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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

FACULDADE DE NUTRIÇÃO EMÍLIA DE JESUS FERREIRO


CURSO DE GRADUAÇÃO EM NUTRIÇÃO

TAINÁ D‟AIUTO

THAIS LOPES DUARTE

FATORES ASSOCIADOS À SELETIVIDADE ALIMENTAR EM CRIANÇAS:


REVISÃO SISTEMÁTICA

NITERÓI, RJ
2021
TAINÁ D‟AIUTO

THAIS LOPES DUARTE

FATORES ASSOCIADOS À SELETIVIDADE ALIMENTAR EM CRIANÇAS:


REVISÃO SISTEMÁTICA

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado ao curso de Graduação em
Nutrição da Universidade Federal
Fluminense como requisito parcial à
obtenção do grau de Nutricionista.

Orientadora:
Profª Drª Enilce de Oliveira Fonseca Sally
Co-orientador:
Me. Jorge Pinho Junior

Niterói, RJ
2021
TAINÁ D‟AIUTO

THAIS LOPES DUARTE

FATORES ASSOCIADOS À SELETIVIDADE ALIMENTAR EM CRIANÇAS:


REVISÃO SISTEMÁTICA

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado ao curso de Graduação em
Nutrição da Universidade Federal
Fluminense como requisito parcial à
obtenção do grau de Nutricionista.

BANCA EXAMINADORA

__________________________________________________________________
Profª. Drª. Enilce de Oliveira Fonseca Sally - UFF
Orientadora

___________________________________________________________________
Profª. Drª. Ana Lúcia Pires Augusto - UFF

___________________________________________________________________
Membro da UFF

Niterói, RJ
2021
AGRADECIMENTOS

Primeiramente a Deus, por sempre colocar no meu caminho pessoas


especiais, por me conceder força para vencer os obstáculos da vida e por me
permitir vivenciar a experiência da graduação.
À minha mãe, Maria Lindete, por sempre acreditar em mim, por me dar colo
quando tudo parecia que ia dar errado. Por me ensinar que posso ser sempre uma
pessoa melhor.
Ao meu pai, Evandro e meus irmãos, Daniel e Brenda, por sempre me
apoiarem e me ensinarem que tudo que posso conseguir é através dos estudos, que
me incentivaram nos momentos difíceis e compreenderam a minha ausência
enquanto eu me dedicava a esse trabalho. Que mesmo longe fisicamente estavam
presentes na minha vida e me incentivaram a continuar. Quem me conhece sabe
como eu tenho orgulho dos meus irmãos por serem inteligentes e espero um dia ser
igual a eles.
Aos meus amigos que me ajudaram direta e indiretamente, em especial ao
João e Igor, obrigada pela paciência em momentos de tensão e por sempre torcerem
por mim.
Gratidão à professora Drª. Enilce de Oliveira Fonseca Sally, por ter abraçado
a ideia do TCC sempre com palavras incentivadoras, e por todos os artigos que
mandou e ajudaram na elaboração deste, por dispor-se a orientar a gente e por
compartilhar seus conhecimentos, ajudando a conduzir esse trabalho com apoio e
dedicação.
Ao nosso co-orientador, o doutorando Jorge Pinho Junior, pelo apoio e ajuda
durante o processo do TCC.
Tainá D‟Aiuto
AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus que em Seu infinito amor e bondade me


permitiu viver a experiência da graduação e me acompanha a cada passo da minha
vida.
À minha mãe, Marcia, por ser meu porto seguro e com todo seu amor apoiar
todas as minhas decisões e estar ao meu lado sempre, e também por toda paciência
ao longo da elaboração deste trabalho.
À minha avó, Iracema, por todo amor, ensinamento e investimento ao longo
desses anos e por acreditar em mim mais do que eu mesma, e também ao meu avô
Paulo, que não está mais entre nós, mas estaria orgulhoso por eu ter me formado na
mesma Universidade que ele.
Ao meu irmão Luiz Fernando e minha cunhada Lívia, por me inspirarem a
fazer uma graduação e torcerem por mim ao longo da faculdade e em toda a vida e
também aos meus primos que estão sempre desejando o melhor para minha vida.
As minhas amigas do Salesiano, que estão comigo há muitos anos, em
especial a Stela que está sempre ao meu lado e agora não seria diferente. Aos
amigos da faculdade, os que caminharam nessa jornada comigo desde o início e
também as meninas que eu me aproximei nos estágios obrigatórios, agradeço em
especial a Juliana Montovani que não mediu esforços a me ajudar nesse trabalho.
À orientadora Profª. Enilce Sally, por toda paciência, orientação e
acolhimento na realização desse trabalho.
Ao co-orientador Mestre Jorge Pinho Junior, por toda disponibilidade a nos
ajudar na realização desse trabalho e por toda orientação.

Thais Lopes
RESUMO

A seletividade alimentar caracteriza-se pela recusa total ou parcial de determinados


tipos de alimentos e pode ou não resultar em prejuízo no estado nutricional do
indivíduo. Em crianças, devido à alimentação monótona ou de baixo valor nutritivo,
as consequências a longo prazo da seletividade alimentar incluem atraso no
crescimento, no ganho de peso e alterações psicológicas. O objetivo deste trabalho
foi revisar a literatura científica sobre seletividade alimentar na infância. A busca
eletrônica foi realizada nas seguintes bases de dados: Embase, BVS,
Lilacs,Pubmed,Scielo e Scopus. Foram utilizadas as seguintes combinações
[seletividade alimentar AND criança], [food fussiness AND child] e [irritabilidad
alimentaria AND niño]. Foram excluídos os estudos de revisão e de relato de caso,
bem como os estudos que avaliaram crianças portadoras de doenças crônicas e
sequelas neurológicas. Foram encontrados 363 artigos na busca, resultando em 25
artigos incluídos na revisão, sendo 23 estudos observacionais e 2 estudos de
intervenção. Em estudos observacionais, há achados significativos de aspectos
psicológicos dos pais e das crianças, insegurança alimentar, deficiência de
micronutrientes, distrações na hora das refeições, obesidade infantil, influência
ambiental, pressão dos pais para a criança comer, estrutura de refeições em família,
estilo de autoridade dos pais e temperamento infantil. Em relação a estudos de
intervenção encontrados em nossa busca nas bases de dados, o número foi
pequeno e as principais contribuições foram acerca da importância de a criança ser
exposta repetidas vezes ao mesmo alimento e a aprendizagem sensorial como
forma de familiarização com os alimentos, afim de evitar exacerbar o comportamento
de seletividade. A seletividade alimentar quando diagnosticada cedo, pode ser
tratada e evitar possíveis riscos à saúde no futuro. No entanto, um dos desafios
identificados neste estudo são as poucas pesquisas de intervenção para apoiar a
melhoria deste quadro. Portanto as falhas observadas neste estudo, mostraram que
apesar dos diversos motivos para a criança desenvolver a seletividade, novas
pesquisas são indispensáveis a respeito da intervenção com métodos rigorosos de
evidências para a melhoria no quadro de seletividade alimentar.

Palavras-chave: Seletividade Alimentar; Criança; Neofobia alimentar;


Comportamento alimentar.
ABSTRACT

Food selectivity is independent of the total or partial refusal of certain types of food
and may or may not result in damage to the nutritional status of the individual. In
children, due to monotonous or low nutritional value feeding, the long-term
consequences of food selectivity include growth retardation, no weight gain and
psychological changes. The goal of this study was to review the scientific literature on
food selectivity in childhood. The electronic search was performed in the following
databases: Embase, BVS, Lilacs, Pubmed, Scielo and Scopus. The following
keywords were used for the search [seletividade alimentar AND criança], [food
fussiness AND child] e [irritabilidad alimentaria AND niño]. Review and case report
studies, as well as studies that assess children with chronic diseases and
neurological sequelae, were excluded. A total of 363 articles were found in the
search, published in 25 articles included in the review, being 23 observational studies
and 2 intervention studies. In observational studies, there are significant findings of
psychological aspects of parents and children, food insecurity, micronutrient
deficiency, mealtime distractions, childhood obesity, environmental influence,
parental pressure for the child to eat, family meal structure, style parental authority
and infant temperament. About intervention studies found in our database search, the
number was small and the main contributions were about the importance of the child
being repeatedly exposed to the same food and sensory learning as a form of
familiarization with food, in order to avoid exacerbating the selectivity behavior. Food
selectivity, when diagnosed early, can be treated and avoid possible health risks in
the future. However, one of the challenges identified in this study is the limited
intervention research to support the improvement of this picture. Therefore, the flaws
observed in this study showed that despite the various reasons for the child to
develop selectivity, further research is essential regarding the intervention with
rigorous evidence methods to improve the food selectivity.

Keywords: Food Fussiness; Child; Food Neophobia; Eating Behaviour.


LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 Fluxograma de estratégia de busca sistemática utilizada na revisão


(Adaptado de Moher, 2015), p. 20.
Quadro 1 Risco de viés em estudos observacionais (Adaptado de BRASIL, 2014),
p. 22.
Quadro 2 Porcentagem de risco de viés em estudos observacionais (Adaptado
de BRASIL, 2014), p. 23.
Figura 2 Porcentagem de risco de viés em estudos observacionais (Adaptado de
BRASIL, 2014), p. 23.
Quadro 3 Risco de viés em estudos observacionais (Adaptado de BRASIL, 2014),
p. 24.
Quadro 4 Porcentagem de risco de viés de estudos de intervenção (Adaptado de
BRASIL, 2014), p. 24.
Quadro 5 Síntese dos estudos que avaliaram a Seletividade Alimentar em
crianças de 1 a 10 anos, p. 28.
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

p. Probabilidade de significância
n Número de participantes
β Intervalo estatístico
CEBI Inventário de comportamento alimentar
CEBQ Questionário de comportamento alimentar da criança
CFQ Questionário de alimentação infantil
DRIs Valores de referência de ingestão de nutrientes
GRADE Graduação de qualidade de evidência e força de recomendação
IA Insegurança alimentar
IC Intervalo de confiança
IMC Índice de massa corporal
IMCz z score para IMC
MS Ministério da Saúde
NA Neofobia alimentar
OMS Organização Mundial da Saúde
OR Razão de possibilidade
PRISMA Relatórios preferenciais para revisões sistemáticas e meta-análises
SA Seletividade alimentar
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 10
2 REFERENCIAL TEÓRICO ................................................................................... 11
2.1 A alimentação enquanto prática social e o papel da família na formação de
hábitos alimentares das crianças ........................................................................ 11
2.2 Amamentação e alimentação complementar ................................................ 12
2.3 A seletividade alimentar na infância .............................................................. 14
2.4 Instrumentos de avaliação dietética utilizados para o diagnóstico de
seletividade alimentar .......................................................................................... 16
3 JUSTIFICATIVA ................................................................................................... 17
4 OBJETIVOS ......................................................................................................... 17
4.1 OBJETIVO PRINCIPAL .................................................................................... 17
5 MÉTODOS ........................................................................................................... 17
5.1 Definição do objeto de estudo ....................................................................... 17
5.2 Estratégias de busca ....................................................................................... 18
5.3 Critérios de inclusão e exclusão .................................................................... 18
5.4 Seleção de estudos e extração dos dados ................................................... 18
5.5 Avaliação do risco de viés .............................................................................. 18
5.6 Apresentação dos resultados ........................................................................ 19
6 RESULTADOS ..................................................................................................... 19
7 DISCUSSÃO ........................................................................................................ 38
8 CONCLUSÃO ...................................................................................................... 49
REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 50
10

1 INTRODUÇÃO

A escolha e o consumo de alimentos favoritos são aprendidos e se


manifestam desde o nascimento, sendo influenciadas pelos aspectos
socioeconômicos, afetivos e pela relação estabelecida entre a criança e a família
(VIANA, 2008).
A primeira infância é cada vez mais reconhecida como um período crítico para
formação dos padrões alimentares, em que se amplia a capacidade da criança em
assimilar os alimentos e fazer escolhas alimentares. Os pais são responsáveis pela
qualidade alimentar e pelas atitudes da criança ao alimento e à alimentação,
definidas aqui como comportamento alimentar (GOMES, 2020). O estilo alimentar da
família - o que selecionam e o que comem - é conhecido por ter um papel vital na
formação das preferências alimentares e atitudes das crianças em relação aos
alimentos (KUTBI, 2020). Tais preferências estabelecidas durante a infância podem
persistir até a vida adulta e são capazes de definir a qualidade da comida e da dieta.
Diz-se que a criança é seletiva quando ela se recusa a comer certos
alimentos. Na infância, a seletividade alimentar se caracteriza pela pouca variedade
de alimentos aceitos. A criança seletiva aceita pelo menos um alimento de cada
grupo e mostra tolerância à presença de novos alimentos e ao compartilhamento de
refeições em família. Em um estado mais extremo de seletividade, a restrição de
aceitação da criança é maior, resultando inclusive na recusa de grupos inteiros de
alimentos e na necessidade de se oferecer preparações diferentes da que a família
consome, devido às características destes alimentos, como textura e temperatura. A
criança também pode apresentar um comportamento caracterizado pela tentativa de
fuga, luta ou medo diante da oferta de novas apresentações alimentares
(JUNQUEIRA, 2017).
11

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 A alimentação enquanto prática social e o papel da família na formação


de hábitos alimentares das crianças

O caráter social da alimentação se apresenta desde o nascimento, com a


amamentação (ROMANELLI, 2006). Essa prática, ainda que pareça restrita e
vinculada à mãe e seu bebê, ocorre com apoio de outras pessoas. A mulher aprende
a amamentar com as experiências de outras mulheres dentro e fora do seu círculo
familiar, a partir de informações obtidas com profissionais de saúde, com os meios
de comunicação, entre outros (ALMEIDA, 2004).
Com a introdução de outros alimentos na dieta da criança além do leite
materno, a dimensão social da alimentação se evidencia mais, porque envolve a
participação da pessoa que produz o alimento, que o prepara, e daquela com quem
a criança partilha o momento da refeição. A comensalidade permite à criança
estabelecer relações sociais e afetivas, dentro e fora do contexto familiar.
As famílias formam o primeiro campo de aprendizagem e aceitação dos
alimentos e possuem o potencial indispensável para construção de hábitos
saudáveis. O ambiente familiar, o estilo de vida dos pais e as relações familiares
podem impactar nas preferências alimentares, e afetar o balanço energético da
dieta, devido à disponibilidade e composição dos alimentos. No contexto da
alimentação, os pais estabelecem modelos e moldam de algum modo o
comportamento alimentar infantil, com consequência sobre sua escolha alimentar e
seu peso (CARDOSO, 2013). Dessa forma, a família poderá contribuir para formar
padrões de comportamento alimentar adequados ou inadequados (OLIVEIRA,
2017).
A questão de gênero que associa a alimentação à natureza feminina se
estende para além da fase da amamentação, partindo da compreensão da
alimentação enquanto expressão de afeto e proteção. As mulheres são vistas como
detentoras de mais conhecimento e com maior acesso às informações acerca da
alimentação, motivo pelo qual recai sobre elas a responsabilidade de educar e
disciplinar os filhos em relação à alimentação (ROMANELLI, 2006). Segundo Prado
(2014), a alimentação é o primeiro grande simbolismo entre a relação do bebê e sua
mãe. Assim, a responsabilidade com a alimentação da família é frequentemente
12

atribuída à mãe, especialmente dos filhos quando crianças. Além desses aspectos
sociais, culturais, emocionais, outros valores estão imbricados nas práticas
alimentares.
A tentativa dos pais, especialmente das mães, em controlar a oferta dos
alimentos às crianças por acreditarem que as mesmas são incapazes de regular sua
ingestão alimentar traz neles sentimentos negativos quando as crianças recusam os
mecanismos de controle. De acordo com Ramos (2017), ao rejeitar os alimentos
oferecidos, a mãe se sente desqualificada acerca de sua competência de garantir a
alimentação do filho. O sentimento de frustração também atinge as mães diante da
indisciplina das crianças quanto ao horário pré-determinado das refeições, e da
quantidade e seleção do que querem comer, enfim, de sinais de resistências a esses
mecanismos de controle.

2.2 Amamentação e alimentação complementar

O Ministério da Saúde em consonância com a Organização Mundial da


Saúde (OMS) recomenda que a amamentação seja instaurada na primeira hora de
vida, mantida exclusivamente sem a oferta de outros alimentos ou líquidos nos
primeiros 6 meses de vida da criança, e que seja continuada até 2 anos ou mais,
complementada por outros alimentos (BRASIL, 2018). O aleitamento materno é a
forma ideal de alimentação para desenvolvimento e crescimento infantil
(MEZZAVILLA, 2021).
A desinformação das mães acerca da importância da amamentação é um
fator de risco ao desmame prematuro, assim como baixo nível socioeconômico,
necessidade de retorno ao trabalho e menor nível de escolaridade materna também
são fatores determinantes ao menor tempo de amamentação (MACHADO, 2014).
Por isso, uma rede de apoio à mãe que amamenta é de suma importância para o
sucesso da amamentação (BRASIL, 2019).
O começo da alimentação complementar se inicia com texturas pastosas e
percorre gradativamente, conforme aceitação da criança, para texturas mais sólidas
(ARANTES, 2018). A implementação da alimentação contribui para o
desenvolvimento de habilidades motoras e desenvolvimento oral dos bebês, assim
como a textura dos alimentos contribui também para a percepção sensorial pela
criança (PEDRAZA, 2021).
13

O Guia Alimentar para Crianças Brasileiras Menores de Dois Anos é um


documento oficial lançado pelo Ministério da Saúde publicado em 2019, no qual
consta os doze passos para uma alimentação saudável, que são orientações
resumidas para auxiliar as famílias na fase de amamentação e também na
alimentação das crianças (BRASIL, 2019).
De acordo com este guia, no 2º passo, se orienta que o início da
alimentação complementar da criança ocorra a partir dos 6 meses de idade, e
contempla a importância de oferecer apenas alimentos in natura ou minimamente
processados de diferentes grupos, referido como comida de verdade. Além disso,
também preconiza que com 1 ano de idade a criança deve alimentar-se com a
mesma comida da família nas principais refeições, preferencialmente com variedade
de alimentos, para que as refeições sejam mais adequadas e saudáveis (BRASIL,
2019).
A importância de não oferecer alimentos industrializados para a criança é
contextualizado no 6º passo, destacando que estes alimentos não são saudáveis por
serem pobres em nutrientes, além de ricos em gordura, sal, açúcar e aditivos e
também porque o consumo destes alimentos é um fator de risco a doenças crônicas
(BRASIL, 2019). Por conseguinte, o 7º passo incentiva ao preparo de uma
alimentação adequada e saudável tanto para a criança quanto para os seus
familiares, sendo um estímulo a melhora na alimentação de toda a família. A
importância de organização no momento das compras, preparo de grandes
quantidades de alimentos a fim de otimizar o tempo e congelamento destas
refeições prontas também é destacado (BRASIL, 2019).
Ademais, no 8º passo, a orientação é de que o momento das refeições das
crianças seja realizado junto com a sua família, sendo um momento agradável e
prazeroso para que ela possa estabelecer vínculo de confiança com seus familiares
e que ela seja incentivada a experimentar novas preparações. Estes momentos
familiares também são a oportunidade de transmissão da cultura familiar em torno
dos alimentos e das preparações (BRASIL, 2019).
A proteção das crianças à publicidade de alimentos é descrita no 12º passo,
devido à incapacidade de julgamento e decisões das mesmas sobre o que é
adequado ou não (BRASIL, 2019).
14

2.3 A seletividade alimentar na infância

A seletividade alimentar na infância se caracteriza pela pouca variedade de


alimentos aceitos. A criança seletiva aceita pelo menos um alimento de cada grupo e
mostra tolerância à presença de novos alimentos e ao compartilhamento de
refeições em família. Em um estado mais extremo de seletividade, a restrição de
aceitação da criança é maior, resultando inclusive na recusa de grupos inteiros de
alimentos e na necessidade de se oferecer preparações diferentes da que a família
consome, devido às características destes alimentos, como textura e temperatura. A
criança também pode apresentar um comportamento caracterizado pela tentativa de
fuga, luta ou medo diante da oferta de novas apresentações alimentares
(JUNQUEIRA, 2017).
A relutância em comer novos alimentos é chamada de neofobia alimentar .
Esse comportamento, do ponto de vista evolutivo, pode diminuir os riscos da
ingestão de alimentos danosos à saúde; contudo, causa monotonia alimentar, o que
pode suceder em deficiências nutricionais (TORRES, 2020).
Embora seja relatado que a SA geralmente atinge o pico na infância, a
trajetória de desenvolvimento da seletividade é amplamente desconhecida. Não
obstante, a definição e medição sejam inconsistentes são frequentemente
relacionadas a pressão familiar e conflito na hora das refeições, bem como alta
tensão e frustração dos pais acerca da alimentação da criança (WOLSTENHOLME,
2020).
Os pais de crianças seletivas podem se sentir descontentes e preocupados
com a qualidade e quantidade de alimentos consumidos pelos filhos. Um estudo
piloto realizado em um centro especializado para crianças com dificuldades
alimentares localizado em São Paulo, identificou que 30% delas apresentaram
seletividade alimentar (MAXIMINO, 2016). As queixas dos pais e responsáveis eram
de que as crianças apresentavam “pouco apetite e eram seletivas" e de que
“comiam pouco, mas não ganhavam peso”. Em 75% das crianças, as queixas foram
observadas antes dos 2 anos de idade. Foi observada também uma relação entre
um ou ambos os pais seletivos e seus filhos com seletividade alimentar (MAXIMINO,
2016).
A falta de apoio profissional com ajuda especializada pode levar a
seletividade alimentar tornar-se um processo duradouro, sem que o mesmo seja
15

superado adequadamente. Como consequência, podem ocorrer prejuízos de ordem


nutricional e emocional para a criança (MAXIMINO, 2016).

Maximino (2016) desenvolveu um modelo de diagnóstico de seletividade


alimentar na infância, para ser realizado por meio de uma equipe multidisciplinar,
composta por médico pediatra, nutricionista e fonoaudiólogo. Através de um fluxo
triplo, o médico realiza a anamnese sobre as informações da história obstétrica, os
antecedentes clínicos e pessoais e familiares, o exame físico da criança, a
antropometria (perímetro cefálico, circunferência do braço, comprimento, peso e
estatura) e exame bioquímico. Já o nutricionista, realiza a anamnese alimentar por
meio de o registro alimentar de três dias e história alimentar. Por fim, o
fonoaudiólogo faz uma entrevista com os pais e exame clínico das crianças que
consiste em:

Entrevista: escuta dos pais; Exame clínico: Estruturas e funções orais,


(dificuldades sensório-motoras orais). Dificuldade nas funções de sucção,
respiração, mastigação, deglutição e/ou fala. Filmagem da refeição:
Características sensoriais do alimento, forma de alimentação e relação com
alimento, utensílios utilizados. Mastigação e deglutição (MAXIMINO, 2016,
p. 2)

Com base nas informações obtidas, faz-se o diagnóstico e são feitas as


condutas. A classificação diagnóstica de seletividade alimentar se caracteriza por
crianças pouco ou muito seletivas ou que possuem alguma causa orgânica (disfagia,
autismo e atraso de desenvolvimento). Os diagnósticos podem diferenciar quanto ao
grau de intensidade, do mais leve ao mais grave (MAXIMINO, 2016).
De acordo com Maximino (2016), o diagnóstico precoce da seletividade
alimentar por parte de uma equipe multiprofissional é de suma importância. Além
disso, a alimentação livre de restrições e sem seletividade depende da integração
bem sucedida dessa equipe. Ainda de acordo com a autora, a interdisciplinaridade,
quando médicos, nutricionistas e psicólogos trabalham em conjunto, estes são
capazes de observar uma possível diminuição na variedade alimentar e a relação
dessa exclusão com a forma como isso afeta o cotidiano da criança. Para BRYANT-
WAUGH (2008) a não detecção da seletividade pode resultar no atraso ou
absentismo do desenvolvimento neuromotor, relutância ou recusa com base no
gosto, textura e outros fatores sensoriais, falta de apetite ou desinteresse em novas
apresentações alimentares, ou gêneros alimentícios. Segundo Ferreira (2017), uma
dieta restrita, em termos de pluralidade, pode suscitar vários danos à saúde, logo
16

que é formada uma dieta monótona e propicia o surgimento de carências


nutricionais, até a evolução de morbidades relacionadas a uma alimentação
desequilibrada, como o baixo peso e obesidade.

2.4 Instrumentos de avaliação dietética utilizados para o diagnóstico de


seletividade alimentar
A escala de neofobia alimentar classifica a assimilação parental relativa ao
temor de crianças em idade escolar em experimentar novos alimentos. É composta
de 10 itens do tipo escala de 5 pontos, iniciando-se em 1 - concordo completamente
até 5 - discordo completamente, portanto quanto menor a pontuação, maior é o grau
de neofobia alimentar da criança. (PLINER, 1994). Esta escala foi adaptada à versão
portuguesa por Filipe (2011).
O questionário de Preferências Alimentares é realizado por meio de um
método lúdico (Rank Order Preference Assessment). Esta metodologia equivale a
requisitar à criança que analise 33 imagens de alimentos (ex. frutas, verduras,
bebidas, doces, etc.) e que a mesma faça a diferenciação em que proporção gosta
de cada um dos alimentos, numa escala ordinal de faces com 3 pontos: um rosto
triste (“não gosto”), um rosto neutro (“gosto mais ou menos”), e um rosto feliz (“gosto
muito”) (BIRCH, 2001) (ANDRADE, 2008).
O Children‟s Eating Behaviour Questionnaire (CEBQ) é um questionário que
avalia o comportamento alimentar ou estilo alimentar das crianças e jovens. Esse
instrumento consiste em uma medida da descrição pelos pais e é composto por 35
itens, dos quais são julgados em uma escala Likert de cinco pontos que varia de
nunca a sempre. Parte-se da compreensão de que há aspectos psicossociais
envolvidos na seleção e escolha de alimentos que se vai ingerir. O estilo alimentar
diz respeito à especificação do comportamento alimentar a medidas psicológicas
relacionadas ao estilo, como: resposta à saciedade, ingestão lenta, seletividade,
comer de forma insuficiente, habilidade de resposta alimentar, prazer em comer,
comer excessivamente ligado ao emocional e desejo de beber (VIANA, 2016).
O questionário Child Feeding Questionnaire (CFQ) visa aferir as atitudes e
práticas parentais referentes ao comportamento alimentar da criança. É composto
por 38 itens subdivididos em nove escalas, das quais as pontuações conferem a
média das pontuações individuais dos itens que as formam: (a)” responsabilidade
percebida”; (b)” percepção do peso dos pais”; (c) “percepção do peso das crianças”;
17

(d) “preocupação com o peso da criança”; (e)” restrição”; (f) “pressão para comer”;
(g)” monitorização”; (h) “controlo coberto”; e (i) „controlo aberto” (BIRCH, 2001).
Existem ainda o questionário de frequência alimentar e o recordatório 24
horas. O primeiro consiste em um formulário composto por listas de alimentos
divididos em grupos, associado à quantidade e à frequência de consumo. Já o
segundo é um método que avalia a ingestão atual de indivíduos, e consiste em
perguntas feitas por um nutricionista treinado a pais/cuidadores ou ao próprio
indivíduo acerca da ingestão alimentar exata nas últimas 24 horas (GIBSON, 2005).

3 JUSTIFICATIVA

Considerando o potencial efeito da seletividade alimentar no processo de


crescimento e desenvolvimento físicos e no comportamento social e emocional da
criança, assim como os efeitos sobre os pais, devido à insegurança na condução da
alimentação dos filhos, justifica-se a realização deste estudo que tem como objetivo
revisar a literatura científica sobre seletividade alimentar na infância.

4 OBJETIVOS

4.1 Objetivo principal

Revisar a literatura científica sobre seletividade alimentar na infância para


identificar aspectos relacionados a ela e intervenções realizadas.

5 MÉTODOS

5.1 Definição do objeto do estudo

Foi realizado uma revisão sistemática de estudos observacionais e de


intervenção que investigaram a seletividade alimentar em crianças.
18

5.2 Estratégias de busca

As pesquisas foram realizadas em julho de 2021 nas seguintes bases:


MEDLINE, EMBASE, LILACS, BVS, Scopus e Scielo por duas pesquisadoras
independentes, depois foi comparado e quando houve discordância entre as
revisoras, o artigo foi debatido até chegar em comum acordo. Os termos de
indexação utilizados foram: seletividade alimentar AND criança, food fussiness AND
child e irritabilidad alimentaria AND niño.

5.3 Critérios de inclusão e exclusão

Foram elegíveis estudos publicados nos últimos 10 anos (2011 a 2021), que
investigaram a seletividade alimentar em crianças de até 10 anos, nos idiomas de
português e inglês. Não houve restrição quanto ao sexo das crianças. Foram
incluídos estudos com todos os tipos de delineamento, uma vez que a questão de
pesquisa foi relativa à abrangência do conhecimento produzido acerca do tema
investigado. Estudos realizados com crianças portadoras de doenças neurológicas e
neoplasias, além de relatos de casos e estudos de revisão foram excluídos.

5.4 Seleção de estudos e extração dos dados

Para a seleção dos estudos utilizou-se o gerenciador de referências Zotero.


Após remoção dos registros duplicados, duas pesquisadoras independentes
selecionaram os artigos por título e resumo, observando-se os critérios de inclusão e
exclusão pré-estabelecidos. Os casos em desacordo foram resolvidos por consenso
ou decisão de um terceiro pesquisador. Posteriormente os textos completos foram
reunidos para avaliação e os que não se adequaram foram excluídos.

5.5 Avaliação do risco de viés

A avaliação do risco de viés dos artigos foi realizada conforme o sistema


GRADE (Grading of Recommendations Assessment, Development and Evaluation).
Levou em conta as limitações dos estudos de ensaios clínicos randomizados de
superioridade para os artigos de intervenções e as limitações dos estudos
19

observacionais para os estudos observacionais. Os artigos foram avaliados por duas


revisoras separadamente e então os artigos foram discutidos até chegar em um
comum acordo, além disso em caso de discordância os artigos foram discutidos com
os avaliadores. Após avaliação os artigos foram classificados em risco de viés alto,
moderado e baixo, de acordo com cada limitação analisada (BRASIL, 2014).

5.6 Apresentação dos resultados

Os artigos selecionados após os processos de exclusão foram organizados


a partir dos seguintes dados: Autores, amostra, país de origem do estudo, objetivo,
delineamento metodológico, método de avaliação da seletividade alimentar e
resultados.
Os resultados foram apresentados na forma de quadros e em estudos de
associação foi adotada a probabilidade de significância (valor -p) <0,05.

6 RESULTADOS

O fluxograma de estratégias de busca e seleção foi realizado de acordo com


o PRISMA (MOHER, 2015), representado na figura 1. Na busca eletrônica
encontram-se 363 artigos nas bases de dados, posteriormente excluindo-se 147
artigos duplicados e 91 artigos após a leitura de título e resumo. Então, os 125
artigos restantes foram lidos em texto completo e excluiu-se então 100 artigos que
não se encaixavam nos critérios de elegibilidade. Depois de aplicadas todas as
etapas de seleção foram selecionados 25 artigos que avaliaram fatores relacionados
à seletividade alimentar em crianças.
20

Fig.1- Fluxograma de estratégia de busca sistemática utilizada na revisão

Fonte: Adaptado de Moher (2015)


21

A avaliação do risco de viés foi realizada conforme o sistema GRADE, sendo


assim em relação aos estudos observacionais, foram identificados 9 estudos com
risco baixo nos quatro vieses analisados: inclusão de participantes, cegamento,
fatores de confusão e seguimento incompleto), conforme quadro 1. Significando,
estudos com nível de evidência alto. Em 9 estudos observacionais, foi identificado ao
menos um risco de viés moderado, sendo classificados então com nível de evidência
moderada. Ademais, 5 estudos observacionais foram classificados com baixo nível
de evidência por ter ao menos um risco alto de viés (Quadro 1)
Em relação a porcentagem de risco de viés em estudos observacionais, o
viés de inclusão de participantes foi o que apresentou maior porcentagem de risco
baixo de viés (87%) e viés de seguimento incompleto foi o que apresentou maior
porcentagem de risco alto de viés (18%) (Quadro 2).
22

Quadro 1 - Risco de viés em estudos observacionais

Viés de Viés de
Viés de inclusão de Viés de
Autor/Ano fatores de seguimento
participantes cegamento
confusão incompleto

Berge et al/2020 Baixo Baixo Baixo Baixo


Blissett et al/2011 Alto Baixo Baixo Alto
Brown et al/2018 Baixo Baixo Baixo Alto
Chao et al/2021 Baixo Baixo Baixo Baixo
Cole et al/2018 Baixo Baixo Baixo Moderado
De Barse/2016 Baixo Baixo Baixo Baixo
Farrow e Moderado Baixo Baixo Moderado
Coulthard/2012
Fernandez et al/2020 Baixo Moderado Moderado Baixo
Goulding et al/2014 Baixo Baixo Baixo Moderado
Jalkanen et al /2017 Baixo Baixo Baixo Alto
Jansen et al/2017 Baixo Baixo Baixo Baixo
Kutbi/2020 Baixo Baixo Baixo Baixo
Mallan et al/2018 Baixo Baixo Baixo Moderado
Okuizumi et al/2020 Baixo Moderado Moderado Baixo
Øverby et al/ 2020 Baixo Baixo Baixo Baixo
Podlesak et al/2017 Baixo Baixo Baixo Baixo
Powell et al/2017 Alto Moderado Baixo Baixo
Sandvik et al/2018 Baixo Baixo Baixo Moderado
Searle et al/2020 Baixo Baixo Baixo Moderado
Smith et al/2017 Baixo Moderado Alto Alto
Tharner et al/2014 Baixo Baixo Baixo Baixo
Xue et al/2015 Baixo Baixo Baixo Baixo
Zohar et al/2020 Moderado Moderado Baixo Moderado

Fonte: Adaptado de BRASIL, 2014.


23

Quadro 2 - Porcentagem de risco de viés em estudos observacionais

Tipos de viés Risco baixo Risco moderado Risco alto

Viés de inclusão de
82% 9% 9%
participantes

Viés de cegamento 78% 22% 0

Viés de fatores de
87% 9% 4%
confusão

Viés de seguimento
52% 30% 18%
incompleto

Fonte: Adaptado de BRASIL (2014)

Figura 2 - Porcentagem de risco de viés em estudos observacionais

Fonte: Adaptado de BRASIL (2014)

Em relação aos estudos de intervenção, um estudo de foi classificado com


nível moderado de evidência por ter risco moderado de viés de seguimento
incompleto e um estudo foi classificado com nível de evidência baixo por ter risco de
viés alto de sigilo de alocação.
24

Quadro 3 - Risco de viés em estudos de intervenção

Viés de Viés de relato


Viés de sigilo Viés de
Autor/ano seguimento seletivo de Outro viés
de alocação cegamento
incompleto desfechos

Garcia et al/
Alto Não se aplica Baixo Baixo Moderado
2020
Katzow et
Baixo Não se aplica Moderado Baixo Baixo
al/2019

Fonte: Adaptado de BRASIL (2014)

Quadro 4 - Porcentagem de risco de viés de estudos de intervenção

Risco
Tipos de viés Risco baixo Risco alto
moderado

Viés de sigilo
50% 0 50%
de alocação

Viés de
seguimento 50% 50% 0
incompleto

Viés de relato
seletivo de 100% 0 0
desfechos

Outros viés 50% 50% 0

Fonte: Adaptado de BRASIL (2014)

O número de artigos encontrados foi 363 dos quais 25 foram selecionados


para fazer parte da revisão. Em relação ao continente, 40% (n=10) dos estudos
foram realizados na Europa. Houve 4 estudos na Ásia, 3 na Oceania e 1 estudo foi
realizado no Brasil. Sete estudos foram realizados nos Estados Unidos. Quase
metade dos trabalhos (n=12) foi publicada entre os anos 2018 e 2020.
Em relação à população investigada, as amostras eram constituídas por
crianças de ambos os sexos, provenientes de instituições de ensino (de escolas
primárias e creches n=7), de participantes de programas de assistência social (n=4),
de serviços de saúde (clínicas de imunização, de atenção primária comunitária, de
hospital comunitário), além de usuários de redes sociais. Em 7 estudos a amostra
25

analisada foi de crianças provenientes de famílias de baixa renda, os demais


estudos (n=18) foram de níveis socioeconômicos diversificados.
Em 6 estudos os pais apresentavam maior nível de escolaridade (médio
completo e superior), a maior parte deles se autodeclararam brancos e com situação
cível de casados.
A população que participou dos estudos foi formada de díades
cuidadores/criança, sendo majoritariamente mães, devido a serem estudos
realizados com crianças e por necessidade de os questionários utilizados serem
preenchidos por cada responsável. Em 14 estudos, além das crianças também
foram avaliadas características dos pais.
Em relação a variações do número de participantes por estudo, o estudo
observacional com o menor número foi o de Powell et al (2017) com 75 mães de
crianças de 2 a 4 anos e o com maior número foi o realizado por Tharner et al (2014)
que foi realizado com 4914 mães de crianças de 1 a 4 anos.
Quanto ao delineamento metodológico, a maioria dos estudos foi do tipo
observacional (n=23).
Nas investigações, foram utilizados questionários que permitissem
caracterizar o perfil social e econômico das famílias combinados com aqueles para
avaliar a alimentação das crianças, como os questionários de frequência alimentar, o
recordatório de 24 horas, o questionário de neofobia alimentar, o CEBQ, o
questionário de preferência alimentar e o questionário de práticas e atitudes
parentais relacionadas ao comportamento alimentar. O instrumento de avaliação da
seletividade alimentar predominante nos estudos foi o CEBQ (n= 16), representando
64% dos estudos.
No que diz respeito às características das crianças, alguns estudos
buscaram associar a SA à hiperatividade; ansiedade; genética; estado nutricional,
tempo de aleitamento materno; número de refeições por dia e distração na hora das
refeições.
Das características dos pais foram considerados o humor deprimido e
estresse dos pais; paternidade permissiva; ansiedade das mães durante a gravidez
e no período pré-escolar; estilos parentais autoritários; recompensa por
comportamento das crianças; alimentação persuasiva das crianças. Já em relação
às características ambientais, a insegurança alimentar e o meio ambiente.
26

Potenciais efeitos de aspectos psicológicos e emocionais dos pais sobre a


seletividade alimentar das crianças foram investigados em alguns estudos.
No estudo de De Barse (2016), envolvendo 4746 crianças, foi observado um
efeito pequeno da ansiedade das mães, apresentada durante a gestação, sobre a
seletividade alimentar de seus filhos (1,02 - IC 95% 0,59 a 1,46). Foi observado que
a ansiedade das mães influencia significativamente a alimentação de seus filhos.
Já mães com sintomas depressivos elevados exerceram maior pressão para
os filhos comerem (β = 0,29, p = 0,027) e a seletividade alimentar nos filhos foi maior
(β = 0,16, p = 0,017) (Golding et al., 2014).
O estudo de Katzow et al. (2019) também envolveu mães com sintomas
depressivos e teve como objetivos identificar se a percepção materna sobre
seletividade alimentar nas crianças era afetada por sentimentos negativos e
sintomas depressivos maternos e se a intervenção era capaz de predizer a
percepção materna sobre seletividade alimentar. Fez-se uma intervenção com
díades de mães e filhos na idade pré-escolar, de baixa renda, por meio de vídeos
interativos. Identificou-se que os sintomas depressivos maternos tiveram efeitos nas
percepções maternas negativas (β:0,32, p< 0,001) e na percepção de alimentação
exigente (β:0,21, p< 0,01). Quando a intervenção foi utilizada como preditora,
observou-se efeito na percepção de alimentação exigente (β:0,16, p< 0,02), que foi
parcialmente mediada por sintomas depressivos maternos e por percepções
negativas (efeito indireto: β :0,05 ,p< 0,02).
Berge et al. (2020) analisaram a relação da seletividade alimentar na
infância com a situação de segurança e insegurança alimentar (IA) na família e com
humor depressivo nos pais. Foi visto que entre crianças vivendo em segurança
alimentar, houve um aumento nos episódios de seletividade alimentar (62%, p=
0,029) durante a refeição noturna no mesmo dia em que os pais tiveram
comportamento estressado. A presença de humor deprimido dos pais também
elevou em 103% a recusa alimentar durante a refeição noturna (p= 0,005). Já as
crianças em IA não apresentaram aumento de recusa para a comida quando seus
pais relataram níveis mais elevados de estresse (23%/ p=0,344) ou humor deprimido
no início do dia (31%/p= 0,273). Quando não relacionado a estresse/humor
deprimido dos pais, a SA pelas crianças é significantemente maior em crianças em
IA (p= 0,013 em pais sem estresse pela manhã e p= 0,006 em pais sem humor
depressivo pela manhã).
27

Dois estudos investigaram a seletividade alimentar com aspectos


nutricionais das crianças. Em um deles (Blissett et al., 2011), foi observado menor
nível sérico de zinco e ferro e maior nível de cobre sérico em crianças seletivas. O
estudo de Brown et al (2018) encontrou maior pontuação de seletividade alimentar
entre as crianças que atingiram as recomendações de ferro segundo as DRIs.
Em dois estudos, crianças que tiveram distrações durante a refeição (TV,
brinquedo, internet, rádio) foram associadas a maiores recusas alimentares.
28

Quadro 5 - Síntese dos estudos que avaliaram a Seletividade Alimentar em crianças de 1 a 10 anos .

Objetivo do
Método de avaliação
Autor/ano Amostra/Local estudo/delineamento Resultados dos Fatores Relacionados a SA
da AS
metodológico

150 crianças de 5 a Em casas com famílias em SAN um aumento do estresse dos pais
7 anos e seus pela manhã foi associado a um aumento em 62% dos episódios
principais Avaliar a associação entre estresse de SA na refeição da noite do mesmo dia (p= 0,029). Em famílias
responsáveis de 6 parental e humor deprimido dos com SAN, o aumento de uma unidade de humor deprimido dos
grupos étnicos pais, práticas parentais pais resultou em um risco 103% maior de as crianças terem SA na
moradoras de relacionadas a comida e refeição da mesma noite (p= 0,005). Crianças em IA não tinham
Berge et al,
Minneapolis/ St. comportamento alimentar infantil Recordatório dietético maiores chances de recusar comida quando seus pais relataram
2020
Paul, Minnesota, dentro do contexto de segurança níveis mais elevados de estresse (23%/ p=0,344) ou humor
EUA. Os alimentar (SAN) e insegurança deprimido no início do dia (31%/p= 0,273). Quando não
participantes foram alimentar (IA). relacionado a estresse/humor deprimido dos pais,a SA pelas
recrutados de Estudo Observacional crianças é significantemente maior em crianças em IA (p= 0,013
clínicas de atenção em pais sem estresse pela manhã e p= 0,006 em pais sem humor
primária. depressivo pela manhã).

77 mães e crianças
de 3 a 8 anos de
escolas primárias e Avaliar a relação entre alimentação Paternidade permissiva foi associada a maior seletividade
creches privadas e problemas de comportamento alimentar (0,34/ p <0,01). Sintomas de transtorno de conduta
Blissett et al, Children Eating Behaviour
para crianças filhas das crianças com o estilo e práticas foram associados significativamente com maior seletividade
2011 Questionnaire
de pais que dos pais. alimentar (0,35/p<0,01). Hiperatividade foi significativamente
trabalham, em Estudo Observacional associado à maior seletividade alimentar (0,42/p< 0,001)
Midland, Reino
Unido
29

506 crianças de 3 a
Identificar os preditores de
4 anos de baixa
seletividade alimentar e avaliar a
renda que
associação da seletividade Subescala de 6 itens do A pontuação média da subescala de seletividade alimentar foi
Brown et al, participavam do
alimentar com o Z-score do IMC, Children Eating Behaviour maior entre as crianças que atingiam a recomendação de ferro
2018 Head Start, das
qualidade da dieta e ingestão de Questionnaire segundo as DRIs s (2.89 vs 2.68; P= 0,01)
áreas rurais e
micronutrientes.
urbanas de
Estudo Observacional
Michigan, EUA.

Os resultados mostraram que o nível sérico de zinco de crianças


com comportamentos alimentares exigentes foi significativamente
menor do que o das crianças sem comportamentos alimentares
Investigar a relação entre
exigentes (73,35 ± 11,97 vs. 76,67 ± 8,10 μg / dL, p= 0,004). em
203 crianças e elementos traços (ferro, zinco e
Subescala de 6 itens do comparação com os comedores não exigentes, os comedores
Chao et al, seus responsáveis cobre) com seletividade alimentar,
Children Eating Behaviour exigentes também têm níveis mais baixos de ferro sérico (81,53 ±
2021 de 4 a 7 anos de nível de desenvolvimento e nível
Questionnaire 32,42 μg / dL) e níveis mais elevados de cobre sérico (115,74 ±
Taiwan. de atividade física
23,45 μg / dL). Crianças com seletividade alimentar (picky eating)
Estudo Observacional
têm uma prevalência significativamente maior de deficiência de
zinco do que crianças sem comportamentos alimentares exigentes
(43,1% vs. 25,8%, p= 0,026)

Assistir televisão durante as refeições foi associado a maiores


Identificar a associação entre chances de recusas alimentares (OR: 2,61; IC 95%: 1,11-6,13).
fatores do ambiente de Pais que permitiam que a criança controlasse a alimentação eram
497 díades de alimentação em casa (um ambiente mais propensos a perceber que seu filho possuía SA em termos
crianças de 2 a 5 que se sobrepõe aos sinais de Duas subescalas do de variedade limitada de alimentos (OR: 2,32; IC 95%: 1,29-4,20)
anos e seus pais fome e saciedade da criança, Oregon Research e recusa em comer alimentos específicos (OR:3,09; IC de 95%:
Cole et al,
de 30 creches carece de reciprocidade entre os Institute Child Eating 1,74-5,48).Proporcionar um ambiente de alimentação saudável foi
2018
licenciadas no pais e criança, e não estabelece Behavior Inventory (ORI- associado a menores chances de variedade limitada (OR: 0,51; IC
centro-oeste de alimentação no mesmo local) e CEBI) 95%: 0,32-0,80) e recusas de alimentos (OR: 0,58; IC 95%: 0,38-
Illinois, EUA. comportamento alimentar exigente 0,88). Os pais que usavam comida para regular as emoções de
em crianças em idade pré-escolar. seus filhos eram mais propensos a perceber seu filho com SA e
Estudo Observacional para variedade limitada (OR: 1,62; IC 95%: 1,07-2,45) e recusa ao
comer alimentos específicos (OR: 1,94; IC 95%: 1,30-2,87).
30

Por ponto de escala de ansiedade na gravidez, as crianças


tiveram um escore de soma de seletividade alimentar 1,02 maior
(IC 95% 0,59 a 1,46). A ansiedade das mães durante a gravidez
(B = 0,81, IC 95% 0,33 a 1,29) e durante o período pré-escolar (B
= 0,54, IC 95% 0,05 a 1,03) foram ambos independentemente
Avaliar a associação da ansiedade
4746 crianças e relacionados à alimentação exigente da criança.Não apenas as
De Barse et dos pais e a seletividade alimentar Children Eating Behaviour
seus pais da Nova crianças de mães com ansiedade clinicamente significativa tinham
al, 2016 em crianças Questionnaire
Zelândia pontuações elevadas de SA (por exemplo, modelo pré-natal: B =
Estudo Observacional
1,06, IC 95% 0,46 a 1,67), mas filhos de mães com escores de
ansiedade acima da média também tiveram maior SA do que
crianças de mães com pontuação média ou abaixo da média de
ansiedade ( B = 0,72, IC 95% 0,21-1,22).Sendo B(0,80 ou maior)
são escores indicativos de depressão.

Avaliar a relação entre seletividade


alimentar e ansiedade infantil e
Relatos de crianças sobre alimentação seletiva foram
sensibilidade sensorial infantil,
Pais de 95 crianças significativamente correlacionados com maior ansiedade (0.219 / p
Farrow e segundo relatos dos pais. Avaliar Subescala de 6 itens do
de 5 a 10 anos de < 0.05). A ansiedade prevê significativamente a alimentação
Coulthard, se a sensibilidade sensorial da Children Eating Behaviour
Leicestershire, seletiva (R² = 0,048, F (1,90) = 4,52,p <0,05. A sensibilidade
2012 criança media a relação entre Questionnaire
Reino Unido sensorial infantil previu significativamente a alimentação seletiva
ansiedade e alimentação seletiva
(R² = 0,05, F (1,93) = 4,97, p <0,05).
em crianças
Estudo Observacional

3 trajetórias de seletividade alimentar (SA) foram identificadas: SA


Analisar a trajetória de crianças persistentemente baixas (n = 92; 29%; média em pontos de tempo
com seletividade alimentar de = 1,97 [SD 0,53]), SA persistente( n = 181; 57%; média em pontos
317 díades de
baixa renda e associar com de tempo = 2,87 [SD 0,55]), e SA persistentemente alto(n = 44;
crianças de 4 a 9 Subescala de 6 itens do
Fernandez et características dos participantes, 14%; média em pontos de tempo = 3,86 [SD 0,59]). A trajetória de
anos e seus pais, Children Eating Behaviour
al, 2020 como IMC da criança e SA persistentemente baixa foi associada com sexo feminino,
de baixa renda de Questionnaire
comportamento alimentar das superior regulação emocional, e habilidade emocional inferior em
Michigan, EUA
mães das crianças. comparação com a SA persistente e alta. Sexo infantil (P = 0,003),
Estudo Observacional regulação emocional (P < 0,001), e habilidade emocional (P <
0,002) foram associado à trajetória de SA em geral.
31

A pontuação de seletividade alimentar no grupo de intervenção


Díades pai e filho diminuiu significativamente de 3,0 para 2,6 (p <0,01) entre o
(3–5 anos) Reduzir a seletividade alimentar
divididos em: por meio da promoção da período da intervenção, enquanto não houve mudança no grupo
alimentação saudável, estimular
Garcia et al,
Grupo controle - 57 Subescala de 6 itens do de comparação (3,1 (semana 1) e 3,0(semana 4)). As pontuações
díades. Grupo habilidades culinárias e a vontade Children Eating Behaviour
2020
intervenção: 64 de experimentar vegetais verdes Questionnaire permaneceram estatisticamente significativas para o grupo de
Estudo quase experimental.
díades. North intervenção na análise de dados imputados (z = −2,5433, p =
Lanarkshire, Reino
Unido. 0,011), embora não seja significativa as diferenças observadas

no grupo de comparação (z = −0,69664, p = 0,486).

Examinar associações entre


295 pares de sintomas depressivos maternos e Mães com sintomas depressivos elevados relataram mais
crianças de 2 a 4 práticas de alimentação das pressão para criança comer (β = 0,29, p = 0,027) e maior
anos e cuidadores crianças e testar a hipótese de que Children Feeding seletividade alimentar (β = 0,16, p = 0,017). Mães com sintomas
Goulding et de baixa renda mães com sintomas depressivos Questionnaire (CFQ) e depressivos elevados têm aproximadamente 3 vezes mais
al, 2014 (participantes do elevados exibem práticas de Children Feeding Style chances de apresentar menor autoridade na alimentação da
Head Start alimentação menos responsiva do Questionnaire (CFSQ). criança(OR:2,82, p<0,001), e eram menos propensas a comer
Program). que mães com níveis mais baixos com os filhos (OR: 0,48; IC 95%: 0,27, 0,85).
Michigan, EUA. de sintomas de depressão.
Estudo Observacional

Uma pontuação mais alta na subescala de seletividade alimentar


foi associada a um menor número de refeições por dia em toda a
Investigar se a frequência alimentar
406 crianças de 16 população do estudo e nas meninas (β = -0,230, p = 0,001), mas
e o consumo de alimentos são
Jalkanen et escolas primárias Children Eating Behaviour não em meninos (p = 0,033 por interação). Uma pontuação mais
influenciada pelo comportamento
al, 2017 da cidade de Questionnaire alta em seletividade alimentar foi associada a um menor consumo
alimentar
Kuopio, Finlândia de vegetais em toda a população do estudo, nas meninas (β = -
Estudo Observacional
0,268, p <0,001) e nos meninos (β = -0,183, 264 p = 0,008) (p =
0,425 por interação).
32

A alimentação seletiva de crianças em idade pré-escolar previu


4845 de pais,de Identificar a relação entre
níveis mais elevados da pressão dos pais para comer na idade da
Jansen et al, crianças de 1 a 6 alimentação seletiva e pressão dos Children Eating Behaviour
criança de 4 anos( IC de 95%: 0,21, 0,27). A pressão para comer
2017 anos de Rotterdam, pais para comer durante a infância Questionnaire
aos 4 anos também previu maior seletividade em crianças aos 6
cidade da Holanda Estudo Observacional
anos( IC 95%: 0,11, 0,17)

Identificar se os sintomas
depressivos maternos previram a
percepção de alimentação seletiva
mediada por percepções negativas Os sintomas depressivos maternos tiveram efeitos totais
187 díades de mãe maternas; significativos nas percepções maternas negativas (β 0,32, p
e filho de 1 a 4 Reduzir a percepção materna Questionário de
<0,001) e na percepção de alimentação seletiva (β 0,21, p <0,01).
Katzow et al, anos, de baixa sobre seletividade alimentar. e se o frequência alimentar e
Quando usado no modelo como o preditor, o VIP teve um efeito
2019 renda, a maioria recebimento da intervenção questionário de saúde do
total significativo na percepção de seletividade (β 20,16, p<0,02),
imigrantes de Nova parental do Video Interaction paciente(mães)
que foi parcialmente mediado por sintomas depressivos maternos
Iorque-EUA Project (VIP) impactou a percepção e percepções negativa (efeito indireto: β 20,05, p<0,02)
de seletividade .
Estudo experimental.

Questionários
socioeconômico, escala A prática materna de alimentação sob pressão resultou em níveis
Identificar a relação entre práticas
195 de mães de de Neofobia Alimentar mais elevados de seletividade alimentar (β = 0,17 [IC 95%: 0,03 a
de alimentação materna com
crianças de 1 a 7 (FNS) ,Children Eating 0,31]).A prática materna de proporcionar um ambiente doméstico
Kutbi, 2020 comportamentos de crianças
anos da Arábia
seletivas
Behaviour Questionnaire de alimentação saudável previu níveis mais baixos de SA (β =
Saudita e Questionário de
Estudo Observacional
Práticas Alimentares −0,28 [IC 95% = −0,46 a −0,09]).
Abrangentes (CFPQ)
33

A SA mais alta em 3,7 anos previu uma alimentação mais


207 de mães, de Questionário persuasiva aos 5 anos (p25 0,026). A restrição e SA não foram
crianças de 2,3 e 5 Identificar a relação entre práticas socioeconômico, significativamente correlacionada em 2, 3,7 ou 5 anos.Uma maior
Mallan et al, anos das cidades de alimentação materna com questionário de práticas configuração de refeição estruturada em 2 e 3,7 anos foi
2018 Adelaide e seletividade alimentar na criança alimentares e estrutura e significativamente associado a menos SA
Brisbane- na Estudo Observacional Children Eating Behaviour em 3,7 (p25 0,020) e 5 anos (p25 0,040). A recompensa para
Austrália Questionnaire comportamento aos 3,7 anos foi positivamente associado com SA
em 5 anos (p25 0,035).

O diagnóstico de apetite limitado apresentaram média de idade


166 de mães de mais baixa (31,83±25,04 meses) quando comparada à média de
Identificar fatores associados aos
lactentes, pré idade dos pacientes com seletividade alimentar (52,92±32,59
Okuizumi et diferentes tipos de dificuldades Children Eating Behaviour
escolares e meses). O aparecimento da queixa foi menor nos casos de apetite
al, 2020 alimentares em crianças Questionnaire
escolares de São limitado (10,09±11,51 meses), quando comparada à idade média
Estudo Observacional
Paulo,Brasil de surgimento dos casos de seletividade alimentar (15,75±11,8
meses).

O aleitamento materno se mostrou associado com a neofobia


246 crianças de 10
alimentar. A pontuação obtida pelas crianças no Escore de NA foi:
a 24 meses
Avaliar a associação entre a
recrutadas em Amamentação prolongada ( ≥12 meses): 15,3 (7,9) pontos.
Øverby et al, duração da amamentação e a Versão de 6 itens da
jardins de infância
2020 neofobia alimentar em crianças. CFNS Crianças com menor tempo menor de amamentação: (n=159):
públicos e privados
Estudo Observacional 13,7 (6,7) pontos (P=0,049). Amamentação exclusiva (5 meses ou
de 4 condados da
mais): 15,9 pontos (7,5). Crianças sem amamentação exclusiva:
Noruega
13,7 (7,0) pontos (P=0,039).
34

Ambos estilos PA e PP foram positivamente correlacionados com


os pais percebendo seus filhos como SA[r = 0,10 (P, 0,05) er =
0,29 c(P, 0,001), respectivamente] .Os PA e PP eram negativos
Avaliar a associação entre estilo correlacionado com os comportamentos SA de experimentar
parental e comportamentos novos alimentos [r = 20,10 (P, 0,05) er = 20,22 (P, 0,001),
525 de pais de
percebidos da criança durante as Questionário de Estilos e respectivamente] e comer alimentos considerados “saudáveis” [r =
Podlesak et crianças de 2 a 5
refeições, especificamente Dimensões Parentais e 20,20 (P, 0,001) e r = 20,26 (P, 0,001), respectivamente].Os PP
al, 2017 anos de Michigan-
relacionados à seletividade CEBQ também foi positivamente correlacionado com mostrar
EUA
alimentar desaprovação (r = 0,14, P, 0,01), como bem como oferecer
Estudo Observacional recompensas alimentares ou não alimentares [r = 0,18 (P, 0,001)
e r = 0,25 (P, 0,001), respectivamente] e fazendo uma refeição
diferente para a criança se ela não gostou do que foi servido (r =
0,27, P, 0,001).

As crianças cujas mães comeram a mesma comida que eles,


recusaram menos alimentos (U = 280,50, z = 3,98).Crianças cujas
mães comiam com eles recusaram menos alimentos durante a
refeição (U = 280,50, z = 3,93, P <0,001) em comparação com as
Avaliar a associação entre a mães que não comeram.Crianças a quem foi permitido contribuir
75 de mães de estrutura na hora da refeição, no na escolha dos alimentos e / ou o tamanho da porção recusou
Powell et al,
crianças de 2 a 4 ambiente familiar, e a seletividade CEBQ menos alimentos durante a refeição (U = 321,00, z = 3,61, P
2017
anos de UK alimentar das crianças <0,001), tornou menos negativo comentários sobre comida (U =
Estudo Observacional 326,00, z = 4,02, P <0,001),Crianças que teve uma distração
durante a refeição (por exemplo, TV, brinquedos) recusou mais
alimentos (U = 140,00,z = 2,79, P = 0,005) e fizeram mais
comentários negativos sobre a comida (U = 160,00, z = 2,79,P =
0,005) do que aqueles que não estavam distraídos.

O valor total médio da escala de SA foi de 2,84 (IC 95%: 2,80–


Investigar a prevalência de Questionário de
1272 de pais de 2,88). A pontuação média de SA foi significativamente menor
seletividade alimentar em crianças alimentação infantil (CFQ)
Sandvik et al, crianças de 1 a 6 entre crianças com obesidade (média de 2,59, IC 95% 2,47–2,71)
pré escolares e avaliar sua relação e a Lista de Verificação
2018 anos em em comparação com crianças com magreza (2,88, IC 95% 2,77–
com o estado nutricional de Comportamento de
Estocolmo,Suécia 3,00), peso normal (2,86, IC 95% 2,81-2,92) e excesso de
Estudo Observacional Estilo de Vida (LBC)
peso(2,91, IC 95% 2,77–3,06).
35

205 pares de pais e


mães de crianças Explorar se as associações entre o
de 2 a 5 anos temperamento infantil e práticas
residentes em alimentares relacionadas à Em análise bivariada, a percepção de mães e pais sobre
Queensland, uma estrutura dos pais das crianças
temperamento das crianças foi negativamente associada com
cidade em (ambiente de refeição estruturado,
Searle et al, Versão de 6 itens da
desvantagem horário de refeição estruturado, seletividade alimentar (−0.21) (p<0,01), indicando que crianças
2020 CFNS
socioeconômica da ambiente de refeição em família)
com temperamento mais fácil são menos percebidas como
Austrália. Pais pode ser explicado pelas
foram recrutados percepções dos pais sobre a crianças seletivas pelos seus pais.
em uma clínica de seletividade alimentar da criança.
imunização em um Estudo Observacional
dia de evento.

Os ICCs para MZ gêmeos eram altos e significativos para ambos


SA (0,91; 95%CI: 0,90-0,93) e NF (0,81; IC 95%: 0,78-0,84). O
ICCs para os DZ também foram significativos e menor do que
aqueles para os MZs, porque os ICs de 95% das estimativas não
Quantificar a contribuição relativa
1921 de mães de se sobrepõem aos de os MZs para qualquer característica (SA:
da genética e do meio ambiente CFQ e Lista de
gêmeos de 16 0,68; IC 95%: 0,65–0,71;NF: 0,51; IC de 95%: 0,47–0,55).O efeito
Smith et al, nas variações de neofobia Verificação de
meses,da do ambiente compartilhado foi significativamente menor para NF
2017 alimentar e seletividade alimentar Comportamento de Estilo
Inglaterra e do País (0,22; IC 95%: 0,14-0,30) do que para SA (0,46; IC 95%: 0,40–
na primeira infância de Vida (LBC)
de Gales 0,51).Fatores genéticos aditivos comuns explicaram
Estudo Observacional
aproximadamente metade da associação fenotípica entre SA e
NF (bivariada A: 0,53; IC95%: 0,46–0,62). aproximadamente
metade da associação fenotípica entre SA e NF (bivariada A:
0,53; IC 95%: 0,46–0,62).
36

O peso ao nascer foi menor em seletivos do que em não seletivos


(diferença média = 72 g, p <0,01). Mães de seletivos usaram
menos monitoramento do comportamento alimentar de seus filhos
(diferença média =0,26 DP, p <0,01), mas mais pressão para
Identificar um perfil de
comer do que as mães de comedores não seletivos (diferença
4914 mães de comportamento alimentar que
média = 0,81 DP, p <0,01). Crianças identificadas como
Tharner et al, crianças de 1 a 4 reflete a alimentação em crianças e
CEBQ comedoras seletivas quando tinham quatro anos de idade,
2014 anos que vivem em descrever características de
comiam menos produtos de grãos inteiros (média diferença = 0,28
Rotterdam,Holanda comedores seletivos
DP, p <0,01), menos vegetais (diferença média = 0,20 DP, p
Estudo Observacional
<0,05), menos peixe / frutos do mar (diferença média = 0,16 DP, p
<0,05) e menos carne (diferença média = 0,22 DP, p <0,05) aos
14 meses de idade do que as crianças mais tarde identificados
como não seletivas.

A alimentação seletiva foi associada a uma diferença de 0,42 kg


(menor) no peso (IC 95%: -0,72, -0,12; p = 0,006) e 0,14 unidade
menor no escore z de peso para a idade (IC 95%: -0,25 , -0,02; p
= 0,017), respectivamente, em comparação com uma alimentação
não exigente.Os escores z de altura para idade, peso para idade e
Registro de ingestão IMC para idade diminuíram com um aumento na duração do
927 de pais de Avaliar a associação entre
alimentar de 24 horas e comportamento alimentar seletivo. A alimentação seletiva com
crianças de 3 a 7 seletividade alimentar e
Xue et al, questionário de duração de 2–3 anos e mais de três anos foi associada a 0,22 (IC
anos de Beijing, crescimento e desenvolvimento de
2015 frequência alimentar. Z- 95%: -0,39, -0,05; p = 0,011) e 0,25 (IC 95%: -0,43, -0,06; p =
Guangzhou, pré escolares
score e testes de 0,008) scores z menor em peso para a idade, respectivamente.
Chengdu-China Estudo Observacional
inteligência Ser um comedor seletivo por mais de três anos foi associado a um
escore z de 0,10 (IC 95%: -0,45, -0,06; p = 0,012) menor no IMC
para a idade.Em comparação com o grupo de alimentação não
seletivas, a ingestão de proteína e fibra alimentar foi menor no
grupo de alimentação seletiva de acordo com o linear bruto e
ajustado análises de regressão (p <0,05)
37

No T1, 109 crianças foram definidas como seletivas e 106


crianças foram definidas como não seletivas. Em T2, 65,1% dos
Estimar a taxa de seletividade participantes definidos como seletivos em T1 continuaram
109 mães de filhos alimentar persistente em crianças seletivos, e 66,9% das não seletivas permaneceram não seletivas
com seletividade ao longo do tempo entre crianças em T2, a medida de associação foi X² = 22,1, p < 0,0001. Em T3,
Zohar et al, seletivas e não seletivas em 3
alimentar e106 sem CEBQ 67% dos seletivos em T2 ainda eram seletivos e 63% dos não
2020 momentos diferentes e caracterizar
seletividade,de 3 a crianças com seletividade alimentar seletivos em T3 permaneceram sem SA, a medida de associação
8 anos de Israel e suas mães foi X² = 18,0, p <0,0001. Considerando que o número de crianças
Estudo observacional prospectivo definidas com SA diminuiu de T1 para T2 e de T2 para T3, o nível
de SA em T1 foi significativamente maior do que aqueles de T1
que não era SA em T2 e T3.

Legenda: IC – Intervalo de confiança, ICC - Correlação Intraclasse, FNS – Escala de Neofobia Alimentar MZ - Monozigótico, DZ - Dizigótico, IA - Insegurança
Alimentar, SA - Seletividade Alimentar, T(1,2,3) - Tempo (1,2,3), DP - Desvio Padrão, NF - Neofobia Alimentar, SAN - Segurança Alimentar e Nutricional, PA-
pais autoritários, PP-pais permissivos, CEBQ – Questionário de Comportamento Alimentar.
38

7 DISCUSSÃO

O comportamento alimentar é complexo, sendo influenciado por diversos


aspectos de natureza social, cultural, econômica, afetiva, biológica (SILVA, 2017). O
comportamento alimentar de crianças tem sido motivo de interesse na literatura
científica.
O hábito alimentar é construído durante toda a infância, influenciado entre
outros, pela família, pelas relações sociais de amizade e propagandas através da
mídia. O hábito alimentar de crianças seletivas, devido à restrição ou monotonia,
pode contribuir para o aparecimento de carências nutricionais, atraso no
desenvolvimento e até desenvolvimento de obesidade e fatores de risco para
doenças crônicas que perduram até a idade adulta (THOMPSON, 2013).
Essa revisão sistemática reuniu estudos sobre seletividade alimentar em
crianças, com objetivo de explorar seus aspectos associados, assim como as
intervenções e seus impactos.
Okuizumi et al. (2020) em estudo realizado com objetivo de identificar a
prevalência de dificuldades alimentares em crianças de 0 a 10 anos atendidas em
um centro de referência de dificuldades alimentares em São Paulo, obtiveram como
resultado que a média de idade de diagnóstico de seletividade alimentar foi de
52,92±32,59 meses e o início de aparecimento de queixas de seletividade alimentar
foi de 15,75±11,8 meses.
Zohar et al. (2020) analisaram a persistência de seletividade alimentar em
três tempos diferentes (T1, T2 e T3) de 2 em 2 anos em um grupo de crianças
seletivas e em grupo de crianças não seletivas, respectivamente 109 e 106 crianças
(T1). Em T2, 65,1% dos participantes definidos como seletivos em T1 continuaram
seletivos, e 66,9% das não seletivas permaneceram não seletivas (p< 0,0001), já em
T3, 67% dos seletivos em T2 ainda eram seletivos e 63% dos não seletivos em T3
permaneceram sem SA (p< 0,0001). As limitações do estudo seguindo os autores foi
o tamanho restrito da amostra em T2 e T3, além de em cada momento ser realizado
medidas de SA diferentes.
Øverby et al. (2020) avaliaram a duração da amamentação e a neofobia
alimentar em crianças e obteve-se como resultado que a pontuação de neofobia
alimentar foi maior em crianças com maior tempo de amamentação (p=0, 234).
Nesse estudo, é possível que as crianças amamentadas por 5 meses ou mais
39

tenham sido expostas a uma menor variedade de alimentos em idade precoce na


alimentação complementar, portanto pode ter interferido na aceitação de novos
alimentos posteriormente.
Smith et al (2016), em estudo feito com gêmeos (monozigóticos e
dizigóticos) e seus familiares, que tinha como objetivo quantificar a influência da
genética e do meio ambiente na NA e SA na primeira infância, obtiveram resultado
que a SA e NA foram fortemente correlacionados (r = 0,72, p <0,001). O ambiente
compartilhado desempenhou um papel significativamente mais importante na
formação da SA (0,46; 95% IC: 0,40-0,51) do que NA (0,22; IC 95%: 0,14-0,30).No
entanto, as influências genéticas não foram significativamente maiores para NA
(0,58; IC 95%: 0,50-0,67) do que para SA (0,46; IC 95%: 0,41–0,52). Os dois
fenótipos eram altamente correlacionados (0,72). Segundo os autores,ocorre a
influência genética sobre a SA e NA na primeira infância, mas existe uma limitação
já que os gêmeos tendem a ter maior propensão de terem mais dificuldade na
alimentação,além de baixo peso ao nascer e também nascem mais prematuros do
que outros bebês. Ambos os fenótipos demonstraram alguma influência ambiental
compartilhada,indicando assim a possibilidade de mudança na alimentação por meio
dos pais. Concluindo-se então, que a maior influência nos fenótipos é a influência
ambiental.
Em relação à intervenção, Garcia et al. (2020) avaliaram a eficácia de um
programa de aulas práticas de culinária visando à alimentação saudável de pais e
crianças de 3 a 5 anos. Foi observada uma redução na seletividade alimentar entre
as crianças que participaram da programação completa das aulas, cuja duração era
de 4 semanas (p< 0,01). Sendo assim, as crianças que antes da intervenção eram
classificadas com uma seletividade alimentar moderada, ao final da intervenção não
foram classificadas como seletivas. As múltiplas abordagens do programa podem
explicar a redução da seletividade alimentar nas crianças, como a repetição da
exposição ao mesmo alimento, além da possível familiarização com vegetais devido
a elementos de aprendizagem sensoriais que consequentemente resultaram na
diminuição da pontuação de seletividade alimentar. Ademais, por a seletividade
alimentar ser classificada através de um questionário preenchido pelos pais, ao final
das 4 semanas de intervenção pode-se ter alterado a percepção dos mesmos sobre
a seletividade alimentar dos seus filhos devido a estarem mais dispostos a aceitar
novos alimentos durante as 4 semanas do programa. Outra possível explicação para
40

o resultado positivo das 4 semanas de intervenção em comparação a 1 semana do


grupo controle é a maior interação entre as crianças, os pais e as nutricionistas,
levando a maior receptividade das crianças e também considera-se o viés de
desejabilidade social.
Katzow et al. (2019) verificaram se sintomas depressivos maternos previram
a percepção de alimentação seletiva mediada por percepções negativas maternas e
se a intervenção impactou a percepção de seletividade, sendo os participantes do
estudo mães diagnosticadas com depressão e seus filhos. A intervenção realizada
foi um projeto de vídeo interativo, que consistiu em as mães assistirem seus próprios
vídeos de interações com seus filhos gravados anteriormente acompanhadas de um
especialista em desenvolvimento infantil. Assim, estes especialistas faziam
observações positivas (por exemplo: a mãe respondendo às chamadas dos filhos). A
percepção materna da seletividade alimentar foi feita por uma subescala do
inventário de temperamento infantil do Colorado, que avaliava em uma série de 5
itens sobre a resposta ao alimento incluindo(1) raramente experimentou um novo
alimento; (2) a criança não gosta de muita variedade de alimentos; (3) a criança faz
birra com novos alimentos; (4) a criança não experimenta o alimento de novo se
achar que não gosta e (5)“a criança tem gosto forte e não gosta de comida”. Após
recolhimento dos dados, estes resultaram em uma pontuação, sendo então
classificada a seletividade. Associações entre sintomas depressivos e percepção de
seletividade bem como entre percepções negativas e depressivas eram semelhantes
em magnitude e significância, identificou-se que os sintomas depressivos maternos
tiveram efeitos totais significativos nas percepções maternas negativas (β:0,32, p<
0,001) e na percepção de seletividade (β:0,21,p< 0,01), já quando utilizado a
intervenção como o preditor, obteve-se um efeito total significativo na percepção de
alimentação exigente (β:0,16,p< 0,02), que foi parcialmente mediado por sintomas
depressivos maternos e percepções negativas (efeito indireto: β :0,05,p< 0,02).
Sintomas depressivos maternos foram associados a estilos de alimentação não
responsivos, incluindo pressão, controle e restrição, que podem exacerbar ainda
mais o comportamento de seletividade.
Em estudos relacionando aspectos psicológicos dos pais das crianças
observou-se que o humor deprimido dos pais influencia diretamente na recusa de
alimentos pelas crianças em segurança alimentar nas refeições (p=0,005) (BERGE
et al, 2020), além de ansiedade das mães, seja na gestação (IC = 95%) ou na fase
41

pré-escolar (IC=95%) de seus filhos (DE BARSE et al, 2016). Além disso, a
ansiedade infantil foi significativamente correlacionada com seletividade alimentar (p
< 0,05) (FARROW e COULTHARD, 2012).
Sete estudos avaliaram populações de baixa renda, sendo que em um deles
(Berge et al. ,2020) envolveu famílias em insegurança alimentar. Neste, se observou
maior seletividade alimentar em crianças que viviam em insegurança alimentar, mas
a presença de estresse e humor deprimido nos pais se mostrou relacionado à
seletividade alimentar somente nas crianças que vivem em ambiente sem
insegurança alimentar. Segundo resultado do estudo, pais de crianças que vivem em
insegurança alimentar são mais propensos a servir menos comida caseira e mais
alimentos pré-preparados na refeição da noite das crianças em dias que se sentem
estressados e com humor deprimido no início do dia. Estas crianças não alteraram o
estado de seletividade alimentar nestas situações, podendo estar associado a
crianças em insegurança alimentar vivenciarem outros fatores de estresse que
podem alterar as práticas alimentares, como por exemplo a escassez de comida,
levando os pais a restringir comida para garantir recursos durante todo o mês. Outra
possibilidade é a maior percepção dos pais de seletividade alimentar em crianças
que vivem em insegurança alimentar independente de fatores de estresse ou humor
deprimido dos pais.
Goulding et al. (2014) realizaram um estudo com crianças de 2 a 4 anos e
suas mães com objetivo de testar a hipótese de mães com sintomas depressivos
elevados têm práticas de alimentação menos responsiva com os seus filhos. Os
resultados obtidos foram a associação positiva entre maior pressão para seus filhos
comerem e elevados sintomas depressivos nas mães (β = 0,29, p = 0,027) e maior
seletividade alimentar (β = 0,16, p = 0,017) nas crianças. No momento das refeições
em casas de mães depressivas era mais propenso em ter a televisão ligada e
também estas mães eram menos propensas a realizar as refeições junto a seus
filhos, caracterizando estilos alimentares menos responsivos.
Jansen et al (2017) em estudo realizado com crianças de 1 e meio,3 e 6
anos e seus pais, analisaram a direcionalidade na relação entre SA e a pressão
exercida pelos pais para comer, em duas análises aos 4 e 6 anos,conseguiram como
resultado que níveis mais altos de SA na idade de 1 ano e meio foram associados a
mais pressão para comer aos 4 anos (β =0,18, IC 95%: 0,15-0,21). Associações
semelhantes, apesar de ligeiramente mais fortes foram encontradas para agitação
42

com 3 anos, prevendo níveis mais altos de alimentação por pressão aos 4 anos (β =
0,24, IC de 95%: 0,21, 0,27).As análises demonstraram que as maiores pressões
sobre a alimentação aos 4 anos de idade foram relacionados a maior SA aos 6
anos(β = 0,20, IC 95%: 0,17, 0,23). Embora tenha permanecido estatisticamente
significativo (β = 0,14, IC 95%: 0,11-0,17),a relação entre pressão e SA foram
parcialmente associadas às práticas alimentares e comportamento alimentar
seletivo. A relação pai e filho no que diz respeito à comida não parece unidirecional,
mas retrata relações complicadas de pais e filhos influenciando mutuamente uns aos
outros. Embora existam diversos estudos sobre pressão dos pais, poucos
examinaram os conceitos comportamentais como o SA e NA que não se limitam a
restrição de grupos de alimentos, mas a dificuldade com vários alimentos e a
alimentação no geral.
Blisset et al(2011) em estudo realizado com mães de crianças de 3 a 8
anos,que tinha como objetivo examinar a relação entre alimentação e problemas de
comportamento e também se poderia ser explicada pela prática dos pais. Obteve-se
como resultado que a pressão para comer está associada a menos prazer em comer
e mais lentidão ao se alimentar (p< 0.01), já a restrição está relacionada a
alimentação emocional e a hiperatividade aumentando o nível de SA (p < 0.01). Os
sintomas de transtorno de conduta foram associados a maior SA. As mães que
participaram dos estudos relataram que crianças com níveis elevados de problemas
de conduta, hiperatividade e dificuldade de comportamentos no geral eram mais
seletivas(p < 0.001). Este estudo demonstra certas limitações como o relato
comportamental das crianças pela mãe, e também não há uma avaliação quanto aos
aspectos mais amplos do temperamento infantil que seria de extrema importância
para validar os resultados obtidos.
Kutbi (2020) associou a bidirecional SA e NA e práticas de alimentação
materna, incluindo alimentação sob pressão, ensino, monitoramento e ambiente
alimentar doméstico saudável em crianças de 1 a 7 anos e obtiveram como resposta
que SA e NA estão fortemente correlacionadas ( p <0,001).Correlações positivas
foram observadas entre a estratégia de alimentação de pressão e ambos NA (p =
0,005) e SA (p = 0,010), enquanto uma correlação negativa foi observada entre um
ambiente alimentar doméstico saudável e SA (p = 0,006).Já o ensino,
monitoramento e ambiente alimentar doméstico saudável práticas foram
consideradas positivamente correlacionadas (p<0,001), mas nenhuma foi
43

correlacionada com a estratégia de "pressão para comer ”(p> 0,050). A preocupação


materna acerca da alimentação do filho,não comer uma quantidade suficiente de
alimentos ou ter uma restrição alimentar pode fazer com que aumentem o acesso
aos alimentos que os filhos gostam ,para compensar esse desequilíbrio na ingestão
alimentar. Apesar disso,essas atitudes podem encorajar as crianças a aderirem
hábitos não saudáveis que podem perdurar,aumentando o risco de obesidade e
comorbidades associadas .
Powell et al (2017) em estudo realizado com crianças de 2 a 4 anos e suas
mães avaliaram o impacto da estrutura da hora da refeição na seletividade alimentar
das crianças, e obtiveram como resultado que os filhos que realizavam as refeições
às suas mães recusaram menos alimentos (p < 0,001), além de crianças a
que foram permitido realizar uma contribuição na escolhas de alimentos e/ou
tamanho da porção também recusaram menos os alimentos (p < 0,001). Ademais,
crianças que tiveram alguma distração durante a refeição (TV, brinquedo, internet,
rádio) recusaram mais alimentos (p = 0,005) e fizeram mais comentários negativos
sobre a comida (p= 0,005). Não houve diferença significativa no comportamento
alimentar das crianças com a presença do pai ou irmãos durante as refeições, porém
pode ser devido ao pai estar presente em apenas 19 das 75 refeições analisadas.
Segundo os autores, mães de crianças seletivas podem sentir maior necessidade de
controle da alimentação das crianças, portanto não permitindo certa autonomia às
crianças nas decisões de escolhas de alimentos ou no tamanho das porções.
Porém, o resultado do artigo corrobora as recomendações dos doze passos para
uma alimentação saudável do Guia Alimentar para Crianças Brasileiras Menores de
Dois Anos (BRASIL, 2019), sobre a importância de a refeição ser realizada em
família e com a mesma refeição oferecida para adultos e crianças.
Podlesak et al. (2017) ao avaliarem pais permissivos e pais autoritários e
associar com os comportamentos percebidos das crianças durante as refeições
obtiveram como resultado que a paternidade permissiva (p=0,001) e a paternidade
autoritária (p=0,05) ambos os estilos de paternidade percebem seus filhos como
crianças seletivas, porém as informações obtidas dos pais foi a partir de auto relatos
e dependente de lembranças, o que pode não ser preciso.
Searle et al. (2020) obteve como resultado de estudo realizado com crianças
de 2 a 5 anos que as com temperamento mais fácil são menos percebidas pelos
seus pais como crianças seletivas. O resultado do estudo pode ser associado à
44

relação entre menor estrutura na hora das refeições e a percepção de temperamento


difícil entre os pais e que pode ser mediada pela percepção dos pais de seletividade
alimentar.
Cole et al. (2018) em estudo realizado com crianças pré escolares e seus
responsáveis,avaliaram se existia uma relação entre fatores do ambiente de
alimentação em casa com o comportamento de SA, e obtiveram como resultado que
assistir televisão durante as refeições foi associado a maiores chances de variedade
alimentar limitada (OR: 3,24; IC 95%: 1,29-8,17) e recusas alimentares (OR: 2,61; IC
95%: 1,11-6,13), pais que permitiam que a criança controlasse a alimentação eram
mais propensos a perceber que seu filho era seletivo em termos de variedade
alimentar limitada (OR: 2,32; IC 95%: 1,29-4,20) e recusa comer alimentos
específicos (OR:3,09; IC de 95%: 1,74-5,48). Proporcionar um ambiente de
alimentação saudável foi associado a menores chances de variedade limitada (OR:
0,51; IC 95%: 0,32-0,80) e recusas alimentares (OR: 0,58; IC 95%: 0,38-0,88). No
entanto, essas descobertas não eram mais significativas ao controlar outras medidas
do ambiente de alimentação em casa. Segundo os autores, apenas a presença de
televisão na hora das refeições das crianças é suficiente para as distraírem e
influenciar negativamente seu comportamento alimentar, e este efeito pode ser visto
ao longo do tempo. Eles relatam também que quando as crianças controlam o
horário das refeições é mais provável que se tornem exigentes, portanto as crianças
podem estar envolvidas na preparação dos alimentos, mas na decisão do que comer
e quando comer deve ser definido pelos pais. Então, desta forma permite que as
crianças tenham autonomia durante as refeições sem comprometer a estrutura e a
consistência.
Com a introdução alimentar as crianças expressam suas preferências e o
que não gostam, gerando muitas vezes uma alimentação restrita (RAMOS, 2020).
Portanto, deve ser ofertada uma dieta adequada e variada de alimentos. A
alimentação responsiva envolve o reconhecimento dos pais e cuidadores em relação
aos sinais de fome e saciedade da criança,procurando adaptar a rotina, preparo e
forma de apresentação dos alimentos (SILVA, 2016). Além disso, é importante que o
ambiente de alimentação da criança seja calmo, o mais à vontade possível, sem
distrações, e que a refeição seja realizada em local e horário fixo, a fim de
desenvolver uma rotina.
45

Jalkanen et al. (2017) obtiveram como resultado de estudo de avaliação da


relação entre frequência alimentar, consumo de alimentos e comportamento
alimentar de crianças de 6 a 8 anos e obteve-se como resultado a associação
significativa entre menor número de refeições por dia nas meninas avaliadas no
estudo (p= 0,001) e também crianças com maior pontuação de seletividade
alimentar obtiveram como resultado menor consumo de vegetais e frutas em
meninas ((β = -0,268, p <0,001) e nos meninos (β = -0,183, 264 p = 0,008) (p =
0,425 por interação). O menor consumo de vegetais e frutas pelas crianças seletivas
pode ser explicado pela menor disponibilidade destes alimentos devido ao padrão
alimentar de cada família o que pode resultar em menor exposição aos sabores
podendo então contribuir para a seletividade alimentar.
O papel dos pais na criação de hábitos alimentares é relatado na literatura.
Segundo Torres (2021), o comportamento alimentar infantil é desenvolvido a partir
da observação e cópia da criança sobre como é a relação da família com os
alimentos. Os filhos observam as práticas dos pais que abrangem o interesse por um
alimento igual por eles consumidos. As crianças são mais propensas a provar
alimentos novos onde os pais fazem verbalizações para experimentá-los.
É de suma importância que a alimentação da criança seja composta de
produtos in natura e minimamente processados com diversidade de textura e
diferentes apresentações, e sempre que possível convidá-los a ajudar em todas as
etapas de preparação, desde o momento da compra até o preparo, para que a
conexão seja estabelecida entre a criança e o alimento consumido.
Segundo Prado (2014, p.56), “(...)o vínculo estabelecido entre as duplas
mãe-criança é marcado por mútua dependência e pouca diferenciação (...)” e, sendo
assim a recusa da criança a um novo alimento é a forma de a mesma se diferenciar,
portanto é essencial que alguma autonomia seja atribuída à criança, de acordo com
cada faixa etária.
Os resultados apresentados por Garcia et al (2020) corroboram a
importância da participação ativa da criança no contexto de sua alimentação, pois
observou-se que crianças participantes de atividades culinárias de preparação de
alimentos junto com seus pais por 4 semanas apresentaram redução da seletividade
alimentar.
De acordo com Junqueira (2017), o momento da alimentação entre mãe e
filho é caracterizado por um fator emocional importante, pois há uma relação de
46

troca de energia relacionada ao sentimento envolvido e, portanto, as mães precisam


ser ouvidas e compreendidas para o sucesso no tratamento da seletividade
alimentar de seus filhos. Além disso, mães que por algum motivo não conseguem
alimentar os seus filhos sentem-se culpadas e consequentemente acabam por
influenciar negativamente seus filhos e pode impactar em todo o aprendizado
alimentar das crianças. O tratamento das possíveis crenças e sentimentos das mães
é uma etapa importante e fundamental do tratamento de seus filhos (JUNQUEIRA,
2017).
Mallan et al. (2018) realizaram um estudo longitudinal para identificar
práticas de alimentação materna não responsivas e relacionadas à estrutura e
alimentação seletiva das crianças nas idades de 2, 3.7 e 5 anos. A seletividade
alimentar em 3.7 anos previu uma alimentação mais persuasiva aos 5 anos (p25
0,026). A refeição estruturada em família aos 2 e 3.7 anos foi significativamente
associada a menos seletividade alimentar em 3.7 anos (p25 0,020) e 5 anos (p25
0,40). A recompensa por comportamento aos 3.7 anos foi positivamente associado
com seletividade alimentar em 5 anos (p25 0,045). A primeira avaliação das crianças
deveria ter sido feita em idade anterior aos 2 anos, em que ainda as práticas
alimentares não estavam enraizadas, para identificação das possíveis trajetórias de
alimentação das crianças.
Sandvik et al. (2018) investigou a prevalência da seletividade alimentar em
crianças em idade pré-escolar com magreza, peso normal, sobrepeso e obesidade.
Observou-se que quando dividido por status de peso grupo, as porcentagens de
comedores seletivos foram 52% (n = 96) das crianças com magreza, 47% (n = 381)
das crianças com peso normal, 49% (n = 63) das crianças com sobrepeso e 36% (n
= 52) das crianças com obesidade. A alimentação seletiva era menos comum, mas
ainda prevalente entre crianças com obesidade.
A desnutrição é a deficiência de um ou mais nutrientes essenciais, sendo a
desnutrição infantil considerada um problema de saúde pública com cerca de 45%
de mortes em crianças até 5 anos. As crianças são mais suscetíveis a desnutrição
devido a baixa ingestão alimentar, baixa variedade alimentar além de predominância
no consumo de alimentos ultraprocessados (WORKIE, 2021).
A inadequação no consumo de micronutrientes, resultando em deficiência
dos mesmos, é marcado por crianças que consomem uma dieta com baixa
qualidade, relacionado em parte a consequências de práticas alimentares adotadas
47

anteriormente, como interrupção precoce do aleitamento materno, além de baixa


variedade de alimentos ofertados na introdução alimentar e também alto consumo
de alimentos ricos em gordura, açúcar e sal (CARVALHO, 2015).
Em dois estudos foi relacionada a seletividade alimentar ao estado
nutricional de micronutrientes das crianças, sendo que Chao et al. (2021)
analisaram a relação com elementos traços (ferro, zinco e cobre) obtendo-se como
resultado a prevalência significativamente maior de deficiência de zinco (p=0,026)
em crianças seletivas do que em crianças não seletivas. Já as crianças com maior
nível de seletividade alimentar avaliadas por Brown et al. (2018) atingiram as
recomendações de ingestão de ferro. Segundo os autores, essa adequação nas
recomendações de ferro nas crianças pode ser devido as crianças avaliadas no
estudo não serem classificadas como crianças seletivas extremas, além de o método
de avaliação ser de qualidade geral da dieta e não baseada nas DRIs.
A obesidade infantil é um contexto multifatorial que envolve uma
comunicação entre genética, ambiente e respostas comportamentais (CARNELL,
2008). Um exemplo significativo disso é a relação entre o comportamento alimentar
das crianças e o ambiente familiar no desenvolvimento do sobrepeso e obesidade na
infância. Comportamentos alimentares, como capacidade de resposta alimentar e
prazer da comida, estão positivamente associados ao desenvolvimento da
obesidade, enquanto a recusa de alimentos, como capacidade de resposta
saciedade, seletividade alimentar e lentidão ao comer, foram vistos como
negativamente associado ao desenvolvimento de obesidade (WEBBER,
2008)(SPENCER, 2011).
Ainda que as influências ambientais sejam consideradas, para crianças, o
ambiente alimentar familiar esclarece a maior variação na obesidade, em
comparação com a escola e a vizinhança. Os familiares atuam na formação de
padrão alimentar infantil. Por exemplo, ações interpessoais, como o manejo dos pais
para monitorar as práticas de alimentação têm sido correlacionadas ao aumento do
peso em crianças, bem como inclinação a comportamentos alimentares
obesogênicos (BOSWELL, 2019).
No Brasil, a prática alimentar tem sido descrita como consumo de alimentos
ultraprocessados, comidas prontas (ricas em gorduras, sódio e açúcar) que são
consideradas altamente palatáveis, gerando assim, cada vez um maior consumo
desses alimentos, associadamente, a diminuição de produtos in natura. Esse padrão
48

é influenciado pelo uso da televisão durante as refeições e pelo comportamento


alimentar não saudável pela família e têm sido associado a comportamentos
alimentares obesogênicos e aumento do peso corporal
(MAIA,2018)(BOSWELL,2019).
Xue et al (2015) avaliaram a associação entre seletividade alimentar e
crescimento e desenvolvimento de crianças de 3 a 7 anos, em comparação a
crianças sem seletividade alimentar as crianças seletivas obtiveram resultado de
0,42 kg menor de diferença no peso (p=0,006) e 0,14 unidade menor no z score de
peso para idade (p = 0,017), além disso a alimentação seletiva com duração de 2 a 3
anos foi associada a menor z score de peso para idade (p= 0,011) e a duração de
mais de 3 anos também obteve essa associação (p=0,008). A ingestão de proteína e
fibra também foi menor em crianças seletivas (p < 0,05). A limitação deste estudo é
a subjetividade do julgamento dos pais sobre a seletividade alimentar dos seus
filhos.
Tharner et al (2014) obtiveram como resultado em seu estudo realizado com
crianças de 1 a 4 anos que o peso ao nascer foi menor em seletivos do que em não
seletivos (diferença média = 72 g, p <0,01). Além disso, outros resultados
encontrados foram que mães de seletivos usaram menos monitoramento do
comportamento alimentar de seus filhos ( p <0,01), mas mais pressão para comer do
que as mães de comedores não seletivos (p <0,01). Crianças identificadas como
comedoras seletivas quando tinham quatro anos de idade, comiam menos produtos
de grãos inteiros (p <0,01), menos vegetais (p <0,05), menos peixe / frutos do mar (p
<0,05) e menos carne (p <0,05) aos 14 meses de idade do que as crianças mais
tarde identificadas como não seletivas.
Fernandez et al. (2020) em estudo que tinha como objetivos examinar as
trajetórias de alimentação seletiva infantil em crianças de baixa renda nos Estados
Unidos com idades entre 4 e 9 anos e as associações dessas trajetórias com
características dos participantes, incluindo pontuação z de IMC da criança (IMCz) e
comportamento alimentar materno. Obteve como resultado três trajetórias de
alimentação seletiva: baixa persistência (1.97 [DP 0.53]), média persistência (2.87
[DP 0.55) e alta persistência ( 3.86 [DP 0.59). A trajetória de baixa SA foi associada
com sexo feminino (p=0,003), regulação emocional(p<0,001), habilidade emocional
(p<0,002) quando comparadas com o media e alta persistência. As trajetórias de
alimentação seletivas foram associadas a menor IMCz ao longo do tempo em
49

relação a trajetória de baixa persistência. Crianças mais seletivas foram associadas


a um menor IMCz porém as menos seletivas estão associadas a maior IMCz, isso
pode ocorrer devido ao tipo de alimento consumido e sua qualidade nutricional.
Associações de trajetórias de SA com restrição materna e exigências foram
identificadas, as crianças que eram mais exigentes tinham mães que relataram mais
restrição. Não se sabe se crianças seletivas irão se tornar ainda mais seletivas se
não receberem alguma intervenção quanto ao comportamento alimentar. Sendo
recomendado intervenções para prevenir ou modificar a SA.

8 CONCLUSÃO

A revisão da literatura permitiu identificar estudos na maioria desenvolvidos


na Europa, com delineamento observacional, que buscaram identificar
características dos pais ou das próprias crianças que pudessem estar relacionados à
seletividade. Entre as características dos pais, predominaram as de natureza
psicológica, como depressão e ansiedade e também comportamentais como a
pressão no momento das refeições para fazerem os filhos comerem. Foram
encontrados apenas dois estudos de intervenção, mas foi interessante identificar que
um deles se propôs a desenvolver habilidades culinárias das crianças e dos pais
para permitir a aprendizagem sensorial como forma de familiarização com os
alimentos, a fim de evitar exacerbar o comportamento de seletividade.
Para o cuidado da criança com seletividade é importante que este seja feito
por uma equipe interdisciplinar onde o nutricionista esteja inserido. Este profissional
poderá desenvolver ações de educação nutricional adaptando-as ao contexto social
e econômico da família e à idade das crianças. Foi possível observar pelos estudos,
que comportamentos autoritários ou permissivos dos pais podem contribuir para a
dificuldade na aceitação dos alimentos pelas crianças.
50

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