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CENTRO UNIVERSITÁRIO MAX PLANCK - UNIMAX

MYRELLA DIAS PEREIRA

Estabilidade Cipeiro

Indaiatuba, São Paulo.


2022
Manoel Carlos trabalhava na empresa WYZ Produções Ltda e se candidatou a CIPA no
dia 08.03.2022. A eleição ocorreria em 22.03.2022, porém, em 17.03.2022 foi
dispensado pelo empregador, sem justa causa.

Considerando tal situação, produza trabalho com pesquisas de doutrina e


jurisprudência, que tratem o seguinte:

A estrutura do cargos da CIPA (Comissão Interna de Prevenção de Acidente-CIPA) é


composta pelos seguintes cargos: Presidente (indicado pelo empregador), Vice
Presidente (nomeado pelos representantes dos empregados, entre os seus titulares),
Secretário e suplente (escolhidos de comum acordo pelos representantes do empregador
e dos empregados)

Essa modalidade de comissão é regulamentada pela CLT nos art. 162 e 165 e pela
Norma Regulamentadora 5 (NR-5), contida na portaria 3.214 de 08.06.78 baixada pelo
Ministério do Trabalho.

"Art. 163 - Será obrigatória a constituição de Comissão


Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA), de
conformidade com instruções expedidas pelo Ministério
do Trabalho, nos estabelecimentos ou locais de obra nelas
especificadas

Parágrafo único - O Ministério do Trabalho


regulamentará as atribuições, a composição e o
funcionamento das CIPA(s)."

Os titulares de representação da CIPA, que forem eleitos pelos empregados,


titulares e suplentes, para compor a Comissão Interna de Prevenção de Acidentes –
CIPA, não podem receber despedida arbitrária, desde que não seja por um motivo
grave e explicitamente justificável, essa disposição se consolida a luz do art. 165, da
CLT.
Entretanto, os membros da CIPA só terão estabilidade pelo período de 1 (um) ano
após o fim do seu mandato, nos termos do art. 10, II, alínea “a” do ADCT da
CF/1988, art. 165 da CLT e Súmula 339 do TST.

Contudo, essa estabilidade provisória do cipeiro se trata de uma garantia para as


atividades dos membros da CIPA, ocorrendo sua extinção nas seguintes hipóteses:

I - Rescisão do contrato de trabalho por justa causa nos termos do art. 165 da CLT:

"Art. 165 - Os titulares da representação dos empregados


nas CIPA(s) não poderão sofrer expedida arbitrária,
entendendo-se como tal a que não se fundar em motivo
disciplinar, técnico, econômico ou financeiro.

Parágrafo único - Ocorrendo a despedida, caberá ao


empregador, em caso de reclamação à Justiça do
Trabalho, comprovar a existência de qualquer dos motivos
mencionados neste artigo, sob pena de ser condenado a
reintegrar o empregado."

E art. 482 da CLT:

"Art. 482 - Constituem justa causa para rescisão do


contrato de trabalho pelo empregador:

a) ato de improbidade;

b) incontinência de conduta ou mau procedimento;

c) negociação habitual por conta própria ou alheia sem


permissão do empregador, e quando constituir ato de
concorrência à empresa para a qual trabalha o
empregado, ou for prejudicial ao serviço;

d) condenação criminal do empregado, passada em


julgado, caso não tenha havido suspensão da execução da
pena;

e) desídia no desempenho das respectivas funções;


f) embriaguez habitual ou em serviço;

g) violação de segredo da empresa;

h) ato de indisciplina ou de insubordinação;

i) abandono de emprego;

j) ato lesivo da honra ou da boa fama praticado no


serviço contra qualquer pessoa, ou ofensas físicas, nas
mesmas condições, salvo em caso de legítima defesa,
própria ou de outrem;

k) ato lesivo da honra ou da boa fama ou ofensas físicas


praticadas contra o empregador e superiores
hierárquicos, salvo em caso de legítima defesa, própria ou
de outrem;

l) prática constante de jogos de azar.

m) perda da habilitação ou dos requisitos estabelecidos


em lei para o exercício da profissão, em decorrência de
conduta dolosa do empregado. (Incluído pela Lei nº
13.467, de 2017)

Parágrafo único - Constitui igualmente justa causa para


dispensa de empregado a prática, devidamente
comprovada em inquérito administrativo, de atos
atentatórios à segurança nacional. (Incluído pelo
Decreto-lei nº 3, de 27.1.1966)"

II - Extinção do estabelecimento para o qual a CIPA fora constituída nos termos do


inciso II da Súmula 339 do Tribunal Superior do Trabalho;

"SUMULA Nº 339 - CIPA. SUPLENTE. GARANTIA


DE EMPREGO. CF/1988

II - A estabilidade provisória do cipeiro não constitui


vantagem pessoal, mas garantia para as atividades dos
membros da CIPA, que somente tem razão de ser quando
em atividade a empresa. Extinto o estabelecimento, não se
verifica a despedida arbitrária, sendo impossível a
reintegração e indevida a indenização do período
estabilitário."

III - A renúncia expressa ao cargo de membro da CIPA;

IV - Ausência injustificada do membro titular a mais de 4 (quatro) reuniões ordinárias


da CIPA, a qual tem previsão expressa na Norma Regulamentadora nº 5 – NR 5 em seu
Item 5.30 que assim dispõe:

"5.30 O membro titular perderá o mandato, sendo


substituído por suplente, quando faltar a mais de quatro
reuniões ordinárias sem justificativa."

Diante desta demonstração é possível constatar que Manoel Carlos, trabalhador


dispensado pela empresa WYZ Produções Ltda 5 dias antes da eleição da CIPA teria
direito, caso fosse eleito como membro da CIPA, a permanecer na empresa durante 1
ano, ou seja, durante seu exercício do cargo.

Entretanto, o empregado não pode ter a possibilidade de estabilidade porque foi


dispensado antes da eleição, neste caso concreto a jurisprudência dispõe de duas
formas distintas de entendimento e são elas:

- O entendimento que sim, Manoel deveria receber a estabilidade provisória desde o


momento da efetiva inscrição para a eleição da CIPA.

ESTABILIDADE PROVISÓRIA. EMPREGADO MEMBRO DA CIPA.


ANULAÇÃO DA ELEIÇÃO. CONSEQUÊNCIAS. A estabilidade provisória
prevista no art. 10, II, a, do ADCT é assegurada ao trabalhador desde o momento da
sua inscrição para concorrer ao cargo da CIPA. A anulação da eleição por ato
unilateral da empresa não implica, necessariamente, a anulação das inscrições
anteriores, devendo, por isso, ser respeitada a garanti do emprego do trabalhador
eleito, sob pena de se obstar o direito do empregado de concorrer ao novo processo
eleitoral. Recurso conhecido e parcialmente provido.

(8ª Vara do Trabalho de Brasília/DR - 3ª Turma - Processo nº 01037-2011-008-10-00-


2RO - Relator: Desembargador Grijalbo Fernandes Coutinho - Publicação: 27/04/2012)
- O entendimento de que, o ato da empresa está correto, pois Manoel somente teria
direito a estabilidade após sua eleição, pois não há provas de que ele realmente
poderia ser eleito.

ESTABILIDADE DA CIPA. ELEIÇÃO. INSCRIÇÃO. NÃO COMPROVAÇÃO.


Não logrando a reclamante comprovar a existência e regularidade de sua inscrição para
membro da CIPA, impõe-se a manutenção da sentença que não reconheceu a
estabilidade provisória da empregada.

(TRT-10 - RO: XXXXX DF, Data de Julgamento: 24/08/2016, Data de Publicação:


31/08/2016).

Neste caso, é possível verificar até mesmo demissão quando o funcionário está em
função do cargo mas não existe provas concretas de sua ligação com a CIPA:

RECURSO ORDINÁRIO DO RECLAMANTE. ESTABILIDADE CIPA.


FALTA DE PROVA DA CONDIÇÃO DE MEMBRO DA CIPA. Considerando
que a litisconsorte apresentou contestação impugnando o pedido de indenização da
estabilidade CIPA, deixam de incidir os efeitos da revelia aplicada à reclamada (art.
345, I, do CPC). Assim, cabia ao recorrente produzir provas de que era efet ivamente
membro da CIPA, o que não ocorreu. no caso, entendo que apenas as atas de eleição
e posse poderiam comprovar a condição do recorrente como membro da CIPA, pois
somente por meio destes documentos, que definem o tempo de mandato, seria
possível especificar o período da estabilidade. O Certificado de Treinamento de
Prevenção de Acidentes, Recibo de inscrição na eleição e o calendário de reuniões da
CIPA (ID-f78e1fe, págs. 1, 3 e 4) não se prestam para essa finalidade, sendo que este
último sequer faz referência ao recorrente. Diante do exposto, mantenho a
improcedência do pedido de indenização da estabilidade CIPA. DANO MORAL.
INDENIZAÇÃO INDEVIDA. O recorrente não demonstrou qualquer prejuízo de
ordem moral. Embora cause dissabores, o descumprimento de parte das obrigações
trabalhistas não configura, por si, ofensa à esfera íntima do empregado. Razão pela
qual, mantenho a improcedência do pedido de danos morais. RECURSO
ORDINÁRIO DA LITISCONSORTE. RESPONSABILIDADE SUBSIDIÁRIA.
TOMADOR DE SERVIÇOS. ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. A decisão do STF no
julgamento da Ação Declaratória de Constitucionalidade nº 16/DF, reconhecendo a
constitucionalidade do art. 71, § 1º, da Lei nº 8.666/93, não afastou a aplicação do
entendimento consubstanciado na Súmula 331, IV, do TST, apenas exigiu a
verificação da culpa in vigilandodo ente público como pressuposto para definição da
responsabilidade subsidiária, não podendo esta decorrer da simples inadimplência do
prestador de serviços. Cabia ao reclamante provar a ausência de fiscalização do ente
público, ônus do qual se desincumbiu nos termos do art. XXXXX da CLT,
configurando assim, a responsabilidade subsidiária. MULTA DO ART. XXXXX DA
CLT. Exclui-se da condenação a multa do art. XXXXX da CLT, porque a
litisconsorte apresentou contestação impugnando os pedidos, suscitando assim
controvérsia. Recurso ordinário do reclamante conhecido e não provido. Recurso
ordinário da litisconsorte conhecido e parcialmente provido para excluir da
condenação a multa do art. XXXXX da CLT.

(TRT-11 - RO: 00007626020155110001, Relator: VALDENYRA FARIAS THOME,


Data de Julgamento: 23/04/2019, 1ª Turma, Data de Publicação: 25/04/2019).

É possível verificar que não há provas no caso de Manoel seria efetivamente eleito na
CIPA e levando em consideração o caso exposto na jurisprudência anterior, em que o
empregado foi demitido sem provas de participação é possível constatar que a
Jurisprudência (que segue esta teoria) se manteria em desfavor de Manoel, porque o
mesmo não pode apresentar provas também, mas neste caso, provas concretas de que
seria eleito.

Em concordância com esta vertente o doutrinador Arnaldo Süssekind dispõe que


a proteção ao emprego de que cogita a lei fundamental não configura nem a estabilidade
absoluta, nem a relativa, porquanto não garante o emprego; corresponde apenas a
normas que objetivam dificultar e compensar economicamente a despedida arbitrária, na
qual se insere a praticada sem justa causa:

a) indenização compensatória (artigo 7º,I);


b) seguro-desemprego (artigos 7º, II, e 239, § 4º);
c) levantamento dos depósitos do FGTS (artigo 7º, III);
d) aviso prévio proporcional ao tempo de serviço (artigo 7º, XXI).
A doutrina e a Jurisprudência se encontram em um único pensamento a respeito: o
empregador possui direito de demitir o empregado quando não possui nenhuma objeção
legal própria que o impeça.

Contudo, há diversas vertentes e Manoel poderia sim, em determinado caso, ser


agraciado com Danos Morais e Materiais e/ou ter a possibilidade de retornar ao
emprego e participar da eleição, nesta mesma linha de pensamento, há Juristas que
discorrem o tema da "perda de uma chance", pois, com a demissão de Manoel o
funcionário não perdeu apenas seu emprego mas sim uma chance de estabilidade por
um ano na empresa porque do mesmo modo que ele não pode alegar furtivamente que
iria ganhar, também não pode alegar sua perda.

Portanto, com a decisão contraria a sua participação Manoel perderia seu direito de
participar de uma eleição ao qual foi dada a ele a liberdade de inscrição e candidatura.
Há Jurisprudências que se apresentam em conformidade a esta causa da perda de uma
chance, como disposto:

AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA DO


RECLAMANTE. APELO INTERPOSTO SOB A ÉGIDE DA LEI N.º 13.015/2014.
INDENIZAÇÃO PELA PERDA DE UMA CHANCE. REDUÇÃO DO VALOR.
CRITÉRIO. BANCO DE HORAS. PREVISÃO EM NORMA COLETIVA.
ACÚMULO DE FUNÇÕES. A admissibilidade do Recurso de Revista depende do
preenchimento dos requisitos previstos no art. 896, a e c, da CLT, o que não se verificou
no caso concreto. Agravo de Instrumento conhecido e não provido. RECURSO DE
REVISTA DA RECLAMADA. APELO INTERPOSTO SOB A ÉGIDE DA LEI
N.º 13.015/2014. INDENIZAÇÃO PELA PERDA DE UMA CHANCE. DISPENSA
OBSTATIVA AO DIREITO DE CONCORRER À ELEIÇÃO DA CIPA. O
Regional deferiu a indenização pela perda de uma chance em razão do reconhecimento
da dispensa obstativa efetuada pela Reclamada com a finalidade de impedir o
Reclamante de participar da eleição da CIPA, visto que já havia indicação do sindicato
para a sua candidatura e apoio dos demais empregados da Reclamada. Verifica-se,
portanto, que a decisão se restringe à análise dos aspectos fáticos probatórios contidos
nos autos, e entendimento contrário, necessariamente, demandaria o reexame dos fatos,
o que não seria possível ante os termos da Súmula n.º 126 desta Corte. Conclui-se,
portanto, que o Regional não deferiu a indenização pela estabilidade do cipeiro, mas
apenas pelo reconhecimento da dispensa obstativa à sua candidatura. Nesse sentido, não
se verifica contrariedade aos termos da Súmula n.º 339, II, do TST, uma vez que não
houve reconhecimento do direito à estabilidade. O aresto transcrito, conquanto trate de
indenização pela perda de uma chance de empregado dispensado antes da sua inscrição
no processo eletivo para a CIPA, é inespecífico, nos termos da Súmula n.º 296, I, do
TST. O Tribunal Regional da 2.ª Região adotou a tese de que não existe regra que
garanta a estabilidade do cipeiro antes da inscrição para eleição, enquanto a Corte a quo
deferiu a indenização em razão do reconhecimento da dispensa obstativa, uma vez que
já havia indicação do Reclamante pelo sindicato para concorrer à CIPA e apoio dos
demais empregados da Reclamada, e não em razão do reconhecimento de que ele tinha
direito à estabilidade. Recurso de Revista não conhecido.

(TST - ARR: 7085920125150043, Relator: Maria de Assis Calsing, Data de


Julgamento: 03/08/2016, 4ª Turma, Data de Publicação: DEJT 05/08/2016).

Por este fato, é constatado que Manoel pode sim exercer seu direito de participar da
eleição da CIPA e não perder a chance de ganhar estabilidade por um ano, mantendo
perfeitamente sua subsistência.

É também necessário pontuar, para se obter consciência sobre todo o caso, que Manoel
foi demitido apenas 5 dias antes da sua eleição, ou seja, o mesmo exerceu sua
candidatura, já possuía, em decorrência do tempo, possíveis eleitores, todo este tempo e
trabalho foi perdido causando grave frustração ao mesmo, sendo sim passível de
indenização e retratação de causa.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

PORTO, Leiliane da Silva Porto. Proteção de Emprego. Rio de Janeiro, 2013.


Disponível em:
http://www.avm.edu.br/docpdf/monografias_publicadas/K225293.pdf. Acessado em:
29/05/2022, ás 20:00 horas.

ROCHA, Pedersoli. A Estabilidade do membro titular da CIPA e as possibilidades de


sua extinção. Disponível em:
https://www.advpraa.com.br/index.php/noticias/item/132-a-estabilidade-do-membro-
titular-da-cipa-e-as-possibilidades-de-sua-
extincao#:~:text=Os%20membros%20eleitos%20pelos%20empregados,da%20CF%2
F1988%2C%20art.. Acessado em: 29/05/2022, ás 19:00 horas.

https://www.coad.com.br/busca/detalhe_16/1009/Sumulas_e_enunciados

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