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Contrato de

Arts. 710 a 721, CC

O Código Civil de 2002 trouxe como nova figura contratual o contrato de agência e distribuição.
Trata-se, a rigor, de contrato de representação comercial regulado pela Lei 4.886/1965, cuja nova
definição, com melhor enquadramento jurídico, é agora oferecida pelo Código Civil.

Pelo contrato de agência, uma pessoa assume, em caráter não eventual e sem vínculos de
dependência, a obrigação de promover, à conta de outrem e mediante retribuição, a realização de
certos negócios, em zona determinada, caracterizando-se a distribuição quando o agente tiver à
sua disposição a coisa a ser negociada.

Interpretando o que consta da lei, ensina José Maria Trepat Cases: “Contrato de agência é contrato
pelo qual uma pessoa obriga-se, mediante retribuição, sem relação de emprego, a praticar negócios
jurídicos, à conta e ordem de outra pessoa, em caráter não eventual”. Ensina ainda que “a
distribuição é modalidade contratual recente, de concepção estrutural da economia moderna. A
distribuição é a contratação voltada para otimizar a produção e circulação de bens, aproximando o
produtor do consumidor, por intermédio do distribuidor. A distribuição engloba de forma orgânica e
coordenada a figura do colaborador-intermediário (distribuidor) e o produtor, numa integração
vertical”.

Artigo 710 do Código Civil:

Art. 710, CC. Pelo contrato de agência, uma pessoa assume, em caráter não eventual e
sem vínculos de dependência, a obrigação de promover, à conta de outra, mediante
retribuição, a realização de certos negócios, em zona determinada, caracterizando-se
a distribuição quando o agente tiver à sua disposição a coisa a ser negociada.
Parágrafo único. O proponente pode conferir poderes ao agente para que este o
represente na conclusão dos contratos.

 Partes: são partes no contrato de agência o agente (representante) e o proponente


(representado). O agente deve ser registrado no Conselho Regional dos Representantes
Comerciais (art. 6, Lei 4.886/65) e não podem ser agentes os que não podem ser comerciantes;
o falido não reabilitado; o condenado por crime contra o patrimônio e por crimes punidos com a
perda de cargo público; o que tenha sido o registro comercial cancelado como penalidade.
 Características: o contrato de agência é típico, bilateral, oneroso, consensual e de execução
continuada.
 Forma: não se exige forma escrita, contudo, se for escrito, deve conter obrigatoriamente as
cláusulas enumeradas no art. 27, entre as quais: descrição das mercadorias; o prazo
(determinado ou indeterminado); região onde será exercida a representação; existência, ou não,
de exclusividade; indenização devida ao representante em caso de rescisão.
 Descaracterização do contrato de agência: o contrato de agência pode configurar contrato de
trabalho se: o agente não for registrado; o proponente supervisiona diretamente o trabalho do
agente, exige exclusividade, reuniões e visitas obrigatórias a clientes previamente relacionados;
a prestação de serviços for pessoal, permanente, subordinada e remunerada, não obstante a
existência de contrato formal de prestação de serviço autônomo.

Artigo 711 do Código Civil:
Art. 711, CC. Salvo ajuste, o proponente não pode constituir, ao mesmo tempo, mais de
um agente, na mesma zona, com idêntica incumbência; nem pode o agente assumir o
encargo de nela tratar de negócios do mesmo gênero, à conta de outros proponentes.

A representação comercial dá-se em zona territorial definida pelas partes, que pode ser uma rua, um bairro, uma
cidade, uma região, um Estado, todo o País, ou qualquer outra delimitação espacial.

O dispositivo determina que a exclusividade do agente e do proponente é presumida, isto é, se o contrato for omisso, o
representado não pode ter mais de um representante na mesma região e o representante não pode exercer sua
atividade para mais de uma empresa do mesmo ramo de negócio. Salvo ajuste em contrário, o representante tem direito
à comissão mesmo que não tenha participado da realização do negócio.

Artigo 712 do Código Civil:


Art. 712, CC. O agente, no desempenho que lhe foi cometido, deve agir com toda
diligência, atendo-se às instruções recebidas do proponente.

O agente tem o dever de agir com diligência ordinária, respondendo civilmente pelos danos que
causar culposamente ao proponente. Deve atuar segundo as regras do contrato e segundo as
instruções que o proponente estabelecer, dentro do escopo do contrato.

Conjugando-se o Código Civil e a Lei 4.886/95, são obrigações do agente: angariar negócios em
favor do representado; seguir as instruções do representado; informar ao representado o
andamento dos negócios; manter sigilo sobre as atividades da representação; prestar contas ao
representado.

Artigo 713 do Código Civil:


Art. 713, CC. Salvo estipulação diversa, todas as despesas com a agência ou distribuição
correm a cargo do agente ou distribuidor.

O representado tem a obrigação legal de custear ou de reembolsar todas as despesas que realizar o representante para
a execução do contrato, mas a lei permite que o contrato modifique esta regra.

Artigo 714 do Código Civil:


Art. 714, CC. Salvo ajuste, o agente ou distribuidor terá direito à remuneração
correspondente aos negócios concluídos dentro de sua zona, ainda que sem a sua
interferência.

O dispositivo cuida de contratos em que o agente tenha exclusividade, o que pode ocorrer em virtude de cláusula
expressa ou pelo silencia do contrato, nos termos do artigo 713. Se a exclusividade for desrespeitada pelo representado
e a outra pessoa vier a realizar negócios, o agente faz jus a receber do representado o valor correspondente ao que
receberia a título de comissões se ele próprio tivesse intermediado o negócio.
Artigo 715 do Código Civil:
Art. 715, CC. O agente ou distribuidor tem direito à indenização se o proponente, sem
justa causa, cessar o atendimento das propostas ou reduzi-lo tanto que se torna
antieconômica a continuação do contrato.

O contrato pode estabelecer limites mínimos de negócios a serem obtidos pelo representante, bem
como volume mínimo de mercadorias que o representado porá à disposição do agente. Se nada
contiver quanto a este último aspecto, o representado estará obrigado a disponibilizar ao agente o
mínimo de mercadorias que assegure lucro para o agente. Se não o fizer, poderá o agente resolver
o contrato e requerer indenização pelos prejuízos a que o representado der causa.

Artigo 716 do Código Civil:

Art. 716, CC. A remuneração será devida ao agente também quando o negócio deixar
de ser realizado por fato imputável ao proponente.

A parte que torna impossível o cumprimento do contrato comete inadimplemento antecipado e viola o princípio da boa-
fé objetiva. O descumprimento permite à parte prejudicada cobrar os prejuízos que lhe forem causados, inclusive o lucro
cessante, isto é, o que deixou razoavelmente de lucrar. Se a infração é grave ao ponto de levar a parte prejudicada a
perder o interesse no negócio, fica autorizada a requerer a resolução do contrato. O dispositivo concretiza essas noções
a respeito de inadimplemento antecipado do preponente.

Artigo 717 do Código Civil:

Art. 717, CC. Ainda que dispensado por justa causa, terá o agente direito a ser
remunerado pelos serviços úteis prestados ao proponente, sem embargo de haver este
perdas e danos pelos prejuízos sofridos.

Artigo 718 do Código Civil:


Art. 718, CC. Se a dispensa se der sem culpa do agente, terá ele direito à remuneração
até então devida, inclusive sobre os negócios pendentes, além das indenizações
previstas em lei especial.

O contrato por prazo indeterminado pode ser resilido a qualquer tempo por qualquer das partes, mediante denúncia à
contraparte com antecedência de 90 dias, conforme o artigo 720 do Código Civil. A resilição não desobriga ao
pagamento dos créditos já constituídos. O dispositivo determina que seja paga, igualmente, a remuneração relativa aos
negócios pendentes, sem excluir indenizações, em homenagem ao princípio da não-surpresa e da confiança, que
decorrem da boa-fé objetiva.

No mesmo sentido, preconiza o §5 do artigo 35 da Lei 4.886/65 que a rescisão injusta do contrato pelo proponente (a
que não se fundamentar em nenhum dos motivos previstos no artigo) torna exigível, antecipadamente, na data da
rescisão, a comissão por pedidos em carteira ou em fase de cobrança.

Artigo 719 do Código Civil:

Art. 719, CC. Se o agente não puder continuar o trabalho por motivo de força maior, terá
direito à remuneração correspondente aos serviços realizados, cabendo esse direito aos
herdeiros no caso de morte.

A remuneração pelos serviços concluídos é sempre devida ao agente e constituem direito adquirido, razão pela qual, em
caso de falecimento do agente, os referidos créditos incluem-se na sua herança.

Artigo 720 do Código Civil:


Art. 720, CC. Se o contrato for por tempo indeterminado, qualquer das partes poderá
resolvê-lo, mediante aviso prévio de noventa dias, desde que transcorrido prazo
compatível com a natureza e o vulto do investimento exigido do agente.
Parágrafo único. No caso de divergência entre as partes, o juiz decidirá da razoabilidade
do prazo e do valor devido.

Como ocorre ordinariamente nos contratos por prazo indeterminado, no contrato de agência e distribuição cada parte
tem o direito potestativo de resilir o vínculo mediante denúncia. Para o contrato de agência, o dispositivo estabelece que
a resilição seja precedida de aviso com 90 dias de antecedência.

O dispositivo repete o disposto no artigo 473 para exigir que seja respeitado prazo compatível com a natureza e o vulto
do investimento do agente, isto é, considerados tais valores, é de se assegurar ao agente prazo suficiente para que ele
tenha o retorno do investimento, o que inclui o lucro. O prazo pode ser arbitrado judicialmente.

Artigo 721 do Código Civil:


Art. 721, CC. Aplicam-se ao contrato de agência e distribuição, no que couber, as regras
concernentes ao mandato e à comissão e as constantes de lei especial.

Assim como o mandatário em relação ao mandante, tem o agente o dever de prestar contas ao proponente. Do mesmo
modo que no mandato, não pode delegar suas funções a terceiros, a menos que haja autorização do proponente.

A lei especial a que se refere o dispositivo é a Lei n. 4.886/65 com as alterações da Lei n. 8.420/92.

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