Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Resumo Este trabalho tem por objetivo apresentar análises indicadores definidas pela International Electrotechnical
para qualificação e quantificação das causas associadas aos Commission – IEC [3].
desvios de resultados em relação a um valor padrão Embora os equipamentos encontrados comercialmente
eventualmente registrados por medidores de parâmetros de utilizem as mais modernas tecnologias disponíveis a nível
qualidade da energia elétrica durante ensaios de calibração
mundial, no que tange ao hardware, e ainda, obedeçam aos
realizados pelo Núcleo de Qualidade e Racionalização da
Energia Elétrica da Universidade Federal de Uberlândia.
limites e procedimentos estabelecidos pela IEC, objetivando
Especificamente, são apresentados os efeitos da forma de cálculo dirimir quaisquer dúvidas e disparidades entre medições
dos valores eficazes das ondas de tensão na quantificação da realizadas por equipamentos de fabricantes diferentes, tais
duração e amplitude das variações de tensão de curta duração. equipamentos necessitam ser submetidos a testes de
Adicionalmente, são também apresentadas as diferenças calibração e certificação, a exemplo dos testes de certificação
existentes entre os diversos métodos disponíveis para “Classe A” realizados a nível internacional. No Brasil,
quantificação dos desequilíbrios de tensão, assim como os entretanto, não existem laboratórios credenciados para
impactos decorrentes das diferentes formas de cálculo dos emissão de certificados de calibração para os medidores de
valores médios das grandezas eficazes registradas pelos parâmetros de qualidade da energia elétrica.
medidores de parâmetros de qualidade da energia
elétrica (QEE).
Nesse contexto, embora não possua autorização para
emissão de certificados de calibração, por volta de 2003, o
Palavras-chaves Medidores de parâmetros de qualidade da Núcleo de Qualidade e Racionalização da Energia Elétrica
energia elétrica, testes de calibração, valores eficazes, VTCDs, (NQREE) da Universidade Federal de Uberlândia, com o
desequilíbrios de tensão. apoio de órgãos do setor elétrico, visando atender ao módulo
8 do PRODIST, desenvolveu uma proposta com uma rotina
I. INTRODUÇÃO de ensaios que contemplam os indicadores de qualidade da
energia, visando realizar testes de desempenho em medidores
Ao longo das últimas duas décadas, a qualidade da energia de QEE a fim de garantir a conformidade necessária para
elétrica (QEE) vem ganhando regulamentações específicas uma correta avaliação da qualidade nos sistemas de energia
em diversos países do mundo. No Brasil, especificamente, a elétrica, por solicitação direta de fabricantes nacionais e
regulamentação da qualidade da energia elétrica ainda é internacionais. Desde então, já foram realizados inúmeros
bastante preliminar, resumindo-se em módulos específicos1 testes e avaliados diversos equipamentos ao longo desses
em dois diferentes documentos normativos: os Procedimentos anos.
de Rede [1], para o caso dos sistemas de transmissão de Diante dessa conjuntura, o NQREE adquiriu uma grande
energia elétrica, em tensões iguais ou superiores a 230 kV, e experiência no processo de avaliação de desempenho de
os Procedimentos de Distribuição - PRODIST [2] para o caso medidores de parâmetros de qualidade da energia elétrica.
dos sistemas de distribuição de energia elétrica, com tensões Em geral, alguns equipamentos não obtiveram resultados
iguais ou inferiores a 138 kV. Em ambos os documentos satisfatórios durante os testes realizados, por vários motivos,
foram definidos os parâmetros para avaliação da qualidade da destacando entre estes: a forma de cálculo dos valores
onda da tensão, a saber: distorções harmônicas, eficazes das tensões, a qual influencia diretamente na
desequilíbrios, flutuações de tensão e variações de tensão de determinação da magnitude e duração de variações de tensão
curta duração. de curta duração (VTCDs); a metodologia escolhida para o
A monitoração dos parâmetros de qualidade da energia cálculo de desequilíbrio de tensão e, por fim, a forma de
nos sistemas elétricos é realizada através de modernos cálculo utilizada para a determinação de valores médios, qual
medidores eletrônicos, cujos protocolos seguem, seja, média aritmética ou média quadrática. Deve-se ressaltar
invariavelmente, as metodologias de quantificação de que os ensaios realizados não têm o objetivo de reprovar
equipamentos, mas sim, contribuir para a adequação dos
J. R. Macedo Jr., jrubens@ieee.org, I. N. Gondim, equipamentos avaliados aos procedimentos e legislações
gondim.isaque@gmail.com, J. A. F. Barbosa Jr., johnareis@gmail.com, C. exigidos no Brasil.
E. Tavares, carlosetavares@yahoo.com.br, Tel. +55-34-3239-4701, Fax Diante do exposto, o presente artigo tem por objetivo
+55-34-3239-4763;
Os autores expressam seus agradecimentos a CAPES, CNPq e a FAPEMIG abordar as questões supramencionadas, buscando despertar e
pelas bolsas de mestrado e de doutorado no programa de Pós-Graduação da promover discussões que venham a contribuir para o
FEELT-UFU e outros apoios financeiros que viabilizaram a pesquisa.
843
Capa Boas-vindas da CBQEE Organização Patrocinadores Palestras Plenárias Programa Áreas Autores Títulos Busca de Artigos
844
Capa Boas-vindas da CBQEE Organização Patrocinadores Palestras Plenárias Programa Áreas Autores Títulos Busca de Artigos
Fig. 4. Deslizamento da janela amostral a cada ½ ciclo com (a) cálculo dos
valores RMS a cada ciclo e (b) cálculo dos valores RMS a cada ½ ciclo.
845
Capa Boas-vindas da CBQEE Organização Patrocinadores Palestras Plenárias Programa Áreas Autores Títulos Busca de Artigos
amplitude, os erros obtidos foram próximos a 1 ciclo de Também nesses casos, para agravamento da situação, os
duração. efeitos da forma de cálculo dos valores RMS são
Outro parâmetro importante dos atributos do evento, em intensificados, conforme pode ser observado na Fig. 9, na
relação ao cálculo dos valores eficazes, é o ponto sobre a qual um mesmo evento de AMT, com 20% de amplitude e 1
onda de tensão instantânea no qual o evento se inicia. ciclo de duração, tem a sua duração calculada a partir de
A Fig. 7 mostra dois eventos de AMT, com mesma duração e janelas amostrais de 1 ciclo de duração e modos de
amplitude, ocorridos em pontos distintos da onda instantânea deslizamento de janela variáveis. Os resultados obtidos
da tensão. Os resultados obtidos são bastante divergentes. mostram que nos casos de eventos de AMT de curtíssima
Para o evento iniciado na passagem por zero da onda de duração, além das diferenças obtidas nas durações eventos,
tensão, a duração calculada para o AMT foi de 85,68 ms observam-se também elevadas alterações nas amplitudes dos
(desvio de apenas 0,35 ms). Por outro lado, quando o mesmo mesmos.
evento é iniciado com atraso aproximado de 45 graus
elétricos em relação à passagem pelo zero de tensão, o
resultado obtido foi de 94,27 ms, o que representa um desvio
de 10,94 ms.
1 N
x12 + x 22 + x 32 + L + x N2 (2)
Xq =
N
∑ xi2 =
i =1 N
1 N
x1 + x 2 + x 3 + L + x N (3)
Xa =
N
∑x
i =1
i =
N
846
Capa Boas-vindas da CBQEE Organização Patrocinadores Palestras Plenárias Programa Áreas Autores Títulos Busca de Artigos
TABELA I. DISTORÇÃO INDIVIDUAL DE TENSÃO limite recomendado pelo PRODIST (10%), enquanto que
Tempo 3ªh (%) 5ªh (%) 7ªh (%) 11ªh (%) 13ªh (%) pela média aritmética o valor obtido (10,2%) viola este
0 3 2 2,5 2 1,5 limite. Tais resultados alertam a necessidade de uma
0,6 3 10 2,5 2 1,5
1,2 3 15 2,5 2 1,5
padronização deste cálculo.
1,8 3 6 2,5 2 1,5
2,4 3 2 2,5 2 1,5 IV. ANÁLISE DOS DIFERENTES MÉTODOS PARA O CÁLCULO
DOS DESEQUILÍBRIOS DE TENSÃO
As Figs. 10 e 11 permitem visualizar, respectivamente, a
variação da 5ªh e da Distorção Harmônica Total da Tensão O desequilíbrio de tensão em um sistema elétrico trifásico
(DTT) no decorrer do tempo, onde a DTT é dada pela é uma condição na qual as fases apresentam tensão com
equação (4). módulos diferentes entre si, ou defasagem angular entre as
fases diferentes de 120° elétricos ou, ainda, as duas condições
hmáx simultaneamente. Dentre os fatores mais comuns que podem
2
∑V h levar à sua ocorrência pode-se citar: cargas trifásicas
DTT% = h =2
×100 = V%22 + V%23 + V%24 + L + V%2h (4) desequilibradas, desigualdade na distribuição de cargas
V1 monofásicas, linhas de transmissão mal transpostas e ainda
sobreaquecimentos, mau funcionamento e/ou falhas dos
dispositivos.
O cálculo do nível do desequilíbrio de tensão, conhecido
como fator K ou Fator de Desequilíbrio (FD) pode ser feito
através de quatro diferentes métodos [4]:
V− (5)
K % = FD% = × 100
V+
Onde:
Fig. 10. Distorção Individual de Tensão – 5ª ordem. V- Módulo da tensão de sequência negativa;
V+ Módulo da tensão de sequência positiva;
• Método CIGRÉ
1 − 3 − 6β
K % = FD% × 100 (6)
1 + 3 − 6β
Sendo:
847
Capa Boas-vindas da CBQEE Organização Patrocinadores Palestras Plenárias Programa Áreas Autores Títulos Busca de Artigos
• Método IEEE sempre valores bem maiores que os indicados pelos demais
métodos. Considerando que o método das componentes
3 ⋅ (Vmáx − Vmín ) simétricas é o adotado como referência nos documentos de
K % = FD% = × 100 % (9)
Vab + Vbc + Vca regulamentação nacional, referências [1] e [2], conclui-se que
Onde: o método CIGRÉ pode ser amplamente utilizado com a
Vmáx - Maior valor dentre os módulos das tensões vantagem de ter grande simplicidade de implementação em
trifásicas; equipamentos de medição, pelo fato de utilizar apenas as
Vmin - Menor valor dentre os módulos das tensões tensões de linha da rede monitorada.
trifásicas;
Vab, Vbc, Vca - Módulo das tensões trifásicas V. CONCLUSÕES
O presente artigo contemplou alguns aspectos práticos
Para fazer uma comparação entre os métodos relacionados a testes de desempenho em medidores de
apresentados, a tabela III indica alguns valores hipotéticos de parâmetros de qualidade da energia elétrica, realizados pelo
tensões de fase de uma rede elétrica com tensão nominal de Núcleo de Qualidade e Racionalização da Energia Elétrica da
127 V. Quatro situações foram elaboradas em forma de casos Universidade Federal de Uberlândia.
que envolvam as possíveis combinações de características já Através dos ensaios realizados foi possível observar que
apresentadas que levam ao desequilíbrio. O primeiro caso algumas questões associadas ao tratamento dos dados
corresponde a valores aleatórios de tensões, diferentes do advindos da medição podem gerar divergências nos
valor nominal, com ângulos defasados exatamente de 120º resultados apresentados pelos medidores de QEE. Tais
elétricos. O segundo caso compreende de tensões de 127 V, aspectos puderam ser observados principalmente no cálculo
mas com ângulos de defasagem diferentes de 120º elétricos. dos valores eficazes (RMS) das tensões e durações dos
O terceiro caso dispõe de valores aleatórios tanto em ângulo VTCDs que, dependendo do tamanho da janela de cálculo
como em magnitude de tensão diferentes do nominal e o dos valores eficazes, assim como da forma de deslizamento
quarto tem a mesma característica do terceiro, porém com da referida janela, resultam divergências de resultados
valores que levem a um desequilíbrio mais acentuado. superiores a 10%. Da mesma maneira isso também ocorreu
TABELA III. CASOS ESTUDADOS – TENSÃO DESEQUILIBRADA para o cálculo da média dos valores representativos das
Va Vb Vc
grandezas a cada dez minutos. Neste último, verificou-se que,
Caso Módulo Ângulo Módulo Ângulo Módulo Ângulo dependendo do tipo de equacionamento utilizado, resultados
(V) (Graus) (V) (Graus) (V) (Graus) divergentes podem ser obtidos, comprometendo assim a
1 120,3 0 130,5 -120,0 126,3 120,0 análise quanto a violação dos limites estabelecidos para os
2 127,0 -5,0 127,0 -110,0 127,0 132,0 indicadores de QEE. Outra questão abordada foi sobre os
3 127,6 0 126,7 -120,2 126,7 120,2
4 125,3 37,0 128,5 -80 126,8 155,0 métodos para o cálculo dos desequilíbrios de tensão. No que
tange aos estudos realizados sobre este assunto, verificou-se
A Fig. 12 mostra os resultados obtidos para o cálculo do concordância de resultados apenas em dois dos quatro
desequilíbrio pelos métodos apresentados para os casos métodos avaliados para as diversas condições de ângulo e
propostos. magnitude de tensão que caracterizam o desequilíbrio. Em
um dos métodos verificou-se uma grande discordância em
relação aos valores apresentados pelos outros.
Os estudos apresentados alertam para a necessidade de
padronização dos métodos de cálculo dos indicadores de
qualidade de energia elétrica e de reflexões para o
estabelecimento de protocolos de medição específicos a
serem futuramente definidos pela ANEEL.
REFERÊNCIAS
[1] ONS – Operador Nacional do Sistema Elétrico. Procedimentos de
Rede, Submódulo 2.8. “Gerenciamento dos indicadores de
desempenho da rede básica e dos barramentos dos transformadores de
Fig. 12. Análise comparativa dos métodos para o cálculo dos desequilíbrios fronteira, e de seus componentes”.
de tensão. [2] ANEEL – Agência Nacional de Energia Elétrica. “Procedimentos de
Distribuição – PRODIST”. Módulo 8, Qualidade da Energia Elétrica.
Conforme indicado na figura anterior, pode-se perceber que o [3] IEC 61000-4-30: 2008, Edition 2, Electromagnetic compatibility
método das componentes simétricas e o método do CIGRÉ (EMC) – Testing and measurement techniques – Power quality
resultam em indicadores de desequilíbrio exatamente iguais measurement methods.
em todos os casos avaliados. Verifica-se que o método [4] A. L. F. Filho, M. A. Oliveira E M. G. S. Pinto, “Ferramenta
Computacional para Quantificação e Qualificação do Desequilíbrio de
NEMA apresenta um bom grau de concordância em relação Tensão” , VI SBQEE, Pará, ago., 2005.
aos dois métodos anteriores, mas que diverge quando a [5] Dugan, R. C.; Mcgranaghan, M. F.; Beauty, H. W.; Electrical Power
diferença angular é fixada em 120º ou à medida que o System Quality, Editora McGraw-Hill, EUA, 1996.
desequilíbrio aumenta. Já o método do IEEE apresenta
848