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INTRODUÇÃO À ENGENHARIA AMBIENTAL - GRUPO PROMINAS


INTRODUÇÃO À ENGENHARIA AMBIENTAL - GRUPO PROMINAS

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INTRODUÇÃO À ENGENHARIA AMBIENTAL - GRUPO PROMINAS
Núcleo de Educação a Distância

PRESIDENTE: Valdir Valério, Diretor Executivo: Dr. Willian Ferreira.

O Grupo Educacional Prominas é uma referência no cenário educacional e com ações voltadas para
a formação de profissionais capazes de se destacar no mercado de trabalho.
O Grupo Prominas investe em tecnologia, inovação e conhecimento. Tudo isso é responsável por
fomentar a expansão e consolidar a responsabilidade de promover a aprendizagem.

GRUPO PROMINAS DE EDUCAÇÃO


Diagramação: Rhanya Vitória M. R. Cupertino

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Prezado(a) Pós-Graduando(a),

Seja muito bem-vindo(a) ao nosso Grupo Educacional!


Inicialmente, gostaríamos de agradecê-lo(a) pela confiança
em nós depositada. Temos a convicção absoluta que você não irá se
decepcionar pela sua escolha, pois nos comprometemos a superar as
suas expectativas.
A educação deve ser sempre o pilar para consolidação de uma
nação soberana, democrática, crítica, reflexiva, acolhedora e integra-
dora. Além disso, a educação é a maneira mais nobre de promover a
ascensão social e econômica da população de um país.
Durante o seu curso de graduação você teve a oportunida-
de de conhecer e estudar uma grande diversidade de conteúdos.
Foi um momento de consolidação e amadurecimento de suas escolhas
pessoais e profissionais.
Agora, na Pós-Graduação, as expectativas e objetivos são
outros. É o momento de você complementar a sua formação acadêmi-
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ca, se atualizar, incorporar novas competências e técnicas, desenvolver


um novo perfil profissional, objetivando o aprimoramento para sua atu-
ação no concorrido mercado do trabalho. E, certamente, será um passo
importante para quem deseja ingressar como docente no ensino supe-
rior e se qualificar ainda mais para o magistério nos demais níveis de
ensino.
E o propósito do nosso Grupo Educacional é ajudá-lo(a)
nessa jornada! Conte conosco, pois nós acreditamos em seu potencial.
Vamos juntos nessa maravilhosa viagem que é a construção de novos
conhecimentos.

Um abraço,

Grupo Prominas - Educação e Tecnologia

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Olá, acadêmico(a) do ensino a distância do Grupo Prominas!

É um prazer tê-lo em nossa instituição! Saiba que sua escolha


é sinal de prestígio e consideração. Quero lhe parabenizar pela dispo-
sição ao aprendizado e autodesenvolvimento. No ensino a distância é
você quem administra o tempo de estudo. Por isso, ele exige perseve-
rança, disciplina e organização.
Este material, bem como as outras ferramentas do curso (como
as aulas em vídeo, atividades, fóruns, etc.), foi projetado visando a sua
preparação nessa jornada rumo ao sucesso profissional. Todo conteúdo
foi elaborado para auxiliá-lo nessa tarefa, proporcionado um estudo de
qualidade e com foco nas exigências do mercado de trabalho.

Estude bastante e um grande abraço!

Professora: Adriana Penna


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O texto abaixo das tags são informações de apoio para você ao
longo dos seus estudos. Cada conteúdo é preprarado focando em téc-
nicas de aprendizagem que contribuem no seu processo de busca pela
conhecimento.
Cada uma dessas tags, é focada especificadamente em partes
importantes dos materiais aqui apresentados. Lembre-se que, cada in-
formação obtida atráves do seu curso, será o ponto de partida rumo ao
seu sucesso profisisional.

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CAPÍTULO 01
INTRODUÇÃO

CAPÍTULO 02
ENGENHARIA AMBIENTAL

CAPÍTULO 03
TEMÁTICA AMBIENTAL

Evolução e Conceito __________________________________________ 22

CAPÍTULO 04
APLICAÇÕES DA ENGENHARIA AMBIENTAL

Dimensões e Unidades _______________________________________ 33


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Saneamento, Poluição Hídrica, Tratamento de Água ___________ 35

Resíduos, Aterros Controlados, Incineração ____________________ 37

Compostagem, Contaminação dos Solos, Descontaminação ___ 39

Poluição do Ar, Geração de Energia ____________________________ 42

CAPÍTULO 05
DECISÕES EM ENGENHARIA AMBIENTAL

Baseadas em Análises Técnicas _______________________________ 48

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Baseadas em Análises Econômicas ______________________________ 50

Baseadas em Análises de Custo/Benefício ________________________ 51

Baseadas em Análises de Risco __________________________________ 52

Baseadas em Análises de Impacto Ambiental ____________________ 56

Baseadas em Análise Ética ______________________________________ 59

Referências _____________________________________________________ 62

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INTRODUÇÃO
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Em linhas gerais, o engenheiro do ambiente ou engenheiro am-


biental tem por missão identificar e solucionar problemas ambientais que,
diga-se de passagem, não são poucos! Poluição sonora, da água, da
terra, do ar que são consequência principalmente da atividade do homem
no meio ambiente, engloba, digamos, o bruto dos problemas ambientais.
As consequentes ramificações desse macro universo de pro-
blemas ambientais serão vistas em detalhes ao longo do curso, a saber:
saneamento, poluição hídrica, tratamento da água, dos resíduos; ater-
ros controlados, incineração; compostagem, contaminação dos solos,
descontaminação; poluição do ar, geração de energia; métodos e técni-
cas para analisar, avaliar e controlar a qualidade ambienta; para tratar
águas e esgotos; os diversos indicadores ambientais, passando pelo
Indicador de Salubridade Ambiental (ISA), Indicador de Qualidade de
Aterro de Resíduo (IQAR); resíduos perigosos, saneamento ambiental;
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a normalização, auditorias e certificação ambiental; projetos, planeja-
mento e licenciamento; legislação, direito ambiental, estes são alguns
dos conteúdos a serem estudados.
Enquanto Especialista em Engenharia Ambiental esperamos
que este profissional desenvolva habilidades e competências (identificar,
formular e resolver problemas; comunicar-se eficientemente; projetar e
conduzir experimentos; atuar multidisciplinarmente; ser ético e responsá-
vel). Essas são apenas algumas das competências para aplicar os conhe-
cimentos científicos e empíricos, na construção de estruturas, modelos e
processos que visem a converter/utilizar os recursos naturais para aten-
dimento às necessidades humanas de maneira racional e sustentável.
Ressaltamos em primeiro lugar que embora a escrita acadêmi-
ca tenha como premissa ser científica, baseada em normas e padrões
da academia, fugiremos um pouco às regras para nos aproximarmos
de vocês e para que os temas abordados cheguem de maneira clara e
objetiva, mas não menos científicas. Em segundo lugar, deixamos claro
que este módulo é uma compilação das ideias de vários autores, in-
cluindo aqueles que consideramos clássicos, não se tratando, portanto,
de uma redação original e tendo em vista o caráter didático da obra, não
serão expressas opiniões pessoais.
Ao final do módulo, além da lista de referências básicas, en-
contram-se outras que foram ora utilizadas, ora somente consultadas,
mas que, de todo modo, podem servir para sanar lacunas que por ven-
tura venham a surgir ao longo dos estudos.

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ENGENHARIA AMBIENTAL
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Uma vez que a engenharia ambiental reúne conhecimentos da


engenharia e das ciências do meio ambiente, poderíamos iniciar com
uma definição mais ampla do que é a engenharia: engenharia é a pro-
fissão na qual o conhecimento de matemática e de ciências naturais é
obtido a partir de estudo, experiência e prática; é aplicada com cuidado
para desenvolver formas de utilizar economicamente materiais e forças
da natureza para o benefício da humanidade.
Assim sendo, engenheiros não são cientistas, dadas as di-
ferenças existentes entre os mesmos. Cientistas descobrem coisas;
engenheiros fazem-nas funcionar. Isso mostra que é inerente, no de-
senvolvimento profissional dos engenheiros, que eles tenham que ob-
ter experiência, prática e capacidade de avaliação junto a profissionais
mais experientes (ZILBERMAN, 2004).
São características que deve permear o universo de um enge-
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nheiro, ou seja, seu profissionalismo:
• as decisões profissionais são feitas por meio de princípios
gerais, teorias ou proposições que são independentes das particulari-
dades do caso que está sendo considerado;
• as decisões implicam conhecimento em uma área específica,
na qual a pessoa é um expert. O profissional é um expert somente na
sua profissão e não em tudo;
• as relações profissionais com os clientes devem ser objetivas
e independem de sentimentos particulares entre eles;
• um profissional adquire status e é recompensado financeira-
mente pelo que realiza e não por suas qualidades inerentes ou perten-
cimento a uma associação ou determinado sindicato;
• as decisões do profissional são assumidas em benefício do
cliente e não devem depender de seu interesse pessoal;
• o profissional se inscreve em uma associação técnica e acei-
ta somente a autoridade desses colegas como sanção de seu próprio
procedimento.
Um profissional é alguém que sabe o que é bom para os clientes
mais do que eles próprios. O conhecimento do profissional coloca o cliente
em uma situação bastante vulnerável, e essa vulnerabilidade tem gerado a
necessidade da existência de códigos profissionais e de ética que servem
para proteger o cliente. São esses códigos que são impostos pelo grupo de
colegas e pares quanto à avaliação da atuação dos profissionais.
A engenharia ambiental pertence ao ramo da engenharia civil
que basicamente possui estabelecido um código de ética que engloba
esses princípios e que é aplicado pelos Conselhos Regionais de Enge-

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nharia, Arquitetura e Agronomia (CREAs).
Os entendimentos anteriores nos levam a inferir que a enge-
nharia ambiental irá tratar:
• da solução de problemas de saneamento ambiental, princi-
palmente no fornecimento de abastecimento público de água segura,
potável, palatável e generalizada;
• na disposição adequada de esgotos e resíduos sólidos ou de
suas reciclagens;
• na adequada drenagem de áreas urbanas e rurais para um
saneamento correto das mesmas;
• no controle da poluição hídrica, atmosférica e do solo, bem
como do impacto social e ambiental de suas soluções.
Mais ainda, tem a ver com os problemas de engenharia no cam-
po da saúde pública, tais como doenças devidas a artrópodes, eliminação
de problemas de saúde causados por atividades industriais e adequado
fornecimento de saneamento nas áreas urbanas, rurais e recreacionais,
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bem como os efeitos dos avanços tecnológicos no ambiente em geral.
Zilberman (2004) ressalta que, por outro lado, também é impor-
tante definir o que não é engenharia ambiental: basicamente ela não se
preocupa com aquecimento, ventilação ou condicionamento de ar, nem
tampouco com arquitetura paisagística. Não deve, ainda, ser confundi-
da com funções de engenharia estrutural ou arquitetônica associadas a
ambientes construídos, tais como casas, edifícios, escritórios ou outros
locais de trabalho.
De acordo com a definição citada de engenharia ambiental,
fica claro que os trabalhos a serem desenvolvidos envolvem amplos
conhecimentos sobre ciências naturais e ambientais.
Existem no Brasil pelo menos 20 universidades/faculdades en-
tre públicas e privadas que oferecem o curso de Engenharia Ambiental,
e uma pesquisa realizada para Revista EXAME aponta que dentre as 30
profissões mais promissoras para o ano de 2013, dez estão dentro das
engenharias, e segundo os headhunters , os engenheiros ambientais
estão entre os mais procurados.
São notícias que abrem perspectivas positivas e motivam os
profissionais a buscarem especialização para estarem sempre atualiza-
dos e aptos a serem selecionados, visto ser um mercado competitivo.
Entre os profissionais mais procurados atualmente estão os En-
genheiros Ambientais, que segundo headhunters consultados por EXA-
ME.com estão sendo requisitados mais fortemente nos setores químico e
petroquímico, sendo que outros setores também demandam este profis-
sional, que pode ter formação em Engenharia Ambiental ou Engenharia
Química com pós em ambiental, segundo o especialista da Robert Half.
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A expectativa é que, nos próximos anos, mais empresas sepa-


rem a área ambiental do setor de segurança de trabalho, de acordo com
Daniela Ribeiro, da Robert Half: “O profissional precisa primeiro enten-
der o negócio da companhia, os produtos e impacto no meio ambiente
para, então, reformular os processos”, afirma a especialista da Mariaca.
Atualmente, no entanto, a maioria das empresas mantém es-
sas duas áreas unidas. Neste caso, o papel do profissional vai desde
“manter a operação sem acidentes até garantir que a área produtiva
não afete o ambiente, evitando desperdícios, fazendo tratamento de re-
síduos”, afirma Diego Mariz, da Michael Page. (Revista EXAME.com
reportagem de 21/02/2013).
Segundo a Associação nacional dos Engenheiros Ambientais
(ANEAM, 2013) no Brasil, a Engenharia Ambiental é voltada para o de-
senvolvimento econômico sustentável com a função de resolver proble-
mas concretos de prevenção e remediação (atividade corretiva) diante das
ações antrópicas, mediante aplicações da tecnologia disponível, pontual e
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localmente apropriada, respeitando os limites dos recursos naturais.
O engenheiro ambiental busca atuar em diversas áreas desen-
volvendo e aplicando tecnologias para proteger o ambiente dos danos
causados pelas atividades humanas.
Sua principal função é preservar a qualidade da água, do ar e do
solo e buscar medidas mitigadoras quando o dano ambiental não pode
ser evitado. Para isso planeja, coordena e administra redes de distribuição
de água e estações de tratamento de esgoto, supervisiona a coleta e o
descarte dos resíduos, avalia o impacto de grandes obras sobre o meio
ambiente para prevenir danos ao Meio Ambiente, atua na prevenção contra
a poluição causada por indústrias. Em agências de meio ambiente e em
polos industriais, controla, previne e trata a poluição atmosférica. Pode,
ainda, monitorar o ambiente marinho e costeiro, atuando na prevenção e
no controle de erosões em praias. De modo geral, tanto no âmbito público
como privado, sua atuação deve atender aos objetivos da Política Nacional
do Meio Ambiente e das demandas que o mercado de trabalho exige.
O engenheiro ambiental é habilitado a propor soluções social-
mente justas e ecologicamente corretas para os problemas ambientais
como poluição dos rios, do ar, descarte do lixo, aquecimento global, en-
tre outros. Pode ser contratado pela iniciativa privada, órgãos públicos
e terceiro setor. Para isso, a questão ecológica tem de estar no sangue.
Tem de se preocupar com a causa, mas de uma forma bem prática e
aplicada. Tem de ter facilidade para comunicação e também para de-
senvolvimento de projetos (CHAGAS, 2012).
A engenharia ambiental foi criada pela Portaria nº 1.693, de
05 de dezembro de 1994, do Ministério de Estado da Educação e do

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Desporto.
A Resolução nº 447, de 22 de setembro de 2000 dispõe sobre
o registro profissional do Engenheiro Ambiental e discrimina suas ativi-
dades profissionais.
O art. 2º diz que compete ao Engenheiro Ambiental o desem-
penho das atividades 01 a 14 e 18 do art. 1º da Resolução nº 218, de
29 de junho de 1973, referentes à administração, gestão e ordenamento
ambientais e ao monitoramento e mitigação de impactos ambientais,
seus serviços afins e correlatos.
Art. 4º – os engenheiros ambientais integrarão o grupo ou ca-
tegoria Engenharia, Modalidade Civil, prevista no art. 8º da Resolução
335, de 27 de outubro de 1989.
A resolução nº 218, de 29 de junho de 1973 discrimina as ati-
vidades das diferentes modalidades profissionais da Engenharia, Arqui-
tetura e Agronomia.
RESOLVE:
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Art. 1º - Para efeito de fiscalização do exercício profissional
correspondente às diferentes modalidades da Engenharia, Arquitetura
e Agronomia em nível superior e em nível médio, ficam designadas as
seguintes atividades para o Engenheiro Ambiental:
- atividade 01 – supervisão, coordenação e orientação técnica;
- atividade 02 – estudo, planejamento, projeto e especificação;
- atividade 03 – estudo de viabilidade técnico-econômica;
- atividade 04 – assistência, assessoria e consultoria;
- atividade 05 – direção de obra e serviço técnico;
- atividade 06 – vistoria, perícia, avaliação, arbitramento, laudo
e parecer técnico;
- atividade 07 – desempenho de cargo e função técnica;
- atividade 08 – ensino, pesquisa, análise, experimentação, en-
saio e divulgação técnica, extensão;
- atividade 09 – elaboração de orçamento;
- atividade 10 – padronização, mensuração e controle de qua-
lidade;
- atividade 11 – execução de obra e serviço técnico;
- atividade 12 – fiscalização de obra e serviço técnico;
- atividade 13 – produção técnica e especializada;
- atividade 14 – condução de trabalho técnico;
- atividade 18 – execução de desenho técnico.
De acordo com a Portaria nº 1693, 5 de dezembro de 1994,
do Ministério da Educação e do Desporto, as ementas das matérias do
curso de engenharia ambiental devem conter os seguintes conteúdos:
• Biologia — origem da vida e evolução das Espécies. A célula.
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Funções celulares. Nutrição e respiração. Código genético. Reprodu-


ção. Os organismos e as espécies. Fundamentos da microbiologia. Or-
ganismos patogênicos e decompositores. Ecologia microbiana;
• Geologia — características físicas da Terra. Minerais e ro-
chas, Intemperismo. Solos. Hidrogeologia. Ambientes geológicos da
erosão e deposição. Geodinâmica. Tectônica. Geomorfologia;
• Climatologia — elementos e fatores climáticos. Tipos de clas-
sificação de climas;
• Hidrologia — ciclo biológico. Balanço hídrico. Bacias hidrográ-
ficas. Escoamento superficial e subterrâneo. Transporte de sedimentos;
• Ecologia Geral e Aplicada — fatores ecológicos. Populações.
Comunidade. Ecossistemas. Sucessões ecológicas. Ações antrópicas.
Mudanças globais;
• Hidráulica — hidrostática e hidrodinâmica. Escoamento sob
pressão. Escoamento em canais. Hidrometria;
• Cartografia — cartografia. Topografia. Fotogrametria. Senso-
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riamento remoto;
• Recursos Naturais — recursos renováveis e não renováveis.
Caracterização e aproveitamento dos recursos naturais;
• Poluição Ambiental — qualidade ambiental. Poluentes e con-
taminantes. Critérios. Padrões de emissão. Controle;
• Impactos Ambientais — conceituação. Fatores ambientais.
Instrumentos de identificação e análise. Os Impactos ambientais. Ava-
liação de Impactos Ambientais;
• Sistemas de Tratamento de Água e de Resíduos — proces-
sos físico-químicos e biológicos do tratamento da água e dos resíduos
sólidos, líquidos e gasosos;
• Legislação e Direito Ambiental — evolução do direito ambien-
tal. História da legislação ambiental. Legislação Básica Federal, Estadu-
al e Municipal. Trâmite e práticas legais;
• Saúde Ambiental — conceito de Saúde. Saúde Pública. Eco-
logia das doenças. Epidemiologia. Saúde ocupacional;
• Planejamento Ambiental — teoria de planejamento. Planeja-
mento no sistema de gestão ambiental;
• Sistemas Hidráulicos e Sanitários — sistema de abasteci-
mento de água. Sistemas de esgotos sanitários. Sistemas de drena-
gem. Sistemas de coleta, transporte e disposição de resíduos sólidos;
• Física e Matemática — os cálculos são fundamentais no cur-
so, pois antes de tudo ele é um curso de engenharia, o profissional terá
que construir projetos.

Então, essas disciplinas estão integradas no curso de Enge-


nharia Ambiental.

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O perfil do profissional é para quem gosta de atividades de cam-
po, de viagens e de pesquisas ao ar livre pode se dar bem na profissão.
O graduado pode trabalhar com geologia do petróleo – na identificação
de campos – mineração, localização de aquíferos e acompanhamento
da exploração, em estudos de impacto ambiental e em geotecnia, que
engloba análise prévia para a construção de obras.
De forma resumida, podemos concluir que a Engenharia am-
biental é um ramo da engenharia que estuda os problemas ambientais
de forma integrada nas dimensões apresentadas no esquema abaixo:

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Suas áreas de atuação seriam:
1) análise de riscos ambientais;
2) auditorias;
3) diagnósticos ambientais;
4) avaliação de impactos ambientais;
5) contabilidade ambiental;
6) controle de qualidade ambiental – sistemas de monitora-
mento e vigilância;
7) detecção remota aplicada a ambiente e ordenamento do ter-
ritório;
8) ecodesign e análise do ciclo de vida;
9) educação e sensibilização ambiental;
10) geologia ambiental;
11) gestão ambiental;
12) gestão de recursos naturais e conservação da natureza
(Meio Urbano, Rural e Costeiro);
13) gestão de resíduos sólidos;
14) licenciamento Ambiental;
15) modelagem ambiental;
16) ordenamento do território (uso do solo), planejamento re-
gional e urbano;
17) planejamento energético e energias renováveis;
18) poluição da água, poluição atmosférica, poluição do solo e
ruído;
19) redes de saneamento;
20) hidrologia e hidrogeologia;
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21) remediação de Áreas Degradadas;


22) regulamentação e normalização ambiental;
23) tecnologia/Produção limpa;
24) tratamento de águas residuárias e de abastecimento;
25) redução e controle das emissões de material particulado
(LEAL JUNIOR; SALOMON, 2009).
O mercado de trabalho do Engenheiro Ambiental pode ser
composto de:
- empresas privadas;
- indústrias de comércio;
- indústrias de Serviços;
- organizações não-governamentais (ONGs);
- organizações da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIPs);
- órgãos governamentais;
- empresas de Consultorias.
Devido a sua formação multidisciplinar e visão holística, o profis-
18
sional de Engenharia Ambiental tem um papel fundamental na composi-
ção de equipes técnicas para combate aos desastres naturais e redução
dos riscos, vistos que estes eventos ocorrem pela associação de fatores
como crescimento populacional e ocupação de áreas de forma desor-
denada, a exclusão social, a expansão urbana sem planejamento, o au-
mento de áreas impermeáveis, a ocupação de encostas ou de locais de
baixadas, o aumento do número de pessoas em áreas de risco, aumento
da precipitação pluviométrica em determinados locais de risco, além de
ausências de planejamento territorial, zoneamentos ambientais, mapas
de riscos, modelos de previsão, dentre outros (ANEAM, 2013).

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TEMÁTICA AMBIENTAL
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A ciência ambiental, que engloba a engenharia ambiental, é


baseada numa filosofia na qual várias linhas de pesquisa, em determi-
nadas áreas consideradas relevantes, são de importância fundamental,
e se desenvolvem em torno de temas-chave, como perspectiva global,
população humana, sustentabilidade, o mundo urbano, valores, conhe-
cimento e justiça social (ZILBERMAN, 2004).
Até bem recentemente, acreditava-se de forma generalizada
que a atividade humana acarretava apenas reflexos locais ou, no máxi-
mo, mudanças regionais no ambiente. É sabido que os efeitos da ativi-
dade humana no planeta são de tal envergadura que, atualmente, este
se encontra às voltas com experimentações ambientais não planejadas
cujos resultados, na maior parte das vezes, são imprevisíveis. O prin-
cipal objetivo desta ciência emergente é obter conhecimentos básicos
para entender sistematicamente como o planeta funciona. Esse conhe-
2020
cimento poderá ser aplicado para ajudar a resolver os problemas am-
bientais globais, portanto, a emergência dessa ciência ambiental abriu
novos horizontes para o entendimento das relações entre ciências bio-
lógicas e físicas, o que requer cooperação interdisciplinar e educação.
Na base de praticamente todos os problemas ambientais está
o rápido crescimento da população humana. De fato, será difícil resolver
outros problemas, a menos que a quantidade de pessoas que habitam o
ambiente esteja de acordo com sua capacidade de sustentação. Talvez,
a maior responsabilidade nessa área esteja vinculada ao esclarecimen-
to e à educação dos seres humanos para os problemas populacionais.
À medida que a população se torna mais educada e a taxa de analfabe-
tismo decresce, o crescimento populacional tende também a se estabi-
lizar, e até a decrescer.
Sustentabilidade é uma terminologia que recentemente ga-
nhou popularidade e que, de uma forma geral, significa a utilização de
determinado recurso natural de tal forma que ele permaneça continua-
mente disponível. Entretanto, o termo é usado de forma vaga e equivo-
cadamente em certas circunstâncias. Alguns o definem como a garantia
de que as futuras gerações terão iguais oportunidades de acesso aos
recursos oferecidos atualmente pelo planeta. Outros argumentam que
sustentabilidade se refere a tipos de desenvolvimento que são econo-
micamente viáveis, não agridem ao ambiente e são socialmente justos.
Entretanto, todos concordam com a necessidade de se aprender como
manter os recursos ambientais, de forma a continuarem a prover bene-
fícios à população humana e a outras formas de vida no planeta.
Por outro lado, um número crescente de pessoas está vivendo

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em áreas urbanas. Infelizmente os centros urbanos têm sido negligen-
ciados e a qualidade ambiental urbana tem sofrido prejuízos, através de
poluição aérea, problemas de destinação de resíduos sólidos, inquieta-
ções sociais e outras formas de “estresse” do ambiente. No passado, os
poucos que estudavam o ambiente centravam sua atenção no selvagem
ou natural, em vez de dirigirem seus esforços na direção do ambiente
urbanizado. Hoje já se observa a necessidade de um maior foco em aglo-
merações urbanas e em cidades como ambiente onde se possa viver.
Encontrar soluções para problemas ambientais envolve mais
que simplesmente juntar fatos e entendimentos de temas científicos de
um problema particular. Também tem muito a ver com os sistemas de
valores vigentes e os temas de justiça social. Para resolver problemas
ambientais em um determinado local é importante entender quais os seus
valores e as possíveis soluções que seriam socialmente justas. A partir
daí, é possível aplicar conhecimentos científicos sobre determinado pro-
blema e achar soluções aceitáveis para o mesmo (ZILBERMAN, 2004).
21
Assim, os técnicos e cientistas que trabalham no campo da
ciência ambiental, ou mais especificamente na engenharia ambiental,
encontram-se no limite de uma mudança significativa na abordagem de
temas ambientais. Dois caminhos se afiguram como possíveis.
Um caminho é aquele que se pode descrever como business
as usual (negócio como de costume), ou seja, a mesma abordagem dos
problemas ambientais como tem sido feita nos últimos trinta anos; uma
abordagem que produziu muitos avanços e, ao mesmo tempo, muitas
falhas. Este caminho enfatizou a confrontação, o emocionalismo e a
necessidade de basear soluções em velhos mitos da natureza, devido
à falta de entendimento de fatores básicos sobre ambiente e de como
funciona o sistema ecológico natural.
Outro caminho oferece a potencialidade de soluções mais du-
radouras e melhor sucedidas para os problemas ambientais. Busca sair
da solução dos problemas através do confronto, para usar a coopera-
ção, e se afasta das explicações do ambiente através de velhos mitos
da natureza, na direção de utilizar base científica sólida, a partir da qual
os temas ambientais devem ser encarados.
Concordamos com Zilberman (2004) quando afirma que condiz
com o engenheiro ambiental seguir o segundo caminho o qual parte
de se ter uma ideia de como o problema ambiental era tratado, aceitar
que houve uma evolução e tratá-lo hoje por meio da conscientização e
cooperação entre todos os envolvidos como o meio ambiente, ou seja,
órgãos públicos, empresas privadas e sociedade de maneira geral.

EVOLUÇÃO E CONCEITO
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Antes de 1960, poucas pessoas haviam sequer ouvido falar de


ecologia, e o termo ambiente tinha pouco ou nenhum sentido político ou
social. O aparecimento do livro Primavera silenciosa, escrito por Rachel
Carson, assim como a ocorrência de alguns eventos especialmente
agressivos ao ambiente, como os derramamentos de óleo de navios e o
perigo de extinção de algumas espécies (baleias, elefantes, pássaros,
macacos), destacadamente publicados na imprensa mundial, transfor-
maram o problema ambiental em um assunto popular.
Como ocorre a qualquer assunto novo, seja político ou social, no
início apenas uma minoria reconheceu sua importância e que os proble-
mas deveriam ser enfatizados – reforçada a negatividade dos mesmos –
de forma a chamar a atenção pública para as preocupações ambientais.
Os primeiros tempos do ambientalismo moderno foram dominados por
confrontações entre aqueles rotulados ambientalistas e os chamados de-
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senvolvimentistas. Cada grupo via a si próprio como o salvador do mundo
e tratava de mostrar que o ponto de vista do outro era estereotipado.
O contraste entre as duas abordagens pode ser, de uma forma
simplificada, assim descrito:
- os ambientalistas acreditavam que o mundo seria destruído se
as pessoas não mudassem sua visão de meio ambiente. Portanto, acredi-
tavam que tinham a chave para a salvação do planeta numa nova “visão de
mundo”, que dependia, apenas secundariamente, de fatos, conhecimentos
e ciência. Para esses ambientalistas, economia e desenvolvimento social
significavam destruição do ambiente e, daí, o fim da civilização, da extinção
de muitas espécies e, potencialmente, a extinção do ser humano;
- os desenvolvimentistas, por outro lado, acreditavam que o
progresso e o bem-estar social e econômico eram necessários se a po-
pulação e a civilização quisessem prosperar. Do seu ponto de vista, os
ambientalistas representavam uma visão extremada e perigosa, com o
foco no ambiente em detrimento da população, foco este que os desen-
volvimentistas pensavam que iria destruir a própria base da civilização,
levando à ruína o estilo de vida moderno.
Ressalte-se que, a essas limitações das primeiras abordagens
de temas ambientais, acrescia-se a falta de conhecimento científico e
de know-how prático. A ciência ambiental estava na sua infância e, in-
clusive, algumas pessoas até viam a ciência como parte do problema e
não da solução.
Atualmente, alguma coisa já mudou significativamente. O am-
biente é aceito amplamente como um tema maior tanto social como
político; as pesquisas de opinião pública mostram repetidamente que

INTRODUÇÃO À ENGENHARIA AMBIENTAL - GRUPO PROMINAS


as pessoas, em todo o mundo, classificam o ambiente como um dos as-
suntos mais importantes. Não se precisa mais provar que os problemas
ambientais são sérios; a época de confrontações por si mesmas parece
já ter passado. Há, atualmente, um reconhecimento de que as verda-
deiras soluções para os problemas que atingem o ambiente incluem e
dependem dos seres humanos, de que se deve buscar sustentabilidade
não apenas do ambiente, mas também das atividades econômicas, de
forma que a humanidade e o ambiente possam conviver para o futuro.
O ambiente é complexo e multifacetado e mais uma vez pode-
mos inferir que a inserção do engenheiro nesta problemática implica co-
locá-lo frente a novos desafios que cobrem uma gama bastante extensa
de tópicos: da química da camada de ozônio na atmosfera até a ética
ambiental. Há necessidade de uma maior familiarização com as várias
linhas de pensamento para permitir a absorção de conhecimentos, de
forma a criar uma base sólida para os futuros estudos a serem desen-
volvidos. Este papel deve ser desempenhado pela engenharia ambien-
23
tal dada sua interdisciplinaridade (ZILBERMAN, 2004).
Voltando à evolução da questão ambiental, embora a preocu-
pação com o meio ambiente date do século XIX, somente no século XX
e, principalmente, a partir dos anos 1970 passou a ter repercussão na
sociedade, com a visão de que o problema não poderia ser de responsa-
bilidade localizada, mas de responsabilidade globalizada. A frase “pensar
globalmente, agir localmente” é um resumo do pensamento que passou a
dominar os organismos ambientalistas de várias partes do mundo.
A primeira Conferência Mundial sobre o Meio Ambiente foi rea-
lizada em Estocolmo, em 1972, com repercussão internacional, e foi um
passo na conscientização da sociedade mundial sobre os problemas
ecológicos.
Em 1975, foi realizado um Seminário Internacional de Edu-
cação em Belgrado, com a participação de vários países e resultados
apresentados na chamada Carta de Belgrado, cujo conteúdo pode ser
assim resumido:
• qualidade de vida ligada à felicidade humana;
• preservação e melhoria das potencialidades humanas; e,
• desenvolvimento do bem-estar social e individual;
Todos esses itens são subordinados à harmonia com o meio
ambiente, biofísico e antrópico.
Segundo Ferreira (2007), esse documento propunha que qual-
quer ação de preservação ambiental deveria, primeiramente, passar por
uma educação ambiental. Seria preciso:
(1) conscientizar os cidadãos de todo o mundo sobre o problema;
(2) disponibilizar acesso a conhecimento específico sobre o
INTRODUÇÃO À ENGENHARIA AMBIENTAL - GRUPO PROMINAS

meio ambiente;
(3) promover atitudes para a preservação;
(4) desenvolver habilidades específicas para ações ambientais;
(5) criar uma capacidade de avaliação das ações e programas
implantados; e,
(6) promover a participação de todos na solução dos problemas.
Os programas de educação ambiental a serem desenvolvidos
pelos países deveriam conscientizar as crianças sobre a importância
de cuidar do meio ambiente. Entretanto, só a conscientização não seria
suficiente para ações efetivas por parte delas enquanto crianças e, pos-
teriormente, como adultos. Assim, seria fundamental a disseminação de
um conhecimento adequado da ciência ambiental.
Conscientização e conhecimentos, juntos, poderiam realmente
promover atitudes corretas e o desenvolvimento de habilidades especí-
ficas para a solução de problemas no futuro. Essas crianças poderiam
ser profissionais com condições de ajudar a resolver os problemas do
24
meio ambiente e, mais que isso, já teriam internalizado em sua forma-
ção cultural a questão ambiental, tanto quanto a questão da ética, a dos
bons costumes, etc. Isso tudo poderia melhorar sua capacidade de de-
cisão como profissionais e cidadãos que teriam o meio ambiente como
pano de fundo para suas futuras decisões.
O grande desafio da educação ambiental foi, então, dividido
em quatro tópicos:
(1) conscientização; (2) sensibilização; (3) responsabilidade
social; e (4) desenvolvimento sustentável. Tudo isso para manter o
grande desafio da humanidade, que é o de continuar a viver.
Mas não só Belgrado promoveu um encontro de países com
preocupações voltadas para os problemas ambientais do planeta. Em
Estocolmo, em 1988, outra reunião foi realizada, mas foi em 1992, na
ECO-92, ou United Nations Conference on Environment and Develop-
ment (Unced), realizada na cidade do Rio de Janeiro, que se estabele-
ceu um compromisso maior dos países participantes com o assunto e
onde os conceitos de “ambientalmente correto” e de “desenvolvimento
sustentável” tomaram maior dimensão e começaram a fazer parte do
dia-a-dia das sociedades civilizadas e, consequentemente, do cotidiano
de um número maior de empresas.
O documento produzido na ECO-92, conhecido como Agenda
21, ainda é ponto de referência na implantação de programas e polí-
ticas de governos e de empresas ao redor do mundo e tem marcado
uma significativa mudança nas relações comerciais, em suas diversas
formas. Foi assinado por 170 países e é considerado “o maior esforço
conjunto, feito por governos de todo o mundo, para identificar as ações

INTRODUÇÃO À ENGENHARIA AMBIENTAL - GRUPO PROMINAS


que combinem o desenvolvimento com a proteção do meio ambiente”.
Basicamente, ele define que deve existir reorientação da edu-
cação, na direção do desenvolvimento sustentável; ampliação da cons-
cientização pública e, incentivo ao treinamento. É considerado, ainda,
um programa estratégico, universal, para se alcançar o desenvolvimen-
to sustentável no século XXI. A Agenda 21 é dividida em quatro seções:
(1) aspectos sociais, que versam sobre as relações entre meio
ambiente e pobreza, saúde, comércio, dívida externa, consumo e po-
pulação;
(2) conservação e administração de recursos, que se detêm
nas maneiras de gerenciar recursos físicos (como terra, mares, energia
e lixo) para garantir o desenvolvimento sustentável;
(3) fortalecimento dos grupos sociais, através de formas varia-
das de apoio a grupos sociais organizados e minoritários que colaboram
para a sustentabilidade; e,
(4) meios de implantação, através de programas de financia-
25
mento e do papel das atividades governamentais e não governamentais.
No Capítulo 8, letra d, a Agenda 21 trata da necessidade de que
países e organismos internacionais desenvolvam um sistema de contabi-
lidade que integre as questões sociais, ambientais e econômicas. Embo-
ra o texto descreva o sistema como importante para os países – para que
se possa medir como os impactos causados à natureza pelo uso de seus
recursos naturais na produção de bens e serviços podem ser considera-
dos no cálculo do PIB Ecológico ou PIB verde –, esse capítulo da Agenda
21 tem relação direta com a contabilidade das empresas.
Afinal, se cada entidade econômica tivesse seus eventos eco-
nômicos medidos também sob os aspectos ecológicos, o cálculo do PIB
Verde seria alcançado.
Há de se ressaltar que, no Brasil, o IBGE vem envidando esfor-
ços no sentido de desenvolver um Sistema Integrado de Contas Econô-
mico-Ambientais (Sicea).
Estamos falando de evolução, mas precisamos entender al-
guns conceitos básicos que dão uma dimensão mais exata da proble-
mática ambiental, a começar por ecologia!
Os quatro princípios da ecologia são:
1. toda entidade em particular está ligada a todo o resto;
2. tudo vai para algum lugar;
3. você não pode conseguir as coisas de lugar nenhum;
4. a natureza é sábia (GRAY; BEBBINGTON; WALTERS, 1993
apud FERREIRA, 2007).
Esses princípios que nos levarão ao conceito de ecologia podem
ser melhor entendidos a partir do processo de interação entre o homem
INTRODUÇÃO À ENGENHARIA AMBIENTAL - GRUPO PROMINAS

e o meio ambiente, que Rubenstein (1994 apud FERREIRA, 2007) apre-


senta como o ciclo universal da vida. Este ciclo, dividido em 6 (seis) fases
distintas, a partir das necessidades humanas, é resumido a seguir:

Fonte: Ferreira (2007, p. 15)

Esse quadro foi elaborado com base na análise do setor ma-


deireiro. No primeiro momento, ele considera que, para suprir as ne-
26
cessidades humanas de papel e madeira, existe um risco de produzir
excesso de oferta em relação à verdadeira demanda. No segundo, o
risco é de debilitação da terra. No terceiro, existe a possibilidade de
regeneração ou replantio; no caso desta etapa não se realizar adequa-
damente, o preço da floresta será afetado.
Na fase de manufatura, várias ocorrências são possíveis, tais
como a emissão de toxinas que não serão eliminadas naturalmente e o
uso não sustentável de energia. Na distribuição, os custos com trans-
porte e a consequente queima de combustível fóssil (o petróleo, por
exemplo). Na fase de uso do produto, podem acontecer dois tipos de
impacto, um positivo e outro negativo, como no caso da madeira e do
automóvel: enquanto a madeira absorve o CO2, o carro expele o gás.
Já na última fase, falhas em reciclar os recursos utilizados resultam em
“lixões” ou aterros e descargas tóxicas. No caso de lixo de recursos
escassos, como minério e minerais, a possibilidade de que se torne re-
novável é bastante limitada e ocorre no momento da produção, quando
eles são eficientes e, ainda, asseguram o máximo de reciclagem.
A sistematização teórica desses problemas resultou nos con-
ceitos a seguir apresentados (os mais usuais):
• ecologia – pode ser definida como a ciência das condições
de existência do ser vivo em seu meio;
• ecossistema – o sistema formado pelo conjunto das popula-
ções que ocupam um território e pelos elementos abióticos a ele ligados;
• meio ambiente – é uma área de conhecimento considerada
como multidisciplinar. Seu corpo de conhecimentos forma-se com base
no conhecimento das outras ciências. Pode ser dividido em seis aspec-

INTRODUÇÃO À ENGENHARIA AMBIENTAL - GRUPO PROMINAS


tos: 1. ar; 2. água; 3. solo e subsolo; 4. fauna; 5. flora; 6. paisagem.
O que se tem procurado, mais recentemente, é avaliar como o
uso dado a cada um desses aspectos tem causado impacto na saúde e
no bem-estar do ser humano.
Do que se pode observar, o homem não foi muito feliz nessas
questões, pois o uso dos recursos naturais disponíveis, embora tenha trazi-
do melhora nas condições de vida, trouxe também a poluição, com todos os
seus impactos na condição de vida, e também trouxe preocupações quan-
to às possibilidades futuras de se continuar vivendo. Relembrando aqui os
ambientalistas, estes acreditam que o desenvolvimento trouxe mais male-
fícios do que benefícios e, portanto, radicalizam em suas opiniões sobre
como continuar esse desenvolvimento, indicando que somente deveriam
existir projetos que não alterem, de modo algum, o meio ambiente.
Já outros grupos consideram que deve haver equilíbrio entre o
meio ambiente e o desenvolvimento econômico. De qualquer modo, todos
consideram a questão extremamente séria. Conforme Mazon (1992, p. 84):
27
A poluição dos oceanos, o buraco na camada de ozônio, o aumento da con-
centração dos gases geradores do efeito estufa e o desaparecimento de es-
pécies são fatos que nos lembram de uma lição fundamental: a capacidade
da biosfera e dos sistemas geoquímicos básicos de suportar intrusões hu-
manas é limitada. A escala da população e da atividade econômica já é tão
grande que os impactos ambientais que já foram locais e negligenciáveis
agora são globais e inevitáveis.

Para Comune (1994, p. 46),

As poluições ambientais são fenômenos objetivos, mensuráveis na maio-


ria dos casos, cujas características principais decorrem do fato de sempre
estarem relacionadas com danos que provocam ao meio ambiente. (...) As
poluições que provocam os mais graves problemas no meio urbano são a
poluição do ar, a da água, os resíduos sólidos (lixo) e o barulho.

Meio ambiente e poluição, entretanto, não são os únicos ter-


mos importantes para aprofundamento da discussão; vários outros tam-
bém o são e nos diversos fóruns onde o assunto é debatido nasceram,
entre outros, termos e expressões como desenvolvimento sustentável,
externalidades (aplicada ao meio ambiente), impacto ambiental.
Desenvolvimento sustentável: em um dos mais importantes
eventos sobre meio ambiente, a ECO-92, a expressão desenvolvimen-
to sustentável apresentou-se como de suma importância para futuras
decisões relativas ao meio ambiente. Embora existam várias definições
escritas com palavras diferentes, elas mantêm a mesma interpretação,
como exemplifica a seguinte formulação:
INTRODUÇÃO À ENGENHARIA AMBIENTAL - GRUPO PROMINAS

Desenvolvimento sustentável implica usar os recursos renováveis naturais


de maneira a não degradá-los ou eliminá-los, ou diminuir sua utilidade para
as gerações futuras. Implica usar os recursos minerais não renováveis de
maneira tal que não necessariamente se destrua o acesso a eles pelas gera-
ções futuras (BARONI, 1992, p. 16).

Implica ainda, conforme a definição adotada pela Comissão


Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (WCED), o desenvol-
vimento que satisfaz as necessidades do presente sem comprometer as
habilidades das futuras gerações de satisfazerem suas necessidades.
Crescimento sustentável: difere da abordagem econômica tra-
dicional de crescimento econômico; este último é orientado para a pro-
dução, por seu enfoque sobre o produto interno e limitações na quanti-
dade e qualidade dos fatores de produção; é uma visão quantitativa. O
crescimento sustentável, por sua vez, incorpora indicadores de Renda
Nacional voltada para o bem-estar, o que é uma visão qualitativa. A
28
questão pode ser melhor exemplificada quando se reporta ao vazamen-
to de óleo ocasionado pela Exxon, no Alasca. Nessa ocasião, embora
os danos ao meio ambiente tivessem sido desastrosos, diminuindo a
possibilidade de uso dos recursos naturais e econômicos no futuro, as
atividades de limpeza dessa área representaram um aumento do pro-
duto interno nos Estados Unidos, pois, como colocou Capra (1982, p.
220), os “custos sociais, como os de acidentes, litígios e assistência à
saúde, são adicionados como contribuições positivas para o PNB”.
Análise custo-benefício: corriqueiramente usada no trato da
questão ambiental, pressupõe exame sistemático e comparativo das
diversas alternativas de ação, buscando evidenciar qual a que trará me-
lhor resultado à organização.
Ocorre que essa análise, segundo Ferreira (2007), amplamen-
te usada na avaliação de projetos, tende a ser mais quantitativa do que
qualitativa. Em se tratando de meio ambiente, é necessário que a ela se
incorporem outros fatores de análise, pois a natureza do resultado a ser
obtido não é simplesmente o maior lucro, e sim, pode-se dizer, um lucro
ambientalmente correto. Este último deve ser entendido como o lucro
obtido nos casos em que os recursos utilizados não causam impacto
negativamente no meio ambiente.
Externalidade: é vista como o fato inquestionável de que qual-
quer atividade afeta, de modo favorável ou desfavorável, outras ativi-
dades ao longo do processo produtivo; é um processo em cadeia, que
pode ser analisado sob aspecto tecnológico ou monetário. Conforme
Comune (1994, p. 50),

INTRODUÇÃO À ENGENHARIA AMBIENTAL - GRUPO PROMINAS


Surge sempre que a produção ou o consumo de um bem tem efeitos parale-
los sobre os consumidores ou produtores envolvidos, efeitos estes que não
são plenamente refletidos nos preços de mercado.

Impacto ambiental: a mudança em um parâmetro ambiental,


sobre um período específico e em uma área definida, resultante de uma
atividade particular, comparada com a situação que deveria ter ocorrido
se a atividade não tivesse sido iniciada (WATHERN, 1988 apud FER-
REIRA, 2007).
Efeitos ambientais: são as consequências dessas mudanças
(os impactos).
Impactos diretos: são aqueles cujas consequências podem ser
diretamente identificadas com uma atividade em particular. Também
chamados de impactos primários.
Impactos indiretos: são aqueles cujas consequências não po-
dem ser diretamente identificadas com uma atividade em particular.
29
Também chamados de impactos secundários, terciários, etc.
A definição de um impacto ambiental deve levar em considera-
ção dois componentes específicos: o espacial e o temporal. O espacial
delimita em que extensão de área os efeitos daquele impacto serão
percebidos e o temporal delimita o tempo em que se espera que deter-
minado impacto venha a causar efeitos.
Isso se faz necessário porque uma emissão de gases, por
exemplo, pode estender-se por 2 ou 20 km, a partir do local de emissão,
dependendo das condições geográficas e climáticas, e seus efeitos po-
derão ser sentidos imediatamente, ou após dois anos da emissão.
Certificados negociáveis: a ideia básica é o desenvolvimento
de um sistema de emissão de certificados comercializáveis que visem
atingir uma redução ou mesmo a manutenção dos níveis atuais de po-
luição. Esses certificados habilitariam o seu detentor a negociar, em
mercado aberto, uma quantidade determinada de poluição referente
a seus próprios esforços para diminuir os impactos ambientais causa-
dos por suas atividades e que seriam uma possibilidade de a empresa
ressarcir-se dos custos incorridos para diminuir seu nível de poluição.
Essas certificações poderiam ser feitas por países, regiões ou empre-
sas. O valor de mercado desses títulos dependeria da necessidade dos
compradores de “comprar” o direito de poluir, em comparação com seus
próprios esforços (custos) para diminuir a poluição.
Essas ideias decorreram da necessidade de se criarem meca-
nismos para um desenvolvimento limpo e resultaram num acordo inter-
nacional denominado Protocolo de Kyoto. Assinado em 1997, somente
em fevereiro de 2005 pôde ser operacionalizado, com a assinatura do
INTRODUÇÃO À ENGENHARIA AMBIENTAL - GRUPO PROMINAS

número mínimo de países – a adesão ao Protocolo é voluntária. Seu


objetivo principal é promover o desenvolvimento sustentável com a re-
dução das emissões de gases de efeito estufa (GEEs).
Para isso, foram estabelecidos alguns critérios e mecanismos.
Os países que fazem parte do Protocolo foram divididos em dois grupos:
• os países desenvolvidos – considerados os maiores respon-
sáveis pelo nível de poluição atual e obrigados a reduzir suas emissões
de gases no período de 2008 a 2012 em 5% sobre o nível de emissões
que tinham em 1990; e,
• os países em desenvolvimento – cujo direito de alcançar me-
lhores condições sociais deve respeitar o meio ambiente. Essa divisão
incluiu no Anexo I do Protocolo, os países desenvolvidos e no Anexo II,
os países em desenvolvimento. Os que integram o Anexo I têm o compro-
misso ou obrigação de reduzir a emissão de gases e os incluídos no Ane-
xo II têm a oportunidade de desenvolver projetos que ajudem a preservar
e a melhorar as condições climáticas, reduzindo ou diminuindo os GEEs.
30
As formas encontradas para alcançar o objetivo do Protocolo
foram as seguintes:
• comércio de emissões – permite aos países do Anexo I ou suas
empresas que cumprirem a meta de redução comercializar o excedente
com outros países ou empresas pertencentes também ao Anexo I.
• mecanismos de flexibilização:
- implementação conjunta – permite a implementação em con-
junto de projetos de redução de emissão por países ou empresas do
Anexo I;
- mecanismos de desenvolvimento limpo (MDL) – permitem
o sequestro de carbono através de empreendimentos que reduzam o
efeito estufa; isso é conseguido, por exemplo, através da plantação de
florestas, cujas árvores têm a capacidade de estocar o carbono em seu
processo de crescimento, limpando, assim, o ar. Esses projetos podem
ser desenvolvidos por países não pertencentes ao Anexo I.
No Brasil, algumas empresas têm empreendimentos de reflo-
restamento que poderão habilitá-las a emitir esses certificados. Entre
elas a Peugeot e a Aracruz Celulose. Contudo, o primeiro projeto a re-
ceber autorização da ONU para a emissão de certificados é a NOVAGE-
RAR, em Nova Iguaçu, no Estado do Rio de Janeiro. Embora a princípio
pareça estranho negociar o direito de poluir, esse pode ser um caminho
viável para países em desenvolvimento (FERREIRA, 2007).
A expectativa é de que a venda desses títulos possa trazer re-
cursos que permitam desenvolvimento sustentável. Essa atividade, con-
tudo, deve ser vista com a devida prudência; as florestas, a longo prazo,
também podem trazer poluição, pelo processo de queima de madeira.

INTRODUÇÃO À ENGENHARIA AMBIENTAL - GRUPO PROMINAS

Meio ambiente é a expressão que se refere, na verdade, a


uma realidade complexa que abarca elementos naturais, sociais e
culturais.
Sua noção não está restrita ao ambiente natural, às reser-
vas ecológicas e às plantas, mas sim em um todo no qual o ser
humano e suas atividades estão inseridos.
Meio ambiente é o conjunto dos agentes físicos, químicos,
biológicos e dos fatores sociais susceptíveis de exercerem um
efeito direto ou mesmo indireto, imediato ou a longo prazo, sobre
todos os seres vivos, inclusive o homem (IBGE, 2004).
Embora já consagrada, a expressão “meio ambiente” é ob-
31
jeto de críticas. Conforme Sirvinskas (2002), a palavra meio refere-
-se àquilo que está no centro de alguma coisa, enquanto ambiente
indica o lugar em que os seres vivos habitam. No entanto, a ex-
pressão já está consagrada, e, de fato, o que importa é ter de forma
clara a ideia que a expressão encerra. Assim, a definição do meio
ambiente, que também foi apropriada pela legislação nacional, em-
bora criticada, reúne as seguintes características no que se refere
ao seu entendimento:
- meio ambiente natural – constituído pelo solo, água, ar
atmosférico, flora, fauna, biosfera etc.;
- meio ambiente artificial – formado por toda a complexi-
dade do espaço urbano e rural, seus prédios, indústrias, ruas, ár-
vores, loteamentos, logradouros públicos, plantações, usinas hi-
drelétricas etc.; e,
- meio ambiente cultural – integrado por todo o patrimônio ar-
tístico, histórico, turístico, paisagístico, arquitetônico etc., podendo-
-se acrescentar aqui as relações econômico-sociais de forma geral.
Será com base nesta visão, estabelecida de forma didáti-
ca, que buscar-se-á abordar as questões que circundam os atuais
problemas ambientais. Saliente-se, desde já, que o meio ambiente,
pela própria extensão da definição, não pode ser analisado de for-
ma isolada (tendo em vista a interação dos seus compartimentos),
mas sim observado numa perspectiva sistêmica a que forçosamen-
te a sua abordagem como bem da vida e da sociedade se reporta.
INTRODUÇÃO À ENGENHARIA AMBIENTAL - GRUPO PROMINAS

32
APLICAÇÕES DA ENGENHARIA
AMBIENTAL

Citamos na introdução as várias áreas de atuação do Engenhei- INTRODUÇÃO À ENGENHARIA AMBIENTAL - GRUPO PROMINAS

ro Ambiental. Não podemos nos furtar a apresentar algumas de suas apli-


cações, lembrando que embora nem todos os problemas sejam resolvi-
dos na base de cálculos, estes fazem parte da essência da engenharia.
São os cálculos, por meio de suas unidades e dimensões que
possibilitam descrever o mundo físico.

DIMENSÕES E UNIDADES

Como unidades básicas temos a força (F), massa (M), compri-


mento (L) e tempo (T). As derivadas são calculadas por meio da mani-
pulação aritmética de uma ou mais das dimensões fundamentais. Por
exemplo: velocidade (comprimento pelo tempo – C/T), volume (L3).
3333
Ao acrescentar unidades aos números que não são adimensio-
nais, são obtidos os seguintes benefícios práticos:
• redução da chance de cometer erros nos cálculos;
• redução do volume de cálculos e do tempo gasto na resolu-
ção dos problemas;
• abordagem lógica do problema, ao invés da mera lembrança
de fórmulas e de substituição de números nas mesmas;
• fácil interpretação do significado físico dos números utilizados.
Na resolução dos problemas, podem ser utilizados os dois sis-
temas de unidades mais comumente empregados.
1. SI - Formalmente chamado de Le Système Internationale d’Uni-
tés ou Sistema Internacional de Unidades informalmente chamado de SI.
2. AE – Ou Sistema Americano de Unidades de Engenharia.
O SI tem algumas vantagens sobre o sistema AE no que diz
respeito à menor quantidade de nomes associados às unidades e à
maior facilidade de conversão de um conjunto de unidades para outro.
As tabelas abaixo relacionam as dimensões e suas respectivas
representações para o SI e para o sistema AE.

Dimensões e Representações para o SI


INTRODUÇÃO À ENGENHARIA AMBIENTAL - GRUPO PROMINAS

Dimensões e Representações para o AE

34
No SI as unidades, com exceção do tempo, e seus múltiplos
e submúltiplos estão relacionados por fatores designados por prefixos
indicados na próxima tabela.

Prefixos mais utilizados do SI:

Problemas que não requerem soluções, estes podem ser solu-


cionados com base nos seguintes passos:
- definir cuidadosamente o problema;
- introduzir hipóteses simples;
- calcular uma resposta;
- checar a resposta, tanto sistemática quanto realisticamente.
Separação e balanço de materiais; reações, utilização de rea-
tores, fluxo e balanço de energia também são meios para que a enge-
nharia atinja seus objetivos.

SANEAMENTO, POLUIÇÃO HÍDRICA, TRATAMENTO DE ÁGUA

INTRODUÇÃO À ENGENHARIA AMBIENTAL - GRUPO PROMINAS


Várias são as doenças causadas por um meio ambiente polu-
ído e desequilibrado, pois normalmente há a presença de substâncias
tóxicas ou condições favoráveis à proliferação de microrganismos. Es-
ses são, muitas vezes, nocivos à saúde humana e responsáveis por epi-
demias e endemias. As transmissões de doenças causadas por agentes
biológicos podem ser por contado direto, através de vetores, de fontes e
de dejetos, daí a necessidade de saneamento (FREIRE, 2013).
Ao conjunto de medidas que visa preservar ou modificar as
condições do ambiente com a finalidade de prevenir doenças e pro-
mover a saúde, a qualidade de vida da população e melhorar a produ-
tividade do indivíduo, como o abastecimento de água e disposição de
esgotos, a coleta e tratamento do lixo, controle de animais e insetos,
saneamento de alimentos, escolas, locais de trabalho e de lazer e habi-
tações, dá-se o nome de saneamento.
As doenças de veiculação hídrica têm sua origem nos despe-
35
jos, pela falta de tratamento da água e do esgoto, ou na contaminação
da água por metais pesados e substâncias tóxicas, principalmente pela
atividade industrial e agrícola. Podemos citar como doenças de veicula-
ção a cólera, hepatite e dengue.
A falta de água e esgoto tratados são responsáveis pela maio-
ria das doenças gastrintestinais. São muitas as doenças de veiculação
hídrica, como a cólera, a hepatite e dengue.
A poluição, que é qualquer alteração no ambiente que pode
gerar impactos negativos, é o principal motivo da escassez de água,
pois a torna imprópria para diversos usos e são várias as causas para
a alteração das características químicas, físicas e biológicas da água.
A presença de matérias orgânicas provenientes de esgotos, que
normalmente são lançados aos corpos d'água sem nenhum tipo de tra-
tamento, o lançamento de resíduos sólidos como o lixo, metais pesados
provenientes de indústrias, detergentes não-biodegradáveis, materiais
radioativos e de substâncias tóxicas lançadas pela agricultura (agrotóxi-
cos e inseticidas), vazamento de depósitos ou dutos transportadores de
produtos químicos, o derramamento de derivados de petróleo, a variação
da temperatura e da coloração da água pelo despejo de indústrias, além
do solo contaminado, do desmatamento e da destruição de reservas na-
turais, são os maiores responsáveis pela degradação da água.
As matas ciliares, vegetações que se desenvolvem ao longo
do curso d'água, protegem as margens dos mananciais e dos rios, evi-
tando a erosão provocada pela chuva. Caso não haja essa proteção,
a profundidade do rio vai diminuindo e a velocidade de escoamento
de suas águas aumenta, favorecendo a erosão, enchentes em épocas
INTRODUÇÃO À ENGENHARIA AMBIENTAL - GRUPO PROMINAS

chuvosas, e a seca em épocas de estiagem.


A lixiviação de fertilizantes usados na agricultura, o despejo
de lixo e esgoto e o lançamento de efluentes industriais, contendo ni-
trogênio e fósforo, desencadeiam a eutrofização, que é um processo
no qual o acúmulo de nutrientes no corpo d'água favorece um enorme
crescimento de microrganismos que consomem rapidamente o oxigênio
dissolvido, fazendo com que a concentração do mesmo caia drastica-
mente, prejudicando as espécies aeróbicas, tornando o meio anaeróbi-
co, onde são produzidos gases, toxinas e odores desagradáveis. Pode
ocorrer, em alguns casos, a proliferação de algas, uma vez que há um
excesso de nutrientes e muita luz na superfície, sendo restritamente
esse local onde as algas são favorecidas (FREIRE, 2013).
Todas essas alterações ocasionam a morte de peixes e da
flora, e inadequação da água para outros fins, desequilíbrio ecológico,
alteração na estética do local. Dificultam o seu tratamento e consequen-
temente aumentam seu custo.
36
A princípio, um curso d'água é capaz de se autorrestabelecer
naturalmente, através de um processo de autodepuração, porém, o
grande crescimento da população juntamente com a ocupação desor-
denada do espaço territorial e a expansão industrial são responsáveis
pelo descarrego de toneladas de substâncias a cada ano, superando a
velocidade de autodepuração do rio.
Para a recuperação dos cursos d'água e para a garantia de
água para todos, são necessárias medidas diversas como a implanta-
ção de sistemas de coleta e tratamento de esgoto, tanto domésticos,
quanto industriais, sendo o primeiro de responsabilidade do órgão de
saneamento do município e o segundo de responsabilidade da própria
indústria (FREIRE, 2013).

RESÍDUOS, ATERROS CONTROLADOS, INCINERAÇÃO

Nos grandes centros, a coleta e acondicionamentos dos re-


síduos sólidos urbanos são decisivos para que tais resíduos não pre-
judiquem os cursos d'água, tanto por despejo nas águas quanto pelo
líquido percolado.
• Os resíduos urbanos, ou lixo doméstico, são materiais descar-
tados gerados por processos de origem residencial, comercial e pública,
sendo incluídos os de ruas e praças, que são denominados lixo de varri-
ção. São encontrados papel, papelão, vidro, latas, plásticos, trapos, folhas,
galhos e terra, restos de alimentos e madeira. O lixo, quando acondiciona-
do inadequadamente, pode transmitir doenças, direta (organismos patogê-
nicos nos resíduos) e indiretamente (pela água, solo e ar contaminados e

INTRODUÇÃO À ENGENHARIA AMBIENTAL - GRUPO PROMINAS


através de animais como mosca e ratos). Quando contém resíduos perigo-
sos, como produtos químicos nocivos ou oriundos de hospitais, representa
maior risco à saúde humana. A queima inadequada do lixo libera na atmos-
fera gases extremamente tóxicos com grave prejuízo à saúde.
• Resíduos da construção civil são provenientes de demolições
e restos de obras e solos de escavações. O entulho é geralmente um
material inerte passível de reaproveitamento, porém pode conter resí-
duos tóxicos como tinta e solvente.
• Os resíduos especiais são gerados em serviços de saúde
ou em indústrias, pois representam perigo à saúde pública e ao meio
ambiente e necessitam de especificidades quanto ao seu acondiciona-
mento, manuseio, transporte, tratamento e destino final.
• Materiais radioativos, medicamentos, inflamáveis, reativos e
tóxicos são exemplos desse tipo de resíduo. Constituem os resíduos
sépticos. São do tipo especiais e são produzidos em hospitais, clínicas,
37
laboratórios, farmácias, clínicas veterinárias e postos de saúde. Os re-
síduos assépticos destes locais, constituídos por papéis, restos da pre-
paração de alimentos, resíduos de limpezas gerais e outros materiais
que não entram em contato direto com pacientes ou com os resíduos
sépticos, são considerados como domiciliares.
Para a disposição final dos resíduos, há o aterro sanitário e o
aterro controlado. O aterro sanitário é a melhor solução para a destina-
ção final do lixo. O aterro controlado é um local utilizado para despejo do
lixo coletado, no estado bruto, com cuidado de, após a jornada de tra-
balho, cobri-lo com uma camada de terra, sem causar danos ou riscos
à saúde pública e à segurança, minimizando os impactos ambientais.
Porém ainda oferece grandes riscos ao meio ambiente (FREIRE, 2013).
O aterro sanitário é uma área projetada sob critérios de en-
genharia e normas operacionais específicas, onde o lixo doméstico é
depositado em camadas alternadas de lixo e solo, permitindo mantê-lo
confinado sem causar maiores danos ao ambiente, minimizando odo-
res, evitando incêndios e impedindo a proliferação de insetos e roedo-
res. São necessários, antes da construção do aterro, estudos geoló-
gicos, geotécnicos e topográficos para que a área a ser projetada no
aterro não comprometa o ambiente.
A incineração, que consiste na queima do resíduo em altas
temperaturas, tem a grande vantagem de reduzir o peso e o volume do
material, além da eliminação da matéria orgânica e consequentemente
a patogenicidade do resíduo, porém ainda é um método de altos custos.
O maior problema da incineração é a poluição do ar pelos gases
originados na combustão do lixo, sendo que, na maioria das vezes, não
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há quaisquer tratamentos desses gases, e a mão de obra não costuma


ser especializada, agravando ainda mais esse problema. Para a garantia
do ambiente, a combustão deve ser continuamente controlada, pois os
incineradores podem provocar a volatilização de metais pesados e formar
cinzas ricas em metais, principalmente mercúrio, chumbo e cádmio.
Os gases da incineração do lixo são o gás carbônico (CO2); dióxi-
do de enxofre (SO2); nitrogênio (N2); oxigênio (O2); água (H2O) e cinzas.
O lixo hospitalar deverá ser incinerado sempre que possível,
sendo o aterro sanitário a segunda opção. No caso do aterro sanitário,
deverá ser aterrado em valas especiais.
Quando o lixo é queimado indiscriminadamente em lixões, o
problema é ainda maior, lançando no ar fuligem e produtos canceríge-
nos na atmosfera vizinha ao lixão.
O lixão é um local onde os resíduos são jogados a céu aberto,
e não há qualquer tipo de tratamento ou condições adequadas de acon-
dicionamento, comprometendo o ambiente e a saúde pública. Ocorre a
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contaminação do solo e de lençóis freáticos pela percolação dos líquidos
formados pela decomposição inadequada do lixo, liberação descontrola-
da de gases, que podem ser combustíveis como o metano, proliferação
de vetores, espalhamento de lixo por ação do vento, e atração de animais
e pessoas, já que não há nenhum tipo de controle sobre a área.
As Usinas de Lixo (Usinas de Triagem) são instalações sim-
ples, onde funcionários com a ajuda de maquinários – esteira rolante,
eletroímãs e peneiras – separam os objetos recicláveis da massa prin-
cipal do lixo que será compostada ou aterrada (massa orgânica). Os
materiais separados na usina, devido à sujeira e contaminação, valem
muito menos no mercado de recicláveis que aqueles coletados seleti-
vamente. Sua operação tem custo alto, exigindo troca periódica de pe-
ças e um tempo “de descanso” para manutenção, sendo que o retorno
financeiro de uma usina é nulo (FREIRE, 2013).

COMPOSTAGEM, CONTAMINAÇÃO DOS SOLOS, DESCONTAMI-


NAÇÃO

A compostagem é um recurso para o aproveitamento dos res-


tos orgânicos do lixo doméstico ou resíduos agrícolas. A decomposição
biológica desses restos é induzida e otimizada através de técnicas de
controle de temperatura, umidade e aeração de pilhas desse rejeito,
favorecendo o crescimento e a atuação de microrganismos, garantindo
a estabilidade da pilha e evitando odores inconvenientes.
A decomposição se dá em algumas etapas. Na primeira, ocor-
re a decomposição da matéria orgânica facilmente degradável, há um

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grande aumento de temperatura (até os 70 graus) e, por esse aumento
de temperatura, são eliminados os microrganismos patogênicos, ovos
de parasitas e lavas de insetos. Essa etapa é de 10 a 15 dias.
Na segunda etapa, que é a etapa de semimaturação, a tempe-
ratura da pilha de rejeito abaixa para 35-45 graus e, durante cerca de
60 a 120 dias, as bactérias, os actinomicetos e os fungos continuarão a
atuar na decomposição da pilha.
Por último, ocorre a etapa da maturação/humificação, na qual
substâncias mais resistentes à decomposição como lignina e celulose
são transformadas em substâncias húmicas pelos pequenos animais
do solo como as minhocas. O húmus (composto) é formado pela maté-
ria orgânica mais resistente à decomposição pelos microrganismos. No
solo, elas vão sendo lentamente decompostas pelos microrganismos e
liberando nutrientes que são utilizados pelas raízes das plantas. Nessa
etapa, a temperatura está entre 25-30 graus.
39
Dessa decomposição resulta um composto orgânico biologi-
camente estável e pouco agressivo aos organismos do solo e plantas,
e é aplicado ao solo melhorando suas características e aumentando
a produção de vegetais, não ocasionando nenhum risco ao ambiente.
Esse composto também pode ser usado como corretivo orgânico, prin-
cipalmente de solos argilosos e arenosos, pobres em matéria orgânica.
A matéria orgânica deixa o solo mais fofo e leve, possibilitando que as
raízes utilizem a água e os nutrientes mais facilmente.
Quando não há um monitoramento adequado, corre-se o ris-
co de contaminação do solo pela infiltração do chorume e percolados.
Essa contaminação pode ocorrer pela adição de resíduos líquidos, só-
lidos, gasosos e águas contaminadas que modificam suas característi-
cas naturais e suas utilizações.
O solo atua frequentemente como um filtro, tendo a capaci-
dade de depuração e imobilizando grande parte das impurezas nele
depositadas. No entanto, essa capacidade é limitada.
Além da adição de substâncias, o solo sofre degradação por
meio da desertificação, uso de tecnologias inadequadas e destruição de
sua vegetação pelo desmatamento ou queimadas.
O uso de adubos sintéticos modifica consideravelmente as ca-
racterísticas do solo, já que nem as plantas nem os microrganismos do
solo conseguem absorver o excesso de nitrogênio e fósforo, aplicados
na maioria das vezes, em grandes quantidades e sem nenhum manejo.
O uso intensivo de agrotóxicos pode provocar acidez do solo,
grande concentração de metais pesados, acarretar a salinização do solo e
toxidade nas plantas. Eles podem ser pesticidas, fungicidas ou herbicidas.
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Há um aumento contínuo das doses de pesticidas, uma vez


que, pela falta de um manejo adequado, muitos insetos criam resistên-
cia a eles. Com as chuvas, esses produtos químicos infiltram-se no solo
e contaminam os lençóis d'água e escorrem para os rios. No homem,
esses produtos podem causar câncer e problemas no fígado.
O desmatamento ocorre como resultado das atividades eco-
nômicas, como a agricultura, ou para a pecuária, quando a vegetação
nativa é substituída por pasto, ou diretamente para o uso da madeira
como fonte de energia (lenha e carvão). Além de comprometer a biodi-
versidade, deixa os solos descobertos e expostos à erosão,
A desertificação atual é resultante da devastação, por meio de
queimadas, e a introdução de plantas rasteiras que não protegem o
solo contra a erosão e a exposição do sol. Ocorrendo a evaporação,
até em zonas mais profundas, essa água sobe à superfície e leva sais e
minerais que formam uma crosta impermeável, contribuindo ainda mais
para a erosão e o desgaste do solo. O uso intensivo do solo, juntamente
40
com a falta de técnicas de conservação e descanso, ocasiona a erosão
comprometendo a produtividade.
A irrigação mal conduzida provoca a salinização dos solos e
inviabiliza algumas áreas e perímetros irrigados. O problema tem sido
provocado tanto pelo tipo de sistema de irrigação, muitas vezes inade-
quado às características do solo, quanto, principalmente, pela maneira
como a atividade é executada.
A salinização é a degradação de terras férteis causada pelo
excesso sal. Por ação da evaporação, o sal contido no solo e em pedras
do subsolo se desloca através de espaços vazios existentes no solo
e atinge a superfície prejudicando a produção agrícola. Também pode
ocorrer um excesso de sais na camada superior do solo por carreamen-
to. A atividade agrícola intensiva, a ocupação indevida do solo nas áreas
urbanas e a retirada de material de áreas concentradas podem provocar
ainda processos erosivos.
A descontaminação de um solo pode ser in-situ, onde a des-
contaminação é feita no local, como a biorremediação, a injeção de ar e
a lavagem do solo, ou ex-situ, onde há a retirada do solo para tratamen-
to no biorreator ou landfarming, e o confinamento da área contaminada,
que é considerado um processo de solução provisória para o problema.
A lavagem do solo é um tratamento físico-químico onde a subs-
tância que contamina o solo é transferida para um aceitador de fase lí-
quida ou gasosa. Com isso ocorre a separação do solo e de seus conta-
minantes. Outro tratamento físico-químico é a injeção de ar, que acelera
o processo de degradação dos poluentes.
A biorremediação consiste na utilização de microrganismos

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para metabolizar os poluentes. Tanto o solo quanto a água contêm ele-
vado número de microrganismos que, gradativamente, vão se adequan-
do às fontes de energia e carbono do meio. Pode-se fazer as correções
das condições ambientais para que o metabolismos dos mesmos seja
otimizado, como a injeção de ar, controle de umidade, correção de pH
ou fornecimento de nutrientes.
Esses microrganismos podem ser nativos do solo ou introduzi-
dos estrategicamente para conseguir um melhor resultado, podendo ser
geneticamente modificados ou não. Esse tratamento biológico do solo
diminui os riscos para a saúde pública, bem como para o ecossistema
e, ao contrário da incineração ou dos métodos químicos, não interfere
nas propriedades naturais do solo.
A técnica ex-situ de landfarming é a disposição do resíduo no
solo. No caso de um solo contaminado, é a mistura do solo poluído com
um solo saudável, sob condições controladas para que haja a degrada-
ção e a imobilização dos contaminantes.
41
Os biorreatores são sistemas completamente fechados que
permitem o controle de emissões e possibilita, na maioria dos casos, a
redução do tempo de processo. A utilização de biorreatores permite o
monitoramento, maior controle das variáveis como a concentração ba-
lanceada de nutrientes, umidade, valor de pH e temperatura.
Algumas técnicas ainda possuem altos custos, e, mesmo com
as tecnologias atualmente disponíveis, uma parte dos solos contaminados
ainda não é passível de descontaminação, por causa de problemas como
emissões gasosas de alto risco e concentrações residuais muito elevadas.

POLUIÇÃO DO AR, GERAÇÃO DE ENERGIA

Várias outras atividades humanas, como a queima de combus-


tível fóssil e a queima do lixo, liberam, na atmosfera, toneladas de subs-
tâncias nocivas ao sistema respiratório e à pele.
A atmosfera é uma massa de gases onde permanentemente
ocorrem reações químicas. Ela absorve uma variedade de sólidos, gases e
líquidos provenientes de fontes naturais e industriais que podem se disper-
sar, reagir entre si ou com outras substâncias já presentes na atmosfera.
A quantidade e qualidade dos poluentes emitidos por fontes in-
dustriais dependem de vários fatores, como as matérias-primas e com-
bustíveis envolvidos no processo, a eficiência do processo, o produto
fabricado e o grau de medidas de controle de emissões, e influenciam
diretamente no tipo e concentração do poluente.
O padrão de qualidade do ar define as concentrações máximas
de um componente gasoso presente na atmosfera de modo a garantir a
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proteção da saúde e do bem-estar das pessoas.


São poluentes atmosféricos, as partículas totais em suspen-
são, as partículas inaláveis, a fumaça, o ozônio, os dióxido de nitrogênio
e de enxofre e o monóxido de carbono.
As medidas visando à redução de tais poluentes na atmosfera
são: diminuição da produção, substituição das matérias-primas e rea-
gentes, mudança dos processos e as operações; diminuição das quanti-
dades geradas, mudança dos combustíveis, boa manutenção dos equi-
pamentos, mudança dos processos e operações; diluição através de
chaminés elevadas (levando em conta o processo, a fonte geradora e
às condições meteorológicas); adequada construção e manutenção dos
edifícios, armazenamento dos produtos e adequada disposição de resí-
duos; concentrar os poluentes na fonte para tratamento efetivo antes do
lançamento na atmosfera; retenção dos poluentes após geração através
de equipamentos de controle de poluição do ar, como coletores secos,
42
coletores inerciais e gravitacionais, ciclones, lavador venturi, lavador de
leito, incineradores de gás, equipamentos absorventes e adsorventes.
Outra medida mitigadora é a utilização de gases que iriam po-
luir a atmosfera para a produção de energia.
O biogás é formado pela decomposição de resíduos orgânicos
depositados nos aterros e lixões e tem como um dos seus componentes
o gás metano (CH4). O metano é um dos principais gases causadores
do efeito estufa, fenômeno com elevado potencial de alterar o siste-
ma climático do planeta. A busca por fontes de energia renováveis vem
crescendo, porque as atuais formas de produção de energia trazem im-
pactos negativos para o ambiente e para a população.
No que diz respeito à produção de energia elétrica, diferentes
fontes de energia alternativa podem diversificar ou incrementar a matriz
energética atualmente existente, tais como a eólica, a solar, a biomassa
e também a proveniente do biogás.
A produção de energia nuclear obtém energia elétrica em larga
escala. Essa energia pode ser obtida através da fissão nuclear do urâ-
nio, do plutônio, do tório, ou da fusão nuclear do hidrogênio.
As usinas nucleares são usinas térmicas que aproveitam a ener-
gia do urânio e do plutônio. O principal impacto ambiental dessas usinas é
a geração de lixo atômico, para o qual não há meio de descontaminação.
A biomassa é uma forma indireta de aproveitamento da ener-
gia solar absorvida pelas plantas, já que resulta da conversão da luz
do sol em energia química. É a matéria orgânica, de origem animal ou
vegetal, que pode ser utilizada na produção energética, sendo pouco
poluente em comparação a outras formas de obtenção. Todos os orga-

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nismos biológicos que podem ser aproveitados como fontes de energia
são chamados de biomassa.
Entre as matérias-primas mais utilizadas estão a cana-de-açú-
car, a beterraba e o eucalipto (dos quais se extrai álcool), o lixo orgânico
(que dá origem ao biogás), a lenha e o carvão vegetal, além de alguns
óleos vegetais (amendoim, soja, dendê e mamona) dos quais são feitos
os biodieseis. O uso desse tipo de fonte renovável de energia está dimi-
nuindo a emissão de gases poluentes na atmosfera e não há a emissão
de dióxido de carbono.
As usinas térmicas produzem energia elétrica através de um
gerador que é impulsionado pela queima de combustível. Ao queimar,
o combustível aquece uma caldeira com água, produzindo vapor com
uma pressão tão alta que move as pás de uma turbina que, por sua
vez, aciona o gerador. O combustível para as usinas térmicas pode ser
carvão, óleo, gás natural e madeira.
Os principais impactos ambientais negativos de usinas térmicas
43
são a emissão de gases que contribuem para o efeito estufa, emissão de
óxidos de enxofre e nitrogênio (no caso de queima de carvão e óleo) e ge-
ração de resíduos nas atividades de manutenção de seus equipamentos.
A energia eólica é produzida através do acionamento de ge-
radores por pás movidas por massas de ar, gerando energia elétrica. A
energia dos ventos é considerada limpa, uma vez que é renovável e não
requer combustões que produzam resíduos poluentes nem a destruição
de recursos naturais.
Para que sua produção seja rentável, é necessário que o local
seja estrategicamente escolhido pela quantidade certa de ventos, e que
haja o agrupamento de aerogeradores, o que normalmente é dificultado
pelo seu alto custo.
Os principais impactos ambientais dos geradores eólicos são a
geração de ruídos, poluição visual, devido a seu grande porte e a inter-
ferência na rota de aves migratórias.
A energia solar consiste na conversão direta da luz do sol em
energia elétrica realizadas por painéis com células fotoelétricas, que
transformam a energia luminosa do sol em energia elétrica. O aprovei-
tamento da energia solar não é muito grande, pois o custo de produção
dos painéis é elevado.
A eletricidade a partir da luz solar causa baixo impacto ambien-
tal, por não gerar nenhum tipo de resíduo diretamente, sendo conside-
rada uma energia limpa, a qual restringe-se à matéria-prima necessária
para a construção dos painéis fotovoltaicos (FREIRE, 2012).
INTRODUÇÃO À ENGENHARIA AMBIENTAL - GRUPO PROMINAS

44
DECISÕES EM ENGENHARIA
AMBIENTAL

INTRODUÇÃO À ENGENHARIA AMBIENTAL - GRUPO PROMINAS


Qualquer projeto de engenharia, grande ou pequeno, inclui em
sua implantação uma série de decisões tomadas pelos engenheiros. Às
vezes, tais decisões revelam-se equivocadas e suas consequências po-
dem ser catastróficas, outras são corretas, sendo aprimoradas mostrando
a responsabilidade e comprometimento do engenheiro não só para com a
profissão, mas principalmente para com os seres vivos de maneira geral.
Como diz Gray (2000 apud VESELIND E MORGAN, 2011),
médicos normalmente só podem ferir uma pessoa por vez, ao passo
que engenheiros têm potencial para ferir milhares devido a sistemas
projetados incorretamente.
Pois bem, vamos iniciar as considerações acerca das decisões
em engenharia com um caso ocorrido na Pensilvânia, em 1948, que
ilustra uma decisão, digamos, errada.

4545
O Episódio Donora

Era uma típica tarde de outono no oeste da Pensilvânia, o céu


estava nublado e parado (Shrenk et al., 1949). Os moradores de Dono-
ra, pequena cidade às margens do Rio Monongahela, não prestaram
muita atenção àquilo que parecia ser um dia especialmente carregado.
Já tinham visto dias piores. Algumas pessoas lembravam-se de dias em
que o ar estava tão pesado que era possível ver a poluição pairando no
ar. Naquela tarde de sábado, as crianças se preparavam para o desfile
de Halloween, e os rapazes estavam envolvidos com os preparativos
para o jogo de futebol americano do colegial. O técnico do time adver-
sário era contra a realização do jogo. Afirmava que o técnico do Dono-
ra havia encomendado aquela nuvem de poluição que pairava sobre o
campo. Se alguém fizesse um passe, ninguém veria a bola e os jogado-
res da retranca não conseguiriam fazê-la reaparecer.
Foi um dia cinzento e nublado muito diferente: até o fim da noi-
te do dia 26 de outubro, 11 pessoas morreram e mais 10 morreriam nas
horas seguintes. A nuvem de poluição estava tão densa que os médicos
que atendiam os doentes perdiam-se no trajeto de uma casa para outra.
Na segunda-feira, quase metade da população da cidadezinha de 14
mil habitantes estava ou nos hospitais ou de cama em casa com fortes
dores de cabeça, vômitos e cólicas. Os animais domésticos sofreram
mais que todo mundo: os passarinhos morreram, e muitos cães e gatos
já estavam mortos ou agonizando. Até as plantas das casas sucumbi-
ram aos efeitos do smog (neblina esfumaçada).
Não havia ambulâncias nem hospitais suficientes, e muitas
INTRODUÇÃO À ENGENHARIA AMBIENTAL - GRUPO PROMINAS

pessoas morreram por falta de cuidados imediatos. Os bombeiros foram


acionados. Traziam tanques de oxigênio para atender apenas aqueles
que estivessem em piores condições. Como não havia oxigênio para
todo mundo, foram distribuindo o que tinha em doses reduzidas para
cada um e seguiam adiante para atender mais pessoas.
Quando a atmosfera finalmente clareou no dia 31 de outubro,
seis dias depois da intensa neblina e fumaça tóxica, restaram os rastros
de uma tragédia de imensas proporções (à medida que tragédias da
qualidade do ar começaram a ser conhecidas) e as consequências fo-
ram terríveis. A publicidade em torno do incidente em Donora provocou
uma conscientização sobre o controle da qualidade do ar nas comu-
nidades americanas. Segundo os funcionários da saúde, se a neblina
continuasse por mais uma noite, quase 10 mil pessoas teriam morrido.
Que fatores contribuíram para que essa tragédia ocorresse em
Donora?

46
Em primeiro lugar, Donora era uma cidade metalúrgica, com
três grandes fábricas instaladas: de aço, de fios e cabos, e de zinco
para galvanização dos cabos. As três fábricas juntas produziam fios
galvanizados. O transporte era feito pelo Rio Monongahela até os mer-
cados mundiais, e a disponibilidade de matérias-primas e mão de obra
confiável (em geral, importada da Europa oriental) tornou a cidade muito
próspera. Naquela tarde de sábado, quando a condição da qualidade do
ar na cidade ficou crítica, as fábricas diminuíram a produção, mas, apa-
rentemente, os administradores não perceberam que suas empresas
eram as responsáveis diretas pelas condições de saúde dos habitantes
de Donora. Apenas no domingo à noite, quando foram informados sobre
a tragédia, é que fecharam os fornos e as chaminés das fábricas.
Em segundo lugar, Donora está localizada às margens do Rio
Monongahela, com altos rochedos no entorno, formando uma bacia
com a cidade bem no meio (ilustrações abaixo).

INTRODUÇÃO À ENGENHARIA AMBIENTAL - GRUPO PROMINAS

Na noite de 25 de outubro de 1948, ocorreu uma inversão tér-


mica nas condições do vale.
Essa condição meteorológica, sem ter nada a ver com polui-
ção, limitou o movimento ascendente do ar e criou uma espécie de bar-
reira sobre o vale. Os poluentes emitidos pelas fábricas não consegui-
ram sair e ficaram presos sob a barreira, produzindo um nível crescente
de concentrações tóxicas.
47
As metalúrgicas alegaram que não eram responsáveis pelo aci-
dente. Na verdade, não se registrou nenhuma falha durante a investiga-
ção realizada. As empresas estavam operando de acordo com a lei e não
obrigavam nenhum operário a trabalhar em suas fábricas, ou morar em
Donora. Na falta de legislação específica, as empresas não se sentiram
obrigadas a pagar pelo equipamento para combater a poluição, nem a
alterar seus processos de fabricação para reduzir a poluição do ar. Os
empresários acreditavam que, se fossem os únicos a pagar pelo equi-
pamento e por sua instalação para combater a poluição, estariam em
desvantagem competitiva e seriam obrigados a encerrar suas atividades.
A tragédia obrigou o estado da Pensilvânia e também o governo
federal a tomar uma atitude, que contou com o único e grande feito, en-
viando a Lei do Ar Limpo ao Congresso em 1955, mas apenas em 1972,
a lei federal começou a vigorar. Em Donora e nas imediações de Pittsbur-
gh, entretanto, ninguém nunca confirmou as péssimas condições do ar, o
que constituía um requisito para manter bons empregos e prosperidade.
A imprensa de Pittsburgh cobriu a tragédia de Donora com-
parando-a com uma fuga da cadeia. Até o início da década de 1950
havia o medo de que, se as pessoas protestassem contra a poluição,
as fábricas fechariam e não haveria emprego para mais ninguém. No
entanto, a fábrica de zinco, a principal responsável pela formação da
neblina tóxica, foi fechada apenas em 1957, e as outras duas só encer-
raram suas atividades dez anos mais tarde. Atualmente, Donora não se
parece mais com a antiga cidade, porém entrou para a história em razão
do significativo episódio que deu início à nossa atual mobilização na
direção do compromisso com o ar limpo (VESILIND; MORGAN, 2011).
INTRODUÇÃO À ENGENHARIA AMBIENTAL - GRUPO PROMINAS

A história acima ilustra como são importantes e, muitas vezes


cruciais, as decisões de engenharia, as quais perpassam por muitos
estudos e multidisciplinares.
Veremos a seguir algumas dimensões que envolvem as esco-
lhas e tomadas de decisões por parte dos engenheiros ambientais.

BASEADAS EM ANÁLISES TÉCNICAS

Em engenharia, raramente há “o melhor jeito” de se projetar al-


guma coisa. Se já houvesse um melhor jeito, a engenharia se estagnaria,
a inovação cessaria e a paralisia técnica iria se estabelecer. Assim como
temos de reconhecer que não há uma única obra de arte perfeita, como,
por exemplo, uma pintura, também não existe uma instalação perfeita de
tratamento de água. Se houvesse uma pintura ou uma instalação perfeita,
todas as instalações de tratamento do futuro se pareceriam com ela, as-
48
sim como todas as pinturas seriam iguais (VESILIND; MORGAN, 2011).
Até pouco tempo, por exemplo nas avalições escolares, tínha-
mos apenas uma questão certa dentre as opções. As demais eram erra-
das. Esse conceito, esse modo de “ensinar” felizmente tem mudado. Hoje
é preciso analisar, interpretar e vários podem ser os caminhos para se
chegar a um consenso, a um modo de resolver determinados problemas.
Na prática da engenharia, muitas decisões técnicas podem es-
tar certas, de modo que um problema pode apresentar várias soluções
técnicas igualmente corretas. Por exemplo, um esgoto pode ser cons-
truído com concreto, ferro fundido, aço, alumínio, porcelana, vidro e
muitos outros materiais. Com os procedimentos adequados de projetos
de engenharia, esse esgoto permitiria a descarga do fluxo e, portanto,
seria tecnicamente correto.
As decisões técnicas têm como característica a possibilidade
de ser verificadas por outros engenheiros. Antes que um desenho de
projeto deixe o escritório de engenharia, ele é verificado várias vezes
para assegurar que as decisões técnicas estejam corretas; ou seja, se
estrutura/máquina/processo funcionarão como desejado se tudo for
construído conforme as especificações. As decisões técnicas, portanto,
são claramente calculadas e podem ser avaliadas e verificadas por ou-
tros profissionais competentes.
Ao executarmos análises técnicas, frequentemente, não dispo-
mos de todas as informações necessárias para tomar decisões. Portan-
to, é necessário fazer suposições. Estas, é claro, devem ser realizadas
a partir dos melhores dados disponíveis, com uma pitada (às vezes ge-
nerosa) de bom-senso. Por exemplo, ao estimarmos a taxa de geração
de resíduos sólidos de uma comunidade, seria melhor coletar dados

INTRODUÇÃO À ENGENHARIA AMBIENTAL - GRUPO PROMINAS


sobre a geração naquela comunidade (por exemplo, através de análise
dos registros dos coletores de lixo) em vez de confiar em médias nacio-
nais, pois cada comunidade é única. Além disso, os engenheiros nor-
malmente não projetam sistemas que durem apenas um ou dois anos;
portanto, as projeções devem ser feitas a partir da população futura da
comunidade e de padrões de geração de resíduos.
Evidentemente, as pressões da prática moderna exigem não
apenas que as decisões de engenharia sejam efetivas (ou seja, fun-
cionem), mas também que sejam econômicas (funcionem a um custo
mínimo). Nesse sentido, enquanto os cálculos técnicos são capazes de
resolver questões técnicas, as questões de custo exigem uma forma
diferente de tomada de decisões em engenharia – a análise econômica.

49
BASEADAS EM ANÁLISES ECONÔMICAS

Normalmente, os engenheiros trabalham para um empregador


ou cliente o qual exige que várias alternativas para a solução de um pro-
blema de engenharia sejam analisadas com base nos custos. Por exem-
plo, se um engenheiro municipal está considerando a compra de veículos
de coleta de refugos e descobre que pode adquirir caminhões caros com
capacidade de grande compactação dos resíduos, tornando, assim, a
viagem ao aterro mais eficiente, ou caminhões baratos que exigem mais
viagens ao aterro, como ele saberá qual é menos dispendioso para a co-
munidade? Obviamente, a alternativa de menor custo total (com todos os
dados de custos fornecidos) seria a decisão mais racional.
Além das dificuldades de estimar os custos necessários, a aná-
lise econômica é complicada devido ao fato de que o dinheiro muda de
valor com o tempo. Aqui podemos citar a questão da inflação, dos inves-
timentos mais rentáveis (aplicar para render mais dinheiro ou aplicar em
uma obra, por exemplo).
De modo similar, não faz sentido algum somar os custos ope-
racionais anuais de uma instalação ou peça de equipamento no período
correspondente (em anos, no caso) à toda a vida útil do equipamento,
pois, novamente, os valores serão diferentes a cada ano e a soma des-
ses valores seria como somar maçãs e laranjas, uma vez que o dinheiro
muda de valor com o tempo. Por exemplo, se uma comunidade gastar
R$ 4.000,00 para operar e manter um caminhão de coleta de lixo du-
rante um ano e R$ 5.000,00 no ano seguinte, a comunidade precisará
de menos de R$ 9.000,00 investidos para cobrir as despesas (o mesmo
INTRODUÇÃO À ENGENHARIA AMBIENTAL - GRUPO PROMINAS

conceito se aplica à poupança pessoal para futuras despesas como fa-


culdade ou aposentadoria).
Essa questão pode representar um problema para as comuni-
dades que estão tentando apenas compreender quanto custa construir
instalações ou operar serviços públicos.
A técnica utilizada para contornar essa dificuldade é comparar
os custos de diversas alternativas com base no custo anual ou no valor
presente do projeto. No cálculo do custo anual, todos os custos repre-
sentam o dinheiro de que a comunidade precisa anualmente para ope-
rar determinada instalação e recompor o débito. Os custos operacionais
são estimados ano a ano e os custos de capital são calculados como as
reservas anuais necessárias para cobrir os débitos durante a vida útil
esperada do projeto.
No caso do cálculo do valor presente, os custos de capital são
as reservas necessárias para construir as instalações e os custos ope-
50
racionais são calculados como se o dinheiro a ser pago por elas esti-
vesse disponível hoje e fosse depositado no banco para ser utilizado
pela operação durante sua vida útil esperada. Um projeto com um custo
operacional mais alto exigiria um investimento inicial maior para se ter
reservas suficientes, a fim de pagar o custo de operação.
O método do custo anual ou o do valor presente são, na maioria
dos casos, um método aceitável de comparação entre diferentes soluções
alternativas. A conversão de custo de capital em custo anual e o cálculo
do valor presente do custo operacional podem ser executados de modo
mais rápido utilizando-se tabelas (ou calculadoras pré-programadas).

BASEADAS EM ANÁLISES DE CUSTO/BENEFÍCIO

Na década de 1940, o Bureau of Reclamation (agência res-


ponsável pelo gerenciamento de águas, que, no Brasil, corresponde ao
Departamento de Gerenciamento de Águas) e o Corpo de Engenheiros
do Exército dos EUA disputaram os dólares dos cofres públicos em sua
busca por represar todos os rios com fluxo livre de água no país.
Para convencer o Congresso da necessidade de projetos impor-
tantes de armazenamento de água, foi desenvolvida uma técnica chama-
da análise de custo-benefício. Esse processo mostrou-se tão útil quanto
fácil. Ao se considerar um projeto, compara-se uma estimativa de seus
benefícios decorrentes com os custos incorridos, por meio do valor obtido
pela divisão dos benefícios pelos custos. Se essa razão custo-benefício
for maior do que 1,0, o projeto é claramente viável, sendo que os projetos
com os quocientes custo-benefício mais altos devem ser construídos pri-

INTRODUÇÃO À ENGENHARIA AMBIENTAL - GRUPO PROMINAS


meiro, pois fornecerão maior retorno sobre o investimento. Submetendo
seus projetos a essa análise, o Bureau e o Corpo de Engenheiros pude-
ram argumentar em favor de um aumento nos gastos dos fundos públicos
e conseguiram classificar os projetos propostos em ordem de prioridade.
Como no caso da análise econômica, os cálculos nas análises
de custo-benefício, são expressos em termos monetários. Por exemplo,
os benefícios de um canal poderiam ser calculados como economias
monetárias em custos de transporte. Mas, alguns benefícios e custos
(como ar limpo, flores, rafting, odores ruins, poluição de lençóis freáti-
cos e ruas sujas) não são facilmente expressos em termos monetários.
No entanto, tais benefícios e custos são muito reais e de algum modo
devem ser incluídos na análise. Uma solução é simplesmente forçar a
atribuição de valores monetários a esses benefícios.
Na estimativa de benefícios de lagos artificiais, por exemplo,
as vantagens recreacionais são calculadas prevendo-se quanto as pes-
51
soas estariam dispostas a pagar para utilizar essas instalações. Há,
é claro, muitas dificuldades em usar essa técnica. O valor atribuído a
um real varia substancialmente de pessoa para pessoa, e algumas se
beneficiam mais de projetos públicos do que outras, mas todos compar-
tilham o custo. Devido aos problemas envolvidos na estimativa desses
benefícios, eles podem ser exagerados para aumentar o quociente cus-
to-benefício. Assim, é possível justificar, praticamente, qualquer projeto
em função de benefícios que podem ser ajustados conforme a necessi-
dade (VESILIND; MORGAN, 2011).

BASEADAS EM ANÁLISES DE RISCO

Com frequência, os benefícios de um projeto proposto não são


itens simples, como valores recreacionais, mas trazem preocupações
mais sérias de saúde humana. Quando a vida e a saúde entram nos cál-
culos de custo-benefício, as análises são classificadas de análises de
risco/custo/benefício para indicar que há pessoas em risco. Nos últimos
anos, ficaram mais conhecidas como análises de risco.
Essa análise é dividida ainda em avaliação de risco e geren-
ciamento de risco. A primeira envolve um estudo e análise dos efeitos
potenciais de certas ameaças à saúde humana. Utilizando informações
estatísticas, a avaliação de risco objetiva ser uma ferramenta para pro-
porcionar informações adicionais importantes à tomada de decisões.
O gerenciamento de risco, por outro lado, é o processo de redução de
riscos considerados inaceitáveis.
Em nossa vida diária, aplicamos os dois casos continuamente.
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Fumar cigarros é um risco para nossa saúde e é possível calcular seus


potenciais efeitos. Parar de fumar é um método de gerenciamento de
risco, pois seu efeito é reduzir o risco de morrer de certas doenças. De
fato, o risco de morrer por qualquer motivo é de 100%. A profissão mé-
dica ainda não salvou ninguém da morte. A questão, portanto, é quando
a morte irá ocorrer e qual será sua causa. Há três modos de se calcular
o risco de morrer devido a uma determinada causa.
Primeiro, o risco pode ser definido como o quociente do número
de mortes em uma dada população exposta a um poluente pelo núme-
ro de mortes em uma população não exposta a determinado poluente.
Isso corresponde a Risco = D1 / D0, onde D1 = número de mortes em
uma dada população exposta a um poluente específico por unidade de
tempo, Do = número de mortes em uma população de tamanho similar
não exposta ao poluente por unidade de tempo.
Um segundo método de se calcular riscos é determinar o nú-
52
mero de mortes em razão de várias causas por população e comparar
esses quocientes. Ou seja: D Risco relativo de morrer da causa A = DA /
P, onde DA = número de mortes devido à uma causa A em uma unidade
de tempo; P = população.
Alguns riscos são aceitos por nossa escolha, enquanto outros são
impostos externamente a nós. Escolhemos, por exemplo, beber álcool, di-
rigir carros ou voar de avião. Cada uma dessas atividades apresenta um
risco calculado, pois todos os anos morrem pessoas em consequência do
abuso de álcool, acidentes de carros e de aviões. A maioria de nós pondera
subconscientemente esses riscos e decide arriscar. Normalmente, as pes-
soas são capazes de aceitar certos riscos se a probabilidade de morte de-
vida à causa do risco for da ordem de 0,01, ou seja, 1% do total das mortes
seja atribuído à respectiva causa (VESILIND; MORGAN, 2011).
Alguns riscos, no entanto, decorrem de imposições externas
e pouco podemos fazer em relação a eles. Por exemplo, a expectativa
de vida de pessoas que vivem em atmosferas urbanas poluídas é, con-
sideravelmente, menor do que a de pessoas que vivem experiências
idênticas, mas respirando ar puro. Não há muito a fazer sobre esse
risco (exceto mudar-se), no entanto, trata-se do tipo de risco de que as
pessoas mais se ressentem.
De fato, estudos mostraram que a aceitabilidade de um risco
involuntário é de ordem 1.000 vezes menor do que a aceitabilidade de
um risco voluntário. Esse comportamento humano pode explicar porque
as pessoas que fumam cigarro ainda assim reclamam da qualidade do
ar ou por que as pessoas dirigem embriagadas indo a uma audiência
pública para protestar contra a construção de um aeroporto devido ao

INTRODUÇÃO À ENGENHARIA AMBIENTAL - GRUPO PROMINAS


medo de um acidente aéreo.
Algumas agências federais e estaduais utilizam uma análise
de risco modificada em que o benefício é uma vida salva. Por exemplo,
se um certo tipo de guard-rail de autoestradas deve ser instalado, é
possível que seu uso reduza de algum número a expectativa de fatali-
dades nessa via. Se um valor foi atribuído a cada vida, o benefício total
pode ser calculado como o número de vidas salvas vezes o valor de
uma vida. Estabelecer esse número é tanto uma decisão de engenharia
como de política pública, respondendo, idealmente, à opinião pública.
A verdade é que os cálculos de risco estão repletos de incer-
teza. Por exemplo, o relatório da Academia Nacional de Ciências sobre
sacarina conclui que, durante os próximos 70 anos, a expectativa de
casos de câncer de bexiga em humanos decorrente de exposição diária
a 120 mg de sacarina, nos EUA, pode variar de 0,22 a 1.144.000 casos.
Esse é um intervalo bastante impressionante, mesmo em toxicologia. O
problema, obviamente, é que temos de extrapolar dados com diferenças
53
de muitas outras ordens de magnitude e que, frequentemente, não são
de humanos, mas de outras espécies, exigindo, assim, uma conversão.
No entanto, as agências governamentais encontram-se cada vez mais
na situação de ter de tomar decisões com base nesses dados espúrios
(VESILIND; MORGAN, 2011).

a) Procedimento de análise de risco ambiental

A análise de risco ambiental se dá em diferentes etapas.


1. Definir a fonte e o tipo do poluente em questão. De onde ele
vem? De que poluente se trata?
2. Identificar os modos e as taxas de exposição. Como chega
até os seres humanos e como pode causar problemas de saúde?
3. Identificar os receptores em questão. Quem são as pessoas
em risco?
4. Determinar o potencial de impacto do poluente à saúde do
receptor. Ou seja, definir a relação dose-resposta ou os efeitos adver-
sos observados em doses específicas.
5. Decidir qual é o impacto aceitável. Que efeito é considerado
baixo o suficiente para ser aceitável ao público?
6. Com base no efeito permissível, calcular o nível aceitável para
o receptor e, em seguida, calcular as emissões máximas permitidas.
7. Se a emissão ou descarga for atualmente (ou planeja-se que
seja) maior do que o máximo permitido, determinar qual tecnologia é
necessária para garantir que esse limite não seja superado.
A definição da fonte e do tipo de poluente, geralmente, é mais difí-
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cil do que possa parecer. Suponha que uma usina de tratamento de um re-
síduo perigoso será construída próxima a uma área povoada. Que tipos de
poluentes devem ser considerados? Se a usina for misturar e combinar vá-
rios resíduos perigosos durante a redução de sua toxicidade, quais produ-
tos desse processo devem ser avaliados? Em outros casos, a identificação
tanto do poluente como de sua fonte constitui um problema simples, como
o da produção de clorofórmio durante a adição de cloro à água potável ou o
da gasolina de um vazamento de tanque de armazenamento subterrâneo.
A definição do modo pode ser razoavelmente direta, como no
caso da cloração da água. Em outras situações, como o efeito do chum-
bo atmosférico, o poluente pode entrar no corpo humano de várias for-
mas, incluindo alimentação, pele e água.
A definição do receptor pode causar dificuldade, uma vez que
nem todos os seres humanos apresentam o tamanho e a altura padrão.
A Agência de Proteção Ambiental (EPA, Environmental Protection Agen-
54
cy) dos EUA tentou simplificar essas análises, sugerindo que todos os
seres humanos adultos tivessem 70 kg, vivessem por 70 anos, bebes-
sem 2 litros de água diariamente e respirassem 20 m3 de ar todos os
dias. Esses valores são utilizados para a comparação de riscos.
A definição do efeito é uma das etapas mais difíceis na análise
de risco, pois presume certa resposta do corpo humano aos diferentes
poluentes. Tornou-se lugar-comum considerar dois tipos de efeitos: os
cancerígenos e os não cancerígenos.
Assume-se que a curva de dose-resposta de substâncias tóxi-
cas não cancerígenas seja linear em função de um limiar. Como apre-
sentado na curva A da Figura abaixo, uma baixa dose de determinada
toxina não causaria problemas mensuráveis; entretanto, qualquer au-
mento maior do que o limiar terá um efeito prejudicial. Considera-se
aceitável, por exemplo, a ingestão de certa quantidade de mercúrio,
pois é impossível mostrar que ela tenha qualquer efeito prejudicial sobre
a saúde humana. No entanto, altas doses apresentam, documentada-
mente, impactos negativos.
Algumas toxinas, como o zinco, são, na verdade, nutrientes
necessários para nosso sistema metabólico e, portanto, para a saúde. A
ausência dessas substâncias químicas em nossa dieta pode ser preju-
dicial, mas altas doses podem ser tóxicas. Um exemplo disso é a curva
B na mesma ilustração.
A curva de dose-resposta de produtos químicos que causam
câncer ainda está em discussão. Algumas autoridades sugerem que a
curva seja linear, partindo de efeito zero em concentração zero, com o
efeito danoso aumentando linearmente como apresentado na curva C

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da ilustração. Toda dose finita de um cancerígeno pode causar um au-
mento finito na incidência de câncer. De um ponto de vista alternativo,
o corpo é resistente a pequenas doses de cancerígenos e há um limiar
abaixo do qual não há efeito adverso (similar à curva A).

b) Gerenciamento do risco ambiental

Se é de responsabilidade do governo proteger as vidas de seus


cidadãos contra invasões estrangeiras e ataques criminosos, é igual-
mente sua responsabilidade proteger a saúde e a vida de seus cidadãos
de outros perigos potenciais, como a queda de pontes e os poluentes
tóxicos do ar. No entanto, o governo possui um orçamento limitado, por
isso espera-se que esse dinheiro seja distribuído de modo a atingir os
maiores benefícios de saúde e segurança. Se dois produtos químicos
estiverem colocando as pessoas em risco, é racional despender fundos
55
e esforços para eliminar a substância que apresente o maior risco.
Contudo, isso é realmente o que desejamos? Suponha, por
exemplo, que seja mais eficiente economicamente gastar mais dinheiro
e recursos para tornar as minas de carvão mais seguras do que para
executar missões heroicas de resgate em caso de acidentes. Pode ser
mais “eficiente em relação a riscos” empregar o dinheiro disponível em
segurança, eliminar todas as equipes de resgate e, simplesmente, acei-
tar os poucos acidentes inevitáveis que ocorrerão. Porém, como não
haverá mais equipes de resgate, os mineradores presos por algum aci-
dente serão deixados a sua própria sorte. No entanto, o efeito líquido
geral seria que menos vidas de mineradores de carvão serão perdidas.
Mesmo que essa conclusão fosse eficiente em relação aos ris-
cos, nós a consideraríamos inaceitável. A vida humana é considerada
sagrada. Esse valor não significa que infinitos recursos devam ser dirigi-
dos para salvar vidas, mas que, em vez disso, um dos rituais sagrados
de nossa sociedade é tentar salvar pessoas em necessidade aguda ou
crítica, como vítimas de acidentes de trânsito, mineradores de carvão
presos em minas, entre outros. Assim, o cálculo puramente racional,
como o do exemplo dos mineradores acima, pode não nos levar a con-
clusões que consideremos aceitáveis (VESILIND; MORGAN, 2011).
Nessas análises de risco, os benefícios geralmente são ape-
nas para os seres humanos e constituem benefícios de curto prazo.
De modo similar, os custos determinados em uma análise econômica
de custos constituem custos orçamentários reais, dinheiro que provém
diretamente dos bolsos da agência.
Os custos relacionados à degradação ambiental e os custos
INTRODUÇÃO À ENGENHARIA AMBIENTAL - GRUPO PROMINAS

de longo prazo, que são muito difíceis de quantificar, não são incluídos
nesses cálculos. O fato de que os custos ambientais e de longo prazo
ainda não possam ser considerados nessas análises, aliado ao clamo-
roso abuso de análises de custo-benefício pelas agências governamen-
tais, torna necessário aplicar outra ferramenta de tomada de decisões
– a análise de impacto ambiental.

BASEADAS EM ANÁLISES DE IMPACTO AMBIENTAL

Mais uma vez tomando por base exemplos americanos citados


por Vesilind e Morgan (2011), em 12 de janeiro de 1970, o Presidente
Nixon assinou a Lei de Política Ambiental Nacional dos EUA (NEPA,
National Environmental Policy Act), que tinha como intuito “encorajar
a harmonia produtiva e agradável entre o homem e seu meio ambien-
te”. Como em outras legislações criativas e inovadoras, a lei continha
56
muitas cláusulas que eram difíceis de implantar na prática. No entanto,
essa lei forneceu o modelo de legislação ambiental logo adotado pela
maior parte do mundo ocidental.
A NEPA estabeleceu o Conselho de Qualidade Ambiental (CEQ,
Council on Environmental Quality), que deveria vigiar as atividades fede-
rais que afetassem o meio ambiente. O CEQ era diretamente subordinado
ao presidente. A forma pela qual esse conselho monitoraria as atividades
federais significativas em relação ao impacto sobre o meio ambiente era
um relatório chamado avaliação de impacto ambiental (EIS, Environmen-
tal Impact Statement). Essa cláusula da NEPA pouco considerada, inseri-
da na Seção 102, estipula que a EIS deve constituir inventário, análise e
avaliação do efeito de um projeto planejado sobre a qualidade ambiental.
A EIS deve ser escrita primeiro em minuta pela agência federal
em questão e para cada projeto significativo, em seguida, essa minuta
deve ser submetida à opinião pública. Por fim, o relatório é reescrito, le-
vando-se em consideração o sentimento do público e os comentários de
outras agências governamentais. Quando concluída, a EIS é submetida
ao CEQ (hoje Secretaria de Política Ambiental da Casa Branca) que,
então, deve fazer uma recomendação ao presidente sobre a sensatez
de se implantar o projeto.
O impacto da Seção 102 da NEPA sobre as agências federais
foi traumático, pois não haviam sido providas com mão de obra ou trei-
namento, nem preparadas “psicologicamente” para aceitar essa nova
restrição (como elas a viam) em suas atividades. Assim, os primeiros
anos da EIS foram tumultuados, com muitas disputas sobre a adequa-
ção dos relatórios de impacto ambiental levadas à Justiça.

INTRODUÇÃO À ENGENHARIA AMBIENTAL - GRUPO PROMINAS


O conflito, é claro, surgia quando a alternativa econômica ou
aquela com maior quociente custo-benefício, resultava também no
maior impacto ambiental adverso. As decisões precisavam ser toma-
das e, frequentemente, o custo-benefício vencia o impacto ambiental. É
importante, no entanto, que, a partir de 1970, a consideração do efeito
do projeto sobre o meio ambiente passou a ser obrigatória, enquanto,
antes disso, tais preocupações não eram sequer reconhecidas, que dirá
incluídas em processos de tomada de decisões.
As agências governamentais tendem a conduzir estudos inter-
nos de impacto ambiental e propor apenas os projetos que apresentem
tanto um quociente custo-benefício alto como baixo impacto ambiental
adverso. A maioria das avaliações de impacto ambiental são, dessa ma-
neira, escritas como a justificação de uma alternativa que já foi selecio-
nada pela agência.
Uma reorganização na Casa Branca resultou na extinção do
Conselho de Qualidade Ambiental e o estabelecimento de uma Secre-
57
taria de Política Ambiental da Casa Branca. Essa secretaria executa
as funções do CEQ, bem como estabelece a política ambiental em seu
mais alto nível. É importante notar que a abolição do CEQ e a criação
da nova Secretaria não altera a necessidade de se revisar as minutas
de EISs, aplicando-se ainda as exigências da NEPA.
Embora o antigo CEQ tenha desenvolvido algumas diretrizes
praticamente completas para a EIS, o formato dessa avaliação ainda é
variável e julgamentos e informações qualitativas consideráveis (alguns
diriam prejulgamentos) entram em todas as EISs. Cada agência parece
ter desenvolvido sua própria metodologia dentro das restrições das dire-
trizes do CEQ, tornando-se difícil alegar que um formato seja superior a
outro. Como não há EIS padrão, a discussão a seguir é uma descrição
das várias alternativas dentro do modelo geral. Sugere-se que a EIS
deve ter três partes: inventário, análise e avaliação.
a) Inventário
A primeira tarefa na elaboração de uma EIS é a coleta de dados,
como informações hidrológicas, meteorológicas e biológicas. Uma rela-
ção das espécies de plantas e animais na área em questão, por exemplo,
deve ser incluída no inventário. Não deve ser feita nenhuma decisão nes-
se estágio, pois todos os aspectos levantados pertencem ao inventário.
b) Análise
O segundo estágio constitui a parte analítica. Trata-se da parte
mecânica da EIS, na qual os dados coletados no inventário são inseri-
dos em mecanismos de avaliação e os números são processados ade-
quadamente. Muitas metodologias de análise já foram sugeridas; como:
a. importância do impacto;
b. magnitude do impacto;
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c. natureza do impacto (se negativo ou positivo).


c) Avaliação
A comparação dos resultados do procedimento de análise e o de-
senvolvimento das conclusões finais estão inseridos na avaliação. É im-
portante reconhecer que as duas etapas anteriores, inventário e análise,
constituem processos simples e diretos em comparação com a etapa final,
que exige julgamento. Durante a etapa do desenvolvimento da EIS, as con-
clusões são escritas e apresentadas. Normalmente, o leitor da EIS lê ape-
nas as conclusões e nunca se preocupa em rever todos os pressupostos
que entram nos cálculos de análise, sendo importante incluir na avaliação
o teor de tais cálculos e enfatizar o nível de incerteza da etapa de análise.

58
BASEADAS EM ANÁLISE ÉTICA

De acordo com o senso comum, uma pessoa ética é uma pes-


soa com altas qualidades. Similarmente, considera-se uma pessoa mo-
ral quando a mesma tem determinadas opiniões convencionais sobre
sexo. Concepções incorretas.
A moral constitui os valores que as pessoas escolhem para orien-
tar o modo como devem tratar umas às outras. Um valor moral, nesse
sentido, pode ser falar a verdade, e, desse modo, algumas pessoas esco-
lherão ser sinceras. Tais pessoas são consideradas pessoas morais com
relação à verdade por agirem de acordo com suas convicções morais. Se,
no entanto, uma pessoa não der valor à sinceridade, dizer a verdade será
irrelevante e essa pessoa não terá um valor moral relacionado à sincerida-
de. Na verdade, é possível manter uma perspectiva moral de que sempre
se deve mentir e, nesse caso, uma pessoa seria considerada moral se
mentisse, pois assim ela estaria agindo conforme sua convicção moral.
A maioria das pessoas racionais concordará que é muito me-
lhor viver em uma sociedade em que as pessoas não mintam, enga-
nem ou roubem. Certamente, existem sociedades em que essas coisas
ocorrem, mas, tendo escolha, a maioria das pessoas não gostaria de se
comportar desse modo e escolheria viver em sociedades em que todos
compartilhassem valores morais que fornecessem benefícios mútuos.
Embora seja bastante óbvio concordar que não é aceitável
mentir, enganar ou roubar, e que a maioria das pessoas não fará isso,
um problema muito mais difícil é decidir o que fazer quando surgem
conflitos entre valores. Por exemplo, suponha a necessidade de se

INTRODUÇÃO À ENGENHARIA AMBIENTAL - GRUPO PROMINAS


mentir para o cumprimento de uma promessa. Como podemos decidir o
que fazer quando os valores diferem? Em questões econômicas, ocorre
uma situação similar. Nesse caso, como decidimos qual projeto realizar
com recursos limitados? Conforme discutido anteriormente, utilizamos
a análise de custo-benefício. De que forma, então, tomar uma decisão
diante de conflitos de valores morais? Utilizando uma análise ética.
A ética fornece um modelo sistematizado de tomada de deci-
sões quando os valores entram em conflito. A seleção da natureza e da
função dessa ferramenta de tomada de decisões depende dos próprios
valores morais de quem a utiliza. Tanto a análise econômica como a de
custo-benefício são métodos para tomada de decisões com base (prin-
cipalmente) financeira.
A análise de risco calcula o potencial de danos à saúde e a
análise de impacto ambiental fornece meios para decidir com base em
efeitos de longo prazo sobre os recursos. De modo similar, a ética é um
59
modelo para a tomada de decisões; no entanto, os parâmetros de inte-
resse não são dinheiro ou dados ambientais, mas valores.
Disso decorre que, como a ética é um sistema de tomada de
decisões, uma pessoa ética é aquela que toma decisões com base em
um sistema ético. Qualquer sistema!
O aspecto mais importante de qualquer código ou sistema de
ética adotado por alguém é que se deve estar preparado para defen-
der que esse é um sistema que todos deveriam empregar. Se a defesa
desse sistema ético for ineficiente ou equivocada, ele será considerado
inadequado, e, assim, uma pessoa racional o abandonaria e buscaria
outro cuja adoção por todos pudesse ser defendida. Filosofias à parte,
vamos situar o engenheiro ambiental!
Os métodos de tomada de decisões disponíveis aos engenhei-
ros estendem-se dos mais objetivos (técnicos) aos mais subjetivos (éti-
cos). O método inerente de tomada de decisões é o mesmo em todos
os casos. O problema primeiro é analisado – separado e visto de muitas
perspectivas. Quando todos os números estão disponíveis e as variá-
veis estão avaliadas, as informações são sintetizadas em uma solução.
Então, essa solução é vista como um todo para checar se ela “faz senti-
do” ou, o que talvez seja mais importante, “pareça certa”. Esse processo
é particularmente válido nas decisões éticas, em que, raramente, há
números para comparação.
Conforme as decisões de engenharia passem de técnicas para
éticas, elas se tornam cada vez menos quantitativas e cada vez mais
sujeitas aos gostos pessoais, prejulgamento e preocupações do res-
ponsável pelas decisões. Seria razoável sugerir que em algum ponto
INTRODUÇÃO À ENGENHARIA AMBIENTAL - GRUPO PROMINAS

tais decisões deixam de ser verdadeiramente decisões de engenharia?


Não foram poucos os engenheiros importantes que defenderam elo-
quentemente as decisões técnicas como as únicas verdadeiras deci-
sões de engenharia. Outras preocupações devem ser deixadas a um
“tomador de decisões” indefinido, que presumidamente possua treina-
mento e bases para tais resoluções, das quais o engenheiro talvez não
seja capaz e, certamente, não é responsável, cabendo a este fornecer
apenas uma engenharia que funcione. Essa visão, é claro, libertaria o
engenheiro, de todo julgamento (não técnico) e o tornaria um robô vir-
tual inteligente, trabalhando às ordens de seu cliente ou empregador.
Sob tal argumento, as consequências sociais de suas ações (como elas
afetam a sociedade como um todo) são de pouco interesse, contanto,
que seu cliente ou empregador seja bem atendido.
Felizmente, a maioria dos engenheiros não aceita essa negligên-
cia. Reconhecemos que a engenharia, talvez mais do que outras profis-
sões, pode fazer diferença (lembrem a fala de Gray sobre médicos e en-
60
genheiros). Os projetos que envolvem mudança ambiental ou manipulação
precisarão, invariavelmente, dos serviços de um engenheiro profissional.
Estamos, assim, moralmente comprometidos, como talvez uma engrena-
gem indispensável na roda do progresso, para buscar as melhores solu-
ções não apenas tecnicamente, mas também econômica e eticamente.

INTRODUÇÃO À ENGENHARIA AMBIENTAL - GRUPO PROMINAS

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