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ATIVIDADE 1 NPJ – PRÁTICA JURÍDICA TRABALHISTA

SOFIA FERREIRA RABELO DE CARVALHO (DRE 117096885)

Pergunta 1: Que elementos configuram o tipo legal trabalho análogo ao de escravo (art.
149 CP)?

Conforme o art. 149 do Código Penal, existem 4 hipóteses de configuração do trabalho análogo
à escravidão: 1) submeter alguém a trabalhos forçados ou 2) a jornada exaustiva, 3) sujeitar o
trabalhador a condições degradantes de trabalho ou 4) restringir, por qualquer meio, sua
locomoção em razão de dívida contraída com o empregador ou preposto. Ainda, o parágrafo
primeiro do mesmo artigo equipara as mesmas penas a quem 5) cerceia o uso de qualquer meio
de transporte por parte do trabalhador, com o fim de retê-lo no local de trabalho ou 6) mantém
vigilância ostensiva no local de trabalho ou se apodera de documentos ou objetos pessoais do
trabalhador, com o fim de retê-lo no local de trabalho.

Como as os conceitos de “trabalho forçado”, “jornada exaustiva” e “condições degradantes de


trabalho”, “restrição da locomoção”, “vigilância ostensiva” e “apoderamento de documentos e
objetos pessoais” do referido dispositivo permitem ampla interpretação, sendo considerados
normas penais em branco, a Portaria/MPT nº 671 de 8 de novembro 2021, em seu artigo 208,
delimitou suas definições:

I - trabalho forçado - é o exigido sob ameaça de sanção física ou psicológica e


para o qual o trabalhador não tenha se oferecido ou no qual não deseje
permanecer espontaneamente;

II - jornada exaustiva - toda forma de trabalho, de natureza física ou mental,


que, por sua extensão ou intensidade, acarrete violação de direito fundamental
do trabalhador, notadamente os relacionados à segurança, à saúde, ao descanso
e ao convívio familiar e social;

III - condição degradante de trabalho - qualquer forma de negação da dignidade


humana pela violação de direito fundamental do trabalhador, notadamente os
dispostos nas normas de proteção do trabalho e de segurança, higiene e saúde
no trabalho;

IV - restrição, por qualquer meio, da locomoção do trabalhador em razão de


dívida - limitação ao direito fundamental de ir e vir ou de encerrar a prestação
do trabalho, em razão de débito imputado pelo empregador ou preposto ou da
indução ao endividamento com terceiros;

V - cerceamento do uso de qualquer meio de transporte - toda forma de


limitação ao uso de meio de transporte existente, particular ou público, possível
de ser utilizado pelo trabalhador para deixar local de trabalho ou de alojamento;

VI - vigilância ostensiva no local de trabalho é qualquer forma de controle ou


fiscalização, direta ou indireta, por parte do empregador ou preposto, sobre a
pessoa do trabalhador que o impeça de deixar local de trabalho ou alojamento;
e

VII - apoderamento de documentos ou objetos pessoais é qualquer forma de


posse ilícita do empregador ou preposto sobre documentos ou objetos pessoais
do trabalhador.

Assim, a ocorrência de qualquer uma dessas condutas configura o tipo legal trabalho análogo
ao de escravo

Pergunta 2: A justiça do trabalho tem competência criminal?

Não, conforme firmado pelo Supremo Tribunal Federal na ADI 3.684, a Justiça do Trabalho
não tem competência para processar e julgar ações penais. Segundo o voto do relator,
acompanhado pela maioria, a Constituição não outorga à Justiça do Trabalho a jurisdição sobre
matéria penal, apenas para o processo e julgamento de ações oriundas da relação de trabalho.
Acrescenta ainda que, “quando os enunciados da legislação constitucional e subalterna aludem,
na distribuição de competências, a ações, sem o qualificativo de penais ou criminais, a
interpretação sempre excluiu de seu alcance teórico as ações que tenham caráter penal ou
criminal.”

Pergunta 3 - Como atua o MPT?

Conforme a Constituição estabelece, “Art. 127. O Ministério Público é instituição permanente,


essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do
regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis.”

O Ministério Público do Trabalho (MPT) é o ramo do Ministério Público da União que fiscaliza
o cumprimento da legislação trabalhista, mediando as relações entre empregados e
empregadores nos âmbitos judicial e extrajudicial. Sua competência e atribuições são reguladas
pela Lei Complementar nº 75/93, nos artigos 83 e 84, o que inclui manifestar-se em qualquer
fase do processo trabalhista, promover a ação civil pública no âmbito da Justiça do Trabalho,
para defesa de interesses coletivos, quando desrespeitados os direitos sociais
constitucionalmente garantidos, incluindo a defesa dos direitos e interesses dos menores,
incapazes e índios, decorrentes de relações de trabalho; atuar como árbitro, se assim for
solicitado pelas partes, nos dissídios de competência da Justiça do Trabalho; promover ou
participar da instrução e conciliação em dissídios decorrentes da paralisação de serviços de
qualquer natureza, oficiando obrigatoriamente nos processos, manifestando sua concordância
ou discordância, em eventuais acordos firmados antes da homologação e resguardado o direito
de recorrer em caso de violação à lei e à Constituição Federal, entre outros.

No âmbito extrajudicial, o MPT pode, ainda, propor às partes envolvidas nos conflitos a
assinatura de Termos de Ajuste de Conduta, estabelecendo obrigações e a aplicação de multas
em caso de descumprimento e produzir notificações recomendatórias, que podem se dirigir
tanto a entes públicos quanto a empresas particulares ou segmentos de atividades econômicas,
de forma a alertar e orientar preventivamente para o não cometimento de irregularidades
passíveis de ações judiciais.

Pergunta 4 - No caso do trabalho em âmbito doméstico, qual a previsão da LC 150/15 a


respeito da fiscalização?

A LC 150/15 estabelece a verificação, pelo Auditor-Fiscal do Trabalho, do


cumprimento das normas que regem o trabalho do empregado doméstico, no âmbito
do domicílio do empregador, sempre com agendamento e entendimentos prévios
entre o empregador e a fiscalização, que deverá ter natureza prioritariamente
orientadora. O conflito entre o direito fundamental da inviolabilidade do domicílio e a
proteção aos trabalhadores compromete a eficácia desta fiscalização para muitos
casos, já que a necessidade de autorização do empregador, agendamento prévio,
dupla visita acompanhada do empregador ou membro de sua família podem constituir
verdadeiros empecilhos para a verificação, pelo Auditor-Fiscal do Trabalho, da
verdadeira realidade vivida pelo empregado doméstico naquele domicílio. Estabelece
a Lei:
“Art. 44. A Lei no 10.593, de 6 de dezembro de 2002, passa a vigorar
acrescida do seguinte art. 11-A:

“Art. 11-A. A verificação, pelo Auditor-Fiscal do Trabalho, do cumprimento


das normas que regem o trabalho do empregado doméstico, no âmbito do
domicílio do empregador, dependerá de agendamento e de entendimento
prévios entre a fiscalização e o empregador.

§ 1º A fiscalização deverá ter natureza prioritariamente orientadora.

§ 2º Será observado o critério de dupla visita para lavratura de auto de


infração, salvo quando for constatada infração por falta de anotação na
Carteira de Trabalho e Previdência Social ou, ainda, na ocorrência de
reincidência, fraude, resistência ou embaraço à fiscalização.

§ 3º Durante a inspeção do trabalho referida no caput, o Auditor-Fiscal do


Trabalho far-se-á acompanhar pelo empregador ou por alguém de sua
família por este designado.””

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