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V SBQEE

Seminário Brasileiro sobre Qualidade da Energia Elétrica


17 a 20 de Agosto de 2003
Aracaju – Sergipe – Brasil

Código: AJU 04 098


Tópico: Análise, Diagnósticos e Soluções

ALGUMAS EXPERIÊNCIAS RELEVANTES EM MONITORAÇÃO E ANÁLISE DE QUALIDADE DE


ENERGIA ELÉTRICA - HARMÔNICOS

Luiz Felipe Willcox de Souza* Ricardo Penido Dutt-Ross


Cepel Cepel

RESUMO • Por comparação de resultados obtidos simul-


Este artigo apresenta, a partir da monitoração e taneamente por dois instrumentos que em-
análise de quatro casos práticos, alguns resulta- pregam diferentes metodologias de cálculo,
dos que contribuem para o entendimento de im- mostra-se a necessidade de normalização
portantes questões envolvendo harmônicos nos dos instrumentos de medição;
sistemas elétricos. A partir da discussão dos fe-
nômenos de sobrecarga do neutro, comparação • A partir de resultados de ensaios, é mostrado
de resultados medidos por dois instrumentos que o efeito da distorção harmônica e da forma de
empregam diferentes metodologias de cálculo, onda de tensão da rede elétrica sobre o de-
aumento do consumo de energia devido a har- sempenho de lâmpadas compactas e outras
mônicos e identificação do sistema poluidor; to- cargas. Tal fenômeno tem impacto sobre a
dos ilustrados por resultados práticos, identificam- potência ativa e o consumo de energia das
se algumas linhas de ação e procedimentos refe- instalações, evidenciando a necessidade de
rentes a harmônicos na rede elétrica a se adotar definição de indicadores de forma de onda
no futuro. em complemento àqueles de conteúdo har-
mônico;
PALAVRAS-CHAVE
Qualidade de Energia, Harmônicos, Medição. • Através de medição em uma siderúrgica, com
desligamento gradativo de cargas, bancos de
capacitores e filtros, verificou-se o fluxo de
1.0 - INTRODUÇÃO harmônicos nas instalações da usina e a
Nos últimos anos, o assunto Qualidade de Ener- conseqüente atribuição de responsabilidades,
gia Elétrica vem ganhando cada vez mais impor- mostrando-se um possível método de esti-
tância, face às várias mudanças em curso no mação das responsabilidades por distorções
setor elétrico. Neste cenário, destaca-se o desen- harmônicas;
volvimento de técnicas, equipamentos e ferra-
• A partir de um caso de sobrecarga do neutro
mentas para análise e melhoria da qualidade.
de um alimentador trifásico que supre cargas
Contudo, algumas áreas ainda carecem de um
não lineares, discute-se a necessidade de in-
maior aprimoramento.
formação sobre QEE.
Este artigo discute, a partir da análise de casos
práticos vivenciados ao longo dos últimos anos, 2.0 - COMPARAÇÃO ENTRE DIFERENTES
importantes questões envolvendo harmônicos MEDIDORES DE HARMÔNICOS
nos sistemas elétricos. Os resultados dos casos
práticos serão usados para identificar a necessi- Diversos fabricantes de equipamentos de monito-
dade de desenvolvimento em alguns tópicos: ração de qualidade de energia oferecem produtos
capazes de medir harmônicos. No entanto, é

* Av. Um, s/n, Cidade Universitária - CEP 21944-970 – Rio de Janeiro - RJ - BRASIL
Tel.: +55 (021) 2598-6408 - FAX: +55 (021) 2260-1245 - E-mail: lfelipe@cepel.br
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difícil encontrar dois equipamentos que meçam nos momentos iniciais da “corrida” do forno. En-
exatamente da mesma forma. Os casos a seguir quanto o Equipamento I obteve um percentil de
apresentam resultados comparativos entre dois 95% semanal de DHT (DHT95%) de 2,46 %, o
medidores diferentes em duas monitorações dis- Equipamento II obteve um DHT95% de 1,57 %. O
tintas. desvio padrão das medições no Equipamento I foi
mais que duas vezes maior do que no Equipa-
2.1 Casos da Siderúrgica e da Indústria de
mento II (0,68% no primeiro contra 0,28 % no
Alumínio
segundo), apesar de ambos terem obtido valores
Para investigar as respostas de diferentes medi- médios aproximadamente iguais para as medi-
dores de harmônicos, o ONS organizou duas ções (1,14 % e 1,12 %, respectivamente).
campanhas de medição, de uma semana cada,
A Figura 2 mostra a DHT na fase A, em % da
nas quais vários instrumentos foram utilizados.
fundamental, medida na SE II a cada 10 minutos.
Os pontos de monitoração tinham as seguintes
A carga principal da subestação, uma indústria de
características:
alumínio com grandes retificadores, tem como
• SE I: subestação em 138 kV cuja principal característica uma variação lenta do seu conteú-
carga é uma grande siderúrgica com forno a do harmônico.
arco; Neste caso, os equipamentos respondem de
• SE II: subestação em 230 kV cuja principal forma bastante similar: enquanto o Equipamento I
carga é uma indústria de alumínio com retifi- obteve um DHT95% 0,98 %, o Equipamento II ob-
cadores. teve um DHT95% de 1,00 %. Os valores médios
foram 0,83 % e 0,87 % e os desvios padrões
Os resultados aqui comparados correspondem a foram 0,09 % e 0,08 %, respectivamente.
dois equipamentos de medição de harmônicos,
medindo o mesmo sinal de tensão, cujas princi- O cálculo do índice agregado de 10 minutos atra-
pais características são: vés da média quadrática, obtido pelo Equipamen-
to II, tem um efeito suavizante das rápidas varia-
• Equipamento I: a cada 10 minutos, são regis- ções de DHT registradas pelo Equipamento I.
trados os resultados de uma FFT realizada Quando a distorção de tensão varia lentamente,
em janela de 1 ciclo com 128 amostras. Mede como na SE II, ambos os equipamentos respon-
a distorção harmônica total (DHT) e individual dem de forma similar.
até a 63a ordem;
O Equipamento II, que mede harmônicos de a-
• Equipamento II: mede harmônicos de acordo cordo com a norma IEC [4], calcula o indicador
com protocolo definido pela IEC [4], utilizando agregado de 10 minutos fazendo três suaviza-
janelas de 12 ciclos e 128 amostras/ciclo. A ções sucessivas: utilização de janelas de 12 ci-
cada 3 s, os resultados são agregados atra- clos, agregação em intervalos de 3 s e agregação
vés de uma média quadrática. Posteriormen- em intervalos de 10 minutos, por média quadráti-
te, os resultados de 3 s são agregados a ca- ca obtida a partir dos resultados obtidos para o
da 10 minutos por nova média quadrática. intervalo imediatamente inferior. No caso da jane-
Mede a distorção harmônica total (DHT), dis- la de 12 ciclos, possíveis diferenças entre ciclos
torções individuais e interharmônicos. aparecem na forma de interharmônicos e su-
bharmônicos. O Equipamento I, que não mede de
A Figura 1 mostra a distorção harmônica total de acordo com a norma IEC, não faz qualquer agre-
tensão na fase A, em % da fundamental, medida gação de valores harmônicos ao longo do interva-
na SE I em intervalos de 10 minutos. A carga lo de medição. Conseqüentemente os resultados
principal da subestação, uma siderúrgica com um obtidos são mais “agudos”, isto é, apresentam
grande forno a arco, tem como característica a grande variação dependendo dos harmônicos
rápida variação de harmônicos, especialmente existentes no instante exato da amostra.
5.0 1.2
Equipamento 1
4.5
Equipamento 2 1.0
4.0
Distorção Harmônica Total (%)

Distorção Harmônica Total (%)

3.5
0.8
3.0

2.5 0.6

2.0
0.4 Equipamento 1
1.5
Equipamento 2
1.0
0.2
0.5

0.0 0.0
Dia 1 Dia 2 Dia 3 Dia 4 Dia 5 Dia 6 Dia 7 Dia 1 Dia 2 Dia 3 Dia 4 Dia 5 Dia 6 Dia 7
Figura 1 - Distorção Harmônica Total de Tensão da Fase A - SE I Figura 2 - Distorção Harmônica Total de Tensão da Fase A - SE II
259
450
2.2 A Normalização da Medição senoidal +6%
400 "plana"
Os casos apresentados mostram claramente a "com pico"
-3%

350
necessidade de se normalizar o protocolo de
medição de harmônicos dos diferentes instrumen- 300

tos. Em geral, sempre que se quiser definir um

Potência (W)
250

indicador e sua gestão, é necessário definir uma 200


forma uniforme de medição, tal que diferentes
150
instrumentos eventualmente usados obtenham
resultados similares. 100
-12%
+13%

50
O caminho mais rápido a seguir seria a adoção
da norma IEC [4], porém deve-se avaliar o impac- 0
3 lâmpadas Todas as cargas
to de tal decisão sobre os agentes do setor elétri- Figura 4 – Potência Ativa com Tensões Não-Senoidais
co. Poucos fabricantes comercializam instrumen-
tos de medição em consonância com a IEC, e tais dores que utilizam fontes chaveadas, simu-
instrumentos em geral são mais caros. Além dis- lando uma carga residencial.
so, vários agentes já investiram quantias signifi- As cargas foram alimentadas por uma fonte de
cativas em outros equipamentos de medição. Em tensão controlada. Foram testadas três condições
contrapartida, deve-se ressaltar que, devido ao de alimentação distintas (ver Figura 3):
efeito “suavizante” que ocorre quando da medi-
ção pela IEC, os resultados obtidos por estes • Tensão senoidal pura com 120 V.
instrumentos são menos conservativos (i.e., ob- • Tensão senoidal de 120 V e 10% de terceiro
têm indicadores de menores valores). harmônico. O ângulo de fase do 3o h é de 0o
com relação à fundamental, resultando em
3.0 - EFEITO DA DISTORÇÃO HARMÔNICA DE uma forma onda “plana”.
TENSÃO NO CONSUMO DE ENERGIA
• Idem, porém com ângulo de fase do 3o h de
A preocupação com o aumento da eficiência e- 180o, resultando em uma forma de onda “com
nergértica tem aumentado substancialmente o pico”. Esta tensão possui a mesma DHT da
uso de lâmpadas fluorescentes compactas. Tais tensão anterior.
equipamentos, embora mais eficientes, causam
distorções harmônicas na rede elétrica que, den- A Figura 4 mostra o resultado da potência ativa
tre outros efeitos, podem levar ao aumento do medida nas duas cargas para cada uma das dife-
consumo de energia das cargas conectadas ao rentes tensões de alimentação ensaiadas. Tam-
mesmo circuito. O exemplo a seguir ilustra este bém é mostrada a variação percentual da potên-
fenômeno. cia em relação ao caso com alimentação senoi-
dal. A Figura 5 mostra a corrente de terceiro har-
3.1 Caso da Carga Residencial mônico nas duas cargas para cada forma de on-
da ensaiada.
Para investigar o comportamento de diferentes
cargas quando alimentadas por tensões não- Observa-se que para ambas as cargas, a potên-
senoidais, foram realizados diversos ensaios em cia ativa foi significativamente maior para a forma
laboratório, em dois tipos de cargas: de onda “com pico”. Em um patamar intermediá-
rio se situou a onda senoidal pura, enquanto que
• 3 lâmpadas fluorescentes tubulares com “rea-
para a forma de onda “plana” a potência ativa foi
tor” eletrônico;
significativamente menor. O resultado de distor-
• associação das 3 lâmpadas fluorescentes ção de corrente de 3o harmônico também foi se-
tubulares a 1 “freezer” vertical e 2 computa-
250 3.5
3.166 A
Forma de Onda
200 "com pico" 2.938 A
3
150 2.707 A
Corrente de Terceiro Harmônico (A)

Associação das Diversas


100 2.5
Senóide Pura Cargas
50
Tensão (V)

2
0
Forma de Onda
-50 "Plana" 1.5 Lâmpadas Fluorescentes
Tubulares
-100
1
-150
0.786 A 0.825 A
-200 0.5 0.670 A

-250
0 0.002 0.004 0.006 0.008 0.01 0.012 0.014 0.016 0
Tempo (s) Senóide Pura Tensão "Plana" Tensão "com pico"
Figura 3 – Formas de Onda de Tensão senoidal, “plana” e “com pico” Figura 5 – Corrente de 3o Harmônico para cada Ensaio
260

melhante à da potência ativa. gar a atração de correntes do sistema por seus


filtros. A metodologia adotada foi a de se desligar
3.2 A Importância da definição de indicadores
sucessivamente as principais cargas, o banco de
O exemplo apresentado mostrou que cargas não capacitor e os filtros, medindo os harmônicos de
lineares, como lâmpadas compactas, têm seu tensão e corrente na entrada da siderúrgica em
desempenho bastante influenciado por harmôni- cada etapa do desligamento, durante 30 minutos.
cos na rede elétrica. Paradoxalmente, o uso des- O instrumento de medição utilizado mede de
te tipo de equipamento introduz mais harmônicos acordo com a norma IEC [4]. A tabela a seguir
no sistema elétrico. O exemplo serve também mostra a seqüência de desligamento dos filtros e
para caracterizar que a potência ativa e conse- do banco de capacitores da siderúrgica.
qüentemente o consumo de energia podem ser
Tabela 1 – Seqüência de Desligamento: Filtros e Banco de Capacitor
significativamente impactados pela forma de onda
o o o o o
da tensão. Capac. 3 h 5 h 7 h 4,9 h 12 h
Etapa 1
O indicador fator de crista mede a relação entre o Etapa 2
pico da forma de onda e o seu valor eficaz [3]. Etapa 3
Este indicador é útil principalmente para o con- Etapa 4
sumidor que possua uma grande quantidade de Etapa 5
Etapa 6
cargas não lineares, como lâmpadas eletrônicas
Legenda: Equipamento ligado
e computadores com fontes chaveadas. Instala-
ções submetidas a formas de onda com mesmos A Figura 7 apresenta os resultados obtidos para
níveis de distorção harmônica total e individual de distorções harmônicas totais na fase A, em % da
tensão podem ter potência ativa e consumo de fundamental para tensão, e em A para corrente,
energia diferentes, dependendo do fator de crista em cada etapa do desligamento.
da tensão. Acredita-se que seja possível melhorar Nota-se que a presença do forno a arco é res-
o consumo e o fator de potência de uma instala- ponsável por grande parte da distorção de tensão
ção que possua elevado número de cargas não- no ponto de acoplamento da usina ao sistema
lineares através da redistribuição das mesmas elétrico.
pelas fases e circuitos, utilizando-se como guia o
fator de crista da tensão. Fornos a arco tipicamente produzem distorções
de 2o harmônico. A Figura 9 mostra as distorções
individuais de tensão na fase A, em % da funda-
4.0 - ATRIBUIÇÃO DE RESPONSABILIDADES
mental, para cada etapa. Além da queda do 2o
POR DISTORÇÕES HARMÔNICAS
harmônico com o desligamento do forno, o 5o e o
Sempre que ocorrem distorções harmônicas no 7o harmônico diminuem bastante. Já o 3o harmô-
sistema elétrico, é importante detectar as fontes nico varia pouco após o desligamento do forno. É
dos harmônicos. Esse problema é particularmen- importante observar que o terceiro harmônico de
te importante na definição de responsabilidades seqüência zero não passa da siderúrgica para o
por distorções no ponto de entrega dos consumi- sistema nem do sistema para a siderúrgica. Outro
dores, mas sua solução não é trivial. O caso a fato interessante a se observar é a queda da
seguir ilustra o problema. distorção de 7o harmônico após o desligamento
do banco de capacitores.
4.1 O Caso da Siderúrgica com Fornos a Arco
Na Figura 8, nota-se que a corrente de 2o harmô-
Técnicos de uma grande usina siderúrgica ques-
nico é desprezível quando da ausência do forno a
tionaram a possibilidade de seus filtros de har-
arco. Também se nota um decréscimo gradativo
mônicos estarem atraindo correntes de outras
nos harmônicos de corrente com os desligamen-
partes do sistema de transmissão ao qual a usina
está conectada. A Figura 6 mostra um diagrama 2 80

unifilar simplificado da usina siderúrgica.


DHT de Corrente (A) - Percentil de 95%
DHT de Tensão (%) - Percentil de 95%

Aproveitando-se um desligamento da usina para 1.5 Distorção de Tensão 60

manutenção durante um feriado, pôde-se investi-


Sistema de Potência
1 40

Barra 138 kV

0.5 Distorção de Corrente 20

L
Fornos a
Laminadores
Arco
40 MVA 3o h 7o h 12o h 0 0
2x75 MVA
Banco de 14 Mvar 5o h 5,5 Mvar 4,9o h 8,2 Mvar Fornos + Lamin. Etapa 1 Etapa 2 Etapa 3 Etapa 4 Etapa 5 Etapa 6
Outras Lamin.
Capacitores 8,2 Mvar 8,2 Mvar
Cargas Filtros
14 Mvar Figura 7 – Distorção Harmônica Total de Tensão (% da fundamen-
Figura 6 – Diagrama Unifilar Simplificado da Siderúrgica tal) e de Corrente (A) na fase A em cada Etapa
261

40 1.2
Segundo Harmônico Segundo Harmônico
Terceiro Harmônico
Distorção de Corrente (A) - Percentil de 95% Terceiro Harmônico Quinto Harmônico

Distorção de Tensão (%) - Percentil de 95%


35
Quinto Harmônico 1.0 Sétimo Harmônico
Sétimo Harmônico
30
0.8
25

20 0.6

15
0.4
10

0.2
5

0 0.0
Fornos + Lamin. Etapa 1 Etapa 2 Etapa 3 Etapa 4 Etapa 5 Etapa 6 Fornos + Lamin. Etapa 1 Etapa 2 Etapa 3 Etapa 4 Etapa 5 Etapa 6
Lamin. Lamin.
Figura 8 – Harmônicos Individuais de Corrente para cada Etapa Figura 9 – Harmônicos Individuais de Tensão para cada Etapa
tos dos filtros. Tal como na distorção de tensão,
observa-se que o 7o harmônico decresce signifi- 5.0 - SOBRECARGA DO NEUTRO QUANDO
cativamente após o desligamento do banco de ALIMENTANDO CARGAS NÃO-LINEARES
capacitores. Os resultados da medição não dei-
xam dúvida de que o forno a arco é a principal Com a proliferação de cargas eletro-eletrônicas e
carga geradora de harmônicos no ponto de aco- não-lineares, vêm surgindo novos problemas
plamento da usina. Porém, também se pôde associados a harmônicos nas redes elétricas. Um
constatar que algumas parcelas significativas da caso típico é a sobrecarga do neutro em sistemas
distorção de corrente na usina vêm do sistema de trifásicos a 4 fios alimentando cargas monofási-
transmissão. Estimou-se que cerca de 13% do 3o cas não-lineares. O problema ocorre mais fre-
harmônico, 9% do 5o harmônico e 25% do 7o qüentemente em escritórios com grande quanti-
harmônico de corrente vêm do sistema elétrico. dade de computadores. O assunto foi objeto de
uma nota técnica publicada pelo ITIC, entidade
4.2 A Sugestão da Metodologia norte-americana que reúne as indústrias de tec-
Embora alguns métodos de atribuição de respon- nologia da informação, já em 1987 [1]. O caso a
sabilidades por distorções harmônicas venham seguir ilustra o problema.
sendo estudados (e.g., [5][6]), ainda não se che- 5.1 O Caso do No-Break de Grande Porte
gou a uma metodologia definitiva, que permita
quantificar a parcela de correntes harmônicas que Um grande centro de processamento de dados
cabe ao consumidor final e ao sistema supridor. possui um no-break trifásico de 60 kVA, que ali-
menta diversas tomadas nas várias salas do pré-
A investigação feita no caso apresentado só foi dio, destinadas a computadores. Foi constatado,
possível graças à ocorrência de uma parada para para surpresa do técnico que realizou a medição,
manutenção de toda usina siderúrgica. Contudo, que o neutro desta instalação estava apresentan-
esta metodologia pode ser generalizada para se do problemas de sobrecarga.
obter um método de estimação da parcela de
responsabilidade de cada sistema. Acredita-se A elevação da corrente de neutro é justificada
que sua principal aplicação seja em grandes con- pela quantidade de computadores com fontes
sumidores, particularmente aqueles que se co- chaveadas. Mesmo em condições de equilíbrio
nectam em alta tensão na Rede Básica e possu- entre as fases, o 3o harmônico e seus múltiplos
em um sistema elétrico composto por diversas são de seqüência zero. Ao contrário da funda-
cargas não lineares bem como bancos de capaci- mental e dos demais harmônicos, que se cance-
tores e filtros. lam, os harmônicos múltiplos inteiros de três se
somam, elevando a corrente no neutro.
Portanto, sugere-se que se aproveite as paradas
para manutenção dos grandes consumidores Foi realizada uma medição mais detalhada das
para se comparar a amplitude das correntes har- correntes do no-break, utilizando-se um equipa-
mônicas medidas no ponto de entrega. O proce- mento de monitoração de qualidade de energia. A
dimento envolve a parada por etapas das diver- tabela a seguir mostra resultados, medidos com o
sas cargas lineares e não lineares bem como o equipamento de monitoração e lidos simultanea-
desligamento gradativo dos bancos de capacito- mente no painel do no-break.
res e filtros.
262
80
Tabela 2 - Correntes Eficazes no No-Break

Neutro (A) Fase C (A Fase B (A Fase A (A


60 Fase A
40
Fase Leitura no Corrente eficaz Ief/Ip 20
0
painel – Ip medida - Ief 80
60 Fase B
A 70 A 92 A 131 % 40
B 35 A 52 A 149 % 20
0
C 41 A 64 A 156 % 80
60
Fase C
Neutro - 100 A - 40
20
Verificou-se que os amperímetros no painel do 0
80
Neutro
60
no-break não medem o valor eficaz real das cor- 40

rentes. Assim, as correntes medidas nas fases, 20


0
0 600 1200 1800 2400 3000 3600
que têm alto nível de distorção harmônica, são Freqüência (Hz)

mais elevadas do que indicado no painel. Calcu- Figura 10 - Espectro de Freqüência das Correntes no No-break
lando a relação entre corrente eficaz e corrente comerciais leva a interações entre harmônicos,
medida no painel, chega-se a um valor máximo que podem ser mais dependentes da forma de
de 156%. onda de tensão do que da sua distorção harmôni-
ca total. Mostrou-se um exemplo em que formas
A Figura 10 mostra o espectro de freqüência nas
de onda “com pico” elevam a potência ativa e o
três fases e no neutro do no-break. Os harmôni-
consumo de energia, quando comparadas a se-
cos mais significativos são os múltiplos de 3,
nóides. No mesmo exemplo, formas de onda
sendo o 3o harmônico o mais elevado. Devido ao
“planas” têm efeito contrário. Sugere-se a defini-
desbalanço de cargas entre as fases, também
ção de um indicador de harmônicos baseado no
aparecem as componentes fundamental e de 5o
fator de crista da tensão que complemente os
harmônico no neutro.
indicadores convencionais de distorção harmôni-
5.2 A Necessidade de Informação ca total.
O caso apresentado mostra que mesmo um pro- Discutiu-se também o caso da responsabilidade
blema relativamente simples é pouco conhecido por harmônicos na rede elétrica, através da análi-
por profissionais de instalações elétricas e condi- se de resultados de medição feitos no ponto de
cionamento de energia. entrega de uma siderúrgica durante uma parada
para manutenção. Mostrou-se que os filtros da
Acredita-se ser de fundamental importância que
siderúrgica atraem harmônicos do sistema e que
informações sobre qualidade de energia sejam
a identificação desta parcela de harmônicos não
disseminadas pela comunidade técnica em geral,
é trivial. A metodologia apresentada mostrou-se
não só através de cursos em universidades e
útil para ajudar a quantificar as parcelas oriundas
escolas técnicas, mas através de cursos de ex-
do consumidor e da rede elétrica da concessioná-
tensão, treinamento profissional in situ, criação de
ria.
cartilhas informativas, etc.

7.0 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


6.0 - CONCLUSÕES
[1] Information Technology Industry Council, “Three Phase Power
Este artigo discute, a partir da análise de casos Source Overloading Caused by Small Computers and Elec-
práticos, alguns fenômenos interessantes associ- tronic Office Equipment”, ITI Information Letter, June 1987
ados a harmônicos nos sistema elétricos. A partir [Online em http://www.itic.org/technical/3phase.htm].
[2] E. H. Watanabe, R. M. Stephan, M. Aredes, “New Concepts of
das conclusões e observações feitas sobre cada
Instantaneous Active and Reactive Powers in electrical Sys-
caso analisado, identificam-se algumas importan- tems with Generic Loads”, IEEE Trans. on Power Delivery,
tes áreas de atuação em QEE no futuro. Vol. 8, pp 697 -703, April 1993.
[3] A. Mansoor; W. M. Grady; R. S. Thallam, M. T. Doyle, S. D.
O problema da sobrecarga do neutro devido a Krein, M. J. Samotyj “Effect of Supply Voltage on the Input
cargas não lineares monofásicas, que pode afetar Current of Single-Phase Diode Bridge Rectifier Loads”, IEEE
principalmente consumidores residenciais e co- Trans. on Power Delivery, Vol. 10, pp 214 -219, July 1995.
merciais, permite concluir que a QEE não pode [4] IEC International Standard 61000-4-7. Electromagnetic com-
patibility (EMC) - Part 4-7: Testing and measurement tech-
ser um assunto dominado apenas por especialis- niques - General guide on harmonics and interharmonics
tas. Há a necessidade de melhor informação dos measurements and instrumentation, for power supply systems
profissionais de níveis técnico e superior. and equipment connected thereto, August 2002.
[5] R. Bergeron, K. Slimani, “A method for the determination of
Viu-se que dois instrumentos diferentes podem the customers share of the contribution to the level of harmonic
responder de maneiras bastante distintas quando voltage on an electric network”, Proc. of the IEEE Power En-
medem harmônicos. Assim, a definição de limites gineering Society Summer Meeting, Vol. 1, pp 354 -360, Ed-
e indicadores para fenômenos de QEE necessita monton, Canada, July 1999.
[6] W. Xu; X. Liu; Y. Liu, “An investigation on the validity of
da normalização de instrumentos. power-direction method for harmonic source determination”,
A proliferação do uso de equipamentos não linea- IEEE Trans. on Power Delivery, Vol. 18, pp 214 -219, January
res em residências, indústrias e estabelecimentos 2003.

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