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CAPITALIZAÇÃO NOS CONTRATOS DE ARRENDAMENTO MERCANTIL - LEASING

Antes mesmo de adentrarmos ao assunto de capitalização ou não nos contratos de


arrendamento mercantil, faz-se necessária dar luz as suas características e fundamentos, com
o objetivo de esclarecer inicialmente sua concepção e aplicação entre pessoas jurídicas e
pessoas físicas.

De acordo com informações do Banco Central, órgão este que norteia e rege questões
financeiras em nosso país, as operações de Leasing ou arrendamento mercantil e estabelecido
em contrato às partes são denominadas “arrendador” e “arrendatário”, conforme sejam, de
um lado, um banco ou sociedade de arrendamento mercantil e, de outro, o cliente. O objeto
do contrato é a aquisição, por parte do arrendador, de bem escolhido pelo arrendatário para
sua utilização. O arrendador é, portanto, o proprietário do bem, sendo que a posse e o
usufruto, durante a vigência do contrato, são do arrendatário. O contrato de arrendamento
mercantil pode prever ou não a opção de compra, pelo arrendatário, do bem de propriedade
do arrendador.

O leasing é uma operação com características legais próprias, não se constituindo


operação de financiamento. Nas operações de financiamento, o bem é de propriedade do
mutuário, ainda que alienado, já no ato da compra.

Apresentados os conceitos, parte-se na formulação dos valores geralmente


apresentados nos contratos. O valor residual garantido ou apenas o VRG, é um valor que é
pago independentemente do valor das prestações mensais e do juro, se constitui em uma
garantia especialíssima, em favor da empresa arrendadora, para a eventualidade do
"arrendatário" não exercer sua opção de compra e, neste caso, o bem seria leiloado para
terceiros, vendido pela melhor oferta sem avaliação prévia e sem preço mínimo, e o VRG
serviria para garantir a lucratividade e para extirpar qualquer possibilidade de risco
empresarial no negócio.

O certo, inequívoco, é que a operação exige uma parcela financeira como entrada, que
é registrada como antecipação do VRG, e ainda, que durante o prazo do arrendamento o
"arrendatário" continua pagando parcelas que não são de arrendamento, mas de
complemento do preço do bem, que constam também como antecipação mensal do VRG.

Assim, claro como o dia, a operação preponderante no negócio de leasing é a de


venda, e se houver qualquer falha durante o prazo do arrendamento, a operação
preponderante terá sido a de financiamento e as relações jurídicas deverão ser examinadas e
derivadas destas modalidades negociais, e não deverá jamais ser considerado como mera
locação o período em que o arrendatário manteve o bem e pagou seus compromissos, porque
este entendimento é que resultará na possibilidade de perda total das parcelas pagas quando
e se ocorrer a rescisão do contrato de leasing por qualquer motivo.

Não se pode desviar da realidade de que qualquer antecipação do valor residual,


quando não tem a função de retornar para o "arrendatário" na hipótese de rescisão no
negócio, se transforma em recurso destinado a quitar parte de pagamento, mudando
substancialmente a relação jurídica para compra e venda e financiamento ainda que
formalmente se use a expressão leasing ou arrendamento.

Os contratos de Leasing são regidos por uma taxa de juros remuneratórios, geralmente
menores do que a taxa do CDC, haja vista, do bem ainda ser do Arrendador (instituição
financeira). Nesse contexto não é difícil encontrarmos o valor do VRG sendo cobrado
antecipadamente e ser lançado como valor de entrada da operação financeira.

Seguindo o fundamento acima, pode-se verificar que o contrato cita uma taxa de juros
no importe de 1,53%, sendo que a taxa calculada efetivamente foi de 1,55% conforme Planilha
de Evolução do Financiamento conforme Instituição, juntada pelo Autor, para demonstrar e
instruir a demanda judicial . Desta forma não há o que se falar sobre a não incidência dos juros
remuneratórios, haja vista que está explicita no contrato em questão.

Apurado o valor a ser “financiado” temos o cálculo do valor da parcela devida, cuja
composição é feita pela soma de dois componentes: contraprestação e valor do VRG. O VRG é
definido através de um coeficiente descrito em contrato. A cobrança das parcelas precisa ser
remunerada por uma taxa de juros pactuada ao longo do prazo contratado. Se não houvesse
remuneração, ou melhor, ganho por parte das instituições, não haveria razão desta operação
ser realizada, o lucro embutido no juro deve existir nas relações comerciais existentes entre as
partes em epígrafe.

E a remuneração baseia-se no valor a ser financiado, abatido o valor do VRG cobrado


antecipadamente, caso tenha sido cobrado e utiliza da taxa de juros pactuada. Para tanto,
neste momento é necessário adotar um padrão para incluir a remuneração dos juros
embutidas no valor das parcelas, onde entra a Tabela Price, método de amortização utilizado
pelas instituições financeiras e amplamente discutido nas vias judiciais quanto à sua aplicação
nos contratos financeiros e formulação do anatocismo, Juro x Juro cobrado indevidamente de
forma a onerar excessivamente o contrato entre as partes, objetivando a unilateralidade.

No caso em epígrafe o Réu não informa em contrato, o que deveria ser sua obrigação
de fazer, a taxa de juros aplicada, mas também não demonstra de forma clara a obtenção dos
valores da contraprestação e VRG, logo se faz devida a manifestação do Banco acerca da
obtenção dos valores pagos pelo Autor, para que seja elucidado de forma concreta a questão
da aplicação de juros ou não. Tais informações sobre a obscuridade em que o tema é tratado
pela Instituição Financeira, que nem nos contratos de aditamento são fornecidas informações
sobre como chegaram ao saldo devedor base, quais encargos moratórios aplicados, qual a
forma de cálculo utilizada, mais uma vez, demonstrando a unilateralidade do contrato.

Nestes termos,

Pede deferimento.

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