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CONTRATOS DE DISTRIBUIÇÃO
A comercialização dos bens e a sua distribuição, na sociedade, pode ser feita de forma direta e
indireta:
→ Distribuição direta: o bem passa diretamente do produtor ao consumidor, ainda que através
de representantes, de comissários ou de mediadores;
→ Distribuição indireta: o bem atravessa ainda várias fases, passando do produtor ao grossita,
do grossista ao retalhista e do retalhista ao consumidor final.
Contratos de agência
“É o contrato pelo qual uma das partes se obriga a promover por conta da outra a celebração
de contratos, de modo autónomo e estável e mediante retribuição, podendo ser-lhe atribuída
certa zona ou determinado círculo de clientes” – art. 1º/1, LCA
O contrato de agência, hoje dotado de regime legal expresso nos diversos Direitos da UE, não é
apenas um contrato de distribuição entre tantos outros; ele funciona como uma matriz de
distribuição, isto é, como uma figura exemplar. Muitas das regras próprias do contrato de
agência operam como princípios gerais que enformam todos os contratos de distribuição.
O contrato de agência, tomado como modelo reitor dos diversos contratos de distribuição, tem
um papel importante nas relações de comércio internacionais: o agente é, muitas vezes, um
veículo privilegiado para colocar as mercadorias para além das fronteiras; para além disso, a
agência pode deparar-se com questões de concorrência.
Por estes motivos, as instâncias europeias procuraram uma uniformização dos regimes
nacionais da agência – assim, surgiu a Diretriz 86/653/CEE do Conselho, de 18 de dezembro de
1986, relativa à coordenação do Direito dos EM sobre os agentes comerciais.
De acordo com a noção de agência contida no art. 1/1 deste DL, temos como elementos
fundamentais:
Ao agente são requeridos investimentos pessoais e, por vezes, materiais. Além disso, ela dá uma
face aos produtos do principal, integrando-se nessa medida, na lógica do mercado.
Compreende-se, a esta luz, a necessidade sentida, pelo Direito, de lhe atribuir uma certa
proteção.
Observe-se que a lei considera a zona ou círculo de clientes entre os requisitos a ter em conta
na solução de certos problemas (agente exclusivo, obrigação de não concorrência e direito à
comissão- arts. 4º, 9º e 16º/2, respetivamente).
- Note-se, igualmente, que a delimitação continua a ser feita segundo um critério geográfico-
que pode abranger toda uma região, província ou Estado, ou circunscrever-se a um distrito, uma
cidade ou a um simples bairro-, ou em função de um círculo de clientes específicos- tendo em
conta, para o efeito, os vários setores, ramos ou tipo de bens em que se desdobra a atividade
económica do principal (contraparte do agente), ou até a qualidade dos clientes, consoante se
trate de grossistas, retalhistas ou consumidores finais.
O nº2 do art. 1º é um preceito novo, que decorre da Diretiva (art. 13º/1). - A doutrina desta
norma não altera a natureza consensual do contrato, nos termos gerais do art. 219º CC. Por
razões de segurança, ligadas à proteção dos contraentes, atribui-se a qualquer deles o direito -
irrenunciável- de exigir do outro a assinatura de um documento com o conteúdo do contrato e
de eventuais aditamentos ou modificações (direitos e obrigações das partes, percentagem da
comissão, eventuais acordos indemnizatórios, etc). Assim, apesar de o contrato de agência não
parecer estar sujeito a qualquer forma, o art. 1º/2 atribui a cada parte o direito de exigir da
outra um documento assinado com o conteúdo do contrato. Visa-se, assim a proteção do
agente, que nunca poderá ser confrontado com a pura e simples nulidade do contrato por falta
de forma. Sublinhe-se que se o contrato, por decisão das partes, for reduzido a escrito, fica
sujeito a registo (art. 10º/e) do Código do Registo Comercial).
O contrato de agência, por si só, não confere ao agente poderes para ser ele próprio a concluir
os contratos, não gozando este de poderes de representação.
Mas nada impede que a outra parte (o principal) atribua ao agente poderes de representação,
ao celebrar contrato de agência ou em momento posterior, desde que, em qualquer caso, a
autorização para concluir contratos esteja reduzida a escrito (porém, arts. 22º e 23º).
O agente, que atua sempre por conta da outra parte (art. 1º), atuará também, gozando de
poderes de representação, em nome desta: é a doutrina consagrada no art. 2º/1.
Problema que pode colocar-se é se o agente a quem tenham sido concedidos poderes para
celebrar contratos gozará também, por isso mesmo, do poder de decidir, por si, se o contrato é
ou não de concluir, e em que temos, ou se tal poder de decisão compete ao principal. Tudo
dependerá, fundamentalmente, do sentido e da amplitude dos poderes que o principal atribui
ao agente. O que parece de aceitar é que a atribuição de poderes para celebrar contratos, nos
termos do art. 2º/1, por si só, não conferirá ao agente, em princípio, esse poder de decisão.
OU SEJA:
À semelhança do que sucede com o mandato, o contrato de agência pode ser celebrado com ou
sem representação – art. 2/1. Havendo representação, presume-se que o agente está autorizado
a cobrar os créditos do principal – art. 3º/1 – o que, de outra maneira, exigiria autorização escrita
– art. 3/1.
Quando o contrato nada diga e não haja in concreto instruções do principal, o agente sem
representação pode optar por qualquer uma das suas vias: é prerrogativa sua, enquanto
prestador autónomo.
Assim, o facto de o agente não gozar de poderes de representação não obsta a que lhe possam
ser apresentadas reclamações (denúncia de vícios ou defeitos da coisa adquirida, por ex.), ou
outras declarações, desde que respeitantes a negócios concluídos por seu intermédio, que o
agente poderá satisfazer ou, pelo menos, encaminhar para o principal. Trata-se de um poder
inerente às funções que o agente desempenha, com intermediário entre a pessoa para quem
trabalha e os clientes, atentas ainda, por outro lado, as dificuldades práticas do cliente em
contactar diretamente o principal.
Por razões semelhantes, concede-se ao agente, no nº3, ainda que na goze de poderes de
representação, legitimidade para requerer providências indispensáveis e urgentes
(procedimentos cautelares, medidas destinadas a assegurar a conservação de meios de prova,
por ex.), em ordem a acautelar os direitos do principal, chegando o agente a beneficiar, para
este efeito, de uma restrita legitimidade processual ativa.
O que se disse a respeito do poder de o agente celebrar contratos vale, igualmente, no que se
refere ao poder para efetuar a cobrança de créditos: só se a outra parte o tiver autorizado, por
escrito, quer no próprio contrato de agência, quer em momento posterior (porém, art. 23º).
O nº2 estabelece uma presunção que parece razoável, presunção esta ilidível mediante prova
em contrário.
O agente que tiver procedido à cobrança de créditos sem a necessária autorização coloca o
cliente, nos termos do nº3, na situação de ter efetuado uma prestação a terceiro, que, em
princípio não extinguirá a sua obrigação, em face do principal, nos termos do art. 770º CC. A
norma ressalva, contudo, o regime consagrado no art. 23o do presente diploma.
A agência pode ser celebrada com vista à celebração de contratos num círculo
predeterminado: seja uma circunscrição geográfica – ex: agente para o distrito de Lisboa – seja
uma delimitação pessoal – ex: agente para os juristas – seja, finalmente, uma combinação de
ambos.
Essa delimitação pode ser associada a uma cláusula de exclusivo: nos termos do art. 4 do DL. no
178/86, o principal não deve, no círculo que caiba ao agente, contratar qualquer outro agente,
quando este possa exercer atividades em concorrência com o primeiro.
- Sítios de entrega e sede de comprador são elementos típicos para aferir o exclusivo territorial;
No silencio do contrato, o principal não está impedido de utilizar, ainda que dentro da mesma
zona ou círculo de clientes, outros agentes para o exercício de atividades concorrentes. Tal
limitação só existirá se o principal nela consentir por escrito, ao contrário do que sucedia na
redação anterior deste preceito, uma vez que, sendo o contrato omisso, o agente beneficiaria
do direito de exclusivo.
Já pelo que respeita ao agente, contudo, este continua a estar impedido, no silêncio do contrato,
de exercer, por conta própria ou por conta de outrem atividades concorrentes- o que melhor se
compatibiliza com a boa fé exigida no art. 6º e pela expressão “zelar pelos interesses da outra
parte”.
Assim, o direito de exclusivo deixa de ser recíproco (como era na anterior redação do preceito):
o agente só beneficia dele, havendo acordo escrito das partes, contudo, pode exigir que o agente
se abstenha de práticas concorrentes, mesmo que o contrato seja omisso a tal respeito.
Observe-se que a qualidade de agente exclusivo- hoje dependente de consentimento escrito-
não obsta, em princípio, a que o principal utilize outros agentes, desde que se trate de ramo
diverso daquele que foi confiado ao primeiro. Assim como pode utilizar vários agentes para o
mesmo ramo ou tipo de atividade, caso eles sejam utilizados fora da zona ou do círculo de
clientes do agente exclusivo.
Artigo 5º
Num paralelo com o disposto para o mandato, o agente pode recorrer a auxiliares e a
substitutos, contratando designadamente subagentes, exceto se houver convenção em
contrário. Esta possibilidade decorre de uma característica essencial da agência: a autonomia.
A obrigação característica que emerge do contrato e que constitui a verdadeira causa da sua
celebração é o encargo de promoção negocial que recai sobre o agente, o qual se liga, em termos
correspetivos, o dever do principal lhe retribuir a sua atividade; o modo típico de atuação do
agente: é um sujeito de direito juridicamente autónomo do principal, com o qual estabelece
um vínculo duradouro de colaboração, que o adstringe a agir por conta e no interesse do
principal.
À partida, deve ter-se presente que o contrato de agência, como prestação autónoma de
serviço, implica uma margem lata de concretização - justamente aí reside uma das suas
vantagens: permite ao agente procurar, nas condições de mercado de resto muito mutáveis,
as melhores soluções para a execução do que lhe compita.
Art. 6º- o agente deve proceder de boa fé, tomada aqui em sentido objetivo, exprimindo uma
regra jurídica, integrada pelos valores da lealdade, honestidade e correção, de onde surgem
uma série de obrigações ou deveres, que incumbe às partes satisfazer, tendo em conta o fim
do contrato e a relação de confiança e de recíproca colaboração que este fundamenta.
• Dever de segredo, que pode mesmo ser pós-eficaz – art. 8. É de considerar incluído
nesta obrigação de segredo o dever de reserva do agente quanto às listas de clientes do
principal.
• Dever de não concorrência pós-eficaz, se for acordado por escrito – esse dever não
pode exceder os 2 anos e circunscrever-se-á à zona ou círculo de clientes confiados ao
agente – art. 9. Enquanto o direito de exclusivo, consagrado no art. 4º, constitui uma
limitação das partes na vigência do contrato, a obrigação de não concorrência, prevista
nesta norma, é para produzir efeitos após a sua cessação.
Por outro lado, enquanto o contrato se mantiver, o agente não pode exercer atividades
de concorrência com as do principal; o mesmo não acontece, todavia, em princípio, após
o termo do contrato. Convém ainda não confundir a obrigação de segredo com a
obrigação de não concorrência. Aquela subsiste com o termo do contrato, procurando,
assim, salvaguardar-se os ditames da ética profissional e revenir atuações abusivas e
prejudiciais. Formular restrição semelhante, quanto à atividade do agente, após o
termo do contrato, traduzir-se-ia, porém, num significativo impedimento à sua atuação
profissional, em desrespeito, designadamente, do princípio da liberdade de
concorrência (art. 61º CRP). A lei não obsta, contudo, a que as partes, por acordo,
estipulem a obrigação de não concorrência, mas estabelece algumas condições: deve
constar de dos. escrito; não pode exceder 2 anos e circunscreve-se à zona ou ao círculo
de clientes confiados ao agente. Se o agente tiver assumido a obrigação de não
concorrência, goza do direito a uma compensação, nos termos do art. 13º/g).
Direitos do agente
Art. 12º- o principal deve atuar de acordo com a boa fé (em sentido objetivo), estando
designadamente obrigado a proporcionar ao agente os meios necessários ao desempenho da
atividade deste, tendo em vista a realização plena do fim contratual.
No que tange a remunerações, a lei especifica, desde logo, o direito à retribuição – art. 13 al. e).
A retribuição é fixada por acordo das partes ou, na falta deste e sucessivamente, pelos usos e
pela equidade – art. 15º. Nenhum obstáculo existe em que a retribuição consista, simplesmente,
em comissões pelos contratos celebrados.
Segue-se, um direito a uma comissão (art. 16º e 13 al. f)) pelos contratos que haja promovido e
pelos contratos concluídos com clientes por si angariados, desde que concluídos antes do termo
do contrato, ficando assim cobertas as situações de contratação direta entre o principal e o
cliente angariado. Havendo exclusivo, a comissão alarga-se a todos os contratos celebrados com
o principal na área do contrato.
O direito à comissão mereceu uma atenção particular do legislador quanto à sua concretização,
prevalecendo uma orientação protetora do agente no art. 18º. Se o contrato providenciado
pelo agente não for cumprido por causa imputável ao principal, mantém-se o direito daquele à
comissão – art. 19º.
O agente tem ainda o direito de ser avisado de qualquer diminuição da atividade do principal,
seja perante o convencionado, seja perante o que seria de esperar – art. 14.
Em compensação e salvo cláusula em contrário, ele não tem direito ao reembolso de despesas
pelo exercício normal da sua atividade – art. 20º: trata-se de um atributo por ele prestado à
autonomia de que desfruta.
Proteção de terceiros:
O contrato de agência visa celebrar negócios entre o principal e terceiros. Estes colocam-se,
porém, na situação de contratar não com o próprio dono do negócio, mas com um
intermediário. Podem, por isso, encontrar-se numa posição de certa vulnerabilidade.
Deste modo, a lei estabeleceu diversos mecanismos de proteção dos terceiros – arts. 21º a 23º
DL 178/86 de 3 de julho:
Daí que uma primeira forma de prevenir tais situações passe pela obrigatoriedade de o
agente informar previamente os interessados, através de meios idóneos, sobre os
poderes de que dispõe, sendo esta a finalidade do art. 21º.
Impõe-se, assim, ao agente, a obrigação de fazer transparecer, por sua própria iniciativa,
o conteúdo da relação interna que o liga ao principal, através da afixação de letreiros e
nos documentos que utilize no exercício da sua atividade, sejam eles, faturas, recibos,
documentos de quitação, etc., através de medidas adequadas à fonalidade de norma,
que é a de informar os interessados sobre os poderes de que o agente dispõe. O
incumprimento desta regra torna-o responsável por todos os danos que venha a
ocasionar
• Art. 22: sem prejuízo do disposto no art. 23º, o negócio que o agente sem poderes de
representação celebre em nome da outra parte tem os efeitos previstos no art. 268º/1
CC. Considera-se o negócio ratificado se a outra parte, logo que tenha conhecimento da
sua celebração e do conteúdo essencial do mesmo, não manifestar ao terceiro de boa
fé, no prazo de cinco dias a contar daquele conhecimento, a sua oposição ao negócio.
Cessação da agência:
A cessação do contrato de agência pode ocorrer por via das formas previstas no art. 24º, sendo
que este art. pode vir a ser utilizado por via de analogia, relativamente aos contratos de
concessão e franquia.
• O acordo das partes (art.25º): o mútuo acordo é sempre possível; exige, como foi
referido, forma escrita. Resulta dos princípios gerais dos contratos - 406º/1 CC;
• A caducidade (art. 26º): tem a ver com a sobrevivência de um facto extintivo, na
cessação do contrato, sem necessidade de qualquer manifestação de vontade das
partes. Ocorrendo algum dos eventos previstos, de modo especial, nesta norma, o
contrato cai por si. O art. 26 enumera: o termos do prazo, a condição e a morte ou
extinção do agente. Este preceito não pretende enumerar todos os eventos que
determinam a caducidade do contrato de agência. Quanto à insolvência: parece que só
a insolvência do principal será causa de caducidade do contrato, enquanto a insolvência
do agente permitirá ao principal ou ao administrador da insolvência a denúncia do
contrato.
Na falta de prazo, o contrato tem-se como celebrado por tempo indeterminado – art.
27/1. E por tempo indeterminado se tem por não celebrado o contrato que, não
obstante o decurso do respetivo prazo, continue a ser executado pelas partes.
O contrato de agência pode, pelo seu funcionamento, acarretar clientes para o principal, clientes
esses que se manterão mesmo após o seu termo. O legislador entendeu, por isso, que cessando
a agência, era justo compensar o agente pelo enriquecimento assim proporcionado à outra
parte – art. 33º. Caso essa “contribuição” não fosse remunerada, o principal teria um
enriquecimento sem causa (ML e MC).
Trata-se, assim, no fundo, de uma compensação devida ao agente, após a cessação do contrato-
seja qual for a forma por que se lhe põe termo ou o tempo por que o contrato foi celebrado (por
tempo determinado ou por tempo indeterminado) e que acresce a qualquer outra forma de
indemnização a que haja lugar - pelos benefícios de que o principal continue a auferir com a
clientela angariada ou desenvolvida pelo agente. É como que uma compensação pela “mais-
valia” que este lhe proporciona, graças à atividade por si desenvolvida, na medida em que o
principal continue a aproveitar-se dos frutos dessa atividade, após o termo do contrato de
agência.
Esta não é uma verdadeira indemnização, uma vez que essa pressupõe que exista danos (se bem
que estes existam normalmente, pelo menos na forma de lucros cessantes) e ilicitude. Será
antes uma compensação pelos clientes angariados. Mesmo que o agente não sofra danos,
haverá um enriquecimento do principal que legitima e justifica uma compensação
Esta indemnização é cumulável com outras indemnizações a que haja direito e exige,
cumulativamente:
• Que o agente tenha angariado novos clientes para a outra parte ou tenha aumentado
substancialmente o volume de negócios com a clientela já existente;
• Que o principal venha a beneficiar consideravelmente, após a cessação do contrato, da
atividade desenvolvida pelo agente;
• Que o agente deixe de receber qualquer retribuição por contratos negociados ou
concluídos, após a cessação da agência, com os clientes angariados ou cujos negócios
tenham sido aumentados.
A indemnização de clientela pode ser exigida pelos herdeiros (art. 33º/2), não sendo devida se
o contrato tiver cessado por razões imputáveis ao agente ou se este tiver cedido, por acordo
com a outra parte, a sua posição contratual a um terceiro (art. 33º/3). A intenção de exercer o
direito à indemnização de clientela deve ser comunicada ao principal no prazo de um ano, sendo
a eventual ação judicial intentada no ano subsequente, sob pena de caducidade (art. 33/4).
A indemnização de clientela deve ser calculada equitativamente (art. 34), não podendo exceder
uma retribuição anual, calculada nos termos médios referidos no art. Se, porém, se provar um
prejuízo superior a essa cifra, acompanhado por um dano que transcenda igualmente a
retribuição anual, fica aberta a hipótese de inconstitucionalidade por violação da propriedade
privada (art. 62/1 CRP).
Art. 36º: a obrigação de restituir compete aos dois contraentes, sem prejuízo, contudo, do
direito de retenção, estabelecido no art. 35o, a favor do agente. Note-se que esta obrigação se
restringe aos objetos, valores e mais elementos pertencentes ao mesmo contraente.
As regras relativas ao regime da cessação da agência têm aplicação imediata nos contratos que
se desenvolvam, exclusiva ou predominantemente em território nacional. Só pode ser aplicada
lei diversa da portuguesa se ela for mais vantajosa para o agente – art. 38o. Trata-se de uma
norma imperativa.
Concessão:
À partida, este contrato opera em área que exigem investimentos significativos e que o produtor
dos bens ou serviços a distribuir não queira ou não possa ele próprio efetuar. Corresponde,
pois, pelo menos tendencialmente, a esquemas destinados a distribuir produtos de elevado
valor, com exemplo clássico nos veículos automóveis.
O contrato de fornecimento é o contrato pelo qual uma parte se obriga, mediante pagamento
de um preço, a executar, a favor da outra, prestações periódicas ou continuadas de coisas.
Nos casos em que o fornecedor se obriga a transmitir a propriedade de coisas à contraparte,
este tipo contratual aproxima-se da compra e venda, apresentando-se como um negócio
definitivo e unitário, cujas prestações se sucedem e prolongam no tempo.
No contrato de concessão comercial, que se insere na categoria jurídica dos contratos de
distribuição, o concedente obriga-se a vender certos produtos ao concessionário, para que este
os revenda a terceiros.
Além de neste último tipo contratual não existir um único negócio de transmissão da
propriedade, é seu elemento essencial, e estranho ao contrato de fornecimento, a obrigação do
concessionário revender os produtos comprados ao concedente e de exercer uma actividade de
promoção da revenda.
É um contrato que não tem sede legal expressa, mas a prática leva a que se possa considerar o
contrato de concessão um tipo social.
Com muita frequência, o contrato de concessão implica uma distribuição a nível internacional;
nesse caso, ele é ainda complementado com elementos internacionais privados.
NOTA: têm ocorrido diversas intervenções quanto à clivagem entre contratos de distribuição –
entre os quais a concessão – e o contrato de trabalho. A necessidade de distinção cifra-se no
seguinte: nos contratos de distribuição, é frequente o distribuidor ficar económica e
socialmente subordinado ao produtor. A própria subordinação jurídica, no sentido de o
distribuidor, contratualmente, dever acatar as instruções do produtor, pode fazer a sua
aparição.
» Regime:
É um contrato que não consta diretamente da lei e que vai ser ajustado pelas partes,
nomeadamente com recurso às CCG. À partida, trata-se de um contrato que não está sujeito a
qualquer forma solene: pode ser meramente verbal ou pode resultar de condutas concludentes.
Para além disso, o seu regime resultará, antes de mais, da interpretação e da integração do
texto que tenha sido subscrito pelas partes. No que as partes tenham deixado em aberto, haverá
que recorrer à analogia: neste domínio, normalmente recorrer-se-á ao regime da agência.
Ainda quanto à aplicação do regime da agência naquilo que não esteja estabelecido pelas partes,
é de notar que as regras relativas à cessação do contrato, nomeadamente a norma atinente à
indemnização de clientela (art. 33º DL 178/86) terá segura aplicação ao contrato de concessão.
Contudo, a doutrina tem vindo a exprimir cautela quanto à transposição automática do regime
de agência, na medida em que a analogia teria de ser verificada. Assim, haverá que, caso a caso,
ponderar os requisitos da lei e a analogia.
Já́ se entendeu que a indemnização de clientela teria uma natureza social: isso obrigaria a
verificar se o concessionário se inseriu mesmo na organização do concedente e se ele é digno
de tutela. Não é assim. A indemnização de clientela é uma compensação prevista...pela clientela
angariada desde que se verifiquem os demais pressupostos da lei e haja analogia. Havendo lei,
não se aplicam as regras do enriquecimento sem causa. As normas sobre a indemnização de
clientela, na agência, não têm aplicação automática: há, sempre, que ponderar os requisitos e a
analogia. *
Finalmente: os nossos tribunais não devem ter receio em arbitrar indemnizações, quando se
justifiquem. Além da indemnização de clientela, a interrupção abrupta de uma concessão pode
obrigar à retoma dos stocks; pode haver danos não patrimoniais; pode, ainda, impor-se uma
indemnização por investimentos feitos pelo concessionário, incluindo em formação profissional
e que se venham a perder; por último, caberá́ indemnizar pelas maiores despesas:
despedimentos coletivos, restituição de subsídios ao Estado e incumprimentos ocasionados juto
de fornecedores. O direito tem de reagir aos problemas do nosso tempo.
Como se referiu, nos contratos de concessão, muitas vezes os grandes produtores ou fabricantes
recorrem a CCG para uniformizar os diversos contratos de distribuição que celebrem. As CCG
daí derivadas sujeitam-se às regras jurídicas gerais e, em particular, ao regime específico que
para elas exista. Estas têm ressalvas que têm em vista evitar situações prejudiciais ao comércio
pelas concessionárias.
• Não havendo prazo, ela só pode ser denunciada com um pré-aviso, sob pena de dar azo
a um dever de indemnizar;
• Havendo culpa do concedente na cessação da concessão, este pode ser condenado a
retomar os stocks antes vendidos ao concessionário. Não há, todavia, nenhum
fundamento jurídico para, em qualquer caso, limitar as indemnizações ao dano
negativo: pelo Direito português, todos os danos devem ser sempre indemnizados.
• A denúncia ilegal é eficaz, mas obriga a indemnizar.
III - A simples angariação significativa de uma clientela estável para os produtos da concedente,
pela ação da concessionária, durante a execução do contrato de concessão que, no termo deste,
permita prognosticar a continuação da sua ligação aos produtos da concedente, é suficiente
para que se possa concluir pela verificação de um benefício justificativo do pagamento de uma
indemnização de clientela, não sendo necessário demonstrar que o número de clientes no termo
do contrato é superior ao que existia no seu início.
IV - O valor da indemnização de clientela deve ser fixado com recurso a um juízo de equidade,
com o teto imposto pelo art. 34.º do DL n.º 178/86.
V - A existência deste teto não significa que o valor da indemnização deva com ele coincidir ou
sequer que ele seja um ponto de partida de um percurso descendente, a percorrer pelo juízo
equitativo, com vista a encontrar esse valor. Ele apenas deve intervir, se e quando, o valor
apurado como resultado do juízo de equidade o ultrapasse, competindo ao concedente a sua
prova, dado tratar-se de um facto modificativo do direito de indemnização do concessionário.
VI - A denúncia pelo concedente de um contrato de concessão comercial sem prazo, deve ser
antecedida de um pré-aviso comunicado com um prazo côngruo.
VII - Se a exigência deste pré-aviso pelo art. 28.º do DL n.º 178/86, tem sido aplicada, por
analogia, ao contrato de concessão comercial, já quanto aos prazos em que ele deve ter lugar
que constam do referido preceito legal, quer a jurisprudência, quer a doutrina, têm sustentado
que, tendo em conta a maior dimensão dos meios investidos na atividade distribuidora, o
concessionário necessita de mais tempo para reorientar a sua atividade, pelo que esses
prazos, no contrato de concessão, devem ser mais longos, funcionando os previstos no art.
28.º do DL n.º 178/86, de 03-07, como prazos mínimos.
Pinto Monteiro: contrato pelo qual alguém (franquiador) autoriza e possibilita que outrem (o
franquiado), mediante contrapartidas, atue comercialmente (produzindo e/ou vendendo
produtos ou serviços), de modo estável, com a fórmula de sucesso do primeiro (sinais
distintivos, conhecimentos, assistência...) e surja aos olhos do público com a sua imagem
empresarial, obrigando-se o segundo a atuar nestes termos, a respeitar as indicações que lhe
forem sendo dadas e aceitar o controlo e a fiscalização a que for sujeito.
MC: É um contrato legalmente atípico pelo qual o franquiador convenciona com o franquiado,
que este, venda ou ofereça no mercado os produtos ou serviços daquele no seu
estabelecimento, utilizando o logótipo, a marca e até os processos e caraterísticas típicas que
individualizam e caracterizam o primeiro, de modo a criar no mercado a convicção ou a
aparência de ser o próprio franquiador o dono daquele estabelecimento e o fornecedor
daquelas mercadorias ou serviços. É uma relação onerosa.
Onde coincide com a Agência? Tanto o agente como o franqueado têm a obrigação de promover
e cuidar dos negócios da outra parte; todos são empresários independentes; ambos
estabelecem uma relação duradoura; ambos se integram em rede empresarial, recebendo
instruções e orientações de politica comercial e sujeitas a controlo/fiscalização.
A franquia vive dominada pela autonomia privada e, por isso, apenas pela interpretação de cada
contrato considerado se poderá verificar qual o seu alcance e quais os deveres que dele resultam
para as partes. Na base da habitualidade, contudo, é possível apontar os deveres das partes
que, normalmente, tendem a surgir.
Obrigações do franqueador:
Direitos do franqueador:
Obrigações do franqueado:
Direitos do franqueado:
» Cessação
O contrato de franquia dá lugar a uma situação duradoura. Na sua cessação, há que observar
os quadros competentes, com relevo para a resolução (unilateral e justificada) e a denúncia
(unilateral e discricionária). O modelo de cessação da agência é aplicável, com as devidas
adaptações. A cessação não pode ser retroativa.
Verifica-se que o franqueado fica numa patente subordinação económica: vai ter de fazer
investimentos significativos, em nome de uma situação que o franqueador poderá fazer cessar,
se o contrato o permitir. Põe- se, deste modo, o problema da tutela do franqueado.
A franquia é, muitas vezes, celebrada com recurso a CCG. A LCCG é, assim, um instrumento
jurídico privilegiado para facultar ao Tribunal o controlo das cláusulas injustas.
Problema da concorrência
Natureza:
A natureza mista do contrato de franquia permite fazer apelo aos mais diversos contratos;
todavia, deverá prevalecer o centro de gravidade dado, pelas partes, ao negócio. Estão sempre
envolvidos deveres de lealdade, que se manifestam por uma defesa de espírito de grupo.
Caso 10:
Aníbal andou de farmácia em farmácia, na zona centro do país, durante 5 anos, a promover a
venda dos produtos cosméticos da prestigiada marca “Beauty for ever”, da sociedade com o
mesmo nome (BFE – Beauty for ever, S.A.). A rotina era sempre a mesma, definida por um
manual de procedimentos extremamente detalhado, preparado pela BFE. De acordo com tal
manual, distribuído a cada distribuidor no início da sua colaboração com a BFE, os distribuidores
deviam limitar-se a explicar aos donos das farmácias as maravilhas operadas por cada um dos
produtos constantes do catálogo, o quão fácil é vendê-los a senhoras descontentes com o peso
da idade e o quão rentáveis são dadas a diferença entre o preço de aquisição e o preço de venda
ao público.
Do manual constavam instruções específicas quanto a encomendas e pagamentos: não podiam
“aceitar” encomendas ou pagamentos, mas apenas “transmitir” internamente os pedidos dos
clientes, a processar pelo departamento operacional. Do manual constavam ainda regras claras
quanto à apresentação: fato cinzento e gravata sóbria, sapatos engraxados, cabelo curto e
penteado, “sem modernices”; não podiam usar brincos, piercings ou outros adereços que
desvirtuassem a imagem que se pretendia sóbria. Deviam apresentar-se com um cartão de visita
da empresa e não podiam usar, nos seus contactos com os clientes, outro endereço de e-mail
que não o da empresa.
Do contrato assinado por Aníbal em 2016 constava (i) um prazo de 2 anos; (ii) um direito de
exclusivo na zona centro do país, (iii) que a sua remuneração se resumiria à comissão de 7,5%
do preço de cada produto vendido pela BFE às farmácias contactadas por Aníbal, incluindo
esta comissão a compensação pela clientela criada pelo que, findo o contrato, nada mais terá
a haver da BFE; e (iv) uma obrigação de não concorrência por um prazo de 5 anos após a
cessação do contrato.
Em janeiro de 2019, Aníbal conheceu Carlota que tem a mania que é rebelde e rapidamente fez
dele “gato-sapato” e, em fevereiro, fez várias tatuagens e adotou um penteado “radical” para
demonstrar que estava à altura do desafio. Os donos das farmácias com quem contactava
diariamente começaram a olhá-lo com desconfiança.
Entretanto, Carlota convenceu Aníbal a promover junto das farmácias, juntamente com os
produtos da BFE, umas “ervas medicinais”, por si plantadas, que, segundo a mesma, sendo
misturadas com chá, produziam um efeito rejuvenescedor imediato. Alguns farmacêuticos
compraram as ervas que rapidamente demonstraram ser um sucesso entre as senhoras de idade
que, diziam, as faziam sentir mais jovens do que algum dia foram. Descobriu-se em junho que,
entre tais ervas, havia canabis com fartura...
1. Em julho de 2019, a BFE escreveu a Aníbal, pondo fim imediato ao contrato. Aníbal,
incrédulo, disse que a BFE não tinha fundamento para isso: queria continuar a
trabalhar e a receber as comissões a que tinha direito.
Resolução:
As formas de cessação do contrato de agência estão previstas no art. 24º: acordo das partes,
caducidade, denúncia e resolução.
Poderíamos referir a denuncia ou a resolução. No caso de denuncia, nos termos do artigo 28
refere os prazos dos avisos. Pinto Monteiro critica esta base legal, visto que é manifestamente
diminuto aplicar um pré-aviso de 3 meses em contratos de 10 anos ou mais - temos que ter em
conta a rácio legis. Para este professor, por cada ano tem que haver um mês de aviso prévio.
No caso não temos pré-aviso, sendo que se aplica o artigo 29º do DL 178/86. Apenas
aplicávamos o aviso prévio se estivéssemos a falar de um caso de denuncia.
Caso referíssemos que estávamos perante uma resolução, aplicaríamos a alínea a) do artigo 30º,
conjugado com o artigo 6 e 7º. O senhor desrespeitou as regras relativas à aparência como a fez
de forma reiterada visto que a situação já acontecia há vários meses. Discussão se seria grave
ou não este comportamento.
Art. 27, nº2. Pode ser alvo de denuncia ao abrigo do artigo 28.
2. Segundo Aníbal, mesmo que o contrato ficasse sem efeito, ele teria de ser
compensado pela clientela que criou. Afinal de contas, a BFE continuaria a receber os
proveitos do seu trabalho por muitos e bons anos: as farmácias que ele “mimou” ao
longo de anos continuariam a fazer encomendas sobre encomendas...
Resolução:
A indemnização de clientela está prevista no art. 33º do DL 178/86 e indica que o agente terá
direito à mesma após a cessação do contrato se estiverem preenchidos cumulativamente três
requisitos: (i) que o agente tenha angariado clientes para a outra parte ou que tenha aumentado
substancialmente o volume de negócios com a clientela já existente; (ii) que a outra parte venha
beneficiar consideravelmente da atividade desenvolvida pelo agente, após a cessação; e (iii) que
o agente deixe de receber qualquer retribuição por contratos negociados ou concluídos, após a
cessação do contrato, com os clientes mencionados na primeira alínea.
No entanto, o art. 33º/3 estabelece que não é necessária indemnização de clientela quando o
contrato tiver cessado por causa imputável ao agente ou se este tiver cedido a sua posição
contratual a terceiro.
à Uma vez que Miguel faltou ao cumprimento das suas obrigações, a cessação do contrato é
lhe imputável, não sendo por isso devida a indemnização.
não sendo devida se o contrato tiver cessado por razões imputáveis ao agente ou se este tiver
cedido, por acordo com a outra parte, a sua posição contratual a um terceiro (art. 33º/3). A
intenção de exercer o direito à indemnização de clientela deve ser comunicada ao principal no
prazo de um ano, sendo a eventual ação judicial intentada no ano subsequente, sob pena de
caducidade (art. 33/4).
PM: as partes não podem renunciar a indemnização de clientela, mas podem regulá-la, por
exemplo, recebendo-a antecipadamente como regulado no contrato – quanto ao art. 809º do
CC
Não há indemnização porque não há dano a ser ressarcido; não é enriquecimento sem causa
porque há causa.
Regulação ex legia da remuneração do agente: antecipação de benefícios futuros
Saber se a cláusula era válida? Se sim não havia direito à indemnização; se não, 33º/3 e não
haveria lugar ao pagamento.
Estipularam um regime simétrico à liquidação antecipada? Há uma massa de clientes que
contratou c o principal à pala do agente. Ideia chave – Saber se podia haver um acordo quanto
à indemnização de clientela? Sim. E se os 7,5% forem uma renúncia antecipada, se for muito
inferior tendo em conta o artigo 34º? Tem de haver correção? À partida sim, dada a
interpretação da declaração negocial, fazendo desvios.
3. O advogado de Aníbal sustentou ainda que este deveria reclamar à BFE a comissão
contratualmente prevista por cada produto vendido por esta às farmácias do centro
do país através da loja online criada em 2013.
Resolução:
O direito à comissão é um direito do agente pelos contratos que haja promovido e pelos
contratos com clientes por si angariados, desde que concluídos antes do termo do contrato -
art.16º/1 DL 178/86.
Cessando a vigência do contrato de agência, a comissão só se reporta aos contratos
anteriormente preparados ou negociados por ele, nos termos especificados no art. 16º/3.
Assim, Aníbal adquiria esse direito após o termo da relação contratual, se provar ter sido ele a
negociar esses mesmos contratos.
Este regime foi consagrado assente na ideia da proteção do agente - art.18º, pelo que o agente
adquire o direito à comissão logo que se verifique uma das alíneas do nº1.
Art. 4º- só se houver um acordo escrito é que há exclusividade. O agente tem mais benefícios
“quanto mais ganhar, fica para ele”.
Mas no caso não tínhamos o principal a meter outros agentes em concorrência, era o próprio
principal em concorrência com o agente.
O que acontece é que o principal exerce concorrência com o seu agente pois abriu um site
online. O artigo 4º aplica-se? Parece que não- a previsão da norma não fala da concorrência
entre o agente e o principal.
PM: artigo 17º – o principal pode celebrar contratos na zona reservada ao agente exclusivo, ou
com clientes pertencentes ao circulo que lhe foi conferido. Mas esta faculdade restringe-se aos
contratos que os clientes lhe proponham diretamente (4º), isto é, sem intervenção de outros
agentes ou de empregados próprios + exigência de serem pontuais/esporádicos (senão,
incorreríamos na defraudação do direito e sentido do agente exclusivo).
Este beneficio do principal tem como contrapartida o direito à comissão a favor do
agente;
Note-se que se o principal concluir contratos com clientes angariados pelo agente, este
pode ter direito à comissão (16º/1), mesmo sem gozar do direito de exclusivo – necessário que
se trate de contratos celebrados com clientes por si angariados ou promovidos por si.
Mas no caso do agente exclusivo, nem está dependente do facto dos contratos serem
concluídos com clientes por si angariados: basta que se trate de pessoas pertencentes à zona ou
ao circulo de clientes – IMPORTANTE!!!
O que se disse a respeito do poder de o agente celebrar contratos vale, igualmente, no que se
refere ao poder para efetuar a cobrança de créditos: só se a outra parte o tiver autorizado, por
escrito (nº2), quer no próprio contrato de agência, quer em momento posterior (porém, art.
23º).
O agente que tiver procedido à cobrança de créditos sem a necessária autorização coloca o
cliente, nos termos do nº3, na situação de ter efetuado uma prestação a terceiro, que, em
princípio não extinguirá a sua obrigação, em face do principal, nos termos do art. 770º CC.
A norma ressalva, contudo, o regime consagrado no art. 23º do presente diploma.
Se Aníbal tivesse poderes de representação, estes tendo em conta o artigo 2º/º1, tinham que
ser conferido por escrito.
No caso de não haver representação, Aníbal só poderia efetuar a cobrança de créditos se a BFE
o autorizasse por escrito. Não havendo acordo escrito à art. 770º do CC, prestação feita a
terceiros
Importante não esquecer o artigo 23º do DL.
Não podemos concluir se o 3º tinha contribuído ou não para esta atuação.
Atendendo ao regime do art. 23º, Aníbal não tinha poderes de representação, pelo que o
principal podia ratificar nos termos art. 23º/2 que remete para o art. 22º, que por sua vez remete
para o regime do art. 268º/1 CC (representação sem poderes), onde o negócio que uma pessoa,
sem poderes de representação, celebre em nome de outrem é ineficaz em relação a este, se não
for por ele ratificado - o principal tem o prazo de 5 dias após o conhecimento para ratificar
(art.22º/2) - artigo “suplente”, aplica-se primeiro o art.770º CC.
O art.23º é uma cláusula de difícil preenchimento, o requisito é que a tutela de confiança tem
de ser justificada - o terceiro pensa que aquele agente tem poderes.
• Art. 22: sem prejuízo do disposto no art. 23º, o negócio que o agente sem poderes de
representação celebre em nome da outra parte tem os efeitos previstos no art. 268º/1
CC. Considera-se o negócio ratificado se a outra parte, logo que tenha conhecimento da
sua celebração e do conteúdo essencial do mesmo, não manifestar ao terceiro de boa
fé, no prazo de cinco dias a contar daquele conhecimento, a sua oposição ao negócio.
5. Na sua carta de resposta, a Deolinda Farmácia da Mouraria, Lda. reclamou ainda uma
compensação pelo facto de a BFE não ter entregado os produtos por si encomendados
4 meses antes e que Aníbal garantiu que seriam entregues no mês seguinte.
Não há nenhum acordo escrito que confira poderes de representação ao agente logo este não
pode celebrar contratos - artigo 2º não tendo poderes de representação, referíamos o artigo
22º, sendo que para ser validado o negócio este tinha que ser celebrado.
Em primeiro lugar, dizer que há nenhum acordo escrito que confira poderes de representação
para o agente, logo, este não pode celebrar contratos- as relações continuam a pertencer ao
principal, é este que decide se e como são celebrados os contratos e o terceiro apenas assina.
Não tendo poderes de representação, não pode cobrar créditos. Aplica-se o regime do art. 22º,
aquele contrato é só eficaz se for ratificado por parte do principal.
No presente caso é o mesmo raciocínio do número anterior + art.23º.
Problema da extensão de poderes de representação, nomeadamente, no que toca às relações
internas.
Que se relaciona com uma pessoa que se arroga como em representação, tem o ónus de
requerer a apresentação da procuração. Se não exigirem a procuração não podem vir
prevalecer-se de qualquer procuração aparente ou tolerada.
266º- o único caso em que este regime é afastado - a procuração é revogada e essa procuração
não é levada a conhecimento de terceiros. Podia confiar na aparência gerada pela procuração.
Único caso em que se tutela o terceiro mediante a aparência, salvo se houver um regime
específico, como há no artigo 23º do DL de agência.
Resolução:
Clausula do contrato: (iv) uma obrigação de não concorrência por um prazo de 5 anos após a
cessação do contrato.
Dever de não concorrência pós-eficaz, se for acordado por escrito – esse dever não pode
exceder os 2 anos e circunscrever-se-á́ à zona ou círculo de clientes confiados ao agente – art.
9. - Para produzir efeitos após a sua cessação. + Artigo 762 CC – dever boa fé, lealdade
assegurariam dever de não concorrência durante execução contrato.
Em relação a este prazo o professor Pinto Monteiro admite que possa ser discutível se o limite
temporal expresso pela norma será o mais indicado, dadas as restrições à sua atuação
profissional (47º) , em desrespeito, designadamente, do princípio da liberdade de concorrência
(art. 61º CRP). No entanto segue-se a Diretiva que consagrou este exato prazo, pelo artigo 20º
da mesma.
A clausula que as partes estabeleceram não é válida à luz do nº2 do artigo 9º. O que levaria à
anulação da clausula e por isso. A poderia montar o seu próprio negócio nos termos que
pretende, dado que não tem tal obrigação após a cessação do contrato. Assim, mesmo que nem
2 anos tivessem passado, não era isso que estava na clausula - Pode dar-se redução negócio
jurídico – 292 CC, cláusula assim fica celebrada por 2 anos.
Mesmo sendo um contrato de concessão, aplica-se por analogia aos contratos de agência, o
dever de não concorrência continua a existir.
- Não confundir direito de não concorrência com direito de segredo, pelo artigo 8º: Aquela
subsiste com o termo do contrato, procurando, assim, salvaguardar-se os ditames da ética
profissional e revenir atuações abusivas e prejudiciais.
Assim, mesmo não estando escrito, o agente não pode mesmo após a vigência do contrato,
utilizar em benefício de si próprio utilizar o que lhe foi confiado durante o exercício da agência,
incluindo, segundo PM, o dever de reserva do agente quanto às listas do cliente principal,
legitimando o principal a pedir a correspondente indemnização, nos quadros da
responsabilidade pós-contratual, se o agente a não acatar.
7. As coisas correram bem entre a ECB e Aníbal durante pouco mais de um ano. No final
de outubro passado, a ECB enviou uma carta a Aníbal denunciando o contrato com
uma antecedência de 10 dias. Aníbal está novamente incrédulo: fez investimentos
avultadíssimos na promoção dos produtos da ECB e na constituição de stocks, de
acordo com o plano de negócios desenhado em conjunto com a ECB.
Resolução:
O stock será composto por bens que constituam capital circulante, isto porque o seu principal
objetivo é a satisfação das necessidades empresariais, “… como seja fazer face às flutuações da
procura ou do fornecimento de bens…” e, ainda, obter ganhos antecipados face ao futuro
(devido a preços promocionais), aumento de preços ou aproveitamento de descontos, face à
quantidade de produtos adquiridos. Face ao acima exposto, a criação de stocks confere
vantagens para o distribuidor, no seu aprovisionamento, bem como poderá satisfazer os
consumidores de forma mais célere.
Na verdade, não há uma regra quanto à aquisição pós-contratual destes; o distribuidor tem
total autonomia para a sua constituição e venda, visto que enquanto agente económico
autónomo, é o único responsável pelas decisões por si tomadas.
A realidade é bem diversa das soluções acima preconizadas. Em consequência disso mesmo,
surge a discussão se existirá, por parte do fornecedor, alguma obrigação de retoma destes
bens que permaneceram em stock após a extinção do vínculo contratual existente.
- Nos casos em que o volume de stocks é imposto pelo fornecedor, parece-nos incorreto ou
pouco justo, a responsabilização do distribuidor, sem qualquer fundamento ou razão.
Das várias soluções determinadas pelas partes no contrato celebrado, podemos destacar
duas:
Em nosso entender, tais cláusulas que impõem ao fornecedor uma obrigação de retoma dons
bens stock descaracterizam a génese dos Contratos de Distribuição tal qual os conhecemos.
Note-se que, ao admitirmos esta obrigação de retoma por parte do fornecedor, estamos a
comprometer a estratégia e racionalidade nas transações comerciais levadas a cabo pelo
distribuidor. Aliás, não estamos mais do que a desconsiderar a sua responsabilização na
atividade de distribuição dos produtos, pois se à partida o fornecedor retomar sempre os bens
em stock, o distribuidor não estará preocupado em adquirir bens em excesso, podendo até ser
“leviano” e irracional na escolha da estratégia comercial a adotar.
Pelos motivos acima elencados, e respeitando a ratio dos Contratos de Distribuição, somos da
opinião que é mais razoável os contraentes procurarem estipular prazos de pré-aviso
razoáveis, ou mesmo, um período pós-contratual suficientemente alargado, para que o
distribuidor possa escoar o stock que detém, ao invés de estipularem cláusulas de retoma dos
bens em stock pelo fornecedor.
A introdução de uma cláusula deste género tem como consequência, a extinção da relação
jurídica e importa a destruição automática e retroativa do contrato, não obstante o contrato,
durante a sua vigência, poder produzir os efeitos estatuídos pelas partes.
Somos da opinião, admitindo que a solução estaria numa cláusula de resolução, não poderia ser
implícita, pelo que aplaudimos a orientação de Pinto Monteiro que, defende que para existir
uma obrigação de tal latitude não deve ser imposta por uma cláusula implícita, mas sim, uma
cláusula resolutiva expressa Art. 239º CC. Todavia, mesmo havendo a possibilidade de as partes
estipularem cláusulas resolutivas implícitas, chamamos à atenção para a proibição de constarem
do Contrato cláusulas, em que as partes renunciam, antecipadamente, a exigir da outra,
qualquer compensação a que tenham direito, aquando do término do vínculo que as unia, nos
termos do disposto no artigo 809.º do Código Civil.
Doutrina em Portugal sobre a questão da retoma dos stocks nos Contratos de Distribuição:
A doutrina portuguesa sobre o problema da retoma dos stocks nos Contratos de Distribuição
tem um cariz mais conservador. Face a este sentido conservador, o fornecedor só se encontra
sujeito a uma obrigação de retoma dos stocks quando se tenha, contratualmente, vinculado a
tal, ou quando o contrato cesse devido a um comportamento faltoso do próprio fornecedor.
Se a exigência deste pré-aviso pelo art. 28.º do DL n.º 178/86, tem sido aplicada, por analogia,
ao contrato de concessão comercial, já quanto aos prazos em que ele deve ter lugar que
constam do referido preceito legal, quer a jurisprudência, quer a doutrina, têm sustentado que,
tendo em conta a maior dimensão dos meios investidos na atividade distribuidora, o
concessionário necessita de mais tempo para reorientar a sua atividade, pelo que esses
prazos, no contrato de concessão, devem ser mais longos, funcionando os previstos no art.
28.º do DL n.º 178/86, de 03-07, como prazos mínimos.
JFG: prazos do 28º funcionam como um mínimo, podendo a boa-fé proceder ao alargamento
dos mesmos; em casos excecionais também se pode prever a diminuição destes prazos,
atendendo às circunstâncias.
Mais uma vez salientamos que este pré-aviso se destina ao escoamento de stocks que o
distribuidor tenha em sua posse; pré-aviso este que deve depender do mercado em que está
inserido, visto que haverá maior facilidade no escoamento de certos bens, face a outros.
Por outras palavras, a parte que pretende denunciar o Contrato de Distribuição deve fazê-lo de
modo a causar na outra o menor dano possível. Está em causa um dever geral de boa fé, segundo
o qual aquele que pretende denunciar o Contrato deve ser norteado por princípios como a
honestidade, seriedade, lealdade e correção.
A denúncia pelo concedente de um contrato de concessão comercial sem prazo, deve ser
antecedida de um pré-aviso comunicado com um prazo côngruo.
8. Carlota, quando percebeu que Aníbal não teria onde cair morto, logo o trocou por
Fausto, jovem empresário de sucesso que pretende abrir um restaurante igualzinho
aos H4 que estão já espalhados por Lisboa e não sabe que contrato deve celebrar para
o efeito.
Pinto Monteiro: contrato atípico pelo qual alguém (franquiador) autoriza e possibilita que
outrem (o franquiado), mediante contrapartidas, atue comercialmente (produzindo e/ou
vendendo produtos ou serviços), de modo estável, com a fórmula de sucesso do primeiro
(sinais distintivos, conhecimentos, assistência...) e surja aos olhos do público com a sua
imagem empresarial, obrigando-se o segundo a atuar nestes termos, a respeitar as indicações
que lhe forem sendo dadas e aceitar o controlo e a fiscalização a que for sujeito.
Neste tipo de contrato, uma pessoa – o franquiador – concede a outra – o franquiado – a utilização
de um conjunto de direitos sobre bens imateriais (marcas, nomes, insígnias comerciais, processos de
fabrico e know-how), mediante contrapartidas.
! Reproduzir uma ideia/modelo de um negócio já existente
Contrato atípico
Intensidade da fiscalização e da integração