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Procuradoria-Geral de Justiça

Gabinete do Procurador-Geral de Justiça

RESOLUÇÃO Nº 083/2021-CSMP

Dispõe sobre a transação disciplinar no âmbito


do Ministério Público do Estado de Mato Grosso,
como alternativa ao processo ou à sanção
disciplinar nos casos de infrações disciplinares
de menor potencial ofensivo atribuídas aos seus
membros.

O CONSELHO SUPERIOR DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO


DE MATO GROSSO, no uso das atribuições que lhe são conferidas pela Lei Complementar nº
416, de 22 de dezembro de 2010, especialmente em seu art. 204, § 3º;

CONSIDERANDO que a autocomposição de conflitos no âmbito


da administração pública foi instituída pela Lei Federal nº 13.140, de 26 de junho de 2015;

CONSIDERANDO a possibilidade de a utilização da transação


como alternativa à instauração do processo administrativo disciplinar e à aplicação da pena nos
casos de infrações disciplinares consideradas de menor potencial ofensivo;

CONSIDERANDO que as infrações disciplinares leves, apenadas


com as sanções de advertência e de censura, podem ser consideradas como de menor potencial
ofensivo;

CONSIDERANDO que a transação pode constituir significativo e


expressivo instrumento para conservar a efetividade do poder disciplinar, sobretudo nas infrações
apenadas com advertência e com censura, que por vezes não trazem consequências práticas em
relação ao agente público;

CONSIDERANDO que a celebração da transação disciplinar


impele o agente público a assumir o compromisso de conformar sua conduta e de observar os
deveres e as proibições a que está sujeito, suprindo o caráter pedagógico das medidas
disciplinares;

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CONSIDERANDO o que consta no procedimento Gedoc nº


20.14.0001.0006498/2020-65;

RESOLVE:

Art. 1º A transação disciplinar, nos casos de infração disciplinar de


menor potencial ofensivo atribuída aos membros do Ministério Público do Estado de Mato
Grosso, apresenta-se como medida alternativa às sanções disciplinares decorrentes dos
processos administrativos, regendo-se o sistema de resolução consensual de conflitos através das
disposições constantes desta Resolução.

Parágrafo único. Considera-se infração disciplinar de menor


potencial ofensivo, para os fins desta Resolução, a conduta punível com advertência ou censura,
nos termos da Lei Complementar nº 416, de 22 de dezembro de 2010.

Art. 2º A transação disciplinar observará as seguintes diretrizes:


I – recomposição da ordem jurídico-administrativa, inclusive com a
reparação de danos;
II – orientação do membro do Ministério Público para o eficiente
desempenho de suas atribuições, inclusive mediante determinações e recomendações;
III – aperfeiçoamento do serviço público;
IV – prevenção de novas infrações administrativas;
V – promoção da cultura da moralidade e da eticidade no serviço
público.

Art. 3º São requisitos para a celebração da transação disciplinar:


I – inexistência de má-fé na conduta do membro do Ministério
Público;
II – existência de condição e histórico funcionais indicativos da
suficiência e da adequação da medida, em atenção à infração funcional apurada;
III - inexistência ou insignificância de prejuízo ao erário, ou
manifestação de disponibilidade para sua reparação;
IV - ser membro vitalício.

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Art. 4º É vedada a transação disciplinar quando:


I – a infração disciplinar praticada for punível com suspensão, com
demissão, com cassação de aposentadoria, demissão, disponibilidade ou com outras
penalidades que não as especificadas no art. 1º, parágrafo único;
II – a conduta estiver prevista como crime ou ato de improbidade
administrativa;
III – o membro tiver contra si outro processo em curso para
apuração de infração punível com sanção superior à censura;
IV – o membro houver celebrado transação disciplinar nos últimos
2 (dois) anos;
V – o membro tiver sofrido, em caráter definitivo, sanção
disciplinar nos últimos 2 (dois) anos.

Parágrafo único. A vedação prevista no inciso II deste artigo não se


aplica nos casos de contravenção penal e crimes de menor potencial ofensivo.

Art. 5º A Corregedoria, de ofício ou mediante provocação do


interessado, antes ou após a instauração da sindicância ou no curso do processo administrativo
disciplinar, poderá celebrar acordo visando a resolução do conflito, mediante a instauração de
procedimento de fiscalização próprio, que tramitará individualmente ou anexo ao feito principal
eventualmente existente.

§ 1º A transação poderá ser celebrada até a emissão do relatório


conclusivo no processo administrativo disciplinar pela Corregedoria Geral, obedecidos os critérios
estabelecidos nesta Resolução.

§ 2º Por meio da transação disciplinar, o membro interessado se


compromete a ajustar sua conduta, a cumprir as obrigações assumidas no instrumento de
transação e a observar os deveres e as proibições previstos nas respectivas legislações vigentes.

§ 3º A autoridade competente para celebrar a transação


disciplinar é o Corregedor-Geral.

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§ 4º Não há direito subjetivo do membro do MPMT a receber


proposta de transação disciplinar.

§ 5º A celebração da transação disciplinar não induz admissão de


culpa por parte do membro interessado.

§ 6º O oferecimento de transação disciplinar rejeitada pelo


membro do MPMT não vincula e não restringe a pena a ser aplicada ao fim do procedimento
administrativo disciplinar;

§ 7º A transação disciplinar não impede a instauração de


sindicância ou procedimento administrativo disciplinar para apuração de fatos não abrangidos
ou não conhecidos no momento da celebração do ajuste.

§ 8º A firmação do termo de transação disciplinar e a fiscalização


das obrigações nele assumidas, por si só, não impedem que o membro beneficiado participe de
concursos de movimentação na carreira.

Art. 6º A transação disciplinar contemplará a aplicação imediata


das seguintes medidas, isolada ou cumulativamente, sem prejuízo de outras que se revelarem
adequadas em razão da natureza e das circunstâncias concretas da infração disciplinar atribuída:
I – prestação de serviço em plantões de finais de semana ou de
feriados, no plenário do Tribunal do Júri ou outras audiências em cooperação, sem qualquer
compensação e sem prejuízo de suas atribuições regulares;
II – frequência a cursos de formação ou de aperfeiçoamento cuja
temática guarde pertinência com a infração disciplinar apurada;
III – correção, em prazo certo e específico, da irregularidade
apontada na investigação disciplinar;
IV – apresentação de relatório periódico das principais atividades
relativas à atribuição do membro à Corregedoria;
V – compromisso de conformação da conduta funcional a eventual
orientação ou recomendação sobre a matéria concretamente relacionada ao fato imputado;

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VI – participação em mediação, quando a infração disciplinar


decorre de conflitos interpessoais;
VII - reparação de dano;
VIII - retratação;
IX - sanção pecuniária, que poderá consistir no pagamento de
multa, não inferior a 5% (cinco por cento) do subsídio do membro e não superior a 02 (dois)
subsídios, e/ou no fornecimento de cestas básicas, a serem revertidas em favor de instituição sem
fins lucrativos a ser indicada pela Corregedoria Geral dentre aquelas cujo projeto esteja
aprovado no Banco de Cadastramento de Projetos, Fundos e Entidades (BAPRE) ou sistema de
controle interno equivalente.

Art. 7º A transação disciplinar, assinada pelo Corregedor-Geral e


pelo membro do MPMT interessado, deverá conter:
I – a qualificação do agente ministerial;
II – os fundamentos de fato e de direito para sua celebração;
III – a descrição pormenorizada das obrigações assumidas;
IV – o prazo e o modo para cumprimento das obrigações;
V – a forma de fiscalização das obrigações assumidas.

Art. 8º Assinada a transação, será ela submetida à homologação


do Conselho Superior do Ministério Público, na forma regimental, cabendo-lhe a análise dos
requisitos de admissibilidade e da proporcionalidade dos termos e obrigações impostas ao
membro do MPMT interessado diante do caso concreto.

§ 1º Rejeitada a homologação, a matéria retornará à


Corregedoria Geral para adoção das providências indicadas pelo colegiado.

§ 2º Considera-se celebrada a transação somente após sua


homologação pelo CSMP.

Art. 9º O prazo de cumprimento da transação disciplinar não


poderá ser superior a 12 (doze) meses.

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§ 1º A transação disciplinar suspenderá o andamento da


sindicância ou processo administrativo disciplinar, sendo vedada a prática de atos de instrução,
salvo a antecipação de provas urgentes, cuja irrepetibilidade possa gerar prejuízo irreparável.

§ 2º A instauração do procedimento administrativo para a


resolução consensual do conflito suspende a prescrição (Lei nº 13.140/2015, art. 34), cuja
contagem será retomada a partir do arquivamento do procedimento de fiscalização específico.

§ 3º Prorroga-se automaticamente o período de prova na hipótese


de o membro iniciar o gozo de licenças, férias ordinárias ou compensatórias.

Art. 10. Para fins de registro em ficha funcional, a Corregedoria


Geral informará o departamento administrativo competente a homologação da transação
disciplinar e o teor da decisão conclusiva proferida pelo Conselho Superior do Ministério Público,
além de outras ocorrências que entender relevantes.

Parágrafo único A transação disciplinar será registrada nos


assentamentos funcionais do membro e, após o decurso de 2 (dois) anos a partir da data
estabelecida para o término de sua vigência, o registro será cancelado.

Art. 11. Cumpridas as condições estabelecidas na transação, o


procedimento de fiscalização será arquivado, sem a necessidade de persecução disciplinar para
a aplicação de pena, considera-se extinta a punibilidade com relação aos fatos objeto do acordo.

Art. 12. Em caso de descumprimento de quaisquer das obrigações


fixadas no termo da transação disciplinar, o Corregedor–Geral notificará o membro para, no
prazo de 05 (cinco) dias úteis, apresentar as suas justificativas.

§ 1º Não acolhidas as explicações e constatado o descumprimento


de qualquer das condições, a Corregedoria adotará, imediatamente, as providências necessárias
à apuração dos fatos e aplicação da pena, instaurando sindicância, propondo a instauração do
processo administrativo disciplinar ou retomando os atos de instrução ali já encetados, sem
prejuízo da apuração relativa à inobservância das obrigações previstas na transação.

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§ 2º Será obrigatoriamente revogado o benefício caso o membro


do MPMT venha a responder, durante a sua vigência de transação disciplinar, a processo
disciplinar que tenha por finalidade a apuração de infração punível com sanção superior à
censura.

Art. 13. Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação.

Cuiabá-MT, 08 de março de 2021.

Assinado de forma digital


JOSE ANTONIO por JOSE ANTONIO BORGES
BORGES PEREIRA:35373652172
PEREIRA:35373652172 Dados: 2021.03.08 17:03:48
-04'00'

JOSÉ ANTÔNIO BORGES PEREIRA


Procurador-Geral de Justiça
Presidente do Conselho Superior do Ministério Público

Assinado de forma digital


ROSANA por ROSANA
MARRA:3618994 MARRA:36189944604
Dados: 2021.03.08 17:09:36
4604 -03'00'
ROSANA MARRA
Procuradora de Justiça
Secretária do Conselho Superior do Ministério Público

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