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CENTRO UNIVERSITÁRIO DE JOÃO PESSOA – UNIPÊ

CURSO DE GEOGRAFIA

Os Aglomerados Subnormais dos vales do Jaguaribe e do Timbó:


Análise geo-ambiental e qualidade do meio ambiente

João Pessoa - 2001


Equipe de Pesquisa

Coordenador: Professor Antonio Sergio Tavares de Melo

Pesquisadores:
Antonio Sergio Tavares de Melo
Euzivan Lemos Alves
Janete Lins Rodriguez
Marceleuze de Araújo Tavares
Maria Auxiliadora Clemente Dantas
Maria Margarida Magalhães Guimarães
Rosa de Lourdes Pereira Gomes
Wolf Dietrich Heckendorff
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE JOÃO PESSOA – UNIPÊ
CURSO DE GEOGRAFIA

OS AGLOMERADOS SUBNORMAIS DO VALE DO


JAGUARIBE E DO TIMBÓ – ANÁLISE
GEOAMBIENTAL E QUALIDADE DE VIDA

Relatório de Pesquisa

João Pessoa - Paraíba


2001
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE JOÃO PESSOA – UNIPÊ
CURSO DE GEOGRAFIA

Os Aglomerados Subnormais dos vales do Jaguaribe e do Timbó:


Análise geo-ambiental e qualidade do meio ambiente

Relatório de Pesquisa

Coordenador:
Antonio Sergio Tavares de Melo

Pesquisadores:
Antonio Sergio Tavares de Melo
Euzivan Lemos Alves
Janete Lins Rodriguez
Marceleuze de Araújo Tavares
Maria Auxiliadora Clemente Dantas
Maria Margarida Magalhães Guimarães
Rosa de Lourdes Pereira Gomes
Wolf Dietrich Heckendorff

João Pessoa - Paraíba


2001
Agradecimentos

A presente pesquisa não poderia ter sido realizada sem a valiosa contribuição
das seguintes pessoas:

Hilarina Maribondo Barbosa


Elizete Gonçalves Pinho Venâncio
Orlando Correia de Araújo Júnior
Cristóvão Francisco de Lima
Joelyton de Oliveira Lima

A elas, o nosso muito obrigado.


SUMÁRIO

INTRODUÇÃO

1. A OCUPAÇÃO DOS VALES DO JAGUARIBE E DO TIMBÓ 04


1.1. A bacia do Jaguaribe – Timbó 05
1.2. As modalidades da ocupação da área 06
1.3. Breve histórico da evolução urbana de João Pessoa
e a ocupação dos vales do Jaguaribe e do Timbó 07
1.4. A origem dos aglomerados subnormais 12

2. O MEIO AMBIENTE NATURAL: COMPORTAMENTOS ABIÓTICOS E BIÓTICOS 13


2.1. O ambiente climático 14
2.1.1. Generalidades 15
2.1.2. Síntese dos elementos do clima 16
2.1.2.1. Temperaturas 16
2.1.2.2. Evaporação 18
2.1.2.3. Pluviometria: sistema de circulação atmosférica e gênese das chuvas 19
2.1.2.4. Umidade relativa 23
2.1.2.5. Ventos 23
2.1.2.6. Distribuição da concentração máxima das chuvas (MPC) 24
2.1.3. Balanço hídrico 24
2.1.4. Bioclima: diagrama ombrotérmico e classificação bioclimática 28
2.2. Geologia 32
2.2.1. O quadro lito-estratigráfico 33
2.2.1.1. O grupo Paraíba 33
2.2.1.2. A Formação Barreiras 34
2.2.1.3. Os sedimentos do Quaternário 37

2.3. Água Subterrânea 38


2.3.1. O aqüífero Beberibe 39
2.3.2. O aqüífero Gramame 40
2.3.3. O aqüífero Barreiras 42
2.3.4. O aqüífero livre dos depósitos quaternários 43

2.4. Geomorfologia 45
2.4.1. Compartimentação topomorfológica 46
2.4.1.1. Tabuleiros e encostas 47
2.4.1.2. Falésias 48
2.4.1.3. Planície aluvial e litorânea 49
2.4.2. Geomorfologia Dinâmica 50
2.4.2.1. Dinâmica dos tabuleiros 50
2.4.2.2. Interflúvios e encostas 50
2.4.2.3. Falésias (paleofalésias) 52

2.5. A Vegetação 53
2.5.1. Introdução: as formações vegetais da área 54
2.5.2. A Floresta Ombrófila das terras baixas (Mata do Buraquinho) 54
2.5.3. “Tabuleiros” 60
2.5.4. Campos de Várzea 60
2.5.5. Manguezal 61

3. OS RISCOS AMBIENTAIS: EROSÃO E POLUIÇÃO 64


3.1. Introdução 65
3.1.1. Os Solos da área e sua erodibilidade 66
3.1.2. Erosão urbana: fatores e sugestões de controle 67
3.1.3. Os tipos de erosão da área da pesquisa 69
3.1.4. O problema das voçoroção urbanas 73

3.2. Poluição 82
3.2.1. Fontes principais da poluição na área 83
3.2.2. Mecanismos geradores da poluição 85
3.2.3. Poluição das águas e doenças decorrentes 86
SUMÁRIO

4. INDICADORES SÓCIO-ECONÔMICOS E QUALIDADE DO MEIO AMBIENTE 88


4.1. Nascimento e localização dos aglomerados subnormais (favelas) 90
4.2. As famílias: renda e moradia 98
4.3. Procedência do chefe de família e condições de moradia 101
4.4. Instrução 102
4.5. Habitação 102
4.6. Saúde 104

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS 107

I – BIBLIOGRAFIA 112

II – ANEXOS 118
a. Lista de quadros 119
b. Lista de figuras 120
c. Lista de fotos 121
d. Questionários 124
INTRODUÇÃO
2
Por meio ambiente entende-se um sistema de interações entre fatores físicos, químicos,
biológicos e sociais susceptíveis de exercer um efeito direto ou indireto, imediato ou a longo-prazo,
sobre os seres vivos e as atividades humanas (BRAILOWSKI, 1978, citado por ORELLANA,
1981).
Geralmente, o conceito de meio ambiente é confundido com o de meio natural. Se o
considerarmos sob esse ponto de vista, estaremos omitindo o homem e suas ações que se exercem
através de fatores sociais, econômicos, políticos e culturais, os quais também são parte integrante do
meio ambiente; do mesmo modo que seus componentes bióticos e abióticos.
Para PINTO et alii (1988), o meio ambiente urbano é um ambiente produzido que resulta da
ação humana cumulativa sobre o meio natural. Seus componentes refletem, acima de tudo,
processos sociais, históricos e econômicos sem que, no entanto, os processos físicos e naturais
sejam excluídos.
As paisagens urbanas refletem íntimas relações entre o social e o natural. Embora nelas
predominem estruturas construídas, os elementos naturais participam de sua produção, e essa
participação não é passiva, e sim ativa.
Desse modo, o meio-ambiente deve ser considerado como um somatório de fatores físicos,
químicos, biológicos, sociais e culturais que compreende tanto o meio natural como o meio
produzido ou construído pelo homem, representando um campo de estudos inter e
multidisciplinares que, no caso da Geografia, envolve especialistas tanto da Geografia Física como
da Geografia Humana.
Esta pesquisa é voltada para a análise de problemas ambientais nos aglomerados subnormais
situados nos vales do Jaguaribe e do Timbó, em João Pessoa, Paraíba.
A bacia do Jaguaribe-Timbó é totalmente intra-urbana. As transformações por que ela vem
passando são decorrentes dos processos de expansão urbana que, em um tempo relativamente
rápido, tem apagado os traços de ruralidade que a caracterizavam, mas cujas permanências ainda
são evidentes.
O uso do solo em interação aos componentes naturais, vem alterando, consideravelmente, a
qualidade do meio ambiente e o quadro de vida das populações situadas na área.
Os processos de urbanização, por sua vez, têm provocado sérios impactos sobre o meio
natural, além dos problemas sociais decorrentes da pobreza geral das populações que ali se
instalaram.
Essas populações são, em parte, responsáveis pela aceleração da erosão nas encostas,
descaracterização da cobertura vegetal, poluições diversas e os conseqüentes riscos de doenças
advindas dessas poluições e dos acidentes decorrentes das ações inadvertidas da população sobre o
meio físico. Além disso, os terrenos invadidos e ocupados são, na sua grande maioria, de
preservação permanente ou de propriedade privada, o que tem gerado problemas legais de posse.
O número de aglomerados subnormais cresce dia a dia. Atualmente contam-se mais de vinte
e cinco, dentre os quais foram escolhidos cinco para representar a problemática ambiental, social e
econômica da área pesquisada, cujas causas são variadas e caracterizadas por inúmeras interações,
as quais serão analisadas no decorrer deste trabalho intitulado: Os aglomerados subnormais dos
vales do Jaguaribe e do Timbó: análise geoambiental e qualidade do meio ambiente.
Esta pesquisa foi realizada entre o segundo semestre de 1997 e dezembro de 2000 por uma
equipe de professores do Centro Universitário de João Pessoa (UNIPÊ).
Infelizmente, um importante segmento deste trabalho - a elaboração de uma carta do meio
ambiente e sua dinâmica -, cuja realização dependia da interpretação de fotos aéreas da área, as
quais seriam cedidas pela Prefeitura Municipal de João Pessoa, não pode ser cumprido.
A pesquisa em questão teve como objetivos básicos:

1) Indicar e explicar as conseqüências dos danos causados ao meio ambiente natural pelo
processo de urbanização, assim como suas repercussões sobre as populações dos
aglomerados subnormais existentes na área;
3
2) Alertar planejadores, urbanistas e responsáveis políticos sobre o estado e a dinâmica do
meio ambiente, no qual eles irão, porventura, intervir;
3) Aconselhar os especialistas em gestão territorial a encontrar soluções para a melhoria da
qualidade de vida das populações, sobretudo no que se refere à moradia, saúde e
trabalho.

Para que isso pudesse ser alcançado, foram percorridas as seguintes etapas metodológicas:

1) Avaliação e diagnóstico ambiental mediante descrição e análise de seus elementos


naturais e suas interações:

a) O meio físico: clima, água, geologia, geomorfologia dinâmica, com ênfase nos
principais riscos de erosão e de movimentos de massa, salientando a intervenção
humana como fator de sua aceleração;
b) O meio biológico: vegetação atual, solos e poluição das águas, áreas de preservação
permanente.

2) Os indicadores econômicos e a avaliação da qualidade do meio-ambiente. Os aspectos


escolhidos foram:

a) Processo histórico de ocupação da área;


b) Situação demográfica e evolução da população;
c) Análise das condições de vida da população: condições de moradia, educação, saúde,
renda e trabalho.

João Pessoa, dezembro de 2000

ANTONIO SÉRGIO TAVARES DE MELO


(Coordenador)
1. Ocupação dos vales do Jaguaribe e do Timbó

Antonio Sergio Tavares de Melo


Janete Lins Rodriguez
Marceleuze de Araújo Tavares
Maria Auxiliadora Clemente Dantas
Rosa de Lourdes Pereira Gomes
5
1.1. A bacia do Jaguaribe - Timbó

O rio Jaguaribe nasce ao sul de João Pessoa, no conjunto Esplanada, em uma lagoa, hoje
aterrada. O curso d’água possui uma extensão aproximada de 21km até a sua desembocadura no
oceano Atlântico, entre a Ponta de Campina e o Bessa, no maceió do Jardim América, hoje
Intermares. Seus principais afluentes são: o Timbó, pela margem direita, e o riacho dos Macacos, na
margem esquerda, hoje desaparecido em razão da expansão do bairro da Torre e de parte do bairro
de Jaguaribe. Pequenos córregos e drenos completam o sistema de drenagem.
O rio Jaguaribe e seu afluente, o Timbó, formam uma pequena bacia hidrográfica, típica da
zona costeira e sub-costeira sedimentar do Nordeste Oriental, e encontra-se totalmente inserida na
microrregião de João Pessoa.
A bacia do Jaguaribe se desenvolve em terrenos geomorfologicamente variados. As áreas
mais elevadas dos topos aplainados dos tabuleiros foram ocupadas por bairros bastante antigos,
como os de Cruz das Armas, Jaguaribe e Torre; os terraços fluviais e as baixas encostas, por bairros
pobres, também antigos, como o Rangel (ex-Varjão) e Oitizeiro, por exemplo. Mais recentemente,
essas áreas foram sendo invadidas por favelas.
A princípio, os cursos superior e médio dos rios Jaguaribe e Timbó são típicos dos pla naltos
sedimentares que caracterizam toda a fachada atlântica da área: vales profundos, encaixados numa
calha aluvial ampla com encostas de declividades fortes e falésias mortas.
Na confluência do Timbó com o Jaguaribe, este passa a ser um rio típico de planície e corre
em direção Noroeste, até a altura do Shopping Center Manaíra, atravessando os terrenos arenosos
da baixada litorânea. A partir desse ponto, o rio continua seu curso para o Norte pela planície da
restinga de Cabedelo, onde, na altura da mata da AMEM, se desvia para Leste em direção à sua
desembocadura no oceano.
O rio Jaguaribe é alimentado por várias fontes e ressurgências situadas entre o seu curso
superior e o lago de barragem da Reserva Florestal do Buraquinho. Aí, uma ruptura nítida no seu
perfil longitudinal é provocada por um falhamento que expôs uma soleira rochosa (arenito
Beberibe), cortando o rio transversalmente e sendo aproveitada para a construção da barragem-
reservatório.
As declividades médias são da ordem de 0,0016m/m. Suas encostas são comumente
delimitadas por uma ruptura convexa, no topo, e por outra, côncava, situada entre a baixa encosta e
a várzea. Por vezes, extensas rampas unem a parte somital dos tabuleiros aos terraços fluviais.
Os entalhes dos pequenos vales nas bordas dos tabuleiros formam valonamentos em forma
de V, bastante profundos, que se abrem para jusante, no contato com os terraços e com as várzeas.
Geralmente, nesse contato, é que estão situadas as fontes e nascentes que alimentam os rios
Jaguaribe e Timbó.
O rio Timbó nasce nas proximidades da via Leste - Oeste, que faz a ligação entre o litoral
meridional de João Pessoa com a BR-230/CEASA. O seu percurso até a confluência com o
Jaguaribe é de cerca de 5km.
A área do Timbó, definida nesta pesquisa, é representada por uma faixa contínua que ocupa
ambas as suas margens. Esta faixa tem largura variável, declividades acentuadas no setor das
vertentes e vertentes-falésias, e terrenos baixos e sujeitos a inundações na planície aluvial
O vale do Timbó se divide em dois segmentos: o primeiro, entre a nascente e as vias de
acesso do Loteamento Cidade Recreio Cabo Branco e o Conjunto dos Bancários, em que o rio
apresenta largura reduzida, vertentes com declividades muito fortes e vale estreito e profundo; o
segundo, estende-se daí até o seu encontro com o Jaguaribe e é caracterizado por cotas altimétricas
muito baixas e declividades quase nulas. Nesse segmento, o vale se alarga e os terrenos da planície
aluvial são encharcados e dotados de baixa resistência à compressão, sobretudo nas proximidades
do talvegue.
6
A área considerada nesta pesquisa compreende todo o setor a jusante e a montante da
Reserva Florestal do Buraquinho, estendendo-se até a passagem elevada da BR-230. Não foi
considerada a planície da restinga por onde o rio Jaguaribe continua seu curso até a sua foz.

1.2. As modalidades de ocupação dos vales do Jaguaribe e do Timbó

A cidade de João Pessoa está situada na micro-região homônima e na mesorregião da Mata


Paraibana. Sua área mede 190km2 e suas altitudes variam de 2 a 50 metros. Suas coordenadas
geográficas são: 7º06’30’’ de latitude Sul e 34º52’42’’ de longitude Oeste.
Os processos históricos que envolvem sua evolução se deram primeiramente com a
incorporação lenta dos espaços rurais e, em seguida, num ritmo acelerado, em decorrência da
explosão urbana contemporânea, sobretudo a partir da década de 70. Nessa época, a paisagem
urbana de João Pessoa passa por grandes transformações, embora ainda conservasse espaços rurais
cada vez mais ameaçados pela onda de urbanização crescente. Um desses espaços era o vale do
Jaguaribe, onde pouco a pouco fragmentos de habitat urbano foram surgindo: invasões, favelas,
conjuntos...
O vale do Jaguaribe tem sua ocupação restringida pelas leis 2.101, de 31/12/75, e 2.699, de
07/11/79 e pela Constituição do Estado. Ele acha-se incluído nas Zonas Especiais de Preservação
dos Planos Diretores de João Pessoa, de 1974 e 1994. Apesar disso, a ocupação vem se processando
de maneira muito rápida e segundo três diferentes modalidades:

1) Ocupação desordenada, efetuada pela população de baixa renda, com predomínio de


invasões (aglomerados subnormais ou favelas);
2) Conjuntos habitacionais, cuja origem está na ocupação informal consolidada e algumas
invasões;
3) Conjuntos habitacionais (ocupação formal e legal), nos topos e encostas altas e invasões
nas baixas encostas e terraços fluviais.

Por conjunto deve ser entendido um agrupamento de casas ou de pequenos edifícios que
foram construídos dentro do quadro da Política Nacional de Habitação Popular instituída em
meados da década de 60. Esses conjuntos, paulatinamente, viram-se cercados por aglomerados de
casas precárias resultantes dos modos de apropriação informal do solo e de autoconstrução,
normalmente designados pelos termos genéricos de invasão e favela.
O termo invasão não se aplica somente a construções erguidas em terrenos públicos ou
privados no decorrer de operações organizadas que se generalizaram nos últimos trinta anos. Ele é
empregado também para designar outras formas anteriores ou contemporâneas nas quais o acesso
ao solo se fez sem ruptura violenta com o direito de posse: loteamentos clandestinos, resultando de
um acordo entre vendedores e compradores, sem conhecimento do Estado; ocupações de
manguezais e de terrenos sujeitos a inundações, progressivamente aterrados pelos ocupantes (J.
BITOUN, 1997).
Por conseguinte, invasão corresponde ao conjunto do solo ao qual se pode ter acesso
mediante transações privadas que constituem um mercado paralelo, cujos títulos não são registrados
em cartório. Comprar um terreno de invasão, para nele construir uma moradia própria ou para
alugar, constitui um procedimento normal por parte daqueles que não dispõem de renda suficiente
para ter acesso ao mercado oficial. Favela, ao contrário, se aplica aos locais ocupados por barracões
de zinco, tábuas ou papelão, recobertos muitas vezes de plástico e marcados por extrema
precariedade (J. BITOUN, op. cit.). Ambos os termos possuem uma conotação pejorativa, e muitos
dos seus moradores preferem empregar loteamento e/ou comunidade.
Para se entender esse padrão de ocupação do vale do Jaguaribe, é necessário relatar
sucintamente as principais fases da expansão urbana de João Pessoa a partir de seu núcleo original,
fundado a 5 de agosto de 1585, o destaque maior sendo dado a partir de meados do século XIX.
7
1.3. A ocupação da área e a evolução urbana

Após sua fundação às margens do rio Sanhauá, a cidade de Parahyba subiu as colinas e
patamares que antecediam os topos dos baixos planaltos, espalhando-se pouco a pouco sobre eles.
O rio Jaguaribe corria entre matas e desaguava na praia dos Macacos (atual Intermares),
após atravessar os terrenos arenosos e os pântanos insalubres que se estendiam pela baixada
litorânea desde Tambaú até a praia do Bessa. As florestas recobriam as encostas e os topos argilosos
dos tabuleiros e os terraços da várzea. Algumas manchas importantes de cerrados dividiam o espaço
com as florestas dos topos dos planaltos. O manguezal o acompanhava, desde a sua desembocadura
até a confluência com o rio Timbó, onde cedia lugar aos campos de várzea.
Grande parte das terras do vale haviam sido doadas em sesmarias à Igreja e às famílias
importantes da época.
Em meados do século XVIII, quando os jesuítas foram definitivamente expulsos da Paraíba,
as terras que a eles pertenciam foram confiscadas pelo Governo Geral. Dois desses sítios se
chamavam Trincheiras e Jaguaribe (onde atualmente situa-se parte do bairro de mesmo nome).
Com o passar dos anos, muitas dessas propriedades foram sendo desmembradas, compradas
ou confiscadas pelo Estado. Por exemplo, a atual Reserva Florestal do Buraquinho é um
remanescente de três sítios: Jaguaribe de Baixo, que pertencia a D. Maria da Glória Aranha,
comprado pela Parahyba Water Company, em 3 de abril de 1899; o sítio Jaguaricumbe, na sua
origem doado em sesmaria a Manuel Caetano Veloso e sua mulher, Sofia da Franca Veloso,
posteriormente pertencendo a vários proprietários antes de ser vendido por Antonio Furtado da
Mota, em 1907, à Fazenda Pública, para a construção da usina de abastecimento de água da Capital;
e o último, que pertencia a Felismino Lopes da Silva, foi também comprado pela Fazenda Pública,
para a mesma finalidade (W. RODRIGUEZ, 1994).
Outro sítio importante, para a ocupação do vale do Jaguaribe, foi o da Imbiribeira, que
abrangia terras, onde hoje se situam parte do jardim Miramar, o Jardim Luna e o Conjunto João
Agripino, cortadas de oeste para leste pela antiga estrada da Imbiribeira, atual avenida Ruy
Carneiro, que ligava a praia de Tambaú a João Pessoa (W. RODRIGUEZ, op. cit.). Esta
propriedade pertenceu, em tempos remotos, a Claudino Joaquim Bezerra Cavalcante de
Albuquerque e, depois, a Manoel Deodato. Parte de suas terras foi adquirida pelo Estado, para a
passagem dos trilhos da Ferrovia Tambaú e, ma is tarde, quando o caminho de ferro entrou em
decadência, para a linha dos bondes elétricos.
Na primeira metade do século XIX, a cidade possuía duas áreas funcionais condicionadas à
topografia do seu sítio: a cidade baixa ou Varadouro e a cidade alta. Posteriormente, ela se
estenderia gradativamente em direção a Cabedelo e para o Sudeste e Leste, ultrapassando os
tabuleiros e atingindo o litoral. Ao mesmo tempo ela avançava em direção ao sul, acompanhando a
estrada que a ligava à capital de Pernambuco.
Na outra metade desse século, a cidade de Parahyba era apenas um aglomerado urbano,
pequeno, pobre e dos mais atrasados, como as demais capitais menores das Províncias do Império,
segundo Maurílio de Almeida (1985).
Em 1892, Irineu JOFFILY, em sua obra “Notas Sobre a Parahyba”, deixou a seguinte
descrição de João Pessoa, da qual algumas passagens foram transcritas como segue:

Parahyba situa-se “à margem direita do pequeno rio Sanhauá, na sua confluência com o
Parahyba. Está situada em terreno elevado na base da península, que ahi tem uma légua de
largura na direção de Tambaú e prolonga-se pelo espaço de quatro até terminar em Cabedelo, na
foz do Parahyba tendo de um lado este rio e do outro o oceano”.
“Collocada entre dous portos, a sua feliz posição devia dar-lhe grande desenvolvimento
commercial; mas até agora seu crescimento tem sido lento, e no prazo de trezentos anos que tem de
existência não conta nenhuma época de notável prosperidade, que a fizesse sahir da tutela em que
sempre se achou e acha-se da vizinha praça do Recife”.
8
“Divide-se em cidade alta e baixa ou Varadouro. Nesta é onde se acha concentrado todo o
seu commercio, e estão em alfândega, a estação da estrada de ferro e cadeia; e naquela, que é mais
extensa, estão os palácios do governo e da municipalidade, thesouraria da fazenda, mercado
público e hospital da Misericórdia”.
“Entre esses dous bairros, em um largo, se achão o quartel do batalhão de primeira linha
do exército, que guarnece a praça, o thesouro estadual e o theatro Santa Cruz, formando três lados
do dito lugar”.

As ruas principais eram calçadas e iluminadas a querosene. Prossegue a descrição de


JOFFILY (op. cit.):

“A cidade não possuía ainda água encanada e o abastecimento da água era feito através de
diversas fontes entre as quais a de Tambiá (atual Parque Arruda Câmara ou Bica) e a do Gravatá e
das cacimbas que eram em grande número”.

Dentre as indústrias, destacavam-se uma fábrica de sabão e outra de cimento que acabava de
ser inaugurada (na Ilha de Tiriri e que teve uma curta exis tência).
“No município desta cidade existem as seguintes povoações: Cabedello, na foz do
Parahyba”. [...] A um kilometro mais ou menos [...], no outro lado da península, a beira-mar [...]
Ponta de Matto estação balneária, atualmente muito freqüentada pelos habitantes da capital”.

Mais para o sul, continua JOFFILY: “estão as povoações ou agregados de casas de Ponta
de Campina e Bessa, onde tem sua foz o rio Jaguaribe; depois Tambaú, maior povoação, com uma
capella, e do outro lado do Cabo Branco a Penha [...]”.
“O município é regado por diversos ribeiros, entre os quais nota-se o Marés, de excelente
água, o Paratibe (atual Cuiá) e outros (dentre os quais, o Jaguaribe); e possui inesgotáveis jazidas
de pedra calcárea, geralmente usada para a construção e fabrico de cal”.

Quanto à população na época, torna-se difícil sua estimativa. Maurílio de ALMEIDA


(1985), acredita que, em 1859, João Pessoa contava com cerca de 25.000 habitantes, uma vez que a
precisão com que eram efetuadas as contagens não obedecia às técnicas censitárias, sendo os
levantamentos empíricos.
De acordo com os dados sobre o crescimento demográfico de João Pessoa, publicados pela
COPLAN (1978) e compilados por J.L.RODRIGUEZ (1985), a evolução da população pessoense e
o crescimento da área urbana, a partir do início do século XIX, foi o seguinte:

Quadro 1
Crescimento da população e da área urbana de João Pessoa

POPULAÇÃO URBANA
ANO ÁREA URBANA (ha)
HABITANTES CRESC. (%)
1808 3.000 – –
1822 5.000 66,00 –
1872* 24.714 39,40 –
1920 28.800 16,50 528
1950 98.800 243,00 1.145
1970 200.300 102,00 3.788
1978 318.000 62,00 4.850
*Primeiro censo oficial
Fonte: J.L.RODRIGUEZ (1985)
9
Na década de 1880, a cidade possuía os equipamentos básicos para exercer a sua função
administrativa e para escoar a produção de açúcar algodão e gado, embora permanecendo sob o
domínio de Pernambuco.
No período entre 1885 e 1923, o crescimento da cidade foi de certo modo expressivo. A
cidade avançava em direção às áreas vizinhas ao centro primitivamente edificado. Dessa época, por
exemplo, datam os bairros de Jaguaribe (1910) e Torre (1920) além do bairro de Cruz das Armas.
Até a década de 1910, a expansão da cidade em direção ao litoral era limitada pela lagoa do
atual parque Solon de Lucena. No entanto, havia dois importantes vetores de expansão: um em
direção ao leste, representado pela estrada da Imbiribeira (atual avenida Ruy Carneiro); outro, para
o sudeste, seguindo as estradas dos Macacos e do Jaguaribe (atuais avenidas Pedro II e Almeida
Barreto, respectivamente), em direção à mata do Buraquinho (W. RODRIGUEZ, op. cit.).
O primeiro vetor se desenvolveu graças à abertura da Ferrovia Tambaú (entre 1906 e 1907),
assim como da estrada de rodagem que unia essa localidade à capital, e à construção da Usina
Termoelétrica da Cruz do Peixe (atual sede da SAELPA, defronte ao atual Colégio das Lourdinas),
inaugurada em 1912; o segundo, foi beneficiado com as obras para a construção do reservatório do
Buraquinho e da usina de abastecimento de água de João Pessoa, iniciadas em 1910 e inauguradas
em 08 de abril de 1911 pelo presidente João Machado.
Nessa época, também se iniciou o projeto da rede de esgotos e de saneamento da cidade por
Saturnino de Brito (1913-1927). O saneamento da lagoa permitiu a consolidação das linhas de
expansão para o litoral e para o sudeste.
Percebe-se, então, que houve, durante as décadas de 20 e 30, um forte processo de
urbanização influenciado pelas manifestações de um nacionalismo econômico no qual as massas
urbanas tiveram uma participação mais efetiva (J. L. RODRIGUEZ, 1980).
As transformações políticas que culminaram com a revolução de 30 contribuíram bastante
para a ativação da vida urbana. Desse período, data a construção da fábrica de cimento da capital.
Durante o governo municipal de Guedes Pereira e depois na presidência de João Pessoa
(1928 a 1930), a cidade ganhou duas praças: a Vidal de Negreiros, no centro da cidade alta, e a
praça da Independência, assinalando a expansão urbana em direção ao leste. Alguns espaços verdes
foram preservados, como o Parque Arruda Câmara e o Parque Solon de Lucena, e foi aberta a
avenida Getúlio Vargas.
Na década seguinte, foi ampliada a atual avenida Epitácio Pessoa até Tambaú, incorporando
toda a faixa litorânea entre o Cabo Branco e os bairros de Santo Antônio, Maceió, São Gonçalo e
Bessa à Capital.
Nesse mesmo período, foi iniciada a drenagem dos pântanos sublitorâneos, que se estendiam
de Tambaú ao Bessa, assim como o desvio do rio Jaguaribe para o rio Mandacaru, afluente do
Sanhauá, que faz parte do sistema estuarino do Paraíba.
A expansão urbana em direção ao litoral provocou a transferência de grande parte da
burguesia rural e urbana, que antes residia nos bairros de Tambiá, Trincheiras e na avenida João
Machado, para a avenida Epitácio Pessoa. Além disso, as antigas residências localizadas no litoral
de João Pessoa, antes usadas apenas para veraneio, foram pouco a pouco se transformando em
moradias permanentes (J. L. RODRIGUEZ, 1981).
O período que se estende entre 1963 e 1985 caracterizou-se por uma grande expansão da
área edificada, influenciada pela criação do Distrito Industrial, inauguração do Hotel Tambaú e a
mudança da Universidade para a Cidade Universitária, no conjunto Castelo Branco.
O processo de ocupação do solo intensificou-se através da abertura de loteamentos na faixa
litorânea, sobretudo entre o Jardim Manaíra e o Bessa e em direção a Cabedelo. Para sudeste, a
criação do campus universitário de João Pessoa foi um fator decisivo para a construção de vários
conjuntos habitacionais, sobretudo nas suas cercanias.
Para o sul, a expansão ligou-se ao Distrito Industrial. Apesar de os conjuntos habitacionais
não terem sido destinados essencialmente aos operários industriais, eles acabaram se beneficiando
de alguns serviços de infraestrutura instalados para atender às necessidades das indústrias do setor
(J. L. RODRIGUEZ, 1981).
10
Os fatores que influenciaram esse crescimento foram:

• impulso na construção civil, promovido pelo Banco Nacional de Habitação (BNH),


incorporado atualmente à Caixa Econômica Federal, Companhia Estadual de Habitação
Popular (CEHAP) e Instituto de Previdência do Estado da Paraíba (IPEP);
• ampliação do sistema viário e construção do anel da BR-101, que liga Cabedelo à saída
sul de João Pessoa;
• abertura da avenida José Américo de Almeida (avenida Beira Rio).

Portanto, vários fatores de natureza política, social e econômica têm contribuído para que
um acelerado processo de urbanização ocorra em João Pessoa, o que vem provocando, por sua vez,
impactos negativos no meio ambiente natural e na qualidade de vida de grande parte da população.
Durante os últimos anos, a administração pública vem buscando soluções para o
planejamento integrado de desenvolvimento urbano. Algumas dessas soluções constam do Plano de
Desenvolvimento Urbano (PDU), de 1974, do Plano Diretor de João Pessoa e de outros projetos que
integram os meios físico e social. O PDU e o Plano Diretor de João Pessoa prevêem, através de
regulamentação especial, a preservação dos vales em áreas urbanas do municíp io, mas têm
encontrado dificuldades na sua execução em virtude do conflito entre o uso e a ocupação desses
espaços para a habitação. Por sua vez, os proprietários fundiários, que aí possuem glebas de terra, se
recusam a preservar o quadro natural por causa da especulação imobiliária, apesar das restrições
legais.
Nas duas últimas décadas, a cidade apresentou um crescimento significativo, principalmente
entre os anos 80 e 90, através da ocupação de um certo número de vazios especulativos,
loteamentos e novas áreas, o que implicou na ampliação e densificação do espaço utilizado. Dois
vetores servem para ilustrar esse processo de expansão urbana: o vetor sul e o vetor leste.
O primeiro deles, que interessa mais particularmente à pesquisa, começa no Conjunto
Castelo Branco e se desenvolve para o sul, ocupando os planaltos deixando vazios representados
pelas áreas com encostas declivosas e vales. Esse crescimento está sendo fortemente influenciado
pela Perimetral Leste - Oeste e caracteriza-se, sobretudo, pela construção de conjuntos
habitacionais, visando atender à demanda em habitações populares e de classe média,
desencadeando uma intensificação contínua da ocupação dos espaços vazios e incorporações de
novas áreas. A ação do Estado, através de financiamentos do BNH, da CEHAP e do IPEP, tem sido
bastante significativa no processo de expansão urbana.
Assim, surgiram os conjuntos dos Professores, dos Bancários, de Mangabeira, Anatólia,
Cidade Recreio Cabo Branco, Altiplano do Cabo Branco, Água Fria, etc.
Nas novas áreas, parte das quais pertenciam a proprietários rurais, muitos deles tornando-se
promotores imobiliários ao converterem as suas propriedades em loteamentos, verifica-se
claramente uma tendência do mercado imobiliário em voltar-se para a construção de imóveis para
habitação multifamiliar, geralmente com três ou quatro pavimentos. O segundo vetor abrange os
bairros de Tambaú, Manaíra e Bessa, todos na planície litorânea, e se prolonga em direção a
Cabedelo. Esse vetor teve uma expansão significativa nas duas últimas décadas, quando o processo
de ocupação assumiu um ritmo acelerado graças à implantação do projeto CURA e dos loteamentos
Oceania.
Todas essas expansões foram efetuadas de modo legal ou formal, de acordo com as regras
do mercado imobiliário e as ações do Estado. No entanto, a necessidade crescente de moradias por
parte da população de baixa renda deu origem a ocupações ilegais (invasões) de áreas vazias, cuja
maioria apresentava restrições físicas e/ou situações de conflito com seus legítimos proprietários.
A situação precária e de conflitos originada por essas invasões tem chamado a atenção do
poder público, principalmente nos períodos de fortes chuvas que provocam acidentes
(desmoronamentos de barreiras e inundações dos rios Jaguaribe e Timbó, por exemplo).
11
As invasões foram se concentrando nos espaços vazios dos vales desses dois rios, embora
eles estejam incluídos em zonas especiais de preservação permanente e tenham sua ocupação
restringida.
A fixação de muitos desses aglomerados (sobretudo os mais antigos), nessas zonas, é
irreversível, pois a relocação de suas populações é muito onerosa para o Governo que, por esse
motivo, modificou a legislação, a fim de permitir a permanência desses aglomerados, e criou
programas sociais específicos para as populações, como o PROMORAR e o da FAC.
A desapropriação desses setores ocupados não tem sido possível, a exemplo do que ocorreu
com o bairro de São José que se originou a partir de uma favela de mesmo nome.
Outros trechos da bacia do Jaguaribe - Timbó encontram-se ocupados por habitações de
famílias pobres sem condições básicas de infraestrutura, que se agravam com os transbordamentos
sazonais das águas dos rios. Para o controle da ocupação desses setores, a Prefeitura encontra sérias
dificuldades: por um lado, a forte pressão por demanda de espaço para essas populações; por outro,
os proprietários dos terrenos que, não satisfeitos com os dispositivos legais, procuram, por todos os
meios, vendê- los às imobiliárias. Os donos desses terrenos são também responsáveis por
empreendimentos realizados de forma ilegal ou oficiosa, como forma de viabilizar economicamente
essas áreas, a exemplo do Shopping Center Manaíra e das construções de grandes edifícios na
várzea do Jaguaribe, como os situados nas proximidades da ponte da avenida Ruy Carneiro, o
supermercado Boa Esperança e o posto de gasolina no final da Beira Rio, entre outros (Foto 1).

1 - Venda ilegal de terrenos situados em


Zona de Preservação Permanente – a
várzea do rio Jaguaribe. Placa colocada
próximo à ponte da avenida Ruy Carneiro
(foto: A. Sergio T. de Melo, 1998).
12
1.4. Origem dos aglomerados subnormais

A população de João Pessoa é de aproximadamente 600 mil habitantes, dos quais 115 mil
vivem em aglomerados subnormais. Desses, 30 mil vivem em 17 áreas de riscos (SETRAPS, 2000).
Alguns desses aglomerados fazem parte desta pesquisa: Bairro de São José, Chatuba, Comunidade
São Rafael, Comunidade Tito Silva, Comunidade Santa Clara e Comunidade do Timbó.
Os aglomerados subnormais geralmente ocupam setores insalubres ou sujeitos a
desabamentos das encostas e falésias, ao longo do Jaguaribe e Timbó.
Muitos desses aglomerados situam-se nas proximidades de bairros populares e de classe
média. Outros acompanham a linha de energia da CHESF, ao longo da Reserva Florestal do
Buraquinho, nos limites com os bairros do Rangel e Cristo Redentor. Todos se caracterizam pela
urbanização espontânea possuindo ruas estreitas e sinuosas e sem calçamento.
Os bairros das classes mais favorecidas situam-se nos topos aplainados e encostas altas dos
tabuleiros de Cruz das Armas, Jaguaribe, Torre, Expedicionários, Manaíra, Jardim Luna e João
Agripino, todos na margem esquerda; Cristo Redentor, Rangel, Castelo Branco, nos planaltos
situados na margem direita; Tambaú, Manaíra e Bessa na planície litorânea que o rio Jaguaribe
atravessa.
Os bairros pobres e mais populares se estendem pelas baixas encostas desses planaltos, e os
aglomerados subnormais no contato encosta/planície aluvial ou falésia morta/terraços fluviais.
A dinâmica da ocupação espacial do vale do Jaguaribe reflete-se na expulsão das classes
mais pobres para essas áreas, à medida que a especulação imobiliária e fundiária torna-se mais
forte. Tal fato está ligado à renda do solo urbano, quando são relegadas aos pobres, áreas que
posteriormente serão revalorizadas, fenômeno que se desenvolveu rapidamente a partir dos anos 70,
embora já existissem bairros de grande pobreza: Cortiço de Seu Romão, no Cordão Encarnado; a
Rua do Rio, em Cruz das Armas, e os bairros de Oitizeiro e Varjão. Posteriormente, essa pobreza
foi se tornando mais expressiva.
Em 1980, mais de 70% dos habitantes dos aglomerados subnormais provinham da zona
rural, em decorrência da crise no campo, gerada pelas relações de trabalho e de produção e por
modificações nos sistemas agrícolas, além da procura de melhores condições de sobrevivência na
Capital.
Desse modo, a grande massa de migrantes, formada principalmente por elementos de nível
sócio-econômico baixo e proveniente em sua maioria do campo, gerou uma acentuada demanda por
moradia e terrenos. Ao longo do tempo, como resultado do contínuo crescimento demográfico em
função das migrações e do crescimento vegetativo, agravou-se a carência por habitações, e as
soluções adotadas pelo Governo e pela população tomaram duas direções: de um lado, a população
marginalizada, vivendo de biscates, gerou uma expansão descontrolada do espaço urbano extralegal
através de invasões; do outro, o Governo, movido pela necessidade de remover os habitantes dos
aglomerados subnormais, viu-se obrigado a criar programas de relocação, a fim de evitar conflitos
entre esses e os legítimos proprietários dos terrenos.
O período 1970-1980 é marcado por um contínuo aumento da população e da subseqüente
expansão dos aglomerados subnormais. Essa expansão decorreu da falta de recursos, por parte da
população, que, por esta razão, não podendo recorrer ao mercado imobiliário, invade terrenos
públicos ou privados, sendo os mais visados aqueles de maior proximidade às oportunidades de
emprego.
A precariedade das habitações, que se justifica pelo baixo padrão de renda de seus
moradores, a deficiência de infraestrutura básica (água, esgoto, coleta de lixo e iluminação), o
predomínio de ruas não pavimentadas e a ausência de calçadas e de galerias pluviais refletem a
desigualdade das classes sociais e se manifesta claramente no espaço, constituindo, direta ou
indiretamente, fatores que causam impactos ambientais.
Os esforços empreendidos pelos governos Estadual e Municipal, visando melhorar a
qualidade de vida dessas populações, não têm sido suficientes, e alguns deles só beneficiam as
pessoas que possuem um padrão de renda alto ou médio.
2. O Meio Ambiente Natural: componentes abióticos e bióticos
2.1. O Ambiente Climático

Antonio Sergio Tavares de Melo


Wolf Dietrich Heckendorff
15
2.1.1. Generalidades

Todos os fenômenos ligados ao clima exercem influência sobre o meio ambiente natural e
sobre as atividades humanas, ou seja, existe uma interdependência entre o clima e os demais
componentes do sistema meio ambiente. Por isso, um estudo climático deve se apoiar na síntese dos
elementos atmosféricos em constante interação entre si e com os fatores ambientais.
A hierarquização dos fenômenos atmosféricos permite estudar o clima, de acordo com um
sistema de espaços encaixados em quatro níveis, desde os climas com ampla extensão espacial
(zonal, e regional) até os climas de uma área mais restrita (mesoclimas, climas locais e microclima).
A área pesquisada está situada em posição litorânea e sublitorânea e em latitudes tropicais,
com altitudes que variam de um a cinqüenta metros. Essa área faz parte do domínio tropical úmido
sul-atlântico, fortemente influenciado pelos alísios marítimos, e caracteriza-se por apresentar uma
estação seca, de 3 a 4 meses, e outra chuvosa, cujos máximos situam-se durante os meses de maio,
junho e julho. Por sua posição geográfica - 7o LS - a área, do ponto de vista térmico, é muito mais
sub-equatorial do que tropical. Trata-se de uma área quente devido a sua situação litorânea e sua
latitude, sujeita a forte insolação - 2.995h/ano -, e elevada evaporação potencial (1.485mm). Essas
condições são amenizadas pelos ventos que sopram do mar o ano inteiro, caracterizando a fachada
marítima de todo o Nordeste Oriental (Quadro 2).
Para abordar o clima da área pesquisada, que está incluída num espaço mais restrito do que
o espaço urbano de João Pessoa, é necessário que se tenha cuidado com a ordem de grandeza a qual
ele está vinculado, que é a escala do clima local. Os estudos de clima local ainda são deficientes.
A fim de se proceder a uma análise mais acurada do clima local, seriam necessários dados
obtidos em uma ampla rede de estações meteorológicas, situadas em diversos pontos da área urbana
e segundo diferentes topografias. Ora, os dados consultados são de apenas duas estações
meteorológicas: Laboratório de Energia Solar da Universidade Federal da Paraíba (28m) e
Ministério da Agricultura - DEMA (altitude de 5m).
Portanto, tentou-se apresentar uma classificação do clima local baseada nos dados
disponíveis, embora sabendo que estes são insuficientes para uma abordagem climática mais
completa. Outrossim, optou-se para as classificações climáticas de THORNTHWAITE (1948) e de
BAGNOULS & GAUSSEN (1955), em vez da classificação de KÖPPEN (1918), por serem mais
próximas da realidade considerada.
Para a definição do mesoclima, foram adotados e adaptados os índices de
THORNTHWAITE. Antes, porém, será apresentada uma síntese dos elementos básicos do clima:
precipitações, regime das chuvas, sistemas de circulação da atmosfera e gênese das chuvas,
temperaturas, evaporação, ventos, insolação, umidade relativa do ar (Quadro 2).
Quadro 2
Dados climáticos de João Pessoa/PB

Posto Meteorológico do DEMA – João Pessoa/PB


Latitude: 7º08’S
Longitude: 34º53’W
Altitude: 5m

ELEMENTOS MESES ANO


JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ
P 78 96 206 263 282 302 225 136 65 23 28 37 1.740
T 26,5 26,5 26,4 26,2 25,5 24,5 23,9 24,1 24,5 25,9 26,6 26,7 25,6
N 5,8 5,9 5,7 5,7 5,6 6,4 6,5 5,5 5,7 5,6 5,5 5,6 5,8
I 256 242 242 257 221 206 182 252 265 297 284 285 2.995
V 1,8 2,5 2,5 2,4 2,0 2,7 2,2 3,1 3,7 3,4 2,6 1,7 2,6
UR 80 82 83 85 87 87 86 86 83 81 80 80 83
Fonte: HECKENDORFF & LIMA, 1985.

P – Pluviosidade (mm) I – Insolação (horas)


T – Temperatura (ºC) V – Ventos (m/s)
N – Nebulosidade (em décimos do céu) UR – Umidade relativa (%)
16
2.1.2. Síntese dos elementos básicos do clima

2.1.2.1. Temperaturas

As temperaturas médias anuais, pela proximidade do oceano e pela latitude, nunca são
excessivas: 23o C é a média das mínimas e 28o C a das máximas; a amplitude térmica anual é de
cerca de 5o C, o que é bem característico dos climas tropicais oceânicos.
As temperaturas mais elevadas ocorrem na primavera, quando se verificam as mais fortes
deficiências pluviométricas, assim como uma acentuada evapotranspiração. Ela coincide também
com a estação ecologicamente seca. A redução dos valores térmicos, durante os meses de inverno
(junho-julho-agosto), é muito pouco significativa: média de 23o C. As temperaturas diurnas
ultrapassando 33o C são raras. A insolação, conforme foi mencionado, é de cerca de 2.995 horas,
sendo que, durante a primavera, os valores são, sem dúvida, maiores (Figura 1).
17
Figura 1
18
2.1.2.2. Evaporação

Os dados de evaporação foram compilados da SUDENE (1971). Dos 1.727,7mm das


chuvas, 842,3 se perdem por evaporação, sendo que os meses que apresentam as taxas mais
elevadas são novembro e dezembro, secundados por outubro e janeiro, época que coincide com a
estação seca.(Figura 2).

Figura 2
19
2.1.2.3. Pluviometria: sistemas de circulação atmosférica e gênese das chuvas

Ao contrário das temperaturas que se caracterizam por apresentarem uma certa


homogeneidade, o regime pluviométrico é marcado por uma grande heterogeneidade no tempo,
embora haja sempre uma estação chuvosa (outono-inverno) e outra seca (primavera- verão) que
estão na dependência das perturbações que ocorrem nos sistemas de circulação atmosférica, as
quais, direta ou indiretamente, atuam na região e, por conseguinte, na área estudada.
De modo geral, as médias pluviométricas estão em torno de 1.750mm, embora esse total
varie de ano para ano. O período mais chuvoso ocorre nos meses de abril- maio-junho, podendo as
chuvas começar em fevereiro e se prolongarem até agosto. O período seco se estende de setembro
até janeiro, ou mesmo até fevereiro, sendo que os meses de outubro, novembro e dezembro
englobam o período ecologicamente seco no qual se verificam os maiores déficits pluviométricos,
sendo outubro o mês mais seco dos três.
A distribuição irregular das chuvas, inclusive dos totais mensais por estação, é explicada
pelas anomalias que ocorrem no sistema de massas d8e ar, as quais nem sempre atingem a região e
a área com a mesma intensidade (Figura 3).
20
Figura 3
21
Na realidade, a área está numa encruzilhada dos três ou quatro sistemas principais da
circulação atmosférica cuja passagem é acompanhada por instabilidades e chuvas (NIMER, 1979,
citado por MELO, 1983). Esses sistemas são:

1. O sistema do Norte, representado pala zona de Convergência Intertropical (ZCIT ou


CIT), atuando, principalmente, de: janeiro a junho;
2. O sistema do Sul, ao qual pertence a Frente Polar do Atlântico Sul e Massa Polar
Atlântica (FPA e mPa), atuando de abril a setembro;
3. O sistema de Leste, representado pelas ondas de leste (EW), pela Massa Equatorial
Atlântica (mEa) e pelos alísios (maior atuação: julho a setembro);
4. O sistema de Oeste, representado pela massa equatorial continental (mEc) e pelas linhas
de Instabilidade Tropical (IT), cuja ação interessa mais às regiões interioranas da Paraíba
(Figura 4).
22
Figura 4
23
As chuvas relativamente fortes do litoral estão relacionadas à invasão dos sistemas e
circulação perturbada de Leste, e, secundariamente, pelos avanços da Frente Polar Atlântica. Eles
agem no setor durante o ano inteiro. No inverno, ocorre uma inversão, ao longo do litoral, das
massas polares que, vindas do sul, se incorporam aos alísios de sudeste-leste produzindo chuvas
abundantes. Quando em situações perturbadas, a massa equatorial atlântica é animada pelos fluxos
dos alísios que provêm das altas pressões subtropicais do anticiclone de Santa Helena e invade todo
o Nordeste Oriental. As chuvas que ela traz são induzidas por dois tipos de perturbações: as
provenientes da CIT e as que resultam dos fenômenos de frontogênese da Frente Polar Atlântica,
que interessam particularmente à área.
A CIT é responsável pelas precipitações do final do verão e do início do outono, quando, em
seu balanço anual, ela atinge a extremidade oriental da América do Sul. A partir de abril, ela
remonta para o hemisfério norte, e é neste momento que as perturbações da Frente Polar Atlântica
podem atingir a área, provocando as chuvas da segunda metade da estação chuvosa até a entrada do
inverno.
As correntes aéreas de Oeste animam a massa equatorial continental, sob a forma de
instabilidades tropicais (IT). Elas também são influenciadas pelas ondulações da Frente Polar
Atlântica que agem no início do outono, quando reforçam os máximos de abril e sustentam a
pluviosidade de maio (NIMER, op. cit. apud. ROCHA, 1996).
Quanto às influências dos ventos sob a pluviosidade, são os fluxos dos alísios de SE que
trazem ar mais seco do que os fluxos de NE. NIMER (op. cit.) fala de ondas de leste (EW) que
resultariam num reforço dos alísios refrescados pelo ar polar do Atlântico Sul. Seriam essas
perturbações, ao se propagarem de leste para oeste, sobre o Atlântico, as responsáveis pelo máximo
pluviomé trico de inverno (cerca de 300mm, em João Pessoa).

2.1.2.4. Umidade relativa

A umidade é relativamente elevada: 80 a 85%. Esse total elevado resulta da combinação


entre a forte evaporação e a inversão da camada superior dos alísios que acentuam a tensão do
vapor d’água. Esse quadro geral apresenta, no entanto, variações, durante os meses de inverno,
quando os índices se elevam de 80 para 90%, e durante a estação seca, quando esses índices caem
para 70%, na área do litoral, sem dúvida, devido ao albedo dos solos arenosos e de cor branca e pela
ação dos ventos.

2.1.2.5. Ventos

A área do litoral está submetida a dois regimes de ventos: no período que vai do final de
março até o início de maio, sopram os alísios de Nordeste, de menor importância do que os alísios
de SE-E, que atuam no período compreendido entre maio e março, sendo os meses mais ventosos
agosto, setembro, outubro e novembro.
Trata-se de ventos constantes, moderados, nunca tempestuosos, cuja velocidade média varia
de 4 a 8m/s (2 a 4 Beaufort). Eles sopram o ano inteiro e são substituídos, do final de março até o
início de abril, pelos ventos alísios de NE e, por vezes, de Noroeste (GUILCHER, 1984).
As chuvas são condicionadas pelos ventos de SE, embora, no início da estação chuvosa, os
ventos de NE ou mesmo de NW contribuam para um aumento da pluviosidade. Quando são
refrescados pela FPA, os alísios de SE propagam-se de leste para oeste sobre o Atlântico e são
responsáveis pelos máximos pluviométricos de junho. Atingindo a plataforma litorânea, esta se
antepõe ao fluxo dominante, e a inversão térmica que existe entre a camada inferior (mais úmida) e
a superior (mais quente e mais seca) se reduz gradualmente, o que permite a ascensão da camada
superficial dos alísios e a conseqüente condensação e precipitação.
24
2.1.2.6. Distribuição da concentração máxima de chuvas (MPC)

A distribuição máxima das chuvas está na dependência do grau de participação dos sistemas
de circulação secundária representados pela Convergência Intertropical, ondas de Leste e Frente
Polar Atlântica (NIMER, op. cit).
A maior associação entre esses três sistemas se dá no outono e no inverno. O máximo de
precipitações consecutivas é maior nestas estações, ocorrendo nos meses de maio, junho e julho,
podendo variar para abril, maio e junho. Esse máximo (MPC) coincide com a época das enchentes,
quedas de barreiras e aceleração dos processos de erosão em que a água tem importante papel
(Quadro 3).

Quadro 3
Máximo de Precipitações Consecutivas (MPC) em João Pessoa/PB
(período de obtenção dos dados: 1931/59)

MPC (%) ABRIL (mm) MAIO (mm) JUNHO (mm) TOTAL (mm) TOTAL ANUAL (mm)
50,33 244,5 33,6 300,8 849,9 1.686,8
Fonte: E. NIMER, 1979.

2.1.3. Balanço hídrico

O balanço hídrico é um método contábil da água disponível no solo, no qual os créditos são
representados pelas chuvas e os débitos pelos processos responsáveis pela evapotranspiração, ou
seja, a quantidade de água que se evapora na atmosfera, quer seja por evaporação da água líquida
(água livre ou água do solo) ou pela transpiração da biomassa (BELTRANDO & CHEMERY,
1995).
A evaporação e a transpiração fazem com que a atmosfera se enriqueça com a água que é
perdida durante as precipitações; daí elas serem tão importantes quanto às temperaturas e as
precipitações.
A intensidade da evapotranspiração depende da umidade atmosférica, que fixa a demanda, e
da disponibilidade em água evaporável (função do estado de superfície, da natureza da cobertura
vegetal...) que, em retorno, determina a oferta. Ela depende também dos aportes energéticos
(insolação, calor) necessários à evaporação e condicionantes da umidade atmosférica, assim como
do vento que substitui, eventualmente, o ar úmido, no contato da superfície líquida ou úmida, pelo
ar mais seco.
Dois valores são diferenciados:

1) evapotranspiração máxima (ETM) ou evapotranspiração potencial (ETP), que


quantifica, por meio de uma unidade física definida (mm), a chuva teoricamente
necessária (chuva ideal) ao consumo de água pela superfície coberta de vegetação, a
fim de que esta se mantenha sempre verde, viçosa e transpirando livremente durante o
tempo considerado;
2) evapotranspiração real (ETR) ou evapotranspiração de referência, que leva em conta a
disponibilidade real de água, ou seja, a quantidade de água que, nas condições reais, se
evapora do solo e é transpirada pelas plantas.

Do balanço hídrico, constam ainda os seguintes dados: excedente hídrico, ou seja, o volume
de água não incorporado ao solo, por este se achar saturado; o número de meses com excedente
hídrico, que indica por quanto tempo perdura este excedente; a deficiência hídrica, ou seja, o
volume de água que falta no solo; o número de meses com deficiência hídrica (BELTRANDO &
CHEMERY, op. cit.).
O cálculo destes dados permite que se estabeleça um índice de umidade, muito importante
para definir o clima de uma área. Segundo THORNTHWAITE, não haverá seca se a deficiência
25
hídrica do período seco não ultrapassar 60% do excedente hídrico anual. A partir desta relação
pode-se obter o índice de umidade, cuja expressão matemática é:

100XExc – 60XDef, onde: Exc. = Excedente hídrico


Ep Def. = Deficiência hídrica
Ep = Evaporação potencial (em mm)

Os valores resultantes podem variar de 100 a –40, que correspondem aos climas
superúmidos e aos climas semi-áridos e áridos, respectivamente.
Para João Pessoa, os dados utilizados para o balanço hídrico foram obtidos de duas fontes:
Projeto RADAMBRASIL, Levantamento de Recursos Naturais, folhas Jaguaribe/Natal, vol. 23
(1981) e Inventário Hidrogeológico Básico do Nordeste - Folha no 16 - Paraíba-SO (SUDENE-
DRN, 1971). Estes dados estão representados nos quadros 4 e 5, a seguir:
Quadro 4
Balanço hídrico de João Pessoa/PB

MÊS EVAPOTRANSPIRAÇÃ PRECIPIT P– VARIAÇÃ RESERV EVAPOTRANSPIRAÇ EXCESS ESCOAMENT


O POTENCIAL (ETP) AÇÕ (P) ETP O ÁGUA A ÚTIL ÃO REAL (mm) O O
mm (mm) DO SOLO
Jan 146,69 61,80 -85 0 0 61,00 0 2,90
Fev 132,48 79,50 -53 0 0 132,00 0 1,40
Mar 143,52 172,90 +29 29 29 143,00 0 0,70
Abr 133,00 226,90 +93 71 100 133,00 22 11,00
Mai 120,36 301,40 +181 0 100 120,00 181 96,00
Jun 101,92 348,30 +247 0 100 101,00 247 172,00
Ju 94,94 190,30 +96 0 100 94,00 96 134,00
Ago 95,88 131,70 +36 0 100 95,00 36 85,00
Set 107,00 60,70 -47 -47 53 107,00 0 42,50
Out 127,05 23,20 -104 -53 0 23,00 0 21,12
Nov 136,29 30,70 -106 0 0 30,00 0 10,60
Dez 146,06 40,80 -106 0 0 40,00 0 5,80
Ano 1.485,04 1.668,20 1.089,00 582 583,10
Fonte: SUDENE – DRN, 1971.

Quadro 5
Balanço hídrico de João Pessoa/PB

PTA (mm) TM (ºC) ETP (mm) ETR (mm) DÉF. HÍDRICO (mm) DISTR. EXC. DISTR.
ANUAL HÍDRICO ANUAL
(mm)
1.278 25,2 1.354 1.145 209 nov – jan 583 abr - ago
Fonte: RADAMBRASIL, 1981.

26
27
Para a representação gráfica do balanço hídrico de João Pessoa, foi compilado e reproduzido
o diagrama elaborado por GOLFARI & CASER (1977).
A representação gráfica do balanço hídrico de João Pessoa, através do confronto entre as
curvas de precipitações pluviométrica e da evapotranspiração potencial e real, indica as formas de
disponibilidade hídrica e servem para indicar o tipo de clima.Sempre que a curva de precipitação
aparecer no gráfico, abaixo da curva de evapotranspiração (Figura 5).

Figura 5
28
Uma vez terminada a deficiência hídrica, começa o período de reposição da água, quando a
curva da evapotranspiração potenc ial aparece debaixo da curva de precipitações, até que se
complete a capacidade de campo constante de 125mm.
O excedente hídrico aparece sempre que o solo encontra-se saturado e o que sobra é
considerado excedente que vai se incorporar ao escoamento superficial e subsuperficial, e que supre
a rede fluvial. Devem ser levados em consideração a constituição geológica dos terrenos e o estado
da superfície (cobertura vegetal e taxa de ocupação urbana).
O cálculo do balanço hídrico fornece uma estimativa dos valo res mensais e anuais da
evapotranspiração potencial e real, deficiência e número de meses com deficiência hídrica e
excedente e número de meses com excedente hídrico. Ele serviu de base para a determinação do
clima da micro-região de João Pessoa (Quadro 4).
A evapotranspiração potencial (ETP) é um índice usado para indicar a necessidade de água
por unidade de área, isto é, a água teoricamente necessária para manter a vegetação verde e
turgescente o ano inteiro. Na área ela é de 1.354mm.
A evapotranspiração real (ETR) é a quantidade de água que, nas condições reais, é
evaporada do solo e transpirada pelas plantas. Verificam-se, no quadro do balanço hídrico de João
Pessoa, altos índices de ETR (1.145mm).
A deficiência hídrica anual mostra, em termos médios, o volume de água que falta no solo
(880mm) e o número de meses, em que há deficiência hídrica, é representativo do comportamento
desse elemento ao longo dos meses (novembro a janeiro).
O excedente hídrico representa o volume de água que não é incorporado ao solo no decorrer
de um ano, por este se achar saturado (583mm). O número de meses com excedente hídrico indica o
período durante o qual esse excedente perdura no solo (abril a agosto).
Com base no balanço hídrico, pode-se estabelecer uma classificação climática muito mais
lógica do que a de KOPPEN e que se coaduna com a extensão espacial considerada neste trabalho.
Segundo o RADAMBRASIL, vol. 23 (1981), o clima de João Pessoa, de acordo com o que
acaba de ser exposto, é subúmido úmido.
GOLFARI & CASER (1977), utilizaram a mesma metodologia para estabelecer uma
delimitação e diferenciação esquemática das diferentes regiões ecológicas do Nordeste. Para João
Pessoa, o clima regional encontrado foi subúmido úmido tropical.

2.1.4. Bioclima: diagrama ombrotérmico e classificação bioclimática

Para a determinação do bioclima da área, utilizou-se o diagrama ombrotérmico elaborado


por GRABOIS & NOGUEIRA (1980), segundo o método de BAGNOULS & GAUSSEN (1953).
Nesse diagrama, estão representadas duas curvas que se cortam, uma ômbrica (de chuvas) e outra
térmica, que são estabelecidas segundo a relação P = 2t. Ele indica o período seco além de fornecer
indicações sobre sua duração e intensidade.
A construção dos diagramas ombrotérmicos baseia-se no seguinte postulado: há seca para os
vegetais, quando as precipitações pluviométricas mensais, medidas em milímetros, são inferiores ao
duplo da temperatura média mensal, expressa em graus Celsius. Um período seco, portanto, se
caracteriza pela seguinte relação: P(mm) = 2T (ºC). Por exemplo: 50mm para 25o C; 20mm para
10o C.
Basta então que se construa um diagrama com duas ordenadas nas quais os valores da curva
ômbrica tenham o dobro da escala da curva térmica, em outras palavras, no qual a escala das
temperaturas seja o dobro das precipitações. Desde que a curva ômbrica se mantenha abaixo da
curva térmica, as plantas suportam uma estação seca, de modo que um mês seco não é forçosamente
um mês sem chuvas.
As vantagens de um diagrama ombrotérmico é destacar ao mesmo tempo, pela forma das
curvas que se cortam, o tipo e a particularidade da estação bioclimaticamente seca ou úmida
(BOYÉ, 1980).
29
O estilo climático “alisiano”, que a curva ombrotérmica de João Pessoa apresenta, é
representado por uma figura de base larga, com uma geometria variável e um duplo máximo de
precipitações, que caracteriza o regime das chuvas (Figura 6).

Figura 6
30
Com base na metodologia de BAGNOULS & GAUSSEN (op. cit.), foi elaborada a
classificação bioclimática dos climas do Brasil, por M.V. GALVÃO (1955), da qual foram retirados
os dados concernentes à micro região de João Pessoa (Figura 7).

Figura 7
31
A classificação citada baseia-se nos seguintes aspectos climáticos: ritmo das temperaturas e
das chuvas durante o ano, por meio das médias mensais e considerando os períodos favoráveis e
desfavoráveis à vegetação (secos e úmidos ou quentes e frios), determinação dos meses secos e
índice xerotérmico.
Período seco é a sucessão de meses secos determinada pelo diagrama ombrotérmico. O
índice xerotérmico indica o número de dias ecologicamente secos durante o período seco
(SUDENE, 1972). O clima encontrado para a área de João Pessoa é o Nordestino subseco, com
estação seca curta (três meses) e índice xerotérmico de quarenta dias ecologicamente secos.
Se o limite de 50mm de chuvas for adotado, como o fazem muitos autores para definir um
mês seco na zona intertropical, constata-se que há três meses secos em João Pessoa: outubro
(29mm), novembro (27mm) e dezembro (39mm). Para muitos autores, bastam apenas dois meses
secos para que um clima tropical seja considerado com estação seca; outros exigem três meses.
Segundo GUILCHER (1984), o clima de João Pessoa, então, poderá ser qualificado de tropical
úmido com estação seca moderada (Quadro 6).

Quadro 6
Meses secos e estação ecologicamente seca

MESES
PARÂMETROS JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ TOTAL
PM 80,1 101 204,8 263,9 282,5 301,7 236,6 140 67,5 28 27 36 1.764,2
----- ----- –––– –––– –––– –––– –––– ----- ----- —— —— ––––
–––– –––– ——
........ ........
T 26 26,5 26,4 26,2 25,5 24,5 23,9 24,1 24,5 25,9 26,6 26,7 25,6
Origem dos dados: Microfichas da SUDENE, 1990. Quadro baseado em: BOYÉ (1980) e GÜILCHER (1984), adaptado
por MELO (2000).

LEGENDA:

------ mês intermediário


–––– mês chuvoso
—— mês seco
........ mês ecologicamente seco
2.2. Geologia

Antonio Sergio Tavares de Melo


Euzivan Lemos Alves
33
2.2.1. O quadro lito-estratigráfico

A geologia da área do Jaguaribe é representada predominantemente por rochas sedimentares


especificadas abaixo e no Quadro 7:

a) Sedimentos mesozóicos, do Grupo Paraíba


• Formação Gramame
• Formação Beberibe
b) Sedimentos plio-pleistocênicos, da Formação Barreiras ou Grupo Barreiras Indiviso.
c) Sedimentos holocênicos, englobando aluviões, areias de praia e dunares, sedimentos de
mangues, recifes e arrecifes.

Quadro 7
Eestratigrafia da bacia do Jaguaribe

Quaternário Holoceno Sedimentos de mangue e aluviões, areias


Pleistoceno marinhas (dunas, praias), recifes (organógenos e
arrecifes “beach-rocks”.
Terciário/ Plioceno/ Formação Barreiras (+ 70 metros de espessura) –
Quaternário Pleistoceno arenitos, argilitos, siltitos, variegados com níveis
caulínicos e conglomerátorios grosseiros e
fragmentos de couraça laterítica.
Secundário Cretáceo Superior Grupo Paraíba, representado na área por:
a) Formação Gramame:
calcários argilosos, calcarenitos, fosfatos (+ 80
metros de espessura).
b) Formação Beberibe:
arenitos friáveis brancos e síltitos (200 a 300
metros de espessura).

2.2.1.1. Grupo Paraíba

As rochas que fazem parte da bacia sedimentar costeira Pernambuco-Paraíba – Grupo


Paraíba – constituem o substrato sobre o qual assentam-se as rochas do Grupo Barreira. Seus
afloramentos são raros na área em estudo, mas eles desempenham um papel importante para o
desenvolvimento de algumas formas cársticas enterradas e/ou subsuperficiais (dolinas,
ressurgências, depressões fechadas, grotões), e são muito importantes no que diz respeito às
reservas subterrâneas de água, sobretudo os arenitos de formação Beberibe.
Do ponto de vista estratigráfico seu desenvolvimento transcorreu entre o Cretáceo superior e
o Terciário inferior. Toda a seqüência encontra-se capeada por um espesso pacote de sedimentos de
origem continental – a Formação Barreiras, de idade mais recente.
As principais formações que o constituem da base para o topo, são:

a) Formação Beberibe – que inicia a seqüência e repousa sobre o embasamento cristalino


pré-cambriano. Ela é formada de arenitos conglomeráticos finos, claros, com cimento
argiloso ou ferruginoso pouco consolidado e aflora em uma soleira rochosa que corta
transversalmente o leito do rio Jaguaribe, à direita da barragem situada na reserva
Florestal do Buraquinho, em João Pessoa (Foto 1A).
34

1A - Soleira de arenito da Formação Beberibe, no leito do Rio Jaguaribe (margem direita) na


altura da barragem do Buraquinho (foto: A. S. T. de Melo, 1997).

b) Formação Gramame – é representada por um pacote pouco espesso, de sedimentos


predominantemente calcários. A seqüência inicia-se com arenitos calcíferos a
calcarenitos, passando gradativamente para calcários e dolomitas. Seus afloramentos são
importantes, mas situam-se fora da área do Jaguaribe. Contudo, depressões fechadas,
fontes e ressurgências são freqüentes ao longo do Jaguaribe e do Timbó: lagoas situadas
em suas nascentes (Jardim Planalto e no fundo do anfiteatro de cabeceira de drenagem
situadas no bairro do Cristo Redentor). Outras formas resultam da dissolução topográfica
(subfusão) dos sedimentos do Barreiras, fortemente influenciada pela evolução cárstica
subterrânea, e pelas falhas nos calcários Gramame, a exemplo da lagoa da Cidade dos
Funcionários e da lagoa (aterrada) Antônio Lins, em Oitizeiro, ambas no tabuleiro da
margem esquerda do rio Jaguaribe. Ao norte de João Pessoa, mas fora da área
pesquisada, os calcários afloram nas pedreiras da CIMEPAR, no baixo Roger e
Mandacaru, além de constituírem parte do corpo das ilhas do Stuart e do Tiriri, no eixo
do estuário da Paraíba.

Toda a bacia apresenta-se como um monoclinal suave, com mergulho para o mar. Os
falhamentos que a atingiram e os basculamentos refletem-se nos sedimentos mais recentes do
Barreiras; daí as diferenças de altitude entre os painéis sedimentares e a orientação da drenagem.

2.2.1.2. Formação Barreiras

O nome Barreiras consagrou-se na literatura especializada a partir da morfologia que esta


seqüência sedimentar apresenta no contato com as planícies litorâneas e aluviais: falésias vivas ou
mortas e vertentes abruptas e desnudas de certos trechos dos vales, que entalham este pacote
sedimentar. O termo foi empregado pela primeira vez por BRANNER (1902) apud LUMMERTZ
(1977), para indicar as camadas variegadas que afloram nas diversas “barreiras” ao longo do litoral.
35
Normalmente, os sedimentos são constituídos de clastos de granulação fina a grosseira, às
vezes conglomeráticos de cores variadas contendo intercalações limono-argilosas e fragmentos de
couraça laterítica. Toda a seqüência sedimentar traduz processos de sedimentação de origem
continental que alternam com fases de pausa na deposição. A presença de níveis conglomeráticos
ferruginosos, contendo cascalhos e seixos de quartzo e concreções ferruginosas, atestam períodos de
intensa atividades erosiva no interior do continente. Os fácies dos sedimentos testemunham fases de
resistasia que se alternam com outras de biostasia no decorrer do Plio-pleistoceno.
Os sedimentos Barreiras estão muito bem expostos nas encostas do vale do Jaguaribe e de
seus afluentes, nas falésias que se estendem da Beira-Rio até o Shopping Center Manaíra e no
anfiteatro de erosão da margem esquerda do rio Timbó (Fotos 2, 2A e 3). Eles se apresentam
compostos por argilas coloridas, arenitos avermelhados, com níveis de argilitos e níveis
conglomeráticos, de matriz arenosa e reunidos por cimento ferruginoso. Algumas camadas areno-
argilosas contêm pequenos seixos de quartzo que se acumulam em níveis bem distintos. Capeando
esses depósitos, aparecem igualmente sedimentos areno-argilosos de coloração diversificada com
infiltração verticais de óxido de ferro. No topo, as camadas sobrejacentes são na maioria muito
arenosas e resultam de processos atuais e sub-atuais de lixiviação das argilas e óxidos de ferro.

2 - Falésia morta na favela do Timbó. Formação Barreiras (foto: A. S. T. de Melo, 1998).


36

2A - Falésia morta, na favela do Timbó. Formação Barreiras. Favela em zona


de alto risco de desmoronamentos (foto: Josinaldo Lucena).

3 - Formação Barreiras. Falésia morta nas


bordas do tabuleiro do Jardim Luna, na
altura da ponte da avenida Ruy Carneiro
(foto: A. S. T. de Melo, 1998).
37
2.2.1.3. Sedimentos quaternários

Na área estudada os sedimentos quaternários ou quaternários recentes compreendem:


depósitos coluviais e aluviais, depósitos flúvio- marinhos de mangues, e depósitos de praias e
restingas.
Os sedimentos praias são soltos ou pouco consolidados, arenosos, constituídos por depósitos
de grãos de quartzo inconsolidados e fragmentos de animais marinhos, assim como por alguns
minerais pesados.
Na desembocadura do Jaguaribe, nas pequenas depressões pantanosas da restinga e em
grande parte da planície aluvial do Jaguaribe-Timbó, encontram-se sedimentos argilosos ou argilo-
siltosos em mistura com material de natureza orgânica.
Mais para jusante, ao longo do Jaguaribe e do Timbó, os sedimentos holocênicos
restringem-se às cotas mais baixas, compreendidas entre as elevações (encostas) e os fundos dos
vales encaixados: os depósitos dos sopés das encostas, dos terraços fluviais e das lagoas e
depressões. Esses sedimentos são de natureza granulométrica e de composição heterogênea:
sedimentos argilosos, siltosos, argilo-arenosos, deposição orgânica e material grosseiro, incluindo
seixos rolados.
2.3. Água subterrânea

Antonio Sergio Tavares de Melo


Euzivan Lemos Alves
39
2.3. Água subterrânea

De modo geral, todas as formações geológicas da área constituem aqüíferos com


características hidrológicas heterogêneas em função da litologia extremamente variada e da
extensão e espessura dos sedimentos (RADAMBRASIL, 1981 apud NEVES, 1993).
Com base na bibliografia consultada dois sistemas ocorrem na área:

a) um sistema livre, contido sobretudo na Formação Barreiras e nos sedimentos


inconsolidados do Quartenário, e, de maneira mais restrita, nos calcários da Formação
Gramame e nos arenitos da Formação Beberibe.
b) Um sistema confinado nos sedimentos Beberibe, caso se encontrem sotopostos à
Formação Gramame ou sob níveis confinantes, argilosos da Formação Barreiras .

2.3.1. O aqüífero Beberibe

A denominação Beberibe é proveniente do rio homônimo, situado no Estado de


Pernambuco, e em cujo vale foram estudadas camadas de arenitos, siltitos e argilitos (KEGEL, 1958
apud LUMMERTZ, 1977).
Essa formação assenta-se direta e discordantemente sobre o embasamento pré-cambriano, e
na área só aflora diretamente na barragem do Buraquinho. Ela representa o mais importante
aqüífero da área, pois é dotada de um potencial elevado de água subterrânea.
A Formação Beberibe é composta de dois membros: um inferior, predominantemente
arenítico, friável, de consistência fraca, com granulometria que varia de grossa até fina, e coloração
creme-cinza por vezes amarelada ou avermelhada. As intercalações de siltitos e argilitos são
irregulares e não muito espessas. O membro superior é constituído por arenitos maciços duros, de
granulação fina e grosseira, cor creme ou cinza e cimento calcífero, podendo também apresentar,
raramente, intercalações síltico-argilosas (LUMMERTZ, op. cit.).
Entre os dois membros pode ocorrer uma camada de argilito ou de siltito de espessura
variável, geralmente calcífera, mas o que diferencia a secção superior da inferior o caráter compacto
da primeira em comparação ao da segunda que é mais friável (LUMMERTZ, op. cit.).
O aqüífero como um todo pode ser considerado como confinado ou semiconfinado,
dependendo da sua espessura, grau de faturamento, compactação e teor de argila dos materiais
sobrejacentes.
Geralmente admite-se para o aqüífero superior uma permeabilidade secundária ocasionada
por faturamentos e por fenômenos de dissolução do cimento calcífero em determinado setor como,
por exemplo, na Bica do Parque Arruda Câmara e na Fonte do Convento Santo Antônio (fora da
área estudada).
Com referência ao membro Beberibe inferior, este se encontra distribuído por toda a área da
grande João Pessoa e pode ser encontrado em qualquer perfuração que tenha profundidade
suficiente.
Como um todo, a formação Beberibe apresenta uma espessura superior a 165 metros.
Repousa normal e discordantemente sobre o embasamento pré-cambriano, e superiormente, limita-
se de forma discordante com a Formação Barreiras, com os depósitos quaternários e com os
calcários Gramame. Seu limite com a Formação Barreiras é extremamente difícil de ser
determinado em superfície, uma vez que o intemperismo mascara as diferenças entre ambas. Com a
Formação Gramame o contato é discordante e passagem é gradual.
O aqüífero Beberibe é do tipo saturado e confinado em quase toda a sua extensão, em parte
pelas margas da Formação Gramame e em parte pelos seus próprios níveis argilosos e siltosos e,
extensivamente, pelas camadas argilosas da Formação Barreiras (SUDENE, 1980).
Ele encontra-se numa área com pluviometria relativamente elevada e boas condições de
alimentação indireta. Acrescenta-se a sua posição geológica favorável, com suave inclinação para o
mar e com superposição de níveis impermeáveis diversos.
40
Esses fatores contribuem para a formação de um aqüífero artesiano que, dependendo da
dissecação, produz excelentes condições de emanações, ressurgências e fontes, quando sit uadas
longe das zonas de recarga direta. A alimentação é feita de duas maneiras:

• Direta, ou seja, pelas precipitações ao longo de suas faixas de exposição planas e


arenosas, com taxas de infiltração que variam de 15% a 30% da pluviosidade anual
sendo um pouco mais elevada do que a da Formação Barreiras (SUDENE, op. cit.);
• Indireta, isto é, por meio de infiltração vertical do lençol freático que lhe é sobreposto
(Barreiras ou depósitos quaternários).

Seu escoamento se processa, de maneira geral, para o mar, subordinado igualmente pela rede
hidrográfica. Muitas ressurgências estão ligadas às águas do escoamento subsuperficial ou
hipodérmico (percolação) e ao contato com níveis de permeabilidade diferentes, como os que
ocorrem no fundo dos vales.

2.3.2. O aqüífero Gramame

Sua denominação provém do rio de mesmo nome que corta a Grande João Pessoa na sua
porção meridional. Sua datação é do Cretáceo Superior (Maestrichtiano).
Essa formação caracteriza-se por um litofácies carbonático, quase sempre arenoso na base e
mais argiloso nas porções intermediária e superior, podendo também ocorrer calcários puros. Na
parte basal, os calcários apresentam-se fortemente dolomitizados podendo aparecer dolomitos
puros, ou então apresentarem uma rica camada de material fosfatado. Em muitas situações são
observadas camadas de arenitos calcíferos intercaladas com material calcário (LUMMERTZ, op.
cit.).
Quando à sua coloração, esses calcários são de cor cinza passando a creme ou amarelo
quando intemperizados.
Eles afloram nas pedreiras da Cimepar, a noroeste de João Pessoa, nos Bairros do Roger e
Mandacaru e nas ilhas estuarinas do Stuart e Tiriri. Influências subjacentes dessa formação se
refletem em certas feições geomorfológicas como: lagoas, anfiteatros de erosão e depressões
pseudo-cársticas’freqüentes na área e já mencionadas..
Na área da Grande João Pessoa, os calcários apresentam estratificação sub-horizontal, não
muito pronunciada, grosseira, em bancos ou então formando massas compactas. Sua espessura é
bastante variável devido a uma conjunção de fatores:

a) subsidência diferencial em áreas localizadas, o que possibilitou uma maior espessura;


b) fenômenos erosivos pós-Gramame provocando erosão diferencial, tornando os calcários
mais delgados em locais onde eles deveriam ser mais espessos;
c) fraturamentos e dissolução subterrânea (LUMMERTZ, op. cit.).

Na área, a média da espessura dos calcários varia entre 18 e 60 metros sendo que as
maiores situam-se no Campus da UNIPÊ e em Água Fria, de acordo com os dados de perfuração de
poços do DNOCS. O seu contato inferior dá-se com o membro superior da Formação Beberibe; o
contato superior, com os materiais da Formação Barreiras ou com os sedimentos quaternários
(Quadro 8).
O aqüífero dos calcários produz quantidade reduzida de água subterrânea e de
qualidade química medíocre. Trata-se de um aqüífero anisotrópico devido à litologia variada da
formação que vai de calcários puros às margas e argilas que ocorrem de maneira alterada e muito
irregular, tanto lateral quanto verticalmente (SUDENE, op. cit.).
Sua alimentação se faz verticalmente: ascendente, quando proveniente do aqüífero
Beberibe e descendente, a partir da Formação Barreiras ou dos sedimentos quaternários. Suas
características hidrodinâmicas são pouco conhecidas, mas elas devem ser reduzidas devido à
41
presença dos já referidos níveis argilosos que fazem parte da seqüência calcária. As possibilidades
de uma circulação cárstica existem nos calcários puros, mas a permeabilidade média é sempre baixa
uma vez que as camadas margosas são predominantes.
Resta que os calcários da Formação Gramame podem, em alguns locais, fornecer
quantidades razoáveis de água, mas elas serão sempre de qualidade inferior, devendo por isso ser
evitada para consumo (LUMMERTZ, op. cit.). A capacidade de fornecimento de água desses
calcários está ligada aos fenômenos de carstificação, relativamente intensos em certos setores, mas,
quando aparecem arenitos intercalados, sua importância aqüífero é maior se estes tiverem
espessuras maiores (LUMMERTZ, op. cit.)

Quadro 8
Litologia e profundidade das rochas na bacia do Jaguaribe

I - POÇOS PERFURADOS PELO DNOCS/PB (vários anos)


LOCALIZAÇÃO PROF. TOTAL (m) LITOLOGIA (espessura)
Parque de Exposição de animais 110 Argila - 37m (Form. Barreiras)
(Cristo Redentor) Calcário Gramame - 48m
Arenito Beberibe - 25m
15o Regimento de Infantaria (Cruz 81,5 Form. Barreiras: Areia - 1m
das Armas) Argila - 17m
Argila arenosa - 12m
Calcário Gramame - 45m
CEASA (BR-230) 67 Form. Barreiras: Areia e Húmus - 2m
Argila clara - 4m
Argila arenosa - 3m
Argila amarela - 5m
Argila pegajosa - 3,5m
Argila amarela - 6,5m
Argila c/seixos - 3m
Argila amarela 13m
Calcário Cinza (Gramame) - 18m
Arenito fino claro (Beberibe) - 5m
CAMPUS DO UNIPÊ 120m Form. Barreiras: Areia - 1,4m
Arenito argiloso - 6,6m
Argila - 16m
Areia argilosa - 24m
Calcário Gramame - 53m
Arenito Beberibe - 19m
Esc. Téc. Federal (Jaguaribe) 100m Form. Barreiras: Argila - 26m
Arenito argiloso - 9,5m
Argila - 1,5m
Calcário Gramame - 31,5
Arenito Calcífero (Beberibe) - 16,5m
Arenito Beberibe - 15m
CAMPUS DA UFPB 133m Form. Barreiras: Argila Arenosa - 8m
Argila - 24m
Areia argilosa - 21m
Calcário Gramame - 43m
Arenito Calcífero (Beberibe) - 11m
Arenito Beberibe - 16m
GRANJA TIMBÓ 56m Form. Barreiras: Argila - 23m
Areia argilosa - 13m
Calcário Gramame - 4m
GRANJA SANT’ANA (1) - Av. 92,5m Form. Barreiras: Argila - 9m
Beira Rio (Miramar) Argila amarela - 5m
Argila branca - 10m
Argila amarela - 20m
Calcário Gramame - 48,5
GRANJA SANT’ANA (2) 80m Form. Barreiras: Argila Arenosa - 23m
Argila argilosa - 1m
42
I - POÇOS PERFURADOS PELO DNOCS/PB (vários anos)
LOCALIZAÇÃO PROF. TOTAL (m) LITOLOGIA (espessura)
Argila compacta - 1m
Argila argilosa - 21,7m
Form. Gramame: Arenito calcífero - 9,3
Calcário - 24m
ÁGUA FRIA (1) 72m Form. Barreiras: Argila c/húmus - 2m
Argila vermelha - 5m
Argila verm. escuro - 10m
Argila aren. amarela - 15m
Argila arenosa clara - 5m
Areia movediça - 18m
Areia pegajosa - 6m
Laterita - 5m
Calcário Gramame - 6m
ÁGUA FRIA 4 (2) 121m Form. Barreiras: Argila - 7m
Laterita - 5m
Argila - 9m
Argila arenosa - 13m
Areia movediça - 5,5m
Argila - 1m
Formação Gramame: Arenito calcífero - 5m
Calcário - 37,5m
Formação Beberibe: Arenito - 18m
ÁGUA FRIA II-A (3) 120m Form. Barreiras: Argila - 31m
Argila c/seixos - 7,0m
Areia - 7m
Calcário Gramame - 54m
Arenito Beberibe - 26m
BAIRRO DE SÃO JOSÉ 54m Areia – 2m
Argila - 15m
Argila arenosa - 6m
Argila - 2m
Areia - 23m
Favela São Rafael 10 Areia c/argila (aterro) - 1,78m
Areia orgânica - 2,78m
Areia fina - 4,78m
Turfa - 5,68m
Areia argilosa - 9,6m
Favela Tito Silva + 17 Argila orgânica - 9m
Areia média - 1m
Calcário Gramame - 7,31m
(limite de sondagem - 17,7m)
Confluência 14,5 Argila orgânica
Timbó/Jaguaribe Areia média 14,5m
Argila síltico-arenosa cinca
Calcário Gramame
Sob a ponte da Av. Rui Carneiro 14,4 Argila orgânica
14,4
Areia média
Calcário Gramame
Fontes: - DNOCS (vários anos)
- PREFEITURA DE JOÃO PESSOA/CEDAC (1995)

2.3.3. O aqüifero Barreiras

Os sedimentos que constituem a Formação Barreiras ocupam uma extensão considerável na


área estudada. Morfologicamente, eles dão origem aos baixos planaltos costeiros e sub-costeiros
(tabuleiros) e estão sobrepostos às formações do Grupo Paraíba. Juntamente com os depósitos
recentes (Quaternário), eles constituem a geologia de superfície da área da bacia do Jaguaribe.
43
A Formação Barreiras, de modo geral, representa uma seqüência sedimentar terrígena, em
que predominam sedimentos arenosos, argilosos e conglomeráticos, de coloração variada
(vermelho, amarelo, ocre, cinza, branco). Observa-se uma predominância de arenitos argilo-sílticos,
extremamente friáveis, dispostos em camadas sub-horizontais ou em lentes e um fácies
predominantemente arenoso, relativamente espesso, constituído de arenitos finos e grosseiros, em
geral pouco argilosos ou sem argila, regularmente consolidados e de cores avermelhadas,
intercalados localmente por argilitos e sílticos. Observam-se também níveis conglomeráticos com
seixos arredondados e sub arredondados e de arenitos mais ou menos ferrificados.
Quanto à espessura, o grupo é mais possante na faixa litorânea, variando de 40 a 70 metros,
mas podem existir setores em que essas espessuras podem ultrapassar os 80 metros.
O contato inferior dá-se com os sedimentos do Grupo Paraíba, através de uma discordânc ia
erosiva. Quando as rochas sotopostas são carbonáticas, o contato é facilmente identificável. Quando
os sedimentos repousam sobre os arenitos Beberibe, o contato é dificilmente determinado
principalmente em superfície onde o intemperismo gera confusão na identificação entre as duas
unidades (LUMMERTZ, op. cit.).
A Formação Barreiras é recoberta localmente, no topo dos tabuleiros, por depósitos arenosos
inconsolidados. Trata-se de areias quartzosas que ocupam áreas de extensão e contorno irregulares
ligados a fenômenos pedogenéticos de lixiviação e podzolização. Geralmente elas são associadas a
áreas abaciadas, facilmente identificáveis pela vegetação herbácea e pelo acúmulo de água durante a
estação chuvosa. Essas depressões rasas estão relacionadas com níveis subjacentes impermeáveis
que causam sérios problemas para a urbanização.
A Formação Barreiras é um aqüífero de relativa importância na área, produzindo água de
boa qualidade. Por sua heterogeneidade faciológica e granulométrica, ela se constitui um sistema
freático heterogêneo em virtude das intercalações clástico-pelíticas nas quais o nível hidrostático
acomoda-se graças a sua configuração em tabuleiros ou planalto sub-estruturais. Quando essas
intercalações são predominantemente areníticas e permeáve is, elas se revelam boas fornecedoras de
água subterrânea.
No geral, apesar de sua extensão, o aqüífero Barreiras apresenta, no seu todo, possibilidades
hidrológicas relativamente fracas em virtude de sua baixa permeabilidade, da existência de
ressurgências nas encostas dos vale e da alimentação dos rios e desempenha um papel importante
como reservas de água subterrânea.
Essas reservas de água subterrânea são restritas aos níveis mais arenosos e conglomeráticos,
encerrados entre níveis mais finos e argilosos. A circulação subterrânea se realiza com substancial
perda de carga por três razões:

a) drenagem permanente do aqüífero para os cursos d’água que dissecam a área;


b) drenagem para o nível confinado sub-superficial (Formação de Beberibe, se a diferença
do potencial hidrodinâmico o permitir;
c) escoamento para o oceano.

A alimentação desse aqüífero é feita, exclusivamente, pela infiltração das águas das chuvas
anuais, cujas taxas são estimadas em 15%, variando para mais ou para menos, em função do seu
condicionamento morfológico. A circulação ocorre diretamente ou indiretamente para o mar,
condicionada pela rede hidrográfica, configuração geomorfológica, constituição geológica e
relações tectono-estruturais (LUMMERTZ, op. cit.).

2.3.4. Os depósitos quaternários

Esses depósitos constituem sistemas aqüíferos livres e acham-se bem distribuídos pela
planície aluvial dos rios Jaguaribe e Timbó e pela planície litorânea.
Sua permeabilidade está relacionada com o seu conteúdo em silte e argila. Nos locais mais
afastados do litoral, predominam depósitos areno-argilosos de granulação média e fina,
44
ocasionalmente grosseira e até conglomerática (coluviões do Barreiras e sedimentos aluviais). Nos
setores mais próximos da costa, esses depósitos são fluviomarinhos, tornando-se síltico-argilosos e
apresentam coloração cinza-escuro a preto.
A espessura desses sedimentos pode atingir localmente 15 a 20 metros e, excepcionalmente,
na Restinga de Cabedelo e na planície de Tambaú, eles podem alcançar cerca de 75 metros.
Os aqüíferos livres superficiais são depósitos de água doce, com algumas dezenas de metro
por espessura, e situados a cerca de um metro de profundidade. O fornecimento de água doce
depende da sua localização no terreno, mas a água pode apresentar odor desagradável e, por isso,
ela deve ser submetida a tratamento. Sua qualidade é medíocre e está situada abaixo do limite
crítico dos padrões internacionais para a água potável destinada ao consumo doméstico. Ela
geralmente é alcalina e pode ser considerada como uma água dura. Além dessas características
químicas, ela pode apresentar características bacteriológicas muito variáveis, devendo a exploração
dos lençóis ser efetuada com certos cuidados. Sua utilização presta-se para fins industriais, para
limpeza e jardinagem (DAVINO, 1978).
2.4. Geomorfologia

Antonio Sergio Tavares de Melo


Euzivan Lemos Alves
Maria Margarida Magalhães Guimarães
46
2.4.1. Compartimentação Topomorfológica

A compartimentação topográfica e geomorfológica da área coincide com a


compartimentação litológico-estrutural, podendo ser diferenciadas as seguintes unidades:

1. Compartimentos elaborados nos sedimentos da formação, Barreiras com fortes


influências das rochas do Grupo Paraíba - os tabuleiros, vertentes e falésias.
2. Áreas de sedimentação alúvio-coluvial: rampas e fundos de vales com ressaltos
estruturais e terraços.
3. Área de sedimentação flúvio- marinha: as planícies dos baixos e médios cursos dos rios
Jaguaribe e Timbó incluindo as planícies de maré.
4. Área de sedimentação predominantemente marinha: praias, cordões e terraços litorâneos.

As unidade acima enumeradas foram agrupadas da seguinte maneira:

a) Tabuleiros - baixos planaltos sub- horizontais que se inclinam suavemente em direção ao


litoral, elaborados nos sedimentos do Barreiras. Eles apresentam-se dissecados pela
drenagem, com vertentes por vezes íngremes e vales encaixados, alguns deles com
acentuado declive nas cabeceiras. Falésias mortas, com 20 a 30 metros de altitude, os
delimitam com a baixada litorânea.
b) Planície do Jaguaribe-Timbó (baixos e médios vales) que se prolonga pela planície
litorânea se alargando em direção ao Norte pela a planície da restinga de Cabedelo (Foto
4).

4 - O vale do Jaguaribe entre os bairros de Jaguaribe e do Rangel (lado esquerdo da foto) (foto:
A. S. T. de Melo, 1998).
47
2.4.1.1. Tabuleiros e encostas

Trata-se de baixos platôs sedimentares, de topo plano ou levemente inclinado, com


diferentes ordens de grandeza espacial e de aprofundamento da drenagem, geralmente separados
por vales de fundo chato e dissecados por uma rede de drenagem local pouco densa com vales em
V, curtos e que se abrem ao contato com planícies aluviais do Jaguaribe e do Timbó.
O rio Jaguaribe e Timbó cortam a superfície dos tabuleiros e apresentam-se com planícies
aluviais e fluvio- marinhas bem desenvolvidas no fundo dos vales. A discrepância existente entre o
pequeno caudal dos cursos de água atuais e os vales relativamente amplos deixa entrever que boa
parte de sua escavação deveu-se aos movimentos tectônicos e às transgressões marinhas que
correram no Quartenário. Concomitantemente com a retirada do mar, deu-se o preenchimento
desses vales que foram mais uma vez invadidos durante a última das transgressões.
A passagem desta unidade geomorfológica para os terrenos da baixada litorânea dá-se sob a
forma de paleofalésias ou falésias mortas e vertentes- falésias. A declividade dessas formas é
quebrada junto à sua base pelo desenvolvimento de um talude de depósitos gravitacionais ou de
rampas suaves que se dirigem para as planícies flúvio-marinha s. A transição para a planície fluvial
dá-se através de vertentes relativamente abruptas e/ou convexas e localmente por rampas e ressaltos
estruturais.(Foto 5).

5 - Terraço fluvial do rio Timbó (no primeiro plano da foto) (foto: A. S. T. de Melo, 1998).

Os tabuleiros desenvolvem-se em formações detríticas consolidadas ou pouco consolidadas:


areias, argilas, siltitos, níveis conglomeráticos, níveis de arenitos ferruginizados, fragmentos de
couraça laterítica, níveis caulínicos, repousando sobre as rochas do Grupo Paraíba (sobretudo os
arenitos da Formação Beberibe e os calcários da Formação Gramame).
Os topos ou interflúvios são planos e se inclinam em rampas suaves em direção às
cabeceiras dos rios e riachos. Seus rebordos são sinuosos, entalhados pela erosão remontante dos
riachos e pequenos drenos que remontam pouco a pouco os tabuleiros, dando- lhes um aspecto
festonado.
48
Alvéolos de cabeceira de drenagem originam entalhes profundos em forma de anfiteatros
que mordem as bordas dos tabuleiros e apresentam terracetes e ressaltos no seu interior, a exemplo
do que se encontra próximo à nascente do Jaguaribe, na altura do bairro do Cristo Redentor e na
margem esquerda do rio Timbó onde se encontram as comunidades que fizeram parte desse
trabalho.
Destacam-se ainda depressões fechadas, circulares ou ovaladas que geralmente são
associadas dissolução topográfica coadjuvada por fenômenos cársticos de subsuperfície (carste
inumado), como as que se verificam na Cidade dos Funcionários (Lagoa do Buracão), em Oitizeiro
(Lagoa Antônio Lins) e no Cristo Redentor (área das cinco lagoas) (Foto 6).

6 - Depressão arredondada - lagoa - no piso do grande anfiteatro de erosão do Cristo Redentor,


nas proximidades do loteamento Redenção (foto: A. S. T. de Melo, 1998).

2.4.1.2. Falésias

As falésias resultam da ação do mar sobre as rochas sedimentares auxiliada por movimentos
tectônicos de soerguimento do continente e regressões marinhas. A esses, combinam-se processos
continentais ou subaéreos de erosão. Tudo isso concorre para a elaboração de abruptos ou escarpas
em posição costeira e sub-costeira, chamadas de falésias vivas ou ativas.
Encontram-se também setores em que as falésias estão livres da erosão marinha Trata-se das
falésias mortas, que dominam a baixada litorânea e alguns trechos da várzea. Elas também são
chamadas de falésias inativas ou ainda paleo- falésias.
No setor estudado, verifica-se que as falésias são todas mortas quanto à ação do mar, mas
submetidas a processos de erosão que são induzidos ou acelerados pelas ações antrópicas.
Essas falésias se situam ao longo do médio e baixo curso do Jaguaribe e no vale superior do
Timbó (Foto 7).
49

7 - Falésia morta. Timbó (foto: A. S. T. de Melo, 1998).

Geralmente, nos setores de falésias mortas, os seus perfis são diferenciados: uma parte
somital vertical dominando um talude inferior com declividades que variam de mediana a forte ,
formado de material desmoronado ou que deslizou da parte superior e que se encontra colonizado
por vegetação, esta encontrando-se ausente em muitos trechos por causa da devastação provocada
pelo homem, como pode ser verificado no Bairro de São José e no Timbó.

2.4.1.3. Planície aluvial do sistema Jaguaribe – Timbó

Constituída de sedimentos areno-argilosos e por depósitos orgânicos, a planície do


Jaguaribe-Timbó representa o ciclo mais recente da história geomorfológica da área (Quaternário).
Suas características morfológicas mais importantes são: largura, encostas íngremes,
influência das marés no baixo curso e a extensiva presença de manguezais.
Sua evolução está relacionada com o Quaternário Inferior quando a costa sofreu
soerguimentos e rebaixamentos com a subsequente entrada e saída do mar, motivadas pelos
movimentos eustáticos durante os pluviais e os interpluviais.
Integrando esta planície encontram-se formas de detalhe derivadas das ações fluviais e
flúvio- marinhas tais como: diques marginais, bacias de decantação e terraços fluviais.
50
É também chamada de planície de inundação, pois, durante as chuvas, a elevação do nível
das águas provoca o transbordamento dos rios sobre as margens, inundando as áreas baixas
marginais.
A grande amplitude da várzea, sobretudo a partir do lago de barragem do Buraquinho e da
confluência do rio Timbó com o Jaguaribe, atesta que esta, a exemplo de outras homológas do
litoral do Nordeste do Brasil, sofreu não apenas a influência dos fenômenos de tectônica de ruptura
e quebramento como também os efeitos das invasões marinhas ocorridas durante o Quaternário.
Trata-se de uma ria colmatada, por onde o mar penetrou, num passado recente, dominada por
falésias mortas e vertentes abruptas, com desnivelamentos de até 20m de altitude.
Nesta várzea, verifica-se a ocorrência de níveis de terraços que a emolduram de ambas as
margens dos rios. Terraços de 2 a 4 metros, de 5 a 8 metros e de 10 a 16 metros,
predominantemente areno-argilosos e/ou mascarados por recobrimentos coluviais.

2.4.2. Geomorfologia dinâmica

2.4.2.1. Morfodinâmica dos tabuleiros

O componente determinante da dinâmica geomorfológica dos Tabule iros é a litologia. O


material que forma esses baixos planaltos, é representado por formações detríticas pouco
consolidadas e/ou inconsolidadas: areias, argilas, siltes, seixos, níveis conglomeráticos, fragmentos
de canga ferruginosa, níveis de arenitos ferruginosos... Toda a seqüência sedimentar é proveniente
de fases sucessivas de alterações de rochas do embasamento cristalino, situadas no interior do
continente, que sofreram transportes por correntes de água antes de serem depositadas.

Disso decorrem muitos problemas de ordem pedológica, geomorfológica e hídrica dentre


eles convém salientar:

a) A granulometria, extremamente heterogênea, é responsável por comportamentos


hídricos desfavoráveis em certos locais, o que representa um fator limitante sério no
que diz respeito aos processos erosivos ligados às ações do escoamento superficial, do
impacto das chuvas e do escoamento hipodérmico, e alimentaçãofreática;
b) A mesma granulometria heterogênea favorece localmente, a compactação do solo,
torna difícil quando a vegetação foi totalmente eliminada (loteamentos, abertura de
ruas vias não pavimentadas em setores enladeirados, etc.) o que por retroação positiva
aumenta as dificuldades de infiltração e o papel erosivo do escoamento superficial,
mesmo em áreas com fraca declividade, e, por conseguinte, os riscos de ravinamentos
e retalhamentos serão bem mais generalizados a partir das linhas de inflexão das
declividades (rampas e vertentes);
c) A pobreza mineral e a granulometria têm como outra conseqüência desfavorável, a
estrutura deficiente das formações superficiais e dos solos, daí sua alta susceptibilidade
à erosão.

2.4.2.2. O comportamento dos interflúvios e das vertentes

Os interflúvios, no que diz respeito ao regime hídrico superficial, apresentam diferenças


consideráveis ligadas sobretudo à textura e à granulometria das formações superficiais. Os setores
mais argilosos, às vezes compactos favorecem o escoamento superficial. Os interflúvios
dominantemente arenosos favorecem uma infiltração de água que, em alguns casos, podem
ressurgir na superfície, quando esta encontra um nível subjacente mais impermeável.
No que diz respeito ao regime freático, a filtração pode ser difusa-rápida, nas camadas
arenosas grosseiras e cascalhentas da Formação Barreiras; e difusa- lenta, nas camadas siltosas e
51
mais argilosas. No primeiro caso, a estocagem é elevada; no segundo, a capacidade de
armazenamento é mais fraca, embora a retenção seja mais forte.
Essa relação, granulometria - comportamento hídrico, é muito importante, não apenas para
as questões de mecânica dos solos, como para certos aspectos da morfodinâmica, em que a água é
importante coadjutor (movimentos de massa, solifluxão, etc.), sem falar nos casos de poluição por
infiltração de poluentes que podem eventualmente atingir as reservas d'água subterrâneas e que são
também fundamentais para a alimentação dos rios e mananciais da área. (MELO, 1984).
Quanto às vertentes, suas formas não são muito variadas e estão ligadas, sobretudo aos
materiais que as constituem e aos processos que as elaboraram. A maioria delas se caracteriza por
uma certa convexidade somital e uma concavidade basal, geralmente elas são abruptas; outras são
mais ou menos retilíneas e longas.
A heterogeneidade litológica é responsável por diferentes comportamentos hídricos e por
um forte potencial à erosão, na qual a água desempenha um papel primordial aliada à declividade, à
ação da gravidade e à taxa de cobertura do solo (vegetação e densidade das construções):
ravinamentos incipientes ou generalizados, deslizamentos em pacotes ou em pranchas, corridas de
lama e solifluxão.
É sabido que a vegetação freia o impacto das chuvas e diminui o seu escoamento. A
cobertura vegetal da área é bastante heterogênea e fortemente antropizada: restos de florestas,
capoeiras em diferentes estágios de crescimento, formações arbustivas-arbóreas densas, formações
arbustivas esparsas sobre solos muito susceptíveis à erosão... Cada uma dessas formações tem um
papel mais ou menos eficaz na ação das águas pluviais em virtude de suas características estruturais
particulares.
O escoamento difuso e concentrado é muito freqüente, não apenas nos interflúvios, mas
principalmente sobre as vertentes, mesmo aquelas com declividades fracas. Sua ação provoca a
formação de sulcos e ravinas, às vezes muito profundos, nos locais em que a vegetação está ausente
ou apresenta-se sob a forma de manchas descontínuas.
Normalmente, essas ravinas nascem nas linhas de inflexão das vertentes, afetando
inicialmente as bordas dos interflúvios e, em seguida, retalhando as próprias encostas. Elas
funcionam freqüentemente por ocasião das chuvas sob o efeito de uma concentração local do
escoamento. O papel da erosão regressiva nesse caso é fundamental, as ações aumentando para
montante dos sulcos que podem atingir profundidades importantes. O material mais fino (argilas e
siltes), em mistura com as águas pluviais concentradas, atinge o fundo dos vales. Portanto riscos de
coluvionamento existem, o que pode ser prejudicial às reservas superficiais de água (assoreamento)
e aos solos das planícies (MELO, 1983).
Nas áreas com maior declividade (falésias, anfiteatros de erosão), podem ocorrer
movimentos de massa localizados: desmoronamentos, desabamentos, deslizamentos. Em materiais
mais argilosos, podem aparecer, nas vertentes, certos sinais de solifluxão: bossas, pequenos
ressaltos, etc. Nas áreas raspadas (ladeiras não pavimentadas de todos os bairros do vale superior do
Jaguaribe, por exemplo) são freqüentes os sulcos generalizados, que retalham a superfície em "bad-
lands".
As encostas mais suaves e longas sem muitos elementos grosseiros, pelo menos em
superfície , como é o caso das amplas rampas coluviais, têm sua parte superior normalmente
submetida ao escoamento difuso, enquanto que os terços inferiores, mais regulados, apresentam
ravinamentos e sulcos. É bastante freqüente na saída dessas ravinas, a formação de pequenos cones
de coluvionamento atuais.
Normalmente, as cabeceiras dos rios e riachos terminam em anfiteatros ou em pequenos
nichos que funcionam como bacias de recepção de águas pluviais que mais para jusante se
concentram e formam vales inicialmente encaixados, que se abrem pouco a pouco, se unindo às
várzeas um pouco mais amplas do Jaguaribe e Timbó.
52
2.4.2.3. Morfodinâmica das falésias (paleofalésias)

Os processos de erosão das paleofalésias são todos eles continentais acelerados pelas ações
antrópicas: aberturas de loteamentos no seu topo, próximo à borda, vias de circulação, degradação
da cobertura vegetal, retirada de barro, etc.
Esses processos são originados a partir da retirada da vegetação que recobre os topos e as
bordas dos tabuleiros, bem como dos taludes e da extração de barro para diversas finalidades. Os
processos mais freqüentes são: desmoronamentos, deslizamentos em pacotes, ravinamentos e
corridas de terra e lama. Esses processos ocorrem, sobretudo, no final da estação chuvosa, e
atingem principalmente na área urbana os bairros de baixa renda e as favelas que são erguidos nas
áreas em que os riscos de movimentos de solo são muito grandes.
A base das falésias é submetida às ações antrópicas diversas (retirada de barro, sobretudo),
que contribuem para desequilíbrios, dando origens a abatimentos gravitacionais. Mas, é freqüente a
partir dos solapamentos na base, surgirem fissuras ao longo das escarpas o que favorece a
infiltração das águas das chuvas. Ocorrem então deslizamentos por pacotes ao longo do plano de
lubrificação que se forma e acompanha a fissura.
Um outro processo dominante é o escorregamento em prancha, por supersaturação rápida do
material durante os períodos de chuvas intensas e concentradas. Esses escorregamentos atingem o
topo das falésias e estão relacionados com as ações atrópicas desenvolvidas próximas as bordas dos
tabuleiros. A retirada da vegetação nesses setores é o fator de desencadeamento, pois o papel de
retenção de água fica diminuído ou afetado; o material mais poroso é favorável à infiltração que,
por escoamento subsuperficial, compromete as escarpas dos tabuleiros (MELO, 1983-1984).
Esses processos se explicam por: fortes chuvas, declividades, natureza do material e ações
antrópicas. A natureza do material, as fortes declividades e o comportamento hídrico combinam-se
em um sistema de erosão complexo em que as ações acima descritas predominam.
A abundância de fácies arenosos, mais porosos, assegura uma permeabilidade mais forte do
que nos argilosos. Estes concentram as águas das chuvas, que se infiltram lentamente em alguns
níveis inferiores mais argilosos.
Esses níveis argilosos subjacentes funcionam como planos de escorregamento, por saturação
das camadas superiores que, tornando-se mais fluídas, deslizam ou desmoronam mesmo nos setores
em que a cobertura vegetal reveste a escarpa.
Essas mesmas alternâncias de fácies multiplicam os níveis de encharcamento por infiltração
e percolação, originando movimentos de massa localizados, sobretudo nos setores em que houve
degradação da vegetação e retirada de barro.
Freqüentemente, as falésias exibem um talude que começa a partir da metade ou de seu terço
inferior formado pelo material desmoronado. Esses taludes ou todo o perfil da falésia são revestidos
de vegetação florestal. Nesse caso, ela pode ser considerada como uma vertente-falésia.
2.5. A Vegetação

Antonio Sergio Tavares de Melo


54
2.5.1. A Vegetação

O estudo da vegetação atual foi efetuado a partir de observações de campo e apoiado na


bibliografia existente. As observações de campo forneceram informações concernentes a alguns
aspectos ecológicos, fisionômicos e florísticos e permitiram uma apreciação da evolução da
cobertura vegetal e o estado atual das diversas formações identificadas. Além disso, elas permitiram
também constatar as relações e influências da compartimentação morfo-pedológica assim como as
interferências antrópicas.
Ficou evidenciado que o edafismo e as ações antrópicas constituem os dois fatores
primordiais na diversificação dos diferentes aspectos fitofisionômicos da área. Todas as formações
estão fortemente alteradas pela expansão urbana, com exceção da área da Reserva Florestal de
Buraquinho que goza de certa forma de proteção legal.
As formações vegetais identificadas na área foram:

a) Floresta Ombrófila das terras baixas (Mata do Buraquinho);


b) Formações arbustivo-arbóreas de crescimento secundário (“tabuleiro”);
c) Campos de várzea (higrófilos e hidrófilos);
d) Manguezal;

2.5.2. A Mata do Buraquinho (Floresta Ombrófita das Terras Baixas)

Trata-se de um trecho de Floresta Ombrófila das Terras Baixas (com fácies subperenifólio)
ou, segundo ANDRADE-LIMA & ROCHA (1971),floresta Megatérmica Pluvial Costeira
Nordestino-brasileira, remanescente bastante secundarizado que faz parte do complexo vegetacional
da Mata Atlântica, situado na bacia do Jaguaribe e atravessado de oeste para leste por este rio (Fotos
8 e 9).

8 - Vista da Mata do Buraquinho. Em primeiro plano o lago de barragem coberto de vegetação


aquática e cercado por campos higrófilos (foto: A. S. T. de Melo, 1997).
55

9 - Interior da Mata do Buraquinho, próximo ao lago (foto: A. S. T. de Melo, 1997).

A Mata Atlântica é a denominação dada a um complexo de formações vegetais e


ecossistemas associados: Floresta Ombrófila Densa ( Floresta Pluvial Tropical) subdividida em:
Aluvial, das Terras Baixas e Submontana, Montana e alto- montana, Floresta Ombrófila Aberta (um
fácies da Floresta Ombrófila Densa), Floresta Estacional Semidecidual, Floresta Estacional
Decidual, manguezais, restingas, camos de altitude, brejos interioranos e encraves florestais do
Nordeste (IBGE, 1981 e Decreto 750/93, de 10/02/93 - PNUD/FAO/IBAMA/GOV. DA
PARAÍBA). Trata-se de uma Unidade de Conservação protegida pelo Decreto Federal 98.181, de
26/09/89.
A Mata do Buraquinho tem contorno irregular, e é localizada entre os bairros de Jaguaribe e
Rangel, a oeste; Cristo Redentor, ao sul; os bairros do Castelo Branco; Cidade Universitária e Água
Fria, a leste e Torre, ao norte. Sua área é cerca de 571 hectares, dos quais 305 estão sobre a
responsabilidade da CAGEPA, e o restante sob proteção do IBAMA (LOPES, 1997).
As águas do rio Jaguaribe foram represadas no açude do Buraquinho, inaugurado em 12 de
maio de 1912, fazendo parte do primeiro sistema de abastecimento de água João Pessoa. Com o
intuito de proteger este manancial, conservou-se a mata que existia em propriedades particulares
como, por exemplo, o sítio Jaguaricumbe e Jaguaribe de Ba ixo (LOPES, op. cit). Com o tempo,
alguns setores foram (e ainda estão sendo) degradados, desfalcando a mata de muitas espécies
vegetais e animais. Trata-se, portanto, de uma floresta secundária, a ação humana sendo responsável
pelo desaparecimento das melhores madeiras, até mesmo das menos valiosas.
Seu porte é muito variado, de acordo com a posição que as espécies ocupam no conjunto. O
relevo, a natureza litológica e as diferenças de regime hídrico, calcadas no primeiro, determinam
geótopos caracterizados por algumas espécies vegetais, por exemplo: nas proximidades da barragem
do Buraquinho, Calophyllum brasiliensis e Inga fagifolia (Inga- í); nos níveis mais elevados:
Lecythis pisonis (sapucaia), Colubrina sp. (suruají), Bactris ferruginea (coquinho), Agonandra sp.
(marfim); quanto à Byrsonima sericea (murici) e à Tapirira guianensis (pau-pombo), elas são
encontradas em toda a parte (ANDRADE-LIMA & ROCHA, op. cit.).
Além dos fatores acima mencionados, a floresta também reage à umidade atmosférica
situada em torno de 79,5% e a uma estação seca de três meses, que coincide com o período de
56
maior deficiência hídrica, o que explica seu fácies subperenifólio. Dentre as espécies que o
caracterizam. podem ser citadas: Apuleia leiocarpa (Jitaí), Colubrina sp. (Suruají), Tabebuia
avellanaedae (ipê roxo), Apeiba albíflora (pau-de-jangada) e Buchenavia capitata (imbirindiba).
Essa umidade atmosférica também é responsável pela pobreza em epífitas, salvo por
algumas Broméliaceas (Hohenbergia sp.) e Polipodáceas (Polipodium sp.). Nos trechos mais
elevados, verifica-se que a floresta é enriquecida por grande número de lianas e cipós, como pode se
verificar ao longo da Av. Pedro II.
Quanto à sua estrutura, torna-se muito difícil estabelecer sua estratificação, em virtude do
seu caráter secundário (Fotos 10 e 11). Os dois autores citados consideram, apesar destas
dificuldades, a existência de quatro estratos: estrato arbóreo superior (30m), do qual fazem parte
Bombax gracilipes e Sclerolobium densiflorum, estas sendo residuais da floresta primária; um
estrato arbóreo mais uniforme (15m - dossel) composto de Apuleia leiocarpa, Bowdichia
virgilioiddes, Ocotea sp., Pera ferruginea, Xylopia sp., Luehea ochrophyla, e um outro estrato
englobando as demais árvores, mas de difícil diferenciação com o anterior. Um estrato arbustivo e
outro herbáceo, pobres, que não incluem os indivíduos jovens dos estratos superiores. Dentre os
arbustos podem ser citados: Olyra sp, Cephaelis pubescens, Psychotria sp. O estrato herbáceo, mais
desfalcado ainda do que o estrato arbustivo, tem como representantes: Ichnanthus peciolatum, Olyra
latifolia, etc.

10 - Interior da Mata do Buraquinho. Floresta de crescimento secundário como atestam os


troncos finos das árvores (foto: A. S. T. de Melo, 1997).
57

11 - Buritizal no interior da Mata do Buraquinho nas margens do


Jaguaribe. O buritizal foi plantado (foto: A. S. T. de Melo, 1997).

Como toda floresta urbana, a mata do Buraquinho vem sofrendo depredações de todos os
tipos: invasões, retirada de lenha, etc. Em alguns trechos, a vegetação secundária que surgiu é a que
se encontra recobrindo os tabuleiros mais arenosos.
O decreto presidencial nº 98.181, de 20/09/1989, a incluiu nas Áreas de Preservação
Permanentes e se prevê a criação de um Jardim Botânico. Os 305ha pertencentes à CAGEPA
deverão passar para esfera do IBAMA, que já possui 166ha. O projeto do Jardim Botânico será,
assim, efetivado. Espera-se, então, que esse patrimônio natural seja poupado de maiores
dilapidações, tanto em sua periferia como em seu interior.
58
Quadro 9
Algumas espécies da floresta ombrófila (sub-perenifólia) do Buraquinho (segundo ANDRADE-LIMA & ROCHA, 1971).

PRESENÇA POSIÇÃO
Espécie Nome Vulgar Rara Escassa Freqüente Comum Abundante Posição
Próximo ao
Bactris ferruginea Coquinho X
açude
Níveis baixos
Bysonima sericea Murici X
até altos
Brosimum sp. Quiri X Níveis Altos
Agonandra Marfim X Níveis Altos
Bordas de
Coccoloba Cavaçu X
matas
Cecropia sp. Embaúba X Níveis baixos
Embiriba Encosta e
Xylopia frutescens X
vermelha níveis super.
Encosta e
Xylopia sp. X
níveis super.
Encosta e
Ocotea glomerata Louro X
níveis super.
Ocotea sp Louro canela X —
Sparatanthelium
X Borda da mata
botocuorum
Apuleia leiocarpa
Jitaí X
(caducifólia)
Dialium guianensis X No alto
Sclerobium
Ingá de porco X
densifolium
Bowdichia
Sucupira mirim X Níveis altos
virgilioides
Sucupira
Ormosia bahiensis X Nível baixo
baraquim
Nível médio e
Ingá blanchetiana Ingá cabeludo X
alto
Próximo ao
Inga fagifolia Ingá-i X
açude
Ingá thibaudiana Ingá X Níveis altos
Pithecolobium Níveis médio e
Barbatimão X
avaremotemo alto
Pithecolobium
Arapiraca X Nível baixo
foliolosum
Pithecolobium
Jaguarena X
pedicellare
Niveis baixos
Stryphnodendrum
Favinha X a topos
pulcherrimum
aplainados
Sacoglottis
Oiti de morcego X Níveis altos
mattogrossensis
Fagara rhoifolia Laranjinha X Nível baixo
Níveis médios
Simarouba amara Pau Paraíba X
e alto
Protium Amescla,
X Encosta alta
heptaphyllum almecega brava
Protium sp. — X Encosta
Qualea crypthanta X Nível Baixo
Nivel médio a
Pera ferruginea X
baixo
Pogonophora
Cocão X Encosta e topo
schomburgkiana
Próximo ao
Sapium sp. Burra leiteira X
açude
Tapirira guianensis Paupombo, X X Dos níveis
59
PRESENÇA POSIÇÃO
Espécie Nome Vulgar Rara Escassa Freqüente Comum Abundante Posição
Cupiúba baixos ao topo
Thyrsodium
Caboatã de leite X Encosta e topo
schomburgkianum
Allophylus edulis X Nivel alto
Colubrina rufa Encosta e nivel
Suruaji X
(caducifólia) alto
Niveis medio a
Luehea ochrophylla — X
alto
Niveis baixos
até o
Byrsonima sericea Murici X
aplainamento
superior
Nível alto a
Apeiba albiflora Pau de jangada X
medio
Encosta alta e
Bombax gracilipes Munguba X
topo
Ouratea sp. X Nível superior
Nível baixo,
Callophyllum
Guanandi X próximo ao
brasiliensis
açude
Área aberta na
Clusia nemorosa Pororoca X
encosta baixa
Rheedia sp. Bacuparí X Encosta
Vismia baccifera Lacre X Nível baixo
Bulandi, Níveis baixos
Symphonia
gulandi, bulandi X próximos ao
globulifera
de leite açude
Encosta alta na
Casearia sylvestris Caiubim X
borda da mata
Casearia sp. — X Encosta baixa
Xylosma sp — X Encosta
Eschweilera Encosta e nível
Embiriba X
luschnatii alto
Níveis mais
Lecythis pisonis Sapucaia X
altos
Encosta e
Buchenavia capitata Imbiridida X
níveis altos
Britoa triflora — X
Encosta baixa,
Myrcia sylvatica — X
área aberta

Didymopanax Encosta e nível


Sambaquim X
morototoni alto

Rapanea sp. —
Oititrubá, goiti-
Lucuma grandiflora X Nível alto
trubá
Diospyros sp. — X
Aspidosperma Alto do
X
discolor tabuleiro
Angélica da
Encosta e nível
Plumerea bracteata mata; banana- X
superiores
de-papagaio
Cordia sp. X Parte alta
Tabebuia
Ipê roxo X Encosta alta
avellanedae
Alseis pitckelii X No alto
Segundo ANDRADE-LIMA & ROCHA, 1971
60
Outras espécies:

Lianas:
Strychnos sp (escassa)
Gouania blanchetiana (comum)

Aráceas:
Imbés

Epífitas (Bromeliáceas):
Hohembergia sp (bromeliácea)
Aechmena sp (bromeliácea)

Estrato arbustivo:
Cephaelis pubescens (escasso)
Psychotria sp (rara)
* Segundo ANDRADE-LIMA & ROCHA, 1971.

2.5.3. Formações secundárias arbustivo-arbóreas (“Tabuleiros”)

A formação mais freqüente é representada por uma vegetação formada por herbáceas e
lenhosas arbustivas e arbóreas baixas, muito densas e com algumas árvores esparsas. Trata-se de um
ecótono e também de uma formação secundária conhecida na área sob o nome de "tabuleiro".
Espécies florestais da Mata Atlântica misturam-se com espécies do cerrado e das formações
arbustivas e arbóreas litorâneas.
Este tipo de vegetação ainda é encontrado sob tabuleiros próximos do litoral e em trechos da
Mata do Buraquinho ao longo da BR-230.
No mais, a vegetação da área é quase toda secundária: capoeiras de idades diversas e em
todos os estágios da evolução. Ao lado delas, várias espécies de frutíferas ocupam sítios e granjas
sobretudo a leste e a sudeste da bacia do Jaguaribe.Acrescentam-se as culturas de subsistência ainda
existentes nas terras do vale e as pastagens que substituíram grande parte dos campos de várzea.

2.5.4. Campos de várzea (Foto 12)

12 - Várzea do Jaguaribe próximo ao Miramar. A vegetação está toda transformada


em pastos (foto: A. S. T. de Melo, 1999).
61
Compreendem as comunidades de vegetais, em sua grande maioria, herbáceas, que são
ligadas a condições particulares do biótopo: água e lama. Essas formações vegetais ocorrem nas
planícies aluviais do Jaguaribe e do Timbó (depressões úmidas ou alagadas, periferia dos rios
mencionados e locais onde ocorre acúmulo de águas durante a estação chuvosa). As comunidades
são representadas por hidrófitas e higrófitas. As hidrófitas, ou seja, o conjunto de espécies que
vivem sobre e nos planos de água. As mais comuns são: Pistia sp. (pasta), Eichhornia crassipes e
Eichhornia azurea. (água-pé ou baronesa), Nymphaea sp (nenúfar), Pontederia sp e Panicum
aquaticum. Nas depressões paludosas e ao longo das várzeas do Jaguaribe do Timbó predominam
higrófitas dentre as quais se destacam inúmeras ciperáceas (Cyperus giganteus - "piripiri", Cyperus
articulatus – “junco”, Typha dominguensis – “tábua”) e gramíneas (Paspalum sp. Panicum sp., são
as mais comuns, ocupando os solos mais drenados e enxutos das várzeas). Compõem também a
associação dos campos de värzea: Acrostichum aureum – (“samambaia-açu” ou “avencão”) e
"Montrichardia linifera”, (“anhinga"). Destaca-se também uma espécie lenhosa de porte arbustivo:
Annona glabra (panã ou araticum).

2.5.4. Manguezal

O termo manguezal, é utilizado de duas maneiras: a) para designar uma comunidade de


vegetais adaptados à salinidade e a solos mais ou menos asfixiantes e b) para descrever um
ecossistema localizado ao longo dos estuários tropicais e marge ns de lagunas litorâneas. Por isso
fala-se em solos mangue, fauna de mangue e vegetação de mangue (SALOMON, 1978).
O manguezal é uma formação vegetal formada de espécies lenhosas e perenifólias que se
caracteriza por uma extrema adaptação biológica a um ambiente helófito e halófito e que se
caracteriza por um intenso dinamismo ligado às oscilações das marés e às cheias. Essa adaptação é
responsável pelo desenvolvimento de modificações anatômicas, morfológicas e fisiológicas que
permite às espécies de colonizar os terrenos alagados e sujeitos aos fluxos e refluxos das marés.
Os manguezais, segundo ANDRADE LIMA (op. cit.) são considerados como florestas
perenifólias latifoliadas paludosas marítimas (Foto 13).

13 - Manguezal do maceió da desembocadura do Jaguaribe em Intermares (fora da área


da pesquisa mas muito mencionado nela) (foto: A. S. Tavares de Melo, 2000).
62
As espécies do manguezal possuem porte arbóreo e/ou arbustivo, de aspecto homogêneo,
caracterizando-se algumas delas por possuírem ou raízes adventícias ou pneumatóforos. Elas
desenvolvem-se nas áreas de influência marinha e flúvio- marinha e sobre solos com textura limosa,
argilosa ou franco-arenosa (Ver lista de espécies).
As espécies apresentam diferentes exigências e adaptações à duração da inundação pelas
marés e à salinidade: Rhizophora mangle (mangue vermelho), localiza-se nos setores frontais
expostos a seco durante as marés baixas. O setor seguinte é dominado por Avicennia schaueriana
(mangue siriúba) com indivíduos de porte maior que Rhizophora. O substrato no qual se fixam não
é mais exclusivamente lamoso e apresenta um teor mais elevado de areia e cascalhos miúdos. Um
terceiro setor é ocupado por Laguncularia racemosa (mangue branco), com 5 a 8 metros e
apresentando grande quantidade de pneumatóforos que destacam-se do solo areno e argiloso.
Fazendo parte do manguezal encontram-se ainda Hibiscus tiliaceus, um arbusto de flores
amarelas que lembram as do algodão e por isso é chamado de "algodão do mangue". Ele nunca
excede 2-3m e forma colônias mais ou menos densas onde se mistura por vezes com Acrostichum
aureum (Avencão) que também podem formar colônias puras nas depressões argilosas. Além dessas
espécies é comum a presença de Dodonea viscosa e Dalbergia ecastaphyllum (Quadro 10).
No baixo Jaguaribe os manguezais ocorrem a partir de sua derivação para o canal de maré
representado pelo rio Mandacaru, que faz parte do sistema estuarino do rio Paraíba. Este manguezal
ainda é exuberante apesar das alterações por que vem passando: degradação ou destruição por
edificações, aterros, abertura de avenidas e ruas (exemplo: Avenida Tancredo Neves); despejo de
dejetos de origem doméstica (esgotos domésticos) e industrial ; transformação em sistemas de
exploração única (fazendas de criação de camarões que antes foram salinas) e superexploração do
potencial de seus recursos renováveis (ROCHA, 1996) (Foto 14).

14 - Manguezal no desvio do Jaguaribe para o Mandacaru, na altura da ponte da BR 101.


Favela em área aterrada e venda de lenha extraída do manguezal (foto: A. S. Tavares de Melo,
1996).
63
Convém salientar que antes da vaga de expansão urbana do Manaíra e de Tambaú, os
manguezais acompanhavam todo o baixo vale, até mais além da confluência com o rio Timbó
formando uma faixa, hoje totalmente erradicada, restando uma ou outra espécie ao longo desse
setor, até mais ou menos a altura da Av. Beira Rio no seu contato coma baixada litorânea.

Quadro 10
Espécies do manguezal e dos campos de várzea

Mangue Avicennia schaueriana Siriúba


Conocarpus erecta mangue-de-botão
Dalbergia ecastophyllum cipó-de-fogo
Dodonea viscosa (?)
Hibiscus tiliaceus algodão-do-mangue
Laguncularia racemosa mangue-branco
Rhizophora mangle mangue-vermelho
Campos hidrófilos e Acrostichum aureum
higrófilos (campos de Annona glabra
várzea) Cyperus articulatus
Cyperus giganteus
Eichhornia crassipes
Eleocharis sp.
Jussiaea sp.
Montrichardia linifera
Nymphaea spp.
Panicum aquaticum
Pistia stratiotes
Pontederia cordata
Portulaca oleracea
Spartina sp
Typha dominguensis
3. Riscos Ambientais: Erosão e Poluição

Antonio Sergio Tavares de Melo


Euzivan Lemos Alves
Maria Margarida Magalhães Guimarães
65
3.1. Introdução

Chama-se desastre ou calamidade um fenômeno que é capaz de gerar uma ameaça potencial
para as pessoas e os bens de uma determinada área por um certo tempo (VEYRET & PECH, 1997).
O risco é a possibilidade de perdas de vidas, propriedades e meios de produção em uma
determinada região que é submetida a uma calamidade. Deve ser considerado que só há risco na
medida em que este afete uma população, seus recursos e suas obras.
Os estudos sobre os risco ou Cindinologia, requerem:

a) identificação do fenômeno que os origina;


b) determinação de sua probabilidade de ocorrência;
c) especificação da área afetada; e
d) avaliação da vulnerabilidade da população atingida e das instalações existentes na área.

Uma grande parte da população brasileira de baixa renda ocupa áreas do domínio público, a
maioria delas situadas em setores de risco: sopé de barreiras; encostas com declividades fortes;
terraços fluviais, leitos maiores de rios sujeitos a inundações; periferia de manguezais e de
alagados; corredores sob linhas de transmissão de energia de alta tensão, faixas ao longo de
gasodutos, oleodutos, tubulações de esgotos, etc.
Alguns riscos são naturais e estão relacionados com a atmosfera (por exemplo, ciclones:
tempestades tropicais, secas, etc.); com a litosfera (erupções vulcânicas, afundamentos do solo,
erosão) e com a hidrosfera (cheias, inundações, etc.). Outros são induzidos ou acelerados pelo
crescimento demográfico, desenvolvimento urbano, industrialização, fluxo dos transportes, etc. Mas
não apenas estes: as de sociedades agem sobre a biosfera através de desmatamentos, modificações
nos ecossistemas, alterações na dinâmica geomorfológica, degradando ou destruindo solos ou
afetando as zonas litorâneas.
Todos estes riscos são agravados pelo homem e seu nível de desenvolvimento. Convém
salientar que os riscos considerados naturais nos países ricos, por mais dramáticos que sejam, não
têm as mesmas conseqüências que nos países em desenvolvimento (VEYRET & PECH, op.cit.).
Nesta pesquisa são considerados apenas os desmoronamentos (quedas de barreiras), os
deslizamentos de encostas as manifestações da erosão hídrica (erosão em sulcos e ravinamentos,
erosão em lençol e a formação de voçorocas) e a poluição daságuas.
O desenvolvimento rápido da urbanização nos vales do Jaguaribe e do Timbó, associado à
devastação da cobertura vegetal e à retirada de material das suas encostas e das falésias, vêm
localmente causando problemas de estabilidade do meio.
Os fatores que influem na estabilidade das encostas são vários; sua contribuição para a
ocorrência de desastres ou riscos varia muito, de local para local, em função das características
geológicas, geomorfológicas e topográficas dos geótopos. Sua identificação baseou-se em
levantamentos geomorfológicos e geológicos e em estudos das formas de ocupação das áreas.
Desde o início dessa pesquisa que foram executados levantamentos de campo nas encostas
dos referidos vales, assim como reuniões com a equipe de trabalho, para completar as informações
obtidas e ao mesmo tempo identificar os setores caracterizados por determinados riscos. Esses
trabalhos constaram de observações sobre:

a) forma de ocupação e adensamento populacional;


b) litologia;
c) comportamento da litologia quanto às formas de ocupação da área.;
d) comportamento do material litológico com relação a intensidade das ações antrópicas;
e) estado da cobertura vegetal;
f) caracterização dos fenômenos de erosão hídrica e dos setores atingidos por voçorocas,
desmoronamentos e outros movimentos de massa.
66
Os trabalhos de campo permitiram uma avaliação dos riscos de erosão e de movimentos de
massa assim como dos parâmetros indutores desses fenômenos. Eles também permitiram que se
fizesse uma comparação entre as localidades que apresentavam diferentes graus de riscos. Os
parâmetros de instabilidade considerados foram: natureza do material litológico, topografia,
pluviometria e modos de ocupação.
Os dados referentes à geologia e à geomorfologia dinâmica encontram-se nos capítulos 2.2.
e 2.4. Quanto à pluviometria, fator muito significativo para as rupturas de equilíbrio das encostas,
embora ela não apresente grandes variações nos totais, ela representa um importante fator de risco
de erosão para os aglomerados subnormais situados nos sopés das paleofalésias e encostas, bem
como nos terraços fluviais e trechos do leito maior dos rios Jaguaribe e Timbó. Os riscos aumentam
durante as chuvas excepcionais concentradas nos meses de abril a junho ou de maio a junho e julho.

3.1.1. Os solos da área e sua erodibilidade

Solo, para o geólogo, é a camada intemperizada (ou formações superficiais) que recobre o
material geológico e que é sujeita a todos os processos de erosão e movimentos de massa
(afundamentos, acomodações, deslizamentos, desmoronamentos, etc.). Para o engenheiro, solo
representa a camada de material rochoso não consolidado, que é removida durante as obras para o
pedólogo. Solo é a parte superior das formações superficiais onde se localizam concentrações de
matéria orgânica e onde se estabelecem atividades biológicas intensas (GUSMÃO, 1993). Estes três
conceitos foram utilizados nesta pesquisa.

As principais associações de solos concentradas na área são:

a) No topo e encostas dos tabuleiros da área pesquisada, os solos apresentam-se em


associações complexas formadas por solos podzólicos vermelho-amarelos e
intermediários para os latossolos (topos/encostas) e podzol hidromórfico (em áreas
ligeiramente deprimidas nos topos). Os dois primeiros apresentam textura média. Trata-
se de solos com horizonte B textural e argila de atividade baixa. O podzol hidromórfico,
geralmente associado a uma cobertura arenosa, é restrito aos setores ligeiramente
abaciados dos topos dos tabuleiros, onde a água se acumula durante a estação chuvosa,
devido a um nível subjacente impermeável que impede sua infiltração, o excesso de água
aflorando na superfície. Esse fenômeno vem causando problemas à urbanização em
todos os conjuntos residenciais pela falta de prospecção sobre o tipo de horizonte
(fragipan ou duripan), sua espessura, continuidade e profundidade;
b) Nas planícies aluviais do Jaguaribe e do Timbó: os solos aluviais indiscriminados, solos
gley húmicos e pouco húmicos e solos orgânicos.
c) Na planície litorânea e na restinga encontram-se solos arenosos, quartzosos, brutos de
origem marinha e com esboço de podzolização; solos indiscriminados de mangue (solos
a sulfato-redução. Solontchaks e solos gley tiomórficos) e solos orgânicos a gley nas
depressões e sulcos pantanosos entre os cordões litorâneos (MELO, 1987).

Os solos dos tabuleiros desenvolvem-se a partir de material ferralítico representado pelos


sedimentos da Formação Barreiras. Trata-se de sedimentos quase sempre pouco consolidados ou
inconsolidados, salvo exceções localizadas em algumas encostas, como pode ser verificado no
bairro do Rangel em um pequeno afluente do Jaguaribe. A agregação desses solos é quase sempre
maior nos locais onde a argilização dos feldspatos é mais intensa e onde ocorrem arenitos
conglomeráticos ou ferruginizados. No geral, esses sedimentos formam camadas alternadamente
argilosas e camadas mais arenosas, indicando mudanças nos processos de deposição.
Os solos geralmente são profundos, com horizontes pouco diferenciados. Sua fração arenosa
é predominantemente quartzosa; apresentam uma baixa percentagem de silte e a fração argilosa é
composta de argilo-minerais. Além disso, esses solos possuem baixa capacidade de troca de cátions
67
e são relativamente ricos em óxidos e hidróxidos de ferro e alumínio. Eles apresentam ainda alto
grau de floculação, o que lhes assegura uma relativa resistência à erosão. No entanto, os processos
de urbanização (remoção da cobertura vegetal, abertura de ruas e de loteamentos, por exemplo)
induzem a erosão hídrica sobre as camadas subsuperficiais expostas às ações das chuvas
(GUSMÃO), op. cit.).
Quanto a sua susceptibilidade a erosão ou erodibilidade, esta é um fator difícil de ser
estabelecido e avaliado.
Na avaliação da erodibilidade deve ser considerada a variabilidade das características
superficiais dentro de um mesmo grupo de solos.A passagem de um tipo de solo para outro é
gradativa e aumenta consideravelmente com a declividade do terreno e nos locais onde são abertas
ruas semipavimentadas ou não pavimentadas.O tipo de solo determina a maior ou menor
erodibilidade dos terrenos à erosão.
A textura do solo é uma das características que induzem à erosão, como já foi mencionado
no. Os solos com textura arenosa desagregam-se com maior facilidade do que os solos com textura
argilosa. Alem dessa característica, acrescentam-se: estrutura, composição, espessura e relação
textural entre os horizontes (LEPRUN, 1981). A reunião de todas essas características é que define
os tipos de solo e sua erodibilidade.
Baseados em LEPRUN (1981; 1982), foram encontrados os seguintes dados referentes aos
solos dos tabuleiros e, por extensão, da área:

a) Solos com susceptibilidade média à erosão hídrica: podzólico vermelho-amarelo


distrófico e intermediário para os latossolos (podzólico- latossólico);
b) Solos com susceptibilidade fraca à erosão hídrica: podzólico vermelho-amarelo
distrófico e intermediário para os latossolos (podzólico- latossólico);

Geralmente, a erosão se manifesta por meio de um “continuum” que cresce mediante a


ocupação humana que por sua vez intensifica os fatores naturais desencadeadores desse fenômeno.
Os modos de ocupação do solo são um fator decisivo nos processos de erosão hídrica. Esses são
comandados por diversos fatores naturais, entre os quais: as chuvas, a cobertura vegetal, a
topografia e a natureza dos solos.
As chuvas são responsáveis pela maior ou menor aceleração da erosão, que está na
dependência de sua distribuição no tempo e de sua intensidade. Se o solo for protegido pela
vegetação ou se as ruas e avenidas não forem pavimentadas, sobretudo nos setores enladeirados, as
chuvas concentradas constituem a forma mais agressiva de impacto sobre os solos. É por ocasião
das fortes chuvas que se formam os ravinamentos e as voçorocas.
A vegetação natural ou modificada assegura de uma certa maneira uma proteção ao solo,
pois reduz o impacto direto das chuvas e o escoamento superficial. A interceptação que ela oferece
diminui a energia das águas pluviais e seu poder de arrancar e mobilizar as partículas do solo. Nas
áreas em processo de urbanização este não é o caso.
A topografia determina a velocidade dos processos de erosão hídrica e da formação de
voçorocas. Dois fatores topográficos são importantes: a declividade do terreno e o comprimento da
encosta. Quanto maior for a encosta, maior é a probabilidade de escoamento superficial se
manifestar desde que ela não possua revestimento vegetal.

3.1.2. Erosão urbana: fatores e sugestão para controle

Em sua origem, a erosão urbana decorre de uma série de fatores dentre os quais podem ser
citados: falta de planejamento adequado considerando todas as particularidades do meio físico;
condições sócio-econômicas e nível cultural das populações; e, tendências do desenvolvimento
urbano da área.
68
Dentre as principais causas da erosão urbana segundo MOTA (1971), podem ser citadas:

a. o traçado inadequado do sistema de arruamentos que é na maioria dos casos observados,


agravado pela ausência de pavimentação ou recobrimento com asfalto, pavimentação
incompleta e inexistência de meio-fios e de sarjetas;
b. deficiência ou ausência de sistema de drenagem das águas pluviais e servidas;
c. expansão urbana não controlada, com implantação de conjuntos habitacionais,
loteamentos ou invasões em locais não apropriados do ponto de vista geotécnico.

Torna-se urgente que organismos municipais pratiquem também uma política de controle e
de prevenção da erosão baseada em dispositivos legais específicos e mecanismos que possam
garantir a sua observância.(MOTA, op. cit)
Resta que o problema da erosão nas cidades ainda está por merecer uma legislação
específica e rigorosa, adequada às características do meio físico e do meio ambiente urbano, assim
como ao tamanho das cidades afetadas.
Um plano de controle da erosão deve salientar as seguintes características:

a) a ocupação do solo dever ser executada segundo a declividade do terreno, Os setores


com declividade acentuada são mais propensos a erosão devido ao aumento da energia
do escoamento superficial;
b) as encostas devem ser ocupadas ordenadamente. A intensidade da ocupação deve ser
reduzida; ela deve ser menor à medida que a declividade do terreno aumenta;
c) as características do solo devem ser determinadas, identificando-se as áreas mais
susceptíveis à erosão;
d) da mesma maneira devem ser identificados os sistemas de drenagem natural das águas
levando em conta sua trajetória e as áreas adjacentes às estudadas (MOTA, op. cit.).

As áreas em processo de urbanização, segundo o Serviço de Conservação do Solo do


Departamento de Agricultura dos Estados Unidos citado por MOTA (op. cit.), apresentam um
aumento da erosão hídrica, pois nelas ocorrem pertubações no escoamento superficial e
subsuperficial.
No primeiro caso, essas perturbações estão relacionadas à:

a) retirada da cobertura vegetal que garantia proteção aos solos;


b) exposição de formações geológicas menos permeáveis e/ou mais susceptíveis à erosão
do que as formações superficiais (manto de intemperismo);
c) diminuição da capacidade de retenção dos solos em virtude da sua compactação causada
pelos equipamentos pesados utilizados na urbanização;
d) exposição prolongada das áreas alteradas e desprotegidas devido à prolongação e/ou
dilatação do prazo de execução das obras;
e) aumento das áreas de escoamento resultantes das obras de nivelamento, desvio e
construção do sistema viário;
f) redução do tempo de concentração das águas do escoamento superficial, devido às
alterações na declividade, distância e rugosidade do terreno;
g) aumento das superfícies impermeabilizadas devido às construções e abertura do sistema
viário, praças e edificações.

Quanto ao segundo as alterações provocadas pelos processos de urbanização repercutam nos


sistemas de drenagem, estabilidade das encostas e sobrevivência da vegetação existente ou recém-
plantada.
69
3.1.3. Os tipos de erosão no Vale do Jaguaribe

No vale do Jaguaribe, a expansão urbana vem ocorrendo em setores com declividades


variadas e em solos com textura média, profunda e com permeabilidade variável ao longo do perfil
(Fotos 15 e 15A). Na área considerada, verifica-se que várias modalidades da erosão e de
movimentos de massa ocorrem localizadamente. Nos setores em que as declividades são bastante
fortes (paleofalésias do bairro de São José e Timbó, por exemplo), a ocorrência de quedas de
barreiras e deslizamentos os torna setores onde estes riscos são maiores.

15 - Encostas convexas com marcas de erosão provocadas por excesso de pisoteio do gado
criado na área do vale do Jaguaribe, nas cercanias do bairro do Rangel (fotos: A. S. Tavares de
Melo, 1999).
70

15A - Encostas convexas com marcas de erosão provocadas por excesso de pisoteio do gado
criado na área do vale do Jaguaribe, nas cercanias do bairro do Rangel (fotos: A. S. Tavares de
Melo, 1999).

Nos bairros do Rangel, Cristo Redentor, Cruz das Armas, algumas ruas abertas nas encostas
enladeiradas do vale do Jaguaribe, sem pavimentação ou com pavimentação incompleta,
apresentam voçorocas em estado muito avançado bem como ravinamentos generalizados.
Nas rampas longas que unem o topo aos terraços aluvio-coluviais do vale do Jaguaribe, em
todo o trecho entre a mata do Buraquinho e o bairro do Rangel, verifica-se a ocorrência de erosão
em sulcos generalizados no leito das ruas não pavimentadas ou com pavimentação incompleta e nas
quais há uma total ausência de galerias para águas servidas e pluviais (Fotos 16 a 19).
71
Foto 16

Foto 17
72
Foto 18 Foto 19

16 a 19 - Manifestações de erosão hídrica em rampa de colúvio onde foi aberta a rua José de Melo Lula,
no Rangel. A pavimentação incompleta (fotos 16 e 19) as galerias pluviais precárias (foto 18) e a falta de
esgotos contribuem para a erosão em sulcos e ravinas a partir do término do calçamento (foto 19) (foto:
A. Sergio T. de Melo, 1998).

Nos cortes das estradas, os deslizamentos e desmoronamentos por abatimentos


gravitacionais assim como ravinamentos são freqüentes como pode ser observado no bairros do
Castelo Branco e na Avenida Beira Rio (viaduto do Jardim Miramar).
Constata-se então que o desenvolvimento urbano em direção aos vales do Jaguaribe e do
Timbó, ao ampliar as áreas construídas ou loteadas, pavimentadas ou não, vem contribuindo para o
aumento do volume e da velocidade das enxurradas e para a concentração do escoamento
superficial. Por conseguinte, para acelerar todas as formas de erosão hídrica. A ocupação das
encostas, rampas e terraços fluviais vem multiplicando os riscos para as populações aí instaladas.
Por exemplo, aos riscos geotécnicos das áreas sujeitas à formação de voçorocas, acrescentam-se os
riscos para a saúde das comunid ades uma vez que é comum as voçorocas servirem de depósito de
lixo numa tentativa por parte dessas comunidades de conter a sua evolução. Lixo e outros dejetos
transformam essas voçorocas em focos de doenças. Os danos ao meio ambiente vêm-se duplicados.
Vale salientar que algumas voçorocas estão evoluindo rapidamente, ameaçando habitações,
vias de circulação, serviços públicos e vidas, a exemplo das observadas nas ruas Silva Mariz e Abel
da Silva (Cruz das Armas), Adelaide Novais (Cristo Redentor) e Avenida 12 de julho.
As áreas já submetidas a ravinamentos, voçorocas e deslizamentos, necessitam de soluções
eficientes e que resultem em segurança para as populações nelas residentes.
73
3.1.4. O problema das voçorocas urbanas

De acordo com GUERRA & GUERRA (1997), voçoroca é “a escavação ou rasgão do solo
ou de rocha decomposta, ocasionado pela erosão do lençol de escoamento superficial”.
Uma voçoroca forma-se por meio de uma passagem gradativa entre erosão laminar, erosão
em sulcos e ravinas cada vez mais profundas. Mas elas também são formadas a partir de um ponto
onde a água das chuvas se concentra sem que haja dissipação da energia (DAEE/ITP, 1989).
A voçoroca corresponde ao estágio mais avançado e complexo da erosão, cujo poder
destrutivo local é superior ao das outras formas de erosão, sendo assim de difícil contenção.
Numa voçoroca atuam, além da erosão superficial, outros processos de desmoronamentos e
solapamentos de suas paredes condicionadas pelo fato dessa forma erosiva atingir em profundidade
o lençol freático ou o nível da água de subsuperfície, e processos de erosão interna ou “piping”.
A ocupação urbana dos solos representa um fator decisivo na aceleração dos processos de
erosão hídrica que por sua vez são comandados por fatores naturais tais como chuvas, cobertura
vegetal, topografia e tipo de solo.
Afetando áreas urbanas, obras e equipamentos públicos, as voçorocas representam
fenômenos erosivos que envolvem áreas consideráveis e que mobilizam grandes volumes de solo.
Elas são dotadas de uma rápida evolução e de remotas possibilidades de sucesso das medidas e
obras tradicionais de combate à erosão, tais como: seqüências de obras de arrimo e captação e
adução da águas pluviais e operações de terraplenagem.
Em áreas urbanas o fenômeno é bem mais difícil de contenção e seus danos são bem
maiores, por duas razões: riscos às vidas humanas, às habitações e aos equipamentos urbanos
(arruamentos, redes de distribuição de energia elétrica, de água e de coleta de águas pluviais e
servidas); o próprio processo de urbanização que interfere de maneira drástica no meio físico,
notadamente nos volumes e destinos das águas de escoamento e infiltração faz com que as
voçorocas urbanas sejam as de evolução mais rápida e de contenção mais difícil (IWASA &
PRANDINI, 1982).
O crescimento urbano associado à falta de planejamento ou a um planejamento inadequado
que não leva em consideração as condições físicas, econômicas e sociais, geralmente empurra a
população de baixa renda para áreas desfavoráveis, sem qualquer infra-estrutura e ainda com o
agravante dessas áreas geralmente estarem sujeitas a riscos geotécnicos e de insalubridade.
Em toda área de pesquisa, verificou-se que os fatores que influem na formação de voçorocas
urbanas são: traçado inadequado do arruamento agravado pela falta ou insuficiência da
pavimentação, guias e sarjetas; precariedade da drenagem das águas pluviais e servidas; expansão
urbana descontrolada (implantação de loteamentos conjuntos habitacionais em locais não
apropriados e invasões em áreas de perigo); práticas de parcelamento dos solos inadequadas e
deficientes.
Na área estudada foram escolhidos três setores onde ocorrem voçorocas para ilustrar o que
vem de ser exposto. São eles: a rua 14 de Julho, no bairro do Rangel; rua Adelaide Novais, no
Cristo Redentor e rua Silva Mariz, em Cruz das Armas. As voçorocas estudadas localizam-se nas
encostas do vale do Jaguaribe, em ruas com pavimentação incompleta, terminando na linha de
inflexão entre os topos dos tabuleiros e as vertentes (Figura 8).
74
Figura 8
Voçorocas Urbanas
(João Pessoa –PB)

Duas das ruas citadas – Silva Mariz e Adelaide Novais – são pavimentadas até a inflexão
topo/encosta alta. É a partir desse ponto que se forma uma descontinuidade de material e de terreno
e onde se iniciam os processos erosivos provocados pela concentração e aumento da energia do
escoamento das águas pluviais agravado pela ausência ou ineficiência das galerias pluviais e de
sistemas de águas servidas (Fotos 20, 20A e 21).
75
Foto 20 Foto 20A

20 e 20A - Voçoroca no final do calçamento da rua Silva Mariz, em Cruz das Armas. Observar: o lixo
depositado com o intuito de conter seu avanço e o lençol freático que é atingido e aflora (foto: A. S. T. de
Melo, 1999).
76

21 - Voçoroca em vias de contenção, no final da pavimentação


da rua Adelaide Novais, no Cristo Redentor em um setor de
encosta bastante íngreme (margem direita do Jaguaribe) (foto:
A. S. T. de Melo, 1999).

Na rua 14 de Julho, a situação é diferente. A rua corta transversalmente a cabeceira de


recepção das águas pluviais de um riacho afluente do Jaguaribe. Como se trata de um setor
totalmente urbanizado, pavimentado, a antiga topografia da cabeceira de drenagem contribui para
uma maior conc entração das águas pluviais, que não dispondo de um sistema de galerias suficiente
ao seu escoamento tem sua energia aumentada ao atingir o pequeno vale. Há desse modo uma
conjugação dos fatores formadores das voçorocas acelerados pelas ações antrópicas:
pavimentações, construções, galerias de águas pluviais e servidas insuficientes, etc. (Fotos 22 a 26).
77
Foto 22 Foto 22A

22 e 22A - Voçoroca na rua 14 de julho, no Rangel. Fotos obtidas em 1997, antes dos trabalhos de
contenção efetuados pela Prefeitura de João Pessoa.
78
Foto 23

Foto 23A

23 e 23A - Voçoroca da Rua 14 de Julho. Observar as paredes verticais de sua cabeceira em


arco de círculo e a residência situada em setor de alto risco de desmoronamentos (fotos: A. S.
Tavares de Melo, 1997).
79

24 - Início dos trabalhos de contenção da voçoroca (foto: Melo, 1999).


80
Foto 25

Foto 25A Foto 25B

25, 25A e 25B - Finalização da obra. Observar a tubulação das águas pluviais e servidas, e os gabiões
(fotos: Melo, 1999).
81

26 - Placa da Secretaria de Infraestrutura da Prefeitura


Municipal de João Pessoa, indicando os trabalhos de contenção
que foram executados para a contenção da erosão (foto: A. S.
T. de Melo, 1999).

Essa imensa voçoroca, estudada desde o início dessa pesquisa, foi aparentemente contida
graças à construção de gabiões e enrocamentos pela Secretaria da Infraestrutura da prefeitura
Municipal de João Pessoa durante o ano de 1999.
O problema se agrava mais, pois muitas vezes, como é o caso das ruas Adelaide Novais e
Silva Mariz, pois as voçorocas transformam-se em áreas de despejo de lixo numa vã tentativa de
conter sua evolução. O lixo, assim como o lançamento de esgotos, transformam esses setores em
focos de doenças o que as torna mais perigosas para a saúde das populações que vivem no seu
entorno.
Os setores submetidos à formação de voçorocas exigem soluções que seja eficientes e que
justifiquem o investimento público, resultando em segurança para a população e equipamentos, de
forma a devolve- los ao seu uso urbano.
3.2. Poluição

Antonio Sergio Tavares de Melo


Euzivan Lemos Alves
Maria Margarida Magalhães Guimarães
83
3.2.1. Poluição: fontes de poluição na área

Na área da pesquisa a densidade demográfica e domiciliar elevadas e usos rurais combinam-


se para dar origem a um quadro de poluição bastante sério: poluição das águas superficiais e sem
dúvida subterrâneas e poluição dos solos, além dos aspectos antiestéticos dos resíduos amontoados
por toda parte.
As principais fontes de poluição identificadas foram:

a) presença de dejetos oriundos de animais;


b) despejos de resíduos sólidos (lixo doméstico);
c) lançamento de resíduos líquidos domésticos.

a) A criação de animais é praticada em toda a extensão dos vales do Jaguaribe e do Timbó. A


presença de inúmeras vacarias, granjas e pocilgas e matadouros clandestinos resulta em
poluição das águas dos respectivos rios e dos solos provocada pelo lançamento de excrementos
e restos dos animais (Fotos 27 e 27A).

Foto 27

Foto 27A

27 e 27A - Pocilga em encosta do Timbó, no Altiplano do Cabo Branco.


Péssimas condições sanitárias e perigo para a saúde pública (foto: A. S.
Tavares de Melo, 1999).
84
b) A falta de uma infraestrutura sólida de coleta do lixo leva as populações das comunidades a
lançar os resíduos sólidos nos terrenos baldios e nos rios (Fotos 28 e 28A). O lixo assim
despejado resulta em aspectos estéticos desagradáveis, maus odores, poluição das águas
superfícies e subterrâneas através do escoamento superficial e infiltração do chorume e pelo
carreamento de impurezas para os rios (Foto 29).

Foto 28

Foto 28A

28 e 28A - Várzea do Jaguaribe. Lixo no solo e árvore cortada (foto: Melo,


1997).
85

29 - Favela de São José. Precariedade das habitações, do sistema de arruamento e dos


serviços de coleta de lixo que é lançado no rio Jaguaribe (foto: A. S.Tavares de Melo, 1998).

c) Os resíduos domésticos líquidos também são lançados diretamente no solo ou em ligações


clandestinas com a rede de galerias pluviais, quando elas existem. A inexistência de um sistema
de esgotamento sanitário amplo contribui para que os dejetos humanos e as águas servidas
sejam despejados diretamente no solo. Os esgotos domésticos assim lançados favorecem a
criação de focos patogênicos e conseqüentemente para a transmissão de doenças principalmente
infecto-contagiosas e parasitárias. Além disso, ao se infiltrarem nos solos, elas contribuem para
poluir as águas subterrâneas, sobretudo numa área que se caracteriza pôr um bom número de
fontes e nascentes.

3.2.2. Mecanismos geradores de poluição

Os principais mecanismos, geradores de poluição, na área e suas fontes principais podem ser
localizadas, ou não.

a) Fontes localizadas: lançamentos de esgotos domésticos e de águas servidas nas galerias


pluviais;
b) b) Fontes não localizadas: águas do escoamento superficial; águas de infiltração;
lançamento direto de resíduos sólidos e de outras impurezas.

Os esgotos domésticos compreendem resíduos líquidos provenientes das instalações


sanitárias, de lavagem dos utensílios domésticos e de outras atividades desenvolvidas nos
domicílios, prédios públicos, etc. Essas águas caracterizam-se por apresentar uma grande
quantidade de matéria orgânica que pode provocar uma redução do oxigênio nela dissolvido e afetar
os diferentes ecossistema s existentes nas planícies aluviais da área e nos próprios rios. Além disso,
a presença de fezes e urina humana, contribuem para aumentar os riscos de doenças transmissíveis
através da ingestão da água contaminada.
As águas servidas lançadas nas galerias pluviais, assim como as águas do escoamento
superficial contêm muitas impurezas. A situação é agravada devido à existência de inúmeras
86
ligações clandestinas nas galerias pluviais, contribuindo para o aumento da poluição do líquido
drenado. Este ao atingir os rios e outros corpos de água, infiltra-se no terreno e alcança os lençóis
freáticos situados a pouca profundidade, poluindo-os também.
Desse modo os riscos evocados estão relacionados com a qualidade do meio ambiente
urbano: má gestão das águas, sistema de abastecimento e de tratamento das águas servidas. No
entanto, convêm salientar que a desigual repartição dos riscos decorre, sobretudo, do nível de
desenvolvimento econômico e social dentro de mesma cidade. Algumas características da ecologia
urbana favorecem o desenvolvimento de vetores de doenças que são freqüentes nos trópicos. Uma
urbanização bem planejada pode representar uma maneira de erradicar, pelo menos localmente,
algumas dessas doenças.

3.2.3. Poluição das águas e doenças a ela vinculadas

A água necessária à vida pode também provocar doenças e epidemias. As epidemias ligadas
ao consumo de água poluída por germes patogênicos ainda matam muitas pessoas, sobretudo as que
apresentam um baixo nível de vida. Quando não as matam, as tornam inválidas para ganhar o seu
sustento.
Diante do rápido crescimento demográfico e da baixa renda de grande parte da população, a
instalação das comunidades no vale do Jaguaribe e do Timbó vem contribuindo para aumentar a
poluição. Os dejetos se acumulam e criam problemas graves: as águas servidas e contaminadas
estão na origem de epidemias e o aumento das doenças parasitárias.
Quanto aos dejetos urbanos domésticos e por vezes industriais, não existe um setor eficiente
para sua coleta e destino. Este é acumulado nas ruas e nas margens dos rios ou então é lançado
neles.
A maioria das endemias apresenta um modo de transmissão indireto, ligado ao meio
bioclimático. Esta “comunicação” implica na permanência do agente patogênico em um hospedeiro
intermediário específico. O agente patógeno deve cumprir um ciclo de transformação e
multiplicação no hospedeiro intermediário antes de atingir o homem. O modo de transmissão dá-se
por meio de um vetor que é quase sempre um inseto ou um animal. Tem-se desse modo, segundo
Max Sorre (1943), um complexo patogênico que associa as exigências ecológicas do homem, os
vetores das doenças e todos os seres que condicionam e comprometem sua existência.
A densidade dos vetores (moscas, mosquitos) está ligada a presença da água, às
temperaturas relativamente elevadas, ao grau de umidade e à existência de vegetais. Os riscos
patogênicos são associados ao clima, porém as carências de infraestruturas urbanas agravam esses
riscos.
Na área pesquisada, que é um reflexo de um universo maior representado por João Pessoa, a
rede de drenagem das águas usadas e pluviais revela-se insuficiente ou ausente em alguns casos. As
canalizações improvisadas pelos moradores destinadas a recolher as águas domésticas poluídas
favorecem a formação de áreas permanentemente alagadas permitindo dessa maneira o
desenvolvimento das larvas de mosquitos. A umidade quase permanente que essas águas provocam
no solo favorece por sua vez, a proliferação de microorganismos e sobrevivência de vermes.
Outros riscos são os que se associam à qualidade da água potável. O acesso à água varia de
acordo com o nível sócio-econômico das populações. Em vários aglomerados do vale do Jaguaribe
e do Timbó, a água utilizada pelos moradores não é tratada ou controlada. Em alguns casos ela é
provenient e de poços. O lençol freático à pouca profundidade (nos aglomerados situados nos
terraços fluviais, p. ex.) é muito poluído por causa do lixo e das latrinas que são quase sempre
implantadas próximo às margens dos rios e nas proximidades dos poços.
Os riscos ligados ao sub-equipamento assumem um lugar importante. As águas usadas
veiculam cistos de protozoários provenientes das matérias fecais (ameba, por exemplo) e as
parasitoses são freqüentes, como por exemplo, as helmintíases. A contaminação pode se dar através
da ingestão ou por contato cutâneo, o parasita passando desse modo para o organismo humano.
87
A utilização da água para consumo doméstico, uso pessoal e outras atividades resulta em
água poluída que retorna aos rios e mananciais, poluindo-os. Ao mesmo tempo, o escoamento
superficial carreia impurezas para estes corpos d’água comprometendo sua qualidade.
Tal é o quadro geral que se apresenta na área pesquisada, a exemplo da Lagoa do Buracão,
na cidade dos Funcionários e no Rio Timbó (Fotos 30 e 30A).

Foto 30

Foto 30A

30 e 30A - Lagoa da Cidade dos Funcionários. Poluição das águas pelo lixo que é lançado e
pelos esgotos. Foco de muitas doenças (fotos: Melo, 1998).
4. Indicadores Sócio-Econômicos e Qualidade do Meio Ambiente

Janete Lins Rodriguez


Marceleuze de Araújo Tavares
Maria Auxiliadora Clemente Dantas
Rosa de Lourdes Pereira Gomes
“Tantas vidas encurraladas,
manietadas, torturadas, que se
desfazem, tangentes a uma sociedade
que se retrai. Entre esses despossuídos
e seus contemporâneos, ergue-se uma
espécie de vidraça cada vez menos
transparente. E como são cada vez
menos vistos, como alguns os querem
mais apagados, riscados,
escamoteados dessa sociedade, eles são
chamados de excluídos. Mas ao
contrário, eles estão lá, apertados,
encarce rados, incluídos até a medula!
Eles são absorvidos, devorados,
relegados para sempre, deportados,
repudiados, banidos, submissos e
decaídos, mas tão incômodos: uns
chatos! Jamais completamente, não,
jamais suficientemente expulsos!
Incluídos, demasiado inc luídos, e em
descrédito”.
FORRESTER, Viviane. O
horror econômico. Tradução: Álvaro
Lorencini – São Paulo. Editora da
Universidade Estadual Paulista, 1997.
p.18.
90
4.1. Nascimento das favelas e sua localização
Atualmente, as cidades brasileiras vivem um quadro de miséria bastante inquietante. Em
primeiro lugar, por causa do desmonte que ocorreu na infra-estrutura dos Estados, principalmente
os situados no Nordeste; em seguida, com o discurso da globalização, o Estado passou a não ser
responsabilizado como sendo o único agente de transformação da sociedade.
As discussões que acompanharam a “crise do milagre brasileiro” evidenciaram que os
“cidadãos” começaram a perceber que suas possibilidades de consumo se reduziam cada vez mais.
Consumo este, não apenas de mercadoria, mas também do próprio espaço urbano. E assim, começa
o massacre de suas vidas e a própria negação de suas condições de cidadania.
O historiador Horácio de Almeida (1978) afirmava que depois da abolição da escravatura,
surgiu uma outra forma de escravidão - a do eito - na qual “o suor do miserável, de sol a sol”, era
sugado, a troco de um salário que não chegava a matar sua fome. O autor citado, diz ainda, que,
embora não se falasse em favela nessa época, já havia em todas as cidades brasileiras aglomerados
formados por homens livres que viviam em casebres na “pontas de rua”. Essa população era
formada em sua maioria por prostitutas, mendigos e biscateiros e não tinha a mesma função que a
população marginalizada de hoje ocupa dentro do sistema capitalista.
O surgimento das favelas está, entre outras causas, relacionado com as transformações das
relações sociais de trabalho e modo de produção no campo. Migrando para as grandes cidades, a
massa de migrantes transforma-se em reserva de mão de obra.
Na década de 60, João Pessoa não possuía favelas no seu espaço urbano. Nesse período, foi
promulgado o Estatuto da Terra pelo Governo Militar, o que contribuiu para acelerar o êxodo rural
e algumas favelas começaram a integrar a paisagem urbana, como por exemplo, a Favela do Rio
Jaguaribe, a favela da Saturnino de Brito, a Cidade Padre Zé, o Arruado da Matinha, a favela Beira-
Rio, dentre outras.
De acordo com dados da FIPLAN, na década de 70 já existiam 16 favelas que contavam
com 1.174 habitações. Em 1980 esse número havia aumentado para 31 e total de residências era de
14.865 abrigando 73.791 moradores (Quadro 11 e Figura 9).
91
Quadro 11
Favelas existentes em João Pessoa (1980), segundo o número de domicílios e de moradores.

FAVELAS MORADORES DOMICÍLIOS


Adolfo Cirne 433 73
Alto do Mateus 3.454 759
Baixo Roger (central de lixo) 3.019 592
Beira Cano 1.703 415
Beira Rio 3.604 744
Beira Molhada (Distrito Industrial) 2.319 474
Beira Molhada (Mandacaru) 518 117
Brasília de Palha 1.520 258
Cidade dos Funcionários 413 73
Cidade Padre Zé 2.902 554
Cristo Redentor 3.204 822
Cruz das Armas 5.218 1.104
Entre as av. Epitácio Pessoa e a Rui Carneiro 313 52
Ernani Sátiro 772 147
Gauchinha 529 105
Ilha do Bispo 4.296 926
Marés 7.829 1.585
Mandacaru 9.584 1.862
Miramar 2.119 299
Ninho da Perua 381 84
Oitizeiro 8.185 1.644
Padre Hildon 128 27
Penha 304 58
Porto do Capim 91 22
Porto do Tota 1.104 199
Rangel 738 149
Rua da Palha (Costa e Silva) 606 108
Saturnino de Brito, Varadouro e Cordão Encarnado 5.531 1.129
São Rafael 597 116
Vila Japonesa 1.482 299
Fonte: FIPLAN - Coordenadoria de Estudos e Pesquisas - 1980

Figura 9
Crescimento Exponencial das Favelas no Município de João Pessoa

120

100
número de favelas

80

60

40

20

0
1960 1970 1980 1982 1994 1998
anos

Fonte: FIPLAN e FAC, 1998.


92
Atualmente esse número ultrapassa mais de uma centena. Somente no Vale do Jaguaribe
concentram-se 25 favelas apresentadas no quadro12 que segue.

Quadro 12
Favelas na Bacia do Jaguaribe

NOME DAS FAVELAS LOCALIZAÇÃO (BAIRROS)


Pedra Branca Cristo Redentor
Baleado Cruz das Armas
Boa Esperança Cristo Redentor
Buraco da Jia Cristo Redentor
Novo Horizonte Cristo Redentor
Lagoa Antônio Lins Cruz das Armas
Paulo Afonso II Rangel
Favela da Mata Rangel
São Geraldo Rangel
Paulo Afonso III Jaguaribe
São Ra fael Castelo Branco
Padre Hildon Torre
Santa Clara Castelo Branco
Beira Rio Av. José Américo de Almeida
Tito Silva Miramar
Miramar Miramar
Buracão do Jardim Luna Jardim Luna
São José São José
Chatuba Manaíra
Favela do Mangue Bairro dos Ipês
Favela de João Tota Mandacaru
Timbó I Bancários
Timbó II Bancários
Pirão d`Água Mangabeira
Resistência Av. José Américo de Almeida

Um estudo sobre o uso da terra no Vale do Jaguaribe, desenvolvido em 1974 pela geógrafa
Sônia Cordeiro, sob a orientação da professora Maria Gelza Rocha F. de Carvalho, registrou que, na
época, a ocupação de todo o vale era ainda predominantemente rural. A área estava dividida em
sítios e granjas de pequena extensão (3 ha, em média) onde era praticada a criação de gado leiteiro,
fruticultura e a pequena agricultura comercial (feijão, mandioca, inhame, macaxeira) e grandes
áreas improdutivas, algumas delas já loteadas, situadas na margem direita do rio, em seu baixo
curso, na planície litorânea.
As várzeas enxutas e os terraços eram ocupados pelas culturas comerciais e capim para as
vacarias e pastagem do gado. Em alguns trechos mais úmidos cultivam-se verduras e hortaliças. As
encostas geralmente eram ocupadas por árvores frutíferas. Quanto a estas, vê-se no quadro 13 a
importânc ia do coqueiro e da bananeira.
93
Toda a produção de leite, de frutas e agrícola era destinada aos mercados de João Pessoa.

Quadro13
Fruticultura no Vale do Jaguaribe (1974)

PRINCIPAIS CULTURAS PRODUÇÃO (%)


Coqueiro 35
Bananeira 34
Cajueiro 20
Laranjeira 10
Jaqueira 0.50
Mangueira 0.50
Outros 0.10
Fonte: CAVALCANTI, 1974

Mas, a principal atividade era a criação de gado leiteiro, atestada pelo grande número de
vacarias existentes e do qual, ainda hoje, restam algumas espalhadas pela área.
Já na época da pesquisa efetuada por Sônia Cordeiro Cavalcanti, constatava-se a fragilidade
econômica da área, uma vez que os meios de produção eram precários e os métodos de
aproveitamento da terra eram bastante desorganizados.
Alguns geógrafos paraibanos, nessa época, já percebiam que o interesse por parte dos
proprietários em preservar suas terras voltava-se, sobretudo para a especulação imobiliária. A
tendência sendo transformá-las em loteamentos residenciais, como posteriormente aconteceu com
os Loteamentos Oceania, por exemplo.
As primeiras favelas que surgiram no vale foram: Baleado, em Cruz das Armas, no alto
curso, e São José, no médio vale.
Nas proximidades da reserva florestal do Buraquinho, a ocupação permaneceu sob a forma
das granjas, sítios e mesmo fazendas, até o final da década de 70.
Na década de 80 esses aglomerados começam a se ampliar. Surgem as favelas Padre Hildon,
São Rafael, Santa Clara, da Matinha, Chatuba e Timbó, entre outras.
Quanto à população total dos aglomerados de João Pessoa, o gráfico da população municipal
e subnormal nos mostra sua evolução entre 1996 e a projeção para o ano 2000.

Figura 10
População de João Pessoa (situação atual e projeção para o ano 2000)

600.000

500.000

400.000
habitantes

300.000

200.000

100.000

0
1996 2000
anos

População de João Pessoa População subnormal


94
Os dados apresentados revelam um grave problema, uma vez que a população dos
aglomerados sub-normais de João Pessoa já é maior do que a todos os municípios paraibanos,
excetuando-se Campina Grande (com 340.412 habitantes) e a própria João Pessoa (com 549.270
habitantes).
Toda essa explosão de pobreza é relacionada com a profunda crise sócio-político-econômica
que caracteriza a maioria dos estados brasileiros e que se traduz, por exemplo, na alta inflação, na
desestruturação do campo com a introdução de novas tecnologias, no fechamento de muitas
indústrias, etc.
A maioria das favelas, existentes ao longo dos rios Jaguaribe e Timbó estão situadas em
setores sujeitos a riscos geotécnicos e à insalubridade. Os riscos decorrem do desconhecimento da
dinâmica da natureza: por parte da população; a insalubridade resulta das próprias condições de
vida dessa população.
Os acidentes mais freqüentes na área, como foi visto capítulo sobre riscos ambientais, são os
deslizamentos, desmoronamentos e soterramentos como os que já ocorreram no bairro de São José e
nas comunidades do Timbó, Santa Clara, Novo Horizonte, Boa Esperança, São Rafael, entre outros.
A insalubridade é uma característica geral de todos esses aglomerados. Novo Horizonte e
Boa Esperança servem de exemplos, entre tantos outros.
Entre as favelas que foram selecionadas como amostras da problemática ambiental e sócio-
econômica, mediante a aplicação de questionários, estão: Baleado, Paulo Afonso II e III, Timbó I e
II, São Rafael, São José-Chatuba (Quadro 14) (fotos 31 a 36).

31 - Vista obtida no Conjunto João Agripino, no topo da falésia morta que circunda o media rio
Jaguaribe. Observa-se a oposição entre o padrão de urbanização do bairro de São José, no
sopé dessa falésia e no exíguo terraço fluvial e o de Manaíra. Também pode ser observada
densidade domiciliar que caracteriza o bairro de São José (foto: Melo, 1998).
95

32 - Padrão das habitações no Bairro de São José. Na foto, vê-se um pequeno lote que ainda
não foi ocupado. Ao fundo, restos da floresta que recobrem as falésias mortas (fotos: A. S. T. de
Melo, 1998).

33 - Favela São Rafael. Os seus habitantes preferem o termo comunidade. Ocupação dos
terraços e da própria várzea do rio Jaguaribe (foto: A. S. T. de Melo, 1998).
96

34 - Invasão de pequeno vale, à direita da avenida Beira-Rio, na altura dos Expedicionários.


Favela Resistência (foto: A. S. T. de Melo, 1998).

35 - Favela da Chatuba, na margem esquerda do Jaguaribe, na retaguarda do Shopping Center


Manaíra.
97

36 - Favela Novo Horizonte.

Quadro 14
Universo da amostragem pesquisada

TOTAL DE DOMICÍLIOS
AGLOMERADOS BAIRROS
DOMICÍLIOS PEQUISADOS
Baleado Cruz das Armas 226 9
Paulo Afonso II Rangel 99 5
Paulo Afonso III Jaguaribe 261 8
Timbó I e II Bancários 706 29
São Rafael Castelo Branco 345 14
São José São José 635 68
Chatuba Manaíra 293 12
TOTAL 2.565 145

Resumidamente serão apresentadas algumas características dessas favelas:

1) Baleado – situada no vale superior do rio Jaguaribe em sua porção de terraços da


margem esquerda e nas proximidades do Bairro dos Funcionários. Essa comunidade está
sujeita a desmoronamentos de barreiras, pois parte das moradias estão localizados no seu
sopé. Além disso, há alagamentos durante o período das chuvas e cheias do rio em suas
áreas construídas nos terraços do vale.

2) Paulo Afonso II e III situadas a NW da mata do Buraquinho, nos bairros do Rangel e


Jaguaribe, respectivamente. O maior problema relaciona-se por sua disposição ao longo
98
da rede de alta tensão da Companhia Hidrelétrica do São Francisco (CHESF), daí a sua
denominação. Disso decorre, uma situação crítica e contínua crítica de perigo, pois
algumas moradias estão localizadas muito próximas aos postes, ficando assim sujeitas a
descargas elétricas que além dos choques podem provocar incêndios.

3) Timbó I e II – estas duas comunidades situam-se nos terraços e rampas da margem


esquerda do rio Timbó, dominados por falésias mortas. A retirada de barro no sopé
dessas falésias vem causando desmoronamentos muito sérios.

4) São Rafael – localizada nas baixas encostas e terraço superior do vale médio do
Jaguaribe, esta comunidade está sujeita a deslizamentos das encostas e soterramentos
além dos riscos de alagamento por ocasião das cheias.

5) São José e Chatuba – ambas estão construídas entre o exíguo terraço fluvial da margem
esquerda do Jaguaribe e o sopé da falésia que se estende da avenida Ruy Carneiro até a
ponte da BR230. Aí ocorrem freqüentemente, quedas de barreiras e soterramentos além
das inundações sazonais provocadas pelas cheias.

4.2. As famílias: renda e moradia

O estudo das condições de vida, envolvendo aspectos de moradia, emprego e renda,


estratégias de sobrevivência, composição da renda familiar, procedência dos moradores e sua
situação educacional e sanitária, desvendou um universo em que, não obstante as diferentes
localizações ou nomenclaturas atribuídas a essas áreas – denominadas aglomerados subnormais
(favelas) – sobrepõem-se como traço estigmatizante das populações que compõem este segmento
social, a extrema pobreza, a insalubridade das moradias, o desemprego/subemprego e a baixa renda,
o que configura um quadro de exclusão social e distanciamento do perfil do cidadão/consumidor
inserido no contexto da sociedade regulamentada pelas leis da modernidade tecnológica e da
globalização econômica.
O método de trabalho desse segmento da pesquisa privilegiou a escolha da amostra
intencional em que foram selecionadas cinco comunidades representativas das favelas distribuídas
ao longo do Jaguaribe e do Timbó (Quadro 15).
De acordo com os dados da Fundação de Ação Comunitária (FAC), a taxa de crescimento da
população do município de João Pessoa, no período 1991-1996, foi de 10,38%. Considerando essa
taxa como uma constante para o qüinqüênio subseqüente, teríamos a seguinte projeção para o ano
2000, incluindo a população dos aglomerados subnormais e apresentada no quadro abaixo:

Quadro 15
População de João Pessoa em 1996 e sua projeção para o ano 2000, incluindo as favelas

POPULAÇÃO GLOBAL DE JOÃO


POPULAÇÃO DAS FAVELAS
PESSOA
1996 2000 1996 2000
549.270 584.698 114.637 122.031
Fonte: FAC-SETRAS-GOV. DO ESTADO DA PARAÍBA , 1998.

O crescimento das áreas de favelas na cidade de João obedece ao padrão identificado para
todas as capitais e maioria das cidades brasileiras. Num primeiro momento, o processo de migração
campo/cidade instalou no ambiente urbano uma população representada por ex-trabalhadores rurais
e suas famílias. Isto é, o contingente de mão de obra não qualificada, cuja absorção pelo mercado de
trabalho ocorre apenas nas categorias mais humildes e menos remuneradas de emprego urbanos.
99
Durante os trabalhos de campo, verificou-se que a experiência de vida nestes aglomerados
acabou estabelecendo um sistema interno de valores e comportamentos com pouca ou nenhuma
semelhança com a prática de vida fora deles.
A população economicamente ativa desses aglomerados exerce na cidade atividades que,
embora tenham demanda constante, são quase todas de caráter temporário. Dessas atividades as
mais exercidas são: pedreiro, servente, vigilante, vendedores ambulantes, domésticas, lavadeiras e
serviços gerais.
Pelos dados obtidos na presente pesquisa verifica-se que os proventos da maioria dos chefes
de família situam-se entre 0-1 e 1-2 salários mínimos, embora, em alguns casos, esse padrão de
renda possa alcançar 2-3 e 3-4 salários. No entanto, esta proporção é muito menor do que a do
primeiro caso. De todos os entrevistados apenas cinco têm renda familiar maior do que quatro
salários mínimos (quadro16 ).
A composição da renda familiar concentra-se nos rendimentos do chefe de família. A
complementação dessa renda é declarada sob a forma de auxílio de parentes, aluguel de imóveis
e/ou pensão alimentícia que, embora não seja muito freqüente, tem maior peso econômico quando
ocorre. Provavelmente outras formas de captação de renda existem como, por exemplo, a venda de
drogas; mas as declarações a este respeito são raras e imprecisas.
Quadro 16
Emprego a salário do chefe de família e renda familiar

SALÁRIO/CHEFE DE
EMPREGOS/CHEFE DE FAMÍLIA RENDA FAMILIAR
FAVELAS FAMÍLIA
Pedrei Serven Ambula Serv. Vigilan Lavadei Domésti Mecâni
0-1 1-2 2-3 3-4 0-1 1-2 2-3 3-4
ro te nte Gerais te ra ca co
Timbó 5 3 2 1 - 2 6 2 - - - - 8 16 4 1
Paulo
3 1 4 1 - - 16 4 18 10 2 1 11 19 1 0
Afonso II
São Rafael 1 11 - 3 2 6 2 2 - - - - 4 10 3 1

Baleado 3 5 2 2 3 1 8 1 - - - - 10 6 2 3

Chatuba 2 0 1 - 1 3 7 2 - - - - 7 9 2 -
101
4.3. Procedência do chefe de família e tempo de moradia

Quanto à procedência do chefe de família, a pesquisa revelou que ela já é majoritariamente


urbana: de um total de 116 chefes de família, 81, ou seja, 69,8%, têm procedência da Capital
(Quadro 17).

Quadro 17
Procedência do chefe de família

PROCEDÊNCIA
POPULAÇÃO DO CHEFE DE
FAMÍLIA
Dependentes/Filhos Total Zona Zona Não
FAVELAS Chefe de rural urbana Informou
família

Masc. Fem.

Timbó 16 13 92 121 9 18 21

Paulo Afonso II 14 17 76 107 13 18 -

São Rafael 11 9 56 76 4 13 1

Baleado 7 17 68 92 6 17 1

Chatuba 4 14 55 73 3 15 -
Equipe UNIPÊ,1999

Em relação ao tempo de moradia nas comunidades visitadas, a pesquisa revelou q 74,9% dos
moradores entrevistados residem há mais de cinco anos nas respectivas comunidades, embora haja
referências e mudanças temporárias para outras. Comunidades como Paulo Afonso II e Baleado
mostram índices de mobilidade da população, no período de cinco anos, equivalentes a 37,5% e
55,5%, respectivamente; Timbó I e II e Chatuba, num igual período, não registram nenhuma
descontinuidade de permanência.
A investigação realizada não conseguiu esclarecer a causa deste fenômeno, mas é possível
levantar duas hipóteses:

a) melhor localização em função de possibilidades de emprego;


b) proximidades de áreas com melhor estrutura urbana e oferta de serviços.

Dessa forma, observou-se que a vida da população das favelas desenvolveu-se de modo
precário e com carências de todos os tipos: educacionais, sanitárias e acima de tudo sócio-
econômicas.
A proximidade entre o Bairro de São José/Chatuba e o Shopping Center Manaíra, torna
muito mais evidente o contraste entre uma representação sofisticada da sociedade de consumo e o
seu avesso, configurado pelo contingente dos cidadãos de baixa renda e, portanto, não
consumidores de sua produção. Entretanto, a mídia divulga e padroniza valores, gostos e
comportamentos. A mensagem televisiva e a informação jornalística direcionadas ao
condicionamento psico-social das massas, longe de analisar o processo de exclusão social dessa
parcela crescente da sociedade, acena sempre com soluções fáceis e possibilidades imediatistas de
soluções. Loterias, sorteios, carreiras milionárias de jogadores de futebol e modelos fotográficos
102
povoam as esperanças de jovens e adultos e desqualificam aos olhos dos mais jovens atividades que
não geram renda nem status social elevado.
Atualmente, observa-se o crescente distanciamento e diluição sócio-cultural entre os valores
da geração de migrantes da área rural para a cidade e da geração dos já nascidos nas favelas.
A estrutura econômica de um país capitalista periférico, atrelada ao modelo globalizante da
economia, ampliou a acumulação de riquezas por um número cada vez menor de cidadãos, em
detrimento da grande maioria de excluídos.
Este fato pode ser visualizado pelo crescimento dos aglomerados subnormais na cidade de
João Pessoa.
A dinâmica da vida doméstica da população de classe média e média-alta, com moradia em
apartamentos, uso de recursos tecnológicos com eletrodomésticos (lavadoras de roupas e de louças,
freezers e fornos de microondas) induz a uma redução da demanda por mão-de-obra feminina. Por
outro lado, a modernização e a automação de serviços também funciona no sentido de provocar
mais desemprego e ampliação do subemprego entre a população masculina. Essa situação pode
estar ligada ao crescimento em número das favelas, dos domicílios subnormais e da população
marginalizada.

4.4. Instrução

Na análise desse indicador, os dados apresentam uma lacuna referente ao nível de instrução
por dependente, mas aponta uma concentração no ensino fundamental e razoável presença de
dependentes que estudam. Percebe-se também uma grande evasão escolar a partir do 2º. Grau
(ensino médio) e nenhuma representatividade no 3º. Grau (Quadro18 ).

Quadro 18
Grau de instrução nos aglomerados

GRAU DE INSTRUÇÃO DO NÍVEL DE INSTRUÇÃO DOS


CHEFE DEPENDENTES
1º. 2º. 3º. Não Pré- 1º. 2º. 3º. Não
FAVELAS Analf. Alf.
G G G Informou esc. G G G estud. Estud.
Timbó 9 6 11 3 - - - - - - 42 50
Paulo
9 9 7 6 - - - - - - 10 66
Afonso II
São Rafael 1 5 6 5 - 1 - - - - 19 37

Baleado 2 9 8 4 - 1 - - - - 44 48

Chatuba 2 7 8 1 - - - - - - 24 31
UNIPÊ, 1999

4.5. Habitação

Com relação às condições de habitação, os dados informam que a maioria dos terrenos em
que os moradores constroem suas moradias é pública, o que atesta que sua apropriação se dá ou se
deu por via ilegal.
Quanto ao tempo de ocupação do imóvel, os dados em sua maioria, confirmam uma
permanência de mais de 5 anos.(Quadro 20).
Quanto ao número de cômodos a pesquisa constatou três ou quatro por moradia.
A maioria das casas é de taipa ou de tijolo e recobertas com telhas. A pobreza é ainda mais
visível quando as habitações são extremamente precárias (Quadro19) (Fotos 37 e 37A).
103
Foto 37

Foto 37A

37 e 37A - Habitações precárias na favela do Timbó, erguidas em setor de risco de


desabamento de barreira (foto: Melo, 1998).
104
Quadro 19
Situação da moradia

MORADIA C/RELAÇÃO AO
SITUAÇÃO DO TERRENO
FAVELAS TERRENO
Próprio Público Terceiros Não Outros Próprio Alugada Cedida Outra
Informou
Timbó 4 169 3 17 5 142 13 2 5
Paulo
5 164 2 - - 133 25 11 2
Afonso II
São Rafael 55 90 - 18 10 157 7 9 -

Baleado 44 136 - 2 - 157 13 12 -

Chatuba - 66 - - - 56 8 2 -
UNIPÊ, 1999

Quadro 20
Tempo de moradia e número de cômodos dos domicílios

FAVELAS TEMPO DE MORADIA Nº. DE CÔMODOS


0-6 7-12 1-2 2-3 3-4 4-5 +5 Não
1 2 3 4 5 +5
meses meses anos anos anos anos anos inf.
Timbó 2 6 3 4 4 1 5 - 1 2 3 8 1 7
Paulo Afonso II 1 2 2 5 2 10 11 - 1 3 3 7 5 5
São Rafael 2 2 1 4 6 3 6 - 1 3 3 1 7 1
Baleado 1 5 3 2 2 4 11 - 1 4 5 1 12 2
Chatuba 1 2 3 1 5 6 6 1 1 2 2 3 5 1
UNIPÊ, 1999

4.6. Saúde

As condições de habitat e sua localização, as carências alimentares, o nível de instrução, a


luta diária por sobrevivência, são alguns fatores responsáveis por um quadro bastante sério da saúde
das populações residentes nas favelas que será apresentado agora.
Para tanto, foram comparados os dados obtidos nesta pesquisa com os levantamentos
efetuados em 1996 pela Secretaria do Planejamento do Município.
Os quadros 21 e 22 mostram que as doenças que atingem, mais freqüentemente, as famílias
são: infecciosas, dermatológicas, parasitárias, respiratórias e circulatórias. As doenças mentais
chamam também a atenção, devido ao número de ocorrências levantadas, assim como os casos de
desnutrição.
105
Quadro 21
Saúde – doenças mais freqüentes

DOENÇAS MAIS FREQÜENTES NA FAMÍLIA


FAVELAS Infec. Parasit. Pele Menta Circ. Resp. Desn. Outras Não inf.
Timbó 35 19 28 11 13 14 5 34 1
Paulo Afonso II 30 27 25 15 37 - 7 27 -
São Rafael 3 52 25 35 48 31 1 88 -
Baleado 3 50 26 22 26 31 3 132 -
Chatuba 19 3 8 - 7 29 1 4 -
Fonte: SECRETARIA DO PLANEJAMENTO DO MUNICÍPIO, 1996.

Quadro 22
Saúde – doenças mais freqüentes (Pesquisa UNIPÊ, 2000)

DOENÇAS MAIS FREQÜENTES NA FAMÍLIA


FAVELAS Infec. Parasit. Pele Menta Circ. Resp. Desn. Outras Não inf.
Timbó 7 5 8 4 5 8 2 3 -
Paulo - 10 - 3 - 18 - - -
Afonso
São II
Rafael 1 4 4 - 1 14 2 2 -
Baleado 3 4 8 3 2 6 1 1 4
Chatuba 6 6 7 4 2 14 - 12 -

No que se refere à assistência médica, de acordo com os dados, a maioria da população


recorre aos postos médicos e hospitais, embora sua preferência recaia sobre os primeiros, uma vez
que neles há distribuição gratuita de remédios (Quadros 23 e 24).

Quadro 23
Saúde – assistência médica

ASSISTÊNCIA MÉDICA
FAVELAS POSTO HOSPITAL POSTO/HOSPITAL OUTROS NÃO INF.
Timbó 55 42 15 9 6
Paulo Afonso II 59 93 13 6 -
São Rafael 83 82 4 4 -
Baleado 100 79 - 3 -
Chatuba 37 19 5 5 -
Fonte: SECRETARIA DE PLANEJAMENTO DO MUNICÍPIO, 1996

Quadro 24
Saúde – assistência médica (Pesquisa UNIPÊ, 2000)

ASSISTÊNCIA MÉDICA
FAVELAS POSTO HOSPITAL POSTO/HOSPITAL OUTROS NÃO INF.
Timbó 17 9 - 2 1
Paulo Afonso II 20 3 8 - -
São Rafael 9 8 - 1 -
Baleado 17 6 - 1 -
Chatuba 13 5 - - -
106
A respeito da vacinação, verificou-se que, em ambos os levantamentos, a grande maioria
vacina as crianças, independentemente das campanhas promovidas pelos governos federal, estadual
e municipal.(Quadros 25 e 26).

Quadro 25
Saúde – Vacinação e Mortalidade Infantil

VACINAÇÃO INFANTIL MORTALIDADE INFANTIL


FAVELAS
Indep.
Nas Não Não 0-1 1-2 2-3 3-4 +4
das
camp. vacinou inf. anos anos anos anos anos
camp.
Timbó 45 18 15 6 123 8 3 1 -
Paulo
38 81 2 50 63 5 - 3 8
Afonso II
São Rafael 16 126 2 32 104 9 - 5 1

Baleado 30 129 3 20 44 12 - 3 1

Chatuba 13 36 6 16 19 11 - - -
Fonte: SECRETARIA DE PLANEJAMENTO DO MUNICÍPIO, 1996

Quadro 26
Saúde – Vacinação e Mortalidade Infantil (Pesquisa UNIPÊ, 2000)

VACINAÇÃO INFANTIL MORTALIDADE INFANTIL


FAVELAS
Indep.
Nas Não Não 0-1 1-2 2-3 3-4 +4 Não
das
camp. vacinou inf. anos anos anos anos anos inf.
camp.
Timbó 14 10 1 4 4 - 2 2 - 21
Paulo
21 9 - 1 7 9 4 - - -
Afonso II
São Rafael 5 12 1 - 3 1 - - - 14

Baleado 9 12 - 3 5 - - - - 19

Chatuba 10 7 1 1 2 - - 1 - 16

Quanto à mortalidade infantil, verifica-se que os dados da SEPLAN mostram um índice


relativamente alto na faixa de 0-1 ano de idade. Confrontando esses dados com os obtidos durante a
execução deste trabalho, verificou-se uma ligeira diminuição desse indicador. Sem dúvida, este fato
está relacionado às campanhas de vacinação veiculadas pelo rádio e pela televisão.
Considerações Finais
108
Considerações Finais

Ao término desta pesquisa, verificou-se que existem variações na densidade habitacional e


populacional e nas características das habitações que refletem o “status” de seus habitantes.
O crescimento populacional vem causando problemas, tais como: o desaparecimento da
cobertura vegetal, alterações na topografia, escavações na base das barreiras que induzem aos
desmoronamentos e soterramentos, contaminação da água e do solo pelo acúmulo de lixo e pela
existência de vacarias, pocilgas e matadouros clandestinos, entre outros.
Acrescenta-se o estado precário das ruas não pavimentadas ou pavimentadas apenas até a
linha de inflexão das encostas, o que vem provocando a formação de sulcos, ravinamentos e
voçorocas; ausência ou insuficiência de galerias pluviais, causando também problemas de erosão;
deficiência ou inexistência de rede de esgotos e o seu lançamento nas galerias pluviais (quando
existem), através de ligações clandestinas, nos rios ou nas próprias vias de circulação.
Constatou-se ainda que os modos de apropriação do solo ocorrem principalmente sob a
forma de invasões praticadas ilegalmente pela população em terrenos de domínio público e/ou
privado, próximos de bairros ou eixos de circulação que funcionam como pólos atrativo s.
A onda de invasões aumentou consideravelmente a partir de 1985, como resultado do
contínuo crescimento demográfico, em função do contingente migratório e do crescimento
vegetativo que agravou a crise habitacional.
Das observações efetuadas, verificou-se também que a segregação espacial é uma constante
em toda a área estudada. As classes com melhores rendas concentram-se nos topos dos tabuleiros,
ficando as terras da várzea e baixas encostas, destinadas a granjas, sítios ou vacarias. Pouco a pouco
houve a expansão urbana extra- legal que ocorreu dentro da terra do Vale considerada de
preservação permanente.
A expansão das favelas decorreu da falta de meios de grande parcela da população urbana
excedente que, não dispondo de renda que lhe permita participar do mercado de trabalho formal,
nem de meios para fazer parte do mercado imobiliário, invadiu áreas públicas e/ou privadas.
Dentre os problemas ambientais mais sérios que foram verificados na área da pesquisa
destacam-se:

• aterros efetuados dentro do próprio vale destinados à construção de novos conjuntos


residenciais, a exemplo do Vale das Palmeiras, próximos ao Cristo Redentor;
• retirada de barro nas falésias mortas e vertentes íngremes, acelerando a dinâmica erosiva
e formando ravinamentos e desestabilização das encostas (Bairro de São José e
Comunidade do Timbó);
• aterros de lagoas e nascentes que alimentam o rio Jaguaribe e alguns pequenos
tributários, como por exemplo a nascente do rio Jaguaribe, no Jardim Esplanada e as
lagoas situadas à leste do Vale das Palmeiras (Foto 38);
109

38 - Local onde se situava a lagoa que dava origem ao rio Jaguaribe, no Jardim Esplanada. Há
muita aterrada, em seu lugar existe uma vacaria (foto: Melo, 1997).

• descaracterização das formações vegetais, restando apenas campos de várzea e paúis e a


Reserva Florestal do Buraquinho, ela própria, em diversos pontos, atingida pela
degradação;
• contaminação e poluição das águas dos rios e lagoas pela disposição de resíduos sólidos
de origem doméstica e por efluentes. Sem dúvida, este é um dos problemas mais sérios e
de difícil solução em virtude da ausência ou insuficiência de serviços de esgotamento
sanitário e de coleta de lixo, aliado ao baixo nível de educação da população. Dois
exemplos servem para ilustrar esse problema: a lagoa do Buracão, na cidade dos
Funcionários: o odor exalado pelas águas do Jaguaribe na barragem do Buraquinho;

– A contaminação da água é um dos problemas mais sérios e tem como causa a deficiência
dos serviços de esgotamento sanitário. A implantação do sistema de esgoto das estações de
tratamento não acompanhou o ritmo do crescimento demográfico e urbano. Além disso, ela registra
a desigualdade social e econômica, o que diferencia a distribuição desses serviços entre os diversos
grupos sociais.
– O destino final do lixo constitui outro grande problema. A maior parte dos dejetos é
lançada, in natura, no Jaguaribe e no Timbó, comprometendo, desse modo, a qualidade da água. A
água contaminada ou não tratada retorna à população que, não dispondo de um sistema de
abastecimento e tratamento, muitas vezes a utiliza, sendo por isso atingida por doenças microbianas
(ver tabelas de doenças).
Esse problema se avoluma com o crescimento populacional e expansão das favelas. Embora
João Pessoa conte com um serviço regular de coleta e transporte do lixo relativamente equipado ele
é insuficiente. O atendimento não cobre todas as ruas dos aglomerados subnormais e bairros pobres.
A largura dessas ruas e seu estado precário dificultam a circulação dos grandes caminhões coletores
de lixo e, por conseguinte, é freqüente se observar acúmulo de lixo no meio das ruas ou nas
proximidades dos aglomerados. A utilização dos terrenos baldios para despejo do lixo contribui
para contaminação do solo, gerando mais problemas para a saúde das populações, além de atrair
110
insetos e roedores e formar focos patogênicos. Alguns aglomerados chegam a despejar resíduos
diretamente nos rios e lagoas, agravando dessa maneira os problemas de poluição das águas.
– Outro sério problema atinge os aglomerados erguidos nos sopés das falésias inativas que
vêm sendo reativadas por meios da retirada de barro para a edificação das moradias, pelo
desmatamento para coleta de lenha e obtenção de madeira e pela abertura de caminhos até o topo
dos tabuleiros que servem de atalhos para bairros vizinhos nos quais a população geralmente
trabalha. Como conseqüência dessas práticas, o meio se torna muito instável e os riscos de
deslizamentos e soterramentos são freqüentes (a exemplo do que vem ocorrendo no Bairro de São
José e na Comunidade do Timbó).
– Outros aglomerados são construídos nos terraços fluviais próximos ao leito de inundação
dos rios (Bairro de São José, Favela da Chatuba e nas comunidades de São Rafael e Santa Clara, por
exemplo). As inundações sazonais dos rios Jaguaribe e Timbó são mais fortes em virtude dos
entulhos lançados nos talvegues desses rios. Esses entulhos, por possuírem uma grande quantidade
de matéria orgânica, favorecem o crescimento excessivo da vegetação aquática (baronesa,
Eichhornia crassipes; lentinlha, d’água, Lemna sp; pasta, Pistia sp, por exemplo), contribuindo,
assim, para o aumento dos efeitos das cheias e para a formação de focos de vetores de doenças
transmissíveis ao homem (gasterópodes e larvas de insetos) (Fotos 39 e 40).

39 - Planície e leito do Timbó. Campos de várzea e excesso de vegetação aquática o que


contribui para transbordamentos durante as cheias (foto: Melo, 2000).
111

40 - O rio Jaguaribe no bairro de São José. Suas águas encontram-se totalmente recobertas por
baronesa ou aguapé (Eichhornia crassipes) e Pistia sp., o que aumenta o risco de
transbordamentos por ocasião das chuvas (foto: Melo, 1999).

– Nos aglomerados e bairros pobres, a falta de pavimentação de suas ruas e a declividade


das encostas e rampas, onde essas ruas foram abertas, contribuem para a ocorrência de fenômenos
de erosão laminar e em sulcos e para a formação de voçorocas, se a declividade das encostas for
bastante acentuada.
Do que foi exposto acima, depreende-se que o problema habitacional, a deficiência de
infraestrutura básica, as desigualdades sociais e a conseqüente segregação espacial são alguns dos
fatores que repercutem não somente no ambiente natural, mas também, por retroação positiva, no
ambiente social.
Embora se pense que a solução desses problemas seja exclusivamente da alçada dos
governantes, é preciso ressaltar que a melhoria da qualidade ambiental e da vida exige um esforço
que congregue todos os segmentos da sociedade, pois suas causas e fatores estão intimame nte
relacionados.
Para que seja alcançado um desenvolvimento harmônico, conjugando o econômico, o social
e o ecológico, devem ser implantadas medidas a curto, médio e longo prazos como, por exemplo,
programas de educação ambiental e implementação de políticas que levem em conta os fatores
econômicos, sociais e ecológicos, acompanhados de diagnósticos ambientais globais capazes de
determinar a qualidade ambiental visando sustentar e melhorar a qualidade de vida das populações.
I – Bibliografia
113

1. AB’SABER, Aziz N., et al. – Geografia e Questão Ambiental.São Paulo, Editora Marco Zero – AGB,
1988.

2. ALMEIDA, Maurílio de. “Cidade da Parahyba: 1860 – Um pequeno aglomerado urbano “.In: Capítulos
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3. ANDRADE LIMA, D. de & ROCHA, Maria Gelza. “Observações preliminares sobre a Mata do
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4. __________________. “Estudos fitogeográficos de Pernambuco” Arq. Pesq. Agron. de Pernambuco, 5:


305-341, Arq. Pesq. Agron. de Pernambuco, 5: 305-341. Recife, 1966.

5. BAGNOULS, F. & GAUSSEN, H. “Saison sèche et indice xérothermique”, Doc. Cartes prod, végét.
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7. BITOUN, Jan – “Aménagement, zonage et décentralisation de la Gestion: divisions de la ville et enjeux


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4-6 décembre 1997 ( MIMEO ).

8. BOYE, M. et al. –“Essai d”approche écologique de la géographie de la Paraíba “.In : Géographie et


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l990.
116
57. PARAÍBA. Decreto nº 13.798 de 26 de dezembro de 1990. Regulamente a Lei nº 4.335 de 16 de
dezembro de 1981, que dispõe sobre a prevenção e controle da poluição ambiental, estabelece normas
disciplinares da espécie e dá outras providências. Diário Oficial do Estado da Paraíba, p.79-85, 27 de
dezembro de 1990.

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1997 (Col. 1er. Cycle).
II – Anexos
119
LISTA DE QUADROS

1 – Crescimento da população de João Pessoa entre o início do século XIX e 1978


2 – Dados climáticos de João Pessoa
3 – Máximo de Precipitações Consecutivas (MPC)
4 – Balanço hídrico da SUDENE (1978)
5 – Balanço hídrico de João Pessoa (RADAMBRASIL, 1981)
6 – Meses secos e estação ecologicamente seca
7 – Estratigrafia da Bacia do Jaguaribe (PB)
8 – Litologia e profundidade das rochas na bacia do Jaguaribe (PB)
9 – Lista de algumas espécies da Mata do Buraquinho
10 – Lista de algumas espécies do mangue e dos campos de várzea
11 – As favelas de João Pessoa em 1980
12 – Localização das favelas na área da pesquisa
13 – Fruticultura no vale do Jaguaribe
14 – Amostragem das favelas para a pesquisa
15 – População de João Pessoa e projeção para o ano 2000, favelas incluídas
16 – Emprego e salário do chefe de família e renda familiar
17 – Procedência do Chefe
18 – Grau de Instrução
19 – Situação da moradia
20 – Tempo de moradia e número de cômodos dos domicílios
21 – Saúde - doenças mais freqüentes (SEPLAN - PMJP, 1996)
22 – Saúde - doenças mais freqüentes (equipe da pesquisa - UNIPÊ, 2000)
23 – Saúde - assistência médica (SEPLAN - PMJP, 1996)
24 – Saúde - assistência médica (equipe da pesquisa - UNIPÊ, 2000)
25 – Saúde - vacinação e mortalidade infantil (SEPLAN - PMJP, 1996)
26 – Saúde - vacinação e mortalidade infantil (equipe da pesquisa - UNIPÊ, 2000)
120
LISTA DE FIGURAS

1 – Gráfico de temperaturas
2 – Gráfico de evaporação
3 – Gráfico das precipitações
4 – Cartograma: sistema de circulação atmosférica e gênese das chuvas
5 – Diagrama do Balanço Hídrico de João Pessoa de GOLFARI & CASER, 1978
6 – Diagrama ombrotérmico de João Pessoa de GRABOIS & NOGUEIRA, 1979
7 – Regiões Bioclimáticas segundo GALVÃO (1967)
8 – Localização das voçorocas urbanas de João Pessoa
9 – Crescimento exponencial das favelas de João Pessoa
10 – População de João Pessoa (situação atual e projeção para o ano 2000)
121
LISTA DE FOTOS

1 – Venda ilegal de terrenos situados em Zona de Preservação Permanente – a várzea


do rio Jaguaribe. Placa colocada próximo à ponte da avenida Ruy Carneiro (foto: A.
Sergio T. de Melo, 1998).

1A – Soleira de arenito da Formação Beberibe, no leito do Rio Jaguaribe (margem


direita) na altura da barragem do Buraquinho (foto: A. S. T. de Melo, 1997).

2 – Falésia morta na favela do Timbó. Formação Barreiras (foto: idem, 1998).

2A – Falésia morta, na favela do Timbó. Formação Barreiras. Favela em zona de alto


risco de desmoronamentos (foto: Josinaldo Lucena).

3 – Formação Barreiras. Falésia morta nas bordas do tabuleiro do Jardim Luna, na


altura da ponte da avenida Ruy Carneiro (foto: A. S. T. de Melo, 1998).

4 – O vale do Jaguaribe entre os bairros de Jaguaribe e do Rangel (esquerda da foto)


(foto: A. S. T. de Melo, 1998).

5 – Terraço fluvial do rio Timbó (no primeiro plano da foto) (foto: idem).

6 – Depressão arredondada - lagoa - no piso do grande anfiteatro de erosão do Cristo


Redentor, nas proximidades do loteamento Redenção (foto: idem).

7 – Falésia morta. Timbó.

8 – Vista da Mata do Buraquinho. Em primeiro plano o lago de barragem coberto de


vegetação aquática e cercado por campos higrófilos (foto: idem).

9 – Interior da Mata do Buraquinho, próximo ao lago (foto: idem).

10 – Interior da Mata do Buraquinho. Floresta de crescimento secundário como atestam


os troncos finos das árvores (foto: idem).

11 – Buritizal no interior da Mata do Buraquinho nas margens do Jaguaribe. O buritizal


foi plantado(foto: idem).

12 – Várzea do Jaguaribe próximo ao Miramar. A vegetação está toda transformada em


pastos (foto: idem).

13 – Manguezal do maceió da desembocadura do Jaguaribe em Intermares (fora da


área da pesquisa mas muito mencionado nela) (foto: A. S. Tavares de Melo,2000).

14 – Manguezal no desvio do Jaguaribe para o Mandacaru, na altura da ponte da BR


101. Favela em área aterrada e venda de lenha extraída do manguezal (foto: A. S.
Tavares de Melo, 1996).

15 e 15A – Encostas convexas com marcas de erosão provocadas por excesso de


pisoteio do gado criado na área do vale do Jaguaribe, nas cercanias do bairro do
Rangel (fotos: A. S. Tavares de Melo, 1999).
122
16 a 19 – Manifestações de erosão hídrica em rampa de colúvio onde foi aberta a rua
José de Melo Lula, no Rangel. A pavimentação incompleta (fotos 16 e 19) as
galerias pluviais precárias (foto 18) e a falta de esgotos contribuem para a erosão
em sulcos e ravinas a partir do término do calçamento (foto 19) (foto: A. Sergio T.
de Melo, 1998).

20 e 20A – Voçoroca no final do calçamento da rua Silva Mariz, em Cruz das Armas.
Observar: o lixo depositado com o intuito de conter seu avanço e o lençol freático
que é atingido e aflora (foto: A. S. T. de Melo, 1999).

21 – Voçoroca em vias de contenção, no final da pavimentação da rua Adelaide Novais,


no Cristo Redentor em um setor de encosta bastante íngreme (margem direita do
Jaguaribe) (foto: A. S. T. de Melo, 1999).

22 e 22A – Voçoroca na rua 14 de julho, no Rangel. Fotos obtidas em 1997, antes dos
trabalhos de contenção efetuados pela Prefeitura de João Pessoa.

23 e 23A – Voçoroca da 14 de Julho. Observar as paredes verticais de sua cabeceira em


arco de circulo e a residência situada em setor de alto risco de desmoronamentos
(fotos: A. S. Tavares de Melo, 1997).

24 – Início dos trabalhos de contenção da voçoroca (foto: Melo, 1999).

25, 25A e 25B – Finalização da obra. Observar a tubulação das águas pluviais e servidas,
e os gabiões (fotos: Melo, 1999).

26 – Placa da Secretaria de Infraestrutura da Prefeitura Municipal de João Pessoa,


indicando os trabalhos de contenção que foram executados para a contenção da
erosão (foto: A. S. T. de Melo, 1999).

27 e 27A – Pocilga em encosta do Timbó, no Altiplano do Cabo Branco. Péssimas


condições sanitárias e perigo para a saúde pública (foto: A. S. Tavares de Melo,
1999).

28 e 28A – Várzea do Jaguaribe. Lixo no solo e árvore cortada (foto: Melo, 1997).

29 – Favela de São José. Precariedade das habitações, do sistema de arruamento e


dos serviços de coleta de lixo que é lançado no rio Jaguaribe (foto: A. S.Tavares de
Melo, 1998).

30 e 30A – Lagoa da Cidade dos Funcionários. Poluição das águas pelo lixo que é
lançado e pelos esgotos. Foco de muitas doenças (fotos: Melo, 1998).

31 – Vista obtida no Conjunto João Agripino, no topo da falésia morta que circunda o
media rio Jaguaribe. Observa-se a oposição entre o padrão de urbanização do
bairro de São José, no sopé dessa falésia e no exíguo terraço fluvial e o de
Manaíra. Também pode ser observada densidade domiciliar que caracteriza o
bairro de São José (foto: Melo, 1998).

32 – Padrão das habitações no Bairro de São José. Na foto, vê -se um pequeno lote que
ainda não foi ocupado. Ao fundo, restos da floresta que recobrem as falésias
mortas (fotos: idem).
123
33 – Favela São Rafael. Os seus habitantes preferem o termo comunidade. Ocupação
dos terraços e da própria várzea do rio Jaguaribe (foto: idem).

34 – Invasão de pequeno vale, à direita da avenida Beira-Rio, na altura dos


Expedicionários. Favela Resistência (foto: idem).

35 – Favela da Chatuba, na margem esquerda do Jaguaribe, na retaguarda do


Shopping Center Manaíra.

36 – Favela Novo Horizonte.

37 e 37A – Habitações precárias na favela do Timbó, erguidas em setor de risco de


desabamento de barreira (foto: Melo, 1998).

38 – Local onde se situava a lagoa que dava origem ao rio Jaguaribe, no Jardim
Esplanada. Há muita aterrada, em seu lugar existe uma vacaria (foto: Melo, 1997).

39 – Planície e leito do Timbó. Campos de várzea e excesso de vegetação aquática o


que contribui para transbordamentos durante as cheias (foto: Melo, 2000).

40 – O rio Jaguaribe no bairro de São José. Suas águas encontram-se totalmente recobertas por
baronesa ou aguapé (Eichhornia crassipes) e Pistia sp., o que aumenta o risco de
transbordamentos por ocasião das chuvas (foto: Melo, 1999).
124

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