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Apresentação

Rubens Nóbrega
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2

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Vieira, Flávio Lúcio Rodrigues


Paraíba [livro eletrônico] : história de um novo ciclo político
(2009-2018) / Flávio Lúcio Rodrigues Vieira. -- João Pessoa, PB : Ed.
do Autor, 2023. eBook

ISBN 978-65-00-81901-4

1. Brasil - História 2. História moderna - Século


21 3. Paraíba (Estado) - História 4. Paraíba (Estado) - Política e
governo 5. Política - Brasil - História I. Título.

23-174550 CDD-981.33
Índices para catálogo sistemático:

1. Paraíba : História 981.33

Eliane de Freitas Leite - Bibliotecária - CRB 8/8415


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Sumário
PALAVRA GUIA.......................................................................................... 8
ALGUMAS POUCAS PALAVRAS ANTES DE COMEÇAR ........... 11
RICARDO COUTINHO, O PT E O EXEMPLO DE COZETE
BARBOSA ............................................................................................... 23
PT: SER OU NÃO SER? ......................................................................... 27
A ALIANÇA RICARDO-CÁSSIO .......................................................... 30
RICARDO COUTINHO ATRAVESSOU O RUBICÃO .................... 35
UMA BREVE AVALIAÇÃO DA GESTÃO DE RICARDO
COUTINHO ............................................................................................ 39
O SACRIFÍCIO DE CÍCERO LUCENA................................................ 44
QUANDO O “VELHO” SE TRANSFORMA NO NOVO (E VICE-
VERSA) ................................................................................................... 47
A PEDAGOGIA POLÍTICA DO CASO CÍCERO, O
"IRRETIRÁVEL"................................................................................... 51
SOBRE COMUNISTAS E ALIANÇAS ................................................ 54
RAZÕES PARA A VITÓRIA DE RODRIGO SOARES NO PT...... 58
XADREZ E POLÍTICA NA PARAÍBA QUEM É JOGADOR E
QUEM É JOGADO................................................................................. 63
ANÁLISE DAS ÚLTIMAS ELEIÇÕES NA PARAÍBA: 2002 ....... 69
ELEIÇÕES DE 2006: A MÁQUINA ESTADUAL REELEGE
CÁSSIO CUNHA LIMA........................................................................ 77
AS CHANCES DE LUIZ COUTO PARA O SENADO ...................... 84
LUIZ COUTO UNIA O PT. AINDA UNE? ......................................... 87
VENEZIANO FICA OU SAI? ................................................................. 92
PESQUISA CONSULT-CORREIO RICARDO COUTINHO ESTÁ
NO PÁREO ............................................................................................. 97
O PT, JOSE MARANHÃO E A QUESTÃO DA VICE: O PRESENTE
E O FUTURO........................................................................................ 101
RICARDO COUTINHO X JOSÉ MARANHÃO: DAVI CONTRA
GOLIAS? ................................................................................................ 107
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COMPOSIÇÃO ATUAL DAS CHAPAS PARA O GOVERNO:


VANTAGEM DE RICARDO COUTINHO ..................................... 111
NADA DE NOVO NO FRONT? JOSÉ MARANHÃO E AS
ARMADILHAS DO DEBATE PROGRAMÁTICO ...................... 116
ELEIÇÃO PARA O SENADO: O PT VAI PERDER ESSA
OPORTUNIDADE HISTÓRICA? .................................................... 119
INDICAÇÃO DO VICE NA CHAPA DO PSB: JOGO DE CENA E
DE CARTAS MARCADAS? .............................................................. 127
O QUE DERROTOU JOSÉ MARANHÃO NO PRIMEIRO TURNO?
................................................................................................................. 132
OS ERROS DA CAMPANHA DE JOSÉ MARANHÃO.................. 137
TERCEIRIZAÇÃO DO TRAUMAS: DE VOLTA AO ESTADO
MÍNIMO? .............................................................................................. 142
O GIRO DE 180° DE RICARDO COUTINHO ................................ 144
CÁSSIO CAMALEÃO ............................................................................ 150
O NOVO STATUS POLÍTICO DE CÁSSIO CUNHA LIMA ......... 153
AS CHANCES DE CÍCERO LUCENA ............................................... 157
ELEIÇÃO DE 2014 COMEÇA AGORA ............................................ 161
ELEIÇÃO EM JOÃO PESSOA: A POLARIZAÇÃO QUE SE
ANUNCIA ............................................................................................. 163
GOVERNO RC: CASSISMO REVIGORADO ................................... 165
RC E AS ELEIÇÕES DA UEPB ........................................................... 167
AS PESQUISAS E SUAS UTILIDADES ........................................... 169
A AVENTURA CASSISTA? ................................................................. 171
UM "PROJETO", DUAS VISÕES: AS DECISÕES DE NONATO
BANDERIA E LUCIANO AGRA ..................................................... 173
CARTAXO, UM HOMEM DE SORTE .............................................. 175
2013: UM ANO DE CRISE POLÍTICA NA PARAÍBA? .............. 178
O NOVO STATUS POLÍTICO DO PT............................................... 181
CÁSSIO E ROMERO AJUDAM A RECOMPOR AS PEÇAS QUE
RC ESPALHOU PELO TABULEIRO ............................................. 184
5

O “REPUBLICANO” RICARDO COUTINHO ................................. 188


NONATO BANDEIRA: AGRA E A VIABILIDADE DA TERCEIRA
VIA NA PARAÍBA .............................................................................. 190
BANDEIRA JÁ OLHA PARA 2014................................................... 192
2014: CÁSSIO CUNHA LIMA............................................................ 194
2014: LUCIANO AGRA ....................................................................... 196
2014: VENEZIANO VITAL REGO ................................................... 200
SECA, ONTEM E HOJE ........................................................................ 204
AGRA NO PEN ....................................................................................... 208
CASSISMO REVIGORADO ................................................................. 211
SAÚDE, PARAÍBA! TERCEIRIZAR É A SOLUÇÃO? .................. 213
SENADO: O CAVALO SELADO PARA LUCÉLIO CARTAXO ... 215
CENÁRIOS DE 2014: A CANDIDATURA DE CÁSSIO .............. 218
CENÁRIOS DE 2014: "BLOCÃO" PRECISA DE CANDIDATO
PARA SE VIABILIZAR...................................................................... 222
QUANDO FINALMENTE CÁSSIO VAI ANUNCIAR O GOLPE
FINAL? .................................................................................................. 228
RICARDO COUTINHO E OS PERIGOS DA “COZETIZAÇÃO”. 231
CANDIDATURA DE CÁSSIO IMPÕE UNIDADE PMDB-PT NA
PARAÍBA .............................................................................................. 235
PESQUISA CONSULT-MAISPB MOSTRA DISPUTA EM
ABERTO PARA O GOVERNO ........................................................ 239
O SILÊNCIO ENSURDECEDOR DE VENEZIANO E A ALIANÇA
PSDB-PMDB NA PARAÍBA ............................................................ 246
PESQUISAS ELEITORAIS NA PARAÍBA....................................... 250
UM LUCIANO CARTAXO DE MAIS ATITUDE E A POSSÍVEL
CANDIDATURA DE LUCÉLIO ....................................................... 253
A VIA CRÚCIS DE VENEZIANO ....................................................... 256
O PT DOS CARTAXO: QUANDO O EXCESSO PRAGMATISMO
DOMINA O DESASTRE É CERTO ................................................ 261
PARAÍBA: SEGUNDO TURNO À VISTA........................................ 265
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DESDE 1986, QUEM VENCE EM CAMPINA GRANDE É


ELEITO GOVERNADOR. EM 2014 SERÁ DIFERENTE?...... 267
PT TROUXE MARANHÃO PARA DISPUTAR O SENADO:
ALIANÇA COM RC PODE DERROTAR LUCÉLIO ................... 272
ELEIÇÕES PARA O SENADO: O FAVORITISMO DE
MARANHÃO ........................................................................................ 275
QUEM VENCEU NA PARAÍBA EM 2014...................................... 281
CASSISMO, RUMO À DECADÊNCIA? ............................................ 287
O DITO E O NÃO DITO NA POSSE DE RICARDO COUTINHO
................................................................................................................. 294
O EMBATE SILENCIOSO ENTRE RC E LUCIANO CARTAXO EM
JOÃO PESSOA ..................................................................................... 298
TRAPALHADAS PETISTAS ............................................................... 303
OS PROBLEMAS DA TERCEIRIZAÇÃO DO TRAUMA ............. 307
O EMBATE POLÍTICO SUBTERRÂNEO ....................................... 311
CÁSSIO E A VIOLÊNCIA NA PARAÍBA ......................................... 314
CÍCERO DISSE NÃO A CÁSSIO ........................................................ 316
LUCIANO CARTAXO, DO PT, VISITA ROMERO RODRIGUES,
DO PSDB E DAI? ................................................................................ 319
PSB TERÁ CANDIDATO. CARTAXO QUE SE CUIDE ............... 322
O JOGO DE LUCIANO CARTAXO .................................................... 326
A DISPUTA RC X CÁSSIO PERMANECE ATUAL? ..................... 330
O TIMING DO PSB................................................................................ 333
A FORÇA DE LUCIANO CARTAXO ................................................. 337
LUCIANO CARTAXO PREFERIU A COMPANHIA DE OUTROS
BRAÇOS ................................................................................................ 340
2016 E O FUTURO DO CASSISMO ................................................. 344
LUCIANO CARTAXO SENTIU O GOLPE ....................................... 348
SOBRE A APROXIMAÇÃO CÁSSIO-MARANHÃO...................... 352
AS OPÇÕES DE RICARDO COUTINHO ......................................... 357
7

CARTAXO, ROMERO, CÁSSIO E MARANHÃO: 2018 VEM AÍ


................................................................................................................. 361
CARTAXO ESTÁ FORA DO JOGO .................................................... 365
RC: RUMO À HEGEMONIA? ............................................................. 368
RC COLOCA JOÃO AZEVEDO EM CAMPO ................................... 371
A OPOSIÇÃO DOS SONHOS DE RICARDO COUTINHO .......... 375
CANDIDATURA DE LUCIANO CARTAXO NA BERLINDA ..... 378
LÍGIA FELICIANO E SUAS CIRCUNSTÂNCIAS .......................... 381
O SONHO DE CARTAXO .................................................................... 384
O LABIRINTO DE CÁSSIO ................................................................. 387
POR QUE CARTAXO É O MELHOR CANDIDATO DA
OPOSIÇÃO............................................................................................ 391
ROMERO RODRIGUES DÁ XEQUE-MATE EM LUCIANO
CARTAXO ............................................................................................. 396
DAMIÃO FELICIANO: QUEM TUDO QUER, TUDO PERDE?. 400
AS CHANCES DE JOÃO AZEVEDO.................................................. 404
A ALTERNATIVA CÁSSIO ................................................................. 409
AS CANDIDATURAS DE LUCÉLIO ................................................. 412
O FICO DE RICARDO........................................................................... 416
POR QUE CÁSSIO E CARTAXO DESPREZAM MARANHÃO? 419
CANDIDATURA PT É FALTA DE VISÃO ESTRATÉGICA ....... 424
A FRÁGIL A ALIANÇA CARTAXO-CUNHA LIMA ...................... 428
AS OPÇÕES DE DANIELA RIBEIRO............................................... 431
VITÓRIAS DE JOÃO AZEVEDO EM 2018 E 2022
CONSOLIDARAM O NOVO CICLO POLÍTICO ......................... 434
8

PALAVRA GUIA
Rubens Nóbrega

Comecei a reparar em Flávio Lúcio desde quando ele


militava – e já então se destacava como líder e dirigente – no
movimento estudantil da Universidade Federal da Paraíba
(UFPB), em João Pessoa, creio que entre a segunda metade
dos oitenta e a primeira dos noventa do século passado.
Não fosse por outra coisa, não fosse por ter sido, à
época, precioso quadro da bem sucedida inserção da
esquerda no alunado universitário, ele já me chamava a
atenção por seu prenome ‘composto’. Porque dissente do
tradicional. Ordinariamente, ou mais facilmente,
encontramos o Lúcio antes do Flávio, não o contrário.
Teriam os pais de Flávio Lúcio cometido vaticínio ao
batizá-lo dessa forma, antecipando que o filho seria valioso
quadro da boa, instigante e transformadora dissidência dos
que vêm ao mundo para agregar massa crítica e
instrumental questionador aos seus contemporâneos e
concidadãos?
Antes de prosseguir, vamos combinar que ‘dissidência’
tem aqui significado de largo espectro. Não está reduzido a
eventual discordância de um quadro político face à direção
da legenda à qual esteja filiado. A dissidência que tem Flávio
Lúcio como expressão quer dizer, por exemplo, o
inconformismo diante do estabelecido ou a resistência aos
sagrados e consagrados por maiorias circunstanciais.
Professor Doutor da área de Humanas (História,
Sociologia, Ciência Política etc.) da UFPB, Flávio Lúcio
também se sobressai como liderança docente. De um ou
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outro modo, portanto, na vida prática ou acadêmica não lhe


faltam embasamento científico nem densidade intelectual
para realizar bem e competentemente tudo o que faz, diz e
escreve. Dentro ou para muito além dos limites do Campus.
Não, não tenho o menor receio de parecer apologético,
babão ou coisa parecida. Não é de hoje nem de ontem, mas
de sempre, que reconheço e proclamo a qualidade da escrita
e da análise política de Flávio Lúcio. Qualidade atestada por
leitores e admiradores em espaços como o Pensamento
Múltiplo, blog que ele criou e se projeta neste livro, depois
de ter sido referência para uns e guia para tantos outros,
sobretudo no ano da graça de 2010.
Por tudo isso, por muitas outras e mais, quem lê Flávio
Lúcio, gostando ou não do que ele escreve, admira. De modo
que é praticamente impossível não sermos, todos, leitores-
admiradores de Flávio Lúcio, da extrema percuciência de
suas avaliações e projeções dos fatos, momentos,
pressupostos e consequências do ato político na eterna cena
aberta (e muitas vezes patética) da política paraibana.
Como fã assumido, posso dizer que na história recente
da comunicação de massa da Paraíba ninguém melhor do
que ele soube mostrar por quais meios e conexões é possível
compreender e se postar diante do que se passa e do que
pode vir a ser na Terrinha. Digo assim porque nesse
percurso tive o privilégio de me alternar com Flávio Lúcio
no colunismo diário no Correio da Paraíba e no Jornal da
Paraíba. Na conta da alternância, vez por outra recebia
rasgados elogios por artigos da lavra dele, graças à distração
com que alguns me atribuíam autoria de tão magnífica obra
alheia.
Eis as razões, entre diversas, porque leituras e
releituras do que Flávio Lúcio publicou em qualquer mídia
10

ou plataforma oferecem a todos nova oportunidade de


entender o que acontece e pode se repetir – como farsa,
tragédia ou pantomima – na Paraíba, no Brasil e no mundo.
11

ALGUMAS POUCAS PALAVRAS ANTES


DE COMEÇAR

É curioso, e mesmo paradoxal, que o analista político


descreva a política como “dinâmica” para acentua sua
natureza marcadamente imprevisível e, mesmo assim, se
esforce tanto por desvelar o futuro, o porvir, a partir das
várias possibilidades abertas pelos movimentos dos atores
envolvidos nos processos políticos. Não seria um
contrassenso, portanto, dizer que a função do analista
político seja, qualquer que seja sua posição no espectro
político e ideológico, abrir caminhos para o entendimento
de acontecimentos em curso, num esforço de antever seu
desfecho. É isso que, em geral, fazem os analistas políticos,
não?
Antes de continuarmos, quero aproveitar o gancho para
deixar mais clara a diferença entre análise política e ciência
política. Ousando fazer uma diferenciação didática das duas,
eu diria que a primeira trata dos movimentos da política; a
segunda, do fenômeno político, entremeado em suas
interseções com a dinâmica mais geral de uma sociedade em
particular e suas repercussões na organização do Estado.
Essa distinção é importante porque ajudar a entender as
dinâmicas das durações, das diferentes temporalidades
envolvidas nos processos políticos.
Nesse sentido, a política lida com o cotidiano, com o dia-
a-dia das relações de poder e tudo que as envolve. O político
refere-se a fenômenos de mais longa duração, mais
estruturais, que perpassam desde o Estado até a cultura
política de uma sociedade, e não pode ser entendido apenas
pela observação do turbilhão dos acontecimentos, que
12

acabam por nos confundir. Esse aparente caos, entretanto,


pode ser enganador.
Vou partir para um lugar-comum. Pensemos no que fez
Maquiavel quando escreveu, ainda no século XVI, o manual
de ação política que ele intitulou de O príncipe, o livro que
fundou o pensamento político moderno e continua chegar
até nós com uma atualidade desconcertante, sobretudo
devido à sua polissemia. O livro é sobre o “príncipe” ou sobre
o povo? É sobre monarquia ou sobre república? É sobre
como o governante pode conservar o poder para realizar
interesses particulares ou sobre como realizar grandes
feitos?
Em O Príncipe, Maquiavel faz considerações sobre como
os governantes devem agir, levando sempre em conta as
possibilidades e limitações do poder político, mas
evidenciando que as situações com as quais estes
governantes se defrontam são mutáveis. Definidos os
objetivos, quais são as melhores escolhas para realizá-los? É
bom ter o apoio do povo ou este é prescindível? Que tipo de
reputação, ou imagem — olha ela já aí! — o príncipe deve
cultivar para si? É melhor ser amado ou temido — jamais
odiado — pelo povo? Que tipo de auxiliar escolher? O que
tem ideias próprias, o que não as tem, mas sabe ouvir quem
pode oferecê-las, ou quem não tem nem uma, nem outra? E
os bajuladores, essa espécie que, como se vê, é tão antiga
quanto o próprio poder e continua a “povoar todas as
cortes”, seja na Florença do século XVI ou na Paraíba do
século XXI, pois tanto numa época como noutra, aceitar e
valorizar a lisonja continua sendo o meio mais fácil de se
enganar. Séculos depois, essa lição foi pouco levada em
conta, pois são poucos os que conseguem escapar do que
Maquiavel considerava ser uma “praga”.
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Enfim, não se trata de ser bom ou ser mau, mas de agir


segundo objetivos menos ou mais grandiosos, nesse último
caso, novamente, a depender das circunstâncias e das
condições históricas. Quando Maquiavel pensou nas
qualidades de um Príncipe, o fez olhando para a realidade
da península italiana do seu tempo, marcada pela divisão
interna e pela dominação estrangeira a que a Itália, que
ainda não existia, estava submetida há séculos. Era esse
objetivo que Maquiavel tinha em vista. Nem toda situação
política guarda a grandiloquência da grande política com a
qual Maquiavel se acostumou ou está a recoberto por
desafios históricos, sobretudo na complexidade dos tempos
onde os Estados nacionais se tornaram os grandes sujeitos
a organizarem as sociedades nacionais e se defrontarem nas
relações internacionais.
Para justificar a lembrança aqui do mais célebre
diplomata italiano, é da combinação analítica do conjuntural
e do estrutural, ambos presentes em qualquer realidade,
que nasce o pensamento político moderno. É dessa
combinação heurística que a distinção entre a fortuna e a
virtù, empregada por Maquiavel, também nasce.
Desdobrando o conceito nos termos de uma epistemologia
sociológica, essa duas categorias permitem a conjunção
analítica do indivíduo com os fatores externos limitantes da
ação individual. Porém, como tudo do social, esses fatores
são mutáveis e, portanto, transformáveis. A fortuna, como
uma categoria que leva em conta as condições externas da
ação, a história, o tempo de cada sujeito político; a
virtù como capacidade individual, como virtude de cada
sujeito político para tomar decisões, de acordo com essas
circunstâncias, porém, sempre observando a objetividade
limitadoras, em outros termos, as estruturas. É aqui onde se
diferenciam o político comum, ordinário, do homem
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público, de Estado. Ou seja, em termos modernos, o bom


político, o bom príncipe, é aquele que se mostra hábil em
“ler” a realidade, tornando-se capaz de não apenas atuar em
dada circunstância, em dada conjuntura, e, ao mesmo
tempo, de perceber os grandes movimentos de mudança
que estão em curso.
Considero ainda necessário fazer mais um
esclarecimento antes de começarmos: deixar clara a ideia de
ciclo apresentada no título. Por ciclo político, entendemos
aqui um movimento de formação, expansão e crise que
caracteriza uma duração histórica, cujos atributos são
ditados pela capacidade de arregimentação dos grupos e
lideranças políticas e das relações de forças entre eles-elas.
Esses ciclos não são, nem podem ser engendrados por
indivíduos isolados, mas por agrupamentos que, para
disputarem o poder, o fazem aglutinando em torno da
liderança de certas personalidades políticas. Os ciclos
políticos aqui descritos são processos que contam a história
da ascensão de uma liderança política e seu grupo político
até o corolário uma crise, que é também uma crise de
liderança de cada grupo político.
Não é nossa intenção nos deter aqui na interseção entre
política e economia, mas, en passant, é possível estabelecer
uma relação entre ciclos políticos e ciclos econômicos, que
conformariam uma certa unidade entre ambos, porém,
nesse sempre sincrônica. Entre o fim da ditadura militar e o
início da chamada Nova República, por exemplo, operou-se
no Brasil, sobretudo a partir da segunda metade da década
de 1980, uma mudança no pacto político nacional, que só se
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completou durante os governos de Fernando Henrique


Cardoso (1995-2002).
A ascensão de Luiz Inácio Lula da Silva à presidência,
em 2003, se não alterou substancialmente o paradigma de
desenvolvimento, porque preservou, no essencial, as linhas
mestras do modelo econômico, mas promoveu, no pacto
político, um novo rearranjo regional e de classes no país.
Sem a defesa, muito menos a execução, das reformas
historicamente defendidas pela esquerda, restou colocar em
prática, políticas sociais distributivas que reorganizaram as
bases sociais dos partidos. Por isso, o impacto político da
ascensão de Lula no Nordeste foi amplo. De uma região
eleitoralmente conservadora, com exceção das capitais e
maiores cidades, o Nordeste se tornou o principal reduto do
PT e de partidos de esquerda, como o PSB, PDT e PCdoB.
Enquanto no governo federal o PT perdia o predomínio
eleitoral que teve nas classes médias, que foi sua base social
e eleitoral desde a fundação até a assunção de Lula à
presidência, incorporou a massa de deserdados que povoam
as periferias das cidades e regiões do país.
No caso do ciclo político que entrou em crise terminal
na Paraíba, em 2010, começou antes do fim da ditadura
(1982). Esse ciclo foi teve uma primeira fase (1982-1995)
marcada por dois campos políticos, que se agruparam em
dois grupos. Os remanescentes da Arena e PDS, que
apoiaram a ditadura militar (Wilson e o “braguismo”), e os
opositores à ditadura, que fundaram o PMDB (Antônio
Mariz, Humberto Lucena e Ronaldo Cunha Lima). Essa
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primeira fase do ciclo se encerra com a hegemonia do PMDB,


depois da vitória de Antônio Mariz na eleição de 1994.
A hegemonia do PMDB, porém, seria breve. Ao se
converter, no pós-1995, na principal e única força política da
Paraíba com capacidade para aglutinar partidos e lideranças
para um projeto de poder, o partido passou a ser o
verdadeiro centro da disputa política, que explodiu após a
morte do governador Antônio Mariz. A crise latente no
PMDB se acentuou quando foi aprovada no Congresso
Nacional o direito à reeleição para prefeitos e governadores,
que inseriu José Maranhão, o vice-governador Mariz que
assumiu o governo após a morte de Mariz, o que afetou os
planos do ex-governador Ronaldo Cunha Lima de lançar seu
filho, Cássio, então prefeito de Campina Grande, ao governo
estadual na eleição seguinte. É difícil dizer se esse racha
teria acontecido se Antônio Mariz tivesse sobrevivido.
As disputas pelo controle do PMDB entre o grupo Cunha
Lima e o nascente “maranhismo” levou a implosão do
partido na convenção estadual que decidiria quem seria o
candidato do partido, que se tornou uma aposta de tudo ou
nada para os dois grupos, porque a convenção anteciparia,
na prática, quem seria o futuro governador da Paraíba. O
que de fato aconteceu. José Maranhão venceu Ronaldo
Cunha Lima na Convenção do PMDB, realizada em junho de
1998, e foi candidato ao governo sem adversários capazes
de sequer ameaçar sua vitória. Ou seja, a segunda fase do
ciclo político, iniciado em 1983, se abre com as disputas
entre José Maranhão, que passou a liderar o maranhismo, e
17

Cássio Cunha Lima, principal liderança do cassismo, e


marcarão a história política da Paraíba de 1995 a 2010.
A transição para o novo ciclo começa com a vitória de
Ricardo Coutinho para a prefeitura de João Pessoa, capital e
maior colégio eleitoral da Paraíba. A ascensão de uma
liderança com o perfil de Ricardo Coutinho foi tardia,
considerando que em quase todos os estados da região
Nordeste, com exceção da Paraíba e do Rio Grande do Norte,
essa mudança de ciclo já havia acontecido. Até 2010,
políticos de centro-esquerda já haviam governado ou
estavam no governo da Bahia, Sergipe, Alagoas,
Pernambuco, Ceará, Piauí e Maranhão. No caso do Rio
Grande do Norte, essa mudança de ciclo foi ainda mais
tardia, pois só chegou ao estado dos potiguara oito anos
mais tarde, em 2018, com a eleição da petista Fátima
Bezerra ao governo estadual.
As eleições para governador da Paraíba de 2010 para cá
são um belo ensinamento para aqueles que desprezaram
questões, digamos, mais estruturais. Os movimentos que
antecederam as disputas eleitorais na Paraíba, a começar
pelas alianças políticas, sofreram em 2010 uma
inimaginável reviravolta, que eram reveladoras de uma
mudança em curso de mais longo alcance: o esgotamento e
a emergência de um novo ciclo político e de suas lideranças
(José Maranhão e Cássio Cunha Lima).
Em 2010, a política paraibana foi posta de ponta-
cabeça, quando antigos adversários, de chofre, tornaram-se
aliados, incluindo partidos antagônicos nacionalmente, que
deixaram de lado suas diferenças para partilharem, no
estado, o mesmo palanque. A aliança entre o PSB de Ricardo
18

Coutinho e o PSDB-Dem de Cássio Cunha Lima e Efraim


Morais, não deixou de produzir um choque em boa parte do
eleitorado “progressista” em razão da surpreendente
guinada à direita do ex-petista, então socialista, e hoje
atualmente de novo no PT. Era surpreendente para quem
olhava o que acontecia apenas na Paraíba, sem observar a
ascensão de lideranças de esquerda por todo o Nordeste,
que se viabilizaram em alianças com grupos e lideranças
tradicionais.
No turbilhão dos acontecimentos, a ascensão de
Ricardo Coutinho era apresentada por muitos como um
curto hiato no ciclo político que tinha como principal
característica a gangorra eleitoral entre o cassismo e o
maranhismo. E a vitória Cássio Cunha Lima para o Senado,
na mesma eleição, era um exemplo disso. Ela parecia indicar
o pleno renascimento político do ex-governador. Vista em
perspectiva, na sequência das eleições seguintes, porém, foi
apenas um soluço que encobria o declínio de uma liderança,
por muito tempo incontestável. Tornou-se lugar-comum a
assertiva segundo a qual Ricardo Coutinho devia sua eleição
para o governo, em 2010, ao apoio de Cássio Cunha Lima.
Como esse é o tipo de hipótese de difícil comprovação, foi
necessário esperar pela eleição seguinte para testá-la. Em
2014, foi o próprio Cássio Cunha Lima a enfrentar e a ser
derrotado por Ricardo Coutinho. Mais dramático que a
derrota de 2014 foi a constatar, quatro anos depois, do
esgarçamento total da liderança pessoal de Cássio Cunha
Lima como liderança de proa. Quando tentou reeleger-se
para uma das duas vagas em disputa para o Senado e ficou
em quarto lugar, ficou evidenciado que o tempo de sua
liderança havia passado e Cunha Lima se deu conta que lutar
contra a realidade era inútil. E só lhe restou reconhecer
como único caminho possível a aposentaria, que havia vida
19

fora da política, ele que foi, inegavelmente, uma das maiores


e mais influentes lideranças políticas da história da Paraíba.
A vitória de João Azevedo, em 2018, foi a continuação
irrefreável dessa mudança, sob o olhar incrédulo dos que
não viam a possibilidade do até então desconhecido
supersecretário de Ricardo Coutinho se eleger governador.
A candidatura de João Azevêdo era a uma provocação à
realidade e ao lugar-comum. Sua postulação desafiava a
compreensão da mudança de mais longo alcance que estava
em curso, aqui postulada como um novo ciclo político. Ela
confirmaria que os resultados das eleições de 2010, 2014 e
2018 não deveriam ser encarados como um raio que
resolveu cair em pleno dia de sol. Mais uma vez: a ascensão
de Ricardo Coutinho e João Azevedo, mais que tudo, é
resultado do grande movimento de mudança política e
social que viveu o Nordeste e a Paraíba não apenas na última
década, mas nas seis anteriores. Sem esse fio condutor, fica
mesmo difícil, talvez impossível, entender o que aconteceu
na Paraíba de 2010 para cá, quando políticos de origem
social e política distante do até então usual, e pouco dotados
de certas características, até então valorizadas, como a
“simpatia”, foram capazes de vencer esses obstáculos e se
elegerem governador — o carisma de ambos era de outro
tipo. Se o então prefeito de João Pessoa, Ricardo Coutinho,
exerceu sua virtù em 2010 e 2014 ao compreender essa
mudança e apostar todas as suas fichas nessa oportunidade
histórica, em 2018, ele parece ter perdido essa capacidade.
A trajetória dos protagonistas políticos envolvidos nas
disputas eleitorais e na construção das alianças partidárias,
entre 2010 e 2018, é o tema desse livro. Aqui estão
registrados, bem ou mal, os movimentos, as dúvidas de
então, o vai-e-vem das alianças, os embates pessoais, as
decisões dos principais sujeitos políticos envolvidos nessas
20

disputas, submetidos a um esforço de análise que tentava


considerar e articular projeções de curto, médio e longo
prazos. Assim foi que os resultados dos embates pós-2010
surpreenderam, senão a todos, mas a muitos analistas que
observaram essas eleições no ambiente do calor da
campanha. Mais do que isso, arriscamo-nos a empreender a
análise desses movimentos em pleno transcurso dos
acontecimentos, para tentar ir além da descrição do
aparente caos, de fatos aparentemente desconexos, que
mostravam muito, mas não o principal.
Sobre os escritos aqui reunidos, procuramos preservar
ao máximo a maneira e o estilo como foram redigidos.
Apenas quando absolutamente necessário, foram feitos
ajustes e supressões de passagens, parte delas porque o
tempo cuidou de torná-las dispensáveis. Uma revisão mais
acurada também foi feita e, no mais das vezes, alterações
foram introduzidas em benefício da clareza e do
entendimento do leitor. Como quase todos os textos aqui
selecionados foram disponibilizados na internet, no meu
blog pessoal (pensamentomultiplo.blogspost.com), ou nas
colunas de Rubens Nóbrega, no Correio da Paraíba e no
Jornal da Paraíba, bem como em seu site
(rubensnobrega.com.br), quem quiser se dar ao trabalho de
comparar as versões originais dos textos com as publicadas
neste livro poderá fazê-lo.
Para finalizar, considero necessário deixar registrado
meu agradecimento a Rubens Nóbrega, ele que foi o
principal incentivador para que eu enveredasse pelos
caminhos da análise política, oferecendo-me generosos
espaços nas colunas que assinou, por anos, no Correio da
Paraíba e no Jornal da Paraíba, a quem, também, fui
convidado a substituir em algumas ocasiões. Preciso
agradecer, também, a generosa apresentação escrita por
21

Rubens Nóbrega, que abre esse livro, um estandarte que


carregarei com orgulho. A qualidade inigualável da escrita,
e sua integridade como jornalista e como cidadão, tornam
Rubens Nóbrega um dos membros do restrito panteão do
jornalismo paraibano. Tivesse ele buscado voos mais altos...
Rubens foi um dos incentivadores, ao lado do colega de
UFPB, Derval Golzio, para que eu criasse o blog Pensamento
Múltiplo, onde publiquei a maioria dos textos que compõe
esse livro.
22

2009
23

RICARDO COUTINHO, O PT E O
EXEMPLO DE COZETE BARBOSA
(Abril de 2009)

A última notícia envolvendo a ex-prefeita de Campina


Grande, Cozete Barbosa, dava conta de seu internamento
por conta de uma “crise nervosa” resultado do impacto da
notícia de que ela fora condenada a pagar uma multa
milionária por conta de ações praticadas durante a sua
gestão na prefeitura.
Cozete Barbosa era uma das mais promissoras figuras
públicas do PT da Paraíba. Em 1998, teve uma significativa
votação na eleição para o Senado e já era apontada como
uma forte candidata à prefeitura de Campina Grande na
eleição seguinte, em 2000. O grupo Cunha Lima, derrotado
por José Maranhão no interior do PMDB, buscava
desesperadamente aliados e insinuava uma aproximação
com o PT, dando a entender que poderia, inclusive, filiar seu
“menino de ouro", Cássio, ao partido para concorrer ao
governo na eleição de 2002. Os dirigentes do PT estavam tão
empolgados com essa possibilidade que “rifaram”
literalmente a candidatura do então deputado estadual
Ricardo Coutinho, o único candidato de oposição que
poderia vencer a eleição em João Pessoa, para beneficiar o
então prefeito e candidato a reeleição, Cícero Lucena, na
época filiado ao PMDB. Depois desses eventos e pela
permanente tentativa de ingerência de Cássio no PT, o
partido nunca mais se uniria na Paraíba e, ao contrário do
restante do país, permanece no mesmo lugar eleitoral de 10
anos atrás, sem nomes expressivos nem na Capital, nem em
Campina Grande. Cássio, como todos sabem, deixou o PT a
24

ver navios, preferindo o aconchegante “ninho” tucano, para


onde se mudou de mala e cuia e onde permanece até hoje,
apoiou a candidatura de José Serra para presidente, o
candidato da elite paulista derrotado por Lula naquele ano.
Cássio certamente deve ter muitos encantos, mas nenhum
deles se compara à capacidade que tem de fazer seus ex
aliados esquecerem de suas traições.
Em Campina, Cássio, também candidato à reeleição,
jogou o anzol para o PT num aceno irresistível: convidara
nada mais nada menos que a então maior oposicionista de
sua gestão na Câmara de Vereadores, a vereadora Cozete
Barbosa, para ser sua vice, ação que teve um duplo objetivo:
fortalecer os laços com o PT — em Campina e João Pessoa —
e não apenas neutralizar Cozete para uma eventual
candidatura à prefeitura, mas desconstruir sua imagem de
coerência e resistência aos desmandos do até então
invencível grupo Cunha Lima na cidade. Abocanhado o
anzol, Cozete iniciaria uma decadência que começou com o
afastamento do partido para apoiar Cássio ao governo, em
2002, pelo PSDB, preterindo o então candidato do PT (outro
que submergiu politicamente por conta de sua ligação com
Cássio, Avenzoar Arruda), até a obtenção de pouco mais de
10% dos votos quando fora candidata à reeleição em 2004,
resultado que a afastaria definitivamente da política.
Abandonada na hora H pelos Cunha Lima, Cozete
esperara demasiadamente em denunciar a “herança
maldita” que recebera de Cássio na vã ilusão de ainda ter o
seu apoio eleitoral. Hoje, sem poder se candidatar nem a
vereadora, responde a processos por improbidade
administrativa, lesão ao erário, dilapidação do patrimônio,
transferência ilegal de valores e agiotagem (ufa!), tudo isso
25

praticado em apenas 2 anos e 8 meses. A justiça de Campina


é mesmo implacável com maus políticos!
Enquanto isso, Cássio Cunha Lima, prefeito por três
vezes da cidade e recentemente cassado do cargo de
governador da Paraíba por bobas “travessuras” eleitorais,
além de responder a outros processos tão bobos quanto o
que lhe custou o mandato, que bem lhe serve a epíteto de
“injustiçado” que seus aliados e parte da imprensa lhe
atribui, segue livremente para os Estados Unidos, para onde
vai para aprender inglês e estudar economia, e é fortíssimo
candidato ao senado em 2010. São os encantos da vida
pública Paraibana!
Nesse novo capítulo de uma história que parece se
repetir, Cássio ensaia novamente uma aproximação com a
esquerda, agora com o prefeito Ricardo Coutinho, jogando-
lhe novamente o doce anzol do apoio para as eleições de
2010. A situação, é claro, muito difere de 2000. Ricardo já é
uma liderança consolidada e com brilhante futuro pela
frente. Resta saber, como tudo indica hoje que sim, se ele
cairá no canto da sereia cassista. Lembremos que Cássio
pretende, como ele mesmo disse, retornar ao governo em
2014. Para isso, ele tem que afastar adversários do seu
caminho. Um primeiro intento ele parece que vai conseguir,
ao rachar a aliança entre Ricardo, Maranhão e Veneziano,
que, caso acontecesse, deixaria Cássio em maus lençóis na
eleição para o senado, próximo de uma completa
desarticulação política do seu grupo, caso fosse derrotado.
Outra vítima da estratégia cassista pode ser o próprio
Ricardo, ao mirar no patrimônio político de coerência e
lealdade, cuidadosamente construído com muito esforço e
coragem próprios dos políticos que vem de baixo e se
tornam grandes lideranças, o que não foi o caso do ex-
26

governador, filhinho de papai de um tradicional grupo


oligárquico paraibano. É esse patrimônio que Ricardo coloca
em risco quando acena com a possibilidade dessa aliança.
Quanto aos outros adversários, Cássio cuidará depois,
no seu próprio tempo. Pois, aparentemente, a esquerda
Paraibana, com amplo espaço a ser ocupado em breve, não
aprende mesmo com seus próprios erros e parece atrelar o
seu destino irremediavelmente aos objetivos dos grupos
tradicionais. Vamos esperar para ver.
27

PT: SER OU NÃO SER?


(Maio de 2009)

Com este post, daremos início a uma série de textos cujo


objetivo é contribuir para uma análise da atuação do PT na
Paraíba, atualmente envolvido numa divergência de grande
porte: quem deve ser o candidato do partido a governador
em 2010. No post de hoje, introduziremos o problema e já
anteciparemos a alternativa de aliança com Ricardo
Coutinho, do PSB. Amanhã, será a vez do "maranhismo
petista".
Para quem não conhece, o PT é mesmo um partido
muito estranho. Aos olhos da população, o partido do
Presidente Lula expõe demasiadamente em público suas
fraturas internas quando suas “tendências” se enfrentam em
disputas por meio de acalorados embates públicos.
Entretanto, principalmente na Paraíba e após a conquista do
Governo Federal, em 2002, tais embates têm deixado cada
vez mais de lado as antigas diferenças ideológicas, que
demarcavam a formação das alianças partidárias internas,
para dar lugar a uma disputa cuja principal característica é
o abandono de projetos de democratização do Estado ou de
desenvolvimento com justiça social, ou mesmo de políticas
mais audaciosas de Reforma Agrária, por interesses mais
imediatos de ocupação de espaços políticos pelos grupos
organizados. E, claro, isso se reflete numa política de
alianças cada vez mais frouxa ideologicamente.
O mais novo embate público começou no fim da semana
passada, com o lançamento de um manifesto por parte de
setores do PT que voltou a reaglutinar depois de 6 anos, em
apoio à candidatura do valoroso deputado federal estadual,
28

Luiz Couto, e em alinhamento com a candidatura do prefeito


Ricardo Coutinho. Essa iniciativa teve a pronta resposta por
meio de críticas públicas feitas pelo Secretário-Geral do PT
estadual, Josenilton Feitosa, que expressou sua insatisfação
ao movimento dessa banda do PT que antecipa a campanha
de 2010 e as articulações para definição das chapas. Feitosa
falou em nome do PT maranhista, “tendência” que inclui,
entre outras lideranças, o vice-governador e os deputados
estaduais Jeová Campos e Rodrigo Soares, além de ex-
deputado e atual superintendente do INCRA na Paraíba, Frei
Anastácio. Em tempos atrás, ninguém pensaria ser possível
essa aliança. Hoje, ela tem uma coerência interna que se
sustenta por si só.
Entretanto, o que menos se discute são as diferenças
políticas e programáticas entre os diferentes agrupamentos.
Nos dois lados. Comecemos pelo PT “ricardista”. Por
exemplo, é pública e notória a aproximação do prefeito de
João Pessoa, Ricardo Coutinho, com o ex-governador Cássio
Cunha Lima e seu grupo. Esse fato, para o PT, não deveria
ser incômodo algum se Cássio não pertencesse ao PSDB e
defensor de uma da sua candidatura à Presidência da
República. Ora, esse fato, num ambiente de clareza política e
programática, constituiria uma fronteira “natural” entre o
PT e essa articulação. Em termos programáticos, mais ainda.
O que foi o governo Cássio Cunha Lima? Em que a Paraíba
avançou nos últimos 6 anos? No que é caro à tradição
política do PT, o governador cassado representa exatamente
a negação desses princípios, que envolve a defesa de um
modelo de desenvolvimento com distribuição de renda, de
democratização do Estado, de impessoalidade e
transparência na gestão pública, entre outras coisas.
29

Mas, aparentemente, esses não são motivos suficientes


para afastar o PT dessa aliança entre PSB e PSDB, que,
mesmo sendo “branca” (ou “laranja”), dará no mesmo: a
política Paraibana continuará na mesma.
30

A ALIANÇA RICARDO-CÁSSIO
(Junho de 2009)

Tenho escutado com frequência que Ricardo Coutinho


só se elege governador numa disputa com Maranhão caso
tenha o apoio do ex-governador Cássio Cunha Lima.
Essa lógica é predominante entre os apoiadores do
atual prefeito de João Pessoa, e reverbera uma opinião
abertamente disseminada pelos “analistas” políticos de
jornal e rádio claramente identificados com o cassismo. Daí
porque todo fato que pode demonstrar essa aproximação –
presença de Ivandro Cunha Lima em reunião do PTB em ato
de apoio a Ricardo, conversa deste com o ex-governador
Ronaldo Cunha Lima – recebem o destaque desmesurado e
quase ao som de foguetões dos cassistas; para os
maranhistas, esse é o sinal mais claro de uma aliança já
celebrada.
Entretanto, entre os muitos eleitores pessoenses de
Ricardo Coutinho com quem tenho conversado até agora,
não a respeito das possibilidades de vitória, em 2010, mas
sobre a manutenção do voto no prefeito caso se confirme
essa aliança, posso dizer que até agora 100% deles
afirmaram que não apenas não votam, como rejeitam
enfaticamente uma chapa que ligue Ricardo a Cássio. É claro
que não considero o resultado dessas conversas como dados
da realidade. São conversas, bate-papos, e, o que é mais
importante, sem a mediação do debate político que acontece
durante uma campanha eleitoral, e que pode reforçar
determinadas tendências ou anulá-las. Nesse caso, o que é
surpreendente – nem tanto em se tratando do eleitor
pessoense – é a ampla rejeição à aliança Ricardo-Cássio.
31

Mesmo sem o acesso a pesquisas sobre essa questão, me


arrisco a dizer ser essa (a rejeição a uma aliança Ricardo-
Cássio) uma tendência entre o eleitorado de João Pessoa,
especialmente de classe média – o que é mais temerário para
Coutinho, – que se consolida a cada dia.
Um argumento dos ricardistas é que essa perda de
votos seria residual e amplamente “compensada” no
interior do estado, especialmente em Campina Grande. Tem
alguma lógica esse raciocínio, mas ele implica em sérios
riscos para Ricardo Coutinho. O primeiro, é abertura de um
poderoso flanco para ataques dos adversários dentro da sua
fortaleza, que é João Pessoa. Nenhum general sai para uma
guerra sabendo desde já que sua retaguarda ficará
desguarnecida. Ricardo, em aliança com Cássio, um político
reconhecidamente antipatizado em João Pessoa, terá que
explicar durante toda a campanha essa aliança e será
cobrado permanentemente por seus adversários. E quem
pode assegurar que essa atitude se restringe ao eleitorado
de João Pessoa? Nas médias cidades, como Patos, Souza,
Cajazeiras, Monteiro, Guarabira, como reagiria o potencial
eleitor ricardista ansioso por quebrar o monopólio das duas
famílias que se revezam no poder há 20 anos?
O segundo risco, decorrente do primeiro, é Ricardo
aumentar sua dependência em relação ao cassismo,
fazendo-o prisioneiro desse grupo na campanha e em um
futuro governo, quando dependerá fortemente do seu apoio
para governar. Além disso, essa aliança com Cássio
provavelmente isolara Ricardo, deixando-o sem a
companhia dos partidos de esquerda. No PT, por exemplo.
Os filiados petistas desse escolherão a direção partidária em
novembro, definindo com isso a política de aliança do
partido. Como eles reagirão a essa aliança com Cássio, até
32

hoje a principal liderança do PSDB, partido que abriga os


principais adversários do governo Lula e que tem entre os
seus quadros o governador de São Paulo, José Serra, o
principal candidato da oposição contra Dilma Rousseff, a
candidata do PT? Como reagiria a Direção Nacional do PT,
Dilma Rousseff e o presidente Lula? Não tenho dúvida que a
banda maranhista ganhará de presente um poderoso
discurso para vencer essa disputa interna, pois só a
conversa de que o PT é governo não basta.
E o PCdoB? Mantendo até agora o firme apoio aos dois
governos, encontrará o argumento definitivo para
abandonar o barco ricardista quando finalmente chegar o
momento da decisão. E um argumento poderosíssimo, diga-
se de passagem. Isolado à esquerda e com excessos de
apoios à direita, Ricardo faria uma campanha apenas
reproduzindo o tradicionalismo da política Paraibana e
seria engolido pela disputa Maranhão X Cássio, assumindo
ele a condição de biombo dessa disputa. O discurso da
renovação iria por água abaixo. É bom lembrar que, onde a
esquerda venceu no Nordeste, em 2006, em nenhum lugar
envolveu entre os partidos aliados figuras proeminentes do
tucanato, nem muito menos o PSDB. No Maranhão, onde
existia a mais renhida oligarquia política, foi necessária uma
ampla frente para derrotá-la. Em três estados (Ceará, Bahia
e Sergipe), estados onde o PMDB é força secundária, esse
partido participou das coligações vitoriosas. Em
Pernambuco, Rio Grande do Norte e Piauí, o núcleo dirigente
das coligações vencedoras compunha-se pelo PT, PC do B e
PSB. Nesses casos, o PMDB foi o principal adversário. Neles
todos, a esquerda venceu, se tornando a Paraíba o único
estado do Nordeste a não ter tido a experiência de um
governo de esquerda.
33

Como não se pode fazer política, especialmente a


grande política, sem correr riscos, Ricardo terá que fazê-lo
se quiser continuar sendo protagonista nos grandes
acontecimentos da política Paraibana. Apesar de ser ele,
entre os participantes dessa disputa, o que está em situação
mais confortável por ter várias alternativas. José Maranhão,
por exemplo, não tem o tempo como aliado, isto é, a idade, e
é um político em fim de carreira. Por isso, considero que será
candidato de todo jeito, especialmente porque conta com
duas maquinas poderosas ao seu lado: a do Estado e a
máquina partidária do PMDB; Veneziano, apesar de jovem,
vive um dilema que está associado ao seu futuro político na
cidade em que é prefeito: ele provavelmente não elege seu
sucessor, pois não tem dispõe de um candidato forte para
enfrentar o candidato do esquema dos Cunha Lima, em
2012, provavelmente o próprio Cássio Cunha Lima, numa
guerra de vida ou morte para o ex-governador. Por isso,
acredito que Veneziano será candidato em 2010 e, se
depender de Maranhão, a vice. Já Ricardo tem muitas
alternativas: ser candidato a governador, numa aliança à
esquerda com PT e PCdoB, ou à direita com o cassismo;
Ricardo pode ainda ser candidato a senador, na chapa de
José Maranhão, alternativa que deve provocar calafrios no
ex-governador Cássio Cunha Lima; ou simplesmente,
Ricardo pode concluir sua administração em João Pessoa,
reeleger seu sucessor, e esperar 2014. Com tantas
alternativas, Ricardo pode fazer livremente sua pré-
campanha para governador, pois, em qualquer das
circunstâncias, ela terá sido útil.
Entretanto, caso Ricardo, em aliança com Cássio, seja
derrotado por Maranhão seu futuro corre sério risco.
Primeiro, porque Ricardo ficará sem cargo público por
quatro anos, exceto se se candidate a vereador, em 2012.
34

Segundo, uma derrota em 2010 colocará em cheque a


eleição do seu sucessor, em João Pessoa, sendo óbvio que
Maranhão tentará derrotá-lo a todo custo e, dependendo das
alianças de 2010, com a contribuição de Cícero Lucena.
Veneziano assumiria a condição de sucessor natural de
Maranhão, para provavelmente enfrentar Cássio Cunha
Lima, em 2014.
Os riscos são enormes. As possibilidades também.
35

RICARDO COUTINHO ATRAVESSOU O


RUBICÃO
(Julho de 2009)

Aqueles que ainda mantêm as sinceras esperanças de


uma chapa alternativa e de esquerda nas eleições de 2010,
com Ricardo Coutinho liderando essa aliança contra os
esquemas tradicionais da política Paraibana, podem
abandoná-las. Ricardo está embalado definitivamente nos
braços de Cássio Cunha Lima, apesar dos esforços
desesperados dos ciceristas em demonstrar o contrário, e de
alguns petistas que temem estar entrando numa "barca
furada", com sérias chances de perderem o discurso e a
disputa interna que se avizinha.
E isso não só os fatos cuidam de demonstrar com toda
a nitidez possível – vejam por quem Ricardo Coutinho anda
sendo recebido de maneira entusiasmada por todo o
interior do estado –, assim como pessoas bastante próximas
do prefeito de João Pessoa já tem a celebração dessa aliança
como favas contadas. Porque haveria eu, então, de insistir na
tese em contrário? É possível debater a realidade, não brigar
com ela.
Alguns desses ricardistas têm até o cuidado de esboçar
alguma justificativa política; outros, nem isso. Nos dois
casos, é clara a opinião de que só com a aliança com os Cunha
Lima seria capaz de neutralizar o poderoso projeto de
reeleição que o governador José Maranhão monta
atualmente. No afã de realizar essa aliança, já está existe
entre os ricardista a chapa dos sonhos: Ricardo governador
36

e Ivandro Cunha Lima vice! Eis que se pronunciam


mudanças políticas de profundidade na pequenina!
Impressiona como o apelo ao pragmatismo político
supera de longe qualquer veleidade ideológica, qualquer
linha política nas trajetórias construídas dos sujeitos em
disputa, qualquer esforço de restabelecer o que sempre
separou e, para mim, continua a separar esquerda de direita.
Estão todos os ricardistas embebidos pelo que se
convencionou chamar na academia de fim da política! Eis o
solo em que eles pisam: o terreno onde já não existem
diferenças fundamentais e que alianças são meros
estratagemas para se chegar ao poder, mesmo que elas
neguem o sentido mais profundo de um projeto de mudança.
Talvez seja por isso que, como um mantra, Armando Abílio
vive agora a falar de orçamento democrático e participação
popular. Ele deve entender muito disso mesmo! As
companhias, pelo jeito, fazem um bem danado para as ideias.
Os ricardistas estão equivocados. Essa será uma decisão
que representará uma espécie de “travessia do Rubicão” na
trajetória política de Ricardo Coutinho, uma decisão sem
volta. Essa aliança o tornará prisioneiro de um grupo
decadente e sem perspectiva na vida política Paraibana. Ele
será consumido por ele, e não o contrário, e Ricardo será
transmutado em mais um cassista, assim como são e foram
tantos outros (Cozete, Cícero...)
Essa passagem trágica da história romana que, en
passant, fizemos referência acima, deu início a uma guerra
civil quando o general Júlio César atravessou com suas
tropas o Rio Rubicão e dirigiu-se para Roma para acabar
com a República e instaurar uma ditadura. O Rubicão não
era, portanto, uma fronteira natural, dado sua
inexpressividade como rio, mas uma fronteira política cuja
37

existência estava ligada à proteção da República Romana e


de sua democracia. Atravessá-lo com tropas e sem
autorização da República significava uma declaração de
guerra. Foi, portanto, a obsessão de Júlio César pelo poder
que destruiu a República Romana. Quando ele finalmente
atravessou o Rubicão e pronunciou a conhecida expressão
alea jacta est (a sorte está lançada), estava se referindo a si
próprio, mas ele também lançara junto a sorte da
democracia em Roma.
Quando Ricardo finalmente transpor o seu Rubicão ao
oficializar a aliança com os Cunha Lima, sua sorte estará
lançada. Com ela também a sorte de um projeto político que,
no médio prazo, se tornará inexequível, exceto se outra
liderança surgir e que tenha, além da legitimidade
necessária, coragem de enfrentar esse desafio. Não mais
Ricardo. Ele terá perdido a legitimidade e, com ela, a
oportunidade histórica. Júlio César venceu a guerra civil que
se estabeleceu em seguida à sua decisão de transpor o
Rubicão, e entrou para a história como o gênio militar
invencível que tornou o Império Romano maior do que fora
o Império de Alexandre, o Grande. Mas, Júlio César ficou
também conhecido como o "Ditador Perpétuo" que destruiu
a democracia em Roma. Foi o preço que ele pagou por sua
ambição desmedida. E governou até ser traído e morto por
Brutus, seu filho adotivo, e por Caio Cássio, general que
combateu Júlio Cesar e por quem foi derrotado, tornando-se
depois seu aliado. Caio Cássio tinha como um dos seus
amigos, o filósofo e político Marco Túlio Cícero. Não há,
obviamente, comparação possível entre os personagens.
Quanto aos nomes, são apenas coincidências
antroponímicas, nada mais.
38

Na Paraíba, portanto, o jogo volta a ser jogado entre os


jogadores de sempre, com Maranhão e o PMDB, de um lado,
e os Cunha Lima, com Ricardo Coutinho, de outro. Resta à
esquerda Paraibana agora, portanto, o desafio nacional de
impedir que o PSDB volte ao poder. Unir-se em torno desse
objetivo é o que dará sentido à luta política em nosso estado
de hoje em diante.
39

UMA BREVE AVALIAÇÃO DA GESTÃO


DE RICARDO COUTINHO
(Agosto de 2009)

Ontem, 5 de agosto, dia do aniversário de João Pessoa,


fui entrevistado pelo jornalista Helder Moura no programa
Correio Debate, da TV Correio. Gentilmente, Moura fez
referência a existência deste blog, que está no ar desde maio
e já conta com uma legião de amigos.
Voltando à entrevista, tratamos de temas relacionados
à conjuntura política Paraibana e das projeções para 2010.
A primeira questão levantada por Helder Moura disse
respeito à administração do prefeito Ricardo Coutinho.
Como eu a avalio? Um primeiro aspecto a destacar é que se
é possível identificar avanços significativos, principalmente
tendo em vista as administrações medíocres a que João
Pessoa foi submetida nas últimas décadas. Problemas se
avolumaram ao longo dos anos, o que certamente tornou o
desafio administrativo do prefeito Ricardo Coutinho, eleito
em 2004 por uma ampla frente de partidos que ia do PCdoB
ao PMDB, com a inclusão posterior do PT, muito mais
complexo.
A começar pelo trânsito que, ao lado do crescimento
desordenado das cidades, constitui um dos maiores desafios
do planejamento urbano contemporâneo — aliás, nesse
ponto, sem solução à vista por conta da irrefreável
ampliação da capacidade produtiva das empresas
automobilistas e de sua posição ainda estratégica para a
economia capitalista. Pelo menos no curto e médio prazo
não se vislumbra possibilidades de alteração desse quadro.
40

Nesse ponto, a atual administração de João Pessoa deu


importante contribuição para resolver um dos gargalos da
cidade, quando ampliou a duplicação da Avenida D. Pedro II
e construiu uma passarela sobre a Avenida, aliás, a única da
cidade. Além do acesso à UFPB, que permitiu um fluxo mais
dinâmico de automóveis em direção à zona sul da cidade,
onde fica o bairro mais populoso de João Pessoa,
Mangabeira. Essa foi, até agora, a intervenção mais
relevante na organização do trânsito de veículos. De
maneira mais urgente, penso que é preciso agora resolver o
problema do trecho não duplicado da Tancredo Neves, que
dá acesso à Tambiá e ao Centro da cidade, além de construir
passarelas, especialmente na Epitácio Pessoa e em frente ao
Manaíra Shopping. É preciso ousar mais e vislumbrar o
futuro, começando por envolver a cidade no debate sobre a
construção de um metrô.
Considero de grande relevância, também, o tratamento
dado à construção e revigoramento de praças e passeios
públicos. Como já fiz referência em outra ocasião, esse é
apenas um singelo indicativo que permite enxergar a vida
urbana para além do utilitarismo econômico do comércio e
da especulação imobiliária: o cidadão comum precisa de
lugares para encontros, caminhadas, desportos, enfim,
precisa de ambientes públicos para o lazer e a convivência
social. A recuperação e reordenamento do Ponto dos Cem
Réis, por outro lado, traz de volta para o centro da cidade um
espaço para as manifestações políticas e culturais que
havíamos perdido. Aquela não é uma praça comum: ela é a
nossa Candelária, a nossa Praça da Sé, é onde a cidade
debatia e se debatia, pululava, gritava, se enfurecia e se
alegrava.
41

A reestruturação da orla do Bessa, igualmente, trouxe


beleza e organização para uma banda da cidade que cresceu
sem as condições devidas. É verdade que dali falta ainda
tirar os bares e restaurantes que enfeiam a praia e impedem
a vista do mar, bem como se apropriam da areia que
pertence a crianças e banhistas e poluem o ambiente – essa
opinião me torna a prova viva de que o Bessa não é “100% a
favor” da permanência daqueles estabelecimentos na orla.
A recuperação dos mercados públicos e a construção de
espaços para o comércio informal foram ações que também
merecem menção elogiosa. De um lado, no caso dos
mercados públicos, a revitalização deu àqueles lugares
condições de salubridade, para quem neles trabalha e para
quem neles transita; de outro, no caso do comércio informal,
liberou as calçadas para a livre circulação dos pedestres.
Todas essas são obras que deram ao pessoense,
inquestionavelmente, uma melhor qualidade de vida. E
Ricardo teve a ousadia de enfrentar esse desafio em nome
de uma racionalização da vida urbana de João Pessoa.
Em entrevistas, o Prefeito fala com muito orgulho de
duas ações, que não são de “pedra e cal”, mas que, segundo
ele, têm um alcance significativo. São as meninas dos olhos
de Ricardo Coutinho: o Orçamento Democrático e o
Empreender. Sobre o Orçamento Democrático, a única
opinião que ouso adiantar, por enquanto, é que é melhor que
exista do que não. Ou seja, é preferível haver algum tipo de
critério para a definição de prioridades para a construção de
obras pelos bairros do que nenhum critério. O problema,
nesse caso, é que me faltam dados a respeito do quantum
orçamentário, mesmo em termos percentuais, que a
Prefeitura disponibiliza para o Orçamento Democrático.
Sem isso, fica difícil dizer se a implantação dele representa
42

uma ação de distribuição de poder real com a população, ou


se é uma forma de “empoderamento” que não altera a
estrutura, em substância, a centralização dessas decisões,
por fragmentário que é, sendo mais um mecanismo de
administração dos limitados recursos que permite a
diminuição da pressão política sobre a Prefeitura. Esse
quantum diria algo sobre o quanto de poder real a
população de João Pessoa tem sobre o orçamento da cidade.
Assim, quando eu tiver acesso a respeito do volume de
recursos que esse instrumento de política administrativa
controla, então poderei melhor qualificá-lo, de maneira a
evitar o tom apologético que permeia aqueles que o
defendem, especialmente os membros da Administração
Municipal.
O outro projeto destacado por Ricardo é o Empreender.
Não há dúvida que a ideia do programa constitui importante
incentivo à geração de renda entre os mais pobres,
especialmente nesses tempos em que o Estado vinha
perdendo o poder de coordenar políticas de
desenvolvimento. Entretanto, os recursos que financiam
esse programa me parecem claramente insuficientes para as
necessidades de geração de emprego e renda de uma cidade
do porte de João Pessoa. Segundo a própria Prefeitura, os
investimentos totais no Empreender, em 4 anos (2005-
2008), somaram um valor aproximado de R$ 16,2 milhões,
o que dá pouco mais de R$ 4 milhões por ano. Se
considerarmos, em termos orçamentários, que a projeção de
receitas da Prefeitura para o ano de 2009 é da ordem de
1.134.964.613,00,foram investidos no Empreender pouco
mais de 0,4% do orçamento da cidade. E considerando o PIB
consolidado de João Pessoa do ano de 2006 (5.966.595,00),
esse valor representa menos de 0,01% da riqueza da cidade.
É bom lembrar que em 2007 e 2008 o PIB de João Pessoa
43

deve ter crescido a valores próximos dos 10%. Ou seja, é


duvidoso se o impacto dos investimentos do Empreender na
economia da cidade seja realmente tão significativo para ser
considerado com tanta relevância aos olhos do prefeito.
E principalmente se compararmos com os valores
investidos em uma única obra, a Estação Ciência, que custou
quase R$ 50.000.000,00, ou seja, mais de 12 vezes mais o
que a prefeitura investe do Empreender.
Assim, se a administração atual de João Pessoa
representa um avanço tendo em vista as administrações
anteriores, é preciso que ela busque meios de superar a si
mesma. João Pessoa precisa de muito mais, principalmente
sua periferia. Quem olha por ela?
44

O SACRIFÍCIO DE CÍCERO LUCENA


(Setembro de 2009)

Sem muito compromisso com uma análise real dos


fatos, e apenas num exercício de imaginação, utilizo-me do
"se" para tentar entender o tamanho do dilema que deve
viver hoje o senador Cícero Lucena diante do imenso
sacrifício que lhe pedem renomados cassistas, que seria dar
anuência para que o PSDB apoie a candidatura de Ricardo
Coutinho para o Governo do Estado. Sacrifício que o próprio
Cássio, e por extensão todos os cassistas, estariam
provavelmente muito pouco dispostos a fazer, caso
estivessem na condição de Cícero Lucena. Vamos ilustrar
isso colocando a imaginação para funcionar.
Voltemos a 2001-2002 para perguntarmos: e se a
maioria do PMDB tivesse, em nome da "unidade", a proposta
de José Maranhão de tornar Cícero Lucena candidato ao
Governo do Estado e este, ao invés de Cássio, tivesse sido
eleito governador, em 2002? E se, fruto do mesmo acordo,
Cássio tivesse permanecido na Prefeitura de Campina
Grande e, na eleição do seu sucessor, vencesse Veneziano
Vital do Rego, em 2004, da mesma maneira que em João
Pessoa, o imaginário governador Cícero tivesse também
perdido a eleição para o seu arquirrival, Ricardo Coutinho.
Imaginemos ainda que, em razão dessas disputas, o
então senador José Maranhão tivesse rompido com o grupo,
não mais Cunha Lima, mas cicerista, e concorrido ao
Governo do Estado, em 2006, e sido derrotado nos mesmos
moldes e vítima dos mesmos "recursos" utilizados por
Cássio Cunha Lima, resultando, ainda durante a campanha,
num fundamentado pedido de cassação (nessa eleição,
45

Cássio Cunha Lima, como prêmio pelo sacrifício de 2002,


fora também eleito para o Senado).
Imaginemos, além disso, que em razão das derrotas nas
principais cidades da Paraíba, Cícero Lucena, espertamente
e vendo exclusivamente seus objetivos de sobrevivência
política, iniciasse uma aproximação com o prefeito de
Campina Grande, Veneziano Vital, acenando desde então
com um possível apoio a este caso fosse realmente cassado,
como tudo indicava. O objetivo seria dividir e fragilizar seus
maiores adversários — o prefeito de João Pessoa, Ricardo
Coutinho, e o senador José Maranhão – explorando seus
interesses particulares, buscando dividi-los para derrotá-
los. E, caso consumada a cassação, para tentar evitar a união
dos seus três adversários em apoio à reeleição do
governador empossado José Maranhão, ou, o que seria
muito pior, Ricardo Coutinho, o ex-governador cassado
Cícero Lucena começasse a colocar em prática uma
estratégia teria por objetivo apoiar o prefeito de Campina
Grande, Veneziano Vital, o único capaz de derrotar José
Maranhão (ou Ricardo Coutinho).
Para tanto, justificando a necessidade de reflexão
solitária, Lucena fizesse uma longa viagem em que
percorreria a pé o caminho de Santiago de Compostela e de
lá seguisse para Roma em busca da bênção do Papa, e,
agraciado por súbita sabedoria adquirida durante o
isolamento, voltasse indefinido sobre quem apoiar para
governador, mas sabendo que Ruy Carneiro, seu Sancho
Pança, saíra do PSDB e filiara-se a outro partido, declarando
em seguida apoio a Veneziano Vital. Além disso, João
Gonçalves, sem poder acompanhar Carneiro por conta da
fidelidade partidária, pregava abertamente, em nome da
unidade e do espírito de grupo, que Cássio retirasse sua
46

candidatura em apoio a Veneziano Vital do Rego, seu


arquirrival político.
Chegou a hora da grande pergunta: Como agiria Cássio
Cunha Lima? Como agiriam Ronaldo Cunha Lima, Ivandro
Cunha Lima, Glória Cunha Lima, Manuel Ludgério, Ricardo
Barbosa diante de tão indecoroso pedido? De que maneira
tratariam Cícero Lucena? Caberia a palavra traição para
descrever sucintamente a postura de Cícero Lucena? Ou
Cássio Cunha Lima, como toda generosidade política que
sempre lhe foi peculiar, ofereceria sua candidatura, em
holocausto, em nome dos mais altos interesses de seu grupo
e de um projeto político cujo objetivo sempre foi
desenvolver a Paraíba e seu povo?
Voltando ao mundo real: Cícero está sozinho e
abandonado. E chegou a hora do salve-se quem puder!
47

QUANDO O “VELHO” SE TRANSFORMA


NO NOVO (E VICE-VERSA)
(Setembro de 2009)

A coluna de Rubens Nóbrega da última sexta abriu o


debate sobre a avaliação dos sete meses do governo José
Maranhão, um tempo considerado exíguo para as exigências
político-administrativas de praxe. Talvez fosse necessário
mais tempo para observarmos os rumos do governo. A
questão é que José Maranhão não tem esse tempo, restando
apenas quatro meses para o ano acabar e iniciar o ano em
que haverá uma avaliação, essa crucial, por parte do
eleitorado.
Definitivamente, não acho que o problema são os
buracos nas estradas – ou nas ruas de João Pessoa –, apesar
dos transtornos e perigos que eles causam aos viajantes, ou
da quantidade de obras em pedra e cal inauguradas, apesar
da importância delas para qualquer política de
desenvolvimento, definida, é claro, a sua função social e
econômica. Além disso, a administração pública não pode
ser julgada apenas pelo critério de quem faz mais ou menos
obras. Os buracos nas estradas são facilmente remendáveis
e em 2010 é provável que nenhum deles exista e muitas
obras terão sido inauguradas. Por isso, precisamos mudar
nossos parâmetros de avaliação sobre os governos porque,
ao final deles, é necessário antes olharmos comparativa e
retrospectivamente para os dados que mais interessam à
vida do cidadão comum, especialmente o mais pobre, como,
por exemplo, a evolução do IDH ou do índice de Gini.
48

Portanto, quando me refiro a um novo modelo de


desenvolvimento, estou me referindo a um projeto global
que se oriente para o objetivo de começar a alterar o
arcabouço social e econômico secular da Paraíba que é, em
verdade, o principal óbice para o desenvolvimento
econômico do Estado. A manutenção dos índices de extrema
pobreza, por exemplo, não é apenas um indicador que limita
a expansão do mercado interno.
A persistência desses indicadores também não deve ser
encarada exclusivamente como um número, um dado
estatístico – um professor meu me dizia sempre que os
dados estatísticos só nos afetam quando estamos dentro
deles –, mas como um fato a indicar um alto grau de
insensibilidade social e de aceitabilidade, por parte não só
dos dirigentes políticos, mas de toda a sociedade, da miséria
humana em todas as suas dimensões.
É por isso que, sem tempo para consolidar o projeto
administrativo de seu atual governo, José Maranhão precisa
mesmo é apontar perspectivas viáveis, horizontes palpáveis
para a Paraíba e demonstrar porque ele precisa de mais
quatro anos. A grande questão pergunta que o eleitor vai
fazer em 2010 ao atual governador será: mais quatro anos
para quê?
A resposta a essa pergunta necessariamente terá que
indicar um rompimento com a mesmice de um modelo que,
em termos econômicos e sociais, tem deixado o Estado para
trás, e apontar para outra perspectiva de desenvolvimento
com distribuição de renda. E isso não será feito apenas pela
vontade do governador, o que enseja a necessidade de
ampliar a participação da esquerda em setores estratégicos
do governo visando ampliar sua base social.
49

E será a presença mais decisiva da esquerda no governo


de José Maranhão que conferirá legitimidade a essa ação,
pois ela representaria não apenas uma aliança política para
a governabilidade, mas uma aliança programática que seja
capaz de aglutinar amplos segmentos da sociedade
Paraibana, como tem feito Lula nacionalmente. Ali, mesmo
sob o fogo cerrado da grande imprensa e da oposição
política de partidos que representam uma elite reacionária
e conservadora, como o PSDB de Cássio Cunha Lima, Lula
tem conseguido implementar um projeto que, ao cabo de 8
anos, certamente mostrará os efeitos positivos em vários
campos, especialmente no que diz respeito à diminuição da
dependência externa e da desigualdade social, tendo por
base o fortalecimento do mercado interno e o aumento da
participação dos salários na renda nacional. Mas é preciso
avançar mais, muito mais.
José Maranhão tem nas mãos, portanto, a oportunidade
histórica de iniciar uma ruptura com o passado e não ser
engolido pelas correntes da mudança, represadas que foram
pela ausência de alternativas políticas que teimam em não
surgir na Paraíba. Se José Maranhão perceber isso, ele pode
liderar essa mudança, começando por criar as bases para
uma ampla discussão sobre a Paraíba, envolvendo todos os
que, sem restrições de qualquer ordem, desejem contribuir
para um novo modelo de desenvolvimento, que esteja em
sintonia com o projeto estratégico que começa a se delinear
para o país. Para tanto, urge um balanço histórico, não só
para evitarmos cometer os mesmos erros, mas para termos
a clareza do desafio histórico que nos espera.
Alguém pode perguntar, por fim, como é possível ser
José Maranhão e não Ricardo Coutinho o condutor desse
processo? Por uma razão simples: enquanto José Maranhão
50

procura estreitar os laços com a esquerda, ampliando seus


espaços no governo, Coutinho se esforça desesperadamente
para atrair os setores mais retrógrados da política
Paraibana, não apenas com a admissibilidade de uma
aliança do seu partido com o PSDB e DEM, mas atribuindo
lugar de destaque nas articulações a figuras como Enivaldo
Ribeiro e Armando Abílio.
Por isso, Maranhão, se alterar a linha do seu governo e
começar a delinear um novo projeto para a Paraíba, poderá
dizer com toda legitimidade em 2010, a exemplo do que fez
Miguel Arraes quando candidato a governador de
Pernambuco, em 1986, pelo PMDB: o novo é o velho e o
velho é o novo!
51

A PEDAGOGIA POLÍTICA DO CASO


CÍCERO, O "IRRETIRÁVEL"
(Setembro de 2009)

Escrevi ao jornalista Rubens Nóbrega, que mais uma


vez, generosamente, publicou em sua coluna diária no
Correio da Paraíba o texto que segue abaixo. Trata-se de
uma breve análise dos fatores que sustentam a candidatura
de Cícero Lucena ao Governo da Paraíba, apesar de todo
esforço do ex-governador Cássio Cunha Lima de esvaziá-la.
Cunha Lima e os cassistas tem cobrado insistentemente de
Lucena respeito à vontade da maioria do grupo, mas
demonstra a cada dia que não é com o "grupo" que o ex-
governador está preocupado, mas exclusivamente com o
destino pessoal e de sua família.
Não há razão — nem local, nem nacional — para Cícero
Lucena desistir de sua candidatura, especialmente para
apoiar alguém que o hostiliza e é por ele hostilizado. Além
de tudo, existe o arranjo nacional e os interesses partidários
mais amplos, esses, sim, de partido, associados ao projeto
nacional do PSDB e que Cunha Lima deseja subordiná-los na
Paraíba aos seus interesses particulares e familiares.
Mais do que qualquer coisa, esses acontecimentos
envolvendo as disputas dentro do PSDB em torno da
candidatura ao Governo do Estado estão sendo de uma
pedagogia insofismável. Especialmente para o
entendimento dos limites da solidariedade política de uma
liderança como Cássio Cunha Lima, cuja maior
responsabilidade seria procurar manter, a todo custo, e para
melhor dirigi-lo, a unidade do seu partido, e não apenas do
seu grupo, que, aliás, Cícero Lucena sempre fez parte.
52

Rompendo com essa responsabilidade, e diante de uma


derrota iminente, Cássio Cunha Lima está ameaçado de ficar
só, pois depois não poderá cobrar de ninguém o apoio que
não deu em um grave momento de dificuldade, como o que
Lucena vive agora.
Ricardo Coutinho, infelizmente, é outro que abandona
uma trajetória política que, em verdade, foi, mais do que a
sua obra administrativa, a responsável pela ocupação de um
espaço que, desde a morte de Antônio Mariz, estava vazio e
carente de novas lideranças. Nunca é bom esquecer que
Coutinho, mesmo sem nenhuma experiência administrativa,
obteve mais de 72% dos votos de João Pessoa, em 2004. E
isso ele construiu com muito esforço e quase sozinho, o que
o torna uma figura ímpar na política Paraibana.
Mais do que praças, ruas, escolas e creches, Coutinho
representava esperança; mais do que novidade, essa
expressão quase fetichista que, como tudo desprovido de
conteúdo, não significa nada, Coutinho, com seu ardor
abnegado e quase desprendido de fazer política,
representava a mudança em direção a novas formas desse
fazer político. Com esse capital ele conseguiu eleger-se e
reeleger-se prefeito de João Pessoa e sua candidatura ao
Governo da Paraíba, hoje, não é apenas legítima, não é
apenas um passo, digamos, natural na ascensão vitoriosa de
quem abraçou a política como vocação, não é, por fim, um
passo rumo à estadualização de sua liderança,
inquestionável, hoje, mas a consolidação de uma trajetória
que só a generosidade das pessoas mais simples e distante
do jogo político conseguem oferecer como homenagem a um
político.
53

Quem achar que, na próxima ou em qualquer futura eleição,


os eleitores vão desconsiderar as companhias políticas,
moldadas em alianças que, inevitavelmente, resultarão em
compromissos políticos e administrativos, para só ver o
"administrador", o "gerente" — essas expressões
despolitizadas criadas para diminuir o peso da política nas
decisões da administração pública, como se ela fosse uma
empresa, resultando numa tecnificação da política e,
portanto, na "morte" do político, pois basta o gerente, —
quem achar isso, desconsidera não só a história, mas
importância da política na vida das pessoas.
Muitos são os exemplos, mas fiquemos com um só. Wilson
Braga, em 1990, foi candidato a governador após ter
administrado João Pessoa, de onde saiu como o 2º prefeito
mais bem avaliado do país. Braga, há um ano da eleição, era
considerado imbatível. No final, ele não só foi derrotado por
Ronaldo Cunha Lima, como perdeu a eleição no segundo
turno na Grande João Pessoa. O que aconteceu? O que
derrotou Wilson Braga? A poesia de Ronaldo Cunha Lima?
Quem derrotou Braga foi a política, foi o debate que cada
cidadão realizou em cada esquina, em cada mesa de bar, em
cada refeição com a família. E a administração de Wilson
Braga? Foi engolida pelo que ele representava em termos
políticos e pela conjunção de partidos e forças que
representava o atraso e que se reuniu em torno dele.
Os tempos são outros, claro. Os personagens também. Mas,
o que há de permanente na política é a própria política.
Ricardo talvez aprenda isso, da pior maneira possível.
54

SOBRE COMUNISTAS E ALIANÇAS


(Outubro de 2009)

A posição explicitada pelo ex-deputado Simão Almeida


de que o PCdoB, até então o partido de esquerda mais
alinhado ao projeto de Ricardo Coutinho, não sobe no
mesmo palanque no qual também esteja Cássio Cunha Lima,
expõe o grau de isolamento a que pode ser submetido o
prefeito de João Pessoa, em 2010, especialmente em relação
aos aliados tradicionais de esquerda. E, ao adiantar essa
posição, Simão explicita pela primeira vez com uma clareza
meridiana que o PCdoB pode não estar com Coutinho na
eleição do próximo ano, como tudo indicava há alguns
meses.
O PCdoB é o partido que melhor se porta diante de um
quadro político marcado pelo aprofundamento do conflito
entre dois dos seus aliados nos últimos embates eleitorais, o
PSB e o PMDB. Esse mesmo conflito está rachando ao meio
o PT e provocou, provavelmente um fato único na história
política brasileira, a debandada de toda a bancada estadual
e federal do PSB, o partido de Ricardo Coutinho. Entretanto,
mesmo com todo esse vendaval que atinge as outras
legendas de esquerda, o PCdoB parece navegar nas calmas
águas da unidade interna, o que tem assegurando-lhe uma
convivência tranquila e aparentemente sem sobressaltos,
tanto com o governador José Maranhão quanto com o
prefeito Ricardo Coutinho. E participando dos dois
governos.
É claro que facilita essa posição a concepção de partido
centralizado que ainda preside o PCdoB, aliado a um
permanente espírito de sobrevivência política que exige,
55

mais do que tudo, jogo de cintura de suas direções, aliada, é


claro, a uma análise apurada do quadro político. Os
comunistas, no ambiente ideológico criado após o fim da
Guerra Fria, não podem se dar ao luxo de cometerem erros.
Suas decisões são medidas e cada passo importante é dado
como se estivessem atravessando um precipício. E talvez
seja por isso que, mesmo numa situação de defensiva
ideológica, o PCdoB nas duas últimas décadas só fez avançar
na sua representatividade política e hoje é um partido que
almeja compor, sem que seja inalcançável o objetivo
anunciado, uma bancada de pelo menos 26 deputados
federais, um feito para qualquer partido comunista no
Ocidente, principalmente um que ainda se afirma marxista-
leninista.
Esse rigor ideológico, para muitos um tanto anacrônico,
principalmente em tempos em que o “fim das ideologias” é
propalado aos quatro ventos, tem sua consonância com uma
política de alianças ampla — hoje o PCdoB defende uma
aliança com o PMDB em apoio a Dilma Rousseff para
presidente — cujo fundamento é um projeto de nação e de
soberania, mas que é também o seu fator delimitador a
inspirar suas composições políticas. Trata-se de uma nítida
estratégia defensiva, especialmente para um partido que já
defendeu a luta direta pelo socialismo no Brasil. Essa
definição estratégica acaba por aproximá-lo de outros
partidos considerados hoje menos à esquerda, como é o caso
do PT.
É por essa razão que a política de alianças desses
partidos não comporta o PSDB e o DEM, representantes
típicos do capital financeiro e dos grandes oligopólios
estrangeiros, a exemplo daqueles que querem se apropriar
do Pré-Sal, e do agronegócio. Por isso, não há também
56

espaço para políticos da estirpe de um Cássio Cunha Lima


ou de um Efraim Morais, que são a própria negação desse
projeto.
Só Ricardo Coutinho não consegue enxergar isso. E ele
ainda me sai com uma dessas pérolas para justificar a
aliança com o DEM que é um verdadeiro malabarismo
retórico: "aliança política não é questão de princípio, mas
sim questão de estratégia". Dito assim, sem a observação do
contexto, essa frase não quer dizer absolutamente nada.
Vendo o contexto, ela diz tudo. Quando a escutei, lembrei-
me imediatamente de outra frase, agora do comunista
alemão e parceiro intelectual de K. Marx, F. Engels: “Que
pueril ingenuidade a de apresentar a própria impaciência
como argumento teórico!”
Na mesma página do livro onde eu pesquei a frase
acima, li outra, agora citada por Lênin, em referência aos
futuros trabalhistas ingleses que não desejavam estabelecer
limites para as alianças, e a quem o revolucionário russo não
cansava de chamar de oportunistas: “Se se permite aos
bolcheviques um certo compromisso, porque não nos
permitir qualquer compromisso?”, repetiam os insossos
ingleses. Ou seja, se até os revolucionários russos faziam
alianças que envolviam compromissos, porque os direitistas
ingleses não podiam realizá-las com quem eles bem
entendessem, assumindo os compromissos que delas
resultassem? Lênin defendia a necessidade de os
comunistas realizarem alianças, mas ponderava os objetivos
delas. Enfim, se tivéssemos que usar outra frase para
sintetizar essa polêmica, usaríamos essa: “nem tanto à terra,
nem tanto ao mar”. Ou seja, é impossível fazer política sem
realizar alianças, mas elas têm sempre um objetivo maior.
Quando Ricardo Coutinho, que se diz de esquerda, criou
57

propositadamente uma oposição entre princípios e


estratégias, ele apenas confirmou o que eu disse aqui antes:
que as alianças, para ele, devem estar circunscritas às
ocasiões de cada embate político, sendo o conteúdo
(estratégico) delas o que menos interessa. Se é falsa a
oposição entre princípios e estratégia, é falso desconsiderar
os princípios, se é que eles existem, na realização dessas
estratégias. Caso contrário, a política vira um vale-tudo.
Como eu sou daqueles que ainda pensam que a
estratégia continua a definir a tática, é necessário para que
eu leve a sério o que disse o prefeito pessoense em tom
solene (“aliança é questão de estratégia”), e para que eu
entenda o sentido do que foi dito, ele teria que me tirar uma
dúvida: que estratégia?
A de trazer de volta ao governo o grupo Cunha Lima? A
de ajudar a eleger Cássio Cunha Lima e Efraim Morais para
o Senado? A de reforçar o palanque dos adversários de Lula
na Paraíba? E, é claro, todas elas reunidas na mãe de todas
as estratégias, que é o limite que a cabeça política de Ricardo
Coutinho pode apresentar hoje como projeto de sua
candidatura: renovar a política Paraibana. Bela contribuição
estratégica nosso prefeito pretende dar ao país com a ajuda
dos paraibanos!
58

RAZÕES PARA A VITÓRIA DE


RODRIGO SOARES NO PT
(Novembro de 2009)

A dúvida gerada pela disputa interna no PT sobre com


quem o partido se aliaria nas eleições para governador da
Paraíba, em 2010, foi resolvida depois da contundente
vitória da chapa liderada pelo deputado estadual Rodrigo
Soares, que obteve 54% dos votos e emplacou uma
diferença superior a 1200 votos sobre o deputado federal
Luiz Couto. José Maranhão, se o bloco que deu suporte à
candidatura de Soares para a presidência do PT continuar
unido, já pode contar com o apoio do partido para 2010.
Em termos de composições internas, essa disputa
subverteu toda a lógica anterior das alianças no PT
paraibano. Até 2007, o que marcou a conformação dos
ajuntamentos entre os diversos grupos políticos no PT foi a
divisão entre a chamada esquerda petista e os diversos
grupos alinhados às posições hegemônicas da Articulação,
grupo de Lula e José Dirceu.
O governo Lula promoveu uma inusitada coesão
nacional interna do PT, por conta das acomodações internas
que Lula soube, com habilidade, conduzir, mas
principalmente pela necessária unidade interna para
enfrentar os inimigos localizados numa oposição cada vez
mais direitista ao governo liderado pelo PT. A compreensão
de que o fracasso do governo Lula representaria o fracasso
da própria esquerda no Brasil, fez também amadurecer e
consolidar as bases de uma ampla aliança, tanto no interior
59

do PT, mas também deste com os outros partidos desse


campo.
As críticas mais contundentes que se ouviam ao
governo dentro e fora do PT, incluindo este que lhes escreve,
foi dando lugar, na medida que Lula foi transpondo todos os
obstáculos criados ao seu governo pela grande imprensa e
pela oposição conservadoras, a um nítido realinhamento
político em torno da expectativa de que a esquerda possa
liderar um novo projeto de desenvolvimento, agora com
objetivos, digamos, distributivistas.
Lula soube compreender muito bem a natureza
histórica do nosso desenvolvimento, ao se negar a embarcar
no que seria a aventura de uma ruptura com o modelo
neoliberal no início do seu governo, como desejava e torcia
que ele fizesse o PSDB, e pressionava grande parte da
esquerda. Lula também compreendeu especialmente a
maneira como foram feitas no Brasil as grandes
transformações nacionais sob o comando, até então, de
alianças e pactos conservadores – qualquer dia eu arranjo
tempo para produzir uma análise mais detida desse
processo histórico moldado pelo que Maria da Conceição
Tavares chamou de “modernização autoritária e
excludente”.
Em sete anos de governo, Lula liderou uma lenta
transição para esse novo modelo, e aglutinando forças em
torno dele. Construiu uma unidade a partir de sua
incontestável liderança, solidificada por um amplo apoio
popular e por um suporte econômico que seu governo, com
ousadia, soube construir e é a base imprescindível para dar
início a essa transição.
Pois bem, foi a construção dessa unidade que deu lógica
à aliança entre grupos de diversos matizes, antes em campos
60

opostos, em torno da candidatura de Rodrigo Soares no PT


paraibano. E isso foi feito da maneira menos traumática
possível. Antigos adversários se uniram em torno desse
projeto, que levou ao isolamento do grupo do deputado
federal Luiz Couto, preso a uma visão que aparentemente
não logrou compreender o que estará em jogo no Brasil em
2010. O que poucos acreditavam – por exemplo, uma aliança
de Gilcélia Figueiredo e Frei Anastácio com Rodrigo Soares
e Luciano Cartaxo – aconteceu. E foi isso o que deu solidez
política e capacidade aglutinadora para enfrentar o até
então considerado imbatível grupo de Luiz Couto.
Quem raciocinou em termos dos enfrentamentos do
passado surpreendeu-se com a desenvoltura argumentativa
dos protagonistas dessa aliança, que pouco se incomodaram
quando eram apontadas as possíveis incongruências de uma
aliança tão ampla. A aproximação nacional do PT com o
PMDB reforçou mais ainda o posicionamento político desse
agrupamento, que acabou conquistando uma vitória
eleitoral cujo resultado representa uma nítida
desautorização a qualquer tipo de aproximação, na Paraíba,
com aliados dos adversários nacionais do PT.
Essa força política avançou, inclusive, no território
político onde aparentemente a candidatura de Luiz Couto
teria o seu melhor desempenho, que seria João Pessoa, por
conta da aliança e do apoio do prefeito Ricardo Coutinho.
Hoje, como tudo indica, vencerão os apoiadores da aliança
com o PMDB no segundo turno da disputa para o Diretório
Municipal do PT. da capital Se isso realmente acontecer, terá
sido, como diz um conhecido ditado popular, uma vitória
com "barba, cabelo e bigode".
A derrota do agrupamento liderado por Luiz Couto
também aconteceu no campo do embate da argumentação
61

política. O simplismo das críticas durante a campanha do


PED feitas pelo deputado federal Luiz Couto, que atribuía o
interesse pela ocupação de cargos o elemento a definir essa
aliança – o que não deixava de ser paradoxal, pois era como
se ele argumentasse ser o PT importante para dar apoio
eleitoral, mas não para governar – expressam em grande
medida um alto grau de desorientação política do grupo que
o apoiava, incapaz de se opor à política proposta pelo
agrupamento liderado por Rodrigo Soares, que defendia a
unidade da base do governo Lula na Paraíba, política que
contava com a chancela da própria Direção Nacional do PT.
Além disso, tendo não só apoiado José Maranhão como
participado da chapa majoritária indicando o vice-
governador, era e é legítimo, além de uma exigência política,
que o PT reivindicasse não apenas a participação no
governo, mas trabalhasse para ampliar cada vez mais os
seus espaços. O argumento referente ao interesse na
ocupação de cargos, mote da campanha de Luiz Couto, soou
despolitizado e preconceituoso, o que demarcou um
importante limite entre um discurso orientado para o
debate a respeito do papel das alianças e da participação nos
governos do PT e outro que explorava uma visão rasteira da
política, incentivando um preconceito inútil tanto nos
filiados como na sociedade.
Por outro lado, aquele que seria em tese o grande aliado
a ajudar Luiz Couto na defesa de uma aliança mais à
esquerda para o PT, em 2010, Ricardo Coutinho, passou
todo o tempo em que durou a campanha do PED quase a
mendigar o apoio do grupo Cunha Lima e do PSDB, o que
acabou tornando-o, na prática, o maior adversário de Luiz
Couto, pois a cada declaração de Coutinho nessa direção
obrigava Couto a um verdadeiro contorcionismo retórico, ao
62

negar apoio ao que o seu candidato escancaradamente


defendia, mediante palavras e atos.
A impaciência do prefeito de João Pessoa deixou claro
sua prioridade política em relação a futuros aliados: ao invés
do silêncio para ajudar Luiz Couto, preferiu a pirotecnia dos
festejos no interior, com fotos sorridentes ao lado dos que,
em 2010, farão campanha para a oposição a Lula. O que
salvou Luiz Couto de uma derrota humilhante foi sua grande
liderança interna, que ficou fortemente arranhada após esse
embate.
63

XADREZ E POLÍTICA NA PARAÍBA:


QUEM É JOGADOR E QUEM É JOGADO
(Dezembro de 2009)

É mais do que comum a analogia entre o xadrez e a


política. Um amigo meu, obcecado tanto por um quanto por
outro, já me afirmou que pensa a política como um tabuleiro
de xadrez. É claro que eu considero essa afirmação um
exagero, pois a relação entre o enxadrista e o político só é
possível para poucos, ou seja, para aqueles que são capazes,
pela sua liderança ou poder político, de dispor e organizar
suas ações, controlando as peças e movimentando-as de
acordo com seus objetivos táticos e estratégicos. Assim,
quem não dispõe dessa qualidade não joga na política, é
jogado; quem não dispõe de força para controlar e organizar
seu jogo, é peça a ser movimentada no tabuleiro.
Assim como no xadrez, na política os movimentos dos
jogadores são pensados nos médio e longo prazos, tendo em
vista encurralar o Rei do adversário para proporcionar-lhe
um xeque-mate. No jogo eleitoral para governador (no
tabuleiro estadual), as partidas tem duração de quatro anos
e se iniciam antes de cada embate eleitoral, quando as peças
são dispostas no tabuleiro. O resultado dessas eleições
representa um estágio onde cada jogador conquistou
posições, avançou pelo centro do tabuleiro, anulou ou
capturou peças. Essa vantagem inicial, proporcionada pela
vitória eleitoral, não quer dizer que o xeque-mate seja
apenas uma questão de tempo. A imprevisibilidade é mais
uma característica que assemelha o xadrez à política:
movimentos errados ou ousadia excessiva, por exemplo, são
fatores que podem produzir efeitos de médio e longo prazo
64

que também podem tornar uma vitória certa numa derrota


iminente.
No xadrez político paraibano, a disputa de 2010
começou com os resultados de 2006, quando cada jogador
(Cássio Cunha Lima e José Maranhão) conquistou posições
estratégicas no Governo do Estado, na Assembleia
Legislativa, no Congresso Nacional e nas prefeituras. A
vantagem cassista em 2006 foi apenas contingencial, na
medida em que sua vitória ficou sub júdice. Nas eleições de
2008, a vantagem maranhista foi evidente com a conquista
dos principais colégios eleitorais do estado, o que
consolidou sua posição, dando evidente vantagem no
tabuleiro a José Maranhão quando este voltou a assumir o
governo da Paraíba.
Como hábil enxadrista político, Cunha Lima percebeu,
antes de ser definitivamente afastado do governo, o
provável desfecho que lhe ameaçava não apenas a partida
em andamento, mas sua condição de jogador, e não foi por
outro motivo que a estratégia colocada em prática por ele,
ainda antes da eleição de 2008, esteve e continua centrada
em dividir o bloco de apoio do governador José Maranhão
para montar um palanque que gere alguma expectativa de
poder. E Ricardo Coutinho aceitou ser peça-chave nesse
tabuleiro político.
Primeiro, Cunha Lima, ainda no governo, tentou
enfraquecer a até então compacta defesa de José Maranhão,
organizando um ataque pelos flancos a uma das torres
(Ricardo Coutinho) do tabuleiro maranhista. José Maranhão,
como bom jogador defensivo, resistiu como pôde às
investidas adversárias até que, quando assumiu o governo,
entregou finalmente, e com alguma resistência, a Torre, cujo
posicionamento até então era inútil tanto para ataque
65

quanto para defesa; Maranhão promoveu o roque


deslocando as defesas para o outro flanco do tabuleiro,
movimento que não só protegeu seu Rei, até então
desguarnecido pela dúvida se José Maranhão voltaria ou não
ao governo, mas também permitiu abrir o jogo para a outra
torre (Veneziano Vital), também imobilizada.

Foi só depois desses movimentos que José Maranhão


partiu para o ataque às combalidas defesas cassistas,
começando por tomar um por um os seus peões (prefeitos
de pequenas cidades). Esse ataque foi combinado com um
cerco à Rainha cassista (o presidente do PSDB, Cícero
Lucena), que, apesar de imóvel no tabuleiro, ocupava
posição estratégica. Sem ela, Cunha Lima não cria as
condições para reorganizar suas defesas e partir novamente
para o ataque.
A maior dificuldade de Cunha Lima é que ele não é mais
senhor do seu tabuleiro e algumas de suas peças não o
obedecem mais como antes. E por mais que tente deslocá-
las para abrir caminho para a Rainha cumprir o papel na
estratégia planejada desde o início, essa peça-chave
permanece imóvel. Cunha Lima sabia que, ao conquistar
uma das Torres maranhistas, ele não poderia manter sua
Rainha, sendo obrigado mais adiante a promover o seu
sacrifício. Seria uma troca a contragosto, pois a fragilidade
do jogo cassista não comporta perdas, especialmente de
uma Rainha. Mas, apesar de uma jogada de risco, ela foi
calculada.
Entretanto, a Rainha resiste, e se recusa a cometer o
suicídio para proteger o Rei, por mais que Bispos e Cavalos
abram deliberadamente o caminho para enfraquecer sua
posição, desprotegendo-a. O problema da estratégia cassista
66

é que a Rainha, com mobilidade e vida própria que tem hoje,


não obedece ao comando do ex-governador, mas ao de outro
jogador com o qual compartilha outra estratégia: José Serra.
E José Serra não sacrificaria uma Rainha, mesmo que frágil,
a troco de nada. É bem verdade que, no caso José Serra,
Lucena é, no máximo, um Cavalo do seu tabuleiro.
O problema é que agora a ex-torre maranhista, num
movimento atabalhoado, meio desesperado, à semelhança
do sujeito que, de tanta sede, passa a enxergar miragens no
deserto, deixou-se capturar por Cunha Lima e começa agora
a cobrar a fatura de um acordo que ainda não se cumpriu. A
citada Torre foi atraída para o suicídio no tabuleiro
maranhista pela promessa de mudança partidária de Cássio
Cunha Lima e, em seguida, pelo anúncio do apoio a Ricardo
Coutinho, movimentos ansiosamente esperados tanto por
cassistas esperançosos de voltarem ao governo já em 2010,
quanto por petistas-cassistas e por ricardistas que já
saboreavam a sensação de pisar nos tapetes do Palácio da
Redenção.
A primeira parte da promessa não foi cumprida, para
desalento de todos. Mas, já era tarde demais para a Torre
recuar: capturada, ela já estava muito bem guardada entre
as peças cassistas, pois, como se sabe, as regras não
permitem recuos de jogadas. Tocou na peça tem que
movimentá-la. A Torre, assim, teve que engolir, meio a
contragosto, uma promessa de aliança com o PSDB. Mesmo
isso mostrou-se uma promessa vazia, pois foi um peixe que
Cunha Lima vendeu e, aparentemente, não vai poder
entregar. Resta, para contrabalançar, um presente de grego,
o Dem, que Coutinho recusou o apoio em 2008, quando
despachou o Senador Efraim Moraes no momento em que
67

ele se ofereceu para apoiar o projeto de reeleição do atual


prefeito de João Pessoa no ano passado.
Agora, até o Dem é empurrado, e aceito, para a seara
ricardista, o que me faz lembrar um adágio popular: onde
passa um boi, passa uma boiada. Para aumentar o pesadelo
ricardista, agora que está mais do que claro que o PT é peça
de outro tabuleiro, o maranhista, só lhe restando as
companhias conservadoras, porque com a definição do Dem
é mais que provável que também o PCdoB consolide seu
apoio a José Maranhão, sendo só uma questão de tempo a
formalização. Coutinho, para a tristeza de todos os que
acreditaram que sua liderança poderia se conformar em
uma alternativa política à esquerda, será isolado no flanco à
direita do tabuleiro
Vamos ver se nos próximos dias, a segunda parte do
acordo será, finalmente, concretizada, que é a publicização
do apoio de Cunha Lima a Coutinho. Mas, mesmo que venha
a se concretizar, ainda assim será só pela metade. Ricardo
Coutinho, por conta da resistência de Cícero Lucena, pode
conquistar o apoio só de boca do ex-governador durante a
campanha, pois dificilmente terá o apoio formal do PSDB. E,
em tempos de fidelidade partidária, é o próprio Cássio
Cunha Lima que não pode apostar tudo na perigosa
estratégia de entregar a cabeça de Cícero Lucena numa
bandeja de prata a um inimigo pessoal e político: ele corre o
risco de perder a legenda...
Como Coutinho reagirá ao prêmio de consolação ou ao
presente de Natal cassista? Só resta desejar ótimas festas ao
Prefeito! E em que companhias!
Será mesmo uma campanha gloriosa! Ave Ricardo!
68

2010
69

ANÁLISE DAS ÚLTIMAS ELEIÇÕES NA


PARAÍBA: 2002
(Janeiro de 2010)

Um ano antes da eleição de 2002 para Governador da


Paraíba, a vitória de Cássio Cunha Lima era anunciada como
“favas contadas”, quando o então prefeito de Campina
Grande ostentava índices de preferência superiores a 60%
em pesquisas eleitorais. Entretanto, quem apostava numa
disputa fácil foi surpreendido com a possibilidade real de
derrota, quando a eleição não só foi para o segundo turno,
como o oponente de Cunha Lima assumiu a condição de
favorito à vitória.
Cássio Cunha Lima, por um desses mistérios que nós só
vemos acontecer na política, livrou-se de uma derrota
iminente no segundo turno daquela eleição. E para um
candidato relativamente desconhecido em todo estado,
excluindo o Brejo paraibano, o vice-governador de José
Maranhão, que se tornara governador com o afastamento do
titular para concorrer ao Senado, Roberto Paulino. Paulino,
além de relativamente desconhecido, apresentava sérias
dificuldades retóricas, aspecto que certamente lhe custou
votos em meio a parte do eleitorado que valoriza
excessivamente esse atributo, que, quando desprovidos de
conteúdo, é pura enganação.
Pois bem, quando tudo aparentemente se encaminhava
para uma vitória fácil do jovem, eloquente e, comparado ao
barrigudo Roberto Paulino, elegante Cássio Cunha Lima, eis
que o favorito da família Cunha Lima quase é atropelado
pelo bonachão governador guarabirense, que soube
70

reverter em seu favor a simplicidade dos gestos e da fala,


num ano em que o povo brasileiro começou a olhar para si
próprio com outros olhos, que não o de sua elite.
A um ano antes da eleição, no final de 2001, Paulino
pontuava abaixo dos 10% nas pesquisas. Em agosto de
2002, segundo o IBOPE, há dois meses da eleição, portanto,
Paulino chegava aos 22%, contra 57% de Cássio Cunha Lima
(clique aqui para conferir). Tudo bem que foi o IBOPE, cuja
trajetória de erros grosseiros desmoralizou esse instituto
em várias eleições paraibanas – às vésperas daquela eleição,
por exemplo, o IBOPE pontuou uma diferença de 25% (57%
a 32%) em favor de Cunha Lima (clique aqui para conferir
esse vergonhoso ato de grosseira manipulação). Abertas as
urnas, os resultados apontariam uma diferença um pouco
superior a 7% (39,9 a 47,2) em todo o estado.
Independente das pesquisas do IBOPE, a percepção do
crescimento de Paulino foi se dando de forma lenta e
gradual, acabando por assumir uma curva ascendente que,
caso tivéssemos mais uma ou duas semanas de campanha
antes do primeiro turno, ele teria provavelmente
ultrapassado o seu concorrente. Mas, como existiria o
segundo turno...
Por isso, considero que só erros de estratégia
cometidos no segundo turno podem explicar como foi
possível perder uma eleição ganha, pois Paulino começara
sua ascensão no momento ideal, levando a eleição para o
segundo turno, o que quebrou uma expectativa cultivada
por meses da vitória cassista no primeiro turno, e que,
principalmente em termos psicológicos, representou uma
injeção de ânimo na campanha do PMDB, associada a uma
sensação de derrota para os tucanos. Além disso, para
completar o pacote de expectativas positivas, Paulino
71

passou a contar com o apoio formal do PT, do seu candidato


a governador, Avenzoar Arruda, e de Lula, numa disputa que
também se reproduziria no plano nacional. Ainda hoje,
continua difícil explicar aquela derrota.
Mas, como explicar a surpreendente ascensão de
Roberto Paulino em 2002? O primeiro fator é de ordem
política e tem relação tanto com o apoio do ex-governador
José Maranhão, que saiu do governo com altos índices de
aprovação e, tão importante quanto, o apoio dado pelo
PMDB paraibano ao então presidenciável Lula, o que
assegurou à campanha de Paulino uma associação positiva
numa eleição marcada, como se veria depois, por um
impressionante crescimento do voto à esquerda – só o PT
levou 8 candidatos a governador ao segundo turno,
elegendo dois no primeiro, além de eleger a maior bancada
para a Câmara dos Deputados (92 deputados).
Enquanto Lula enchia os comícios de Roberto
Paulino/Avenzoar com multidões em João Pessoa e
Campina Grande, prenunciado a aliança que se daria no
segundo turno, Cunha Lima fugia de José Serra, o então
candidato do PSDB, como o diabo foge da cruz. Isso em
política pode ser fatal. Aliás, em muitos lugares na eleição de
2002 – e isso também voltaria a acontecer em 2006 – Cunha
Lima estimulou abertamente a “dobradinha” Lula-Cássio, o
que, por si só, demonstra as dificuldades de uma campanha
eleitoral prejudicada no discurso de mudança que
procurava empreender, porque estava indelevelmente
associada ao conservadorismo.
Por mais que Cássio Cunha Lima se esforçasse por se
apresentar como o novo, com gestos, vestimentas
engomadas e discurso, sua filiação partidária e suas
companhias no estado eram clarividentes em demonstrar o
72

contrário. Cabe aqui, mesmo que rapidamente, uma análise


do erro histórico e estratégico cometido por Cássio Cunha
Lima em 2002, que optou por filiar-se ao PSDB,
aproximando-se do Dem, na época PFL, erro que Ricardo
Coutinho repete hoje com impressionante semelhança, só
que mantendo sua filiação ao PSB.
Um parêntese: Lembrei-me agora da resposta de um
“ricardista” próximo de Ricardo Coutinho quando eu
perguntei se a “militância” do PSB faria campanha com a do
PSDB em João Pessoa: “faremos campanha separados”, foi a
resposta que obtive.
Pois bem, ao optar pela filiação ao PSDB para ser
candidato em 2002, quando poderia ter se filiado a um
partido que se alinharia na oposição ao governo FHC, Cunha
Lima superestimou o poder das máquinas, dando
preferência ao poder político do governo federal e ao poder
econômico do PSDB paulista, e desdenhou de uma aliança
com o PT, com a esquerda e com Lula, acreditando numa
espécie de determinismo econômico que tornaria a política
eleitoral uma equação matemática, uma soma de votos
controlados pelas lideranças partidárias.
Fosse mesmo assim, Lula jamais teria conseguido
eleger-se em 2002 e o PSDB estaria no poder desde então.
No Nordeste, essa leva de governadores de esquerda teria
sido impossível e ACM continuaria governando
eternamente a Bahia caso não tivesse falecido.
José Maranhão e Roberto Paulino perceberam de
imediato o flanco aberto pelo cassismo e não perderam a
oportunidade histórica. E, mesmo com as derrotas que
afastaram o PMDB por 6 anos do governo estadual, esse
partido continua a aglutinar setores políticos mais à
esquerda na Paraíba através do apoio que dá e recebe de
73

Lula, e acho que, caso vença em 2010, um projeto de poder


de pelo menos médio prazo, conformando uma base política
e social de um novo modelo de desenvolvimento para o
Brasil que se gesta nacionalmente, se viabilizará na Paraíba.
Olhando os números da eleição de 2002, é possível
observar que foram as cidades com mais de 20.000 eleitores
que viabilizaram a realização do 2º turno em 2002,
excetuando-se, obviamente, Campina Grande, cuja diferença
(75.361 votos) correspondeu a 65% da diferença total entre
Cássio Cunha Lima e Roberto Paulino (116.695 votos) no
primeiro turno.
Com os dados da votação de 2002 em mãos, que podem
ser acessados na página do TSE, com todos os resultados de
eleições no Brasil desde 1994 (clique aqui para ir á página
do TSE), – podemos observar, por exemplo, que nas cidades
com mais de 20.000 eleitores, que concentravam 1.114.198
aptos a votar naquela eleição (48% do eleitorado
paraibano), dos quais 788.240 compareceram às urnas (o
que representou 49% dos votantes em 2002), Cássio Cunha
Lima obteve 43% dos votos, enquanto Roberto Paulino
chegou 37%. O surpreendente naquela eleição, fato que foi
decisivo para que o pleito fosse para o segundo turno, foi a
votação do candidato do PT, Avenzoar Arruda.
Só em João Pessoa, Avenzoar abocanhou 78.456 votos,
ou 27% do eleitorado que foi às urnas na cidade. Nos
municípios com mais de 20.000 eleitores, Arruda
abocanhou 147.712 votos, o que representou 19% dos votos
desse colégio eleitoral.
Nas outras 200 cidades, o petista acrescentou apenas
pouco mais de 53.000 votos ao seu espólio eleitoral,
chegando a 200.362, o que puxou para baixo seu
desempenho em todo o estado, que ficou com 12.5% do total
74

de votos, mas acabou permitindo a realização do segundo


turno. Ou seja, nas maiores cidades, onde presumivelmente
o voto do eleitor se define em função de critérios mais
políticos, não apenas Roberto Paulino conseguiu um bom
desempenho em relação ao candidato do PSDB, que recebeu,
em termos percentuais, sua mais baixa votação, bem como a
esquerda obteve um desempenho arrebatador,
especialmente considerando os resultados dos seus
candidatos até aquela eleição. Roberto Paulino venceu em
20 das 48 cidades com eleitorado superior a 10.000
eleitores, incluindo João Pessoa, Santa Rita, Bayeux,
Guarabira e Sousa.
É bom ressaltar que, diferente do que acontecerá em
2006 e 2010, aliados do candidato do PSDB governavam as
maiores cidades do estado. Das 20 maiores cidades, 11 eram
governadas por prefeitos que apoiavam Cunha Lima: João
Pessoa, Campina Grande, Patos, Cajazeiras, Guarabira,
Cabedelo, Mamanguape, Queimadas, Solânea, Itabaiana e
Pombal.
Por outro lado, nas cidades com menos de 20.000
eleitores, se a média do candidato do PSDB cresceu,
superando os 50% — o que lhe asseguraria a vitória no
primeiro turno caso a eleição se restringisse apenas aquelas
cidades –, a de Roberto Paulino acompanhou o ritmo,
chegando aos 44,41% nas cidades com eleitorado inferior
aos 5 mil eleitores, aos 40% nas cidades com eleitorado
entre 5 e 10 mil, e superando os 42% nas que tinham entre
10 e 20 mil eleitores. O que explica, no caso das pequenas
cidades, um desempenho tão expressivo de Paulino,
especialmente considerando, como já acentuamos, as
características dos candidatos em disputa? Nesse caso,
75

certamente a candidatura de Roberto Paulino foi


beneficiada pelo peso do cargo de governador.
Vejamos alguns exemplos do desempenho de Roberto
Paulino nas pequenas cidades. Das 50 maiores votações em
termos percentuais do candidato do PMDB no primeiro
turno, 17 foram em cidades governadas por prefeitos
filiados ao PFL, e 5, ao PSDB, ou seja, em quase 50% desses
municípios que conferiram os maiores percentuais de voto
a Paulino, os prefeitos pertenciam a partidos de oposição.
Contando todos os 223 municípios, Paulino venceu em 17
cidades governadas pelo PFL, que elegera 59 prefeitos em
2000 (29%), e 14 do PSDB, incluindo João Pessoa, que tinha
à época 24 prefeitos eleitos em 2000 (58%). Não estão
incluídos os muitos prefeitos que se elegeram pelo PMDB e
migraram para o PSDB, acompanhando Cássio Cunha Lima,
bem como os de outras legendas.
Portanto, se existem ensinamentos a tirar das eleições
de 2002 é que a junção de alguns fatores, como uma política
de aliança à esquerda, e o controle da máquina estadual,
podem ser decisivos para tornar viável um candidato que,
até tornar-se governador, não teria, em condições normais,
condições para se eleger, como foi o caso de Roberto
Paulino, principalmente porque o seu principal oponente já
era um jovem nome de expressão estadual, prefeito por 3
vezes da segunda maior cidade do estado e filho de um ex-
governador, de ser apoiado por uma sólida estrutura
partidária e por importantes lideranças locais e regionais,
além do suporte político e econômico do Governo Federal e
de sua candidatura a presidente. Roberto Paulino logrou
superar essas desigualdades através da política e
demonstrou que em eleição não existe resultado
previamente decidido.
76

Da mesma maneira, o poder da máquina estadual foi


decisivo para reeleger um governador, mesmo em grandes
dificuldades políticas e eleitorais, em 2006.
77

ELEIÇÕES DE 2006:
A MÁQUINA ESTADUAL REELEGE
CÁSSIO CUNHA LIMA
Janeiro de 2010

As eleições para governador de 2006 guardam pelo


menos uma semelhança com a anterior, além do fato de ter
sido decidida por estreitíssima margem: o apontado
favoritismo do candidato da oposição, o então senador José
Maranhão, que há mais de um ano das eleições abria
vantagem significativa para o então governador e candidato
à reeleição, Cássio Cunha Lima.
Tal fato decorria, de um lado, da força política que ainda
mantinha o ex-governador do PMDB, e, de outro lado, do
desgaste que Cássio Cunha Lima acumulara nos dois
primeiros anos de governo, principalmente.
Ao longo dos dois anos seguintes, Cunha Lima, do alto
da máquina estadual e todo poder que ela proporciona,
reverteria o quadro e venceria a eleição para governador de
2006, no segundo turno, um resultado que poucos
acreditavam dois anos antes. Como explicar uma reversão
tão expressiva do quadro eleitoral? A chave para o
entendimento dessa questão está na ação administrativa do
governo Cássio Cunha Lima.
Comecemos, portanto, a análise daquela eleição por
uma breve avaliação do primeiro governo do PSDB (2003-
2006).
O primeiro governo Cássio
78

O favoritismo maranhista decorria em grande medida


da maneira desastrada como Cássio Cunha Lima
administrara o estado nos dois primeiros anos. Cunha Lima
assumira o governo em 2003, numa situação de claras
dificuldades financeiras, decorrentes, principalmente, da
situação nacional – Lula acabara de assumir o Governo
Federal em meio a uma crise econômica que produzia
desemprego, pressionava a inflação e reduzia o consumo
interno, associada a uma grande instabilidade política que
levou o dólar a superar a barreira dos R$ 4,00 no primeiro
mês do governo petista, numa ação do mercado financeiro
cujo objetivo era pressionar o governo Lula a manter
inalterada a política econômica de FHC.
Lula assumira o governo em grandes dificuldades por
conta dos problemas financeiros (a dívida interna, por
exemplo, que em 1994 era de 65 bilhões de reais, pulara
para mais de 1 trilhão de reais, em 2002, o que comprometia
pesadamente as finanças do Estado com o pagamento dos
serviços dessa dívida, e as reservas internacionais chegaram
a um nível crítico, ficando abaixo dos 40 bilhões de dólares
em dezembro de 2002, o que representou uma perda de 185
bilhões de dólares em todo o período do tucanato).
O Estado fora praticamente anulado, seja pela perda
deliberada do controle sobre a política monetária, dando na
prática autonomia ao Banco Central para defini-la, através
dos “técnicos” do COPOM, seja pela perda do controle da
política cambial, deixando que o mercado financeiro a
determinasse em função dos seus interesses especulativos,
seja por uma política de desregulamentação, com a criação,
por exemplo, de agências reguladoras que substituíram o
controle do Estado sobre a política de preços das tarifas das
empresas estatais privatizadas, cujo objetivo era assegurar
79

a alta lucratividade dos bancos e grandes empresas que as


compraram, e das próprias privatizações, que produziram
uma perda considerável de recursos e uma limitação da
capacidade de intervenção do Estado no direcionamento
das estratégias de desenvolvimento, que também deixaram
de existir.
Mas, no curto prazo, em 2003, o maior problema era o
mercado interno, que limitava a capacidade de crescimento
econômico e não criava expectativas positivas de
investimento e consumo. Tudo isso, é claro, reduzia a
capacidade de arrecadação dos governos e, no caso da
Paraíba, onde o novo governador pertencia aos quadros
oposicionistas, a situação não apresentava boas
perspectivas para viabilizar parcerias que permitissem o
impulso inicial que todo novo governo necessita.
Diante de um quadro assim, Cunha Lima preferiu culpar
o antecessor ao invés de expor com clareza as dificuldades
pelas quais passavam as finanças do estado e trabalhar para
superá-las. Nos 6 meses que se seguiram à posse, o então
governador tentou se diferenciar não pela apresentação de
um novo projeto político-administrativo, mas pela crítica
sistemática ao governo anterior. Não apresentava ideias
novas, mas velhas depreciações.
Para passar a ideia de caos financeiro, forçou os
servidores a tomarem empréstimos para terem direito aos
salários, quando na realidade desejava mesmo era criar uma
sobra no caixa para fazer investimentos, ação que, por
exemplo, contrastava com o aumento exorbitante da folha
de pessoal através da contratação dos conhecidos aspones,
que infestaram o governo desde então.
Cunha Lima Recorreu à paralisação das obras que
estavam em andamento, herdadas do governo anterior,
80

como a demonstrar o modus operandi familiar, numa


repetição do mesmo erro que Cunha Lima I (o pai) cometera
durante o seu governo, e que fez José Maranhão ganhar
notoriedade como administrador ao sucedê-lo. Maranhão
deu continuidade às obras não só do próprio Ronaldo Cunha
Lima, mas do governador que o antecedera, Tarcísio Burity,
e que haviam sido paralisadas, a exemplo do Hospital de
Traumas de João Pessoa.
Em razão disso, como parêntese, é mesmo risível ouvir
hoje o ex-governador se lamuriar por conta do atual
governo dar continuidade às suas obras. Quando ele faz isso,
ajuda involuntariamente a reforçar essa imagem que José
Maranhão, de maneira esperta, deseja ressuscitar nos
governados de hoje, e que é uma das peculiaridades mais
marcantes a diferenciar o ex-governador do atual. Ao
inaugurar uma obra começada no governo do seu
antecessor, José Maranhão está, não custa nada reconhecer,
defendendo o interesse público e agindo de maneira
impessoal, mas está também reafirmando que não reproduz
aquilo que se tornou uma das marcas dos Cunha Lima nos
governos: não concluir obras começadas em governos de
adversários políticos, deixando-as abandonadas.
Cássio Cunha Lima demorou excessivamente a
perceber o erro político que cometia, o que só aconteceu
após a contundente derrota sofrida nas eleições para
prefeito, em 2004. Das 20 maiores cidades paraibanas, em
12 foram vitoriosos aliados de José Maranhão. Das 7
maiores cidades, que contavam à época com mais de 40.000
eleitores, em 6 venceram candidatos de oposição ao governo
do PSDB.
Entre elas, João Pessoa, cujo eleito, Ricardo Coutinho,
recém filiado ao PSB, fora eleito com o apoio do PMDB, que
81

indicou seu vice, o que se constituiu em um dos fatores


decisivos para Coutinho montar uma campanha vitoriosa,
isolando as pretensões do PT de Avenzoar Arruda, que na
eleição anterior para governador obtivera 27% dos votos da
capital; e, principalmente, Campina Grande, que por 20 anos
fora uma cidadela inexpugnável da família Cunha Lima,
numa memorável vitória, em segundo turno, do
peemedebista Veneziano Vital, por pouco mais de 700 votos,
vitória comemorada em toda a Paraíba, especialmente em
João Pessoa. As outras 4 cidades foram Santa Rita, Bayeux,
Patos e Sousa.
Depois dessa expressiva derrota, Cássio Cunha Lima
mudou sua postura. A mudança começou, claro, pela
comunicação governamental, com uma poderosa campanha
de marketing que procurava demonstrar que existiam obras
em todo o estado. Até obras de pavimentação de ruas eram
mostradas em horário nobre na TV. Nesse aspecto, Cunha
Lima teve a contribuição decisiva do governo Lula, que
forçou governadores que não gostavam de “enterrar obras”
a investirem em saneamento básico, criando uma linha de
crédito junto à Caixa Econômica Federal para isso. Foi o “Boa
Nova”, um amplo programa de infraestrutura sanitária que
espalhou obras por todo o estado, especialmente por João
Pessoa, onde o ex-governador acumulara um disseminado
desprezo da população da local.
O novo slogan do governo tentou difundir a ideia de que
não era de grandes obras que vivia aquela gestão, mas da
preocupação com os mais pobres: “quem mais precisa, sabe
o que o governo está fazendo” era o slogan que encerrava
toda propaganda governamental. Ações como a dispensa da
cobrança da conta de água para os consumidores de baixa
renda ou do perdão de dívidas de antigos mutuários do
82

sistema estadual de habitação – na realidade, uma venda dos


créditos habitacionais, que o Estado receberia anos depois
como saldos da operação, a uma empresa privada, e que
resultou em grave prejuízo para o Estado, pois a antecipação
de receita se fizera através da renúncia de parte
considerável do que o governo receberia anos depois.
Além disso, destaquem-se as conhecidas “cirandas de
serviço”, nas quais o próprio governador, em pessoa, por
vezes aparecia para distribuir os tais “serviços”, entre eles,
auxílios em dinheiro para a população mais pobre, com
recursos do Fundo de Combate à Pobreza, especialmente
criado para esse fim, já que ele não estabelecia nem critérios
de distribuição dos seus recursos, nem o público-alvo.
Apesar do nome, foi desse fundo que também saíram
recursos cuja distribuição se converteu em mais um capítulo
a revelar a indistinção entre o que o grupo do ex-governador
considerava público e o que era privado, e a demonstrar que,
para aquele governo, “quem mais precisava” não era
exatamente quem menos tinha. Para os mais pobres,
cheques de R$ 150,00; para amigos e aliados, cheques em
valores superiores às dezenas de milhares de reais para
diversos usos, entre eles caríssimos tratamentos dentários.
Dando continuidade a mutação, foi suavizada a postura
de arrogância do governador, que se tornou mais simples,
mais acessível. Cássio Cunha Lima finalmente percebera que
o mundo não estava aos seus pés. Especialmente, deixou de
confrontar o Sistema Correio contra quem iniciara uma
guerra em todas as frentes e a quem simplesmente ignorara
nos dois primeiros anos de governo ao praticamente
desconhecer os seus repórteres, atitude que voltou a repetir
após a cassação. Não apenas passou a dar entrevistas como,
83

quem diria! a anunciar nos órgãos do poderoso sistema de


comunicação.
O fato é que, impulsionado por essas mudanças, Cunha
Lima melhorara significativamente sua imagem e isso
passou a se refletir nas pesquisas. Para quem era tido como
derrotado dois anos antes da eleição, Cunha Lima foi se
tornando um candidato competitivo, o que prenunciava
mais uma acirrada disputa.
Em fevereiro de 2006, por exemplo, segundo pesquisa
Vox Populi, Cunha Lima já reduzira a diferença para 9
pontos percentuais e começava uma aproximação que
acabaria por lhe dar mais uma vitória por uma margem
mínima de votos, tanto no primeiro quanto no segundo
turnos. Em agosto, o IBOPE já registrava a vantagem de 5%
pró Cássio Cunha Lima. Veja o quadro da evolução das
pesquisas abaixo.
84

AS CHANCES DE LUIZ COUTO


PARA O SENADO
(Março de 2010)

Foi com o professor de Filosofia Luiz Couto que mais


aprendi sobre Maquiavel numa disciplina que o atual
deputado federal do PT ofereceu aos alunos do curso de
História da UFPB, há uns 20 anos. Entre as opções propostas
pelo então professor, escolhi Maquiavel e tive que ler O
Príncipe para apresentação de um seminário. Tanto a leitura
atenta quanto a apresentação das ideias do diplomata
italiano do século XVI e do debate que se seguiu,
permitiram-me desenvolver uma nova compreensão do que
Maquiavel representa para a política moderna.
Longe dos preconceitos largamente difundidos sobre
esse grande filósofo, resumidos na frase que nunca foi
escrita por Maquiavel (“os fins justificam os meios”),
compreendi finalmente que a política tem uma dinâmica
própria cuja ação política exige uma compreensão da
realidade que deve ir além do que desejamos que ela seja,
mas como efetivamente ela é. Enfim, na esfera da política as
normas de conduta não devem ser mediadas por modelos a
priori, mas em razão dos objetivos a serem alcançados. Não
se trata de propor um vale tudo sem princípios – para
Maquiavel, o fim da política é alcançar o bem-estar e a
estabilidade social, – mas o fim da ingenuidade na política.
Pois ela, definitivamente, não é lugar para ingênuos.
Você, meu possível leitor, deve estar se perguntando
qual a relação desta introdução com o título dessa
postagem? Primeiro, ressaltar que as decisões políticas
85

devem ser mediadas pela racionalidade e não pelas paixões


ou por uma visão menor dos objetivos pelos quais nos
metemos a fazer política, e com isso contribuir para uma
análise mais racional da política paraibana e das chances de
termos um candidato de esquerda na disputa para o Senado
em 2010; segundo, evitar que a maior, e talvez a única,
referência política da esquerda paraibana hoje – Ricardo
Coutinho deixou de ser quando optou por aliar-se à direita –
seja tragado pelas armadilhas dessa mesma política.
Comecemos, então, por deixar claro que foi o PT, e não
apenas Luiz Couto, quem definiu que o partido tinha dois
objetivos principais nas eleições de 2010 na Paraíba: ajudar
a eleger Dilma Rousseff e conquistar uma das vagas para o
Senado. A política que o PT deveria perseguir era essa, mas
o que se viu na prática foi que esses objetivos foram sendo
colocados em segundo plano para dar lugar à prioridade dos
outros partidos de eleger seus candidatos a governador. O
PT acabou se dividindo entre os que queriam apoiar José
Maranhão (PMDB) e os que queriam apoiar Ricardo
Coutinho (PSB).
No caso do grupo de Luiz Couto, o objetivo ficou
mantido, mas atrelado à candidatura do PSB sem observar,
em primeiro lugar, como o projeto de eleger um senador se
encaixava nessa opção. Talvez a candidatura de Ricardo
Coutinho desse mais lastro para esse projeto caso ela
viabilizasse uma alternativa que aglutinasse a esquerda
(PSB, PT, PCdoB e PDT) e atraísse outros partidos, como o
PTB e o PP. Optando por aliar-se ao PSDB e Dem, Coutinho
feriu de morte a possibilidade de uma aliança com o PT e a
esquerda, o que enfraqueceu a posição de Luiz Couto e seu
grupo dentro do PT. Couto não levou em consideração a
possibilidade de um recuo tático, excluindo a opção de
86

apoiar o candidato do PSB, e resolveu enfrentar o abismo e


só não caiu nele ainda porque o tempo da política mantém
sua condescendente espera.
No caso do grupo que apoiou Rodrigo Soares, aos
poucos esse objetivo foi se diluindo até se consolidar no seu
abandono, substituído pelo propósito de manter a vaga de
vice-governador, ajudado tanto pelo precedente da aliança
feita em 2006 como pela aliança entre PT e PMDB que se
construía nacionalmente. E a tal unidade partidária, aquilo
que foi e continua sendo o lastro de todos os projetos
individuais e de grupo, acabou sendo a vítima de todo esse
processo. O PT da Paraíba caminha para um racha que pode
ter sérias implicações futuras.
Entretanto, ainda há tempo de restabelecer essa
unidade, o que só será conseguido por intermédio da
política. Para o bem do PT e da esquerda paraibana.
87

LUIZ COUTO UNIA O PT. AINDA UNE?


(Março de 2010)

Não há dúvida que a maior liderança individual do PT


continua sendo o deputado federal Luiz Couto, sendo ele o
único nome capaz de compor uma chapa majoritária com
possibilidades de vitória. O fato de, excluído Luiz Couto, o PT
não dispor de outro nome para ocupar esse espaço,
preferindo o aconchego da vaga de vice-governador na
frondosa árvore maranhista, é revelador das fragilidades
eleitorais do partido e de suas lideranças na Paraíba. A
indicação do vice se sustenta pela simples afirmação da
vontade dessas lideranças? Como já analisamos neste blog,
a candidatura de Luciano Cartaxo se fortaleceu
internamente após a vitória de Rodrigo Soares para a
presidência do PT. Mas, isso por si só é suficiente?
Uma simples análise da vantagem eleitoral
proporcionada pela indicação da manutenção do atual vice-
governador na chapa de José Maranhão pode expor o quanto
será difícil manter essa estratégia. Caso não consiga manter
Cartaxo na chapa, o PT pula fora do barco do PMDB para se
abrigar ao lado do PSDB e do Dem no tumultuado barco
ricardista? Da mesma maneira que o PT nacional resiste, por
legítimas razões de ordem política e eleitoral, em aceitar a
indicação de Michel Temer, do PMDB, para compor a chapa
presidencial ao lado de Dilma Rousseff, o atual Governador
da Paraíba José Maranhão tem razões de sobra para preferir
um nome de maior densidade eleitoral, porque, e isso é um
fato que interessa aos partidos de sua aliança, a derrota do
governador significará a derrota de todos. Depois, como
aceitar a indicação de Cartaxo se ele não consegue assegurar
88

nem mesmo o apoio do PT por inteiro, como pelo menos


aconteceu em 2006?
Esse é um primeiro dado a conferir importância à
candidatura de Luiz Couto ao Senado. Ela tanto permitiria
criar as bases para o restabelecimento da unidade interna
do PT e da esquerda, como evitaria atropelos na relação com
o PMDB. Se Couto pensar com paixão, deixando a mágoa
falar mais alto, ele verá nesse segundo aspecto uma maneira
de não contribuir para solucionar essas dificuldades; se
pensar racionalmente, olhando ao mesmo tempo para o PT
e para o projeto original de se eleger Senador, verá com
tranquilidade que as condições políticas para viabilizar sua
candidatura existem. Dentro e fora do PT.
89

Por que a candidatura de Luiz Couto ao Senado é


viável
Primeiro, as condições para ser candidato. Quando eu
me refiro às condições internas do PT estou me referindo
não exclusivamente ao PT paraibano – mesmo aqui, para
muitos que apoiam retoricamente a candidatura de Luciano
Cartaxo, seria um alívio que o único motivo atual de
confronto com José Maranhão fosse desfeito, – mas ao PT
nacional, especialmente a Lula e Dilma Rousseff. Por dois
motivos: primeiro, a candidatura de Couto evitaria criar
mais um problema regional com o PMDB, problema que não
existia; segundo, viabilizaria a entrada na disputa de um
candidato do PT com chances de vitória ao Senado, casa
parlamentar que mais criou problemas a Lula e ao seu
governo. Dilma certamente não quer enfrentar novamente
esse problema.
Visto por esse ângulo, Luiz Couto hoje está na mesma
situação que o paraibano Lindberg Farias se encontrava no
Rio de Janeiro e conseguiu um acordo mediado pelo próprio
Lula para que ele seja candidato ao Senado. Farias, que eu
conheci relativamente bem, pois atuamos juntos no
movimento estudantil, agiu com a frieza e a paciência que a
política exige, esticando a corda sem deixar que ela se
rompesse, deixando sempre uma janela aberta. Lula abriu
essa janela e Lindberg não se fez de rogado. Para Luiz Couto,
essa janela permanece aberta, como deixam claro todos os
dias as lideranças do PMDB, incluindo o próprio governador.
Em resumo, a candidatura de Luiz Couto ao Senado
interessa tanto a Lula e a Dilma, quanto ao próprio José
Maranhão, o que pode permitir um acordo que viabilize toda
90

a estrutura necessária para o enfrentamento de uma disputa


majoritária.
Segundo, acredito que seja do amplo interesse dos
outros partidos de esquerda que haja um candidato desse
campo como alternativa eleitoral. O quadro que se
apresenta hoje considerando apenas o perfil dos possíveis
candidatos ao Senado na Paraíba é dolorosamente carente
de personalidades mais à esquerda: Efraim Moraes, Cássio
Cunha Lima, Wilson Santiago, Wellington Roberto, Ney
Suassuna mostram que o eleitor mais progressista
enfrentará graves dificuldades de encontrar um candidato
que mereça seu voto.
Quem representará esse eleitor, que tem grande peso
nos grandes centros? Depois, ninguém encarnaria de
maneira mais real, sem precisar de estripulias midiáticas, a
condição de candidato do presidente Lula ao Senado do que
o petista Luiz Couto, especialmente numa eleição que tende
a produzir nacionalmente uma onda vermelha,
especialmente no Nordeste, com a ampla vitória dos
candidatos que apoiarão e serão apoiados pelo governo
Lula. Há uma clara subestimação desse provável fenômeno
político, que já beneficia a candidata a presidente de Lula,
uma até então desconhecida personalidade política,
colocando-a em empate técnico com o candidato do PSDB, o
conhecido governador de São Paulo, José Serra. Isso em
março, sem a campanha na rua e na TV!
Se Luiz Couto e seu grupo perceberem a dimensão do
que estará em jogo em 2010, as tendências que se
apresentam hoje e que podem beneficiar sua candidatura,
apontando como reais as possibilidades de uma vitória que,
finalmente, dê ao PT da Paraíba a expressão política que o
PT conseguiu em todo o Brasil, eles não terão dúvida que a
91

candidatura ao Senado é a melhor opção, tanto para Luiz


Couto quanto para o PT e, eu diria mais, para a política
paraibana. Além disso, internamente, essa candidatura
viabiliza a reversão da derrota política no PED, unindo o PT
novamente em torno de Couto, para dar uma perspectiva
para o partido e para toda a esquerda na Paraíba,
perspectiva que, infelizmente, ela ainda não tem.
Cabe a Luiz Couto definir qual o papel que ele deseja
que o PT e ele próprio desempenhem em 2010. Se de um
candidato ao Senado com capacidade para unir todos a
esquerda numa ampla campanha estadual, ou permitir que
o PT seja um mero apêndice, mantendo-se à sombra do
PMDB.
O PT merece muito mais do que isso.
92

VENEZIANO FICA OU SAI?


(Março de 2010)

Independentemente de qualquer pesquisa, e


independentemente da avaliação, o fato é que, viabilizado o
quadro eleitoral sem a presença na disputa do prefeito de
Campina Grande, Veneziano Vital, teremos mais uma
acirrada disputa para o governo. Não escondo com isso que
essa avaliação ajuda, sem dúvida, a reforçar a ideia de que a
presença de Veneziano na chapa maranhista ao governo é,
com perdão do trocadilho involuntário, vital. Há seis meses
da eleição, o dado mais relevante que qualquer observador
mais isento da cena política paraibana não deixa de
perceber é que, consolidado esse quadro, como já disse,
teremos uma disputa acirrada quando outubro chegar. E
que Campina Grande será mais uma vez decisiva.
Olhando estritamente para o objetivo de ser candidato
a governador em 2014, objetivo que, caso José Maranhão
não tivesse assumido o governo, é provável que já estivesse
em plena realização atualmente, já que Veneziano se
tornaria o candidato natural do PMDB, acredito que a
pergunta que deve orientar a decisão do jovem prefeito
campinense é a seguinte: em 2014, é melhor ser candidato
ao governo no cargo de governador ou, do contrário,
enfrentar uma disputa eleitoral contra um candidato à
reeleição em pleno exercício do cargo?
A primeira hipótese considera o fato mais do que
previsível de que, caso eleito na condição de vice na chapa
do atual governador agora em 2010, Veneziano assumiria o
cargo com a renúncia de José Maranhão para se candidatar
ao Senado e encerrar como um vitorioso sua carreira
93

política; a segunda hipótese considera o fato de, vitorioso


Ricardo Coutinho em 2010, o objetivo de Veneziano de se
eleger governador em 2014 estaria pesadamente
comprometido, seja porque, no momento, o prefeito
continua sem perspectivas de ter um candidato com
viabilidade suficiente para permitir-lhe almejar fazer o seu
sucessor, problema que seria agravado, considerando a
hipótese da derrota maranhista em 2010, pela ausência da
máquina estadual para ajudá-lo nessa empreitada, o que o
fragilizaria ainda mais.
É bom lembrar que a vitória de Ricardo Coutinho
abriria o caminho de volta para ele refazer os laços políticos
com o PT, já que, visto pelo olhar de hoje, Coutinho ainda
mantém firme a ideia de apoiar Dilma Rousseff para
presidente. Essa será a senha que muitos petistas utilizarão
para desembarcar da nau peemedebista em caso de derrota,
inclusive os petistas mais adorados hoje pelo irmão do
prefeito de Campina Grande.
Ao argumentar isso, não estou sendo simplista a ponto
de afirmar que a decisão de Veneziano Vital de anunciar sua
saída ou sua permanência da prefeitura de Campina Grande,
decidirá as eleições de 2010 na Paraíba. Mas, ela trará
importantes consequências para a montagem dos palanques
num momento decisivo da disputa. Em termos práticos, não
se pode omitir que foi criada uma expectativa tal por conta
da decisão do prefeito que, qualquer que seja ela, a leitura
necessariamente passará seja pelo fortalecimento – em caso
do anúncio de afastamento da prefeitura — ou
enfraquecimento da candidatura de José Maranhão – em
caso da permanência no cargo.
Por um motivo simples: José Maranhão continuará sem
solução eleitoral para a região que foi o principal motivo das
94

duas últimas derrotas do PMDB: a região da Borborema,


especialmente Campina Grande, problema que,
inquestionavelmente, seria resolvido caso Veneziano Vital
aceitasse participar da chapa na condição de vice, o que
criaria imensa expectativa de poder em torno de mais um
campinense com possibilidades de assumir mais uma vez o
Governo do Estado. E não imagino que esse problema pode
ser contornado com outro nome de Campina na chapa, a
exemplo do deputado federal Vital do Rêgo Filho, que tem
tido uma atuação brilhante como deputado federal.
Apesar de irmãos, os dois tem reconhecidamente
modos distintos de fazer política – isso visto exclusivamente
no âmbito do manuseio das palavras, pois conheço muito
pouco os dois para afirmar algo diferente, — o que implica
em algo que torna Veneziano, em termos políticos, tão
sedutor e agregador, enquanto “Vitalzinho” passa a ideia de
querer, a todo custo, projetar-se além do espaço que ele já
ocupou — no vácuo do crescimento do irmão, é verdade, —
para assegurar para si o que todos têm como espaço que
pertence a Veneziano, espaço conquistado a duras penas —
ao lado do irmão, também é verdade.
Resumindo de maneira simples: Veneziano Vital é
Veneziano Vital, Vital do Rêgo Filho é Vital do Rêgo Filho.
Mesmo irmãos, eles não são nem de longe, eleitoralmente
falando, a mesma pessoa. Em três eleições seguidas, por
exemplo, para a eleição de Campina Grande, Vital do Rêgo
Filho alcançou e estacionou em pouco mais de 7% dos votos
válidos, incluindo uma disputa para prefeito na qual obteve
7,3%, o que indica que Vitalzinho na sua trajetória
conseguiu conquistar e manter apenas um nicho eleitoral, o
que, se foi o suficiente para compor uma base importante
95

para sucessivas eleições de deputado estadual, o impediu de


alçar voos mais ousados.
Por outro lado, o desempenho de Veneziano foi
ascendente a cada eleição da qual participou. Na primeira
eleição, em 1996, conseguiu uma votação pouco expressiva
que o deu apenas a antepenúltima colocação entre os eleitos.
Quatro anos depois, Veneziano, beneficiado pelo acordo de
Cozete Barbosa, do PT, com os Cunha Lima na eleição para
prefeito, o que o tornou o principal nome da oposição,
conseguiu figurar entre os 5 mais votados, tendo menos
votos apenas que os candidatos mais próximos ao grupo
Cunha Lima, mesmo fazendo parte de uma coligação
esvaziada eleitoralmente.
Dois anos depois, Veneziano se lança candidato a
deputado federal e abocanha quase 13% dos votos dos
campinenses, numa disputa acirrada e sem a estrutura
necessária, resultado que certamente deu a projeção
necessária para disputar com chances a Prefeitura de
Campina Grande e que o solidificou definitivamente como a
liderança que faltava para colocar em xeque a hegemonia da
família Cunha Lima, o que viria a se confirmar dois anos
depois, numa campanha para prefeito cuja simbologia
remete à conhecida passagem bíblica da luta entre Davi e
Golias, pois Vené, como carinhosamente passou a ser
chamado pelo povo campinense, enfrentou uma furiosa
máquina estadual montada na própria cidade para derrotá-
lo, o que só deu ares de epopeia àquela vitória que foi
comemorada em toda a Paraíba.
Se em Campina Grande, metade do eleitorado ainda o
vê com os olhos embebidos pela paixão política como uma
liderança de carne e osso, no restante do estado uma parte
considerável do eleitorado enxerga Veneziano ainda como
96

uma espécie de mito. O mito que reuniu exércitos e


derrubou a mais importante cidadela da família Cunha Lima
que, por 20 anos, manteve-a intocada.
Esse mito ainda intocado pela derrota pode ser
colocado por terra caso Veneziano se aferre à opção mais
cômoda — mas também a mais perigosa para o seu futuro
— que seria a de permanecer na prefeitura de Campina
Grande para concluir o seu mandato. Mais perigosa porque
ele estaria ajudando, diante de uma possível derrota
maranhista, ao projeto daquele que deverá ser seu
adversário mais poderoso no futuro, um adversário capaz
de ocupar, com sua ascensão, um espaço que Veneziano
lutou muito para conquistar interior afora.
Anunciando sua saída, por outro lado, Veneziano
promoverá uma irresistível expectativa de vitória de José
Maranhão que, somadas às vantagens que o atual
governador dispõe, tornará isso quase um fato consumado,
o que também o tornará, em consequência, um nome quase
imbatível para 2014.
A derrota, especialmente na política, pode vir de várias
maneiras, mas a mais dolorosa delas é quando perdemos
por falta de ousadia.
97

PESQUISA CONSULT-CORREIO:
RICARDO COUTINHO ESTÁ NO PÁREO
(Março de 2010)

Apesar das comemorações dos maranhistas com os


resultados da pesquisa Consult-Correio não custa nada
lembrar que o jogo está apenas começando. Por outro lado,
mais do que criticar a pesquisa, ou desdenhar dela, os
ricardistas deveriam comemorar o fato de Ricardo
Coutinho, um político relativamente desconhecido no resto
do estado, atingir uma percentagem de indicações de quase
33%.
Trata-se de um considerável suporte que permite ao
atual prefeito de João Pessoa iniciar uma campanha que,
acredito que ninguém desconhece esse fato, será dura e
difícil, pois Coutinho vai enfrentar uma união de duas
máquinas poderosíssimas: a administrativa (especialmente
a estadual, mas também a federal que o PMDB e o PT
controlam na Paraíba, e as das principais prefeituras do
estado) e a partidária, especialmente a do PMDB. O racha no
PT, infelizmente, enfraquece o partido e diminui sua
importância eleitoral. A força do PT paraibano é reflexo mais
da força que o partido construiu no resto do país do que a
que ele tem no estado. E dividido então...
E por que o resultado da pesquisa não é de todo mal
para Ricardo Coutinho?
Primeiro, porque ele enfrenta um candidato muito mais
conhecido, que já foi governador do estado, participou do
último pleito e, mesmo derrotado, obteve um inquestionável
bom desempenho, quando foi derrotado por uma margem
98

mínima de votos, e nas circunstâncias que todos nós


conhecemos. Além disso, José Maranhão se encontra no
exercício do cargo de governador, com uma poderosa
estrutura de comunicação que só agora começa a funcionar
para divulgar as ações de governo.
Por outro lado, o nome de Coutinho ainda é
relativamente desconhecido da maioria dos paraibanos, que
sabem dele de "ouvir falar", ou seja, superficialmente. E um
conhecimento maior do atual prefeito de João Pessoa esses
eleitores só poderão ter quando a campanha de TV começar.
Mesmo os que o conhecem mais de perto, como os que
residem na região metropolitana de João Pessoa, onde o
prefeito pessoense necessita colocar uma grande vantagem
sobre José Maranhão, na medida em que a eleição se
aproxima e o debate se torna mais acirrado, podem voltar a
optar de maneira mais massiva pelo futuro candidato do
PSB.
O grande desafio de Coutinho será convencer esse
eleitor que o julgamento de sua administração é mais
relevante que as alianças que ele fez com antigos
adversários políticos, que são também tradicionalmente
rejeitados pelo eleitorado pessoense, e que essas alianças
não vão interferir na sua futura administração. E a TV
certamente — e mais uma vez — jogará relevante papel
nisso.
Segundo, é bom não deixar de mencionar, Coutinho
enfrentou nos últimos meses um impiedoso bombardeio,
exatamente por conta das alianças que fez — inclusive
partindo deste blog, — o que ajudou a expor as dificuldades
de uma aliança que é claramente inconsistente,
especialmente por conta das trajetórias dos novos aliados.
99

Não bastasse isso, Coutinho vem perdendo importantes


aliados como o PTB e ainda não pode contar com o PSDB,
cuja sigla vive a indefinição se terá ou não um candidato
competitivo para presidente. E se José Serra aceitar a
indicação se fortalecem as chances de Cícero Lucena ser o
candidato do partido, o que não é necessariamente um fato
negativo, pois assegura a existência de um segundo turno,
que é uma nova eleição e um momento (curto) de rearranjo
de forças. Exceto se Coutinho resolva apoiar José Serra, o
que eu acho improvável: seria um suicídio político e
eleitoral.
Entretanto, mesmo com todas essas dificuldades e
limitações, o prefeito de João Pessoa conseguiu superar os
30% dos votos, o que demonstra a força inquestionável de
sua candidatura. Em suma, em meio a todos aos percalços,
esses mais de 30% atribuídos a Coutinho devem, ao
contrário de parecer um desastre — só os ricardistas
acreditavam que a eleição já estava ganha e que derrotariam
José Maranhão com relativa facilidade, — devem ser lidos
como um poderoso ponto de partida, um espólio que só a
campanha poderá dizer se será ampliado ou não. Acho que
dificilmente Ricardo Coutinho baixa desse patamar. Além de
tudo, uma diferença de 7,5%, como demonstram as últimas
pesquisas para presidente, mesmo desconsiderando a
margem de erro, são insignificantes, principalmente a 7
meses da eleição.
São esses os únicos dados que a pesquisa Consult-
Correio consegue mostrar nesse momento: que Ricardo
Coutinho será um candidato respeitável e que José
Maranhão está, por ora, vencendo o embate político.
Fora isso, os maranhistas fazem o que tem que fazer:
comemoram e propalam sua vitória como inevitável. Aos
100

ricardistas, cabe reafirmar que a campanha está só


começando. E que seu candidato está no páreo.
101

O PT, JOSE MARANHÃO E A QUESTÃO


DA VICE: O PRESENTE E O FUTURO
(Março de 2010)

O PT paraibano deseja indicar novamente o candidato a


vice-governador na chapa do PMDB de José Maranhão. É
legítimo que qualquer partido tenha pretensões de ocupar o
máximo de espaço político. Em grande medida, nós
podemos dizer que é para isso que os partidos existem e isso
é o que aproxima todos os partidos, diferenciando-os as
proposições programáticas que estabelecem o caráter e os
objetivos do poder.
Entretanto, para que isso aconteça não basta apenas
que os partidos proclamem os seus desejos em resoluções
partidárias. É preciso que, acompanhado dessa vontade
política, seja demonstrada a força necessária para que suas
pretensões se estabeleçam sobre a dos outros partidos, que
também, obviamente, desejam o mesmo.
O PT na Paraíba vive esse dilema. Propõe-se a manter o
espaço conquistado na chapa de 2006, indicando o mesmo
nome que há quatro anos compôs com o então senador José
Maranhão a chapa para o governo, mas não mostra forças
suficientes para tornar efetiva sua reivindicação.
Como eu já disse aqui, os argumentos do PT –
especialmente do interessado mais direto, o atual vice-
governador, Luciano Cartaxo – se resumem a afirmar a força
do governo Lula e do tempo de TV que o partido dispõe, o
que, convenhamos, não é pouca coisa, mas tem pouco a ver
com a força que o partido dispõe no estado: dois deputados
estaduais, um deputado federal, 6 prefeitos, sendo que a
102

prefeita da mais importante cidade comandada por petistas


– Pombal – não segue a orientação partidária e vive às turras
com o próprio partido na cidade.
Não bastasse isso tudo, o PT está literalmente rachado
ao meio, e suas lideranças vivem se atacando publicamente.
A principal liderança do PT no estado, o deputado federal
Luiz Couto, acompanhado de seu grupo que controla os
cargos que o partido detém na prefeitura de João Pessoa,
divergem frontalmente das orientações da atual direção
regional, ao ponto de, para acomodar seus interesses,
defenderem dois palanques para o PT e sua candidata a
presidente na Paraíba.
É bom registrar que esse mesmo grupo não diz um pio
contra a aliança nacional do PT com o PMDB, ao contrário,
não só veem nisso sinal de "amadurecimento" de ambos os
partidos, como propalam aos quatro ventos que o PMDB
será um importante aliado para a construção do novo
modelo de desenvolvimento que o governo Lula – e o de
Dilma Rousseff, futuramente – tentam colocar em prática!
Coisas do petismo paraibano...
Assim sendo, se as bases políticas do PT na Paraíba já
são frágeis, a sua divisão o torna uma caricatura do que o
partido é no plano nacional. Isso fica claro quando o grupo
minoritário, não perdendo a oportunidade de criar mais
confusão no interior do PT, continua a defender a proposta
derrotada na eleição interna do PT, qual seja, o apoio à
candidatura de Ricardo Coutinho ao governo – que, é
sempre bom lembrar, conta com o apoio do PSDB e do DEM,
inimigos históricos do PT e de Lula.
Escutei num dos programas de rádio de João Pessoa o
anúncio da formalização dessa iniciativa por parte de um
destacado membro do grupo de Luiz Couto, e o argumento
103

apresentado revela o alto grau de diversionismo que essa


banda do PT esboça como principal forma de fazer a disputa
interna: defendem o apoio à candidatura de Coutinho como
uma “reação” à desmoralização a que estão sendo
submetidos o vice-governador e o PT por conta da recusa do
PMDB em aceitar a indicação da manutenção de Luciano
Cartaxo no cargo que ele ocupa atualmente. É risível porque
também é patético.
A ação não apenas objetiva criar confusão interna
dentro do PT, mas ajudar a direcionar baterias ameaçadoras
contra o PMDB, reforçando a frágil posição que ocupa
Luciano Cartaxo, que parece não se sentir confortável com a
defesa que o grupo majoritário faz da sua candidatura. O ato
de buscar a todo custo ser candidato, mesmo com a recusa
de José Maranhão e do PMDB, diz muito do nível político do
PT paraibano. E da fragilidade política do atual vice-
governador, que age como um animal de estimação
rejeitado que, mesmo sendo empurrado para fora de casa,
insiste em permanecer, mesmo que para isso tenha que
enfiar suas unhas nas pernas do dono da casa.
Além desse movimento interno, que o grupo de Luiz
Couto aparentemente recebe de bom grado, vendo nisso a
oportunidade de estimular o racha no grupo majoritário,
Cartaxo busca sustentação fora do PT, especificamente na
Rainha da Borborema, e, mais especificamente ainda, na
família Vital do Rego.
É mesmo o que lhe resta. Não sei bem por qual razão,
mas escrevendo isso, senti aquela estranha sensação de déjà
vu. Analisando bem, é isso mesmo: eu já assisti esse filme em
algum lugar.
Em 2006, como o PSB já tornou público, Cartaxo
conseguiu a sua indicação para vice-governador depois de
104

não apenas se comprometer com a candidatura a


governador de Ricardo Coutinho, em 2010, mas de assinar
um documento, firmando ali a assinatura do seu
compromisso. Isso tudo sem o conhecimento e à revelia do
PT, partido de Luciano Cartaxo.
Estranhamente inserido de última hora entre os
candidatos do PT, o ex-líder de Coutinho na Câmara de
Vereadores foi um tertius que só foi indicado depois do
impasse gerado por conta da indicação do vice, e dos
continuados vetos colocados por Ricardo Coutinho aos
nomes apresentados pelo PT, inclusive à candidatura de
Luís Couto. Como é surpreendente a política! Agora sabemos
como Cartaxo viabilizou sua candidatura a vice. Veja abaixo
cópia do documento e do "compromisso público" secreto.
Dois anos e meio depois, Cartaxo não contou conversa
e desdenhou do documento assinado e se jogou nos braços
de José Maranhão, renegando o apoio dado àquele que foi,
na verdade, o responsável por sua ascensão ao cargo de
vice-governador, mesmo que Cartaxo, antes de 2006 e
depois de várias tentativas, não tenha conseguido sequer se
eleger deputado estadual.
Hoje, no rastro da indefinição sobre a candidatura do
prefeito de Campina Grande, Cartaxo cava o seu lugar e tem
novamente a boa acolhida de um aliado externo interessado
em evitar que o cargo der vice-governador caia nas mãos de
alguém que possa, em 2014, criar dificuldades para a sua
candidatura ao governo.
O problema dessa estratégia é que em cada eleição é
plantada a semente da próxima. No caso, para essa semente
germinar, é necessário vencer a eleição para o governo
estadual, caso contrário, os projetos envolvidos ameaçam
ruir antes do tempo. Depois disso, o que se plantou em 2010
105

precisa ser muito bem cuidado, especialmente se houver um


governador disposto a regar a semente para que ela vire
planta e floresça.
E é isso que está em jogo agora. José Maranhão quer não
apenas ter o controle sobre suas alianças, indicando um vice
de sua confiança, mas estabelecer as condições de conduzir
a sua sucessão. É por isso que ele não vai entregar a vice a
Luciano Cartaxo, porque, além de fragilizar sua candidatura
em 2010, isso significaria perder o controle das definições a
respeito de quem vai sucedê-lo.
Caso José Maranhão se reeleja em 2010 e se afaste para
concorrer ao Senado em 2014, a ascensão de Cartaxo ao
cargo de governador abriria, pelo menos, duas hipóteses
para o futuro das disputas eleitorais: 1) ele apoiaria
Veneziano Vital, mantendo o acordo que atos e palavras
demonstram que foi celebrado, ou 2) ele seria candidato à
reeleição, após declarar que não resistiu às “pressões”
internas para que o PT lançasse candidato ao governo. Com
o governo nas mãos, o que ele teria a perder?
Nas duas hipóteses, José Maranhão deixaria de ser
peça-chave na condução de sua sucessão, exceto se
resolvesse permanecer no cargo. Portanto, o que está em
jogo hoje não é apenas a disputa de 2010. Todos os atores
importantes (aqueles que estão envolvidos no tabuleiro de
xadrez da política paraibana) enxergam mais adiante,
especialmente quem está no controle do processo.
Caso não seja Veneziano Vital o vice, dificilmente será
Luciano Cartaxo, que entrou no desesperado (e perigoso)
jogo da intimidação, o que fragiliza ainda mais a sua
candidatura, pois insere um elemento que ainda não existia:
a desconfiança.
106

Até o início de abril, teremos todos os futuros jogadores


em campo. Por ora, vale a pena lembrar para os candidatos
a vice de José Maranhão, um ditado popular: quem tudo
quer…
107

RICARDO COUTINHO X JOSÉ


MARANHÃO: DAVI CONTRA GOLIAS?
Março de 2010

Sempre tratei as pesquisas eleitorais no Brasil — e,


especialmente, na Paraíba — como um dado a mais da
realidade. Por outro lado, ao me deparar com opiniões sobre
favoritismo de qualquer candidatura e com a ideia de uma
eleição antecipada numa disputa majoritária, sempre
lembro de um fato simples: entre a definição de uma
candidatura e a eleição propriamente dita existe uma
campanha no meio.
E não é por outro motivo que são abundantes os
exemplos de candidatos que perderam eleições que,
segundo as pesquisas, "estavam ganhas", e candidatos
considerados derrotados que acabaram vencendo as
eleições. Não se ganha nem se perde eleição há 6 meses de
sua realização. E nenhuma eleição, salvo circunstâncias
muito especiais, é vencida sem que as condições estejam
plenamente amadurecidas. Madura a situação, o mais
importante é encontrar o melhor discurso, apresentá-lo da
maneira mais didática possível e torná-lo o centro da
estratégia eleitoral.
Ricardo Coutinho, apesar dos erros cometidos nos
últimos meses, provavelmente chegará em junho montado
nos 30%, um percentual considerável em qualquer
circunstância. E os atuais percentuais do governador José
Maranhão, que superam os pouco mais de 40%, exigem
daqui por diante uma ampliação constante e segura, pois
suas vantagens diante do adversário fazem lembrar
108

novamente a disputa de Davi contra Golias. Nessas


circunstâncias, o perigo é que o eleitor, ao invés de votar em
quem "vai ganhar", comece a torcer pelo mais fraco.
Lembrem do "tá com medo ou tá com Pedro?" que elegeu
Pedro Gondim contra Ruy Carneiro, em 1960.
José Maranhão está cada vez mais assumindo o papel de
"Golias" nessa disputa. Ele tem ao seu lado a força das
máquinas administrativas dos governos federal e estadual,
além do poderio das principais prefeituras da Paraíba; com
isso, potentes máquinas partidárias, como as do PMDB e do
PT — é verdade que esta última está enfraquecida e
dividida, — que serão acrescidas de novos partidos em
busca dos aconchegantes e largos braços do governismo
(como o PTB — e já se fala do PP). Com essa conjunção de
forças o atual governador terá a possibilidade de colocar nas
ruas um verdadeiro exército de cabos eleitorais que
fornecerão à Paraíba a sensação de que ela está literalmente
coberta pelas cores de sua bandeira, que são as cores do
PMDB.
Mas, além dessa força desproporcional que será
demonstrada ao longo dos próximos meses até o início da
campanha, quando cada oponente saberá com alguma
precisão o tamanho do exército que contará nessa peleja,
José Maranhão precisará apresentar um novo discurso ao
eleitor, principalmente o motivo que o convença a conceder-
lhe mais um mandato.
Não tenho dúvidas de que esse será o principal embate,
em termos de discurso, que poderá reproduzir o
acirramento das duas últimas eleições. Nesse sentido, a
questão é saber se o eleitor estará aberto à mudança — e
saturado das lideranças tradicionais, — ou se manterá
distância, na hora da escolha, da observação das
109

características individuais e históricas de cada candidato,


optando por manter, em termos de lideranças políticas, as
coisas como estão.
Por outro lado, a grande incógnita será o
comportamento do eleitorado dos dois maiores colégios
eleitorais, João Pessoa e Campina Grande. No caso do
primeiro, se ele converterá em voto no candidato
oposicionista (Ricardo Coutinho) a boa avaliação que ele faz
da administração pessoense; no caso do segundo, se o
eleitor campinense reproduzirá a rejeição a José Maranhão
que permitiu estabelecer uma diferença que foi a principal
responsável pela vitória de Cássio Cunha Lima nos dois
últimos pleitos.
Se o eleitor campinense mantiver a atitude das duas
últimas eleições — nos dois turnos de 2002 e 2006 ele se
dirigiu às urnas para derrotar os candidatos do PMDB, —
consolidando uma espécie de comportamento eleitoral, José
Maranhão precisa começar a se preocupar. Especialmente
se Ricardo Coutinho conseguir uma aliança com o PSDB,
indicando Ivandro Cunha Lima como o seu vice, e Veneziano
Vital permanecer na Prefeitura. Então, as condições políticas
estarão montadas para repetir 2002 e 20006, se não nas
mesmas proporções, mas com intensidade suficiente para
estabelecer uma diferença que precisará de dezenas de
pequenas cidades para ser coberta.
E se o eleitor de João Pessoa desconsiderar as alianças
que fez o atual prefeito, será a capital dessa vez a derrotar o
PMDB. E é bom não esquecer: mais de 50% do eleitorado
paraibano está concentrado nas 20 maiores cidades, onde o
eleitor é cada vez mais independente e cada vez mais tem
acesso à informação.
110

Portanto, se for mantida hoje a diferença entre José


Maranhão e Ricardo Coutinho, como mostram as últimas
pesquisas — mesmo desconsiderando a margem de erro, —
está certo o prefeito de João Pessoa em ousar, mesmo com
as reais possibilidades de derrota. Em política, a ousadia
pode ser o diferencial entre uma carreira medíocre e uma
carreira vitoriosa.
111

COMPOSIÇÃO ATUAL DAS CHAPAS


PARA O GOVERNO: VANTAGEM DE
RICARDO COUTINHO
(Abril de 2010)

A renúncia do prefeito de João Pessoa, Ricardo


Coutinho, consolida definitivamente o quadro dos
postulantes ao Governo da Paraíba, restando agora apenas
as definições a respeito da candidatura de Cícero Lucena e a
definição a respeito dos possíveis candidatos a vice das
principais chapas ao governo.
A permanência de Veneziano Vital do Rêgo na
prefeitura de Campina Grande deixa o governador José
Maranhão numa situação difícil, pois ele agora tem que
buscar compatibilizar a manutenção do PT e a definição
estratégica de um nome de Campina Grande na chapa
majoritária. Nas mãos dos Vital do Rêgo em Campina,
aparentemente quem conduz a formação da chapa
maranhista são os dois irmãos campinenses, que, além de
permanecerem com a prefeitura nas mãos, indicaram um
senador e querem indicar o vice. Só o PT acha que Luciano
Cartaxo pertence a cota do partido.
No futuro, José Maranhão pode lamentar e muito a
decisão do prefeito de Campina Grande, que certamente
trará grandes dores de cabeça tanto na fase de definição da
chapa quanto no desenrolar da campanha. Entretanto, essa
atitude pode respingar no futuro no próprio Veneziano Vital
do Rêgo, que não só pode ter deixado escapar o caminho
mais curto para se eleger governador em 2014, como criará
arestas com poderosos nomes dentro do seu partido.
112

Portanto, de todas as decisões anunciadas na semana


passada, a mais decisiva foi a da permanência de Vital do
Rêgo na prefeitura de Campina Grande. Talvez mais do que
a própria renúncia de Ricardo Coutinho, que, assim como
José Serra, não tinha mais como recuar de sua decisão de
concorrer ao Governo da Paraíba.
Assim, no campo maranhista, os indícios a respeito de
quem será o candidato a vice parecem indicar que o nome
mais provável, hoje, pode ser mesmo o de Luciano Cartaxo,
mesmo com os gestos de pressão que o vice-governador faz
questão de tornar ostensivos: o que Cartaxo foi fazer na
cerimônia de renúncia de Ricardo Coutinho, um ato de viés
claramente político? Representar o governador José
Maranhão?
Por outro lado, no campo ricardista, tudo se encaminha
para, ratificada a aliança com o PSDB, Ivandro Cunha Lima
assumir a condição de candidato a vice. Portanto, se o
quadro atual persistir, teremos as principais chapas
majoritárias assim delineadas:
Pelo PSB/PSDB/DEM: Governador: Ricardo Coutinho;
Vice: Ivandro Cunha Lima; Senadores: Cássio Cunha Lima e
Efraim Moraes.
Pelo PMDB/PT: Governador: José Maranhão; Vice:
Luciano Cartaxo; Senadores: Vital do Rêgo Filho e Wilson
Santiago.
Se forem mesmo confirmadas as chapas acima,
observe-se que a chapa liderada pelo PSB reforça
significativamente suas posições nas duas cidades
estratégicas e com grande poder de irradiar sua influência,
que são João Pessoa e Campina Grande, não por acaso, os
dois maiores colégios eleitorais do estado.
113

De João Pessoa, Ricardo Coutinho, candidato a


governador, até recentemente prefeito da cidade, que
deixou o cargo muito bem avaliado; de Campina Grande,
Ivandro e Cássio Cunha Lima, dois representativos nomes
com fortes vínculos políticos com a cidade. Um quadro
assim, com nomes expressivos a representar eleitoralmente
as duas cidades, só se viu em 1986, quando o PMDB lançou
o pessoense Tarcísio Burity para governador e o
campinense Raymundo Asfora, para vice. Eleitoralmente,
deu no que deu.
É claro que a situação mudou, mas, de lá para cá,
Campina Grande teve seu bairrismo político apenas
estimulado, e João Pessoa, que nunca teve esse
comportamento, pode começar a achar que chegou a hora
de eleger novamente um governador da terra.
A chapa PMDB-PT, é claro, não está de todo descoberta
nessas duas cidades. Em João Pessoa, o PMDB sempre teve
força, e conta com o prestígio do próprio governador na
cidade, mas é difícil saber se ele terá forças para confrontar
o prestígio pessoal de Coutinho. O vice, que é pessoense, tem
uma influência residual, porquanto ser ele figura de pouca
expressão política na cidade, e pouco acrescentará em
termos de voto.
Resta a José Maranhão explorar ao máximo a aliança,
muito mal vista na cidade, que Ricardo Coutinho fez com
Cássio Cunha Lima e Efraim Moraes. Entretanto, é bom não
esquecer que Cássio Cunha Lima em pessoa obteve 40% dos
votos da cidade, em 2006. As obras iniciadas no seu governo,
muitas em parceria com a prefeitura, certamente
abrandaram o sentimento de rejeição que o pessoense tinha
pelos Cunha Lima na cidade.
114

É preciso saber se esse discurso contra a aliança


Ricardo-Cássio-Efraim já deu o que tinha que dar e se o
eleitorado, passado o choque inicial, já incorporou a ideia
como fato consumado, o que só vamos descobrir quando o
eleitor pessoense começar a pensar mais seriamente em
quem vai votar, o que vai começar pela avaliação sobre se
Ricardo Coutinho, mesmo com os aliados que tem, merecerá
ou não o seu voto. E a campanha, especialmente na TV,
certamente vai ajudar nessa decisão.
Em Campina Grande, mantidas as chapas acima, é difícil
prever qual será o comportamento do seu eleitorado, já que
nenhum dos candidatos a governador é filho da cidade, o
que difere do aconteceu em 2002 e 2006. Por outro lado, o
PMDB controla as máquinas do estado e da prefeitura ao
mesmo tempo, elemento fundamental que certamente
distinguirá 2010 de 2002 e 2006. Assim, é improvável que
vejamos repetidos os resultados das últimas eleições que
deram expressivas diferenças em favor de Cássio Cunha
Lima. Não naquelas proporções.
Entretanto, existe um fator que torna de difícil previsão
o comportamento majoritário do eleitorado campinense. A
questão novamente recai na escolha do vice. Sem um vice de
Campina Grande na chapa de José Maranhão para
contrabalançar a disputa, e com Ivandro Cunha Lima como
vice de Ricardo, que tem um perfil distinto tanto de Cássio,
seu sobrinho, quanto de Ronaldo, seu irmão, empresário que
é, pode ser que ele seja depositário mais uma vez do
bairrismo campinense, que só quem viveu na cidade em
tempos de campanha sabe do que se trata. Eu vivi na eleição
de 2002 e sei exatamente do que estou falando. É uma
pressão quase sufocante.
115

Quando movimentos desse tipo se estabelecem na


cidade, eles parecem ganhar vida própria. E independem,
por exemplo, de Veneziano Vital se envolver ou não na
campanha — em 2006, é bom lembrar, Veneziano já era
Prefeito da cidade e com a prefeitura nas mãos do PMDB,
José Maranhão tomou um banho de votos.
E um dado que pode ajudar na estratégia ricardista-
cassista é que o bairrismo será usado inevitavelmente por
todos os candidatos, o que ajuda a criar o clima necessário
para estimular os campinenses a votarem nos candidatos da
terra. Vital do Rego Filho, por exemplo, já começa a instigar
esse comportamento eleitoral e certamente ele se
beneficiará — ao lado, como sempre, de Cássio Cunha Lima
— do bairrismo apaixonado da cidade. Ora, a construção
desse clima é perfeita para o bairrismo explodir com força
durante a campanha e orientar o voto das pessoas na cidade.
O que vai sair daí é difícil prever, mas eu estabeleceria
uma vantagem para a chapa ricardista, se for mesmo
Ivandro Cunha Lima o campinense indicado para vice. E se
for mesmo o pessoense Luciano Cartaxo o vice de José
Maranhão.
116

NADA DE NOVO NO FRONT?


JOSÉ MARANHÃO E AS ARMADILHAS
DO DEBATE PROGRAMÁTICO
(Abril de 2010)

Na última quarta-feira (7), enviei mensagem ao


jornalista Rubens Nóbrega texto em que expus minhas
preocupações com a absoluta ausência de um debate
programático entre os principais concorrentes ao Governo
da Paraíba, cujos movimentos são exclusivamente
dedicados à montagem dos seus palanques. Rubens
comentou o texto na sua coluna de hoje. O texto, que eu
reproduzo agora com o título da coluna do jornalista, segue
abaixo. Agradeço novamente a Rubens pela deferência da
publicação.
Reeleição ameaçada
Excelente sua coluna de hoje. A sensação de
mediocridade que atualmente perpassa a avaliação da
maioria dos políticos paraibanos deve provocar desânimo
entre os eleitores mais esclarecidos quanto ao futuro. A
corroborar isso, a preocupação quase exclusiva entre os
principais concorrentes ao Governo do Estado de buscarem
apoios políticos. Nada se discute a respeito da Paraíba. Nada
de debate a respeito dos programas de governo.
José Maranhão e Ricardo Coutinho estão perdendo uma
grande oportunidade de apresentar à sociedade ideias que
os distingam desse velho modelo de fazer política e
arrebanhar apoios. José Maranhão, principalmente.
117

Porque, com um oponente com chances reais de vitória,


com as características pessoais e com a trajetória de Ricardo
Coutinho, o embate de 2010 pode ser que seja diferente de
todas as disputas que tivemos até hoje na Paraíba.
Basta Coutinho não se dobrar à mesmice cunhalimista
e de direita com quem ele se aliou. Se assim for, certamente
a disputa de 2010 não repetirá as contendas que tivemos até
aqui se Ricardo Coutinho decidir ir fundo e apresentar a
realidade social e econômica paraibana para
responsabilizar o PMDB por isso.
Assim, ou o governador, ao mesmo tempo em que
continua suas articulações para montar um poderoso
palanque, atraindo lideranças e partidos, começa a debater
e apresentar não só um programa consistente, mas
renovador, tanto das práticas políticas quanto
administrativas, e aponte para o início de um novo ciclo
social e econômico no estado, ou ele pode ser pego de calças
curtas quando o debate realmente começar.
E pode ser que não adiante o governador apontar
apenas a contradição do seu oponente, que se aliou à outra
banda corresponsável pelo estabelecimento dessa
realidade. Porque, afinal, quem o confrontará será Ricardo
Coutinho e não alguém do grupo Cunha Lima.
Deve-se considerar, nesse ponto, que a trajetória
pessoal de Coutinho, pelo menos até 2004, foi de crítico dos
grupos tradicionais da política paraibana, e sua
administração em João Pessoa, com todos os limites, se
esforça por inovar em muitos aspectos da administração
pública, mesmo que de forma cosmética. Pode ser que isso
dê alguma legitimidade a esse discurso.
118

Assim, considero que José Maranhão vai precisar


redefinir seu discurso e reconhecer que a política está
mudando. E que ele não subestime isso. A Paraíba é o único
estado do Nordeste que ainda não experimentou a ascensão
de uma nova liderança com origem e discurso de esquerda.
Coutinho pretende ocupar esse espaço, e ele pode
tentar fazê-lo apontando o dedo para a ferida. Deste modo,
para além das questões de ordem administrativas, ao ser
questionado sobre suas responsabilidades e de seu partido
quanto ao quadro social e econômico da Paraíba, hoje, mais
do que apontar a contradição no discurso do candidato do
PSB, José Maranhão precisa apresentar a si e ao seu próximo
governo, e se possível o atual, como de transição, para
ajustar a Paraíba a um novo modelo de desenvolvimento
que se constrói no Brasil atualmente.
Um novo modelo de desenvolvimento com crescimento
econômico, mas, principalmente, com distribuição de renda.
E isso dará a aliança com o PT mais do que um sentido
meramente eleitoral, sem que isso implique em mudanças
substanciais em termos administrativos e de prioridades.
Se a aliança com o PT pode servir para alguma coisa,
mais do que manter Luciano Cartaxo na vice, deve servir
para que o partido empreste sua legitimidade histórica e a
intenção de propor para o Brasil esse novo modelo de
desenvolvimento. Mais do que negociar por cima seus
apoios, José Maranhão poderia sinalizar para a sociedade
que pretende que seu próximo governo dê início a um novo
processo de desenvolvimento na Paraíba.
E o mais breve possível. Pode ser que durante a
campanha seja tarde demais.
119

ELEIÇÃO PARA O SENADO:


O PT VAI PERDER ESSA
OPORTUNIDADE HISTÓRICA?
(Abril de 2010)

O jornalista Josival Pereira, do programa Correio


Debate, chamou a atenção para dois dados da pesquisa
Correio-Consult divulgado durante a semana passada no
Correio da Paraíba, que mostra bem o imenso espaço vazio
que ainda persiste na eleição para o Senado: dos
entrevistados pela Consult, 53,5% revelaram não ter
escolhido ainda seu candidato, e, o que é mais importante,
quase 30% (28,17%) disseram que não votariam em
nenhum dos candidatos apresentados.
Ou seja, o quadro eleitoral na disputa para o senado está
aberto. O motivo principal para o estabelecimento desses
números certamente tem estreita ligação com o fato de a
campanha ainda não ter começado, o que pode explicar por
que os candidatos mais conhecidos (Cássio Cunha Lima e
Efraim Moraes) aparecem nesse momento à frente dos seus
concorrentes, o que não abstrai o peso da liderança política
do ex-governador.
Outra razão certamente se relaciona com a absoluta
falta de novidade política entre os candidatos, todos eles
quadros políticos tradicionais e pertencentes à
tradicionalíssimos partidos e grupos políticos paraibanos.
Nesse ponto, cabe o registro do aparente descompasso
que já se expressa nas disputas para o governo estadual e
para o Senado. Para o governo, o ex-prefeito Ricardo
120

Coutinho promove um hercúleo esforço para se apresentar


como contraponto ao tradicionalismo peemedebista,
procurando assumir ele o papel de novidade política, ao
passo que, para o Senado, os adversários principais, a
persistirem os nomes até agora apresentados, tendem a
reproduzir os velhos embates no campo da centro-direita.
Nesse aspecto, ao lado de Cássio Cunha Lima e Efraim
Moraes, Ricardo Coutinho vai sustentar seu discurso de
novidade política? A campanha dirá.
Assim, imagino como será de grande desconforto para
o eleitor lulista e o eleitor de centro-esquerda a escolha
entre os nomes atualmente apresentados como os prováveis
candidatos ao Senado.
Nesse âmbito, cabe o questionamento: persistirá a
ausência de novidade, ou a esquerda, capitaneada pelo PT,
finalmente abandonará a falta de protagonismo político e
apresentará um nome capaz de uni-la numa ampla
campanha para finalmente eleger um representante para o
Senado?
Nesse sentido, abandonar a falta de protagonismo
significa, antes de tudo, abandonar o excesso de
pragmatismo e a atitude, digamos, de pouca generosidade
política que é, em grande medida, a marca da atuação da
esquerda hoje, substituindo-a pela ousadia da busca de
ampliar seus espaços partidários e construir nomes de
lideranças capazes de tornarem-se alternativas verdadeiras,
e não lideranças que sobrevivem à sombra dos partidos
tradicionais.
Como a construção desse espaço hoje não é possível
sem um nome e, ao que tudo indica, o do deputado federal
Luís Couto infelizmente não está disponível, a esquerda
121

precisa, por responsabilidade política, iniciar urgentemente


a construção desse nome para evitar que ela perca a
oportunidade histórica, que a cada dia se torna mais clara,
de eleger um nome para o Senado.
Isso viabilizaria um salto eleitoral que pode credenciá-
la politicamente, permitindo que ela deixe de ser força
secundária para tornar-se uma força com potencial para
disputar a hegemonia política na Paraíba, como acontece em
outros estados do Nordeste.
E não acho que se trata de uma aventura, apesar dos
riscos envolvidos. Mas, mesmo assim, vale lembrar aqui
para os jovens, espero que ainda não caducos, dirigentes do
PT, uma velha frase que é uma insígnia para a esquerda:
"ousar lutar, ousar vencer".
Não se faz política sem correr riscos. E acho
sinceramente que isso pode ser demonstrável pelos dados
da pesquisa Consult de que, como já indiquei, existe um
amplo espaço vazio a ser ocupado. E, mais significativo
ainda: que os atuais candidatos ao senado não têm o perfil
adequado para ocupá-lo.
Em nenhuma eleição anterior as chances de a esquerda
paraibana eleger um senador estiveram tão maduras como
as da que se aproxima. Por isso, Luís Couto, por
provavelmente deixar-se contaminar pelo ressentimento,
vai perder uma grande oportunidade de se eleger para uma
das vagas, que era o objetivo original do atuante e coerente
parlamentar e do seu grupo (ou "gabinete"). Mas, o espaço
vai continuar vazio, já que ele não tem dono, e será ocupado
se a esquerda não lançar um candidato.
E é bom não esquecermos de outro dado extremamente
importante que ajuda a potencializar a chances desse
122

candidato: as 20 maiores cidades abrigam mais da metade


do eleitorado paraibano e esse eleitorado pode estar em
busca de uma renovação dos quadros políticos paraibanos.
Além de tudo, serão dois votos, o que amplia ainda mais as
chances de um candidato com perfil de centro-esquerda
para agradar o eleitor, que pode resolver surfar numa "onda
vermelha" em 2010, especialmente no Nordeste. Ou seja, a
situação nunca foi tão favorável para um avanço da
esquerda na Paraíba.
Só nas circunstâncias atuais, políticos como Wilson
Santiago, Wellington Roberto e mesmo Efraim Moraes
teriam chances de se eleger para o Senado, porque são
políticos sem projeção e porque, até agora, só souberam
fazer a pequena política. Mas, trata-se de uma eleição
majoritária, o que em tese exige candidatos de visão e ação
política amplas, que, além da paróquia, enxerguem o estado
e o país.
E mais. É um equívoco considerar Cássio Cunha Lima
eleito. Ele hoje se beneficia da projeção do nome, mas pode
ter sua candidatura desconstruída durante a campanha. O
mesmo vale para Efraim Moraes, o mais frágil de todos os
candidatos, pois foi o que mais afrontou Lula durante o seu
governo.
Lembremos do caso de ACM Neto, que, de candidato
favorito à Prefeitura de Salvador, em 2008, acabou
amargando um terceiro lugar quando as urnas foram
abertas. O motivo principal foi que "Grampinho" disse que
daria uns tapas em Lula, ao vivo e em cores, na TV Câmera.
E os eleitores ficaram sabendo disso durante a campanha.
A rigor, disputarão as duas vagas para o Senado apenas
4 candidatos competitivos. Vamos imaginar essas duas
chapas:
123

1. Cássio Cunha Lima e Efraim Moraes e 2. Vital do Rego


Filho e/ou Wilson Santiago e/ou Wellington Roberto
A preço de hoje, ou seja, sem campanha, só Cunha Lima
está eleito. Para a outra vaga concorrerão os três outros
candidatos, que a disputarão em igualdade de condições.
Certamente, além dos motivos já explicitados aqui, um dos
motivos para Vital do Rego Filho, e mesmo Wilson Santiago,
defenderem enfaticamente a vaga de vice para o PT na chapa
majoritária, é que eles defendem a si próprios, e não o PT.
Entretanto, e se entre esses concorrentes inserirmos
um candidato único que reúna toda a esquerda? Um
candidato que possa, além de ser o primeiro voto dos
eleitores lulistas, do PT e da esquerda, seja, ao mesmo
tempo, o segundo voto dos eleitores mais à esquerda – os
100.000 que votaram em Vital Farias em 2006 – e que
dispute tanto o segundo voto do eleitorado de centro que
vota em Vital do Rego Filho, quanto dos que votam em
Cássio Cunha Lima e rejeitam Efraim Morais?
Imaginemos que, ao invés de Wilson Santiago ou
Wellington Roberto, seja incluído na chapa o nome, por
exemplo, do presidente estadual do PT, Rodrigo Soares,
atualmente candidato a deputado federal?
Não há dúvida que, entre esses candidatos, um que
tenha projeção estadual, a exemplo de Soares, entraria forte
na disputa. Que nome representaria melhor Lula, Dilma e o
PT na Paraíba? Não podemos desconsiderar, também, a
trajetória eleitoral dos candidatos da esquerda ao Senado,
especialmente petistas, nas últimas eleições, cujas votações
foram crescentes e consistentes.
Em 1994, por exemplo, o desconhecido Joaquim Neto,
do PT, alcançou 135.834; na eleição seguinte, Cozete
124

Barbosa, então combativa vereadora de oposição ao grupo


Cunha Lima em Campina Grande, chegou aos 216.006 votos,
numa eleição que renovava apenas uma vaga para o Senado.
Infelizmente, depois daí, o PT não lançou mais nomes
ao Senado, preferindo abrir mão para aliados: em 2002, o
candidato foi Simão Almeida, do PCdoB, que obteve
113.405; em 2006, como já citamos, Vital Farias, do PSOL, foi
o único nome da esquerda daquela eleição, e obteve a
incrível votação de 99.996! Eu digo incrível para um
candidato sem nenhuma estrutura e com reduzidíssimo
tempo de TV. E com apenas uma vaga em disputa!
Nesses 16 anos desde 1994, nenhum nome de
expressão do PT, portanto, ousou sair candidato ao Senado,
quando o eleitor paraibano demonstrava abertura para
eleger um senador da esquerda. Será que só o PT não
enxerga isso? Será que ninguém do PT é capaz de perceber
esse espaço vazio carente de preenchimento?
Esse comodismo expressa tanto a supremacia dos
projetos individuais – e dos gabinetes parlamentares, as
verdadeiras instâncias de decisão partidárias no PT – sobre
o projeto partidário, o que enfraquece tanto um como o
outro. O PT em 2010, por exemplo, aspira eleger apenas 1
deputado federal e 3 ou 4 deputados estaduais, o que,
convenhamos, é uma meta que não condiz com a força
política e eleitoral do partido do presidente Lula.
Como consequência, esse comportamento político das
lideranças do PT tem resultado num partido cada vez menos
expressivo na política paraibana. E na contramão do que é o
PT nacionalmente, e no Nordeste, em particular.
Chega a ser mesmo risível o argumento de que o PT
prefere lançar um candidato a vice de José Maranhão porque
125

não tem nomes para lançar ao senado, o que não deixa de


reconhecer a falência de sua própria política, sustentada
hoje pelos acordos de (ou entre) os "gabinetes"
parlamentares do PT. E querem que o governador José
Maranhão aceite isso com a naturalidade de um burro que
carrega uma carga pesada!
Não há dúvida que um candidato com um perfil de
centro-esquerda na disputa por uma das vagas terá um
grande papel a cumprir na eleição para o Senado de 2010 na
Paraíba. Especialmente porque terá o apoio de Lula e,
certamente, do governador José Maranhão, que anseia por
isso. Quem, além de um petista, poderá representar melhor
o presidente Lula e Dilma Rousseff nessa disputa?
Por fim, o PT corre um sério risco de, quando junho
chegar, e José Maranhão anunciar outro vice, não ter mais o
que fazer diante do fato consumado. Caso contrário, o que
fará o partido? Jogar-se-á nos braços de Ricardo Coutinho,
Cássio Cunha Lima e Efraim Moraes, que esperam pelo PT
como urubus que espreitam um animal agonizando. Assim,
o PSB, o PSDB e o Dem esperam que um PT fragilizado caia
nos seus braços como um resto da mesa maranhista, coisa
que eu acho improvável. E José Maranhão sabe disso e vai
esticar o quanto der a decisão, se possível deixando-a para
junho.
Porque é só isso que o atual governador faz no
momento: empurrar a decisão com a barriga até que não
haja mais possibilidade do PT recuar, situação que será
resolvida, nesse caso, numa negociação não mais estadual,
mas nacional. Diante das opções que restarão, por quem
Lula, Dilma e a executiva nacional PT optarão na Paraíba?
Por um partido em frangalhos ou por um poderoso aliado
126

nacional cujo candidato a governador há 8 anos é um fiel


aliado de Lula e atual Governador de Estado?
127

INDICAÇÃO DO VICE NA CHAPA DO


PSB: JOGO DE CENA E DE CARTAS
MARCADAS?
(Maio de 2010)

Enviei o comentário abaixo para Rubens Nóbrega e ele


publicou em sua coluna. Como o tema continua atual,
transformo o referido texto nesta postagem.
A disputa" atual entre Ricardo Coutinho, que diz querer
Daniela Ribeiro, e Cássio Cunha Lima, que quer seu tio
Ivandro, pela vice é blefe, um ardil para ir empurrando a
decisão até o último momento para impedir que o PP saia
em busca de outro ninho.
Eles aprenderam com o caso Armando Abílio e
resolveram não dar argumentos para que o PP pule fora do
barco. Por que Ricardo Coutinho não fez circular àquela
época que preferia Carlos Dunga? Porque acreditavam que
Armando Abílio não teria coragem de enfrentar um partido
cujas principais lideranças eram cassistas, e que ele tinha
ido longe demais no apoio ao candidato do PSB. Então,
pagaram para ver.
Agora, eles ensaiam essa disputa, onde o candidato a
governador revela sua preferência, mas antecipa de
antemão que nada será decidido agora. Já Cunha Lima e os
cassistas fincam pé em Ivandro, dando a entender que estão
esticando a corda. E estão mesmo. Ora, todo mundo sabe que
Ricardo Coutinho é refém de Cássio Cunha Lima. Se o ex-
governador lhe retirar o apoio, pouco, sobrará a Coutinho
além do seu coletivo. Esse é o custo adicional pelo apoio
128

formal do PSDB e pela desgastante retirada da candidatura


de Cícero Lucena.
Portanto, indicar a vice para Cássio não é só uma
questão eleitoral, é também uma questão de autoridade. Na
mesa com Ricardo, o trunfo é paus. Ricardo Coutinho quer
passar a ideia de que tem uma carta na manga, talvez uma
rainha (Daniella), mas está mesmo de mãos vazias.
Isso nós vamos ver quando ambos baixarem suas cartas
na mesa na hora da decisão. E então veremos que todas as
fichas estarão com Cássio Cunha Lima. E Ricardo Coutinho
terá sido só mise en scène para o público externo. E para
Daniele Ribeiro, principalmente.
129

SÓ RESTA AGORA O GUIA ELEITORAL.


MAS, RC TERÁ DISCURSO PARA
REVERTER O QUADRO?
(Julho de 2010)

Na pesquisa Consult divulgada ontem pelo Jornal


Correio, José Maranhão ampliou a vantagem que tinha sobre
Ricardo Coutinho de 10 para 17 pontos percentuais. Trata-
se de uma vantagem que, há pouco mais de 15 dias para o
início do guia eleitoral, será difícil ser revertida.
Agora, só resta a Coutinho esperar pelo seu início do
guia, especialmente o da TV, para tentar iniciar uma reação,
porque as ações até agora empreendidas, em parte pela
desvantagem que leva um candidato de oposição pela
escassez midiática, não surtiram o efeito esperado sobre o
eleitorado.
Especialmente aquele que antes poderia ser
considerado o potencial eleitor de Ricardo Coutinho, que
vive nas grandes cidades e que anda com uma pulga atrás da
orelha por conta das novas e aparentemente contraditórias
companhias do ex-prefeito de João Pessoa: Cássio Cunha
Lima e Efraim Moraes.
Entretanto, a grande questão é se o candidato do PSB
tem discurso para reverter o quadro e não apenas voltar a
seduzir seu antigo eleitorado, mas ampliá-lo. Ricardo
Coutinho, aparentemente, já abandonou o discurso do
"novo" como carro-chefe de sua campanha, e por razões
óbvias: ele fará campanha ao lado de dois dos mais
tradicionais grupos políticos da Paraíba, herdeiros do pior
130

estilo de governar – patrimonialista e de quase nenhuma


sensibilidade social, — e, por isso mesmo, expressão mais
legítima do que há de mais conservador na Paraíba.
Entretanto, o slogan do candidato, Um grande salto,
fundamenta-se numa realidade palpável da Paraíba, e as
estatísticas, especialmente se observadas
comparativamente, estão aí para reforçar o discurso do
candidato oposicionista. E Coutinho vai tentar demonizar os
governos Maranhão, responsabilizando-os por todas as
mazelas econômicas e sociais que ostenta hoje a Paraíba.
É nesse ponto onde reside a grande interrogação
quando começar o debate eleitoral na TV: como José
Maranhão enfrentará esse debate e que o impacto ele terá
sobre o eleitorado? Como eu já disse por aqui, se minhas
expectativas estiverem corretas, pela primeira vez numa
campanha eleitoral a Paraíba se defrontará com ela mesma.
O colorido exuberante do marketing eleitoral poderá
ser confrontado no contraponto em preto e branco de uma
realidade triste e desoladora para a maior parte da
população, manuseada por um craque em "construir
realidades", que é Duda Mendonça.
E preparem-se. A imagem carrancuda que Ricardo
Coutinho aparenta ter na foto oficial de campanha é para
combinar não apenas com seu estilo pessoal, mas para dar
credibilidade ao que ele tem a dizer sobre a Paraíba, que
será dito sem sorrisos, com imagens e uma sonoridade de
cortar o coração.
Quem teve a pachorra de ler o programa (alguém liga
para isso?) do candidato do PSB na internet (clique aqui
para baixá-lo) pode chegar a mesma conclusão que eu:
Coutinho se prepara para trilhar esse caminho, o que,
131

acredito, será bom para o debate político porque livra-o da


superficialidade, como diria um antagonista meu no campo
da história regional, imagético-discursiva em que o
marketing prendeu a política nos últimos anos.
Primeiro, porque se trata de um poderoso discurso;
segundo, porque é o único que resta ao candidato dos demo-
tucanos. E sendo o único, é mais do que provável que ela vá
fundo nesse discurso. Pode ser que a incoerência das
alianças que fez Ricardo Coutinho seja suficiente para
"desconstruí-lo", já que suas alianças o desautorizam em
parte a creditar na conta do adversário a responsabilidade
única por ela. Pode ser que não lhe renda os votos que
Coutinho espera ter.
Mas pode ser também que tenhamos um confronto
baseado num intenso debate programático e que não haja
outra alternativa ao PMDB a não ser entrar nele. Se isso
acontecer, a grande dúvida passa a ser: José Maranhão tem
um programa à altura para enfrentar esse debate?
132

O QUE DERROTOU JOSÉ MARANHÃO


NO PRIMEIRO TURNO?
Outubro de 2010

Nas derrotas de José Maranhão ao Governo do Estado –


nos dois turnos, em 2006, e agora no primeiro turno, em
2010 – muitos culpados foram apontados, menos o próprio
candidato. Análises foram e continuam sendo feitas em
abundância para explicar uma derrota que, até o dia da
eleição, era vista como improvável, inclusive por este que
vos escreve.
E os argumentos para justificar o infortúnio eleitoral
maranhista vão desde os altos índices de votos nulos e
brancos, que seriam em grande parte despejados no
governador caso o eleitor tivesse tido um pouco mais de
paciência (ou sapiência), até o "salto alto", o que significa
dizer que os aliados e o próprio José Maranhão se
desnudaram do manto da humildade e passaram a exibir as
vestes da soberba, contando com uma vitória antecipada.
A presunção deve ter sido abalada quando nos últimos
dias de campanha uma avalanche de indecisos começou a
definir seu candidato e uma outra multidão começou a
mudar de lado. Inevitavelmente, como acontece em toda
eleição, as pesquisas começaram a captar essa mudança. E o
susto deve ter sido grande quando uma diferença que era de
quase 20%, segundo o Ibope, caiu para 5% na véspera da
eleição, e deve ter se transformado em terror quando as
urnas começaram a mostrar o que traziam dentro delas.
Urna a urna, uma diferença em favor de José Maranhão
que era de 400 mil votos foi sendo pulverizada e
133

transformou-se em quase derrota antecipada caso Ricardo


Coutinho tivesse obtido apenas 4.735 a mais (ou 0,26% dos
votos válidos).
Depois desse resultado, a grande questão a ser
desvendada é: o que provocou a derrota parcial de José
Maranhão?
Eu ensaio aqui uma tentativa de resposta e começo por
afirmar: quem derrotou o candidato do PMDB à reeleição
foram as grandes e médias cidades paraibanas. A soma das
diferenças pró-Coutinho obtidas em João Pessoa e Campina
Grande chegou a 136.388 votos, determinante para a
estratégia eleitoral ricardista. Considerando o aparato
político-administrativo do PMDB, o esperado era que essa
diferença diminuísse quanto mais os votos das cidades
menores fossem contados. Mas, não foi isso que aconteceu.
Pelo contrário.
Seguindo a rota da BR-230, o que se viu foi uma
sucessão de derrotas maranhistas que começou em Bayeux,
passou por Patos, foi a Souza e chegou finalmente a
Cajazeiras. Contadas as diferenças das 10 maiores cidades
(João Pessoa, Campina Grande, Santa Rita, Bayeux, Patos,
Sousa, Cajazeiras, Guarabira, Sapé e Cabedelo) a diferença
ao invés de cair, subiu para 152.232. E é importante
ressaltar que dessas 10 cidades, apenas os prefeitos de João
Pessoa e Sousa não apoiam José Maranhão. E mais:
ampliando o número de cidades para as 20 maiores, que
representam mais de 50% do eleitorado, a diferença
decresceu apenas 8.784, caindo para 143.448.
Em suma, José Maranhão chegou à perigosa situação de
ter que tirar mais de 140.000 votos de diferença nas 200
cidades restantes, que representam a outra metade do
eleitorado (num universo próximo dos 900.000 votos
134

válidos) e que contam com menos de 20.000 eleitores.


Enfim, a candidatura de Ricardo Coutinho empurrou a de
José Maranhão para uma hegemonia restrita às pequenas
cidades, assim como o candidato do PMDB fizera com Cássio
Cunha Lima, em 2006.
Nesse ponto, outra questão se apresenta. Como explicar
o frágil desempenho maranhista nessas cidades? Os altos
índices de votos nulos e brancos, que na Paraíba alcançaram
18,5% ou 368.335 votos, não resolvem a questão. Mesmo
que esses votos fossem destinados ao atual governador, e
mesmo que eles tivessem permitido a vitória maranhista no
primeiro turno, o problema político permaneceria, ou seja,
o desempenho do candidato do PMDB nessas cidades
continuaria sofrível.
A responsabilidade é dos prefeitos? Não acho. Veja o
caso de Campina Grande. Fosse a liderança de Cássio Cunha
Lima tão incontestável, ele teria vencido as duas últimas
eleições na cidade, e não foi isso que aconteceu. Veneziano
Vital o derrotou nas duas ocasiões. Entretanto, em 3 eleições
seguidas para Governador o esquema cassista na cidade
impôs uma humilhante derrota ao PMDB.
Esse fenômeno começou a ser observado também em
João Pessoa. O eleitorado começou a se movimentar
massivamente para Ricardo Coutinho, mesmo uma parte
dele torcendo o nariz para a aliança PSB-PSDB-DEM. Enfim,
um voto em potencial José Maranhão não conseguiu
transformar em força eleitoral. E, enfim, não há como fugir
dessa constatação: a liderança de José Maranhão está se
esgarçando e o seu desgaste político é óbvio. E um fenômeno
que acontece em todo o Nordeste, onde as lideranças mais
tradicionais foram derrotadas, parece que chegou à Paraíba.
135

Por mais qualidades que José Maranhão tenha como


administrador e como político, o fato de postular ser
governador da Paraíba pela quarta vez provoca um
inevitável desgaste. Diante de um eleitor cada vez mais
exigente, e ao ter como principal oponente uma liderança
que representa essa nova geração de políticos que ascendeu
na Paraíba nos últimos anos, originada nos grandes centros,
essa característica que vincula José Maranhão ao
tradicionalismo político ficou mais acentuada.
E o atual governador não fez muito para alterar esse
estilo e enfrentar a situação. Como escrevi aqui neste blog
em abril, numa postagem intitulada Nada de novo no front?
José Maranhão e as armadilhas do debate programático:
"Considero que José Maranhão vai precisar redefinir seu
discurso e reconhecer que a política está mudando. E que ele
não subestime isso. A Paraíba é o único estado do Nordeste
que ainda não experimentou a ascensão de uma nova
liderança com origem e discurso de esquerda.
"Coutinho pretende ocupar esse espaço, e ele pode tentar
fazê-lo apontando o dedo para a ferida. Deste modo, para
além das questões de ordem administrativas, ao ser
questionado sobre suas responsabilidades e de seu partido
quanto ao quadro social e econômico da Paraíba, hoje, mais
do que apontar a contradição no discurso do candidato do
PSB, José Maranhão precisa apresentar a si e ao seu próximo
governo, e se possível o atual, como de transição, para ajustar
a Paraíba a um novo modelo de desenvolvimento que se
constrói no Brasil atualmente."
Foi exatamente isso que faltou ao discurso de José
Maranhão: ele esqueceu de apontar para o futuro. O seu
candidato a vice-governador, por exemplo, o jovem Rodrigo
Soares, sequer apareceu no guia eleitoral. Veneziano Vital, a
136

mais expressiva liderança do PMDB, apareceu na campanha


também apenas residualmente.
Enfim, José Maranhão acreditou que a mesmice do
discurso administrativo era suficiente para reencantar o
eleitor. E parece que não foi.
137

OS ERROS DA CAMPANHA DE
JOSÉ MARANHÃO
Outubro de 2010

José Maranhão tinha muitos elementos positivos


atuando a seu favor. O primeiro: tinha um nome conhecido
e consolidado em todo estado resultado do período em que
administrara o estado e de onde saíra bem avaliado, tanto
que se elegeu com relativa facilidade para o Senado, além de
quase eleger seu sucessor, Roberto Paulino; o segundo: era
aliado de Lula e tinha a seu lado uma ampla conjunção de
partidos de esquerda (PT, PSB, PCdoB) da qual saiu,
inclusive, o candidato a vice-governador, Luciano Cartaxo,
do PT – é bem verdade que a situação de Lula e do PT não
era tão confortável como a de hoje, depois de ter enfrentado
uma das mais organizadas campanhas de difamação
produzidas pela grande imprensa contra um governo, a do
“mensalão”, que tornou a disputa presidencial mais acirrada
do que normalmente seria; o terceiro: José Maranhão tinha
o apoio da maioria dos prefeitos das 20 principais cidades
do estado, que em 2006 representavam 49,9% do eleitorado
e na eleição representou 51% dos votos válidos.
Ou seja, José Maranhão tinha ao seu lado as condições
políticas mais propícias para conseguir o objetivo de se
eleger Governador da Paraíba, mesmo enfrentando um
concorrente comandando a máquina estadual. Entretanto,
os problemas começaram na indicação do candidato a vice-
governador, quando se criou um impasse entre o PSB, do
prefeito Ricardo Coutinho, e o PT, situação que só se
resolveu no último instante do último dia para a indicação
da chapa majoritária, com a indicação de Luciano Cartaxo,
138

que era líder da bancada do prefeito de João Pessoa na


Câmara Municipal.
Não se sabe até que ponto a resolução desse impasse
deixou sequelas, mas ele acabou por expor publicamente
fraturas políticas que, como se viu recentemente, tinham a
ver já com a disputa de 2010 e o interesse de Coutinho de se
candidatar ao governo. Por outro lado, a indicação de
Cartaxo para a vice criou dois problemas: um, no interior do
PT, pois lideranças do partido que estavam na lista dos
candidatos apresentados, como o deputado Luiz Couto, com
muito mais prestígio interno e externo, foram alijados da
disputa por vetos de várias origens; o outro, na campanha,
pois eleitoralmente, Cartaxo pouco acrescentou à chapa
maranhista e esse, ao que parece, certamente é um
problema que José Maranhão não quer ver repetido na
campanha de 2010.
O PT, hoje, começa a incorrer no mesmo erro, aceitando
vetos e deixando seu vice-governador isolado e na obrigação
de defender-se sozinho, em alguns casos com a contribuição
dos próprios companheiros de partido. Mesmo que a
posição de Cartaxo hoje pareça insustentável, o lícito seria
que o partido fizesse a sua defesa, e não ajudasse no seu
processo de fritura. Mesmo porque essa questão do vice não
será resolvida agora, sendo mais adequado esperar pelo
menos até o mês de abril, quando o período de
desincompatibilização passar e o quadro estiver mais claro
a respeito das chapas que se formarão para enfrentar o
esquema governista.
Outro problema foram as denúncias contra o então
senador Ney Suassuna, forte aliado de José Maranhão e
também candidato à reeleição ao Senado. Suassuna foi
envolvido em denúncias de participação em esquemas de
139

superfaturamento de ambulâncias, o que aconteceu


exatamente durante a campanha.
Apesar do concorrente mais direto de Suassuna, Cícero
Lucena, não tocar nessa questão no guia eleitoral,
provavelmente para não receber como troco a lembrança do
seu envolvimento na Operação Confraria, que o levara à
prisão 1 ano antes, a cobertura nacional que era feita
tornava desnecessária essa iniciativa do PSDB. Suassuna era
exposto em cadeia nacional e Lucena erroneamente era
preservado pela artilharia do PMDB p paraibano.
Assim, esse “pacto de não-agressão” informal entre os
dois candidatos acabou por beneficiar Cícero Lucena,
atingindo não só a candidatura de Suassuna, mas também a
de José Maranhão, que passou a se afastar de Suassuna
temendo uma maior contaminação de sua campanha.
Divisão produz mais divisão. E exército dividido tem
grandes dificuldades de ganhar uma guerra.
Por outro lado, a campanha do PMDB apresentava
graves problemas organizativos e de linha política, o que
aparecia na campanha televisiva. Havia uma clara ausência
de estratégia definida, especialmente no âmbito do discurso
da campanha, que deixou de tratar, não se sabe por que, de
denúncias importantes, como a dos valores liberados para
aliados do governador com recursos de Fundo de Combate
à Pobreza. Só a título de exemplo da falta de orientação
política, foi antológica a abertura do primeiro guia eleitoral
do segundo turno, quando foi mostrada inexplicavelmente a
imagem do relógio da torre do Liceu Paraibano parado,
numa confusa cobrança a respeito da educação do estado e
uma paupérrima metáfora sobre a administração do PSDB.
Acrescentaria, para não me alongar mais, os problemas
que o candidato José Maranhão teve com as câmeras de TV.
140

Certamente, os debates ao vivo lhe custaram preciosos votos


por conta do seu desempenho nos debate. Não é novidade
para ninguém que muitas campanhas são decididas dentro
de estúdios e em ilhas de edição, e muitos embates acirrados
foram decididos em debates transmitidos ao vivo pela TV.
Um candidato que não se prepara para enfrentar essa
situação corre um sério risco de derrota.
Entretanto, a reversão do quadro eleitoral de 2006 em
favor de Cássio Cunha Lima decorre de múltiplos fatores,
entretanto, o mais relevante foi o uso eleitoral da máquina
do governo estadual e do poder econômico, como ficou
demonstrado pelo Ministério Público Eleitoral nos vários
processos movidos contra a coligação liderada pelo PSDB
durante a campanha.
141

2011
142

TERCEIRIZAÇÃO DO TRAUMAS:
DE VOLTA AO ESTADO MÍNIMO?
Julho de 2011

Voltemos oito anos no tempo. Imaginemos Cícero


Lucena prefeito de João Pessoa e Ricardo Coutinho ainda
deputado estadual. Em nossa fértil imaginação,
vislumbremos o então prefeito tucano mantendo contato
com uma ONG para repassar-lhe a administração de um dos
hospitais públicos da cidade. Como o então vigilante
deputado Ricardo Coutinho qualificaria esse "negócio"?
Privatização? Desresponsabilização do Estado com a saúde
pública? Neoliberalismo? Em todas essas assertivas, ele
estaria coberto de razão e certamente seria aplaudido pelos
críticos do Estado mínimo, que combatiam a tese da falência
do Estado, do gerencialismo não-governamental.

Não devemos ter receio de afirmar que a ação do


governador Ricardo Coutinho de transferir a administração
do Hospital de Traumas da Paraíba para uma organização
do chamado terceiro setor, é a confirmação de sua
conversão às teses conservadoras que o mundo viu
prosperar nas últimas décadas sob a fachada da crítica ao
intervencionismo estatal como algo intrinsecamente
nefasto à sociedade. Não. Não podemos aplaudir o repasse
para entidades privadas de atribuições que deveriam ser
apenas do Estado, especialmente na área da saúde. E a
justificativa implícita da ação (antissindicalismo do
governador?) é a pedra de toque a confirmar sua adesão a
essas teses que a esquerda combateu nas últimas décadas
no Brasil e, ao mesmo tempo, a pá de cal nas esperanças dos
143

que acreditaram que essa aliança com a direita era "apenas


para ganhar a eleição".
E não se trata de um serviço qualquer. É de saúde que
falamos aqui. Saúde é um serviço, mais do que qualquer
outro, que deveria ser exclusivo do Estado para que todos os
cidadãos pudessem ter o mesmo tratamento, independente
de sua condição social, especialmente num país como o
nosso, e mais ainda no estado em que vivemos.
Cabe uma pergunta final. Onde está a
nossa intelligentsia universitária? Onde estão os antigos
críticos da desresponsabilização do Estado? Seria
interessante saber, por exemplo, o que pensa a Secretária de
Desenvolvimento Social, Aparecida Ramos, uma crítica do
"terceiro setor" e do neoliberalismo, inclusive do governo
Lula, sobre essa transferência da gestão do HT para uma
entidade não-estatal.
Quem diria que seria a esquerda a trazer de volta o
neoliberalismo para a Paraíba. O PSDB e o DEM devem estar
dando gargalhadas a essa hora.
144

O GIRO DE 180° DE
RICARDO COUTINHO
Agosto de 2011

Ricardo Coutinho já foi, junto com o irmão Corialano,


um estudante da ultra-esquerda Paraibana. No início dos
anos 1980, anos em que o atual governador dava os
primeiros passos na política, ser do PT e, mais ainda, atuar
no movimento estudantil universitário, era quase sinônimo
de esquerdismo, que Lênin, o revolucionário russo, muito
acertadamente, qualificou de “doença infantil”.
Na leva desses anos, por exemplo, pontuam no PT
figuras da estirpe de Walter Aguiar e Carlos Alberto Dantas,
hoje obscuros subsecretários de governo, ambas destacadas
lideranças estudantis petistas que tinham em comum um
rancoroso discurso contra qualquer tipo de aliança do PT
com os partidos da época.
Essa turma era tão de esquerda, mas tão de esquerda,
que mesmo a aliança com o PCdoB, que então defendia a luta
armada como via para a conquista do socialismo no Brasil,
era considerada uma traição aos trabalhadores devido aos
comunistas, que ainda viviam na clandestinidade, além de
serem stalinistas, atuarem no interior do PMDB, partido que
o PCdoB considerava ser uma “frente” contra a ditadura.
No PMDB, também atuava o MR8 (Movimento
Revolucionário 8 de Outubro), o grupo que, entre outras
coisas, organizou o sequestro do embaixador americano no
Brasil, em 1969. Para quem não se lembra, a emenda das
diretas foi de autoria do deputado federal do Mato Grosso,
Dante de Oliveira, que à época pertencia ao MR8. Dante se
145

elegeria governador pelo PSDB em 1994. Coisas típicas


dessa geração?
Essa turma no PT disse o diabo, por exemplo, contra
gente como Antônio Mariz e também contra quem o apoiou
para governador da Paraíba em 1982. E quando o PCdoB
apoiou Marcus Odilon à prefeito de João Pessoa, em 1985? E
quando apoiou Burity, em 1986? Mal sabiam eles do futuro...
De pequeno-burguês – a grande acusação da época –
para baixo, as orelhas de quem se considerava de esquerda
e não era petista queimaram nesses quentes e divertidos
anos da política brasileira.
O crescimento do PT nos anos 1980, em grande medida,
deu-se porque, para sua militância, o partido tinha um
discurso autorreferente: só o PT era de esquerda, só o PT
defendia os trabalhadores. Parecia o que o PSTU e o PSOL
são hoje. O primeiro, demarcando campo no âmbito da
política e da ideologia; o segundo, no campo da “ética”, como
uma espécie de UDN de esquerda. Só que o PT se consolidou
estabelecendo uma base social e ocupando um imenso
espaço vazio, tanto o que foi deixado pelos comunistas e
trabalhistas depois do golpe, quanto pelo que foi criado na
rápida e intensa modernização que sobreveio no pós-1964.
Diante de uma sociedade carente de novas lideranças e
de partidos erodidos pela tragédia social, política e
econômica que foi o primeiro governo do PMDB pós-
ditadura, cujo mandato também coincidiu com a transição
que converteu a elite econômica às ideias neoliberais, o PT
acabou sendo o depositário das esperanças políticas dessas
novas classes que nasceram e amadureceram durante o
regime militar sem poderem se expressar livremente. Foi
assim que, já em fins dos anos 1980, quando o PT começou
a fazer alianças com a esquerda (PSB e PCdoB), o partido foi
146

ampliando seus horizontes políticos e enxergando a


necessidade de construir alianças, mas sem abandonar o
projeto reformador que o PT representava.
Os anos 1990 foram marcados pela exploração feita
através da grande imprensa, e que começou já na campanha
de 1989, do medo de classe que representava o PT assumir
o governo e, no contraponto, pela sua consolidação como
polo aglutinador dos setores contrários à nova ordem, ou
por razões políticas ou porque foram atingidas
economicamente pelos impactos das políticas econômicas
neoliberais.
Enfim, mas do que as alianças, o PT se tornou
alternativa política e eleitoral porque foi o partido que tinha,
por razões históricas, mais prestígio, mais organização, mais
inserção social, e que ousou liderar a oposição ao
neoliberalismo quando quase todas os partidos, à exceção
da esquerda, afirmavam-no como pensamento único.
A possibilidade de ampliar as alianças do PT foi,
portanto – mais do que a “esperteza” de Lula ou José Dirceu
de construir alianças e incorporar aliados ao projeto seu
projeto presidencial – resultado dessa condição
aglutinadora que fez do PT capaz de liderar vastos setores
da sociedade, inclusive grandes empresários temerosos de
serem levados de roldão pela abertura desenfreada
promovida por Collor e FHC, que, no caso da Argentina, por
exemplo, fez ruir as bases da economia daquele país.
Não fosse o PT alternativa real e confiável – eu me refiro
aqui um projeto nacional que é a base comum dessa aliança,
– o partido não teria aglutinado aliados além dos que ele
tinha construído até então. Foi essa mesma base, agora
acrescida dos milhões de miseráveis atendidos pelos
programas sociais, dos milhões de trabalhadores que
147

adentraram ao mercado de trabalho, dos jovens que


finalmente conquistaram uma vaga na universidade, da
maior participação dos salários na renda nacional, enfim,
que reelegeu Lula e, mais recentemente, conduziu Dilma
Rousseff à Presidência da República.
Portanto, foi a clareza de um projeto e o que ele
representava em termos de base social que Lula conseguiu
criar e liderar uma aliança política para governar e atingir
objetivos sociais e econômicos para o país. Não foi pura e
simplesmente pragmatismo.
Onde está o velho Ricardo Coutinho?
Muito se discutiu na campanha de 2010 na Paraíba a
súbita mudança em termos de alianças que Ricardo
Coutinho passou a construir. Representando esses novos
segmentos sociais de um Nordeste cada vez mais urbano,
Ricardo Coutinho emergiu para a grande política
representando um nicho político de artistas, intelectuais,
estudantes e trabalhadores da saúde que foi sua primeira
base política que o ajudou a eleger-se vereador por João
Pessoa, em 1992.
Logo cedo, a sociedade pessoense começou a enxergar
no franzino parlamentar uma expressão de mudança em
seus discursos inflamados contra tudo que era injustiça.
Ricardo Coutinho combateu o bom combate e, ao lado das
causas mais justas, soube representar interesses sub-
representados ou carentes de alguém que tivesse coragem
de ser deles expressão.
Foi dessa maneira que quatro anos depois se reelegeu
com uma votação consagradora que o tornou o vereador
mais votado da história pessoense. Mantendo-se firme em
sua atuação, Coutinho se elegeu com facilidade dois anos
148

depois deputado estadual com nova votação consagradora


em João Pessoa, que o projetou para almejar sonhos mais
altos, como o de ser finalmente prefeito da capital.
Vítima da autofagia que ainda consome o PT Paraibano,
Ricardo Coutinho renunciou à candidatura porque foi
incapaz de conciliar interesses que eram na realidade e
desde sempre externos ao partido. Ricardo abandonou o
front e deixou-o nas mãos do hoje aliado Luiz Couto, que
liderou seu exército como candidato a prefeito do PT em
2000.
O PT depois dali jamais seria o mesmo por conta desses
interesses externos que solaparam continuadamente sua
unidade e o seu prestígio político, porque desde 2000 tem
sempre quem se disponha no PT a sacrificar a unidade de
ação em nome de interesses que confrontam os objetivos do
partido.
Pois bem, de vítima a algoz, Ricardo Coutinho passou
para o outro lado do balcão em vários sentidos. Eleito
prefeito de João Pessoa, Ricardo cuidou de, ao invés de
confrontar interesses estabelecidos há tempos, com eles
quis conciliação. Foi assim com os empresários dos
transportes públicos, com a especulação imobiliária, que fez
dos compromissos com o meio ambiente e com um
planejamento urbano mais racional um “risco n’água”, com
a ampliação dos poderes sobre a cidade do empresário e
dono do Manaíra Shopping, Roberto Santiago.
Nem os compromissos com a transparência, onde
acessar os dados com os gastos do município na página da
prefeitura? Ou contra o familismo e o nepotismo – quando
chegou a hora de votar uma lei antinepotismo, a bancada
ricardista saiu do plenário da Câmara de Vereadores e até
hoje João Pessoa não tem uma lei que impeça a nomeação de
149

parentes por parte do prefeito, o que permitiu que seu irmão


permanecesse em cargos estratégicos da administração.
Mesmo o Orçamento Democrático é uma farsa, pois é apenas
uma hierarquização de gastos com obras controlado por
cabos eleitorais. Em termos percentuais, quanto do
orçamento da prefeitura é investido no Orçamento
Democrático?
150

CÁSSIO CAMALEÃO
Junho de 2011

Li a coluna de Rubens Nóbrega de hoje e, depois de


refletir, consolidei minha opinião sobre a estratégia cassista,
aliás, perfeita, como sempre. Parece-me que a postura dúbia
de Cássio em relação ao governo e ao próprio Ricardo dá
margem a que tenhamos dúvidas se ele se manterá apoiando
o projeto ricardista ou será uma alternativa a ele no futuro.
O governismo cassista é assegurada pelas palavras do
próprio ex-governador quando o mesmo dá entrevistas, mas
sempre de maneira genérica e sem comprometimento
explícito com determinadas ações do governo.
Enfim, Cássio foi contra ou a favor das demissões
promovidas por Ricardo? Cássio foi contra ou a favor ao não
pagamento da PEC 300? Foi contra ou a favor das atitudes
recentes do governo em relação aos professores e aos
médicos? Entretanto, a propaganda do seu partido é
nitidamente oposicionista, contrapondo inclusive dados e
posturas do ex-governo Cunha Lima com o atual; em
Campina Grande, os seus seguidores, que são muitos,
espinafram em todos os recantos, especialmente nos
programas de rádio, o atual governador, cuja popularidade
na Rainha da Borborema é lastimável. E Cássio calado,
colocando tudo na conta de Cícero e dos cassistas mais
afoitos.
Ou seja, Cássio hoje está no melhor dos mundos na
política: é de governo, mas não haverá constrangimento
algum se no futuro — certamente não antes de janeiro de
2012 — tornar-se de oposição.
151

Entretanto, seria bom para a política que


procurássemos desfazer essa arguta encenação. Cássio não
é só governo como é o principal responsável pela assunção
de Ricardo Coutinho ao governo da Paraíba. Cassistas de
carteirinha, por exemplo, controlam setores estratégicos do
governo, como a Secretaria de Planejamento e Gestão, cujo
titular (Gustavo Nogueira) é um dos apadrinhados do ex-
governador; Luzemar Martins, da Controladoria Geral; e o
responsável pelas obras do PAC na Paraíba, e Ricardo
Barbosa (esses nomes, se eu não estou enganado, foram dos
secretários do governo Cássio Cunha Lima). Estão excluídos,
claro, aqueles indicados para o segundo e terceiros escalões
e as centenas de aspones espalhados por todo o estado.
Enfim, os afagos de Cássio a Cícero relatados em prosa
e verso em sua coluna, depois das inserções na TV do PSDB
com os ataques à administração ricardista, apenas
corroboram a sensação de que Cássio Cunha Lima caminha
para a oposição, para o deleite de muitos oposicionistas,
inclusive do PMDB. Isso se a imagem de RC continuar ladeira
abaixo. Caso contrário, voltará à cena o Cássio governista.
Em qualquer situação, o ex-governador pretende ficar bem
na fita e colher frutos o quanto puder. Isso se parte da
oposição continuar torcendo por um racha no bloco
ricardista. Quando e se isso acontecer será porque Ricardo
terá se convertido num estorvo político.
152

2012
153

O NOVO STATUS POLÍTICO DE


CÁSSIO CUNHA LIMA
Janeiro de 2012

Daremos continuidade à análise começada na última


postagem sobre as três grandes tendências da política
Paraibana. Começamos com o PT. Agora, trataremos do
papel do Ex-governador e atual Senador pelo PSDB, Cássio
Cunha Lima.
Como eu já adiantei, considero que a manutenção da
aliança PSDB/PSB no governo tende a tornar Cássio figura
caudatária da polarização que se consolida a cada dia entre
o governador Ricardo Coutinho e o prefeito de Campina
Grande, Veneziano Vital.
Essa tese, como eu esperava, não tem nada de
consensual entre os observadores mais atentos da cena
política Paraibana. Muito pelo contrário, em certo sentido
ela nada contra a corrente, pois o senador tucano saiu
fortalecido depois da eleição de 2010, não apenas porque se
elegeu e tomou posse, mas porque para muitos foi o grande
responsável pela vitória ricardista.
Daí porque recebi a honrosa discordância de Rubens
Nóbrega que, via i-meio, saudou a retomada do blog e
divergiu “quanto às possibilidades futuras de Cássio. Acho
que ele ainda tem gás para continuar na proa desse barco à
deriva chamado Paraíba.” Outro importante analista que fez
referência a essa opinião foi Gilvan Freire que em seu último
artigo para o WSCOM (clique aqui) sugere meditação sobre
ela. Um dos leitores do blog (Zé Mário) postou um
comentário dizendo que iria esperar pelo texto que agora é
154

publicado: “O que já foi adiantado [sobre Cássio] vai contra


todas as expectativas”, finalizou ele.
Em 2010, Cássio Cunha Lima agiu como sobrevivente
ou agiu com o único objetivo de evitar a vitória de José
Maranhão e o PMDB aliando-se a um antigo adversário
político? Não acho que a motivação cassista tenha sido o
rancor, mesmo que por vezes a disputa política na Paraíba
tenha ganhado ares de uma contenda pessoal. Até 2008, o
cassismo caminhava para um inevitável isolamento, tanto
nacionalmente como localmente.
À exceção dos aliados tradicionais, como o Dem de
Efraim Moraes e os cassistas espalhados por todos os
partidos, Cunha Lima não tinha expectativa de ampliar sua
base de apoio e tenderia a ficar isolado à direita num
Nordeste onde a esquerda se fortalecia cada vez mais. Por
isso, quebrar a unidade do bloco liderado pelo PMDB, que
até 2008 reuniu José Maranhão, Veneziano Vital e Ricardo
Coutinho num mesmo palanque, era estratégico para as
pretensões de Cunha Lima.
Especialmente porque evitaria que Veneziano Vital e RC
fossem candidatos numa mesma chapa para o Senado, em
apoio a José Maranhão para o governo, o que, ninguém
duvida, seria uma chapa quase imbatível.
Por esse motivo, como já analisamos neste blog, Cunha
Lima iniciou uma aproximação com o então prefeito de João
Pessoa antes mesmo da eleição de 2008 e que acabou
resultando na coligação vitoriosa entre PSDB-PSB para o
Governo da Paraíba e em sua eleição para o Senado.
Acontece que a grande e principal mudança que a
eleição de Ricardo Coutinho promoveu foi a ascensão das
duas grandes lideranças políticas gestadas até 2004 e que
155

depois do resultado assumiram a condição de figuras de


proa da política Paraibana. De alguma maneira, o cassismo
dependia do maranhismo para dar sobrevida à gangorra
política que alimentou as disputas eleitorais na Paraíba de
1990 para cá.
E vice-versa. Foram 30 anos, desde que Ronaldo Cunha
Lima se elegeu governador em 1990, em que o estado da
Paraíba foi governado por esses dois grupos políticos, e
continuaria assim caso José Maranhã tivesse logrado êxito
em sua postulação ao governo em 2010. E se assim fosse,
Cássio Cunha Lima continuaria sendo o único contraponto
de peso a arregimentar o projeto oposicionista, dando a ele
expectativa de poder no contraponto a José Maranhão.
A vitória ricardista quebrou a gangorra e colocou o
atual governador na liderança de um grupo político do qual
faz parte o senador Cássio Cunha Lima e, se sua
administração não for um fracasso, assumirá a condição de
candidato “natural” do grupo, mesmo com o beicinho que
fazem muitos cassistas hoje. Estes não devem se preocupar,
pois, para quem conhece o modus operandi ricardista, uma
parte expressiva deles será acomodada no devido tempo e
lugar.
E caso o governo RC seja uma tragédia, quem tem mais
potencial para liderar uma chapa oposicionista, Veneziano
Vital ou Cássio Cunha Lima? Quem vem assumindo a
condição de maior antagonista da administração de RC, um
antagonismo que é alimentado intencionalmente pelos
próprios ricardistas, quando compram a disputa pública
com Veneziano Vital? Cunha Lima terá condições morais de
se reivindicar oposicionista no futuro com esse espaço em
grande medida ocupado por Vital do Rego hoje? Enfim, o
espaço da oposição já tem dono.
156

No caso da substituição de lideranças, o mesmo


aconteceu no PMDB. A ascensão de Veneziano Vital à
condição de maior liderança do partido no estado só
aconteceu por conta da derrota de José Maranhão. Caso o ex-
governador tivesse vencido, Veneziano teria que esperar um
pouco mais para assumir essa condição. E em quatro anos
acontece muita coisa. Hoje, Veneziano Vital é o candidato de
consenso do PMDB a governador em 2014.
Ou seja, não sobram muitas alternativas a Cássio Cunha
Lima a não ser observar o desenrolar da administração
ricardista, mantendo um silêncio estratégico, inclusive
sobre acontecimentos vitais transcorridos no governo.
Silêncio que motiva acenos do próprio PMDB, e do próprio
José Maranhão, que amansou bastante o discurso em relação
ao seu ex-maior adversário. Há inclusive quem defenda uma
aliança de Cássio Cunha Lima e Veneziano Vital, em apoio a
este último, em 2014.
Enfim, Cássio Cunha Lima transformou-se numa noiva
do qual só se espera apoio. Tanto do lado do ricardismo
quanto do lado de Veneziano Vital. Mas quem faz isso não se
enxerga nele (Cunha Lima) uma alternativa real, pelo menos
por enquanto e até que ele rompa com o atual governador, o
que, se um dia acontecer, não será antes de 2012.
Cunha Lima passou por muitas turbulências políticas e
pessoais nos últimos anos. Talvez ele ganhe um pouco de
calma em sua vida. A calma daqueles que tem importância
política, mas estão fora do jogo. Pelo menos por enquanto.
157

AS CHANCES DE CÍCERO LUCENA


27 de janeiro de 2012

O senador Cícero Lucena viveu um calvário em 2010.


No ano em que pretendia finalmente ser candidato a
governador, presenciou seu maior pesadelo virar realidade.
Do submundo dos boatos, Lucena viu emergir com toda
força a dolorosa realidade onde até as mais profícuas
amizades são atropeladas pelo cálculo político: o aliado das
muitas batalhas políticas travadas juntos desde 1990, Cássio
Cunha Lima, a quem não cansava de chamar de “irmão”, não
apenas aderiu à candidatura do maior adversário político,
Ricardo Coutinho, como levou o próprio partido que era
presidido por Lucena a apoiar seu desafeto.
Abandonado, isolado e desautorizado, Lucena refugiou-
se na campanha para presidência para acompanhar de longe
a eleição de RC para o governo que, num último esforço,
tentou evitar apoiando publicamente o candidato do PMDB,
José Maranhão.
Como desgraça pouca é bobagem, Lucena ainda viu o
grande aliado José Serra, até o início do ano favoritíssimo
para a Presidência da República, ser derrotado mais uma
vez, agora por Dilma Rousseff, até bem pouco tempo a
desconhecida candidata de Lula. Derrota que foi
acompanhada de uma redução geral nas bancadas do PSDB
no Congresso e de tradicionais lideranças do partido,
especialmente no Nordeste.
Definitivamente, 2010 não foi um bom ano para Cícero
Lucena. E RC pretendeu que o pesadelo cicerista
continuasse depois que tomou posse. Após passar com o
158

trator pilotado por Cássio Cunha Lima por cima do senador


tucano em 2010, RC, como quem come o prato frio da
vingança, foi tirando-lhes os aliados mais próximo: o
deputado estadual João Gonçalves e, para deixar queixos no
chão e mostrar que tudo se tornou possível na política
Paraibana, Hervázio Bezerra, que não apenas deixou de ser
vereador para tornar-se deputado, mas também líder do
governo do PSB! Para os descrentes, os bois estavam voando
nos céus Paraibanos!
Mas, em política, assim como na farmacologia, como
bem sabe o governador, doses excessivas de remédio podem
se tornar veneno. E o povo começou a enxergar as chagas de
Lucena expostas – e RC com o chicote na mão. Quanto mais
descontentes o governador gerava, mais simpatizantes
Cícero Lucena obtinha.
E, ironia das ironias, o tucano, desmoralizado nas
últimas eleições por Ricardo Coutinho em João Pessoa,
começou a ser saudado como o anti-ricardo exatamente nas
ruas da cidade que antes o antipatizava. Mais ainda: uma
parcela expressiva dessa população começou a desejar vê-lo
retornar ao cargo de Prefeito, que ocupara por oito anos
antes da ascensão de RC. Ricardo, ao tentar destruir de vez
Cícero, deu-lhe o impulso que lhe faltava para renascer.
Limites da candidatura
Hoje, Cícero Lucena é candidatíssimo. Hoje. Esse
detalhe é importante porque o discurso dos dois principais
candidatos de oposição, o próprio Cícero e José Maranhão
(depois trataremos aqui da candidatura do ex-governador
peemedebista), parecem estar em compasso de espera para
ver qual estratégia adotar quando tiverem que decidir de
verdade seus destinos em 2012: se ambos saem candidatos
ou compõem-se numa aliança.
159

Tudo depende daquilo que alimenta seus passaportes


eleitorais: o desgaste de RC. Caso o governador consiga frear
a perda de popularidade, é difícil dizer se os dois manterão
suas candidaturas.
Nesse caso, o mais provável é que se componham e com
Maranhão na cabeça da chapa, já que o peemedebista, além
de maior capacidade de ampliação, pessoalmente está
obrigado a arriscar tudo em 2012 para recobrar o prestígio
perdido em 2010. E JM não tem muitas oportunidades pela
frente, diferentemente de Lucena.
Entretanto, caso o governador mantenha altos níveis de
rejeição ao seu governo, os dois serão candidatos a ocupar o
espaço reservado à oposição nessa disputa. E Cícero Lucena
terá pela frente a oportunidade de testar sua liderança e
passar por um teste eleitoral que finalmente confronte sua
administração de oito anos com os oito anos de gestão do
PSB.
Cícero tem a vantagem de ser considerado o candidato
ideal para os ricardistas, já que eles consideram que a gestão
do PSB é superior em realizações e avanços se comparada
com a do tucano.
Além desse ponto, existe o debate, digamos, “ético”, que
deve ter um grande peso nessa eleição. Lucena tem contra si
diversas acusações de corrupção, muitas por se provar, é
bem verdade, e uma imagem marcante que pode ser
devastadora numa campanha: a prisão realizada pela Polícia
Federal durante a chamada Operação Confraria.
Nesse campo, Cícero Lucena equilibrou o jogo depois
das várias denúncias de corrupção contra a Prefeitura de
João Pessoa, especialmente no rumoroso Caso Cuiá. Se esse
campo da disputa for explorado e se tornar o centro dos
160

debates eleitorais em João Pessoa, o que é mesmo provável


que aconteça, teremos um lamaçal a escorrer para dentro
das casas dos eleitores em pleno horário nobre, o que
dificulta prever a reação deles. Legitimarão a disputa ou
procurarão outras alternativas? José Maranhão e Luciano
Cartaxo vão esperar para ver o que sobre para eles desse
embate.
Nesse aspecto, a candidatura de Cícero Lucena será
fundamental para disputa, pois ela permitirá um
contraponto em vários campos com o ricardismo, mas de
resultados imprevisíveis.
161

ELEIÇÃO DE 2014 COMEÇA AGORA


Março de 2012

Como sempre acontece, as eleições municipais


constituem a principal batalha que antecede a cada disputa
para o Governo do Estado. São uma preliminar de luxo em
que os principais protagonistas dessa disputa, que ocorre
dois anos de cada eleição municipal, se movimentam para
acumular forças, fortalecer suas bases e consolidar sua
posição de candidato. Essas eleições, claro, não antecipam
nenhum resultado para o governo – Cássio, por exemplo, foi
fragorosamente derrotado em 2004, perdendo nas
principais cidades Paraibanas, inclusive João Pessoa e
Campina, mas acabou se reelegendo em 2006, – mas são
decisivas para estabelecer expectativas de vitória dos
candidatos, o que é muito relevante na formatação da
política de alianças.
Dos possíveis candidatos para 2014, o governador
Ricardo Coutinho e o prefeito de Campina Grande,
Veneziano Vital, são os que ocupam os delimitados espaços
que separam situação e oposição na Paraíba, uma
polarização tão antiga quanto o estabelecimento das
eleições no estado. Coutinho, por ser governador, e Vital do
Rego por ser prefeito da segunda maior cidade Paraibana e
principal liderança do maior e mais tradicional partido
Paraibano, o PMDB, hoje na oposição. Um terceiro candidato
seria Cássio Cunha Lima, mas este só poderá disputar
eleições novamente depois de 2016º que coloca Cássio
numa posição secundária na eleição, apesar deste continuar
desempenhando importante papel para ajudar a decidi-la.
162

E essa será, sem dúvida, a grande questão que permeará


os debates políticos depois de 2012. Para onde vai Cássio?
Permanecerá com Ricardo? Poderá aliar-se a Veneziano?
Tudo dependerá de 2012. Se o PSDB vence em João Pessoa
e Campina Grande, a tese da terceira via ganhará força
irremediável, em prejuízo do governador Ricardo Coutinho.
Não é impossível que vejamos repetido o que aconteceu em
1990, quando o candidato apoiado por Tarcísio Burity,
então governador, José Agripino, figurou como terceira
força e naufragou na polarização entre Wilson Braga e
Ronaldo. Diante dessa hipótese, apostaria todas as fichas
que, caso eleito prefeito, Cícero Lucena não resistiria ao
“apelo das bases” por sua candidatura ao governo.
Entretanto, caso o PSDB seja derrotado nas duas eleições,
prevalecerá mais uma vez a condição deste de força auxiliar
na disputa. Nesse caso, uma aliança do cassismo com
Veneziano se fortalece por conta do grande inconveniente
político que será permanecer aliado de RC em Campina, mas
também das relações muito próximas que Cícero Lucena
mantém com o PMDB, em especial com o prefeito
campinense hoje.
Em meio a essas dúvidas, só há uma certeza: as eleições
de 2014 começam agora.
163

ELEIÇÃO EM JOÃO PESSOA:


A POLARIZAÇÃO QUE SE ANUNCIA
Abril de 2012

Parece um paradoxo, mas toda análise política,


especialmente eleitoral, é sempre um exercício de
antecipação. Quando falo em “paradoxo” eu me refiro aqui a
uma dupla incongruência: a projeção do futuro (1) de uma
atividade marcada pelas contingências (2). De qualquer
forma, mesmo diante das possibilidades de mudanças nos
cenários políticos, as projeções são um desafio, tanto para
quem analisa quanto para quem atua diretamente na
política.
Pois bem. Uma questão que tem me chamado a atenção,
desde quando as primeiras pesquisas para prefeito de João
Pessoa foram divulgadas ainda no ano passado (2011), diz
respeito à força que a oposição terá quando a campanha
começar. Até o início da semana, a força oposicionista
parecia imbatível: liderança nas pesquisas, vitória da
candidatura própria no PT, crise de candidaturas na base
ricardista. Entretanto, dois acontecimentos ocorridos
durante a semana em curso podem alterar esse clima de
confiança oposicionista: a reprovação da contas de
campanha do ex-governador José Maranhão – um dos
líderes das pesquisas – que pode torna-lo inelegível, e a
reunião do PSB que liquidou, ao que parece,
definitivamente, com divisão que ameaçava a unidade da
base ricardista, com a vitória de Estela Izabel que impede a
candidatura à reeleição de Luciano Agra, seguida pelo
164

pedido de demissão do Secretário de Comunicação, Nonato


Bandeira.
Esses dois acontecimentos podem ter consequências
duráveis na disputa que se aproxima em João Pessoa. Eles
podem antecipar uma polarização entre o PSB de Estela
Izabel Bezerra e o PSDB de Cícero Lucena. Com pelo menos
três candidaturas competitivas, seria difícil o
estabelecimento dessa polarização. Com duas, elas acabarão
por se constituir no desaguadouro natural que pode atrair
não apenas as principais lideranças partidárias, à exceção
dos petistas, mas também o eleitorado.
Como eu nunca acreditei no sonho oposicionista de
levar dois dos seus candidatos para o segundo turno em João
Pessoa, deixando de fora candidaturas da situação, a
confirmação do afastamento de José Maranhão da disputa
pode antecipar o candidato da oposição que confrontará
Estela Bezerra, se ela contar com o apoio das máquinas
estadual e municipal. Com Cícero Lucena na condição atual
de “favorito”, o PT nacional continuará apostando todas as
suas fichas na candidatura de Luciano Cartaxo, ou
“flexibilizará” sua posição para evitar um confronto com o
PSB e dificultar uma aliança em um provável segundo turno
entre um apoiador e um opositor do governo Dilma
Rousseff?
E Luciano Cartaxo? Ele será capaz de romper com a
polarização que se anuncia viabilizando uma candidatura
competitiva? Essa é uma das tantas questões que nós só
saberemos a resposta durante a campanha.
165

GOVERNO RC:
CASSISMO REVIGORADO
Abril de 2012

A mudança no secretariado promovida pelo


governador Ricardo Coutinho na semana passada, seguida
de fatos que a sucederam, são um sintoma claro de que
Cássio Cunha Lima passa a ter uma influência no governo
estadual proporcional à importância que teve na eleição de
2010. Com a indicação, entre outras, de Harrison Targino
para a Educação, por exemplo, uma Secretaria que sozinha
concentra ¼ do orçamento estadual, Ricardo Coutinho
atende tanto ao apetite cassista por mais espaço no governo,
quanto a busca de uma solução negociada para o conflito
com a UEPB. É certo que Targino, nem muito menos Cássio,
não aceitariam tal incumbência para dar seguimento a uma
pendenga que só cria desgaste para o governo. Com um
cassista na secretaria, Cunha Lima assume para si não
apenas a responsabilidade de superar o impasse, mas
também o compartilhamento de um possível desgaste.
Tanto que o que se viu em seguida ao anuncio foi um
Cássio Cunha Lima em plena vitalidade retórica, ao sair em
definitivo do autoexílio em que se encontrava desde o início
de 2011. Cássio falou muito na semana passada. Deu
entrevistas, polemizou e entrou no debate sobre a lei da
autonomia da UEPB com a autoridade de ter sido o seu
criador. E a favor da posição governo. Numa dessas
entrevistas, discordou, sem esquecer as amabilidades com
que sempre trata os aliados políticos, de um
questionamento feito pela reitora Marlene Alves, pivô do
confronto que opôs a comunidade da UEPB e o governo.
166

Disse que, mantida a interpretação da UEPB, chegará um


tempo que a universidade terá para si 100% do orçamento
estadual. Cássio deu a senha e um acordo deve ser
produzido em breve sobre a questão.
O próximo desafio a ser enfrentado por Cássio é ajudar
no impasse em que se encontra a base parlamentar
governista na Assembleia Legislativa, acuada pela
dificuldade de defender medidas impopulares,
especialmente as que atingem o funcionalismo. Cássio terá
que “domar” Ricardo Coutinho – esse será um capítulo da
história política Paraibana que merecerá estudos, – que, sem
força política própria e agindo no puro voluntarismo, acaba
governando de crise em crise. Mas essa talvez seja uma
questão de sobrevivência para RC. Se Cássio veio para ficar,
resta ao governador se adaptar. E acho que ele está cada vez
mais propenso a isso.
Essa é uma mudança importante que certamente terá
reflexos no futuro das disputas políticas no estado. Acena
antes de tudo para a consolidação da aliança de Cunha Lima
com RC. Se for isso mesmo, temos uma injunção óbvia como
consequência: RC será o candidato de Cássio em 2014, numa
aliança eleitoral que começa desde já. Com o ex-governador
tucano inelegível, mas ainda influente o bastante, e um RC
encalacrado numa crise que impede o governo de produzir
frutos políticos, a alternativa que restou ao governador foi
compartilhar a administração com Cunha Lima. RC é cada
vez menos RC.
167

RC E AS ELEIÇÕES DA UEPB
Junho de 2012

A Universidade Estadual da Paraíba fez eleições para


reitor no último dia 16 de junho, aliás, no mesmo dia em que
a UFPB foi também às urnas e só não elegeu a professora
Margareth Diniz no primeiro turno por meros 0,35% dos
votos. Na UEPB, Rangel Júnior, apoiado pela atual reitora,
Marlene Alves, foi eleito por ampla maioria de votos
derrotando outras quatro chapas.
Desde que o governador Tarcísio Burity estadualizou a
UEPB todos os reitores que dirigiram a instituição foram
eleitos pela comunidade universitária e os mais votados
foram nomeados pelos governadores de plantão. Pelo que
eu me lembre, nunca sequer foi ventilada a possibilidade de
não ser respeitada a vontade da maioria, sempre expressa
nas urnas.
Pois bem. Um mês depois de realizada a eleição não
houve por enquanto nenhum posicionamento oficial do
governador Ricardo Coutinho sobre se será respeitada a
vontade da comunidade universitária da UEPB. Pode ser que
o governador considere que não seja realmente necessário.
Mas, uma declaração do governador acalmaria os ânimos da
UEPB, sobressaltados desde o início do ano por conta das
intensas discordâncias entre governo e administração da
universidade a propósito da Lei da Autonomia Financeira da
instituição.
Foram esses conflitos que deram margens a dúvidas
sobre se Rangel Júnior seria mesmo nomeado, dúvidas
estimuladas por posturas e declarações do segundo mais
168

votado na eleição, Cristóvão Andrade. Andrade, que é o


presidente da Associação dos Docentes da UEPB, pediu a
anulação do pleito e até agora não refutou
peremptoriamente a possibilidade de aceitar a nomeação,
mesmo não tendo sido ele o mais votado. Além disso, nos
debates sobre a Lei da Autonomia, ao invés de perfilar-se ao
lado da reitora Marlene Alves, Andrade passou a questionar
a administração da UEPB a respeito dos recursos da
universidade, fortalecendo a posição do governador.
Por enquanto, não há motivos concretos para
preocupação, mesmo que o silêncio da parte do governador
possa ser interpretado como um estímulo àqueles que
desejam subverter as regras do jogo democrático na UEPB.
Não acho que RC tenha esquecido esses compromissos, que
são parte de sua história como político, como deputado
estadual e como servidor da UFPB, mesmo que hoje alguns
coloquem em dúvida se ele os mantém. Entretanto, se a
crença na coerência do governador não bastar, lembro que
o cálculo político pode ser impor. Confrontar a UEPB, numa
causa que pode uni-la mais do que em qualquer outra
circunstância, é um erro perigoso demais para os projetos
de curto e longo prazo do governador. Nunca é demais
lembrar o estrago que fez à imagem de José Maranhão em
Campina Grande a greve de fome, comandada pela atual
reitora da UEPB, Marlene Alves, quando esta presidia a
associação docente. E aquela era uma luta por razões
salariais. No final dela, Maranhão foi transformado quase em
persona non grata na cidade, e Marlene em heroína
169

AS PESQUISAS E SUAS UTILIDADES


Setembro de 2012

É cada vez mais patente que na disputa de João Pessoa


as pesquisas eleitorais são parte importante nas estratégias
eleitorais dos candidatos, especialmente daqueles que
dispõem de mais recursos e meios para utilizá-las com esse
objetivo. Seja para criar a sensação de crescimento na
preferência do eleitorado, que sempre presta mais atenção
em candidato bem avaliado ou em crescimento nas
pesquisas, como na escolha dos adversários no segundo
turno. Trata-se daquela sentença que é repetida como um
mantra pelos apoiadores de certos candidatos e certos
"analistas políticos": tal candidato já está no segundo turno.
Mesmo que essa certeza não seja corroborada pelas
pesquisas, pois até agora nenhum candidato se descolou o
suficiente na liderança para que isso seja afirmado com
convicção. Não por acaso, esse candidato (o escolhido) é o
mais fácil de ser derrotado no segundo turno, pois é o que
menos agrega apoio e tem maior rejeição no eleitorado.
Então, ficamos diante da seguinte situação: já que temos três
candidatos disputando duas vagas para o segundo turno, e
um já está lá, resta descobrir quem será o outro. As
pesquisas dão uma "dica": um está em ascensão e o outro em
descenso. Em qual você apostaria?
E o recurso para tanta manipulação é o da margem de
erro, que eu tenho descrito como "mágica" eleitoral, pois
dependendo dela uma diferença de 7% ou 8% percentuais
pode ser transformada em "empate técnico". E dentro disso
cabe tudo. Ora, se um intervalo de confiança aceitável é de
95%, os outros 5% configurariam toda extensão da margem
170

de erro (2,5% para cima e 2,5% para baixo). Em João Pessoa,


a maioria dos institutos — pelo menos aqueles que fazem
pesquisas "encomendadas" — utilizam margens de erro que
superam em muito os 2,5%. Alguns chegam aos 4%! O
resultado disso é óbvio. Por exemplo. Uma pesquisa com
uma margem de erro de 3,5% significa que um candidato
pode ter mais ou menos 3,5% dos votos aferidos. Portanto,
se numa pesquisa um candidato tem 20% e ou outro 13%,
estamos diante de um "empate técnico".
Isso é que eu tenho chamada de "a mágica da margem
de erro", uma mágica política que só as pesquisas eleitorais
são capazes de promover. A vários dias da eleição, quem
pode dizer se uma pesquisa está ou não correta? Ninguém.
Entretanto, se os números delas não batem com os das
urnas, é sempre possível culpar a "metodologia", que precisa
ser aperfeiçoada. E assim, la nave vá.
Mas, mesmo diante dos imperativos da margem de erro,
há sempre aqueles que, fazendo-se de desavisados, as
desconsideram para criar determinada situação. Foi o que
eu observei na divulgação da pesquisa realizada pelo portal
WSCOM. Com margem de erro anunciada de 2,5%, os
números foram os seguintes: Luciano Cartaxo com 21,9%,
Cícero Lucena com 21,3%. e José Maranhão 17,8%. Não
precisa ser estatístico mas perceber que, considerando a
margem de erro, existe um empate técnico entre o 1º e o 3º
No limite, Cartaxo teria 19,4% e Maranhão 20,3% (quase
1%!). Entretanto, essa foi a manchete do portal: "Pesquisa
WSCOM/6Sigma aponta empate técnico entre Cartaxo e
Cícero". E só quem ganha a fama é o IBOPE...
171

A AVENTURA CASSISTA?
Outubro de 2012

Com a tensão, devidamente alimentada por todos esses


anos, que Cássio pretende tanto legitimar uma possível
candidatura, quanto valorizar-se pesadamente, numa conta
que se revelará altíssima, se e quando o senador decidir pela
manutenção da aliança.
Na primeira hipótese, a indefinição jurídica pode se
transformar numa aventura a decisão de ser candidato, o
que pode deixar seu destino nas mãos da justiça eleitoral,
agonia que o senador viveu em 2010.
Ali, ele jogou todas as fichas e foi salvo quando Dilma
Rousseff nomeou Luiz Fux para o STF. Uma derrota jurídica
em 2014 pode ter um custo político muito alto, já que Cássio
é único nome competitivo que tem o PSDB na Paraíba.
Excluído da disputa depois de lançada a candidatura (de
oposição), qual o alcance do prejuízo pessoal, familiar e de
grupo?
Por isso, como Cássio nunca se prestou a aventuras,
mais do que uma certeza política (coisa que acho que ele já
tem), ele precisa de uma certeza jurídica, o que ele só terá
depois que iniciar o julgamento do registro de sua
candidatura, isso depois das convenções partidárias, em
meados do próximo ano.
E se ela acontecer, terá o condão de mudar os rumos da
sucessão estadual, quando Cássio deve assumir a condição
de favorito, não de imbatível, como ficou demonstrado em
2002 e 2006, quando o atual Senador em pessoa quase
perde para Roberto Paulino e José Maranhão.
172

Além disso, Cássio candidato terá o inconveniente de


responder durante a campanha porque apoiou o atual
governador e seu governo por três anos e só no final decidiu
romper para se lançar candidato de oposição. Uma aposta
na frivolidade do eleitor, sem dúvida.
Mas, antes o ex-governador deve resolver o que quer da
vida. E todos continuarão a especular sobre uma decisão que
se dará considerando apenas um critério: a conveniência de
Cássio Cunha Lima.
Por isso, se alguém ainda espera uma resposta para a
pergunta sobre se ele é ou não candidato, eu continuo
respondendo: depende.
173

UM "PROJETO", DUAS VISÕES:


AS DECISÕES DE NONATO BANDERIA
E LUCIANO AGRA
Novembro de 2012

A manutenção candidatura do agora ex-Secretário de


Comunicação da Paraíba, Nonato Bandeira, continua sendo
o grande enigma da eleição municipal de João Pessoa.
Reafirmada após a entrega do cargo de secretário na quinta-
feira passada e durante a entrevista coletiva concedida hoje,
a candidatura de Bandeira terá pela frente o duro desafio de
se tornar viável e, portanto, de ser alternativa real ao bloco
comandado por Ricardo Coutinho.
E viabilidade é algo que parece ser a grande dúvida que
se apresenta para a pretensão do pré-candidato do PPS, ou
seja, se Bandeira converterá em intenção de voto o apoio
político que ele parece ter de partidos da base de Luciano
Agra e de setores da imprensa pessoense.
Tanto que o jornalista Luiz Torres fez questão de
salientar as dúvidas que muitos nutrem em relação à
candidatura de Nonato Bandeira. Para Torres, o que para
muitos seria um ato de loucura – abandonar a condição de
supersecretário do governo para aventurar-se numa
disputa onde são mínimas as chances de vitória, – foi tratado
como um ato de abnegação e dedicação ao “projeto”.
Coincidentemente, é também em nome da preservação
desse projeto que Luciano Agra demonstra constantes atos
de altruísmo político. Segundo ele, todos devem estar
174

subordinados ao tal projeto. Só que, nesse caso, Bandeira


aparentemente faz o caminho inverso.
Enquanto Luciano Agra abre mão de sua postulação,
Nonato mantém sua candidatura. Também em nome do
mesmo projeto. É um desprendimento raro de se ver nos
dias de hoje e, certamente, digno de nota. Pode-se dizer que
são visões diferentes sobre a mesma questão. Se for isso
mesmo, está explicado porque Agra e Bandeira são de
partidos diferentes, mesmo compondo o mesmo grupo
político. Mas, mesmo aqui, o que é a desgraça do atual
prefeito – ser do PSB, o partido controlado pelo governador,
– vem a ser a salvação de Bandeira.
Enquanto Nonato Bandeira finca o pé, aparentemente
peita o governador e abandona o governo para ser
candidato, Agra mostra resignação, mesmo desejando ser
candidato. A questão é saber porque Agra não é tão bom
para o bem do “projeto” quanto Estelizabel Bezerra parece
ser.
Será que essas atitudes aparentemente desconexas
podem explicar uma outra coisa: o motivo de Luciano Agra
ter sido ungido à condição de vice de Ricardo Coutinho em
2008, que era uma maneira de ser prefeito de João Pessoa
sem ter voto, e porque Nonato Bandeira foi preterido.
Imagine se, ao invés de Agra, o prefeito hoje fosse Bandeira,
e RC desejasse uma outra candidatura? O “altruísmo” de
Bandeira seria colocado à prova.
175

CARTAXO, UM HOMEM DE SORTE


Outubro de 2012

Eu costumo dizer que quando as circunstâncias


conspiram a seu favor você é um indivíduo de “sorte”.
Nicolau Maquiavel, o criador da filosofia política moderna,
tinha uma outra maneira para designar esses
acontecimentos fortuitos: fortuna, que equivale à sorte do
governante ou do político. Entretanto, o político não pode
depender apenas da sorte para conquistar e manter o poder.
Ele precisa ter também virtù, que são as qualidades, as
habilidades para lidar com situações difíceis e sair vitorioso
delas.
Inquestionavelmente, o fato mais relevante e, diga-se
de passagem, mais imprevisível para quem projetasse o
futuro da disputa de 2012 em João Pessoa, imediatamente
após a vitória de Ricardo Coutinho para o governo, e o
resultado que hoje se prenuncia, foi a desastrada atuação
administrativa e política de Coutinho no governo. Já fizemos
referência às dificuldades administrativas do “gerentão” RC,
especialmente na Capital, o que fez minguar o prestígio
político do governador no seu principal e único reduto
eleitoral. Quem imaginaria, em 2010, que o principal
adversário de RC, dois anos depois, seria o seu principal
aliado, Luciano Agra? No campo da política, a atuação do
governador foi outro desastre. Provavelmente contando
com a docilidade e fidelidade caninas de Luciano Agra, RC
quis “cortar as asas” daqueles que ensaiavam rebeldia e
começavam a contestar sua autoridade dentro do “coletivo”
ricardista (Nonato Bandeira, Roseana Meira, Bira e
Alexandre Urquiza). Primeiro, gerou dúvidas sobre a
176

viabilidade eleitoral de Agra e, em seguida, pressionou para


que ele renunciasse à sua candidatura à reeleição. Agra
cedeu no início, mas eram claras as manifestações de
descontentamento dos aliados mais próximos.
Especialmente da secretária Roseane Meira, que divergia
publicamente, especialmente do nome de Estelizabel
Bezerra, que foi lançado quase que imediatamente à
renuncia de Agra, dando a entender que essa ação já estava
planejada antes. Havia um outro sinal de tensão nas hostes
ricardistas: a manutenção da candidatura de Nonato
Bandeira, a até então “eminência parda”, o estrategista e
homem de confiança de RC.
No PPS, Bandeira estava resguardado das garras de RC.
Agra, no PSB, não. E as relações no ricardismo foram se
tornando tensas na medida em que ficava claro que o
prefeito se recusava a comer de bom grado o prato feito a
ele apresentado pelo governador. E a cada vez que Agra
desistia de sua “desistência”, o confronto parecia cada vez
mais inevitável. Nesse ínterim, Nonato Bandeira mexia os
pauzinhos e uma inusitada aproximação com o PT começou
a se desenhar. Enquanto o partido de Lula amansava o
discurso, Agra começou a confrontar o antigo senhor dos
seus desejos publicamente. A estratégia estava em
andamento. Luciano Agra era agora a principal vítima de RC,
mas também seu principal antagonista na capital. José
Maranhão e Cícero Lucena acabavam de perder a hegemonia
do discurso oposicionista e Agra juntava dois atributos que
o tornaria praticamente imbatível: uma administração bem
avaliada e de oposição ao impopular governador.
Quando Luciano Agra se apresentou no cadafalso da
convenção do PSB para ser derrotado, estava
definitivamente ratificado o racha. RC cometera a asneira de
177

entregar uma prefeitura do porte da de João Pessoa nas


mãos da oposição, provavelmente para não dividir poder em
suas hostes. Não demorou muito para o prefeito anunciar
sua desfiliação do partido do
governador e o seu novo candidato a prefeito. Luciano
Cartaxo, cuja intenção inicial era apenas se projetar durante
a disputa para alçar novos voos no futuro, acabava de
ganhar de presente uma máquina administrativa poderosa
e azeitada para fazer campanha, que compensava em muito
a mudança repentina do discurso oposicionista. Luciano
Cartaxo viu as circunstâncias conspirarem a seu favor, pois
é inquestionável que sem as decisões de Agra e Nonato
Bandeira seu destino tenderia a ser outro. Cartaxo tem a
fortuna a seu lado. Resta saber se ele tem virtù para no
futuro não depender tanto da sorte
178

2013: UM ANO DE
CRISE POLÍTICA NA PARAÍBA?
Dezembro de 2012

2012 se encerra com a Paraíba mergulhada numa crise


política entre Governo e Assembleia cujas consequências
são de difícil previsão. O certo é que a situação política de
Ricardo Coutinho não é nada fácil. Alguns deputados
estaduais, mesmo sem assumirem publicamente, já
admitem a reprovação das contas do governo – o que, fora o
desgaste político, tornaria RC inelegível. Até a abertura de
um processo de impeachment contra o governador não está
descartada e não são poucos os que tratam dessa
possibilidade sem nenhum tipo de constrangimento. O que
há por trás dessa crise que se prenuncia desde os primeiros
dias de governo, quando o deputado Tarcísio Marcelo
venceu a eleição para presidir a Assembleia contra o
candidato apoiado pelo governador, crise que chegou ao
ápice com a demissão de diversos aliados políticos de
deputados que até então não compunham a lista dos
oposicionistas?
O primeiro aspecto a ser notado é que RC se elegeu sem
maioria na assembleia e com uma bancada oposicionista
numerosa. E entre os situacionistas, não há um só ricardista
“puro-sangue”. Ou seja, RC é prisioneiro de uma base
política cuja origem política é bastante diferente da sua. Essa
condição exige que o governador negocie uma maior
participação e, portanto, um maior comprometimento, dos
deputados no e com o governo. Ou será que RC imaginou que
poderia governar sem aqueles que o ajudaram a eleger-se?
179

Enfim, RC colhe agora os frutos de uma aliança política sem


um devido acordo programático e sem uma base social
capaz de lhe dar suporte na sociedade. Quem defende RC,
além de jornalistas comprometidos politicamente e
assessores do governo?
E isso nos remete à segunda parte do dilema ricardista,
que é a ausência de um suporte nos segmentos sociais que
foram responsáveis por sua ascensão política. RC rompeu
com diversas categorias, que foram tratadas como
adversárias não apenas dele, governador, mas dos
interesses do Estado. Foi assim com o Fisco, com
professores, com médicos, com a PM, segmentos numerosos
e influentes. Ou seja, RC está isolado não apenas no
parlamento, mas na sociedade civil organizada da Paraíba.
Esta última, numa situação de tensão e acirramento na
Assembleia, poderia ser o contraponto que RC precisaria
para enfrentar os desafios políticos que estão pela frente. RC
terá sérias dificuldades políticas.
É bom não desconsiderar o fato de que o confronto se
acirrou, não por acaso, depois da derrota sofrida pelo
governador em João Pessoa, sua principal base política. Esse
último aspecto fecha o círculo que explica a grande
fragilidade política que enfrenta RC hoje, e que se projetará
por todo o ano de 2013. E RC tem de sobreviver a essa crise
se quiser continuar governando a Paraíba.
180

2013
181

O NOVO STATUS POLÍTICO DO PT


Janeiro de 2013

A principal novidade na política Paraibana em 2013 é,


sem dúvida, o início da primeira administração petista numa
grande cidade. Alguns objetarão lembrando que o partido já
administrou Campina Grande entre 2002 e 2003, cidade de
larga tradição política e segundo maior colégio eleitoral do
estado.
É verdade, mas é preciso destacar as diferenças entre
uma situação e outra. Enquanto em Campina Grande o PT
ascendeu à administração municipal em condição
secundária, em total dependência do cassismo – Cozete
Barbosa, a então prefeita campinense, chegou mesmo a
pedir voto para Cássio Cunha Lima para governador, em
2002, quando o PT tinha candidato – em João Pessoa, as
forças que deram suporte à eleição de Luciano Cartaxo não
apenas tem mais identidade política, como tem uma origem
comum: o próprio PT.
E a composição dos governos mostra bem essa
diferença. Enquanto cassistas continuaram ocupando
cargos-chave na administração campinense, o PT em João
Pessoa já iniciou o jogo mostrando suas cartas. Mesmo com
o decisivo apoio do ex-prefeito Luciano Agra à candidatura
de Luciano Cartaxo, o PT ocupou as principais secretarias da
administração pessoense, deixando pouco espaço para os
aliados. As indicações de Agra estão presentes, mas em
cargos considerados “técnicos”, ou seja, com limitada
perspectiva de atuação política. Quem não viu nisso um
182

aviso pode começar logo a entender: o PT tem pressa em


demonstrar que tem força, mesmo que superestimada.
O voo próprio petista
Essa observação é importante porque estabelece
consequências políticas cujo alcance nós só poderemos
compreender melhor com o tempo. Apesar de patinar
durante anos sem um projeto político próprio, transitando
de um expecto a outro no jogo das forças políticas
Paraibanas – cassismo, depois maranhismo e, por último, o
ricardismo, ao lado de quem parte importante do PT ainda
se mantém, é bom lembrar, – com a ascensão em João Pessoa
o partido do ex-presidente Lula agora parece em condições
de traçar voos com as próprias asas.
A partir de João Pessoa, como fez Ricardo Coutinho, o
PT pode vir a se constituir, no médio prazo, num polo em
condições de disputar com os outros grandes agrupamentos
a hegemonia política do estado, especialmente se o partido
mantiver a Presidência da República.
Mas, tudo depende do que o partido fizer na
administração de João Pessoa. E o desafio é empreender
uma administração com marca própria, capaz de
ultrapassar em realizações tanto a administração de Ricardo
Coutinho como a de Luciano Agra. São muitos os desafios da
administração de Luciano Cartaxo. O primeiro deles é volta-
la para a periferia da cidade, dando algum sentido ao que os
próprios petistas chamam de “modo petista de governar”. Se
as administrações ricardistas conquistaram a classe média
pessoense, priorizando investimentos nas partes mais
“visíveis” da cidade, o desafio do PT é fazer João Pessoa se
enxergar como um todo, e integrá-la em termos de ações
administrativas. Se houve avanços na educação – e houve,
como, por exemplo, a construção de escolas dignas de serem
183

chamadas assim, – será preciso identificar o próximo passo,


talvez com a implantação da escola em tempo integral. Na
saúde, o desafio é levar atendimento médico a todos os PSFs
e isso vai exigir, entre outras coisas, uma melhor
remuneração para os médicos. Do jeito que está não pode
continuar.
A superação desses “gargalos” para a melhoria das
condições de vida dos pessoenses pode ser a credencial que
precisa o PT para mostrar-se à Paraíba como uma
alternativa real de poder. Ser a única capital do Nordeste
administrada por um petista certamente ajudará, mas será
preciso observar o comportamento da economia nacional
nos próximos dois anos.
Havendo retração, o cenário pode mudar porque a
capacidade de investimento a partir de verbas e projetos
federais se reduzirá bastante. Se a economia se recuperar,
como espera o próprio governo, João Pessoa pode vir a ter
anos de fartura, porque também estará em pauta a eleição
presidencial, momento em que tanto o orçamento como a
liberação de recursos ficam mais “flexíveis”. Enfim, como
muitas petistas almejavam, o PT virou um protagonista da
política Paraibana. Vamos ver no que isso vai dar.
184

CÁSSIO E ROMERO AJUDAM A


RECOMPOR AS PEÇAS QUE RC
ESPALHOU PELO TABULEIRO
Janeiro de 2013

Vistas sob o ângulo do curto prazo, a composição do


secretariado do novo Prefeito de Campina Grande, Romero
Rodrigues, do PSDB, responde a acomodações próprias de
um candidato que foi ao segundo turno e precisou fazer
alianças para eleger-se. Vistas com o olhar voltado para
2014, elas projetam mais que uma rearrumação de forças,
mas uma ampliação das bases que pretendem ajudar a
reeleição do governador Ricardo Coutinho. O que, caso
estejamos certos, é uma prova mais do que cabal de que o
Senador Cássio Cunha Lima não tem outro projeto para
2014 a não ser manter a aliança vitoriosa em 2010,
colocando no molho as barbas de muitas cassistas, alguns
não declarados, que projetam um rompimento entre Cunha
Lima e RC desde os primeiros dias do atual governo, tese na
qual nunca acreditei.
Adesão de Guilherme Almeida a RC?
São sintomas do que afirmamos acima pelo menos duas
nomeações, sem nos determos na de Marcio Canielo,
professor da UFCG, filiado ao PT e coordenador do programa
do PT em 2010: a do deputado estadual Guilherme Almeida,
do PSC, e a da ex-reitora da UEPB, Marlene Alves, que
pertence aos quadros do PCdoB. Comecemos por Almeida.
Aliado do ex-prefeito Veneziano Vital do Rego desde 2004,
Guilherme Almeida tinha pretensões de suceder o
185

“cabeludo” e trabalhou para ter o seu apoio. Preterido pela


médica Tatiana Medeiros, Almeida se lançou candidato
quando obteve pouco mais de 3% dos votos. No segundo
turno, surpreendeu a muitos ao declarar apoio ao candidato
do PSDB.
A nomeação de Guilherme Almeida para a Secretaria da
Agricultura campinense consolida o seu rompimento
definitivo com o grupo liderado por Veneziano Vital do Rego
e é um sinal claro de que o deputado do PSC não pretende
apoiar o ex-prefeito peemedebista para o governo em 2014.
Como em política as atitudes são mais eloquentes do que as
palavras, ao aceitar o convite para ser secretário, Almeida
ajuda Ricardo Coutinho onde o governador mais precisa no
momento: na Assembleia Legislativa, ao abrir espaço para
uma “ricardista” mais convicta, a suplente Iraê Lucena.
Assim, Guilherme Almeida se poupa das aflições de todo
“cristão-novo”. Ora, se Guilherme Almeida pretendesse
permanecer na oposição teria ele aceitado o convite de
Romero Rodrigues? Com essa atitude, Almeida pavimenta o
caminho da adesão, que só será plena quando os palanques
de 2014 estiverem formados.
Marlene Alves, o PCdoB e o PSDB
Não foi exatamente uma surpresa a indicação de
Marlene Alves para a Secretaria de Cultura da Prefeitura de
Campina Grande, isso por conta da trajetória da ex-reitora
da UEPB de proximidade política com o Senador Cássio
Cunha Lima. A surpresa maior acontece pela legitimação
que deu a direção estadual do PCdoB para que um de seus
membros participem de um governo do PSDB. Isso porque o
porte e a importância política de Campina Grande exigiriam,
em tese, um maior alinhamento de sua direção no estado ao
posicionamento nacional do PCdoB, que se opõe com
186

radicalidade ao projeto de poder tucano. E Romero


Rodrigues, o Prefeito, compôs até bem pouco tempo a
bancada federal oposicionista, sendo, portanto, expoente
nacional do PSDB, além de ser primo de um atuante
parlamentar oposicionista, cotado, inclusive para ser líder
dos tucanos no Senado.
Coisas da política e do PCdoB, que rompeu em 2010
com o então candidato a governador, Ricardo Coutinho, por
conta exatamente de sua aliança com o PSDB, indo alojar-se
nos braços largos do ex-governador José Maranhão. Hoje, de
volta ao governo estadual, o PCdoB mergulha fundo nas
águas do ricardimo. E, se Romero Rodrigues ajuda a
pavimentar o caminho de Guilherme Almeida para o
governismo, com o PCdoB ocorre o contrário: é por conta da
proximidade com RC que a direção estadual ratifica a
decisão de participação no governo tucano. Uma troca de
amabilidades que só pode ser entendida como o
compartilhamento de uma estratégia comum para 2014,
que deve trazer de volta Marlene Alves e a UEPB para a base
ricardista, depois de meses de entrevero.
A nomeação de Rangel Júnior, que também é do PCdoB,
para a reitoria da universidade não deve ser desconectada
desses movimentos que visam reunir novamente o antigo
bloco que deu expressiva vitória a Ricardo Coutinho em
2010 em Campina. Esses movimentos pretendem isolar as
pretensões de Veneziano Vital de unir a cidade – e o
campinismo – em torno de sua candidatura a governador.
Cássio Cunha Lima e Romero Rodrigues ajudam a recompor
as peças que os erros políticos cometidos por Ricardo
Coutinho nesses dois anos espalharam pelo tabuleiro.
E um novo estilo político, moldado pelo instinto de
sobrevivência, parece ganhar forma no início da segunda
187

metade do governo de Ricardo Coutinho, que tenta parecer


mais sereno e menos belicoso.
Não tenham dúvidas: 2014 já começou.
Caos em Campina Grande?
Quem assistiu a alguns programas de rádio ontem
talvez tenha ficado com a impressão de que Campina Grande
viveu um caos até a assunção salvadora de Romero
Rodrigues: lixo pelas ruas, servidores sem salário, dívidas,
num cenário grotesco que pretendia fazer crer que a gestão
de oito anos de Veneziano Vital foi um fracasso.
Candidatíssimo a governador pelo PMDB, Vital do Rego vai
purgar pelos próximos meses nas mãos (e na língua) do
governismo. Resta saber se a melhor estratégia para
fragilizar sua candidatura é demonizá-lo ou deixá-lo no
esquecimento.
188

O “REPUBLICANO”
RICARDO COUTINHO
Janeiro de 2013

O governador Ricardo Coutinho trouxe para o centro do


debate político Paraibano o que ele chama de
“republicanizar o Estado”, que é uma maneira de chamar a
atenção para o caráter privado e oligárquico que, segundo
ele, sempre teve a administração pública na Paraíba.
Republicanizar significaria impedir que o Estado represente
interesses de poucos, de grupos ou famílias, e passe a
expressar os interesses de todos, que ele se torne, enfim,
uma “coisa pública”. Esse discurso seduziu amplos
segmentos sociais e, apesar de tardio, significa que a Paraíba
finalmente passou a considerar e valorizar práticas
políticas, digamos, mais “modernas”.
Por isso, muita gente deve ter estranhado a declaração
que deu o governador em Campina Grande ao justificar a
verdadeira “força tarefa” organizada pelo Governo do
Estado para limpar as ruas da cidade: segundo RC, as
relações entre a Prefeitura de Campina Grande e o Palácio
da Redenção são agora marcadas por uma “conjunção de
vontades”. Como é difícil supor que o Estado, como poder,
tenha “vontade” e seja capaz de diferenciar as opções
partidárias de seus dirigentes, uma conjunção de vontades
só pode ser interpretada com uma conjunção de vontades
pessoais. Antes, Campina tinha um Prefeito que era
adversário político e não merecia, por isso, uma parceria em
benefício do “bem comum”? Agora, que é aliado, pode existir
essa “conjunção de vontades”?
189

Rodrigo Soares na berlinda


Nem bem assumiu o cargo de Secretário de Articulação
Política de João Pessoa, o presidente estadual do PT, Rodrigo
Soares, já enfrenta turbulências. E vem novamente da
Rainha da Borborema, depois da nomeação do petista
Marcio Canielo para a Secretaria de Planejamento de
Campina Grande. Segundo denunciou o também petista,
Basílio Carneiro, Canielo só foi nomeado depois que a
dirigente do PT campinense, Socorro Ramalho, tornou-se
impedida devido a uma condenação, pelo TJ, por
improbidade administrativa. Ramalho foi Secretária na
administração de Cozete Barbosa. O fato que envolve
Rodrigo Soares é que, segundo Basílio Carneiro, a indicação
foi articulada por Rodrigo Soares.
Ao saber da denúncia, o deputado Anísio Maia exigiu
explicações de Rodrigo Soares e pediu a imediata expulsão
de Marcio Canielo do PT, o que obrigou Soares a declarar
que a nomeação de um petista para um cargo em um
governo do PSDB foi um “ato pessoal”. “O PT e o PSDB tem
projetos antagônicos”, disse Rodrigo Soares, para justificar
sua desaprovação com a nomeação.
Marcio Canielo pertence ao grupo de Rodrigo Soares no
PT. A questão agora é saber até onde vai a devoção de
Canielo ao PT, ou se ela foi apenas um sonho de uma (curta)
noite de verão.
190

NONATO BANDEIRA: AGRA E A


VIABILIDADE DA TERCEIRA VIA NA
PARAÍBA
Janeiro de 2013

O jornalista e agora Vice-Prefeito de João Pessoa,


Nonato Bandeira, notabilizou-se como um grande
estrategista. Para quem acompanhou de perto o
crescimento político do ex-Vereador, ex-Deputado Estadual,
ex-Prefeito de João Pessoa e hoje Governador, Ricardo
Coutinho, sabe bem o papel central que teve Nonato na
ascensão ricardista. Para o também jornalista e professor da
UFPB, Derval Golzio, um dos primeiros membros do
chamado Coletivo Ricardo Coutinho, Bandeira foi decisivo
nessa trajetória, e não apenas para pensar as estratégias,
mas também como articulador, organizador das campanhas
e, em especial, na inserção de RC na imprensa, o que sempre
rendeu generosos espaços para o atual governador divulgar
as ações que marcaram sua carreira.
Para Golzio, RC sabe elaborar estratégias e articular,
mas nunca teve jogo de cintura e, muitas vezes, paciência,
para executá-las, coisa que Bandeira tem de sobra. Nonato
Bandeira também foi extremamente eficiente na
administração da imagem de RC, principalmente quando
este se tornou Prefeito, e um dos principais fiadores da
aproximação, e depois da aliança, de Coutinho com o ex-
Governador Cássio Cunha Lima, sem a qual é improvável
que RC estivesse no lugar onde se encontra hoje. Como todo
bom estrategista, Bandeira sabe ousar, medindo sempre os
riscos.
191

Homem forte do atual governo até os primeiros anos de


2012, Nonato Bandeira queria mais. Queria, principalmente,
deixar a sombra de RC. Mas, inconformado com a
ultracentralizarão do chefe e com a pouca disposição deste
para estimular novas lideranças no seio do seu grupo,
Bandeira partiu em faixa própria e desautorizado por RC
para uma candidatura a Prefeito que era um aparente
suicídio, pois ela o afastaria, como realmente aconteceu, do
governo e do governador. Mas foi a manutenção da
candidatura de Bandeira que serviu para abrir e preservar o
espaço, que se tornou uma fenda por meio da qual o então
Prefeito Luciano Agra, que desejava ser candidato à
reeleição, rompeu com o ricardismo e abriu caminho para a
aliança com o PT, que levou à vitória de Luciano Cartaxo, e
do próprio Bandeira, numa composição que, meses antes,
era considerada improvável. Visto pelo resultado, um lance
de mestre.
192

BANDEIRA JÁ OLHA PARA 2014


Fevereiro de 2013

Assim sendo, é bom prestar atenção nas opiniões de


Bandeira sobre o futuro político da Paraíba. No domingo à
noite, liguei para o Vice-Prefeito de João Pessoa para
diversas inquirições. Dessa conversa, nasceu esta coluna.
O primeiro ponto da estratégia de Bandeira se assenta
na análise da viabilidade de uma terceira via na Paraíba em
2014. Para ele, RC é candidato à reeleição e o PMDB, que
desde 1982 lança candidatos a governador, terá também um
candidato. Segundo Bandeira, as eleições de 2012
mostraram que essa polarização que move a política
Paraibana há muito parece estar se esgotando. Em João
Pessoa, nós tivemos quatro candidaturas em condições de
disputa. Em Campina, também, se considerarmos o peso
inicial de Guilherme Almeida.
O quadro político atual e a diversidade de candidatos a
cargos majoritários em vários outros partidos, mostram que
há espaço para mais uma articulação em condições de
disputar o Governo do Estado e uma vaga para o
Senado. Seriam forças emergentes, outras lideranças que
almejam mais espaço na vida política Paraibana, a exemplo
de Aguinaldo Ribeiro, do PP, Tarciso Marcelo, do PEN,
Welington Roberto, do PR, que são potenciais candidatos a
cargos majoritários e que terão dificuldade de encontrar
espaço nas articulações tradicionais, com as chapas
praticamente fechadas.
O segundo ponto da estratégia de Nonato repousa na
candidatura de Luciano Agra em 2014, “ou a governador ou
193

a senador”. A dupla opção pode deixar dúvidas sobre a


disposição de Agra de ser, por exemplo, candidato a
governador, mas o primeiro desafio é agregar aliados, o que
dificultaria se a chapa fosse formada já com essa definição.
Bandeira acha que Luciano Agra desempenhará importante
papel em 2014, assim como já teve em 2012 ao fazer um
movimento de aproximação com o PT que foi muito
importante para a vitória do outro Luciano, o Cartaxo.
Tendo deixado uma administração bem avaliada, o apelo da
candidatura de Agra ao governo ou ao Senado se torna
irresistível, agregada ao componente político mais
importante que foi a vitória de um aliado em João Pessoa, a
maior cidade da Paraíba.
Relação com o PT
Perguntei a Bandeira sobre o PT e uma possível filiação
de Luciano Agra ao partido. Ele disse que essa é, claro, uma
decisão que pertence ao grupo do ex-Prefeito, ao qual
pertence, mas que, qualquer decisão sobre o futuro
partidário de Agra só será decidida em setembro. Até lá,
haverá muito o que conversar. “O grupo vai avaliar todas as
possibilidades”.
Por fim, diante da pergunta se ele considerava o peso
do PT na administração pessoense desproporcional à força
do partido, Nonato justificou: “Deve ser uma engenharia
muito difícil acomodar todas as tendências internas do PT, e
parece ser um pressuposto importante que o partido
comece a administração unido”, e ressaltou, para não deixar
dúvidas que possam levar a mal-entendidos: “O PT indicou
grandes quadros, isso é o que importa”. E Agra, ficou
satisfeito porque suas indicações foram, majoritariamente,
“técnicos”? “Foi uma opção dele (Agra).”
194

2014: CÁSSIO CUNHA LIMA


Janeiro de 2013

Apontado como um dos principais responsáveis pela


vitória de RC para o governo estadual, em 2010, o Senador
Cássio será novamente peça-chave nas disputas de 2014.
Seja através de seu próprio prestígio, seja através da
elaboração estratégica, que deve ter como ponto de partida
o exercício de um certo controle sobre o comportamento
político irascível do governador, que nesses dois tem
afugentado importantes aliados.
A força de Cássio
Em política, é recomendável não subestimar as forças
de ninguém. Mas, é bom também não superestimar. Cunha
Lima não elege sozinho ninguém. Se assim fosse, ele teria
optado pelo apoio a Cícero Lucena, em 2010, seu aliado de
longas datas, mas preferiu aliar-se a um adversário, também
de longas datas. E a trajetória das últimas disputas na
Paraíba deixam os limites da liderança do atual Senador
tucano expostas. Mesmo quando ele próprio enfrentou as
disputas para governador, obteve vitórias apertadíssimas.
Em 2002, contra o pouco conhecido Roberto Paulino,
quando Cássio Cunha Lima estava no auge do seu prestígio
e de sua juventude. Em 2006, contra o ex-governador José
Maranhão, a vitória estreita foi atribuída pelo TRE e pelo
PSE ao uso da máquina estadual, tanto que seu mandato foi
cassado. Ou seja, Cássio tem força e prestigio político, mas
há um limite que esbarra em uma Paraíba dividida
politicamente, e nada indica que isso tenha mudado. E 2010
voltou a confirmar isso.
A candidatura de Cássio
195

Muito se especula sobre uma possível candidatura de


Cássio Cunha Lima ao governo, em 2010, expectativa que
não se sustenta juridicamente porque Cunha Lima hoje se
encontra com os direitos políticos suspensos. Não sou
jurista, mas venho repetindo isso por uma apreciação lógica
do problema: ora, o registro da candidatura do tucano foi
cassado em 2010 tanto pelo TRE quanto pelo TSE, e ele só
assumiu a vaga no Senado, para a qual foi eleito, por conta
da decisão o STF de não validar a Lei da Ficha Limpa para
eleição passada. Inelegível por oito anos, Cunha Lima só
poderá ser candidato em 2018.
Isso é um aspecto da questão. O outro é político. Se
Cunha Lima rompe com Ricardo Coutinho, isolando-o, esse
movimento dividiria o atual bloco cassista-ricardista,
enfraquecendo-o. O tucano sabe que, por enquanto, não
cabe uma terceira via na Paraíba. Ele aposta na manutenção
da aliança olhando para além de 2014. Além disso, Cássio
sabe também o poder de atração que tem um governador
candidato no exercício do cargo. Seria esse um movimento
muito arriscado e o Senador tucano não parece mais
disposto a aventuras.
196

2014: LUCIANO AGRA


Janeiro de 2013

Depois de 2012, Agra se tornou um personagem de


grande relevância na política Paraibana. Ex-Prefeito de João
Pessoa, era um ilustre desconhecido até assumir a
Secretaria de Planejamento da Capital durante a primeira
administração de Ricardo Coutinho (2005-2008). Antes,
Agra, que também é professor da UFPB, havia assumido
alguns cargos técnicos e atuado como Arquiteto, tanto em
Campina Grande como em João Pessoa. Aproximou-se de
Ricardo Coutinho ainda quando este era parlamentar,
provavelmente através da ex-Secretária de Saúde de João
Pessoa, Roseana Meira, com quem já foi casado.
A condição de “técnico” e de membro proeminente do
Coletivo RC rendeu-lhe a indicação para o cargo de Vice-
Prefeito na chapa de Ricardo Coutinho quando este disputou
a reeleição. Como o projeto de Coutinho era disputar o
Governo da Paraíba em 2010, e sua reeleição eram favas
contadas em 2008, aquela indicação representava, na
prática, a assunção de Agra ao cargo Prefeito de João Pessoa
quando Coutinho finalmente se afastasse para concorrer ao
governo, Em abril de 2010, Luciano Agra se tornou Prefeito
da maior cidade Paraibana.
O rompimento com RC
Quem olhasse para 2012 do “longínquo” final de 2010,
imediatamente após as eleições de governador, e tentasse
projetar o que aconteceria na sucessão de prefeito de João
Pessoa, jamais imaginaria o desfecho que ela teve depois da
acachapante vitória do Governador Ricardo Coutinho na
cidade. E tendo como protagonistas e responsáveis
197

principais seus ex-aliados mais próximos, entre eles, o


próprio Luciano Agra, o super-secretário de Comunicação
de RC, Nonato Bandeira, e a todo-poderosa Roseana Meira,
até então os nomes mais influentes do “ricardismo”, depois
do próprio RC. Coutinho provavelmente subestimou a força
que o cargo de prefeito dera a Agra. RC provavelmente temia
que a reeleição de Agra consolidasse sua liderança e o
fizesse um adversário à altura no grupo. Em caso de derrota
em 2014 de RC, Agra se tornaria o nome de proa do PSB, não
mais Coutinho.
Por isso, quando Luciano Agra foi para o cadafalso da
convenção do PSB, disputar com Estela Bezerra a indicação
da candidatura a Prefeito, o racha se estabeleceu de maneira
definitiva. Derrotado, como previsto, e tratado como
“traidor”, Luciano Agra anuncia em seguida sua decisão de
sair do PSB e prepara o lance que decidiria os destinos
daquela eleição, e que deixaria todos atônitos: a decisão de
apoiar o candidato do PT, Luciano Cartaxo, que até então
patinava nas pesquisas abaixo dos 10% e fazia um discurso
oposicionista.
A vitória em João Pessoa
Luciano Cartaxo herdou um imenso patrimônio político
ao receber o apoio de Luciano Agra. Sem ele, Cartaxo teria
de disputar o espaço oposicionista com outros dois fortes
candidatos (José Maranhão e Cícero Lucena), até então
líderes nas pesquisas. Como candidato de Agra, Cartaxo
ocupou o amplo espaço do anti-ricardismo, que Agra soube
cultivar, numa polarização cada vez mais acirrada com o
governador, polarização que RC legitimou ao aceitar
participar dela de bom grado através da imprensa.
De outro lado, o candidato do PT colheu os frutos
eleitorais da administração bem avaliada que Agra fazia.
198

Jovem, enfrentando a candidata de um governador


impopular, e dois adversários de oposição considerados
políticos “tradicionais”, Luciano Cartaxo caminhou para a
vitória, que acabou por conceder ao PT um novo status
político na Paraíba. E, por mais que muitos petistas resistam
em admitir, essa vitória se deve a uma combinação de
fatores, e o mais importante deles foi o apoio de Luciano
Agra.
Luciano Agra no PT?
O ex-Prefeito de João Pessoa se tornou um personagem
de grande relevância na política Paraibana e com grande
potencial eleitoral. E, por mais que se enxerguem muitas
possibilidades para Agra, não há como negar que a filiação
ao PT parece ser o caminho quase natural. Primeiro, porque,
com isso, ele consolida uma reaproximação iniciada em
2012. Depois, como membro do PT, a força de atração que
tem a Prefeitura de João Pessoa, associada a do Governo
Federal, é um fato inegável que, se não tem o mesmo peso
do governo estadual, é um contraponto importante. Além
disso, não se pode desconsiderar a radicalização política que
se anuncia na política nacional até 2014, o que, vendo o
perfil e a trajetória de Agra, o afastaria de agremiações mais
à direita e o colocaria no centro da disputa na Paraíba como
candidato a cargo majoritário filiado ao PT.
A grande incógnita, entretanto, se relaciona à
disposição do PT de enfrentar uma disputa para o governo,
quando a máxima prioridade do partido será a disputa
presidencial. Como já está consolidada a manutenção da
aliança nacional com o PMDB, não é difícil supor que muitas
negociações ocorrerão para acomodar os dois partidos
numa aliança estadual. É isso que explica o discurso atual do
PT – e de Nonato Bandeira – de lançar candidatura própria
199

em 2014, que é uma maneira de já posicionar o partido na


disputa de 2014. Se até o final do ano Agra não emplacar sua
candidatura ao governo, a tendência é que a aliança com o
PMDB se imponha. E é inegável que o sonho de consumo do
PMDB para 2014 é ter Luciano Agra numa chapa com
Veneziano Vital para o governo, numa aliança “geopolítica”
entre Campina e João Pessoa.
A questão é saber se o PT compartilha desse sonho. E
Agra também.
200

2014: VENEZIANO VITAL REGO


Janeiro de 2013

O ex-Prefeito de Campina Grande, Veneziano Vital do


Rego, terá três importantes trunfos pela frente para
viabilizar sua candidatura ao Governo da Paraíba: a
estrutura da poderosa máquina partidária do PMDB, sua
origem campinense, e o perfil dele próprio como candidato,
cuja capacidade de se comunicar com o eleitorado,
especialmente via TV, aliada à juventude, dois dos requisitos
mais importantes na política eleitoral na atualidade.
Os trunfos de Veneziano
Quanto ao primeiro aspecto, o PMDB é, ainda, o maior e
mais organizado partido da Paraíba. Em 2012, lançou
candidaturas em 102 municípios e elegeu 58 prefeitos, o que
representa mais de 25% de todos os prefeitos Paraibanos.
Sem esquecer que o PMDB tem diretório em quase todos os
municípios da Paraíba. Essa organização pode ser
insuficiente para ganhar uma eleição, mas é, sem dúvida, um
ponto de partida fundamental que nenhum outro partido de
oposição dispõe hoje no estado.
O segundo trunfo de Vital do Rego (ser ele originário de
Campina Grande) é, também, um dado de grande relevância.
Caso a candidatura de Veneziano Vital do Rego se
concretize, será a primeira vez, desde 1998, que o PMDB
terá um candidato em condições de vencer uma eleição na
cidade. É importante acompanhar como vai evoluir a
recuperação da imagem do Governador Ricardo Coutinho na
Rainha da Borborema. Isso determinará o tamanho da
vantagem eleitoral de Veneziano depois de fechadas as
urnas e o impacto dela no resultado final. As vantagens
201

auferidas por Cássio Cunha Lima, em 2002 e 2006 (mais de


70 mil votos), e por RC em 2010 (mais de 60 mil votos),
foram de tal monta que acabaram por decidir essas eleições.
O terceiro trunfo de Vital do Rego se relaciona ao seu
perfil de candidato. Jovem – ele terá apenas 44 anos em
2014, – Veneziano tem também grande capacidade
comunicativa, atributos vitais a qualquer candidato.
Aparecer bem na TV, passar confiança ao eleitor, seduzi-lo
através dos seus discursos, construir imagens, são
elementos decisivos de qualquer estratégia eleitoral.
Veneziano se encaixa naquilo que os marqueteiros chamam
de um “bom produto”, diferente, por exemplo, de José
Maranhão, que sempre teve um fraco desempenho diante
das câmeras, fato que, inquestionavelmente, ajudou a
derrota-lo seguidas vezes.
Os desafios de Veneziano até 2014
O primeiro desses desafios é enfrentar e superar o
esforço que é feito hoje pelo Prefeito de Campina Grande,
Romero Rodrigues, para desconstruir a imagem de
Veneziano Vital do Rego como bom administrador, esforço
cujos apoiadores do governador Ricardo Coutinho na
imprensa cuidam de potencializar, especialmente os últimos
dias da administração venezianista.
Verdadeiros ou não, pretende-se que os fatos
divulgados sobre possíveis erros administrativos (limpeza
urbana, atraso de salário dos servidores, dívidas),
divulgados nesse último mês, substituam aquilo que
Veneziano divulgou como conquistas dos oito anos de sua
administração em Campina Grande. Entretanto, é bom
lembrar, Cássio Cunha Lima usou do mesmo recurso depois
que assumiu o Governo da Paraíba em 2003 contra o
governo do seu antecessor, José Maranhão. Agindo assim,
202

Cunha Lima apenas potencializou a administração de


Maranhão na medida em que a sua própria pouco avançava
em termos de realizações. É bom também não esquecer que,
até o começo da campanha de 2014, o tempo será exíguo
para que Romero Rodrigues exiba as feições de sua própria
administração. O mais provável mesmo é que, parte das
inaugurações feitas por ele, tenha começado na gestão de
Vital do Rego.
As alianças e a montagem da chapa majoritária
Veneziano Vital do Rego tem como principal desafio
unir toda a oposição em torno de sua candidatura, o que
significa atrair os partidos que não compõem hoje a base de
apoio do governador Ricardo Coutinho, e que não será uma
tarefa muito fácil. As maiores dificuldades residem no PT e
no PP por conta das feridas abertas na última eleição para
prefeito de Campina Grande. Além disso, é importante
observar qual vai ser o comportamento do PT depois da
vitória em João Pessoa e seu projeto eleitoral pós-2014.
Talvez o caminho mais fácil seja Vital do Rego apostar
na reprodução na Paraíba da aliança nacional que apoiará a
reeleição da Presidenta Dilma Rousseff – ou, talvez, de Lula,
– aliança que certamente incluirá PT, PP, PR, PRB, partidos
que não compõem o arco de apoio ao Governo RC. Nesse
aspecto, foi um erro do Senador Vital do Rego Filho, irmão
de Veneziano, defender a inclusão na chapa peemedebista
do tucano Cícero Lucena. Vital do Rego Filho acredita que é
possível unir numa mesma chapa PSDB e PT na Paraíba?
Creio que esse discurso afugenta o PT e fortalece dentro do
partido aqueles que desejam o lançamento de uma
candidatura própria em 2014.
Por fim, manter a oposição unida na Paraíba significará
que o PMDB terá que restringir sua participação na chapa
203

majoritária. Nenhuma aliança mais ampla poderá ser feita


nas condições atuais com o partido ocupando duas das três
vagas, especialmente porque uma delas é a de Governador.
E como isso será administrado no interior do PMDB? José
Maranhão e Wilson Santiago estarão dispostos a renunciar
a suas postulações para que uma aliança mais ampla se
estabeleça na Paraíba?
O tabuleiro de 2014 está se armando
204

SECA, ONTEM E HOJE


Maio de 2013

A Assembleia Legislativa promoveu ontem um ato


político ao qual denominou de “SOS Seca” e reuniu,
principalmente, parlamentares. E de todas as espécies e
matizes. Muitos discursos foram proferidos e, como a seca
só tem culpado, todos foram unânimes em responsabilizar o
Governo Federal. Realizado numa segunda-feira na
litorânea João Pessoa para dar mais repercussão e, claro,
facilitar a presença da bancada parlamentar federal que vem
à Capital para pegar seus voos para Brasília, o evento serviu,
antes de tudo, para desresponsabilizar os políticos
convidados diante da catástrofe socioeconômica que a seca
produz com regularidade também cíclica.
Mais “obras” contra a seca?
O Senador Cássio Cunha Lima foi o mais enfático na
crítica à Presidenta Dilma Rousseff, acusando-a de
desconhecimento da realidade do Semiárido nordestino e
dos impactos da seca na economia da região. Do púlpito do
luxuoso auditório do Hotel Tambaú que, para quem não
sabe, não fica no Alto-Sertão, como bem notou o Padre Djacy
Brasileiro, e protegido do calor pelo potente ar-
condicionado, que ninguém é de ferro, Cunha Lima desceu a
lenha na falta de ação do Governo Federal. E cobrou “obras
estruturantes” para a Paraíba.
Ao escutar as palavras do, é bom lembrar, ex-
Governador Cássio Cunha Lima, lembrei-me do quão
recorrente é esse discurso em meio à elite política
nordestina. E tão velho quanto a própria seca. Postular por
“obras” como meio de enfrentamento das secas é algo que
205

sai da boca dos grupos oligárquicos há décadas, numa


enfadonha repetição que vem desde fins do século XIX. Ao
nos defrontarmos novamente com esse discurso político
simplificador, não é de todo inútil que perguntemos: será
mesmo que os problemas socioeconômicos decorrentes da
seca serão mesmo resolvidos com a construção de mais
“obras”?
A obsessão por “obras” no Nordeste desses grupos
oligárquicos foi (?) tão grande que o Governo Federal criou
em 1911 a autarquia federal que seria conhecida como
DNOCS (Departamento Nacional de Obras Contra as Secas)
e que, apesar de “nacional”, só teve atuação no Nordeste.
Através do DNOCS, nenhuma região brasileira recebeu
tantas construções de obras do que o Nordeste. Depois do
primeiro açude público, no Ceará, construído ainda no
Império, em 1886, mais de 200 outros grandes açudes – sem
contar barragens e estradas de rodagem – brotaram por
todo o Nordeste, que permitiram a região acumular, hoje, 37
bilhões de metros cúbicos de água. É água!
Ou seja, o Nordeste tem muita água acumulada e é a
região semiárida com maior capacidade hídrica do planeta.
Então, vem a incômoda pergunta: mesmo depois de tantas
“obras”, por que a cada nova seca, as velhas tragédias se
repetem?
O Nordeste não é a Califórnia
A resposta a essa questão eu busquei depois que ouvi a
entrevista do Deputado Estadual Trocoli Jr., concedida ao
programa de rádio Polêmica Paraíba, da Paraíba FM. O
deputado do PMDB, repercutindo o ato promovido pela
Assembleia Legislativa, ao tratar da seca, abordou de uma
maneira tal a questão que fez lembrar a velha
206

autocomiseração nordestina, que é mais presente nos


discursos políticos e no jornalismo, do que no meio do povo.
Tendo ao fundo os “hinos” de Luiz Gonzaga, tão
pródigos desse sentimento, o deputado também cobrou
ações estruturantes do Governo Federal, sem deixar de
lembrar uma passagem gonzaguiana de uma música,
apropriadamente chamada “Vozes da Seca”, e que enche a
boca de muita gente, principalmente quando o assunto é o
Bolsa Família: “Uma esmola para um homem que é são, ou
lhe mata de vergonha ou vicia o cidadão”. É bom não
esquecer o contexto em que, atualmente, esses versos são
usados:
“esmola” é o Bolsa Família, e “vício” é a
indisponibilidade do cidadão que participa do programa
para o trabalho.
Entretanto, o que mais me chamou a atenção na
entrevista do Deputado Estadual Troccoli Jr. foi quando ele
comparou a situação econômica da Califórnia com o
Nordeste. Enquanto parte daquele importante estado
americano é um deserto, ou seja, é uma região “árida”, o
Nordeste é “semiárido”. Mesmo assim, a Califórnia é o
terceiro estado mais rico dos Estados Unidos. O que há de
diferente entre uma realidade e outra? A construção de
“obras estruturantes”, como cobrou o deputado
peemedebista?
A comparação entre realidades históricas tão díspares
é sempre um exercício perigoso porque corremos o risco da
simplificação. Mas, eu não vou resistir e apresentar apenas
um aspecto, que pode ser considerado a base de todo o
desenvolvimento, não apenas da Califórnia, mas de todos os
EUA, e que é um dos grandes fatores a distinguir o
desenvolvimento americano do brasileiro. Enquanto que no
207

Brasil, 1,2% dos proprietários rurais detêm mais de 40% de


toda a terra agricultável, esses mesmos 1,2% de
proprietários nos Estados Unidos controlam apenas 11%
dessas terras. Ou seja, o que torna tão frágil a estrutura
socioeconômica do semiárido nordestino, que a faz
desorganizar-se toda vez em que uma seca ocorre, é a
concentração fundiária, associada a inexistência de políticas
agrícolas para a região.
Exigir “obras” é a melhor maneira de fugir do problema,
tanto aqui como em Brasília. E isso aproxima Cássio Cunha
Lima de Dilma Rousseff.
208

AGRA NO PEN
Junho de 2013

O anúncio bastante aguardado da decisão do ex-


prefeito de João Pessoa, Luciano Agra, de filiar-se ao Partido
Ecológico Nacional (PEN), que na Paraíba é dirigido pelo
Presidente da Assembleia Legislativa, Ricardo Marcelo,
compõe o segundo passo da trajetória de Agra rumo às
disputas de 2014.
O primeiro ele já deu, quando rompeu com o
governador Ricardo Coutinho, apoiou a candidatura de
Luciano Cartaxo, do PT, a Prefeitura de João Pessoa, no ano
passado, e foi o grande vitorioso daquelas eleições. Agra, até
tornar-se prefeito, era um desconhecido técnico em
planejamento urbano e, por essas qualidades, foi indicado
na chapa de reeleição do então prefeito da capital Paraibana,
Ricardo Coutinho. Ao assumir a prefeitura com a renúncia
de RC, em 2010, Agra não apenas se tornou conhecido, como
viu seu prestígio político aumentar de tal maneira que a
percepção de que o aprendiz havia superado o mestre
ganhou notoriedade, e o então prefeito adquiriu asas para
voar voos próprios. A provável conjunção de ciúmes,
egocentrismo e o medo que Agra deixasse a sombra de RC e
gestasse a sua própria para abrigar, no PSB, os muitos
carentes de uma convivência mais afetuosa e menos
subalterna, fez o atual governador cometer o desatino de
pedir, e ver exibida numa bandeja de prata, a cabeça do até
então fiel escudeiro.
Daí em diante, Agra foi outro Agra. Rebelou-se contra
quem parecia oprimi-lo psicologicamente – ele chegou a
declarar depois do racha com RC que estava, antes de tudo,
209

aliviado por não ter mais que conviver com Coutinho – e foi
para a luta com a principal e mais eficaz arma política: a de
ser um administrador bem avaliado e um político confiável.
Talvez porque Agra não encarne o modelo do que o povo
entende como político. Agra mostra uma aparente
ingenuidade e fala lenta e compassadamente, mas o povo
gosta. Agra usa roupas brancas, informais, com seu
indefectível chapéu panamá, que faz parece-lo uma figura
fora do lugar, mas o povo adora. Não foi por outro motivo
que, quem ousou combate-lo, tomou de volta uma
rebordosa. Foi o que RC fez, crente na sua infalibilidade
política e descrente da sua impopularidade. E os dois
rivalizaram pela imprensa em papéis opostos: Agra era o
Cristo pregado na cruz pelas ordens de Ricardo Coutinho,
que cumpriu bem o papel de Pilatos. E quanto mais eles se
atracavam verbalmente, mais Agra e seu candidato, Luciano
Cartaxo, tomavam conta da oposição a RC. No final, a
candidata do governador abocanhou 20% do eleitorado
pessoense, enquanto os candidatos da oposição juntos
somaram 80%, com Cartaxo na liderança folgada. Agra não
apenas havia vencido, como esmagara seu antigo líder. Por
isso, Agra será o grande nome da eleição em João Pessoa.
Para governador, para vice ou para o Senado, a eleição passa
por ele em João Pessoa. RC que se cuide.
Júlio
Morreu essa semana o principal pelemista do PT
Paraibano, Júlio Rafael. O que para muitos são defeitos na
política, Júlio tinha como principais características de sua
atuação política a sinceridade e a paixão. Como todos nós,
cometeu erros e acertos e foi fiel até o fim as suas duas
referências políticas: nacionalmente, o PT, o partido que
ajudou a fundar; na Paraíba, o cassismo, com quem andou
210

de mãos dadas desde o segundo turno da eleição de 1990.


Mas, Júlio foi muito mais do que isso, como intelectual, como
administrador e, especialmente, como um generoso ser
humano. O PT e a política Paraibana perdem, mas fica para
os seus amigos a maior perda.
211

CASSISMO REVIGORADO
Abril de 2013

A mudança no secretariado promovida pelo


governador Ricardo Coutinho na semana passada, seguida
de fatos que a sucederam, são um sintoma claro de que
Cássio Cunha Lima passa a ter uma influência no governo
estadual proporcional à importância que teve na eleição de
2010. Com a indicação, entre outras, de Harrinson Targino
para a Educação, por exemplo, uma Secretaria que sozinha
concentra ¼ do orçamento estadual, Ricardo Coutinho
atende tanto ao apetite cassista por mais espaço no governo,
quanto a busca de uma solução negociada para o conflito
com a UEPB. É certo que Targino, nem muito menos Cássio,
não aceitariam tal incumbência para dar seguimento a uma
pendenga que só cria desgaste para o governo. Com um
cassista na secretaria, Cunha Lima assume para si não
apenas a responsabilidade de superar o impasse, mas
também o compartilhamento de um possível desgaste.
Tanto que o que se viu em seguida ao anuncio foi um
Cássio Cunha Lima em plena vitalidade retórica, ao sair em
definitivo do autoexílio em que se encontrava desde o início
de 2011. Cássio falou muito na semana passada. Deu
entrevistas, polemizou e entrou no debate sobre a lei da
autonomia da UEPB com a autoridade de ter sido o seu
criador. E a favor da posição governo. Numa dessas
entrevistas, discordou, sem esquecer as amabilidades com
que sempre trata os aliados políticos, de um
questionamento feito pela reitora Marlene Alves, pivô do
confronto que opôs a comunidade da UEPB e o governo.
Disse que, mantida a interpretação da UEPB, chegará um
tempo que a universidade terá para si 100% do orçamento
212

estadual. Cássio deu a senha e um acordo deve ser


produzido em breve sobre a questão.
O próximo desafio a ser enfrentado por Cássio é ajudar
no impasse em que se encontra a base parlamentar
governista na Assembleia Legislativa, acuada pela
dificuldade de defender medidas impopulares,
especialmente as que atingem o funcionalismo. Cássio terá
que “domar” o estilo bonarpatista de Ricardo Coutinho –
esse será um capítulo da história política Paraibana que
merecerá estudos, – que, sem força política própria e agindo
no puro voluntarismo, acaba governando de crise em crise.
Mas essa talvez seja uma questão de sobrevivência para RC.
Se Cássio veio para ficar, resta ao governador se adaptar. E
acho que ele está cada vez mais propenso a isso.
Essa é uma mudança importante que certamente terá
reflexos no futuro das disputas políticas no estado. Acena
antes de tudo para a consolidação da aliança de Cunha Lima
com RC. Se for isso mesmo, temos uma injunção óbvia como
consequência: RC será o candidato de Cássio em 2014, numa
aliança eleitoral que começa desde já. Com o ex-governador
tucano inelegível, mas ainda influente o bastante, e um RC
encalacrado numa crise que impede o governo de produzir
frutos políticos, a alternativa que restou ao governador foi
compartilhar a administração com Cunha Lima. RC é cada
vez menos RC.
213

SAÚDE, PARAÍBA!
TERCEIRIZAR É A SOLUÇÃO?
Julho de 2013

O Índice de Desempenho do Sistema Único de Saúde


(IDSUS) foi criado em 2012 pelo Ministério da Saúde para
aferir o desempenho do Sistema Único de Saúde (SUS) em
indicadores de acesso e de efetividade dos serviços
ofertados. O IDSUS, entre outras coisas, permite que não
apenas os administradores tenham parâmetros para avaliar
seu próprio desempenho, como também permite que os
usuários tenham acesso às informações de como está a
saúde pública nas localidades onde vivem.
Paraíba tem a 24ª pior saúde do país
E o cidadão Paraibano que tiver interesse em conhecer
essas informações não terá razão alguma para elogiar o
desempenho da gestão da saúde pública Paraibana. No
último ranking elaborado e divulgado no ano passado, a
Paraíba ocupou o desonroso 24º lugar entre os 27 estados
brasileiros.
O resultado da avaliação dos serviços de saúde
oferecidos aos Paraibanos chegou a uma média 5,0, inferior
à média brasileira, que foi 5,47. É bom esclarecer que esse
ranking foi baseado nas informações levantadas no estado
entre os anos de 2008 e 2010. Mas, como não existe nada a
indicar uma mudança significativa na melhora da gestão da
saúde pública pelo atual governo, é lícito supor que a
situação permanece sem grandes alterações.
Terceirizar a saúde é a saída?
214

A grande “novidade” apresentada por RC nesse setor foi


a terceirização da administração da saúde pública da
Paraíba, que ainda se mantém fortemente questionada e
com resultados duvidosos. A primeira iniciativa foi a
transferência da gestão do Hospital de Traumas, o maior e
mais bem equipado hospital público do estado, para uma
Organização Social (OS), a Cruz Vermelha.
Nesse ponto, RC, um “socialista”, seguiu uma
inesperada cartilha: a do PSDB. As OS foram criadas em
1995 quando o governo do ex-Presidente Fernando
Henrique Cardoso começou a colocar em prática suas
intenções de reformar a administração pública brasileira,
transferindo atribuições até então exclusivas do Estado para
entes “não-estatais”, entre elas a saúde.
José Serra terceirizou 23 hospitais em São Paulo
Desde então, terceirizar hospitais virou prática
corriqueira nas administrações tucanas. Com José Serra no
governo de São Paulo, por exemplo. Segundo consta em um
verbete da Wikipédia que trata da administração do tucano
no governo paulista, “Em 2009, o governador José Serra
apresentou projeto de lei visando ampliar o modelo de
terceirização dos equipamentos públicos da saúde, que
permite a gestão dos hospitais estaduais por Organizações
Sociais da Saúde”. Sob Serra, 23 hospitais e todos os
laboratórios públicos de São Paulo foram terceirizados, e as
OSs receberam a maior fatia das verbas para o setor. O
resultado disso é que São Paulo, de longe o Estado mais rico
da federação, concentrando quase 40% do PIB brasileiro,
ocupa apenas o sétimo lugar no índice que mede a qualidade
da saúde pública no Brasil.
215

SENADO: O CAVALO SELADO PARA


LUCÉLIO CARTAXO
Julho de 2013

No próximo ano, os eleitores irão às urnas para, entre


outras coisas, eleger um candidato para a única vaga
disponível para o Senado. A escassez de grandes lideranças
políticas na Paraíba deixa essa disputa, desde já, em aberto.
Candidatos, por enquanto, só os situacionistas: o atual
Senador, Cícero Lucena, que já declarou que se submeterá à
decisão do PSDB, caso o partido decida pelo apoio ao atual
governador, e o maleável Vice-Governador Rômulo Gouveia,
que saiu do PSDB para ter um partido para chamar de “seu”,
o PSD.
Cícero e Rômulo
Os dois, como se sabe, não são lá essas coisas,
eleitoralmente falando. Cícero Lucena será perseguido
eternamente pelo processo da “Confraria” e pelas horas que
passou hospedado na sede da Polícia Federal, em João
Pessoa, por conta de irregularidades constatadas em sua
administração na Prefeitura Municipal de João Pessoa.
Candidato a prefeito na última eleição, Lucena conseguiu
20% dos votos no primeiro turno e 31% no segundo. O
eleito, Luciano Cartaxo, conquistou quase 70% dos votos.
Foi um passeio.
Já Rômulo Gouveia, o Vice-Governador, é mais
conhecido mais pela simpatia do que pela consistência de
suas ideias. Nas duas vezes em que foi candidato a Prefeito
de Campina Grande, foi derrotado por Veneziano Vital do
Rego, mesmo contando com o apoio de Cássio Cunha Lima
216

naquela que fora, até então, sua fortaleza inexpugnável. E


nas duas ocasiões, Cássio estava sentado na cadeira de
governador, o que dá contornos vexatórios às duas derrotas.
Gouveia, caso consiga viabilizar sua candidatura, ainda tem
um problema político: caso eleito, uma única cidade do
estado, Campina Grande, contará com todas as três vagas
Paraibanas no Senado, já que os outros dois senadores que
continuarão no Congresso, Cássio Cunha Lima e Vital do
Rego Filho, são campinenses, conformando um grave
desequilíbrio, exatamente na casa que representa o poder
federativo.
Wilson e Aguinaldo
Por isso, não faltam candidatos ao Senado pelos
partidos de oposição. Ontem, a deputada estadual do PP,
Daniela Ribeiro, em entrevista concedida à repórter da CBN,
Larissa Pereira, anunciou a disposição de Wilson Santiago,
que saiu do PMDB para o PTB, de ser candidato ao Senado
no bloco formado pelo PP-PT-PTB. Disse também que o
nome do ministro Aguinaldo Ribeiro, seu irmão, também
estava disponível para compor a chapa majoritária. A
declaração de Daniela Ribeiro já reflete a preocupação com
o movimento do PMDB de aproximação com Luciano Agra e
com o PT, o que, caso se consolide, tornará uma miragem a
ideia de uma terceira via na Paraíba.
Lucélio Cartaxo
Um dos nomes que ganharam mais evidência no
interior do PT, e é hoje bastante lembrado para compor
qualquer chapa majoritária, é o de Lucélio Cartaxo, irmão
gêmeo do Prefeito de João Pessoa. Lucélio ocupa atualmente
o cargo de Superintende da CBTU e é mais conhecido por ter
uma aparência quase idêntica a do irmão, Luciano. Mas,
assim como o Prefeito, Lucélio, claro, carrega um atributo
217

muito valorizado hoje nos políticos: a juventude, fato que


ajudou muito na vitória do outro Cartaxo na eleição para
prefeito de João Pessoa.
Lucélio Cartaxo, que ensaia hoje uma candidatura a
deputado federal, talvez não tenha percebido o vácuo
eleitoral que representará, em 2014, a ausência de
candidatos que sejam capazes de preencher essa imensa
sensação de rejeição a tudo que lembre a velha política, que
esperneia a todo custo para se manter viva. Cícero Lucena,
Rômulo Gouveia, Wilson Santiago, Aguinaldo Ribeiro,
potenciais candidatos ao Senado, são reminiscências desse
passado que o povo furioso nas ruas quis, e continua
querendo, superar. E esse fenômeno será mais claramente
verificado nas disputas majoritárias, já que o povo,
erroneamente, continua a dar mais importância a estas do
que às eleições parlamentares.
Assim, se for mesmo mantida a redução da bancada
federal, uma disputa majoritária, que deve ser polarizada
entre os candidatos que representarão as principais
coligações, o Senado por até ser que seja um objetivo mais
fácil de ser alcançado do que uma eleição para a Câmara,
especialmente para uma candidatura que se mostre capaz
de representar esse desejo de mudança na política, que já se
manifestou em 2010, atropelando José Maranhão, e que em
2013, como dissemos, se manifestou furiosamente nas ruas.
218

CENÁRIOS DE 2014:
A CANDIDATURA DE CÁSSIO
Novembro de 2013

Cássio acena para a oposição. Ou será para o governo?


A opinião “geral” da política Paraibana atualmente é
considerar a aliança entre Ricardo Coutinho e Cássio Cunha
Lima como um fato consumado desde que o senador tucano
oferecer sua presença “simbólica” no aniversário do
Governador.
Alguns – os de sempre – suspiraram aliviados e
soltaram foguetões, temendo um racha que os obrigaria a
optar antes do tempo por um dos lados; outros começam a
perder a ilusão, que cultivam há quase três anos, de ver o
racha Cássio-RC finalmente anunciado.
A verdade é que tudo continua como dantes no quartel
de Abrantes. Cássio Cunha Lima continua senhor do seu
próprio tempo e todos os interessados em ver finalmente
um desfecho para essa novela, movida a boatos e
interpretações diversas sobre qualquer detalhe no
comportamento do tucano em relação ao governador, vão
ter de esperar mais um pouco.
Quem tem o poder de decidir o destino de uma eleição
– e de um governador – não pode ter pressa.
Com essa postagem, inauguramos uma série de artigos
com os quais pretendemos analisar os cenários possíveis
para as próximas eleições na Paraíba. Comecemos com a
candidatura de Cássio Cunha Lima
Um candidato nas mãos da Justiça
219

Em recente participação no programa comandado pelo


jornalista Luiz Torres, o Conexão Direta, da TV Arapuã, fui
impelido a responder com um sim ou não se acreditava que
Cássio seria candidato. Fui obrigado a responder “depende”,
para em seguida completar: “se ela (a candidatura cassista)
for viável juridicamente, Cássio será candidato”.
Como eu expliquei ao empresário João Gregório assim
que o programa terminou, que riu de minha posição
murista, não se tratava de me colocar entre uma das duas
torcidas Paraibanas – porque não seria nada mais do que
isso, – mas de saber se o senador pode ou não candidato.
Porque, se puder, amigo – como diria o governador, –
nada impedirá Cássio não entrar nessa disputa. Por vários
motivos. Um deles, é que Cássio pode arriscar porque é
Senador e não perderia o mandato em caso de derrota.
Um outro, é que ele atenderia à necessidade da direção
nacional do PSDB de lançar candidato a governador fortes
nos estados para fortalecer o palanque do presidenciável do
partido, Aécio Neves, de quem Cunha Lima é amigo do peito.
Poderosos argumentos políticos não faltam para
justificar a candidatura cassista. Talvez o principal deles seja
essa posição de “queridinho” da Paraíba que o ex-
governador tem hoje, namorado até pela oposição, que
quase o paparica na esperança de um rompimento que se
anuncia desde a posse do atual governador.
Desde o início, Cássio demostrou saber como ninguém
manusear a dubiedade de suas palavras e de suas ações
quando o assunto era RC. Ele nunca foi por inteiro nem
governo nem oposição, mas foi tratado como tal por ambos
os lados.
220

E, paradoxalmente, Cássio acabou se tornando uma


espécie de tábua de salvação tanto para o eleitor anti-
ricardista quanto para os governistas, dentro e fora do
governo. Com Cássio, RC aumenta muito suas expectativas
de vitória, o que é fator decisivo para a conquista de apoios.
Sem Cássio, RC corre o risco de ser abandonado e
minguar no isolamento político diante da possibilidade da
derrota iminente, o que é reforçado a cada dia por conta da
capacidade desagregadora que demonstrou o governador
ao longo dos três últimos anos, que imaginava que a receita
com a qual ele governou João Pessoa era a mesma com que
ele governa a Paraíba hoje. Eu tenho dúvidas se ele
descobriu que o buraco é mais embaixo.
Sem o apoio de Cássio, seria imprevisível o destino de
RC no governo e provavelmente a ajuda de Cássio foi
decisiva em vários momentos, não apenas na Assembleia –
a mudança repentina dos votos de conselheiros familiares
nomeados por Cássio, durante o julgamento das contas de
RC no TCE, por exemplo, deve ser um dos capítulos mais
eletrizantes dessa história, que certamente nada tem de
republicana.
Mesmo assim, e apesar dos nomes que nomeou nos
primeiro, segundo e terceiro escalões, Cássio, como bom
tucano que é, nunca foi um defensor enfático das ações do
atual governador, nem tampouco as criticou publicamente.
Fez oposição através de interlocutores, mandando recados
que a imprensa julgou sempre autorizados a falar em seu
nome.
Quando lhe interessava, e o momento provavelmente
exigia, Cunha Lima fez criticas veladas através do Twitter ou
em entrevistas, que sempre causaram rebuliços na seara
governista, mas nunca tiveram desdobramentos políticos
221

mais concretos, a não ser os que não podem ser revelados.


E, nesse caso, nada mais concreto que a manutenção dos
cargos no governo por parte dos aliados cassistas para
demonstrar de que lado Cássio permanecia.
Enfim, o que se pode dizer com um certo grau de
certeza, é que a relação Cássio-RC foi e continua sendo uma
relação tensa, entre duas figuras de estilos – para o bem e
para o mau – muito diferentes, mas que continuam a
guardar em comum pelo menos duas coisas: os adversários
e o compartilhamento do poder.
222

CENÁRIOS DE 2014: "BLOCÃO"


PRECISA DE CANDIDATO PARA
SE VIABILIZAR
Novembro de 2013

Há muito se escuta falar na Paraíba numa alternativa à


tradicional polarização eleitoral entre grupos políticos que,
a rigor, é tão velha quanto a própria República – alguns dirão
que isso remonta ao Império – no estado, mas pouco se
efetivou em termo práticos, a não ser pelas iniciativas
fracassadas do PT que, do início da década de 1980 até o
início do ano 2000, lançou candidatos que não se
viabilizaram eleitoralmente.
Na eleição de 1990, o então governador Tarcísio Burity
rompeu com o PMDB e lançou um candidato, João Agripino
Maia Filho, que sucumbiu diante da polarização real que
dominou as disputas daquele ano entre Ronaldo Cunha Lima
e Wilson Braga.
Desde então, nenhuma candidatura fora dos blocos que
tradicionalmente aglutinaram os principais grupos políticos
do estado se viabilizou.
Em 2010, quando se imaginava que, finalmente, havia
amadurecido a oportunidade da construção de um bloco
alternativo de forças políticas e sociais no estado, articulado
durante as administrações de Ricardo Coutinho na
Prefeitura de João Pessoa, eis que o ex-petista abandona a
ideia de uma terceira via e resolve manter a velha
polarização aliando-se ao cassismo para disputar as eleições
e tornar-se Governador da Paraíba.
223

Espaços vazios
A vitória em 2010, entretanto, custou a RC a perda da
liderança desse bloco de forças alternativas.
E, como em política não há espaço vazio, não custou
muito que para ele fosse ocupado pelo PT, em aliança com o
PP e PSC, que disputou e venceu com Luciano Cartaxo as
eleições para a Prefeitura de João Pessoa.
Ao lado do ex-prefeito Luciano Agra, Luciano Cartaxo
encarnou com competência não apenas o sentimento
antiricardista, mas soube falar a esse eleitorado desejoso da
prometida mudança política que, um dia, ele enxergou em
RC.
Foi assim que Cartaxo se viabilizou com alternativa às
forças tradicionais, inclusive o PSB do governador, e se
elegeu Prefeito da maior cidade do estado.
Fato que demonstrou que existe um imenso espaço a
ser ocupado de um eleitorado que continua órfão de
lideranças que saibam cativá-lo.
Por isso, engana-se quem acha que foi apenas o apoio
de Cássio Cunha Lima quem “deu” a vitória a Ricardo
Coutinho em 2010.
Essa vitória foi resultado de uma combinação de
fatores, mas talvez o mais relevante deles tenha sido o
desgaste da liderança de José Maranhão, num fenômeno que
também se verificou em outros estados no Nordeste, e
voltou a se repetir em 2012 na capital.
Quem tiver o cuidado de olhar não apenas para a
imagem, mas para a origem social da maioria dos
governadores nordestinos, hoje, terá uma ideia aproximada
de um fenômeno eleitoral cujas bases se assentam nas
224

mudanças sociais que o Nordeste, em especial, viveu nas


últimas décadas, fenômeno que foi acelerado depois da
ascensão do “lulismo”.
Os resultados de 2010 e 2012 podem ser lidos de várias
maneiras, mas eu prefiro achar que se tratou de uma reação
do eleitorado Paraibano, especialmente em João Pessoa,
mas não só nela, a essa enfadonha disputa, que se repetia a
cada eleição, entre grupos políticos que teimaram em não se
renovar.
Falta ainda ao “blocão” um candidato
Por isso, se o PT e os partidos aliados conseguiram com
êxito ocupar esse espaço vazio deixado em João Pessoa pelo
esvaziamento da liderança de RC, ainda não é possível
vislumbrar um movimento semelhante para as eleições do
próximo ano.
Mesmo mantendo a unidade, os partidos que se
aglutinam no chamado “blocão” (PT, PP e PSC) carecem
ainda do cimento que dá liga a qualquer projeto eleitoral,
que é ter um candidato.
Sem contar com a possibilidade da candidatura de sua
maior estrela, o prefeito Luciano Cartaxo, que apenas inicia
sua gestão à frente da PMJP, o “blocão” patina sem oferecer
um nome sequer para a montagem da chapa majoritária, e
vê a velha polarização se consolidar a cada dia.
O que não aconteceu, diga-se de passagem, única e
exclusivamente por conta da dúvida a respeito da
candidatura de Cássio Cunha Lima.
Os outros possíveis nomes do bloco (o Ministro
Aguinaldo Ribeiro e o Deputado Federal Leonardo Gadelha)
parecem já ter feito a opção por suas reeleições, restando o
225

nome da Deputada Estadual Daniela Ribeiro, que não se


mostrou ainda capaz de despertar interesse no eleitorado.
Ou seja, ou o “blocão” oferece um nome com peso
eleitoral suficiente para disputar o governo ou não será
levado a sério em 2014, justificando o lançamento de uma
candidatura apenas para facilitar que a eleição vá para o
segundo turno, o que, convenhamos, é muito pouco para um
bloco de partidos que conta hoje com um Ministro e o
Prefeito da maior cidade da Paraíba.
A sombra do PMDB
A indefinição é tanta que até mesmo o PT, o maior
entusiasta dessa articulação, parece já observar com
desconfiança sua viabilidade.
Tendo como prioridades a reeleição de Dilma Rousseff
e a de um dos seus quadros para a vaga do Senado, passou o
tempo em que o PT entrava nessas disputas apenas para
marcar posição.
Especialmente depois da conquista da PMJP, que
projetou o partido para voos mais altos no estado. Por isso,
tende a desestimular disputas de ordem paroquial, como a
que opõe hoje Aguinaldo Ribeiro e Veneziano Vital.
Exatamente porque, sendo o PMDB um aliado nacional
e único partido que até agora declarou apoio à reeleição de
Rousseff, ou o “blocão” se viabiliza eleitoralmente ou não
haverá justificativa para evitar o apoio a Veneziano Vital no
primeiro turno.
Enfim, o “blocão” precisa de uma definição urgente,
oferecendo a candidatura de Aguinaldo Ribeiro ou a de
Leonardo Gadelha.
226

Sem isso, o “blocão” tende a não se viabilizar como


alternativa real em 2014. Esperar por 2018 talvez acabe
sendo mesmo a melhor opção.
227

2014
228

QUANDO FINALMENTE CÁSSIO VAI


ANUNCIAR O GOLPE FINAL?
Janeiro de 2014

Em política, todo mundo sabe, as alianças são


fundamentais para conquistar o poder e governar.
Em 2010, não foi segredo para ninguém o acordo de
conveniências que determinou a junção de dois adversários
políticos (Ricardo Coutinho e Cássio Cunha Lima), que então
tinham um único objetivo comum: derrotar o PMDB de José
Maranhão.
As promessas de vantagens oferecidas a Coutinho não
foram poucas: a conquista do governo e todo o poder que
isso representa.
Pelo lado de Cássio, não se tratava apenas de vingança,
mas de sobrevivência. Cunha Lima sabia que, caso o grupo
liderado por José Maranhão se mantivesse unido, ele teria
grandes chances de enfrentar na disputa para o Senado duas
jovens lideranças em ascensão (Ricardo Coutinho e
Veneziano Vital), que poderiam derrotá-lo e jogá-lo no
ostracismo, mesmo que temporário.
O futuro não era em nada alvissareiro para Cássio
Cunha Lima depois de 2007: prestes a ser cassado, com o
principal adversário político às portas do poder e na mira de
duas lideranças da nova geração a ameaçar-lhe a vitoriosa
trajetória, só lhe restava dividir a oposição atraindo quem
ele poderia atrair: Ricardo Coutinho, cuja ambição
removeria, como de fato removeu – qualquer possível
veleidade política ou ideológica. Cássio jogou-lhe a
irresistível isca e RC abocanhou-a com gosto.
229

Todos sabiam, contudo – inclusive o próprio Ricardo, –


que aquela era uma aliança sem futuro, que não resistiria a
mais uma eleição. Cássio se serviu, e muito, dela: sem a
aliança com RC em 2010 ele se elegeria Senador? Teria um
palanque forte o bastante para confrontar e derrotar José
Maranhão? Como ele enfrentaria, em caso de derrota, a
hegemonia do PMDB, que seria avassaladora?
Por isso, a vitória de Coutinho serviu tanto a estratégia
de longo prazo de Cássio do que a de RC, que viu apenas as
vantagens imediatas – e que vantagens! – de um acordo de
conveniências. E isso pode ser observado pelos resultados:
enquanto Cássio recuperou o prestígio com o discurso que o
fazia parecer um Cristo pregado na cruz pela perseguição
implacável do maranhismo, RC tinha que se justificar
perante seu eleitorado.
Menos de dois anos depois da vitória vieram os
primeiros recados: ao mesmo tempo em que Cássio
celebrava a reconquista de Campina, sua fortaleza, Coutinho
chorava a humilhante derrota sofrida em João Pessoa.
Enquanto Cássio saboreava à distância a doce vida do
Senado, RC penava para cumprir os compromissos das
armadilhas que Cunha Lima preparara para José Maranhão,
mas que sobrara para ele.
E RC, mais realista que o rei, pagou para ver e amealhou
inimigos que ele nunca sonhara em ter nos distantes
primeiros anos de atuação política. Hoje, Cássio é
paparicado aonde chega. Já RC... Enfim, Cássio jogou com
brilhantismo e, sempre agregador, acabou se tornando sem
muito esforço o oposto do que representava o estilo
centralizador e desagregador de Ricardo Coutinho. Só que
está mais do que na hora de Cássio anunciar seu golpe final:
a candidatura ao governo. Essa história de que vai consultar
230

o partido tem o objetivo apenas de ganhar tempo e


aumentar o suspense.

Chegou a hora de Cássio deixar de brincar, levar a sério


a Paraíba e parar de vez com essa brincadeira de esconde-
esconde com o eleitor, onde uma hora ele aparece no
governo, em outra na oposição. Não se discute aqui a
legitimidade da candidatura do senador tucano, que
pertence a outro partido distinto do PSB do governador, é
uma liderança com luz (muita luz) própria e possui um
projeto nacional com o qual tem o dever partidário de
contribuir.
A questão é outra, e vamos situá-la no seu devido lugar.
É preciso que se estabeleçam limites éticos quando se trata
de conveniências políticas. O senador não pode manipular
as expectativas do eleitorado, como faz hoje, deixando em
aberto uma questão que nem de longe pode ser considerada
menor: a de que o eleitor ainda não sabe se Cássio é de
situação ou de oposição.
O governador, por seu lado, terá dificuldades de cobrar
de Cunha Lima lealdade a seu projeto político já que, nesse
ponto, o tucano segue rigorosamente o roteiro delineado
por Eduardo Campos, o candidato a presidente do PSB, que
por quase 11 anos se beneficiou do apoio de Lula e Dilma e,
no finalzinho do governo, resolveu se jogar nos braços da
oposição.
231

RICARDO COUTINHO E OS PERIGOS


DA “COZETIZAÇÃO”
Janeiro de 2014

Um neologismo foi criado em 2009 para definir o futuro


do então Prefeito de João Pessoa, Ricardo Coutinho, em caso
de uma aliança com Cássio Cunha Lima: “cozetização”. O
termo era uma referência pouco sutil àqueles que, em
ascensão política, preferiram romper com seus aliados
tradicionais para se aninhar nos braços de antigos
adversários.
Cozete, ascensão e queda
Cozete Barbosa foi uma das mais destacadas líderes da
oposição campinense. Foi. Já na primeira eleição de que
participou como candidata a Vereadora, em 1992, Cozete foi
a terceira mais bem votada da cidade. Entretanto, Barbosa
só conseguiria vaga no parlamento municipal na eleição
seguinte, em 1996, quando o PT finalmente conseguiu
atingir o quociente eleitoral para ser representado na
Câmara de Vereadores campinense.
Naquela eleição, a então petista foi a vice-campeã de
votos, só perdendo para o atual Vice-Governador da Paraíba,
Rômulo Gouveia, e por uma diferença de 158 votos ou 0,9%.
Com o prestígio em alta, na eleição seguinte, a de 1998,
Cozete Barbosa foi lançada pelo PT ao Senado, quando
obteve 19,75% dos votos, ficando na terceira posição, atrás
de Ney Suassuna e Tarcísio Burity.
Entretanto, o resultado mais importante foi o obtido em
Campina Grande, quando a candidata petista foi a mais
votada com 42,54% dos votos dos campinenses!
232

Quando Cozete começava a incomodar a hegemonia do


cassismo na cidade, sua ascensão foi interrompida. Na
eleição seguinte, Cássio Cunha Lima, rompido desde 1998
com José Maranhão no PMDB, inicia uma aproximação com
o PT, num namoro que prometia casamento quando
chegasse a hora de Cássio abandonar o barco peemedebista.
Os petistas acreditaram nas promessas, entre elas, a de
apoio a Lula em 2002 e, em especial, na mais palpável de
todas: assumir os destinos de Campina Grande quando
Cássio, reeleito, renunciasse ao mandato para se candidatar
ao Governo da Paraíba na eleição seguinte.
Foi assim que Cozete Barbosa, cuja trajetória até então
fora marcada pela oposição aos Cunha Lima em Campina
Grande, deixou de lado as promessas do futuro, preferiu o
atalho que lhe foi oferecido para conquistar a Prefeitura
campinense e aceitou ser vice na chapa do candidato à
reeleição de Cássio Cunha Lima.
O final dessa história todo mundo conhece. Cássio
preferiu as largas asas dos tucanos em 2002, deixando o PT
a ver navios, e Cozete Barbosa se viu numa saia-justa. Já no
primeiro teste de fogo como prefeita petista, ela decidiu
votar para governador no tucano, mesmo contra a
orientação partidária, esperando (em vão) pela retribuição
cassista à sua reeleição. Quando chegou o momento, Cássio
optou por Rômulo Gouveia e Cozete Barbosa amargou um
terceiro lugar na disputa para Prefeitura de Campina
Grande.
Cozete dançou com Cássio...
Antes, num último e fatal ato de desforra, a petista
resolveu apoiar Veneziano Vital no segundo turno da eleição
campinense, e acabou decidindo a eleição (a diferença final
não chegou aos 800 votos) em favor do candidato do PMDB,
233

que herdou – vejam só! – a liderança da oposição que fora


um dia de Cozete Barbosa. Hoje, a ex-prefeita campinense
vive no completo isolamento e ostracismo político.
Modo RC de governar em questão
Ricardo Coutinho corre o mesmo risco? Tudo
dependerá do resultado da disputa que se aproxima. 2014
será uma eleição que, entre outras coisas, decidirá se o atual
Governador da Paraíba, Ricardo Coutinho, terá renovada a
chance de continuar governando a Paraíba, ou se perecerá
numa derrota que pode leva-lo a abreviar sua fulgurante
carreira política.
Em caso de vitória, o modo ricardista de governar
receberá mais do que o aval, a legitimidade do povo, dando
mais uma vez razão ao senhor já cinquentão que habita hoje
a Granja Santana. O modo RC de governar – e tudo que isso
implica para aliados e adversários – será, então,
aprofundado.
Em caso de derrota, o futuro não se mostrará tão cheio
de promessas para RC como acredita ele, mesmo que sem a
dureza quase espartana dos primeiros anos quando
ingressou na política.
Especialmente, depois dos últimos doze em que
governou João Pessoa e a Paraíba. E, como a reafirmar a
conhecida frase de Karl Marx segundo a qual a história só se
repete duas vezes, “a primeira vez como tragédia, a segunda
como farsa”, Ricardo Coutinho tem grandes chances de
seguir o destino de Cozete Barbosa, também como ele, ex-
petista.
Em caso de derrota, quais dos atuais auxiliares mais
próximos de RC continuarão a segui-lo quando a solidão,
agora da falta de poder, se apresentar com toda a sua força?
234

Do antigo “Coletivo”, dos dedicados militantes da causa


pessoal de RC dos primeiros e difíceis anos, poucos ou quase
nenhum restou para lembrar que o governador é, hoje,
resultado da soma de todos aqueles esforços.
Derval Golzio, Luciano Agra, Roseana Meira, Alexandre
Urquiza, Nonato Bandeira, entre outros, foram sendo
tratados com adversários até não restar-lhes outra
alternativa a não ser o rompimento. Foi assim que, no auge
do seu poder, RC perdeu não apenas as antigas companhias.
Muito por conta delas – e isso certamente importou mais
para RC, – Coutinho perdeu João Pessoa para o PT, num
eloquente recado dado pelo povo sobre o comportamento
de Coutinho no governo.
A beligerância foi a marca principal da gestão política
da administração Ricardo Coutinho.
E os aliados que o governador mantem, hoje, são, em
grande parte, aliados do governo. Eles se manterão assim
até quando a expectativa de poder for maior do que o
desconforto do governismo. Desapareceu a militância das
paixões que só a esperança desperta. Estas deram lugar à
frieza de um governador que se acredita portador de um
projeto de poder que é só dele, já que ninguém é bom o
bastante para reivindicar compartilhá-lo.
Por isso, soa estranho RC falar hoje em lealdade e cobrá-
la, por exemplo, de Cássio Cunha Lima, que nunca se sentiu
representado nas ações de governo e criticou muitas delas.
E, paradoxalmente, RC continua a depender de Cássio. Sem
o apoio deste, sobrarão mais dúvidas do que certezas a
respeito do destino do atual governador, que deve ter
arrepios ao pensar no rompimento com o senador tucano. E
no estrago que ele provocará.
235

É nessas horas que o fantasma de Cozete Barbosa deve


aparecer para assombrá-lo.

CANDIDATURA DE CÁSSIO IMPÕE


UNIDADE PMDB-PT NA PARAÍBA
Fevereiro de 2014

Um dos argumentos mais utilizados por petistas de alta


patente contra a coligação com o PMDB, apesar dos dois
partidos estarem unidos no plano nacional, era o alto risco
de uma eleição com apenas duas candidaturas, o que
aumentava as chances de vitória de RC já no primeiro turno.
O lançamento da candidatura própria do partido ao
governo do estado, tinha, portanto, uma justificativa
estratégica, além de reafirmar o bordão inaugurado em
2012 (“protagonismo petista”), que o PT levou à vitória em
João Pessoa.
Pois bem, o já previsível anúncio da candidatura do
Senador Cássio Cunha Lima imporá uma redefinição das
estratégias eleitorais para todos os partidos, inclusive e
principalmente, para o PT. Se já era discutível a
possibilidade de uma terceira via na política Paraibana,
imagine agora uma quarta via, que é o espaço que sobrará
para o PT diante das candidaturas de Ricardo Coutinho,
Veneziano Vital e Cássio Cunha Lima.
Com o agravante de que a candidatura de Nadja Palitot
ainda é só uma promessa, carecendo ainda de consistência
eleitoral. E, se considerarmos que 2014 é um o ano de Copa
do Mundo no Brasil, que espremerá o tempo de campanha
entre meados de julho a início de outubro, portanto, a pouco
mais de dois meses, o desafio petista de empinar a
236

candidatura de Nadja Palitot é inglório. Ou alguém acha que


o povo se preocupará com eleição antes que a Copa termine?
Eleição de Dilma é mesmo prioridade para o PT?
Num quadro com quatro candidaturas, duas de
oposição e duas em apoio ao projeto nacional do PT, não é
desconsiderável o risco de um segundo turno entre dois
adversários de Dilma na Paraíba.
E, mesmo que o PT tenha alcançado um novo status
político depois da conquista da prefeitura de João Pessoa,
não parece provável que sua candidata encontre espaço
para crescer e se mostrar viável.
Portanto, o quadro eleitoral da Paraíba é muito distinto
de outros estados onde existe o confronto entre
peemedebistas e petistas, como é o caso do Rio de Janeiro e
Paraná, onde o PT tem candidaturas eleitoralmente viáveis
na disputa. No caso do Rio, Lindberg Farias está à frente de
Antônio Pezão, do PMDB.
No caso da Paraíba, manter uma candidatura que ainda
não mostrou viabilidade apenas ajuda a acirrar
desnecessariamente os ânimos de uma aliança nacional que
anda em crise. E num momento-chave.
Além desse inconveniente atual, é preciso considerar a
situação política que pode se gestar no futuro.
Em razão do fraco desempenho da candidata do PT, não
vem a ser uma consideração despropositada afirmarmos
que, hoje, temos três candidatos com chances de vitória na
disputa estadual, e que disputarão as duas vagas no segundo
turno.
Um desses candidatos, Ricardo Coutinho, está sentado
na cadeira de onde conduz uma poderosa máquina
237

administrativa e política do governo estadual, e que não


pode ser subestimado.
O outro, o Senador Cássio Cunha Lima, tenta encarnar o
papel do mais puro antiricardista, e é considerado, hoje,
favorito à vitória, desde que antes consiga registrar sua
candidatura.
O terceiro, mas não menos importante, é o ex-prefeito
de Campina Grande, Veneziano Vital, que conta, além da
máquina política e eleitoral do PMDB, o maior partido do
estado, com a experiência administrativa de ter governado
por oito anos a segunda maior cidade da Paraíba, além de
um potencial discursivo que normalmente é uma arma
poderosa em campanhas eleitorais.
Assim, numa disputa entre esses três candidatos, o
risco de um segundo turno entre PSB e PSDB é altíssimo, o
que representará um desastre político para o PT, que terá de
optar, a depender de quem vá para o segundo turno com
Dilma Rousseff, entre um desses dois adversários.
E qualquer um deles que vença representará um sério
óbice para o projeto de o partido manter o controle da
Prefeitura de João Pessoa em 2016.
Parece que chegou a hora do PT reavaliar sua estratégia
e se inserir na disputa real que começa a se desenhar para
2014, na Paraíba e no Brasil. Nesse caso e nessa conjuntura,
lançar candidatura própria pode ser a antítese do
protagonismo que o PT exerce desde que conquistou o
governo federal, em 2002.
É essa hegemonia que estará em jogo nas eleições
presidenciais de 2014, com repercussões históricas na vida
política do país e da América Latina.
238
239

PESQUISA CONSULT-MAISPB MOSTRA


DISPUTA EM ABERTO PARA
O GOVERNO
Março de 2014

Os números da primeira pesquisa de intenção de voto


realizada depois do anúncio do rompimento entre o senador
Cássio Cunha Lima e governador Ricardo Coutinho (Cássio,
40,8%; RC, 23,9%; Veneziano, 12,15%) nos permite pelo
menos uma projeção: teremos uma disputa acirradíssima
em 2014, repetindo o que aconteceu nas três últimas
eleições.
Com a diferença de que, dessa vez, teremos três
candidatos com chances de irem para o segundo turno.
Ainda falta a divulgação dos índices de rejeição de cada um
para aferirmos melhor o potencial de cada um deles na
disputa. Fiquemos por ora na análise das intenções de votos.
Cássio
Confesso que achei os números do senador e ex-
governador tucano um tanto decepcionantes, considerando
a competente movimentação política dos últimos anos e a
espetacularização do anúncio do rompimento com RC, fato
ocorrida há poucos dias.
Se considerarmos que, no campo da imagem, Cássio não
fez nada nos últimos três anos não ser cultivar a dubiedade
necessária na sua relação com o governo, de quem era
apoiador e partícipe, os números de Cássio aferidos em um
momento tão favorável devem acender o sinal de alerta
240

entre os tucanos. Cássio não está com essa bola toda, como
se imaginava.
Em 2010, Cunha Lima posou de vítima perseguida pelas
forças malévolas do maranhismo, o que o ajudou a desviar o
foco tanto da avaliação a respeito do seu governo, quanto
dos motivos que levaram a sua cassação.
Tanto uma coisa como outra, se bem apresentadas ao
eleitor, poderiam gerar grandes problemas para o tucano,
mas o PMDB não soube aproveitar esse flanco aberto em
2010.
Por outro lado, a aliança com RC permitiu tanto que
Cássio quebrasse a unidade do bloco liderado pelo PMDB,
como essa aproximação com um político com uma imagem
fortemente positiva no meio do eleitorado, ajudou o ex-
governador a suavizar e a reconstruir sua própria imagem.
A vitória de 2010, numa situação inicialmente muito
desfavorável, mostra o quanto a estratégia cassista foi
correta, no que ela foi ajudada pelos erros primários
cometidos por José Maranhão, especialmente durante a
campanha.
Após a vitória de 2010, Cássio preparou com paciência
o anúncio do rompimento com RC e o anúncio de sua própria
candidatura. Sempre dúbio em relação ao governo, Cássio
foi capaz de, mesmo de corpo inteiro no governo, manter-se
palatável até para o mais empedernido antiricardista. Coisas
da política Paraibana...
Os 40% obtidos pelo tucano representam um número
próximo ao que ele obteve nas eleições de 2002 e 2006,
considerando os votos nulos e brancos. A questão é saber se
esse é o teto cassista ou se ele pode crescer além disso. Por
isso, os dados da rejeição são tão relevantes agora.
241

É bom considerar que Cássio correu livre e solto nos


últimos três anos. Paparicado pela oposição, que ansiava
pelo rompimento, e sem poder ser atacado pelo ricardismo,
imobilizado diante da esperança de ainda manter a aliança,
Cássio manuseou com a habilidade costumeira as
expectativas de potenciais adversários em relação a ele.
Depois do rompimento, a situação mudou. E para pior.
A máquina de comunicação do governo vai tentar a todo
custo desconstruir a imagem do ex-governador. Líder nas
pesquisas e, hoje, a ameaça principal tanto ao ricardismo
quando ao PMDB, Cássio vai penar sob pesada artilharia.
Ou seja, a tendência é Cássio perder fôlego e alguns dos
votos incorporados ao espólio nos últimos anos, o que não
tende a inviabilizar sua candidatura, mas igualá-la em
potencial a dos principais adversários. Só durante a
campanha teremos uma percepção mais clara se o tucano
será presença garantida no segundo turno.
Ricardo Coutinho
Para um candidato que está há três anos sentado na
cadeira de governador, a situação de Ricardo Coutinho não
é nada confortável. Os 24% das intenções de voto o colocam
numa posição muita frágil, seja porque esse resultado indica
que o seu governo não anda bem avaliado, seja porque sua
liderança não parece ainda consolidada no estado.
E RC tem uma dificuldade mais grave para superar essa
situação. A sua força aglutinadora parece localizada quase
que exclusivamente no controle da máquina administrativa,
o que tem lá sua importância, mas é insuficiente para levar
um candidato à reeleição à vitória, como 2010 já
demonstrou.
242

Do ponto de vista da estrutura partidária, RC não dispõe


de uma que possa lhe dar suporte nos principais municípios,
à exceção de João Pessoa. E é nesses municípios de grande
porte onde RC tem mais contestação e mais insatisfações
com seu governo.
Mesmo na Capital e região metropolitana, o PSB perdeu
muito da força acumulada depois que o ex-prefeito Luciano
Agra e seu grupo romperam com o governador. Aqui, RC
pode viver o pesadelo de ter que dividir por igual o
eleitorado da Capital, vendo anulado aquele que foi seu
principal colégio eleitoral.
Em Campina, o segundo colégio eleitoral RC tende a ser
engolido pelo campinismo e sofrer uma pesada derrota
eleitoral para seus principais adversários, que são
campinenses. É improvável que Rômulo Gouveia, mesmo na
vice, consiga abrir o coração de Campina para “forasteiros”.
Do ponto de vista dos grupos políticos, RC tende a ficar
fora da polarização em Patos e Sousa, bem como em
Guarabira e Monteiro. Em Cajazeiras, onde conta com o
apoio de Carlos Antônio e seu grupo, RC disputa, mas sem
grandes perspectivas de obter uma vitória que anule as
derrotas em outros grandes municípios.
RC dependerá, enfim, do seu desempenho nos
pequenos municípios, onde, aliás, venceram todos os
candidatos à reeleição. É preciso saber se cada prefeito
desse que está anunciando apoio ao governador entregará a
rapadura como prometido.
Mas, é bom não subestimar Ricardo Coutinho. Além de
contar com uma poderosa máquina administrativa e de
comunicação, RC tem um portfólio de obras para mostrar
interior adentro. Além disso, Coutinho tentará se apresentar
243

como o político anti-oligarca, fato reforçado pelo


tradicionalismo político e familiar dos outros dois
candidatos.
Enfim, RC não está fora do jogo, mas terá grandes
dificuldades nessa campanha, especialmente no segundo
turno, se ele conseguir chegar lá. RC tem de torcer para o seu
candidato a presidente não passar para o segundo turno
com Dilma. Nesse caso, ele não terá a quem pedir apoio.
Veneziano
Dos três candidatos ao governo, Veneziano é hoje o
menos conhecido e o único que ainda não foi governador. De
um lado, isso significa que ele tem potencial de crescimento
quanto mais o eleitorado Paraibano passe a conhecê-lo. Sem
ter sido governador, restará aos adversários a crítica à
gestão de oito anos do peemedebista em Campina Grande.
E é bom Vital do Rego se preparar para esse debate para
não transformar essa experiência administrativa no seu
“calcanhar de Aquiles”.
A imagem que ficou para parte expressiva do
eleitorado, especialmente em João Pessoa, foi a dos últimos
três meses de gestão, marcada por um clima que tentava
traduzir uma situação de caos e abandono de Campina
Grande.
Artificial ou não essa imagem se converte hoje em um
fator de resistência de parte do eleitorado à candidatura do
Cabeludo. Seu maior desafio será mostrar que esses últimos
três meses não representam o que foram os seus oito anos
de administração.
E Veneziano tem um poderoso argumento. Se sua
administração era tão ruim, como foi que sua candidata à
244

prefeitura, a desconhecida e pouco habilidosa, Tatiana


Medeiros, obteve mais de 40% dos votos em 2012,
superando a conhecida deputada Daniela Ribeiro, do PP?
Ou seja, o desempenho eleitoral de Veneziano em 2014
estará intimamente ligado a esse debate. Se seus
adversários conseguiram corroborar como marca da gestão
a imagem que ficou dos últimos três meses de gestão em
Campina, Veneziano dificilmente se viabilizará. Caso
contrário, ele entra no jogo com grandes chances de vitória.
Por vários motivos. Veneziano deve ter o apoio do PT e
de parte do “blocão” – 0 PP dificilmente vem, mas aí
Aguinaldo Ribeiro vai provavelmente inviabilizar sua
continuidade no ministério em caso de da reeleição de
Dilma, – e de outros partidos, como o PR, o que dará uma
poderosa arma eleitoral: o maior tempo de TV. Por outro
lado, Veneziano tem ao seu dispor uma formidável estrutura
partidária, a maior da Paraíba, enraizada por todo o estado
devido à longevidade política do PMDB. De João Pessoa a
Cajazeiras, o PMDB dispõe de lideranças que rivalizam em
cada município com outros grupos.
Veneziano, além disso, contará com o suporte político
de uma candidatura aliada à campanha de reeleição de
Dilma Rousseff e com o apoio e a presença de Lula, um
poderoso reforço ao seu palanque.
Diferentemente de 2010, quando RC usou a influência
de Eduardo Campos para neutralizar o apoio de Dilma e Lula
a José Maranhão, em 2014, Campos será o nome a ser batido
no Nordeste. E Lula tratará disso com toda atenção e
carinho.
Por fim, Vital do Rego tem discurso. Ele será o único
candidato que pode com legitimidade se mostrar ao
245

eleitorado como oposição. Cássio será tratado pelos dois


adversários como o oportunista, aquele que se aproveitou
do governo até o último instante para depois abandoná-lo.
246

O SILÊNCIO ENSURDECEDOR DE
VENEZIANO E A ALIANÇA PSDB-PMDB
NA PARAÍBA
Março de 2014

O silêncio a que as lideranças peemedebistas


Paraibanas, especialmente o pré-candidato a governador,
Veneziano Vital, se impuseram nos dias pós-carnaval é tão
ou mais eloquente do que qualquer discurso. Em política,
como se sabe, as ações falam mais do que as palavras.
Quando se esperava uma ofensiva peemedebista
imediatamente após a quarta-feira de cinzas, quando
oficialmente se inicia o ano eleitoral, o que se viu foi um
estratégico silêncio que deixa mais dúvidas do que certeza a
respeito da manutenção da candidatura do Cabeludo.
A crise PT-PMDB
Mais ainda quando o silêncio ensurdecedor de
Veneziano acontece em meio a maior crise entre PT-PMDB
desde que Lula tornou os peemedebistas seus aliados
preferenciais para governar o Brasil, com todas as
implicações que isso trouxe em termos programáticos. O
PMDB quer mais espaço no governo, como, aliás, quer
também todos os outros partidos da ampla aliança nacional,
inclusive o PT, que controla hoje mais de 20 ministérios,
inclusive os da Educação e da Saúde que, sozinhos, são
responsáveis por quase 40% do que o Governo Federal
gasta em impostos.
Dilma Rousseff, mais marqueteira do que política, tenta
fragilizar o aliado com a mise-en-scène de que não vai
247

negociar apoio político em troca de cargos. Isso


provavelmente para conseguir mais apoio na classe média,
onde reside o maior foco de resistência à sua candidatura
presidencial. Jogar para a galera foi um erro que Lula, por
exemplo, jamais cometeu com aliados, e por uma razão
óbvia: é um tiro que pode sair pela culatra. E o PMDB, com
alguma razão, reclama do tratamento recebido, cuja marca
fisiológica a Presidenta e Ruy Falcão fizeram questão de
acentuar nos últimos dias.
Como Dilma sabe que o PMDB jamais sairá unido em
bloco para essa disputa – o que nunca aconteceu, diga-se de
passagem, – como também sabe que o partido dificilmente
abandonará o barco petista enquanto a presidenta se
mostrar viável, e Lula se mantiver no horizonte como
substituto de luxo, ela toureia o PMDB para dele se
diferenciar, mesmo mantendo-o como aliado.
Cassio e Veneziano junto, isso é possível?
Existe a possibilidade do PMDB romper nacionalmente
com Dilma, deixando de apoiá-la? Não acredito, pelo menos
no curto prazo. Mas, a direção nacional do PMDB, como
todos sabem, é muito flexível para permitir que suas
lideranças levem em conta os interesses de suas estratégias
estaduais. Só assim o PMDB se manteve até hoje como
partido. Manter-se-á no futuro? Vamos ver.
É no caso da Paraíba? Eu não subestimaria a
possibilidade de uma aliança do PMDB com o PSDB
Paraibano, com Veneziano Vital ocupando a vaga de
Senador. Internamente, uma parcela cada vez mais
expressiva do PMDB começa a aderir a essa tese. Possíveis
resistências, ao que parece, já não seriam hoje um óbice para
a aliança, como o ex-governador José Maranhão. Se RC se
juntou a Cássio para derrotar José Maranhão, em 2010, qual
248

o problema de Cássio se juntar ao PMDB para derrotar o


atual governador. É aquela história: quem com ferro fere,
com ferro será ferido. Enfim, não serão problemas internos
no PMDB que impedirão a aliança com o PSDB em 2010.
Por outro lado, o PT faz o que pode para ajudar para que
isso aconteça, seja porque isso o obrigaria a “ser
protagonista”, lançando sua candidata, Nadja Paliot, ao
governo, seja porque isso o afastaria em definitivo do PMDB,
deixando o PT livre para ocupar o espaço que um dia foi de
Ricardo Coutinho. Isso ele já tenta fazer em João Pessoa.
Por isso, o PT continuar a tensionar a relação com o
PMDB Paraibano, resistindo como pode a uma aliança.
Mesmo que já esteja mais do que claro que a direção
nacional petista tem uma indicação de apoiar o PMDB na
Paraíba, a direção estadual optou por um processo lento,
gradual e – se possível – desgastante para Veneziano, no que
ela tem a alegre companhia do PP do ex-ministro Aguinaldo
Ribeiro, que sonha dormindo e acordado com a
possibilidade de ser ele o “Senador de Cássio”.
Por fim, existe em marcha um movimento que pode se
tornar irreversível, especialmente se Veneziano se mantiver
imobilizado, como está hoje: a polarização Cássio-RC, que
ambos alimentam mutuamente. Veneziano sabe que pode
ser engolido por ela. Por ora, essa polarização já dificulta, ou
freia, a ascensão do peemedebista.
Se até maio Veneziano não se mostrar viável, alguns
problemas aparecerão, principalmente o financeiro. E a
Copa não ajudará muito, pelo contrário, ela tende a encurtar
a disputa eleitoral, o que não beneficia em nada, pelo
contrário, a estratégia venezianista.
249

Enfim, se eu tivesse de apostar hoje, eu ainda apostaria


na manutenção da candidatura ao governo do PMDB. Mas,
não sei por quanto tempo eu mantenho essa aposta.
250

PESQUISAS ELEITORAIS NA PARAÍBA


Maio de 2014

Pesquisa é aquela coisa. Mesmo que elas sejam feitas


fora do ambiente ditado pela campanha eleitoral e
procurem traduzir a circunstância, o momento, e mesmo
que todos saibam que, em geral, esses resultados tendem a
ser alterados quando as urnas forem abertas, é inegável o
peso psicológico que elas tem no meio político.
Por mais experimentado que seja o político tradicional,
a grande maioria, acostumada apenas a considerar o curto
prazo na tomada de decisões, tende a ser mais influenciável
do que o eleitor comum, sempre mais aberto a mudar de
posição no decorrer das campanhas.
Isso também acontece com os financiadores de
campanha que, tanto quanto esses políticos tradicionais, são
muito avessos ao risco eleitoral.
Muita água vai rolar
Vejam bem. Estamos em maio, antes do mês de uma
Copa que será realizada no Brasil. Alguém acha que o eleitor
comum, o cidadão trabalhador, está mesmo preocupado
com uma eleição que acontece só daqui a quatro meses?
Muita água vai rolar por baixo dessa ponte.
Antes de tudo, é relevante racionar que, quem lidera
hoje as pesquisas — no caso, o Senador Cássio Cunha Lima
— se tornará alvo preferencial dos seus principais
adversários durante a campanha, especialmente na TV.
E, pense comigo, Cássio é tão inatingível assim? Quando
governador, fez uma gestão que, em pontos centrais como
251

educação, saúde, habitação e segurança, possa oferecer a


segurança ao eleitor de que, diante das informações e
lembranças que a ele serão oferecidas sobre os mais de seis
anos de governo cassista, o tucano continuará a merecer o
seu voto?
E mesmo aquele eleitor mais empedernidamente
antirradicalista, que hoje aposta em Cássio apenas com o
objetivo de evitar a reeleição do atual governador, manterá
seu voto quando for lembrado do silêncio e, em alguns casos,
do apoio que deu Cunha Lima a algumas das medidas
tomadas por RC durante mais de três anos de governo?
É bom também não subestimar os impactos da eleição
presidencial na Paraíba. Eu começo a achar que, em razão da
radicalização em andamento, será inevitável que parte do
eleitorado seja envolvido pela disputa nacional e se renda
aos apelos para dar coerência entre seu voto nacional e
estadual.
Esse é fenômeno difícil de prever, mas já aconteceu em
2002, quando Lula se elegeu Presidente da República pela
primeira vez. Naquela eleição, o PT foi ao segundo turno em
nada menos do que oito estados (São Paulo, Rio Grande do
Sul, Bahia, Sergipe, Ceará, Pará, Mato Grosso do Sul e Distrito
Federal). Boa parte desses candidatos eram considerados
"azarões" antes da campanha começar e foram para o
Segundo Turno, desalojando de lá muitos candidatos
considerados "favoritos", impulsionados pela campanha
eleitoral.
E o que dizer do desempenho de Avenzoar Arruda,
candidato do PT, e de Roberto Paulino, do PMDB, aqui na
Paraíba, ambos apoiadores de Lula, e que fizeram
desvanecer o favoritismo que o mesmo Cássio ostenta hoje
nas pesquisas?
252

Isso não significa em absoluto que a eleição


presidencial definirá a eleição para governador na Paraíba.
A campanha é estadual e seu resultado será definido pelas
decisões que serão tomadas ao longo da campanha na
Paraíba. Mas, é bom não desconsiderar que parte do
eleitorado pode (pode) ser influenciado por esse clima de
polarização e radicalização da disputa nacional e orientar
seu voto em função dessa disputa.
Enfim, nada está definido e é muito bom que os
apressadinhos de sempre coloquem as barbas de molho,
porque o que mais o eleitor da Paraíba sabe fazer é
desmoralizar pesquisa.
253

UM LUCIANO CARTAXO DE MAIS


ATITUDE E A POSSÍVEL
CANDIDATURA DE LUCÉLIO
Maio de 2014

Nesses quase 17 meses depois que se tornou Prefeito


da maior cidade Paraibana, Luciano Cartaxo parecia sem
rumo político ou sem a clara dimensão que sua figura
pública havia tomado. Nos últimos dias, há uma nítida
mudança no comportamento político do prefeito pessoense.
Primeiro, Cartaxo parece ter finalmente reconhecido a
importância para o PT e para o projeto nacional petista que
representam as eleições que acontecerão esse ano. Isso se
revelou recentemente na atitude de assumir abertamente a
liderança das conversações com o aliado nacional, o PMDB,
dando declarações que não deixam mais dúvida sua opção
na disputa estadual e sua disposição em viabilizar esse
projeto.
E a agora provável indicação de Lucélio Cartaxo para a
disputa do Senado na chapa encabeçada por Veneziano Vital
do Rego, algo que ninguém mais apostava no PMDB, muito
menos no PT até uma semana atrás, é uma demonstração
mais do que cabal da nova postura de Cartaxo.
Veja que não se trata de uma decisão fácil. Lucélio tinha
já organizada uma campanha para deputado federal que o
colocava como favorito a ocupar uma das cadeiras na
Câmara. Além disso, a saída de Lucélio dessa disputa facilita
o caminho para a reeleição de Luiz Couto, esse sim, incapaz
de enxergar um dedo além dos seus próprios objetivos
254

pessoais e do seu grupo – mas, deixemos Couto de lado, por


enquanto.
Enfim, Cartaxo deixa de lado a dubiedade inicial que
marcou sua atuação até aqui, e que abriu caminho para
tantas dúvidas e conjecturas por parte de aliados e
adversários, e mostra agora que tem lado na política
nacional e Paraibana.
Mostra-se com isso ser mais confiável para o eleitorado
e para seus aliados e futuros aliados. Quer algo mais
apreciável do que isso para o cidadão comum que observa a
política de longe?
Lucélio e a disputa para o Senado
Enfim, Cartaxo faz hoje o que se espera de uma
liderança política consistente – que mostra
comprometimento com o projeto político das forças
históricas que ele lidera hoje na Paraíba – capaz não apenas
de renúncia, mas também de ousadia.
Pois é disso mesmo que se trata a candidatura de
Lucélio Cartaxo para o Senado: ousadia. Quem acha que ela
representa a troca do certo pelo duvidoso nada entende das
intempéries políticas.
Para Federal, Lucélio enfrentaria um Luiz Couto
reforçado pelo apoio da máquina ricardista, apoio que o
padre contou já em 2010 e representou a ponte de RC com
Lula e Dilma Rousseff na Paraíba. Esse será de novo o triste
papel de Luiz Couto em 2014.
Para o Senado, a disputa não será fácil, como nunca foi
para ninguém. Veja que Cássio foi capaz de colocar de cabeça
para baixo o tabuleiro do xadrez político da Paraíba, ao
255

quebrar a unidade do bloco maranhista, entre outras coisas,


para correr menos riscos na disputa para o Senado em 2010.
Em 2014, já é por demais conhecida a fragilidade
eleitoral dos candidatos anunciados, todos legítimos
representantes do tradicionalismo político Paraibano,
Rômulo Gouveia e Wilson Santiago.
Acredito que as chances de Aguinaldo Ribeiro ser
candidato ficaram bastante reduzidas com a candidatura de
Lucélio. Ribeiro vai ajudar a derrotar o candidato de Dilma
Rousseff na Paraíba? O mais provável é que, com a
candidatura de Lucélio Cartaxo, este receba o apoio de
Ribeiro, porque muita conversa vai acontecer na Paraíba e
em Brasília para viabilizar isso, e envolvendo gente de peso
na política nacional.
Lucélio deve contar com o apoio da Direção Nacional do
PT, em particular de um barbudo bem humorado chamado
Lula, que será, de longe, seu maior eleitor em 2014. Ele e
Dilma.
Como já está cada vez mais claro, Lula se envolverá na
campanha de 2014 como não faz desde 2002, quando se
elegeu Presidente do Brasil. Virá à Paraíba várias vezes e já
atua para dar força e consolidar o palanque dos partidos que
apoiam Dilma na Paraíba.
E esse é outro fator relevante para a candidatura de
Lucélio. Um palanque que contará com duas das principais
máquinas partidárias da Paraíba, organizadas em todo o
estado, dando suporte à candidatura presidencial hoje
favorita de Dilma Rousseff, e com um tempo de TV que deve
representar quase a metade do tempo total.
256

A VIA CRÚCIS DE VENEZIANO


Junho de 2014

A verdadeira Via Crúcis que viveu Veneziano Vital do


Rego para viabilizar sua candidatura ao Governo da Paraíba
talvez só encontre paralelo na história política da Paraíba
com a que enfrentou Pedro Gondim, avô do peemedebista.
Gondim fora eleito Vice-Governador de Flaviano Ribeiro
Coutinho, em 1956, e assumiu o governo em razão da grave
enfermidade que atingiu o titular, entre 1958 a 1960.
Muito popular, Gondim planejava ser candidato ao
governo na eleição seguinte, mas seus poderosos
adversários da UDN (União Democrática Nacional)
tentaram todo tipo de manobra para impedir que isso
acontecesse, inclusive a própria renúncia de Ribeiro
Coutinho, o que efetivaria Pedro Gondim no cargo,
tornando-o inelegível.
Sagaz, Gondim percebeu a manobra e renunciou antes
ao cargo, abrindo caminho para a épica campanha que o
levaria ao Governo da Paraíba, em 1961, enfrentando os
esquemas políticos mais poderosos da época, liderado por
Janduhy Carneiro, irmão de Ruy Carneiro, o verdadeiro.
O slogan Tá com medo ou tá com Pedro? sintetizou
espontaneamente as aspirações populares contra os
esquemas do tradicionalismo político-familiar da época e se
eternizou como exemplo mais legítimo de que, em política,
todo desafio pode ser enfrentado e superado, por mais que
as condições se apresentem difíceis e desiguais.
A ascensão de Veneziano
257

Veneziano pertence à safra de novos políticos que


ascenderam junto com o desejo de renovação política que
passou a marcar o Brasil de maneira mais visível a partir de
2002. Desde então, aqui no Nordeste, os velhos e
tradicionais grupos políticos foram sendo derrotados até
perderam a antiga hegemonia que mantinham sobre a
região desde tempos imemoriais.
Como eu já tratei dessa questão mais de uma vez aqui
no blog, não me alongarei nesse debate. Veneziano apareceu
para a política estadual em 2004, quando, como um
verdadeiro Davi, derrotou o Golias Cássio Cunha Lima numa
das mais inesperadas e, por isso mesmo, inesquecíveis
vitórias que a Paraíba assistiu nas últimas décadas.
Veneziano repetia novamente o que fizera o avô 40 anos
antes. Tá com medo?
De simples vereador que era, o Cabeludo enfrentou a
força econômica e política do então governador e de sua
família na Rainha da Borborema, a cidade que, dois anos
antes, praticamente o elegera para o governo com mais de
74% dos votos.
A política, como a história, dá muitas voltas. Veneziano
era alçado à condição de liderança de primeira ordem e se
projetava para voos mais altos não fosse a ascensão de José
Maranhão ao governo, em 2009, o que fez Vené adiar seus
planos de disputar o governo estadual.
O papel do PT
A inesperada derrota de José Maranhão tornou
Veneziano Vital do Rego a única liderança peemedebista
com condições de disputar o governo na eleição de 2014.
É desse ponto em diante que começa a Via Crúcis de
Veneziano. Em 2012, o PT, depois de participar por quase 8
258

anos da gestão peemedebista, abandona o barco para apoiar


uma das maiores adversárias de Veneziano na cidade,
Daniela Ribeiro, do malufista PP.
O PT começava não apenas a corroborar, mas colaborar
para o isolamento político do Cabeludo, estratégia que os
adversários avidamente trabalhavam para efetivar.
Isso ficou patente quando Tatiana Medeiros, candidata
do PMDB e de Veneziano, foi ao segundo turno contra o
tucano Romero Rodrigues, e o PT formalmente ficou neutro
na disputa. Essa estratégia teve seguimento em 2013 e nos
primeiros anos de 2014. Para impedir qualquer
aproximação com o PMDB, o PT se junta ao PSC e ao PP —
partidos que hoje estão no bisaco do cassismo — e lançam o
"blocão", cuja única utilidade política foi impedir a
aproximação do PT com o PMDB, quando esses partidos
caminhavam a passos largos para reeditarem a aliança
nacionalmente vitoriosa em 2010.
Se intencional ou não, o PT fez o jogo dos adversários
de Veneziano.
Tiro no pé de Cássio?
Outro que manobrou para fragilizar a candidatura de
Veneziano dentro do PMDB foi Cássio Cunha Lima. Mais
compreensível, porque trata-se de um adversário.
A estratégia de Cássio tinha dois objetivos. O primeiro
era forçar um confronto aberto com o governador Ricardo
Coutinho para tentar resolver a disputa eleitoral no
primeiro turno, mais ainda depois que a velha polarização
nacional entre PT e PSDB voltou a se repetir, o que
praticamente alija Eduardo Campos, do PSB, da disputa e
inevitavelmente empurraria o PT para os braços de RC no
segundo turno.
259

O segundo objetivo era, ao fragilizar Veneziano


inviabilizando sua candidatura, trazer o PMDB para apoiá-
lo. Para tanto, Cássio sempre contou dentro do PMDB com o
apoio dos deputados Manoel Jr. e Trocolli Jr. e do Prefeito de
Sousa, André Gadelha. Os "boatos" de uma possível
desistência tinham sempre essas mesmas "fontes", o que
levava Veneziano a ter de, ao invés de aproveitar os raros
espaços na imprensa para divulgar sua candidatura,
desmentir os tais boatos. Isso torna insustentável qualquer
projeto de candidatura.
Cássio agiu dentro dos partidos como sempre fez, ao
estimular os rachas e as dissidências. Nisso, ele sempre
contou nesses partidos com indivíduos dispostas e abertos
a traições. Mas, Cássio pode ter dado um tiro no próprio pé.
Acostumado a lidar com políticos que nunca responderam à
altura, ou foram desatentos o suficiente para não
perceberem essas manobras, Cássio esperava a inércia de
RC para efetivar seus planos.
Só que RC aprendeu a conhecer Cássio e a antecipar
seus movimentos. Ao invés de atuar para fragilizar o PMDB,
RC agiu oferecendo espaços, e quanto mais Cássio agia para
fragilizar Veneziano, mais aproximava o PMDB de RC. E por
vários motivos. Um deles é o histórico de confrontos entre
PMDB e PSDB na Paraíba, confronto que se estende aos
grandes municípios da Paraíba como Campina, Patos e
Guarabira, só para citar os mais importantes e onde residem
lideranças históricas dos dois partido.
O outro é o da acomodação do PMDB. Nesse ponto, a
escassez de alternativas para compor a chapa, acabou
ajudando RC. Cássio não pode oferecer os espaços que RC
tem sobrando. A começar de um vice de Campina Grande.
Depois, de uma vaga para José Maranhão, o que premiaria a
260

lealdade do ex-governador ao projeto do partido, uniria boa


parte do PMDB, e, de quebra, incorporaria a densidade
eleitoral à chapa de RC. Na ânsia de inviabilizar Veneziano,
Cássio pode ter exagerado na dose e ter dado um tiro no
próprio pé caso o PMDB decida pelo apoio a RC.
E o PT?
A grande incógnita reside no PT e para onde vai o
partido de Dilma Rousseff na Paraíba. Sem a candidatura do
PMDB, resta ao PT duas alternativas: lançar candidatura
própria ou apoiar a reeleição do governador se
incorporando ao palanque comitê Dilma-RC.
A questão vai ser como acomodar o PT na chapa
majoritária, já que o PMDB dificilmente aceitaria apenas a
vaga de vice. O custo político desse acordo é muito alto para
o PMDB. Porém, nada está descartado, inclusive uma
mudança de última hora nos planos do PMDB. RC vai ter de
cortar na carne e oferecer o que o PMDB exige para fechar o
acordo.
Porque Cássio Cunha Lima não estará só observando os
movimentos de RC.
261

O PT DOS CARTAXO: QUANDO O


EXCESSO PRAGMATISMO DOMINA
O DESASTRE É CERTO
Junho de 2014

A falta de paciência é um dos maiores defeitos dos


políticos amadores. Não saber esperar o momento certo, ter
sangue-frio para agir diante situações marcadas pela
indefinição, calcular as repercussões negativas dos
movimentos projetados e as consequências políticas deles.
Tudo isso pode representar a separação entre a vitória e a
derrota política.
Foi o que faltou a Luciano Cartaxo e a seu grupo nesse
malfadado episódio que resultou no anúncio do apoio do PT
à reeleição de Ricardo Coutinho.
Pressionados pelos “boatos” de uma iminente aliança
PMDB-PSB que poderia resultar no isolamento do PT, os
Cartaxo não souberam esperar e anteciparam um
movimento, mesmo restando cinco dias para o prazo final
para as convenções.
Só isso mostra a falta de paciência dos petistas, o medo
de perder o bonde e a oportunidade, como se apenas isso
importasse numa decisão que traria inevitavelmente sérias
implicações políticas para a imagem do PT, para a política
Paraibana.
Não bastou o desmentido do PMDB de que não faria
aliança com RC e a afirmação da candidatura própria, nem
mesmo o anúncio da desistência de Veneziano Vital,
submetido à uma impiedosa fritura pública por “aliados” e
262

adversários, e sua substituição pelo irmão, Vital do Rego


Filho.
Por incrível que pareça, vieram dos peemedebistas a
firmeza da afirmação de um projeto oposicionista, marcado
por mais de três anos de firme oposição ao governo RC na
assembleia e fora dela, movimento que foi incorporado e
legitimado pelo PT.
Destaco aqui a correção de deputados como Raniery
Paulino, do PMDB, que em todos os momentos mostrou-se
leal à candidatura de Veneziano Vital e à linha oposicionista.
Paulino, em todas as entrevistas que eu ouvi de sua parte,
demostrou preocupação com a opinião do eleitorado com a
mudança brusca de posição.
Diferente de Anísio Maia, do PT, talvez o mais “radical”
deputado oposicionista. Anísio, em entrevista da qual eu
participei na CBN, no final da manhã de ontem, desdobrou-
se para justificar o injustificável: de uma hora para outra
deixar a bancada de oposição, da qual foi líder, para passar
a compor a bancada da situação. Triste e risível ao mesmo
tempo...
As consequências da decisão dos Cartaxo
Uma primeira questão é referente internamente ao PT
da Paraíba. O partido está submetido agora às decisões e aos
interesses de grupos e indivíduos? Onde foi parar a
democracia interna, marca diferenciadora do partido?
Como é que um pequeno grupo anuncia uma decisão de
graves consequências, à revelia das instâncias partidárias,
que haviam decidido por uma aliança com o PMDB?
Uma segunda questão, talvez mais grave porque
desconsidera a estratégia nacional e os interesses maiores
263

do PT e da sociedade brasileira: a decisão unilateral de aliar-


se ao PSB rompeu com o projeto nacional do PT, que tem
entre seus principais adversários Eduardo Campos, do PSB
de Ricardo Coutinho.
Caso essa decisão prosperasse, o PT deixaria pelo
caminho um aliado nacional, o que praticamente
inviabilizaria o palanque de Dilma Rousseff na Paraíba. Em
nome de quê? De um acordo que leva apenas em conta os
interesses localizados, que submetem hoje o PT, um partido
cujo familismo é negado cotidianamente pelo sentido mais
legítimo de sua existência republicana.
Mais do que isso. Esse movimento atabalhoado pode ter
inviabilizado a candidatura de Lucélio Cartaxo, a partir de
agora submetida ao vexame de uma mudança tão repentina
de posição.
Esse movimento pode ter ajudado a expor
publicamente essa face oculta do pragmatismo político que
não vê diferença entre ser de esquerda e ser direita, que
converte a política a um teatro discursivo e a permanente e
triste mise-en-scène cuja consequência é ajudar a enterrar a
própria política. O paradoxal em tudo isso foi o apelo à
unidade da “esquerda” contra a “direita” na Paraíba, como
se isso esse acontecimento carecesse de justificativa e bases
históricas. De ditador e autoritário, RC voltava a ser como
num passe de mágica. de esquerda.
RC é outro que sai chamuscado do evento, pois fez esse
movimento um tanto desesperado, buscando sair do
isolamento a que se submeteu durante o seu governo.
Isolado à direita com DEM e PSD, faltava a RC base social e
política, o que poderia levar ao naufrágio de sua candidatura
diante de uma conjuntura de radicalidade entre esquerda e
direita que promete dividir o país em 2014.
264

Sem o PT, RC estará de voltar ao antigo gueto, mas


conseguiu em parte seu intento de dividir o PT e
enfraquecer a alternativa do PMDB à polarização que ensaia
com Cássio Cunha Lima. Mas pode ter inviabilizado qualquer
possibilidade de ter o apoio do PMDB no segundo turno,
caso Vital do Rego Filho não esteja lá.
265

PARAÍBA: SEGUNDO TURNO À VISTA


Setembro de 2014

Eram duas as dúvidas mais importantes que eu tinha no


início dessa campanha na Paraíba, expostas especialmente
em várias participações que fiz em programas de rádio:
1) se Cássio conseguiria superar a faixa dos 50%, que
limitou seu crescimento nas duas disputas que disputou, em
2002 e 2006, levando-o a vitória por margens mínimas –
fato que nunca o tornou imbatível;
2) se RC conseguiria incorporar essa banda do
eleitorado que vota no PMDB, pelo menos, desde 2002, e
viabilizar-se na disputa.
A duas semanas da eleição, tudo indica que a velha
divisão no eleitorado que marcou a Paraíba nas três últimas
eleições está prestes a se repetir.
A mais de dois meses estacionado entre os 44 e 47%,
Cássio não conseguiu abrir uma vantagem que lhe desse a
segurança de que não seria alcançado até o dia da eleição e
venceria no primeiro turno.
Por outro lado, a julgar pelos resultados das últimas
pesquisas, quando o eleitorado começa realmente a se
definir, que mostram crescimento consistente da
candidatura de Ricardo Coutinho e apontam para uma
irredutível queda da diferença entre os dois principais
candidatos e a realização do segundo turno.
A fortalecer essa possibilidade existe a candidatura de
Vital do Rego Filho, do PMDB, atualmente ostentando
números próximos dos 5%, o que significa algo próximo dos
8% dos votos válidos.
266

Ora, se nas últimas eleições os candidatos do PSOL, com


uma votação de 0,66% e 1,21% (veja quadro abaixo),
levaram a eleição para o segundo turno, agora em 2014, com
Vilta do Rego com possibilidade de pontuar 8% dos votos
válidos, é quase certa a realização do segundo turno, a ser
mantido o crescimento de RC e as perdas de Cássio, que o
empurram para o patamar de votação histórico de 47%-
49% de votos válidos no primeiro turno.

Enfim, como sempre, não faltará emoção nas eleições da


Paraíba. E, mesmo com o segundo turno, os ricardistas vão
ter de ralar muito para ganhar a eleição, especialmente se
tivermos Dilma e Marina no segundo turno da disputa
presidencial.
267

DESDE 1986, QUEM VENCE EM


CAMPINA GRANDE É ELEITO
GOVERNADOR. EM 2014 SERÁ
DIFERENTE?
Setembro de 2014

Existe uma espécie de tradição nas eleições


presidenciais americanas de que o candidato que vence no
estado de Ohio acaba se tornando Presidente dos EUA, fato
que é observável e se confirma das urnas eleição a eleição
desde 1968. A explicação mais aceita para esse fenômeno é
que Ohio é uma espécie de mini EUA, a representar com
alguma fidedignidade às características tanto econômica e
demográficas do país inteiro.
Eu lembrei desse fato no último sábado quando li uma
postagem no Facebook do colega do Departamento de
História da UFPB, Jaldes Meneses, esposo da atual Secretária
de Desenvolvimento Humano do governo estadual,
Aparecida Ramos. Jaldes ensaiou uma interpretação das
últimas pesquisas que dão vantagem para o governador
Ricardo Coutinho em João Pessoa e em toda Zona da Mata,
além do Sertão, para concluir que “Nunca um candidato que
venceu nestas três regiões (João Pessoa, Zona da Mata e
Sertão) deixou de ser eleito governador.”
Eu só li a referida postagem no domingo, alertado por
um ricardista que mencionara essa postagem para defender
o favoritismo de RC nas eleições de 2014. Não precisei puxar
muito pela memória para dizer, sem consulta prévia aos
dados eleitorais do TRE-PB, que em 2002 e 2006 Cássio
268

perdeu em João Pessoa e, mesmo assim, se elegeu


governador. E Ronaldo Cunha Lima também, isso em 1990.
Nessas três eleições, Wilson Braga (1990), Roberto
Paulino (2002) e José Maranhão (2006) venceram em João
Pessoa, mas não se elegeram governador, o que desdiz a tese
esboçada acima. Quanto à Zona da Mata Paraibana, fui
obrigado a fazer um levantamento que me deu um pouco
mais de trabalho e, em razão de tempo, tive de me restringir
à eleição de 2002, quando os principais candidatos eram
Cássio Cunha Lima, pelo PSDB, e Roberto Paulino, pelo
PMDB.
Também nessa Mesorregião, a mais populosa da
Paraíba, que concentra mais de 1/3 do eleitorado Paraibano,
Roberto Paulino venceu Cássio por mais de 35 mil votos,
mas, como se viu, acabou derrotado em 2002.
Desde 1986, quem vence em Campina Grande é
eleito governador
Se quisermos estabelecer uma relação entre resultados
eleitorais de regiões Paraibanas e vitórias de candidatos
para o Governo do Estado, algo sempre muito arbitrário,
existe pelo menos uma cuja recorrência pode indicar alguma
relação estatística, sem que isso indique qualquer
antecipação de resultado.
Campina Grande e a região da Borborema têm sido
decisivas em todas as eleições realizadas na Paraíba desde a
redemocratização, com exceção da eleição de 1982. Em
todas elas, quem venceu em Campina Grande acabou sendo
eleito governador da Paraíba. Tarcísio Burity, em 1986;
Ronaldo Cunha Lima, em 1990; Antônio Mariz, em 1994;
José Maranhão, em 1998; Cássio Cunha Lima, em 2002 e
2006; e Ricardo Coutinho, em 2010.
269

Não tem nada de sobrenatural na recorrência dessas


vitórias eleitorais. A explicação tem a ver com política e com
a força que o grupo Cunha Lima tem na região, influência
que, como sempre, se irradia por toda a região a partir de
Campina Grande, não por acaso chamada de "Rainha da
Borborema". Hegemonia que começou em 1982 quando
Ronaldo Cunha Lima se elegeu prefeito da cidade, poder que
o filho Cássio ajudou a consolidar.
Campina vai decidir de novo? Depende de João
Pessoa
Em 2002, 2006 e 2010, em especial, a Paraíba se dividiu
e diferenças mínimas acabaram decidindo essas eleições. Ou
seja, foram as diferenças obtidas em Campina Grande pelos
candidatos apoiados pelo grupo Cunha Lima que
asseguraram essas vitórias apertadas. A eleição vencida por
Ricardo Coutinho em 2010 contribuiu de maneira decisiva a
grande votação obtida por ele na capital.
Em 2014, a uma semana do primeiro turno, a grande
questão é como RC vai neutralizar e até superar, como
aconteceu em 2010, a partir de João Pessoa, o desempenho
de Cássio em Campina, sempre poderoso, que parece
novamente em vias de se repetir. É em João Pessoa onde se
travará a “mães de todas as batalhas” nos últimos dias de
campanha de 2014, e essa é, sem dúvida, a grande disputa
estratégica que se desenvolve hoje na Paraíba.
Tanto RC procura mobilizar o voto pessoense para
repetir o desempenho de 2010, quando colocou 75 mil votos
de frente sobre José Maranhão, diferença que, em termos
numéricos superou a diferença obtida em Campina Grande,
que foi de 61 mil votos, representando uma diferença de 14
mil votos pró João Pessoa.
270

Mesmo que, percentualmente, a diferença em Campina


tenha sido maior (5%) que a obtida em João Pessoa. É claro
que as circunstâncias de hoje são diferentes, a começar
pelos aliados de 2010 que hoje são os principais
concorrentes ao cargo de governador. Mas, a lógica
estratégica permanece a mesma. Campina tem um eleitor
mais fechado, especialmente quando se defronta com uma
disputa entre um candidato campinense, um Cunha Lima,
com um “forasteiro”. É quando o tradicional campinismo é
mobilizado. E ninguém sabe mobilizar mais o campinismo
do que Cássio Cunha Lima. RC sabe do imenso obstáculo que
representa Campina Grande e deve trabalhar com uma
derrota mais ou menos nos termos do que foi a sua vitória
de 2010 (60 a 70 mil votos).
Por isso, para os objetivos do governador, João Pessoa
tem de ser decisiva, como foi em 2010, com dois obstáculos
a serem superados. Um, é a diferença que marca o eleitor da
Capital, muito mais aberto que o eleitor campinense, e,
portanto, menos bairrista. Um exemplo que merece ser
citado é o da eleição de 1990, também disputada entre um
"pessoense" (Wilson Braga, prefeito eleito da Capital até
abril de 1990 e avaliado como o segundo melhor prefeito do
Brasil), e Ronaldo Cunha Lima. Braga tentou mobilizar o
"bairrismo" pessonse sem muito sucesso. Enquanto em João
Pessoa a diferença pró-Braga foi de quase 34 mil votos
(101,3 mil a 77,7 mil ou 56,6% a 43,4%), em Campina
Ronaldo Cunha Lima venceu com mais de 84 mil votos de
diferença! (106,7 mil a 22,1 mil votos ou incríveis 82,84% a
17,16%).
O discurso de RC é mais político e explora o
anticunhalismo do pessoense, e faz isso hoje com muita
competência. É cada vez mais visível encontrar eleitores que
271

rejeitam o governador, mas que vota nele "para evitar a


vitória de Cássio". Talvez o grande problema de RC é o
funcionalismo estadual, que, sem ser decisivo, tem um peso
eleitoral que não pode ser desprezado, especialmente numa
eleição acirrada como a atual.
Com um contingente expressivo e com seus sindicatos
em clara mobilização contra o governador, o funcionalismo
estadual pode ser um limitador na diferença que RC
necessita estabelecer para neutralizar a derrota de Campina
e partir para uma hoje improvável vitória no primeiro turno.
Ou, no mínimo, levar a disputa para o que era há um mês
improvável segundo turno, o que vem a ser já uma grande
vitória. Tão equilibrada está a disputa que não se pode
descartar também uma vitória de Cássio no primeiro turno.
Tudo dependerá do resultado da votação de RC em João
Pessoa.
272

PT TROUXE MARANHÃO PARA


DISPUTAR O SENADO: ALIANÇA COM
RC PODE DERROTAR LUCÉLIO
Setembro de 2014

Ao decidir aliar-se ao governador Ricardo Coutinho às


vésperas das convenções partidárias que definiriam as
chapas e coligações para as eleições de 2014 na Paraíba, o
PT não apenas rompeu com a trajetória de três anos e meio
de oposição, postura que foi decisiva, por exemplo, para
levar o partido à vitória de 2012 em João Pessoa com o apoio
de Luciano Agra, então prefeito.
Essa mudança surpreendente também colocou na
disputa o favorito nas pesquisas para o Senado, o ex-
governador José Maranhão, que seria candidato a deputado
federal caso a aliança PT-PMDB fosse mantida.
E apoiaria Lucélio Cartaxo, lançado pelo PT à única vaga
em disputa para o Senado em 2014.
O cálculo do PT presumia que o PMDB não teria forças
para manter a chapa para o governo e teria como única
alternativa seguir o mesmo caminho, indicando a vaga de
vice na chapa ricardista.
O erro ficou evidente quando o PMDB não apenas
lançou Vital do Rego Filho em substituição ao irmão,
Veneziano, para o governo, mas também, como queriam
100% dos peemedebistas, José Maranhão para o Senado.
Esse foi o resultado político do repentino movimento
petista, que assumirá proporções de um desastre em caso de
273

derrota de Lucélio Cartaxo, um erro de graves


consequências internas e externas.
Internamente, o PT da Paraíba criou problemas com a
Direção Nacional porque confrontou um poderoso aliado
nacional em um estado onde as pretensões do partido não
incluía disputar o governo estadual.
Logo isso ficou patente quando um advogado
representando a Executiva Nacional do PT aterrissou em
João Pessoa para desautorizar a direção estadual e recorrer
à Justiça Eleitoral contra a decisão que deixava Dilma
Rousseff sem palanque na Paraíba.
Mais ainda. A decisão de coligar-se com o novo aliado
teve o condão de colocar um fim na estável relação interna
que assegurava ampla hegemonia ao grupo liderado por
Luciano Cartaxo.
Hoje, importantes lideranças petistas e a ampla maioria
dos sindicalistas não seguem mais a liderança do prefeito de
João Pessoa.
O deputado Frei Anastácio, por exemplo, declarou
ontem (23) apoio à candidatura de José Maranhão ao
Senado, preferindo votar no peemedebista a apostar em
companheiro de partido.
O ex-deputado e ex-secretário de Articulação Política da
capital, Rodrigo Soares, e seu numeroso e influente grupo,
que inclui o ex-superintendente da Emlur, Anselmo Castilho,
também já não segue a mesma cartilha dos Cartaxo.
Soares é membro da direção nacional do PT e talvez a
liderança estadual com mais trânsito com Lula e Dilma.
Gilberto Carvalho, o ministro mais próximo de Lula no atual
274

governo, veio a João Pessoa para participar do lançamento


da candidatura de Soares à Assembleia.
Por aí se vê o quanto a decisão do PT criou
constrangimentos e problemas internos.
Do ponto de vista externo, a aliança com RC colocou à
mostra uma grave contradição do PT, que mudou de
discurso repentinamente, crítica, por exemplo, que é a base
da desconstrução da candidatura de Marina Silva no plano
nacional.
Mesmo o eleitor ricardista deve ter visto com
desconfianças transfiguração política tão injustificada, a não
ser para acomodação de interesses individuais.
Entre os eleitores oposicionistas, Lucélio Cartaxo
entrou de imediato em rota de coalizão com parcela
expressiva do eleitorado que rejeita o governador,
especialmente em João Pessoa.
Na capital, onde o campo estava aberto para que o
petista recebesse votos de um eleitorado carente de novas
lideranças (de oposição e de situação), Lucélio perde, por
exemplo, a expressiva votação de servidores e lideranças de
servidores. Parte desse eleitorado caiu no colo de José
Maranhão.
A consequência eleitoral desse erro primário do PT, ao
mudar de trajetória política e aliar-se ao PSB, pode ter
comprometido o principal objetivo do partido nessa eleição,
que era eleger um Senador, objetivo que era mais do que
factível — e a campanha atual mostra isso, — com o apoio
do PMDB e José Maranhão.
275

ELEIÇÕES PARA O SENADO:


O FAVORITISMO DE MARANHÃO
Setembro de 2014

Na reta final da campanha eleitoral para o Senado, o ex-


governador José Maranhão aparece, segundo mostram as
pesquisas, como o grande favorito a vencer essa disputa
O desempenho de Wilson Santiago confirma o que eu
sempre suspeitei a respeito de sua candidatura: ela não é
capaz de responder — em razão da origem social, do
discurso e do significado — aos desafios da mudança
política em curso no Brasil e na Paraíba.
Já Lucélio Cartaxo, com amplo espaço para crescer, não
conseguiu até agora se inserir na disputa como um
candidato capaz de agregar esse imenso desejo de
renovação política. Para tanto, não basta ser ou parecer
jovem, é preciso deixar claro o que de novo em termos de
proposta e de postura essa candidatura expressa.
Como eu mencionei na última postagem, Maranhão
soube aproveitar as oportunidades abertas para se inserir
na disputa. Ao invés de se impor, ele foi "chamado" a ser
candidato pelo PMDB e por outras lideranças partidárias.
Maranhão candidato
Para viabilizar a candidatura ao Senado, José Maranhão
soube exercitar o mais necessário atributo do fazer político:
a paciência.
Desde logo, Maranhão sabia que não poderia tomar
uma decisão errada que o levasse a mais uma derrota, desta
feita, definitiva para sua vida pública.
276

Depois de três derrotas seguidas em disputas para


cargos majoritários, Maranhão optou desde cedo pelo
caminho menos duvidoso, que era a eleição para a Câmara
dos Deputados. Mas sem deixar nunca de vislumbrar o
Senado.
O ex-governador sabia que, com o PMDB fragilizado,
reivindicando a cabeça de chapa para o governo e
precisando ampliar suas alianças, especialmente para
incluir o PT, não sobraria espaço para que ele mais uma vaga
na chapa majoritária.
Com isso, Maranhão manteria o PMDB unido em torno
de sua liderança e dava mostras de “altruísmo” ao
“sacrificar” sua candidatura ao Senado, mesmo quando
todas as pesquisas indicavam uma boa possibilidade de
vitória.
O ex-governador pressentia que havia jogo de cena
demais e disposição de menos, tanto na candidatura de
Veneziano, que nunca quis de verdade colocar sua
candidatura na rua – mesmo diante dos apelos de setores do
PT, – como na clara má vontade do prefeito Luciano Cartaxo
em abraçar a candidatura peemedebista.
Maranhão provavelmente projetava um impasse,
quando ele poderia aparecer ou como um tertius numa
acomodação futura ou como uma candidatura que se
impunha pelas circunstâncias. Mais de um dirigente do PT
Paraibano que me disse que José Maranhão anunciara em
uma reunião realizada dias antes do prazo final para as
convenções que o governador Ricardo Coutinho propusera
uma aliança e oferecera as duas vagas na chapa majoritária
(Vice e Senado) ao PMDB.
277

E foi esse fato que levou a direção petista a decidir por


se antecipar ao movimento do PMDB e anunciar
unilateralmente um acordo com RC. Diante da minha
pergunta sobre que motivos levariam Maranhão a dar
informação tão estratégica ao PT, e numa reunião formal, o
dirigente petista respondeu reafirmando que o PT apenas se
antecipara à rasteira.
Existem pelo menos duas objeções a esse raciocínio.
Primeiro, era cada vez mais evidente que Veneziano não
desejava levar à frente sua candidatura e, hoje é possível
inferir, que a “solução Vital” sempre foi a verdadeira
alternativa do PMDB. Só que teria de ser anunciada como um
fato consumado e, portanto, próximo das convenções para
não reabrir as discussões a respeito de alternativas.
A candidatura Vital do Rego representava a morte
anunciada das pretensões do PMDB para retornar ao
governo. Onde o PMDB tinha alguma chance de vitória? No
Senado, com José Maranhão, que se tornaria o principal
objetivo do PMDB na eleição de 2014.
Mas, para isso, era necessário tirar o PT do caminho. RC
era uma alternativa. Era, mas também de alto risco, porque
naqueles dias as expectativas de vitória de RC eram vistas
como bastante reduzidas.
Além disso, a aliança com o PSB, depois de anos de
oposicionismo, desmoralizaria o PMDB por completo e
racharia o partido em definitivo, o que teria impactos
eleitorais importantes, especialmente na candidatura de
Maranhão ao Senado. Além de não acomodar todo o PMDB,
esse acordo poderia provocar um rompimento nacional com
o PT e com o governo.
278

Como se vê, seria um movimento de alto risco para José


Maranhão e Cia. E o que RC queria mesmo era o pacote PT-
PMDB. Sem o PT, o PMDB ficaria isolado e frágil demais para
seguir adiante. Por isso, depois de várias tentativas, sem
êxito, de se aproximar de José Maranhão, RC promoveu, no
dia 02 de junho na Granja Santana, aquela enigmática
conversa a dois com o prefeito de João Pessoa, Luciano
Cartaxo, onde certamente lançou suas iscas que acabaram
abocanhadas pelos petistas.
O mesmo RC deve ter feito com o PMDB. Ora, se o
governador oferecia ao PMDB as duas vagas na majoritária,
onde ele iria acomodar o PT, com quem já conversava, que
só aceitaria indicar a vaga de senador?
O desfecho dessa história todo mundo já sabe. O PT
rompeu unilateralmente com o PMDB para se coligar com o
PSB, e o PMDB, depois de muitas especulações, acabou
lançando Vital do Rego para o governo e José Maranhão para
o Senado. Maranhão estava de volta ao jogo.
Maranhão, a noiva da eleição
Depois dos muitos erros cometidos em eleições
pregressas, erros que lhe custaram seguidas derrotas, José
Maranhão dessa soube se movimentar com muita
habilidade nos mares revoltos de uma disputa cheia de
alternativas e incoerências.
Enquanto Lucélio grudou sua imagem na de RC, sem
que isso significasse uma campanha conjunta, e Wilson
Santiago se tornou o “Senador de Cássio”, Maranhão foi
cortejado por todos os lados na sua condição de “noiva” da
eleição.
279

Único nome realmente estadualizado na disputa,


Maranhão enfrentaria dois candidatos sem muita inserção
no estado.
Lucélio, em razão do parentesco com o irmão prefeito
da Capital tem um nome forte em João Pessoa, mas carece
de apoio no resto da Paraíba. Constrói às pressas acordos
com grupos e políticos tradicionais sem que isso represente
a certeza da transferência de votos.
Faz um discurso sem muita consistência que aposta
apenas no “novo pelo novo”, sem adentrar nas grandes
questões da Paraíba e do Brasil, que serviriam para
distingui-lo dos outros candidatos. O que é mesmo o novo
que Lucélio propõe?
Já Wilson Santiago, mesmo tendo sido deputado
estadual e federal, e depois de ter assumido o Senado por
alguns meses e enfrentado uma disputa judicial contra o
hoje aliado Cássio Cunha Lima, de quem pretendia ficar com
o mandato de Senador, nunca foi uma liderança
estadualizada.
Não foi por outro motivo que, lembrando Ney Suassuna
em 1998 (“O Senador de Zé”), outro ilustre desconhecido
para o eleitor Paraibano, Santiago apostou no vínculo com
Cássio para alavancar sua candidatura. Isso por si só mostra
as suas limitações eleitorais para enfrentar disputa dessa
envergadura.
Por isso, segundo as últimas pesquisas, José Maranhão
não apenas manteve os percentuais que ostentava antes
mesmo de oficializar sua candidatura (25%), como amplia
seus votos a cada pesquisa e colhe os frutos de uma longa
vida política, no meio dela, de três mandatos de governador.
280

E por se tratar de uma eleição parlamentar, que difere


bastante das eleições para o executivo, onde a longevidade
política mostrou-se como um óbice nas duas eleições de que
participou, para o Senado, entretanto, acaba sendo uma
vantagem nessa disputa.
Há um aspecto que é central para potencializar o bom
desempenho maranhista nessa eleição. O de não ser atacado
por nenhum dos candidatos ao governo, todos de olho no
eleitor que votou no PMDB nas últimas eleições e, mais
ainda, num acordo para o segundo turno.
E Maranhão se move também sem produzir atritos,
colhendo frutos em todos os pomares, entre cassistas e
ricardistas.
Enfim, se não for produzida nenhuma grande alteração
na disputa para o Senado e Lucélio Cartaxo não se beneficiar
do crescimento de RC, considerando sempre o acerto das
pesquisas, José Maranhão é o grande favorito para vencer no
próximo dia 5.
281

QUEM VENCEU NA
PARAÍBA EM 2014
Outubro de 2014

Assim como na guerra, na política há derrotas na


vitória. E vice-versa. Quem nunca ouviu falar na expressão
“vitória de Pirro”, que serve para designar vitórias que
foram, na realidade, grandes derrotas pelo alto custo que
exigiram para serem conquistadas, fragilizando o
“vitorioso” para embates futuros?
Pois bem. É hora de avaliar os resultados eleitorais da
Paraíba, em 2014. Quem foram os grandes vencedores?
Quem foram os grandes derrotados? Quem venceu e não
pode comemorar como merecia? Quem perdeu e, mesmo
assim, sai fortalecido do pleito? Vamos tentar responder a
essas indagações, lembrando sempre que, especialmente as
derrotas, não devem ser entendidas como definitivas, e o
derrotado de hoje pode vir a ser o grande vitorioso na
eleição seguinte.
Vejam o caso de RC. Vitorioso em 2010 na Capital
Paraibana, dois anos depois foi o grande derrotado, para
voltar a ser novamente vitorioso, em 2014. Cássio Cunha
Lima obteve duas grandes vitórias seguidas (2002 e 2006)
para o governo, em Campina Grande, e nas eleições
seguintes (2004 e 2008), para a Prefeitura, foi derrotado por
Veneziano Vital do Rego.
Recuperou todo o seu prestígio e liderança em 2010,
saindo do pleito considerado quase como imbatível para a
eleição seguinte e acabou enfrentando a primeira derrota
eleitoral da vida. Enfim, as vitórias e derrotas de 2014 não
282

devem servir de parâmetro para vislumbrarmos os


resultados dos futuros embates, porque eles ocorrerão
daqui a dois anos, e até lá muita água correrá por baixo da
ponte. Mas, certamente, elas servirão de referência e ponto
de partida para a construção das alianças futuras. E das
vitórias.
As derrotas de Maranhão, em 2010, e Cássio, agora em
2014, para ficarmos apenas nos casos mais recentes, são
exemplos de quem superestimou sua própria força e
subestimou a dos adversários. Nos dois casos, os
adversários de ambos era Ricardo Coutinho, que não deixou
de sofrer dos perigos da autossuficiência e da
superestimação de seu próprio prestígio em João Pessoa,
que o levou a uma derrota inesperada. Certamente, o erro de
2012 fez o governador corrigir os rumos políticos, colocar
os pés no chão e se mover para evitar ser derrotado agora.
Por isso, por lidar com o curto prazo e as contingências
próprias do mundo da política, o grande desafio da análise –
não da ciência política, registre-se – não é prever resultados,
mas estabelecer com clareza a correlação de forças das
disputas e projetar o seu desenvolvimento tendo como
principal finalidade demarcar as ações que se empreendidas
no futuro pelos contendores.
Os vitoriosos de 2014
Há cinco meses projetava-se como os grandes
derrotados dessa eleição o governador Ricardo Coutinho e o
PMDB. O primeiro, acossado pelo lançamento da
candidatura de Cássio Cunha Lima, ex-aliado e então
favorito nas pesquisas. O segundo, o PMDB, a caminho do
isolamento, vivia na indefinição sobre seu candidato ao
governo, Veneziano Vital, numa aliança com o PT que não
283

prosperava e sem grandes perspectivas para eleger


expressivas bancadas de parlamentares.
Um movimento foi o responsável para alterar o destino
desses dois sujeitos políticos: a conversa do governador
Ricardo Coutinho com o prefeito pessoense Luciano
Cartaxo, que aconteceu na primeira quinzena de junho, e
que selou uma aliança inesperada, para dizer o mínimo. O
anúncio posterior e unilateral do abandono por parte do PT
da aliança com o PMDB teve consequências tão profundas
no resultado do pleito de 2014 que só o tempo foi capaz de
estabelecê-las com razoável precisão.
Ricardo Coutinho
Primeiro porque tirou o Ricardo Coutinho do
isolamento político. Segundo, agregou o precioso tempo de
TV petista, o que acabou sendo decisivo durante a campanha
para que a campanha socialista pudesse mostrar tanto as
realizações do atual governo como “desconstruir” ou
“reconstituir” a imagem de Cássio Cunha Lima no estado,
por mais de três anos preservados dos ataques dos
adversários. Terceiro, a aliança com o PT juntou as duas
principais máquinas administrativas e políticas na
estratégica João Pessoa, que abriu caminho para RC
recuperar a hegemonia eleitoral perdida sem a qual seria
impensável qualquer recuperação e perspectiva de vitória
no resto do estado.
Quarto, a decisão do PT de abandonar os
peemedebistas foi a pá-de-cal na candidatura de Veneziano
Vital, que já vinha dando sinais de que não seria mantida.
E a inevitável retirada de Veneziano abriu caminho para
a efetivação da temerária estratégia de RC de resolver, se
possível, a disputa em primeiro turno.
284

Estabelecidas as bases em João Pessoa, RC passou a


atuar na consolidação e construção de alianças locais – com
os Moraes, no Vale do Sabugi, com Cralos Antônio, em
Cajazeiras, com os ex-prefeito Tayrone e seu o grupo, em
Sousa, e em Campina, com o Feliciano.
Além disso, RC buscou conquistar o eleitor
peemedebista que nas últimas três eleições votou contra o
cassismo, inclusive em 2010, quando o candidato do grupo
tinha sido o próprio RC.
Coutinho apostou que Cássio tinha um teto eleitoral na
Paraíba, o que nunca o tornou imbatível e, como
consequência disso, na capacidade do governador, ajudado
pela força do cargo, de mobilizar essa outra banda do
eleitorado.
A competente campanha na TV, que desnudou Cássio
Cunha Lima relembrando fatos pretéritos de sua vida
pública, bem como seu desastroso governo, teve como
sempre papel decisivo.
A confrontação calculada ao longo dos quatro anos de
governo com a Assembleia fortaleceu o discurso de RC e,
agora no confronto com Cássio, um quadro tradicional da
tradicional política Paraibana, caiu como uma luva na
estratégia discursiva ricardista. Era RC contra a política
tradicional.
Ponto a ponto, RC foi superando todas as dificuldades,
inclusive quando mudou de marqueteiro pouco antes do
início do embate, e fez a campanha entrar nos eixos da
tradicional polarização que marca a política no estado há
tempos.
O PMDB
285

A estratégia deu certo, no que RC foi ajudado pelas


contingências nacionais, com a ida de Dilma e Aécio Neves
para o segundo turno.
O que teria acontecido caso fosse Marina e não Aécio a
disputar com Dilma? Esse o único fato que eu apontava no
final do primeiro turno que poderia interromper as
expectativas de vitória de RC.
Fato que certamente foi muito ajudado pelas possíveis
acomodações nacionais dos peemedebistas no futuro
governo de Dilma, e também pela possível aliança em apoio
a Veneziano Vital, em 2016, em Campina Grande.
O apoio do PMDB, de Vital e Veneziano e de José
Maranhão, dos Paulino, em Guarabira, dos Motta, em Patos,
dos Maia, em Catolé, que foram fundamentais para a criação
da frente anticassista no segundo turno.
Especialmente pela vitória eleitoral do PMDB, que saiu
fortalecido pelas vitórias obtidas para a Câmara dos
Deputados, onde ocupará três vagas, e para a Assembleia
Legislativa, onde ocupará quatro vagas.
Além da eleição do Senador José Maranhão, lançado às
pressas e em função daquele movimento que fez Ricardo
Coutinho de atrair o PT, fato que, temporariamente,
fragilizou o PMDB, mas que, no desenrolar dos
acontecimentos, foi a salvação da lavoura para o partido.
Se observarmos bem, a manutenção da aliança PSB-
PMDB-PT é a reconfiguração, da antiga e poderosa frente de
partidos que atuou unida nas eleições Paraibanas do
segundo turno de 2002 até as eleições municipais de 2008.
Sob a liderança do PMDB, agora ela passa à liderança de
RC. Coisa de profissional.
286
287

CASSISMO, RUMO À DECADÊNCIA?


Novembro de 2014

Derrotado na Convenção do PMDB, em 1997, o grupo


Cunha Lima ainda esperou até 2001 para finalmente sair do
PMDB.
Antes disso, iniciou uma aproximação com o PT que
resultou numa aliança para a Prefeitura de Campina Grande,
em 2ooo, que fez de Cozete Barbosa, até então maior
referência de oposição em Campina Grande, vice do
candidato à reeleição Cássio Cunha Lima.
Cozete, quatro anos antes, obtivera na cidade 42,5%
dos votos para o Senado e poderia se tornar uma pedra no
sapato do cassismo.
Em João Pessoa, tentando ajudar ao projeto cassista no
estado, o PT local tanto fez que inviabilizou internamente a
candidatura a prefeito do então deputado estadual petista,
Ricardo Coutinho, que acabou renunciando à indicação.
Em 2000, o PT poderia ter tido dois fortes candidatos à
Prefeitura das duas maiores cidades do estado e preferia ser
linha auxiliar do grupo Cunha Lima.
Com RC fora do caminho substituído por Luís Couto,
ficou pavimentada a tranquila reeleição de Cícero Lucena,
também ainda no PMDB, que acabou vencendo no primeiro
turno com 74,2% dos votos (quatro anos depois, Ricardo se
elegeria Prefeito de João Pessoa no primeiro turno com uma
votação de 64,5%).
No mesmo ano, só que em Campina, Cozete Barbosa,
traída pelo então governador e candidata à reeleição, obteve
288

menos de 10% dos votos (9,6%) e desapareceu em


definitivo da política.
Uma relação pendular com a esquerda
Até o anuncio da filiação de Cássio ao PSDB, a família
Cunha Lima havia mantido uma boa proximidade com a
esquerda na Paraíba. Cássio, por exemplo, fez parte da
corrente “Viração”, a juventude universitária do PCdoB
quando estudante da UEPB. Candidato a deputado federal,
Cássio foi apoiado pelo PCdoB, em 1986. E em todas as
disputas eleitorais até 2002, PCdoB e PCB apoiaram os
Cunha Lima nas disputas em Campina Grande; em 1990,
para o governo, apoiou Ronaldo Cunha Lima no segundo
turno.
Nesse curto trajeto, Cássio manteve uma relação
pendular com a esquerda. A estreia do “jovem” Cássio na
política não eram um bom sinal. Por sua atuação na
Constituinte, foi “reprovado” pelo DIAP ao obter uma nota
de 4,5, num total de 10,0. Cássio se deslocou para do
“Centrão”, o bloco conservador que foi criado para impedir
a aprovação de proposta populares na Constituinte.
Já em 1989, apoiou a candidatura de Lula no segundo
turno contra Collor. No governo do estado, Ronaldo Cunha
Lima seguiu a cartilha dos cortes nos gastos públicos. Em
1994, o grupo Cunha Lima compôs a maioria do PMDB
Paraibano que apoiou a candidatura de FHC à Presidência
da República – mesmo o PMDB tendo um candidato, Orestes
Quércia. Vitorioso, os vínculos do grupo Cunha Lima com o
governo FHC e com o PSDB se fortaleceram, em especial com
Jose Serra, que seria o candidato a presidente do PSDB, em
2002.
289

Cícero Lucena participou da equipe de Serra no


Ministério do Planejamento durante sua passagem pela
então Secretaria de Integração Regional, entre 1995 e 1996.
E o substituto de Lucena foi Fernando Catão, hoje um dos
três familiares que Cássio nomeou para o Tribunal de Contas
do Estado durante o seu governo – os outros dois foram
Fábio Nogueira e Arthur Cunha Lima.
Essa relação com FHC se tornou mais tensa quando o
grupo Cunha Lima foi derrotado na convenção do PMDB de
1998. Vitorioso, o grupo maranhista avançou sobre os
espaços dos Cunha Lima no Governo Federal. O grupo do
então governador José Maranhão, que apoiou por quase oito
anos o governo FHC, ocupara o espaço que fora dos Cunha
Lima: Ney Suassuna agora era o Ministério da Integração
Nacional com a missão de completar a obra iniciada por
Cicero Lucena de extinguir Sudene, o que finalmente acabou
acontecendo nos estertores do governo tucano, em 2002.
As divergências locais colocaram os dois grupos
peemedebistas em rota de colisão. Na Convenção Nacional
do PMDB, por exemplo, que decidiu a posição do partido na
eleição presidencial de 1998 (apoio à reeleição de FHC ou
lançamento da candidatura de Itamar Franco, que havia se
filiado ao PMDB para ser candidato), o grupo maranhista
votou pelo apoio a FHC, enquanto os “ronaldistas” optaram
pela candidatura de Itamar, que reforçava a oposição.
As derrotas nas convenções estadual e nacional do
PMDB e o consequente alijamento das disputas em 1998,
associado ao excelente desempenho de Cozete Barbosa para
o Senado naquela eleição (a petista obteve 19,7% dos votos
no estado e 42,5% em Campina), que projetou sua sombra
sobre o projeto de reeleição cassista, em 2000, promovem o
290

interesse de uma inédita aproximação na Paraíba do grupo


Cunha Lima com o PT.
Intensas articulações foram feitas e muitos petistas,
mesmo no dia do anúncio da filiação de Cássio ao PSDB, em
2001, mantinham sinceras esperanças que o então Prefeito
de Campina Grande e candidato ao governo da Paraíba se
filiaria ao PTB.
A opção de Cássio pelo conservadorismo
Quando, entretanto, foi se delineando a força da
candidatura de Cássio ao governo, reforçados pela
proximidade de Cícero Lucena com o presidenciável tucano
José Serra, o PSDB nacional foi seduzido e todas as portas e
janelas do partido (e do governo federal) foram abertas para
Cássio na Paraíba.
À força e ao apelo popular da candidatura de Lula,
Cássio preferia as asas acolhedoras dos tucanos, o que
significava apoio da máquina federal e financeira, que
funcionaria como um contraponto à força da máquina
estadual, à época nas mãos do maranhismo.
E Cássio deu, certamente, o passo decisivo para sua
carreira e para o seu futuro exatamente no momento em que
o Nordeste começava a viver uma viragem à esquerda. E ao
abandonar o movimento de aproximação com o PT e com
Lula, realizado cuidadosamente nos três anos anteriores,
Cássio perdeu a oportunidade histórica de ser o grande
referencial político do lulismo na Paraíba depois de 2003,
em um Nordeste prenhe de mudanças sociais, econômicas e
políticas.
As vitórias apertadíssimas para o governo que Cássio
obteve em 2002 e 2006, esta última no governo e utilizando
todos os meios que estavam ao seu alcance, e que lhe
291

custaram o mandato dois anos depois, mostram o erro


estratégico de uma opção política que isolou-o à direita,
quando toda sua trajetória anterior foi, senão de uma
aliança sólida, mas de flertes com a esquerda na Paraíba.
Vejam no quadro abaixo que, quando Cássio se aliou ao
PT, em 2000, na eleição para Prefeito de Campina Grande,
ele chegou a 71,4% dos votos. Depois que rompeu com a
esquerda, e esta passou a se aliar à oposição ao cassismo
com o nome de Veneziano Vital, o grupo Cunha Lima sofreu
duas derrotas.
Mesmo na vitória de 2012, o grupo manteve no
primeiro turno o mesmo desempenho eleitoral das derrotas
anteriores, conquistando a Prefeitura em razão da divisão
da coalizão que governou Campina por oito anos. Vejam que
o desempenho eleitoral do cassismo também é decrescente
nas eleições para o governo, tanto no primeiro quanto no
segundo turno, em Campina Grande.
Tendo como base a eleição de 1990, quando Ronaldo
Cunha Lima foi candidato a governador, as votações dos
candidatos apoiados pelo grupo Cunha Lima, incluindo as do
próprio Cássio, estão em descenso e é provável que assim se
mantenha. 2016 será um teste, se não definitivo, mas
decisivo para mostrar se a decadência do cassismo se
desenvolverá como mais ou menos rapidez. Se a frente que
venceu as eleições em 2014, e que se anuncia em todo o
estado, for mantida em Campina Grande, o grupo Cunha
Lima tem muito a temer em 2016. E uma derrota na Rainha
da Borborema pode ser o início do fim de uma liderança do
porte da que Cássio Cunha Lima se tornou na Paraíba.
292

Ele e sua família manterão ainda a importância política,


especialmente por atuarem na segunda maior cidade do
estado, mas a tendência é que se transformem com o tempo
em grupo auxiliar das forças que disputarão a hegemonia
política na Paraíba. Assim como se tornou o “braguismo”. No
momento, o PMDB, em nítida decadência, está em pleno
processo de captura.
Chegará a vez do cassismo?
293

2015
294

O DITO E O NÃO DITO NA POSSE DE


RICARDO COUTINHO
Janeiro de 2015

A posse para o segundo mandato de Governador de


Ricardo Coutinho expressa bem as mudanças políticas pelas
quais a Paraíba passou nos último quatro anos. Com a
exceção de Efraim Moraes e Damião Feliciano, poucos foram
os aliados, por exemplo, que se repetiram na solenidade da
última quinta-feira. Pontuava em destaque o ex-governador
José Maranhão, que tomou o lugar de Cássio Cunha Lima. O
que ostentavam em comum era a condição de ex-aliados e
de candidatos derrotados pelo dono da festa, Ricardo
Coutinho.
Essa troca de papeis entre Cássio e Maranhão exibe com
clareza pelo menos duas coisas: a primeira, é que
certamente foram as duas décadas de acirradas disputas
entre os dois que promoveu o surgimento de uma nova
liderança capaz de encerrar esse ciclo; a segunda, é que RC
soube, em momentos distintos, construir alianças com os
dois para em seguida derrota-los, cada um a seu tempo.
E há algo mais que une Cássio Cunha Lima e José
Maranhão quando o assunto é enfrentar Ricardo Coutinho:
ambos subestimaram a força eleitoral do “Mago” e isso foi
fatal para que fossem derrotados. A diferença entre os dois
momentos é que Maranhão enfrentou RC com a máquina do
governo nas mãos e acreditou que apenas isso, que é a
capacidade de arrebanhar aliados e mobilizar recursos,
seria suficiente para assegurar-lhe a vitória.
A derrota cassista
295

A soberba cassista tinha a ver com outra coisa: a crença


de que era imbatível e que o povo o levaria, sem muito
esforço, a uma vitória esmagadora, mesmo como candidato
de oposição. O desgaste de RC de um lado e sua liderança de
outro promoveriam um encontro feliz numa vitória
inevitável. Cássio aceitou como verdadeira a sentença de
muitos analistas políticos que creditaram exclusivamente ao
apoio dado a Ricardo Coutinho as razões para a vitória do
socialista, mesmo que os apertadíssimos resultados de suas
vitórias sobre Roberto Paulino, em 2002, e José Maranhão,
em 2006, uma na oposição e outra no governo, fossem
eloquentes demais para demonstrar os limites da liderança
cassista no estado. Como um mantra isso foi repetido à
exaustão e Cássio foi incapaz de entender as verdadeiras
razões que levaram RC à vitória em 2010.
Entre as razões para a vitória de RC em 2010
certamente estava o apoio de Cássio, mas havia algo que
transcendeu aquela disputa e se prolongou até 2014 e,
provavelmente, estará presente nas futuras contendas na
Paraíba até que seja visível o suficiente para que ninguém
mais tenha dúvida de sua relevância para a política
Paraibana. Enfim, o fator determinante que derrotou Cássio
Cunha Lima em 2014 foi o mesmo que derrotou José
Maranhão em 2010: esse irrefreável movimento de
mudança na sociedade e no perfil do eleitor nordestino que
anseia cada vez mais por uma nova política e por novos
políticos no poder. Esse eleitor está nas grandes e médias
cidades, tem acesso à informação proporcionada pela
revolução da internet e anseia por novas práticas políticas
que neguem, entre outras coisas, o familismo e a
apropriação privada do que é público, pelo fim do velho
toma-lá-da-cá que enfeia a política e a torna aos olhos de
muitos uma atividade tão desprezível. Quem faz a grande
296

política no estado e não compreender o alcance dessas


mudanças vai ficar fora do jogo das disputas políticas reais
e assumirá cada vez mais uma posição marginal. Porque
esse é o grande paradoxo desses novos tempos: a negação e
o desprezo pela política promove uma mudança
desorganizada na cultura política. E a cultura política está
mudando, por outras vias que não as criadas pela própria
política.
Ricardo Coutinho e Luciano Cartaxo
Uma das raras personalidades que esteve presente nas
solenidades que marcaram a passagem de governo, tanto
em 2011 quanto em 2015, foi o Prefeito de João Pessoa,
Luciano Cartaxo. Então Vice-Governador e Deputado
Estadual eleito em 2010, Cartaxo transmitiu a faixa de
governador a Ricardo Coutinho no primeiro de janeiro de
2011. Quatro anos depois, estava lá na solenidade de posse
do governador eleito o mesmo Cartaxo, agora ancorado em
uma das principais cabeceiras da política Paraibana, a
Prefeitura de João Pessoa.
Cartaxo talvez não tenha se apercebido ainda, mas era
o único, dentro e fora daquele recinto, capaz hoje de fazer
sombra aos projetos hegemônicos que Ricardo Coutinho já
deve cultivar para a Paraíba depois que derrotou o até então
“mítico” Cássio Cunha Lima. Luciano Cartaxo é herdeiro
legítimo da mesma força simbólica que impulsionou a vida
política de Ricardo Coutinho. A questão é saber se ele, como
diria Maquiavel, dispõe de uma virtú à altura de sua fortuna
política, ou seja, se sua capacidade de entendimento político
está à altura desses tempos históricos que lhe são
alvissareiros nesse Nordeste prenhe de mudanças.
Os dois pontuam como aliados, hoje, mas já foram até
bem pouco tempo ferrenhos adversários. Assim como foram
297

Cássio e Maranhão. Nessa Paraíba de mudanças políticas


avassaladoras, toda realidade é instável, assim como as
alianças que lhe dão suporte.
298

O EMBATE SILENCIOSO ENTRE RC E


LUCIANO CARTAXO EM JOÃO PESSOA
Abril de 2015

O oposicionismo do PSB da Capital é latente, a tensão


dos socialistas com o PT e a administração de João Pessoa
crescente, mas ninguém espere um rompimento da aliança
entre Ricardo Coutinho e Luciano Cartaxo, celebrada em
junho do ano passado, para breve.
Há questões de ordem local e nacional em jogo que
serão medidas no seu devido tempo para que uma resolução
definitiva seja posta em prática.
A popularidade de Cartaxo
Um ponto decisivo será a avaliação não apenas do
governo, mas do desempenho pessoal do prefeito pessoense
daqui a alguns meses. Pouco mais de dois anos depois do seu
início, a administração petista ainda não conseguiu definir
uma cara, uma prioridade ou algo que a distinga de outras
administrações. Mesmo sem projetos inovadores, a PMJP
tem muitas iniciativas que, caso se efetivem com sucesso,
renderão um bom portfólio a ser apresentado nos debates
eleitorais do próximo ano.
As creches, as UPAs, o programa de habitação que
pretende entregar 13.000 casas até o fim da administração
cartaxista, mesmo sendo iniciativas do Governo Federal, são
obras executadas pela PMJP. A revitalização do Parque Sólon
de Lucena é outra obra importante em andamento, que dará
não apenas uma nova cara, mas um novo uso ao principal
cartão postal da cidade.
299

Ou seja, quem acredita que as dificuldades pelas quais


passa a administração petista hoje inviabilizam o projeto de
reeleição de Luciano Cartaxo é preciso esperar um pouco
mais. Pessoalmente, acredito que o prefeito pessoense tem
condições de reverter essas expectativas atuais de derrota,
mas para isso precisa evitar novos erros políticos que se
tornaram comuns nesse curto período de pouco mais de
dois anos de administração.
Em grande medida, isso significa que ele deve se
esforçar por agregar à imagem de sua administração, e à sua
própria imagem como político e administrador, através de
ações e discursos, um sentido transformador, de ruptura
com antigas práticas políticas, campo em que o governador
Ricardo Coutinho ocupa atualmente sem rivais à altura.
RC é o “reformador”. Cartaxo é o quê?
Caso Cartaxo chegue ao final do ano com a popularidade
em alta, a iniciativa política fica com ele, que pode dar as
cartas e mexer as peças ao sabor das suas conveniências
políticas. Do contrário, dependerá cada vez mais dos aliados.
RC na linha de frente na defesa de Dilma no NE. No
campo administrativo, um dos erros mais evidentes da PMJP
foi deixar que os principais projetos de mobilidade urbana
caíssem nas mãos do governo estadual, sem, no entanto,
tomar suas próprias iniciativas. A construção de dois
grandes viadutos, além de uma grande perimetral que ligará
a BR-101 a vários bairros e a orla pessoense, projetos que
visam desobstruir três imensos gargalos hoje do trânsito da
Capital – os acessos a Cruz das Armas, a Mangabeira e ao
Geisel, – darão uma imensa visibilidade à administração
estadual em João Pessoa.
300

As escolhas de RC foram cirúrgicas. Mangabeira é o


maior bairro pessoense. O Geisel não tem o mesmo
tamanho, mas a localização do viaduto, na BR, permitirá que
a vida dos condutores que trafegam naquele trajeto nos
horários de pico se torne menos desconfortável. O mesmo
em relação a quem vem de Recife. Quando essas três obras
estiverem prontas, o que deve acontecer bem antes de
outubro de 2016, RC terá dado três grandes contribuições à
melhoria da qualidade de vida da cidade.
Além disso, outras iniciativas como as melhorias no
Almeidão, no Ronaldão e no Dede, agora Vila Olímpica, entre
outras obras, agregam imenso valor ao portfólio ricardista
na Capital, além do que ele já dispunha quando foi Prefeito
de João Pessoa. Enfim, RC trabalha para ser um grande
eleitor em 2016 na Capital, situação que difere muito da
enfrentada por ele em 2012, quando o desgaste dos
primeiros meses de governo, sem ter tido ainda a
oportunidade de apresentar os resultados de sua
administração, praticamente inviabilizaram sua pretensão
de recuperar o controle da administração pessoense.
Ricardo Coutinho X Luciano Cartaxo
Como tem feito desde que assumiu a PMJP, em 2005, RC
prioriza a administração para só depois deixar claro seus
planos e objetivos políticos. Não que ele deixe de fazer
política. Pelo contrário, faz o tempo todo, escolhendo seus
adversários, especialmente aqueles que rendam acréscimos
para a imagem que o eleitorado aprecia de político corajoso
e republicano.
Administrou João Pessoa por quatro anos em minoria
na Câmara, dose que repetiu no Governo do Estado. Duas
apostas de alto risco, mas que deram grandes resultados,
porque RC passou a mensagem que queria para o eleitorado:
301

a de que não se submetia aos interesses de um parlamento


marcado por práticas deploráveis, como a troca de favores –
de vários tipos – em troca de apoio político.
A briga de RC com o parlamento não era um mero jogo
de cena ou manifestação autoritária. Havia nela uma
mensagem subliminar que apontava para a ideia de uma
nova cultura política a amparar as relações entre Governo e
Assembleia. E um antídoto, largamente utilizado durante a
campanha, contra o adversário Cássio Cunha Lima, que
romperia a aliança para incorporar o anti-RC, incluindo aí, e
principalmente, esses aliados que RC combateu.
Cássio vestiu o figurino com perfeição e foi derrotado
nele vestido, por mais que tenha tentado se livrar dele
durante a campanha, sem sucesso. RC parece ter sido o
único político capaz de entender os novos humores e o novo
perfil do eleitorado. Cartaxo faz o contrário. Governa quase
sem oposição na Câmara de Vereadores, mas o resultado
disso é uma imagem de quem se acomoda a interesses nem
sempre republicanos, sem enfrenta-los.
Transforma sua base política na Câmara numa “Arca de
Noé” disforme, sem identidade, pela sua heterogeneidade
política e ideológica. Cartaxo age como se não levasse em
conta os apelos por uma nova política, sem transmitir para
esse eleitorado, cada vez mais representativo, através de
ações e discursos, seu compromisso com essa mudança.
Até o PSDB, inimigo mortal do PT no plano nacional, não
apenas apoia a administração do petista, como dela
participa controlando a política de comunicação do governo
– sintomaticamente, os melhores produtos dela são
produzidos pelo próprio prefeito quando concede
entrevistas em rádios sobre sua administração.
302

Num outro traço distintivo, ao contrário de Cartaxo, RC


faz a defesa de Dilma Rousseff e compra a briga com o
eleitorado antipetista e com a mídia nacional que dia e noite
faz oposição ao Governo Federal. Com isso, ocupa o espaço
vazio na política regional deixado depois da morte de
Eduardo Campos e do fim do mandato de Jacques Wagner, e
fala para o público interno, o eleitorado de esquerda de
quem se afastou depois de 2010.
Esse ponto RC também levará em conta para um
rompimento com Luciano Cartaxo, apesar de não ser
decisivo para suas pretensões nacionais futuras.
Cássio e Cartaxo: paqueras
Por enquanto, RC arma o cerco sobre Luciano Cartaxo,
que não parece saber como sair dele, mostrando grande
desconforto e, às vezes, desorientação política. É certo que,
não sendo petista, há mais conforto de RC nesse embate,
cuja parcela do eleitorado que rejeita nacionalmente o
governo Dilma é ainda expressiva, especialmente em um
ambiente de crise política e econômica.
Cartaxo parece temer a contaminação do seu governo e
a sua própria com a crise nacional. E nesse ponto reside,
talvez, um esforço do prefeito para se desvencilhar do
incômodo que representa a questão nacional com dois
acenos ao conservadorismo por parte do petista. Um, é a
manutenção da aliança com o PSDB, uma jabuticaba bem
Paraibana, e as paqueras cada vez mais explícitas com o
cassismo.
303

TRAPALHADAS PETISTAS
Abril de 2015

A assinatura do Deputado Estadual petista, Anísio Maia,


em um pedido de abertura de CPI que pretende investigar o
programa Empreender Paraíba, do governo estadual, de
iniciativa do tucano Dinaldo Wanderley Filho, revela mais
do que o jogo de tensão que permeia as relações entre PT e
PSB na Paraíba, mas como os petistas tem sido maus
jogadores.
Como até as areias da praia do Cabo Branco sabem,
Anísio Maia é ligadíssimo a Luciano Cartaxo e deve ao
prefeito pessoense a sua reeleição com a engorda da votação
obtida na capital na última eleição – Maia obteve, em 2010,
1.911 votos; em 2014, saltou para 9.777, uma engorda de
mais de 500% a mais de uma eleição para outra.
Pois bem. O que revela o envolvimento de Anísio Maia
em uma iniciativa da oposição tucana na Assembleia
Legislativa, que tem por objetivo explícito reforçar a
estratégia que pretende levar à cassação de Ricardo
Coutinho no TRE?
Um primeiro aspecto a ser ressaltado é que parece
faltar a Maia o que sobra hoje no governador quando o
assunto é apoio à Presidenta Dilma Rousseff: solidariedade
entre aliados. Afinal, o PT de Anísio Maia apoiou, desde o
primeiro turno, a reeleição de Coutinho e participa do
governo estadual. Com essa atitude, o PT corre o risco de
alguém atinar para o fato de que essa atitude lembra muito
a postura que boa parte dos peemedebistas tem com Dilma
Rousseff.
304

Mesmo no governo, o PMDB age como se fosse um


partido de oposição, fato que levou à furiosa reação de Cid
Gomes, que, de dedo em riste apontado para os deputados
peemedebistas, instou-os a “largarem o osso” do governo e
assumirem a oposição! Cid, como era de se esperar de um
Gomes, entregou em seguida o cargo de Ministro da
Educação já que, sabia-se de antemão, Dilma não poderia
trocar o apoio do PMDB para mantê-lo no cargo. Cid Gomes
foi aplaudido entusiasticamente pelas duas atitudes,
principalmente por petistas.
As opções de cada um
Considero que um dos atributos mais importantes de
quem faz política é a paciência. E saber esperar o momento
certo para agir, portanto, não é para qualquer um. A tensão
nas hostes petistas em razão das movimentações do PSB e
de Ricardo Coutinho em João Pessoa é cada vez mais
evidente. Por mais que pareça óbvio que a intenção do
governador seja mesmo lançar um candidato à prefeitura
pessoense, esse passo ainda não foi concretizado não apenas
porque ainda é cedo, mas também porque é carregado de
riscos.
RC pretende evitar os erros de 2012. E por ter várias
alternativas, a iniciativa política é do governador, cabendo a
Luciano Cartaxo trabalhar para viabilizar-se sem depender
de qualquer apoio para reeleger-se. E sem oferecer razões
para justificativas futuras de rompimento. O PSB tem três
alternativas em 2016: apoiar Cartaxo sem participar da
chapa (evidentemente, a menos improvável e razão de toda
essa tensão), indicar o vice de Cartaxo ou lançar candidatura
própria.
Como se vê, das três opções, a única que serve
plenamente a Cartaxo é a primeira, que, em caso de vitória,
305

o deixaria livre para disputar em 2018 o governo estadual.


Essa hipótese só será factível se, quando 2016 chegar,
Cartaxo estiver numa posição de incontestável liderança e
popularidade, o que não é o caso, hoje. As duas últimas
opções servem ao governador, sendo que a segunda é única
capaz de acomodar todos na aliança.
E manter essa janela aberta pode ser estratégico para o
futuro do PT caso os riscos de derrota no próximo ano sejam
reais. Como diria a sabedoria popular: “é melhor um pássaro
na mão do que dois voando”. A Prefeitura de João Pessoa é
grande o suficiente para acomodar o PT. E, dependendo da
situação de Cartaxo, um rompimento com RC pode criar em
todos, inclusive nos aliados mais próximos, a expectativa de
uma provável derrota.
Trapalhadas petistas
Por isso, a atitude de Anísio Maia de assinar o pedido de
abertura de CPI contra o governo RC é mais uma das tantas
trapalhadas políticas cometidas pelos petistas. Primeiro,
porque ela oferece a justificativa para o rompimento, o que
RC não dispõe ainda – dizer que o PT se aliou aos inimigos
para enfraquecer um governador tão leal ao projeto
nacional do partido tem força, inclusive na base social
petista. Segundo, porque tal atitude pode enfraquecer o
ímpeto que move RC na defesa do governo Dilma em razão
da falta de reciprocidade na Paraíba, único local onde o PT
pode retribuir a iniciativa política do socialista, que hoje
compra uma briga com setores poderosos da sociedade e
com o eleitorado antipetista.
Num quadro como esses, é mesmo estranho que o PT
Paraibano comece a por um pé no barco tucano, partido que
na Paraíba é liderado por um dos expoentes nacionais do
306

aecismo, Cássio Cunha Lima, que os petistas não cansam de


chamar de “golpista” pela defesa que faz do impeachment.
E, por fim, ao oferecer uma justificativa em caso de
rompimento, Cartaxo perde o seu principal discurso, que
remeteria a uma possível “ingratidão” do PSB de não
retribuir o apoio dado pelo PT, em 2014, em um dos
momentos políticos mais críticos para o projeto de reeleição
do governador Ricardo Coutinho.
Enfim, recomenda-se paciência e sangue frio à direção
petista, ou seja, ao Prefeito Luciano Cartaxo. Paciência e
sangue frio que, como se sabe, o Governador Ricardo
Coutinho tem de sobra.
307

OS PROBLEMAS DA TERCEIRIZAÇÃO
DO TRAUMA
Abril de 2015

Segundo matéria assinada pelo competente jornalista


Lenilson Guedes e publicada no Jornal da Paraíba de ontem,
auditoria do Tribunal de Contas do Estado encontrou
irregularidades na prestação de contas de 2011 da Cruz
Vermelha na gestão do Hospital de Emergência e Trauma de
João Pessoa.
Segundo o TCE, a Cruz Vermelha não conseguiu
comprovar despesas no valor de R$ 614 mil do total de
repasses à Organização Social. As irregularidades envolvem
pagamento de horas extras, estoques declarados e não
comprovados, contratos com empresas, passagens aéreas.
Em razão disso, o TCE aprovou as referidas contas “com
ressalvas”, mas aplicou multa tanto no ex-secretário
Waldson de Sousa quanto em Edmon Gomes da Silva Filho,
da Cruz Vermelha.

O Hospital de Traumas de João Pessoa tem sido, desde


que foi terceirizada sua gestão, uma das principais dores de
cabeça para o Governo da Paraíba. São questionamentos
oriundos de sindicatos, do Tribunal de Contas, do Ministério
Público, que envolvem um conjunto de questões cuja
prevalência deixa dúvida a respeito dos ganhos
administrativos e políticos dessa iniciativa. Será que não
está na hora de ser revista?
A rumorosa terceirização do Trauma
308

Desde 2011, quando o Governo do Estado repassou a


gestão do Hospital de Trauma de João Pessoa para a Cruz
Vermelha um intenso debate se estabeleceu na Paraíba a
respeito desse procedimento. A justificativa do governo leva
em conta o maior dinamismo que uma entidade não estatal
para adquirir equipamentos, medicamentos e contratar
pessoal com o objetivo de viabilizar um melhor
funcionamento do hospital.
Os críticos da iniciativa argumentam que a
terceirização enfraquece o SUS, transfere recursos públicos
da saúde para uma empresa que se passa por uma
organização social e precariza relações de trabalho. Em
meio a esse debate ficam os usuários, cuja rapidez e
qualidade do atendimento pode representar muitas vezes a
diferença entre a vida e a morte. É bom que se frise,
entretanto, que os críticos da terceirização do Trauma
majoritariamente não são adversários políticos do governo.
Pelo contrário, já que o PSDB, que na Paraíba é liderado
pelo tucano Cássio Cunha Lima, não apenas defende, como
pratica política semelhante, por exemplo, em São Paulo. Os
críticos mais incisivos estão localizados na militância de
esquerda, principalmente no sindicalismo da saúde pública,
e no Ministério Público, em especial no Ministério Publico
do Trabalho.
Entre os primeiros estão muitos que atuaram com o
governador nos seus tempos de sindicalista, o que não deixa
de ser surpreendente que tenha sido logo Ricardo Coutinho
a colocar em prática tal ideia. No Ministério Público as
críticas estão centradas nas relações de trabalho que burlam
os concursos públicos, mas que, deve-se ressaltar, não
começaram em 2011, e existem desde que o Hospital de
Trauma foi inaugurado, em 2001.
309

Como ressaltou o procurado Eduardo Varandas, em


2011, quando esse debate apenas começava: “Desde a sua
criação, o hospital nunca teve o seu quadro próprio de
servidores a ser provido pelo devido concurso nos termos
da Constituição,” preferindo o governo optar pela prática
pouco recomendável da contratação de trabalhadores pro
tempore, o que sempre foi uma janela aberta para o
apadrinhamento político.
Disso resultou, ainda segundo Varandas, na
deterioração e má conservação daquele equipamento e em
serviços nem sempre de boa qualidade. Além desses, um dos
óbices mais difíceis de serem removidos – e, talvez, uma das
principais motivações do governador – foi o das
cooperativas médicas, declaradas ilegais por
representarem, vejam só, terceirização de atividade-fim –
isso nos lembra um debate bastante atual, não é mesmo?
Terceirização na saúde pública?
Com tantos exemplos de terceirizações oriundos do
serviço público, não foi por acaso, portanto, que acabou
ganhando impulso o debate a respeito da terceirização,
agora das atividades-fim, na Câmara dos Deputados. E o
exemplo do Hospital de Trauma de João Pessoa, com seus
problemas administrativos recorrentes, são um bom
exemplo do quanto a terceirização pode criar dificuldades.
Por outro lado, é necessário reconhecer que o atual
modelo de gestão da saúde pública no Brasil precisa de
ajustes. A simples e pura defesa desse modelo acaba, em
nome de interesses muitas vezes puramente corporativos,
por inviabilizar iniciativas que possam melhorar a
assistência à saúde no Brasil. E por isso considero que o
primeiro passo seja uma profunda e transparente avaliação
310

que envolva os usuários, os servidores da saúde e todas as


esferas de governo.
E que essa avaliação parta das experiências resultantes
do atual modelo de gestão pública da saúde e das diversas
experiências de terceirização. No caso do governo da
Paraíba, parece cada vez mais óbvio que o modelo de
terceirização dos hospitais públicos parece ter se esgotado
e é chegada a hora de superá-lo. Nem o critério do “custo-
benefício” parece justificar a sua manutenção.
Pelo menos a substituição de Cruz Vermelha por uma
empresa estatual de administração hospitalar, nos moldes
da EBSERH do governo federal, que permita um mínimo
controle por parte do Estado, seja uma saída de curto prazo.
311

O EMBATE POLÍTICO SUBTERRÂNEO


Abril de 2015

A política passa por profundas mudanças, o que, claro,


reflete as mudanças nas economias e nas sociedades do
mundo inteiro. Especialmente depois do advento da
internet e, mais recentemente, das redes sociais, um novo
cidadão parece emergir, mais atento à política como nunca
se imaginou. Esses novos instrumentos de debate, de
divulgação de ideias e de informações, e de mobilização
social e política que estão mudando em profundidade, para
o bem e para o mal, o perfil do eleitor, o que tem tornado a
política mais complexa e ainda mais imprevisível.
No Nordeste, essas mudanças aconteceram quase ao
mesmo tempo em que se completava o processo de
amadurecimento do seu eleitorado, que é resultado das
amplas transformações na economia, na sociedade e na
cultura que a região viveu nas últimas décadas. De uma
formação majoritariamente rural, onde o peso da
agricultura chegava próximo dos 30% do PIB, o Nordeste
hoje ostenta um peso para esse setor da economia inferior
aos 10%. Os serviços e a indústria dominam a produção
econômica da nossa região. Resultado disso foi uma
mudança expressiva na origem do eleitorado, hoje
majoritariamente morando em cidades. Para se ter uma
ideia, mais da metade do eleitorado Paraibano vive em
apenas 20 cidades. Essa urbanização da vida social trouxe
implicações políticas que aos poucos foram se
estabelecendo. Novos políticos em ascensão provenientes
das novas classes médias que emergiram nessas últimas
décadas nos grandes centros urbanos estaduais, que foram
312

nascendo para a política fora ou à revelia dos grupos


familiares, foram ocupando cada vez mais espaços. São
sindicalistas, professores, funcionários públicos, médicos,
advogados, que aos poucos foram se contrapondo aos
tradicionais grupos oligárquicos, cuja marca principal foi, o
que ainda subsiste, transferir como um patrimônio familiar,
o lugar ocupado na política.
As velhas práticas familísticas e patrimonialistas,
próprias dos grupos políticos tradicionais, muitos deles com
décadas de atuação política, foram aos poucos sendo objetos
de rejeição desse eleitor médio cada vez mais bem
informado e preocupado com essas questões. Se isso o
distancia da política e desses políticos, estabelece um
modelo ideal de prática política que, se não existe na prática,
é cada vez fonte de inspiração do discurso políticos. Aos
trancos e barrancos, e fruto dessa pressão social, o Estado
também se torna mais transparente. As instituições se
modernizam e se amoldam as novas exigências políticas do
cidadão. A política resiste, mas é obrigada cada vez mais a
aceitar essas novas formas de cidadania. Se pensarmos bem,
com todos os problemas, especialmente a desilusão e a falta
de confiança dos eleitores, a política mudou. E para melhor.
A política Paraibana
A Paraíba terá de aprender a conviver sem o peso
político das tradicionais lideranças que hegemonizaram
nossa política e marcaram o seu desenvolvimento por todo
o século passado. Epitácio Pessoa, José Américo de Almeida,
Argemiro de Figueiredo, Ruy Carneiro, Wilson Braga,
Tarcísio Burity, Ronaldo Cunha Lima, José Maranhão, só
para citar os nomes que ainda são lembrados, figuram nessa
lista de lideranças cujo poder político nasceu da junção da
força do familismo com a capacidade de arregimentação que
313

o controle do Estado oferecia. Notem que todos esses nomes,


mesmo de formação predominantemente urbana, tinham
fortes raízes nas oligarquias agrárias. A exceção talvez seja
mesmo Ronaldo Cunha Lima e Tarcísio Burity, que são
expressões dessa transição econômica, social, política e
cultural que o Nordeste viveu entre as décadas de 1960 e
1980. Todos eles, em algum momento, lideraram seus
grupos e emprestaram seus nomes às respectivas
hegemonias políticas que representavam.
Esse tempo está passando no Nordeste, assim como já
passou no Sul e no Sudeste. Não que a influência familiar
tenda a desaparecer, nem a do poder econômico, esse sim
cada vez mais presente na política e no Estado. Mas, ela
expressará cada vez mais as novas bases sociais dessa nova
cultura política. Na Paraíba, sem entrar no mérito a respeito
de nossas lideranças, vivemos talvez os últimos espasmos
do tradicionalismo político. As duas principais lideranças
que hegemonizaram, num esquema de gangorra, entre 1990
e 2010, a política Paraibana, dão hoje lugar a essas novas
lideranças que estão em ascensão. Novos quadros políticos,
cuja origem social e a trajetória em muito difere das
lideranças tradicionais de José Maranhão e Cássio Cunha
Lima. Ricardo Coutinho e Luciano Cartaxo são expressões
disso. Um já se consolidou como liderança estadual. A outra
se esforça por ser e tem o caminho aberto à sua frente. Basta
entender o que acontece na Paraíba e no Nordeste, hoje.
314

CÁSSIO E A VIOLÊNCIA NA PARAÍBA


Abril de 2015

Nesse mesmo dia, o senador Cássio Cunha Lima subiu à


tribuna do Senado para falar de violência na Paraíba. Tinha
nas mãos o relatório da pesquisa realizada pelo Fórum
Brasileiro da Segurança Pública sobre violência e as
informações do que ocorria em Campina Grande na cabeça.
Falou da “falência do sistema de segurança pública” da
Paraíba e dos dados que colocam o estado em lugar de
destaque nesse triste ranking.
Realmente, é verdade que a Paraíba sofreu um duro e
grave revés entre os anos 2002 e 2012 quando o assunto é
segurança pública. Também é verdade que, ao nos
depararmos com os dados dessa publicação, e para sermos
justos, nos dois únicos anos que se referem ao governo
Ricardo Coutinho o que se observa é uma redução, e não o
aumento da violência, especialmente quando o assunto se
refere à taxa de óbitos por armas de fogo.
Em 2011, foram assassinadas 1.403 (taxa de 37 por 100
mil habitantes), enquanto que em 2013 foram 1.260, o que
significou uma redução da taxa para 33/100 mil habitantes
ou 10,2%. Os números que realmente que me
impressionaram, contudo, foram aqueles que mostram a
evolução das taxas de homicídios na Paraíba, ou seja, como
chegamos a esses trágicos índices.
E nisso o senador Cássio Cunha Lima, ao invés de
apontar o dedo, teria muito o que explicar não fosse ele o
principal responsável por esse verdadeiro desastre
humanitário que vivemos. No último ano do governo José
315

Maranhão/Roberto Paulino (2002) foram registrados 451


homicídios na Paraíba (taxa de 12 por 100 mil habitantes).
Quando Cássio deixou o governo, em 2009, os
homicídios haviam atingido os 1043 por ano, o que
representava uma taxa de 27,8/100 mil. Ou seja, em apenas
seis anos, os assassinatos com armas de fogo na Paraíba
cresceram 130%! E continuaram em crescimento até 2012,
quando houve a primeira redução em dez anos.
Por mais que seja expressão de insensibilidade olhar
para essa realidade apenas como “dados”, “números” – um
professor meu dizia que o maior problema das estatísticas é
quando nós passamos a fazer parte delas, – ela está aí, senão
a desdizer por completo discursos como os de Cássio, que
procura se apresentar como não tivesse responsabilidade
alguma com eles, mas a mostrar o tamanho do nosso drama
e o quanto ele é real. Não cabe ao governo subestimá-los ou
procurar converter toda crítica em ação política. Mais do
que qualquer coisa, esses dados nos enfeiam.
Enfeiam-nos, mas nos revelam, porque enquanto eles
majoritariamente acontecerem nas periferias de grandes
cidades como João Pessoa e Campina Grande, serão apenas
números a serem manipulados pelo interesse circunstancial
da política.
316

CÍCERO DISSE NÃO A CÁSSIO


Maio de 2015

A previsível decisão de Cícero Lucena de não aceitar o


convite do senador Cássio Cunha Lima e do presidente
estadual do PSDB, Ruy Carneiro, para ser o candidato tucano
a prefeito de João Pessoa no próximo ano, demonstra tanto
a fragilidade do grupo cassista na maior cidade do estado, ao
mesmo tempo em que expõe o racha definitivo entre aqueles
(Cássio e Cícero) que não faz muito eram considerados
“irmãos”. Cássio depende cada vez mais do antiricardismo
em João Pessoa, que parece ser uma tendência cada vez mais
restrita a setores do funcionalismo que pouco tem a ver com
sua liderança pessoal. 2014 demostrou isso. Por outro lado,
ao perder um aliado como Cícero Lucena numa cidade
estratégica como João Pessoa, o maior colégio eleitoral do
estado, Cássio é empurrado cada vez mais para o interior,
onde o ex-governador já perdeu muito do seu brilho e da sua
influência. Mesmo em Campina Grande já é possível verificar
uma curva descendente nas votações obtidas desde 1990
pelo grupo Cunha Lima na cidade. Os 62% obtidos por
Cássio para o governo na eleição de 2014 já representam
uma distância considerável dos 82% obtidos por Ronaldo
Cunha Lima, em 1990.
O esforço que fez Ronaldo para projetar Cícero Lucena,
seu vice-governador, numa expressiva liderança em João
Pessoa, passou a contrastar em muito com o que fez Cássio
para desprestigiá-lo nos últimos anos, o que agora se reflete
nesse isolamento que coloca o PSDB pessoense na difícil
posição de não contar com um candidato competitivo
oriundo dos seus quadros na disputa do próximo ano na
317

capital Paraibana. Além disso, Cássio tem de conviver com a


humilhação de ver tucanos pessoenses participando e
apoiando o governo petista de João Pessoa, seu adversário
nacional histórico.
Cícero Lucena: ascensão e queda
Cícero Lucena, segundo ele próprio declarou por
diversas vezes, tinha Ronaldo Cunha Lima como uma
espécie de pai. Ronaldo foi o principal incentivador e
responsável pela meteórica carreira do ex-senador tucano.
De um obscuro empresário, Cícero foi alçado à condição de
vice-governador da Paraíba em 1990, e depois a
governador, quando Ronaldo teve se deixar o governo para
dar continuação à carreira política se candidatando ao
Senado. Em seguida, por indicação de Ronaldo, Cícero
Lucena assumiu a Secretaria de Articulação Regional, no
governo Fernando Henrique Cardoso, onde tinha status de
ministro, o que o ajudou a abrir os caminhos pelos quais se
elegeu prefeito de João Pessoa, em 1996, pelo PMDB. Cícero
se reelegeria para o mesmo cargo, em 2000, ainda
peemedebista. Como já relatou o ex-governador José
Maranhão em mais de uma ocasião, Cícero teria sido o
candidato de consenso ao governo, em 2002, o que teria
evitado o racha que levou o grupo Cunha Lima a sair do
PMDB e ingressar no PSDB. Lucena não apenas não aceitou
para permitir que Cássio Cunha Lima fosse o candidato,
como abdicou de qualquer projeto de disputar aquela
eleição naquele ano, já que o seu vice-prefeito era o então
maranhista, Haroldo Lucena. Depois de 2004, Cícero ficou
sem mandato, no limbo que todo político odeia ficar.
Cícero Lucena ainda seria eleito para o Senado em
2006, após ver seu candidato a prefeito, e até então fiel
escudeiro, Ruy Carneiro, ser derrotado na disputa para a
318

prefeitura de João Pessoa, em 2004, para aquele que era à


época o seu maior adversário, Ricardo Coutinho. Entre 2008
e 2010, entretanto, Cícero Lucena, que pretendia disputar o
governo em 2010, assistiu de longe os movimentos de
aproximação entre Cássio e o desafeto Ricardo Coutinho, até
que essa aproximação resultasse não apenas no apoio, mas
numa coligação partidária de fato, que implodiu
politicamente sua candidatura. Em 2014, após defender
enfaticamente a candidatura de Cássio ao governo, sentiu
novamente que o tapete lhe era puxado em baixo dos pés
quando viu seus aliados – Cunha Lima e, quem diria!, Ruy
Carneiro – negociarem a única vaga para o Senado, que era
sua por direito, para ter o apoio de Wilson Santiago, outro
adversário histórico. A resposta de Cícero foi novamente o
silêncio e o distanciamento da campanha, até o anúncio de
sua retirada da vida pública depois dela.
Durante essa semana, quando Cícero Lucena respondeu
pela imprensa ao convite de Cássio e Ruy Carneiro dizendo
que já cumprira sua missão e que “estava fora”, deve ter feito
isso experimentando aquele prazer dos que se vingam
esperando o prato esfriar para degustá-lo com mais deleite.
Sua negativa não foi apenas à possibilidade de retornar à
vida pública, mas uma resposta, passiva é verdade, como
foram todas as que Cícero deu ao que considerou traições de
amigos e correligionários, à crueldade das relações políticas
que, por vezes, são incapazes de enxergar lealdade, mesmo
que seja para retribuí-las.
319

LUCIANO CARTAXO, DO PT, VISITA


ROMERO RODRIGUES, DO PSDB.
E DAI?
Junho de 2015

Uma imagem vale por mil palavras também na política?


Às vezes, sim, às vezes, não. Mas, em política, uma das
maneiras de falar é o silêncio. Ou um ato. Ou uma imagem.
Quando o prefeito Luciano Cartaxo resolveu fazer, no
último sábado, uma visita ao camarote da Prefeitura de
Campina Grande no Parque do Povo, onde foi recebido por
Romero Rodrigues e devidamente anunciado ao grande
público, para em seguida a dupla fazer um périplo pelos
camarotes, é de dar o que falar, não é mesmo?
Alguns dirão que se trata apenas de um ato de cortesia,
de civilidade política. Que é sempre bom não misturar
questões pessoais com política e não exigir tanto do prefeito
petista quando o assunto for suas incursões na vida social.
Quem sabe o prefeito petista queria apenas conhecer aquela
bela festa? Quem sabe?
Se não for por isso, talvez seja adequado pensar que
Cartaxo não dá lá muita importância ao que o líder de
Romero Rodrigues, Cássio Cunha Lima, diz e faz no
Congresso, sempre com grande destaque da mídia, desde
que a Presidenta Dilma tomou posso para cumprir o seu
segundo mandato presidencial – Cartaxo nem sequer deixou
esfriar a repercussão da última visita que a trupe de
senadores comandada por Aécio Neves, que Cássio compôs,
320

fez à Venezuela para constranger o governo brasileiro, num


ato da mais pura provocação e desmiolamento político.
Talvez Luciano Cartaxo não consiga ver relação entre
sua condição de prefeito petista e a de Romero Rodrigues de
prefeito tucano em um Brasil conflagrado pela radicalização
política, onde os mais altos dirigentes petistas declaram que
o objetivo tucano – e da mídia e seus parceiros – é destruir
o PT e impedir a candidatura de Lula em 2018, mesmo que
para isso tenham de prendê-lo.
Será que estamos diante de mais um caso de autismo
político? Como eu não costumo subestimar a sagacidade
política de ninguém, especialmente de alguém que se elegeu
prefeito da maior cidade do estado, nem a capacidade de ler
e ver a realidade – mesmo que seja ao seu modo, – vou
considerar que Cartaxo quis mandar um recado.
A visita de Luciano Cartaxo ao Parque do Povo foi
antecedida por um aumento da pressão política,
proporcionada pelas visitas e inaugurações de obras do
governo do estado em João Pessoa, levando muita gente a
crer que estavam diante de mais um capítulo da esgarçada
aliança entre PT e PSB na Paraíba.
Talvez – é bom ressaltar: talvez – haja na iniciativa de
Luciano Cartaxo um recado que insinua a possibilidade de
que, sem o PSB, outras alianças podem dar suporte ao
projeto político do prefeito, que é se reeleger abrigado numa
chapa puro-sangue.
Se for isso mesmo, o recado de Cartaxo funciona não
como um antídoto, mas um estímulo, e mesmo uma
justificativa, para o rompimento de uma aliança que, se não
deu frutos eleitorais para o PT, em 2014, ajudou a
transformar o governador Ricardo Coutinho na principal
321

liderança a defender a presidenta Dilma e a denunciar o


golpe branco, parlamentar, que está em pleno andamento.
Enquanto o PSDB e determinados seguimentos da
política Paraibana fazem pesada oposição a RC, a principal
liderança do PT no estado se desloca da capital para
participar de uma festa promovida por uma administração
tucana, cujo prefeito é primo do líder da oposição no Senado
e homem de confiança da principal liderança oposicionista
no Brasil, hoje.
Nesses tempos sombrios em que vivemos na política
nacional, que podem resultar em perigosas rupturas
institucionais, é necessário não subestimar o significado de
determinadas atitudes políticas.
322

PSB TERÁ CANDIDATO. CARTAXO


QUE SE CUIDE
Junho de 2015

Quem cultivava nos gabinetes da Prefeitura de João


Pessoa a esperança de que a aliança PSB-PT seria mantida,
perdeu-as durante o último final de semana, quando o
presidente nacional do PSB, o pernambucano Carlos
Siqueira, incluiu João Pessoa entre as cidades nas quais os
socialistas deverão lançar candidatos no próximo ano.
Mais expressiva ainda foi o acréscimo de Siqueira:
“Essas já são as pré-candidaturas confirmadas”. A
informação contida na entrevista de Siqueira não foi
confirmada, mas também não foi negada aqui na Paraíba. E
como em política, em geral, quem cala consente, o silêncio
do governador Ricardo Coutinho parece confirmar o que
muitos tinham como certo já há algum tempo: o PSB terá
mesmo candidato/a em João Pessoa.
E algumas questões parecem já plenamente
amadurecidas para que uma decisão como essa se precipite
aparentemente antes do tempo. Senão vejamos.
Cartaxo, Cássio e a “disputa nacional”
Luciano Cartaxo permitiu que Ricardo Coutinho
liderasse na Paraíba desde que tomou posse do segundo
mandato de governador a luta contra os que querem
derrubar a presidenta Dilma Rousseff. Esse movimento da
oposição tucana tem na Paraíba um território importante
desse embate, já que é paraibana uma das principais
lideranças pró-impeachment, Cássio Cunha Lima.
323

Enquanto RC não perdeu uma oportunidade sequer de


confrontar Cássio e o PSDB em razão do que ele chama de
“golpe”, afinado com o discurso de Dilma, Lula e das
principais lideranças nacionais petistas, Cartaxo mantém
um silêncio que certamente constrange petistas e a base
social do partido em todo o estado, especialmente em João
Pessoa. Há uma semana, instado a comentar sobre o
resultado da última Convenção Nacional do PSDB que
decidiu abraçar a proposta de impeachment, Cartaxo fez que
não era com ele e deu uma de Conselheiro Acácio: “as
críticas fazem parte da disputa política nacional”.
E repetiu o bordão preferido do momento: “Eleição só
em 2016”. Tudo pare evitar uma mera crítica a Cássio. Seria
bom que alguém avisasse ao prefeito pessoense que essa
não é uma mera disputa “nacional”, e mesmo que fosse ele é
uma das figuras “nacionais” do PT, afinal trata-se do único
prefeito petista de uma capital nordestina. Não é esse
modelo de discurso, por exemplo, que adota Fernando
Haddad, prefeito de São Paulo, de longe a cidade que
certamente abriga o maior contingente de antipetistas do
país. Parece ser só uma questão de convicção, compromisso,
consistência política.
E coragem.
Esse embate que se desenrola no país atualmente pode
resultar no afastamento do governo de uma presidenta
eleita pelo povo e empossada há pouco mais de seis meses.
E numa ação que, caso atinja seu objetivo, submeterá os
avanços democráticos e institucionais dos últimos 30 anos
aos caprichos de um mau perdedor. Se isso fosse pouco, essa
mudança não se resumiria a uma simples mudança de
pessoas no governo, mas que resultaria na adoção pelo país
324

de outro modelo de desenvolvimento. Além das implicações


de ordem geopolítica.
Nesse embate, o prefeito petista corre o risco de perder
a confiança de boa parte da tradicional militância petista.
Pior ainda: a base social pode migrar em peso para o PSB de
Ricardo Coutinho. Mesmo experimentados dirigentes, como
o presidente estadual do PT, Charliton Machado, está tão
desconfortável com os posicionamentos do prefeito petista
que resolveu ser ele mesmo o principal porta-voz do partido
no embate direto com Cássio Cunha Lima na Paraíba,
criando um imenso óbice para essa aproximação.
Charliton, aparentemente, está só. Nem a tal “esquerda”
petista, que dispõe de cargos na prefeitura, faz ecoar as
críticas do seu presidente.
Os ataques de Charliton Machado deram certo porque
forçaram Cássio a se posicionar. Mas, mesmo reconhecendo
as dificuldades conjunturais para uma aliança com Cartaxo
em 2016, deixou em aberto o futuro: “Não vejo no curto
prazo a possibilidade de uma aliança com o PT, apesar do
respeito que registro pelo prefeito Luciano Cartaxo. Existe
hoje um fosso que nos separa pela conjuntura nacional. É
realmente algo muito difícil”.
Ricardo vai construir seu candidato
O problema de Cartaxo no curto prazo talvez seja
porque ele só mira o médio prazo. Cartaxo quer ser
candidato a governador, em 2018.
Para isso, ele precisa não apenas se reeleger, mas deixar
alguém de sua estrita confiança na cadeira de prefeito de
João Pessoa quando precisar renunciar à PMJP. Eis uma das
razões que levam Cartaxo a transferir tudo para 2016: ele
quer medir sua força eleitoral para poder decidir se banca
325

uma chapa puro-sangue ou se, para sobreviver, entrega a


vice a outro partido.
É claro que RC percebeu a intenção de Cartaxo e decidiu
não esperar pela iniciativa do prefeito pessoense. Coutinho
vai construir o espaço do seu candidato para testar suas
próprias chances de vitória, o que deve levar ao rompimento
definitivo, já que as rusgas, que já começaram, tenderão a se
aprofundar, porque o espaço que resta ao PSB é o da
oposição.
E com um candidato ricardista na oposição, o pesadelo
de Luciano Cartaxo – enfrentar um candidato apoiado por
Ricardo Coutinho no governo – deve se realizar. E não será
o Ricardo Coutinho desgastado de 2012 que Cartaxo irá
enfrentar, mas um governador que planeja cuidadosamente
cada passo que dá no seu segundo governo, especialmente
em João Pessoa.
Ou seja, o RC de 2016 terá o portfólio da administração
que realizou em João Pessoa e que o credenciou a disputar e
a vencer o governo do estado em 2010. Associado a isso, RC
é cada vez mais uma liderança estadualizada, mas que
precisa manter-se enraizado na capital, sua principal base
eleitoral. Como complemento, uma azeitada máquina
política e administrativa para contrapor à poderosa
máquina que dispõe Luciano Cartaxo. E uma aliança
estadual, que pode juntar num mesmo palanque PSB, PMDB,
PDT, PCdoB, PPS, PRB, PR, PTB e Dem.
326

O JOGO DE LUCIANO CARTAXO


Agosto de 2015

Em um diálogo recente com um amigo de Facebook a


respeito do estilo dos principais contendores da política
Paraibana atualmente (Ricardo Coutinho e Luciano
Cartaxo), eu tentei comparar seus movimentos com uma
partida de xadrez, comparação bastante comum, aliás,
quando o assunto é política.
Escrevi eu na ocasião:
“As peças começam a ser movimentadas no tabuleiro.
Por estilo, Ricardo Coutinho nunca deixa a ofensiva para o
adversário. RC às vezes se dispõe até a sacrificar peças para
fazer avançar sua estratégia. Enquanto Cartaxo é mais
conservador e prepara suas peças para a defesa, protegendo
ao máximo o rei. Ele é um sobrevivente na política e põe em
movimento um estilo de quem sempre espera por um erro
do adversário, apostando no acirramento da disputa mais
adiante, quando o jogo realmente se decide. A questão é que
Cartaxo está diante de um estrategista experimentado
(Ricardo Coutinho) que parece não saber jogar na defensiva,
e que não recua nem mesmo quando todos os indícios
apontam para uma clara possibilidade de derrota. À exceção
da eleição de 2012, esse estilo de RC tem dado certo.”
Deixando de lado a metáforas de enxadristas, é isso que
temos visto. Desde 2013 até junho de 2014, quando foi
anunciada a aliança PT-PSB, Ricardo Coutinho vem
fustigando Luciano Cartaxo, o que aconteceu em várias
ocasiões.
327

Especialmente a partir do início do ano, quando o clima


político se acirrou de vez no país e na Paraíba, Luciano
Cartaxo vem sendo cobrado indiretamente por Ricardo
Coutinho por conta do seu envolvimento quase nulo na
defesa do mandato de Dilma Rousseff.
A motivação tem um duplo sentido: um, afastar Cartaxo
tanto da base social petista e constranger o prefeito em
razão da proximidade com os tucanos pessoenses, de quem
o prefeito recebe apoio; dois, ocupar um espaço que se
encontra vazio de lideranças corajosas o suficiente para
enfrentar esse duro embate político.
Com esse discurso, RC conquistou a liderança entre os
governadores nordestinos e é, hoje, um dos principais
interlocutores do governo federal na região. Há muito,
muito espaço ainda a ser conquistado.
Nesse percurso, Coutinho foi aos poucos criando
justificativas para o rompimento de uma aliança que, se foi
importante para a vitória de 2014, não se pode afirmar que
tenha sido decisiva, assim como eu sempre considerei a
aliança de RC com Cássio, em 2010. E se o fim da aliança PT-
PSB realmente acontecer, como tudo indica, hoje, não
representará sequer uma quebra de acordo, já que 2016 não
entrou em discussão quando o acordo de 2014 foi fechado.
Cartaxo também joga
E deixou de entrar não por conta de qualquer
ingenuidade de Luciano Cartaxo. Para entender isso, é
preciso considerar os objetivos de longo prazo do petista.
Caso o apoio de Ricardo Coutinho à reeleição de Cartaxo
tivesse sido antecipado em 2014, é quase certo que também
seria incluída ali a exigência do PSB de indicar o candidato a
vice, coisa que Cartaxo ainda hoje sequer aceita discutir.
328

E por uma razão muito simples: só Cartaxo tem o poder


de ditar o ritmo da disputa porque só ele dispõe da iniciativa
política e administrativa de sua gestão, que será julgada em
outubro de 2016. Da mesma maneira que RC fez no governo
do estado, Cartaxo poderá fazer na Prefeitura de João
Pessoa. É um poder e tanto, não é mesmo?
Isso significa estabelecer prazos para entregar obras,
agir em pontos estratégicos da cidade, conquistar apoios.
Não esqueçamos que Cartaxo tem o apoio de 23 dos 25
vereadores pessoenses. Por isso, Cartaxo só abrirá mão da
vice – para o PSB ou para qualquer outro partido – quando
tiver clareza do seu exato tamanho em 2016, o que continua
distante de acontecer. E essa é uma carta na manga que ele
não está disposto a perder. O que, claro, não significa
desconsiderar os erros que podem ser cometidos por parte
do petista, e alguns já aconteceram, como já apontamos por
aqui.
RC age e discursa hoje para construir uma imagem para
associá-la ao seu futuro candidato, e o faz com a
competência de sempre. O problema é que não será ele o
candidato, apesar da capacidade de transferir votos ser algo
que sempre dependerá da campanha. Aliás, até agora
ninguém sabe quem representará o PSB na disputa, apesar
de que, depois da entrevista que o governador concedeu
ontem ao Conexão Master, a possibilidade de ser novamente
Estela Bezerra cresceu bastante na minha bolsa de apostas.
Enfim, Cartaxo continua na defensiva, o que é
certamente parte de uma estratégia. Pode ser que no final,
com o tabuleiro mais vazio, ele inicie uma ofensiva na hora
que considerar certa. E essa hora vai chegar.
E é bom ninguém o subestimar.
329
330

A DISPUTA RC X CÁSSIO
PERMANECE ATUAL?
Agosto de 2015

"(Cássio) está coberto por essa aura golpista contra a


presidente eleita e quer também derrubar um governador
eleito. Mas ele vai ter que esperar quatro anos e vai apanhar
de novo”.
A frase acima foi dita ontem (24/08) pelo governador
Ricardo Coutinho em entrevista à imprensa durante
solenidade de entrega da reforma e ampliação da Escola
Estadual Mestre Sivuca. RC se referia ao senador Cássio
Cunha Lima e às esperanças cultivadas, tanto pelo atual líder
da oposição no Senado como por boa parte dos seus
seguidores na Paraíba, de retornar ao governo pelas mãos
não do povo, mas de juízes da justiça eleitoral.
2018?
Mas, há algo que as palavras de Ricardo Coutinho não
expressam com clareza e que só vão ficar mais claras
enquanto 2018 não entrar em pauta. Quando RC diz que
Cássio terá de esperar, o governador parece indicar que não
apenas planeja derrotar o tucano, mas vencê-lo em 2018.
Essas duas alternativas só parecem complementares, mas
não são iguais, porque derrotar Cássio não é o principal
objetivo do governador. RC não age com o fígado e é
estratégia pura.
A primeira questão é que RC chama Cássio para a
disputa, tentando escolher novamente o adversário, e um
adversário que ele pode novamente vencer. Coutinho mais
331

do que ninguém sabe que antagonizar com Cássio mantém o


conteúdo político das disputas eleitorais iniciadas em 2010.
E ninguém hoje representa melhor as características da
velha política derrotadas nas duas últimas eleições do que o
herdeiro dileto dos Cunha Lima.
Eu diria mesmo que RC anseia por uma nova
candidatura de Cássio, mas ela não dependerá
exclusivamente da vontade do tucano. A candidatura de
Cássio em 2018 dependerá de três variáveis, não
necessariamente na ordem a seguir:
1) a disputa em Campina Grande no próximo ano; 2) a
sucessão presidencial e a montagem dos palanques tucanos
nos estados, especialmente no Nordeste; 3) a evolução da
avaliação do governo Ricardo Coutinho nos próximos três
anos.
Vencer em Campina, sem dúvida, dará sobrevida ao
projeto cassista. Uma derrota será um desastre, e isso pode
significar que em 2018 Cássio pode ser obrigado a lançar-se
candidato a governador para colaborar com a chapa
presidencial tucana. É óbvio que Cássio vai tentar evitar isso
a qualquer custo. Restaria a ele a disputa para o Senado, mas
na chapa de quem?
Quanto a terceira variável, é preciso antes dizer que eu
tenho percebido um erro de avaliação comum sobre o futuro
político de Ricardo Coutinho, especialmente a respeito de
nomes para sucedê-lo.
Nome se constrói
O importante mesmo será Ricardo Coutinho manter e
ampliar a boa avaliação do seu governo. Com isso, ele pode
almejar a escolha de um sucessor que seja expressão
legítima do projeto político por ele liderado, sem que
332

necessariamente seja uma liderança política reconhecida –


João Azevedo é um exemplo disso?
No campo ricardista, que inclui hoje o PMDB, não há
lideranças com capacidade de aglutinar e gerar expectativas
de vitória. Veneziano claramente age para recuperar a força
que já ostentou, prejudicada claramente depois que saiu da
prefeitura de Campina. Mesmo eleito prefeito da Rainha da
Borborema, em 2016, Vené terá apenas um ano e três meses
de administração e, claro, não cometerá a loucura de sair da
prefeitura para embarcar em uma aventura. E Veneziano é o
nome do PMDB que o partido dispõe para tentar recuperar
no futuro o governo do estado, e esse não é um projeto de
curto prazo. Por isso, apostar na consolidação da aliança
com o governador Ricardo Coutinho pode ser mesmo a
alternativa política que resta ao PMDB. Resta saber se José
Maranhão terá essa compreensão ou se preferirá o zigue-
zague político próprio dos agrupamentos sem projeto.
Fora Ricardo e Cássio não há muitos nomes disponíveis
no mercado, exceção feita ao do prefeito pessoense Luciano
Cartaxo, que ainda terá de passar pela prova de fogo de
2016.terça-feira, 25 de agosto de 2015.
333

O TIMING DO PSB
Agosto de 2015

Nas várias entrevistas que concedeu a rádios na semana


passada, a pretexto de divulgar evento promovido pelo PSB
sobre atuação nas redes sociais, o presidente do partido em
João Pessoa, Ronaldo Barbosa, deixou mais dúvidas do que
certezas em relação a qual é mesmo o projeto socialista para
a capital Paraibana em 2016.
Apesar de todos os indícios de que o partido de Ricardo
Coutinho pretende lançar candidatura própria no próximo
ano em João Pessoa, Barbosa não contribuiu para clarear
qual é mesmo a intenção da direção partidária.
Sem confirmar a candidatura e reafirmar o óbvio (“o
PSB tem nomes para disputar a PMJP”), a informação mais
relevante no périplo radiofônico de Barbosa foi a de que
qualquer coisa pode acontecer até a conclusão das
convenções partidárias no próximo ano: do lançamento de
candidatura a apoio à reeleição de Luciano Cartaxo, tudo
pode acontecer em relação ao PSB.
Confusão proposital? A posição de Ronaldo Barbosa
parece demonstrar que não. O problema talvez não esteja na
posição individual do presidente do PSB, que talvez
expresse a falta de unidade do partido e confusão política
que toma conta da cabeça dos socialistas em razão da
ausência de uma diretiva mais clara por parte de sua maior
liderança e maior eleitor em João Pessoa, que é Ricardo
Coutinho.
334

Como o governador tem enviado claríssimos recados


sobre sua intenção de lançar candidato na capital, mas ainda
não deixou claro que é isso mesmo que pretende fazer, o PSB
parece ser hoje um dos poucos partidos que importam no
jogo político da Paraíba a não ter uma clara posição sobre
como vai agir em 2016.
Ora, como exigir “reciprocidade” do PMDB pelo apoio
que o PSB pretende dar a Veneziano Vital em Campina?
Reciprocidade a que posição, se os socialistas ainda não
sabem com certeza se pretendem lançar candidato/as em
João Pessoa?
Essa dubiedade em relação à posição do PSB em João
Pessoa quando o assunto são as eleições de 2016 pode ser
medida pela postura da dupla de vereadores que o PSB tem
na Câmara de João Pessoa: enquanto Zezinho do Botafogo
apoia a administração petista, Renato Martins é um dos mais
destacados oposicionistas.
Até quando isso vai persistir? Até às vésperas das
convenções do próximo ano? Isso nem de longe é exemplo
de “nova política”.
“Aliança eleitoral”
Voltando a Ronaldo Barbosa, o dirigente socialista foi
devidamente emparedado quando participou do programa
Correio Debate, na última quinta. Acossado pelos
entrevistadores do Correio Debate, especialmente Fabiano
Gomes e Wellington Farias, Barbosa saiu pela tangente
quando questionado sobre se a aliança PSB-PT seria ou não
mantida.
Barbosa tergiversou, deixando claro que ainda é muito
cedo para antecipar posições. E citou o exemplo de 2014,
quando o PT resolveu de última hora apoiar a reeleição do
335

governador Ricardo Coutinho. Para a surpresa geral,


Ronaldo Barbosa disse que aquela aliança foi apenas
“eleitoral”, o que no jargão da esquerda quer dizer que foi
uma aliança não programática, em suma, de ocasião,
exclusivamente montada para atingir os objetivos comuns
tanto de PT como de PSB.
Toda aliança entre partidos para disputar eleições
pretende-se que seja programática. Eu pelo menos espero
que assim seja. E cada partido tem seus objetivos próprios,
que muitas vezes confrontam com objetivos estratégicos de
um aliado. Assim é a política. No caso da eleição de João
Pessoa, o projeto do PSB de disputar sua prefeitura é mais
do que legítimo, considerando ser ela a mais importante da
Paraíba e locus onde nasceu e se irradiou a força política que
governa hoje o estado.
Vencer em 2016 em João Pessoa é central para a
estratégia do PSB por várias razões. Além do que as críticas
administrativas à gestão petista, a qual o PSB não ajudou a
eleger e da qual formalmente o PSB não participa, são
pontos de grande relevância a justificar a não manutenção
da aliança.
E a questão nacional tende a afastar PT e PSB – só é
preciso agora observar se o PSB da Paraíba pretende
contribuir para uma crítica “pela esquerda” ao PT ou se vai
chancelar o programa adotado por Eduardo Campos, e
depois por Marina Silva, em 2014.
Enfim, o problema do PSB parece ser o timing para
anunciar o rompimento com o PT. A questão é que quanto
mais os dirigentes do PSB tentam encontrar justificativas
para as contradições de sua política, mais eles deixam
margens para questionamentos e abrem flancos para serem
explorados. Notem também que o PT permanece calado
336

sobre essa questão, mesmo que deixando passar


oportunidades para também responder às estocadas no
PSB, e não apenas no campo da política.
Esse melhor momento para o anúncio pode ter passado
e quanto mais tempo leve para ser feito, mais prejuízos
políticos podem causar. E a perda do apoio do PMDB é um
exemplo disso – ninguém no PSB percebeu que Maranhão
precisava ter participado desse jogo? Que Gervásio e
Veneziano sozinhos não comandam o PMDB, especialmente
em João Pessoa?
E Luciano Cartaxo continua a ganhar tempo político e,
portanto, administrativo.
337

A FORÇA DE LUCIANO CARTAXO


Setembro de 2015

Cartaxo vai para a disputa contra o PSB. Sentado na


cadeira de prefeito. Há uma visível euforia no eleitor
ricardista. Ela se deve ao presumível rompimento da aliança
com o PT e ao consequente lançamento de candidatura do
PSB à prefeitura de João Pessoa no próximo ano.
E nada melhor que a inauguração de grandes e
importantes obras de concreto armado para despertar e
manter levantado o ânimo dessa militância que se prepara
para mais uma batalha. Mas, é bom que os socialistas evitem
cometer os mesmos erros que levaram adversários de
Ricardo Coutinho à derrota, tanto em 2010 quanto em 2014:
a soberba, o “salto alto”.
No ano passado, os cassistas riam das chances de
reeleição de RC da mesma maneira que muitos ricardistas,
hoje, embevecidos pelo bom momento político e
administrativo de Ricardo Coutinho, ensaiam assumir essa
postura.
Em razão disso, não custa nada lembrar duas coisas: 1)
quem enfrentará Luciano Cartaxo será provavelmente João
Azevedo, e não Ricardo Coutinho; 2) será a gestão de
Luciano Cartaxo que estará em julgamento no próximo ano,
e, novamente, não a de Ricardo Coutinho.
Da mesma maneira que o eleitor, para o bem e para o
mal, separa a administração municipal da federal, também
separa da estadual. Eleição não é uma disputa entre esferas
de poder e cada uma tem sua própria dinâmica.
338

E são vários os casos em que governadores muito bem


avaliados foram derrotados em suas respectivas capitais. O
contrário também é verdadeiro. Em 2012, por exemplo, o PT
administrava duas grandes capitais nordestinas (Recife e
Fortaleza) e foi derrotado por candidatos apoiados por
governadores, coincidentemente também do PSB (Eduardo
Campos e Cid Gomes, este último à época no partido).
Ali, nós tivemos a conjunção de gestões municipais com
problemas de avaliação e tinham como contraponto
candidatos apoiados por gestões estaduais muito bem
avaliadas. E é essa a grande questão: o que Luciano Cartaxo
terá a mostrar para o eleitorado em termos de realizações
de sua gestão? Ele conseguirá convencer que João Pessoa
continuou avançando ou prevalecerá a ideia de que a capital
retroagiu? Que seu trabalho merece ser aprofundado ou
não? A estratégia de Cartaxo parece ser a de tentar dar à sua
administração um perfil mais voltado à periferia e com a
população mais pobre: construção de casas populares,
creches, postos de saúde.
Já imaginaram o peso dessas imagens no guia eleitoral?
Os depoimentos que podem render? Sem esquecer as
grandes obras, como a reurbanização da Lagoa, que deve ser
o grande marco da gestão a ser entregue às vésperas da
eleição. Além da obra da Beira-Rio, que impedirá os
alagamentos frequentes durante a época de chuvas e
consolidará o trabalho que visa acabar com os
engarrafamentos naquela área, especialmente com a
duplicação da avenida que dá acesso ao Altiplano.
Do ponto de vista político, a consolidação da
candidatura de Manoel Jr. tende a ser benéfica a Cartaxo,
exatamente porque tem Cássio e Maranhão como seus
principais fiadores – talvez só seja possível entender essa
339

aproximação entre os dois observando os arranjos


promovidos lá por cima, em Brasília. Tem a ver com 2018?
O tempo dirá.
Mesmo sem claras divergências com Luciano Cartaxo, o
certo é que Manoel Jr. não pretende reforçar o projeto do
governador em João Pessoa, especialmente se tiver Cássio
como um dos seus principais “conselheiros”. E nesse quadro,
Cartaxo pode ter um alento no segundo turno se enfrentar o
candidato do PSB, já que antes tudo parecia indicar uma
perigosa situação de isolamento para o petista.
E se Cartaxo fizer um esforço para atrair Maranhão...
340

LUCIANO CARTAXO PREFERIU A


COMPANHIA DE OUTROS BRAÇOS
Setembro de 2015

Ter sangue-frio na política não é para qualquer um.


Paciência, muito menos. O prefeito de João Pessoa, Luciano
Cartaxo, anunciou hoje sua desfiliação do PT. Ele passa a
compor os quadros do Partido Social Democrático (PSD).
Ao fazer isso, Cartaxo não resistiu ao medo de enfrentar
em João Pessoa o governador Ricardo Coutinho sem ter a
certeza de contar com o apoio formal do PSDB de Cássio
Cunha Lima. Numa conjuntura nacional em que tanto o PT
quanto o governo federal se mostram acuados pelo cerco
midiático.
Cartaxo viabiliza aliança com PSDB já em 2016
O novo partido de Luciano Cartaxo tem pouca ou quase
nenhuma identidade política e ideológica com o PT, mesmo
compondo a base de apoio do governo de Dilma Rousseff.
O seu presidente é Gilberto Kassab, que foi vice-prefeito
e prefeito de São Paulo eleito quando ainda pertencia aos
quadros do antigo PFL (ex-PDS, ex-Arena), depois Dem. O
PSD foi criado como ponte para atrair deputados filiados a
partidos oposicionistas, especialmente Dem e PSDB, que não
conseguiam sobreviver longe do governo. O presidente do
PSD na Paraíba, Rômulo Gouveia, por exemplo, era um
tucano-cassista quando se filiou ao partido.
Portanto, Cartaxo faz mais que uma mudança
partidária. Ele muda também de campo político no país, e
em momento de muita incerteza e de reconfiguração da
341

própria esquerda. Ao optar por se compor com partidos


mais à direita do espectro político nacional, Cartaxo
abandona não apenas a disputa com o PSB pela base social
do campo da esquerda, que é expressiva numa cidade como
João Pessoa. Ele permite que ela se unifique contra ele.
Por isso, o governador Ricardo Coutinho tem muito a
ganhar com a saída de Cartaxo do PT. No anúncio feito hoje,
Cartaxo esqueceu de avisar a plateia que estava entregando
de bandeja o apoio do PT – que tem o maior tempo de TV e
governa o país, lembremos disso, – ao governador Ricardo
Coutinho, que agradece sorridente presente tão inesperado,
Ou alguém acha que o PT vai ficar mudo diante da
atitude de Cartaxo. O PT vai fazer ao prefeito pessoense uma
pesada crítica política, especialmente por conta do
fortalecimento da aliança com os tucanos.
E com a viabilização do apoio formal do PSDB ao ex-
petista, Cartaxo acaba também contribuindo em outros
aspectos com a estratégia de RC, que desde o início do ano
procura empurrá-lo para a posição que ele, finalmente,
assumiu hoje, isolando-o à direita e aliado ao mais legítimo
tradicionalismo político Paraibano. RC vai reproduzir em
João Pessoa, no próximo ano, a polarização que o levou à
vitória por ampla margem na cidade, em 2014.
Enfim, a decisão de Luciano Cartaxo de sair do PT
apenas é o corolário de uma trajetória pendular que ele
incorporou desde que sentou na cadeira de prefeito. E ela
pode mostrar outra coisa: que a vitória de Cartaxo em 2012
não foi mais que um relâmpago em um dia ensolarado.
Com sua saída do PT, Cartaxo praticamente esvazia a
candidatura de Manoel Jr., que depende muito do apoio de
Cássio e do PSDB para se viabilizar. A questão agora é saber
342

se José Maranhão também está nesse acordo, o que é muito


difícil, mas não impossível. Caso Maranhão não esteja, o
enfraquecimento de Manoel Jr. pode levar o PMDB de volta
para os braços do PSB.
343

2016
344

2016 E O FUTURO DO CASSISMO


Janeiro de 2016

Pela enésima vez − a primeira em 2016 − o deputado


federal Manoel Jr. “admitiu” uma aliança com o PSDB nas
eleições desse ano em João Pessoa. Em declaração dada
ontem ao portal MaisPB, o peemedebista diz ter uma relação
com os tucanos “bastante amistosa” e um “frequente”
contato com suas lideranças. Tudo isso faz o deputado
acreditar que receberá o apoio do PSDB “já no primeiro
turno” para disputar as eleições de outubro.
Eu temo que ter relações amistosas com o PSDB não
venha ser suficiente para que o deputado federal concretize
o apoio tucano à sua candidatura. Manoel Junior, que se
notabilizou nacionalmente nas últimas semanas de 2015
por ocupar um lugar de destaque na “tropa de choque” do −
por enquanto − presidente da Câmara dos Deputados,
Eduardo Cunha, o homem mais desprezado do Brasil no
momento, precisa de muito mais do que relações próximas
com Cássio e cia.
Esse apoio, que eu não acho impossível acontecer,
dependerá, entre outras coisas, da sobrevivência política do
deputado até pelo menos abril, o que significará que ele não
terá naufragado nas águas turvas onde Eduardo Cunha deve
se afogar até lá. Depois, do resultado do assédio que o atual
prefeito de João Pessoa, Luciano Cartaxo, promoverá junto
ao mesmo PSDB, onde conta com a, digamos assim,
“simpatia” da bancada de vereadores do partido, já
plenamente adaptada e com ares de hegemonia na
administração do ex-petista.
345

O PSDB como noiva


Antes de comentar a viabilidade das intenções de Júnior
vale a pena o registro de que o PSDB tende a se tornar na
Paraíba, como já se tornou o PMDB, uma grande noiva a ser
cortejada pelos pretendentes com maior potencial eleitoral.
Em João Pessoa, o PSDB, que lançou candidato nas últimas
três eleições e foi um polo aglutinador de forças políticas e
sociais na capital, hoje cambaleia de um lado para o outro
depois que o ex-senador Cícero Lucena deixou a legenda.
Mesmo sob a liderança de Cícero, os tucanos amargaram
derrota atrás de derrota em João Pessoa (2002, 2004, 2006,
2008, 2010, 2012 e 2014), mas sempre ocuparam o lugar de
segunda força política. Hoje, tem um pré-candidato, Ruy
Carneiro, que ninguém leva a sério, nem mesmo os aliados.
E 2016 será um divisor de águas na sobrevivência do
PSDB como partido capaz de aglutinar outros partidos e
grupos políticos na Paraíba em razão da expectativa de
poder que pode gerar. Especialmente, as eleições em João
Pessoa e Campina Grande, onde o cassismo, se derrotado,
poderá ser reduzido à força auxiliar das outras lideranças
estaduais, consolidadas ou em formação.
Semelhante ao que aconteceu com o PMDB que, até
2010, era o mais importante partido da Paraíba. As derrotas
de José Maranhão para Ricardo Coutinho naquele ano, e
depois de Veneziano Vital, dois anos depois, em Campina,
acabaram por colocar o partido numa posição marginal na
eleição de 2014, incapaz de se viabilizar como alternativa
real na disputa estadual. Posição que se aprofundou depois
da vitória de Ricardo Coutinho, que tem hoje parte do PMDB
orbitando sob sua liderança no estado.
Cássio e João Pessoa
346

Por isso, Cássio jogará todas as suas fichas em Campina.


E não estará aberto a aventuras em João Pessoa. Isso
significa que ele deve trabalhar hoje com duas opções na
disputa da Capital – a análise sobre Campina fica para
depois. No curto prazo, acredito que Manoel Jr. se mantenha
ainda como alternativa em razão do principal objetivo de
Cássio, hoje, que é o afastamento de Dilma Rousseff. No
cenário ideal, com a cassação do registro da chapa eleita em
2014 no TSE e novas eleições. No aceitável, com o
impeachment e a ascensão de Michel Temer, hipótese cada
vez mais improvável. A clara aproximação de Cássio com
José Maranhão – que faz parte da banda temerista do PMDB
– parece ser resultado dessa estratégia nacional que uniu
tucanos e peemedebistas em Brasília. Como a estratégia
naufragou depois da decisão do STF sobre o rito do
impeachment e a provável derrocada de Eduardo Cunha, já
devidamente rifado pelo tucanato, Aécio Neves e Michel
Temer devem novamente tomar rumos diferentes. Aliás, na
entrevista concedida a este Jornal da Paraíba na semana
passada, Cássio não deixou margem para qualquer dúvida
de que o PSDB voltou a apostar na saída pelo TSE, onde
conta com as posições de Gilmar Mendes-Dias Toffoli (vejam
só!) para seguir no projeto do tudo-ou-nada de Aécio.
Enfim, acho que para ter o apoio do PSDB e de Cássio,
Manoel Jr. precisa se mostrar viável nos próximos três
meses – pelo menos com mais potencial do que Ruy
Carneiro, coisa que ainda não aconteceu. Caso contrário, o
peemedebista precisará torcer para que, nas negociações
sobre a vaga de vice na chapa de Luciano Cartaxo, o prefeito
não ceda às pressões cassistas e resolva partir para uma
chapa puro-sangue para tentar repetir o que fez Ricardo
Coutinho, em 2008, na eleição que o reelegeu prefeito de
João Pessoa. Assim, pode ser que sobre a alternativa dessas
347

forças se juntarem em um segundo turno para enfrentarem


João Azevedo.
Enfim, depois da vitória do principal adversário em
2014 e do fracasso do projeto cassista de retomar o governo,
o PSDB parece agora ter suas opções determinadas muito
mais pela exclusão – derrotar o PSB – do que pela afirmação
de uma estratégia de reconquistar a hegemonia política que
um dia teve. Uma vitória, por exemplo, de Cartaxo em João
Pessoa representará inevitavelmente um avanço deste
sobre o espaço da oposição estadual em que, até agora,
Cássio reina sozinho. Uma vitória de RC colocará o
governador numa posição extremamente privilegiada para
expandir sua liderança e manter o controle do governo
estadual em 2018.
348

LUCIANO CARTAXO SENTIU O GOLPE


Janeiro de 2016

Ontem, o secretário de articulação política da Prefeitura


de João Pessoa, Adalberto Fulgêncio, foi escalado para
responder às críticas que o pré-candidato a prefeito de João
Pessoa, João Azevedo, fez na última segunda à gestão do ex-
petista. Entre outras coisas, Azevedo disse que “estamos
vivendo hoje uma gestão que diminuiu João Pessoa”. O
governador Ricardo Coutinho já havia dito, ante de 2015
terminar, que a capital tinha deixado de pensar grande.
Além de falar sobre as obras da prefeitura em
andamento, Fulgêncio disse que Azevedo deveria “trabalhar
mais e falar menos” e desafiou-o a mostrar o que tem feito,
por exemplo, no combate à seca na Paraíba. Ao que parece,
Adalberto Fulgêncio vai cumprir o papel de falar por Cartaxo
quando para o prefeito julgar que respostas e ataques
políticos ao adversário sejam necessários. Até quando der,
Cartaxo falará apenas de “propostas” e dos avanços de sua
administração.
De qualquer maneira, o fato é que, mesmo sem ter sido
o próprio Cartaxo a responder às críticas de João Azevedo,
que em momento algum atacou a pessoa do prefeito, mas fez
críticas contundentes à atual administração, a resposta dada
por Adalberto Fulgêncio mostra que o núcleo duro da futura
campanha de Luciano Cartaxo sentiu o golpe e, portanto,
considerou necessária a resposta. Ao fazer isso, não apenas
legitimou as críticas do socialista, dando a elas a devida
importância, como alçou João Azevedo à condição de
candidato-alvo, deixando claro que ele tem força para
349

ameaçar a hegemonia do atual grupo político que governa


João Pessoa atualmente.
Ou seja, se a intenção das planejadas declarações de
Adalberto Fulgêncio foi preservar o prefeito de uma
confrontação direta com João Azevedo, ele apenas ajudou a
jogar lenha na fogueira da estratégia socialista, que, por
enquanto, é projetar o nome de João Azevedo para torná-lo
mais conhecido do eleitorado. E nada melhor para isso que
manter aceso um debate a partir das questões levantadas
pelo próprio Azevedo. Isso significa que o pré-candidato
começou a pautar o debate, conduzindo-o para a direção que
melhor lhe convém. Como em política a simbologia das
palavras e dos atos tem muita eloquência e muitas vezes
falam por si, a resposta de Luciano Cartaxo às críticas de
João Azevedo não mostram apenas o quanto elas podem
incomodar, mas o quanto elas já incomodam.
Polarização antecipada
Pode ser também que faça parte da estratégia cartaxista
antecipar a polarização com o PSB para evitar que outras
alternativas, como as candidaturas de Manoel Jr. ou Ruy
Carneiro, prosperem e se viabilizem eleitoralmente. Isso
significa que Cartaxo talvez pense que a melhor estratégia
seja um enfrentamento direto em que a eleição se
encaminhe para ser resolvida logo no primeiro turno. Para
que isso aconteça, o melhor cenário para Cartaxo seria que
essas candidaturas não prosperem, o que pode viabilizar a
montagem de uma ampla frente anti-ricardista que inclua o
PSDB e – quem sabe? – o PMDB. Se for isso mesmo, trata-se
de uma estratégia perigosa, sem dúvida, porque o confronto
assumiria contornos mais imprevisíveis, podendo se repetir
na eleição para prefeito, por exemplo, o mesmo ambiente
das disputas de 2010 e 2014 para governador.
350

Enfim, se alguém tinha dúvida a respeito da viabilidade


eleitoral de João Azevedo e sua capacidade de polarizar a
eleição, a resposta de Adalberto Fulgêncio deixou isso muito
claro. Pelo visto, nem os resultados da última pesquisa
acalmaram as hostes cartaxistas.
Charliton Machado pode ser o candidato do PT
No final de novembro do ano passado, eu conversei com
o presidente do PT, Charliton Machado. Na ocasião, outros
dirigentes petistas acompanharam nosso diálogo a respeito
das alternativas do PT na eleição para prefeito de João
Pessoa. Dois consensos pareciam estar a caminho: um era o
da candidatura própria; o outro, era que o candidato deveria
ser Luiz Couto, alternativa que considerei improvável. Não
sei se foi a primeira vez, mas o nome de Charliton foi ali
ventilado, mas ele descartou na hora.
Ontem, Charliton concedeu entrevista em que deixou
seu nome à disposição do PT para as disputas para a PMJP.
Charliton é professor da UFPB e doutor em Educação. Como
presidente do PT, mostrou muita firmeza na condução do
partido, tendo sido peça-chave para evitar, por exemplo, que
o então petista Luciano Cartaxo construísse uma aliança
com Cássio Cunha Lima, já em 2014 – Lucélio Cartaxo seria
o candidato a Senador. Além disso, ajudou a reorganizar, ao
lado de outros petistas, o PT após o baque que representou
a saída de um prefeito daquela que era a única capital
nordestina administrada por um petista. Se for mesmo para
valer, trata-se de um nome qualificadíssimo para a disputa
de 2016 em João Pessoa. Uma preocupação a mais para
o prefeito Luciano Cartaxo.
Lígia Feliciano
351

Na última segunda, a vice-governadora Lígia Feliciano


concedeu uma longa entrevista a uma das emissoras de TV
de João Pessoa. Falou da família, da administração estadual
e do futuro. Alinhadíssima com o governador Ricardo
Coutinho, Lígia chegou mesmo a defender a volta da CPMF
“exclusivamente para financiar a saúde pública”.
O jornalista Heron Cid, que conduziu a entrevista,
anotou em sua coluna no dia seguinte que Lígia Feliciano se
mostrou afiada, inclusive com as “possibilidades futuras que
batem à sua porta em 2018”. O título da coluna tem a forma
e zune como uma mosca azul: “Lígia Feliciano toma gosto”.
352

SOBRE A APROXIMAÇÃO
CÁSSIO-MARANHÃO
Janeiro de 2016

Muito se comentou a respeito de uma aproximação


entre o PMDB de José Maranhão e o PSDB de Cássio Cunha
Lima, duas das lideranças que hegemonizaram as disputas
políticas na Paraíba entre 1995 e 2010. Durante esse
período, eles dois construíram em torno de si poderosos
grupos políticos e controlaram, dentro ou fora do governo,
as disputas eleitorais na Paraíba. Maranhão e Cássio
lograram impedir até onde puderam o surgimento de novas
lideranças no estado capazes de quebrar a lógica implícita
desse antagonismo alimentado eleição a eleição: quanto
mais se prolongasse, a liderança dos dois sobre os grupos
políticos ganharia sobrevida.
Só uma liderança cuja ascensão se deu à margem dessa
disputa poderia realmente quebrá-la, dada a força simbólica
que esse antagonismo assumira. Até Ricardo Coutinho
derrotar José Maranhão em 2010 poucos acreditavam na
possibilidade de que isso poderia acontecer dentro da
política Paraibana, à exceção, claro, do próprio Ricardo e dos
seus aliados mais próximos. O próprio Cássio, quando
apoiou Ricardo para o governo em 2010, pensou primeiro
em dividir o bloco oposicionista que emergira com muita
força das eleições de 2008, e que se azeitaria ainda mais
depois da mais que previsível ascensão de José Maranhão ao
governo com sua cassação. Cássio temia ser esmagado em
2010 se Ricardo Coutinho e Maranhão se mantivessem
juntos.
353

Por isso, apoiou RC para quebrar esse bloco de forças,


sem nunca deixar de pensar no retorno triunfal que
inevitavelmente aconteceria quatro anos depois. Cássio
Cunha Lima, José Maranhão e muita gente nunca
entenderam direito o que aconteceu em 2010, pelo menos
até que o fenômeno voltasse a acontecer em 2014. Ricardo
Coutinho expressa uma nova mentalidade política que não é
nem predominantemente de esquerda, nem de direita: é
expressão de um nova mentalidade social e política, com
ojeriza às formas tradicionais do fazer político, e que
Ricardo Coutinho conseguiu sintetizar em 2014, por
exemplo, através do adágio “o povo não quer tapinha nas
costas, quer trabalho”. Contra o sorriso fácil da foto oficial
da candidatura de Cássio, uma expressão quase mal-
humorada da de RC. O governador tinha
inquestionavelmente razão: parece que começamos mesmo
a passar daquele período em que um dos principais critérios
que determinava escolha eleitoral era a “simpatia”.
Abraço de afogados?
Nesse e em outros quesitos, Ricardo Coutinho parecia
ser um antipolítico. A grande questão é saber até onde isso
é cálculo ou ser é parte de um estilo. Eu diria que são dos
dois, porque política não é só vontade. Vejam outro exemplo.
Quando RC ficou em minoria na Assembleia − situação
política e eleitoral dramática, não é mesmo? − ele explicou
que se quisesse ter maioria bastaria se
dispor a pagar por ela. Quer recado mais eloquente para
o eleitor? Há, claro, muito cálculo político, como eu disse,
mas há também muito de um estilo que parece não
combinar com esse mundo político atual onde “saber fazer
política” ou “ser um bom político” é usar da esperteza, é
354

acomodar interesses muitas vezes díspares, é não fazer o


que tem de ser feito.
Ao seu tempo, RC derrotou José Maranhão e Cássio
Cunha Lima, nessa ordem, e os dois antigos adversários
ensaiam hoje uma aproximação. Aparentemente eles
procuram evitar a ampliação das forças do governador com
a reconquista da Prefeitura de João Pessoa, mas reconhecem
suas próprias limitações. Resistem de toda maneira a serem
obrigados a apoiar Luciano Cartaxo, porque a vitória do ex-
petista representaria o fechamento definitivo de um ciclo:
pela primeira vez em 24 anos uma eleição para governador
não contaria com a presença de pelo menos um deles na
disputa. Porque, caso Cartaxo se reeleja, alguém tem dúvida
de que ele será naturalmente o candidato da oposição? A
nova liderança capaz de acabar com a hegemonia política do
governador Ricardo Coutinho?
Eis traços parecem unir Cássio Cunha Lima e José
Maranhão, hoje. Eles procuram resistir. Afinal, é mesmo
duro reconhecer que a alegria dos velhos tempos já passou.
Cartaxo antecipa polarização com Azevedo
Se tem uma coisa que não resiste na política são
situação criadas artificialmente. Na última segunda, um dos
programas de rádio da cidade ligou para o pré-candidato a
prefeito do PSB, João Azevedo, para saber o que ele achava
do programa de creches da prefeitura. Por que não
perguntaram, por exemplo, sobre os problemas na execução
da obra da Lagoa, ou das dificuldades com da saúde pública
no município? Azevedo foi instado a responder a respeito de
creches que, segundo o discurso de próprio prefeito, será
um dos carros-chefes de sua campanha. Azevedo não
elogiou, claro, mas não depreciou o programa. Apenas disse
que uma administração não podia se resumir a isso.
355

Em seguida, o prefeito respondeu a João Azevedo em


entrevista gravada pessoalmente: “Só quem sabe o
significado de uma creche na vida de uma família é quem
tem a oportunidade de conhecer de perto os depoimentos
dessas famílias. A oportunidade da criança chegar mais cedo
à escola, da mãe poder trabalhar e de sustentar a casa. A
gente prepara uma nova geração para João Pessoa”.
Discurso arrumadinho, bem ao gosto do prefeito.
Ou alguma luz amarela acendeu no bunker cartaxista
para o prefeito abandonar tão cedo a postura do “meu nome
é trabalho” e ir diretamente para o embate tão cedo, ou a
estratégia é mesmo antecipar uma polarização, que será
inevitável,
para evitar o crescimento de outras candidaturas, como
as de Manoel Jr e Ruy Carneiro.
Pelo visto, há muita pressa no PSD. Ou falta de
paciência.
356

2017
357

AS OPÇÕES DE RICARDO COUTINHO


Abril de 2017

Muita gente que lida com política na Paraíba,


especialmente no meio jornalístico, considera como certa a
decisão do governador Ricardo Coutinho de renunciar ao
mandato daqui a um ano para ser candidato ao Senado e,
com isso, seguir o mesmo caminho que trilharam ex-
governadores como Cássio Cunha Lima, José Maranhão e
Ronaldo Cunha Lima, só para citar os casos mais recentes.
Não considero, entretanto, que essa decisão de RC seja
tão óbvia, muito menos certa. Por dois motivos: o primeiro
tem a ver com a vice-governadora, Lígia Feliciano; o
segundo, com o perfil do/a candidato/a, que
necessariamente, para ter viabilidade, deverá representar
não apenas continuidade, mas identidade com o “projeto”
iniciado pelo socialista em 2011.
Vamos ao primeiro motivo.
Caso renuncie ao mandato de governador, em 2018, RC
entregará o cargo a Lígia Feliciano, sua vice, que assumirá
com plenos poderes e, tão mais importante, com direito à
reeleição.
Por conta disso, é difícil acreditar que o deputado
federal Damião Feliciano, cujo histórico de lealdade a
projetos eleitorais dos caciques políticos da Paraíba, desde
2006, é o mesmo que um risco n’água, seja apenas o de se
reeleger tendo sua esposa no comando do governo.
A vice-governadora já tem até programa de rádio.
358

Em 2014, por exemplo, os Feliciano permaneceram


indefinidos até o prazo final das Convenções, e é por demais
sabido que o PDT, o partido de Damião e Lígia, só definiu sua
posição após assegurada a vaga de vice na chapa de
reeleição de Ricardo Coutinho. Caso contrário, sem muita
cerimônia, o deputado do coração teria apoiado Cássio
Cunha Lima.
E essa é outra parte do mesmo problema: como sempre,
os Feliciano não fecharam as portas para a oposição e, sabe
como é, fazer campanha no governo facilita muito as coisas…
O segundo motivo tem a ver com o ou a candidato/a.
Por enquanto, não há definição sobre isso porque depende
da resolução de problema esboçado acima.
Fala-se muito em Gervásio Maia Filho, que hoje preside
a Assembleia Legislativa. Raciocine comigo, possível leitor:
o filho de uma das mais tradicionais oligarquias políticas da
Paraíba tem perfil para representar o legado simbólico,
discursivo, que Ricardo Coutinho constrói na Paraíba, por
mais idiossincráticas que sejam suas alianças no estado?
Não acho.
Além disso, Gervásio Maia é um “cristão novo” no PSB,
e com histórico nada apreciável quando se trata da relação
política com RC.
Lembremos: apesar de Gervásio Maia (o pai) ter sido
um próximo e importante colaborador de Ricardo Coutinho
quando este era prefeito de João Pessoa, o filho não pensou
duas vezes para abandonar RC e apoiar José Maranhão
quando este assumiu o governo, em 2009, após a cassação
de Cássio Cunha Lima. E foi muito bem recompensado por
isso.
359

Então, não sendo Gervásio, quem seria o candidato do


PSB, certamente perguntam os que ainda continuam a
pensar nos termos do tradicionalismo político? A melhor
resposta que eu tenho para essa questão é essa: um nome
que possa ser apresentado ao eleitor não apenas como um
continuador de um projeto administrativo, como eu disse,
mas que também expresse um passo a mais na consolidação
de uma cultura política, aspecto que, na conjuntura de uma
oposição dominada por Cássio Cunha Lima e José Maranhão,
eu acho até mais relevante do que o primeiro.
E, caso as hipóteses desenvolvidas acima façam sentido,
dois nomes me parecem mais ajustados a elas: o de João
Azevedo, ou de qualquer outro “técnico” − Waldson Souza,
por que não? − em caso de uma conjuntura em que o eleitor
privilegie esse perfil, ou Estela Bezerra, no caso de um perfil,
digamos, mais identificado com a trajetória de Ricardo
Coutinho, com mais retórica e mais combatividade, e mais
proximidade com movimentos sociais.
E para os que acham que se trata de uma miragem as
opções apresentadas acima, eu lembro dois exemplos da
eleição de 2014 muito próximos de nós: o primeiro é do
atual governador de Pernambuco, do PSB, Paulo Câmara.
Antes de se eleger governador, Câmara nunca tinha sido
candidato a nada. Era um “desconhecido” secretário do
então governador, Eduardo Campos, até ser apresentado
como seu candidato e vencer a eleição contra tradicionais
políticos pernambucanos.
O segundo é o caso de Rui Costa, atual governador da
Bahia. Antes de ser eleito para o governo baiano, Costa havia
sido duas vezes vereador por Salvador, Secretário do
primeiro governo de Jacques Wagner, e depois deputado
federal. Em 2012, Rui Costa voltou para o governo e, em
360

2014, foi lançado como candidato a sucessão de Jacques


Wagner, que permaneceu no cargo.
Nos dois casos, eram candidatos considerados
inexpressivos, e que pontuavam abaixo dos 10% até a
realização das convenções partidárias. Mas, como eu digo
sempre: entre a convenção e a eleição tem uma campanha
no meio. E é aí que a eleição verdadeiramente se decide,
quando o eleitor começa a decidir seu voto para valer
porque a eleição passa a fazer parte do seu cotidiano. Antes
disso, o que temos são nomes.
E no caso das hipóteses levantadas acima, acredito que
elas dependem da permanência de RC no governo, não
apenas porque elimina as dúvidas a respeito do papel de
Lígia Feliciano, como permite que o atual governador
conduza sua sucessão no cargo, o que é uma vantagem
inquestionável para qualquer candidato/a que receba esse
apoio.
361

CARTAXO, ROMERO, CÁSSIO E


MARANHÃO: 2018 VEM AÍ
Março de 2017

Nem bem terminou o carnaval e, portanto, começou o


ano político, o bloco oposicionista saiu de sua costumeira
letargia por conta dos movimentos programados de suas
principais lideranças.
Primeiro, foi o prefeito de João Pessoa, Luciano Cartaxo
(PSD), que deu início a visitas a cidades do interior,
causando com isso imenso alvoroço não apenas nas hostes
ricardistas, mas também nas cassistas e maranhistas.
A primeira reação partiu do prefeito campinense,
Romero Rodrigues, que cuidou logo de cortar as asas de
Cartaxo e conclamou os tucanos paraibanos à candidatura
própria em 2018.
“Para mim, papel de coadjuvante não é opção”, atalhou
o tucano campinense, deixando claro que Cartaxo não terá
vida fácil para unir PSDB e PMDB em torno de sua
candidatura ao governo. Saia justa para definir o ocorrido é
pouco.
Não se sabe se o que disse Romero tenha sido
combinado com Cássio, hipótese na qual eu apostaria todas
as minhas fichas se as tivesse. A fortalecer a hipótese a
reação pública de Cássio que, como bom ator, reclamou do
tom empregado por Romero, que ele interpretou como
“carão”.
362

Estranha carapuça, essa. Cássio, entretanto, não passou


disso e o assunto morreu, mas o recado foi dado. Cartaxo
entendeu?
No início da semana, foi a vez do PMDB do senador José
Maranhão, que aproveitou a onda para finalmente reunir a
executiva estadual do partido do qual é dono na Paraíba e
passar também o seu recado.
Depois das rusgas que dividem o PMDB desde que o
próprio Maranhão foi derrotado, em 2010, o que deixou o
partido na condição de noiva mais cobiçada – o troféu dos
partidos e dos políticos que um dia foram grandes e hoje
atuam na periferia, como forças políticas secundárias, − os
peemedebistas passaram a acenar com a possibilidade de
lançarem candidatura própria ao governo no próximo ano.
Se é para valer, nós só saberemos nos próximos meses,
mas é bom que não se despreze as circunstâncias de José
Maranhão: senador com mais quatro anos de mandato
assegurado e vislumbrando, por enquanto, um vazio de
lideranças na disputa do governo, em 2018, além da idade
que o aproxima inelutavelmente de um fim de carreira.
Além disso, tem a questão nacional, especialmente a
aliança PMDB-PSDB cada vez mais consolidada, o que torna
os dois partidos irmãos quase siameses quando o assunto é
o espólio do governo de Michel Temer, para o bem – se é que
existe − e para o mal.
Maranhão e os maranhistas avançam porque Cássio
claramente observa o quadro e espera. Sabe que não pode
dar mais um passo em falso, como aconteceu em 2014. Caso
novamente derrotado em 2018, ficará sem mandato e a
caminho da consolidação de uma decadência, já muito
visível em sua trajetória. Cássio não pode errar na escolha.
363

Por isso, é o menos afoito. Pode ir de Cartaxo, pode ir de


Maranhão e pode ir dele próprio, bastando, nesse caso, que
os ventos de uma vitória certa, como era a de 2014, bafejem
seu ego e aticem as expectativas da legião de apoiadores.
Cartaxo, por seu turno, não deve recuar, pelo menos por
enquanto. Estabelecer contatos pelo interior e divulgar seu
nome em meio ao eleitorado só traz efeitos benéficos à sua
imagem.
Dos três, Cartaxo é o que tem menos a perder no curto
prazo e o que tem mais alternativas.
Ele pode ousar e ser candidato, o que certamente só fará
depois de uma análise de reais chances, de sua capacidade
de unir a oposição em torno de si e do potencial de
transferência de votos de Ricardo Coutinho.
Cartaxo carrega consigo a condição de ser, na opinião
deste que escreve essas linhas, a única liderança capaz de
derrotar Ricardo Coutinho e a simbologia que ele representa
na Paraíba de hoje.
Mas, a candidatura de Luciano Cartaxo depende de uma
engenharia política de difícil execução, a começar pela
decisão de entregar a prefeitura nas mãos de um político
como Manoel Jr., enredado em denúncias de corrupção, o
que pode atingir sua candidatura, especialmente em João
Pessoa.
Além disso, Cartaxo pode resolver concluir seu
mandato e tentar eleger seu irmão, Lucélio Cartaxo, ao
Senado. Além de ter o recall da última disputa, serão duas
vagas em disputa. E nesse caso, as opções de Cartaxo podem
se ampliar para além dos partidos de oposição.
364

Por isso, RC por enquanto só observa. E parece namorar


cada vez mais com a ideia de ficar no governo para conduzir
sua sucessão.
Se atrair Luciano Cartaxo dará xeque-mate novamente
em Cássio e Maranhão.
365

CARTAXO ESTÁ FORA DO JOGO


Junho de 2017

Já afirmei nesse espaço que Luciano Cartaxo era a única


liderança capaz de, em situação normal, derrotar o
governador Ricardo Coutinho em 2018. A candidatura de
Cartaxo encerraria a polarização que marcou as duas
últimas eleições na Paraíba e que se caracterizou pela
oposição entre candidatos de perfis muito distintos. RC foi
visto como representante de uma “nova política”,
representava (e continua a representar) a emergência dos
novos sujeitos sociais, de trabalhadores organizados e das
classes médias urbanas de um Nordeste que se modernizou.
José Maranhão e Cássio Cunha Lima eram, por outro lado, a
expressão mais legítima do que se convencionou chamar de
“velha política”, duas lideranças de dimensão estadual ainda
remanescentes do familismo. Cartaxo, não. Ele tem origem e
trajetória semelhante a RC.
Por outro lado, sempre levantei muitas dúvidas a
respeito da candidatura de Luciano ao governo. Não por
falta de vontade e condições, mas pelo perfil pouco ousado,
em razão do excesso de pragmatismo político. Pode-se dizer
que essa ousadia teve RC em 2010, quando deixou a PMJP
para se candidatar ao governo. Apesar de contar com um
vice, à época de sua estrita confiança, não deve ter sido uma
decisão muito confortável para RC deixar uma prefeitura da
importância da de João Pessoa para enfrentar uma disputa
contra um político da tradição de José Maranhão, sentado na
cadeira de governador.
Foi uma aventura de risco calculado, entretanto. A
Paraíba era o último bastião do tradicionalismo político no
366

Nordeste, um estado que não tinha vivido ainda a derrota de


suas lideranças tradicionais para as lideranças originárias
dos grandes centros, em geral com um perfil mais à
esquerda. RC acreditou em sua análise, na estratégia de
confrontar o “velho” e essa renovação chegou à Paraíba.
A estratégia de Cartaxo passa por “blocar” essas duas
lideranças (Cássio e Maranhão) em torno de sua
candidatura e apostar que essa junção se desdobre numa
aliança “geopolítica” entre João Pessoa e Campina, como
aconteceu em 2010 com RC, para compensar o peso da
máquina estadual nas cidades menores.
O problema dessa estratégia é que o peso eleitoral de
Cássio e Maranhão já não é mais o mesmo. Pelo contrário, os
dois experimentam um lento eclipse como lideranças
estaduais, o que torna muito duvidosa essa estratégia
cartaxista.
Se as quatro últimas eleições foram decididas por
margens muito pequenas, é bom lembrar que em 2014
Ricardo Coutinho foi para a disputa quase isolado, contando,
todos lembram, com o apoio de apenas seis deputados
estaduais na Assembleia Legislativa, o que apenas reforçou
como consolidou a liderança de RC.
De lá para cá, não apenas o governo e o modelo de
administração se consolidaram, amadureceram, como RC
construiu uma base política muito mais sólida.
Em termos estritamente de análise, a projeção de uma
disputa estadual muito acirrada no próximo ano, como
foram as últimas, não há como concluir pela
imprevisibilidade do resultado.
Diante de um quadro desses, como imaginar que
Luciano Cartaxo deixará a PMJP, deixando em seu lugar o
367

peemedebista Manoel Jr., alguém que está longe de ser


considerado da confiança de Cartaxo, que ainda teria quase
três anos administrando João Pesso?
Para dificultar ainda mais a decisão de Luciano Cartaxo,
veio a público um acontecimento que torna ainda mais
problemática a situação do prefeito pessoense: foi aberta
uma investigação pela Polícia Federal a respeito de
superfaturamento nas obras da Lagoa do Parque Solon de
Lucena, que certamente produzirão desdobramentos
políticos e eleitorais. Mesmo que não atinja diretamente
Cartaxo, o desgaste já é inevitável.
Enfim, é difícil imaginar um movimento mais ousado de
Luciano Cartaxo que o leve a disputar o Governo da Paraíba
em 2018.
Cartaxo está fora do jogo.
368

RC: RUMO À HEGEMONIA?


Julho de 2017

O anúncio feito por Ricardo Coutinho de que não


renunciará para disputar mais um cargo em 2018, feito em
entrevista concedida ao programa Conexão Master na
última segunda-feira (03/07), não apenas confirmou o furo
dado pelo jornalista Fernando Caldeira que, uma semana
antes, antecipou em seu blog a decisão do governador, mas
confirma a análise feita aqui no Blog do Rubão e publicada
em 6 de abril.
O texto, intitulado ‘As opções de Ricardo Coutinho‘,
procurava confrontar a opinião majoritária entre os
analistas políticos Paraibanos de que Ricardo Coutinho
manteria o padrão recente da maioria dos ex-governadores
e renunciaria em busca de mais um cargo – a exceção foi
Tarcísio Burity, em 1990, que fez um governo desastroso e
não seria eleito.
Não que RC tenha deixado de priorizar o seguimento de
sua carreira política – essa seria a primeira vez que o
governador ficaria sem um cargo público desde que se
elegeu vereador, em 1992, − mas, entre disputar o Senado e
dar continuidade ao “projeto”, que significa impedir a volta
dos adversários ao governo e das práticas políticas e
administrativas que representam, RC optou pelo que, para
muitos, inclusive para muitas figuras próximas a ele,
representa um “sacrifício pessoal”.
Talvez seja, mas não pelo viés pragmático. É preciso ter
virtù para se movimentar nesse pântano político – em vários
sentidos − que se tornou a política brasileira nos últimos
369

anos. Ou seja, a decisão de RC leva em conta cálculos futuros.


E o mais importante deles, e certamente o mais estratégico,
é a busca da consolidação de uma hegemonia ainda
incompleta.
Ainda falta derrotar definitivamente as lideranças ditas
“tradicionais”, como Cássio, que, como um morto-vivo
político, ainda continua a assombrar a vida dos Paraibanos.
Depois de 2018, e a depender do resultado, os grupos e
partidos tradicionais perceberão a necessidade de “reciclar”
suas lideranças para que elas consigam – eu não gosto desse
termo, mas vá lá − “dialogar” com o novo eleitorado.
Notem que a decisão do governador, anunciada dez
meses antes do prazo de desincompatibilização, está dentro
dessa estratégia. Ela procura reforçar a ideia de RC como um
“político diferente” – 2018 será uma eleição que julgará o
governo e a figura do governador como agente político,
onde, do ponto de vista do discurso, o maior espólio a ser
apresentado pelo PSB será a mudança na cultura política do
estado promovida nos últimos anos, contra o “retrocesso”, o
passado, o familismo, o tradicionalismo.
A toada iniciada em 2010 continuará a mesma, agora
sob a batuta provavelmente de um “técnico”, um
“planejador”, um “não-político”, enfim. E caso seja vitorioso,
o cassismo terá sofrido sua derrota definitiva, restando a RC
retomar o controle de João Pessoa e abrir o caminho para
voltar ao governo do estado.
Cartaxo já está fora do jogo, o que facilita muito essa
estratégia – e, se for esperto, permanece assim para
preservar o espólio e tentar mantê-lo em 2020. Maranhão
tem recall, mas lhe falta voto em disputas para o Executivo.
370

Além disso, o quadro eleitoral de 2018 é cada vez mais


favorável ao ricardismo. Mas esse é outro assunto que
trataremos depois.
Enfim, a pergunta mais importante depois de 2018 será
talvez essa: quem sobrou entre as lideranças tradicionais
para confrontar a hegemonia ricardista que, como toda
hegemonia, tem prazo de validade, mas que, pelo visto,
ainda terá longevidade?
371

RC COLOCA JOÃO AZEVEDO EM


CAMPO
Agosto de 2017

Não que precisasse de qualquer confirmação. A intensa


movimentação pelo Estado e as inúmeras entrevistas
concedidas desde que Ricardo Coutinho anunciou que
terminará o mandato de governador e não será candidato a
nada em 2018 já eram sinais suficientemente claros de que
João Azevedo será mesmo o candidato do PSB ao governo no
próximo ano.
Ao antecipar o anúncio da candidatura de João Azevedo
no último domingo em Guarabira, durante o segundo dos
muitos encontros que o PSB pretende realizar por todo o
Estado até o fim do ano, Ricardo Coutinho coloca em
andamento sua estratégia, cujo primeiro passo é começar a
empinar a candidatura do assim chamado
“supersecretário”, ainda um desconhecido da maior parte
do eleitorado paraibano.
Acredito que se João Azevedo alcançar os 10% até
dezembro a estratégia ricardista terá logrado êxito. Não
precisa mais do que isso. Ao projetar alguém relativamente
desconhecido – e sem rejeição – outro fator entrará em
movimento, esse com peso mais psicológico do que eleitoral:
a percepção da força política que tem uma dupla
sustentação, e que é fundamental para qualquer candidato
de situação: o prestígio pessoal do governador e o peso da
máquina estadual.
372

Esse fator tem um impacto também duplo: nos atores


indecisos (deputados, prefeitos etc.), que deixam para a
última hora a definição a respeito de quem apoiar, e nos
adversários. No caso desses últimos, notem que há um certo
alvoroço entre aqueles apontados hoje como possíveis
candidatos da oposição, Romero Rodrigues e Luciano
Cartaxo.
A disputa por espaços entre os dois é cada vez mais
acirrada, e como há muito tempo ainda para uma definição,
a tendência é que ela persista e até mesmo se radicalize.
Enquanto isso, José Maranhão anima-se à disputa. Sob a
legítima consideração de que se Cartaxo e Romero, em tese
nomes do segundo time da política paraibana, podem
reivindicar candidatura, por que ele não? Afinal, senador
pela segunda vez e três vezes governador, Maranhão é bem
mais conhecido que seus potenciais adversários.
A razão tem a ver com uma generalizada percepção, nos
meios políticos e na imprensa, de que há um vazio eleitoral
nas hostes governistas e que esse vazio o PSB não
conseguirá preencher com a candidatura de João Azevedo.
Alguns acreditam mesmo que Azevedo sequer chegará à
eleição como candidato, como aconteceu em 2016 na eleição
para prefeito de João Pessoa (essa questão analisarei em
breve por aqui).
Trata-se de um equívoco. O campo que o governador
Ricardo Coutinho lidera hoje tende a polarizar a disputa com
quem quer que venha a ser o candidato do campo
“oposicionista”, em torno do qual se reúnem lideranças
tradicionais da política paraibana, como Cássio Cunha Lima,
373

e outras mais jovens, como o prefeito de João Pessoa,


Luciano Cartaxo. Juntos e misturados, os dois serão
apresentados como uma coisa só em 2018, como, aliás, já
está acontecendo.
Como é difícil supor que a polarização que dividiu o
Estado em todas as eleições desde 1982, com exceção da de
1998, não vá se repetir no próximo ano, o candidato do PSB
tende a ir aos pouco ocupando o espaço que pertence a esse
campo, hoje vazio pela inexistência de um candidato
declarado. Acredito que mesmo antes da campanha
começar, João Azevedo começará a figurar entre os dois
candidatos favoritos na disputa.
Se for isso mesmo, tanto Romero Rodrigues como
Luciano Cartaxo terão um grande dilema a resolver quando
chegar a hora de decidirem se entregam, a políticos que não
são de suas estritas confianças, os cargos que ocupam nas
duas mais importantes cidades do Estado, deixando de lado
quase três anos de administração que ainda restarão pela
frente, para se arriscarem em uma disputa de resultado
imprevisível e, portanto, com uma boa chance de derrota. E
na oposição a um governo bem avaliado, situação que, por
exemplo, Luciano Cartaxo não enfrentou nem em 2012 nem
em 2016.
Agora me vem à lembrança a eleição presidencial de
2010. José Serra, então governador de São Paulo, e Aécio
Neves, então governador de Minas, os dois mais importantes
estados brasileiros, ambos acreditando que Lula não
conseguiria eleger a então desconhecida Dilma Rousseff, se
acotovelaram numa disputa dentro do PSDB pela
374

candidatura presidencial. Disputa em que até dossiês foram


produzidos de ambos os lados.
Aécio foi mais rápido em perceber a força eleitoral de
Lula e desistiu primeiro da candidatura, deixando para
Serra a inglória obrigação de renunciar ao mandato de
governador de São Paulo e enfrentar a candidata de Lula,
cujo governo se encerraria com mais de 80% de aprovação.
375

A OPOSIÇÃO DOS SONHOS DE


RICARDO COUTINHO
Agosto de 2017

Se Ricardo Coutinho costuma fazer suas orações, ele


deve agradecer a Deus todo dia pela oposição que tem ao seu
governo. No caso do debate a respeito do fim do
racionamento d’água em Campina Grande, é como se o
governador tivesse escalado o elenco da oposição, escrito o
roteiro com as falas de cada membro da oposição e obtido
dos “atores” muito além desse roteiro.
Há mais de uma semana, a Paraíba assiste o desenrolar
de um embate inacreditável: de um lado, o governo estadual,
que anunciou o fim do racionamento de água para a cidade
de Campina Grande e toda a região polarizada pela Rainha
de Borborema; de outro, Romero Rodrigues liderando a
crítica à decisão do governo que beneficia uma população de
mais de 700 mil pessoas, que desde dezembro de 2014,
portanto, há quase dois anos, só veem água jorrar de suas
torneiras apenas duas vezes por semana.
Ontem, por exemplo, Romero Rodrigues aceitou
conceder entrevista ao programa Rádio Verdade, da Arapuã,
para criticar o governador Ricardo Coutinho por anunciar a
decisão de antecipar a data do fim do racionamento. RC fez
isso ao lado do secretário da pasta responsável pela gestão
das águas e pelas obras hídricas do governo, João Azevedo,
já anunciado pelo próprio governador como o possível
candidato do PSB à sua sucessão.
376

Questionado sobre as razões da crítica ao anúncio do


fim do racionamento, o único argumento que restou a
Romero Rodrigues para justificar sua posição foi uma
divergência de “método”, após mencionar a “pirotecnia” do
anúncio. Ou seja, ele não é contra o fim do racionamento,
apenas o aproveitamento político da decisão.
Ao invés de demonstrar preocupação com a situação
dramática que vive atualmente o povo da cidade da qual é
prefeito, Rodrigues passa uma mensagem que parece muito
clara: candidato também já declarado ao governo, Romero
coloca seus interesses eleitorais acima dos interesses da
população, demonstrando certa mesquinhez e falta de
generosidade. E senso político.
A lógica de Romero Rodrigues e da oposição é para mim
inalcançável. Mesmo do ponto de vista eleitoral, o que teria
a ganhar o governo ao antecipar o anúncio do fim do
racionamento, ao não ser dar mais visibilidade a João
Azevedo em Campina? Ao cair na armadilha da crítica pela
crítica, a oposição apenas faz o jogo que talvez nem mesmo
RC esperasse que ela faria.
Se tivesse mantido um discreto silêncio, o anúncio teria
apenas produzido o efeito planejado inicialmente pelo PSB,
que era tornar João Azevedo mais conhecido em Campina
Grande, e depois tudo se esgotaria em pouco tempo. O povo
não tão idiota quanto pensa certos políticos. Da mesma
maneira que aceitou o racionamento como uma
necessidade, não vai achar que o fim dele é obra do gênio
administrativo de RC.
377

Por isso, ao partir para criticar o fim do racionamento


sob uma duvidosa preocupação com a “segurança hídrica”
de Campina, Romero e Cia. apenas ajudam a prolongar um
debate que é francamente favorável ao governo, porque,
além de ter o argumento “técnico” para sustentar a posição,
trata-se de uma questão cujo interesse do povo não é outro
a não ser acabar quanto antes com a aflição do
racionamento.
A oposição cumpriu bem o script. E RC só tem a
agradecer.
378

CANDIDATURA DE
LUCIANO CARTAXO NA BERLINDA
Setembro de 2017

A candidatura do prefeito de João Pessoa, Luciano


Cartaxo, nunca passeou em céu de brigadeiro pelos céus da
política Paraibana, mas nunca foi tão bombardeada como
agora.
Além de inconvenientes, como o de ter um vice-prefeito
que não é de sua estrita confiança, Cartaxo voltou a
responder, por enquanto, apenas politicamente, pelos
desvios já constatados pela PF, pela CGU e agora pela Caixa,
nas obras da Lagoa. Num ambiente como o que vive hoje o
Brasil, isso acaba sendo um fardo político e, como não deve
se encerrar em breve, acaba por criar mais dúvidas que
certezas sobre o futuro da candidatura de Luciano Cartaxo
ao governo.
Sintoma disso é a candidatura do senador José
Maranhão, analisada por aqui semana passada. Ela é,
também, uma resposta às dificuldades enfrentadas por
Luciano Cartaxo, além de ser até agora o mais sério golpe
nas pretensões do prefeito pessoense – aliás, Maranhão tem
sido uma pedra no sapato da família Cartaxo desde que o
então vice-governador foi preterido da chapa majoritária
nas eleições de 2010, e, em 2014, quando Maranhão lançou
de última hora sua candidatura para derrotar Lucélio
Cartaxo para o Senado.
José Maranhão antecipa sua decisão porque sabe dessas
limitações de Cartaxo. Ao fazer isso, Maranhão praticamente
obriga o prefeito pessoense a sair de sua – vamos chamar
379

assim – “zona de conforto”, que é poder esperar até 2018


para tomar uma decisão definitiva, deixando de lado o
mantra preferido de Cartaxo que é, por razões óbvias, “2018
só em 2018”.
Cartaxo ainda não deixou clara essa pretensão, apesar
dos seus movimentos indicarem isso. Mas acredito que
daqui para frente essas movimentações pelo interior – que
até diminuíram de intensidade – não serão mais suficientes.
Cartaxo tem de entrar no jogo ou sair dele porque, com
Maranhão − e João Azevedo − partindo mais cedo para
divulgar suas candidaturas, se Cartaxo ficar parado vai ser
engolido pelos acontecimentos.
Mais ou menos como se move hoje o prefeito de
Campina Grande, que, sem tergiversações, já “colocou o
nome à disposição do PSDB” para uma possível candidatura
ao governo.
Observando à distância, tudo isso deve deixar o
Senador Cássio Cunha Lima em um estado de nervos
deplorável. De minha parte, não tenho dúvidas de que Cássio
trabalha pela unidade da oposição e acho mesmo que ele
considera que o melhor candidato é o prefeito de João
Pessoa, se possível em acordo com o de Campina Grande
para juntar as duas maiores prefeituras da Paraíba.
Isso porque Cássio precisa desesperadamente de um
palanque forte no próximo ano, seja para uma difícil
candidatura ao Senado – isso analisaremos em breve por
aqui – seja para evitar a vitória do seu maior adversário,
Ricardo Coutinho.
Mas parece que Cássio não anda com sorte faz tempo e
esse projeto vai naufragando. Primeiro, pelas pretensões de
Romero Rodrigues, que comanda o terceiro maior
380

orçamento do Estado. E agora de José Maranhão, que se


lança para disputar no vácuo deixado por Cartaxo.
Maranhão, como bom aviador, sabe que, por enquanto, os
movimentos de Cartaxo se assemelham mais a voos de
reconhecimento do terreno.
Enfim, tudo isso junto permite antever um caminho
tortuoso que Cartaxo deve seguir até abril de 2018, quando
terá de anunciar se abandona a prefeitura para se
candidatar ao governo ou abre caminho para que o cassismo
– com Romero Rodrigues? − reassuma novamente a
liderança da oposição paraibana.
Nunca houve cavalo selado para Cartaxo. Mas, se houve
algum dia, ele já passou.
381

LÍGIA FELICIANO E SUAS


CIRCUNSTÂNCIAS
Outubro de 2017

“Aqui na Paraíba o PDT sempre foi aliado com o PSB e a


gente pensa no futuro manter essa aliança,” foi o que
declarou ontem Lígia Feliciano.
Se isso representa um passo para a mudança no quadro
atual, que indica a permanência de Ricardo Coutinho no
governo para viabilizar a candidatura de João Azevedo, nós
não saberemos agora.
Quando foi anunciada a vitória de Ricardo Coutinho
sobre o favoritíssimo e, até então, imbatível, Cássio Cunha
Lima, a avaliação geral era de que sua companheira de chapa
e vice-governadora eleita, Lígia Feliciano, do PDT, assumiria
o governo na eleição seguinte, quando o titular do mandato
renunciasse para ser candidato, provavelmente ao Senado.
Não só essa expectativa de Lígia Feliciano de assumir o
governo era legítima, diga-se de passagem, como uma
eventual candidatura sua à reeleição também.
O problema não está relacionado, portanto, à
legitimidade de um projeto eleitoral como esse, próprio de
quem entra para a política e exerce a atividade com
dignidade, como até agora é o caso de Lígia Feliciano.
O problema é que, em eleição, não basta a vontade de
ser candidato/a. Nas circunstâncias atuais em que a disputa
política está cada vez mais polarizada em projetos em torno
dos quais as principais forças políticas da Paraíba se
reagrupam, é preciso que as candidaturas que representam
382

forças sociais emergentes no estado expressem mais do que


um significado para o eleitorado. Elas precisam guardar
identidade com o projeto que representam.
Isso significa que, no caso de um/a candidato/a que se
apresente ao eleitorado como representante do “projeto”
iniciado por Ricardo Coutinho essa identidade não pode ser
artificial.
Colocando a questão na forma de pergunta: o perfil
político de Lígia Feliciano permite uma fácil associação com
o projeto político-administrativo que RC lidera hoje na
Paraíba?
E João Azevedo?
No caso de Lígia Feliciano não se trata da mesma
situação, por exemplo, de Roberto Paulino, que assumiu o
governo em 2002 com a renúncia de José Maranhão – os dois
tinham origem, discursos e trajetórias políticas semelhantes
e essa era a identidade que o relacionava. Bastou Paulino ser
o “candidato de Zé”.
E mesmo ali, Paulino tinha plena consciência de que,
para ser eleito, era preciso que houvesse unidade do grupo
político em torno do seu nome.
Por isso, o candidato consensual do grupo maranhista
era Ney Suassuna, mesmo com Roberto Paulino sentado na
cadeira de governador. Paulino só assumiu essa condição
quando Suassuna desistiu da candidatura e, também por
isso, mesmo enfrentado a “novidade” Cássio Cunha Lima,
quase vence a eleição.
Ricardo Coutinho representa não apenas uma “nova
maneira de fazer política”, como ele mesmo diz, mas um
383

novo eleitorado emergente, novas forças sociais que


rejeitam cada vez a política identificada como “tradicional”.
Portanto, se RC quer mesmo disputar com chances de
vitória o governo para dar continuidade a esse “projeto” ele
precisa de um candidato que consiga estabelecer essa
identidade ao mesmo tempo política e administrativa. Por
isso, o perfil de João Azevedo cai como uma luva, além de
não ter um perfil de “político tradicional”.
Se Lígia compreender isso pode desempenhar novos
papéis na ocupação de outros espaços políticos de outra
maneira e projetar-se para o futuro. Caso contrário, perderá
essa grande chance que sua posição atual oferece.
384

O SONHO DE CARTAXO
Outubro de 2017

Luciano Cartaxo deve ter todas as noites um sonho mais


ou menos assim: o foguetório é ensurdecedor quando ele
chega ao clube Cabo Branco para formalizar sua candidatura
ao governo da Paraíba na convenção onde todos o esperam.
Cartaxo chega na Hylux novinha em folha adquirida
especialmente para aguentar as idas e vindas pelo estado. O
candidato desce e é saudado efusivamente pela multidão
que o espera do lado de fora do Cabo Branco. É a turma que
não conseguiu entrar para presenciar o ato que dará início à
caminhada rumo ao Palácio da Redenção.
Sim, porque todos ali se imaginam assumindo o
governo e governando como se fossem um único Luciano.
Dessa vez, como não haverá “dois Lucianos”, um dos
marqueteiros da campanha, acho que Ruy Dantas, sugeriu
um “Somos todos e todas Luciano”, mas Elisa Virgínia não
aceitou em hipótese alguma essa manifestação da “ideologia
de gênero”, que ela não sabe explicar direito o que é, mas
que sabe muito bem o que significa. Um repórter da Folha de
São Paulo enviado à Paraíba para produzir uma matéria
especial sobre a convenção resolveu perguntar Eliza como
Virgínia ela se definia: “Eu sou uma mistura de Bolsonaro
com Silas Malafaia”, respondeu ela sem pestanejar.
No sonho de Luciano Cartaxo, dois cabos eleitorais
iniciam uma disputa para ver quem levará nos ombros o
candidato “das oposições” – que são muitas − para o ginásio
onde acontecerá o evento. Cada um deseja mostrar para os
netos as fotos que comprovam que eles participaram
daquele dia histórico. Um deles vence a batalha e sobre seus
385

ombros Luciano Cartaxo atravessa a multidão, como se


flutuasse sobre ela. No fundo, meio distante, vê-se uma faixa
novinha onde se lê: “Cartaxo é a salvação da família”.
Cartaxo finalmente se aproxima do ginásio do Cabo
Branco, onde outra multidão entra em frenesi quando o
animador da festa, um radialista conhecido, anuncia a
chegada do “futuro governador”. O jingle da campanha é
cantado a plenos pulmões pela multidão de cabos eleitorais,
a maioria assessor das prefeituras de João Pessoa e
Campina. No palanque montado para festa, Romero
Rodrigues espera a chegada de Cartaxo, batendo palmas no
ritmo da musiquinha que se repete indefinidamente, talvez
se imaginando no lugar do ex-prefeito de João Pessoa.
Depois de muito tentar ser candidato, Romero desistiu
para terminar o mandato na Prefeitura de Campina,
deixando os Ribeiro apenas com água na boca. Romero está
ao lado do filho de Cássio, Pedro, que será o representante
da família na chapa de Luciano, o que muito agradou o
candidato a governador. “Sangue novo, nova geração”, disse
Luciano sobre seu parceiro da caminhada que apenas
começava.
Cartaxo finalmente chega ao palanque. Cássio o ajuda a
subir no tablado e Cartaxo o abraça quase em lágrimas. Em
nome da “unidade das oposições”, Cássio Cunha Lima havia
desistido da candidatura ao Senado para tentar uma vaga na
Câmara Federal, no lugar que seria do filho. Um ato de puro
altruísmo do senador tucano, ex-melhor amigo de Aécio
Neves, que deixou a vaga que teria direito para acomodar na
chapa Raimundo Lyra, do PMDB, e Aguinaldo Ribeiro, que
ameaçou na última hora apoiar João Azevedo por conta da
traição de Romero Rodrigues.
386

Cartaxo pergunta por José Maranhão, que também


tinha desistido de ser candidato, depois de Manoel Jr., novo
prefeito de João Pessoa, ter encomendado 32 pesquisas
qualitativas que mostravam a inviabilidade da candidatura
de Zé ao governo. “Maranhão é bom de saída, mas péssimo
de chagada”, repetia Manoel Jr. para os mais chegados.
Maranhão finalmente foi “convencido”, não tanto pelos
argumentos de Mané Jr., mas pelos de Michel Temer, que
não apenas ligou dezenas de vezes para o querido amigo,
como o chamou para uma conversa decisiva no Palácio do
Planalto, onde também estava secretamente Gilberto
Kassab. Depois dessa, Maranhão não resistiu e anunciou a
desistência. “Fica para a próxima”, disse ele.
Cartaxo acorda agitado. Percebe que tudo aquilo não
passava de um sonho. Olha o calendário do celular e suspira.
Tenta voltar a dormir, mas um pensamento o impede: “Se
Maranhão e Romero desistirem, só acontecerá lá para abril.
Isso se Eduardo Cunha não delatar Manoel Jr. antes.”
387

O LABIRINTO DE CÁSSIO
Dezembro de 2017

Cássio Cunha Lima concedeu nesta segunda (11) mais


uma entrevista ao programa Rádio Verdade, da Arapuã, e a
linha discursiva escolhida não poderia ter sido mais
dissonante: como se ainda estivesse em 2015, quando
ninguém sabia as estripulias tucanas, como se o Brasil não
conhecesse os termos da delação da Odebrecht, o senador
tucano passou mais da metade da entrevista criticando a
corrupção (a do PT).
Cássio mais parecia um daqueles jovens ingênuos
atenienses que eram levados para Creta e soltos no labirinto
para serem caçados e devorados pelo Minoutauro. E o
Minotauro nesse caso é Lula, esse monstro barbudo de nove
dedos.
O verdadeiro labirinto de Cássio é eleitoral: os falsos
caminhos que podem leva-lo a lugar nenhum, ou seja, à
derrota eleitoral. O primeiro deles é que Cássio aposta hoje
todas as suas fichas na candidatura de Luciano Cartaxo,
mesmo sabendo que o prefeito pessoense pode, sem
cerimônia, deixá-lo na mão caso avalie como duvidosas suas
chances de vitória ao governo. Como fez quando deixou o
PT.
Além disso, o ex-melhor amigo e ex-fiel escudeiro de
Aécio Neves enquanto este era o todo-poderoso presidente
do PSDB e queridinho da mídia e do empresariado, o
senador tucano não consegue se desvencilhar do desastre
econômico, político e ético que associa seu partido, o PSDB,
e ele próprio ao governo do PMDB que sucedeu Dilma
388

Rousseff. Foi essa relação de confiança e proximidade com


Aécio que levou Cássio à liderança do PSDB no Senado e a se
tornar um dos líderes do movimento que levou Michel
Temer ao poder.
Por isso, em outra escolha errada de direção, resta a
Cássio bater em Lula para tentar ocupar o espaço do anti-
lulismo num estado onde o ex-presidente – caso não
impeçam sua candidatura − tende a superar a casa dos 70%
dos votos em 2018.
Mesmo nesse intento, Cássio esbarra nos dados da
realidade que tornam seu discurso em defesa da “ética” pura
hipocrisia. Ele próprio responde a processo por ter recebido
dinheiro não declarado da Odebrecht, em 2014, numa
negociação que, segundo o delator, envolveu como barganha
a privatização da Cagepa.
Além disso, todas as lideranças do PSDB, desde Aécio
Neves, passando por José Serra e chegando ao “Santo” do
Geraldo Alckmin, só para citar as mais proeminentes, todos
ex-candidatos a presidente, estão enroladas em cabeludas
denúncias de corrupção.
Confrontado pela corajosa e competente jornalista
Adriana Bezerra, que mencionou um único contrato da
Odebrecht com o governo paulista, a duplicação da Rodovia
Mogi-Dutra no qual o Santo levaria 5% do valor do contrato,
ou seja, 3,4 milhões de reais em propina de uma obra que
custaria 68,7 milhões, Cássio optou por tratar os ouvintes
como um bando de parvos: o que os tucanos receberam foi
dinheiro de caixa-dois, mesmo que depositados em contas
na Suíça ou em paraísos fiscais do Caribe. Ou em malas de
dinheiro cuja prestação de contas jamais será feita.
389

Adriana poderia ter mencionado a corrupção do Metrô


de São Paulo, um esquema que durou quase 20 anos e que
desviou bilhões de reais. Fora os R$ 10,7 milhões que o
cunhado de Alckmin recebeu do setor de propinas da
Odebrecht – esse pelo menos não foi ameaçado de morte. E
vejam que estamos falando de apenas uma empresa e de
apenas algumas obras.
Eis o labirinto de Cássio em 2018. Montar um palanque
capaz de enfrentar Ricardo Coutinho e, entre outras coisas,
explicar ao eleitorado porque ajudou a levar ao poder a
quadrilha de Michel Temer e suas relações com a Odebrecht.
390

2018
391

POR QUE CARTAXO É O MELHOR


CANDIDATO DA OPOSIÇÃO
Janeiro de 2018

É paradoxal, mas o prefeito de João Pessoa, Luciano


Cartaxo, pode não ser candidato a Governador da Paraíba,
em 2018, apesar de ser, de longe, o melhor candidato “das
oposições”.
Para chegar a essa conclusão, que não é nova − a última
vez que escrevi sobre isso foi aqui mesmo, no Blog do Rubão,
em abril do ano passado − é necessário entender qual a
principal clivagem dos últimos embates eleitorais para o
governo estadual.
Qual o principal traço que perpassou as disputas de
2010 e 2014 em que o governador Ricardo Coutinho
derrotou José Maranhão e Cássio Cunha Lima,
respectivamente?
É claro que as alianças produziram seus efeitos
eleitorais para enraizar essas candidaturas por todo o
Estado, ajudando a capilarizar, por exemplo, a liderança de
Ricardo Coutinho, em 2010, e nisso a aliança com PSDB de
Cássio Cunha Lima foi importante.
Mas não decisiva a ponto de tornar Cássio o principal
responsável pela vitória de Ricardo Coutinho naquela
eleição, como se propalou durante muito tempo.
392

Para demonstrar isso, basta observar o resultado da


disputa nas cidades de até cinco mil eleitores, onde é sempre
decisivo o peso dos prefeitos e das prefeituras, e onde José
Maranhão, candidato à reeleição, obteve seus mais
expressivos resultados.
Ao contrário das grandes e médias cidades, onde RC
inverteu o favoritismo de José Maranhão. Ou seja, o que
determinou a vitória de Ricardo foram as grandes cidades
do Estado, sobretudo as regiões metropolitanas de João
Pessoa e Campina Grande, nas quais há um eleitorado cada
vez mais autônomo e independente dos esquemas políticos
e administrativos.
Considerando apenas as duas maiores cidades
paraibanas, RC venceu com uma diferença de mais de 130
mil votos, tendo ele vencido também em todas as grandes
cidades que formam o eixo da BR-230.
Em 2014, Ricardo Coutinho voltou a repetir as vitórias
obtidas nos maiores colégios eleitorais do Estado, com
exceção, claro, de Campina Grande. Mesmo assim, registre-
se, o desempenho de Cássio na Rainha da Borborema, em
2014 (59,82%), foi pior que o obtido por RC em 2010
(64,22%), o que já expôs um esgarçamento da liderança do
chefe do clã Cunha Lima na cidade.
Qual foi o principal debate que marcou essas duas
eleições? Avaliação de governo? Projetos e questões de
ordem programáticas? Divisão esquerda-direita? Alianças?
Claro que, para segmentos do eleitorado, essas
questões são relevantes, até mesmo para estabelecer um
393

alinhamento a um ou outro candidato de maneira


antecipada, mas o elemento que, acredito eu, acabou por
determinar o rumo da disputa foi o que podemos reduzir,
simplificando essas diferenças, a um embate entre o “novo”
e o “velho”.
Velho aqui significando, no discurso político,
determinada identidade com práticas políticas, chamemos
assim, “oligárquicas”. Isso quer dizer quer dizer que, entre
outras características, o político herdou, além do sobrenome
do pai, sua liderança política, seus votos, suas posições,
fenômeno que, no Brasil, remonta a chamada República
Velha (1889-1930), para não irmos tão longe.
O problema é que o eleitorado começou a se renovar,
mudar de ares, perceber e se cansar, sobretudo no Nordeste,
onde o fenômeno oligárquico manteve até recentemente
peso político significativo das famílias, e a eleger
governadores e prefeitos de capitais provenientes de outra
origem social.
E o fato de ter enfrentado as duas mais importantes
lideranças oligárquicas paraibanas dos últimos vinte anos
ajudou a clarificar esse embate e a ajudar de maneira
decisiva nas vitórias de Ricardo Coutinho. Ele é produto
dessa mudança, o que não exclui, é claro, suas grandes
qualidades como político e como administrador.
Mas havia aquela dimensão, digamos estrutural, a
“fortuna” histórica de uma sociedade e de uma política em
mudança muito bem apreendidas pela “virtù”, pelo senso
político de Ricardo Coutinho.
394

Por isso, Luciano Cartaxo é o candidato que Ricardo


Coutinho mais teme. Por que? Primeiro, porque com Cartaxo
candidato da oposição essa clivagem novo x velho se esvai,
tornando-se artificial. Segundo, caso seja Romero Rodrigues
esse candidato, o fato dele pertencer à família Cunha Lima
abre espaço novamente para que essa clivagem seja não
apenas retomada, mas ganhe ares de necessidade de
superação definitiva em 2018.
Vou repetir aqui a descrição feita no artigo de abril do
ano passado (‘As opções de Luciano Cartaxo’), citado acima:
O prefeito de João Pessoa é uma liderança da nova
geração, da qual o próprio RC faz parte.
A ascensão de Cartaxo na política paraibana não se deve
à família, como foi o caso de Maranhão e Cássio, e da maioria
dos políticos que ocupam cargos eletivos na Paraíba,
herdeiros que são do espólio político familiar.
Cartaxo provém da classe média urbana e sua entrada
na política vem de sua inserção como liderança (nos
movimentos sociais).
A origem política de Cartaxo o “identifica com uma
tradição histórica construída depois dos anos 1980, de
contestação às chamadas oligarquias políticas que
governaram a Paraíba até 2010”.
Caso consiga ancorar sua candidatura numa aliança
com PSDB e PMDB, Cartaxo projeta-se como um candidato
com apelo de favorito, o que não significa uma antecipação
de vitória, claro.
395

Cartaxo vai conseguir? Tudo indica que não, mas, como


ele é um homem de sorte, um sobrevivente em política, a
esperança é a última que morre deve ser seu provérbio
preferido. Hoje e sempre.
396

ROMERO RODRIGUES DÁ XEQUE-


MATE EM LUCIANO CARTAXO
Janeiro de 2018

A reunião do PSDB paraibano realizada durante a


manhã desta sexta-feira (19) consolida um movimento já
explicitado em ações e discursos desde o final do ano
passado, movimento que não apenas interrompeu a
tendência de apoio dos tucanos à candidatura ao governo do
prefeito pessoense, Luciano Cartaxo (PSD), como reverteu-
a em favor de Romero Rodrigues (PSDB), prefeito de
Campina Grande, como ficou explicitado.
Esse movimento só ganhou contornos mais nítidos
apenas no início dessa semana quando lideranças não
apenas do PSDB, como o senador Cássio Cunha Lima, mas do
próprio PSD de Luciano Cartaxo, como o deputado federal
Rômulo Gouveia e o deputado estadual Manoel Ludgério,
que não tergiversaram em deixar claro que Romero
Rodrigues, digamos assim, é a opção preferencial deles para
o governo.
Trata-se, ainda que informal e à revelia de Luciano
Cartaxo, do que ele tanto insistiu para que acontecesse, ou
seja, que o nome do candidato da oposição fosse decidido
em janeiro para que ele, o ungido, pudesse cair em campo. E
foi o que ficou ratificado, ontem.
Mas, não pensemos que se trata de algo que surgiu ao
acaso. Na realidade, a consolidação da candidatura de
Romero Rodrigues dentro do PSDB é resultado de um
397

embate subterrâneo que acabou por aproximar o prefeito


campinense do senador José Maranhão, ambos vítimas do
esforço que Cartaxo fez para isolá-los, isso com o explícito
apoio de Cássio Cunha Lima e do presidente do PSDB
paraibano, Ruy Carneiro.
Todo mundo lembra o deprimente espetáculo político
que foi a Convenção Estadual do PSDB, realizada não por
acaso em João Pessoa no início de novembro do ano
passado, e que mais pareceu um ato de lançamento da
candidatura de Luciano Cartaxo ao governo − a intenção era
essa mesma, observando a repercussão dada pela imprensa,
− mesmo com a constrangida presença de Romero
Rodrigues no evento.
De forma desastrada, Cartaxo foi com muita sede ao
pote e quando isso acontece em política, normalmente, a
possibilidade de tropeçar é grande.
Como analisei em entrevista recente concedida ao
jornalista Adelton Alves durante o programa Rede Verdade,
da TV Arapuã, a convenção do PSDB é uma espécie de marco,
assim como foi a histórica convenção do Campestre, de
1997, que levou ao racha entre o grupo do então
governador, José Maranhão, e o do então senador Ronaldo
Cunha Lima.
A convecção tucana do ano passado acabou por criar as
condições para a aproximação entre Romero Rodrigues e
José Maranhão e produzir uma aliança que é tão explícita
hoje que Maranhão ofereceu o controle do PMDB de
Campina a um aliado de Rodrigues.
398

Em novembro, o objetivo tanto de Romero quanto de


Maranhão era sobreviver na disputa e evitar serem
engolidos pela aliança Luciano Cartaxo-Cássio Cunha Lima.
Foi com essa estratégia desastrada que Cartaxo acabou por
cavar a própria cova.
Sem o apoio de Romero Rodrigues, que controla a
segunda maior prefeitura do Estado, e sem o de José
Maranhão, que controla o PMDB, o maior partido paraibano,
Cartaxo evidentemente não se viabilizaria. Romero e
Maranhão têm poder demais. Não podem ser tratados como
forças políticas marginais.
E foi esse acordo tácito entre Romero e Maranhão, que
pode se desdobrar mais à frente na retirada da candidatura
de um deles em apoio ao que se mantiver na disputa, que
viabilizou em definitivo a candidatura de Romero Rodrigues
no PSDB. É com essa expectativa que Romero certamente
trabalha.
Além disso, outros fatores certamente contribuem para
tornar Romero Rodrigues o candidato tucano. Por exemplo,
o apoio líquido e certo do PP dos Ribeiro, já que o patriarca
da família, Enivaldo, assumirá a prefeitura da Rainha da
Borborema quando Romero renunciar ao cargo para ser
candidato.
Além disso, arranjos em Campina podem fazer Rômulo
Gouveia, que controla do PSD, a “repensar” a candidatura do
seu filiado Luciano Cartaxo.
Se Romero vai se tornar o candidato único da oposição
isso vai depender da análise do desempenho e das
399

potencialidades de José Maranhão, o que estará


umbilicalmente ligado − acho que é nesses termos que
Maranhão raciocina − ao crescimento da candidatura de
João Azevedo, já que o senador peemedebista alimenta a
possibilidade de herdar o voto ricardista e anticassista em
2018.
Enfim, tudo leva a crer que a candidatura de Luciano
Cartaxo se inviabilizou politicamente, o que não o deixa
numa situação de todo desesperadora, já que ainda lhe
restará, além dos três anos de mandato à frente da PMJP e
da possibilidade de reeleger o sucessor, liberdade para
lançar pessoas de sua estrita confiança à Assembleia e à
Câmara Federal. Quem sabe até ao Senado.
No caso de Romero Rodrigues resta reconhecer que,
além de não ser um cristão-novo na oposição paraibana, a
transparência com a qual sempre se posicionou, sem
tergiversações sobre sua candidatura, o tornaram ainda
mais confiável.
400

DAMIÃO FELICIANO: QUEM TUDO


QUER, TUDO PERDE?
Fevereiro de 2018

Sabe aquele provérbio que nos ensina que “quem tudo


quer, tudo perde”? Acho que ele cai como uma luva quando
observamos os movimentos da família Feliciano com vistas
à disputa de 2018.
Ocupando a posição estratégica de vice-governadora,
Lígia Feliciano e seu clã, ao que parece, resolveram apostar.
Uma aposta perigosa e arriscada, dado o tamanho e a
influência da família nos arranjos políticos paraibanos. A
aposta é a seguinte: avaliando que Ricardo Coutinho não
terá outra alternativa a não ser renunciar ao mandato para
ser candidato ao Senado, os Feliciano atualmente jogam
parado, esperando apenas que esse fato, que eles
consideram inevitável, finalmente se concretize e Lígia
passe a ocupar a cadeira que, por herança, ela considera que
será sua.
Os Feliciano são, claro, também estimulados por todo
tipo de analista político − os mesmo que, há quatro anos,
profetizavam como inevitável a vitória de Cássio Cunha
Lima para o governo estadual. A crença (ou a torcida) desse
setor da imprensa na renúncia de RC é unânime. Segundo
eles, governador não terá outro caminho a não ser renunciar
ao cargo quando abril chegar, entregando-o de bandeja a
Lígia.
401

E a base desse raciocínio é quase primária: vão


prevalecer os interesses carreiristas de RC, porque ele não
trocaria uma eleição certa para o Senado para ficar no
governo por mais nove meses, e arriscar ficar sem mandato
por pelo menos dois anos, como fizeram outros
governadores que o antecederam.
Não há dúvida que se o vice de Ricardo Coutinho fosse
de sua estrita confiança ou guardasse identidade com o seu
projeto político-administrativo, essa dúvida não existiria,
afinal, a eleição de senador seria a consagração de seu
governo e de sua liderança política. Além dos oito anos de
mandato no Senado, claro. Mas, essa equação não é tão
simples assim. E não cabe argumentar a respeito de uma
possível “falta de confiança” de Ricardo Coutinho na sua
vice-governadora, como muitos insistem.
Além de Lígia Feliciano ser de outro partido, é bom não
esquecer que a atual posição de Lígia Feliciano é resultado
de uma aliança puramente circunstancial, que, aliás, só foi
definida nas últimas horas antes do prazo final das
convenções partidárias.
Até o anúncio formal, como ficou evidente, os Felicano
negociaram tanto com RC quanto com Cássio Cunha Lima.
Em razão disso, RC tem todos os motivos para não permitir
que Lígia Feliciano assuma o governo. Concretizada essa
situação, a possibilidade de que a própria Lígia Feliciano
seja candidata à reeleição não pode ser nem de longe
descartada. Sobretudo, numa situação em que a oposição
começa a enxergar o cenário difícil que tem pela frente −
enfrentar o candidato de um governo bem avaliado, com
402

forte poder de arregimentação e carregado de obras por


inaugurar, − e a possibilidade de restar unicamente a
candidatura de José Maranhão (e talvez a de Cássio).
Nesse cenário, estimular Lígia, já sentada na cadeira de
governador seria, e tê-la como uma candidata seria, como se
diz por aí, uma “mão na roda”. Por isso, muitos jornalistas
cassistas se ouriçam diante da mera expectativa da vice-
governadora assumir a titularidade do governo. Sem a
renúncia de Lígia Feleciano, RC fica O cenário que parece ser
o mais provável, hoje, é o da permanência de RC no governo
em razão da disposição de Lígia Feliciano de também
permanecer no cargo de vice-governadora, por mais que
muitos coloquem em dúvida a capacidade do governador
sacrificar uma eleição certa em nome da continuidade de um
projeto político-administrativo. E é bom que Lígia e Damião
Feliciano levem em conta o termo “sacrificar”, porque se
trata disso mesmo.
RC vai para o sacrifício
Um sacrifício político que Ricardo Coutinho será levado
a fazer em razão da impossibilidade de um acordo com sua
vice-governadora, um acordo que atenda tanto aos objetivos
dos Feliciano quanto aos objetivos do governador. Reafirmo
que considero legítima a pretensão de Lígia Feliciano. Ela
tem todo o direito de almejar chegar ao Governo da Paraíba
porque sua posição é estratégica e dá a ela um poder que vai
além do peso político e eleitoral que sua família jamais teve.
E se isso é motivo para fazê-la apostar num movimento de
alto risco, a posição de Lígia também fortalece seu grupo
para um acordo que pode ser amplamente vantajoso, e
403

muito além do peso que os Feliciano dispõem. Por exemplo,


possibilidade que muitos aventam: ser candidata à
suplência de RC para o Senado, o que pode render-lhe até
oito anos de mandato, a depender de quem será o próximo
Presidente da República, seja Lula (ou alguém apoiado por
ele) ou Ciro Gomes, já que Coutinho seria um fortíssimo
nome a assumir um ministério. Ou mesmo o retorno à
Prefeitura de João Pessoa, em 2020.
404

AS CHANCES DE JOÃO AZEVEDO


Fevereiro de 2018
Um erro comum que, pelo visto, continua a se repetir
quando o assunto é a projeção de cenários eleitorais na
Paraíba, é achar que o quadro que hoje mostra uma
vantagem confortável dos candidatos da oposição se
manterá quando chegar a hora de o eleitor finalmente
digitar seu voto na urna.
Um erro que José Maranhão cometeu em 2010 e que
Cássio voltou a repetir quatro anos depois. Maranhão,
porque achou que bastava a máquina política do PMDB e o
peso da administração estadual para alcançar a vitória.
Cássio, porque se deixou levar pelas próprias ambições,
certamente incensadas por avaliações de aliados dentro e
fora da imprensa que mostravam a vantagem numérica
antes da campanha começar, mas que escondiam o
principal: nem a liderança de Cássio era do tamanho que ele
imaginava que fosse, nem o tamanho exato que Ricardo
Coutinho mostrou durante a campanha que já tinha.
Esse erro, ao que parece, nem Luciano Cartaxo, nem
Romero Rodrigues desejam repetir, e esse é o motivo pelo
qual os dois evitaram até agora anunciar definitivamente
suas candidaturas ao governo. Há dúvidas de que o cavalo
que passa esteja mesmo selado.
E Cartaxo e Romero têm toda razão de vacilarem antes
de anunciarem a decisão dos dois de renunciar às duas mais
cobiçadas prefeituras da Paraíba. Quatro meses, que é o
tempo que separa a renúncia ao mandato de prefeito e as
405

convenções partidárias, é uma eternidade em política e


muita coisa pode acontecer nesse ínterim, de fatos novos a
traições.
Mas, certamente, a maior dúvida é essa: o governo e o
governador Ricardo Coutinho terão forças para alavancar a
candidatura de João Azevedo e levá-la à vitória? Em geral, a
resposta dos muitos torcedores para essa dúvida acaba
desaguando num silogismo: Ricardo Coutinho não transfere
votos porque, nem em 2012, nem em 2016, conseguiu eleger
o prefeito de João Pessoa (premissa 1); João Azevedo
dependerá, em 2018, da transferência de voto de Ricardo
Coutinho (premissa 2); logo, João Azevedo não tem chances.
A situação é bem mais complexa do que aparenta ser.
Tanto em 2012 quanto em 2016, o eleitor pessoense votou
pela continuidade das administrações municipais. Em 2012,
pela continuidade da administração de Luciano Agra, que
herdara a prefeitura de Ricardo Coutinho, e cujo candidato
acabou sendo Luciano Cartaxo.
Se alguém se der ao trabalho de, num esforço
retrospectivo, excluir o apoio pessoal de Luciano Agra e de
sua bem avaliada administração, bem como do peso da
máquina municipal, à candidatura de Cartaxo, em 2012,
poderá afirmar que o atual prefeito de João Pessoa teria sido
eleito? Tenho cá sérias dúvidas, mas tenho muita propensão
a achar que não.
Lembra de um trecho do jingle da campanha ("Porque
Luciano vota em Luciano, com dois Lucianos só vai
melhorar)? Em 2012, Luciano Agra é que foi, na verdade, o
406

centro da campanha de Cartaxo, e não o candidato petista,


que antes de haver o rachar Agra-RC ostentava números
inexpressivos nas pesquisas. Agra não "transferiu" votos
para Luciano Cartaxo. Transferiu o prestígio e de uma boa
administração e o aval político de alguém que era
considerado um bom administrador. E isso convenceu o
eleitor.
Em 2016, o mesmo, com a diferença de que Cartaxo
tinha então uma administração para chamar de sua, aliado a
uma conjuntura francamente favorável a ajuntamentos mais
conservadores, como foi o que o então candidato à reeleição
construiu ao romper com o PT para cair nos braços do PSDB,
numa campanha que a esquerda se viu muito acuada, e
certamente isso teve um peso decisivo no desempenho da
candidata do PSB, Cida Ramos.
Portanto, se o exemplo das eleições de 2012 e 2016 tem
alguma relevância para projetar 2018, é para mostrar a
força do discurso de continuidade de administrações bem
avaliadas. E esse será, sem dúvida, o principal discurso que
embalará a campanha do PSB − já que o governo atual
ostenta números positivos de fazer inveja a qualquer
mandatário em fim de segundo mandato, − associado a uma
poderosa máquina política cujo motor começa a se azeitar
para impulsionar a candidatura de João Azevedo.
407

Os exemplos da Bahia e do Ceará


Há antecedentes eleitorais recentes que corroboram o
que acabei de afirmar acima, e que envolvem situações
muito semelhantes às da Paraíba de 2018. São os casos da
Bahia e do Ceará. Eu poderia também incluir o caso de
Pernambuco, mas alguém pode argumentar que a morte de
Eduardo Campos criou uma tal comoção que acabou por
interferir no resultado, apesar de que, penso eu, o resultado
não teria sido muito diferente, talvez uma disputa um pouco
mais acirrada do que foi.
Tanto na Bahia quanto no Ceará, os governadores
Jacques Wagner e Cid Gomes encerravam mandatos de oito
anos com administrações muito bem avaliadas. E não
tinham nomes de projeção como candidatos, como João
Azevedo. A principal diferença é que, enquanto os
candidatos de Jacques Wagner e Cid Gomes tinham um perfil
mais político, João Azevedo é um técnico.
A opção de Wagner foi por Rui Costa, antigo
companheiro de luta sindical no Polo Petroquímico de
Camaçari, deputado federal e Secretário nas duas
administrações do governador petista.
Em maio de 2014, segundo pesquisa Ibope, Rui Costa
despontava com apenas 9%, enquanto seu principal
adversário, o ex-governador Paulo Souto, liderava folgado
com 42%. O desempenho de Rui Costa mantém-se
estagnado até o começo da campanha, quando inicia uma
impressionante curva ascendente (15% em agosto, 24% em
setembro, 36% em outubro).
408

Abertas as urnas, Rui Costa se elege no 1º turno com


54% dos votos válidos, enquanto Paulo Souto chega aos
37,4%. (Veja quadro abaixo)
No caso do Ceará, o quadro inicial era ainda complicado,
já que o atual governador, Camilo Santana (PT), só se tornou
candidato do governador Cid Gomes no final de junho,
quando um acordo entre PROS, então partido de Cid Gomes,
e PT foi fechado. Camilo era deputado estadual e tinha
ocupado duas Secretárias nos dois governos de Cid Gomes.
Na pesquisa Ibope de abril de 2014, Camilo Santana
pontuou com apenas 5%, enquanto seu principal
adversário, o atual presidente do Senado, Eunício Oliveira,
chegava a 40%. Na pesquisa do mês seguinte, o nome de
Camilo sequer apareceu, dando lugar ao nome de Domingo
Filho, do PROS. Em 22 de julho, já em campanha, Camilo
Santana já havia saltado para 14%. No início de setembro, o
petista já alcançava os 34%, e chegou aos 38% no final do
mês, índice que manteve até a última pesquisa, enquanto
Eunício Oliveira mantinha-se à frente com 44%. Na urna,
entretanto, Camilo Santana fica à frente de Eunício Oliveira
com 47,81% contra 46,41% do peemedebista. No segundo
turno, Santana amplia a vantagem e vence com 53,35%,
enquanto Eunício Oliveira mantém os 46%
Enfim, esses dois casos são exemplos muito expressivo
da capacidade de governos bem avaliados alavancarem seus
candidatos. E é nisso que aposta o governador Ricardo
Coutinho.
409

A ALTERNATIVA CÁSSIO
Fevereiro de 2018

A estratégia do senador tucano Cássio Cunha Lima para


2018 se orientou até agora pela necessidade de sobreviver
a todo custo como umas das principais lideranças estaduais
da Paraíba.
Movimentos dos últimos dias parecem indicar uma
mudança nessa estratégia que pode levá-lo a optar por uma
“derrota honrosa” – o termo não é meu – caso os lances
projetados há alguns meses pelo governador Ricardo
Coutinho se efetivem até abril.
O status político atual Cássio adquiriu em 2002, quando
se elegeu governador e passou a dividir com José Maranhão
o outro lado da gangorra eleitoral que, até 1998, pertenceu
a seu pai, Ronaldo Cunha Lima.
A cassação do mandato de governador por corrupção
eleitoral em 2009 lançou uma sombra sobre o futuro do
herdeiro político dos Cunha Lima, o que o forçou a uma
aproximação com o então prefeito de João Pessoa e
liderança ascendente à época, Ricardo Coutinho.
RC fez em 2010 o caminho que todas as vitoriosas
lideranças de esquerda no Nordeste fizeram para quebrar a
disputa intra-oligárquica e se constituir logo depois como
um polo político e social aglutinador.
Essa aproximação acabou por resultar na aliança
eleitoral que, em 2010, acabou por se constituir num
410

poderoso palanque para Cássio, fator inquestionavelmente


decisivo para sua eleição para o Senado.
Cássio sobreviveu a 2010. Oito anos depois e uma
derrota para o governo no meio, entretanto, Cássio Cunha
Lima se encontra mais uma vez na mesma encruzilhada. E
numa encruzilhada muito mais complicada.
Em 2010, o quadro era mais simples. Não havia
alternativa eleitoral viável no campo do cassismo (a
candidatura de Cícero Lucena era apenas uma miragem) e
José Maranhão, então governador e candidato à reeleição,
aglutinava um imenso bloco de partidos, com destaque para
o PT e Lula.
O desafio para Cássio é muito maior em 2018. Juntar de
novo a oposição, agora contra o governador Ricardo
Coutinho, é uma engenharia política cada vez de difícil
realização.
Primeiro, porque na oposição parece ter hoje muito
cacique para pouco índio − dois prefeitos das duas maiores
cidades paraibanas e um senador e ex-governador.
Além disso, a liderança de Cássio não só já não é a
mesma, mas é cada vez mais contestada dentro e fora do
PSDB.
E tanto Romero Rodrigues quanto Luciano Cartaxo
demostram mais dúvida do que certezas de que vão mesmo
renunciar a seus cargos para enfrentar uma disputa que
promete ser dura e que só acontece seis meses depois da
entrega dos cargos – e seis meses em política é uma
411

eternidade, principalmente se nos cargos de vice se


encontram lideranças historicamente não-identificadas com
os titulares.
Caso nem Romero Rodrigues nem Luciano Cartaxo
renunciem aos cargos para serem candidatos, restaria hoje
à oposição o nome de José Maranhão, para cujo palanque
fluirá não apenas a oposição paraibana, mas será ele o
palanque do bloco nacional que indicará o candidato a
presidente da aliança PMDB-PSDB (dinheiro não vai faltar!)
Imaginemos a hipótese de Ricardo Coutinho ser
candidato ao Senado. A situação de Cássio se complicaria
ainda mais, porque, nesse caso, teríamos uma vaga a ser
disputada. Cássio arriscaria?
Por isso, com Romero e Cartaxo na iminência de roer a
corda, sobraria para Cássio o sacrifício da candidatura, para
evitar que ela caia no colo de Maranhão. Como prêmio de
consolação em caso de uma derrota, Cássio projetaria ainda
mais o filho e criaria as condições para ser o candidato
natural a suceder Romero Rodrigues.
Nesse caso, Cássio conseguiria o apoio de Cartaxo?
412

AS CANDIDATURAS DE LUCÉLIO
Março de 2018

Vamos juntando as peças.


Primeira peça: o anúncio da desistência do prefeito
Luciano Cartaxo de concorrer ao Governo do Estado, feito
por meio de uma carta intitulada “Mensagem ao povo
Paraibano”. Nessa carta, além das críticas sobre as quais não
restou nenhuma dúvida a respeito de para quem foram
dirigidas, ficou estabelecida a primeira ponte para o início
de um diálogo com o candidato do PSB, João Azevedo.
Segunda peça: a entrevista, concedida no dia seguinte
ao anúncio da desistência de Cartaxo, em que o secretário
Zennedy Bezerra declarou que não havia mais alinhamento
automático com os partidos de oposição e que o grupo
liderado pelo prefeito pessoense iria decidir, agora sem
muita pressa, com quem iria se coligar, não afastando, muito
pelo contrário, deixando aberta como uma forte
possibilidade a aliança com o PSB do governador Ricardo
Coutinho.
Terceira peça: o anúncio da saída de Luciano Cartaxo do
PSD para o PV. Além de evidenciar o desconforto com a
permanência em um partido conservador, comandado aqui
na Paraíba por um histórico cassista, o deputado Rômulo
Gouveia, deu continuidade à passagem, iniciada no plano
discursivo no dia do anúncio da desistência de Cartaxo −
vamos reler a famosa carta? − com uma crítica severa à
“velha política”. Para bom entendedor (acho que Cássio e
Maranhão o são), duas palavras bastam, não é mesmo?
413

Com as três peças acima alinhadas, podemos tirar agora


algumas conclusões a partir de um movimento recente que
pode indicar um erro tático, talvez motivado pela pressa e
pela raiva, no processo de afastamento de Luciano Cartaxo
das “oposições” e no aceno para RC, feito, como escrevemos
acima, imediatamente após o anúncio da desistência.
Mas fez isso, aparentemente, sem antes abrir um
diálogo e negociar as bases de uma reaproximação.
Quando o erro foi percebido, seguiu-se o movimento do
lançamento de Lucélio Cartaxo para o governo, o que, se
exprime um certo improviso, parece ter dois objetivos
entrelaçados: projeta o nome de Lucélio ao debate público,
ao mesmo tempo em que é colocada uma carta na mesa para
futura negociação.
Como eu não acho que Luciano Cartaxo seja um político
disposto a movimentos de risco, não considero que a
candidatura de Lucélio seja mesmo para ser levada a sério.
Apesar de muito parecidos, em termos eleitorais,
Lucélio, claro, não é Luciano, o que torna sua candidatura de
difícil viabilidade e, portanto, de difícil aceitação para a
oposição.
E por dois motivos óbvios:
1) a candidatura de Lucélio ao governo prolonga ainda
mais a agonia da oposição, que continua na indefinição e
chega a abril ainda sem candidato, enquanto João Azevedo
corre solto toda a Paraíba.
2) considerando as circunstâncias, em que sentido a
candidatura de Lucélio Cartaxo poderia ser melhor para a
oposição do que, por exemplo, a de Pedro Cunha Lima?
414

Nós não sabemos qual o nível de desorientação política


da oposição na Paraíba, por isso não dá para saber se essa
cunha inserida por Zennedy Bezerra pode mesmo ser levada
a sério.
Se for, é porque a oposição jogou a toalha, o que
obrigará Lucélio a embarcar numa aventura e a sacrificar
uma candidatura ao Senado com grandes chances de vitória,
sobretudo se ele for capaz de agregar ao seu recall a
estrutura de uma poderosa coligação − tem muita gente de
olho nas vagas ao Senado na chapa de João Azevedo.
Cabe perguntar: se não foi para estabelecer o início de
um diálogo com o PSB, por que o grupo do prefeito
pessoense fez os movimentos mencionados no início desse
texto, movimentos que só serviram para desgastar a
oposição, ampliar as desconfianças e ajudar a ampliar o
vácuo político, imobilizando-a ainda por mais tempo?
Enfim, falta aparentemente ao grupo de Luciano
Cartaxo clareza na estratégia política, o que já se revelava na
dubiedade no discurso do prefeito pessoense quanto ele
próprio era o candidato a governador, candidatura que ele
nunca assumiu de verdade.
Agora, após anunciar o fim da peça, Cartaxo volta ao
palco para lançar a candidatura do irmão ao governo. Isso
sem que ninguém saiba se ele abandonou o projeto original
de se candidatar a deputado estadual − o possível substituto
deve estar ansioso por essa decisão, pois herdará uma vaga
na Assembleia praticamente certa. Ou se Lucélio pretende
disputar uma das vagas ao Senado.
Recomenda-se que o grupo de Luciano Cartaxo
abandone o blefe e a firula. Porque para enfrentar uma
candidatura como a de João Azevedo, apoiada pelo prestígio
415

político de Ricardo Coutinho e pela força da máquina


política-administrativa, o improviso jamais será suficiente.
416

O FICO DE RICARDO
Abril de 2018

Ricardo Coutinho desfez ontem as dúvidas de eleitores,


aliados, jornalistas e, sobretudo, dos partidos de oposição
sobre se permaneceria no governo.
Antes de tudo, registre-se, foi divertido constatar o
festival de barrigadas que blogueiros, radialistas e
torcedores de toda espécie produziram ao longo dos últimos
dias, numa ansiedade provavelmente maior que a do
próprio governador, quando “noticiaram”, a partir de
“fontes exclusivas” a antecipação da renúncia de RC.
Os “sinais” — parte da imprensa deixou
definitivamente de lado os fatos para “interpretar” sinais —
eram para esses jornalistas por demais evidentes: uma hora
eram caminhões de mudança que entravam e saíam da
Granja Santana; em outra, a “antecipação” de inaugurações
de obras; alguns chegaram mesmo a identificar um tom de
despedida nas palavras proferidas pelo governador nos
últimos dias antes do anúncio fatal.
Mesmo em meio às dúvidas, se alguém se divertiu nos
últimos dias esse alguém deve ter sido Ricardo Coutinho.
Mas deixemos o prosaico de lado e passemos à análise
dos fatos.
Primeiro, a opção pela permanência no cargo indica que
Ricardo Coutinho decidiu priorizar a continuidade do
projeto político-administrativo por ele iniciado em 2011, ao
invés de dar seguimento à carreira política tentando uma
417

provável eleição para o Senado, como fizeram sucessivos ex-


governadores antes dele.
Certamente, essa a decisão de ficar não foi fácil, mas a
bifurcação em que RC se encontrava não permitia que ele
fugisse do sacrifício pessoal, possibilidade finalmente
ratificada por ele, ontem.
Com a vice, Lígia Feliciano, movida pela ambição de ser
governadora sem ter liderança nem identidade com o
projeto político que RC representa na Paraíba, o governador
só contava com seu sacrifício pessoal para impulsionar seu
governo reformador na Paraíba.
Sair do governo seria colocar esse projeto em risco e, de
alguma maneira, Ricardo fez o que se esperava dele.
Um parêntese: página virada, os Feliciano colherão
agora os frutos de sua decisão. Se a condição de Lígia
Feliciano foi estratégica até ontem, o que lhe dava uma
posição privilegiada nas negociações, agora se reduz quase
à insignificância política.
E como a política costuma ser implacável com os erros,
não é difícil antecipar um cenário de derrota para Damião.
Enfim, a decisão de RC exprime uma manifesta
confiança na vitória do candidato já lançado, João Azevedo,
apontado como um dos corresponsáveis pelo sucesso
administrativo das gestões do PSB.
Sem nomes considerados competitivos na oposição,
João Azevedo vai à disputa tendo como principal fiador um
dos governadores mais bem avaliados do Brasil e
postulando dar continuidade a um governo repleto de
realizações, a última delas inaugurada nesta semana, o
gigantesco Hospital Metropolitano.
418

Além, claro, de uma máquina partidária que promete


ser arrasadora, com poder de enraizamento que levará a
candidatura de João Azevedo a todos os rincões do Estado.
E com o governador com a experiência e sagacidade
políticas de Ricardo Coutinho no cargo para ajudar nas
articulações, na montagem da chapa (um dos candidatos ao
Senado, Veneziano Vital do Rego, foi anunciado ontem) e
inaugurações por todo o Estado, o que não poderia fazer
caso fosse candidato ao Senado.
Ou seja, se houve um grande beneficiário da decisão
anunciada ontem por RC, esse alguém se chama João
Azevedo.
419

POR QUE CÁSSIO E CARTAXO


DESPREZAM MARANHÃO?
Abril de 2018

Aparentemente, Cássio Cunha Lima e Luciano Cartaxo


consideram José Maranhão muito bom para apoiar seus
candidatos, mas jamais para ser apoiado por eles.
Os apelos atuais pela desistência do ex-governador e
atual Senador peemedebista não respeitam sequer a
constatação de que, tanto o prefeito de João Pessoa quanto
o de Campina Grande, Romero Rodrigues, que antes
postulavam a condição de candidatos únicos da oposição,
desistiram e já não estão mais no páreo.
Ora, diante desse fato, qual seria a atitude mais séria e
adequada da chamada oposição? Apoiar José Maranhão,
que, dos candidatos lançados desde o ano passado, é o único
que continua no páreo.
Maranhão sempre teve o completo domínio a respeito
da perspectiva das candidaturas de Luciano Cartaxo e
Romero Rodrigues. Com sua experiência, ele sabia que a
possibilidade de desistência dos dois prefeitos – o que
acabou por se concretizar – era grande, e por isso nutria a
esperança de ser o candidato único da oposição quando esse
quadro finalmente se estabelecesse.
Tanto que não se dobrou diante da confrontação de
Luciano Cartaxo quando este, ao perceber que José
Maranhão resistiria, demitiu os aliados do peemedebista da
Prefeitura de João Pessoa, fechando com isso todas as
janelas e destruindo todas as pontes existentes.
420

Ratificado o quadro projetado há meses por Maranhão,


Cássio e Cartaxo mudam novamente de discurso e voltam a
pretender sua desistência, agora em apoio a Lucélio Cartaxo
ou a Pedro Cunha Lima, isso quando já chegamos a abril e
essas candidaturas ainda precisam ser construídas, ao passo
que o nome de Maranhão, por razões óbvias, é muito mais
conhecido e tem uma candidatura muito mais consolidada.
Por isso, a pergunta óbvia se impõe: por que o contrário
não pode acontecer e Lucélio e Pedro − ou Luciano e Cássio
− não apoiam José Maranhão?
Notem que, como eu já escrevi, eu sempre considerei
Luciano Cartaxo o candidato ao governo com maior
viabilidade eleitoral e, por isso, fazia sentido pedir a
desistência de José Maranhão para viabilizar a unidade em
torno de uma só candidatura para enfrentar a candidatura
de João Azevedo que, como se previu, é cada vez mais
favorito.
Mas desistir em nome de um candidato cuja única
credencial a ser apresentada ao eleitor é o sobrenome? Não
faz o menor sentido.
A candidatura de Maranhão
É um erro avaliar a candidatura de José Maranhão com
os olhos unicamente voltados para João Pessoa. Mesmo na
capital, Maranhão disputou uma eleição de prefeito em 2012
e chegou a um percentual próximo dos 20%, não muito
distante do obtido naquela eleição em que foi derrotado por
Cícero Lucena (PSDB) e Estela Isabel (PSB) na disputa para
ir ao segundo turno.
As pesquisas mostram que, quanto mais se interioriza,
a candidatura do senador peemedebista ganha robustez, o
que deve ser creditado não apenas ao nome mais conhecido
421

de alguém que governou a Paraíba três vezes, mas pela


associação às realizações desses governos.
Não dá para deixar de mencionar que o único fator a
depor contra a candidatura de Maranhão é a idade. A favor,
as realizações dos seus governos, além da inquestionável
honorabilidade, probidade, em um tempo em que, mais do
que nunca, esses valores estão sob forte questionamento do
eleitorado. Além de uma visão de estado que ultrapassa os
localismos e as visões de curto prazo.
Para o bem e para o mal, Maranhão é, clara e
definitivamente, um dos poucos remanescentes da velha-
guarda, dos Brizola, dos Arraes, sem ter tido, claro, a
dimensão política e a importância históricas daqueles.
Eu falo aqui em termos geracionais. Maranhão é um
político dos anos 1950 e 1960 que sobreviveu a esses
tempos onde a imagem, o sorriso fácil − e normalmente
falso, − que serve apenas para esconder as verdadeiras
ideias e práticas, normalmente dissimuladas pelo
palavreado raso e, na maioria das vezes, inútil.
E querem que Maranhão desista para apoiar a negação
política do que ele orgulhosamente sempre foi? Não seria o
contrário? Sem candidatos viáveis, os partidos de oposição,
hoje totalmente esfacelados e sem projeto claro de Paraíba
− alguém aí já escutou ou leu uma única ideia? − os
lançamentos às pressas das candidaturas de Lucélio Cartaxo
e Pedro Cunha Lima apenas confirmam que o improviso é o
que predomina.
E ter uma candidatura como a de José Maranhão é um
luxo que Cássio e Cartaxo não podem desprezar por razões
óbvias.
422

Acredito, todavia, que Maranhão não deve nutrir essa


falsa expectativa. Sobretudo porque, para ser o candidato
único da oposição, o peemedebista depende da boa vontade
de alguém que foi, por mais de 20 anos, seu principal
adversário político e contra quem pelejou em seguidas
disputas eleitorais.
Deve-se a isso, por exemplo, o desprezo que Cássio
Cunha Lima dedicou a José Maranhão em 2014, quando
recusou a possibilidade de apoiá-lo para o Senado para
receber em troca, nutrido não apenas pela soberba, mas pelo
desprezo ao antigo adversário. O que certamente acabou
por ser a salvação do próprio Maranhão na eleição passada.
Porque, caso contrário, ele não teria recebido o
reconhecimento do povo Paraibano, que o elegeu de
maneira quase heroica para o Senado, depois de uma
campanha que mais pareceu − pelos recursos, pela imagem
− uma disputa entre Davi e Golias.
Não é por outro motivo que João Azevedo começa a se
consolidar como um candidato não apenas viável. Azevedo
é cada vez mais favorito a vencer em outubro, porque, além
de contar com o apoio poderoso de Ricardo Coutinho, tem
diante de si uma oposição que não demonstra ter confiança,
predominando a expectativa, talvez até a certeza, de
deslealdade entre aliados circunstanciais.
Cartaxo tem motivos para confiar em Cássio? Os
acontecimentos recentes mostram que não.
O povo paraibano às vezes sabe surpreender. E talvez
seja nisso que Maranhão aposta. Maranhão tem razão em
manter sua candidatura, porque ele nada tem a perder. Caso
desista, aí sim. Nesse caso, ele estará dando início ao fim de
sua carreira, demonstrando o que desejam seus adversários,
423

e assim ratificando o que provavelmente tanto deplorou em


sua longa vida política: o fato de não ter mais nada a oferecer
à Paraíba.
424

CANDIDATURA DO PT É FALTA DE
VISÃO ESTRATÉGICA
Abril de 2018

Quando Aécio Neves, candidato a presidente derrotado


em 2014, deu início ao “dispositivo” que levaria ao golpe que
afastou Dilma Rousseff da Presidência quase dois anos
depois, primeiro pedindo a recontagem de votos, depois
estimulando e financiando os grupos que iniciaram as
manifestações, e, por fim, apoiando a pauta-bomba de
Eduardo Cunha, poucos foram os que publicamente se
opuseram a essa conspiração.
Começava ali o cerco à jovem e imatura democracia
brasileira cujo desfecho pode ter sido a recente prisão de
Lula, mas não é certo ainda que o golpe tenha se completado.
Uma dessas poucas lideranças nacionais que se
opuseram ao golpe contra o governo petista foi o
governador recém-reeleito da Paraíba, Ricardo Coutinho,
que se insurgiu até mesmo contra a orientação do próprio
partido para defender o mandato conquistado por Dilma nas
urnas.
RC foi a manifestações contra o impeachment,
organizou um grande ato em defesa do mandato de Dilma,
enfim, expôs-se numa confrontação absolutamente desigual
porque, como ficou óbvio, a conspiração envolvia, entre
outros setores poderosos do país, a mídia corporativa e o
grande empresariado.
Não só isso. Consumado o impeachment, RC não apenas
manteve-se na oposição ao novo governo como não
tergiversou quando Michel Temer tentou amealhar para si
425

as flores da obra da Transposição do Rio São Francisco − ao


lado de Cássio Cunha Lima − e promoveu um ato histórico
quando trouxe Lula a Monteiro para a inauguração popular
da obra. Foi a primeira grande manifestação de apoio a Lula,
onde ficaram registradas as imagens de carinho do povo
nordestino por seu eterno presidente.
Tudo isso, ao que parece, o PT paraibano não levou em
conta quando lançou a candidatura a prefeito de João
Pessoa, em 2016, que eu mesmo erroneamente apoiei
imaginando ser aquele um ato de rebeldia política contra os
“golpistas”.
Não era. Era apenas a expressão de uma certa
incapacidade de fazer a grande política, que obriga quem a
faz a pensar no longo prazo e, por isso mesmo, a lidar com
aparentes contradições que, no curto prazo, parecem negar
os grandes objetivos.
Se Lula pensasse como as lideranças do PT paraibano
ele seria lembrado hoje apenas como um bom candidato a
presidente, derrotado em quatro eleições seguidas.
Felizmente, Lula foi capaz de, sem esquecer os
compromissos históricos que moldaram sua vida política e
sua personalidade, construiu alianças para chegar ao
governo e tornar-se o Lula que hoje lutamos por ele.
Lula tornou-se o Lula de hoje ao longo do seu governo
porque, no caminho inverso ao que ele manifestou no ato em
que anunciou que se entregaria a Sérgio Moro, ele deixou de
ser apenas uma ideia para se materializar em ações. Agora,
muito mais poderoso, ele volta a ser uma ideia porque hoje
povoa os espíritos daqueles que lutam por um Brasil mais
justo e soberano.
426

Foi no trajeto entre sua primeira posse presidencial e a


passagem do cargo a Dilma Rousseff que Lula definiu com
clareza os limites de suas vontades e o tamanho dos
obstáculos que ele tinha a superar para governar também
para os mais pobres e pela soberania do país.
É fácil hoje para os detratores de Lula apontar o dedo
para as alianças que ele fez ao longo do seu governo para
fazer o projeto da esquerda avançar e tirar dezenas de
milhões da fome e da pobreza absoluta, aumentar de forma
constante a participação dos salários na renda nacional,
tornar o Brasil mais soberano e independente, além de,
entre tantas coisas, dobrar o número de alunos nas
universidades federais, triplicar os do ensino técnico e
tecnológico, sem falar nos milhões que foram às
universidades privadas via Prouni.
Lula teria feito isso sem as alianças no parlamento que
ele foi obrigado a fazer? É certo que Lula cometeu o erro de
achar que aquele pacto política seria mantido,
subestimando o poder das forças em disputa, mas quando
observamos retrospectivamente, sobretudo depois do que
veio após a queda de Dilma Rousseff, é impossível não
reconhecer que foi o gênio político de Lula que,
reconhecendo, não as suas próprias limitações como
indivíduo, mas de uma correlação de forças desigual para as
forças sociais que, na difícil conjuntura de hoje no mundo,
lutam por projetos transformadores em países como o
Brasil.
No caso da Paraíba, e quem se der ao trabalho de
pesquisar, em todo o Nordeste, a vitória de projetos como o
que Ricardo Coutinho lidera na Paraíba não aconteceu sem
as alianças com grupos e partidos conservadores. Na Bahia,
em Sergipe, em Alagoas, em Pernambuco, no Rio Grande do
427

Norte, no Ceará, no Piauí e no Maranhão, não há um exemplo


sequer que fuja a essa constatação.
Em meio a esses governos, muitos são do PT e em todos
eles não há registro de chapa puro-sangue da esquerda. E
para mencionar apenas um caso recente, o governador
petista do Ceará, Camilo Santana, terá como companheiro de
chapa a uma das vagas ao Senado nada mais nada menos que
o “golpista” Eunício de Oliveira (PMDB), atual Presidente do
Senado. O PT paraibano rejeitaria nesse caso esse apoio?
Para não mencionar o fato do próprio Lula ter aberto os
braços para Renan Filho durante a última visita que fez à
Alagoas.
Aqui na Paraíba, entretanto, o PT parece não aprender
com os próprios erros. Para novamente para não votar em
“golpista”, como fez em 2016 quando não apenas ficou fora
do debate real, como diminuiu sua bancada de vereadores,
e, de quebra, deu sua generosa contribuição à eleição de
Luciano Cartaxo, que acabara de abandonar o partido no
pior momento de sua história para aderir ao golpe e aliar-
se a inimigos históricos do PT (Cássio Cunha Lima e o PSDB).
Ao anunciar a disposição de lançar candidatura própria
o PT paraibano parece querer repetir o mesmo erro de dois
anos atrás. Mostra também que falta visão de longo prazo e
a respeito dos objetivos estratégicos do partido na Paraíba e
no Brasil. Sem nomes competitivos para lançar ao Senado –
o deputado Luiz Couto já disse que é candidato à reeleição,
– e mesmo assim insistir na candidatura de outro petista
apenas para marcar posição, o partido agora pretende
contribuir com a eleição de Cássio Cunha Lima, que deve
estar aos pulos de alegria torcendo que essa decisão do PT
se concretize.
428

A FRÁGIL A ALIANÇA
CARTAXO-CUNHA LIMA
(Junho de 2018)

A desistência de Raimundo Lira de disputar uma das


vagas para o Senado, finalmente anunciada ontem (18),
mostra, entre outras coisas, que as candidaturas de Lucélio
Cartaxo e Micheline Rodrigues se reduzem cada vez mais a
um único objetivo: salvar Cássio Cunha Lima de uma derrota
em outubro próximo.
O primeiro movimento errado de Lira foi acreditar que
a aliança Cartaxo-Cunha Lima acabaria por aglutinar toda a
oposição, reeditaria as polarizações que marcaram desde
sempre as eleições para o Governo da Paraíba e isso se
desdobraria numa disputa entre apenas quatro nomes para
o Senado.
Reduzida a disputa a apenas duas chapas, Lira apostava
no apoio dos muitos prefeitos que ele arrebanhou pelo
estado, ajudado por sua influência no governo Temer. Além
disso, Lira contava que esse palanque catapultasse sua
candidatura, apoiado na força das prefeituras de João
Pessoa e Campina. E, claro, no apoio financeiro proveniente
de sua fortuna pessoal de grande empresário.
Essa avaliação fez Lira, que tinha vaga assegurada ao
lado de José Maranhão, romper com o velhinho para fazer o
jogo dos Cartaxo e dos Cunha Lima. A intenção era clara:
esvaziar a candidatura de Maranhão para viabilizar a
estratégia dos gêmeos e do senador do PSDB.
429

Não foi apenas a candidatura de Lira que naufragou,


mas essa projeção. José Maranhão não apenas manteve a
candidatura − já estamos em junho e o emedebista continua
a demonstrar surpreendente solidez eleitoral − como
conseguiu ampliar sua base política e é hoje o favorito para
ter o apoio do PP dos Ribeiro e do PSC dos Gadelha. Na
semana passada, os Lacerda anunciaram apoio a Maranhão.
Mais uma baixa importante para os Cartaxo-Cunha Lima.
Enquanto isso, a candidatura verde-tucana vê a crise se
aproximar cada vez mais de suas hostes e o anúncio da
desistência de Raimundo Lira apenas ratifica essa situação.
Os Cartaxo-Cunha Lima provam agora do veneno que
ofereceram, por meio de Lira, a Maranhão. E essa é uma crise
muito mais perigosa, que pode ser definitiva em razão da
proximidade de importantes decisões que estão prestes a
ser anunciadas.
E a candidatura dos Cartaxo-Cunha Lima tem cada vez
menos a oferecer aos potenciais aliados. O fraco
desempenho de Lucélio Cartaxo e Micheline Rodrigues nas
pesquisas de consumo interno esvaziam as expectativas de
vitória e afugentam partidos e candidatos que observam
atentamente esses números para tomar suas decisões. E eles
não podem errar nessa hora.
Para piorar as coisas, o candidato a governador não
ajuda. Com um desempenho pessoal considerado abaixo da
crítica em razão da falta de preparo para assumir posição de
tamanha responsabilidade, Lucélio Cartaxo tem sido o
maior obstáculo ao crescimento da chapa. Aliás, Lucélio é
mais vítima da situação porque ele foi literalmente jogado
às feras no remendo feito às pressas após os postulantes
originais à candidatura, Luciano Cartaxo e Romero
Rodrigues, roerem a corda e desistirem por receio de
430

abandonarem seus cargos, serem derrotados e ficarem a ver


navios depois de outubro.
Enfim, a desistência de Raimundo Lira pode ser lida de
diversas maneiras, mas antes de mais nada ela explicita a
crise da aliança entre duas famílias para retomar o controle
político da Paraíba.
Salvar Cássio em outubro pode ser o único objetivo da
aliança entre os Cartaxo e Cunha Lima. Talvez nem isso.
431

AS OPÇÕES DE DANIELA RIBEIRO


Julho de 2018

Estamos chegando à última semana de julho e às


vésperas do início do prazo para realização das convenções
partidárias que escolherão os candidatos das coligações que
disputarão a eleição de 2018. Para manter a tradição, o
Partido Progressista do ex-ministro do governo Dilma
Rousseff e atual líder do governo Temer na Câmara,
Aguinaldo Ribeiro, não sabe ainda se é governo ou oposição.
O motivo para essa indefinição todo mundo sabe: não
se trata, por óbvio, de questões de ordem programáticas ou
ideológicas, mas de cálculos de várias ordens que apontem
o melhor caminho para eleger a irmã de Aguinaldo, a
deputada estadual Daniela Ribeiro.
Escolhida a noiva dessa eleição, com as exceções de
praxe do PSTU e do PSOL, a ex-oposicionista Daniela
conversa com tudo e com todos. Ela já esteve mais próxima
de anunciar a entrada na chapa liderada pelo PSB para fazer
companhia ao conterrâneo campinense e até então
tradicional adversário político, Veneziano Vital do Rego.
Mas, depois que o prefeito de João Pessoa, Luciano
Cartaxo, lançou à mesa de negociação o ás da candidatura de
sua esposa, Maísa Cartaxo, à suplência de Daniela, o ânimo
governista da deputada arrefeceu.
E o motivo é que Daniela Ribeiro tem muito a ganhar
quando amarra sua candidatura com a de Maísa Cartaxo no
maior colégio eleitoral do estado onde ainda é pouco
enraizada. Com a vantagem adicional de que, em João
Pessoa, o eleitorado de Cartaxo não torceria o nariz para
432

Daniela, como tende a fazer o eleitorado ricardista − é


sempre bom lembrar que, em 2010, Cássio, o então “senador
de Ricardo”, foi derrotado em João Pessoa por outro
campinense, mas de estatura política muito menor, Vital do
rego Filho.
Como aconteceu com Cássio, e agora num ambiente de
muito mais radicalização política, Daniela deve passar
muitos constrangimentos ao longo da campanha, tendendo
a sofrer com o “fogo amigo” dos eleitores de João Azevedo e
até mesmo de candidatos que estarão na coligação
“socialista”, como, aliás, já está acontecendo. Nos grandes
centros, Daniela viverá um questionamento permanente da
base social do PSB e PT, que, registre-se, é a mesma.
Motivo principal: o irmão de Daniela Ribeiro, o
deputado federal Aguinaldo Ribeiro, parlamentar da base do
governo até às vésperas do impeachment, mudou de posição
depois de turvas negociações para aderir ao golpe
parlamentar que depôs Dilma Rousseff da Presidência. Hoje,
Aguinaldo é um dos líderes do governo Temer no Congresso.
Será muito engraçado, para não dizer, vergonhoso, ver a
sigla do PT ao lado da do PP compondo a coligação liderada
pelo PSB, cuja principal liderança na Paraíba, o governador
Ricardo Coutinho, assumiu o papel de destaque na luta
contra o impeachment. Mas, como esse tipo de coerência
não se encontra na feira das alianças na Paraíba, Daniela e o
PP podem incluir entre suas opções, e até ser paparicada,
dividir o palanque com ferrenhos adversários.
Além de tudo, ao apoiar o candidato governista, Daniela
vai passar boa parte do tempo explicando mudança tão
repentina de discurso, depois de quatro anos como
deputada do bloco oposicionista na Assembleia, quando
433

ocupou por diversas vezes a tribuna para desferir ataques


ao atual governo.
Tudo isso certamente compõe os cálculos dos Ribeiros
para tomar a decisão de qual palanque compor em 2018.
Talvez tenha chegado a hora da família incluir em seus
cálculos os ganhos associados à coerência no discurso,
fidelidades às alianças e trajetórias assumidas. Além de um
toque, mesmo que seja para dar um leve sabor essa anódina
maneira de tratar as diferenças, de identidade política e
ideológica.
Na chapa do PSB, Daniela vai ter a estrutura do
governismo e da máquina eleitoral do PSB, sobretudo no
interior − mas, é bom lembrar que, em 2014, José Maranhão
se elegeu senador derrotando duas máquinas eleitorais, −
mas vai perder discurso e enfrentar tensões internas que
atrapalharão muito sua candidatura (e Daniela sabe mais ou
menos onde está pisando devido a experiência de 2012
quando disputou a Prefeitura de Campina em aliança
informal com o PT).
Na chapa de Lucélio Cartaxo, Daniela terá suporte nas
maiores cidades do estado, aquelas com mais de 20 mil
eleitores e onde reside mais da metade do eleitorado
paraibano, sobretudo em João Pessoa, Campina Grande,
Santa Rita, Guarabira, Patos, Sousa, Cajazeiras, só para citar
as maiores prefeituras controladas pela oposição. De
quebra, ainda manterá a coerência das alianças, do discurso,
e com os valores políticos e ideológicos que sua atuação
parlamentar exprime cotidianamente, aspectos que o eleitor
pode começar a prestar atenção a partir de 2018.
434

VITÓRIAS DE JOÃO AZEVEDO EM 2018 E 2022


CONSOLIDARAM O NOVO CICLO POLÍTICO
Setembro de 2023

Entre a eleição de 2018, decidida no primeiro turno, e o


disputadíssimo segundo turno da eleição de 2022, ambos
vencidos por João Azevêdo, muita coisa mudou na política
paraibana.
Para começar, logo após a eleição de 2018, poucos ou
ninguém contestava na Paraíba que a vitória do até então
desconhecido secretário de estado, João Azevêdo, decorrera
exclusivamente do prestígio de Ricardo Coutinho, da
avaliação positiva da sua administração e da poderosa
máquina eleitoral que o então governador organizou para
não apenas vencer a eleição, mas fazê-lo no primeiro turno.
Como vimos, quando Ricardo Coutinho lançou a candidatura
de João Azevêdo um ano antes do pleito, poucos era aqueles
que acreditavam em sua vitória. Ao longo dos primeiros
meses de 2018, entretanto, o que se viu foram as
desistências dos principais candidatos da oposição e, às
vésperas da eleição, a completa fragmentação da aliança
oposicionista com o lançamento de candidaturas sem a
menor vitória eleitoral. Mesmo assim, no começo da
campanha, o segundo turno era tido como uma certeza; na
semana que antecedeu o pleito, a vitória de João Azevêdo era
tida já como certa, restando saber se aconteceria já no
primeiro turno.
Abertas as urnas, a improvável vitória de João Azevêdo
se realizara. Surpresa? Não para quem acompanhou o
desenrolar das últimas eleições na Paraíba, sobretudo a
mudança no perfil do eleitorado, que Ricardo Coutinho
435

soube captar, ao lado do esgotamento de um ciclo político


cujos maiores representantes, José Maranhão e Cássio
Cunha Lima, sofreram derrotas acachapantes, o que era
mais uma evidência do declínio definitivo de suas lideranças
e de um novo ciclo político, que também é geracional, que se
anunciava, agora protagonizado por sucessores políticos
tanto das lideranças tradicionais quanto das lideranças
oriundas dos maiores centros urbanos, como João Azevêdo.
As transformações engendradas na comunicação, com a
consolidação do uso das redes sociais como principal meio
de informação e como arma política, ajudaram a
impulsionar o surgimento desse novo ciclo político que, no
caso da Paraíba, era apenas um ajuste tardio ao que já se
desenrolava na região Nordeste há mais tempo.
Nos meses após a vitória de João Azevêdo tudo parecia
indicar que força adquirida por Ricardo Coutinho havia se
consolidado de tal maneira que não era possível sequer o
vislumbre de qualquer liderança política que, no curto
prazo, emergisse com capacidade para ameaçar a
hegemonia ricardista. Os adversários tradicionais, José
Maranhão e Cássio Cunha Lima, e as lideranças emergentes,
Luciano Cartaxo e Romero Rodrigues, então prefeitos de
João Pessoa e Campina Grande, respectivamente, haviam
sofrido uma derrota desnorteadora.
Mais um evento inesperado, entretanto, aconteceu. Nos
dois anos que se seguiram ao fim do seu mandato de
governador, ao contrário de acompanhamos o exercício de
uma nova hegemonia política, o que a Paraíba presenciou foi
a inesperada derrocada do prestígio político de Ricardo
Coutinho. Denúncias de corrupção da chamada Operação
Calvário acabaram por transformar o esperado paraíso
político que o ex-governador imaginava desfrutar, após
436

anos de mandatos no parlamento e no Executivo, numa


travessia cujo caminho mais se assemelhava aos círculos do
Inferno de Dante. Um vendaval sobreveio sobre a política
paraibana ao longo do ano de 2019, e assumiu proporções
catastróficas para Ricardo Coutinho quando, em dezembro,
a prisão do ex-governador foi decretada.
Só foi possível medir com alguma precisão a dimensão
do desgaste político provocado pela Operação Calvário na
eleição seguinte, a de 2020, quando Ricardo Coutinho foi
obrigado ao sacrifício de uma candidatura natimorta a
prefeito de João Pessoa, até ali seu maior reduto eleitoral. O
sexto lugar e os poucos mais de 10% dos votos válidos
obtidos (10,68% para ser mais preciso) foram expressivos
demais para não serem descritos como uma derrota
humilhante para o ex-governador, mesmo considerando a
decisão do TSE, tomada na semana que antecedeu o pleito,
que o tornou inelegível, o que, inegavelmente, o fez perder
votos. As pesquisas anteriores a esse fato, porém,
mostravam o tamanho da influência do ex-prefeito e do ex-
governador na cidade que, de 2004 a 2018, foi sua maior
fortaleza eleitoral.
Em 2022, Ricardo Coutinho subestimou seu próprio
desgaste e resolveu retomar o plano de 2018 de se eleger
Senador. Antes, porém, após perder o controle do partido
para o deputado federal Gervásio Maia, Coutinho deixou o
PSB para retornar ao PT, partido ao qual fora filiado desde o
início dos anos 1980 até 2003, quando se filiou ao PSB para
viabilizar sua candidatura a prefeito de João Pessoa.
A nova derrota, agora em uma eleição estadual,
confirmou a perda de tamanho político do homem que,
quatro anos antes, tinha sido capaz de enfrentar as mais
tradicionais lideranças políticas da Paraíba e derrotá-las. O
437

quarto lugar de Ricardo Coutinho na eleição para o Senado,


o último entre os principais concorrentes, pode ser
analisado a partir de vários ângulos ou perspectivas. Pode-
se ressaltar, por exemplo, fatores internos — o PT dividido
— ou externos — a Operação Calvário ainda viva na
memória do eleitor, ou as dúvidas sobre sua elegibilidade —
que impactaram negativamente no desempenho eleitoral de
Ricardo Coutinho, porém, a derrota e a maneira como
aconteceu são dados da realidade, objetividades
inescapáveis que não podem ser relevadas, e elas revelaram,
mais uma vez, agora no plano estadual, o quanto o prestígio
político do ex-governador havia se corroído.
Trata-se de uma condição política irrecuperável? É
difícil dizer, mas o resultado que Ricardo Coutinho obteve
em João Pessoa na eleição de 2018 revelou, pelo menos,
senão boas notícias, pelo menos indícios de recuperação de
parte do seu prestígio político. Apesar da nova derrota, em
comparação com o desempenho eleitoral de 2020, Coutinho
viu sua votação quase dobrar em termos percentuais
(19,9%), isso mesmo com as dúvidas sobre sua elegibilidade
que certamente e mais uma vez lhe custaram muitos votos.
Mesmo assim, o desempenho de 2022 em João Pessoa ainda
foi muito distante das votações consagradoras obtidas por
Coutinho na cidade. Em 1996, ele foi reeleito o vereador
mais votado; em 1998, elegeu-se deputado estadual com
25.388, 21.098 (9,29%) dos quais obtidos na capital
paraibana; em 2002, reelegeu-se para a Assembleia com a
maior votação do estado com 47.912, 35.566 (11,99%) de
eleitores pessoenses. Porém, é preciso considerar as
condições em que Ricardo Coutinho enfrentou a eleição de
2022. Mesmo uma eleição majoritária e, portanto, com
poucos concorrentes, a situação de Ricardo Coutinho para o
eleitor se assemelhava a de ame-o ou deixe-o, e os 47.912
438

votos obtidos por ele em João Pessoa podem indicar uma


recuperação do prestígio político do ex-governador, o que
só a participação em novas eleições pode confirmar.
No caso de João Azevêdo, que estreou na política
eleitoral já como candidato e depois como governador, é
inegável e necessário reconhecer as dificuldades que ele
enfrentou na difícil travessia que foi seu primeiro governo.
O traumático rompimento com Ricardo Coutinho que o
levou a sair do PSB, a necessidade de criar uma nova base de
apoio enquanto dava uma nova cara ao governo, além das
dificuldades políticas, com inevitáveis reflexos
administrativos, que o obrigaram a lidar com um Presidente
da República hostil a ele e aos governadores do Nordeste,
situação que foi ao limite quando a pandemia de Covid-19 se
alastrou pelo país, fatos que colocaram à prova as
capacidades políticas e administrativas do novato
governador. Se já não um desafio menor administrar
durante uma pandemia, quando os dirigentes políticos
foram obrigados a tomar decisões em um ambiente de
tensão e comoção social, no caso do Brasil, a política de
combate à pandemia, se é que podemos chamar assim, do
ex-presidente Jair Bolsonaro combinava negacionismo e
estímulo à exposição da população ao vírus, aliada à
mobilização dos seus seguidores, sobretudo no meio
empresarial, contra governadores e prefeitos que seguiam
as recomendações de epidemiologistas e das agências
nacionais e internacionais de saúde.
Obrigado a lidar com duas crises de grandes dimensões,
que lhe consumiram praticamente metade do mandato, João
Azevêdo foi obrigado a fazer os ajustes políticos e
administrativos para se ajustar à nova ordem, enquanto o
governo avançava, o que, apesar das diferenças
439

incomparáveis, de alguma maneira, essas dificuldades de


João Azevêdo guardavam alguma semelhança com as que
Ricardo Coutinho enfrentou no primeiro governo e que
quase lhe custou a reeleição. As diferenças mais substanciais
entre 2014 e 2022 eram duas: o ambiente político
contaminado pela polarização ideológica engendrada pela
ascensão da extrema-direita bolsonarista, que rasgava o
país de cima a baixo — na Paraíba, como se veria, o
bolsonarismo era influente nos dois maiores colégios
eleitorais do estado, e os candidatos adversários, ao
contrário de representantes que tão bem vestiam o figurino
do tradicionalismo político, como José Maranhão e Cássio
Cunha Lima, o PSDB veio de Pedro Cunha Lima, que falou ao
centro político, evitando a todo custo a polarização nacional,
Veneziano Vital amarrando, ao lado de Ricardo Coutinho,
sua imagem e seu destino eleitoral ao de Lula, e Nilvan
Ferreira, o candidato bolsonarista representante de uma
direita que se enraizou em setores das classes médias
urbanas que veio para ficar. Era um quadro político
completamente diferente e muito mais complexo.
João Azevêdo, governador, Lucas Ribeiro, vice-
governador, Pedro Cunha Lima, que foi ao segundo turno,
vencendo a eleição nas duas maiores cidades da Paraíba,
Efraim Filho, eleito senador, Hugo Motta, o deputado federal
mais votado e, talvez, a liderança política isolada mais
poderosa que emergiu da eleição, representam a
personificação de um novo ciclo político, que emergiu ao
longo da última década. Trata-se, a meu ver, de um ciclo que
é, ao mesmo tempo, geracional e social. A mudança
geracional foi precipitada pela perda de influência das
maiores lideranças tradicionais, a exemplo de José
Maranhão, Cássio Cunha Lima, Efraim Moraes, que deram
lugar, com exceção de Maranhão, aos sucessores. Estes
440

lograram êxito em sintonizar suas atuações políticas à


dinâmica da modernização brasileira das últimas décadas.
Todos são também, como não poderia deixar de ser,
resultado da mudança social que, no Nordeste, já dura cinco
décadas. É nesse ponto que entra João Azevêdo.
Assim como Ricardo Coutinho e tantas outras
lideranças de centro-esquerda que assumiram posições
políticas e administrativas de relevo no Nordeste durante as
últimas duas décadas, João Azevêdo é um legítimo
representante das classes médias urbanas de grandes
centros como João Pessoa. Ou seja, sua ascensão política não
dependeu da influência familiar, que pode ou não revelar
vocações políticas. Professor, engenheiro, a inserção de
Azevêdo na política se deveu à condição de técnico
reconhecidamente competente, combinada com a vivência
que o tornou imprescindível a administrações vitoriosas
com a de Ricardo Coutinho.
João Azevêdo fez a primeira e mais difícil travessia, que
foi administrar sob condições de anormalidade política e
administrativa. Ao final desse primeiro estágio, quando
colocou à prova seus primeiros quatro anos como
governador, e foi reeleito, Azevêdo alcançou uma vitória
estratégica no embate subterrâneo, de mais largo alcance,
que se desenrolava. Em um quadro político, ressalte-se mais
uma vez, de extrema complexidade, marcado por um país
dividido pelo ódio ideológico e pela desinformação, Azevêdo
não apenas sobreviveu ao embate, como saiu fortalecido,
após derrotar as novas caras do tradicionalismo político,
Pedro grupo Cunha Lima, Efraim Filho e Veneziano Vital, em
aliança com o bolsonarismo, forças que se juntaram no
segundo turno para derrotá-lo. Ricardo Coutinho foi outro
441

derrotado já que este cerrou fileiras contra o governador


candidato à reeleição.
Os próximos quatro anos continuarão sendo de
rearranjo político na Paraíba, e tende a ser distinguidos pela
forte disputa entre as principais lideranças dos grupos
políticos tradicionais e suas jovens lideranças: Pedro e
Bruno Cunha Lima, Hugo Motta, Efraim Filho — a posição e
o papel a ser desempenhado por Lucas Ribeiro no futuro
dependerão de sua assunção ao governo da Paraíba, caso
João Azevêdo se afaste em 2026, de sua candidatura à
reeleição e, de modo ainda mais decisivo, de sua vitória na
disputa.
No campo da centro-esquerda, João Azevêdo pode
consolidar sua liderança, que até 2022 foi fortemente
associada ao cargo de governador. A reeleição ajudou na
superação de algumas dúvidas, porém, seu desafio é duplo:
continuar a representar a continuidade do modelo iniciado
por Ricardo Coutinho, em meio ao qual emergiu como
liderança, porque, também, foi uma de suas peças-chave, e,
ao mesmo tempo, mostrar-se capaz de renovar o modo de
governar e exercer o seu comando. Caso João Azevêdo, por
algum motivo, cometa a equívoco de renunciar a liderança
dessa base social, o espaço deixado, cedo ou tarde, será
ocupado.
É possível afirmar com algum grau de certeza que um
ciclo político se esgotou em 2018. Se é assim, um novo ciclo
emergiu desde então, ainda que não plenamente maduro,
porque jovem demais para ser plenamente delineado. E
essa, por assim dizer, é uma história ainda a ser escrita.
442

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