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Pedagogia da Carta da Terra
NOTA: Dado o caráter interdisciplinar desta coletânea, os textos publicados respeitam as normas e
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multa, busca e apreensão e indenizações diversas (art. 101 a 110 da Lei 9.610, de 19.02.1998, Lei
dos Direitos Autorais).
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Ivo Dickmann & Ana Paula Guimarães
Ivo Dickmann
Ana Paula Guimarães
(Orgs.)
Editora Livrologia
Porto Alegre
2022
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Pedagogia da Carta da Terra
FICHA CATALOGRÁFICA
P371 Pedagogia da Carta da Terra. Ivo Dickmann, Ana Paula Guimarães (Orgs.). –
Porto Alegre: Livrologia, 2022. (Coleção Educação Ambiental; 03).
ISBN: 9786580329267
DOI: doi.org/10.52139/livrologia9786580329267
© 2022
Permitida a reprodução deste livro, sem fins comerciais,
desde que citada a fonte.
Impresso no Brasil.
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Ivo Dickmann & Ana Paula Guimarães
SUMÁRIO
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Pedagogia da Carta da Terra
CARTA DA TERRA:
PRINCÍPIOS PARA UMA COMUNIDADE DE VIDA
Esse livro é uma coletânea de artigos científicos que têm como centra-
lidade o diálogo com a Carta da Terra, que há mais de vinte anos vêm motivan-
do pessoas a se relacionar de uma forma cada vez mais sustentável com o Pla-
neta. Além disso, pensamos que cada pessoa pode encontrar nos textos alguns
indicativos de como construir formas de aplicar esses princípios na sua vida
cotidiana, seja na escola, na universidade, na família e no trabalho.
Assim, essa coletânea se caracteriza como uma introdução às reflexões
críticas sobre esse documento tão importante e que, como percebemos, é pouco
conhecido. Talvez a partir desse livro, possamos irradiar os princípios da Carta
da Terra por todos os cantos do país, chegando aos professores, líderes popula-
res, educadores ambientais, universitários, enfim, crianças, jovens e adultos,
para que se engajem na luta pela sustentabilidade de todas as formas de vida
que compõem o ecossistema.
Nosso livro é também uma forma de registrar e comemorar os 30 anos
da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, a
Rio-92, e os 50 anos da Conferência de Estocolmo, um marco para a Educação
Ambiental mundial. De alguma forma, todos os documentos desses encontros
internacionais produzidos nesses eventos, antecederam a Carta da Terra e ins-
piraram a criação de uma grande síntese que aprofundasse as necessárias mu-
danças para salvar o Planeta das ações predatórias dos seres humanos.
A Carta da Terra, de forma contundente e profética, anuncia que somos
uma só Comunidade de Vida e denuncia as mazelas do atual modelo de produ-
ção e consumo insustentáveis, sinalizando alternativas viáveis para o futuro. Há
uma Pedagogia nesse documento, que embora não tenha força de lei, tem po-
tencial de ensinar a todos os povos e culturas outra forma de viver juntos. Ou-
tro documento importante que se junta nessa esteira de posicionamento crítico
sobre as relações dos seres humanos no mundo é o Tratado de Educação Ambi-
ental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global, resultado das
discussões paralelas à Rio-92, que reconhece o papel central que a Educação
tem na construção de valores de sustentabilidade em vista de uma ação social
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Ivo Dickmann & Ana Paula Guimarães
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Pedagogia da Carta da Terra
Introdução
Buscando adentrar mais no campo sobre a Carta da Terra, definimos
uma busca realizada no arco cronológico de 2000 até 2022. Foi usado esse re-
corte temporal com o intuito de fazer uma análise dos trabalhos mais antigos e
também mais recentes sobre o objeto a ser estudado.
A primeira fase desta pesquisa consistiu em fazer um levantamento
inicial dos trabalhos no site Ecoar (https://ecoar.app/), entrando no site temos
algumas coisas para preencher para definirmos nossa busca, nossa definição foi
a seguinte: busca: “Carta da Terra”, |rea: educaç~o, de 2000 até 2022, ordem:
ano decrescente. O procedimento de seleção dos materiais se deu através de
um critério estabelecido onde deveria conter palavra Carta da Terra no título,
resumo ou palavras-chave do trabalho. A definição inicial foi a busca pelo Qua-
lis A*, onde encontramos 67 artigos, porém na avaliação desses não seleciona-
mos nenhum, pois não se encaixaram nos critérios definidos. Partimos para o
Qualis B*, onde encontramos 339 artigos, desses selecionamos 8 que continham
a palavra Carta da Terra em um dos locais que especificamos. Uma das ferra-
mentas utilizadas para a localizaç~o das palavras foi “Ctrl+F”, essa junç~o de
teclas que digitando uma palavra localiza a mesma no trabalho que está em
aberto, assim procurávamos pela palavra Carta da Terra.
Após essa busca e seleção dos trabalhos, os organizamos em uma tabe-
la para melhor visualização dos mesmos, nessa tabela contendo: título do traba-
lho, autores, ano de publicação, a revista na qual o trabalho foi publicado e
também a região dessa revista, região dos autores e instituição dos mesmos.
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Ivo Dickmann & Ana Paula Guimarães
T1 Educação Berenice Gehlen Revista Eletrônica Santa Maria Santa Maria Universidade
Ambiental à Adams, Marcelo do Curso de Espe- Federal de Santa
distância: Barcellos da Rosa, cialização em Maria
capacitação Damaris Kirsch Educação Ambiental
em documen- Pinheiro, Paulo da UFSM
tos referência Edelvar Corrêa
Peres (2010)
T2 Direitos dos Alinne Silva de Revista de Direito Curitiba Manaus Universidade
animais Souza Econômico e Federal do
domésticos: (2014) Socioambiental Amazonas
análise
comparativa
dos estatutos
de proteção
T3 “Grito de la Antonio Elizalde Desenvolvimento e Paraná Chile Universidad de
tierra, grito de (2015) Meio Ambiente los Lagos,
los pobres”, la Osorno, Chile
propuesta
ética de
Francisco: una
recuperación
de los aportes
latinoamerica-
nos a la
construcción
de nuestra
Casa Común
T4 Carta da Terra Magnollya Moreno Revista Brasileira de São Paulo Lagoa do Universidade
para crianças de Araújo Lelis, Educação Ambiental Sítio; Ceará; Estadual do
como estraté- Môngolla Keyla Cariri Ceará; Universi-
gia de promo- Freitas de Abreu, dade Federal do
ção da Maria Laís dos Cariri; Universi-
sustentabili- Santos Leite, dade Federal do
dade ambien- Veronica Salgueiro Ceará; Centro de
tal do Nascimento, Ciências Agrárias
Suely Salgueiro da Universidade
Chacon (2017) Federal do Ceará
T5 Jogo da Carta Monica Toshie ANAIS DO XVII Londrina Paraná Instituto Federal
da Terra: Susuki Oshika, EPEA do Paraná
oficina de Karina Dias campus Assis
formação Espartosa Chateaubriand,
continuada de (2019) PR; Instituto
professores e o Federal do
jogo como Paraná campus
ferramenta Assis Chateaubri-
educativa and
T6 Oficina Jogo Karina Dias ANAIS DO XVII Londrina Paraná Instituto Federal
Carta da Terra: Espartosa; Elio EPEA do Paraná
conscientiza- Jacob Hennrich campus Assis
ção ambiental Junior Chateaubriand/
por meio de (2019) IFPR
jogo colabora-
tivo de
tabuleiro com
base nos
princípios da
carta da terra
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Pedagogia da Carta da Terra
Resultados encontrados
A seguir, faremos também uma breve análise de todos os trabalhos,
com um olhar mais atento aos resumos de cada, assim conseguiremos saber do
que cada se trata em especifico e quais suas contribuições quanto pesquisa
relacionados a Carta da Terra.
O trabalho número 1, de Berenice Gehlen Adams, Marcelo Barcellos da
Rosa, Damaris Kirsch Pinheiro, Paulo Edelvar Corrêa Peres, intitulado como:
Educação Ambiental à distância: capacitação em documentos referência, é um
artigo do ano de 2010, publicado na Revista Eletrônica do Curso de Especializa-
ção em Educação Ambiental da UFSM. De acordo com os autores, a pesquisa
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Pedagogia da Carta da Terra
ente. Nesse material o autor apresenta a Encíclica Laudato si’ e a relaciona com
dois documentos-chave do pensamento socioambiental, o primeiro de caráter
global, a Carta da Terra, e outro o Manifesto pela Vida, de origem latino-
americana. Destaca-se a contribuição deste documento, incluindo a questão do
ambiente ao corpus doutrinário da Igreja Católica e vendo-o sistemicamente
ligado à desigualdade, ao consumismo, à exclusão social e à degradação ambi-
ental no sentido de construir novas formas de compreensão da economia e do
progresso dentro de um novo estilo de vida. (ELIZALDE, 2015).
O trabalho número 4, de Magnollya Moreno de Araújo Lelis, Môngolla
Keyla Freitas de Abreu, Maria Laís dos Santos Leite, Veronica Salgueiro do Nas-
cimento, Suely Salgueiro Chacon, intitulado como: Carta da Terra para crianças
como estratégia de promoção da sustentabilidade ambiental, é um artigo do
ano de 2017, publicado na Revista Brasileira de Educação Ambiental. Nesse
trabalho os autores debatem sobre mudar a atitude e a percepção da realidade,
isso despertando para a mudança de pensamento e ajudando a gerar condições
para a criação de sociedades sustentáveis. Partindo dessa premissa, o estudo
apresenta e dialoga sobre os princípios da Carta da Terra para Crianças aplica-
dos a uma Escola de Ensino Fundamental do município de Barbalha-CE. Foi
usada a abordagem qualitativa por meio da pesquisa-ação, tendo como ativida-
de principal a exposição dialogada dos princípios da Carta. Essa iniciativa pro-
moveu a vivência da Educação Ambiental com os estudantes a partir de temáti-
cas como consumo consciente e respeito com o outro, promovendo a troca de
vivências, a reflexão da realidade e das atitudes pelos participantes. (LELIS et
al., 2017)
O trabalho número 5, de Monica Toshie Susuki Oshika e Karina Dias
Espartosa, intitulado como: Jogo da Carta da Terra: oficina de formação conti-
nuada de professores e o jogo como ferramenta educativa, faz parte dos Anais
do XVII EPEA, publicado no ano de 2019. Tratam a partir do documento Carta
da Terra, muitas atividades e ferramentas educativas tem sido desenvolvidas,
dentre elas o Jogo da Carta da Terra, um jogo colaborativo que envolve temas
socioambientais, onde é necessária uma ação conjunta dos jogadores em ativi-
dades e troca de experiências para concluir o jogo. Para dar conhecimento des-
te jogo foi realizada uma oficina de formação continuada de professores. A ofi-
cina, que contou com 16 participantes proporcionou aos docentes o conheci-
mento de uma nova ferramenta educativa que foi por eles aprovada. Segundo
os seus relatos, os participantes pretendem aproveita-la em sala de aula ou em
atividades extracurriculares. (OSHIKA; ESPARTOSA; 2019)
O trabalho número 6, também é do ano de 2019 publicado nos ANAIS
DO XVII EPEA, de autoria de: Karina Dias Espartosa e Elio Jacob Hennrich Juni-
or, intitulado como: Oficina Jogo Carta da Terra: conscientização ambiental por
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Pedagogia da Carta da Terra
Considerações Finais
De acordo com nossa revisão de pesquisas entre os anos de 2000 até
2022, através das buscas pelo Ecoar encontramos ao todo, entre qualis A* e B*,
um total de 406 materiais, porém com os critérios que estabelecemos para a
seleção desses, selecionamos apenas 8 materiais.
Após a seleção e criação do quadro com os trabalhos, conseguimos
identificar títulos com variações dos temas estudados, muitos deles sem nem
conter a palavra Carta da Terra no seu título, com isso vemos uma falta da dis-
cussão dela nos trabalhos em geral, visando que as buscas foram desde o ano de
2000, com isso temos 22 anos de estudos e apenas esses trabalhos sobre a Car-
ta da Terra selecionados.
Assim, podemos concluir que há necessidade de aprofundar as pesqui-
sas da relação da Carta da Terra com a Educação e de como os princípios dela
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Ivo Dickmann & Ana Paula Guimarães
podem orientar a práxis pedagógica para contribuir com uma educação crítica e
ambientalmente orientada.
Dessa aproximação emergem duas orientações fundamentais para a
Educação:
Assim, por fim, pensamos que essa reflexão sobre esses achados pode
se constituir como um ponto de partida para instigar outros/as pesquisadores a
se interessar pelo tema e se somar na tarefa de buscar as contribuições da Carta
da Terra para a Educação.
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Pedagogia da Carta da Terra
Referências
ESPARTOSA, Karina Dias; JUNIOR, Elio Jacob Hennrich. Oficina jogo Carta da
Terra: Conscientização ambiental por meio de jogo colaborativo de tabuleiro
com base nos princípios da Carta da Terra. XVII EPEA; IV Colóquio Internacio-
nal em Educação Ambiental. Londrina. 2019.
FERRERO, Elisabeth M.; HOLLAND, Joe. Carta da Terra: reflexão pela ação. São
Paulo: Cortez; Instituto Paulo Freire, 2010.
LELIS et al. Carta da Terra para crianças como estratégia de promoção da sus-
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dos estatutos de proteção. Revista de Direito Econômico e Socioambiental.
Curitiba, v. 5, n. 1, p. 110-132, jan./jun. 2014.
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Síntese do Texto
Uma palavra
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Uma frase
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___________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________
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Um parágrafo
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___________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________
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Imagem Pedagógica
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Introdução
Este artigo, originalmente publicado na Revista Educação Popular,
apresenta análises sobre a BNCC (BRASIL, 2017) para os cinco primeiros anos
do ensino fundamental, tendo como foco os temas relacionados à sustentabili-
dade da vida no planeta, nos termos da Carta da Terra.
Com o intuito de ampliar os debates foram acrescidas, para este capítu-
lo, considerações sobre o documento Temas Contemporâneos Transversais na
BNCC (BRASIL, 2019), que apresenta um conjunto de 15 temas a serem abor-
dados transversalmente, para oferecer “acesso a conhecimentos que possibili-
tem a formação para o trabalho, para a cidadania e para a democracia e que
sejam respeitadas as características regionais e locais, da cultura, da economia
e da populaç~o que frequentam a escola” (BRASIL, 2019, p. 5).
Tal propósito expresso no documento, choca-se com o contexto atual,
no qual o esgarçamento da democracia e ataques constantes às minorias, fragi-
lizam a formação cidadã. Essa formação é também obstaculizada quando o
princípio da gestão democrática, preconizado na Constituição Federal (BRASIL,
1988), não é respeitado, uma vez que avançam as políticas de gestão privada
nas escolas públicas, inserindo-as em um novo mercado (ADRIÃO; GARCIA,
2014).
Nos últimos anos, temos vivenciado o recrudescimento da política neo-
liberal na educação, ao mesmo tempo em que floresce o neoconservadorismo
que se expressa em um movimento ideológico da extrema direita, lançando
programas como o Escola sem Partido. O avanço da política de militarização das
escolas públicas é outro exemplo da pauta reacionária do atual governo, para o
disciplinamento de corpos e mentes. “Diferentemente dos quartéis, a escola
pública não pode pautar-se pela disciplina fundamentada no organismo militar,
em detrimento a um processo educativo para o convívio social democr|tico”
(MOTA, CAMPOS, 2021).
Há um conjunto de políticas que tem promovido retrocessos na educa-
ção escolar, especialmente na gestão, nos currículos, nas avaliações e na forma-
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Pedagogia da Carta da Terra
espera-se que os TCTs permitam ao aluno entender melhor: como utilizar seu di-
nheiro, como cuidar de sua saúde, como usar as novas tecnologias digitais, como
cuidar do planeta em que vive, como entender e respeitar aqueles que são diferen-
tes e quais são seus direitos e deveres, assuntos que conferem aos TCTs o atributo
da contemporaneidade. (BRASIL, 2019, p. 7).
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De uma ética a serviço das gentes, de sua vocação ontológica, a do ser mais e não
de uma ética estreita e malvada, como a do lucro, a do mercado. Por isso mesmo a
formação técnico-científica de que urgentemente precisamos é muito mais do que
puro treinamento ou adestramento para o uso de procedimentos tecnológicos
(FREIRE, 2000, p. 102).
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Pedagogia da Carta da Terra
tituir e fortalecer não foram discutidas, como argumenta Aguiar (2018, p. 15):
“Fica clara a metodologia de construç~o linear, vertical e centralizadora”.
Os fundamentos da epistemologia do ciclo de políticas (BALL; BOWE,
1992) assumidos neste ensaio nos permitem afirmar que há interesses e ideo-
logias dogmáticas que afetam essa política. A concepção de educação centrada
nas competências e habilidades, própria do contexto empresarial, foi opção
teórica na versão final publicada em 2017. A abordagem técnico-instrumental
está presente desde a organização do documento por ano escolar, mesmo que
muitas escolas brasileiras, superando a visão fragmentada da educação seriada,
tenham organizado o Projeto Político-Pedagógico embasado no conceito de
ciclos (FREITAS, 2003). Trata-se de uma clara interferência e desrespeito às
instituições de ensino, muitas com debates avançados sobre um currículo inte-
grado necessário à educação integral de todos os estudantes.
Por sua vez, o documento Temas Contemporâneos Transversais na
BNCC (BRASIL, 2019, p. 12), “aponta seis macro|reas tem|ticas (Cidadania e
Civismo, Ciência e Tecnologia, Economia, Meio Ambiente, Multiculturalismo e
Saúde) englobando 15 Temas Contempor}neos”, conforme figura 1.
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[...] permitem a efetiva educação para a vida em sociedade, tendo em vista que uma
das oportunidades decorrentes de sua abordagem é a aprendizagem da gestão de
conflitos, que contribui para eliminar, progressivamente, as desigualdades econô-
micas, acompanhadas da discriminação individual e social. (BRASIL, 2019, p. 19).
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Esta forma autoritária de apostar nos pacotes e não na formação científica, peda-
gógica, política do educador e da educadora revela como o autoritário teme a li-
berdade, a inquietação, a incerteza, a dúvida, o sonho e anseia pelo imobilismo. Há
muito de necrofílico no autoritário assim como há muito biofílico no progressista
coerentemente democrático (FREIRE, 2001, p. 37).
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Nessa Carta, o meio ambiente – concebido como Mãe Terra – não está a
serviço das necessidades humanas, mas é lugar de convivência de todas as es-
pécies, humanas e não humanas. O documento explicita a interconexão entre o
ambiente e a vida, exigindo outro sistema político e econômico, nem sempre
compreendido pelos países signat|rios que negam “a presença dentro de si de
uma raiz destrutiva, a cultura ocidental está ainda vivendo na negação e na
recusa” (FERRERO; HOLLAND, 2004, p. 81).
O modelo capitalista de produção resiste à ideia de sustentabilidade da
vida, admitindo um discurso de desenvolvimento sustentável, sem, necessaria-
mente, tratar de forma integrada dos problemas socioeconômicos e ecológicos.
Temas como pobreza, direitos humanos, racismo, preconceitos, justiça
social, igualdade de gênero, democracia, não violência, parecem ficar apartados
do conceito de desenvolvimento sustentável no âmbito empresarial. O mesmo
ocorre na educação. Projetos de educação ambiental, embora signifiquem já um
avanço, não estão necessariamente vinculados aos estudos desses temas de
forma interconecta. A mudança do termo de educaç~o ambiental para “educa-
ç~o para o desenvolvimento sustent|vel” n~o resolve a quest~o, sendo necessá-
rio compreender seus sentidos e significados.
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dade exigente, metodizada”, que faz “do rigor crescente a raz~o de ser do objeto
da curiosidade” (FREIRE, 2001, p. 8-9).
Nesse debate sobre ecologia, a curiosidade epistemológica e a consci-
ência crítica vão sendo forjadas de forma gradativa, na medida em que se alcan-
ça a consciência-mundo em suas relações contraditórias.
Por isso mesmo a conscientização é o olhar mais crítico possível da realidade, que
a des-vela para conhecê-la e para conhecer os mitos que enganam e que ajudam a
manter a realidade da estrutura dominante. [...] A conscientização produz a desmi-
tologização (FREIRE, 2005a, p. 33, grifo do autor).
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Pedagogia da Carta da Terra
Nossa visão é transformar vidas por meio da educação ao reconhecer seu impor-
tante papel como principal impulsionador para o desenvolvimento e para o alcance
de outros ODS [objetivos para o desenvolvimento sustentável] propostos. Com-
prometemo-nos, em caráter de urgência, com uma agenda de educação única e re-
novada, que seja holística, ousada e ambiciosa, que não deixe ninguém para trás.
Essa nova visão é inteiramente captada pelo ODS (DECLARAÇÃO DE INCHEON,
2015, p. 7).
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Pedagogia da Carta da Terra
Considerações finais
Análises do contexto de influência na elaboração da Base Nacional Co-
mum Curricular e dos Temas Contemporâneos Transversais, com os fundamen-
tos da epistemologia do ciclo de políticas, revelaram seu caráter neoliberal
decorrente de interesses de grupos empresariais, como também uma aborda-
gem de conteúdos reducionistas, pragmáticos e tecnicistas, mantendo a leitura
mitificada da realidade.
Temas relacionados à sustentabilidade da vida no planeta estão ausen-
tes nos cinco primeiros anos do ensino fundamental, e os conteúdos relaciona-
dos ao meio ambiente, uso do solo, plantação e extração, mudanças no estado
físico da água, clima, geração de energia, se apresentam de forma fragmentada,
estanque, sem conexões entre si nem observações mais amplas de situações
reais.
Há, portanto, uma contradição nos próprios documentos, uma vez que
o reducionismo das habilidades propostas e a ausência de problematização de
temas relevantes para a vida no planeta obstaculizam a “formaç~o humana
integral e [...]a construç~o de uma sociedade justa, democr|tica e inclusiva”,
como preconiza a introdução da BNCC (BRASIL, 2017, p. 7).
Partindo de tais considerações, enfatizamos a contribuição do pensa-
mento de Paulo Freire para o necessário desvelamento dessa política pelos
profissionais da educação, visando à construção da consciência crítica, para que
possam recusar o papel de reprodutores de projetos elaborados por técnicos e
políticos, assumindo sua responsabilidade e compromisso com a construção e
fortalecimento de uma sociedade participativa, compreendendo as finalidades
da educação para a formação emancipadora dos estudantes.
Para esse propósito, os currículos escolares podem se valer da leitura
crítica da Carta da Terra, conectando preocupações socioeconômicas, ecológi-
cas, estruturais, para construir um novo modelo de civilização, tendo como
princípio a dignidade humana, compreendendo a interdependência de todas as
espécies. A Carta da Terra, ao estabelecer um pacto de cuidado com toda forma
de vida, pode se constituir como instrumento de luta e importante referência
para a elaboração de outros desenhos curriculares.
O estudo e problematização de temas como democracia, direitos hu-
manos, justiça social, modelo de produção, consumo, preservação ambiental e
sustentabilidade, constantes na Carta da Terra, são relevantes para a formação
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Ivo Dickmann & Ana Paula Guimarães
dos docentes e estudantes, reconhecendo sua capacidade crítica para ler e in-
tervir na realidade. Superando a elaboração de um currículo disciplinar, esses
temas podem ser estudados no âmbito das Ciências, História, Geografia, Socio-
logia, Matemática, Arte, Língua Portuguesa e Cultura Corporal, de forma inter-
conectada. No contexto de cada unidade escolar, o trabalho coletivo é condição
para a elaboração de um Projeto Político-Pedagógico com fundamentos filosófi-
cos, teóricos, metodológicos, considerando uma (eco)pedagogia crítico-trans-
formadora.
Nesse Projeto, a leitura da realidade e de seus temas epocais é elemen-
to intrínseco para o ensino e a aprendizagem de conteúdos. Não se pode des-
considerar a crise que se abateu sobre o País, em decorrência da pandemia de
COVID-19, com a morte de milhares de brasileiros e brasileiras, demonstrando
que negligenciar os cuidados com a vida na Terra empurra populações inteiras
para ambientes cada vez mais desumanos e degradantes, podendo levar à per-
da de mais vidas. E a educação não pode estar apartada desse debate. Relacio-
nar a degradação ambiental com a forma de predatória de uso dos recursos
naturais nesse modelo predominante de produção e consumo abre portas para
analisar também o surgimento de outros vírus, aumentando o risco da vida no
planeta.
Apesar das ideologias de grupos dominantes dificultarem o desoculta-
mento da realidade, a epistemologia do ciclo de políticas demonstra que as
políticas não são simplesmente implementadas, e podem ser ressignificadas no
contexto escolar, produzindo efeitos, tanto no que se refere à dinâmica própria
de cada instituição, quanto às mudanças extraescolares, influenciando nas polí-
ticas públicas. Trata-se de uma práxis, na perspectiva dialógica-dialética de
Freire, a ser continuamente construída por todos os professores e professoras,
para que se avance no processo civilizatório. A leitura crítica da Carta da Terra
e seus princípios pode se constituir como instrumento de luta, fundamentando
a construção de um Projeto Político-Pedagógico crítico-transformador, contri-
buindo ativamente com um modelo de civilização sustentável.
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Pedagogia da Carta da Terra
Referências
ALVES, J. E. D. Os ODS apresentam uma boa intenção, mas vendem uma grande
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BALL, S. J.; MAGUIRE, M.; BRAUN, A. Como as escolas fazem as políticas: atua-
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Ivo Dickmann & Ana Paula Guimarães
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versidade Federal do Acre. 15 a 17 de junho 2021. Disponível em:
https://www.seminariosregionaisanpae.net.br/numero9/Comunicacao/EIXO
%201%20PDF/PedroGoncalvesMota-E1com.pdf. Acesso em dez. 2021.
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Síntese do Texto
Uma palavra
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Uma frase
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Um parágrafo
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Imagem Pedagógica
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Pedagogia da Carta da Terra
Introdução
A sociedade contemporânea encontra-se diante de um crescimento
sem precedentes da população humana, que tem sobrecarregado os sistemas
ecológico e social por meio de padrões de produção e consumo que estão cau-
sando devastação ambiental, redução dos recursos, mudanças atmosféricas e
uma massiva extinção de espécies. Autores como Capra (1996), Giddens
(1991), Leff (2001), dentre outros, costumam chamar esse cenário em que nos
encontramos de “crise ecológica” ou “civilizatória”, incluindo aí fatores ambien-
tais e sociais.
Entretanto, a humanidade só tomou maior consciência desta crise so-
cioambiental em que nos encontramos, em meados da década de 60, quando se
percebeu que os problemas ambientais gerados por nossa sociedade represen-
tam uma ameaça real à sobrevivência da vida no planeta como a conhecemos
atualmente.
Um dos marcos para esta tomada de consciência de uma forma mais
global, foi a publicação do livro Primavera Silenciosa (Silent Spring), pela jorna-
lista e bióloga Rachel Carson, cuja primeira edição de 1962 abordava os impac-
tos sobre os recursos naturais e sobre a saúde humana causados pelo uso indis-
criminado e excessivo de produtos químicos voltados ao controle de insetos e
outros artrópodes, principalmente na agricultura. No livro citado a autora críti-
ca e demonstra com base em numerosos exemplos reais, os efeitos nocivos do
Dicloro-Difenil-Tricloroetano (DDT), inseticida amplamente utilizado na época,
e que com a polêmica de sua obra foi retirado de circulação devido a seus efei-
tos cancerígenos e bioacumulativos (MARCOLIN, 2002; CARSON, 2010).
A partir de então, deu-se início à realização de diversas conferências
mundiais com a criação de tratados e documentos acerca da temática ambien-
tal, tais como a reunião do Clube de Roma, onde cientistas e empresários se
reuniram para elaborar o relatório conhecido como “Limites de Crescimento”
publicado no ano de 1972, alertando para impactos de um crescimento econô-
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Ivo Dickmann & Ana Paula Guimarães
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Pedagogia da Carta da Terra
1 Apesar de a literatura registrar que já se ouvia falar em educação ambiental desde meados da
década de 1960, atribui-se também à Conferência de Estocolmo (1972) a responsabilidade por
estabelecer a temática da educação ambiental no cenário internacional; e à Carta de Belgrado
(1975) como um marco conceitual na sua estruturação.
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Pedagogia da Carta da Terra
Procedimentos metodológicos
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estrutura principal (mas não única) da entrevista: 1) O que você achou da expe-
riência de conhecer e jogar o Jogo da Carta da Terra? 2) Como você se sentiu ou
que coisas você refletiu ao jogar o Jogo da Carta da Terra? 3) O que você mais
gostou no Jogo da Carta da Terra? 4) O que você não gostou do Jogo da Carta da
Terra?. Uma última questão feita apenas para o grupo de professores e o grupo
de estudantes abordava se o entrevistado utilizaria o jogo como prática e fer-
ramenta pedagógica, seus prós e contras neste aspecto. As entrevistas foram
gravadas com consentimento do participante, para posterior transcrição e utili-
zação dos dados.
Para a organização e análise das respostas obtidas nas entrevistas, ado-
tou-se as etapas da análise de conteúdo conforme descritas por Bardin (2016),
onde na etapa de categorização buscou-se identificar as categorias de opiniões
que emergiam em cada pergunta. Como ilustração, para os resultados foram
selecionadas e apresentadas as respostas mais representativas destas categori-
as de opiniões para cada pergunta.
Como etapa final houve a compilação e análise dos dados obtidos com a
utilização das entrevistas individuais com participantes, e com as anotações das
observações com intuito de conhecer e apresentar a efetividade do jogo como
ferramenta de conscientização socioambiental. Estas informações foram siste-
matizadas também de forma a compor uma avaliação do jogo por parte dos
participantes.
Resultados e discussão
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Pedagogia da Carta da Terra
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Ivo Dickmann & Ana Paula Guimarães
dessa maneira eu estou lavando minha roupa e eu estou economizando pois não
preciso comprar sab~o.” (Participante 1).
Em relação a utilização do Jogo da Carta da Terra como prática peda-
gógica:
“Como está ali não, eu faria adaptações nas regras inclusive nas cartas
eu faria adaptações, para poder jogar, senão não conseguiria.” (Participante 3)
“Eu vou procurar praticar l| na minha sala de aula e na minha casa
com minhas filhas”. (Participante 1).
“Toda experiência enquanto você pensa em jogo é bastante válida. O
Jogo da Carta da Terra é uma atividade interessante, pois ela se trata de uma
metodologia ativa, no entanto há que ter um preparo, tanto do professor como
um grau de maturidade dos alunos.” (Participante 3).
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Pedagogia da Carta da Terra
tas retiradas do jogo como ocorreu, por exemplo, com uma carta que solicitava
que cada jogador citasse uma qualidade do jogador ao seu lado direito, e com a
carta que solicitava que quem a retirou desse um abraço caloroso em cada um
dos participantes. Estas atividades demonstram algumas das propriedades do
Jogo da Carta da Terra em integrar o grupo e exercitar o respeito e a fraterni-
dade.
Com o decorrer do jogo foi possível perceber uma visível melhora no
semblante e na comunicação entre os participantes proporcionando uma des-
contração e aumento da autoestima nos presentes. Tal fator se deu por inter-
médio do potencial proporcionado pelo caráter colaborativo do jogo, pois atra-
vés desses tipos de jogos se pode criar nos participantes vínculos e atitudes
positivas que visem o bem-estar do grupo e incentiva assim uma visão empática
em relação ao outro por meio de troca de experiências, aprendizagem e emo-
ções. Pois ao se jogar de maneira cooperativa se capacita os jogadores a perce-
ber situações problemas e criar estratégias e soluções de forma coletiva (SILVA
et al., 2012).
Como observado uma das vantagens do jogo educativo é a de propor-
cionar um entrosamento dos participantes e assim permitir que fiquem mais
descontraídos. Além disso a oficina contou com a participação de uma criança
entre as idosas e com isso pode se perceber uma total ambientação entre elas.
Portanto, no Jogo da Carta da terra observou-se que a diferença de idade entre
os participantes não foi impedimento para que as discussões acontecessem de
forma satisfatória, pelo contrário, elas foram enriquecidas.
Após esse momento os integrantes se tornaram mais participativos,
estabelecendo debates surgidos a partir de questões apontadas no jogo tais
como a preservação de áreas verdes como forma de preservar as nascentes de
água. Esse assunto foi plenamente debatido por todas as participantes pois a
maioria compartilhou que trabalhou em algum momento com a agricultura.
Assim como com o primeiro grupo, outro tema abordado foi o preconceito com
a mulher e como isso ainda se encontra enraizado na nossa sociedade. Essa
parte suscitou depoimentos das participantes que alegaram já terem sofrido
preconceito por serem mulheres. Outra questão abordada, bastante pertinente,
foi a corrupção e como a população é prejudicada por conta dos desvios de
verbas por parte dos governantes. Mas apesar das críticas, as participantes
demostraram dificuldade em verbalizar e propor ações e mudanças tanto para
si quanto para o coletivo neste tema da corrupção.
Percebe-se que as questões debatidas são bastante correlatas à EA,
pois viabiliza que o sujeito pense em seu cotidiano a as relações ser huma-
no/natureza, para se levar a uma reflexão do que é realmente necessário, tra-
tando de demandas oriundas da própria comunidade e das demandas percebi-
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Ivo Dickmann & Ana Paula Guimarães
das por eles próprios. Dessa forma o Jogo da Carta da Terra tal como a EA não
se restringe somente ao âmbito escolar, mas à sociedade como um todo, com o
objetivo de reconhecer as principais dificuldades enfrentadas atualmente a fim
de viabilizar uma mudança socioambiental (COSTA et al., 2017).
Em resposta a questão da experiência de conhecer e jogar o Jogo da
Carta da Terra houve os seguintes comentários:
“Achei interessante porque é uma maneira de você aprender com o outro,
o jeito como ele cuida da Terra, do meio ambiente em que ele vive… se você n~o
cuidar do local em que você vive n~o ter| nada futuramente.” (Participante 5)
“Eu gostei, foi muito interativo. Foi bom para a mente porque a gente fica
com a mente parada, foi uma coisa nova que eu nunca tinha visto isso, que isso
pra mim não existia. E por meio de uma brincadeira saiu algo muito sério.” (Par-
ticipante 4)
“Eu gostei, mas a gente nunca vê isso aí, foi bom… parece que a mente da
gente fica, sei l|, mais desperta…. Porque na idade da gente vai só deixando, aí
assim desperta a gente.” (Participante 6)
Os participantes também pontuaram atitudes que teriam a partir da
reflexão provocada pelo jogo:
“Ele n~o joga só a parte do meio ambiente, ele joga o meio no qual você
vive então você não tem só terra e água você tem pessoas para lidar, e o ser hu-
mano e acaba se tornando complicado porque a gente n~o é igual… A gente tem
que pensar que no meio em que a gente vive n~o pode haver preconceitos.” (Parti-
cipante 5)
“Foi o momento de falar sobre a Terra, n~o cortar as |rvores, n~o jogar
as coisas no rio porque vamos precisar da água, né? Porque no fundo tudo perten-
ce { Terra. N~o é um jogo, se torna realidade na vida da gente.” (Participante 4)
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Pedagogia da Carta da Terra
las plásticas utilizadas para embalar as compras durante um dia, gerando assim
uma discussão sobre o destino dessas sacolas. Muitos dos presentes alegaram
que as utilizam como saco de lixo. Uma participante que morou no Japão rela-
tou como era tratada a problemática do lixo naquele país, fazendo uma compa-
ração com o Brasil e relacionando com as diferenças nas culturas, trazendo
novos conhecimentos ao grupo.
Outro tema abordado e que proporcionou uma discussão entre os par-
ticipantes foi referente aos resíduos sólidos, principalmente os orgânicos que
são encontrados em grande quantidade nos lixões e aterros e produzem grande
quantidade de chorume em sua decomposição, poluindo solo e lençóis freáticos
do entorno. Tal questionamento foi gerado quando um dos participantes teve a
tarefa (ocasionada por uma carta do jogo) de ensinar aos demais uma receita
que utiliza cascas de frutas e verduras, tendo o participante ensinado uma re-
ceita de farofa que se utilizava de cascas de banana. Houve então uma reflexão
com ponderação de todos os participantes sobre o que é desperdiçado e pode-
ria ser reutilizado de alguma maneira. Ainda neste tema, foi discutido sobre a
atual situação do aterro sanitário do município dos participantes, que atingiu
seu nível máximo, problema recorrente nas cidades brasileiras devido a exces-
siva produção de lixo e falta de áreas que atendam a especificidade necessária
para acolher esses resíduos por isso a pertinência em discutir como nossas
atitudes impactam diretamente o meio em que vivemos (SOUZA et al., 2018).
O jogo proporciona esses momentos de construção conjunta de conhe-
cimentos, sempre de maneira a conduzir o jogador a ponderar sobre as situa-
ções de forma independente. Promovendo um crescimento da consciência
socioambiental, ponderando sobre o papel decisivo da população na cobrança a
implementação de políticas públicas que visem a sustentabilidade os tornando
corresponsáveis na fiscalização e monitoramento dos causadores da degrada-
ção ambiental (JACOBI, 2003).
Em resposta a questão da experiência de conhecer e jogar o Jogo da
Carta da Terra os participantes mencionaram:
“Eu achei uma forma din}mica, n~o aquele sistema que estamos só acos-
tumados a pegar o livro e escutar e não dar sua opinião, mas foi uma forma di-
n}mica, uma forma divertida onde todo mundo riu, todo mundo deu sua opini~o.”
(Participante 7)
“Eu já tinha ouvido falar da Carta da Terra e quando vi no site sobre a
oficina achei interessante, achei que daria pra usar em sala de aula por isso que
eu vim e foi uma experiência maravilhosa.” (Participante 8)
Os participantes também pontuaram atitudes que teriam a partir da
reflexão provocada pelo jogo:
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Ivo Dickmann & Ana Paula Guimarães
“Isso nos faz pensar um pouco sobre o que estamos fazendo em prol da
Terra realmente, o que estamos fazendo o que estamos deixando de fazer. E a
gente poderia fazer mais, ou poderia fazer melhor, porque conversar sobre isso
nos leva a reflexão das nossas ações.” (Participante 9)
“Eu vi que ainda sou muito falha na quest~o de preservar, reciclar, ain-
da tenho um caminho muito grande. Mas não só eu, todos. Acabamos (no jogo)
também trocando experiências, vendo coisas ali, conversando, e essas coisas eu
vou levar pra vida.” (Participante 8)
Em relação a utilização do Jogo da Carta da Terra como prática peda-
gógica:
“Com a turma que estou estagiando hoje n~o daria porque eles s~o
muito pequenos para jogar o jogo em si, mas já estou com um monte de ideias
alguma coisa voltada para preservação, porque quando a gente vem, vem sempre
buscando alguma coisa.” (Participante 8)
“Sim porque principalmente para as crianças eles n~o iam saber muito,
só que a gente passando alguma coisa, pois eles já têm um tipo de vivência. E é
bom porque mesmo o que eles não têm de bagagem nós podemos passar, a gente
pode estar melhorando a conscientizaç~o deles.” (Participante 9)
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Pedagogia da Carta da Terra
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Ivo Dickmann & Ana Paula Guimarães
Considerações finais
Como pôde ser visto pela descrição do desenrolar do jogo com os três
diferentes grupos, o jogo alcança de fato proporcionar diálogos, reflexões trocas
e construções conjuntas de conhecimentos acerca de questões socioambientais
que são atuais e que permeiam o cotidiano dos participantes, trazendo consigo
os princípios da Carta da Terra e apresentando este documento pouco a pouco
através de suas cartas. Junto a isso, e através das colocações dos participantes
em entrevistas, é possível perceber que o jogo fez com que os participantes
entendessem que as questões socioambientais são também de responsabilida-
de deles como indivíduos, que podem atuar em suas vidas, em seu entorno
imediato, mas também atuar no macro ao exercer sua cidadania com mais co-
nhecimento e autonomia.
Assim, o jogo mostra ao participante que ele não só deve, como ele
pode agir. Ao longo das trocas de experiências e diálogos estabelecidos, os par-
ticipantes ensinam uns aos outros como solucionar alguns desafios e proble-
mas, como a que órgão da prefeitura recorrer, por exemplo, trocando assim
informações ricas que os empoderam e podem os tirar da inércia que muitas
vezes ficamos com a impotência que sentimos perante problemas socioambien-
tais que parecem ter uma dimensão tal que não podemos contribuir com as
soluções.
Com estas vivências de jogar e mediar o jogo com diferentes públicos,
esta equipe conclui que de um grupo de participantes muitas vezes desconheci-
dos e que iniciam jogando timidamente, ao final sai um grupo de bons amigos
com rostos iluminados, que deram boas risadas, partilharam de momentos
agradáveis, somaram saberes e conheceram coisas novas sobre o planeta, e seu
sistema de vida. De acordo com os relatos apresentados neste trabalho, que são
apenas uma amostra de toda a experiência do jogo, depreende-se que os conhe-
cimentos proporcionados pelo conteúdo das cartas do jogo e os que emergem
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Pedagogia da Carta da Terra
das experiências que o jogo incentiva que os participantes troquem, são conhe-
cimentos aprofundados acerca das questões ambientais e sociais da atualidade
e que vão se entrelaçando ao longo do jogo, mais típicos da EA crítica, princi-
palmente se o mediador conduzir os participantes a trabalha-los bem.
Os conhecimentos proporcionados pelo jogo foram construídos da
forma leve e divertida, que é o objetivo dos jogos didáticos. Por isso concluímos
que o Jogo da Carta da Terra alcança ser um jogo didático para fins de sensibili-
zação socioambiental, principalmente. Um outro ponto muito positivo do jogo,
como visto, é que ele é bastante flexível, alcançando os mesmos propósitos com
públicos de diferentes idades e formações. Entretanto ressalta-se a necessidade
de um mediador experiente que este jogo exige em cada tabuleiro.
Assim como pontuado em uma das falas dos participantes que colocou
que o jogo requer uma maturidade dos jogadores (no sentido de querer jogar,
estar presente no jogo), a equipe que conduziu este trabalho incentiva que seja
conduzida uma pesquisa acerca da percepção sobre o Jogo da Carta da Terra
com estudantes de Ensino Fundamental e Médio, a fim de verificar se estes
públicos mais afeitos a jogos eletrônicos também teriam o mesmo nível de par-
ticipação e apreço pelo jogo. Uma vez que esta equipe entende que neste traba-
lho atuou-se com públicos com perfil que tenderiam a uma melhor aceitação do
jogo.
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Referências
CALISTO, A.; BARBOSA, D.; SILVA, C. Uma Análise Comparativa entre Jogos Edu-
cativos Visando a Criação de um Jogo para Educação Ambiental. Brazilian
Symposium on Computers in Education (Simpósio Brasileiro de Informá-
tica na Educação - SBIE), [S.l.], out. 2010. Disponível em:
<http://ojs.sector3.com.br/index.php/sbie/article/view/1439>. Acesso em: 06
jan. 2020.
COSTA, T. da S.; CARIZIO, B. G.; RASZI, S. M.; RODRIGUES, S.T. Jogo de tabuleiro:
ferramenta para o ensino de educação ambiental. Cadernos de Educação:
Ensino e Sociedade, Bebedouro SP, v. 1, n. 4, p.350-367, 10 maio 2017.
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Síntese do Texto
Uma palavra
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Uma frase
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Um parágrafo
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Imagem Pedagógica
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Introdução
Os problemas ambientais apontam o enorme descaso das atividades
culturais para com o meio ambiente. Estes problemas, advindos das mais
diferentes areas da produçao humana, precisam uma especial atençao por
parte de entidades educadoras para que possam promover uma educaçao que
possibilite a construçao de uma sociedade sustentavel.
Por isto, buscou-se, com esta pesquisa, experimentar um programa de
capacitaçao que possibilitasse aos professores - e a outros profissionais
ligados a Educaçao Ambiental (EA) - conhecimento e experiencias com os
principais documentos referencia da EA que sao: a Lei Nº 9795/99 (BRASIL,
1999), a Carta da Terra (1992) e o Tratado de Educaçao Ambiental para
Sociedades Sustentaveis e Responsabilidade Global (FORUM INTERNACIO-
NAL DAS ONG’s, 1992).
E necessario que se compreenda como foi o processo de construçao
da EA por diferentes coletivos e como esta se tornou uma pratica legítima e
interdisciplinar, possibilitando melhorar a qualidade da aplicaçao da EA.
Entre muitos outros documentos importantes que fundamentam a
EA, estes foram selecionados, pois: o primeiro legitima a EA no Brasil; o
segundo, foi elaborado em importante Forum, com a participaçao de diversas
Organizaçoes Nao Governamentais (ONG’s) e fundamenta o Programa
Nacional de Formaçao de Educadores Ambientais (ProFEA), do Ministerio do
Meio Ambiente (MMA); e o ultimo, e um documento que envolve a
sociedade civil mundial, que tambem surgiu de evento paralelo a Conferencia
das Naçoes Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Eco 92), o
Forum das ONG’s, agrupando ideias de pessoas e de diferentes grupos de
mais de 120 países.
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2 PR - Projetos
3 DE – Disciplinas Especiais
4 ITAD – Inserção da Temática Ambiental na Disciplina
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Trabalha principalmente com oque sabe Trabalha com o saber do(a) outro(a) eo
que não sabe
Razão (lado esquerdo do cérebro) Intuição, emoção (lado direito docérebro) equi-
librada com razão
O(a) outro(a) entra no meu mundo Eu compartilho o mundo com o(a) outro(a)
Fechado(a) em si e no seu próprio mundo Eu faço parte de um todo maior
Predomina a expiração(eu sei > o outro não Expiração e inspiração equilibrados
sabe) (sabemos e não sabemos)
Eu decido / Eu / Ego-ação Nós decidimos / Equipe / Eco-ação
Hierarquia Horizontalidade, policentrismo, redes
Disciplina: fragmentação Interdisciplinaridade: holos
Fonte: Munhoz, 2004, p. 151.
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Pedagogia da Carta da Terra
interdisciplinar consiste num tema, objeto ou abordagem em que duas ou mais dis-
ciplinas intencionalmente estabelecem nexos e vínculos entre si para alcançar um
conhecimento mais abrangente, ao mesmo tempo diversificado e unificado [...]
Cada disciplina, ciência ou técnica mantém a sua própria identidade [...] É essenci-
al na interdisciplinaridade que a ciência e o cientista continuem a ser o que são,
porém intercambiando hipóteses, elaborações e conclusões (COIMBRA, 2000, p.
58).
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Pedagogia da Carta da Terra
Metodologia
Para o desenvolvimento do programa foram realizadas as seguintes
atividades:
- Elaboração do plano de curso;
- Estabelecimento de parceria entre o Projeto Apoema – Educação
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Pedagogia da Carta da Terra
Resultados e discussão
Em início de dezembro de 2009, no ambiente virtual do Projeto
Apoema – Educaçao Ambiental, foram abertas pre-inscriçoes para interes-
sados em participar do programa de capacitaçao a distancia.
Em duas semanas foram recebidas 50 pre -inscriçoes. Como a meta
era alcançar 50 pre-inscritos, as pre-inscriçoes encerraram-se no dia 18 de
dezembro de 2009.
Em janeiro de 2010, os pre-inscritos receberam, via e-mail, o plano
do curso e a ficha de inscriçao que deveria ser preenchida e entregue por e-
mail ou por agencia de correio, ate o dia 15 de fevereiro de 2010.
Destes 50 pre-inscritos, 27 enviaram a ficha de inscriçao em tempo,
representando a participaçao de 57% dos interessados iniciais e destes 27
inscritos, somente 21 começaram a fazer o curso, representando 77% dos
inscritos no programa.
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Ceará – CE X 00 X X
Distrito Federal - X 00 X X
DF
Espírito Santo – ES X 00 X X
Goiás – GO Goiânia 01 Analista Sim
Microbiológico
Maranhão – MA Santa Luzia 01 Professor Sim
do Paruá
Mato Grosso – MT X 00 X X
Mato Grosso do Sul X 00 X X
– MS
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Pedagogia da Carta da Terra
Rio Grande do X 00 X X
Norte – RN
Sergipe – SE X 00 X X
Tocantins - TO X 00 X X
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- Material escolhido para o curso. - Pouco tempo para ler e analisar os textos.
- Ambiente virtual de aprendizagem. - Falta de retorno sobre as atividades reali-
zadas.
- Conteúdos fornecidos.
- Problemas em acessar a página do curso.
- Curso muito bem elaborado a partir de textos atu-
ais e temas ricos com muitas possibilidades de dis- -
Fórum desorganizado - com vários tópicos
cussão. para responder a mesmaquestão.
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Pedagogia da Carta da Terra
Conclusões
A pesquisa bibliografica, bem como a aplicaçao do programa de
capacitaçao desenvolvido, possibilitou obter resultados valorosos para o
aprimoramento da Educaçao Ambiental. Sem duvida a experiencia propor-
cionou aos professores - e a outros profissionais ligados a EA -, maior conhe-
cimento e reflexoes com os principais documentos referencia, favorecendo
melhorar a qualidade de sua aplicaçao.
A partir dos resultados dessa pesquisa exploratoria e do estudo de
caso e possível afirmar que o programa promove, sim, a melhoria da
qualidade da pratica da EA, uma vez que:
• Favorece aos professores e outros profissionais ligados à EA conhe-
cerem, de forma mais aprofundada, os documentos referência de EA
que balizam essa prática educativa.
• Compreende-se que os espaços educacionais onde atuam estes pro-
fissionais que participaram do programa alcançarão melhores resul-
tados em suas práticas pedagógicas, oportunizando o alcance dos
objetivos da EA, explícitos em seus documentos referência.
• Os docentes e profissionais que participaram do programa estão
mais seguros para desenvolver a EA de forma alinhada aos princí-
pios e objetivos que a norteiam.
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Referências
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Síntese do Texto
Uma palavra
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Uma frase
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Um parágrafo
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Introdução
O Direito dos Animais e um tema que nao encontra raízes no
ordenamento jurídico brasileiro, uma vez que a doutrina e muito pouca em
relaçao a ele e a legislaçao demasiada escassa. Vale ressaltar que este trabalho
delimita-se aos animais domesticos, de companhia, especificamente caes e
gatos.
Com a crescente alusao da mídia aos maus tratos sofridos pelos animais
domesticos, bem como o abandono dos mesmos verificado pela grande
populaçao de caes e gatos nas ruas, apura-se grande descompasso na
resoluçao desse problema no Brasil comparado com outros países, como os
Estados Unidos ou a Suíça, que possuem estatutos eficientes de proteçao a
esses animais.
A tutela desses animais nao e feita de forma responsavel ao passo que
nao raro sao encontrados caes abandonados ou caixas com filhotes de gatos
pelas ruas.
Dados do ABINPET – Associaçao Brasileira da Industria de Produtos
para Animais de Estimaçao do mes de novembro de 2011 estimam em 58,6
milhoes a populaçao de caes e gatos no Brasil, sendo 36.8 milhoes de caes e
21.8 milhoes de gatos. Essa pesquisa ressalta que 71% das residencias tem cao
e 17,5% dos lares tem gato.
E de acordo com a WSPA (Sociedade Mundial de Proteçao Animal)
estima-se que 75% dos caes do mundo estejam nas ruas. Percebe-se aí que ha
um gerenciamento falho dessa populaçao por parte da sociedade, o que traz
serias implicaçoes tanto para a saude publica quanto para o bem-estar animal.
Essa superpopulaçao decorre de varios fatores, dentre eles, o abandono
de animais nas ruas e a falta de controle de natalidade. Uma cadela, com
perfeito sistema reprodutor, reproduz num período de vida medio de 10 anos
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Pedagogia da Carta da Terra
cerca de 108 filhotes, considerando que metade deles sejam femeas, ja pode-se
chegar a um numero final de 5.832 caes. O mesmo fato acontece com os gatos.
Acontece que muitas pessoas ao adotarem animais ou mesmo comprarem, nao
tem a devida responsabilidade de evitar essa reproduçao desordenada, e
muitas das vezes abandonam os animais nas ruas, sem nem mesmo
preocupar-se com seu destino. A açao correta a ser feita nesses casos seria a
esterilizaçao ou castraçao daquele animal, pois mesmo que a pessoa
assumisse os filhotes de uma gestaçao, seria impossível mante-los todos no
mesmo lugar.
Alem disso, abandonar um animal na rua trata-se de maus tratos,
puníveis pela Lei Federal Nº 9.605/1998. Ao abandona-lo a pessoa assume o
risco de que ele podera nao conseguir alimentos necessarios, de que podera
ser atropelado, adquirir doenças e transmitir doenças, e mesmo que podera se
envolver em confrontos com outros animais, podendo machucar-se ou mesmo
vir a obito.
Porem, os maus tratos nao se consolidam somente no abandono, muitos
animais domesticos que vivem dentro de casa tambem sao vítimas de maus-
tratos, como e o caso da cadela de raça Yorkshire, morta em novembro de
2011, em Goias, quando sua “dona”, uma enfermeira, foi filmada agredindo-a
ate a morte, na frente de sua filha de 1 ano e 6 meses. Assim como esse,
muitos outros casos repercutem na mídia todos os dias no Brasil.
Como anteriormente descrito, a tutela desses animais nao e feita de
forma responsavel, pois, no cotidiano, muitas arbitrariedades sao praticadas
pelo homem que nao respeitam a dignidade desses seres indefesos, ao
promoverem toda sorte de abusos, maus tratos e crueldade quando nao os
abandonam expondo-os a inumeros riscos.
Em face do problema do abandono e superpopulaçao, as sociedades
foram criando políticas publicas que visavam sua resoluçao. Ate a decada de
90 elas estavam mais voltadas para combater a disseminaçao de doenças. E a
partir de 90, houve a percepçao de que a presença dos animais nas ruas era
originada principalmente pela alta taxa de natalidade.
Dessa maneira, as autoridades passaram a se preocupar com a questao
da superpopulaçao causada pelo abandono. Dessa forma, dividem-se em duas
as etapas as políticas ate entao adotadas: a primeira intitulada como fase de
captura e extermínio; e a segunda etapa, que e a fase da prevençao ao
abandono.
Porem, nao houve um corte entre as duas condutas. Em fato, essas
metodologias coexistem na maioria das vezes. O ideal seria deixar de adotar a
primeira para usar apenas a segunda, pelo fato de ser mais eficiente e
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1º) Captura e eliminação não é eficiente (do ponto de vista técnico, ético e eco-
nômico) e reforça a posse sem responsabilidade;
2º) Prioridade de implantação de programas educativos que levem os proprietá-
rios de animais a assumir seus deveres, com o objetivo de diminuir o número de
cães soltos nas ruas e a consequente disseminação de zoonoses;
3º) Vacinação contra a raiva e esterilização: métodos eficientes de controle da
população animal
4º) Socialização e melhor entendimento da comunicação canina: para diminuir
agressões;
5º) Monitoramento epidemiológico.
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Art. 32. Praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres,
domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos.
Pena: detenção, de três meses a um ano, e multa.
§1º Incorre nas mesmas penas quem realiza experiência dolorosa ou cruel em
animal vivo, ainda que para fins didáticos ou científicos, quando existirem recur-
sos alternativos.
§2º A pena é aumentada de um sexto a um terço, se ocorre morte do animal.
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Ve-se que escassos sao os dispositivos federais que tratam da tu- tela
jurídica dos animais, em especial dos animais domesticos, seres esses que
vem ganhando tanto espaço nas famílias brasileiras e tambemna mídia.
O Decreto Nº 6.514, de 22 de Julho de 2008, trata das Infraçoes
Administrativas Ambientais, e traz em seu art. 29: “Praticar ato de abuso,
maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domesticos ou domes-
ticados, nativos ou exoticos: Multa de R$ 500,00 (quinhentos reais) a
R$ 3.000,00 (tres mil reais) por indivíduo”. Quer dizer, alem da pena de
detençao, ha tambem a sançao administrativa de multa.
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4. Educação Ambiental
A Lei Nº 9.795, de 27 de abril de 1999, dispoe sobre a educaçao
ambiental e institui a Política Nacional de Educaçao Ambiental. A educaçao
ambiental e o processo de aprendizagem sobre como deve ser melhorada a
relaçao de interdependencia entre o ser humano e o meio ambiente.
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5. Guarda responsável
Primeiramente cabe distinguir o termo guarda de posse responsavel. A
importancia da distinçao de posse responsavel para guarda responsavel
abrange mais que uma questao de estetica. O emprego do termo posse
apresenta uma ideia de que o animal ainda e considerado um objeto, uma
coisa, que possui um proprietario, visao essa considerada superada no
ambito dos protetores dos animais, visto que o animal e um ser que sofre,
tem necessidades a serem supridos e direitos a serem respeitados.
Assim, a guarda responsavel diz respeito a toda a responsabilidade
que alguem deve assumir ao adotar um animal de estimaçao. O ato de
adquirir um animal deve ser avaliado por todos os moradores da casa, pois e
uma relaçao que pode durar de 15 (quinze) a 20 (vinte) anos.
A avaliaçao que deve ser feita antes de adquirir um animal, deve
considerar que existirao momentos críticos, como a mudança para um
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Considerações finais
Animais domesticos estao presentes na maioria dos lares brasileiros,
entretanto, possuir um desses animais requer responsabilidade. Todos
necessitam, alem de alimentaçao adequada e cuidados medicos, o mínimo de
atençao de seus proprietarios.
Apesar da devida regulamentaçao legislativa, inumeros sao os casos
de maus tratos de animais domesticos que sao considerados praticas
criminosas previstas no artigo 32 da Lei Federal dos Crimes Ambientais
(Lei Nº 9.605/98), com pena de reclusao de 3 (tres) meses a 1 (um) ano.
Porem, a realidade de puniçao desses crimes e diferente de qualquer
outro. Nao existem polícias especializadas e nem orgaos efetivos de controle
que estejam dedicados somente a tutela dos animais.
O problema maior consubstancia-se na visibilidade e eficacia da lei
ambiental, cujo artigo supracitado considera crime abusar e maltratar
animais. A criaçao de promotorias de defesa animal no País certamente
colocaria em pratica as previsoes legais que tutelam os animais.
Assim, e possível que a cultura tradicional antropocentrica mude, de
modo a aceitar a inclusao dos animais na esfera das consideraçoes morais
humanas. A questao, portanto, nao e apenas jurídica, mas, sobretudo,
educacional.
E nesse patamar que entra a importancia da Educaçao Ambiental
voltada para a Guarda Responsavel dos animais. O Estado deve implantar
essa educaçao na sociedade a partir das crianças, aproveitando a fase onde
desenvolvem seu carater, de forma a ensinar-lhes que os animais tem direito
a vida, e a vida digna.
A conscientizaçao acerca do tema e de extrema importancia dado que
se trata de seres viventes, nao de vidas humanas, mas vidas que da mesma
maneira, sofrem, e sofrem mais intensamente porque nao podem falar, nem
mesmo defender a si proprios. E preciso para que haja a aplicaçao da
verdadeira justiça, que ocorra a extensao do conceito de dignidade aos
outros seres capazes de sentir e de sofrer. Esse seria o maior avanço ja
conquistado pela sociedade que refletiria, sobretudo no aspecto da
moralidade, de forma a trazer um tratamento igualitario e digno a todos os
seres vivos.
O crescimento do movimento de defesa animal no Brasil com a
participaçao intensa de organizaçoes nao governamentais, sem duvida, e um
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Referências
103
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<http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/1095580-juristas-aprovam-pena-
4- vezes-maior-para-quem-maltratar-animais.shtml>. Acesso em: 21 nov.
2013.
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. Carta da Terra.
Disponível em:
<www.cartadaterrabrasil.org/prt/text.html>. Acesso em: 13 jun. 2014.
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Síntese do Texto
Uma palavra
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Uma frase
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Um parágrafo
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Imagem Pedagógica
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“[…] basta mirar la realidad con sinceridad para ver que hay un gran deterioro de
nuestra casa común. La esperanza nos invita a reconocer que siempre hay una sa-
lida, que siempre podemos reorientar el rumbo, que siempre podemos hacer algo
para resolver los problemas. Sin embargo, parecen advertirse síntomas de un pun-
to de quiebre, a causa de la gran velocidad de los cambios y de la degradación, que
se manifiestan tanto en catástrofes naturales regionales como en crisis sociales o
incluso financieras, dado que los problemas del mundo no pueden analizarse ni
explicarse de forma aislada. Hay regiones que ya están especialmente en riesgo y,
más allá de cualquier predicción catastrófica, lo cierto es que el actual sistema
mundial es insostenible desde diversos puntos de vista, porque hemos dejado de
pensar en los fines de la acción humana.”
Laudato si’, (61) Francisco Primero
Introducción
Considero necesario señalar desde donde me sitúo al presentar las re-
flexiones que busco compartir en este artículo. Creo que la gravedad de los
problemas sociales y ambientales que estamos enfrentando son de tal magnitud
que es fundamental, desde una perspectiva ético política, sumar fuerzas, agre-
gar voluntades y convicciones, dadas las urgencias y la magnitud de los esfuer-
zos que será necesario desarrollar para lograr revertir el rumbo suicida en el
cual como humanidad estamos embarcados.
Años atrás, Humberto Maturana al prologar mi libro Desarrollo humano
y ética para la sustentabilidad señaló lo siguiente:
“Si de hecho nos diésemos cuenta de que vivimos enajenados en creernos seres
primariamente racionales cuando lo fundamental es nuestro ser emocional, si de
hecho nos diésemos cuenta de que la potencia y efectividad de nuestros argumen-
tos racionales depende de las premisas básicas aceptadas a priori que los fundan y
de los deseos que nos orientan en su uso, entonces, frente a una discrepancia con
otro ya no buscaríamos más con-vencerlo con nuestros argumentos sino que sola-
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5 Esta es la segunda encíclica publicada por Francisco, después de Lumen fidei, de 2013, sin
embargo ésta fue escrita en gran parte por Benedicto XVI, por lo que Laudato si' es la primera
encíclica escrita completamente por Francisco.
6 Hago referencia a la escuela de pensamiento que es posible atribuir a Francisco de Asís. Creo
necesario recordar que no sólo creó una orden religiosa, con una especificidad (vocación o carisma)
de preocupación por los pobres y por la Naturaleza. Fue un adelantado a su época y marcó una
preocupación sustantiva, al punto de dedicar su vida a ello, por los pobres y por la naturaleza
(Creación haciendo uso del lenguaje teológico). “La solidaridad franciscana es amplia; proviene de
una conciencia que se sabe responsable de todo el mundo y del respeto por la integridad de la
creación: somos hermanos de todos los pueblos y de todas las culturas. Una solidaridad global es
hoy aún más urgente porque las fuerzas del mercado de la economía global dan un significado
distinto y trágico a las palabras de Jesús: «a quien tiene, se le dará más todavía (...), pero al que no
tiene, se le quitar| aun lo que tiene» (Mt 13,12).”
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"Es custodiar toda la creacion, la belleza de la creacion, como se nos dice en el libro
del Genesis y como nos muestra san Francisco de Asís: es tener respeto por todas
las criaturas de Dios y por el entorno en el que vivimos”.
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“frente al deterioro ambiental global, quiero dirigirme a cada persona que habita
este planeta. En mi exhortación Evangelii gaudium, escribí a los miembros de la
Iglesia en orden a movilizar un proceso de reforma misionera todavía pendiente.
En esta encíclica, intento especialmente entrar en diálogo con todos acerca de
nuestra casa común.” (El destacado es mío).
“se refirió a la problemática ecológica, presentándola como una crisis, que es « una
consecuencia dramática » de la actividad descontrolada del ser humano: « Debido a
una explotación inconsiderada de la naturaleza, [el ser humano] corre el riesgo de
destruirla y de ser a su vez víctima de esta degradación». También habló a la FAO
sobre la posibilidad de una «catástrofe ecológica bajo el efecto de la explosión de la
civilización industrial», subrayando la «urgencia y la necesidad de un cambio radi-
cal en el comportamiento de la humanidad», porque «los progresos científicos más
extraordinarios, las proezas técnicas más sorprendentes, el crecimiento económico
más prodigioso, si no van acompañados por un auténtico progreso social y moral,
se vuelven en definitiva contra el hombre».
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“un nuevo dialogo sobre el modo como estamos construyendo el futuro del planeta.
Necesitamos una conversacion que nos una a todos, porque el desafío ambiental
que vivimos, y sus raíces humanas, nos interesan y nos impactan a todos. El movi-
miento ecologico mundial ya ha recorrido un largo y rico camino, y ha generado
numerosas agrupaciones ciudadanas que ayudaron a la concientizacion. Lamenta-
blemente, muchos esfuerzos para buscar soluciones concretas a la crisis ambiental
suelen ser frustrados no solo por el rechazo de los poderosos, sino tambien por la
falta de interes de los demas. Las actitudes que obstruyen los caminos de solucion,
aun entre los creyentes, van de la negacion del problema a la indiferencia, la resig-
nacion comoda o la confianza ciega en las soluciones tecnicas. Necesitamos una so-
lidaridad universal nueva.” (14)
“En primer lugar, hare un breve recorrido por distintos aspectos de la actual crisis
ecologica, con el fin de asumir los mejores frutos de la investigacion científica ac-
tualmente disponible, dejarnos interpelar por ella en profundidad y dar una base
concreta al itinerario etico y espiritual como se indica a continuacion. A partir de
esa mirada, retomare algunas razones que se desprenden de la tradicion judío-
cristiana, a fin de procurar una mayor coherencia en nuestro compromiso con el
ambiente. Luego intentare llegar a las raíces de la actual situacion, de manera que
no miremos solo los síntomas sino tambien las causas mas profundas. Así podre-
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mos proponer una ecología que, entre sus distintas dimensiones, incorpore el lugar
peculiar del ser humano en este mundo y sus relaciones con la realidad que lo ro-
dea. A la luz de esa reflexion quisiera avanzar en algunas líneas amplias de dialogo
y de accion que involucren tanto a cada uno de nosotros como a la política interna-
cional. Finalmente, puesto que estoy convencido de que todo cambio necesita mo-
tivaciones y un camino educativo, propondre algunas líneas de maduracion huma-
na inspiradas en el tesoro de la experiencia espiritual cristiana.”
Temas todos estos que no se cierran ni abandonan, sino que son cons-
tantemente replanteados y enriquecidos, y que constituyen parte del acervo
sustantivo del pensamiento ambiental latinoamericano.
El primer capítulo titulado “Lo que le esta pasando a nuestra casa” rea-
liza una revision de diversos problemas:
En relacion al calentamiento global y la contaminacion establece la re-
lacion entre la contaminacion, la basura y la cultura del descarte. Identifica
asimismo algunas de las principales formas de contaminacion que afectan coti-
dianamente a las personas y tambien la contaminacion producida por los resi-
duos, incluyendo los desechos peligrosos presentes en distintos ambientes,
afirmando que,
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Emite allí un juicio bastante radical al sostener que: “La tecnología que,
ligada a las finanzas, pretende ser la unica solucion de los problemas, de hecho
suele ser incapaz de ver el misterio de las multiples relaciones que existen entre
las cosas, y por eso a veces resuelve un problema creando otros.” (20)
Y en una aproximacion muy parecida a los planteos de la biomimesis,
propuesta tanto en los trabajos de Jorge Riechmann como de Víctor Toledo,
afirma que;
“Estos problemas estan íntimamente ligados a la cultura del descarte, que afecta
tanto a los seres humanos excluidos como a las cosas que rapidamente se convier-
ten en basura. Advirtamos, por ejemplo, que la mayor parte del papel que se pro-
duce se desperdicia y no se recicla. Nos cuesta reconocer que el funcionamiento de
los ecosistemas naturales es ejemplar: las plantas sintetizan nutrientes que alimen-
tan a los herbívoros; estos a su vez alimentan a los seres carnívoros, que propor-
cionan importantes cantidades de residuos organicos, los cuales dan lugar a una
nueva generacion de vegetales. En cambio, el sistema industrial, al final del ciclo de
produccion y de consumo, no ha desarrollado la capacidad de absorber y reutilizar
residuos y desechos. Todavía no se ha logrado adoptar un modelo circular de pro-
duccion que asegure recursos para todos y para las generaciones futuras, y que su-
pone limitar al maximo el uso de los recursos no renovables, moderar el consumo,
maximizar la eficiencia del aprovechamiento, reutilizar y reciclar. Abordar esta
cuestion sería un modo de contrarrestar la cultura del descarte, que termina afec-
tando al planeta entero, pero observamos que los avances en este sentido son to-
davía muy escasos.” (22)
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cuenta el valor del trabajo” (124). El trabajo debería ser el |mbito de este múl-
tiple desarrollo personal, donde se ponen en juego muchas dimensiones de la
vida: la creatividad, la proyección del futuro, el desarrollo de capacidades, el
ejercicio de los valores, la comunicación con los demás, una actitud de adora-
ción. Por eso, en la actual realidad social mundial, más allá de los intereses limi-
tados de las empresas y de una cuestionable racionalidad económica, es nece-
sario que «se siga buscando como prioridad el objetivo del acceso al trabajo por
parte de todos» (127), ya que “dejar de invertir en la gente, con el fin de obte-
ner una mayor corto término de ganancia financiera, es un mal negocio para la
sociedad”. (128)
El segundo problema se refiere a las limitaciones del progreso científi-
co, con clara referencia a los organismos genéticamente modificados (OGM)
(132-136). “Es una cuestión ambiental de car|cter complejo, por lo cual su tra-
tamiento exige una mirada integral de todos sus aspectos, y esto requeriría al
menos un mayor esfuerzo para financiar diversas líneas de investigación libre e
interdisciplinaria que puedan aportar nueva luz. Se trata de una "cuestión am-
biental compleja".” (135) “Si bien no hay comprobación contundente acerca del
daño que podrían causar los cereales transgénicos a los seres humanos, y en
algunas regiones su utilización ha provocado un crecimiento económico que
ayudó a resolver problemas, hay dificultades importantes que no deben ser
relativizadas. En muchos lugares, tras la introducción de estos cultivos, se cons-
tata una concentración de tierras productivas en manos de pocos debido a «la
progresiva desaparición de pequeños productores que, como consecuencia de
la pérdida de las tierras explotadas, se han visto obligados a retirarse de la pro-
ducción directa». Los más frágiles se convierten en trabajadores precarios, y
muchos empleados rurales terminan migrando a miserables asentamientos de
las ciudades. La expansión de la frontera de estos cultivos arrasa con el comple-
jo entramado de los ecosistemas, disminuye la diversidad productiva y afecta el
presente y el futuro de las economías regionales. En varios países se advierte
una tendencia al desarrollo de oligopolios en la producción de granos y de otros
productos necesarios para su cultivo, y la dependencia se agrava si se piensa en
la producción de granos estériles que terminaría obligando a los campesinos a
comprarlos a las empresas productoras.” (134) “De ese modo, cuando la técnica
desconoce los grandes principios éticos, termina considerando legítima cual-
quier práctica. Como vimos en este capítulo, la técnica separada de la ética difí-
cilmente ser| capaz de autolimitar su poder.” (136)
El cuarto capítulo se titula Ecología Integral y apunta al corazón de las
propuestas de la Encíclica, la ecología integral como un nuevo paradigma de la
justicia, una ecología “que respete nuestro lugar único como los seres humanos
en este mundo y nuestra relación con nuestro entorno.” (15) “Cuando se habla
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contró una nueva comprensión de sí misma que pueda orientarla, y esta falta de
identidad se vive con angustia. Tenemos demasiados medios para unos escasos
y raquíticos fines.” (203) “La situación actual del mundo «provoca una sensa-
ción de inestabilidad e inseguridad que a su vez favorece formas de egoísmo
colectivo». Cuando las personas se vuelven autorreferenciales y se aíslan en su
propia conciencia, acrecientan su voracidad. Mientras más vacío está el corazón
de la persona, más necesita objetos para comprar, poseer y consumir. En este
contexto, no parece posible que alguien acepte que la realidad le marque lími-
tes. Tampoco existe en ese horizonte un verdadero bien común. Si tal tipo de
sujeto es el que tiende a predominar en una sociedad, las normas sólo serán
respetadas en la medida en que no contradigan las propias necesidades. Por
eso, no pensemos sólo en la posibilidad de terribles fenómenos climáticos o en
grandes desastres naturales, sino también en catástrofes derivadas de crisis
sociales, porque la obsesión por un estilo de vida consumista, sobre todo cuan-
do sólo unos pocos puedan sostenerlo, sólo podrá provocar violencia y destruc-
ción recíproca.” (204) “Sin embargo, no todo est| perdido, porque los seres
humanos, capaces de degradarse hasta el extremo, también pueden sobrepo-
nerse, volver a optar por el bien y regenerarse, más allá de todos los condicio-
namientos mentales y sociales que les impongan… A cada persona de este
mundo le pido que no olvide esa dignidad suya que nadie tiene derecho a qui-
tarle.” (205) “Un cambio en los estilos de vida podría llegar a ejercer una sana
presión sobre los que tienen poder político, económico y social. Es lo que ocu-
rre cuando los movimientos de consumidores logran que dejen de adquirirse
ciertos productos y así se vuelven efectivos para modificar el comportamiento
de las empresas, forzándolas a considerar el impacto ambiental y los patrones
de producción… Ello nos recuerda la responsabilidad social de los consumido-
res. «Comprar es siempre un acto moral, y no sólo económico».” (206) “Siempre
es posible volver a desarrollar la capacidad de salir de sí hacia el otro. Sin ella
no se reconoce a las demás criaturas en su propio valor, no interesa cuidar algo
para los demás, no hay capacidad de ponerse límites para evitar el sufrimiento
o el deterioro de lo que nos rodea. La actitud básica de auto-trascenderse, rom-
piendo la conciencia aislada y la auto-referencialidad, es la raíz que hace posi-
ble todo cuidado de los demás y del medio ambiente, y que hace brotar la reac-
ción moral de considerar el impacto que provoca cada acción y cada decisión
personal fuera de uno mismo. Cuando somos capaces de superar el individua-
lismo, realmente se puede desarrollar un estilo de vida alternativo y se vuelve
posible un cambio importante en la sociedad.” (208). Propone una Educación
para la alianza entre la humanidad y el ambiente, señalando al respecto: “La
educación ambiental ha ido ampliando sus objetivos. Si al comienzo estaba muy
centrada en la información científica y en la concientización y prevención de
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riesgos ambientales, ahora tiende a incluir una crítica de los «mitos» de la mo-
dernidad basados en la razón instrumental (individualismo, progreso indefini-
do, competencia, consumismo, mercado sin reglas) y también a recuperar los
distintos niveles del equilibrio ecológico: el interno con uno mismo, el solidario
con los demás, el natural con todos los seres vivos, el espiritual con Dios. La
educación ambiental debería disponernos a dar ese salto hacia el Misterio, des-
de donde una ética ecológica adquiere su sentido más hondo. Por otra parte,
hay educadores capaces de replantear los itinerarios pedagógicos de una ética
ecológica, de manera que ayuden efectivamente a crecer en la solidaridad, la
responsabilidad y el cuidado basado en la compasión.” (210) Señala que las
pequeñas acciones cotidianas de cuidado “derraman un bien en la sociedad que
siempre produce frutos más allá de lo que se pueda constatar, porque provocan
en el seno de esta tierra un bien que siempre tiende a difundirse, a veces invisi-
blemente. Además, el desarrollo de estos comportamientos nos devuelve el
sentimiento de la propia dignidad, nos lleva a una mayor profundidad vital, nos
permite experimentar que vale la pena pasar por este mundo.” (212) Y añade
que, “Contra la llamada cultura de la muerte, la familia constituye la sede de la
cultura de la vida». En la familia se cultivan los primeros hábitos de amor y
cuidado de la vida, como por ejemplo el uso correcto de las cosas, el orden y la
limpieza, el respeto al ecosistema local y la protección de todos los seres crea-
dos. La familia es el lugar de la formación integral, donde se desenvuelven los
distintos aspectos, íntimamente relacionados entre sí, de la maduración perso-
nal. En la familia se aprende a pedir permiso sin avasallar, a decir « gracias »
como expresión de una sentida valoración de las cosas que recibimos, a domi-
nar la agresividad o la voracidad, y a pedir perdón cuando hacemos algún daño.
Estos pequeños gestos de sincera cortesía ayudan a construir una cultura de la
vida compartida y del respeto a lo que nos rodea.” (213) “Al mismo tiempo, si se
quiere conseguir cambios profundos, hay que tener presente que los paradig-
mas de pensamiento realmente influyen en los comportamientos. La educación
será ineficaz y sus esfuerzos serán estériles si no procura también difundir un
nuevo paradigma acerca del ser humano, la vida, la sociedad y la relación con la
naturaleza. De otro modo, seguirá avanzando el paradigma consumista que se
transmite por los medios de comunicación y a través de los eficaces engranajes
del mercado.” (215) Hace un llamado a una conversión ecológica de los cristia-
nos señalando que: “la gran riqueza de la espiritualidad cristiana, generada por
veinte siglos de experiencias personales y comunitarias, ofrece un bello aporte
al intento de renovar la humanidad. Quiero proponer a los cristianos algunas
líneas de espiritualidad ecológica que nacen de las convicciones de nuestra fe,
porque lo que el Evangelio nos enseña tiene consecuencias en nuestra forma de
pensar, sentir y vivir. No se trata de hablar tanto de ideas, sino sobre todo de las
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está llena de palabras de amor, pero ¿cómo podremos escucharlas en medio del
ruido constante, de la distracción permanente y ansiosa, o del culto a la apa-
riencia? Muchas personas experimentan un profundo desequilibrio que las
mueve a hacer las cosas a toda velocidad para sentirse ocupadas, en una prisa
constante que a su vez las lleva a atropellar todo lo que tienen a su alrededor.
Esto tiene un impacto en el modo como se trata al ambiente. Una ecología inte-
gral implica dedicar algo de tiempo para recuperar la serena armonía con la
creación, para reflexionar acerca de nuestro estilo de vida y nuestros ideales,
para contemplar al Creador, que vive entre nosotros y en lo que nos rodea, cuya
presencia «no debe ser fabricada sino descubierta, develada».” (225) “El cuida-
do de la naturaleza es parte de un estilo de vida que implica capacidad de con-
vivencia y de comunión. Jesús nos recordó que tenemos a Dios como nuestro
Padre común y que eso nos hace hermanos. El amor fraterno sólo puede ser
gratuito, nunca puede ser un pago por lo que otro realice ni un anticipo por lo
que esperamos que haga. Por eso es posible amar a los enemigos. Esta misma
gratuidad nos lleva a amar y aceptar el viento, el sol o las nubes, aunque no se
sometan a nuestro control. Por eso podemos hablar de una fraternidad univer-
sal.” (228) “Hace falta volver a sentir que nos necesitamos unos a otros, que
tenemos una responsabilidad por los demás y por el mundo, que vale la pena
ser buenos y honestos. Ya hemos tenido mucho tiempo de degradación moral,
burlándonos de la ética, de la bondad, de la fe, de la honestidad, y llegó la hora
de advertir que esa alegre superficialidad nos ha servido de poco. Esa destruc-
ción de todo fundamento de la vida social termina enfrentándonos unos con
otros para preservar los propios intereses, provoca el surgimiento de nuevas
formas de violencia y crueldad e impide el desarrollo de una verdadera cultura
del cuidado del ambiente.” (229) “El amor, lleno de pequeños gestos de cuida-
do mutuo, es también civil y político, y se manifiesta en todas las acciones que
procuran construir un mundo mejor. El amor a la sociedad y el compromiso por
el bien común son una forma excelente de la caridad, que no sólo afecta a las
relaciones entre los individuos, sino a «las macro-relaciones, como las relacio-
nes sociales, económicas y políticas». Por eso, la Iglesia propuso al mundo el
ideal de una «civilización del amor». El amor social es la clave de un auténtico
desarrollo: «Para plasmar una sociedad más humana, más digna de la persona,
es necesario revalorizar el amor en la vida social –a nivel político, económico,
cultural–, haciéndolo la norma constante y suprema de la acción». En este mar-
co, junto con la importancia de los pequeños gestos cotidianos, el amor social
nos mueve a pensar en grandes estrategias que detengan eficazmente la degra-
dación ambiental y alienten una cultura del cuidado que impregne toda la so-
ciedad. Cuando alguien reconoce el llamado de Dios a intervenir junto con los
demás en estas dinámicas sociales, debe recordar que eso es parte de su espiri-
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9 Disponible en
http://www.filosofiahoy.es/index.php/mod.pags/mem.detalle/relcategoria.5255/idpag.6471/prev
.true/chk.7aae09d608497f61fe2e1600c3876ee4.html
10 “My critique is by no means intended to imply that all of Pope Francis’s observations about eco-
nomic life are naíve or simply mistaken. As it happens, he says several things that will resonate with
those who favor free enterprise and markets.” En
http://www.nationalreview.com/corner/365004/pope-francis-and-poverty-samuel-gregg
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“Mi crítica de ninguna manera pretende dar a entender que todas las observacio-
nes de Francisco sobre la vida economica son ingenuas o simplemente erroneas. Si
llega el caso, dice varias cosas que resonaran con los que favorecen a la empresa y
los mercados libres.”
“Pero mientras que la mayor parte de las reflexiones del texto sobre cuestiones de
política publica se centran en el medio ambiente, un tema subterraneo que se vuel-
ve decididamente visible de vez en cuando es la vision profundamente negativo de
la encíclica respecto de los mercados libres. Esto confirmaría que la reaccion de es-
te pontificado, a las respetuosas preguntas planteadas acerca de la idoneidad del
analisis economico contenido en la Exhortacion apostolica del ano 2013 Evangelii
Gaudium de Francisco, ha sido simplemente reciclar (sin doble sentido) algunos de
los argumentos de este documento, probadamente erroneos en relacion a los efec-
tos de la economía de mercado en la naturaleza.”
“…es lamentable que este pontificado parezca tan poco dispuesto a emprender una
discusion seria en torno a los meritos morales y economicos de la economía de
mercado. Lo tristemente ironico de todo esto es que la misma encíclica que expresa
tales afirmaciones tan vagas sobre el libre mercado y sus partidarios tambien con-
tiene numerosos llamados de bienvenida al debate razonado y amplio (nº 16, 61,
135, 138, 165) sobre la manera en que hemos de abordar los problemas ambienta-
les y economicos. Laudato si' enfatiza, a su vez, que la Iglesia no tiene el monopolio
de la sabiduría sobre la dimension prudencial de las cuestiones ambientales y eco-
nomicas. Pero el uso en la encíclica de frases tales como «mercado divinizado» (nº
56) y «concepcion magica del mercado» (nº 190); la asociacion que hace del relati-
vismo moral con la «mano invisible» de Adam Smith (nº 123); su implacable vincu-
lacion del mercado con el materialismo y el consumismo (que no han tenido difi-
cultad para florecer en las economías que no son de mercado); su falta de crítica a
los regímenes populistas de izquierda que han generado destruccion economica y
aumentado la pobreza en países tales como la Argentina y Venezuela; y su atribu-
cion de motivos sospechosos a quienes favorecen los mercados, son contrarios a
este llamado al debate abierto y respetuoso.”11
11“But while most of the text’s reflections upon public policy issues focus on the environment, a
subterranean theme that becomes decidedly visible from time-to-time is the encyclical’s deeply
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Pedagogia da Carta da Terra
Queda claro de la lectura anterior que existen escasas coincidencias entre quie-
nes defienden el libre operar de los mercados y el pensamiento en la Encíclica
papal, algo que se hace mas evidente aun al leer un artículo recientemente pu-
blicado en The Guardian12, “Desafíos desde los movimientos de justicia ambien-
tal. La economía verde no salva al capitalismo” de Ashish Kothari, Federico De-
maria y Alberto Acosta, en el cual senalan que,
“Incluso el Papa Francisco en la “Encíclica Laudato Si” -al igual que otros líderes re-
ligiosos como el Dalai Lama- ha sido explícito en la necesidad de redefinir el pro-
greso: “Para que surjan nuevos modelos de progreso, necesitamos «cambiar el mo-
delo de desarrollo global», […] No basta conciliar, en un termino medio, el cuidado
de la naturaleza con la renta financiera, o la preservacion del ambiente con el pro-
greso. En este tema los terminos medios son solo una pequena demora en el de-
rrumbe. Simplemente se trata de redefinir el progreso. [...] muchas veces la calidad
real de la vida de las personas disminuye –por el deterioro del ambiente, la baja ca-
lidad de los mismos productos alimenticios o el agotamiento de algunos recursos–
en el contexto de un crecimiento de la economía. En este marco, el discurso del cre-
cimiento sostenible suele convertirse en un recurso diversivo y exculpatorio que
absorbe valores del discurso ecologista dentro de la logica de las finanzas y de la
tecnocracia, y la responsabilidad social y ambiental de las empresas suele reducir-
se a una serie de acciones de marketing e imagen.” Igualmente explicita es la re-
ciente “Declaracion islamica sobre el cambio climatico global” cuando dice: “Reco-
nocemos la descomposicion (fasad) que los humanos han causado en la Tierra de-
bido a nuestra incesante busqueda del crecimiento economico y el consumo.”
(http://rebelion.org/noticia.php?id=202775)
negative view of free markets. This would confirm that this pontificate’s reaction to respectful
questions asked about the adequacy of the economic analysis contained in Francis’s 2013 Apostolic
Exhortation Evangelii Gaudium has been to simply recycle (no pun intended) some of that docu-
ment’s demonstrably flawed arguments concerning the market economy’s nature and effects.”
http://spectator.org/articles/63160/laudato-si%E2%80%99-well-intentioned-economically-
flawed
“Nonetheless, many conceptual problems and questionable empirical claims characterize the encyc-
lical’s vision of contemporary economic life.” En
http://www.acton.org/pub/commentary/2015/06/24/laudato-si%E2%80%99-well-intentioned-
economically-flawed
12 Versión original disponible en http://www.theguardian.com/sustainable-
business/2015/jul/21/capitalism-alternatives-sustainable-development-
failing?CMP=share_btn_tw
13 Disponible en http://www.servicioskoinonia.org/boff/articulo.php?num=720
132
Ivo Dickmann & Ana Paula Guimarães
La Carta de la Tierra14 nos invitaba a todos a dejar atras una etapa de autodestruc-
cion y a comenzar de nuevo, pero todavía no hemos desarrollado una conciencia
universal que lo haga posible. Por eso me atrevo a proponer nuevamente aquel
precioso desafío: «Como nunca antes en la historia, el destino comun nos hace un
llamado a buscar un nuevo comienzo […] Que el nuestro sea un tiempo que se re-
cuerde por el despertar de una nueva reverencia ante la vida; por la firme resolu-
cion de alcanzar la sostenibilidad; por el aceleramiento en la lucha por la justicia y
la paz y por la alegre celebracion de la vida»[148].
133
Pedagogia da Carta da Terra
134
Ivo Dickmann & Ana Paula Guimarães
“La Tierra también clama. La lógica que explota a las clases y somete a los pueblos
a los intereses de unos pocos países ricos y poderosos es la misma que depreda la
Tierra y expolia sus riquezas, sin solidaridad para con el resto de la humanidad y
las generaciones futuras.” (1996:11)
“Quisiera advertir que no suele haber conciencia clara de los problemas que afec-
tan particularmente a los excluidos. Ellos son la mayor parte del planeta, miles de
millones de personas. Hoy están presentes en los debates políticos y económicos
internacionales, pero frecuentemente parece que sus problemas se plantean como
un apéndice, como una cuestión que se añade casi por obligación o de manera peri-
férica, si es que no se los considera un mero daño colateral. De hecho, a la hora de
la actuación concreta, quedan frecuentemente en el último lugar. Ello se debe en
parte a que muchos profesionales, formadores de opinión, medios de comunica-
ción y centros de poder están ubicados lejos de ellos, en áreas urbanas aisladas, sin
tomar contacto directo con sus problemas. Viven y reflexionan desde la comodidad
de un desarrollo y de una calidad de vida que no están al alcance de la mayoría de
la población mundial. Esta falta de contacto físico y de encuentro, a veces favoreci-
da por la desintegración de nuestras ciudades, ayuda a cauterizar la conciencia y a
ignorar parte de la realidad en análisis sesgados. Esto a veces convive con un dis-
curso «verde». Pero hoy no podemos dejar de reconocer que un verdadero planteo
ecológico se convierte siempre en un planteo social, que debe integrar la justicia en
las discusiones sobre el ambiente, para escuchar tanto el clamor de la tierra como
el clamor de los pobres.” (49) (las cursivas provienen del texto original).
[117] Algunos autores han mostrado los valores que suelen vivirse, por ejemplo, en
las « villas », chabolas o favelas de América Latina: cf. Juan Carlos Scannone, S.J.,
«La irrupción del pobre y la lógica de la gratuidad», en Juan Carlos Scannone y
Marcelo Perine (eds.), Irrupción del pobre y quehacer filosófico. Hacia una nueva
racionalidad, Buenos Aires 1993, 225-230.
15El “Manifiesto por la Vida. Por una ética para la sustentabilidad” fue un documento elaborado
como producto del Seminario convocado por el PNUMA a petición del Foro de Ministros del Medio
Ambiente de América Latina y el Caribe celebrada en octubre de 2001. Dicho seminario regional
135
Pedagogia da Carta da Terra
“No hay dos crisis separadas, una ambiental y otra social, sino una sola y compleja
crisis socio-ambiental. Las líneas para la solución requieren una aproximación in-
tegral para combatir la pobreza, para devolver la dignidad a los excluidos y simul-
táneamente para cuidar la naturaleza.” (139)
“La dificultad para tomar en serio este desafío tiene que ver con un deterioro etico
y cultural, que acompana al deterioro ecologico. El hombre y la mujer del mundo
posmoderno corren el riesgo permanente de volverse profundamente individualis-
tas, y muchos problemas sociales se relacionan con el inmediatismo egoísta actual,
con las crisis de los lazos familiares y sociales, con las dificultades para el recono-
cimiento del otro.” (162)
realizado en Bogotá sobre “principios éticos y desarrollo sustentable” como aporte a la Cumbre de
Desarrollo Sostenible en Johannesburgo dio origen no sólo al Manifiesto sino que además a un libro
publicado por el PNUMA y CEPAL, titulado “Etica, vida, sustentabilidad” el cual fue coordinado por
Enrique Leff y contiene 23 trabajos presentados por los participantes en el mencionado seminario.
Disponible en: http://www.scielo.br/pdf/asoc/n10/16893.pdf
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Ivo Dickmann & Ana Paula Guimarães
“Al mismo tiempo, si se quiere conseguir cambios profundos, hay que tener pre-
sente que los paradigmas de pensamiento realmente influyen en los comporta-
mientos. La educación será ineficaz y sus esfuerzos serán estériles si no procura
también difundir un nuevo paradigma acerca del ser humano, la vida, la sociedad y
la relación con la naturaleza. De otro modo, seguirá avanzando el paradigma con-
sumista que se transmite por los medios de comunicación y a través de los eficaces
engranajes del mercado.” (215)
“La política no debe someterse a la economía y ésta no debe someterse a los dictá-
menes y al paradigma eficientista de la tecnocracia. Hoy, pensando en el bien co-
mún, necesitamos imperiosamente que la política y la economía, en diálogo, se co-
loquen decididamente al servicio de la vida, especialmente de la vida humana.”
(189)
“No se puede sostener que las ciencias empíricas explican completamente la vida,
el entramado de todas las criaturas y el conjunto de la realidad. Eso sería sobrepa-
sar indebidamente sus confines metodologicos limitados. Si se reflexiona con ese
marco cerrado, desaparecen la sensibilidad estetica, la poesía, y aun la capacidad
de la razon para percibir el sentido y la finalidad de las cosas. […] En realidad, es
ingenuo pensar que los principios eticos puedan presentarse de un modo pura-
mente abstracto, desligados de todo contexto, y el hecho de que aparezcan con un
lenguaje religioso no les quita valor alguno en el debate publico. Los principios eti-
cos que la razon es capaz de percibir pueden reaparecer siempre bajo distintos ro-
pajes y expresados con lenguajes diversos, incluso religiosos.” (199)
“Por otra parte, cualquier solucion tecnica que pretendan aportar las ciencias sera
impotente para resolver los graves problemas del mundo si la humanidad pierde su
rumbo, si se olvidan las grandes motivaciones que hacen posible la convivencia, el
sacrificio, la bondad. […] Si una mala comprension de nuestros propios principios a
veces nos ha llevado a justificar el maltrato a la naturaleza o el dominio despotico
del ser humano sobre lo creado o las guerras, la injusticia y la violencia, los creyen-
tes podemos reconocer que de esa manera hemos sido infieles al tesoro de sabidu-
ría que debíamos custodiar. Muchas veces los límites culturales de diversas epocas
han condicionado esa conciencia del propio acervo etico y espiritual, pero es preci-
samente el regreso a sus fuentes lo que permite a las religiones responder mejor a
las necesidades actuales.” (200)
“La mayor parte de los habitantes del planeta se declaran creyentes, y esto debería
provocar a las religiones a entrar en un dialogo entre ellas orientado al cuidado de
la naturaleza, a la defensa de los pobres, a la construccion de redes de respeto y de
fraternidad. Es imperioso tambien un dialogo entre las ciencias mismas, porque
cada una suele encerrarse en los límites de su propio lenguaje, y la especializacion
tiende a convertirse en aislamiento y en absolutizacio n del propio saber. Esto impi-
de afrontar adecuadamente los problemas del medio ambiente. Tambien se vuelve
137
Pedagogia da Carta da Terra
“… no basta que cada uno sea mejor para resolver una situación tan compleja como
la que afronta el mundo actual. Los individuos aislados pueden perder su capaci-
dad y su libertad para superar la lógica de la razón instrumental y terminan a mer-
ced de un consumismo sin ética y sin sentido social y ambiental. A problemas so-
ciales se responde con redes comunitarias, no con la mera suma de bienes indivi-
duales: «Las exigencias de esta tarea van a ser tan enormes, que no hay forma de
satisfacerlas con las posibilidades de la iniciativa individual y de la unión de parti-
culares formados en el individualismo. Se requerirán una reunión de fuerzas y una
unidad de realización». La conversión ecológica que se requiere para crear un di-
namismo de cambio duradero es también una conversión comunitaria.” (219)
“No todos est|n llamados a trabajar de manera directa en la política, pero en el
seno de la sociedad germina una innumerable variedad de asociaciones que inter-
vienen a favor del bien común preservando el ambiente natural y urbano. Por
ejemplo, se preocupan por un lugar común (un edificio, una fuente, un monumento
abandonado, un paisaje, una plaza), para proteger, sanear, mejorar o embellecer
algo que es de todos. A su alrededor se desarrollan o se recuperan vínculos y surge
un nuevo tejido social local. Así una comunidad se libera de la indiferencia consu-
mista. Esto incluye el cultivo de una identidad común, de una historia que se con-
serva y se transmite. De esa manera se cuida el mundo y la calidad de vida de los
más pobres, con un sentido solidario que es al mismo tiempo conciencia de habitar
una casa común que Dios nos ha prestado. Estas acciones comunitarias, cuando
expresan un amor que se entrega, pueden convertirse en intensas experiencias es-
pirituales.” (232)
“Hace falta volver a sentir que nos necesitamos unos a otros, que tenemos una res-
ponsabilidad por los demas y por el mundo, que vale la pena ser buenos y hones-
tos. Ya hemos tenido mucho tiempo de degradacion moral, burlandonos de la etica,
de la bondad, de la fe, de la honestidad, y llego la hora de advertir que esa alegre
superficialidad nos ha servido de poco. Esa destruccion de todo fundamento de la
vida social termina enfrentandonos unos con otros para preservar los propios in-
tereses, provoca el surgimiento de nuevas formas de violencia y crueldad e impide
el desarrollo de una verdadera cultura del cuidado del ambiente.” (229)
“El amor, lleno de pequenos gestos de cuidado mutuo, es tambien civil y político, y
se manifiesta en todas las acciones que procuran construir un mundo mejor. El
amor a la sociedad y el compromiso por el bien comun son una forma excelente de
la caridad, que no solo afecta a las relaciones entre los individuos, sino a «las ma-
cro-relaciones, como las relaciones sociales, economicas y políticas». […] En este
marco, junto con la importancia de los pequenos gestos cotidianos, el amor social
nos mueve a pensar en grandes estrategias que detengan eficazmente la degrada-
138
Ivo Dickmann & Ana Paula Guimarães
cion ambiental y alienten una cultura del cuidado16 que impregne toda la sociedad.”
(231)
De modo similar la Ética de los bienes comunes y del Bien Común de-
mandada en el MV es reiterada cuando LS recuerda que,
16Como lo señala Leonardo Boff en su libro Saber cuidar. Ética do humano – compaixão pela Terra:
“Todo lo que existe y vive precisa ser cuidado para continuar su existir y vivir: una planta, un
animal, un niño, un anciano, el planeta Tierra. Una antigua fábula dice que la esencia del ser
humano reside en el cuidado, El cuidado es más fundamental que la razón y la voluntad.”
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Ivo Dickmann & Ana Paula Guimarães
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Pedagogia da Carta da Terra
“Por otro lado, ninguna persona puede madurar en una feliz sobriedad si no esta en
paz consigo mismo. Parte de una adecuada comprension de la espiritualidad con-
siste en ampliar lo que entendemos por paz, que es mucho mas que la ausencia de
guerra. La paz interior de las personas tiene mucho que ver con el cuidado de la
ecología y con el bien comun, porque, autenticamente vivida, se refleja en un estilo
de vida equilibrado unido a una capacidad de admiracion que lleva a la profundi-
dad de la vida. La naturaleza esta llena de palabras de amor, pero ¿como podremos
escucharlas en medio del ruido constante, de la distraccion permanente y ansiosa,
o del culto a la apariencia? Muchas personas experimentan un profundo desequili-
brio que las mueve a hacer las cosas a toda velocidad para sentirse ocupadas, en
una prisa constante que a su vez las lleva a atropellar todo lo que tienen a su alre-
dedor. Esto tiene un impacto en el modo como se trata al ambiente. Una ecología
integral implica dedicar algo de tiempo para recuperar la serena armonía con la
creacion, para reflexionar acerca de nuestro estilo de vida y nuestros ideales, para
contemplar al Creador, que vive entre nosotros y en lo que nos rodea, cuya presen-
cia «no debe ser fabricada sino descubierta, develada».” (225)
142
Ivo Dickmann & Ana Paula Guimarães
nos atontan, quedando así disponibles para las multiples posibilidades que ofrece
la vida.” (223)
“La sobriedad y la humildad no han gozado de una valoracion positiva en el ultimo
siglo. Pero cuando se debilita de manera generalizada el ejercicio de alguna virtud
en la vida personal y social, ello termina provocando multiples desequilibrios,
tambien ambientales. Por eso, ya no basta hablar solo de la integridad de los eco-
sistemas. Hay que atreverse a hablar de la integridad de la vida humana, de la ne-
cesidad de alentar y conjugar todos los grandes valores. La desaparicion de la hu-
mildad, en un ser humano desaforadamente entusiasmado con la posibilidad de
dominarlo todo sin límite alguno, solo puede terminar danando a la sociedad y al
ambiente…” (224)
“Estamos hablando de una actitud del corazon, que vive todo con serena atencion,
que sabe estar plenamente presente ante alguien sin estar pensando en lo que vie-
ne despues, que se entrega a cada momento como don divino que debe ser plena-
mente vivido. Jesus nos ensenaba esta actitud cuando nos invitaba a mirar los lirios
del campo y las aves del cielo, o cuando, ante la presencia de un hombre inquieto, «
detuvo en el su mirada, y lo amo » (Mc 10,21). El sí que estaba plenamente presen-
te ante cada ser humano y ante cada criatura, y así nos mostro un camino para su-
perar la ansiedad enfermiza que nos vuelve superficiales, agresivos y consumistas
desenfrenados.” (226)
Conclusiones
Considero necesario recordar que el Papa es sudamericano, argentino,
es el primer Papa proveniente del Sur del planeta. Su historia personal esta
generacionalmente vinculada a las experiencias del período de la Guerra Fría,
que tanto dano le hicieron a la Humanidad y al impacto de las doctrinas de Se-
guridad Nacional que tanto dolor y sufrimiento generaron al sur del Río Grande
en nuestro continente. Conocio de cerca a los teologos que dieron origen al
movimiento intelectual llamado Teología de la Liberacion, coincidio con ellos en
muchos de sus juicios y actuaciones al interior de la Iglesia y discrepo tambien
de las corrientes mas influidas por el pensamiento marxista. Juan Carlos Scano-
ne, jesuita argentino al igual que el Papa, ha senalado que “la teología del pue-
blo", una ramificacion de la teología de la liberacion, esta "en la base de lo que
esta haciendo y diciendo el Papa Francisco”.18
Lo que considero el mayor aporte de “Laudato Si’” al dialogo ambiental
es, que lleva a cabo una revision sistematica de la crisis desde un punto de vista
religioso. Si bien ya existían aportes hechos desde este ambito al dialogo del
medio ambiente, ellos han tenido una relativa desconsideracion en un debate
enmarcado principalmente con el lenguaje político, científico y economico. Con
esta nueva encíclica, el lenguaje de quienes profesan una fe entra decididamen-
te en participar de una imprescindible y urgente discusion que se esta llevando
18http://www.europapress.es/sociedad/noticia-jesuita-scannone-asegura-teologia-pueblo-rama-
teologia-liberacion-base-gestos-20150210133914.html
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Pedagogia da Carta da Terra
“retomo la encíclica, afirmando que los movimientos “se han organizado para re-
sistir la exclusion social, la escandalosa desigualdad y la degradacion del ambiente
(…) No solo protestan, tambien resuelven con sus propias manos los problemas de
acceso a techo, trabajo y tierra, que ni estados ni mercados resuelven. (…) Ni la po-
lítica ni la economía o la ecología son tarea exclusiva de profesionales, políticos, ac-
tivistas o academicos. Los pobres, los campesinos, los pueblos indígenas tienen sus
propias formas de hacer política en asambleas comunitarias, economía popular y
para cuidar el ambiente, con ecología popular”. Afirmo: acompanamos a los movi-
mientos en la preocupacion y luchas por los dones de la creacion, tomando como
ejemplo que “los movimientos luchan por la dignidad, contra el consumismo, el
despilfarro y el paradigma tecnocratico (…) para “no ser explotados ni explotar, ex-
cluir o ser excluidos (…) Luchan contra el colonialismo y el saqueo de los llamados
recursos naturales, para que no se privatice el agua, el subsuelo o el mar (…) para
que las trasnacionales no abusen de la tierra con la megaminería y el fracking, ni
que se usen transgenicos para exprimir los campesinos y concentrar la tierra en
pocas manos, o se destruya la pesca artesanal”. Llamo a escuchar el grito de la tie-
rra y el grito de los pobres.”
Y dice que,
El Papa afirmo los puntos en este segundo encuentro, y expreso que necesitamos
un cambio estructural de sistema y modelo dominante, por la enorme injusticia so-
cio-economica global, por la devastacion de la madre tierra, por la dominacion que
ejerce una inmoral minoría financiera. Se pronuncio contra los tratados de libre
comercio, por ser un instrumento de esa dominacion. Entre otros puntos, llamo a
los movimientos a seguir abonando el proceso de cambio que necesitamos, a seguir
sembrando y regando esa semilla, y parafraseando a la Vía Campesina, a cambiar la
globalizacion que nos esta destruyendo por la globalizacion de la esperanza.”
19Silvia Ribeiro. “El grito de la tierra y el grito de los pobres” en ALAINET del 17/07/2015.
Disponible en http://www.alainet.org/es/articulo/171168#sthash.cJIUpDmE.dpuf
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Ivo Dickmann & Ana Paula Guimarães
zados como el Vaticano II. Como tal, sigue el tipo de reflexion sobre los proble-
mas sociales del presente iniciada por Leon XIII con la “Rerum Novarum”, en
1891. Francisco utiliza algunos de los fundamentos tradicionales de la ensenan-
za social catolica, sobre todo la idea de “bien comun”, para enmarcar la discu-
sion. En consonancia con las practicas de la ensenanza social catolica, el Papa
combina el corpus de la teología de la iglesia con las conclusiones de los exper-
tos en una variedad de campos, para reflexionar sobre los problemas de hoy en
día. Con ese fin, vincula explícitamente su reflexion con la de Juan XXIII en “Pa-
cem in Terris”, en que se aborda la crisis de la guerra nuclear.
La lectura detallada de los documentos analizados me permiten afirmar
que: a) en la Encíclica Laudato si’ del papa Francisco recoge gran parte, sino
toda, la reflexion que desde America Latina se ha venido haciendo en torno a los
problemas de la sustentabilidad y de la justicia social; b) su planteo es un lla-
mado a un profundo cambio de los ejes civilizatorios; c) su tono aparentemente
catastrofista, expresa no obstante un profunda esperanza en que es posible
torcer el rumbo y esboza los principales caminos para ello; d) recupera la figura
de Francisco de Asís y marca con ello el camino que deberí a seguir la mayor
institucion del planeta: la Iglesia Catolica; e) con un lenguaje sin ambiguedades
critica a los poderes facticos (economicos y políticos) que hoy gobiernan el
mundo y a las conductas, creencias y actitudes de quienes los ejercen; f) propo-
ne una conversion ecologica hacia la sobriedad, la humildad, la fraternidad, una
nueva solidaridad universal y una cultura del cuidado; y g) convoca a difundir
un nuevo paradigma acerca del ser humano, la vida, la sociedad y la relacion
con la naturaleza.
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Pedagogia da Carta da Terra
Bibliografía
Boff, L. Ecología: grito de la tierra, grito de los pobres. Madrid, Trotta, 1996.
Boff, L. Saber cuidar. Etica do humano – compaixao pela Terra. Petropolis, Vo-
ces, 1999.
Francisco. Carta encíclica Laudato si’. Sobre el cuidado de la casa comun. Dis-
ponible en:
http://w2.vatican.va/content/francesco/es/encyclicals/documents/papa-
francesco_20150524_enciclica-laudato-si.html
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Síntese do Texto
Uma palavra
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Uma frase
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Um parágrafo
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Imagem Pedagógica
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Carta da Terra
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CARTA DA TERRA
Preâmbulo
Estamos diante de um momento crítico na história da Terra, numa época em
que a humanidade deve escolher o seu futuro. À medida que o mundo torna-se
cada vez mais interdependente e frágil, o futuro reserva, ao mesmo tempo,
grande perigo e grande esperança. Para seguir adiante, devemos reconhecer
que, no meio de uma magnífica diversidade de culturas e formas de vida, somos
uma família humana e uma comunidade terrestre com um destino comum.
Devemos nos juntar para gerar uma sociedade sustentável global fundada no
respeito pela natureza, nos direitos humanos universais, na justiça econômica e
numa cultura de paz. Para chegar a este propósito, é imperativo que nós, os
povos da Terra, declaremos nossa responsabilidade uns para com os outros,
com a grande comunidade de vida e com as futuras gerações.
A situação global
Os padrões dominantes de produção e consumo estão causando devastação
ambiental, esgotamento dos recursos e uma massiva extinção de espécies. Co-
munidades estão sendo arruinadas. Os benefícios do desenvolvimento não es-
tão sendo divididos equitativamente e a diferença entre ricos e pobres está
aumentando. A injustiça, a pobreza, a ignorância e os conflitos violentos têm
aumentado e são causas de grande sofrimento. O crescimento sem precedentes
da população humana tem sobrecarregado os sistemas ecológico e social. As
bases da segurança global estão ameaçadas. Essas tendências são perigosas,
mas não inevitáveis.
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Pedagogia da Carta da Terra
Desafios futuros
A escolha é nossa: formar uma aliança global para cuidar da Terra e uns dos
outros ou arriscar a nossa destruição e a da diversidade da vida. São necessá-
rias mudanças fundamentais em nossos valores, instituições e modos de vida.
Devemos entender que, quando as necessidades básicas forem supridas, o de-
senvolvimento humano será primariamente voltado a ser mais e não a ter mais.
Temos o conhecimento e a tecnologia necessários para abastecer a todos e re-
duzir nossos impactos no meio ambiente. O surgimento de uma sociedade civil
global está criando novas oportunidades para construir um mundo democráti-
co e humano. Nossos desafios ambientais, econômicos, políticos, sociais e espi-
rituais estão interligados e juntos podemos forjar soluções inclusivas.
Responsabilidade universal
Para realizar estas aspirações, devemos decidir viver com um sentido de res-
ponsabilidade universal, identificando-nos com a comunidade terrestre como
um todo, bem como com nossas comunidades locais. Somos, ao mesmo tempo,
cidadãos de nações diferentes e de um mundo no qual as dimensões local e
global estão ligadas. Cada um compartilha responsabilidade pelo presente e
pelo futuro bem-estar da família humana e de todo o mundo dos seres vivos. O
espírito de solidariedade humana e de parentesco com toda a vida é fortalecido
quando vivemos com reverência o mistério da existência, com gratidão pelo
dom da vida e com humildade em relação ao lugar que o ser humano ocupa na
natureza.
Necessitamos com urgência de uma visão compartilhada de valores básicos
para proporcionar um fundamento ético à comunidade mundial emergente.
Portanto, juntos na esperança, afirmamos os seguintes princípios, interdepen-
dentes, visando a um modo de vida sustentável como padrão comum, através
dos quais a conduta de todos os indivíduos, organizações, empresas, governos e
instituições transnacionais será dirigida e avaliada.
Princípios
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O caminho adiante
Como nunca antes na História, o destino comum nos conclama a buscar um
novo começo. Tal renovação é a promessa destes princípios da Carta da Terra.
Para cumprir esta promessa, temos que nos comprometer a adotar e promover
os valores e objetivos da Carta.
Isso requer uma mudança na mente e no coração. Requer um novo sentido de
interdependência global e de responsabilidade universal. Devemos desenvolver
e aplicar com imaginação a visão de um modo de vida sustentável nos níveis
local, nacional, regional e global. Nossa diversidade cultural é uma herança
preciosa e diferentes culturas encontrarão suas próprias e distintas formas de
realizar esta visão. Devemos aprofundar e expandir o diálogo global que gerou
a Carta da Terra, porque temos muito que aprender a partir da busca conjunta
em andamento por verdade e sabedoria.
A vida muitas vezes envolve tensões entre valores importantes. Isto pode signi-
ficar escolhas difíceis. Entretanto, necessitamos encontrar caminhos para har-
monizar a diversidade com a unidade, o exercício da liberdade com o bem co-
mum, objetivos de curto prazo com metas de longo prazo. Todo indivíduo, famí-
lia, organização e comunidade tem um papel vital a desempenhar. As artes, as
ciências, as religiões, as instituições educativas, os meios de comunicação, as
empresas, as organizações não governamentais e os governos são todos cha-
mados a oferecer uma liderança criativa. A parceria entre governo, sociedade
civil e empresas é essencial para uma governabilidade efetiva.
Para construir uma comunidade global sustentável, as nações do mundo devem
renovar seu compromisso com as Nações Unidas, cumprir com suas obrigações
respeitando os acordos internacionais existentes e apoiar a implementação dos
princípios da Carta da Terra como um instrumento internacionalmente legali-
zado e contratual sobre o ambiente e o desenvolvimento.
Que o nosso tempo seja lembrado pelo despertar de uma nova reverência face à
vida, pelo compromisso firme de alcançar a sustentabilidade, a intensificação
dos esforços pela justiça e pela paz e a alegre celebração da vida.
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Síntese do Texto
Uma palavra
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Uma frase
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Um parágrafo
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Imagem Pedagógica
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Tratado de
Educação Ambiental para
Sociedades Sustentáveis e
Responsabilidade Global
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Introdução
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do. A educação ambiental deve ser planejada para capacitar as pessoas a traba-
lharem conflitos de maneira justa e humana. A educação ambiental deve pro-
mover a cooperação e do diálogo entre indivíduos e instituições, com a finali-
dade de criar novos modos de vida, baseados em atender às necessidades bási-
cas de todos, sem distinções étnicas, físicas, de gênero, idade, religião ou classe.
A educação ambiental requer a democratização dos meios de comunicação de
massa e seu comprometimento com os interesses de todos os setores da socie-
dade. A comunicação é um direito inalienável e os meios de comunicação de
massa devem ser transformados em um canal privilegiado de educação, não
somente disseminado informações em bases igualitárias, mas também promo-
vendo intercâmbio de experiências, métodos e valores. A educação ambiental
deve integrar conhecimentos, aptidões, valores, atitudes e ações. Deve conver-
ter cada oportunidade em experiências educativas de sociedades sustentáveis.
Plano de Ação
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Recursos
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Síntese do Texto
Uma palavra
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Uma frase
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Um parágrafo
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Imagem Pedagógica
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Organizadores
Ivo Dickmann
Professor Titular do Programa de Pós-Graduação em Educação e do Pro-
grama de Pós-Graduação em Ciências da Saúde - Unochapecó. Pós-doutor
em Educação (Uninove). Doutor e Mestre em Educação pela Universidade
Federal do Paraná (UFPR). Bacharel em Filosofia (IFIBE). Principal foco de
atuação e pesquisa: Pensamento de Paulo Freire, Educação Ambiental e
Ecopedagogia, Formação Docente em Saúde. Líder grupo de pesquisa inte-
rinstitucional Palavração - Grupo de Pesquisa em Educação e Ecopedagogia,
cadastrado no CNPq. Entre as principais obras publicadas estão artigos em
revistas científicas e os livros: Primeiras Palavras em Paulo Freire (2008;
2016; 2019), Educação Ambiental na América Latina (2018), 365 dias com
Paulo Freire (2019), Paulo Freire: método e didática (2020), Pedagogia do
Ser Mais (2020), Educação Ambiental Freiriana (2021).
E-mail: educador.ivo@unochapeco.edu.br
Autores e autoras
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E-mail: silvasouza.alinne@gmail.com
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