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Quem acha que a independência foi só o famoso grito "Independência ou Morte!" de d. Pedro I
às margens do Ipiranga? Pois não foi, não. Durante nossa história tivemos
muitas lutas pela independência, todas reprimidas pelo governo português.
As mais famosas foram a Inconfidência Mineira, em Minas Gerais, no ano
de 1789 _ aquela que acabou levando Tiradentes à forca; a Conjuração
Baiana, também conhecida como Revolta dos Alfaiates, na Bahia, quase dez
anos depois, em 1798; e a Revolução Pernambucana, em 1817 (quase 20
anos depois da revolução baiana!) E o grito de d. Pedro só foi acontecer no
dia 7 de setembro de 1822, cinco anos mais tarde.
Aqui você vai saber tudo sobre a Independência do Brasil! Vamos lá? Pra começar, fique
sabendo que o Brasil era a galinha dos ovos de ouro de Portugal...
O CABO DE GUERRA
Napoleão Bonaparte, imperador da França, tornou-se um temido
conquistador e dominou muitas terras na Europa. Só que a bronca de
Napoleão era com a Inglaterra, um dos países mais ricos e poderosos do
mundo na época.
Napoleão queria que a França fosse a mais rica e poderosa (coisas de
imperador). E por isso decretou o bloqueio comercial à Inglaterra:
ninguém poderia vender nem comprar nenhum produto inglês. Se algum
país se atrevesse, Napoleão o invadiria e pronto _ babau país!
Portugal ficou numa enrascada daquelas: devia muito dinheiro à Inglaterra, por isso não podia
simplesmente virar-lhe as costas. Mas ao mesmo tempo tinha muito medo de Napoleão _ quem
não tinha? Por isso ficou em cima do muro enquanto foi possível. A Inglaterra puxando de um
lado e a França, do outro. Até que Napoleão se encheu desse chove-não-molha e invadiu
Portugal. Era o começo do século 19 e o ano era 1807.
Aí começa outra história: a de uma família fujona e piolhenta!
A FAMÍLIA FUJONA (E PIOLHENTA)
Foi um Deus-nos-acuda! D. João, que reinava na época, sabia
que Portugal não tinha cacife para lutar contra Napoleão. E sabia
que sua cabeça estava a prêmio. Por isso, decidiu fugir _
rapidinho! E... adivinhe para onde? Para o Brasil, lógico, bem
longe mesmo das terríveis garras napoleônicas!
O embarque não foi fácil. Todos estavam apavorados. Entre
10 e 15 mil pessoas embarcaram em navios rumo ao Brasil, bem protegidos pela frota inglesa. D.
João tinha decidido transferir a Corte para o Brasil, e por isso trouxe tudo: seus ministros,
conselheiros, juízes da Corte Suprema, funcionários do Tesouro Real (e o próprio tesouro real,
que ele não ia deixar para Napoleão), funcionários do Exército e da Marinha (ainda não existia a
Aeronáutica porque Santos Dumont não tinha inventado o avião), além de muitos padres e
bispos. D. João trouxe também várias bibliotecas, o arquivo do governo e uma máquina
impressora.
A viagem também não foi moleza, com direito a tempestade, falta de comida e higiene, e até
ataque de piolhos _ todo mundo foi obrigado a raspar a cabeça! Mas, apesar de todos os apuros,
em janeiro de 1808, chegava a Família Real ao Rio de Janeiro.
Encontraram um Brasil "bebê", que estava ainda engatinhando...
O BRASIL ENGATINHAVA...
Chegando ao Brasil, d. João declarou guerra à França. E abriu os portos
brasileiros às "nações amigas" _ que, no caso, era só a grande parceira
Inglaterra. E ela ficou feliz da vida: agora podia comercializar livremente
com o Brasil e ganhar muito dinheiro. Os ingleses vendiam produtos
manufaturados (industrializados) para o Brasil por um preço bem alto e
compravam matéria-prima (algodão, metais, comida) bem baratinho. Um negócio da China!
Em 1815, Napoleão foi derrotado e o Brasil, elevado à categoria de Reino Unido a Portugal e
Algarves. Isso o tirou da situação de colônia, e para a Corte não ficou tão chato _ agora eles
viviam num reino e não numa colônia.
Agora o Brasil estava bem mais perto da independência. Pelo menos
tinha deixado de ser colônia, e a Família Real morava aqui, e não em
Portugal.
Aliás, Portugal não ficou nem um pouco contente com isso... Sabe por
quê?
PORTUGAL FICA COM HUMOR PÉSSIMO
Não era para menos: de uma hora para outra, Portugal se viu ao deus-
dará, sem rei, no meio de uma guerra, e pior _ sem poder contar com sua
galinha dos ovos de ouro! Enquanto o Brasil prosperava (d. João criou bibliotecas, teatros, ruas,
órgãos públicos e o Jardim Botânico), Portugal ficava cada vez mais pobre. Era quase como se
agora Portugal fosse colônia do Brasil.
E estourou a Revolução do Porto, em 1820. Essa revolução organizou um governo que
elaborou a primeira Constituição (conjunto de leis) de Portugal, elegeu as Cortes (Assembléia e
Parlamento) e exigiu o retorno de d. João VI.
A Revolução entusiasmou os brasileiros e também os portugueses que
viviam por aqui. Eles achavam que as coisas estavam começando a
mudar e que as idéias da revolução estavam "na moda". Por isso, trataram
logo de escolher quem representaria o Brasil por lá, e fizeram d. João VI
jurar que cumpriria a Constituição que eles estavam criando.
D.João teve que picar a mula e voltar para Portugal, mas deixou seu
filho Pedro cuidando de tudo.
... MAS FICAM OS DEDOS!
D. João VI se apressou em voltar a Portugal, mesmo sabendo que
agora iria ter de dividir o poder com as Cortes. Que remédio? Deixou seu
filho d. Pedro cuidando do Brasil. Estamos em abril de 1821. A apenas um ano da independência!
Conta a lenda que, pouco antes de embarcar, d. João disse a d. Pedro: "Pedro, se o Brasil se
separar de Portugal, antes seja para ti, que me hás de respeitar, do que para algum desses
aventureiros."
D. João queria, portanto, que fosse d. Pedro a proclamar a independência, e não alguém do
povo, para que eles não perdessem o controle da situação. E assim foi. A regência do pequeno
Pedro não durou nem um ano e meio.
Logo os brasileiros perceberam que a tal Revolução do Porto era como lobo em pele de
carneiro...
A REVOLUÇÃO QUE ERA LOBO EM PELE DE CARNEIRO
Rapidinho os brasileiros perceberam que a Revolução do Porto tinha enganado a todos : era
muito legal para Portugal, com idéias revolucionárias e tudo o mais, mas era extremamente
conservadora para o Brasil. As Cortes começaram a querer recolonizar o Brasil e acabar com
essa história de Reino Unido.
Para isso, enviaram tropas ao Rio de Janeiro, a capital na época, acabaram com vários órgãos
políticos que d. João VI havia criado e nomearam governadores para nossas províncias (ainda
não havia estados). Além disso, já bolavam uma forma de reatar o pacto colonial e acabar com a
festa da abertura dos portos.
Todos ficaram muito bravos com essas medidas-caranguejo (que andam para
trás), mas d. Pedro continuava bem quietinho no seu canto.
Logo a oposição brasileira à Portugal começou a se organizar para impedir a
recolonização. Mas ainda ninguém falava em independência. O Brasil se dividiu em
dois grandes grupos: a "facção portuguesa", que estava de acordo com a
recolonização, e o "partido brasileiro", que não queria isso de jeito nenhum.
As duas estavam sempre brigando e tentando ganhar as graças do Príncipe,
que se divertia com tanta bajulação (era um príncipe muito vaidoso). Por tudo isso,
as Cortes ficaram preocupadas e mandaram uma carta exigindo expressamente a
volta de d. Pedro a Portugal, com a desculpa de que ele tinha de acabar seus estudos lá na
Europa.
E quem disse que D. Pedro caiu nessa? Foi quando aconteceu o
famoso Dia do Fico!
O DIA DO FICO
SE É PARA O BEM DE TODOS...
Claro que o "partido brasileiro" fez o possível e o impossível para que
d. Pedro não fosse embora. Em poucos dias, recolheu 8 mil assinaturas
implorando a d. Pedro que ficasse. Ele deve ter se sentido nas nuvens e
disse a famosa frase: "Se é para o bem de todos e felicidade geral da
nação, diga ao povo que fico." Por isso esse dia é conhecido como "Dia do Fico". Era o dia 9 de
janeiro de 1822. Estamos a seis meses da independência.
A partir daí, d. Pedro "pulou de cima do muro" e se posicionou a favor da ruptura com Portugal.
O processo para a independência começou a rodar em altíssima velocidade. Os portugueses que
se revoltaram aqui no Brasil contra a decisão foram reprimidos. D. Pedro também determinou que
nenhum decreto que as Cortes inventassem lá em Portugal teria sentido aqui, a não ser que ele
próprio o assinasse com um "Cumpra-se".
Portugal ficou furioso e mandou tropas para cá, que o imperador logo tratou de despachar de
volta. Além disso, d. Pedro formou um novo ministério, que tinha brasileiros e portugueses, mas a
chefia era de um brasileiro: José Bonifácio de Andrada e Silva. E tratou de convocar uma
Assembléia Constituinte, para elaborar uma Constituição para o Brasil _ que só foi se reunir um
ano depois.
Mas os ventos da independência já estavam soprando...
O GRITO DO IPIRANGA
FINALMENTE!
No dia 14 de agosto de 1822, d. Pedro viajou para São Paulo para resolver um problema
político. Deixou que d. Leopoldina, sua mulher, ficasse no poder durante sua ausência. Quando
as coisas já tinham se acalmado e ele seguia para Santos, chegaram ao Rio de Janeiro ordens
das Cortes: d. Pedro deveria voltar para Portugal naquele instante, José Bonifácio deveria ser
julgado, e um novo ministério seria criado para colocar ordem naquela "bagunça". Tudo isso
destruía todas as medidas de d. Pedro!
D. Leopoldina e José Bonifácio mandaram seus mensageiros correrem com essas notícias. Um
mensageiro encontrou-se com d. Pedro às margens do riacho Ipiranga, em São Paulo. Era a
tarde do dia 7 de setembro de 1822.
Existem pelo menos seis versões dessa história, por isso ela já foi
contada de diversas maneiras... Uma delas, a do padre Belchior, conta que
d. Pedro leu os decretos e perguntou:
_ E agora, padre?
O padre aconselhou d. Pedro a proclamar a independência do Brasil.
Senão, ele seria feito prisioneiro das Cortes. Não tinha jeito!
Trinta e oito pessoas assistiram à cena: d. Pedro desembainhou (tirou) a
espada, ergueu-a para o alto e gritou:
INDEPENDÊNCIA OU MORTE!
Ei, espere aí! Essa história não acaba aqui, não!
... DE VERDADE
A Guerra da Independência começou em 1822 e durou um ano. O pessoal das regiões Norte,
Nordeste e Extremo Sul não estava feliz com a independência e queria que o Brasil continuasse a
ser colônia.
Eram grandes proprietários de terra e queriam o pacto colonial de volta. Por isso, iniciaram o
conflito, com a ajuda e bênção de Portugal.
D. Pedro I contratou às pressas soldados e oficiais estrangeiros para lutar contra os revoltosos.
Com dinheiro emprestado da Inglaterra, que devia estar superfeliz com essa história de
independência _ estava lucrando horrores!
Mas nada mudou de verdade...
7 DE SETEMBRO DE 1822
PROCLAMADA A INDEPENDÊNCIA DO BRASIL
Muito antes da proclamação da independência, o povo já expressava seu desejo de se
separar de Portugal.
Como colônia de Portugal, não podia fazer nada por conta própria. Todas as decisões
importantes eram tomadas pelos portugueses, e uma das coisas que mais irritava o povo
brasileiro era uma espécie de trato que existia entre a colônia (Brasil) e a metrópole (Portugal),
que se chamava Pacto Colonial. Nesse "trato", o Brasil tinha que enviar suas riquezas naturais
para Portugal, onde essa matéria-prima era transformada em produtos que, depois, eram
comercializados com o Brasil. O grande problema era que Portugal proibia o Brasil de produzir
suas próprias mercadorias e de comprar produtos de outros países, ele só podia comprar de
Portugal. Além disto, Portugal cobrava altos impostos do Brasil, e essa cobrança começou
depois que descobriram minas de ouro em nossas terras. Por causa disso tudo, muitas revoltas
aconteciam em diversas regiões do país.
E a Família Real veio para o Brasil...
Um dia, em 1808, a França invadiu Portugal e a Família
Real teve que fugir para o Brasil. Esse foi um fato importante
para a nossa independência, pois, a partir daí, os portos do
Brasil foram autorizados a fazer comércio com outros países e
não mais só com Portugal. Em 1815, o Brasil deixou de ser
apenas uma colônia, apesar de ainda estar sob o domínio de
Portugal, quando Dom João VI criou o Reino Unido de
Portugal, Brasil e Algarves.
Bom, agora você já conhece um pouco mais a história da independência do Brasil e sabe
também que as mudanças não ocorrem de uma hora pra outra. Para o nosso país se libertar do
domínio de Portugal, foram muitos anos de luta e, embora o Brasil ainda não seja um país livre
de injustiças, temos que comemorar todas as conquistas que já fizemos!