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difícil encontrar dois equipamentos que meçam nos momentos iniciais da “corrida” do forno. En-
exatamente da mesma forma. Os casos a seguir quanto o Equipamento I obteve um percentil de
apresentam resultados comparativos entre dois 95% semanal de DHT (DHT95%) de 2,46 %, o
medidores diferentes em duas monitorações dis- Equipamento II obteve um DHT95% de 1,57 %. O
tintas. desvio padrão das medições no Equipamento I foi
mais que duas vezes maior do que no Equipa-
2.1 Casos da Siderúrgica e da Indústria de
mento II (0,68% no primeiro contra 0,28 % no
Alumínio
segundo), apesar de ambos terem obtido valores
Para investigar as respostas de diferentes medi- médios aproximadamente iguais para as medi-
dores de harmônicos, o ONS organizou duas ções (1,14 % e 1,12 %, respectivamente).
campanhas de medição, de uma semana cada,
A Figura 2 mostra a DHT na fase A, em % da
nas quais vários instrumentos foram utilizados.
fundamental, medida na SE II a cada 10 minutos.
Os pontos de monitoração tinham as seguintes
A carga principal da subestação, uma indústria de
características:
alumínio com grandes retificadores, tem como
• SE I: subestação em 138 kV cuja principal característica uma variação lenta do seu conteú-
carga é uma grande siderúrgica com forno a do harmônico.
arco; Neste caso, os equipamentos respondem de
• SE II: subestação em 230 kV cuja principal forma bastante similar: enquanto o Equipamento I
carga é uma indústria de alumínio com retifi- obteve um DHT95% 0,98 %, o Equipamento II ob-
cadores. teve um DHT95% de 1,00 %. Os valores médios
foram 0,83 % e 0,87 % e os desvios padrões
Os resultados aqui comparados correspondem a foram 0,09 % e 0,08 %, respectivamente.
dois equipamentos de medição de harmônicos,
medindo o mesmo sinal de tensão, cujas princi- O cálculo do índice agregado de 10 minutos atra-
pais características são: vés da média quadrática, obtido pelo Equipamen-
to II, tem um efeito suavizante das rápidas varia-
• Equipamento I: a cada 10 minutos, são regis- ções de DHT registradas pelo Equipamento I.
trados os resultados de uma FFT realizada Quando a distorção de tensão varia lentamente,
em janela de 1 ciclo com 128 amostras. Mede como na SE II, ambos os equipamentos respon-
a distorção harmônica total (DHT) e individual dem de forma similar.
até a 63a ordem;
O Equipamento II, que mede harmônicos de a-
• Equipamento II: mede harmônicos de acordo cordo com a norma IEC [4], calcula o indicador
com protocolo definido pela IEC [4], utilizando agregado de 10 minutos fazendo três suaviza-
janelas de 12 ciclos e 128 amostras/ciclo. A ções sucessivas: utilização de janelas de 12 ci-
cada 3 s, os resultados são agregados atra- clos, agregação em intervalos de 3 s e agregação
vés de uma média quadrática. Posteriormen- em intervalos de 10 minutos, por média quadráti-
te, os resultados de 3 s são agregados a ca- ca obtida a partir dos resultados obtidos para o
da 10 minutos por nova média quadrática. intervalo imediatamente inferior. No caso da jane-
Mede a distorção harmônica total (DHT), dis- la de 12 ciclos, possíveis diferenças entre ciclos
torções individuais e interharmônicos. aparecem na forma de interharmônicos e su-
bharmônicos. O Equipamento I, que não mede de
A Figura 1 mostra a distorção harmônica total de acordo com a norma IEC, não faz qualquer agre-
tensão na fase A, em % da fundamental, medida gação de valores harmônicos ao longo do interva-
na SE I em intervalos de 10 minutos. A carga lo de medição. Conseqüentemente os resultados
principal da subestação, uma siderúrgica com um obtidos são mais “agudos”, isto é, apresentam
grande forno a arco, tem como característica a grande variação dependendo dos harmônicos
rápida variação de harmônicos, especialmente existentes no instante exato da amostra.
5.0 1.2
Equipamento 1
4.5
Equipamento 2 1.0
4.0
Distorção Harmônica Total (%)
3.5
0.8
3.0
2.5 0.6
2.0
0.4 Equipamento 1
1.5
Equipamento 2
1.0
0.2
0.5
0.0 0.0
Dia 1 Dia 2 Dia 3 Dia 4 Dia 5 Dia 6 Dia 7 Dia 1 Dia 2 Dia 3 Dia 4 Dia 5 Dia 6 Dia 7
Figura 1 - Distorção Harmônica Total de Tensão da Fase A - SE I Figura 2 - Distorção Harmônica Total de Tensão da Fase A - SE II
259
450
2.2 A Normalização da Medição senoidal +6%
400 "plana"
Os casos apresentados mostram claramente a "com pico"
-3%
350
necessidade de se normalizar o protocolo de
medição de harmônicos dos diferentes instrumen- 300
Potência (W)
250
50
O caminho mais rápido a seguir seria a adoção
da norma IEC [4], porém deve-se avaliar o impac- 0
3 lâmpadas Todas as cargas
to de tal decisão sobre os agentes do setor elétri- Figura 4 – Potência Ativa com Tensões Não-Senoidais
co. Poucos fabricantes comercializam instrumen-
tos de medição em consonância com a IEC, e tais dores que utilizam fontes chaveadas, simu-
instrumentos em geral são mais caros. Além dis- lando uma carga residencial.
so, vários agentes já investiram quantias signifi- As cargas foram alimentadas por uma fonte de
cativas em outros equipamentos de medição. Em tensão controlada. Foram testadas três condições
contrapartida, deve-se ressaltar que, devido ao de alimentação distintas (ver Figura 3):
efeito “suavizante” que ocorre quando da medi-
ção pela IEC, os resultados obtidos por estes • Tensão senoidal pura com 120 V.
instrumentos são menos conservativos (i.e., ob- • Tensão senoidal de 120 V e 10% de terceiro
têm indicadores de menores valores). harmônico. O ângulo de fase do 3o h é de 0o
com relação à fundamental, resultando em
3.0 - EFEITO DA DISTORÇÃO HARMÔNICA DE uma forma onda “plana”.
TENSÃO NO CONSUMO DE ENERGIA
• Idem, porém com ângulo de fase do 3o h de
A preocupação com o aumento da eficiência e- 180o, resultando em uma forma de onda “com
nergértica tem aumentado substancialmente o pico”. Esta tensão possui a mesma DHT da
uso de lâmpadas fluorescentes compactas. Tais tensão anterior.
equipamentos, embora mais eficientes, causam
distorções harmônicas na rede elétrica que, den- A Figura 4 mostra o resultado da potência ativa
tre outros efeitos, podem levar ao aumento do medida nas duas cargas para cada uma das dife-
consumo de energia das cargas conectadas ao rentes tensões de alimentação ensaiadas. Tam-
mesmo circuito. O exemplo a seguir ilustra este bém é mostrada a variação percentual da potên-
fenômeno. cia em relação ao caso com alimentação senoi-
dal. A Figura 5 mostra a corrente de terceiro har-
3.1 Caso da Carga Residencial mônico nas duas cargas para cada forma de on-
da ensaiada.
Para investigar o comportamento de diferentes
cargas quando alimentadas por tensões não- Observa-se que para ambas as cargas, a potên-
senoidais, foram realizados diversos ensaios em cia ativa foi significativamente maior para a forma
laboratório, em dois tipos de cargas: de onda “com pico”. Em um patamar intermediá-
rio se situou a onda senoidal pura, enquanto que
• 3 lâmpadas fluorescentes tubulares com “rea-
para a forma de onda “plana” a potência ativa foi
tor” eletrônico;
significativamente menor. O resultado de distor-
• associação das 3 lâmpadas fluorescentes ção de corrente de 3o harmônico também foi se-
tubulares a 1 “freezer” vertical e 2 computa-
250 3.5
3.166 A
Forma de Onda
200 "com pico" 2.938 A
3
150 2.707 A
Corrente de Terceiro Harmônico (A)
2
0
Forma de Onda
-50 "Plana" 1.5 Lâmpadas Fluorescentes
Tubulares
-100
1
-150
0.786 A 0.825 A
-200 0.5 0.670 A
-250
0 0.002 0.004 0.006 0.008 0.01 0.012 0.014 0.016 0
Tempo (s) Senóide Pura Tensão "Plana" Tensão "com pico"
Figura 3 – Formas de Onda de Tensão senoidal, “plana” e “com pico” Figura 5 – Corrente de 3o Harmônico para cada Ensaio
260
Barra 138 kV
L
Fornos a
Laminadores
Arco
40 MVA 3o h 7o h 12o h 0 0
2x75 MVA
Banco de 14 Mvar 5o h 5,5 Mvar 4,9o h 8,2 Mvar Fornos + Lamin. Etapa 1 Etapa 2 Etapa 3 Etapa 4 Etapa 5 Etapa 6
Outras Lamin.
Capacitores 8,2 Mvar 8,2 Mvar
Cargas Filtros
14 Mvar Figura 7 – Distorção Harmônica Total de Tensão (% da fundamen-
Figura 6 – Diagrama Unifilar Simplificado da Siderúrgica tal) e de Corrente (A) na fase A em cada Etapa
261
40 1.2
Segundo Harmônico Segundo Harmônico
Terceiro Harmônico
Distorção de Corrente (A) - Percentil de 95% Terceiro Harmônico Quinto Harmônico
20 0.6
15
0.4
10
0.2
5
0 0.0
Fornos + Lamin. Etapa 1 Etapa 2 Etapa 3 Etapa 4 Etapa 5 Etapa 6 Fornos + Lamin. Etapa 1 Etapa 2 Etapa 3 Etapa 4 Etapa 5 Etapa 6
Lamin. Lamin.
Figura 8 – Harmônicos Individuais de Corrente para cada Etapa Figura 9 – Harmônicos Individuais de Tensão para cada Etapa
tos dos filtros. Tal como na distorção de tensão,
observa-se que o 7o harmônico decresce signifi- 5.0 - SOBRECARGA DO NEUTRO QUANDO
cativamente após o desligamento do banco de ALIMENTANDO CARGAS NÃO-LINEARES
capacitores. Os resultados da medição não dei-
xam dúvida de que o forno a arco é a principal Com a proliferação de cargas eletro-eletrônicas e
carga geradora de harmônicos no ponto de aco- não-lineares, vêm surgindo novos problemas
plamento da usina. Porém, também se pôde associados a harmônicos nas redes elétricas. Um
constatar que algumas parcelas significativas da caso típico é a sobrecarga do neutro em sistemas
distorção de corrente na usina vêm do sistema de trifásicos a 4 fios alimentando cargas monofási-
transmissão. Estimou-se que cerca de 13% do 3o cas não-lineares. O problema ocorre mais fre-
harmônico, 9% do 5o harmônico e 25% do 7o qüentemente em escritórios com grande quanti-
harmônico de corrente vêm do sistema elétrico. dade de computadores. O assunto foi objeto de
uma nota técnica publicada pelo ITIC, entidade
4.2 A Sugestão da Metodologia norte-americana que reúne as indústrias de tec-
Embora alguns métodos de atribuição de respon- nologia da informação, já em 1987 [1]. O caso a
sabilidades por distorções harmônicas venham seguir ilustra o problema.
sendo estudados (e.g., [5][6]), ainda não se che- 5.1 O Caso do No-Break de Grande Porte
gou a uma metodologia definitiva, que permita
quantificar a parcela de correntes harmônicas que Um grande centro de processamento de dados
cabe ao consumidor final e ao sistema supridor. possui um no-break trifásico de 60 kVA, que ali-
menta diversas tomadas nas várias salas do pré-
A investigação feita no caso apresentado só foi dio, destinadas a computadores. Foi constatado,
possível graças à ocorrência de uma parada para para surpresa do técnico que realizou a medição,
manutenção de toda usina siderúrgica. Contudo, que o neutro desta instalação estava apresentan-
esta metodologia pode ser generalizada para se do problemas de sobrecarga.
obter um método de estimação da parcela de
responsabilidade de cada sistema. Acredita-se A elevação da corrente de neutro é justificada
que sua principal aplicação seja em grandes con- pela quantidade de computadores com fontes
sumidores, particularmente aqueles que se co- chaveadas. Mesmo em condições de equilíbrio
nectam em alta tensão na Rede Básica e possu- entre as fases, o 3o harmônico e seus múltiplos
em um sistema elétrico composto por diversas são de seqüência zero. Ao contrário da funda-
cargas não lineares bem como bancos de capaci- mental e dos demais harmônicos, que se cance-
tores e filtros. lam, os harmônicos múltiplos inteiros de três se
somam, elevando a corrente no neutro.
Portanto, sugere-se que se aproveite as paradas
para manutenção dos grandes consumidores Foi realizada uma medição mais detalhada das
para se comparar a amplitude das correntes har- correntes do no-break, utilizando-se um equipa-
mônicas medidas no ponto de entrega. O proce- mento de monitoração de qualidade de energia. A
dimento envolve a parada por etapas das diver- tabela a seguir mostra resultados, medidos com o
sas cargas lineares e não lineares bem como o equipamento de monitoração e lidos simultanea-
desligamento gradativo dos bancos de capacito- mente no painel do no-break.
res e filtros.
262
80
Tabela 2 - Correntes Eficazes no No-Break
mais elevadas do que indicado no painel. Calcu- Figura 10 - Espectro de Freqüência das Correntes no No-break
lando a relação entre corrente eficaz e corrente comerciais leva a interações entre harmônicos,
medida no painel, chega-se a um valor máximo que podem ser mais dependentes da forma de
de 156%. onda de tensão do que da sua distorção harmôni-
ca total. Mostrou-se um exemplo em que formas
A Figura 10 mostra o espectro de freqüência nas
de onda “com pico” elevam a potência ativa e o
três fases e no neutro do no-break. Os harmôni-
consumo de energia, quando comparadas a se-
cos mais significativos são os múltiplos de 3,
nóides. No mesmo exemplo, formas de onda
sendo o 3o harmônico o mais elevado. Devido ao
“planas” têm efeito contrário. Sugere-se a defini-
desbalanço de cargas entre as fases, também
ção de um indicador de harmônicos baseado no
aparecem as componentes fundamental e de 5o
fator de crista da tensão que complemente os
harmônico no neutro.
indicadores convencionais de distorção harmôni-
5.2 A Necessidade de Informação ca total.
O caso apresentado mostra que mesmo um pro- Discutiu-se também o caso da responsabilidade
blema relativamente simples é pouco conhecido por harmônicos na rede elétrica, através da análi-
por profissionais de instalações elétricas e condi- se de resultados de medição feitos no ponto de
cionamento de energia. entrega de uma siderúrgica durante uma parada
para manutenção. Mostrou-se que os filtros da
Acredita-se ser de fundamental importância que
siderúrgica atraem harmônicos do sistema e que
informações sobre qualidade de energia sejam
a identificação desta parcela de harmônicos não
disseminadas pela comunidade técnica em geral,
é trivial. A metodologia apresentada mostrou-se
não só através de cursos em universidades e
útil para ajudar a quantificar as parcelas oriundas
escolas técnicas, mas através de cursos de ex-
do consumidor e da rede elétrica da concessioná-
tensão, treinamento profissional in situ, criação de
ria.
cartilhas informativas, etc.