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OS FILHOS DA TERRA DE
RIO PARDO GRANDE DO SUL
Editor: Jornalista João Carlos Agostinho Prudêncio
1ª edição
Rio Pardo
2021
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REDE DE TROCA DE SABERES E
FAZERES COM OS FILHOS DA TERRA
DE RIO PARDO GRANDE DO SUL
Realização Financiamento
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SUMÁRIO
31 MURALHAS HUMANAS
Ernesto Gustavo Machado Horn
93 CHICO DIABO
Pedro Lúcio
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109 FILHOS ILUSTRES DE ENCRUZILHADA DO SUL
Domingos Oscar Soares Luz
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8
Apresentação
Contando histórias nas "travessias dos rios".
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Apresentação
Contando histórias nas “travessias dos rios”
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Mestre Griô Prudêncio
Nosso desafio
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Caminhando sobre o tempo: Mestre Griô Laudelino
Frantz em entrevista subindo a Rua da Ladeira em Rio
Pardo, a rua que acompanhou a formação da
diversidade étnica-racial no Rio Grande do Sul.
Mirante da Avenida
Perimetral - Rio Pardo
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No artigo apresentado pelo pesquisador professor
Mauro Ubirajara Conceição Pereira, “Rodas de troca de
saberes e fazeres de formação continuada para a rede
pública de ensino do município de Nova Hartz”, ele
retrata um alargamento do conceito de diversidade étnico-
racial, expressando uma experiência pioneira de igualdade
racial, consolidando, assim, a Lei nº 10.639 por meio do
projeto realizado pela ONG MovimentAÇÃO.
Na esteira das narrativas para “desesconder” as
personalidades negras da história brasileira, o pesquisador
Domingos Oscar Soares Luz traz o artigo “Filhos ilustres
de Encruzilhada do Sul”, uma discussão histórica da
trajetória de vida de João Cândido Felisberto, o “Almirante
Negro” — protagonista da “Revolta da Chibata” —, bem
como de outras personalidades do município de
Encruzilhada do Sul.
Nas “travessias dos rios”, em uma metáfora da Rede de
Troca de Saberes e Fazeres que se formou com “os filhos da
terra de Rio Pardo Grande do Sul”, está a narrativa da
pesquisadora e mediadora cultural, professora Cláudia
D’Avila Melo, retratando as lendas de Rio Pardo no texto
“Uma noite encantada. Contando histórias nas
travessias dos rios. A promessa para Nossa Senhora da
Boa Morte”.
O pesquisador Vitor Emanuel Alves Zambarda, que
também é um filho de Rio Pardo, reforça o conceito de
diversidade étnico-racial indo buscar sua ancestralidade
italiana e apresentando-a no texto “Imigração: uma
história de aventura nos trilhos do destino”.
Dialogando com nossos mestres e mestras da cultura de
tradição oral das vivências de Troca de Saberes e Fazeres,
o Mestre Griô Pedro Lúcio Silveira apresenta suas
narrativas sobre as personalidades populares de
Encruzilhada do Sul no texto “Chico Diabo”, em que traz a
figura de José Francisco de Lacerda, o popular Chico Diabo,
e de Sinhá Pretinha, garantindo, assim, o lugar de fala de
nossa história oral.
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A Mestra Griô Baobá Loni Lopes da Silva (Teka Lopes)
traz em sua narrativa as vivências das Rodas de Troca de
Saberes e Fazeres ancestrais com o trabalho “As Baobás
de Venâncio Aires”, representando-nos nos municípios de
Venâncio Aires, Vale do Taquari e Vale do Rio Pardo.
Para a Mestra Griô Vera Lúcia de Souza (Vera Macedo),
as Rodas de Troca de Saberes e Fazeres com as
comunidades quilombolas de São Lourenço do Sul têm
revelado um caminho para a diversidade étnico-racial na
região, como afirma seu texto “Revelando a negritude da
nossa São Lourenço: um relato da mestra Vera
Macedo”.
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Encontrando nossas raízes. Honrando nossos
ancestrais
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Sou o sétimo dos dez filhos da Mestra Griô Josefina
Agostinho Prudêncio e do Mestre Griô Manoel do
Nascimento Prudêncio. Meu pai é um remanescente do
Quilombo Rincão dos Negros, município de Rio Pardo;
minha mãe é natural de Santo Ângelo das Missões. Sou
neto, por parte de mãe, de Manoel Pedro Agostinho e Maria
Apolinária Agostinho, e, por parte de pai, de Santiago
Prudêncio e Leonilda do Nascimento Prudêncio, os avós
paternos sendo quilombolas do Rincão dos Negros,
município de Rio Pardo.
Na Linha da História.
Estrada de Ferro que leva a
Pederneiras, interior de Rio
Pardo, no caminho dos
meus ancestrais.
Rua da Ladeira
Rio Pardo
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As histórias contadas nas rodas de conversas entre as
comunidades do Rio Grande do Sul dão conta da “valentia”
dos negros gaúchos. Certamente, esses mitos têm um
ingrediente cultural da forma de afirmação das
comunidades negras com sua arte de defesa, fosse pela
capoeira, fosse pela destreza com “armas brancas”: facas,
facões, espadas, lanças, protagonizada pelas lutas dos
Lanceiros Negros.
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Manoel Padeiro
2 Textos, fotos e imagens sobre Manoel Padeiro foram pesquisados com o cineasta Duda Keiber e no
livro Os calhambolas do general Manoel Padeiro: práticas quilombolas na Serra de Tapes (RS,
Pelotas 1835), de Natália Garcia, Paulo Roberto Staudt Moreira e Caiuá Cardoso Al-Alam.
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Jornalista: A. F. Moonquelat C. P. de Almeida
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Em 1835, com o início da “Revolução Farroupilha”,
muitos escravizados fugiram das senzalas. Supõe-se que
foi nesse período que Manoel Padeiro iniciou a liderança do
maior quilombo que leva seu nome, entre outros tantos
quilombos que se organizaram na Serra dos Tapes, interior
de Pelotas. Quando a equipe de Fernando e Duda Keiber,
junto a professores da Universidade Federal de Pelotas
(UFPel), projetou um festival de cinema para a cidade, um
dos objetivos principais foi estimular a criatividade dos
futuros cineastas e que a cidade se beneficiasse desse foco
cultural, também como centro econômico e turístico.
Histórias sem fim
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Realizar Rodas de Trocas de Saberes e Fazeres
é uma experiência muito gratificante, mas
também muito desafiadora.
Conceição Matos
27
Realizar Rodas de Trocas de Saberes e Fazeres é
uma experiência muito gratificante, mas também
muito desafiadora.
Conceição Matos
Coordenadora editorial, presidenta da ONG
MovimentAÇÃO
E
ntretanto, a roda de troca de saberes e fazeres é
tão potente que o Fórum Social Mundial (FSM)
pode ser considerado um evento com os mesmos
princípios, ou seja, promove o diálogo entre a cultura
científica e a cultura tradicional e fortalece a disposição de
movimentos sociais, ONGs e instituições públicas do mundo
inteiro para materializar uma nova ordem social.
Com disposição, recebi o convite para participar dessa
importante celebração da diversidade.
Na edição do FSM de 2012, durante um intervalo de
programação, os agentes de pastoral negros se reuniram
em Porto Alegre para ouvir narrativas de remanescentes
dos quilombos da região Sul. Nesse dia, tive a honra de
conhecer a Mestra Griô Ana Hermelinda Centeno. De fala
firme e empolgante, ela me encantou com as narrativas de
sua ancestralidade.
Fui saber que a Mestra Ana Centeno é uma das
principais lideranças em São Lourenço do Sul. Sua história
de militância começou nas Comunidades Eclesiais de Base,
nas Pastorais da Saúde e na Pastoral da Terra, até que se
tornou muito conhecida no Brasil e na América Latina por
sua luta em defesa da desconstrução do racismo
institucional.
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Faz nove anos que ocorreu meu primeiro encontro com
essa militante lourenciana, Essa simpática artesã despertou
em meu coração o desejo de conhecer a cultura e a
religiosidade afrocatólica daquela região. De lá para cá,
muitos motivos tive para revisitar o Rio Grande do Sul.
Muitas aprendizagens surgiram. Uma delas foi a
possibilidade de integrar práticas comunitárias, com as
Rodas de Trocas e Saberes e Fazeres da ONG
MovimentAÇÃO. Do compromisso com a cidadania nasceu
o Projeto Filhos da Terra de Rio Pardo Grande do Sul (sob o
apoio da Lei Aldir Blanc), cuja importância reafirma a
inclusão da diversidade de culturas, escolaridades,
gêneros, etnias e classes sociais.
Também aprendi que o diálogo com a diversidade é uma
construção que precisa do compromisso com novas ideias,
novas religiosidades, novos pertencimentos. Por isso,
entendemos que realizar Trocas de Saberes e Fazeres é um
ato de resistência. Afinal, a roda é um símbolo ancestral, e
nela é possível alimentarmos o sonho de ressignificação da
vida em comunidade.
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Muralhas
humanas
Professor Ernesto Gustavo Machado Horn
(Neco Machado)
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Muralhas humanas
A
fim de que a demarcação do Tratado de Madri, de
1750, na região ao sul, tivesse êxito para os
interesses de Portugal, fazia-se necessário que
em cada ponto avançado fossem alojados povoadores fiéis
à Coroa portuguesa. A partir de 1752, acompanhou a
investida política e militar, mesmo que em sigilo, para não se
indispor com a Coroa espanhola, um efetivo de povoadores
para esse fim. No contexto das demarcações, algumas
famílias se assentaram nas proximidades da fortificação
Jesus, Maria, José do Rio Pardo, permanecendo mesmo
após os anos 1761 e 1763, com o Tratado de El Pardo, que
revogava o de Madri, e com a invasão castelhana, tornando
impossível a condução desses povoadores aos Sete Povos
das Missões.
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Inicia-se aqui a inquietação que motivou minha pesquisa:
poderia a dita “fortaleza” de Jesus, Maria, José do Rio Pardo
nunca ter sido concluída por evoluir para uma povoação, e,
assim, sua planta, de 1754, corresponderia à localização da
atual Praça da Matriz do Rosário e suas imediações, onde se
originou o município de Rio Pardo?
Dessa forma, o objetivo central de meu trabalho de
pesquisa foi invocar a possibilidade de que a disposição dos
elementos da única planta existente refere-se à organização
física remanescente da Praça da Matriz do Rosário e
arredores, sugerindo esse local como o merecido dispositivo
dessa memória.
Na busca de alcançar os objetivos propostos, a presente
pesquisa teve, inicialmente, uma observação na relevância
do tema para a história da formação do povoamento na
região. A narrativa existente enfatiza a origem açoriana e
europeia, sem muito destaque para a participação dos
autóctones e negros. Busquei informações em obras e
documentos que pudessem trazer registros e
acontecimentos com outra perspectiva.
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Procurei reunir informações para embasar argumentos
de que a legenda “O”, referente a “Cazas dos moradores” da
planta da fortaleza, faz parte do projeto da Coroa portuguesa
de povoação dos limites, apresentando, assim, a
possibilidade argumentativa desta pesquisa, a fim de que
possa contribuir para o entendimento sobre a colonização
da região e a relevância histórica que este estudo merece.
Portanto, na prática da demarcação do Tratado de Madri, a
fundação do município não seria apenas de origem militar,
por conter o elemento civil dos povoadores, que
representam essa intenção de uma política de expansão e
ocupação territorial.
Preserva-se, até os dias atuais, a fortaleza ideológica da
Coroa portuguesa na fronteira mais avançada para a
demarcação dos limites. Porém, não se poderiam ostentar
baluartes ou muralhas de pedras como monumentos da má-
fé praticada por Portugal no acordo do Tratado de Madri. Rio
Pardo surgiu de uma estratégia de expansão e ocupação
territorial; portanto, por muito tempo manteve a imagem
dessa importante atuação para a história de conquista,
enraizada na memória de seus habitantes pelos discursos
carregados de ufanismo. No entanto, a importância de maior
relevo descortina-se na tarefa não concluída, que
possibilitou o início da povoação, povoação esta constituída
de um amalgama étnico que não fugiu de uma seleção
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eurocêntrica do que se deveria eleger para representar seus
feitos. Os canhões velhos apontados para o sul sugerem
que o inimigo mais temível em sua origem era o europeu da
invasão espanhola, enquanto a primeira razão da
fortificação para proteção contra a revolta genuína dos
guaranis ficou esquecida. Entretanto, em contraponto a
essa tentativa de orientação da posição dos canhões,
permanece a figura de um baluarte destacado em direção
contrária na planta de 1754, que não só comprova sua
preocupação de origem como determina a identidade do
inimigo que a motivou. Mesmo que esse processo de
valorização das etnias fundantes da povoação ainda
permaneça lento, fica um convite à reflexão sobre onde
estão os monumentos que deveriam representar a
resistência que motivou a primeira necessidade de defesa.
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Revelando a negritude da nossa São Lourenço:
um relato da mestra Vera Macedo
Mestra Griô Vera Lúcia de Souza
(Vera Macedo)
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Revelando a negritude da nossa São Lourenço: um
relato da mestra Vera Macedo
1
Mestra Griô Vera Macedo
Apresentação
A
história dos(as) pretos(as) vem sendo
redescoberta por meio de iniciativas que trazem
um novo olhar para o papel social, político e
cultural que nós, quilombolas, descendentes de
africanos(as), temos nos espaços que ocupamos. A história
oral, ou seja, aquela que vem sendo transmitida de geração
em geração, é a nossa fonte de inspiração, é o nosso legado
para quem se interessa em conhecer o outro lado da
história, que não vem escrita e referendada pela produção e
pela reprodução eurocêntrica, que carrega na sua escrita
um olhar único dos homens brancos,
considerados, infelizmente até os
dias de hoje, por parte da academia
e das pessoas do mundo
globalizado, como o centro do
mundo e da história.
Em São Lourenço, isso não é
muito diferente, pois temos muitas
escritas sobre as famílias brancas
que aqui se instalaram a partir das
charqueadas da região sul do Rio
Grande do Sul, ainda nos séculos
XVIII e XIX, esquecendo-se de
mencionar, valorizar o papel da esquerda para direita: Vera Lúcia de
Souza (Mestra Griô Vera Macedo),
fundamental dos(as) pretos(as) Almerinda Centeno e Ana Hermelinda
nessa região. Centeno, em São Lourenço do Sul
Eu sou de lá
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Introdução
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E onde, como e quando surgem as organizações dos
pretos e pretas? É sobre isso que vou conversar com vocês,
sobre a importância socioeconômica e cultural da nossa etnia,
sobre nossas raízes, sobre nossas lutas e resistências. Nós,
pretos e pretas, negros e negras, nos estabelecemos aqui, no
Rio Grande do Sul, em pequenas propriedades de terra,
geralmente vindos(as) fugidos(as) dos maus-tratos dos
senhores brancos das grandes fazendas.
Vamos conversar sobre vida, cultura, modo de conviver,
experiências e tudo que envolve nossas manifestações e
contribuições para a história.
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La vem das senzalas
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Uma noite encantada
Contando histórias nas "travessias dos rios"
A promessa para Nossa Senhora da Boa Morte
Professora Cláudia D’Avila
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Uma noite encantada
Contando histórias nas “travessias dos rios”
A promessa para Nossa Senhora da Boa Morte
1
Professora Cláudia D’Avila *
R
io Pardo, cidade histórica do interior do Rio Grande
do Sul, é conhecida por seu passado de lutas, por
sua formação militar, por seus prédios antigos, por
seus rios Pardo e Jacuí, pela culinária e pela riqueza material
e imaterial de sua cultura. Cultura que se destaca pela
contribuição da diversidade étnica, pelos saberes populares
e, principalmente, pela transmissão de conhecimentos para
novas gerações, por meio da oralidade nas narrativas de
acontecimentos históricos e imaginários.
1*
Professora de artes e mediadora cultural da ONG MovimentAÇÃO.
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O pai, muito preocupado,
decidiu aceitar o casamento.
No dia da cerimônia, uma
tragédia acontece: a noiva morre
antes de chegar ao altar da Capela
São Francisco.
A partir disso, muitas moças
começaram a fazer promessas na
intenção de conseguir um bom
casamento.
Minha devoção a Nossa
Imagem da Nossa Senhora Senhora da Boa Morte começa
da Boa Morte (abaixo) e
Nossa Senhora da Glória
quando soube dessa lenda. Ao
(acima) na Igreja São visitar, por muitas vezes, a Capela
Francisco - Rio Pardo São Francisco, ficava admirando a
imagem vestida de noiva e
imaginando essa bonita e triste história de amor, refletindo
sobre o quanto os valores mudam de acordo com as
pessoas, os lugares e as épocas.
O casamento representa a celebração de vidas que se
unem… para sempre, ou não!
Quando fiz a promessa de ofertar meu vestido de noiva
para Nossa Senhora da Boa Morte, meu pedido foi para que
ela ajudasse no resgate das histórias das famílias, para que
houvesse mais harmonia e união nos lares, e
para que avós, pais e filhos estivessem mais
próximos por laços de fé, sabedoria e afeto.
Prometi levar sua imagem de Mãe,
Mulher e Educadora às pessoas e contar, por
meio de narrativas de poesia e
encantamento, como era viver em outros
tempos… de outros modos… com outros
valores.
Afirmo que fui plenamente atendida.
Precisamos conhecer e valorizar o tempo
passado, para entender o tempo presente e
Vestido de noiva da autora
então ressignificar o tempo futuro.
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De quem e de onde viemos?
Quem somos e onde estamos?
Quem nos tornaremos e aonde vamos chegar?
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A noite de núpcias
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O protagonismo negro na história
comunitária de Venâncio Aires/RS
Profa. Dra. Viviane Inês Weschenfelder
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O protagonismo negro na história comunitária de
Venâncio Aires/RS
E
ste texto pretende visibilizar o protagonismo e a
participação negra na vida comunitária do
município de Venâncio Aires/RS. Para isso, tenho
a honra de apresentar as histórias de vida de Alaor José
Lopes (87 anos) e Suely Ferreira Lopes (81 anos), casal
negro venâncio-airense. Moradores do bairro Coronel Brito
desde 1963, quando o bairro ainda era uma localidade do
interior de Venâncio Aires, suas trajetórias se confundem
com a formação da comunidade. Essas histórias deixam
evidente que a religiosidade e o trabalho comunitário, bem
como a dedicação para com as famílias em situação de
vulnerabilidade, são também práticas culturais dos
afrodescendentes, assim como em outras regiões do Brasil.
Conhecê-las, portanto, é uma forma de não só reconhecer a
presença da diversidade étnico-racial no município, mas
também de respeitar e valorizar a histórica contribuição
negra para o desenvolvimento da cultura comunitária de
Venâncio Aires.
52
Em que pese o fato de a realização de pesquisas como
esta ser importante em todo o Brasil, pois elas contribuem
para o respeito às diferenças e para a produção de
conhecimento sobre a população negra brasileira, no Rio
Grande do Sul esse tema adquire ainda mais relevância.
Isso porque a história da imigração europeia no estado e sua
herança cultural nas regiões de colonização alemã e italiana
acabaram por invisibilizar a presença e a participação de
outros grupos étnico-raciais na história, especialmente
indígenas e negros. Esse tema foi abordado por diversos
historiadores, inclusive no Vale do Rio Pardo (tais como
Pereira, 2004; Silva, 2007; Skolaude, 2008; Weschenfelder,
2015), mas é fundamental trazer novos elementos que
colaborem para que mais histórias negras sejam
reconhecidas.
Em pesquisa realizada anteriormente em Venâncio
Aires, nos acervos do jornal Folha do Mate, foi possível
identificar um discurso potente no município, nomeado de
discurso da comunidade (Weschenfelder, 2015). Esse
discurso apresenta a vivência comunitária como um dos
principais valores do município e encontra-se vinculado à
tradição alemã. “A vivência comunitária, assim, é descrita
como responsável pelo progresso e pelo desenvolvimento
do município” (Weschenfelder, 2015, p. 104). Aparecem de
forma destacada nesse discurso a manutenção do idioma
alemão, o culto à tradição, a fé religiosa e o associativismo.
De fato, como mostrou Neumann (2006), a organização
entre as famílias próximas e a construção da escola e da
igreja são elementos comuns oriundos de uma tradição de
imigrantes europeus, que valorizava a educação e a
religiosidade.
O que problematizo é: será mesmo que a vivência
comunitária em Venâncio Aires é somente resultado das
práticas culturais germânicas? Diversas formas de
associativismo negro têm sido identificadas por
historiadores nas últimas décadas, e muitas delas são
anteriores à Abolição. Em Venâncio Aires, temos registros
53
de uma irmandade religiosa, formada por escravos e alguns
homens livres, denominada Irmandade São Sebastião
Mártir. A primeira festividade em homenagem ao santo teria
ocorrido em 1876 (Rosa; Kist, 2004). Vale ressaltar que São
Sebastião Mártir é o padroeiro da Igreja Matriz do município.
Temos, portanto, uma importante participação negra na
cultura religiosa venâncio-airense.
A trajetória de Suely Ferreira Lopes e de seu esposo,
Alaor José Lopes, adiciona novos elementos na história do
município, evidenciando o protagonismo negro na formação
do bairro Coronel Brito e em sua vida comunitária. As
vivências desse casal mostram que práticas culturais
valorizadas no município, historicamente delegadas à
tradição alemã, foram protagonizadas também por pessoas
negras. Homens e mulheres que, apesar do preconceito
racial, optaram por auxiliar muitas pessoas (brancas e
negras), foram atuantes na comunidade e contribuíram para
o desenvolvimento da região.
54
Sem dúvida, essa narrativa merece ser conhecida e
valorizada como uma das histórias que formaram a cidade e
fortaleceram a religiosidade de Venâncio Aires. Merece
estar na escola e ser contada para nossas crianças e jovens
venâncio-airenses, especialmente do próprio bairro. Essa
também é uma forma de atender à Lei nº 10.639/2003, que
incluiu o ensino da história e da cultura afro-brasileira e
africana nas escolas.
55
questões como base e, durante quase duas horas, pude
ouvir e gravar sua narrativa. Na segunda visita, duas
semanas depois, entrevistei também o sr. Alaor. Além de
gravar nossa conversa, fotografei alguns registros e
documentos do casal, muito bem organizados em pastas
por Suely Lopes.
Nessa segunda oportunidade, Dona Suely já havia lido o
resumo que anunciava o resultado da pesquisa. Disposta a
auxiliar e também a garantir que o material final tivesse uma
coerência, ela muito gentilmente escreveu um relato de sua
história e entregou-me. Desse modo, fui compondo os
diversos elementos (narrativas, documentos, registros
escritos) para escrever este texto. É um privilégio poder
registrar a história de sujeitos que tanto contribuíram para
sua localidade e ainda contar com eles para validar a
produção final. Sem dúvida, a história oral é uma ferramenta
potente para o registro de histórias de vida como essas.
Como nos diz Albuquerque Jr. (2007), ela permite que novos
olhares sobre o passado sejam possíveis. Permite também
que as localidades sejam percebidas de outras formas e que
mais pessoas sejam reconhecidas por sua constituição.
Embora este texto procure contribuir para a história do
bairro Coronel Brito, ele não tem a pretensão de contar A
história do bairro. Produzir uma história oficial não é o
objetivo deste trabalho. Também não busca, de modo
algum, desvalorizar as histórias das pessoas reconhecidas
na localidade por sua contribuição. Sua função é mostrar
que a história pode ir além do que consta nos registros
oficiais, que destacam quase somente sobrenomes
alemães entre os fundadores e padrinhos das comunidades
d o m u n i c í p i o . E m Ve n â n c i o A i r e s , t a m b é m o s
afrodescendentes foram protagonistas de suas localidades,
e reconhecer sua participação é um compromisso ético e
político. Por isso, é importante nos perguntarmos sempre:
Quais histórias circulam em nossas localidades? Quais são
as pessoas com nomes e trajetórias conhecidos pelas
pessoas? Como historiadora, minha tarefa é tornar visível
56
as histórias de pessoas negras do município e, juntamente
com outros colegas de profissão, criar condições para que
novos futuros sejam construídos, com respeito e dignidade
para todos.
57
“A gente não era comerciante”, foi uma das falas de Suely
Lopes, ao relatar o processo de venda dos terrenos. Ela
contou que o objetivo nunca foi lucrar com esses negócios,
mas contribuir, da melhor forma possível, para o
desenvolvimento local. Muitos compradores parcelavam
direto com o casal, e esse período é relatado por eles com
tranquilidade e satisfação. Por essa razão, sua história
articula-se com a história de crescimento do bairro. Com os
loteamentos, era necessário estruturar o bairro. A
associação de moradores fez com que muitas melhorias
fossem conquistadas, desde luz elétrica, ainda nos anos
1960, até atendimento de saúde e escola infantil, nas
décadas seguintes. Hoje, Coronel Brito conta com mais de 4
mil habitantes, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), sendo o terceiro maior bairro de
Venâncio Aires.
Além dos loteamentos, o casal também foi proprietário
de uma serralheria, onde produzia e vendia lenha, uma
fruteira e um salão de baile. O salão de baile foi inaugurado
Loteamento Alaor
Fonte: Acervo do casal,
2021.
58
em 1976 e é um capítulo à parte na história da família. Seu
Alaor conta que o salão fez muito sucesso, e gente de toda a
cidade ia aos sábados e domingos para as festividades.
Todas as pessoas poderiam frequentá-lo, mas apenas
homens e mulheres negros podiam dançar na pista.
Homens brancos tinham um local reservado e podiam
consumir durante o evento. Segundo o casal, esse era o
funcionamento da época, e não havia muitos
questionamentos. Nos domingos à tarde, as discotecas
faziam sucesso com os jovens e seus cabelos black. Depois
de seis anos, o casal decidiu fechar o salão, preocupado
com o aumento do consumo de drogas. Os filhos eram
jovens, e essa proximidade deixava-os de certo modo
vulneráveis. Certamente, essa fase do salão de baile
mereceria mais detalhes.
Certificado de formação de
líder da Pastoral da Criança.
Fonte: Acervo da família, 2021.
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A história do casal Lopes sinaliza um perfil
empreendedor. Ao longo do tempo, eles souberam
aproveitar as oportunidades e construíram, com isso, não só
uma condição financeira confortável para sua família, mas
também um legado importante. De acordo com o Serviço
Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas
(Sebrae), “empreendedorismo é a capacidade que uma
pessoa tem de identificar problemas e oportunidades,
desenvolver soluções e investir recursos na criação de algo
positivo para a sociedade”.2 Por essa e outras razões, sua
trajetória é motivo de orgulho para ambos e também para
seus familiares.
Outro aspecto importante da vida de Alaor e Suely é a
religiosidade. Católicos praticantes, o casal foi atuante na
comunidade Nossa Senhora Rainha, localizada no bairro,
desde sua fundação, em 1964. Embora os registros
históricos apontem outros nomes de referência na
comunidade, Dona Suely relata que atuou em diversas
atividades, sendo a principal delas como líder na Pastoral da
Criança.
Como movimento nacional, a Pastoral da Criança teve
início em 1983, como uma organização de ação social da
Conferência Nacional de Bispos do Brasil (CNBB). Em
Venâncio Aires, coordenada pelas irmãs da Divina
Providência, a Pastoral iniciou em 1985, com uma equipe de
18 mulheres, atuando diretamente com as crianças e mães
em situação de vulnerabilidade. Esse apoio familiar, de
auxílio das mães, de entrega de alimentos, como a
multimistura, e de pesagem mensal das crianças, foi
importante para a redução da mortalidade infantil e da
desnutrição, problemas graves enfrentados junto com a
pobreza. Desse modo, antes das políticas públicas de
assistência social e de saúde da família, a Pastoral da
Criança realizou um trabalho de grande relevância.
2 Disponível em:
https://atendimento.sebrae-sc.com.br/blog/o-que-e-empreendedorismo/. Acesso em: 23 fev. 2021.
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“Nosso objetivo era fazer as mães acreditarem nelas.”
Dona Suely Lopes relata esse trabalho e mostra com
carinho as pastas com muitos registros desse período.
Mensalmente, as mães se encontravam na sede da
comunidade Nossa Senhora Rainha. Nesses momentos de
dedicação à vida comunitária, Seu Alaor cuidava dos filhos.
Em 2019, a Folha do Mate fez uma reportagem sobre a
história do casal e trouxe informações sobre a Pastoral da
Criança.3
Quando questionados sobre eventuais conflitos raciais,
ambos responderam que perceberam, ao longo da vida,
algumas situações em que as pessoas os trataram de forma
preconceituosa, mas essa nunca foi a regra. Além disso,
preferiram seguir atuantes na comunidade, onde a
convivência com pessoas brancas foi constante. Sobre a
participação no Movimento Negro do município, Dona Suely
conta que recebeu o convite para integrar a Pastoral Afro-
Brasileira, mas optou por permanecer na Pastoral da
Criança, diante das necessidades da localidade.
Em 2010, Suely Lopes recebeu o Troféu Zumbi dos
Palmares na Câmera de Vereadores. O casal ainda reside
em Coronel Brito, na rua principal do bairro. Vários de seus
familiares residem na proximidade. Sentada com Dona
Suely em frente à sua casa, pude ver várias pessoas a
saudarem, demonstrando o quanto é conhecida e querida
na comunidade. Seu Alaor divide seus dias em sua chácara,
no interior do município, e em sua residência, no bairro.
Após uma trajetória de protagonismo e dedicação à família e
à comunidade, pude perceber como o casal conta sua
história com alegria e leveza. Certamente, podem inspirar
seus netos e muitos jovens, negros e brancos, na busca de
sentido para sua existência.
61
Finalizando este texto, entendo que muitos outros
aspectos da vida de Alaor e Suely Lopes poderiam ser
relatados. Todavia, o objetivo aqui foi visibilizar a trajetória
de um casal negro protagonista de sua própria história
familiar, mas também disposto a contribuir para o bem
comum. Foi um prazer realizar esta pesquisa. Que muitas
vidas negras ainda possam compor as cenas de nossa
história. Os filhos de Rio Pardo Grande do Sul agradecem!
Referências
W E S C H E N F E L D E R , Vi v i a n e I . P r o c e s s o s d e
(in)visibilidade do sujeito negro: o jornal de Venâncio
Aires/RS em questão. Santa Cruz do Sul: Edunisc, 2015.
63
64
As Baobás de Venâncio Aires
Mestra Baobá Loni Lopes da Silva
(Teka Lopes)
65
As Baobás de Venâncio Aires
O
baobá é uma árvore nativa da África continental,
de Madagascar e da Austrália. É uma árvore de
grande porte, que armazena água
em seu tronco. Suas folhas servem de
alimento, bem como os frutos e as sementes,
pois são muito nutritivos. Também é utilizada
para fins medicinais. O baobá tem um
simbolismo todo especial, pois serve de
moradia em seu tronco, por ser de grande porte e por ser
uma árvore acolhedora, que protege e ampara.
66
Com a Coordenadora Editorial do Projeto
Conceição Matos e autor do Projeto,
jornalista João Carlos Agostinho Prudêncio
68
Imigração:
Uma história de aventura nos trilhos do destino.
Vitor Emanuel Alves Zambarda
69
Imigração: Uma história de aventura nos trilhos do
destino.
N
o ano 1870, no Rio Grande do Sul, começou o
período de imigração italiana, quando milhares
de italianos saíram de suas terras natais para
tentar vida nova em outro país, pois a Europa estava
passando por muitas dificuldades. A fome e a miséria
fizeram com que muitos buscassem o incentivo brasileiro, a
fim de ganhar um pedaço de terra para plantar e alimentar
suas grandes famílias e ao mesmo tempo obter lucro.
Nossa história terá como personagem, um imigrante
italiano, que representará toda essa etnia, mostrando a luta,
coragem e vontade de trabalhar para buscar uma vida mais
digna. A escolha desse personagem é importante para
representar famílias da cidade pois serve de espelho para
essas com um histórico muito parecido.
70
Giovanni Zambarda nasceu em 20 de maio de 1853 em
Calavino, uma cidade na província de Trento, região do
Trentino, conhecido como Tirol, ao norte da Itália, em uma
família de mais quatro irmãos. Esse pequeno italiano, na
época, nem sonhava em conhecer Rio Pardo, assim como
tantos outros que em um futuro próximo para lá iriam.
Giovanni vivia uma vida simples, muito pobre, e sua
alimentação dependia de uma planta em especial, o milho,
do qual vinha a polenta, que era a base alimentar da parte
pobre da Itália. Viveu junto à família até completar 18 anos,
quando então foi para o serviço militar obrigatório, que tinha
a duração de seis longos anos e era imposto pelo Império
Austro-Húngaro. Contudo, ao entrar para o serviço militar,
Giovanni e outros jovens garantiriam uma alimentação
bastante robusta, além de um pequeno soldo para ajudar
com os custos na casa dos pais.
71
Trem chegando na Estação
Férrea de Rio Pardo
73
Giovanni agora sabia que não estaria mais sozinho em
Rio Pardo, pois teria uma grande aliada para continuar a
vida e prosperar.
Os anos foram passando, o já não tão jovem Giovanni
percebeu que o inverno em Rio Pardo chegava a uma
temperatura boa para plantar uvas, e começou a produzir o
próprio vinho, tornando-se também um grande plantador de
arroz e milho, pois havia
aprendido com os outros rio-
pardenses a maneira
c o r r e t a d e p l a n t a r.
Pederneiras tem o rio que
passa perto, o que seria
bom para o plantio do grão
do arroz. Seus filhos deram
Giovanni Zambarda e seguimento à plantação de
Francisca Zambarda
Fonte: Acervo da família arroz até 1980, e durante
muito tempo esse grão foi o
sustento da família. Com os filhos já grandes, todos
ajudavam na produção do arroz, e então começaram a criar
gado de corte.
74
Enquanto os filhos estavam cuidando de suas terras,
Giovanni estava trabalhando como chefe da estação de
Pederneiras. Ele trabalhava para manter a ordem do local, e
toda a sua produção de arroz era escoada pelos trens que
por lá passavam.
Giovanni acabou falecendo em 1936, e Francisca, em
1937, deixando dez filhos, que se multiplicaram e hoje
somam mais de 250 rio-pardenses.
Essa foi uma história de luta e perseverança em
acreditar em dias melhores, assim como à de outros tantos
italianos que migraram para o Rio Grande do Sul. Se
pudéssemos definir com uma palavra como foi a imigração
italiana para o Rio Grande do Sul, seria “difícil”, pois deixar
sua família em busca do novo, do desconhecido era
complicado. Dar adeus aos pais sem a certeza de que
voltaria a vê-los, perder sua família e ter que construir uma
nova, pois a base do mundo é a família… Hoje em dia, existe
a tecnologia para a comunicação, mas no século XIX não
era tão fácil. Enviar cartas era caro e demorava demais. Os
telefones começavam a surgir no mundo, mas poucas
pessoas tinham acesso a eles, pois também eram
extremamente caros. Mas, apesar de tudo isso, eles
prosperaram e continuaram prosperando, e a união desse
povo fez com que se mantivessem em crescimento.
75
76
Uma nova narrativa para reconhecer a mão afro-brasileira
na região central do Rio Grande do Sul
Profa. Dra. Marta Regina dos Santos Nunes
77
Uma nova narrativa para reconhecer a mão afro-
brasileira na região central do Rio Grande do Sul
1
Profa. Dra. Marta Regina dos Santos Nunes
A
cidade de Santa Cruz do Sul, elevada à condição
de município em 1877, é um dos maiores polos
econômicos da região central e do Vale do Rio
Pardo, caracterizando-se pela produção de tabaco e pela
marcante colonização alemã. Além dos Bonecos Fritz e
Frida, presentes no pórtico da cidade, representando uma
família “típica” local, a cidade tem um hino explicitamente
excludente, que celebra um suposto heroísmo dos
imigrantes. Sem evidenciar qualquer outra contribuição
étnica, a hegemonia cultural se mantém por meio das
narrativas de seus residentes e da criação de uma “tradição
germânica”, que foi inclusive absorvida por aqueles que não
descendem de imigrantes. Não muito diferente, os demais
municípios do Vale do Rio Pardo se reafirmam a todo tempo
como o “europeus” e, portanto, diferentes do resto do Brasil.
Os padrões impostos nessa região do Rio Grande do Sul,
baseados nessa memória construída, estão muito distantes
da realidade histórico-social, uma vez que escondem,
inclusive nos registros oficiais, a contribuição diversa na
formação local. O fenômeno da invisibilização histórica
sempre esteve combinado com tratamentos
desqualificantes, referências pejorativas ou explicitamente
racistas. Como resultado disso, e como acontece com boa
parte dos indivíduos negros nessa condição, eles não são
considerados como pertencentes, nativos daquele lugar.
81
um total de, pelo menos, dez sociedades negras
encontradas até o momento.
82
O município de Santa Cruz do Sul foi onde as
associações negras mais frutificaram, sediando um total de
cinco sociedades mapeadas até o momento. Algumas delas
sobreviveram até meados dos anos 1980-1990, quando
sucumbiram às exigências das novas regulamentações e à
especulação imobiliária, bem como aos fenômenos da
gentrificação. O fenômeno da gentrificação tem sido
encontrado em quase todos os grandes centros urbanos,
mas também ocorre em pequenos municípios, onde clubes
centenários acabam tendo de fechar suas portas e se
submeter a novas regras de distribuição territorial.
Em Santa Cruz do Sul, isso não foi diferente. Entidades e
associações vinculadas à população mais pobre ou à classe
trabalhadora durante décadas resistiram bravamente em
seus endereços de origem, que passaram a ser
considerados centrais e, portanto, objeto de interesse
imobiliário. Infelizmente, algumas entidades acabaram
fechando suas portas em definitivo, e outras, como o União,
realocaram seus locais de atuação e resistem bravamente
às dificuldades, remodelando sua forma de ação por meio
de projetos.
83
Atualmente, o espaço se configura em uma das únicas
referências negras do Vale do Rio Pardo ainda em atividade,
tendo obtido, em 2014, o reconhecimento como Ponto de
Cultura do Rio Grande do Sul, um espaço sociocultural de
base comunitária, empenhado na luta por equidade, no
combate ao racismo, na promoção da educação popular e
da cultura afro-brasileira.
É importante ressaltar que os espaços negros em Santa
Cruz do Sul e no Vale do Rio Pardo, além de se constituírem
em referências positivas para a comunidade negra, como
locais de sociabilidade, foram responsáveis pela
constituição de diversas famílias negras. Além das
atividades de resistência cultural e política, relações de
pertencimento e afeto prosperaram, resultando em
comunidades diversas e plurais que, infelizmente, nem
sempre são reconhecidas localmente.
85
época, a chegada de imigrantes europeus (alemães e
italianos). A Santa Maria que nasce a partir de negros e
mestiços agora se torna, de modo definitivo, diversificada
etnicamente. No recenseamento de Santa Maria, em 1872,
a composição de uma população multiétnica fica visível,
pois são nominados os grupos brancos, pardos, pretos e
caboclos, sendo este último provavelmente composto de
mestiços com forte contribuição indígena. Cerca de 50% da
população eram de indivíduos não brancos naquele
período.
Durante os anos que se seguem, Santa Maria torna-se
um polo mercantil, atraindo diversos tipos de indivíduos
interessados em explorar a fronteira, as missões e atraídos
pela possibilidade de escoamento da produção agropastoril
local.
A historiografia atual tem mostrado que, assim como em
Santa Cruz do Sul, os imigrantes alemães da região fizeram
uso, inclusive por meio da posse, da mão de obra cativa,
apesar das restrições do Governo Imperial e da legislação
de imigração.
A partir de 1870 e da promulgação da Lei do Ventre Livre,
foram criados, em vários locais da província de Rio Grande,
espaços associativos religiosos, como as Irmandades de
Nossa Senhora do Rosário. Essas irmandades, vinculadas
à população negra e mestiça, escravizada ou liberta,
constituíam-se em uma forma de separar os senhores de
seus cativos, uma vez que estes não podiam participar das
irmandades constituídas pelos brancos.
A criação da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário de
Santa Maria se deu em 1873 e, apesar dos poucos registros
de sua trajetória no período, foi a primeira organização
negra da região, servindo como elemento aglutinador da
comunidade e de vital importância para o desenvolvimento
de outras entidades que surgiram posteriormente. Em razão
de a irmandade evidenciar o protagonismo da comunidade
negra, ela foi dissolvida em 1875 pela Igreja, dando lugar,
em 1889, à Sociedade Beneficente Religiosa Irmandade do
86
Rosário, agora vinculada à e sob responsabilidade da
Capela Católica Nossa Senhora do Rosário, que existe até
hoje no Bairro do Rosário, em Santa Maria.
Fonte:https://repositorio.ufsm.br/bitstream/handle/1/19900/Organ
izacoes_negras_de_Santa_Maria.pdf?sequence=1&isAllowed=y
87
Entre as entidades negras listadas, destacam-se o papel
do Clube União Familiar, o mais antigo, e a Sociedade Treze
de Maio, atualmente denominada Museu Treze de Maio, um
museu comunitário.
A mestra em história pela Universidade Federal de Santa
Maria (UFSM) Franciele Rocha de Oliveira (2016) descreve
com precisão as memórias do Clube Social Negro mais
antigo da cidade, o União Familiar.
Fundado em 15 de março de 1896 como local de lazer de
parte da comunidade negra, tinha relação com o mundo do
trabalho, como as mais de 50 organizações negras
catalogadas por todo o estado do Rio Grande do Sul.
A massa de pretos e pardos, agora libertos, buscava
respeitabilidade, dignidade e inserção social. Como isso não
podia ser feito em organizações brancas, a alternativa foi
criar seus próprios espaços de sociabilidade.
A Sociedade Treze de Maio, fundada em 13 de maio de
1903 por ex-escravizados ou nascidos livres a partir da Lei
do Ventre Livre e por seus descendentes, surge com a
intenção de comemorar a Abolição da Escravidão no Brasil.
Os 47 cidadãos fundadores vinham de uma classe
trabalhadora negra vinculada à estação férrea ou aos
diversos grupos e estruturas militares que existiam e foram
eficientes na gestão do clube, pois ele chegou a ter sede
própria, biblioteca, além de uma sede campestre.
88
Considerações finais
90
SKOLAUDE, Mateus Silva. História e identidade em uma
cidade de colonização alemã no Sul do Brasil: o caso de
Santa Cruz do Sul. Recife: Eutomia, 2010. v. II.
91
92
Chico Diabo
Mestre Griô Pedro Lucio da Silveira
93
Chico Diabo
J
osé Francisco de Lacerda, o popular Chico Diabo,
nasceu aos 23 de fevereiro de 1848, na freguesia
de São José do Patrocínio, e foi batizado aos 20 de
fevereiro de 1860, na Igreja São José do Patrocínio.
Foi para a Guerra do Paraguai como voluntário, cabo de
ordens do coronel João Nunes da Silva Tavares, o Joca
Tavares. No combate de Aquidabã, com um golpe de lança,
feriu na barriga o ditador do Paraguai Francisco Solano
Lopes, que morreu, terminando, assim, com a Guerra do
Paraguai.
O berço do herói Chico Diabo hoje pertence a Amaral
Ferrador (RS), que foi desmembrada de Encruzilhada do
Sul (RS).
(Fonte: Antonio Bica.)
João Cândido
Vista aérea de
Encruzilhada do Sul
94
João Cândido é reconhecido como herói em vários
estados do Brasil, e em muitas cidades, como Encruzilhada
do Sul, há um busto em sua homenagem.
Também foi criada uma associação de capoeira com seu
nome. Todos os anos, a Associação de Capoeira Almirante
João Cândido promove palestras sobre consciência negra,
cultura do povo negro, saúde da população negra e vários
outros temas relacionados com o povo negro.
Sinhá Pretinha
95
Tia Pretinha era famosa por desfilar em todos os
carnavais, e participava de todas as escolas de samba,
bem como visitava os três clubes da cidade.
96
Rio Pardo-
as origens, o comércio e as igrejas
Professora e escritora Ceni Correa da Fontoura
R
io Pardo, situado na margem esquerda do rio
Jacuí, junto à foz do rio Pardo, é um dos quatro
municípios mais antigos do estado e
desempenhou papel de relevo na história do Brasil durante o
século XVIII, como sua fronteira ao sul, além de ser o lugar
de origem de muitos cidadãos que se destacaram como
militares, políticos, médicos, artistas, escritores.
Inicialmente, seu território foi habitado por índios tapes,
mas, a partir do século XVII, passou a ser disputado por
portugueses e espanhóis, misturando várias culturas.
A cidade teve sua origem no Tratado de Madri e na
consequente disputa pelo território entre as nações ibéricas.
Em 1751, o capitão-general Gomes Freire de Andrade
chefiou a comissão demarcadora portuguesa,
determinando a construção de um depósito de provisões
para seus soldados próximo à foz do rio Pardo. Com a
evolução das negociações determinadas pelo Tratado, a
partir de 1752, no mesmo local, foi construída a Fortaleza
Jesus Maria José, que ficou conhecida como Tranqueira
Invicta, por jamais ter sido tomada pelos espanhóis.
Seu primeiro núcleo populacional foi formado por
militares e suas famílias, agregando-se a eles
comerciantes, sesmeiros, tropeiros, colonos açorianos,
imigrantes alemães.
Após a conquista do território, desenvolveu a função de
entreposto comercial, atendendo às necessidades de uma
vasta região que constituiria seu imenso território a partir de
1809, quando se tornou uma das primeiras vilas do Rio
Grande do Sul, juntamente com Santo Antônio da Patrulha,
Porto Alegre e Rio Grande. Além da função comercial, foi um
grande centro produtor de trigo e de criação de gado.
98
Ao longo de sua história, foram construídos vários
sobrados, que serviam como casas comerciais e
residências de seus ricos produtores agropecuários.
Formaram-se várias irmandades, que construíram a Igreja
Matriz (1801), a Capela São Francisco de Assis (1812) e a
Igreja Senhor dos Passos (1815).
Família Fontoura
1
Corruptela de Schramm
99
Eram filhos de João Carneiro da Fontoura: Francisca
Veloso da Fontoura, capitão de Dragões José Carneiro da
Fontoura, Joana Veloso da Fontoura, João Carneiro da
Fontoura Filho, Angélica Veloso da Fontoura, Inácia Maria
Veloso da Fontoura, entre outros.
Os descendentes de João Carneiro da Fontoura
espalharam-se por diversas cidades do Rio Grande do Sul,
como Dom Pedrito, Porto Alegre, Rio Pardo, Viamão, pelos
demais estados próximos e até pelo Paraguai. Participaram
ativamente da Guerra dos Farrapos e, por meio de
casamentos com as famílias mais importantes da região,
originaram ramos como os Barreto Pereira Pinto, Simões
Pires, Charão, Silveira Casado, Menna Barreto, Barreto
Viana, Palmeiro.
100
Manoel José Ferreira de Faria
Significado econômico
101
criação da Ordem Terceira de São Francisco de Assis e
ajudou a financiar a construção da Capela de São Francisco
de Assis.
Antônio Simões Pires e seu genro Manoel José Ferreira
de Faria assistiram à primeira divisão territorial do estado,
que criou a Vila de Rio Pardo, instalada em 20 de maio de
1811, quando foram abertos os pelouros e conhecidos os
nomes dos juízes, vereadores e demais oficiais da Câmara.
Nos anos seguintes, participaram do governo municipal:
Manoel José Ferreira de Faria, avô do almirante Alexandrino
Faria de Alencar, foi eleito vereador em 26 de junho de 1815
e, em seguida, juiz ordinário, tendo participado da criação
das primeiras posturas municipais. Seu sogro, Antônio
Simões Pires, tomou posse como capitão da Primeira
Companhia do Distrito de Encruzilhada em 1819 e foi eleito
vereador em 1820 e em 1824.
Via Sacra
104
A festa da Assunção, ou Glória, é comemorada no dia 15
de agosto.
105
procura de uma graça na Igreja São Francisco, tornando-se
uma lenda popular no local.
Conta a lenda que a filha de um rico fazendeiro teve seu
amor proibido pelos pais e, por ser impedida de se casar,
definhou.
Apaixonados um pelo outro, o casal opôs-se à família
dela por ser ele pobre e soldado. O candidato foi então
destacado para a fronteira; ela foi protegida pela família, que
a convenceu da indiferença e até da morte do soldado. Mas
a jovem descobriu a traição e não se conformou.
Diante da Imagem de Nossa Senhora da Boa Morte, na
Igreja São Francisco de Rio Pardo, ela fez o pedido pela
união com seu amado, prometendo entregar seu vestido de
noiva à Santa após o casamento.
Temendo pela saúde da filha, os pais cederam. Mas a
pobre moça apaixonada ficou sem se alimentar e,
enfraquecida, não resistindo à traição, morreu antes de
chegar ao altar.
O episódio tornou-se popular, ganhou as ruas, e a
“Santa” ficou conhecida por ajudar a realizar casamentos
difíceis ou impossíveis. Desde então, conhecida a lenda em
todo o estado, de longas distâncias chegam vestidos de
noiva para Nossa Senhora, doados por moças que
conseguiram a graça do casamento.
O Barroco
106
O começo do Barroco
107
Referências
108
Filhos ilustres de Encruzilhada do Sul
Dr. Domingos Oscar Soares Luz
109
Filhos ilustres de Encruzilhada do Sul
E
ncruzilhada do Sul é um município localizado no
Vale do Rio Pardo que, ao longo de sua história, já
foi conhecido como Santa Bárbara de
Encruzilhada, Encruzilhada e, por fim, Encruzilhada do Sul.
É o 20º município mais antigo do estado do Rio Grande do
Sul, tendo sido criado em 19 de julho de 1849.
Pioneiros instalaram-se onde hoje existe a atual Praça
Barão do Quaraí, na qual abriram um caminho até a Capela
de Santa Bárbara. Em 1799, o povoado foi elevado à
condição de capela curada e, em 1837, passou à condição
de freguesia. A Lei nº 178, de 19 de julho de 1849, deu
autonomia política ao município.
O município se estende por 3.348,3 km². Situado a 348
metros de altitude, é o lar do Parque Estadual do
Podocarpus. Encontra-se entre duas bacias hidrográficas: a
bacia hidrográfica do Baixo Jacuí e a bacia do rio Camaquã.
Faz divisa com os municípios de Rio Pardo, Pântano
Grande, Dom Feliciano, Canguçu, Amaral Ferrador,
Cachoeira do Sul, Santana da Boa Vista e Piratini.
A economia encruzilhadense se baseia no comércio, na
fruticultura, na silvicultura e na agropecuária, com produção
de soja, trigo, arroz, bovinos e ovinos, sendo o município
com maior área plantada para o cultivo de melancias do
estado. Há também grande potencial para a extração de
rochas graníticas, tanto ornamentais quanto de
revestimento.
A silvicultura é uma das áreas que mais cresceram no
município nos últimos anos, com uma área plantada de mais
de 80 mil hectares, com qualidades de pinus, eucaliptos e
acácias.
110
No município, estão localizados afloramentos de grande
importância e que têm contribuído para a paleobotânica na
formação Rio Bonito, datando do Sakmariano, no Permiano.
111
Ÿ Feliciano José Rodrigues de Araújo Prates: Dom
Feliciano Prates assumiu a Capela de Santa Bárbara de
Encruzilhada do Sul, onde viveu de 1841 a 1852, sendo
nomeado o primeiro bispo do Rio Grande do Sul. Do
município, dirigiu a igreja no Rio Grande do Sul, saindo
para fixar-se em Porto Alegre, onde faleceu aos 76 anos.
113
os marujos tomariam posse das armas, dominariam os
oficiais em seus camarotes e teriam o controle do navio-
mãe, e depois de todos os demais que estavam na Baía
da Guanabara. No dia 22 de novembro de 1910, João
Cândido, ao assumir, por indicação dos demais líderes, o
comando geral de toda a esquadra revoltada, controlou o
motim, fez cessar as mortes e enviou radiogramas,
pleiteando a abolição dos castigos corporais na Marinha
de Guerra brasileira. Foi designado à época, pela
imprensa, como Almirante Negro. Por quatro dias, os
navios de guerra Minas Gerais, São Paulo, Bahia e
Deodoro apontaram seus canhões para a capital federal.
No ultimato dirigido ao presidente Hermes da Fonseca,
os revoltosos declararam: “Nós, marinheiros, cidadãos
brasileiros e republicanos, não podemos mais suportar a
escravidão na Marinha brasileira.” A rebelião terminou
com o compromisso do governo federal de acabar com o
uso da chibata na Marinha e de conceder anistia aos
revoltosos. Entretanto, no dia seguinte ao desarmamento
dos navios rebelados, dia 27, o governo promulgou, em
28 de novembro, um decreto permitindo a expulsão de
marinheiros que representassem risco, o que era uma
nítida quebra de palavra, uma traição do texto da lei de
anistia aprovada no dia 25 pelo Senado da República e
sancionada pelo presidente Hermes da Fonseca,
conforme publicação no Diário Oficial de 26 de
novembro, levado ao Minas Gerais pelo capitão Pereira
Leite.
115
Ÿ Julia Malvina Hailliot Tavares: ou Malvina Tavares, foi
uma das mais ativas militantes anarquistas brasileiras,
poeta e pioneira da educação libertária na região Sul do
Brasil. Foi responsável pela criação de uma escola aos
moldes da escola moderna de Francisco Ferrer.
116
Projeto de docência Olukó Ayó:
valores afro-brasileiros resgatando a identidade
das crianças – os griôs na educação
117
Projeto de docência Olukó Ayó: valores afro-
brasileiros resgatando a identidade das crianças -
Os griôs na educação
O
projeto Olukó Ayó (Professora da Alegria) é o
projeto de docência da professora Cláudia
Bernadete Alves Freitas, tendo como princípios
basilares os valores africanos e afro-brasileiros na
educação, efetivamente aplicado desde 2011 no município
de Alvorada e levado para o município de Porto Alegre em
2014. Os princípios civilizatórios e filosóficos africanos e
afro-brasileiros apresentam-se como uma das alternativas
ao que está posto em nossa sociedade, ou seja, opressões
como racismo, machismo e várias outras mazelas que
desejamos ver descontinuadas em nosso meio social.
Levando em consideração essa busca da proposta de
aplicação dessa pedagogia, apresento (de forma bastante
resumida) os princípios orientadores que acompanham
minha prática docente, que são os valores civilizatórios
africanos e afro-brasileiros.
Àse ou Axé, Ancestralidade, Senioridade,
Transgeracionalidade, Memória, Oralidade, Circularidade,
Complementaridade, Corporeidade, Musicalidade,
Ludicidade, Cooperação e Coletividade.
Ancestralidade, Senioridade e
Transgeracionalidade: três princípios que se
articulam entre si: o respeito aos antepassados, ao
saber dos idosos e à troca de saberes geracionais
entre os idosos e os jovens/crianças;
118
Oralidade e Memória: referem-se ao
poder de expressão, por meio da
comunicação, e ao resgate da memória
ancestral enquanto revitalizadores da
autoestima;
119
Justificativa
Objetivos
122
Entrega da mandala confeccionada
pelas crianças da EMEF Lidovino
Fanton em 07/11/2015 para o Mestre
Griô João Carlos Agostinho
Prudêncio, em evento de Educação
Antirracista em Alvorada/RS.
123
Várias crianças, após os referidos encontros das Rodas
de Trocas de Saberes e Fazeres (como nomeado pelo
Mestre Griô João Carlos Agostinho Prudêncio), traziam
relatos de terem ficado muito felizes com a visita dos
mestres e mestras. Elas diziam terem conversado com seus
avós sobre o ocorrido na escola e de terem tido a
oportunidade de aprofundar laços familiares no nível de uma
admiração e valorização maior, por reconhecerem no seio
de suas famílias pessoas com conhecimentos semelhantes
aos que foram narrados na escola. A proposição exposta foi
uma provocação dos mestres às crianças, para que
identificassem em sua família ou na comunidade quem
pudesse atender às características de uma mestra ou
mestre em saberes e fazeres.
“É preciso uma aldeia inteira para se educar uma
criança”, diz um provérbio africano. É com esse
ensinamento milenar que constatamos a necessidade da
união de esforços para uma educação mais igualitária, que
preserve e valorize as diferenças étnicas de nosso estado e
país. Nossa gratidão aos mestres e mestras griôs pela
partilha de seus saberes ancestrais balizados por suas
vivências e caminhadas.
124
Referências
126
A chegada dos açorianos
a Rio Pardo e seu legado
Professora Aida Aparecida dos Santos Ferreira
Vista Aérea de
General Câmara
127
A chegada dos açorianos a Rio Pardo e seu legado
P
ara que possamos compreender o momento
presente e a construção de um futuro cultural,
econômico e social, o resgate da história e das
memórias se faz necessário.
Rio Pardo teve um passado glorioso, com
acontecimentos que marcaram a história, pois no ano 1809,
juntamente com Rio Grande, Porto Alegre e Santo Antônio
da Patrulha, passou a ser uma das quatro primeiras vilas da
Província do Grande, somando 55% de todo o território,
onde hoje se localizam mais de 200 municípios gaúchos.
Todo esse processo econômico do passado deu-se pela
união e pelo trabalho árduo dos Igreja Matriz São Nicolau
povos que ali chegaram e General Câmara
habitaram, como os índios, pois
o Vale do Rio Pardo abrigou
indígenas desde tempos
remotos. No ano 1634, existia a
Redução de São Cristóvão, no
interior de Rio Pardo, e,
posteriormente, por volta de
1754, abrigaram-se indígenas
vindos dos Sete Povos das
Missões, que foram aldeados no
interior, hoje conhecido como
Aldeia de São Nicolau. No local
existe a igreja construída pelos
índios, mas já descaracterizada,
permanecendo original apenas o
sino.
O local abriga uma festa com
mais de 200 anos em
homenagem ao padroeiro, São
Nicolau.
128
Esses indígenas deixaram muitos descendentes, uma
cultura com seus usos e costumes.
Os portugueses vieram do Forte do Rio Grande, onde,
segundo relatos encontrados no livro Uma luz para a história
do Rio Grande: Rio Pardo, 200 anos de cultura, arte e
memória, estabeleceu-se o Regimento dos Dragões, cujo
deslocamento, em virtude da controvérsia criada pelo
Tratado de Madri, de 1750, Gomes Freire providenciou para
Rio Pardo, para a proteção das novas fronteiras
portuguesas, a construção da futura fortaleza, que levaria o
nome de Jesus Maria José, a formação da vila, a criação de
fazendas e a ativação do comércio.
Juntamente com os portugueses vieram os negros
escravizados, que, com seu trabalho, foram essenciais nas
fronteiras, junto aos militares, para a construção da futura
cidade, erguendo casas e solares, praças, pontes e ruas,
como a Rua da Ladeira, a primeira rua calçada no Rio
Grande do Sul, em 1813, tendo sido tombada pelo
Patrimônio Histórico Nacional e sendo hoje um importante
ponto turístico da cidade de
Rio Pardo.
Lutaram em importantes
combates, como o Combate
do Barro Vermelho, ocorrido
em 30 de abril de 1838,
durante a Revolução
Farroupilha.
Estação Férrea de
Pederneiras - Rio Pardo
129
Entre os imperialistas presos estava a Banda do Maestro
José Joaquim de Mendanha, a quem foi pedido que
compusesse uma melodia para a letra do Hino Farroupilha,
e assim foi feito. No dia 5 de maio de 1838, a melodia foi
entregue a um comandante farroupilha e executada pela
primeira vez em Rio Pardo.
No livro Os dragões de Rio Pardo, Rafael Pinto Bandeira
escreve: “Estes Lanceiros Negros comem pouco, dormem
em pé e não perdem combates.” A fixação das fronteiras
portuguesas e sua proteção tiveram o trabalho ativo dos
negros.
Os primeiros açorianos chegaram por volta de 1752 e em
uma segunda leva, em 1754, contribuindo e influenciando
profundamente a cultura da vila e futura cidade de Rio Pardo
até os dias presentes.
O ano 1748 ficou marcado com a entrada da primeira
leva de açorianos na Ilha de
Santa Catarina, no sul do Brasil, Bandeira do Forte em
segundo Vilson Francisco de Homenagem aos Açorianos -
Santo Amaro
Farias no livro De Portugal ao
sul do Brasil: 500 anos, história,
cultura e turismo. O rei de
Portugal, d. João V, ouvindo o
Conselho de Estado, baixou um
alvará (1746-1747) autorizando
e definindo regras para a
imigração de casais açorianos,
a fim de povoar o sul do Brasil a
partir da Ilha de Santa Catarina,
extensa e pouco povoada.
Em 1752, entraram no Rio
Grande do Sul casais açorianos
juntamente com Gomes Freire
de Andrade, governador do Rio
d e J a n e i r o e c h e f e d a s Canhão do Forte em
d e m a r c a ç õ e s d a s n o v a s Homenagem à Imigração
Açoriana - Santo Amaro
fronteiras portuguesas, pois o
Tr a t a d o d e M a d r i ( 1 7 5 0 )
130
determinava a saída dos indígenas, que seriam levados
para a Colônia do Sacramento, enquanto os açorianos
ocupariam o território dos Sete Povos das Missões.
No ano 1494, as Coroas portuguesa e espanhola
dividiram as terras “descobertas” no século XV, e o Brasil era
praticamente todo espanhol, e com o Tratado de Madri
(1750) estava ocorrendo a troca dessas terras.
Ao chegarem às missões, o território ainda estava
ocupado pelos indígenas em razão da Guerra Guaranítica
(1753-1756), entre índios guaranis e portugueses, pela
imposição do Tratado, então Gomes Freire assentou alguns
casais nos campos de Viamão, ao longo dos rios Taquari,
Tramandaí, Guaíba e Jacuí, formando, assim, os primeiros
núcleos populacionais.
A cidade de Santo Amaro foi essencial, pois por lá
ficaram esperando para retornarem às missões. Por terra,
Gomes Freire de Andrade conduziu os açorianos até Rio
Pardo, na localidade conhecida como Rua Velha. Lá
chegando, as terras já tinham donos, então foram expulsos,
vindo a fixarem-se mais para o interior, nas terras de Diogo
Trilha e João Couto e em outras localidades. Alguns
açorianos foram enviados para a construção da futura
fortaleza Jesus Maria José já a partir de 1752.
131
Os açorianos ali chegados participaram ativamente da
formação ao desenvolvimento da vila e futura cidade de Rio
Pardo, inserindo-se em todos os segmentos da sociedade:
exército, agricultura, criação de gado, comércio, como é o
caso de Mateus Simões Pires, um dos primeiros açorianos
chegados, que contribuiu ativamente para o comércio,
mandando construir o solar no
ano 1790, que ainda existe e
conserva as características
açorianas. O solar, conhecido
hoje como Solar do Almirante,
serviu de berço para seu
tataraneto, Alexandrino de
A l e n c a r, r e o r g a n i z a d o r d a
Marinha nacional. Também como
católico que era, foi um dos
construtores da Capela de São
Francisco, em 1785, pois era ministro da Ordem Terceira de
São Francisco.
Segundo Lílian Argentina Braga Marques, no livro
Contribuições luso-açorianas no Rio Grande do Sul: “Os
grupos humanos que para cá vieram iniciaram o
desbravamento, utilizando todo o saber tradicional herdado
de seu torrão de origem, como a organização da sociedade
e o conceito de patrimônio.”
132
Em Rio Pardo, a influência desse povo é muito forte,
sendo percebida na arquitetura, com solares, portas e
janelas guilhotinadas, comércio no piso inferior e moradia na
parte de cima da casa, telhados com suas eiras e beiras. E
também na culinária salgada, com linguiças, morcilhas de
sangue de porco, toucinhos salgados e defumados, carne
suína frita e guardada na banha. E nos doces, com seus
papos de anjo, suspiros, ovos moles, arroz-doce, fios de
ovos, pães sovados de massa doce, entre outros.
Na religiosidade, destacamos as festas do Divino
Espírito Santo, procissões, foguetórios, Terno de Reis,
novenas, batizados das crianças. Também as benzeduras
para vários males, como para benzer tormentas. Cresci
vendo e ouvindo minha avó Geraldina benzer, assim
dizendo: “Antoninho se vestiu, Antoninho se calçou,
Antoninho pegou seu bordão, Nossa Senhora encontrou e
perguntou: onde vais Antoninho? Vai benzer aquela
tormenta, que lá no alto se formou. Benze bem, Antoninho,
lá pras bandas de Almerão, onde não há pão, nem grão, nem
bafo de Cristão. Reza três vezes fazendo uma cruz.”
Também fazer uma oração e jogar um pedacinho de
sabão em cima do telhado, para melhorar o tempo/limpar.
As brincadeiras de roda, sapata, cinco Marias, carrinho
de madeira, pular corda, entre outras.
133
Os dizeres: “Vai para o Diabo que te carregue”; “Tua
cabeça é tua sentença”; “Filho de peixe peixinho é”; “Parece
a bandeira do Divino”; “Carro de praça”.
Os jogos de cartas, dama, truco e dominó.
As danças tradicionalistas (inicialmente eram dançadas
somente pelos jovens): “pezinho”; “cana-verde”;
“chamarrita”.
Os sobrenomes: Silva, Silveira, Machado, Goulart,
Ferreira, Mello, Simões, Pires, Cardoso, Amaral, Aguiar,
Bittencourt, Barreto, Brum, Andrade, Bernardes, Correa,
Costa, Cunha, Dias, Cordeiro, Duarte, Ávila, Azevedo,
134
Castro, Coelho, Dornelles, entre outros tantos.
A diversificação cultural deixada pelos ancestrais
indígenas, portugueses, afro e açorianos foi essencial para
a formação da cidade de Rio Pardo, que é uma das cidades
gaúchas com mais histórias, de um povo que ama seu torrão
e que tem orgulho de sua rica e histórica cidade,
justificando-se a importância do resgate da história e das
memórias deixadas por nossos antepassados.
135
Referências
Palácio Farroupilha
Porto Alegre
136
A última vontade:
A história de Rosa Maria, filha da África e de Rio Pardo
Profa. Dra. Marisa Antunes Laureano
137
A última vontade: A história de Rosa Maria, filha da
África e de Rio Pardo.
N
este momento, vamos percorrer parte dos
caminhos de uma pesquisa que vai apresentar
ao leitor as vivências de Rosa Maria, mulher de
origem africana que viveu e morreu em Rio Pardo, no século
XVIII, deixando, além de seu inventário, um testamento.
Esse testamento é revelador de seus negócios, de sua
origem, de suas relações familiares. Permite-nos reconstruir
as formas de sobrevivência no mundo em que vivia essa
mulher. Seguiremos os caminhos pelos quais ela passou e,
com isso, tentaremos perceber os processos vivenciados
por ela.
138
Aos 17 dias do mês de junho do dito ano (1797) na
Freguesia de Nossa Senhora do Rosário do Rio Pardo,
nas casas de morada de Rosa Maria, donde eu
gravador de testamento desta Freguesia fui vindo e
sendo e findo ali achei doente de cama a testadora
Rosa Maria, mas em perfeito juízo e claro
entendimento fazendo o meu parecer pelo bom acerto
com que me respondeu a várias perguntas que lhe fiz e
logo das suas as minhas mãos me foram dadas estas
três folhas de papel […] dizendo que este era seu
testamento e última vontade […]. (Inventário nº 6,
1799).
139
Ainda em África
A chegada ao Brasil
Igreja Católica obtinha lucro desta atividade desumana: cada negro devia ser
batizado antes de embarcar e o bispado local recebia uma quantia por indivíduo.”
141
homens do Brasil” (Florentino, 1997, p. 64). Homens e
mulheres. Dos escravizados que vieram para o Rio Grande
do Sul, estima-se que 85% eram originários do porto do Rio
de Janeiro. De acordo com Florentino, em dados retirados
da Gazeta do Rio de Janeiro, três em cada 20 embarcações
que vinham para o Rio Grande do Sul saídas do Porto do Rio
de Janeiro eram carregadas de africanos escravizados
(Florentino, 1997, p. 38).
Os homens e as mulheres que fizeram todo esse
percurso da África–porto do Rio de Janeiro–Rio Grande do
Sul são considerados sobreviventes, e temos em Rosa
Maria uma dessas pessoas. Pelo relato de seu testamento,
Rosa foi uma protagonista de todos os passos que
envolviam o processo de escravização: seu início, com o
aprisionamento do africano em seu território; seu
desenvolvimento, com a negociação dos africanos nos
portos de embarque; e seu final, com a venda do africano no
Brasil.
Após percorrer todo esse caminho, o processo doloroso
de escravização de Rosa culmina com sua chegada a Rio
Pardo, onde foi servir de mão de obra, provavelmente, em
uma economia de subsistência, plantação de trigo ou
criação de gado, que eram as atividades despendidas pelos
moradores da região em meados do século XVIII, período
de formação da Freguesia de Rio Pardo e do território sul-
rio-grandense como um todo.
As origens da fundação de Rio Pardo estão diretamente
associadas à construção de fortificações com o intuito de
defesa do território por parte dos portugueses, que se viam
em constante ameaça de índios e espanhóis. A
comandância militar adentrando o território, saindo de Rio
Grande para as missões, chegou ao caminho do Jacuí,
onde, nas proximidades, foi criado o primeiro forte de Rio
Pardo, que recebeu o nome de Jesus Maria José.5
5
Anteriormente, em Rio Grande, já havia sido construído um forte com o mesmo
nome.
142
A construção do forte, que ocorreu em 1752, foi
antecedida por acampamento militar e pela construção de
armazéns para suprimentos, pois, segundo Dante de
Laytano (1979, p. 77): “A construção das fortificações e
aumento da tropa no Rio Pardo foi a terceira das medidas
tomadas para a manutenção da posição portuguesa, tendo
sido primeira a designação duma guarda e segunda a
iniciativa da construção de armazéns e depósitos.”
A fundação da vila ocorreu em torno de fortificações
militares, que foram construídas no Passo do Rio Pardo. É
preciso destacar que os militares, ao chegarem ao caminho
do Passo, já encontraram nessa região estâncias de
espanhóis e de portugueses, fato que demonstra o grau de
circulação das pessoas dos dois impérios (Osório, 1995). As
fortificações, por garantirem proteção a uma região,
estimulariam, teoricamente, a formação do núcleo urbano
de Rio Pardo. A ocupação da região de Rio Pardo
aconteceria efetivamente pelos portugueses, após o
Tratado de Madri (1750), que lhes garantia oficialmente a
região. Além dos militares e dos estancieiros, que já
estavam instalados, formaram a vila casais de açorianos
que tinham como destino as missões, mas que,
arranchados em Rio Pardo, ficaram por lá mesmo. Também
se contou com os negros escravizados que foram levados a
Rio Pardo para servirem de mão de obra.
Chimarródromo de Alvorada -
Alvorada
143
Rio Pardo tornou-se o núcleo mais importante do Rio
Grande do Sul no final do século XVIII e início do XIX. Nesse
período, as atividades principais da região eram a
agricultura e a criação.
Condição de livre
146
A família de Rosa Maria
Os caminhos da fé
8
A Irmandade teve sua fundação em Rio Pardo, em 1774.
148
Referências
149
PERROT, Michelle. Os excluídos da história. 2. ed. São
Paulo: Paz e Terra, 1992.
150
Rodas de troca de saberes e fazeres de formação continuada
para a rede pública de ensino do município de Nova Hartz
Gerando a história do protagonismo afrodescendente no Rio
Grande do Sul
151
Rodas de troca de saberes e fazeres de formação
continuada para a rede pública de ensino do
município de Nova Hartz
Gerando a história do protagonismo afrodescendente
no Rio Grande do Sul
1. Introdução
152
Na era da tecnologia, em que a informação é instantânea
e os aplicativos se tornaram essenciais para manter girando
a roda da vida, relatar os primórdios de Rio Pardo, onde a
roda que girava era a de carretas, parece quase impossível.
As lives possibilitaram recolher e reunir informações
advindas da universidade e do saber popular, transmitidas
de geração para geração através da oralidade. Quanta
tecnologia colocada à disposição para nos possibilitar
“desesconder” parte de nossa história e criar mais uma fonte
de pesquisa para estudantes, professores e a comunidade
em geral.
Contemplando o eixo da diversidade étnico-racial que
caracteriza nosso estado, o trabalho recepcionou inúmeras
contribuições de ativistas sociais, que, por meio de suas
narrativas, ilustram a importância de Rio Pardo e da região
para a formação da cultura gaúcha. Os filhos da terra
resgataram suas origens e inspiram outras regiões do Rio
Grande do Sul a apresentar suas narrativas, construindo e
fortalecendo essa excepcional rede de conhecimento.
2. O princípio da oralidade
154
O Brasil precisa investir cada vez mais em cultura,
possibilitando o acesso e as pesquisas sobre nossa história,
para que possamos entender o muito das contribuições que
nossa gastronomia, música, dança e artesanato atual
receberam dos negros advindos do continente africano. O
princípio da oralidade continuará sendo uma importante
ferramenta para conhecermos a história de um povo que
contribuiu muito para a organização da economia gaúcha ao
longo do tempo.
3. A Lei 10.639/2003
157
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Realização Financiamento
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