faixa N2 obtida pelos estudantes na avaliação
individual bimestral.
Em termos de processo para que a construção do PPP da escola se
efetive, é necessário conseguir o engajamento em torno de uma visão e de
objetivos comuns, fortalecendo a gestão democrática e participativa. Então, é
preciso considerar que mudanças significativas vêm acontecendo em todo o
planeta e invadindo o cotidiano das pessoas. As transformações em questão
criam novos problemas e, consequentemente, desafios e necessidades. Por
exemplo: o uso das redes sociais, as quais caracterizam o contexto como Pós-
Modernidade. As redes sociais se caracterizam essencialmente pela
heterogeneidade dos componentes cujas interligações são, em grande parte,
contingentes, fazendo-se em função de projetos múltiplos e de objetivos
imediatos, o que as torna profundamente vulneráveis a incertezas intrínsecas.
A complexidade, a heterogeneidade e a incerteza são justamente os
grandes desafios que se apresentam para as redes educacionais de países,
estados ou municípios e, assim, para as escolas. Esses desafios se multiplicam
quando os participantes das redes sociais são considerados protagonistas de
sua própria ação e educação.

4. Projeto Político-Pedagógico: desvendando as bases legais e


a fundamentação teórica

O Projeto Político-Pedagógico (PPP) tem suas bases legais nos seguintes


documentos:

1 - A Constituição Federal de 1988, em seus artigos 205 a 214, que tratam da


educação;

2 - A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei 9.394/96-LDB), em seus


artigos 3º, 12, 13 e 14;

30
3 - As Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica (Resolução n.º 4, de 13
de julho de 2010) e

4 - As Diretrizes Curriculares Estaduais do Sistema Público Estadual de Ensino.

Com a aprovação da LDB 9394/96, o PPP tornou-se foco de estudos e


debates acadêmico-científicos. A despeito de sua relevância organizativa frente
à rotina pedagógica das instituições escolares, o processo de sua construção
como um resultado dessa ênfase foi realçado e encontra-se respaldado em
vários artigos da referida LDB.
No Artigo 12, inciso I, por exemplo, a Lei dá aos estabelecimentos de
ensino a incumbência de elaborar e executar sua proposta pedagógica. No seu
inciso VII, aponta como incumbência da escola informar os pais e responsáveis
sobre a frequência e o rendimento dos estudantes, bem como sobre a execução
de sua proposta pedagógica.
Já o Artigo 13 define como competências profissionais dos(as)
professores(as) a elaboração da proposta pedagógica do estabelecimento de
ensino (Inciso I), a elaboração e o cumprimento do plano de trabalho, de acordo
com a proposta pedagógica do estabelecimento de ensino (Inciso II).
No Artigo 14, são definidos os princípios da gestão democrática, dos quais
o primeiro é a participação dos profissionais da educação na elaboração do PPP
da escola. Com essa exigência, a LDB amplia o conceito da escola para além da
sala de aula, envolvendo a sociedade como um todo.
Na LDB, encontra-se a normatização do PPP da escola, que deve ter
como base a gestão democrática, a formação para a cidadania e os princípios
norteadores da educação no país.
As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Básica, Resolução
n.º 4, de 13 de julho de 2010, têm origem na Lei de Diretrizes e Bases da
Educação – LDB; consistem em normas que orientam o planejamento curricular
das escolas e dos sistemas de ensino, concebidas e, fixadas pelo Conselho
Nacional de Educação – CNE, definem:

 Cada etapa: Educação Infantil, (Parecer CNE/CEB n.º 20/2009,


Resolução n.º 5, de 17 de dezembro de 2009);
 Ensino Fundamental (Parecer CNE/CEB n.º 11/2010, Resolução n.º 7, de
14 de dezembro de 2010);

31
 Ensino Médio (Parecer CNE/CEB n.º 5/2011, Resolução n.º 3, de 21 de
novembro de 2018).
 Cada modalidade: Educação Especial (Parecer CNE/CEB n.º 13/2009,
Resolução n. º 4, de 2 de outubro de 2009),
 Educação de Jovens e Adultos (Parecer CNE/CEB n.º 11/2000,
Resolução n.º 5, de julho de 2000. Educação de Jovens e Adultos).
 Educação para Jovens e Adultos em situação de privação de liberdade
nos estabelecimentos penais (Parecer CNE/CEB n.º 4/2010, Resolução
n.º 2, de 19 de maio de 2010), Educação para Jovens e Adultos nos
aspectos relativos à duração dos cursos e idade mínima para ingresso
nos cursos de EJA e Educação de Jovens e Adultos desenvolvida por
meio da Educação a Distância,(Parecer CNE/CEB n.º 6/2010, Resolução
n.º 3, de 15 de junho de 2010).
 Educação de Jovens e Adultos (Parecer CNE/CEB n.º 1/2021, Resolução
n.º 01, de 25 de maio de 2021, que institui Diretrizes operacionais para
Educação de Jovens e Adultos nos aspectos relativos ao seu alinhamento
à Política Nacional de Alfabetização (PNA) e à Base Nacional Comum
Curricular (BNCC), Educação de Jovens e Adultos a Distância.
 Educação Escolar Indígena (Parecer CNE/CEB 13/2012, Resolução n.º
05, de 22 de junho de 2012), Educação Escolar Quilombola (Parecer
CNE/CEB n.º 16/2012/Resolução CNE/CEB n.º 8, de 20 de novembro de
2012), Educação Básica nas escolas do Campo (Parecer n.º 36/2001,
Resolução CNE/CEB n.º 1,de 3 de abril de 2002) e Consulta referente às
orientações para o atendimento da Educação do Campo ( Parecer
CNE/CEB n.º 23/2007, Resolução n.º 2, de 28 de abril de 2008. Educação
Profissional técnica de Nível Médio (Parecer CNE/CEB n.º 11/20120).
 Para os temas socioeducacionais, que são transversais às áreas de
conhecimento, apresentando diretrizes curriculares próprias:
 Educação Ambiental (Parecer CNE/CP n.º 14/2012, Resolução n.º
2, de 15 de junho de 2012), - Educação em Direitos Humanos
(Parecer CNE/CP n.º 8/2012, Resolução CNE/CP n. º 1, de 30 de
maio de 2012),

 Educação Fiscal e Educação para o Direito do Consumidor


(Resolução 07, de 14 de dezembro de 2010),

32
 Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História
e Cultura Afro-Brasileira e Africana (Parecer CNE/CP n.º 3/2004,
Resolução n.º 1, de 17 de junho de 2004), e

 Educação para o Trânsito (Parecer CNE/CEB n.º 22/2004).

Veja o que diz a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) nº


9.394/1996, (notadamente em seu artigo 12
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/11694640/artigo-12-da-lei-n-9394-de-20-de-
dezembro-de-1996
Vale também conhecer o enfoque do atual Plano Estadual de Educação (PEE)
e do Plano Nacional de Educação-2014-2024 (PNE) ao qual ele está alinhado. c) A
qualidade da educação ou qualidade social da educação, termo mais adequado ao
escopo e complexidade que envolve, embora tenha sido mencionado de forma
breve na LDBN (art. 3.º, IX e art. 4.º, IX, art. 9.º VI), abarca uma gama variada de
fatores educacionais, políticos e sociais, que a tornam uma questão multifacetada
e em contínuo processo de construção.
http://pne.mec.gov.br/
http://www.educacao.pe.gov.br/portal/upload/galeria/10046/PLANO%20ESTADUA
L%20DE%20EDUCA%C3%87%C3%83O_vers%C3%A3o%20final_%20Lei_%20n
%C2%BA%2015.533%20DOE.pdf

O Parecer CNE/CEB n.º 05/2011 indica que “Uma das principais tarefas
da escola ao longo do processo de elaboração do seu PPP é o trabalho de refletir
sobre sua intencionalidade educativa”.
Nessa lógica, a Resolução da CNE/CEB n.º 03/2018, que institui as
DCNEM, determina que “a proposta pedagógica das unidades escolares deve
traduzir a proposta educativa construída coletivamente, garantida a participação
efetiva da comunidade escolar e local, bem como a permanente construção da
identidade entre a escola e o território no qual está inserida.”
Outro ponto importante nesse contexto é a necessidade de
institucionalização do Atendimento Educacional Especializado (AEE) no PPP
das escolas, conforme disposto na Política Nacional de Educação Especial, na
perspectiva da Educação Inclusiva (MEC/SECADI/2008), bem como na Lei
Brasileira de Inclusão (Lei n. º 13146/2015).
Nesse processo, devem ser observadas também as orientações das
Notas Técnicas n.º 13/2008 e n.º 11/2010 (MEC/SEESP/GAB), além do disposto

33
no Decreto n.º 6571/2008 e na resolução n.º 04/2009 - CNE/CEB e o Regimento
Escolar da Rede Pública Estadual de Pernambuco.
No próximo tópico, haverá a discussão acerca de uma ferramenta
indispensável à materialidade do PPP: o Plano de Ação, que possibilita a
visibilidade, entre outros aspectos, da concepção metodológica que o
fundamenta na condução do processo de ensino.

Algumas estratégias facilitam a preparação, a revisão e o


acesso da equipe ao Projeto Político-Pedagógico: “Dicas de como
elaborar o PPP”
https://gestaoescolar.org.br/conteudo/559/como-fazer-o-ppp-da-
escola E planos de ação,
http://www.gestaoescolar.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/sem_pe
dagogica/ev_2015/anexo1_plano_acao_escola_sp2015.pdf

5. A dialética do plano de ação e da concepção metodológica

A elaboração do Plano de Ação é o processo mais intensivo e detalhado


na revisão do PPP, levando em consideração a implementação dos novos
currículos. Este item é o responsável por estabelecer os caminhos a serem
tomados para concretizar as metas de transformação da escola a partir de um
referencial construído coletivamente, capaz de orientar a comunidade escolar
sobre os principais desafios e sua atuação diante deles. É também através dele
que se torna possível estabelecer um monitoramento dos problemas detectados
durante o ano.
Durante sua elaboração, um aspecto importante a ser levado em
consideração, é o detalhamento do modo como a escola irá se adaptar a fim de
implementar os novos currículos alinhados com a BNCC em todas as suas
categorias: objetivos de aprendizagem, metas, materiais didáticos, formação
docente, avaliação e organização da escola.
O delineamento do Plano de Ação deve contemplar três subdivisões
conceituais:

 O estabelecimento de objetivos, que expressam os resultados


esperados através de algumas ações;
 As metas, que quantificam a dimensão concreta dos objetivos e
34
 As ações, que expressam as atividades e/ou os procedimentos
descritos a fim de atingir determinado objetivo, como mostra o modelo
abaixo.

Figura 5. Modelo de plano de ação

O Plano de Ação compõe a etapa operacional do PPP, que compreende


o planejamento das ações a serem adotadas pela comunidade escolar para
concretizar o projeto de escola já traçado nas duas outras fases – o Marco
Situacional e o Marco Conceitual.
O planejamento é um processo contínuo de conhecimento e análise da
realidade escolar na procura da solução de problemas com o propósito de
tomada de decisões.
Nesse sentido, o PPP deve ser sistematicamente avaliado e revisto, tendo
em vista o redirecionamento das ações. Isso em razão de o Marco Operacional
sinalizar, ao antecipar resultados, o caminho a seguir, articulando objetivos e
elementos para atingi-los, como as estratégias, os recursos e os responsáveis.
Portanto, são estabelecidas ações de curto, médio e longo prazo a serem
realizadas nas instâncias pedagógica e administrativa, as quais estão
correlacionadas com o Plano de Ação da escola. Ademais, o Marco Operacional
deve abranger a descrição de quais projetos ou programas a escola promove,
sejam eles institucionais/estaduais/federais.
Deve considerar que as ações didático-pedagógicas descritas no PPP
terão como ponto de partida e de chegada a articulação das informações. E
ainda, visando a isso, o Marco Operacional deve conter as sugestões de ações
35
voltadas às situações identificadas no diagnóstico, considerando os
fundamentos conceituais em que se determinou a intencionalidade.

Segundo o professor Celso Vasconcellos, doutor em Educação, diretor


do Centro de Pesquisa, Formação e Assessoria Pedagógica Liberta, e autor
de diversos livros sobre a questão, a elaboração do planejamento tem
como elementos básicos a finalidade, a realidade e o plano de ação. Acesse
a reportagem:
https://novaescola.org.br/conteudo/431/planejamento-momento-de-
repensar-a-escola

Na prática, as ações traduzem as concepções nas quais a escola se pauta


para implementar o Projeto Político-Pedagógico; refletem as decisões tomadas
pelo grupo e pelas quais os gestores e educadores de apoio são responsáveis
na busca por concretizar a efetivação e/ou por implementá-las. No tocante às
ações de curto prazo, pode-se definir um formato similar ao Plano de Ação da
escola, pois esse é um instrumento de planejamento dinâmico com o propósito
de especificar ações imediatas e contínuas. Já as ações de médio e longo prazo
preveem os projetos e programas que a escola intenta realizar e aos quais deve
dar continuidade no âmbito de suas práticas pedagógicas.
Outro modo de compreender o plano de ação é vê-lo como um documento
que contempla elementos tais como:

 Os objetivos de aprendizagem e o desenvolvimento dos estudantes (a


partir dos currículos estaduais de referência) e a forma como a escola irá
garantir essas aprendizagens;
 As metas de resultados educacionais – Indicadores da Qualidade da
Educação metas para resultados no SAEB/IDEB e demais avaliações
locais, tanto para aspectos cognitivos como para as competências gerais
da BNCC e outros aspectos socioemocionais;
 Materiais educativos e didáticos (diretrizes para a escolha e/ou produção
autônoma de materiais, livros didáticos e paradidáticos, brinquedos etc.);

36
 Os objetivos e métodos para a formação docente dentro da escola
(tempos, espaços, metodologia e papel de cada profissional no processo
formativo);
 Os critérios e as formas de avaliação tanto da aprendizagem dos
estudantes como da formação de professores, além da autoavaliação
institucional.

Por fim, é preciso ressaltar a importância de contemplar o Plano de Ação


Inclusiva no Projeto Político-Pedagógico–PPP das escolas ao longo de todo o
processo de escolarização, o que permitirá ao estudante reconhecer-se no
ambiente escolar como parte integrante da comunidade à qual pertence.
É uma perspectiva de respeito à diferença, acerca da qual Freire (2002,
p. 47) destacou que quando se está do lado “do direito e não do arbítrio, da
convivência com o diferente e não de sua negação, não há outro caminho senão
viver plenamente a opção. Encará-la, diminuindo assim a distância entre o que
dizemos e o que fazemos”. Isso quer dizer que o Projeto Político-Pedagógico é
marcado por três princípios básicos: fundamentos ético-políticos, fundamentos
didático-pedagógicos e fundamentos epistemológicos, demonstrados na figura
6, a seguir:

Figura 6 – Princípios básicos do Projeto Político-Pedagógico

37
Observe que, quando ressaltado que o plano de ação é fundamental no
Projeto Político-Pedagógico, afirma-se que ele define as ações e as práticas
educativas que permitirão a formação da identidade da escola e,
consequentemente, revelarão a intencionalidade do fazer educativo. Isso
permite aos pais, aos professores, aos estudantes e a toda a comunidade
escolar escolher a partir de seus princípios e de suas características aplicadas
em seu cotidiano.
Dessa maneira, no Plano de Ação, de acordo com a teoria pedagógica
como norteadora da prática, devem estar presentes desde as atividades de
organização das situações de gestão, de ensino e de avaliação até sua efetiva
implementação nas salas de aula. Por exemplo, tal processo engloba a escolha
do livro didático, passando pela seleção e a sistematização dos conteúdos de
ensino, sua transposição didática como saberes escolares, a subsequente
materialização desses quando do aporte das competências e habilidades a
serem contempladas e as situações didáticas e avaliativas voltadas, inclusive,
para a necessária aproximação entre escola e comunidade. Todo esse
movimento exige constante avaliação, um constante olhar avaliativo sobre a
relação entre os objetivos estabelecidos e os efetivamente alcançados. No tópico
a seguir, uma reflexão acerca da avaliação e da ressignificação do PPP na
Unidade de Ensino.

6. Os processos de avaliação e ressignificação do Projeto


Político Pedagógico da/na escola

As grandes e necessárias mudanças na educação não se restringem


apenas ao que se faz em sala de aula. A organização da escola, que deve se
dar em função do processo pedagógico, ou seja, em função do espaço da sala
de aula, deve estar desenhada em um projeto que, além de definir os sonhos da
instituição, oriente seu funcionamento e sua organização rumo à Educação
pretendida, arregimentando todos os integrantes da comunidade escolar para o
cumprimento dos compromissos a serem assumidos, afirma Gandin (1999).
Nessa direção, considerando o ponto de partida, o caminho percorrido e
o ponto de chegada, tendo como principal ferramenta de intervenção na
realidade o planejamento participativo, o grande desafio é manter o PPP como
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referência para as ações cotidianas, requisito para a manutenção de sua
atualidade. Para que isso seja possível, é indispensável revisitar, revisar o PPP.
Esse processo envolve etapas semelhantes às de sua elaboração. Na
perspectiva da revisão do Projeto Político-Pedagógico, CEDAC (2016) elenca
ações a serem realizadas ao fim de um ano da vigência do documento, quais
sejam:

 Organizar grupos para revisão das ações do plano;


 Socializar as análises das ações planejadas no PPP anterior com a
comunidade escolar;
 Atualizar as informações sobre a comunidade;
 Atualizar os indicadores educacionais;
 Discutir a atualização dos indicadores educacionais;
 Discutir metas e ações planejadas no PPP anterior, verificando os seguintes
aspectos:
 Verificar se Plano atendeu às expectativas da comunidade;
 Verificar se a comunidade teve assegurado o envolvimento em sua
implementação;
 Observar se as metas e ações foram adequadas à realidade;
 Observar o que foi possível e o que não foi possível realizar.

É preciso revisar o PPP com os diversos segmentos da escola; reelaborar


a redação das modificações; validar a redação do texto revisado; apresentar à
comunidade escolar a versão finalizada do documento.
Portanto, a construção e a atualização do Projeto Político-Pedagógico na
escola implicam trabalhar com variações etárias e de gênero, interesses
diversificados e plurais, projetos pessoais múltiplos, vínculos familiares diversos.
Por isso, é imprescindível considerar a heterogeneidade das experiências
educacionais anteriores dos estudantes e as variações pessoais nos seus ritmos
de aprendizagem. E, por sua vez, educadores de apoio e gestores, e outros
integrantes também são vistos como sujeitos de seu trabalho, no qual estão
impressas marcas de seus projetos pessoais, de suas características e
experiências.

39
7. Considerações Finais

Projetar é “desenhar” possibilidades. E essa é uma das capacidades que


distingue o ser humano dos demais animais. Ter um documento que “desenha”,
torna visíveis as peculiaridades de cada unidade escolar e sobre as quais
permite agir na perspectiva das necessárias transformações é um direito dos que
atuam nesse espaço.
Como documento de identidade institucional, o Projeto Político-
Pedagógico reflete o nível de consciência sobre o papel da escola e a
necessidade de organizar nela a prática administrativa em função dos objetivos
pedagógicos impostos por esse papel.
Essa organização administrativo-pedagógica deve considerar os fatores
que incidem sobre o funcionamento da sala de aula, seus modificadores; as
demandas oriundas das transformações sociais que desencadeiam novas
perspectivas para as proposições curriculares; por exemplo, os resultados
evidenciados nos indicadores das avaliações externas da educação, as
discussões teóricas e as bases legais.
Seu marco conceitual deve trazer a proposta curricular na qual se
evidencia o vínculo com o Currículo proposto para a Rede de Ensino, no caso o
CPE. A partir dessa organização, deve ser estruturado então o ensino, o
movimento da sala de aula, de modo que se possa promover uma efetiva
aprendizagem.
No caso do PPP para as escolas municipais e estaduais trata-se de um
olhar coletivo sobre as peculiaridades das nossas diversas comunidades
escolares: história, estrutura orgânica e física, quadro de profissionais, recursos
financeiros, projetos permanentes e matriz curricular de cada componente
curricular. Observar suas potencialidades e fragilidades, tendo como parâmetros
para isso o Currículo de Pernambuco, contemplando objetivos de aprendizagem,
metas, materiais didáticos, formação docente, avaliação e organização da
escola, ou seja, todas as categorias propostas na BNCC.

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REFERÊNCIAS

BRASIL. Constituição da República GANDIN, D.; GANDIN, L. A. Temas para


Federativa do Brasil de 1988. Disponível um projeto político-pedagógico,
em: Petrópolis, Vozes, 1999.
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/con
stituicao/ConstituicaoCompilado.htm. GANDIN, Danilo. A prática do
Acesso em 27 dez. 2019. planejamento participativo na educação.
Porto Alegre, UFRGS, 1991.
BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional, LDB. 9394/1996. GOODSON, Ivor. Currículo: teoria e
história. 5ª ed. Petrópolis; Editora
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4/2010. Institui as Diretrizes
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Básica. 2010. M S. Educação Escolar: políticas,
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2/2001. Institui as Diretrizes
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Especial na Educação Básica. campo, conceito e pesquisa. 4ª ed.
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e elaboração na escola. Campinas, SP:
_____. Parecer CNE/CEB n.º 8/2012. Autores Associados, 2008.
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Educação Escolar Quilombola na MOREIRA, Antonio Flavio B. (Org.).
Educação Básica. Currículo: questões atuais. 17ª ed.
Campinas: Papirus, 2010.
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orientações para o gestor escolar / PACHECO, José Augusto. Escritos
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PADILHA, P. R. Planejamento
CAMBI, Franco. História da pedagogia. Dialógico: como construir o projeto
Trad. Álvaro Lorencini. São Paulo: político-pedagógico da escola. São
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2001.
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FARIA, Vitória Líbia Barreto de, DIAS, Recife: SEDUC, 2019.
Fátima Regina Teixeira de Salles.
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FREIRE, Paulo. Pedagogia da da Universidade Federal de
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VASCONCELLOS, Celso dos S. político-pedagógico da escola: uma
Planejamento: projeto de ensino- construção possível. 23 ed. Campinas:
aprendizagem e projeto político- Papirus, 2007.
pedagógico – elementos pedagógicos

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FICHA TÉCNICA
EQUIPE DE REDATORES

Edite Marques de Moura (UNDIME) Júlio Ricardo de Barros Rodrigues


Carlas Renata Priscila Costa Ferreira (GEPAF)
(GEPAF) Rosinete Salviano Feitosa (GEPAF)
Célia Regina Bastos dos Santos Robson Anselmo Tavares de Melo
(UNDIME) (GEPAF)

LEITORES CRÍTICOS

Adriana de Oliveira Toledo (SUEAI) Maria Inez Almeida (GEPAF)


Daniel Neto (GEJAI) Rilva José Pereira Uchoa Cavalcanti
Janine Furtunato Queiroga Maciel (GEPAF)
(GEPEM) Robson Anselmo Tavares de Melo
José Dionísio Júnior (GAMPE) (GEPAF)
José Paulino Peixoto Filho (GEPAF) Rosalia Soares de Sousa (GEPAF)
Jeanne de Oliveira Sousa Rocha Terezinha Mônica Sinício Beltrão
(SEDE) (GEPEM)
Maria da Conceição Santos (UACP) Zélia Granja Porto (UFPE)

EQUIPE DE REVISORES

Jamesson Marcelino da Silva (GEPAF)


Robson Anselmo Tavares de Melo (GEPAF)
Edite Marques de Moura (UNDIME)

DIAGRAMAÇÃO

Carlas Renata Priscila Costa Ferreira (GEPAF)


Priscila da Silva Moreira (GEPAF)
Nayara Gomes Melo (SEDE)

COORDENAÇÃO

Jeanne de Oliveira Sousa Rocha (SEDE)


Luís Henrique Hermínio Soares de Ramalho (SEDE)
Rosinete Salviano Feitosa (GEPAF)

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