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INQUÉRITO JUDICIAL PARA APURAÇÃO DE FALTA GRAVE

É certo que no contrato de trabalho o empregado é a parte mais fraca da relação


empregatícia, assim, o direito trabalhista traz consigo meios para a proteção do mesmo
contra o poder econômico das empresas, em razão desta desigualdade necessária se faz
a proteção da classe trabalhadora.

Desta feita, Existem diversos tipos de proteção e garantias em benefício do empregado,


dentre elas, temos as estabilidades.

O artigo 482 da CLT, que trata das hipóteses para a configuração da chamada “justa
causa” e traz um conceito de estabilidade.

Portanto, havendo estabilidade, o empregado não fica à mercê do empregador, podendo


ser demitido somente se cometer falta grave, que se enquadre como justa causa.

Assim, a CLT previu um procedimento judicial especial para apurar se houve ou não o
cometimento de falta grave apta a ensejar a dispensa do empregado que goze de
estabilidade provisória.

É o denominado inquérito para apuração de falta grave, previsto nos artigos 853 a 855 da
CLT. Vejamos:

Art. 853 – Para a instauração do inquérito para apuração de falta


grave contra empregado garantido com estabilidade, o empregador
apresentará reclamação por escrito à Junta ou Juízo de Direito,
dentro de 30 (trinta) dias, contados da data da suspensão do
empregado.

Art. 854 – O processo do inquérito perante a Junta ou Juízo


obedecerá às normas estabelecidas no presente Capítulo,
observadas as disposições desta Seção.

Art. 855 – Se tiver havido prévio reconhecimento da estabilidade do


empregado, o julgamento do inquérito pela Junta ou Juízo não
prejudicará a execução para pagamento dos salários devidos ao
empregado, até a data da instauração do mesmo inquérito.
Assim, no procedimento especial do inquérito para apuração de falta grave, a legislação
admite a oitiva de até 06 (seis) testemunhas por parte (art. 821 da CLT). Isto é, seis pelo
reclamante e seis pelo reclamado.

VEJAMOS O SEGUINTE ESTUDO DE CASO:

Maria Gabriela foi contratada pela empresa Segurança Nacional LTDA, para exercer a
função de recepcionista, e logo após eleita dirigente sindical, foi dispensada, pela suposta
pratica de falta grave, por ser desidiosa e insubordinada, faltava de forma constante ao
trabalho, descumpria com suas funções e, ainda, se portava de forma não condizente
com o ambiente de trabalho.

Por conta de sua conduta, a Sra. Maria Gabriela recebeu uma advertência por haver
descumprido as normas estabelecidas no contrato de trabalho quanto a utilização correta
do uniforme de trabalho. Fato este que se repetia, haja vista que a obreira costumava
utilizar o uniforme de forma indevida.

E como se não bastasse a insistência do descumprimento, a funcionária postou uma foto


em rede social, com uma faixa vermelha na cabeça (semelhante às faixas utilizadas por
lutadores em filme de guerra) com uma descrição vexatória, conduta que, afetou de forma
lesiva a honra e boa fama da empresa e ensejou a demissão por justa causa da
funcionária, com fulcro no art. 482, b e k da CLT.

Porém, não houve a suspensão da funcionária e nem inquérito judicial para apuração de
falta grave, por ser portadora de estabilidade provisória por ser dirigente sindical com
mandato vigente (súmula 197 do STF e 379 do TST). Não lhe foi garantido o direito à
ampla defesa e contraditório, conforme dispõe a legislação pátria.

Vejamos o entendimento jurisprudencial do Tribunal Regional do Trabalho da 5° Região:

EMENTA: INQUÉRITO JUDICIAL PARA APURAÇÃO DE FALTA


GRAVE. EMPREGADO DIRIGENTE SINDICAL. GARANTIA DE
EMPREGO. JUSTA CAUSA. ÔNUS DA PROVA. ARTIGOS 818, CLT.
A comprovação da justa causa para a resolução contratual por ato
faltoso atribuído ao empregado detentor de estabilidade sindical é, a
teor do art. 818 da CLT, ônus do empregador, incumbindo-lhe provar,
de maneira satisfatória, através do ajuizamento do inquérito judicial,
os fatos caracterizadores da prática de falta grave apta a ensejar a
despedida de empregado detentor de garantia de emprego. Não se
desincumbindo a contento, o empregador daquele encargo
processual, a continuidade do vínculo de emprego é medida que se
impõe.
Processo 0000156-63.2016.5.05.0195, Origem PJE, Relator(a)
Desembargador(a) MARIZETE MENEZES CORREA, Terceira
Turma, DJ 06/07/2017

Assim, a legislação é clara ao estabelecer que para dispensar o empregado estável por
justa causa, é imprescindível o inquérito judicial para apuração de falta grave, assim a
jurisprudência em tela entendeu por reintegrar o funcionário e dar continuidade no
contrato de trabalho.

REFERÊNCIAS

Disponível em: https://revisaopge.com.br/procedimentos-no-processo-do-trabalho-


testemunhas/#:~:text=J%C3%A1%20no%20procedimento%20especial%20do,reclamante
%20e%20seis%20pelo%20reclamado, acesso em 18 de maio de 2023.

Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm, acesso


em 18 de maio de 2023.

Disponível em: https://www.trt5.jus.br/consulta-processo, acesso em 18 de maio de 2023.

Disponível em: http://www.econeteditora.com.br/boletim_trabalhista_previdenciario/trab-


15/Boletim-23/dir_trab_inquerito_judicial.php, acesso em 18 de maio de 2023.

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