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NPJ – Terça-feira, 11h – 13h

Professora: Daniele Gueiros


Aluna: Letícia Borges Guimarães
DRE: 117062878

Análise do conto de Kafka - Diante da Lei - do ponto de vista do acesso à justiça

No conto Diante da Lei de Franz Kafka, é narrada a história de um homem


do interior que viaja até a porta da “justiça” para ter acesso a ela. Chegando lá,
ele se depara com um guardião que o impede de entrar assim que ele chega,
mas afirma que é possível que ele entre em outro momento, então o homem
aguarda. O homem permanece esperando por anos, tendo em mente que a lei
foi feita para todos e, quando tenta observar pela porta, o guarda o informa que
não há como entrar sem a sua permissão, pois a cada porta que ele deve
atravessar lá dentro existe um guarda mais forte e mais poderoso que o primeiro.
Quando o homem chega à beira da morte, ainda sem conseguir entrar, pergunta
ao guardião o motivo de por todos esses anos ninguém mais ter pedido para
entrar, já que a justiça é feita para todos, então o guardião responde que aquela
porta foi feita apenas para aquele homem.

Kafka, formado em direito, escreveu Diante da Lei em 1915 como uma


metáfora ao acesso à justiça e tal análise, infelizmente, se mostra atemporal visto
que esse acesso continua não democratizado. Vemos o primeiro obstáculo ao
acesso à justiça quando o homem deve viajar de onde vive, no interior, para
tentar acesso ao seu direito.

É importante levar em consideração a nossa estrutura social na qual não


há quase nenhuma participação popular na construção do direito, sendo este
utilizado como meio de opressão da classe dominante através da sua influência
pelo Estado. Nesse contexto, ao chegar na porta da lei, o homem se depara com
o guardião, que pode ser interpretado como a personificação do Estado e a
burocratização exercida por ele em relação ao acesso à justiça. Essa burocracia
fica explícita quando o guarda fala sobre a maior dificuldade de atravessar as
portas conforme se avança na justiça e, assim, podemos fazer a comparação
entre a força dos guardiões e as dificuldades reais, como alto custo das custas
processuais, a morosidade do judiciário, os diversos tipos de recursos, o que
deixa o acesso à justiça para todos cada vez mais no campo teórico e longe da
prática.

Depois de tantos anos de espera, quando o homem está no fim da vida e


o guardião responde que ninguém mais havia ido ali por todos aqueles anos
porque aquela porta havia sido feita apenas para aquele homem, Kafka nos
mostra que o acesso a lei se dá de maneira diferente para cada pessoa, mesmo
que seja um direito assegurado a todo cidadão. Nesse momento, vemos
claramente que a justiça se mostra inacessível muitas vezes desde o início, o
que leva pessoas a passar toda a sua vida sem que tenham desfrutado de seus
direitos.

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