Você está na página 1de 2

Universidade Federal de São Carlos

Departamento de Geografia, Turismo e Humanidades


Disciplina: Geografia Crítica e Ensino – 2021 1º sem

Nome: Gustavo Martins dos Santos


RA: 745011
Nome: Kaue de Sousa Silva
RA: 745019

Atividade: Resenha do livro “O Cortiço” sob uma perspectiva da Geografia

Resenha

A obra de Aluísio de Azevedo é escrita sob uma ótica do naturalismo, corrente


literária que iniciou na Europa e chegou ao Brasil no final do século XIX. Nessa
corrente as narrativas não serviam apenas como literatura para entretenimento, mas
também como forma de crítica social, nas obras naturalistas os personagens são
apresentados como sujeitos que tem todas suas ações influenciadas pelo meio,
seres que são determinados por características físicas, biológicas e sociais. A
impessoalidade é marca dessa corrente, que tenta analisar o comportamento
humano sob uma ótica científica do período. Portanto, mesmo que numa análise
com o viés da geografia, a contextualização do pensamento científico do século XIX
deve ser colocada sob holofotes, para que não percamos de vista o momento
histórico em que a obra foi concebida.
Tendo em vista a corrente naturalista e a contextualização, Aluísio de Azevedo utiliza
o cortiço como palco, como uma espécie de “laboratório” para a análise dos
personagens que ali vivem. Cortiços são tipos de moradias populares do século XIX
que recebiam pessoas de baixa classe, aqueles que eram afetados pela
desigualdade socioespacial em um período de expansão urbana, e estabelecimento
do Rio de Janeiro como uma centralidade.
O Cortiço aparece como um personagem na obra de Aluísio de Azevedo, por muitas
vezes são descritos sentidos do cortiço, como audição, visão, o Cortiço percebe os
personagens que ali habitam. Ao longo da obra somos apresentados ao
personagem João Romão, que além de dono do cortiço e da taverna, explora seus
funcionários a fim de acumular capital, características da própria acumulação
capitalista, que produz as desigualdades. Miranda, rival de João, pode ser lido como
as disputas dentro do próprio capitalismo, é o sujeito bem endinheirado que força a
competição, é como um burguês já estabelecido em seu lugar social. Temos também
Jerônimo, que representa um trabalhador esforçado, sujeito explorado por João
Romão. Bertoleza, a mulher negra que trabalha por troca de moradia, também
explorada por João Romão. Rita Baiana, a mulher que representa o estereótipo da
sensualidade miscigenada presente no Brasil.
Observando os personagens que habitam o cortiço percebemos que há uma análise
de categorizações sociais do Brasil no século XIX observadas pelo autor. Se o
cortiço é um tipo de moradia segregado na conjuntura socioespacial, mas dentro
desse Cortiço de Azevedo observamos estereótipos de tipos sociais brasileiros,
seria esse Cortiço uma alegoria do Brasil como palco da crítica social feita pelo
autor? A escolha do Cortiço pode ser analisada como uma comparação ao Brasil
como território segregado assim como esses tipos de moradia? O paralelo em que a
geografia poderia traçar entre cortiço e Brasil, é justamente a relação desigual de
uma região periférica para com a centralidade.
O Cortiço é uma excelente obra para exercício de multidisciplinaridade, fica evidente
nessa obra que a literatura pode dialogar com a discussão que a geografia faz sobre
o espaço. É possível que a correlação entre temas de diferentes disciplinas pode
colaborar em um processo pedagógico, estimulando os estudantes a também
encontrar paralelos entre as variadas disciplinas conforme se aprofundam e se
apropriam dos conhecimentos adquiridos dentro do currículo escolar.

Você também pode gostar