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CURSO DE GEOGRAFIA
Pesquisadores:
Antonio Sergio Tavares de Melo
Euzivan Lemos Alves
Janete Lins Rodriguez
Marceleuze de Araújo Tavares
Maria Auxiliadora Clemente Dantas
Maria Margarida Magalhães Guimarães
Rosa de Lourdes Pereira Gomes
Wolf Dietrich Heckendorff
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE JOÃO PESSOA – UNIPÊ
CURSO DE GEOGRAFIA
Relatório de Pesquisa
Relatório de Pesquisa
Coordenador:
Antonio Sergio Tavares de Melo
Pesquisadores:
Antonio Sergio Tavares de Melo
Euzivan Lemos Alves
Janete Lins Rodriguez
Marceleuze de Araújo Tavares
Maria Auxiliadora Clemente Dantas
Maria Margarida Magalhães Guimarães
Rosa de Lourdes Pereira Gomes
Wolf Dietrich Heckendorff
A presente pesquisa não poderia ter sido realizada sem a valiosa contribuição
das seguintes pessoas:
INTRODUÇÃO
2.4. Geomorfologia 45
2.4.1. Compartimentação topomorfológica 46
2.4.1.1. Tabuleiros e encostas 47
2.4.1.2. Falésias 48
2.4.1.3. Planície aluvial e litorânea 49
2.4.2. Geomorfologia Dinâmica 50
2.4.2.1. Dinâmica dos tabuleiros 50
2.4.2.2. Interflúvios e encostas 50
2.4.2.3. Falésias (paleofalésias) 52
2.5. A Vegetação 53
2.5.1. Introdução: as formações vegetais da área 54
2.5.2. A Floresta Ombrófila das terras baixas (Mata do Buraquinho) 54
2.5.3. “Tabuleiros” 60
2.5.4. Campos de Várzea 60
2.5.5. Manguezal 61
3.2. Poluição 82
3.2.1. Fontes principais da poluição na área 83
3.2.2. Mecanismos geradores da poluição 85
3.2.3. Poluição das águas e doenças decorrentes 86
SUMÁRIO
I – BIBLIOGRAFIA 112
II – ANEXOS 118
a. Lista de quadros 119
b. Lista de figuras 120
c. Lista de fotos 121
d. Questionários 124
INTRODUÇÃO
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Por meio ambiente entende-se um sistema de interações entre fatores físicos, químicos,
biológicos e sociais susceptíveis de exercer um efeito direto ou indireto, imediato ou a longo-prazo,
sobre os seres vivos e as atividades humanas (BRAILOWSKI, 1978, citado por ORELLANA,
1981).
Geralmente, o conceito de meio ambiente é confundido com o de meio natural. Se o
considerarmos sob esse ponto de vista, estaremos omitindo o homem e suas ações que se exercem
através de fatores sociais, econômicos, políticos e culturais, os quais também são parte integrante do
meio ambiente; do mesmo modo que seus componentes bióticos e abióticos.
Para PINTO et alii (1988), o meio ambiente urbano é um ambiente produzido que resulta da
ação humana cumulativa sobre o meio natural. Seus componentes refletem, acima de tudo,
processos sociais, históricos e econômicos sem que, no entanto, os processos físicos e naturais
sejam excluídos.
As paisagens urbanas refletem íntimas relações entre o social e o natural. Embora nelas
predominem estruturas construídas, os elementos naturais participam de sua produção, e essa
participação não é passiva, e sim ativa.
Desse modo, o meio-ambiente deve ser considerado como um somatório de fatores físicos,
químicos, biológicos, sociais e culturais que compreende tanto o meio natural como o meio
produzido ou construído pelo homem, representando um campo de estudos inter e
multidisciplinares que, no caso da Geografia, envolve especialistas tanto da Geografia Física como
da Geografia Humana.
Esta pesquisa é voltada para a análise de problemas ambientais nos aglomerados subnormais
situados nos vales do Jaguaribe e do Timbó, em João Pessoa, Paraíba.
A bacia do Jaguaribe-Timbó é totalmente intra-urbana. As transformações por que ela vem
passando são decorrentes dos processos de expansão urbana que, em um tempo relativamente
rápido, tem apagado os traços de ruralidade que a caracterizavam, mas cujas permanências ainda
são evidentes.
O uso do solo em interação aos componentes naturais, vem alterando, consideravelmente, a
qualidade do meio ambiente e o quadro de vida das populações situadas na área.
Os processos de urbanização, por sua vez, têm provocado sérios impactos sobre o meio
natural, além dos problemas sociais decorrentes da pobreza geral das populações que ali se
instalaram.
Essas populações são, em parte, responsáveis pela aceleração da erosão nas encostas,
descaracterização da cobertura vegetal, poluições diversas e os conseqüentes riscos de doenças
advindas dessas poluições e dos acidentes decorrentes das ações inadvertidas da população sobre o
meio físico. Além disso, os terrenos invadidos e ocupados são, na sua grande maioria, de
preservação permanente ou de propriedade privada, o que tem gerado problemas legais de posse.
O número de aglomerados subnormais cresce dia a dia. Atualmente contam-se mais de vinte
e cinco, dentre os quais foram escolhidos cinco para representar a problemática ambiental, social e
econômica da área pesquisada, cujas causas são variadas e caracterizadas por inúmeras interações,
as quais serão analisadas no decorrer deste trabalho intitulado: Os aglomerados subnormais dos
vales do Jaguaribe e do Timbó: análise geoambiental e qualidade do meio ambiente.
Esta pesquisa foi realizada entre o segundo semestre de 1997 e dezembro de 2000 por uma
equipe de professores do Centro Universitário de João Pessoa (UNIPÊ).
Infelizmente, um importante segmento deste trabalho - a elaboração de uma carta do meio
ambiente e sua dinâmica -, cuja realização dependia da interpretação de fotos aéreas da área, as
quais seriam cedidas pela Prefeitura Municipal de João Pessoa, não pode ser cumprido.
A pesquisa em questão teve como objetivos básicos:
1) Indicar e explicar as conseqüências dos danos causados ao meio ambiente natural pelo
processo de urbanização, assim como suas repercussões sobre as populações dos
aglomerados subnormais existentes na área;
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2) Alertar planejadores, urbanistas e responsáveis políticos sobre o estado e a dinâmica do
meio ambiente, no qual eles irão, porventura, intervir;
3) Aconselhar os especialistas em gestão territorial a encontrar soluções para a melhoria da
qualidade de vida das populações, sobretudo no que se refere à moradia, saúde e
trabalho.
Para que isso pudesse ser alcançado, foram percorridas as seguintes etapas metodológicas:
a) O meio físico: clima, água, geologia, geomorfologia dinâmica, com ênfase nos
principais riscos de erosão e de movimentos de massa, salientando a intervenção
humana como fator de sua aceleração;
b) O meio biológico: vegetação atual, solos e poluição das águas, áreas de preservação
permanente.
O rio Jaguaribe nasce ao sul de João Pessoa, no conjunto Esplanada, em uma lagoa, hoje
aterrada. O curso d’água possui uma extensão aproximada de 21km até a sua desembocadura no
oceano Atlântico, entre a Ponta de Campina e o Bessa, no maceió do Jardim América, hoje
Intermares. Seus principais afluentes são: o Timbó, pela margem direita, e o riacho dos Macacos, na
margem esquerda, hoje desaparecido em razão da expansão do bairro da Torre e de parte do bairro
de Jaguaribe. Pequenos córregos e drenos completam o sistema de drenagem.
O rio Jaguaribe e seu afluente, o Timbó, formam uma pequena bacia hidrográfica, típica da
zona costeira e sub-costeira sedimentar do Nordeste Oriental, e encontra-se totalmente inserida na
microrregião de João Pessoa.
A bacia do Jaguaribe se desenvolve em terrenos geomorfologicamente variados. As áreas
mais elevadas dos topos aplainados dos tabuleiros foram ocupadas por bairros bastante antigos,
como os de Cruz das Armas, Jaguaribe e Torre; os terraços fluviais e as baixas encostas, por bairros
pobres, também antigos, como o Rangel (ex-Varjão) e Oitizeiro, por exemplo. Mais recentemente,
essas áreas foram sendo invadidas por favelas.
A princípio, os cursos superior e médio dos rios Jaguaribe e Timbó são típicos dos pla naltos
sedimentares que caracterizam toda a fachada atlântica da área: vales profundos, encaixados numa
calha aluvial ampla com encostas de declividades fortes e falésias mortas.
Na confluência do Timbó com o Jaguaribe, este passa a ser um rio típico de planície e corre
em direção Noroeste, até a altura do Shopping Center Manaíra, atravessando os terrenos arenosos
da baixada litorânea. A partir desse ponto, o rio continua seu curso para o Norte pela planície da
restinga de Cabedelo, onde, na altura da mata da AMEM, se desvia para Leste em direção à sua
desembocadura no oceano.
O rio Jaguaribe é alimentado por várias fontes e ressurgências situadas entre o seu curso
superior e o lago de barragem da Reserva Florestal do Buraquinho. Aí, uma ruptura nítida no seu
perfil longitudinal é provocada por um falhamento que expôs uma soleira rochosa (arenito
Beberibe), cortando o rio transversalmente e sendo aproveitada para a construção da barragem-
reservatório.
As declividades médias são da ordem de 0,0016m/m. Suas encostas são comumente
delimitadas por uma ruptura convexa, no topo, e por outra, côncava, situada entre a baixa encosta e
a várzea. Por vezes, extensas rampas unem a parte somital dos tabuleiros aos terraços fluviais.
Os entalhes dos pequenos vales nas bordas dos tabuleiros formam valonamentos em forma
de V, bastante profundos, que se abrem para jusante, no contato com os terraços e com as várzeas.
Geralmente, nesse contato, é que estão situadas as fontes e nascentes que alimentam os rios
Jaguaribe e Timbó.
O rio Timbó nasce nas proximidades da via Leste - Oeste, que faz a ligação entre o litoral
meridional de João Pessoa com a BR-230/CEASA. O seu percurso até a confluência com o
Jaguaribe é de cerca de 5km.
A área do Timbó, definida nesta pesquisa, é representada por uma faixa contínua que ocupa
ambas as suas margens. Esta faixa tem largura variável, declividades acentuadas no setor das
vertentes e vertentes-falésias, e terrenos baixos e sujeitos a inundações na planície aluvial
O vale do Timbó se divide em dois segmentos: o primeiro, entre a nascente e as vias de
acesso do Loteamento Cidade Recreio Cabo Branco e o Conjunto dos Bancários, em que o rio
apresenta largura reduzida, vertentes com declividades muito fortes e vale estreito e profundo; o
segundo, estende-se daí até o seu encontro com o Jaguaribe e é caracterizado por cotas altimétricas
muito baixas e declividades quase nulas. Nesse segmento, o vale se alarga e os terrenos da planície
aluvial são encharcados e dotados de baixa resistência à compressão, sobretudo nas proximidades
do talvegue.
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A área considerada nesta pesquisa compreende todo o setor a jusante e a montante da
Reserva Florestal do Buraquinho, estendendo-se até a passagem elevada da BR-230. Não foi
considerada a planície da restinga por onde o rio Jaguaribe continua seu curso até a sua foz.
Por conjunto deve ser entendido um agrupamento de casas ou de pequenos edifícios que
foram construídos dentro do quadro da Política Nacional de Habitação Popular instituída em
meados da década de 60. Esses conjuntos, paulatinamente, viram-se cercados por aglomerados de
casas precárias resultantes dos modos de apropriação informal do solo e de autoconstrução,
normalmente designados pelos termos genéricos de invasão e favela.
O termo invasão não se aplica somente a construções erguidas em terrenos públicos ou
privados no decorrer de operações organizadas que se generalizaram nos últimos trinta anos. Ele é
empregado também para designar outras formas anteriores ou contemporâneas nas quais o acesso
ao solo se fez sem ruptura violenta com o direito de posse: loteamentos clandestinos, resultando de
um acordo entre vendedores e compradores, sem conhecimento do Estado; ocupações de
manguezais e de terrenos sujeitos a inundações, progressivamente aterrados pelos ocupantes (J.
BITOUN, 1997).
Por conseguinte, invasão corresponde ao conjunto do solo ao qual se pode ter acesso
mediante transações privadas que constituem um mercado paralelo, cujos títulos não são registrados
em cartório. Comprar um terreno de invasão, para nele construir uma moradia própria ou para
alugar, constitui um procedimento normal por parte daqueles que não dispõem de renda suficiente
para ter acesso ao mercado oficial. Favela, ao contrário, se aplica aos locais ocupados por barracões
de zinco, tábuas ou papelão, recobertos muitas vezes de plástico e marcados por extrema
precariedade (J. BITOUN, op. cit.). Ambos os termos possuem uma conotação pejorativa, e muitos
dos seus moradores preferem empregar loteamento e/ou comunidade.
Para se entender esse padrão de ocupação do vale do Jaguaribe, é necessário relatar
sucintamente as principais fases da expansão urbana de João Pessoa a partir de seu núcleo original,
fundado a 5 de agosto de 1585, o destaque maior sendo dado a partir de meados do século XIX.
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1.3. A ocupação da área e a evolução urbana
Após sua fundação às margens do rio Sanhauá, a cidade de Parahyba subiu as colinas e
patamares que antecediam os topos dos baixos planaltos, espalhando-se pouco a pouco sobre eles.
O rio Jaguaribe corria entre matas e desaguava na praia dos Macacos (atual Intermares),
após atravessar os terrenos arenosos e os pântanos insalubres que se estendiam pela baixada
litorânea desde Tambaú até a praia do Bessa. As florestas recobriam as encostas e os topos argilosos
dos tabuleiros e os terraços da várzea. Algumas manchas importantes de cerrados dividiam o espaço
com as florestas dos topos dos planaltos. O manguezal o acompanhava, desde a sua desembocadura
até a confluência com o rio Timbó, onde cedia lugar aos campos de várzea.
Grande parte das terras do vale haviam sido doadas em sesmarias à Igreja e às famílias
importantes da época.
Em meados do século XVIII, quando os jesuítas foram definitivamente expulsos da Paraíba,
as terras que a eles pertenciam foram confiscadas pelo Governo Geral. Dois desses sítios se
chamavam Trincheiras e Jaguaribe (onde atualmente situa-se parte do bairro de mesmo nome).
Com o passar dos anos, muitas dessas propriedades foram sendo desmembradas, compradas
ou confiscadas pelo Estado. Por exemplo, a atual Reserva Florestal do Buraquinho é um
remanescente de três sítios: Jaguaribe de Baixo, que pertencia a D. Maria da Glória Aranha,
comprado pela Parahyba Water Company, em 3 de abril de 1899; o sítio Jaguaricumbe, na sua
origem doado em sesmaria a Manuel Caetano Veloso e sua mulher, Sofia da Franca Veloso,
posteriormente pertencendo a vários proprietários antes de ser vendido por Antonio Furtado da
Mota, em 1907, à Fazenda Pública, para a construção da usina de abastecimento de água da Capital;
e o último, que pertencia a Felismino Lopes da Silva, foi também comprado pela Fazenda Pública,
para a mesma finalidade (W. RODRIGUEZ, 1994).
Outro sítio importante, para a ocupação do vale do Jaguaribe, foi o da Imbiribeira, que
abrangia terras, onde hoje se situam parte do jardim Miramar, o Jardim Luna e o Conjunto João
Agripino, cortadas de oeste para leste pela antiga estrada da Imbiribeira, atual avenida Ruy
Carneiro, que ligava a praia de Tambaú a João Pessoa (W. RODRIGUEZ, op. cit.). Esta
propriedade pertenceu, em tempos remotos, a Claudino Joaquim Bezerra Cavalcante de
Albuquerque e, depois, a Manoel Deodato. Parte de suas terras foi adquirida pelo Estado, para a
passagem dos trilhos da Ferrovia Tambaú e, ma is tarde, quando o caminho de ferro entrou em
decadência, para a linha dos bondes elétricos.
Na primeira metade do século XIX, a cidade possuía duas áreas funcionais condicionadas à
topografia do seu sítio: a cidade baixa ou Varadouro e a cidade alta. Posteriormente, ela se
estenderia gradativamente em direção a Cabedelo e para o Sudeste e Leste, ultrapassando os
tabuleiros e atingindo o litoral. Ao mesmo tempo ela avançava em direção ao sul, acompanhando a
estrada que a ligava à capital de Pernambuco.
Na outra metade desse século, a cidade de Parahyba era apenas um aglomerado urbano,
pequeno, pobre e dos mais atrasados, como as demais capitais menores das Províncias do Império,
segundo Maurílio de Almeida (1985).
Em 1892, Irineu JOFFILY, em sua obra “Notas Sobre a Parahyba”, deixou a seguinte
descrição de João Pessoa, da qual algumas passagens foram transcritas como segue:
Parahyba situa-se “à margem direita do pequeno rio Sanhauá, na sua confluência com o
Parahyba. Está situada em terreno elevado na base da península, que ahi tem uma légua de
largura na direção de Tambaú e prolonga-se pelo espaço de quatro até terminar em Cabedelo, na
foz do Parahyba tendo de um lado este rio e do outro o oceano”.
“Collocada entre dous portos, a sua feliz posição devia dar-lhe grande desenvolvimento
commercial; mas até agora seu crescimento tem sido lento, e no prazo de trezentos anos que tem de
existência não conta nenhuma época de notável prosperidade, que a fizesse sahir da tutela em que
sempre se achou e acha-se da vizinha praça do Recife”.
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“Divide-se em cidade alta e baixa ou Varadouro. Nesta é onde se acha concentrado todo o
seu commercio, e estão em alfândega, a estação da estrada de ferro e cadeia; e naquela, que é mais
extensa, estão os palácios do governo e da municipalidade, thesouraria da fazenda, mercado
público e hospital da Misericórdia”.
“Entre esses dous bairros, em um largo, se achão o quartel do batalhão de primeira linha
do exército, que guarnece a praça, o thesouro estadual e o theatro Santa Cruz, formando três lados
do dito lugar”.
“A cidade não possuía ainda água encanada e o abastecimento da água era feito através de
diversas fontes entre as quais a de Tambiá (atual Parque Arruda Câmara ou Bica) e a do Gravatá e
das cacimbas que eram em grande número”.
Dentre as indústrias, destacavam-se uma fábrica de sabão e outra de cimento que acabava de
ser inaugurada (na Ilha de Tiriri e que teve uma curta exis tência).
“No município desta cidade existem as seguintes povoações: Cabedello, na foz do
Parahyba”. [...] A um kilometro mais ou menos [...], no outro lado da península, a beira-mar [...]
Ponta de Matto estação balneária, atualmente muito freqüentada pelos habitantes da capital”.
Mais para o sul, continua JOFFILY: “estão as povoações ou agregados de casas de Ponta
de Campina e Bessa, onde tem sua foz o rio Jaguaribe; depois Tambaú, maior povoação, com uma
capella, e do outro lado do Cabo Branco a Penha [...]”.
“O município é regado por diversos ribeiros, entre os quais nota-se o Marés, de excelente
água, o Paratibe (atual Cuiá) e outros (dentre os quais, o Jaguaribe); e possui inesgotáveis jazidas
de pedra calcárea, geralmente usada para a construção e fabrico de cal”.
Quadro 1
Crescimento da população e da área urbana de João Pessoa
POPULAÇÃO URBANA
ANO ÁREA URBANA (ha)
HABITANTES CRESC. (%)
1808 3.000 – –
1822 5.000 66,00 –
1872* 24.714 39,40 –
1920 28.800 16,50 528
1950 98.800 243,00 1.145
1970 200.300 102,00 3.788
1978 318.000 62,00 4.850
*Primeiro censo oficial
Fonte: J.L.RODRIGUEZ (1985)
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Na década de 1880, a cidade possuía os equipamentos básicos para exercer a sua função
administrativa e para escoar a produção de açúcar algodão e gado, embora permanecendo sob o
domínio de Pernambuco.
No período entre 1885 e 1923, o crescimento da cidade foi de certo modo expressivo. A
cidade avançava em direção às áreas vizinhas ao centro primitivamente edificado. Dessa época, por
exemplo, datam os bairros de Jaguaribe (1910) e Torre (1920) além do bairro de Cruz das Armas.
Até a década de 1910, a expansão da cidade em direção ao litoral era limitada pela lagoa do
atual parque Solon de Lucena. No entanto, havia dois importantes vetores de expansão: um em
direção ao leste, representado pela estrada da Imbiribeira (atual avenida Ruy Carneiro); outro, para
o sudeste, seguindo as estradas dos Macacos e do Jaguaribe (atuais avenidas Pedro II e Almeida
Barreto, respectivamente), em direção à mata do Buraquinho (W. RODRIGUEZ, op. cit.).
O primeiro vetor se desenvolveu graças à abertura da Ferrovia Tambaú (entre 1906 e 1907),
assim como da estrada de rodagem que unia essa localidade à capital, e à construção da Usina
Termoelétrica da Cruz do Peixe (atual sede da SAELPA, defronte ao atual Colégio das Lourdinas),
inaugurada em 1912; o segundo, foi beneficiado com as obras para a construção do reservatório do
Buraquinho e da usina de abastecimento de água de João Pessoa, iniciadas em 1910 e inauguradas
em 08 de abril de 1911 pelo presidente João Machado.
Nessa época, também se iniciou o projeto da rede de esgotos e de saneamento da cidade por
Saturnino de Brito (1913-1927). O saneamento da lagoa permitiu a consolidação das linhas de
expansão para o litoral e para o sudeste.
Percebe-se, então, que houve, durante as décadas de 20 e 30, um forte processo de
urbanização influenciado pelas manifestações de um nacionalismo econômico no qual as massas
urbanas tiveram uma participação mais efetiva (J. L. RODRIGUEZ, 1980).
As transformações políticas que culminaram com a revolução de 30 contribuíram bastante
para a ativação da vida urbana. Desse período, data a construção da fábrica de cimento da capital.
Durante o governo municipal de Guedes Pereira e depois na presidência de João Pessoa
(1928 a 1930), a cidade ganhou duas praças: a Vidal de Negreiros, no centro da cidade alta, e a
praça da Independência, assinalando a expansão urbana em direção ao leste. Alguns espaços verdes
foram preservados, como o Parque Arruda Câmara e o Parque Solon de Lucena, e foi aberta a
avenida Getúlio Vargas.
Na década seguinte, foi ampliada a atual avenida Epitácio Pessoa até Tambaú, incorporando
toda a faixa litorânea entre o Cabo Branco e os bairros de Santo Antônio, Maceió, São Gonçalo e
Bessa à Capital.
Nesse mesmo período, foi iniciada a drenagem dos pântanos sublitorâneos, que se estendiam
de Tambaú ao Bessa, assim como o desvio do rio Jaguaribe para o rio Mandacaru, afluente do
Sanhauá, que faz parte do sistema estuarino do Paraíba.
A expansão urbana em direção ao litoral provocou a transferência de grande parte da
burguesia rural e urbana, que antes residia nos bairros de Tambiá, Trincheiras e na avenida João
Machado, para a avenida Epitácio Pessoa. Além disso, as antigas residências localizadas no litoral
de João Pessoa, antes usadas apenas para veraneio, foram pouco a pouco se transformando em
moradias permanentes (J. L. RODRIGUEZ, 1981).
O período que se estende entre 1963 e 1985 caracterizou-se por uma grande expansão da
área edificada, influenciada pela criação do Distrito Industrial, inauguração do Hotel Tambaú e a
mudança da Universidade para a Cidade Universitária, no conjunto Castelo Branco.
O processo de ocupação do solo intensificou-se através da abertura de loteamentos na faixa
litorânea, sobretudo entre o Jardim Manaíra e o Bessa e em direção a Cabedelo. Para sudeste, a
criação do campus universitário de João Pessoa foi um fator decisivo para a construção de vários
conjuntos habitacionais, sobretudo nas suas cercanias.
Para o sul, a expansão ligou-se ao Distrito Industrial. Apesar de os conjuntos habitacionais
não terem sido destinados essencialmente aos operários industriais, eles acabaram se beneficiando
de alguns serviços de infraestrutura instalados para atender às necessidades das indústrias do setor
(J. L. RODRIGUEZ, 1981).
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Os fatores que influenciaram esse crescimento foram:
Portanto, vários fatores de natureza política, social e econômica têm contribuído para que
um acelerado processo de urbanização ocorra em João Pessoa, o que vem provocando, por sua vez,
impactos negativos no meio ambiente natural e na qualidade de vida de grande parte da população.
Durante os últimos anos, a administração pública vem buscando soluções para o
planejamento integrado de desenvolvimento urbano. Algumas dessas soluções constam do Plano de
Desenvolvimento Urbano (PDU), de 1974, do Plano Diretor de João Pessoa e de outros projetos que
integram os meios físico e social. O PDU e o Plano Diretor de João Pessoa prevêem, através de
regulamentação especial, a preservação dos vales em áreas urbanas do municíp io, mas têm
encontrado dificuldades na sua execução em virtude do conflito entre o uso e a ocupação desses
espaços para a habitação. Por sua vez, os proprietários fundiários, que aí possuem glebas de terra, se
recusam a preservar o quadro natural por causa da especulação imobiliária, apesar das restrições
legais.
Nas duas últimas décadas, a cidade apresentou um crescimento significativo, principalmente
entre os anos 80 e 90, através da ocupação de um certo número de vazios especulativos,
loteamentos e novas áreas, o que implicou na ampliação e densificação do espaço utilizado. Dois
vetores servem para ilustrar esse processo de expansão urbana: o vetor sul e o vetor leste.
O primeiro deles, que interessa mais particularmente à pesquisa, começa no Conjunto
Castelo Branco e se desenvolve para o sul, ocupando os planaltos deixando vazios representados
pelas áreas com encostas declivosas e vales. Esse crescimento está sendo fortemente influenciado
pela Perimetral Leste - Oeste e caracteriza-se, sobretudo, pela construção de conjuntos
habitacionais, visando atender à demanda em habitações populares e de classe média,
desencadeando uma intensificação contínua da ocupação dos espaços vazios e incorporações de
novas áreas. A ação do Estado, através de financiamentos do BNH, da CEHAP e do IPEP, tem sido
bastante significativa no processo de expansão urbana.
Assim, surgiram os conjuntos dos Professores, dos Bancários, de Mangabeira, Anatólia,
Cidade Recreio Cabo Branco, Altiplano do Cabo Branco, Água Fria, etc.
Nas novas áreas, parte das quais pertenciam a proprietários rurais, muitos deles tornando-se
promotores imobiliários ao converterem as suas propriedades em loteamentos, verifica-se
claramente uma tendência do mercado imobiliário em voltar-se para a construção de imóveis para
habitação multifamiliar, geralmente com três ou quatro pavimentos. O segundo vetor abrange os
bairros de Tambaú, Manaíra e Bessa, todos na planície litorânea, e se prolonga em direção a
Cabedelo. Esse vetor teve uma expansão significativa nas duas últimas décadas, quando o processo
de ocupação assumiu um ritmo acelerado graças à implantação do projeto CURA e dos loteamentos
Oceania.
Todas essas expansões foram efetuadas de modo legal ou formal, de acordo com as regras
do mercado imobiliário e as ações do Estado. No entanto, a necessidade crescente de moradias por
parte da população de baixa renda deu origem a ocupações ilegais (invasões) de áreas vazias, cuja
maioria apresentava restrições físicas e/ou situações de conflito com seus legítimos proprietários.
A situação precária e de conflitos originada por essas invasões tem chamado a atenção do
poder público, principalmente nos períodos de fortes chuvas que provocam acidentes
(desmoronamentos de barreiras e inundações dos rios Jaguaribe e Timbó, por exemplo).
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As invasões foram se concentrando nos espaços vazios dos vales desses dois rios, embora
eles estejam incluídos em zonas especiais de preservação permanente e tenham sua ocupação
restringida.
A fixação de muitos desses aglomerados (sobretudo os mais antigos), nessas zonas, é
irreversível, pois a relocação de suas populações é muito onerosa para o Governo que, por esse
motivo, modificou a legislação, a fim de permitir a permanência desses aglomerados, e criou
programas sociais específicos para as populações, como o PROMORAR e o da FAC.
A desapropriação desses setores ocupados não tem sido possível, a exemplo do que ocorreu
com o bairro de São José que se originou a partir de uma favela de mesmo nome.
Outros trechos da bacia do Jaguaribe - Timbó encontram-se ocupados por habitações de
famílias pobres sem condições básicas de infraestrutura, que se agravam com os transbordamentos
sazonais das águas dos rios. Para o controle da ocupação desses setores, a Prefeitura encontra sérias
dificuldades: por um lado, a forte pressão por demanda de espaço para essas populações; por outro,
os proprietários dos terrenos que, não satisfeitos com os dispositivos legais, procuram, por todos os
meios, vendê- los às imobiliárias. Os donos desses terrenos são também responsáveis por
empreendimentos realizados de forma ilegal ou oficiosa, como forma de viabilizar economicamente
essas áreas, a exemplo do Shopping Center Manaíra e das construções de grandes edifícios na
várzea do Jaguaribe, como os situados nas proximidades da ponte da avenida Ruy Carneiro, o
supermercado Boa Esperança e o posto de gasolina no final da Beira Rio, entre outros (Foto 1).
A população de João Pessoa é de aproximadamente 600 mil habitantes, dos quais 115 mil
vivem em aglomerados subnormais. Desses, 30 mil vivem em 17 áreas de riscos (SETRAPS, 2000).
Alguns desses aglomerados fazem parte desta pesquisa: Bairro de São José, Chatuba, Comunidade
São Rafael, Comunidade Tito Silva, Comunidade Santa Clara e Comunidade do Timbó.
Os aglomerados subnormais geralmente ocupam setores insalubres ou sujeitos a
desabamentos das encostas e falésias, ao longo do Jaguaribe e Timbó.
Muitos desses aglomerados situam-se nas proximidades de bairros populares e de classe
média. Outros acompanham a linha de energia da CHESF, ao longo da Reserva Florestal do
Buraquinho, nos limites com os bairros do Rangel e Cristo Redentor. Todos se caracterizam pela
urbanização espontânea possuindo ruas estreitas e sinuosas e sem calçamento.
Os bairros das classes mais favorecidas situam-se nos topos aplainados e encostas altas dos
tabuleiros de Cruz das Armas, Jaguaribe, Torre, Expedicionários, Manaíra, Jardim Luna e João
Agripino, todos na margem esquerda; Cristo Redentor, Rangel, Castelo Branco, nos planaltos
situados na margem direita; Tambaú, Manaíra e Bessa na planície litorânea que o rio Jaguaribe
atravessa.
Os bairros pobres e mais populares se estendem pelas baixas encostas desses planaltos, e os
aglomerados subnormais no contato encosta/planície aluvial ou falésia morta/terraços fluviais.
A dinâmica da ocupação espacial do vale do Jaguaribe reflete-se na expulsão das classes
mais pobres para essas áreas, à medida que a especulação imobiliária e fundiária torna-se mais
forte. Tal fato está ligado à renda do solo urbano, quando são relegadas aos pobres, áreas que
posteriormente serão revalorizadas, fenômeno que se desenvolveu rapidamente a partir dos anos 70,
embora já existissem bairros de grande pobreza: Cortiço de Seu Romão, no Cordão Encarnado; a
Rua do Rio, em Cruz das Armas, e os bairros de Oitizeiro e Varjão. Posteriormente, essa pobreza
foi se tornando mais expressiva.
Em 1980, mais de 70% dos habitantes dos aglomerados subnormais provinham da zona
rural, em decorrência da crise no campo, gerada pelas relações de trabalho e de produção e por
modificações nos sistemas agrícolas, além da procura de melhores condições de sobrevivência na
Capital.
Desse modo, a grande massa de migrantes, formada principalmente por elementos de nível
sócio-econômico baixo e proveniente em sua maioria do campo, gerou uma acentuada demanda por
moradia e terrenos. Ao longo do tempo, como resultado do contínuo crescimento demográfico em
função das migrações e do crescimento vegetativo, agravou-se a carência por habitações, e as
soluções adotadas pelo Governo e pela população tomaram duas direções: de um lado, a população
marginalizada, vivendo de biscates, gerou uma expansão descontrolada do espaço urbano extralegal
através de invasões; do outro, o Governo, movido pela necessidade de remover os habitantes dos
aglomerados subnormais, viu-se obrigado a criar programas de relocação, a fim de evitar conflitos
entre esses e os legítimos proprietários dos terrenos.
O período 1970-1980 é marcado por um contínuo aumento da população e da subseqüente
expansão dos aglomerados subnormais. Essa expansão decorreu da falta de recursos, por parte da
população, que, por esta razão, não podendo recorrer ao mercado imobiliário, invade terrenos
públicos ou privados, sendo os mais visados aqueles de maior proximidade às oportunidades de
emprego.
A precariedade das habitações, que se justifica pelo baixo padrão de renda de seus
moradores, a deficiência de infraestrutura básica (água, esgoto, coleta de lixo e iluminação), o
predomínio de ruas não pavimentadas e a ausência de calçadas e de galerias pluviais refletem a
desigualdade das classes sociais e se manifesta claramente no espaço, constituindo, direta ou
indiretamente, fatores que causam impactos ambientais.
Os esforços empreendidos pelos governos Estadual e Municipal, visando melhorar a
qualidade de vida dessas populações, não têm sido suficientes, e alguns deles só beneficiam as
pessoas que possuem um padrão de renda alto ou médio.
2. O Meio Ambiente Natural: componentes abióticos e bióticos
2.1. O Ambiente Climático
Todos os fenômenos ligados ao clima exercem influência sobre o meio ambiente natural e
sobre as atividades humanas, ou seja, existe uma interdependência entre o clima e os demais
componentes do sistema meio ambiente. Por isso, um estudo climático deve se apoiar na síntese dos
elementos atmosféricos em constante interação entre si e com os fatores ambientais.
A hierarquização dos fenômenos atmosféricos permite estudar o clima, de acordo com um
sistema de espaços encaixados em quatro níveis, desde os climas com ampla extensão espacial
(zonal, e regional) até os climas de uma área mais restrita (mesoclimas, climas locais e microclima).
A área pesquisada está situada em posição litorânea e sublitorânea e em latitudes tropicais,
com altitudes que variam de um a cinqüenta metros. Essa área faz parte do domínio tropical úmido
sul-atlântico, fortemente influenciado pelos alísios marítimos, e caracteriza-se por apresentar uma
estação seca, de 3 a 4 meses, e outra chuvosa, cujos máximos situam-se durante os meses de maio,
junho e julho. Por sua posição geográfica - 7o LS - a área, do ponto de vista térmico, é muito mais
sub-equatorial do que tropical. Trata-se de uma área quente devido a sua situação litorânea e sua
latitude, sujeita a forte insolação - 2.995h/ano -, e elevada evaporação potencial (1.485mm). Essas
condições são amenizadas pelos ventos que sopram do mar o ano inteiro, caracterizando a fachada
marítima de todo o Nordeste Oriental (Quadro 2).
Para abordar o clima da área pesquisada, que está incluída num espaço mais restrito do que
o espaço urbano de João Pessoa, é necessário que se tenha cuidado com a ordem de grandeza a qual
ele está vinculado, que é a escala do clima local. Os estudos de clima local ainda são deficientes.
A fim de se proceder a uma análise mais acurada do clima local, seriam necessários dados
obtidos em uma ampla rede de estações meteorológicas, situadas em diversos pontos da área urbana
e segundo diferentes topografias. Ora, os dados consultados são de apenas duas estações
meteorológicas: Laboratório de Energia Solar da Universidade Federal da Paraíba (28m) e
Ministério da Agricultura - DEMA (altitude de 5m).
Portanto, tentou-se apresentar uma classificação do clima local baseada nos dados
disponíveis, embora sabendo que estes são insuficientes para uma abordagem climática mais
completa. Outrossim, optou-se para as classificações climáticas de THORNTHWAITE (1948) e de
BAGNOULS & GAUSSEN (1955), em vez da classificação de KÖPPEN (1918), por serem mais
próximas da realidade considerada.
Para a definição do mesoclima, foram adotados e adaptados os índices de
THORNTHWAITE. Antes, porém, será apresentada uma síntese dos elementos básicos do clima:
precipitações, regime das chuvas, sistemas de circulação da atmosfera e gênese das chuvas,
temperaturas, evaporação, ventos, insolação, umidade relativa do ar (Quadro 2).
Quadro 2
Dados climáticos de João Pessoa/PB
2.1.2.1. Temperaturas
As temperaturas médias anuais, pela proximidade do oceano e pela latitude, nunca são
excessivas: 23o C é a média das mínimas e 28o C a das máximas; a amplitude térmica anual é de
cerca de 5o C, o que é bem característico dos climas tropicais oceânicos.
As temperaturas mais elevadas ocorrem na primavera, quando se verificam as mais fortes
deficiências pluviométricas, assim como uma acentuada evapotranspiração. Ela coincide também
com a estação ecologicamente seca. A redução dos valores térmicos, durante os meses de inverno
(junho-julho-agosto), é muito pouco significativa: média de 23o C. As temperaturas diurnas
ultrapassando 33o C são raras. A insolação, conforme foi mencionado, é de cerca de 2.995 horas,
sendo que, durante a primavera, os valores são, sem dúvida, maiores (Figura 1).
17
Figura 1
18
2.1.2.2. Evaporação
Figura 2
19
2.1.2.3. Pluviometria: sistemas de circulação atmosférica e gênese das chuvas
2.1.2.5. Ventos
A área do litoral está submetida a dois regimes de ventos: no período que vai do final de
março até o início de maio, sopram os alísios de Nordeste, de menor importância do que os alísios
de SE-E, que atuam no período compreendido entre maio e março, sendo os meses mais ventosos
agosto, setembro, outubro e novembro.
Trata-se de ventos constantes, moderados, nunca tempestuosos, cuja velocidade média varia
de 4 a 8m/s (2 a 4 Beaufort). Eles sopram o ano inteiro e são substituídos, do final de março até o
início de abril, pelos ventos alísios de NE e, por vezes, de Noroeste (GUILCHER, 1984).
As chuvas são condicionadas pelos ventos de SE, embora, no início da estação chuvosa, os
ventos de NE ou mesmo de NW contribuam para um aumento da pluviosidade. Quando são
refrescados pela FPA, os alísios de SE propagam-se de leste para oeste sobre o Atlântico e são
responsáveis pelos máximos pluviométricos de junho. Atingindo a plataforma litorânea, esta se
antepõe ao fluxo dominante, e a inversão térmica que existe entre a camada inferior (mais úmida) e
a superior (mais quente e mais seca) se reduz gradualmente, o que permite a ascensão da camada
superficial dos alísios e a conseqüente condensação e precipitação.
24
2.1.2.6. Distribuição da concentração máxima de chuvas (MPC)
A distribuição máxima das chuvas está na dependência do grau de participação dos sistemas
de circulação secundária representados pela Convergência Intertropical, ondas de Leste e Frente
Polar Atlântica (NIMER, op. cit).
A maior associação entre esses três sistemas se dá no outono e no inverno. O máximo de
precipitações consecutivas é maior nestas estações, ocorrendo nos meses de maio, junho e julho,
podendo variar para abril, maio e junho. Esse máximo (MPC) coincide com a época das enchentes,
quedas de barreiras e aceleração dos processos de erosão em que a água tem importante papel
(Quadro 3).
Quadro 3
Máximo de Precipitações Consecutivas (MPC) em João Pessoa/PB
(período de obtenção dos dados: 1931/59)
MPC (%) ABRIL (mm) MAIO (mm) JUNHO (mm) TOTAL (mm) TOTAL ANUAL (mm)
50,33 244,5 33,6 300,8 849,9 1.686,8
Fonte: E. NIMER, 1979.
O balanço hídrico é um método contábil da água disponível no solo, no qual os créditos são
representados pelas chuvas e os débitos pelos processos responsáveis pela evapotranspiração, ou
seja, a quantidade de água que se evapora na atmosfera, quer seja por evaporação da água líquida
(água livre ou água do solo) ou pela transpiração da biomassa (BELTRANDO & CHEMERY,
1995).
A evaporação e a transpiração fazem com que a atmosfera se enriqueça com a água que é
perdida durante as precipitações; daí elas serem tão importantes quanto às temperaturas e as
precipitações.
A intensidade da evapotranspiração depende da umidade atmosférica, que fixa a demanda, e
da disponibilidade em água evaporável (função do estado de superfície, da natureza da cobertura
vegetal...) que, em retorno, determina a oferta. Ela depende também dos aportes energéticos
(insolação, calor) necessários à evaporação e condicionantes da umidade atmosférica, assim como
do vento que substitui, eventualmente, o ar úmido, no contato da superfície líquida ou úmida, pelo
ar mais seco.
Dois valores são diferenciados:
Do balanço hídrico, constam ainda os seguintes dados: excedente hídrico, ou seja, o volume
de água não incorporado ao solo, por este se achar saturado; o número de meses com excedente
hídrico, que indica por quanto tempo perdura este excedente; a deficiência hídrica, ou seja, o
volume de água que falta no solo; o número de meses com deficiência hídrica (BELTRANDO &
CHEMERY, op. cit.).
O cálculo destes dados permite que se estabeleça um índice de umidade, muito importante
para definir o clima de uma área. Segundo THORNTHWAITE, não haverá seca se a deficiência
25
hídrica do período seco não ultrapassar 60% do excedente hídrico anual. A partir desta relação
pode-se obter o índice de umidade, cuja expressão matemática é:
Os valores resultantes podem variar de 100 a –40, que correspondem aos climas
superúmidos e aos climas semi-áridos e áridos, respectivamente.
Para João Pessoa, os dados utilizados para o balanço hídrico foram obtidos de duas fontes:
Projeto RADAMBRASIL, Levantamento de Recursos Naturais, folhas Jaguaribe/Natal, vol. 23
(1981) e Inventário Hidrogeológico Básico do Nordeste - Folha no 16 - Paraíba-SO (SUDENE-
DRN, 1971). Estes dados estão representados nos quadros 4 e 5, a seguir:
Quadro 4
Balanço hídrico de João Pessoa/PB
Quadro 5
Balanço hídrico de João Pessoa/PB
PTA (mm) TM (ºC) ETP (mm) ETR (mm) DÉF. HÍDRICO (mm) DISTR. EXC. DISTR.
ANUAL HÍDRICO ANUAL
(mm)
1.278 25,2 1.354 1.145 209 nov – jan 583 abr - ago
Fonte: RADAMBRASIL, 1981.
26
27
Para a representação gráfica do balanço hídrico de João Pessoa, foi compilado e reproduzido
o diagrama elaborado por GOLFARI & CASER (1977).
A representação gráfica do balanço hídrico de João Pessoa, através do confronto entre as
curvas de precipitações pluviométrica e da evapotranspiração potencial e real, indica as formas de
disponibilidade hídrica e servem para indicar o tipo de clima.Sempre que a curva de precipitação
aparecer no gráfico, abaixo da curva de evapotranspiração (Figura 5).
Figura 5
28
Uma vez terminada a deficiência hídrica, começa o período de reposição da água, quando a
curva da evapotranspiração potenc ial aparece debaixo da curva de precipitações, até que se
complete a capacidade de campo constante de 125mm.
O excedente hídrico aparece sempre que o solo encontra-se saturado e o que sobra é
considerado excedente que vai se incorporar ao escoamento superficial e subsuperficial, e que supre
a rede fluvial. Devem ser levados em consideração a constituição geológica dos terrenos e o estado
da superfície (cobertura vegetal e taxa de ocupação urbana).
O cálculo do balanço hídrico fornece uma estimativa dos valo res mensais e anuais da
evapotranspiração potencial e real, deficiência e número de meses com deficiência hídrica e
excedente e número de meses com excedente hídrico. Ele serviu de base para a determinação do
clima da micro-região de João Pessoa (Quadro 4).
A evapotranspiração potencial (ETP) é um índice usado para indicar a necessidade de água
por unidade de área, isto é, a água teoricamente necessária para manter a vegetação verde e
turgescente o ano inteiro. Na área ela é de 1.354mm.
A evapotranspiração real (ETR) é a quantidade de água que, nas condições reais, é
evaporada do solo e transpirada pelas plantas. Verificam-se, no quadro do balanço hídrico de João
Pessoa, altos índices de ETR (1.145mm).
A deficiência hídrica anual mostra, em termos médios, o volume de água que falta no solo
(880mm) e o número de meses, em que há deficiência hídrica, é representativo do comportamento
desse elemento ao longo dos meses (novembro a janeiro).
O excedente hídrico representa o volume de água que não é incorporado ao solo no decorrer
de um ano, por este se achar saturado (583mm). O número de meses com excedente hídrico indica o
período durante o qual esse excedente perdura no solo (abril a agosto).
Com base no balanço hídrico, pode-se estabelecer uma classificação climática muito mais
lógica do que a de KOPPEN e que se coaduna com a extensão espacial considerada neste trabalho.
Segundo o RADAMBRASIL, vol. 23 (1981), o clima de João Pessoa, de acordo com o que
acaba de ser exposto, é subúmido úmido.
GOLFARI & CASER (1977), utilizaram a mesma metodologia para estabelecer uma
delimitação e diferenciação esquemática das diferentes regiões ecológicas do Nordeste. Para João
Pessoa, o clima regional encontrado foi subúmido úmido tropical.
Figura 6
30
Com base na metodologia de BAGNOULS & GAUSSEN (op. cit.), foi elaborada a
classificação bioclimática dos climas do Brasil, por M.V. GALVÃO (1955), da qual foram retirados
os dados concernentes à micro região de João Pessoa (Figura 7).
Figura 7
31
A classificação citada baseia-se nos seguintes aspectos climáticos: ritmo das temperaturas e
das chuvas durante o ano, por meio das médias mensais e considerando os períodos favoráveis e
desfavoráveis à vegetação (secos e úmidos ou quentes e frios), determinação dos meses secos e
índice xerotérmico.
Período seco é a sucessão de meses secos determinada pelo diagrama ombrotérmico. O
índice xerotérmico indica o número de dias ecologicamente secos durante o período seco
(SUDENE, 1972). O clima encontrado para a área de João Pessoa é o Nordestino subseco, com
estação seca curta (três meses) e índice xerotérmico de quarenta dias ecologicamente secos.
Se o limite de 50mm de chuvas for adotado, como o fazem muitos autores para definir um
mês seco na zona intertropical, constata-se que há três meses secos em João Pessoa: outubro
(29mm), novembro (27mm) e dezembro (39mm). Para muitos autores, bastam apenas dois meses
secos para que um clima tropical seja considerado com estação seca; outros exigem três meses.
Segundo GUILCHER (1984), o clima de João Pessoa, então, poderá ser qualificado de tropical
úmido com estação seca moderada (Quadro 6).
Quadro 6
Meses secos e estação ecologicamente seca
MESES
PARÂMETROS JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ TOTAL
PM 80,1 101 204,8 263,9 282,5 301,7 236,6 140 67,5 28 27 36 1.764,2
----- ----- –––– –––– –––– –––– –––– ----- ----- —— —— ––––
–––– –––– ——
........ ........
T 26 26,5 26,4 26,2 25,5 24,5 23,9 24,1 24,5 25,9 26,6 26,7 25,6
Origem dos dados: Microfichas da SUDENE, 1990. Quadro baseado em: BOYÉ (1980) e GÜILCHER (1984), adaptado
por MELO (2000).
LEGENDA:
Quadro 7
Eestratigrafia da bacia do Jaguaribe
Toda a bacia apresenta-se como um monoclinal suave, com mergulho para o mar. Os
falhamentos que a atingiram e os basculamentos refletem-se nos sedimentos mais recentes do
Barreiras; daí as diferenças de altitude entre os painéis sedimentares e a orientação da drenagem.
Seu escoamento se processa, de maneira geral, para o mar, subordinado igualmente pela rede
hidrográfica. Muitas ressurgências estão ligadas às águas do escoamento subsuperficial ou
hipodérmico (percolação) e ao contato com níveis de permeabilidade diferentes, como os que
ocorrem no fundo dos vales.
Sua denominação provém do rio de mesmo nome que corta a Grande João Pessoa na sua
porção meridional. Sua datação é do Cretáceo Superior (Maestrichtiano).
Essa formação caracteriza-se por um litofácies carbonático, quase sempre arenoso na base e
mais argiloso nas porções intermediária e superior, podendo também ocorrer calcários puros. Na
parte basal, os calcários apresentam-se fortemente dolomitizados podendo aparecer dolomitos
puros, ou então apresentarem uma rica camada de material fosfatado. Em muitas situações são
observadas camadas de arenitos calcíferos intercaladas com material calcário (LUMMERTZ, op.
cit.).
Quando à sua coloração, esses calcários são de cor cinza passando a creme ou amarelo
quando intemperizados.
Eles afloram nas pedreiras da Cimepar, a noroeste de João Pessoa, nos Bairros do Roger e
Mandacaru e nas ilhas estuarinas do Stuart e Tiriri. Influências subjacentes dessa formação se
refletem em certas feições geomorfológicas como: lagoas, anfiteatros de erosão e depressões
pseudo-cársticas’freqüentes na área e já mencionadas..
Na área da Grande João Pessoa, os calcários apresentam estratificação sub-horizontal, não
muito pronunciada, grosseira, em bancos ou então formando massas compactas. Sua espessura é
bastante variável devido a uma conjunção de fatores:
Na área, a média da espessura dos calcários varia entre 18 e 60 metros sendo que as
maiores situam-se no Campus da UNIPÊ e em Água Fria, de acordo com os dados de perfuração de
poços do DNOCS. O seu contato inferior dá-se com o membro superior da Formação Beberibe; o
contato superior, com os materiais da Formação Barreiras ou com os sedimentos quaternários
(Quadro 8).
O aqüífero dos calcários produz quantidade reduzida de água subterrânea e de
qualidade química medíocre. Trata-se de um aqüífero anisotrópico devido à litologia variada da
formação que vai de calcários puros às margas e argilas que ocorrem de maneira alterada e muito
irregular, tanto lateral quanto verticalmente (SUDENE, op. cit.).
Sua alimentação se faz verticalmente: ascendente, quando proveniente do aqüífero
Beberibe e descendente, a partir da Formação Barreiras ou dos sedimentos quaternários. Suas
características hidrodinâmicas são pouco conhecidas, mas elas devem ser reduzidas devido à
41
presença dos já referidos níveis argilosos que fazem parte da seqüência calcária. As possibilidades
de uma circulação cárstica existem nos calcários puros, mas a permeabilidade média é sempre baixa
uma vez que as camadas margosas são predominantes.
Resta que os calcários da Formação Gramame podem, em alguns locais, fornecer
quantidades razoáveis de água, mas elas serão sempre de qualidade inferior, devendo por isso ser
evitada para consumo (LUMMERTZ, op. cit.). A capacidade de fornecimento de água desses
calcários está ligada aos fenômenos de carstificação, relativamente intensos em certos setores, mas,
quando aparecem arenitos intercalados, sua importância aqüífero é maior se estes tiverem
espessuras maiores (LUMMERTZ, op. cit.)
Quadro 8
Litologia e profundidade das rochas na bacia do Jaguaribe
A alimentação desse aqüífero é feita, exclusivamente, pela infiltração das águas das chuvas
anuais, cujas taxas são estimadas em 15%, variando para mais ou para menos, em função do seu
condicionamento morfológico. A circulação ocorre diretamente ou indiretamente para o mar,
condicionada pela rede hidrográfica, configuração geomorfológica, constituição geológica e
relações tectono-estruturais (LUMMERTZ, op. cit.).
Esses depósitos constituem sistemas aqüíferos livres e acham-se bem distribuídos pela
planície aluvial dos rios Jaguaribe e Timbó e pela planície litorânea.
Sua permeabilidade está relacionada com o seu conteúdo em silte e argila. Nos locais mais
afastados do litoral, predominam depósitos areno-argilosos de granulação média e fina,
44
ocasionalmente grosseira e até conglomerática (coluviões do Barreiras e sedimentos aluviais). Nos
setores mais próximos da costa, esses depósitos são fluviomarinhos, tornando-se síltico-argilosos e
apresentam coloração cinza-escuro a preto.
A espessura desses sedimentos pode atingir localmente 15 a 20 metros e, excepcionalmente,
na Restinga de Cabedelo e na planície de Tambaú, eles podem alcançar cerca de 75 metros.
Os aqüíferos livres superficiais são depósitos de água doce, com algumas dezenas de metro
por espessura, e situados a cerca de um metro de profundidade. O fornecimento de água doce
depende da sua localização no terreno, mas a água pode apresentar odor desagradável e, por isso,
ela deve ser submetida a tratamento. Sua qualidade é medíocre e está situada abaixo do limite
crítico dos padrões internacionais para a água potável destinada ao consumo doméstico. Ela
geralmente é alcalina e pode ser considerada como uma água dura. Além dessas características
químicas, ela pode apresentar características bacteriológicas muito variáveis, devendo a exploração
dos lençóis ser efetuada com certos cuidados. Sua utilização presta-se para fins industriais, para
limpeza e jardinagem (DAVINO, 1978).
2.4. Geomorfologia
4 - O vale do Jaguaribe entre os bairros de Jaguaribe e do Rangel (lado esquerdo da foto) (foto:
A. S. T. de Melo, 1998).
47
2.4.1.1. Tabuleiros e encostas
5 - Terraço fluvial do rio Timbó (no primeiro plano da foto) (foto: A. S. T. de Melo, 1998).
2.4.1.2. Falésias
As falésias resultam da ação do mar sobre as rochas sedimentares auxiliada por movimentos
tectônicos de soerguimento do continente e regressões marinhas. A esses, combinam-se processos
continentais ou subaéreos de erosão. Tudo isso concorre para a elaboração de abruptos ou escarpas
em posição costeira e sub-costeira, chamadas de falésias vivas ou ativas.
Encontram-se também setores em que as falésias estão livres da erosão marinha Trata-se das
falésias mortas, que dominam a baixada litorânea e alguns trechos da várzea. Elas também são
chamadas de falésias inativas ou ainda paleo- falésias.
No setor estudado, verifica-se que as falésias são todas mortas quanto à ação do mar, mas
submetidas a processos de erosão que são induzidos ou acelerados pelas ações antrópicas.
Essas falésias se situam ao longo do médio e baixo curso do Jaguaribe e no vale superior do
Timbó (Foto 7).
49
Geralmente, nos setores de falésias mortas, os seus perfis são diferenciados: uma parte
somital vertical dominando um talude inferior com declividades que variam de mediana a forte ,
formado de material desmoronado ou que deslizou da parte superior e que se encontra colonizado
por vegetação, esta encontrando-se ausente em muitos trechos por causa da devastação provocada
pelo homem, como pode ser verificado no Bairro de São José e no Timbó.
Os processos de erosão das paleofalésias são todos eles continentais acelerados pelas ações
antrópicas: aberturas de loteamentos no seu topo, próximo à borda, vias de circulação, degradação
da cobertura vegetal, retirada de barro, etc.
Esses processos são originados a partir da retirada da vegetação que recobre os topos e as
bordas dos tabuleiros, bem como dos taludes e da extração de barro para diversas finalidades. Os
processos mais freqüentes são: desmoronamentos, deslizamentos em pacotes, ravinamentos e
corridas de terra e lama. Esses processos ocorrem, sobretudo, no final da estação chuvosa, e
atingem principalmente na área urbana os bairros de baixa renda e as favelas que são erguidos nas
áreas em que os riscos de movimentos de solo são muito grandes.
A base das falésias é submetida às ações antrópicas diversas (retirada de barro, sobretudo),
que contribuem para desequilíbrios, dando origens a abatimentos gravitacionais. Mas, é freqüente a
partir dos solapamentos na base, surgirem fissuras ao longo das escarpas o que favorece a
infiltração das águas das chuvas. Ocorrem então deslizamentos por pacotes ao longo do plano de
lubrificação que se forma e acompanha a fissura.
Um outro processo dominante é o escorregamento em prancha, por supersaturação rápida do
material durante os períodos de chuvas intensas e concentradas. Esses escorregamentos atingem o
topo das falésias e estão relacionados com as ações atrópicas desenvolvidas próximas as bordas dos
tabuleiros. A retirada da vegetação nesses setores é o fator de desencadeamento, pois o papel de
retenção de água fica diminuído ou afetado; o material mais poroso é favorável à infiltração que,
por escoamento subsuperficial, compromete as escarpas dos tabuleiros (MELO, 1983-1984).
Esses processos se explicam por: fortes chuvas, declividades, natureza do material e ações
antrópicas. A natureza do material, as fortes declividades e o comportamento hídrico combinam-se
em um sistema de erosão complexo em que as ações acima descritas predominam.
A abundância de fácies arenosos, mais porosos, assegura uma permeabilidade mais forte do
que nos argilosos. Estes concentram as águas das chuvas, que se infiltram lentamente em alguns
níveis inferiores mais argilosos.
Esses níveis argilosos subjacentes funcionam como planos de escorregamento, por saturação
das camadas superiores que, tornando-se mais fluídas, deslizam ou desmoronam mesmo nos setores
em que a cobertura vegetal reveste a escarpa.
Essas mesmas alternâncias de fácies multiplicam os níveis de encharcamento por infiltração
e percolação, originando movimentos de massa localizados, sobretudo nos setores em que houve
degradação da vegetação e retirada de barro.
Freqüentemente, as falésias exibem um talude que começa a partir da metade ou de seu terço
inferior formado pelo material desmoronado. Esses taludes ou todo o perfil da falésia são revestidos
de vegetação florestal. Nesse caso, ela pode ser considerada como uma vertente-falésia.
2.5. A Vegetação
Trata-se de um trecho de Floresta Ombrófila das Terras Baixas (com fácies subperenifólio)
ou, segundo ANDRADE-LIMA & ROCHA (1971),floresta Megatérmica Pluvial Costeira
Nordestino-brasileira, remanescente bastante secundarizado que faz parte do complexo vegetacional
da Mata Atlântica, situado na bacia do Jaguaribe e atravessado de oeste para leste por este rio (Fotos
8 e 9).
Como toda floresta urbana, a mata do Buraquinho vem sofrendo depredações de todos os
tipos: invasões, retirada de lenha, etc. Em alguns trechos, a vegetação secundária que surgiu é a que
se encontra recobrindo os tabuleiros mais arenosos.
O decreto presidencial nº 98.181, de 20/09/1989, a incluiu nas Áreas de Preservação
Permanentes e se prevê a criação de um Jardim Botânico. Os 305ha pertencentes à CAGEPA
deverão passar para esfera do IBAMA, que já possui 166ha. O projeto do Jardim Botânico será,
assim, efetivado. Espera-se, então, que esse patrimônio natural seja poupado de maiores
dilapidações, tanto em sua periferia como em seu interior.
58
Quadro 9
Algumas espécies da floresta ombrófila (sub-perenifólia) do Buraquinho (segundo ANDRADE-LIMA & ROCHA, 1971).
PRESENÇA POSIÇÃO
Espécie Nome Vulgar Rara Escassa Freqüente Comum Abundante Posição
Próximo ao
Bactris ferruginea Coquinho X
açude
Níveis baixos
Bysonima sericea Murici X
até altos
Brosimum sp. Quiri X Níveis Altos
Agonandra Marfim X Níveis Altos
Bordas de
Coccoloba Cavaçu X
matas
Cecropia sp. Embaúba X Níveis baixos
Embiriba Encosta e
Xylopia frutescens X
vermelha níveis super.
Encosta e
Xylopia sp. X
níveis super.
Encosta e
Ocotea glomerata Louro X
níveis super.
Ocotea sp Louro canela X —
Sparatanthelium
X Borda da mata
botocuorum
Apuleia leiocarpa
Jitaí X
(caducifólia)
Dialium guianensis X No alto
Sclerobium
Ingá de porco X
densifolium
Bowdichia
Sucupira mirim X Níveis altos
virgilioides
Sucupira
Ormosia bahiensis X Nível baixo
baraquim
Nível médio e
Ingá blanchetiana Ingá cabeludo X
alto
Próximo ao
Inga fagifolia Ingá-i X
açude
Ingá thibaudiana Ingá X Níveis altos
Pithecolobium Níveis médio e
Barbatimão X
avaremotemo alto
Pithecolobium
Arapiraca X Nível baixo
foliolosum
Pithecolobium
Jaguarena X
pedicellare
Niveis baixos
Stryphnodendrum
Favinha X a topos
pulcherrimum
aplainados
Sacoglottis
Oiti de morcego X Níveis altos
mattogrossensis
Fagara rhoifolia Laranjinha X Nível baixo
Níveis médios
Simarouba amara Pau Paraíba X
e alto
Protium Amescla,
X Encosta alta
heptaphyllum almecega brava
Protium sp. — X Encosta
Qualea crypthanta X Nível Baixo
Nivel médio a
Pera ferruginea X
baixo
Pogonophora
Cocão X Encosta e topo
schomburgkiana
Próximo ao
Sapium sp. Burra leiteira X
açude
Tapirira guianensis Paupombo, X X Dos níveis
59
PRESENÇA POSIÇÃO
Espécie Nome Vulgar Rara Escassa Freqüente Comum Abundante Posição
Cupiúba baixos ao topo
Thyrsodium
Caboatã de leite X Encosta e topo
schomburgkianum
Allophylus edulis X Nivel alto
Colubrina rufa Encosta e nivel
Suruaji X
(caducifólia) alto
Niveis medio a
Luehea ochrophylla — X
alto
Niveis baixos
até o
Byrsonima sericea Murici X
aplainamento
superior
Nível alto a
Apeiba albiflora Pau de jangada X
medio
Encosta alta e
Bombax gracilipes Munguba X
topo
Ouratea sp. X Nível superior
Nível baixo,
Callophyllum
Guanandi X próximo ao
brasiliensis
açude
Área aberta na
Clusia nemorosa Pororoca X
encosta baixa
Rheedia sp. Bacuparí X Encosta
Vismia baccifera Lacre X Nível baixo
Bulandi, Níveis baixos
Symphonia
gulandi, bulandi X próximos ao
globulifera
de leite açude
Encosta alta na
Casearia sylvestris Caiubim X
borda da mata
Casearia sp. — X Encosta baixa
Xylosma sp — X Encosta
Eschweilera Encosta e nível
Embiriba X
luschnatii alto
Níveis mais
Lecythis pisonis Sapucaia X
altos
Encosta e
Buchenavia capitata Imbiridida X
níveis altos
Britoa triflora — X
Encosta baixa,
Myrcia sylvatica — X
área aberta
Rapanea sp. —
Oititrubá, goiti-
Lucuma grandiflora X Nível alto
trubá
Diospyros sp. — X
Aspidosperma Alto do
X
discolor tabuleiro
Angélica da
Encosta e nível
Plumerea bracteata mata; banana- X
superiores
de-papagaio
Cordia sp. X Parte alta
Tabebuia
Ipê roxo X Encosta alta
avellanedae
Alseis pitckelii X No alto
Segundo ANDRADE-LIMA & ROCHA, 1971
60
Outras espécies:
Lianas:
Strychnos sp (escassa)
Gouania blanchetiana (comum)
Aráceas:
Imbés
Epífitas (Bromeliáceas):
Hohembergia sp (bromeliácea)
Aechmena sp (bromeliácea)
Estrato arbustivo:
Cephaelis pubescens (escasso)
Psychotria sp (rara)
* Segundo ANDRADE-LIMA & ROCHA, 1971.
A formação mais freqüente é representada por uma vegetação formada por herbáceas e
lenhosas arbustivas e arbóreas baixas, muito densas e com algumas árvores esparsas. Trata-se de um
ecótono e também de uma formação secundária conhecida na área sob o nome de "tabuleiro".
Espécies florestais da Mata Atlântica misturam-se com espécies do cerrado e das formações
arbustivas e arbóreas litorâneas.
Este tipo de vegetação ainda é encontrado sob tabuleiros próximos do litoral e em trechos da
Mata do Buraquinho ao longo da BR-230.
No mais, a vegetação da área é quase toda secundária: capoeiras de idades diversas e em
todos os estágios da evolução. Ao lado delas, várias espécies de frutíferas ocupam sítios e granjas
sobretudo a leste e a sudeste da bacia do Jaguaribe.Acrescentam-se as culturas de subsistência ainda
existentes nas terras do vale e as pastagens que substituíram grande parte dos campos de várzea.
2.5.4. Manguezal
Quadro 10
Espécies do manguezal e dos campos de várzea
Chama-se desastre ou calamidade um fenômeno que é capaz de gerar uma ameaça potencial
para as pessoas e os bens de uma determinada área por um certo tempo (VEYRET & PECH, 1997).
O risco é a possibilidade de perdas de vidas, propriedades e meios de produção em uma
determinada região que é submetida a uma calamidade. Deve ser considerado que só há risco na
medida em que este afete uma população, seus recursos e suas obras.
Os estudos sobre os risco ou Cindinologia, requerem:
Uma grande parte da população brasileira de baixa renda ocupa áreas do domínio público, a
maioria delas situadas em setores de risco: sopé de barreiras; encostas com declividades fortes;
terraços fluviais, leitos maiores de rios sujeitos a inundações; periferia de manguezais e de
alagados; corredores sob linhas de transmissão de energia de alta tensão, faixas ao longo de
gasodutos, oleodutos, tubulações de esgotos, etc.
Alguns riscos são naturais e estão relacionados com a atmosfera (por exemplo, ciclones:
tempestades tropicais, secas, etc.); com a litosfera (erupções vulcânicas, afundamentos do solo,
erosão) e com a hidrosfera (cheias, inundações, etc.). Outros são induzidos ou acelerados pelo
crescimento demográfico, desenvolvimento urbano, industrialização, fluxo dos transportes, etc. Mas
não apenas estes: as de sociedades agem sobre a biosfera através de desmatamentos, modificações
nos ecossistemas, alterações na dinâmica geomorfológica, degradando ou destruindo solos ou
afetando as zonas litorâneas.
Todos estes riscos são agravados pelo homem e seu nível de desenvolvimento. Convém
salientar que os riscos considerados naturais nos países ricos, por mais dramáticos que sejam, não
têm as mesmas conseqüências que nos países em desenvolvimento (VEYRET & PECH, op.cit.).
Nesta pesquisa são considerados apenas os desmoronamentos (quedas de barreiras), os
deslizamentos de encostas as manifestações da erosão hídrica (erosão em sulcos e ravinamentos,
erosão em lençol e a formação de voçorocas) e a poluição daságuas.
O desenvolvimento rápido da urbanização nos vales do Jaguaribe e do Timbó, associado à
devastação da cobertura vegetal e à retirada de material das suas encostas e das falésias, vêm
localmente causando problemas de estabilidade do meio.
Os fatores que influem na estabilidade das encostas são vários; sua contribuição para a
ocorrência de desastres ou riscos varia muito, de local para local, em função das características
geológicas, geomorfológicas e topográficas dos geótopos. Sua identificação baseou-se em
levantamentos geomorfológicos e geológicos e em estudos das formas de ocupação das áreas.
Desde o início dessa pesquisa que foram executados levantamentos de campo nas encostas
dos referidos vales, assim como reuniões com a equipe de trabalho, para completar as informações
obtidas e ao mesmo tempo identificar os setores caracterizados por determinados riscos. Esses
trabalhos constaram de observações sobre:
Solo, para o geólogo, é a camada intemperizada (ou formações superficiais) que recobre o
material geológico e que é sujeita a todos os processos de erosão e movimentos de massa
(afundamentos, acomodações, deslizamentos, desmoronamentos, etc.). Para o engenheiro, solo
representa a camada de material rochoso não consolidado, que é removida durante as obras para o
pedólogo. Solo é a parte superior das formações superficiais onde se localizam concentrações de
matéria orgânica e onde se estabelecem atividades biológicas intensas (GUSMÃO, 1993). Estes três
conceitos foram utilizados nesta pesquisa.
Em sua origem, a erosão urbana decorre de uma série de fatores dentre os quais podem ser
citados: falta de planejamento adequado considerando todas as particularidades do meio físico;
condições sócio-econômicas e nível cultural das populações; e, tendências do desenvolvimento
urbano da área.
68
Dentre as principais causas da erosão urbana segundo MOTA (1971), podem ser citadas:
Torna-se urgente que organismos municipais pratiquem também uma política de controle e
de prevenção da erosão baseada em dispositivos legais específicos e mecanismos que possam
garantir a sua observância.(MOTA, op. cit)
Resta que o problema da erosão nas cidades ainda está por merecer uma legislação
específica e rigorosa, adequada às características do meio físico e do meio ambiente urbano, assim
como ao tamanho das cidades afetadas.
Um plano de controle da erosão deve salientar as seguintes características:
15 - Encostas convexas com marcas de erosão provocadas por excesso de pisoteio do gado
criado na área do vale do Jaguaribe, nas cercanias do bairro do Rangel (fotos: A. S. Tavares de
Melo, 1999).
70
15A - Encostas convexas com marcas de erosão provocadas por excesso de pisoteio do gado
criado na área do vale do Jaguaribe, nas cercanias do bairro do Rangel (fotos: A. S. Tavares de
Melo, 1999).
Nos bairros do Rangel, Cristo Redentor, Cruz das Armas, algumas ruas abertas nas encostas
enladeiradas do vale do Jaguaribe, sem pavimentação ou com pavimentação incompleta,
apresentam voçorocas em estado muito avançado bem como ravinamentos generalizados.
Nas rampas longas que unem o topo aos terraços aluvio-coluviais do vale do Jaguaribe, em
todo o trecho entre a mata do Buraquinho e o bairro do Rangel, verifica-se a ocorrência de erosão
em sulcos generalizados no leito das ruas não pavimentadas ou com pavimentação incompleta e nas
quais há uma total ausência de galerias para águas servidas e pluviais (Fotos 16 a 19).
71
Foto 16
Foto 17
72
Foto 18 Foto 19
16 a 19 - Manifestações de erosão hídrica em rampa de colúvio onde foi aberta a rua José de Melo Lula,
no Rangel. A pavimentação incompleta (fotos 16 e 19) as galerias pluviais precárias (foto 18) e a falta de
esgotos contribuem para a erosão em sulcos e ravinas a partir do término do calçamento (foto 19) (foto:
A. Sergio T. de Melo, 1998).
De acordo com GUERRA & GUERRA (1997), voçoroca é “a escavação ou rasgão do solo
ou de rocha decomposta, ocasionado pela erosão do lençol de escoamento superficial”.
Uma voçoroca forma-se por meio de uma passagem gradativa entre erosão laminar, erosão
em sulcos e ravinas cada vez mais profundas. Mas elas também são formadas a partir de um ponto
onde a água das chuvas se concentra sem que haja dissipação da energia (DAEE/ITP, 1989).
A voçoroca corresponde ao estágio mais avançado e complexo da erosão, cujo poder
destrutivo local é superior ao das outras formas de erosão, sendo assim de difícil contenção.
Numa voçoroca atuam, além da erosão superficial, outros processos de desmoronamentos e
solapamentos de suas paredes condicionadas pelo fato dessa forma erosiva atingir em profundidade
o lençol freático ou o nível da água de subsuperfície, e processos de erosão interna ou “piping”.
A ocupação urbana dos solos representa um fator decisivo na aceleração dos processos de
erosão hídrica que por sua vez são comandados por fatores naturais tais como chuvas, cobertura
vegetal, topografia e tipo de solo.
Afetando áreas urbanas, obras e equipamentos públicos, as voçorocas representam
fenômenos erosivos que envolvem áreas consideráveis e que mobilizam grandes volumes de solo.
Elas são dotadas de uma rápida evolução e de remotas possibilidades de sucesso das medidas e
obras tradicionais de combate à erosão, tais como: seqüências de obras de arrimo e captação e
adução da águas pluviais e operações de terraplenagem.
Em áreas urbanas o fenômeno é bem mais difícil de contenção e seus danos são bem
maiores, por duas razões: riscos às vidas humanas, às habitações e aos equipamentos urbanos
(arruamentos, redes de distribuição de energia elétrica, de água e de coleta de águas pluviais e
servidas); o próprio processo de urbanização que interfere de maneira drástica no meio físico,
notadamente nos volumes e destinos das águas de escoamento e infiltração faz com que as
voçorocas urbanas sejam as de evolução mais rápida e de contenção mais difícil (IWASA &
PRANDINI, 1982).
O crescimento urbano associado à falta de planejamento ou a um planejamento inadequado
que não leva em consideração as condições físicas, econômicas e sociais, geralmente empurra a
população de baixa renda para áreas desfavoráveis, sem qualquer infra-estrutura e ainda com o
agravante dessas áreas geralmente estarem sujeitas a riscos geotécnicos e de insalubridade.
Em toda área de pesquisa, verificou-se que os fatores que influem na formação de voçorocas
urbanas são: traçado inadequado do arruamento agravado pela falta ou insuficiência da
pavimentação, guias e sarjetas; precariedade da drenagem das águas pluviais e servidas; expansão
urbana descontrolada (implantação de loteamentos conjuntos habitacionais em locais não
apropriados e invasões em áreas de perigo); práticas de parcelamento dos solos inadequadas e
deficientes.
Na área estudada foram escolhidos três setores onde ocorrem voçorocas para ilustrar o que
vem de ser exposto. São eles: a rua 14 de Julho, no bairro do Rangel; rua Adelaide Novais, no
Cristo Redentor e rua Silva Mariz, em Cruz das Armas. As voçorocas estudadas localizam-se nas
encostas do vale do Jaguaribe, em ruas com pavimentação incompleta, terminando na linha de
inflexão entre os topos dos tabuleiros e as vertentes (Figura 8).
74
Figura 8
Voçorocas Urbanas
(João Pessoa –PB)
Duas das ruas citadas – Silva Mariz e Adelaide Novais – são pavimentadas até a inflexão
topo/encosta alta. É a partir desse ponto que se forma uma descontinuidade de material e de terreno
e onde se iniciam os processos erosivos provocados pela concentração e aumento da energia do
escoamento das águas pluviais agravado pela ausência ou ineficiência das galerias pluviais e de
sistemas de águas servidas (Fotos 20, 20A e 21).
75
Foto 20 Foto 20A
20 e 20A - Voçoroca no final do calçamento da rua Silva Mariz, em Cruz das Armas. Observar: o lixo
depositado com o intuito de conter seu avanço e o lençol freático que é atingido e aflora (foto: A. S. T. de
Melo, 1999).
76
22 e 22A - Voçoroca na rua 14 de julho, no Rangel. Fotos obtidas em 1997, antes dos trabalhos de
contenção efetuados pela Prefeitura de João Pessoa.
78
Foto 23
Foto 23A
25, 25A e 25B - Finalização da obra. Observar a tubulação das águas pluviais e servidas, e os gabiões
(fotos: Melo, 1999).
81
Essa imensa voçoroca, estudada desde o início dessa pesquisa, foi aparentemente contida
graças à construção de gabiões e enrocamentos pela Secretaria da Infraestrutura da prefeitura
Municipal de João Pessoa durante o ano de 1999.
O problema se agrava mais, pois muitas vezes, como é o caso das ruas Adelaide Novais e
Silva Mariz, pois as voçorocas transformam-se em áreas de despejo de lixo numa vã tentativa de
conter sua evolução. O lixo, assim como o lançamento de esgotos, transformam esses setores em
focos de doenças o que as torna mais perigosas para a saúde das populações que vivem no seu
entorno.
Os setores submetidos à formação de voçorocas exigem soluções que seja eficientes e que
justifiquem o investimento público, resultando em segurança para a população e equipamentos, de
forma a devolve- los ao seu uso urbano.
3.2. Poluição
Foto 27
Foto 27A
Foto 28
Foto 28A
Os principais mecanismos, geradores de poluição, na área e suas fontes principais podem ser
localizadas, ou não.
A água necessária à vida pode também provocar doenças e epidemias. As epidemias ligadas
ao consumo de água poluída por germes patogênicos ainda matam muitas pessoas, sobretudo as que
apresentam um baixo nível de vida. Quando não as matam, as tornam inválidas para ganhar o seu
sustento.
Diante do rápido crescimento demográfico e da baixa renda de grande parte da população, a
instalação das comunidades no vale do Jaguaribe e do Timbó vem contribuindo para aumentar a
poluição. Os dejetos se acumulam e criam problemas graves: as águas servidas e contaminadas
estão na origem de epidemias e o aumento das doenças parasitárias.
Quanto aos dejetos urbanos domésticos e por vezes industriais, não existe um setor eficiente
para sua coleta e destino. Este é acumulado nas ruas e nas margens dos rios ou então é lançado
neles.
A maioria das endemias apresenta um modo de transmissão indireto, ligado ao meio
bioclimático. Esta “comunicação” implica na permanência do agente patogênico em um hospedeiro
intermediário específico. O agente patógeno deve cumprir um ciclo de transformação e
multiplicação no hospedeiro intermediário antes de atingir o homem. O modo de transmissão dá-se
por meio de um vetor que é quase sempre um inseto ou um animal. Tem-se desse modo, segundo
Max Sorre (1943), um complexo patogênico que associa as exigências ecológicas do homem, os
vetores das doenças e todos os seres que condicionam e comprometem sua existência.
A densidade dos vetores (moscas, mosquitos) está ligada a presença da água, às
temperaturas relativamente elevadas, ao grau de umidade e à existência de vegetais. Os riscos
patogênicos são associados ao clima, porém as carências de infraestruturas urbanas agravam esses
riscos.
Na área pesquisada, que é um reflexo de um universo maior representado por João Pessoa, a
rede de drenagem das águas usadas e pluviais revela-se insuficiente ou ausente em alguns casos. As
canalizações improvisadas pelos moradores destinadas a recolher as águas domésticas poluídas
favorecem a formação de áreas permanentemente alagadas permitindo dessa maneira o
desenvolvimento das larvas de mosquitos. A umidade quase permanente que essas águas provocam
no solo favorece por sua vez, a proliferação de microorganismos e sobrevivência de vermes.
Outros riscos são os que se associam à qualidade da água potável. O acesso à água varia de
acordo com o nível sócio-econômico das populações. Em vários aglomerados do vale do Jaguaribe
e do Timbó, a água utilizada pelos moradores não é tratada ou controlada. Em alguns casos ela é
provenient e de poços. O lençol freático à pouca profundidade (nos aglomerados situados nos
terraços fluviais, p. ex.) é muito poluído por causa do lixo e das latrinas que são quase sempre
implantadas próximo às margens dos rios e nas proximidades dos poços.
Os riscos ligados ao sub-equipamento assumem um lugar importante. As águas usadas
veiculam cistos de protozoários provenientes das matérias fecais (ameba, por exemplo) e as
parasitoses são freqüentes, como por exemplo, as helmintíases. A contaminação pode se dar através
da ingestão ou por contato cutâneo, o parasita passando desse modo para o organismo humano.
87
A utilização da água para consumo doméstico, uso pessoal e outras atividades resulta em
água poluída que retorna aos rios e mananciais, poluindo-os. Ao mesmo tempo, o escoamento
superficial carreia impurezas para estes corpos d’água comprometendo sua qualidade.
Tal é o quadro geral que se apresenta na área pesquisada, a exemplo da Lagoa do Buracão,
na cidade dos Funcionários e no Rio Timbó (Fotos 30 e 30A).
Foto 30
Foto 30A
30 e 30A - Lagoa da Cidade dos Funcionários. Poluição das águas pelo lixo que é lançado e
pelos esgotos. Foco de muitas doenças (fotos: Melo, 1998).
4. Indicadores Sócio-Econômicos e Qualidade do Meio Ambiente
Figura 9
Crescimento Exponencial das Favelas no Município de João Pessoa
120
100
número de favelas
80
60
40
20
0
1960 1970 1980 1982 1994 1998
anos
Quadro 12
Favelas na Bacia do Jaguaribe
Um estudo sobre o uso da terra no Vale do Jaguaribe, desenvolvido em 1974 pela geógrafa
Sônia Cordeiro, sob a orientação da professora Maria Gelza Rocha F. de Carvalho, registrou que, na
época, a ocupação de todo o vale era ainda predominantemente rural. A área estava dividida em
sítios e granjas de pequena extensão (3 ha, em média) onde era praticada a criação de gado leiteiro,
fruticultura e a pequena agricultura comercial (feijão, mandioca, inhame, macaxeira) e grandes
áreas improdutivas, algumas delas já loteadas, situadas na margem direita do rio, em seu baixo
curso, na planície litorânea.
As várzeas enxutas e os terraços eram ocupados pelas culturas comerciais e capim para as
vacarias e pastagem do gado. Em alguns trechos mais úmidos cultivam-se verduras e hortaliças. As
encostas geralmente eram ocupadas por árvores frutíferas. Quanto a estas, vê-se no quadro 13 a
importânc ia do coqueiro e da bananeira.
93
Toda a produção de leite, de frutas e agrícola era destinada aos mercados de João Pessoa.
Quadro13
Fruticultura no Vale do Jaguaribe (1974)
Mas, a principal atividade era a criação de gado leiteiro, atestada pelo grande número de
vacarias existentes e do qual, ainda hoje, restam algumas espalhadas pela área.
Já na época da pesquisa efetuada por Sônia Cordeiro Cavalcanti, constatava-se a fragilidade
econômica da área, uma vez que os meios de produção eram precários e os métodos de
aproveitamento da terra eram bastante desorganizados.
Alguns geógrafos paraibanos, nessa época, já percebiam que o interesse por parte dos
proprietários em preservar suas terras voltava-se, sobretudo para a especulação imobiliária. A
tendência sendo transformá-las em loteamentos residenciais, como posteriormente aconteceu com
os Loteamentos Oceania, por exemplo.
As primeiras favelas que surgiram no vale foram: Baleado, em Cruz das Armas, no alto
curso, e São José, no médio vale.
Nas proximidades da reserva florestal do Buraquinho, a ocupação permaneceu sob a forma
das granjas, sítios e mesmo fazendas, até o final da década de 70.
Na década de 80 esses aglomerados começam a se ampliar. Surgem as favelas Padre Hildon,
São Rafael, Santa Clara, da Matinha, Chatuba e Timbó, entre outras.
Quanto à população total dos aglomerados de João Pessoa, o gráfico da população municipal
e subnormal nos mostra sua evolução entre 1996 e a projeção para o ano 2000.
Figura 10
População de João Pessoa (situação atual e projeção para o ano 2000)
600.000
500.000
400.000
habitantes
300.000
200.000
100.000
0
1996 2000
anos
31 - Vista obtida no Conjunto João Agripino, no topo da falésia morta que circunda o media rio
Jaguaribe. Observa-se a oposição entre o padrão de urbanização do bairro de São José, no
sopé dessa falésia e no exíguo terraço fluvial e o de Manaíra. Também pode ser observada
densidade domiciliar que caracteriza o bairro de São José (foto: Melo, 1998).
95
32 - Padrão das habitações no Bairro de São José. Na foto, vê-se um pequeno lote que ainda
não foi ocupado. Ao fundo, restos da floresta que recobrem as falésias mortas (fotos: A. S. T. de
Melo, 1998).
33 - Favela São Rafael. Os seus habitantes preferem o termo comunidade. Ocupação dos
terraços e da própria várzea do rio Jaguaribe (foto: A. S. T. de Melo, 1998).
96
Quadro 14
Universo da amostragem pesquisada
TOTAL DE DOMICÍLIOS
AGLOMERADOS BAIRROS
DOMICÍLIOS PEQUISADOS
Baleado Cruz das Armas 226 9
Paulo Afonso II Rangel 99 5
Paulo Afonso III Jaguaribe 261 8
Timbó I e II Bancários 706 29
São Rafael Castelo Branco 345 14
São José São José 635 68
Chatuba Manaíra 293 12
TOTAL 2.565 145
4) São Rafael – localizada nas baixas encostas e terraço superior do vale médio do
Jaguaribe, esta comunidade está sujeita a deslizamentos das encostas e soterramentos
além dos riscos de alagamento por ocasião das cheias.
5) São José e Chatuba – ambas estão construídas entre o exíguo terraço fluvial da margem
esquerda do Jaguaribe e o sopé da falésia que se estende da avenida Ruy Carneiro até a
ponte da BR230. Aí ocorrem freqüentemente, quedas de barreiras e soterramentos além
das inundações sazonais provocadas pelas cheias.
Quadro 15
População de João Pessoa em 1996 e sua projeção para o ano 2000, incluindo as favelas
O crescimento das áreas de favelas na cidade de João obedece ao padrão identificado para
todas as capitais e maioria das cidades brasileiras. Num primeiro momento, o processo de migração
campo/cidade instalou no ambiente urbano uma população representada por ex-trabalhadores rurais
e suas famílias. Isto é, o contingente de mão de obra não qualificada, cuja absorção pelo mercado de
trabalho ocorre apenas nas categorias mais humildes e menos remuneradas de emprego urbanos.
99
Durante os trabalhos de campo, verificou-se que a experiência de vida nestes aglomerados
acabou estabelecendo um sistema interno de valores e comportamentos com pouca ou nenhuma
semelhança com a prática de vida fora deles.
A população economicamente ativa desses aglomerados exerce na cidade atividades que,
embora tenham demanda constante, são quase todas de caráter temporário. Dessas atividades as
mais exercidas são: pedreiro, servente, vigilante, vendedores ambulantes, domésticas, lavadeiras e
serviços gerais.
Pelos dados obtidos na presente pesquisa verifica-se que os proventos da maioria dos chefes
de família situam-se entre 0-1 e 1-2 salários mínimos, embora, em alguns casos, esse padrão de
renda possa alcançar 2-3 e 3-4 salários. No entanto, esta proporção é muito menor do que a do
primeiro caso. De todos os entrevistados apenas cinco têm renda familiar maior do que quatro
salários mínimos (quadro16 ).
A composição da renda familiar concentra-se nos rendimentos do chefe de família. A
complementação dessa renda é declarada sob a forma de auxílio de parentes, aluguel de imóveis
e/ou pensão alimentícia que, embora não seja muito freqüente, tem maior peso econômico quando
ocorre. Provavelmente outras formas de captação de renda existem como, por exemplo, a venda de
drogas; mas as declarações a este respeito são raras e imprecisas.
Quadro 16
Emprego a salário do chefe de família e renda familiar
SALÁRIO/CHEFE DE
EMPREGOS/CHEFE DE FAMÍLIA RENDA FAMILIAR
FAVELAS FAMÍLIA
Pedrei Serven Ambula Serv. Vigilan Lavadei Domésti Mecâni
0-1 1-2 2-3 3-4 0-1 1-2 2-3 3-4
ro te nte Gerais te ra ca co
Timbó 5 3 2 1 - 2 6 2 - - - - 8 16 4 1
Paulo
3 1 4 1 - - 16 4 18 10 2 1 11 19 1 0
Afonso II
São Rafael 1 11 - 3 2 6 2 2 - - - - 4 10 3 1
Baleado 3 5 2 2 3 1 8 1 - - - - 10 6 2 3
Chatuba 2 0 1 - 1 3 7 2 - - - - 7 9 2 -
101
4.3. Procedência do chefe de família e tempo de moradia
Quadro 17
Procedência do chefe de família
PROCEDÊNCIA
POPULAÇÃO DO CHEFE DE
FAMÍLIA
Dependentes/Filhos Total Zona Zona Não
FAVELAS Chefe de rural urbana Informou
família
Masc. Fem.
Timbó 16 13 92 121 9 18 21
São Rafael 11 9 56 76 4 13 1
Baleado 7 17 68 92 6 17 1
Chatuba 4 14 55 73 3 15 -
Equipe UNIPÊ,1999
Em relação ao tempo de moradia nas comunidades visitadas, a pesquisa revelou q 74,9% dos
moradores entrevistados residem há mais de cinco anos nas respectivas comunidades, embora haja
referências e mudanças temporárias para outras. Comunidades como Paulo Afonso II e Baleado
mostram índices de mobilidade da população, no período de cinco anos, equivalentes a 37,5% e
55,5%, respectivamente; Timbó I e II e Chatuba, num igual período, não registram nenhuma
descontinuidade de permanência.
A investigação realizada não conseguiu esclarecer a causa deste fenômeno, mas é possível
levantar duas hipóteses:
Dessa forma, observou-se que a vida da população das favelas desenvolveu-se de modo
precário e com carências de todos os tipos: educacionais, sanitárias e acima de tudo sócio-
econômicas.
A proximidade entre o Bairro de São José/Chatuba e o Shopping Center Manaíra, torna
muito mais evidente o contraste entre uma representação sofisticada da sociedade de consumo e o
seu avesso, configurado pelo contingente dos cidadãos de baixa renda e, portanto, não
consumidores de sua produção. Entretanto, a mídia divulga e padroniza valores, gostos e
comportamentos. A mensagem televisiva e a informação jornalística direcionadas ao
condicionamento psico-social das massas, longe de analisar o processo de exclusão social dessa
parcela crescente da sociedade, acena sempre com soluções fáceis e possibilidades imediatistas de
soluções. Loterias, sorteios, carreiras milionárias de jogadores de futebol e modelos fotográficos
102
povoam as esperanças de jovens e adultos e desqualificam aos olhos dos mais jovens atividades que
não geram renda nem status social elevado.
Atualmente, observa-se o crescente distanciamento e diluição sócio-cultural entre os valores
da geração de migrantes da área rural para a cidade e da geração dos já nascidos nas favelas.
A estrutura econômica de um país capitalista periférico, atrelada ao modelo globalizante da
economia, ampliou a acumulação de riquezas por um número cada vez menor de cidadãos, em
detrimento da grande maioria de excluídos.
Este fato pode ser visualizado pelo crescimento dos aglomerados subnormais na cidade de
João Pessoa.
A dinâmica da vida doméstica da população de classe média e média-alta, com moradia em
apartamentos, uso de recursos tecnológicos com eletrodomésticos (lavadoras de roupas e de louças,
freezers e fornos de microondas) induz a uma redução da demanda por mão-de-obra feminina. Por
outro lado, a modernização e a automação de serviços também funciona no sentido de provocar
mais desemprego e ampliação do subemprego entre a população masculina. Essa situação pode
estar ligada ao crescimento em número das favelas, dos domicílios subnormais e da população
marginalizada.
4.4. Instrução
Na análise desse indicador, os dados apresentam uma lacuna referente ao nível de instrução
por dependente, mas aponta uma concentração no ensino fundamental e razoável presença de
dependentes que estudam. Percebe-se também uma grande evasão escolar a partir do 2º. Grau
(ensino médio) e nenhuma representatividade no 3º. Grau (Quadro18 ).
Quadro 18
Grau de instrução nos aglomerados
Baleado 2 9 8 4 - 1 - - - - 44 48
Chatuba 2 7 8 1 - - - - - - 24 31
UNIPÊ, 1999
4.5. Habitação
Com relação às condições de habitação, os dados informam que a maioria dos terrenos em
que os moradores constroem suas moradias é pública, o que atesta que sua apropriação se dá ou se
deu por via ilegal.
Quanto ao tempo de ocupação do imóvel, os dados em sua maioria, confirmam uma
permanência de mais de 5 anos.(Quadro 20).
Quanto ao número de cômodos a pesquisa constatou três ou quatro por moradia.
A maioria das casas é de taipa ou de tijolo e recobertas com telhas. A pobreza é ainda mais
visível quando as habitações são extremamente precárias (Quadro19) (Fotos 37 e 37A).
103
Foto 37
Foto 37A
MORADIA C/RELAÇÃO AO
SITUAÇÃO DO TERRENO
FAVELAS TERRENO
Próprio Público Terceiros Não Outros Próprio Alugada Cedida Outra
Informou
Timbó 4 169 3 17 5 142 13 2 5
Paulo
5 164 2 - - 133 25 11 2
Afonso II
São Rafael 55 90 - 18 10 157 7 9 -
Chatuba - 66 - - - 56 8 2 -
UNIPÊ, 1999
Quadro 20
Tempo de moradia e número de cômodos dos domicílios
4.6. Saúde
Quadro 22
Saúde – doenças mais freqüentes (Pesquisa UNIPÊ, 2000)
Quadro 23
Saúde – assistência médica
ASSISTÊNCIA MÉDICA
FAVELAS POSTO HOSPITAL POSTO/HOSPITAL OUTROS NÃO INF.
Timbó 55 42 15 9 6
Paulo Afonso II 59 93 13 6 -
São Rafael 83 82 4 4 -
Baleado 100 79 - 3 -
Chatuba 37 19 5 5 -
Fonte: SECRETARIA DE PLANEJAMENTO DO MUNICÍPIO, 1996
Quadro 24
Saúde – assistência médica (Pesquisa UNIPÊ, 2000)
ASSISTÊNCIA MÉDICA
FAVELAS POSTO HOSPITAL POSTO/HOSPITAL OUTROS NÃO INF.
Timbó 17 9 - 2 1
Paulo Afonso II 20 3 8 - -
São Rafael 9 8 - 1 -
Baleado 17 6 - 1 -
Chatuba 13 5 - - -
106
A respeito da vacinação, verificou-se que, em ambos os levantamentos, a grande maioria
vacina as crianças, independentemente das campanhas promovidas pelos governos federal, estadual
e municipal.(Quadros 25 e 26).
Quadro 25
Saúde – Vacinação e Mortalidade Infantil
Baleado 30 129 3 20 44 12 - 3 1
Chatuba 13 36 6 16 19 11 - - -
Fonte: SECRETARIA DE PLANEJAMENTO DO MUNICÍPIO, 1996
Quadro 26
Saúde – Vacinação e Mortalidade Infantil (Pesquisa UNIPÊ, 2000)
Baleado 9 12 - 3 5 - - - - 19
Chatuba 10 7 1 1 2 - - 1 - 16
38 - Local onde se situava a lagoa que dava origem ao rio Jaguaribe, no Jardim Esplanada. Há
muita aterrada, em seu lugar existe uma vacaria (foto: Melo, 1997).
– A contaminação da água é um dos problemas mais sérios e tem como causa a deficiência
dos serviços de esgotamento sanitário. A implantação do sistema de esgoto das estações de
tratamento não acompanhou o ritmo do crescimento demográfico e urbano. Além disso, ela registra
a desigualdade social e econômica, o que diferencia a distribuição desses serviços entre os diversos
grupos sociais.
– O destino final do lixo constitui outro grande problema. A maior parte dos dejetos é
lançada, in natura, no Jaguaribe e no Timbó, comprometendo, desse modo, a qualidade da água. A
água contaminada ou não tratada retorna à população que, não dispondo de um sistema de
abastecimento e tratamento, muitas vezes a utiliza, sendo por isso atingida por doenças microbianas
(ver tabelas de doenças).
Esse problema se avoluma com o crescimento populacional e expansão das favelas. Embora
João Pessoa conte com um serviço regular de coleta e transporte do lixo relativamente equipado ele
é insuficiente. O atendimento não cobre todas as ruas dos aglomerados subnormais e bairros pobres.
A largura dessas ruas e seu estado precário dificultam a circulação dos grandes caminhões coletores
de lixo e, por conseguinte, é freqüente se observar acúmulo de lixo no meio das ruas ou nas
proximidades dos aglomerados. A utilização dos terrenos baldios para despejo do lixo contribui
para contaminação do solo, gerando mais problemas para a saúde das populações, além de atrair
110
insetos e roedores e formar focos patogênicos. Alguns aglomerados chegam a despejar resíduos
diretamente nos rios e lagoas, agravando dessa maneira os problemas de poluição das águas.
– Outro sério problema atinge os aglomerados erguidos nos sopés das falésias inativas que
vêm sendo reativadas por meios da retirada de barro para a edificação das moradias, pelo
desmatamento para coleta de lenha e obtenção de madeira e pela abertura de caminhos até o topo
dos tabuleiros que servem de atalhos para bairros vizinhos nos quais a população geralmente
trabalha. Como conseqüência dessas práticas, o meio se torna muito instável e os riscos de
deslizamentos e soterramentos são freqüentes (a exemplo do que vem ocorrendo no Bairro de São
José e na Comunidade do Timbó).
– Outros aglomerados são construídos nos terraços fluviais próximos ao leito de inundação
dos rios (Bairro de São José, Favela da Chatuba e nas comunidades de São Rafael e Santa Clara, por
exemplo). As inundações sazonais dos rios Jaguaribe e Timbó são mais fortes em virtude dos
entulhos lançados nos talvegues desses rios. Esses entulhos, por possuírem uma grande quantidade
de matéria orgânica, favorecem o crescimento excessivo da vegetação aquática (baronesa,
Eichhornia crassipes; lentinlha, d’água, Lemna sp; pasta, Pistia sp, por exemplo), contribuindo,
assim, para o aumento dos efeitos das cheias e para a formação de focos de vetores de doenças
transmissíveis ao homem (gasterópodes e larvas de insetos) (Fotos 39 e 40).
40 - O rio Jaguaribe no bairro de São José. Suas águas encontram-se totalmente recobertas por
baronesa ou aguapé (Eichhornia crassipes) e Pistia sp., o que aumenta o risco de
transbordamentos por ocasião das chuvas (foto: Melo, 1999).
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9. BRASIL – Decreto 750/93, de 10/02/93, que trata especificamente da Proteção da Mata Atlântica e
ecossiemas associados.
10. BRASIL – Lei 4.771 de l5 de Novembro de l965. Instituiu o novo código Florestal nacional. Diário
Oficial da União.
12. BRASIL. Lei n0. 6766 de dezeembro de l979. Dispõe sobre o parcelamento do Uso do Solo Urbano e dá
outras providências. Diário oficial da União.
14. CAVALCANTI, Sônia C. Contribuição ao estudo do uso da terra no vale do Jaguaribe. Relatório de
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17. DANTAS, J.R.A. et al. Mapa Geológico do Estado da Paraíba: texto explicativo. João Pessoa: CDRM,
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54. PARAÍBA - Lei nº. 4.335 de l6 de dezembro de l98l.Dispõe sobre prevenção e controle da poluição
ambiental e estabelece normas disciplinares da espécie. Diário Oficial do Estado da Paraíba, 18 de
dezembro de l98l.
55. PARAÍBA. Constituição Estadual de 1988. Cap. IV, Art. 227, Da Proteção do Meio Ambiente.
56. PARAÍBA. Decreto nº. l3.798 de 26 de dezembro de l990. Regulamenta a Lei n0. 4.335 de 16 de
dezembro de l98l, que dispõe sobre prevenção e controle da poluição ambiental, estabelece normas
disciplinares e dá outras providências. Diário Oficial do Estado da Paraíba, p.79-85, 27 de dezembro de
l990.
116
57. PARAÍBA. Decreto nº 13.798 de 26 de dezembro de 1990. Regulamente a Lei nº 4.335 de 16 de
dezembro de 1981, que dispõe sobre a prevenção e controle da poluição ambiental, estabelece normas
disciplinares da espécie e dá outras providências. Diário Oficial do Estado da Paraíba, p.79-85, 27 de
dezembro de 1990.
58. PARAÍBA. Lei nº 4.335 de 16 de dezembro de 1981. Dispõe sobre a Prevenção e o Controle da Poluição
Ambiental e estabelece Normas Disciplinares da Espécie. Diário Oficial do Estado da Paraíba, 18 de
dezembro de 1981.
59. PARAÍBA/Prefeitura Municipal de João Pessoa. Legislação Urbanística, in: Coletânea da Legislação de
Obras e Posturas. Coordenadoria Geral de Planejamento, p.206-209, l985.
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Federal: uma contribuição ao estudo das modificações ambientais”. Revista brasileira de Geografia, Rio
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62. PREFEITURA MUNICIPAL DE JOÃO PESSOA. Plano Diretor da Cidade de João Pessoa – l994,
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64. Projeto Básico de Engenharia – Relatório do Projeto, vols. 1A e 1C, João Pessoa, abril 1995.
65. RIZZINI, Carlos T. Tratado de Fitogeografia do Brasil. São Paulo: HUCITEC-EDUSP, 1976-1979, 2o
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entre 1969 e 1995. UFPE/Dep. de Ciências Geográficas – Recife, 1996 (Dissertação de Mestrado).
67. RODRIGUEZ, Janete L. & DROULERS, Martine – João Pessoa: Fundação Casa de José Américo,
1981.
68. RODRIGUEZ, Janete L. “Considerações geográficas sobre a evolução urbana de João Pessoa” In:
Capítulos de Historia Paraibana, p. 591-599 - João Pessoa: SEC/O Norte, 1987.
70. __________________. Acumulação do capital e produção do espaço: o caso da Grande João Pessoa.
João Pessoa: Editora Universitária – UFPB, 1995.
72. RODRIGUEZ, Walfredo. Roteiro Sentimental de uma cidade.João Pessoa: Conselho Estadual de
Cultura/SEC – A União Editora, l994 (2a Edição – Facsimile da la. Edição de 1962).(Biblioteca
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73. SÃO PAULO/DAEE/IPT. Controle de erosão: bases conceituais e técnicas; diretrizes para o
planejamento urbano e regional; orientação para o controle de voçorocas urbanas. São Paulo:
DAEE/IPT, 1989.
74. SILVA, Anières B. da. As variações espaciais das paisagens no Baixo Vale do Mamanguape (PB) entre
1972-1995. UFPE/Dep. de Ciências Geográficas, Recife, 1995 (Dissertação de Mestrado).
117
75. SILVA, Josival Ferreira da. Voçorocas: uma feição flagrante da erosão em João Pessoa. João Pessoa:
UNIPE/DSN/ Curso de Geografia, 1999 (Monografia de Graduação).
78. TRICART, Jean & KILIAN, J. L’éco-géographie et l’aménagement du milieu naturel. Paris: François
Maspéro, 1979 (FM/HERODOTE).
79. TRICART, Jean. Ecodinâmica. Rio de Janeiro: IBGE-SUPREN, 1977 (Recursos Naturais e Meio
Ambiente, 1).
80. VEYRET, Y. & PECH, P. L’Homme et l’environnement. Paris: Presses Universitaires de France (PUF),
1997 (Col. 1er. Cycle).
II – Anexos
119
LISTA DE QUADROS
1 – Gráfico de temperaturas
2 – Gráfico de evaporação
3 – Gráfico das precipitações
4 – Cartograma: sistema de circulação atmosférica e gênese das chuvas
5 – Diagrama do Balanço Hídrico de João Pessoa de GOLFARI & CASER, 1978
6 – Diagrama ombrotérmico de João Pessoa de GRABOIS & NOGUEIRA, 1979
7 – Regiões Bioclimáticas segundo GALVÃO (1967)
8 – Localização das voçorocas urbanas de João Pessoa
9 – Crescimento exponencial das favelas de João Pessoa
10 – População de João Pessoa (situação atual e projeção para o ano 2000)
121
LISTA DE FOTOS
5 – Terraço fluvial do rio Timbó (no primeiro plano da foto) (foto: idem).
20 e 20A – Voçoroca no final do calçamento da rua Silva Mariz, em Cruz das Armas.
Observar: o lixo depositado com o intuito de conter seu avanço e o lençol freático
que é atingido e aflora (foto: A. S. T. de Melo, 1999).
22 e 22A – Voçoroca na rua 14 de julho, no Rangel. Fotos obtidas em 1997, antes dos
trabalhos de contenção efetuados pela Prefeitura de João Pessoa.
25, 25A e 25B – Finalização da obra. Observar a tubulação das águas pluviais e servidas,
e os gabiões (fotos: Melo, 1999).
28 e 28A – Várzea do Jaguaribe. Lixo no solo e árvore cortada (foto: Melo, 1997).
30 e 30A – Lagoa da Cidade dos Funcionários. Poluição das águas pelo lixo que é
lançado e pelos esgotos. Foco de muitas doenças (fotos: Melo, 1998).
31 – Vista obtida no Conjunto João Agripino, no topo da falésia morta que circunda o
media rio Jaguaribe. Observa-se a oposição entre o padrão de urbanização do
bairro de São José, no sopé dessa falésia e no exíguo terraço fluvial e o de
Manaíra. Também pode ser observada densidade domiciliar que caracteriza o
bairro de São José (foto: Melo, 1998).
32 – Padrão das habitações no Bairro de São José. Na foto, vê -se um pequeno lote que
ainda não foi ocupado. Ao fundo, restos da floresta que recobrem as falésias
mortas (fotos: idem).
123
33 – Favela São Rafael. Os seus habitantes preferem o termo comunidade. Ocupação
dos terraços e da própria várzea do rio Jaguaribe (foto: idem).
38 – Local onde se situava a lagoa que dava origem ao rio Jaguaribe, no Jardim
Esplanada. Há muita aterrada, em seu lugar existe uma vacaria (foto: Melo, 1997).
40 – O rio Jaguaribe no bairro de São José. Suas águas encontram-se totalmente recobertas por
baronesa ou aguapé (Eichhornia crassipes) e Pistia sp., o que aumenta o risco de
transbordamentos por ocasião das chuvas (foto: Melo, 1999).
124