Você está na página 1de 70

Presba - Presbitério da Bahia

SECRETARIA DE EDUCAÇÃO
CRISTÃ

APRENDENDO E ENSINANDO UMA NOVA LIÇÃO

SÉRIE - ENCONTROS DE EDUCAÇÃO CRISTÃ

Organizadores: Rev. Nenrod Douglas Santos


(Presba) e Rev. José Roberto Cristofani (SEC)

Editoração eletrônica: Seiva D’Artes


CONTATOS

Imagem da Capa:

São Paulo, SP
Email :
1a edição - Julho/2022 educrista@ipib.org

Website :
www.ipib.org

Facebook:
www.facebook.com/educristaipib

Secretaria de
Educação Cristã
IGREJA PRESBITERIANA INDEPENDENTE DO BRASIL
APRESENTAÇÃO

Educação Cristã certamente foi e sempre será um grande desafio e uma maravilhosa ferramenta na
vida da igreja cristã. Não há dúvidas sobre a importância desta área no discipulado dos novos, na formação
de lideranças e no amadurecimento dos cristãos e cristãs. Contudo, de forma geral, costuma-se restringir o
tema apenas ao âmbito das EBDs, fato esse que limita em muito o potencial e a contribuição da área para o
desenvolvimento individual e coletivo do povo de Deus. Além da restrição ao âmbito da EBD, até mesmo
nesse ministério comumente a EC é utilizada de forma limitada e pouco eficiente. Sua efetividade poderia
somar efetivamente na formação dos educadores, na qualificação da didática, no preparo e desenvolvimento
dos encontros educativos, na preparação e inovação de audiovisuais, no uso adequado de tecnologias de
comunicação e até mesmo customização de espaços educativos.
Atento a urgência de tratar e aplicar eficazmente e eficientemente a EC em suas comunidades, o
Presbitério Bahia (PRESBA), desenvolveu em parceria com a Secretaria de Educação Cristã (SEC) e a FATIPI
um Programa de Atualização em Educação Cristã. A ação se deu por meio de uma videoconferência 100%
online, tendo como objetivo oferecer às lideranças ministeriais, especialmente educadoras e educadores cris-
tãos a oportunidade de formação e atualização.
Dentro do programa “Encontros de Educação Cristã” da SEC, o evento teve como tema: “Videocon-
ferência em Educação Cristã 2021: Aprendendo e Ensinando uma nova lição”. Foram realizados três encon-
tros, com duas trilhas cada dia, intercalando momentos de exposição e diálogo sobre os temas apresentados.
A programação online ao vivo teve como temas e facilitadores os seguintes: Dia 28/06 – Trilha 1: a) A Bíblia
e a Educação Cristã (conceituação) – Rev. Júlio Paulo Tavares Mantovani Zabatiero; b) Conceitos de Educa-
ção e Educação Cristã – Rev. Silas de Oliveira; Dia 29/06 – Trilha 2: a) Ensinar o Reino de Deus e sua justiça
(linha mestra da formação) - Profa. Simony dos Anjos; b) Como fazer: Educação em Provérbios – Rev. José
Roberto Cristofani; Dia 30/06 – Trilha 3: a) Métodos criativos de ensino online – Rev. Rodrigo Gasque; b)
Material online para Educação Cristã – Revda. Camila Palhão Zemuner.
Participaram do evento 70 pessoas, que receberam um e-book com o resumo das palestras e um
certificado de curso de extensão oferecido pela FATIPI. A iniciativa foi ofertada a toda denominação, o que
permitiu a participação de irmãos e irmãs de várias regiões do país.
O evento alcançou plenamente seu objetivo ao conseguir inicialmente recuperar o lugar da EC para
muito além da EBD, podendo somar de forma significativa com toda a tarefa educadora da igreja de Cristo.
Em um segundo momento cumpriu o objetivo na medida que os facilitadores e facilitadores conseguiram
apresentar claramente e eficazmente o lugar, a relevância e atualidade da EC para a igreja no momento atual.
O programa proposto não se encerrou com a videoconferência, continua por meio da presente pu-
blicação que traz na íntegra o conteúdo de fala de todos os facilitadores, a qual deverá ser disponibilizada a
todo o arraial presbiteriano independente. Continuará multiplicando seus conteúdos ainda em 2022, quando
os participantes, por meio de uma metodologia específica serão desafiados a aplicarem concretamente o
aprendizado em suas experiências comunitárias. Para este fim serão oportunizadas condições de apresenta-
ção de alguns cases de sucesso em uma nova videoconferência, esta etapa será muito prática e concretamente
aplicável.
O resultado da segunda etapa deverá também ser publicado de diversas formas com o objetivo de
ajudar e motivar outras lideranças ministeriais qualificarem suas experiências locais na área de EC.
Somos gratos a Deus e todos e todos que de alguma forma contribuíram para que a videoconferência
e essa publicação se tornassem realidade e que nossas lideranças pudessem ser impactadas, capacitadas e
empoderadas ao desenvolvimento deste relevante ministério da igreja cristã.

Rev. Nenrod Douglas Oliveira Santos


Secretário de Educação Cristã do Presbitério Bahia
SUMÁRIO

Page 05 Ensinar o Reino de Deus e sua justiça


Profa. Simony dos Anjos

Page 14 Conceitos de Educação e Educação Cristã


Rev. Silas de Oliveira

Page 23 Métodos criativos de ensino online


Rev. Rodrigo Gasque

Page 35 A Bíblia e a Educação Cristã


Rev. Júlio Paulo Tavares Mantovani Zabatiero

Page 46 Como fazer: Educação em Provérbios


Rev. José Roberto Cristofani

Page 57 Material online para Educação Cristã


Revda. Camila Palhão Zemuner

Page 69 Palestrantes e mediadores


 tril h a 0 1

ENSINAR O REINO DE DEUS E


SUA JUSTIÇA  Profa. Simony dos Anjos

(LINHA MESTRA DA FORMAÇÃO)

Eu fui convidada para falar sobre a educação cristã e os valores do Reino de Deus, e aí eu também co-
meço agora falando da minha educação cristã quando eu era mais nova. Eu lembro que quando eu tinha uns 9
anos de idade, 10 anos, eu assisti um filme na igreja chamado ‘Inferno em Chamas’. Eu lembro que esse filme ele
acabou com a minha espiritualidade no momento que eu assisti, porque eu fiquei meses com muito medo. Eu
tinha medo, eu tinha medo de pecar, eu tinha medo de errar, eu tinha medo de ir para o inferno porque... e eu

p r o g r a m a d e at u a l i z a ç ã o e m e d u c a ç ã o c r i s tã |5
geração está fora da igreja, o que aconteceu, onde
a gente errou? Eu acho que esses espaços de edu-
Como lidar com as cação e de discussão da educação é importante
diferenças em um para isso, para a gente aprender a comunicar a pa-
programa que pensa lavra de Deus da melhor maneira para as pessoas,
de uma maneira que acolha e de uma maneira que
educação cristã como
oriente.
promotora dos valores Então, hoje eu não tenho o objetivo aqui de
do Reino? ensinar muitas coisas, de fazer um grande tratado:
Então centralizar a olha, o melhor que a gente deve fazer para educar
as pessoas é assim. Eu tenho uns objetivos assim
educação cristã na justiça,
de trazer algumas questões para nós pensarmos
na paz e na alegria, que mesmo e olharmos sempre para a nossa realidade.
são os valores do Então, eu queria propor esse exercício de quando
Reino de Deus. eu estiver falando das coisas assim a gente comece
a olhar para a nossa realidade e identificar na nos-
sa realidade o que isso faz sentido ou não.
Então em primeiro lugar é pensar na re-
lação da coletividade na educação cristã. Então
quem, a gente sempre ouviu que a salvação é indi-
vidual, ninguém vai de carona para o céu, eu ouvi
isso muito na minha infância e é uma coisa que às
vezes é prejudicial, porque se a salvação é indivi-
tinha sido socializada, eu tinha sido introduzida a dual a vida cristã é coletiva. Então, isso é impor-
minha espiritualidade pelo medo. tante também nós ensinarmos. Pensar na justiça
Hoje eu consigo ver o quão prejudicial isso não como punição, mas pensar num método de
foi para a minha geração. Eu tenho 35 anos e a atender os desiguais em suas desigualdades. Pen-
geração dos 30 aos 40 anos grande parte está fora sar em justiça como punição também nos afasta
da igreja, porque as pessoas que estavam na edu- da palavra amorosa de Deus, porque toda vez que
cação cristã eram más? Não, as pessoas estavam fala que Deus é justo, está imaginando que Deus
fazendo o seu melhor. Só que naquele momento, é uma pessoa que pune, não é. Mas a justiça ela
que é esse tipo de discurso do medo, centrado não é só posição, a justiça também é promoção da
no pecado, centrado em evitar o pecado, tomava igualdade, da equidade e da melhor maneira de
grande parte da educação cristã, não se tornava tratar as pessoas.
mais próprio para a comunicação para essa época. Como lidar com as diferenças em um
Então hoje das pessoas que estão na IPI de programa que pensa educação cristã como pro-
Novo Osasco nós temos duas ou três na fase dos motora dos valores do Reino? Então centralizar a
30 aos 35 anos, e isso é muito triste. E eu acredi- educação cristã na justiça, na paz e na alegria, que
to que essa realidade não está só na IPI de Novo são os valores do Reino de Deus. A diferença, e
Osasco ou na IPI do Veloso, que eu fiquei grande aí eu trago muito da minha experiência de quem
parte da minha infância e adolescência, mas ela passou pelos bancos da escola dominical durante
está acometendo muitas igrejas nossas. toda uma vida, e muito jovem eu assumi a esco-
E aí a gente pergunta, mas por que que essa la bíblica dominical. Então, a primeira turma que

p r o g r a m a d e at u a l i z a ç ã o e m e d u c a ç ã o c r i s tã |6
eu peguei numa escola bíblica dominical eu tinha mas para a mais nova eu preciso me assentar, eu
18 anos, era uma turma infantil, e desde então eu preciso tirar a minha blusa e preciso amamen-
nunca deixei, hoje eu tenho assim o prazer, tive o tá-la. Toma mais tempo, toma mais dedicação, e
prazer de dar aula para a tia Val, para a tia Dalva, mais trabalho. Isso não significa que eu ame mais
enfim, para o seu Gerson, então, ou seja, eu tive a pequena do que eu amo o maior, significa que a
o prazer de dar aula para a dona Didi, para o seu pequena precisa mais de mim naquele momento,
Eri, que faleceu, o seu Gerson faleceu, a tia Bel e assim preciso ensinar ao mais velho que aten-
faleceu. Então, ou seja, eu tive uma experiência dê-la não é deixá-lo de lado, mas uma questão
muito rica de educação cristã, e podia aprender de justiça, que entenderemos aqui como tratar os
muito com os alunos, principalmente quando eu iguais em suas igualdades e os desiguais em suas
pude dar aula para os alunos idosos eu aprendi desigualdades.
muito, principalmente no que se remete a fé, e Uma vez eu vi uma poesia que foi lida pela,
aprendi muito também num pouco da diferença eu não lembro, era uma senhora da igreja, ago-
entre autoridade e autoritarismo. Porque às vezes ra me fugiu o nome dela, ela falava e perguntava
a gente pensa que sermos duros, sermos autoritá- para a mãe: qual é o seu filho preferido? O meu
rios, no modo de transmitir os valores bíblicos, a filho preferido é o doente quando está com febre,
gente pode mais afastar do que atrair as pessoas. o faminto que eu preciso alimentar ou o que saiu
Então, qual a relação que nós temos com e ainda não retornou, que eu preciso aguardar.
o inferno, isso é essencial para nós entendermos Então, é interessante nós passarmos para os edu-
educação cristã, e que imagens passamos aos candos que esse senso de justiça ele tem que ser
nossos educandos de servir a Deus. Eu acho que um senso de justiça que olhe para as pessoas de
os objetivos da educação cristã acima de tudo é acordo com as suas realidades e de acordo com as
que as pessoas conheçam a Deus, amem a Deus, suas necessidades. Jesus tinha esse senso de jus-
sirvam a Deus, e que se relacione com Deus e o tiça. Ele olhou para cada pessoa que ele cruzou o
próximo. Então uma relação em que Deus é um caminho, ele falou por parábolas para as pessoas
Deus que pune, a nossa relação com Deus acaba que precisavam entender por parábolas, ele falou
sendo prejudicada. Então, tinha aquela famosa conforme as escrituras quando ele precisou falar
música ‘aqui no seu cantinho e eu no meu’, que a conforme as escrituras, e ele se juntou a pessoas
gente não canta mais, mas eu cheguei a cantar na que antes não eram consideradas para levar a elas
infância. E eu sempre gosto de falar: não, a vida uma palavra de salvação, levando em considera-
cristã ela é coletiva e ela foi feita para ser coletiva. ção as desigualdades também. Porque quando as
Se a vida cristã não for coletiva ela não faz sentido. pessoas estão em situações desiguais nós preci-
Então, eu gostaria de começar a falar sobre samos atendê-las de maneira desigual, conforme
justiça trazendo um exemplo da minha realidade. elas necessitam.
Eu tenho dois filhos, eu tenho o Bernardo com 8 Então, nós somos diferentes e precisamos
anos e tenho a Nina com 4. Até um mês, dois me- de acolhimentos diferentes. As nossas alunas e
ses atrás ela ainda amamentava, então eu queria alunos demandarão de nós coisas diferentes. Não
trazer essa reflexão da gente enxergar Deus como se ensinará nenhuma pessoa da mesma maneira
mãe, no sentido do cuidado. que outra, e isso é importantíssimo para educa-
Então, quando, eu gostaria de iniciar essa dores. Nós pensarmos que não é porque tenho
pequena reflexão com uma cena do meu dia a dia. 10 alunos, 8 estão entendendo muito bem, então
Se os meus filhos choram de fome ao mesmo tem- eu estou bem. Não, nós precisamos prestar aten-
po eu posso dar um biscoito para o mais velho, ção nesses dois que muitas vezes estão, não estão

p r o g r a m a d e at u a l i z a ç ã o e m e d u c a ç ã o c r i s tã |7
sendo alcançados conforme o modo como nós te veio da minha formação sólida de uma escola
estamos falando. A gente vem de uma tradição bíblica dominical sólida, mas nós precisamos en-
educacional que se pune o aluno que não vai de tender que autoridade que nos é dada enquanto
acordo com as regras da escola. Eu acho que é im- educadores cristãos não faz com que de forma
portante na igreja a gente pensar que não se pune autoritária passamos uma lista de pecados para os
o aluno que vai mal, porque não existe o aluno jovens não cometerem. Isso é um equívoco. Então
que vai mal, a gente está educando as pessoas para nós temos que fugir das listas.
a vida, nós estamos educando as pessoas para suas Olha, então se você faz isso, faz aquilo, faz
vidas espirituais. Então, os valores do Reino eles aquilo você está em pecado, se você faz isso, faz
devem estar em nós, no nosso modo de agir, para aquilo, faz aquilo você não está em pecado. Uma
com os nossos educandos, pois a boca fala do que educação cristã centrada nos valores do Reino é
está cheio o coração. E temos que enfrentar um na educação cristã centrada no princípio ético dos
obstáculo que é o obstáculo do fator geracional. seguidores de Cristo, onde nós avaliamos as nos-
Isso tem sido um grande obstáculo que não é fácil. sas posturas à luz do que faria Jesus. Porque quan-
Eu mesma agora com 35 anos estou, en- do nós passamos uma lista de pecados de forma
frento problemas geracionais com as gerações autoritária, olha, não faça isso, não faça aquilo,
mais jovens. Então, a gente precisa cuidar para não faça aquilo outro, nós tiramos o bem mais
que essas pessoas estejam próximas a nós e nós precioso que a educação pode dar para as pessoas,
consigamos transmitir a palavra de Deus para que é refletir sobre os seus próprios passos, que é
elas. E nesse sentido, quando nós estamos preo- refletir sobre suas próprias atitudes.
cupadas e preocupados em transmitir a palavra
de Deus para elas, nós temos que entender que a
autoridade ela não (falha 00:10:14) conhecimento
da palavra. Então, por isso que a gente precisa se
preparar, a gente precisa estudar, a gente precisa
pensar num material didático adequado, nós pre-
cisamos nos organizar para que tenhamos auto-
ridade no assunto, e principalmente a pessoa que
tem uma autoridade dentro da sala de aula ela se
deixa questionar, ela se deixa perguntar, ela inte-
rage com os alunos.
"O que seria uma relação
O autoritarismo ele não permite o diálo- dialógica? Onde você
go, ele não permite reflexão, ele não permite uma escuta ao passo que o
relação dialógica com os alunos. O que seria uma
aluno fala, e o aluno te
relação dialógica? Onde você escuta ao passo que
o aluno fala, e o aluno te escuta quando você fala.
escuta quando você fala"
E eu vim de uma tradição de escola bíblica domi-
nical, e acredito de que muitos de nós viemos, em
que a gente não tinha a possibilidade de dialogar e
conversar com os professores, era uma outra épo-
ca, era uma outra realidade. Eu sou muito grata
as minhas professoras de escola bíblica dominical
porque tudo que eu conheço de Bíblia basicamen-

p r o g r a m a d e at u a l i z a ç ã o e m e d u c a ç ã o c r i s tã |8
Então quando eu falo para um jovem não
faça tal coisa, não... vou dar um exemplo aqui que
não seja tão problemático assim: não raspe o ca-
belo, não raspe o cabelo. E aí ele vai pensar que
se ele não raspar o cabelo ele não está cometen-
do pecado. Ao passo que o pecado ele também
diz respeito a como nós nos relacionamos com
os próximos. Então eu posso, por exemplo, cum-
prir uma série de listas de condutas considera-
das cristãs, mas me relacionar com o próximo de
maneira inadequada, de maneira que não seja a
mais correta.
Então a gente tem que pensar que existe
uma ética cristã que faz com que ensinemos as
nossas crianças, os nossos adolescentes e jovens a
tomarem decisões que agradem a Deus e tomarem
decisões em suas vidas cotidianas que promovam
a paz, que promovam a justiça, e que promovam
a alegria e o amor. Lembrando que promover a
paz não é promover a passividade, Jesus ele era

" Lembrando que Promover a paz não é promover


a passividade, Jesus ele era pacífico, mas ele não
era passivo."

pacífico, mas ele não era passivo. Jesus era uma dizer assim, é criar pessoas cristãs. Não, nós de-
pessoa que promovia a paz, mas se ele tivesse que vemos criar pessoas pacíficas, as pessoas pacíficas
enfrentar alguma desonestidade, se ele tivesse que elas querem promover a justiça. E assim como nós
enfrentar alguma postura inadequada ele enfren- esperamos pelo Reino vindouro, nós temos que
taria. Contudo, qualquer tipo de enfrentamento promover durante a nossa vida na Terra os princí-
que Jesus fez eram enfrentamentos que visavam pios do Reino. Nós devemos viver de acordo com
a paz, que visavam a justiça, que visavam o amor. os princípios do Reino, e é isso que nós devemos
Por isso que Jesus ele não era passivo. ensinar nas nossas escolas bíblicas dominicais,
Porque muitas vezes a gente acha que criar nas nossas células, nos nossos pequenos grupos.
pessoas passivas, pessoas que não briguem, vamos E aí o medo, é uma reflexão interessante.

p r o g r a m a d e at u a l i z a ç ã o e m e d u c a ç ã o c r i s tã |9
peitar pessoas que têm princípios de vida diferen-
tes dos nossos sem se tornar uma pessoa dessa.
Porque o medo excessivo do pecado faz com que
nós tenhamos medo das pessoas. E quando nós
temos medo das pessoas é um perigo, porque é
nesse momento que nós podemos promover dis-
curso de ódio, é nesse momento que nós podemos
promover preconceitos. E nós vivemos numa so-
ciedade que é plural e diversa. E nós temos que
ensinar as nossas crianças a, não a evitar a dife-
rença, mas viver de acordo com os princípios
éticos e cristãos que nós aprendemos na Bíblia, a
justiça e os valores divinos nas nossas atitudes. O
que muitas vezes nós queremos criar é um am-
biente estéreo onde nós vivamos numa bolha com
apenas crentes. Não é possível.
E quando nós não estamos dentro da igre-
ja, quando nós estamos no mundo, nós temos que
agir de acordo com os princípios éticos da Bíblia.
E como que isso se faz? Quando nós não focali-
zamos a nossa espiritualidade no pecado ou no
medo do inferno, ou no medo, nós centramos a
Eu como eu disse aqui eu assisti aquele filme ‘In- nossa espiritualidade, a nossa vida de devoção, as
ferno em Chamas’, e eu fiquei apavorada. Então nossas devocionais diárias com o amor de Jesus e
quando a gente põe a extrema focalização da edu- na promoção dos valores do Reino. Então ensinar
cação das crianças e dos adolescentes e jovens no que a gente não pode ter um princípio que nos
pecado e no inferno, faz com que passemos a falsa bloqueie de promover a justiça, porque o medo
ideia de que o outro é uma ameaça. E o que sig- dos pecadores, o medo do outro, o medo daquele
nifica? Quando o outro se torna uma ameaça, por que é diferente nos bloqueia muitas vezes em pro-
mais que esse outro seja uma pessoa que não viva mover, em promover a justiça.
de acordo com os princípios que nós acreditamos Uma vez conversando com uma aluna de
que devam ser seguidos – acho que tem alguém escola dominical, ela era uma senhora já, e ela era
com o microfone aberto – então quando nós acre- atendida por um médico que era, ele era homos-
ditamos que esse outro ele se torna uma ameaça sexual. E aí ela falava que ela não conseguia, ela
porque ele é pecador, nós não estamos vivendo não queria mais ir ao médico porque o médico era
a nossa vida a partir do princípio ético de Jesus. homossexual, porque ele era pecador. E aí eu falei,
Porque Jesus ele não via no outro uma ameaça, eu conversei com ela e falei assim: olha, indepen-
e infelizmente nós vivemos numa época onde o dentemente do seu médico a sua vida cristã vai
outro é considerado uma ameaça. estar centrada nos seus princípios éticos. Como
Eu sempre falo para os meus alunos na Jesus se relacionaria com essa pessoa? No fundo
igreja, principalmente para os jovens, o pecado a gente conversou, a gente conversou bastante e
não é vírus, ele não passa pelo contato. Você pode a gente descobriu que ela tinha medo. Porque a
respeitar pessoas que são diferentes de nós, res- nossa espiritualidade é centrada no medo. E se

p r o g r a m a d e at u a l i z a ç ã o e m e d u c a ç ã o c r i s tã | 10
a gente quer ter uma espiritualidade que seja de estou generalizando, mas nós temos casos recor-
acordo com os princípios da Bíblia a gente tem rentes de violência dentro das nossas igrejas em
que ter uma espiritualidade centrada no amor e que os homens se comportam de maneira violenta
não no medo. Isso não significa que a gente vai com suas esposas e com seus filhos, eles estão vio-
abrir mão dos nossos princípios, isso significa que lando o templo do Espírito Santo, eles estão vio-
a gente vai mudar a maneira como a gente se rela- lando a imagem e semelhança de Deus.
ciona com o próximo. Nós temos que centrar a nossa espiritua-
Porque espiritualidade, cristianismo, é so- lidade nos valores do Reino. E um dos princípios
bre amar a Deus sobre todas as coisas e o próximo necessários então é conviver com a diferença, para
como a ti mesmo. E o medo ele impede o amor, que a justiça não vire um privilégio. Então, a jus-
tanto é que nós temos na Bíblia que o amor lan- tiça divina cabe só a Deus, de todos os atributos
ça fora todo o medo. Então se a gente substituir de Deus quais sejam justiça, poder e verdade, a
o medo do inferno nas nossas aulas, nas nossas nós coube somente o amor. Deus ele apenas dei-
reflexões, o medo do pecado ou a extrema neces- xou para nós a obrigatoriedade de amar. Ele não
sidade de falar tanto do pecado e falar dos valores deixou para nós o poder, ele não deixou para nós a
do Reino, encher os nossos corações dos valores justiça, e ele não deixou para nós a verdade.
do Reino, a parábola do bom samaritano é uma O que nós temos visto muitas vezes dentro
das maiores lições de amor ao próximo que Jesus das nossas escolas dominicais são pessoas pre-
nos deixou. E esse amor que não é sentimento gando verdadeiros tribunais, verdadeiros lugares
não, é um amor que respeita a criação de Deus onde está se julgando as pessoas o tempo inteiro,
acima das concordâncias, costumes e religião. e isso nos afasta dos valores do Reino. A justiça

"Nós temos que centrar a nossa espiritualidade nos valores


do Reino. E um dos princípios necessários então é conviver
com a diferença, para que a justiça não vire um privilégio. "

Porque nós temos que pensar que Deus criou to- de Deus ela é correta e ela acontece, cabe a nós
das e todos a sua imagem e semelhança. transmitir o amor de Deus.
Quando nós estamos trabalhando com Então, eu acredito, quando eu fui convida-
violência doméstica dentro das igrejas, infeliz- da para essa, para esse encontro eu fiquei muito
mente nós temos igrejas em contextos em que a feliz porque foi a oportunidade de eu falar isso,
violência doméstica acaba sendo naturalizada. E que eu tenho falado diariamente dentro da igreja:
uma das minhas grandes batalhas é justamente nós temos que centrar a nossa espiritualidade no
desnaturalizar a violência doméstica, é a gente di- amor. Porque se nós centrarmos a nossa espiritua-
zer que o corpo da mulher, o corpo da criança, é lidade nessa justiça punitiva nós vamos, além de
templo do Espírito Santo, é imagem e semelhança afastar as pessoas, nós não vamos estar fazendo
de Deus. Quando nós temos infelizmente, eu não o que Deus delegou a nós, que é amar ao próxi-

p r o g r a m a d e at u a l i z a ç ã o e m e d u c a ç ã o c r i s tã | 11
mo. Quando Jesus falou resumirei os dez manda- qual imagem nós temos de servir a Deus, e qual
mentos em dois ele não disse julgai o próximo, ele imagem nós passamos de servir a Deus para essas
não disse puna o próximo, porque esses atributos crianças? A primeira imagem é uma imagem cas-
são divinos, e somente justiça, verdade e poder. tradora, é uma imagem que faz com que o medo e
Os nossos atributos são o amor. Nós somos pes- a privação em relação ao pecado seja o centro da
soas que tivemos como missão espalhar o amor nossa espiritualidade, ou uma imagem produtora.
de Deus na Terra. O que eu chamo de imagem produtora? Que faz
E isso nós temos que assegurar que nossa com que o centro de nossa espiritualidade esteja
espiritualidade não sejam frágeis em relação às em amar a Cristo e ao próximo, que entenda qual
diferenças, porque quando nós educamos as nos- o verdadeiro objetivo de ser cristão e cristã, e que
sas crianças pelo medo nós educamos crianças e busque por promover os valores Reino. Então, a
jovens com espiritualidades frágeis. Porque se elas imagem castradora, essa imagem que o tempo
perderem o medo elas não tem mais uma espiri- inteiro nós temos que estar fugindo de alguma
tualidade. Agora, se nós fundamentamos a espiri- coisa.
tualidade dos nossos jovens, das nossas crianças Fugir, ter medo o tempo inteiro faz com
no amor, o amor não passa. que nós não desenvolvamos um espírito forte, um
Então, ou seja, a espiritualidade frágil que espírito que ama, um espírito que seja longânimo
nós vemos muitas vezes, pessoas com espiritua- e que seja pacífico, o medo ele impede isso. Então,
lidades frágeis, são espiritualidades que foram quando nós castramos os jovens, os adolescentes
transmitidas, fundadas no medo, no medo de pe- e as crianças pelo medo, pelo medo das paixões
car e no medo de ir para o inferno, ou todos os do mundo, pelo medo de todas as diferenças so-
outros medos que nós podemos ter a nossa espi-
ritualidade fundamentada. A partir do momento
que nós temos a nossa espiritualidade fundamen-
tada no amor, e, portanto, nos valores do Reino,
nós temos espiritualidades mais saudáveis e mais
fortes.
Então a paz, a justiça e alegria são os valo-
"Temos que assegurar que
res do Reino de Deus nessa terra. Então em Ro-
manos 14:17 nós vamos ver lá que: “portanto, o nossa espiritualidade não
reino de Deus não é comida e nem bebida, mas sejam frágeis em relação
justiça, paz e alegria no Espírito Santo”. Então, nós às diferenças, porque
devemos buscar em primeiro lugar o Reino de
quando nós educamos as
Deus, quais sejam? A justiça, a paz, alegria no Es-
pírito Santo. Então nós devemos buscar enquanto nossas crianças pelo medo
estamos nessa terra e devemos ensinar as pessoas nós educamos crianças e
com as quais nós estamos ali lidando no dia a dia jovens com espiritualidades
das nossas escolas bíblicas a justiça, a paz e alegria
frágeis"
no Espírito Santo, e todas as demais coisas nos se-
rão acrescentadas.
Então quando nós estamos com um grupo
bem pequeno de crianças ali com os cordeirinhos,
com as ovelhinhas, com as estrelinhas de Cristo,

p r o g r a m a d e at u a l i z a ç ã o e m e d u c a ç ã o c r i s tã | 12
"A gente deve centralizar a vida cristã como aquilo que nos
traz paz, aquilo que nos traz conforto, aquilo que nos traz
um respiro diante das aflições que nós temos no dia a dia."

ciais, e aqui não estou falando de desigualdades, como eles viveram a partir dos valores do Reino
mas de diferenças sociais de cultura e religião, no seu dia a dia.
quando nós criamos crianças e adolescentes com E esse é o final mesmo, eu queria ver se
medo, nós criamos crianças e adolescentes que es- tinha mais um slide. Eu quero concluir com isso
tão com suas espiritualidades castradas. Quando dizendo que isso é uma fórmula certeira, vai dar
nós criamos crianças e adolescentes e jovens com certo totalmente, que nunca mais a gente vai ter
espiritualidades produtoras, são espiritualidades nenhum problema na educação cristã? Não. Por-
que estão centradas no amor, são espiritualidades que enfim, a educação, tanto da perspectiva cristã
fortes, e que o amor inclusive ele é capaz de fazer quanto da perspectiva da escola, ela é um expe-
nós vencermos as vicissitudes da vida. O medo rimento, ela é uma relação, ela acontece ao pas-
não, o medo ele vai nos castrar. so que nós andamos. Mas eu acho que esse tipo
Então, quando nós vamos educar para os deve ser o grande norte para uma educação cristã
valores do Reino nós educamos para interpretar que faça sentido hoje, no dia a dia. Nós temos ne-
as escrituras na perspectiva da paz, da justiça e da cessidade de ser amados, nós temos a necessida-
alegria. Uma perspectiva da graça, uma perspec- de de sermos alegres num mundo que cada vez
tiva a partir de Cristo. A centralidade da educação mais as pessoas estão adoecendo mentalmente,
é da mesma essência que a centralidade da nossa num mundo onde as pessoas são cobradas cada
vida cristã. Vida e vida em abundância. Vida em vez mais pelo trabalho, pela produtividade, enfim,
abundância traz o sentimento de nós vivermos num mundo onde o tempo é tão escasso.
mesmo, vivermos com Cristo, vivermos alegres. A gente deve centralizar a vida cristã como
A casa onde Jesus ceia, a casa onde Jesus janta, a aquilo que nos traz paz, aquilo que nos traz con-
casa onde Jesus entra é uma casa alegre. Enfim, forto, aquilo que nos traz um respiro diante das
uma vida que deve ser justa, que deve ser pacífica, aflições que nós temos no dia a dia. Acho que é
mas não passiva, porque Jesus ele jamais foi passi- isso que eu tenho para dizer. Eu estou à disposi-
vo diante de uma injustiça. E alegre. ção aí para a gente dialogar em torno das questões
Então mudar o modo quando nós estamos trazidas aí. Obrigada.
falando das personagens cristãs, das mulheres
e homens cristãos que nós vemos ali na Bíblia,
relatos da sua relação com Deus, centrar nessa
perspectiva, na perspectiva dos valores do Reino, Profa. Simony dos Anjos

p r o g r a m a d e at u a l i z a ç ã o e m e d u c a ç ã o c r i s tã | 13
 tril h a 0 2
CONCEITOS DE EDUCAÇÃO E
EDUCAÇÃO CRISTÃ  Rev. Silas de Oliveira

Bom, primeiramente a minha gratidão no Presbitério também, e são lembranças, quando


pela oportunidade de estar com vocês, mesmo olhamos as fotos lembramos com muito carinho
nessa distância, nessa virtualidade, mas esse é o também da nossa passagem por essa terra queri-
caminho que nós encontramos e as ferramentas da. E a nossa gratidão, porque discutir educação é
que nós temos para esse tempo. E eu realmente sempre uma oportunidade de entender um pro-
estou muito grato a Deus por rever pessoas queri- cesso de aprendizado que vai além muitas vezes
das que conhecemos ao longo da caminhada. Es- daquilo que nós imaginamos e principalmente
tar com você, Douglas, esse convite que nos alegra daquilo que nós fazemos no nosso dia a dia na
muito, o Júlio, Cristofani, enfim, esses colegas de vida da igreja.
caminhada na área de educação teológica, na área O reverendo Júlio já pavimentou boa par-
de educação cristã. te da estrada para mim aí em algumas ideias que
E o Júlio citou a questão da Bahia, nós es- ele colocou, e com certeza precisam ser, eu di-
tivemos há muitos anos juntos aí num trabalho ria, aprofundadas no trabalho de vocês, e eu vou

p r o g r a m a d e at u a l i z a ç ã o e m e d u c a ç ã o c r i s tã | 14
procurar de uma maneira bastante prática tentar ter contato com essa, formar essa formalidade da
levantar algumas questões do tema que me foi so- educação.
licitado, espero que a gente consiga projetar direi- Agora, olhando para a questão do tema e
tinho aí, que são os conceitos de educação cristã. do termo, a educação ela tem esse sentido de criar,
Só me dá um ok se estão vendo direitinho. O tema na origem da sua palavra. No sentido de alimen-
que nos foi dado foi exatamente a ideia de con- tar, de instruir assim. Por isso que eu digo que ela
ceitos de educação cristã, lugar e práxis do nosso sugere o conhecimento e prática de hábitos. A
ministério, não só do Ministério Pastoral, mas da partir do momento que nós temos esse alimen-
vida da igreja de uma maneira geral. to, que nós vamos recebendo, e aqui eu não estou
E eu quero aproveitar, não vou ficar preo- falando da qualidade do alimento, isso nós vamos
cupado em algumas fundamentações de expres- falar um pouquinho mais à frente. Quer dizer, nós
sões e de línguas e de tudo mais, mas principal- somos alimentados de alguma forma, e isso traz
mente de pegar o sentido, porque eu acho que para nós um conteúdo que nós vamos absorvendo
isso que é mais importante, depois vocês terão no nosso cotidiano que nós vamos depois, com
o material, poderão aprofundar isso no trabalho o correr da nossa vida, com o dia a dia que nós
de pesquisa e discussão nos grupos menores aí vamos tendo, com a transformação que a própria
na igreja. Mas quando nós pensamos na ideia de vida provoca em nós através da idade, através dos
educar, nós precisamos sempre levar em consi- nossos conhecimentos, nós vamos depois avalian-
deração esse sentido prático da palavra, essa ori- do a qualidade desta alimentação.
gem da palavra. Nós falamos de educação e nós Uma outra coisa também para a gente não
estamos falando de uma coisa que tem a ver com perder de vista, da etimologia da palavra, é a ideia
o nosso cotidiano, com o nosso dia a dia, com o da formação do ser humano a partir daquilo que
nosso estilo de vida, com a nossa maneira de co- nós temos de mais precioso. Se nós partirmos do
locar em prática aquilo que está dentro de nós e princípio de que nós definimos educação e po-
aquilo que não apenas a vida colocou dentro de demos também definir educação cristã como al-
nós, mas nós fomos aprendendo também nos guma coisa que nós extraímos de dentro de nós
nossos relacionamentos, no nosso dia a dia, na mesmos, que nós tiramos de dentro de nós, que
nossa formação, seja ela a formação que nós cha- nós trazemos à tona para que se torne conhecido,
mamos daquela informalidade da educação, que é isso nos ajuda a compreender que dentro de nós
o trabalho que nós temos que vem desde o berço, existe muito conteúdo que muitas vezes nós não
eu diria desde o nosso, desde o ventre materno, fomos devidamente orientados para colocá-los
quando as coisas vão chegando, nós vamos rece- para fora. Esse é um processo muito interessante,
bendo informações, até a formação já, a educação, eu diria até um processo terapêutico porque nós,
melhor dizendo, formal, quando nós começamos para nós aprendermos, antes de ensinarmos nós
a entender os princípios da educação no dia a dia temos que olhar um pouquinho para dentro de
das regras escolares e das orientações que recebe- nós mesmos. O que é que existe dentro de nós?
mos dos nossos professores e professoras. Quais são as memórias que nós temos que cons-
É importante perceber também que isso truíram a história da nossa vida? Quais são os
acontece cada vez com a faixa etária menor, se conteúdos que nós temos dentro de nós que mui-
muitos de nós aqui começamos a ir numa esco- tas vezes eles estão ali guardados como que num
la numa idade que era chamada a idade padrão, sono profundo e que é exatamente através do tra-
dos 6, 7 anos lá atrás, isso hoje acontece desde balho do educador, da educadora, que nós busca-
quando a criança nasce muitas vezes já começa a mos extrair isso e trazer à tona para que na vida

p r o g r a m a d e at u a l i z a ç ã o e m e d u c a ç ã o c r i s tã | 15
"O que é que existe dentro
de nós? Quais são as
memórias que nós temos
que construíram a história
da nossa vida? Quais são os
conteúdos que nós temos
dentro de nós que muitas
vezes estão ali guardados
como que num sono
profundo "

prática essas coisas possam se transformar em um aquilo que nós temos para passar para o próximo.
conteúdo produtivo e de resultados extremamen- Nós temos um conteúdo, como eu disse, dentro
te estimulantes para a nossa vida e para a vida do de nós, e o nosso trabalho ele envolve o alimen-
nosso próximo também. tar o outro através do alimento que eu já recebi.
Por isso que nas raízes das orientações Portanto, dependendo da qualidade do alimento
educacionais nós temos esse sentido, não apenas que eu tenho é aquilo que eu vou passar, como
de extrair, mas também o sentido latino de nutrir. educador e como educadora. E isso traz esse sen-
Eu gosto muito dessa expressão, a ideia de ama- tido belíssimo de você pouco a pouco ir ajudando
mentar. Numa formação nossa nós passamos pelo o seu aluno ou a sua aluna, se assim queiram, a se
processo da amamentação. Muitas vezes nós adul- transformar naquilo que nós chamamos de uma
tos nós temos uma dificuldade muito grande de pessoa melhor.
pensar que nós fomos crianças, que nós fomos be- Mas, uma outra coisa que vale a pena en-
bês e que precisaram colocar leite na nossa boca, e tender, e eu penso que essa ideia ela é bastante sig-
eu vou mais longe ainda, muitas vezes nós adultos nificativa também dentro ainda da questão etimo-
no nosso processo de educação nós chegamos a lógica da palavra educação, é que esse verbo tem
esquecer que precisaram trocar as nossas próprias o sentido de conduzir. Particularmente eu prefiro
fraldas, para que pudéssemos ser gente com uma essa expressão, essa palavra conduzir do que levar.
qualidade que os nossos pais desejavam e que nós Em muito currículos nós às vezes encontramos a
hoje adquirimos ao longo da vida. palavra até levar, e mais precisamente nos progra-
Então esse processo de nutrir, de amamen- mas de curso antigamente usava-se muito essa ex-
tar, de cuidar, ele está muito presente dentro da pressão entre os objetivos de um trabalho de um
origem da palavra educação, que nos convida a curso a ser dado, muitas vezes era usado o verbo
pensar que o desenvolvimento humano, e princi- levar. Eu fico pensando que a ideia de levar é uma
palmente a nossa formação, determinará também coisa um pouco controlada, eu levo alguém no

p r o g r a m a d e at u a l i z a ç ã o e m e d u c a ç ã o c r i s tã | 16
sentido de colocar aonde eu quero. Agora, a ideia como resultado. Então às vezes nós temos grandes
de conduzir é diferente, eu não, se eu não segurar, ideias, já discutimos grandes temas, já ouvimos
por exemplo, no volante do meu carro e não con- algumas coisas, mas o resultado é que determina
duzi-lo ao lugar que eu desejo, consequentemente como nós estamos colocando em prática aquilo
algum problema no caminho eu vou enfrentar. que nós já discutimos, aquilo que nós já ouvimos.
A ideia da palavra educação nas suas ori- E uma delas é a ideia do Reino de Deus. Eu não
gens como o sentido de conduzir tem um sentido vou entrar muito nessa questão daqui a pouco
também histórico. Então, nós olhamos para a pró- porque a professora Simony falará amanhã sobre
pria origem da palavra pedagogia, aquela figura isso, nós vamos destacar algumas questões.
histórica do escravo negro que levava o, que con- Antes disso algumas ideias precisam ser
duzia o aluno até o local do aprendizado, o filho consideradas. O texto que eu coloquei aí, que eu
do seu senhor, no caso, a criança, nós entendemos acho que está dando para vocês lerem, é um texto
o seguinte, o nosso aluno, a nossa aluna, nós a de um educador católico que nós temos um livro
conduzimos para o conteúdo correto, para aquilo dele já antigo na nossa língua portuguesa, mas há
que é necessário para a vida. Por isso essa expres- muito material muito interessante dele na língua
são conduzir é muito profunda para ser analisada inglesa. E ele faz uma colocação sobre o Reino
nos nossos trabalhos como igreja. Para que lugar de Deus que vale a pena ser observado na nossa
de aprendizado nós conduzimos os nossos mem- caminhada. Ele diz: então, pois, a visão de Deus
bros, as novas ovelhas, os nossos alunos e alunas para toda a criação é que ela se aperfeiçoará sob o
na escola dominical? Reino de Deus, ao qual deve ser um Reino de paz
Então esse processo é um processo cons- e justiça, de plenitude e inteireza, de felicidade e
tante, ele é um processo que ele é para a vida toda, liberdade. Esse Reino vem e deve vir como uma
porque o ato de educar é um ato que passa por dádiva, pelo imenso poder de Deus. É Deus quem
todo o nosso tempo de vida, não tem um prazo de põe em ação, é Deus quem salva.
validade, nós aprendemos e ensinamos o tempo Essa imagem de Reino ela é muito rica por-
todo, todo o tempo, no nosso cotidiano, no nosso que sempre se tem a dimensão de Reino de Deus
dia a dia. de uma forma muito pequena, dentro de um olhar
Então, olhando bem rapidamente para apenas escatológico, vamos assim dizer. A maioria
essa questão etimológica, nós ficamos pensando dos ensinos que nós temos nas nossas igrejas no
um pouco nesse lugar, nessa práxis da educação trabalho de educação, e muitas vezes na resumida
que nós encontramos dentro da palavra de Deus, escola dominical, fala-se muito em Reino de Deus
mas também na nossa experiência, vamos dizer apenas olhando para o futuro, olhando para o es-
assim, de vida, de pessoas, de seres humanos de catológico. E quando nós pensamos nessa dimen-
maneira geral. E eu separei algumas ideias que eu são educacional da Bíblia nós pensamos que Jesus
diria que são assim já bastante conhecidas, mas ele vem, ele se coloca como aquele que inaugura o
muitas vezes esquecidas dentro do nosso dia a trabalho do Reino na pessoa encarnada, no Deus
dia, coisas que, com certeza, algumas delas vocês conosco, mas ele diz: olha, o Reino de Deus está
já leram, já ouviram, mas que nós precisamos ter dentro de cada um de vocês, e vocês precisam en-
como uma meta de reflexão constante para ver a tender que isso é que é o resultado e que deve ser o
dimensão dessas ideias. resultado prático na vida não só de vocês, mas nas
Porque o importante no processo de edu- pessoas com as quais vocês convivem também.
cação cristã, que vai além do trabalho de uma Porque a pergunta que fica é, por que é que
escola dominical, é ver o que está acontecendo nós somos cristãos? Na maioria das vezes nós fi-

p r o g r a m a d e at u a l i z a ç ã o e m e d u c a ç ã o c r i s tã | 17
camos a imaginar essa pergunta em várias dimen-
sões, de várias formas. Se eu parasse um pouqui-
nho aqui de fazer essa exposição e pedisse para as
dezenas de pessoas que estão aqui respondessem,
cada um aqui talvez responderia de uma forma
essa pergunta. Por que eu sou cristão?
Nós temos uma ideia de conversão muito
voltada para o futuro. Esse tempo que nós esta-
mos vivendo de pandemia, por exemplo, quan-
tas ideias não surgiram pensando que agora nós
temos a praga que veio para resolver o problema
do pecado no mundo, eliminar tudo, então vamos
ficar olhando tão somente para o futuro para que
tudo isso seja exterminado e resolvido logo e Jesus
Cristo volte logo. Só que no meio disso tudo nós
precisamos entender que o ser cristão tem a ver
com esse trabalho de anunciar princípios vivos
de um Reino que constrói a realidade de Deus, o
cuidado de Deus, a preocupação de Deus com as
pessoas do bem.

"Para que lugar de aprendizado nós conduzimos os nossos


membros, as novas ovelhas, os nossos alunos e alunas na
escola dominical?"

E isso fica muito claro numa colocação do tiva utópica, mas sim uma realidade representada
Daniel Schipani no seu livro ‘O Reino de Deus por Deus.
e o Ministério Educativo da Igreja’, que particu- Ou seja, a pregação de Jesus é uma prega-
larmente eu gosto muito dessa definição que ele ção que envolvia a construção de um ambiente
coloca quando ele diz que Jesus não começou diferente, de um formato diferente. Porque a ideia
pregando sobre si mesmo ou sobre a igreja, senão que se tinha de Reino era a ideia da espada, era a
sobre o Reino. E ele deixa bem claro que o centro ideia de se resolver tudo através da chamada pax
e o objeto de sua mensagem são nesse símbolo bí- romana, então vamos resolver através da guerra,
blico o desejo e aspiração de Israel. E que Jesus através da luta. E Jesus vem e diz: olha, eu venho
promete que não será um sonho ou uma expecta- trazer uma mensagem de paz.

p r o g r a m a d e at u a l i z a ç ã o e m e d u c a ç ã o c r i s tã | 18
E é impressionante isso quando nós olha- nem sempre é tratado dentro da nossa perspectiva
mos para as bem-aventuranças, por exemplo, nós educacional.
encontramos em Mateus, Capítulo 5, Versículo 9, Na maioria das vezes nós falamos muito
uma expressão muito forte de Jesus dizendo: olha, dos dons, nós enfatizamos que o irmão ou a irmão
felizes são aqueles que promovem a paz, porque tem o dom A ou o dom B, tem uma diversidade
esses são chamamos filhos de Deus. de dons, consegue ter nessa diversidade qualida-
Eu sempre tenho comigo o seguinte, se des impressionantes de coisas que pode fazer. Mas
quem promove a paz é o filho de Deus, quem não o que vale é a expressão do próprio Cristo, nós
promove a paz é filho de quem? Então, é algo para somos conhecidos pelos nossos próprios frutos.
nós pensarmos um pouco, nas lutas, até mesmo Nós somos conhecidos por aquilo que nós pro-
nas divergências eclesiásticas que nós temos, que duzimos no sentido de qualidade de frutos. Por
não ensinam, mas dividem, que não promovem isso, na formação cristã, quando nós olhamos a
a paz, mas muitas vezes dão a luz a guerra. São lista de fruto do espírito registrada por Paulo nós
questões que passam pelo conceito bíblico de Rei- precisamos considerar que nós temos que encon-
no. E isso envolve a qualidade de vida, porque a trar nessa formação o equilíbrio.
educação para o Reino de Deus nada mais é do E fruto tem um detalhe mais importan-
que uma forma de apresentar uma maneira sau- te ainda, o fruto ele nunca alimenta a si mesmo,
dável de viver, uma maneira muito mais alegre de o fruto ele alimenta o outro. Você nunca vê um
viver, uma maneira aonde as pessoas possam se pé de laranja chupar a própria laranja, você não
sentir em paz e com alegria no ambiente onde elas vê um pé de manga consumir a própria manga.
estão. A laranja é produzida para que eu e você nos ali-
Por isso nós passamos no caso aí para um mentemos dela. A manga ela surge para que eu e
segundo ponto, que também é muito conhecido, você nos deliciemos com ela. E assim por diante.
que é a edificação do corpo. O reverendo Júlio Então, o fruto é para alimentar o outro. O dom
comentou a respeito de Colossenses naquele be- é uma satisfação pessoal muitas vezes, até uma
líssimo texto, e quando nós olhamos para textos vaidade pessoal em algumas coisas, mas o fruto
como, por exemplo, de Efésios, de Coríntios, que não, o fruto é uma forma de eu fazer com que o
é uma relação de dons, nós precisamos entender outro se sinta saudável, devidamente alimentado,
claramente que o dom e o talento eles são utili- e esse alimento é que constrói o corpo. Por isso
zados para gerar frutos. Dons e talentos que nós muitas vezes a necessidade de você fazer uma
recebemos na nossa formação cristã. E que dons e desconstrução em alguns conceitos, de algumas
talentos também eles são partes da nossa forma- ideias que eu tenho, nós podemos ter a respeito da
ção a partir da experiência que nós temos com o forma como deve ser feito certos trabalhos, certos
texto bíblico, com aquilo que nós olhamos e faze- projetos mesmo de educação.
mos a correta leitura, como aprendemos agora a Quando eu falo desconstruir esse é um ter-
pouco, do texto bíblico. Mas eles não são demons- mo pedagógico, desconstruir não é destruir, des-
trações de espiritualidade. Isso precisa ficar muito construir é eu, se eu precisar derrubar as paredes
claro no nosso processo educativo, que quando eu derrubo, mas o alicerce fica, a base fica, e essa
nós falamos de dons, que nós falamos de talentos, base é exatamente a pessoa de Jesus Cristo, aonde
nós não estamos falando em qualidade de espi- está, na figura que nós vimos agora pouco do Rei-
ritualidade na formação cristã. O que demonstra no, essa figura ela existe como sustento.
a espiritualidade, o que edifica o corpo de Cristo Eu tenho, eu construo a partir daquilo que
à igreja é exatamente a qualidade do fruto, e isso eu tenho de base que sustenta esse novo projeto,

p r o g r a m a d e at u a l i z a ç ã o e m e d u c a ç ã o c r i s tã | 19
essa nova ideia baseada em frutos que alimentam mento, e ir até o templo. É lá o lugar da comunhão
e que trazem esperança para as pessoas. Então, também. Você volte para o convívio da sua famí-
essa edificação do corpo de Cristo é fundamental lia. Enfim, são exemplos muito práticos. Quando
quando nós olhamos para o trabalho da educa- Jesus toca numa pessoa que está enferma, você
ção cristã. É a igreja toda que é alimentada, não é tem o caso do leproso, mas vamos pegar o filho da
um grupo, não é um departamento, não é apenas viúva de Naim, ele toca para dizer para as pessoas
um ministério da igreja, mas é uma alimentação o seguinte, olha, não se restaura a dignidade sem
no todo, a família toda recebe um alimento e esse aproximação, não se restaura a dignidade sem
alimento é de qualidade para edificação e para o você chegar perto do enlutado.
crescimento de toda a família cristã. Então, a plataforma de Jesus mostra uma
Uma outra coisa que eu quero deixar com realidade muito clara de que as necessidades hu-
vocês, também bastante conhecida, é a questão da manas precisam ser percebidas, é preciso que na
dignidade. Quando nós fazemos e promovemos educação nós tenhamos sensibilidade para com
educação cristã nós promovemos essa educação a necessidade do outro. Não há como você fazer
para que a dignidade das pessoas seja restaurada. educação sem você também olhar, e aqui é educa-
E para isso eu faço uso desse texto bíblico de Lu- ção, a educação cristã, sem você observar a sensi-
cas, apenas os Versículos 18 e 19, do 4º Capítulo, bilidade. Muitas vezes quando nós temos os nos-
que eu chamo esse texto da plataforma de Jesus. É sos alunos, e nesse processo de virtualidade nós
aquele momento em que Jesus chega na sinagoga, aprendemos demais. Foi falado agora a pouco da
e aqui acho que vale a pena uma observação an- questão de nós estarmos aprendendo com esses
tes de falar do texto, nós encontramos Jesus fre- mecanismos, e eu sou um deles, porque eu acho
quentando constantemente as sinagogas. Jesus ele que nós, a grande maioria de nós aqui nasceu no
aprendeu, ele cresceu ouvindo também ensinos analógico, nós estamos tendo que aprender den-
da sinagoga. E ele vai, ele resolve ir até lá. E ao tro dessa vida digital agora, nós muitas vezes não
pegar o texto o evangelista Lucas na sua narrativa sabemos, não conseguimos olhar no olhar dos
conta que ele abre esse texto, que é uma referência nossos alunos para ver lá no fundo como eles es-
ao profeta Isaías, aonde nós encontramos a pro- tão passando.
posta de trabalho de Jesus. Eu vim para restau- Algum tempo, nesse período de pandemia,
rar, dar vista aos cegos, liberdade aos oprimidos, eu fiz uma coisa, uma experiência, que valeu para
e, enfim, uma lista de atividades promovida pelo mim o restante do semestre. Eu percebi que havia
mestre dizendo, olha, foi para isso que eu vim. Eu um cansaço, não propriamente em relação às au-
não consigo ver educação cristã, esse conduzir, las, mas em relação aos problemas pessoais. E eu
esse extrair de dentro da vida da pessoa como nós resolvi pegar uma aula só para conversar sobre os
vimos lá atrás na questão etimológica, deste tirar problemas pessoais. E me chamou a atenção o que
e buscar lá dentro conteúdos de vida sem também surgiu durante aquela aula, os problemas que as
compreender essa dimensão do cuidado com a pessoas estavam passando e que a gente não sabia
dignidade das pessoas. como professor.
Jesus olha para o paralítico e diz, olha, eu Eu fico aqui imaginando, nessa questão da
quero que você restaure a sua dignidade andan- dignidade das pessoas, e aqui nós temos colegas
do. Ele olha para o leproso e ao curar o leproso pastores também, presbíteros, líderes de igreja
ele diz, olha, eu quero que a sua dignidade volte que vocês são, nós não temos muitas vezes a no-
para que você consiga novamente se aproximar ção do que os nossos alunos estão passando. E
das pessoas, sair do isolamento, desse distancia- essa sensibilidade nós vamos descobrindo agora

p r o g r a m a d e at u a l i z a ç ã o e m e d u c a ç ã o c r i s tã | 20
através da possibilidade de entrar em contato, de nós ofereçamos também subsídios para cada faixa
conversar, de ouvir. É cansativo, é pesado muitas etária, o desafio de como adolescente nós pode-
vezes? O é. Mas educação se faz com esforço, mui- mos colaborar, como jovens nós podemos colabo-
tas vezes até mesmo com um certo sacrifício para rar, e assim por diante na nossa sociedade de uma
chegar ao coração de um aluno. E é por isso que maneira geral. Cidadania, é preciso que a gente
com isso nós conseguimos colaborar para que a considere isso no nosso trabalho.
dignidade das pessoas seja restaurada. E partindo aqui para a minha, para o en-
Outro aspecto importante é esse aspecto cerramento da minha fala, gente. Eu quero pon-
da cidadania. Nós poucas vezes paramos no nosso tuar com vocês o seguinte aspecto: primeiro, eu
trabalho de igreja para pensar na igreja como uma tenho comigo que educar é um olhar para a nossa
entidade que está dentro de um bairro, de uma própria história. Eu tenho uma história dentro de
cidade, enfim, de uma vila, e que ali nós devemos mim, cada um de nós tem a sua história. Algumas
participar da vida daquele bairro, daquela vila, histórias elas são processadas muitas vezes com
daquela cidade, seja ela do tamanho que for. Aí dificuldades, com lutas, com enfrentamentos, até
alguém pode perguntar, mas aí nós entramos no com algumas feridas que precisaram ser tratadas,
campo das questões sociais. Sim. Porque quando mas nós temos essa história dentro de nós, e isso
nós falamos em educação nós estamos falando de deve nos motivar no presente para esse compro-
um compromisso com a realidade que nós vive- misso com a vida. Nós não podemos ficar olhan-
mos. Se nós queremos educar, conduzir as pessoas do no retrovisor como que eu vivesse do passado,
a um novo ambiente, a uma proposta diferenciada dos meus problemas, porque no meu tempo foi
de vida, nós também precisamos desafiá-las a um assim, então agora a escola dominical será sem-
compromisso com a realidade, com o mundo que pre desse jeito e a educação cristã só se resume
nós vivemos. E isso hoje mais do que nunca está nesse quadrado de escola dominical. Muito pelo
mais perto de nós do que nós imaginamos. As coi- contrário, é preciso que a gente tenha em mente
sas estão muito próximas de cada um de nós. que a escola dominical é uma forma de fazer edu-
Por isso, quando nós pensamos em cidada-
nia nós pensamos na questão da dignidade, como
foi falado agora a pouco, de como viver em so-
ciedade. E é preciso que a gente observe, nós não
temos tempo para discutir isso aqui, mas apenas
eu faço uma observação de nós ficarmos levando
em observação o quê? Nós estamos numa socie-
dade aonde nós temos amplos problemas sociais,
dos mais diversos possíveis que estão presentes no
nosso meio, e que o nosso trabalho como educa-
dor e educadora cristãos envolve conduzir o nos-
so povo a um envolvimento com essas questões.
Vou pegar um exemplo aqui. Como que
nós discutimos ecologia na nossa igreja? Como
que nós discutimos, por exemplo, o problema da
fome que está nesse país? Quanta coisa nós po-
demos trabalhar biblicamente, buscar na Bíblia
exemplos de como isso foi enfrentado para que

p r o g r a m a d e at u a l i z a ç ã o e m e d u c a ç ã o c r i s tã | 21
cação na igreja, e que precisa ser avaliada cons- temos um cardápio que aguentará a semana toda.
tantemente, como ela está, se realmente hoje é o Mas é preciso entender que durante toda a sema-
melhor instrumento para a minha igreja. na coisas novas estarão surgindo.
Eu particularmente nesses últimos dois E para concluir, uma das bases da educa-
anos repensei muita coisa, mudamos muitas coi- ção que me chama muito a atenção na história
sas em matéria de chegar até o nosso povo. Por da escola dominical, aí sim voltando lá ao século
quê? Porque nós precisamos entender que cada XVIII, é que quando a escola dominical surgiu ela
ministério, cada pessoa na igreja deve ser traba- não surgiu só para ensinar a Bíblia, ela surgiu por
lhada para que seja um educador e uma educado- uma preocupação social, aonde as pessoas esta-
ra, e consequentemente com isso nós indicamos vam sendo deixadas à mercê, principalmente as
um futuro, o futuro do nosso trabalho de uma crianças. E ela surge como uma forma de levar um
maneira geral. alimento, uma orientação em várias áreas, inclu-
E fechando, eu quero só dizer para vocês sive cristã, mas leva também um conteúdo em re-
o seguinte, quando nós pensamos em educação lação aos enfrentamentos da vida, aos problemas
cristã há várias dimensões, mas nós precisamos que estavam passando, até porque a Revolução
olhar a começar pela educação familiar. Muitas Industrial naquele período estava transformando
vezes, no processo de educação há uma transfe- a vida de tantas pessoas devido ao êxodo rural que
rência de responsabilidade da família para a igre- o mundo passava naquele período.
ja. Nesse tempo que nós estamos vivendo muitas As pessoas vinham da zona rural para a
vezes aquela ideia de que a igreja vai resolver o cidade e, consequentemente, ficavam perdidas
problema. E nós precisamos trabalhar isso de uma muitas vezes no dia a dia da cidade sem saber
maneira muito cuidadosa, muito amorosa nas re- muito o que fazer. E a educação cristã, no traba-
lações humanas. lho da escola dominical, depois ganha uma outra
Outra coisa é que a educação cristã ela se dimensão, acaba colaborando com isso. Ou seja,
faz na base da formação de liderança, o Conselho não ficou preocupada apenas em dizer, olha, se
da igreja, o Ministério de Ação Social e Diaconia você não aceitar a Cristo você vai para o inferno
da igreja eles precisam do cuidado de quem lidera ou se você aceitar você vai para o céu. Havia uma
para formar líderes. Por que é que vocês acham preocupação em mostrar também que o evange-
que às vezes nós temos seríssimos problemas de lho proporcionava uma nova qualidade de vida, e
liderança na igreja? Exatamente porque faltou em como eu usei agora a pouco, a própria restauração
algum momento alguma coisa, um curso, uma da dignidade das pessoas.
conversa, um treinamento que pudesse dar base Enfim, são diversas as nossas ideias e as-
para essa formação. Até porque, a práxis, eu cos- suntos, mas eu paro por aqui, Douglas, para a
tumo chamar a práxis aqui da prática da prática, gente poder refletir um pouquinho nessa dimen-
ou seja, não é só aquilo que nós fazemos como são enorme da educação cristã e também nessa
uma coisa rotineira, é algo que vai além disso quantidade enorme de informações que tentei
tudo, é algo que nós fazemos com prazer, com de- passar nesse tempo aqui.
voção, com o desejo de ver mudança na vida do
meu próximo, no caso, dos meus alunos.
Essa é uma questão que se não conside-
rarmos nós caímos numa mesmice, vamos no
domingo na igreja, fazemos os nossos trabalhos,
damos a nossa aula e achamos que com isso nós Rev. Silas de Oliveira

p r o g r a m a d e at u a l i z a ç ã o e m e d u c a ç ã o c r i s tã | 22
 tril h a 0 3
MÉTODOS CRIATIVOS DE
ENSINO ONLINE  Rev. Rodrigo Gasque

Boa noite gente. Tudo bem pessoal? É uma alegria estar com vocês aí, viu. Eu quero fazer primeiro aqui
a minha palavra de gratidão à Secretaria de Educação Cristã da nossa igreja, reverendo José Roberto, o mestre
da vida, e também alguém que eu posso chamar de amigo. Ao meu amicíssimo também Reverendo Nenrod,
é um nome diferenciado, não é? E pela parceria, pela amizade. Também quero agradecer a Gerusa e o Dudu,
o Dudu já está um moção, porque quando eu estive aí me acolheram como se fosse membro da sua família,

p r o g r a m a d e at u a l i z a ç ã o e m e d u c a ç ã o c r i s tã | 23
pela amizade. E também ao reverendo Rômulo e Antigo Testamento, toda a palavra de Deus, como
a Dula, que quando eu estive aí também dando Deus é criativo, como Deus é, usa das mais múlti-
um treinamento pela Coordenadoria Nacional de plas formas de criatividade para se revelar, para se
Criança me acolheram também como se fosse al- comunicar. O Antigo Testamento eu até destaquei
guém da sua família. Todos os irmãos que estão aí as teofanias, e aí eu não vou nem me arriscar
nos acompanhando, ao Presbitério Bahia, minha em muitas coisas aqui porque nós temos aqui o
gratidão por poder participar dessa primeira Vi- nosso doutor, o nosso mestre. Mas a sarça, a sarça
deoconferência em Educação Cristã, Aprendendo é muito interessante, Deus podia ter só chamado
e Ensinando uma Nova Lição. Moisés de canto e sussurrado no ouvido dele e fa-
Sem dúvida o tema é muito importante e lado o que ele queria. Mas ele resolveu botar fogo
oportuno, aprendendo e ensinando uma nova li- numa árvore e aquela árvore não se consumia.
ção, sem dúvida porque os dias que nós vivemos, Isso para mim é um uso de criatividade, de um
e com a pandemia do Covid-19, está nos fazen- alimento da natureza e da maneira como Deus
do repensar alguns aspectos da nossa vida, assim se comunica, que já deve nos chamar a atenção
também como aprender novas lições tanto dentro para essa ideia desse tema, métodos de ensino,
da igreja como fora da igreja, como, a vida como métodos criativos de ensino. E aí nós vamos fa-
todo. Então isso já revela para nós a necessidade lar depois também, claro, do online. Mas eu fico
de uma constante e permanente adaptação na pensando como Deus já estava, já é adiantado e
comunicação do evangelho, e isso sem dúvida avançado nas coisas.
nenhuma inclui as novas tecnologias. Não novas Outro exemplo que eu gosto também de
tecnologias, mas as tecnologias de modo geral, pensar é o uso das tecnologias, Deus já fazia im-
para que a gente possa melhor comunicar e reve- pressão a laser. José Roberto você não arrepia aí
lar o Reino de Deus como já tem sido falado aqui não, por favor, está bom? Deus já fazia impressão
desde segunda-feira. a laser, levou Moisés lá no monte e imprimiu as
E nosso tema que nós vamos falar, que eu leis na pedra lá. Então, essas maneiras criativas de
fui convidado, é métodos criativos de ensino on- Deus... Quando Habacuque, Deus fala para Ha-
line. Métodos criativos de ensino online. Então, bacuque escrever lá nas tábuas para que as pes-
eu vou projetar aqui, vocês me permitam só um soas pudessem ver rapidamente, alguém, alguns
instante, acho que vocês estão vendo, não é? Ok? chamam isso de primeiro outdoor. Então, esse
Muito bem, só mais um instante aqui que eu pre- jeito criativo de Deus se revelar também em Je-
ciso tirar vocês aqui da tela. São novas tecnologias sus. Jesus tinha uma criatividade pedagógica mui-
que também dão trabalho para mexer. Glória a to interessante. Ontem nós já ouvimos aqui do
Deus por isso. Deixa eu ver se eu consigo deixar José Roberto falando a respeito da sabedoria, da
só eu aqui. Está vendo gente, a gente vai falar de sapiência de Jesus, do seu método, a sua manei-
novas tecnologias e nem eu sei mexer direito ne- ra evolvente, ouvimos falar sobre esse Jesus que
las. Coisa linda. Muito bem, mas está aqui, nós é encantador, por onde ele passava ele encantava.
vamos passando aqui. Então, eu fico pensando nessa criatividade peda-
Métodos criativos de ensino online, eu gógica de Jesus. Jesus usava os elementos da na-
queria começar, quando a gente pensa em mé- tureza, Jesus passava por uma árvore e tirava um
todos criativos de ensino online eu acho que nós ensinamento dali, Jesus através de um peixe tirou
precisamos olhar para Deus, Deus e a sua forma ensinamento. Diante das plantações Jesus tirou
criativa de ensinar, de comunicar. Gente, é im- uma lição profunda, e Jesus usava o vento, Jesus
pressionante como, quando a gente olha todo o usava todos os elementos possíveis e de forma

p r o g r a m a d e at u a l i z a ç ã o e m e d u c a ç ã o c r i s tã | 24
criativa para ensinar e para passar, revelar a sua ação misericordiosa de cura da parte de Jesus, eles
vontade, a vontade do Pai também. espalharam a notícia, essa notícia chegou até a Sí-
Interessante Jesus usando a tecnologia, a ria, as pessoas ficaram sabendo a respeito de Jesus.
ideia da física, Jesus se afastava do barco para usar Não é diferente no ensino online, o ensino
a física. Essa ideia da água, que fica mais fácil a online o professor, por exemplo, grava um vídeo e
voz chegar para falar para multidões. Então, me dezenas e centenas de pessoas vão assistir aquele
chama muito a atenção quando esse tema veio à vídeo naquela instituição. Então, Jesus tinha esse
mente, esses elementos me vieram à mente tam- método de ensino online diferente, vamos dizer
bém para a gente poder compartilhar. A comen- assim, a maneira de Jesus ensinar nessa ideia des-
salidade aberta de Jesus, essa ideia da mesa, Jesus sa, desse ministério do caminho, um ministério
sentava na mesa com as pessoas, Jesus aproveitava itinerante que Jesus tinha. Então, diferentemente
esse ambiente de comunhão para ensinar. São tan- das escolas fixas, dos mestres judaicos, a gente
tos os elementos que Jesus e que o próprio Deus conhece aí duas escolas mais famosas, o Hillel e
nos ensina, que eu queria nesse primeiro momen- Shammai, que eram escolas fixas, eram escolas
to já destacar, Deus e a sua forma, e a sua maneira que os alunos iam até essas escolas e pediam para
criativa de ensinar e de comunicar. ser discípulos, pediam para aprender a Torah.
Eu também queria aqui tomar uma li- Jesus tem um método completamente di-
berdade poética aqui, interpretativa, de dizer do ferente, Jesus ele é itinerante, ele é o mestre do ca-
método de ensino online de Jesus. Jesus tinha um minho, e no caminho ele chama, no caminho ele
método de ensino online, gente. Olha só, se você convida as pessoas para fazerem parte do seu pro-
puder olhar comigo, ou se quiser apenas ouvir, no jeto, daquele projeto do Reino de Deus que ele es-
evangelho de Mateus Capítulo 4, Versículo 23 e tava então estabelecendo, inaugurando. Então um
24, do evangelho de Mateus, Capítulo 4, Versículo método completamente dinâmico e relacional.
23 e 24 diz assim: “Jesus foi por toda a Galileia O que já nos mostra, e aí então eu quero só
ensinando nas sinagogas deles, pregando as boas fazer essa primeira introdução aqui, nessa primei-
novas do Reino e curando todas as enfermidades ra parte, falando um pouco sobre educação cristã,
e doenças entre o povo. Notícias sobre ele se espa- o que já nos mostra que a educação cristã é basea-
lharam por toda a Síria e o povo lhe trouxe todos da num modelo de Jesus, ela se faz no caminho,
os que estavam parecendo vários males e tormen- ela se faz na vida comum, no dia a dia, de modo
tos, indemnizados, epiléticos e paralíticos, e ele informal. Assim como também é importante o
os curou”. Olha só, por que eu estou chamando modo formal, planejado, sistematizado, como nós
isso de método de ensino online de Jesus? É óbvio temos na igreja, e até mesmo falando na escola
que não tinha internet na época, mas veja, dentro dominical como essa referência mais tradicional
dessa tradição da oralidade, até que o professor e como nós conhecemos. Mas o método de Jesus
o nosso doutor aqui, José Roberto, falou ontem, nos convida a no caminho revelar quem ele é, e
dessa ideia da tradição oral que Jesus estava e ele revelar também o Reino de Deus.
foi ensinado assim, e não é diferente porque Je- Muito bem, eu tenho que ser mais obje-
sus andou por várias regiões ensinando, pregan- tivo aqui porque o tempo vai. Com a pandemia,
do, curando, como o texto diz. O que me chama pensando no nosso tema métodos criativos de
a atenção desse método de ensino online, vamos ensino online, com a pandemia, agora falando
dizer assim, é que dentro dessa tradição oral aqui- um pouquinho mais do universo online, houve
lo, os seus ouvintes que receberam a mensagem e uma explosão, enquanto que houve o isolamento
foram por ela impactados, ou que tiveram alguma social, houve uma explosão da vida online, nesse

p r o g r a m a d e at u a l i z a ç ã o e m e d u c a ç ã o c r i s tã | 25
universo online houve uma explosão, já existia, já como igreja também enfrentamos o ambiente on-
se era muito usada, mas se potencializou muito line, os desafios do universo online, do ambien-
mais esse ambiente online. te online. Então, eu vou compartilhar um pouco
E é interessante que todo desafio também aqui da nossa realidade, da nossa situação, como a
vem acompanhado de grandes oportunidades, e gente teve que se virar diante desse desafio.
isso a igreja também está tendo oportunidades Como toda a igreja histórica e como a nos-
que talvez ela não tinha antes. Mas essa explosão sa IPI do Brasil, a IPI Central tem 92 anos e teve
do online na pandemia ela afetou vários aspectos, que lidar com o desafio de uma igreja de médio
não só o aspecto pessoal, por exemplo, os rela- porte aí, vamos dizer assim, uma igreja grande
cionamentos virtuais, as redes sociais cresceram até, com o desafio de ter que se inserir de fato no
muito mais. Nós precisamos, por uma questão de ambiente da comunicação online, esse ambiente
necessidade, nós tivemos que estabelecer relacio- virtual. Então, também tivemos que, tivemos que
namentos virtuais com as pessoas para que a gen- ser desafiados em alguns aspectos. Então pensan-
te pudesse não nos esquecer de quem elas eram. do em Deus, Deus nessa maneira tão criativa de
Então, tem sido um desafio muito grande. agir, de falar, de ensinar, também todo esse mo-
Na Educação as faculdades, universidades, mento que tem nos projetado para um ambiente
escolas tiveram que ir para o ambiente online, online, então por isso que o nosso tema então é
quem tem filho pequeno aqui ou filho na escola métodos criativos de ensino online. Então, nós es-
ainda sabe qual os desafios que isso tem sido. No tamos aí um pouquinho online já para falar sobre
comercial nós tivemos uma explosão do cresci- essa ideia.
mento do e-commerce, dessas compras virtuais, A primeira coisa que eu queria abordar,
então desafios também que atingem na vida pro- que a metodologia criativa é quando eu utilizo os
fissional. Videoconferências não é diferente, nós recursos ou as ferramentas disponíveis, sejam elas
estamos aqui agora fazendo uso de uma das tec- humanas ou tecnológicas, como fonte de atração,
nologias, reuniões, home-office, que nós tivemos como fonte de chamar a atenção, de atrair para
aí muitas pessoas trabalhando em casa. E também promover interação, mediação ou compartilha-
no ambiente religioso, nós tivermos da inserção mento de vida, ou da vida, e também de conhe-
no ambiente virtual. Haviam igrejas que estavam cimento, conhecimento bíblico, no caso conheci-
desconectada, ou, pelo menos, uma grande por- mento das coisas do Senhor.
centagem desconectadas do ambiente virtual, e Mas por que humano? Porque, eu me
tiveram que naturalmente por essa explosão, por lembro que em um dos encontros aí na Bahia, da
essa necessidade, ir para o ambiente virtual. E esse Coordenadoria Nacional de Crianças, eu entre-
foi o grande, tem sido também o grande desafio guei para as professoras, para os professores que
das igrejas, a pandemia obrigou a todos nós a ir- estavam fazendo o curso apenas uma folha de pa-
mos para o universo online, se reinventar, conhe- pel kraft, um pedaço de papel kraft, uma caneta,
cer tecnologia, usar tecnologia. um canetão Piloto e uma tesoura, só isso. E na di-
A gente sabe que quando a gente olha para nâmica eles tinham um texto bíblico, uma histó-
a nossa igreja, e eu quero já aproveitar para entrar ria bíblica, e eles tinham que criar todo o visual a
aqui nesse tema, ‘IPI Central e os Desafios da Co- partir apenas desses três recursos, desses três ma-
municação Online’, e aqui eu quero tomar a liber- teriais, um material didático, visual, para dar aula
dade e pedir que vocês me permitam, até por uma para determinadas faixas etárias. E eu confesso
questão de um convite que me foi me feito, para que sempre quando eu dou essa dinâmica sem-
compartilhar um pouquinho de como nós aqui pre fica um desafio, meu Deus, será que vai con-

p r o g r a m a d e at u a l i z a ç ã o e m e d u c a ç ã o c r i s tã | 26
seguir, será que não vai conseguir? É tão pouco, é independente se a igreja é essa ou se a igreja é
tão pouco que você fica: não, mas é mais gostoso aquela, o ambiente virtual ele é inclusivo, porque
se fosse um slide ou se fosse uma coisa já pronta, existem ferramentas para todos. Existem inúme-
não é. E foi muito interessante porque é sempre ros recursos e ferramentas para a promoção do
surpreendente ver como o ser humano, como os ensino, para a transmissão de conhecimento, for-
dons se revelam, se manifestam, e como nós so- mação de pessoas no universo online.
mos criativos, não é. Então, aí foi uma experiência A IPI Central e a Comunicação Online.
muito interessante da Bahia, nós tivemos vários, Olha, talvez você possa pensar o seguinte, mas a
dos cinco grupos, nós tivemos, foi muito bom, foi, IPI Central eu já ouvi falar, é uma igreja grande, é
a criatividade dos irmãos aí foi fantástica. uma igreja que tem recursos. Olha, eu posso dizer
Então, eu fico pensando que, quais são as para você que a comunicação online de fato co-
ferramentas disponíveis? Nós somos a ferramenta meçou acontecer aqui na IPI Central em 2017. É
disponível, não é? Nós somos a primeira ferra- tão pouco tempo, uma igreja de um médio porte
menta disponível. E aí nós temos as tecnologias que podia estar há muito tempo já no universo
também como ferramentas para a atração, para online, já se, já comunicando nesse ambiente, e
atrair e para revelar a Jesus. Então, como eu disse, nós em 2017 que começamos. Então, para você
a pandemia ela, com o impedimento da convivên- ver que nem sempre é uma questão apenas de
cia normal, social, ela projetou também a educa- recurso, nem sempre é também divisão, também
ção cristã e outras atividades para esse universo de entender a importância do uso e das ferramen-
online. Então, fora da igreja - deixa eu só ver uma tas da tecnologia. De fato nós começamos aqui a
coisa aqui, que estão me mandando tanta men- transmissão online em 2017. No passado a igre-
sagem aqui, que eu achei que podia estar alguma ja já teve uma experiência, mas era uma questão
coisa errada aqui, não, não é nada não - então esse aqui interna, não era online, mas a igreja sempre
universo online ou essa necessidade nos projetou tentou buscar fazer uso das tecnologias, mas no
para fora. ambiente online é recente. Então, a partir desse
Agora eu queria dizer uma coisa que tam- momento também, em 2017, nós criamos aqui
bém eu acho que é importante, quando a gente o Ministério de Comunicação, foi investido em
fala de recursos, é que igrejas com recursos e igre- pessoas, acho que a importância disso, do desafio
jas que não tem tanto recurso assim, tem espaço das pessoas, é menos dinheiro, mais disposição,
no ambiente virtual. Tem espaço no uso de tec- é menos recursos e mais gente, mais voluntário,
nologias, não é. Porque o ambiente virtual ele é mais dons sendo manifestados.
um ambiente inclusivo. É claro que mais à frente a Então, nós começamos a usar aqui as pes-
gente vai ver sobre essas desigualdades, mas é um soas. É muito importante quando a gente fala em
ambiente inclusivo, porque existem ferramentas pessoas aqui na ideia de comunicação online, usar
para todos, tanto ferramentas gratuitas como fer- os recursos do ambiente virtual, usar as gerações
ramentas que podem ser adquiridas, como esse, mais novas. As gerações mais novas já nasceram
certamente aqui esse, o Zoom, o Zoom aqui é Pró, conectadas, elas já nasceram, eu brinco que nas-
provavelmente, porque o pessoal aqui é chique ceram com chip, já nasceram com chip. É impres-
então o Zoom é Pró. Então a gente pode falar o sionante a habilidade que eles têm, é impressio-
tempo que a gente quiser aqui. Então, se não fosse nante a facilidade. E nós precisamos inserir. Você
Pró, se não fosse pago a gente já teria uma limita- pode ver nessa foto aí, nessa imagem, que a maio-
ção de horário, a gente já tem uma limitação de ria é molecão aí, é adolescente. Só tem um mais
recursos. Mas mesmo assim é possível usar então, velho ali, que é alguém que foi extremamente

p r o g r a m a d e at u a l i z a ç ã o e m e d u c a ç ã o c r i s tã | 27
importante. Depois investimos em treinamento, Bom, você vai ver aí rapidamente um vi-
estrutura. Treinamento, essa ideia de treinamen- deozinho aqui que...
to, eu queria falar sobre a importância da técnica, Bom, então basicamente, eu vou passar
de aprender usar as coisas, os equipamentos e tal, esse vídeo, irmãos, a ideia é motivar o seu cora-
mas também a importância de ter visão. Então, ção. Porque olha, veja, uma igreja que até 2007
um dos que estão na foto aí, um irmão que morou ela não tinha isso, o universo online já está aí há
fora teve essa experiência e quando voltou para muito tempo ajudando a igreja, ajudando e fa-
o Brasil, voltou para a igreja dizendo: pastor, nós cilitando a nossa vida. Então, para mostrar, nós
precisamos melhorar, há muita coisa boa para ser não tínhamos nada. Surgiu de alguém que teve a
feita, nossa igreja tem potencial, mas nós não es- visão, que trouxe a visão, não foi fácil, não veio
tamos avançando nisso. investimento da noite para o dia, a igreja não
Então, o desafio de melhorar a estrutura, olhou e falou: puxa, que legal e vamos colocar
equipamento é importante. Estrutura é usar o que dinheiro. Não tinha dinheiro, não tinha dinhei-
tem, e equipamento é necessário, mas sem exces- ro para isso. Teve apoio, teve ajuda, então é mais
so. Fazer com que se tenha. Começamos com uma para te motivar e para você entender que é possí-
webcam, assim como a maioria das igrejas o faz, vel fazer algo bem feito, com criatividade e usar
ou com o celular. Então, é muito importante isso. o universo online.

FERRAMENTAS PARA PRODUÇÃO

Muito bem, a gente usa aí para comunicação, falando um pouco das ferramentas, para a produ-
ção alguns softwares, o StreamYard, que é bastante usado, o OBS Studio e o vMix, esses são os softwares
que você pode baixar ou você também pode comprar, para poder fazer uso. As gerações mais novas,
você coloca na mão, é impressionante a habilidade para poder editar, para poder mexer. A exibição a
gente usa essas redes que também são chamadas de streaming, que é de exibição como YouTube, Face-
book. Nós também usamos o aplicativo da nossa igreja, e também o site. Então, são elementos básicos,
e um pouquinho mais avançados, que aí no caso já é o aplicativo que a igreja, alguém desenvolveu, e
o site da igreja também que é própria aqui, que o pessoal que trabalha mantém essa ideia. Mas o mais
básico seria o YouTube e o Facebook, que é o que a grande maioria nós usamos.

p r o g r a m a d e at u a l i z a ç ã o e m e d u c a ç ã o c r i s tã | 28
Isso tem a ver com online, isso tem a ver Pregação então nem se fala, não é, mais contex-
com usar recursos. E a divulgação, as mídias es- tualização da vida. Por quê? Porque agora muitas
tão aí. Eu estou mostrando também para você aí pessoas da igreja e fora da igreja estavam nos as-
o layout aí do nosso aplicativo, a IPIC Prudente, sistindo. Então, aqueles jargões, aquela, aquelas
aí a pessoa que produziu é IPI inpeaceapp. Então, coisas assim, aquela linguagem eclesiástica, teoló-
você pode aí, curiosidade também, baixar e co- gica, nós tivemos que nos adaptar, tivemos que ser
nhecer. O nosso primeiro projeto era uma menina ajudados. Isso tem a ver com criatividade, isso tem
aqui, uma moça da igreja que fazia faculdade de a ver com se reinventar nesse novo universo que
tecnologia da informação, e como trabalho dela nós estamos sendo obrigados, e de certa forma
ela desenvolveu um aplicativo. Então, está vendo, até positiva, a nos projetar. Linguagem atemporal,
são recursos que estão no meio da igreja às vezes, porque as pessoas vão assistir o vídeo depois. En-
e que a gente precisa estar atento com relação a tão, até o boa noite, você começar um vídeo, boa
isso. noite, se a pessoa está assistindo logo de manhã
Outra coisa importante dizer da inclusão ela fala: falou errado. Então, às vezes um olá, seja
versus exclusão do mundo digital. A gente sabe bem-vindo. E para conseguir lembrar que tinha
que existe aí um buracão aí que separa muitas ve- que falar olá, seja bem-vindo! É um negócio mui-
zes, a gente viveu isso, por isso a inclusão da li- to difícil, porque a gente está acostumado.
bras, nós tivemos que fazer todo um trabalho com Então assim, por exemplo, não é irmãos?
essa questão. Então, hoje todos os cultos, todos os Mas tem mais gente assistindo, que talvez não se
vídeos têm libras. A gente sabe da desigualdade sente tão irmão assim da gente. Então, nós tive-
do acesso, dificuldade dos nossos idosos. Nós ti- mos que nos adaptar, não é. Já fica aí porque essas
vemos como igreja que falar com os filhos, pedir dicas também têm a ver com essa ideia criativa
para que eles pudessem ajudar, até mesmo ajudar que esse momento também está exigindo de nós.
alguns idosos. Aqui eu quero trazer a experiência Uma linguagem mais inclusiva, como eu acabei
da dona Helena. A dona Helena fez parte da nossa de dizer, menos termos teológicos. Nós tivemos
classe Nova Vida do ano passado, não, desse ano que nos incluir nas plataformas sociais também, a
mesmo, e ela, o que acontece? Ela vinha aqui as- gente teve que aprender luz, câmera e ação. Olha
sistir a aula aqui na igreja porque ela não sabia gente, a tarde aqui foi colocado um highlight, está
mexer com computador, ela não conseguia mexer aqui em cima aqui de mim uma luz, tem um mi-
com o celular, então ela vinha até a igreja, e a gen- crofonão aqui embaixo, foi colocada uma câmera
te colocou as aulas aqui para ela ver. Então, são aqui, os meninos ajeitaram tudo aqui. Gente, não
maneiras que você pode incluir as pessoas dentro tinha nada disso, a gente só abria a Bíblia e falava.
desse desafio do universo online. Dá muito trabalho esse universo online, mas pode
O desafio pastoral, nós tivemos que nos ser simples, não precisa de muita coisa para a gen-
adaptar também, não é gente, como todos os pas- te poder fazer a obra de Deus. Então nós tivemos
tores que talvez estejam aqui, as pastoras, os mi- muitos desafios.
nistros, as pessoas que servem na igreja, os pres- Bom, na parte da educação cristã online a
bíteros aí, que desafio maluco, não é, esse tempo gente precisa entender o que a reverenda Sheron
trouxe, litúrgico. Tempo de liturgia, teve que di- disse aí: processo, que é um processo deliberado,
minuir o tempo de liturgia, ninguém tenta aguen- ou seja, planejado também, e intencional, tem que
ta ficar tanto tempo na frente da câmera. Dinâ- exigir a nossa vontade de fazer. Pela qual Cristo
mica mudou, tivemos que mudar a dinâmica da é formado nas pessoas, visando a transformação,
liturgia, ser mais objetivo, mais contextualizado. formação e crescimento da pessoa toda, da igreja

p r o g r a m a d e at u a l i z a ç ã o e m e d u c a ç ã o c r i s tã | 29
toda, todo o tempo. Então educação cristã tem a
ver com a pessoa toda, já foi bastante falado aqui,
eu não vou entrar nisso, a igreja toda, mas o tem-
po todo. Então, ela acontece de modo muito dinâ-
mico, não tão restrito apenas a maneira tradicio-
" Educação cristã tem a ver
nal como a gente conhece.
O nosso Ministério de Educação Cristã ele
com a pessoa toda"
é formado baseado em quatro trilhos: integração,
que é as pessoas novas que estão chegando na fé;
a vida cristã, então os desafios que os valores do
reino nos traz; Bíblia e teologia, um pouco mais
aprofundando; e também quando a gente pensa
na questão da liderança e treinamento, já capa-
citando o povo para servir e treinando. Então,
a nossa educação cristã, o nosso Ministério de
Educação Cristã aqui na IPI Central está baseado
nesta, nesses quatro trilhos. Isso também surgiu
dentro desse ambiente online, da necessidade da
gente se organizar, da necessidade da gente proje-
tar, da gente mostrar, da gente ter criatividade da
maneira como a gente vai e iria realizar. Isso tem
a ver com o planejamento, como ela disse, é um
processo deliberado, mas também tem a ver com
intencionalidade, de fazer, de realizar.
Interessante que nós usamos aqui - deixa
eu dar uma olhada aqui - uma coisa que a reve-
renda Sheron ainda fala naquele livro dela é que
educação cristã como um processo contínuo, é
que ela vai facilitando, ela vai promovendo, ela vai
gerando, ela vai guindo, acompanha, ela estimula
todo o desenvolvimento da pessoa. Então, quando
a gente pensar em educação cristã, como nós já
fomos desafiados aqui, pensar de forma bem am-
pla e de forma bem aberta, não.
Bom, eu vou passar um vídeo aqui para
você ver como ficou o videozinho que nós fize-
mos, isso não foi no início, isso veio depois, na
nossa caminhada já de ir melhorando, uma intro-
dução aqui a vinheta da nossa educação cristã on-
line. Tudo isso é para desafiar o seu coração, não
é para dizer que somos aqui de alguma maneira
melhor que ninguém, mas é para desafiar e ser-
mos motivados pela experiência que temos vivido

p r o g r a m a d e at u a l i z a ç ã o e m e d u c a ç ã o c r i s tã | 30
aqui viu meus irmãos. nha mais classe presencial, não tinha mais igreja.
A aula do dia foi aí como você viu, a espiri- O que ela fez? O neto, o neto dela falou: vó, não
tualidade e saúde. Mas olha quem esteve conosco dá para deixar o seu conhecimento parado, vamos
pela primeira vez aí, olha, esse bonitão aí que está para o online, vamos para o virtual. E aí ele inscre-
na foto aí, foi o primeiro professor que nós tiver- veu, fez um canal no YouTube, no Instagram, e ela
mos na nossa primeira escola bíblica online aqui, tem um número que eu quero, de visualizações,
em 2020. Para a nossa grande alegria e privilégio dê uma olhada só na imagem, eu vou colocar uma
tivemos aí o José Roberto falando a respeito da setinha para você ver. Ou seja, a ala dela aqui na
vida de Jesus nos evangelhos. Uma das coisas que igreja comportava entre 25 a 30 pessoas. Um ví-
nós buscamos aqui fazer, quando formos, tivemos deo dela já tem 2.700 visualizações. Ou seja, uma
que ir, como todos vocês aqui foram desafiados mulher que poderia ficar em casa, não vou fazer
aí por ensino online, a primeira coisa que a gente mais nada porque parou a igreja, não, ela foi para
pensou foi numa boa formatação, e uma forma- o mundo virtual ensinar o que ela sabe fazer mui-
tação em formato EAD. Ou seja, tendo uma boa to bem, que é a palavra de Deus.
audição, audiovisual, foi um desafio muito gran- Então, irmãos, esse é o desafio, quais fo-
de, porque também não estávamos assim prontos ram as ferramentas que ela usou? YouTube, que é
naquele momento. Tivemos um padrão de slide. o streaming, que é um ambiente de visualização,
Então nós criamos um padrão de slide, todas as e o Instagram. E lá ela faz o panorama bíblico e lá
pessoas que iam falar elas tinham, elas recebiam ela está alcançando muitas e muitas, e muitas mais
um padrão de slide. Irmãos, isso para mim tem a pessoas que ela iria alcançar aqui na igreja. Então,
ver com criatividade, tem a ver com usar a inteli- é claro que ela quer muito voltar para a igreja, ela
gência, usar todo o seu potencial para organizar, já tem falado isso: quando vamos voltar? Mas olha
para fazer o melhor que você pode fazer. só como um exemplo de superação e adequação
Outra coisa que nós tivemos foram temas para a gente seguir.
relevantes e atuais. Nós estávamos no meio, no Outra coisa que nós fizemos na pandemia
meio da pandemia, vivendo aquele momento, foi criar uma plataforma de ensino à distância. A
ainda muito assustados ainda como estamos hoje, gente chama essas plataformas, o AVA, é conhe-
sem saber o que nos esperava. Tivemos temas bem cido como AVA, plataforma de ensino à distân-
relevantes, bem atuais, tanto para a vida da igreja cia. E nós fizemos a primeira, o nosso primeiro
como temas contextuais, daquilo que estava acon- modelo para a classe de novos membros. Classe
tecendo, como espiritualidade e saúde, o cristão e de novos membros híbrido, de forma híbrida, ou
a ética no mundo atual. Tivemos a respeito, sobre seja, online e presencial. Nós gravamos 12 aulas
finanças, porque a pandemia paralisou, tivemos de 15 minutos, os pastores, nós gravamos aqui 12
muitos problemas financeiros. aulas, dentro dessa plataforma a pessoa tinha que
Bom, e agora eu quero mostrar para você a fazer atividade, tinha um chat para conversar com
dona Esmeralda. A dona Esmeralda é um exemplo o tutor, no caso, e eram quatro aulas presenciais.
de superação e adequação e de criatividade nesse Gente, nós usamos um missionário que mexe
tempo que a gente está vivendo. Dona Esmeralda, com tecnologia da informação para poder fazer
82 anos, uma presbítera da nossa igreja, ela tinha isso. Não foi ninguém aqui da nossa igreja, nós
uma classe presencial de panorama bíblico há 40 não tínhamos ninguém para fazer isso. E foi uma
anos, há mais de 40 anos. Você imagina, era uma benção, e tem sido uma experiência muito inte-
das maiores salas que nós tínhamos aqui na nossa ressante, digo, desafiadora para nós, mas muito
educação cristã. E ela parou, não podia, não ti- interessante. Então aí está a plataforma, só para

p r o g r a m a d e at u a l i z a ç ã o e m e d u c a ç ã o c r i s tã | 31
você poder dar uma olhadinha rapidamente as- ambiente virtual de aprendizagem, que você pode
sim, quando você entra, o aluno entra, ele tem fazer uso. Existem plataformas que são institu-
essa imagem, depois ele vai acompanhando o cionais, a geração mais nova que está aqui sabe
curso dele, você pode observar as aulas ali: aula 1, muito bem, Moddle, Plural, Genera, tem uns no-
aula 2, atividade. mes aí, olha irmãos, que nem eu muito bem en-
Deixa eu te dizer uma coisa, nós não po- tendo, sabe, quem me ajudou bastante também
díamos ter pessoas na igreja, assim como você aqui foi o pastor Matheus, que é o pastor dessa
também não podia, e nós recebemos nesse tem- geração mais nova, que entende tudo disso aqui. E
po de pandemia aqui na nossa igreja, desde o ano também tem plataformas de curso livre que você
passado e mais essa turma agora, em torno de 110 pode baixar, que você pode criar um site gratui-
pessoas, novos membros. Esse é o grande desafio to, você pode até criar uma plataforma de ensino
nosso, ou a gente vai olhar para a tecnologia e vai gratuita, ou também comprando. Isso existe para
usar ela como instrumento para anunciar o que ajudar a gente. Então, eu não tenho muito o que
nós temos de mais precioso, como Paulo diz, um dizer a respeito disso, mas existem vários cursos
vaso de barro, que é o próprio evangelho. Então, que também podem ser conteúdos grátis e pago,
nós precisamos aprender a superar os nossos de- Hotmart, EduK, tem um também chamado Do-
safios, assim como a dona Esmeralda superou lá, méstica. Pois é, esse Doméstica comprei dois
vamos dizer assim, e tem sido uma bênção. cursos de marcenaria, porque eu gosto de mexer
E então a pessoa tem o vídeo, ela assiste com madeira, comprei dois cursos de marcena-
uma aula curta. Outra coisa importante, falando ria, e vou, estou estudando. Então, você vê que
de método de ensino criativo, é que o universo coisa boa. Então, tanta coisa que Deus está nos
online é curto. Por exemplo, eu já estourei o meu dando nesse tempo tão difícil que nós estamos
tempo aqui, eu não deveria ter estourado. Esse é vivendo, não é.
outro desafio para nós, não é, pastores, aqui a gen- Você também pode fazer isso como, por
te tenta se policiar, falar 30 minutos a 35 minutos. exemplo, nós temos aqui live de oração e estudo
E a gente sempre tem que chamar a atenção um bíblico, que acontece todos os dias, de segunda a
do outro depois. sexta-feira, às 7:30 da manhã. Temos uma live de
Muito bem, as crianças. As crianças tam-
bém tivemos que inserir no universo online - dei-
xa eu só cancelar aqui que bateu o meu time aqui,
está chamando a minha atenção – a divulgação
pelo Facebook, Instagram foi produzido tam-
bém por essas ferramentas StreamYard, que são
softwares de estúdio virtual. E a exibição era feita
pelo YouTube, Facebook e pela plataforma tam-
bém que eles têm. Então, Central Kids, que é o
nome do Ministério Infantil, foi também para o
universo online para ajudar também as crianças
nesse processo de anunciar o reino aos nossos pe-
queninos.
Então, um grande desafio para nós, exis-
tem, podemos dizer assim, várias plataformas de

p r o g r a m a d e at u a l i z a ç ã o e m e d u c a ç ã o c r i s tã | 32
oração e estudo bíblico durante meia hora. Ferra- compartilhar com outros usuários, o próprio
mentas usadas: Facebook, YouTube e Instagram. evento, divulgar e receber confirmação de evento.
Olha só, está aí, está a nossa disposição. É claro Poder fazer comentários, mandar mensagens nes-
que nem todos nós temos habilidades para saber se ambiente de interação. Então, essas ferramen-
mexer, mas vamos chamar alguém, um jovem, tas criam.
um filho, um neto que saiba, alguém jovem da Por exemplo, um dia eu estava pregando
igreja que possa nos ajudar. Nós também temos a aqui na igreja e eu fiz um apelo virtual, eu me
torre de oração, que nós usamos aí via aplicativo direcionei aqueles que estavam nos assistindo e
da igreja, e também para distribuir os pedidos de por um tempo de entregar a sua vida a Jesus e tal.
oração via WhatsApp, lista de transmissão. Tam- Qual foi o meu desafio para essa pessoa que está
bém pode ser usado, por exemplo, o Telegram. É do outro lado que eu não vejo, que eu não tenho
outra ferramenta muito boa, o Telegram é bom contato com ela visual, que ela pudesse dizer se ela
por quê? Porque ele te permite baixar ou descar- havia feito a oração? Pelo comentário. E algumas
regar vídeos com maior quantidade de tempo, e pessoas: olha, estou entregando a minha vida a Je-
também de megabytes lá e de gigabytes. Então, o sus, eu estou fazendo hoje pela primeira vez uma
próprio Cristofani tem aí um grupo no Telegram oração. Pessoas que nos visitam online, a gente
onde ele também leciona e ensina, não é. diz: se você nos visita pela primeira vez deixe seu
Outra coisa que foi importante para nós telefone, diga que é a primeira vez para que a gen-
foi as células. As células foram, estão sendo rea- te possa entrar em contato. Então, esses recursos
lizadas em reuniões virtuais. Nós não paramos internos nos ajudam, eles criam esse ambiente de
os grupos de célula em nenhum momento. Em interatividade, criatividade, para a gente poder
nenhum momento. Nós temos em torno aqui de não somente fazer a educação cristã, mas eu estou
40 a 50 células, nós não paramos os grupos pe- aqui falando de outros aspectos da vida da igreja,
quenos. Usando as ferramentas isso foi muito útil estou ampliando um pouquinho.
para nós. Então as células aqui usam o Google Enquetes, você faz isso bastante no Insta-
Meet, também bastante usado para reuniões e en- gram, coletar opinião: o que você acha sobre esse
contros virtuais, o Zoom, que é esse aqui que nós assunto, o que você acha se a gente falasse sobre
aqui estamos usando. E também algumas células esse assunto, que assunto você gostaria que a
usam o outro, aquele mais antigo, que a gente até igreja abordasse? E assim vai, você, distribuição
esquecia que existia, o Skype, que é usado também de conteúdo para você poder baixar, comparti-
para as reuniões. Então esses são aí os chamados lhamento de imagem, possibilidade de debates.
formato meet, que são essas reuniões chamado de Aí você está vendo aí, no caso das plataformas de
Web Meet, são reuniões virtuais, da qual até nós ensino online você tem o tutor.
estamos aqui fazendo uso nesse momento. Então, por exemplo, na nossa plataforma
Muito bem, todas essas ferramentas elas, de ensino online da classe de novos membros eu
internamente ela tem, elas têm, elas possibilitam, sou o pastor tutor, então nessa última classe algu-
elas disponibilizam recursos para a gente usar. mas pessoas fizeram perguntas: pastor, eu tenho
Então, algumas dessas ferramentas, ou a grande dúvidas a respeito desse assunto, por favor, me
maioria delas tem o chat onde você pode conver- responda. Então, a gente respondia aquela dúvida
sar, tirar dúvida aqui. No início uns irmãos fa- daquela pessoa. Vejam só como é importante es-
lando boa noite, olá, ou fazendo perguntas e tal. sas ferramentas, e até mesmo download para você
Fotos e vídeos, permite a gente poder usar isso, poder baixar material e etc.
trabalhar com isso. Compartilhar informações, Bom, eu falei demais e não queria ter gas-

p r o g r a m a d e at u a l i z a ç ã o e m e d u c a ç ã o c r i s tã | 33
tado tanto tempo assim, me perdoem. Me per-
doem aí a administração da videoconferência.
Eu quero apenas encerrar com essa frase dizendo
que as ferramentas elas são o meio e não o fim,
elas são apenas um meio e não um fim. O remoto
não substitui o conteúdo do evangelho, é muito
importante a gente falar sobre isso. O fim é co-
municar o evangelho do nosso Senhor e salvador
Jesus Cristo, seja para o discipulado, seja para
um pequeno grupo, seja para a formação de uma
liderança, seja no estudo da semana, seja para a
realização de um culto, é para isso que a ferra-
menta serve. Então, a educação cristã é a grande
ferramenta, seja ela então através de um sinal de
fumaça, como antigamente, ou através do YouTu-
be. Então, como me foi pedido, para compartilhar
um pouco da nossa experiência e abordar um
pouco como nós podemos ser criativos também
no fazer uso das tecnologias.
Então muito obrigado José Roberto e Dou-
glas me desculpem pelo passar da hora também.

Rev. Rodrigo Gasque

p r o g r a m a d e at u a l i z a ç ã o e m e d u c a ç ã o c r i s tã | 34
 tril h a 0 4
A BÍBLIA E A EDUCAÇÃO CRISTÃO
(CONCEITUAÇÃO)  Rev. Júlio Paulo Tavares Mantovani Zabatiero

Bem, essa introdução leva a gente ao que eu gostaria de conversar com vocês, que é o desafio da mu-
tualidade na educação cristã. Eu vou então colocar aqui para vocês poderem ver o resumo, o esboço aqui da
minha fala. O tema então ‘Bíblia e Mutualidade na Educação Cristã’. E aproveito aquilo que o Douglas já esta-
va falando na introdução, educação cristã de fato não se reduz à escola dominical e não se reduz também ao
estudo da Bíblia, ela engloba toda a vida da igreja, ela engloba a nossa vida em casa, a nossa atividade, enfim, o

p r o g r a m a d e at u a l i z a ç ã o e m e d u c a ç ã o c r i s tã | 35
tempo que nós dedicamos a conhecermos melhor site do Hillel, você entra nos blogs e vlogs que
a Deus, tudo isso faz parte da educação cristã. existem aos milhões na internet, você vai desco-
Uma pequena parte do que nós chamamos brir que hoje qualquer pessoa produz o seu vídeo,
de educação cristã é o que acontece na igreja, a o seu curso e se joga na rede e coloca o seu en-
maior parte acontece fora dos horários de encon- sino, o seu material à disposição de quem quiser
tro na igreja local. Então, a nossa tradição de vá- ouvir. Eu brinco assim, o único problema desse
rios séculos de igreja, de igreja local, com os seus potencial democratizador é que às vezes a demo-
programas, com os seus horários, ela teve um cracia faz a gente ouvir o que a gente não mere-
efeito colateral que é esse da gente acreditar que cia, o que a gente não precisava ouvir. Quer dizer,
a vida cristã é participar dos programas, das ativi- como qualquer pessoa pode falar qualquer coisa
dades da igreja, quando a vida cristã é muito mais no ambiente da rede mundial, bom, a pessoa pode
do que isso e consequentemente então a educação falar muita coisa que a gente não precisaria ouvir.
cristã é muito mais do que aquilo que acontece E infelizmente isso acontece. Quer dizer, esse lado
formalmente nas reuniões da igreja. positivo é acompanhado imediatamente por esse
Bem, agora, educação, seja ela cristã, teo- aspecto negativo, que é então o que eu chamo da
lógica, secular, qualquer tipo de educação, sempre superficialização do saber.
acontece num contexto, numa realidade, e a reali- A minha esposa é a minha, vamos dizer as-
dade em que nós vivemos hoje em grande medida sim, é minha parceira de estudos teológicos, e ela
é determinada pelas tecnologias de informação e é aqui em casa quem assiste blogs, assiste vlogs,
os desafios e possibilidades que essas tecnologias sabe usar esses negócios de Instagram, essas coisas
trazem para nós. Bem, sobre possibilidades não todas, então a gente sempre conversa e ela sempre
preciso falar muito, nós já estamos aproveitando compartilha vlogs, principalmente vlogs, vídeos e
uma dessas possibilidades, não só por causa da falas das coisas que ela gosta de procurar na inter-
pandemia, esse encontro é virtual, principalmen- net ligadas à arte, etc., e é difícil você achar coisa
te, é claro, por causa da pandemia, que impede a boa, infelizmente. Assim, há muita informação ou
viagem, a locomoção com liberdade que a gente inútil, ou banal ou informação muito superficial.
gostaria, mas também, se nós pensamos no ta- Então, eu diria, do ponto de vista da edu-
manho do Brasil, no custo de viajar, por exemplo, cação eu creio que esse é o aspecto mais negativo
eu moro aqui no interior de São Paulo, para eu então das tecnologias da informação. O saber é
chegar até Salvador ou alguma outra cidade do superficializado, e é achatado, sabe, quer dizer, ele
interior da Bahia é um custo relativamente alto, fica da espessura da tela do computador, do celu-
demanda tempo, toda uma logística de você se- lar, da TV, do tablet, fica um saber muito fininho,
parar, seja se vai de avião, de ônibus, enfim, tem muito superficial, muito pobre. E mesmo quando
todo um preparo. E com esse tipo de tecnologia a gente encontra um material de profundidade,
que nós temos, o Zoom e outros programas e si- de qualidade, como esse material está no meio de
tes, nós ganhamos tempo, ganhamos dinheiro e uma infinidade de outros materiais, a gente não
conseguimos nos reunir. Então isso faz parte dos consegue tempo suficiente para processar essa in-
aspectos positivos das tecnologias de informação. formação boa.
Esse aspecto positivo a gente pode acres- Eu tenho lido várias autoras e autores que
centar também esse potencial, está aqui embaixo, estão estudando os efeitos da rede mundial de
inverti a ordem, o potencial que essas tecnologias internet na vida das pessoas, e vários autores e
têm de democratizar a produção e a difusão dos autoras de diferentes lugares do mundo pesqui-
saberes. Então, se você entra num YouTube, num sando independentemente uns dos outros têm

p r o g r a m a d e at u a l i z a ç ã o e m e d u c a ç ã o c r i s tã | 36
falado sobre essa redução da capacidade humana
de processar as informações. Ou seja, a velocida-
de de difusão de informação na internet é mui-
to maior do que a capacidade do nosso cérebro,
de cada pessoa, processar essas informações. Ou
seja, o nosso cérebro não trabalha no ritmo dos
100, 200 ou 300 megas de velocidade que você
tem na sua internet em casa e muito menos dos
N gigas de velocidade que a rede mundial possui.
Então de vez em quando eu faço, tento fazer algu-
ma experiência para verificar se o que esse pessoal
diz é verdade, então tem épocas que eu faço o se-
guinte, eu passo um dia só navegando na internet
pegando material, material sobre algum tema que
eu estou estudando. Então, eu só vou baixando
materiais, artigos, livros, textos em blogs, colo-
co lá nos favoritos vídeos, eu passo várias horas
do dia fazendo isso. Depois eu paro e vou fazer,
bom, e agora, o que eu consigo avaliar, o que eu
consigo aprender de tudo isso? O que eu consigo

"Para educar filhos, por exemplo, o pai, a mãe, os pais,


precisam de um conhecimento crítico de como funciona a
infância, e esse conhecimento crítico, esse conhecimento
teórico muda, porque a infância muda."

baixar, por exemplo, em duas horas de navegação Ao lado desse desafio negativo, eu acho
na internet eu não consigo ler nem em seis meses. que o segundo grande problema é o fato de que
Quer dizer, então é muito complicado isso, você na internet então nós deixamos de ter o nosso
tem um mundo inteiro de saberes à sua disposi- corpo e nós somos reduzidos ao nosso avatar, a
ção, mas ao mesmo tempo esses saberes estão fora nossa identidade virtual. E tem gente que é ho-
do seu alcance, porque nós não conseguimos pro- nesta e aparece na internet como ela é no seu dia
cessar tudo isso. Esse é ao meu modo de ver então a dia, mas a maioria das pessoas cria uma imagem
o pior aspecto, do ponto de vista da educação, é o para aparecer na internet, boa, má, ruim, isso é
maior desafio negativo. irrelevante, mas a maioria das pessoas constroem

p r o g r a m a d e at u a l i z a ç ã o e m e d u c a ç ã o c r i s tã | 37
uma imagem que não corresponde ao que ela é. quer aprender a fazer um bolo de aipim, aí na
E todos nós, sendo ou não sendo honestos na Bahia deve ser macaxeira, se não me falha a me-
nossa participação na rede participamos apenas mória, nos outros lugares é mandioca, você pega,
virtualmente, o nosso corpo fica paradinho aqui você entra na internet e você tem dezenas de re-
em casa. Quer dizer, eu estou sentadinho aqui na ceitas. Parece então que a gente está aprendendo
minha sala, no meu escritório, não consigo andar bastante coisa. Mas para você seguir uma receita
para lá e para cá porque eu tenho uma câmera só de bolo é muito fácil, agora, para você saber fazer
e essa câmera... eu não tenho câmera man ou câ- bolo você precisa de um saber mais crítico, mais
mera woman para andar com a câmera sala me teórico, você precisa saber como os ingredientes
acompanhando. Numa sala de aula física eu ando, de um bolo se misturam. O que é mais importan-
eu me movimento, meus gestos são mais visíveis te quando você está fazendo, preparando toda a
e assim por diante. Então, a corporeidade então massa de um bolo, a proporção entre os ingre-
desaparece no mundo das tecnologias de infor- dientes, o tempo de cocção no forno, determina-
mação. Então esses são os dois aspectos negativos. dos tipos de massas, por exemplo, você faz massas
Nesse período terrível que a gente tem vi- boas para pizza, ou boa para torta, às vezes essa
vido por causa da pandemia, com certeza, todos massa precisa descansar, outras precisam crescer,
nós, todos vocês, todas vocês, já experimentaram ou que tipo de fermento é o melhor a ser usado?
a angústia de não poder estar perto de quem você Então, quando a gente aprende a fórmula, a recei-
ama ou de quem você gostaria de estar perto. Quer ta, parece que a gente está aprendendo bastante
dizer, você ter contato com família, com familia- coisa, na verdade, a gente está aprendendo muito
res, com amigos, com irmãos e irmãs apenas pelo pouco. Quando você diz, bom, eu vi a receita, eu
celular, um programa de computador, por um fiz o bolo, então agora eu sei fazer bolo, você não
lado mata a saudade, por outro lado dá uma an- sabe, e piorou porque você agora pensa que sabe,
gústia muito grande. E isso em situações normais. quando você não sabe, você aprendeu a seguir
E quando a situação é complicada, quer dizer, um uma determinada receita.
dos nossos filhos teve Covid e está morando lon- Além desse aspecto teórico, nós temos o
ge daqui, é complicado, você quer acompanhar e aspecto crítico. Como você pode discernir quais
você só tem o Zoom, e você só tem o WhatsApp, a são as melhores receitas? Então, você tem dez re-
gente consegue acompanhar, mas é sempre muito ceitas de bolo de aipim, qual é a melhor? Então,
mais difícil e distante do que quando nós pode- tem todo um processo crítico, você precisa então
mos estar juntos fisicamente. fazer as dez, testar uma por uma, verificar como
Então, vejam, esses dois aspectos nega- é que fica o bolo depois que você seguiu a recei-
tivos nós precisamos aprender a lidar com eles, ta, como é que ele saiu do fogo, depois você tem
e precisamos também aprender a tirar proveito que comer. Então, percebe? Pensamento crítico,
dos aspectos positivos. Bem, do ponto de vista da pensamento teórico, não são dimensões do pen-
educação cristã essa redução dos saberes a essa samento que só os estudiosos, as estudiosas preci-
superfície, a esse excesso de informação, produz sam, nós precisamos no dia a dia.
também uma aversão ao pensamento mais crítico, Para educar filhos, por exemplo, o pai, a
mais teórico. Então, qualquer coisa que você quer mãe, os pais, precisam de um conhecimento crí-
aprender a fazer hoje você aprende num cursinho tico de como funciona a infância, e esse conheci-
de poucas horas na internet. Você quer aprender mento crítico, esse conhecimento teórico muda,
a consertar motor de caminhão, você vai achar porque a infância muda. Eu criei meus filhos, mi-
10, 15, 20 cursos na internet para fazer isso. Você nha filha mais nova tem 39, vai fazer 39 anos esse

p r o g r a m a d e at u a l i z a ç ã o e m e d u c a ç ã o c r i s tã | 38
ano, a minha netinha de 6 e o meu neto de 12, 1% do que significa ser cristão. Quer dizer, tudo
quando eles tinham 1, 2 anos eles já eram muito isso que nós fazemos juntos nas reuniões da igreja
mais espertos que meus filhos quando estavam na é o treinamento, é o aquecimento, é, vamos dizer
adolescência. Mais espertos entre aspas, meu neti- assim, o alongamento dos nossos músculos espi-
nho mais velho com 2 anos ele pegava o tablet, eu rituais, mas não é ser cristão. O viver cristão acon-
emprestava lá para ele, ele usava o tablet sozinho, tece no dia a dia, na casa, no trabalho, na escola,
ele abria e fechava qualquer programa, os que no lazer, na vida pública, em todos os ambientes
ele não gostava ele abria e fechava imediatamen- em que nós vivemos de segunda a segunda a vida
te, até achar, não sabe ler, ele ia se orientando ali normal, fora dos ambientes eclesiásticos.
pelos ícones. Então, abria o programa, não sabia No mundo da virtualidade o dualismo
o que era, ele não lê, aí via que não gostava, não entre a vida secular e a vida espiritual tende até
era um joguinho, não era algo prazeroso, fechava a crescer, mesmo quando a igreja, entre aspas,
e ia abrindo... E ele gostava de uns joguinhos com invade a nossa casa com a tecnologia, nós conti-
gatinhos e tal, e vocês sabem que jogo é muito bo- nuamos separando o tempo espiritual do tempo
nito, mas para você ter todas as funcionalidades secular. Então, esse é um imenso desafio para a
você precisa pagar, então ele sabia quando aca- vida cristã, nós vivermos a fé fora da igreja.
bava o crédito, então ele ficava bravo comigo: vô, Eu brinco, sempre brincava com o pessoal,
larga de ser pão duro, paga aí para eu poder jogar ser crente no domingo até eu consigo, se a questão
o jogo direitinho. toda é essa, até eu consigo ser crente no domingo,
Bom, a minha neta a mesma coisa, com você veste a roupa certa, fala as palavras certas,
2, 3 anos ela sabia, usava já o celular para fazer faz os gestos corretos na hora do culto, isso tudo
tudo isso. Percebem? A gente precisa do conheci- é muito simples de fazer. Porém, a vida cristã é
mento crítico, do conhecimento teórico e dessas muito mais do que isso.
mudanças. O que faz então um tablet, um celular, Bem, vamos avançando aqui senão eu falo
que efeitos isso coloca, faz na vida de uma criança, demais e não entro nas coisas mais interessantes.
tanto efeitos positivos quanto negativos. Só um Bom, daqui a pouco eu tiro um pouquinho aí os
exemplo aí para mostrar para vocês a importância slides para a gente, para eu poder olhar um pou-
de uma visão crítica, a importância de conhecer o quinho para vocês, a gente dá uma descansadinha
porquê das coisas. do visual e volta logo em modo auditivo.
Agora, quando nós falamos de cristianis- Então, se a gente pega esse elemento da
mo num mundo tão superficializado, o que acon- realidade contemporânea no mundo informati-
tece é que o cristianismo vai se reduzindo cada zado, digitalizado, e trazemos esse conhecimento
vez mais à performance eclesiástica, ou frequentar para a nossa memória e a nossa prática de igreja,
os encontros da igreja ou assisti-los virtualmente. nós lembramos então que a tradição organiza-
Então, cristão, quem é um bom cristão, quem é cional das igrejas criou e mantêm até hoje uma
uma boa cristã? Quem faz o que a igreja manda. A teoria e uma prática educacionais hierárquicas e
boa notícia é que é uma coisa muito interessante de mão única. Quer dizer, desde que surgiu a es-
frequentar a igreja, participar do culto, etc. e tal, a cola dominical, no século XVIII, se não me falha a
má notícia é que ser cristão é infinitamente mais memória, 1700 e alguma coisa, se eu estou errado
do que isso. Quer dizer, o que nós fazemos nas aqui depois alguém me corrija, na minha idade
reuniões da igreja, o que nós fazemos no culto, o eu esqueço as datas. O resto eu não esqueço, mas
que nós fazemos na vida da instituição, com suas data eu esqueço. Nós aprendemos que educação
normas doutrinárias, etc., etc., e tal, não chega a tem a ver com escola.

p r o g r a m a d e at u a l i z a ç ã o e m e d u c a ç ã o c r i s tã | 39
Antes do surgimento da escola dominical, de do pessoal abre o microfone vira uma cacofo-
a tradição, especialmente a tradição reformada, nia, uma confusão sonora muito grande. Então,
via a educação acontecendo através do sermão, as pessoas até querem e podem participar, mas aí
através do catecismo, que também são formas de tem toda uma logística necessária para essa parti-
educar unidirecionais. Então, o sermão o prega- cipação ocorrer, toda uma nova organização. En-
dor, a pregadora fala, a igreja ouve, no aprendi- tão, essa é uma coisa interessante, por exemplo,
zado da catequese a pessoa que conhece o cate- para mim, e alguns aí de cabelos brancos mais
cismo ensina e, a única coisa que a pessoa que, o velhos que eu aí, a gente está aprendendo a lidar
aprendente ou a aprendente pode fazer é repetir com essas novas tecnologias.
a resposta certa, e sem mudar uma vírgula da Eu comecei a dar aulas, dar aula é um ne-
resposta. A gente, desde então tempos muitos gócio complicado, eu comecei a lecionar usando o
antigos a igreja cristã tem esse formato tipica- Zoom, usando o Google Meet, etc., no ano retra-
mente escolar, tipicamente hierárquico, unidire- sado, é todo um desafio. Primeiro que depois de
cional, existem as pessoas que sabem e as pes- uma certa idade para aprender a usar o programa
soas que não sabem. Existem poucas pessoas que direito já dá trabalho, você abrir, você usar o bê-
podem ensinar e um número grande de pessoas -á-bá do programa já dá trabalho, depois de você
que precisam aprender. aprender o bê-á-bá, aí tem o X, Y, Z, que é mais
Bem, com as novas tecnologias de infor- complicado ainda. Depois tem algumas outras
mação, então nós descobrimos aquilo que a gente coisinhas.
já sabia, que qualquer pessoa é capaz de produzir O Zoom, por exemplo, o Zoom se você
saber. Mesmo que o saber seja frágil, superficial, paga ele te oferece uma série de recursos, se você
nós redescobrimos esse fato de que não é neces- não paga ele não oferece todos os recursos. En-
sário ter uma autoridade acadêmica ou políti- tão, a rede tem esse outro aspecto, você precisa
ca – vou voltar um pouquinho aqui para a gente de um poder aquisitivo para conseguir utilizar as
acordar – não é preciso ter autoridade política melhores ferramentas dos melhores programas.
ou acadêmica para poder ensinar algo a alguém. Nem todo mundo tem. Então veja, mesmo num
Então isso nos foi lembrado pelas tecnologias da mundo em que as possibilidades de mutualidade
informação, algo que nós jamais deveríamos ter
esquecido, porém, os hábitos seculares, centenas
de anos de culto, de educação cristã, de formação
teológica no protestantismo, e o mesmo vale no
"Antes do surgimento
catolicismo, nas igrejas ortodoxas, gerou essa me-
todologia unidirecional de educação cristã. En-
da escola dominical, a
tão mesmo com as possibilidades que o mundo tradição, especialmente
tecnológico hoje nos oferece, ainda continuamos a tradição reformada, via
dando preferência, dando mais espaço, mais tem-
a educação acontecendo
po à educação de mão única do que a educação da
mutualidade. através do sermão,
E num encontro virtual como este, por através do catecismo, que
exemplo, a questão da mutualidade é possível, também são formas de
mas também fica muito complicado, precisa ser
educar unidirecionais."
bem administrado, porque senão, nós vimos no
começo, se todo mundo abre o microfone, meta-

p r o g r a m a d e at u a l i z a ç ã o e m e d u c a ç ã o c r i s tã | 40
são maiores, é necessária toda uma logística para oração de Paulo por essa comunidade - e às vezes
a gente conseguir exercer essa mutualidade. eu acho que o Paulo não sabia orar porque as ora-
Bem, a gente pode respirar um pouquinho, ções dele não são orações como as nossas, nós so-
eu vou beber uma aguinha, eu vou colocar aqui mos bons de oração, a gente vai orar, eu sou jubi-
na tela para vocês um texto bíblico para a gente lado do pastorado, mas eu lembro quando eu era
conversar um pouquinho com base nesse texto pastor que a gente pedia, não, fulano de tal, vamos
bíblico para a gente entender então o que é essa pedir para o irmão ou para irmã fazer uma oração
mutualidade na educação cristã e para a gente de ação de graça... Então normalmente acontecia
perceber porque então nós estamos falando que assim, a oração era mais ou menos assim: Senhor,
educação cristã transcende, vai além dos limites obrigado pela sua presença, eu gostaria de pedir
do que se faz na igreja. Então vamos lá. agora pelo irmão fulano de tal, a irmã fulana está
Aqui Colossenses, Capítulo 1, Verso 9 a doente, o irmão ciclano está desempregado... En-
12, vou aumentar aqui um pouquinho para vo- tão ou o Paulo não sabia orar ou nós não sabemos
cês conseguirem achar e lerem aí na telinha de orar. Eu não me lembro nunca, nenhuma oração
vocês: “por esta razão, também nós, desde o dia dos cultos que eu participei que fossem minima-
que o ouvimos” – Paulo está falando que ouviu a mente parecidas com essa aqui.
respeito da fé das pessoas da igreja de Colossos – Vamos fazer um exercício aqui, que não
então “desde esse tempo então não cessamos de precisa ser verbalizado, mas tente lembrar quan-
orar por vós e de pedir que transbordeis de pleno tas vezes você ouviu na igreja alguma oração mais
conhecimento da Sua Vontade” - vontade de Deus ou menos parecida com isso aqui, então ao invés
– “em toda sabedoria e entendimento espiritual, a de pedir emprego, resolução de problemas, cura
fim de viverdes de modo digno do Senhor para o de alguma doença, enfim, a solução de algum pro-
seu inteiro agrado, frutificando em toda boa obra blema na vida, essa oração fosse completamente
e crescendo em pleno conhecimento de Deus, dirigida para a espiritualidade. Pensa um pouqui-
sendo empoderados com toda a potência divina, nho, enquanto você pensa a gente volta para cá
segundo a força da sua glória, em toda perseve- para entender então para que serve a educação
rança e longanimidade, com alegria, dando graças cristã.
ao Pai que nos fez idôneos, merecedores, dignos, Então, o primeiro fator de qualquer educa-
da parte que nos cabe da herança dos santos na ção cristã é o conhecimento, e nessa oração Paulo
luz”. Aqui é a tradução do Almeida com algumas não só pede com que as pessoas tenham conheci-
pequenas modificações só para enfatizar alguma mento, mas ele pede que as pessoas transbordem,
coisa aí. não só de conhecimento, mas de pleno conheci-
Então veja, quando a gente fala em mu- mento, ou seja, conhecimento amplo, profundo,
tualidade da educação cristã, mutualidade da completo. Conhecimento do quê? Bom, da von-
vida cristã, nós estamos falando dessa atividade tade de Deus. Então, a função mínima, básica, de
conjunta que nasce já na oração, esse texto é uma qualquer reunião, qualquer encontro, qualquer
oração, que se concretiza no dia a dia da vida cris- atividade educacional na vida cristã é ajudarmos
tã, dentro e fora dos ambientes eclesiásticos, que uns aos outros, umas às outras a conhecermos
tem como objeto, tem como meio, tem como fer- plenamente a vontade de Deus.
ramenta, que tem como instrumento o conheci- E aqui de novo eu vou repetir um pouco da
mento. Vejam bem, Paulo está orando numa igre- crítica que eu fazia antes. Quando a gente faz re-
ja e ele diz, escrevendo para essa igreja ele diz: o união de oração na igreja, quando a gente ora nos
que eu peço à Deus todo dia por vocês - e essa é a cultos dominicais, a gente aprende muito mais

p r o g r a m a d e at u a l i z a ç ã o e m e d u c a ç ã o c r i s tã | 41
sobre a vontade das pessoas do que sobre a von- do a gente responde às perguntas do catecismo.
tade de Deus. A gente fica sabendo que a pessoa Vamos dizer assim, vamos supor que você
quer isso, precisa daquilo, quer aquilo outro, etc. está se formando como cristão, como cristã, e
e tal. Mas muito pouco é discutido na igreja so- para você passar, tirar diploma de crente bom,
bre o que Deus quer. Então veja, todo e qualquer crente maduro, você precisa tirar nota 10. As
procedimento que vise, que seja educacional, ele respostas ao catecismo vão valer no máximo 0,5
produz pleno conhecimento da vontade de Deus, ponto. Como eu sou professor de Teologia, tra-
ele produz, consequentemente, sequencialmente, balhando com formação de pastores há mais ou
ao longo da vida, esse conhecimento amplo da menos 40 anos, então eu vou dar um exemplo do
vontade de Deus. que acontece quando alguém quer ser pastor. Pri-
Agora, um conhecimento que não é me- meira coisa que tem que acontecer na nossa igreja
ramente informativo, mas um conhecimento que é ser indicado, nomeado como candidato oficial.
acontece num ambiente de sabedoria. No mundo Como é que um presbitério nomeia alguém? Faz
bíblico sabedoria é o saber viver, a pessoa sábia uma reunião e faz pergunta para a pessoa. O que
é aquela pessoa que sabe viver. Então, quem co- é que ela sabe? Quando muito a gente pede para
nhece plenamente a vontade de Deus, ou a pessoa o pastor ou a pastora da igreja, ao candidato ou
de Deus, só pode conhecer plenamente na vida, candidata, que fale um pouco sobre a vida. Nor-
vivendo. Então, eu não tenho nada contra o cate- malmente o que o pastor ou a pastora sabe? Um
cismo, nunca tive e não há nenhuma razão para a irmão, uma irmã que ora bastante, que vem aqui
gente ter, mas a gente aprende muito pouco quan- à igreja, comprometido, comprometida, tal. Mas

"No mundo bíblico sabedoria é o saber viver, a pessoa sábia


é aquela pessoa que sabe viver."

p r o g r a m a d e at u a l i z a ç ã o e m e d u c a ç ã o c r i s tã | 42
o que a gente sabe de fato sobre a vida da pessoa do em nada, a não ser de ser uma boa aluna, um
no seu dia a dia? Veja, conhecimento ele tem de bom aluno da escola dominical. Mas você nunca
acontecer numa circunstância de sabedoria, então sai da escola. É a única escola que eu conheço em
ele só pode ser efetivamente testado na vida e não que você tem que passar a sua vida inteira dentro
no questionar. dela, e até hoje eu não consigo entender para quê.
O segundo critério de conhecer a vonta- Enfim...
de de Deus é o discernimento ou o entendimento Veja, eu estou exagerando um pouco, mas
espiritual, ou seja, o discernimento ou o entendi- o exagero é educativo, o exagero faz a gente pen-
mento que vem do espírito de Deus, que é então sar. Mas vamos voltar para o texto. Eu também es-
a capacidade de diferenciar a verdade da mentira, tou insistindo aqui com o texto para vocês verem
o certo do errado. Então não basta, por exemplo, a importância de usar a Bíblia na educação, para a
eu saber responder a pergunta 22 do catecismo, gente não ficar dando só o palpite da gente. Então,
eu preciso ser capaz de dizer, mas por que essa pleno conhecimento num ambiente de sabedoria
resposta é correta? Eu preciso ser capaz de dizer e discernimento, com uma finalidade, a fim de, vi-
por que a pergunta vale a pena ser feita? Por que verdes de modo digno do Senhor.
a igreja resolveu que era importante ter essa dou- A educação cristã tem como objetivo final
trina? Isso é entendimento, isso é discernimento que a nossa vida seja uma vida digna do Senhor
espiritual, você saber o que e o porquê das coisas Jesus. Traduzindo isso para uma linguagem mais
que você crê. do cotidiano, quer dizer, uma vida digna do Se-
Bem, então olha, a educação cristã acon- nhor Jesus é uma vida em que as pessoas que con-
tece num processo de fazer todo mundo trans- vivem conosco digam assim, olha, esse aí é crente,
bordar de pleno conhecimento da vontade de essa é de Jesus, ela faz o que Jesus fez, ensina como
Deus. Esse processo tem de envolver sabedoria e Jesus ensinou, vive como Jesus viveu. A prova é
entendimento, discernimento. Veja, já não pode essa. Bom, e, para não ficar apenas numa explica-
acontecer somente na sala de aula. O exemplo ção simples e direta a gente volta para o texto. O
mais evidente, mais claro em toda a escritura que próprio texto já nos dá as pistas do que é viver de
a gente, todos nós sabemos, mas nós nunca se- modo digno do Senhor.
guimos é o exemplo de Jesus, ele ensinava os seus Vou fazer um parênteses rápido aqui e
discípulos no dia a dia. Os discípulos viviam com lembrar a vocês todos, todos vocês sabem ler. Nós
ele, andavam para lá e para cá com ele. É óbvio, sabemos ler. Eu acho que todos nós sabemos ler.
eu não estou dizendo que todo processo de edu- Mas nós normalmente não lemos direito porque
cação cristã ou teológica hoje tem que acontecer não prestamos atenção no que deve ser prestado
literalmente da maneira que Jesus fazia. Eu estou atenção. Então, eu vou ser um pouquinho chato
dizendo é, quando esse processo ocorre apenas no agora para ajudar vocês a prestarem atenção no
ambiente escolar ele é muito pobre, ele é muito que deve ser prestado atenção. Eu tenho aqui uma
frágil, o seu resultado é muito pequeno. oração, Paulo está pedindo que a igreja transborde
O principal resultado, e brincando com de pleno conhecimento num ambiente, ambiente
alguma seriedade, eu diria assim, você passou 40 de sabedoria e entendimento espiritual. Com uma
anos na igreja, presbiteriana independente, seja lá finalidade: viver de modo digno do Senhor. Viver
aonde for, aí terminado esses 40 anos você vai re- para o inteiro agrado de Deus.
ceber um diploma de coordenadora da escola do- Aí você pergunta, bom, como a gente vive
minical. Diploma do que você recebe? Diploma de modo digno do Senhor? Nós temos aqui en-
de aluno de escola dominical, você não é forma- tão uma série de orações que explicam como. Eu

p r o g r a m a d e at u a l i z a ç ã o e m e d u c a ç ã o c r i s tã | 43
vou tirar, eu vou colocar o itálico aqui para vo- imortal, etc., etc. Tudo isso é muito interessante,
cês perceberem: frutificando, crescendo, sendo, mas não diz nada sobre o seu conhecimento de
dando graças. Todos esses verbos aqui estão no Deus. Eu saberei que você ou eu conhecemos a
gerúndio. Que bonito. Vocês sabem, vocês todos e Deus quando nós vivermos como Deus vive. E
todas sabem o que é gerúndio, pode ter esquecido, como nós sabemos que vivemos como Deus vive?
mas sabem. Quando eu tenho então um verbo no Quando nós frutificamos em toda a boa obra.
gerúndio ele normalmente indica que a ação des- E aí, como eu estou sendo um professor
se verbo tem a ver com algum outro verbo, tem a chato agora, presta atenção nessa letrinha aqui,
ver com algum outro objetivo do texto. Nesse caso olha, E, eu vou fazer ela crescer aqui. Quando
aqui, eu vivo de modo digno do Senhor. Então a você tem essa conjunção você está juntando duas
minha vida agrada inteiramente à Deus quando? coisas como se fosse uma só: frutificando em
Quando eu frutifico em toda boa obra. toda boa obra eu cresço no pleno conhecimento
Você vai planejar o programa de educação de Deus. Crescendo no pleno conhecimento de
cristã da sua igreja local, então, o que vai ter no Deus eu aprendo a praticar todo tipo de boa obra.
seu currículo? Coisa bacana, lê os livros do Za- E isso aqui acontece quando? Quando nós somos
batiero, do Silas, etc., pode colocar tudo isso aí na ou quando estamos sendo empoderados ou em-
sua igreja, mas mais importante do que qualquer poderadas pelo próprio Deus.
uma dessas coisas é no currículo da sua igreja, na Segue a lógica do Paulo. Paulo diz: eu que-
avaliação, no perfil do egresso da sua educação ro que vocês vivam para agradar a Deus 100%.
cristã, primeiro sinal de que a pessoa aprendeu Então, a dona Maria perguntou para o seu Paulo:
são as boas obras que a pessoa faz. E não só as seu Paulo, como é que eu sei que eu estou fazendo
boas obras, em toda boa obra, ou seja, em todo isso? Seu Paulo diz: dona Maria, quando a senho-
tipo de boas ações, todo tipo de coisa boa que ra frutificar em toda boa obra e crescer no pleno
você pode fazer para ajudar alguém, assim como conhecimento de Deus a senhora vai estar fazen-
Jesus fez. Então, como é que você vai saber se uma do isso. Mas para a senhora frutificar em toda boa
irmãzinha ou irmãozinho lá da sua igreja está obra e crescer no pleno conhecimento de Deus,
aprendendo a ser seguidor de Jesus? Quando você Deus mesmo precisa empoderar a senhora. Aí
verificar de segunda a sábado se essa pessoa pra- o seu Joaquim vai perguntar para o seu Paulo:
tica boas obras. apóstolo Paulo, como é que Deus vai fazer isso?
Segundo lugar, quando você perceber ou Deus vai fazer isso quando a gente abre a nossa
quando a igreja também perceber que cada um, vida para ele fazer isso. Nós oramos, nós nos co-
cada uma das pessoas que está na igreja está cres- locamos na presença de Deus para que Deus viva
cendo no pleno conhecimento de Deus. Isso aqui em nós, para que ele nos encha do espírito. É a
eu acho fantástico nesse texto. Quer dizer, Paulo linguagem de um outro trecho de uma outra car-
está pedindo para a gente conhecer plenamente ta de Paulo. E Deus fará isso segundo a força da
a vontade de Deus, para quê? Para poder conhe- sua glória. Bom, a glória de Deus ela é revelada
cer Deus plenamente. Quanto mais eu pratico a na vinda de Jesus, na morte de Jesus, na sua ressu-
vontade de Deus mais eu conheço a Deus. Quanto reição. Então Deus nos empodera para frutificar
mais eu vivo como Jesus viveu mais eu conheço em toda boa obra e crescer no conhecimento dele
a Deus. Por quê? Porque conhecer a Deus é vi- da mesma forma como ele empoderou Jesus para
ver como Deus viveu. Conhecer a Deus não é ser viver plenamente agradando ao pai.
capaz de repetir ou de responder à pergunta do Aí você já está empolgado, eu fico empol-
catecismo, quem é Deus? Deus é o Senhor eterno, gado quando vejo esse negócio, falo, opa, quantos

p r o g r a m a d e at u a l i z a ç ã o e m e d u c a ç ã o c r i s tã | 44
meses então de currículo para chegar lá? Paulo aqui, vou terminar a minha parte aqui dizendo
nunca deu prazos, mas ele deu uma dica: isso vai isso para vocês. Nós não estamos fazendo aqui o
acontecer com perseverança e longanimidade. Ou que eu acho que a gente deveria fazer, mas eu pelo
seja, traduzindo para o português claro da gente menos posso instigar a imaginação de vocês, pe-
aqui, para isso acontecer a gente precisa trabalhar, gar esses quatro versículos aí de Colossenses, sen-
precisa se esforçar, precisa suar, precisa transpirar, tar numa roda e gastar meia hora, uma hora, duas
precisa arregaçar as mangas e trabalhar. Precisa horas conversando sobre esses versículos. Vocês
tirar o corpo da cadeira, a tela do computador e repararam, eu não falei nada de grego, eu não fa-
ir para a vida. lei nada da época que Paulo escreveu, eu não usei
Agora, imagina isso que eu fiz agora com nada das coisas que segundo a academia a gente
vocês sem uma pessoa dizendo para todas as de- deve fazer para estudar a Bíblia. Eu só usei aquilo
mais o que o texto está dizendo? Agora, imagina que qualquer pessoa na igreja que não tenha for-
isso, você numa roda, física ou virtual, com mais mação teológica é capaz de usar: um texto.
5, 6, 8, 10 pessoas, e cada um, cada uma de vocês Agora, eu também tentei mostrar para vo-
dizendo, olha, eu estou entendendo isso aqui des- cês que para usar o texto a gente tem que usar o
se texto aqui. Ah não, eu estou entendendo aquilo texto direito, a gente tem que conhecer o nosso
ali. Na minha vida aconteceu isso. Na minha vida idioma e saber usar o nosso idioma para poder ler
aconteceu aquilo. Aí a gente está começando a fa- o texto direito, para não fazer interpretação subje-
zer educação cristã. Aí a gente precisa ser hones- tiva do texto, para dizer assim, para não substituir
to, ser amorosos para dizer, irmão, você falou que a palavra de Deus pela opinião da gente.
você entendeu isso aqui, mas isso não está no tex- Bom, termino por aqui. Tem muita coi-
to não. Não entendi isso aqui, explica para mim. sa mais que a gente precisaria discutir, mas essa
Ah, porque para mim essa palavra significa isso. discussão tem que ocorrer num outro ambiente e
Bom, mas essa palavra não significa isso, irmão. num outro formato. Então, eu agradeço mais uma
Na educação, na troca, tem discussão, tem debate, vez o convite, por esse privilégio de falar aqui com
tem troca de argumentos. Isso é discernimento. vocês todos e todas.
E nós brasileiros somos gente muito me-
lindrosa, se alguém discorda da gente a gente fica
bravo, não é assim? A maior parte de nós é assim,
você fala alguma coisa e a pessoa discorda, você
acha que essa pessoa não vai com a sua cara. Mas
na educação, concordar e discordar são igualmen-
te importantes, e não tem a ver com a sua cara ou
com a minha cara, tem a ver com o que a gente
está estudando. Por isso que a gente precisa aí da
glória de Deus, do empoderamento de Deus, por-
que quando Deus nos empodera Ele nos empode-
ra para amar, daí a gente consegue discordar amo-
rosamente do outro e a pessoa de quem a gente
discorda consegue ouvir amorosamente a opinião
contrária. Rev. Prof. Júlio Paulo Tavares
Agora eu vou parar com a minha parte Mantovani Zabatiero

p r o g r a m a d e at u a l i z a ç ã o e m e d u c a ç ã o c r i s tã | 45
 tril h a 0 5
COMO FAZER: EDUCAÇÃO EM
PROVÉRBIOS  Rev. José Roberto Cristofani

Olá gente, boa noite. Eu quero


agradecer a Simony, brilhante expo-
sição, maravilhosa, faz muito bem ao
nosso coração saber que aquele nosso,
a nossa luta social desde a década de
80, tem frutificado e tem encontrado
mãos carinhosas, mãos dedicadas, que
tem levado esse projeto à frente, que é o
projeto do discipulado de Jesus. Muito
obrigado pela sua participação. Eu te
conhecia de ouvir falar, dos seus tex-
tos, agora os meus olhos te veem e os
meus ouvidos, ainda que deficientes, os
ouve, a ouve. Obrigado viu. E dou aí o
meu cordial boa noite a todos. Isso era
como secretário de educação, agora eu
vou falar como participante aqui.
A incrível história do menino
Jesus pode ser rastreada a partir do
seu ministério, que é o que temos em
nossas Bíblias. Duas ocasiões especiais
são pontos de partida da nossa reflexão
de hoje, que vai gerar em torno da for-
mação, da sabedoria e da inteligência
dentro do aspecto educacional, não
apenas educação cristã, mas no aspec-
to educacional, da formação da pessoa
para a vida. Vamos lembrar que Jesus
não tinha igreja para frequentar, então
ele não ia receber o diploma da escola
dominical nem o certificado de partici-

p r o g r a m a d e at u a l i z a ç ã o e m e d u c a ç ã o c r i s tã | 46
pação da videoconferência que vocês vão receber. do os dias da festa, ao regressar ali permaneceu
Essas duas ocasiões são expressões, uma o menino Jesus em Jerusalém sem que seus pais
nos lábios de Jesus, e outra nos lábios de pessoas o soubessem. Pensando porém estar ele entre os
que estavam ouvindo Jesus. No capítulo 13 de companheiros de viagem fora um caminho de um
Mateus, no Verso 54, depois de contar uma série dia e então passaram a procura-lo entre os pa-
de parábolas, o povo ficar maravilhado, entre eles rentes e os conhecidos, e não o tendo encontrado
dizem: de onde vem essa sabedoria e esses pro- voltaram à Jerusalém à sua procura. Três dias de-
dígios? As pessoas estão de fato admiradas com pois o acharam no templo, assentado no meio dos
o conhecimento, a inteligência de Jesus, mas doutores, ouvindo-os e interrogando-os. E todos
também com a sua sabedoria. Em outra ocasião os que o ouviam muito se admiravam da sua inte-
o próprio Jesus fala da sabedoria. No capítulo 11 ligência e das suas respostas. Logo que seus pais o
do mesmo evangelho de Mateus há uma narrati- viram ficaram maravilhados e sua mãe lhe disse:
va sobre João Batista, e Jesus termina dizendo o filho, por que fizeste assim conosco? Teu pai e eu
seguinte: o João Batista veio e não comia e não estamos aflitos à tua procura. Ele respondeu: por
bebia, e vocês disseram ele tem demônio. E veio que me procurareis? Não sabeis que me cumpria
o filho do homem comendo e bebendo e vocês estar na casa de meu pai? Compreenderam porém
dizem eis aí um comilão e beberrão, amigo de as palavras que ele dissera. E desceu com eles para
publicanos e pecadores. E a frase enigmática de Nazaré e era-lhes submisso, sua mãe porém guar-
Jesus no final dessa palavra é: porém, a sabedoria dava todas essas coisas no coração. E crescia Jesus
é justificada por suas obras. Então, nós temos aqui em sabedoria, estatura e graça diante de Deus e
dois polos muito claros da sabedoria na qual Jesus dos homens”.
foi formado. Por isso que retroagir para a sua in- Pois bem, esse trecho do evangelho de Lu-
fância é necessário para entender como que Jesus cas tem alguns tesouros que eu queria comparti-
chega a despertar essa admiração nas pessoas e lhar com vocês sobre a educação, eu disse edu-
como ele próprio vê as suas obras, as suas ações de cação em Jesus e também a educação de Jesus. E
andar com publicanos, pecadores, de andar com esses tesouros podem ser vistos nas palavras que
gente que o Kiko diria: gentalha, gentalha, gen- eu gritei. O Capítulo 2, Verso 40, diz que Jesus
talha. Como que é esse, essa percepção é tomada crescia e se fortalecia e a graça de Deus estava so-
como sabedoria. bre ele. E no final do texto isso é repetido como
Então eu gostaria de ler com vocês a nar- um refrão: “e Jesus crescia” – deixa eu só abrir a
rativa da infância quando Jesus dá um perdido minha Bíblia aqui, vocês podem acompanhar na
nos pais dele, não é. Não é só os filhos de vocês Bíblia de vocês – “e crescia Jesus em sabedoria,
quando vão ao shopping que dão perdido em vo- estatura e graça diante de Deus e dos homens”.
cês, Jesus já tinha essa prática também. Eu quero Então aqui nós temos um pequeno envelopinho
compartilhar o texto para a gente ler. Digam só, onde dentro estão guardados esses tesouros sobre
mostrem a mãozinha ok, por favor, se estão ven- o desenvolvimento de Jesus. E o desenvolvimento
do a tela. Sim? Pois bem. Vamos ler, isso é o tex- educacional de Jesus, além do seu pai e sua mãe,
to de Lucas Capítulo 2, do Verso 40 ao Verso 52: seus parentes, sua vizinhança, ele tinha esse cos-
“crescia o menino e se fortalecia enchendo-se de tume familiar de ir à Jerusalém, pelo menos na
sabedoria e a graça de Deus estava sobre ele”. Ora, Páscoa, para os judeus são obrigados a ir, eram
anualmente ia os seus pais a Jerusalém para a festa obrigados a ir por lei três vezes, em três grandes
da Páscoa, quando ele atingiu os 12 anos subira à festas, mas pelo menos nessa nós sabemos que Je-
Jerusalém segundo o costume da festa. Termina- sus estava lá anualmente, a festa da Páscoa. E Jesus

p r o g r a m a d e at u a l i z a ç ã o e m e d u c a ç ã o c r i s tã | 47
dá um perdido nos seus pais na hora de ir embora, te junto aos doutores. Lucas usa a palavra mestre,
ele vai ao templo, vai ao lugar de ensino. são os didáskalos, Paulo depois usa, as pastorais
Nós sabemos hoje que o templo de Jeru- também usa, para ensino, são os responsáveis da
salém tinha salas no fundo, aos lados, e embaixo, época de Jesus, os escribas, os doutores da lei, são
que funcionava o sinédrio, que funcionava a di- os responsáveis por interpretar a escritura e ensi-
reção dos escribas, mas também havia uma sala nar essa escritura para o povo.
de estudos. Então, muito provavelmente é nesse E aqui tem uma coisa importante que é a
lugar que Jesus se encontra com os mestres. Esse busca no lugar certo. Nós imaginamos erronea-
interesse de Jesus, Lucas é preciso ao dizer que ele mente muitas vezes, nem sempre, mas muitas
tinha 12 anos, é uma idade que a gente diz terrível, vezes, que a busca pelo conhecimento da palavra
a gente chama esse pessoal de pré-adolescente, ou de Deus deve ser na igreja e particularmente na
adolescente retardando aí final da infância, é uma escola dominical. Agora, a experiência das novas
idade especulativa, criativa, questionadora, de comunidades por opção de não ter escola domi-
curiosidades sem fim, de perguntar os porquês. E nical, e a experiência de muitas das igrejas tradi-
Jesus tem uma curiosidade inata, um desejo inato cionais de terem, da escola dominical terem falido
aparentemente, que provém da sua formação den- de fato, ontem alguém disse, um pastor que está,
tro do seu lar, de buscar as coisas que lhe interes- eu não me lembro exatamente quem, mas disse
sam e que vão ajudá-lo, mesmo que ele ainda não que na igreja dele não tem mais escola domini-
saiba que é o messias, que vão ajudá-lo na vida, na cal. Então, a pergunta é onde buscar esse conhe-
obra, na ação. cimento? Esse conhecimento da educação cristã
Aqui eu vou aproveitar toda a fala da Si- ,da educação da formação integral do sujeito, na
mony, do Júlio e do reverendo Silas, e vocês vão inteligência e na sabedoria, está não apenas na
fazendo as ligações e o contexto, para eu não ficar igreja como a pandemia nos esfregou na cara, de
repetitivo. Então, essa preparação de Jesus é feita que muita coisa que nós devíamos fazer não está-
no lar, primeiramente pela sua mãe, depois pelo vamos fazendo, muitas coisas que não deveríamos
seu pai, que lhe ensina um ofício, que lhe ensina fazer nós estávamos fazendo, que é só cultuar, só
a trabalhar com pedras, provavelmente foi um pe- louvar, essas coisas eu me lembro, sendo a palavra
dreiro antes do que um carpinteiro, ou pode ter de Jesus, que se deve dar o dízimo do cominho
sido um carpinteiro também, seja como for ele e da hortelã, e Jesus diz: olha, vocês devem fazer
aprende um ofício, que são habilidades manuais, uma coisa e outra também, não são excludentes,
habilidades de cálculo, habilidades de projeto, e mas são inclusivas.
essas habilidades o preparam para questionar e Então a pandemia nos nossos tempos tem
ver o mundo. Por exemplo, quando os discípulos mostrado que a busca do conhecimento, da sabe-
vão dizer, olha que belas pedras lavradas tem o doria, do Reino de Deus, dos valores e dos princí-
templo, Jesus olha: de fato é um belíssimo projeto, pios do Reino de Deus, estão muito além da igreja,
mas não ficará pedra sobre pedra. Ele aproveita, e está sobretudo na convivência, nos relaciona-
não está predizendo que o tempo vai cair apenas, mentos, nesse encontro com o outro. É aí que se
mas ele aproveita o seu conhecimento para en- dá a educação. Então no encontro com a palavra,
sinar os valores do Reino de Deus, para ensinar no sermão, no encontro da reunião de oração, nes-
aquilo que é a sua tarefa, que é curar, ensinar e se encontro virtual, nessa perspectiva relacional, é
pregar as boas novas. que nós devemos buscar e incentivar as pessoas a
Essa formação de Jesus o impele a busca buscar a educação cristã, a educação na sabedoria,
de uma maior profundidade, e ele vai justamen- educação para a vida do Reino de Deus.

p r o g r a m a d e at u a l i z a ç ã o e m e d u c a ç ã o c r i s tã | 48
"O primeiro segredo é buscar
a sabedoria com as cãs,
buscar a sabedoria com
quem já viveu o suficiente,
com quem tem experiência
suficiente."

Porque afinal de contas, e eu me decidi isso irmãos, ele aprende com os seus colegas de in-
muito cedo na minha vida pastoral, como pastor, fância, os seus amiguinhos, mas também aprende
que eu não daria tanta importância a igreja quan- junto aos doutores da lei. Até, vamos dizer assim,
to eu daria ao Reino de Deus. E isso foi liberta- até na igreja ele aprende. Isso é muito importante,
dor, porque quando me perguntam: você não tem ele só vai ao templo uma vez por ano. Obviamente
ovelha, não tem rebanho? Eu respondo: a minha que ele tinha o costume de frequentar a sinagoga,
paróquia, imitando Wesley, minha paróquia é o em Nazaré, por exemplo, mas o grande núcleo de
mundo. Porque o Reino de Deus está muito além doutores e sábios está lá em Jerusalém, no templo.
daquilo que a igreja prega, do que aquilo que a Então o primeiro segredo é buscar a sabe-
igreja pratica. Muito do que a Simony falou, da doria com as cãs, buscar a sabedoria com quem
mutualidade que o reverendo Júlio falou, dos já viveu o suficiente, com quem tem experiência
princípios da educação que o reverendo Silas fa- suficiente. Não precisa ter formação, ser doutor
lou, estão além do alcance da igreja. Foi colocado na lei, mas que tenha uma vivência cristã, uma vi-
aqui a convivência dentro dos lares, ela se torna vência com o Reino de Deus, um relacionamento
às vezes conflitiva e até violenta, e na reunião da com Deus maduro, amadurecido.
igreja a pessoa se veste de santidade e ninguém E a atitude de Jesus não é uma atitude de
fica sabendo exatamente o que se passa, da violên- humildade. Quando se diz assim, Capítulo 2 nós
cia que atravessa o relacionamento familiar dessa estamos lendo: “e encontraram Jesus assentado
pessoa. no meio dos mestres ouvindo-os”. A beleza do
Então essa busca desses valores, dessa for- conhecimento e da sabedoria, isso depois eu vou
mação, dessa convivência, está em todo lugar. Je- mostrar num segundo momento da minha fala,
sus foi muito bem instruído na sua infância, ele em Provérbios, está no ouvir. Veja que o Novo
aprende com o seu pai, ele aprende com os seus Testamento é a palavra para escutar, e tem a pa-

p r o g r a m a d e at u a l i z a ç ã o e m e d u c a ç ã o c r i s tã | 49
lavra para ouvir, elas são usadas como sinônimos, numa cidade chamada Canto Grande, que era um
mas ouvir a gente sempre enfatiza que é prestar distrito bem retirado. Lá que era uma vila de pes-
atenção, é demonstrar interesse, é ter um foco cadores, as meninas aos 12 anos estavam com en-
naquilo que se está falando. É muito importante xoval pronto para casar. E eu tive um caso pastoral
lembrar que enquanto a nossa cultura cibernética muito interessante, que o menino e uma menina
é toda visual, a cultura dos antepassados, eu acho fugiram de casa para se casar, ele com 13 para 14
assim dos meus pais e dos meus avós para trás, e anos, e ela com 11 para 12 anos. Os dois já esta-
na época de Jesus, a grande sacada era o foco na vam com enxoval pronto, e eu fui ser o pastor lá
audição. Então, ouvir era uma habilidade funda- das duas famílias para ver o que a gente resolvia,
mental, sensacional, especial para qualquer pes- as duas famílias eram da igreja. E em São Paulo,
soa que quisesse ter uma formação, uma educação na cidade onde eu fui criado, fugir de casa ou sair
sólida. de casa era para ir morar longe. Lá como era uma
Então, a atitude de Jesus com 12 anos, ape- vila pequena, esse casalzinho saiu de casa e atra-
sar de ser chamado menino aqui na nossa tradu- vessou a rua, e foi morar com um dos pais, com
ção, com 12 anos Jesus já está para celebrar o Bar os pais do menino, o que provocou a ira lá das
Mitzvá, que é a passagem aos 13 anos do menino famílias, um conflito na verdade.
judeu para a fase adulta, que é o ritual que eles Então, veja que é um costume bem recen-
conservam até hoje. Essa passagem para a vida te. A igreja que eu fui pastor as meninas com 18
adulta então, esse interesse de Jesus, essa menini- anos já se sentiam encalhadas, isso em 1989, 1990.
ce de Jesus, não é uma meninice como nós temos Em 1990. Então, na época de Jesus essa maturi-
hoje. Eu me lembro que na década, no final da dé- dade chegava muito mais cedo, e a expectativa de
cada de 90, eu trabalhava num colégio luterano, vida era muito menor também. O que eu quero
eu dava Educação Cristã e Filosofia, e teve uma dizer com isso? O que eu quero dizer com isso
palestra para professores e o Contardo Calligaris, e que vai nos ajudar a corrigir esse texto na sua
hoje bem badalado psicólogo, ele disse, mostrou tradução para o português é que o interesse de Je-
como a infância, como nós a conhecemos, foi sus é o interesse de alguém que já está com uma
uma criação bem moderna. No século 17 e 18 em formação bem embasada. Ele vai ouvir, mas vai
diante se começou essa construção da infância. também perguntar. Este é o segundo segredo que
Até a Idade Média, a grosso modo, falando, crian- eu quero mostrar para vocês, que o jovem ou a
ça era adulto pequeno, muitas igrejas na década quem está buscando educação e conhecimento,
de 60 vestia as crianças de paletó e gravata, como tem perguntas para fazer, não tem respostas. Em
pequenos adultos, não é, pareciam mais anõezi- primeiro lugar inteligente, sábio, não é quem dá
nhos do que... Eu me lembro muito bem disso, respostas, mas quem sabe fazer boas perguntas.
na época, na minha infância, pareciam pequenos Imagine vocês um jovem de 12 anos da-
adultos. É essa ideia de que essa meninice, essa quela época como era Jesus entre os doutores da
criancice, no sentido de infância, tinha que ser lei fazendo perguntas. Eu fico imaginando as per-
rompida rapidamente. Então, essa pequenez de guntas que Jesus fazia, não é, como ler os profetas,
Jesus, assim, não é, Jesus aos 12 anos está pronto o que Jeremias quis dizer com tal palavra, porque
para entrar na idade adulta. Por exemplo, supõe- Moisés agiu de um jeito e não agiu do outro. Eu
-se com muita probabilidade que Maria devia ter fico imaginando que as perguntas que Jesus fazia
14, 15, 16 anos quando ficou grávida de Jesus. tinham muito nexo, sentido, e que estava dentro
Eu fui pastor em Santa Catarina, Itapema, da sua capacidade intelectual, dentro da sua for-
e eu cuidava de uma congregação presbiterial mação intelectual, dentro da sua inteligência para

p r o g r a m a d e at u a l i z a ç ã o e m e d u c a ç ã o c r i s tã | 50
causar assombro. Porque vai se dizer aqui que to-
dos se admiravam, a gente já chega no versículo
seguinte. Então, essa formação de Jesus permite
que ele faça perguntas.
Eu vou sempre lembrar do Júlio, dos filhos
da Simony, que nos disseram de uma forma ou de
outra que educação não é fazer listas de tarefas,
nós deveríamos fazer listas de pecados como a
Simony disse, é com respostas prontas. Então, a
formação cristã por muito tempo na igreja era de-
corar o catecismo e dar a resposta certa.
Eu lembro que quando fui fazer Profissão
de Fé me deram o Breve Catecismo e eu decorei
praticamente todas as respostas do Breve Catecis-
mo. Enquanto que a educação crítica, a educação
questionadora, passa por aprender e saber fazer
perguntas. É muito mais inteligente e muito mais
sábio fazer boas perguntas do que obter boas res-
postas, ou do que dar boas respostas. E essa per-
gunta que Jesus faz aos doutores da lei servirão,
essas perguntas ou esse método, servirá para Jesus
ensinar. Você, eu fiz um apanhado rápido em uma
concordância bíblica, e essa mesma palavra inter-
rogar aparece diversas vezes nos evangelhos, para
não dizer nas cartas.
Quando Pilatos interroga Jesus ou quando
Jesus interroga seus discípulos, ou quando Jesus
interroga a mulher do fluxo de sangue, ou quando
Jesus pergunta, esse modo de Jesus agir se tornou
para ele um método, se tornou para ele uma habi-
lidade de lidar com as pessoas. Ele quer ouvir as
pessoas, e quando as pessoas não falam ele faz a
pergunta para ouvir as pessoas. Quando na mul-
tiplicação dos pães, a primeira, em 2 Marcos, os
discípulos dizem: despede a multidão porque essa
multidão já está cansada aqui, vai desfalecer, eles
moram longe e não tem dinheiro. E Jesus assim:
por que vocês não alimentam elas? Então a inter-
rogação de Jesus se transforma, essa curiosidade,
essa formação se transforma em um método que
vai servir para Cristo ou Jesus desmontar as falá-
cias dos fariseus, vai servir para Jesus questionar
seus discípulos, vai servir para Jesus questionar

p r o g r a m a d e at u a l i z a ç ã o e m e d u c a ç ã o c r i s tã | 51
os demônios, os espíritos imundos, isso vai ser esse conhecimento. Aqui nós temos duas faces da
de uma tal utilidade para Jesus que ele transfor- mesma moeda, inteligência e sabedoria. Então
mará isso em método. Leiam as parábolas, leiam aqui, lembrem-se sempre quando vocês lerem
o evangelho vendo quantas interrogações nós aqui que eles se admiravam, como o Rio Solimões
encontramos na palavra de Jesus. Então ouvir, e Jesus corria como o Rio Negro, que era a mente
quando a pessoa tem dificuldade de falar fazer as e os conceitos dos doutores da lei. Isso é, a capa-
perguntas certas. cidade dialogal, a capacidade de dialogar dentro
No Verso 47 nós lemos assim: “e todos os de um mesmo universo, mesmo que vocês dis-
que ouviam muito se admiravam de sua inteli- cordem, mesmo que você pense diferente, mesmo
gência e das suas respostas”. Aqui tem um outro que depois Jesus vai bater bastante depois no seu
segredo importante, a dificuldade das traduções período de ministério, vai bater bastante nos es-
em traduzir determinados termos aparece aqui de cribas e nos fariseus, ele é capaz de correr junto.
uma forma bastante, bastante difícil. Eu ia dizer Alguém vai dizer assim: mas os rios em um de-
bastante ruim, mas é bastante difícil traduzir essa terminado momento, até um determinado ponto,
palavra admiravam da sua inteligência. O que a Solimões e Rio Negro, não se misturam, mas an-
gente imagina quando a gente fala, nossa, a pessoa dam em paralelo. A figura aqui é acompanha, está
é muito inteligente? A pessoa sabe bastante coi- bom, não é se se misturam ou não.
sa. Mas a palavra que Lucas usa aqui não significa O fato é que isso muda tudo, a capacida-
primeiramente inteligência, mas significa correr de de Jesus de fazer perguntas, mas de também
junto. acompanhar o raciocínio e pensar como eles.
Eu me lembrei de uma coisa que talvez Como que isso vai ser útil para Jesus? Se você ler
possa nos ajudar a compreender essa palavra, e o Sermão da Montanha a partir do Capítulo 5, a
talvez ajudasse na tradução aqui, quando o Rio partir do Verso 20: “porque o Reino de Deus, se
Negro se encontra com o Rio Solimões eles cor- vocês não, se a vossa justiça não exceder em muito
rem juntos, e é por causa da coloração, um que a dos escribas e fariseus”, e aí Jesus começa a fazer
vem dos Andes, do Peru, outro que vem da Co- uma interpretação do Antigo Testamento, ele está
lômbia, um que vem com detritos de rocha vul- usando essa habilidade que ele adquiriu. Não foi
cânica e outro que vem com detritos de barro, de uma habilidade para pôr um diploma na parede,
argila, você nota que eles correm junto quando não foi uma competência para ele arrumar um
se encontram, mas estão, dá para saber que eles emprego, foi uma habilidade, uma competência
estão correndo junto porque cada um tem uma que ele adquiriu para poder viver. É uma questão
cor. É isso o que essa palavra quer dizer. Então eu de sobrevivência. Obviamente que isso tem um
traduziria assim: e todos os que ouviam, ouviam a caráter missionário de fazer a vontade de Deus,
Jesus, muitos se admiravam da sua capacidade de mas também de Jesus defender os seus princípios,
acompanhar o raciocínio dos doutores, de correr os seus princípios de equidade, os seus princípios
junto, de entender a relação entre um conceito e de justiça, os seus princípios do Reino de Deus
sua aplicação. Isso é sabedoria, isso não é inteli- afinal de contas, está certo?
gência. Inteligência é você conhecer um conceito, Então Jesus consegue captar a relação que
sabedoria é você saber aplicar esse conceito. existe entre os conceitos e a sua aplicação. Com
Nos currículos, os parâmetros de currícu- isso ele ganha a capacidade também de ler nas en-
los da nossa, do nosso país, eles chamam isso de trelinhas. Quando o texto, por exemplo, de Lucas,
competências e habilidades. A competência é sa- capítulo 4, logo que ele termina o sermão na sina-
ber o que, e a habilidade é saber o que fazer com goga de Nazaré, eu chamo de sermão, a palavra

p r o g r a m a d e at u a l i z a ç ã o e m e d u c a ç ã o c r i s tã | 52
dele na sinagoga dele em Nazaré, os homens que- escreve na areia, muitos acham que ele estava es-
riam jogá-lo morro abaixo. Se vocês se lembram crevendo os pecados. A saída, a resposta de Jesus
bem da passagem. Mas Jesus furtivamente saiu de é uma pergunta, e aqui ele junta essa habilidade e
banda, deu um perdidão e diz assim, porque ele co- essa competência de uma forma magistral, ele diz:
nhecia bem as intenções, conhecia bem o coração, “aquele que estiver sem pecado que atire a primei-
o íntimo dessas pessoas que queriam jogar ele lá. ra pedra”. E para a mulher ele diz, aí as pessoas vão
Óbvio que ele faz a relação: se eu me decla- embora porque todos são pecadores, e a mulher
rar o messias vão me apedrejar, se eu me declarar diz, e ele diz à mulher: “cadê os teus acusadores,
como messias, como ele faz na Sinagoga de Na- eles não te condenaram? Nem eu tampouco, vá e
zaré, a consequência é lógica, Jesus também, Jesus não peques mais”. Essa habilidade de dar respos-
nunca foi ingênuo de achar que poderia falar as tas é uma competência da sabedoria, a aplicação
coisas impunemente. Sabia, segundo o evangelho da inteligência, vamos dizer assim.
de Lucas, ele vai uma vez só para Jerusalém na ida- Muito bem, e finalmente desse texto eu
de adulta e vai para morrer. Essa é a narrativa do gostaria de destacar o Verso 52, tem duas coisas
evangelho de Lucas. Então esse é o outro segredo. aqui que eu preciso dizer para vocês. A primeira,
E se admiravam dele correr junto, no Ver- verso 52 diz assim: “e crescia Jesus em sabedoria,
so 47 determina dizendo de suas respostas. As estatura e graça diante de Deus e dos homens”.
respostas de Jesus não são respostas fáceis e nem Então Jesus crescia. É esse crescimento de Jesus
prontas. Cito novamente o Sermão do Monte. que o leva então a idade adulta, quando ele pode

"Todos os que ouviam, ouviam a Jesus, muitos se


admiravam da sua capacidade de acompanhar o raciocínio
dos doutores"

Quando ele interpreta as escrituras ele diz: “ouvis- quando... Capítulo 6, não... evangelho de João,
te o que foi dito”, o que foi dito por esses doutores Capítulo 8. Quando, veja como Jesus usa essa ha-
da lei, com quem ele está conversando, ele tam- bilidade de resposta, quando a mulher é apanha-
bém ouviu. Ele fala com conhecimento de causa. da em flagrante adultério pressupõe-se que então
Então ele diz o seguinte: “ouviste o que foi dito”. o flagrante era que ela estava acompanhada, eles
Não furtarás, por exemplo, ele diz: “eu porém vos deixam, as pessoas que a apanham em flagrante
digo, aquele que fizeres isso...”, tal, tal, tal, ele dá deixam os homens ir e querem apedrejar a mu-
uma resposta que não está à altura, mas vai muito lher. E eles perguntam: bom, ela foi apanhada em
além das expectativas dos seus oponentes ou dos adultério, e a lei manda que a apedrejemos. E o
seus ouvintes. Por exemplo, no capítulo de João, senhor o que dizes? Primeiro ele fica em silêncio,

p r o g r a m a d e at u a l i z a ç ã o e m e d u c a ç ã o c r i s tã | 53
dizer que a sabedoria justificada por suas obras e “E a graça de Deus estava sobre ele”. Isso é a graça
que as pessoas dizem a respeito dele, da onde vem de Deus. Se aqui ele crescia em graça diante de
a sabedoria, a sabedoria vem exatamente desse Deus e dos homens, é em charme. A palavra mais
contínuo, dessa educação continuada, dessa edu- bonita que eu achei para traduzir graça aqui é o
cação para a vida, dessa educação que acontece charme de Jesus, o magnetismo pessoal de Jesus,
em casa, no templo, na rua, na oficina do seu pai, a sua capacidade de encantar as pessoas, a sua ca-
lá na beira do Lago de Genesaré, do Lago Tibería- pacidade de se relacionar com todo tipo de gente.
des ou no Mar da Galileia, tem esses três nomes, Então, ele crescia em graça.
onde ele morava. Então essa capacidade formativa Eu traduzi também como uma atitude fa-
das experiências no lar, nas experiências e na ofi- vorável de quem encanta e causa alegria dos ou-
cina do pai, na experiência com os seus colegas de tros. Não é à toa que Haendel rendeu compôs Je-
infância e com a experiência nessas escolas, na si- sus Alegria dos Homens. E aqui essa palavra graça
nagoga, a educação, vamos usar aqui, não é cristã, não tem nada a ver com a graça do Verso 40, que é
porque Jesus não foi cristão, ele foi o Cristo e não a graça de Deus sobre ele, mas a graça aqui é esse
cristão, essa formação é ampla e não se restringe a magnetismo, esse charme, essa sedução que Je-
ida dele ao templo e nem a sinagoga. sus, essa atratividade, esse magnetismo que Jesus
E aqui diz uma coisa interessante, então ele tem de atrair para si as pessoas. Isso vai ser dito
cresce em sabedoria é. É uma característica. E aí na teologia, tanto dos evangelhos quanto de Pau-
diz assim: em estatura. Aqui é outro segredo. Mui- lo, que nesses termos, que Jesus atraiu para si, ele
tos dizem aqui, olha a formação integral, em sabe- atraiu seguidores, atraiu pecadores, atraiu aque-
doria, que é a inteligência, o intelecto, a estatura, las pessoas que o rodeavam. Então essa formação
que é o físico, ele vai crescendo e se desenvolven- de Jesus, essa educação de Jesus é uma educação
do, e a graça, que é espiritual. Mas não é isso que o completa, complexa e total, no sentido de integral.
texto está dizendo, essa palavra estatura quer dizer E como isso se relaciona com Provérbios?
amadurecimento, e não é amadurecimento físico, Eu tenho quanto tempo Nenrod?
é amadurecimento para a vida. A palavra estatura Nenrod Douglas:
aqui no Verso 52, que aparece também em outros Agora 22:07.
textos, é a maturidade que vai sendo adquirida na Roberto Cristofani:
convivência, no relacionamento com as pessoas, Mais dez minutos?
com as coisas, e com os acontecimentos. Então, Nenrod
estatura, Jesus crescia, a palavra crescia, e se forta- Pode ser.
lecia, do Verso 40, fala sobre aspectos físicos, mas Roberto Cristofani:
a estatura aqui fala sobre o aspecto de maturidade E aí o e-book que vocês tem com os slides,
da pessoa, o amadurecimento para a vida. Aqui eu falo sobre o livro de Provérbios Capítulo 1, do
está dizendo o seguinte, Jesus está se preparando, Verso de 1 a 7. Livro de Provérbios, se você tem a
amadurecendo para a vida. Depois nós não tere- Bíblia aí. Porque uma pergunta que a gente pre-
mos mais notícia dele até por volta de 29, 30 anos, cisa fazer sempre é aonde Jesus bebe a sabedoria,
mas aqui já dá o tom. da onde ele tira essa sabedoria. Do seu relaciona-
E graça, que é o outro segredo desse texto, mento e oração com Deus? Certo. Do seu relacio-
e graça diante de Deus e dos homens. E nós enten- namento com as pessoas? Check. Do seu relacio-
demos graça como um favor imerecido. O Verso namento com o seu meio ambiente? Ótimo. Mas
número 40 diz assim: “crescia o menino e se for- sobretudo da palavra de Deus.
talecia, físico, enchendo-se de sabedoria”. Repete. E como palavra de Deus eu quero destacar

p r o g r a m a d e at u a l i z a ç ã o e m e d u c a ç ã o c r i s tã | 54
especialmente que as fontes onde Jesus bebeu é a pítulo 30, diz que mesmo sendo velho ainda não
sabedoria do seu povo, registrada no Antigo Tes- alcançou a sabedoria. O Capítulo 31 inicia com a
tamento, que era a Bíblia que eles tinham, espe- mãe do rei Lemuel orientando ele em relação ao
cialmente no livro de Provérbios. Eu vou ler Pro- seu governo. E o livro termina com um texto bem
vérbios de 1 a 7, vocês tem aí no material e tem na conhecido da mulher sábia, que nós acabamos
Bíblia aí. Provérbios de Salomão, filho de Davi, o transformando em uma mulher virtuosa. A igreja
rei de Israel: “para aprender a sabedoria e o ensi- diz que é mulher virtuosa. Na verdade o texto não
no, para entender as palavras de inteligência, para usa essa palavra, usa a palavra sábio. Porque ela
obter o ensino do bom proceder, a justiça, o juízo quer estabelecer um contraste entre o homem do
e a equidade, para dar ao simples prudência e aos Capítulo 30 e a mulher do Capítulo 31. O homem
jovens conhecimento e bom siso. Ouça o sábio, do Capítulo 30 envelheceu e não alcançou a sabe-
cresça em prudência e o instruído adquire habili- doria. Ele diz dele mesmo: eu sou um tolo, porque
dade para entender provérbios e parábolas, as pa- eu não alcancei a sabedoria.
lavras e enigmas dos sábios. O temor do Senhor é E a respeito da mulher, o seu marido diz:
o princípio do saber, mas os loucos desprezam a eis a mulher sábia, eis como ela procede. E o livro
sabedoria e o ensino”. termina com a seguinte nota, Capítulo 31 do livro
Eu coloquei de uma forma esquemática de Provérbios, Verso 30: “enganosa é a graça e vã
para vocês tentando traduzir o que cada palavra formosura, mas a mulher que teme ao Senhor essa
desses primeiros sete versículos de Provérbios será louvada”. E o livro começa dizendo que o te-
quer dizer. E eu quero destacar especialmente que mor do Senhor é o princípio da sabedoria. Então,
este é um programa de educação integral. Eu cha- todo o livro de Provérbios gira em torno do temor
mo de educação para a integridade. É uma educa- do Senhor, a educação para o temor do Senhor.
ção integral que forma pessoas para a integridade. Eu vou me concentrar na lição 7, que é jus-
Não forma presbítero, não forma pastor, não for- tamente aprender o temor do Senhor. Uma edu-
ma diácono, diaconisa, forma gente. Forma gente cação bem-sucedida é uma educação que aprende
para a vida, onde acontece a educação, onde Deus o temor do Senhor. O que é o temor do Senhor?
nos educa. Eu coloquei aí no slide que o temor é respeito,
Então as sete lições que eu tirei daqui são devoção, medo, reverência, como as pessoas têm
baseadas nas definições do termo. Então nós te- traduzido. Mas duas, na verdade quatro passa-
mos que considerar duas coisas, que o livro de gens, muito rápidas e claras assim, nos mostram
Provérbios é atribuído a Salomão como uma for- que é o temor do Senhor. Se você está com a sua
ma de nós nos lembrarmos do que, ou em que Bíblia aberta, vamos ler Provérbios Capítulo 8,
Salomão se transformou, da sua, do seu distancia- Verso 13. Em um grupo, num outro grupo que eu
mento de Deus. O Capítulo 11 do 1 livro dos Reis leciono, um outro grupo dominical que eu ajudo,
mostra o fim de Salomão, o triste fim do Salomão. a gente, cada vez que eu cito um texto bíblico al-
Então, a atribuição de muitos provérbios, o livro guém escreve no chat para a gente não se perder.
de Provérbios de Salomão, é uma dica de leitura Se alguém puder fazer isso. Então, Provérbios
para mostrar como a sabedoria pode se converter Capítulo 8, Verso 13, o que diz aí? “O temor do
em uma catástrofe se não tiver o temor do Senhor. Senhor consiste em aborrecer o mal, a soberba,
E interessantemente o livro de Provérbios, arrogância, o mau caminho e a boca perversa, eu
que é o segundo elemento que eu quero dizer, ter- os aborreço”. Então, é uma definição do temor do
mina com duas notas sobre a sabedoria. No Ca- Senhor, a gente não precisa procurar pela palavra
pítulo 30 Agur, é o nome do personagem do Ca- respeito, devoção, medo, reverência, mas no seu

p r o g r a m a d e at u a l i z a ç ã o e m e d u c a ç ã o c r i s tã | 55
no coração do ímpio a voz da transgressão, não
há temor de Deus diante dos seus olhos. Então,
a educação para a sabedoria, para a vida, que ex-
trapola escola dominical, que extrapola a própria
igreja, vocês veem que nós estamos abrindo, co-
Da onde Jesus tira o seu meçou falando de educação na igreja, depois além
da escola dominical, agora na sociedade com a Si-
proceder de sabedoria? Do
mony, e agora eu estou dizendo que a formação é
temor do Senhor. no mundo, no dia a dia, não é aprender na igreja
E da onde ele tira o e praticar no mundo. Mas é esse conjunto todo,
desviar-se do mal caminho, como nós notamos, quando eu estava me referin-
do a Jesus.
apartar-se do mal?
Então, de fato, depois vocês, por favor,
No temor do Senhor leiam aí as outras seis lições dos sábios, que eu
também, que é sabedoria. me empolguei aqui em revelar os segredos da
formação de Jesus, mas isso é bem importante
para a gente estabelecer como alvo esse progra-
ma de educação cristã que transborda para além
das nossas igrejas, da nossa escola dominical, das
nossas células, dos nossos cultos.
Para quem se interessar no meu canal do
YouTube eu tenho, fiz uma série de cinco lives
conceito o temor do Senhor é apartar-se do ca- mostrando a formação, a criação de filhos, de pro-
minho mau. jeto educacional baseada em Provérbios. O título
Veja, eu vou ler para vocês, se vocês não da série é ‘como criar um programa de educação
acharem ou não der tempo, estou indo rápido para os filhos’. Depois eu posso passar o link no
aqui. Jó 28:28, depois vocês leiam isso com tem- grupo para não.... do meu canal, quem ainda não
po, não é. Jó 28: 28: “e disse ao homem: eis que o acompanha, pode se aprofundar lá, se se interes-
temor do Senhor é a sabedoria e o apartar-se do sar é claro. Está bom? Obrigado gente. Estou bas-
mal é o entendimento”. tante empolgado e feliz aí. Obrigado pela atenção
Da onde Jesus tira o seu proceder de sa- e paciência.
bedoria? Do temor do Senhor. E da onde ele tira
o desviar-se do mal caminho, apartar-se do mal?
No temor do Senhor também, que é sabedoria.
Dois outros textos rapidamente resumem bem
isso, é Salmo 34:11: “vinde filhos e escutai-me e
vos ensinarei o temor do Senhor”. Aqui tem um
segredo, um tesouro, que é justamente o aprender,
é ensinar o temor do Senhor. A educação cristã
deve ter por base o temor do Senhor. E o que é o
temor do Senhor? Consiste em se apartar do mal.
Aí na mesma página da Bíblia, no Salmo
36, na outra página, Salmo 36:01 diz assim: “há Rev. José Roberto Cristofani

p r o g r a m a d e at u a l i z a ç ã o e m e d u c a ç ã o c r i s tã | 56
 tril h a 0 6
MATERIAL ONLINE PARA
EDUCAÇÃO CRISTÃ  Revda. Camila Palhão Zemuner

Que honra, obrigada pelo convite, estou me sentindo bastante honrada. Escrevi isso para o Cristofani
atualmente. Eu vou pedir permissão para chamar ele de Zé, porque é amigo de algum tempo, então para mim
é mais fácil, está bom? Mas agradecer a pessoa do Marcelo, pastor Marcelo, presidente aí da Bahia, obrigada
por essa oportunidade. Continuar encorajando vocês gente, porque é lindo isso que vocês estão fazendo. É
lindo ver esse tempo que vocês estão tirando para crescerem, só isso já é meio caminho andado, gente, já

p r o g r a m a d e at u a l i z a ç ã o e m e d u c a ç ã o c r i s tã | 57
"os tempos mudaram, vocês estão aprendendo, fazer a
educação também está mudando, é diferente, e o material
também está mudando. O material online também mudou,
porque se antes não tínhamos online agora nós temos o online"

é meio caminho andado. Porque quando nós nos


colocamos à disposição para crescermos as coisas
acontecem porque esse é o desejo de Deus.
Então o pastor Rodrigo falou que os tem-
pos mudaram, começou falando, eu dei uma
olhadinha também no material que foi colocado
para vocês. E está sendo falado bastante sobre essa
questão mesmo de – gente, o meu computador eu
não sei o que aconteceu, ele não está fazendo a
tela inteira, está bom, então nós vamos ficar com
os slides assim. Então, os tempos mudaram, vo-
cês estão aprendendo, fazer a educação também
está mudando, é diferente, e o material também
está mudando. O material online também mudou,
porque se antes não tínhamos online agora nós
temos o online. E está vendo, como diz o pastor
Rodrigo, a gente domina quase 100%, e olha que
eu não posso nem dizer que sou uma pessoa as-
sim tão desatualizada. Mas todo tudo muda muito
rápido. E no online gente, muda muito mais rá-
pido ainda, para a gente acompanhar de fato nós
precisamos ter ajuda principalmente dessa galera
mais jovem aí que eles dominam, nasceram mes-
mo com o chip, ele já vem com o dedinho pronto
para passar a tela assim, olha. Vocês que provavel-
mente tem crianças mais novas aí já sabem que o
dedinho deles está prontinho assim para já pôr o
dedo ali na tela e fazer.
Mas os tempos mudaram e estava tudo
muito bom, gente, mas mudou e a gente vai ter
que aprender a viver o novo momento, e viver o

p r o g r a m a d e at u a l i z a ç ã o e m e d u c a ç ã o c r i s tã | 58
novo momento também diz respeito à como va- porque Adão e Eva pecaram, e Deus mudou a
mos fazer para trabalhar isso tudo. Então, as per- trajetória do ser humano naquele momento. Ele
guntas que vieram são muitos pertinentes porque fechou, ele selou o Éden e tirou o homem e a mu-
tudo é uma incógnita, tudo é novo e nós vamos lher do Jardim, porque eles já não eram mais me-
ter que aprender uma nova forma de vivermos o recedores. Mas no dilúvio Deus também mudou,
agora. o homem continuava não sendo merecedor, a ter-
Então, ao contrário do que muita gente ra estava um caos, e Deus mudou. Então, mudar é
pensa, mudar gente é verbo de Deus, muita gente verbo de Deus. Nós precisamos ter isso no nosso
acha que não, mas é. Agora, eu vi que vocês con- coração. O único que não muda é o próprio Deus,
versaram um pouco durante esses três dias, se- e a palavra diz que ele é imutável. Porém, este
gunda, terça e hoje sobre a questão de educação tempo que nós vivemos, a humanidade, a história,
cristã, e nós estamos aqui reunidos para aprender Deus muda quando ele quer, do jeito que ele quer,
um pouquinho mais, então o que é educação cris- para fazer a sua vontade soberana. Então mudar
tã. Vocês estão vendo nos dias anteriores, quando é algo que nós temos que aprender. Deus mudou

"Quando fazer educação cristã? Agora, sempre, o tempo todo,


porque o cristão ele vive, é reflexo, educação cristã é reflexo
da vida do cristão"

fazer educação cristã? Agora, sempre, o tempo no Novo Testamento também, ele mudou a forma
todo, porque o cristão ele vive, é reflexo, educa- do seu filho vir ao mundo, ele como Deus veio ao
ção cristã é reflexo da vida do cristão. E como fa- mundo, e o que todos esperavam que seria num
zer? Através da sua vida, da minha vida, daquilo berço de ouro, como nós estamos cansados de sa-
que nós temos vivido, testemunho. Então, o que, ber, ele mudou, ele falou: não, vai ser diferente, eu
quando e como, é o que nós estamos vendo nesses vou fazer do meu jeito. E ele mudou no nascimen-
dias. Certo? Usando o que, quais materiais, enfim. to, mas ele mudou na morte e na ressurreição, lá
Mas então os tempos mudaram e eu pre- na morte e ressurreição Deus muda a história da
ciso mudar? Sim, eu preciso mudar, porque mu- humanidade de uma vez por todas. Todo aquele
dar é verbo de Deus. Nós temos visto na palavra, que crê em Jesus Cristo não morre, mas tem vida
na Bíblia, que a mudança acontece sempre que eterna. Quer mudança mais incrível do que essa?
Deus entende que ela tem que acontecer. Então, Novo nascimento, regeneração, isso é mu-
quando nós olhamos, por exemplo, para o Anti- dança de Deus. Então verbo mudar é de Deus. E
go Testamento, nós vamos ver que Deus no Éden se ele muda algo é porque ele tem planos maio-
começou de uma forma e ele mudou, ele mudou res pela frente, e a gente precisa ter isso no nosso

p r o g r a m a d e at u a l i z a ç ã o e m e d u c a ç ã o c r i s tã | 59
coração. Então, nós não precisamos ter medo da -los, nós podemos atualizá-los. E é isso que nós
mudança, não precisamos. Antigamente a gente estamos conversando todos esses dias. Então mu-
pensava assim olha, pensava e ouvia bastante: a damos forma, ambiente e material, mas não a es-
internet é do diabo porque prendeu os nossos, as sência. Precisamos ter isso no nosso coração.
nossas crianças, prendeu os nossos jovens e eles E eu vou falar um pouco também da nossa
não convivem mais com as famílias, é do diabo experiência, que foi o que nos pediram também
isso, é uma artimanha do diabo. Aí de repente para falar, mas antes eu quero destacar quatro
Deus fala assim: é do diabo? Não, espera aí que eu situações com vocês que a gente precisa guardar
vou mudar esse negócio então, agora todo mundo no coração e considerar com muito amor e com
vai ter que ir para a internet por um tempo para muito carinho. E a primeira situação é que nós
vocês verem que a gente pode usar a internet para precisamos estar abertos para a mudança que foi
o Reino de Deus. Então, é a mudança, é a hora da o que eu falei ali agora porque mudar é verbo de
mudança, e nós vamos ver o que Deus tem para Deus. Eu e o Dani a gente tem uma frase que a
fazer, tem planos muito maiores, muito maiores. gente fala bastante que é justamente essa daí, que
E quem sofreu, gente, de verdade, num primeiro para alcançar objetivos que nunca tivemos preci-
momento mais são os mais jovens. Por quê? Eles samos fazer coisas que nunca fizemos. Se eu falar
foram para a internet primeiro e eles se privaram não, eu vou continuar fazendo o mesmo que eu
do relacionamento pessoal e interpessoal? Eles fazia antes não vai dar. Então, eu preciso mudar,
ficaram só no virtual. Então quando a pandemia eu preciso abrir a minha mente para eu conseguir
veio eles estavam longe do relacionamento inter- pensar em coisas diferentes. A criatividade, o pas-
pessoal há muito tempo. E nós não, nós tivermos tor Rodrigo falou, vem de Deus. Gente, no Éden,
a dificuldade, e estamos tendo, de aprendermos a de Gênesis a Apocalipse a criatividade de Deus é
mexer com as ferramentas que o pastor Rodrigo incrível. É incrível. Ou melhor, é crível, porque in-
colocou aqui para a gente. Mas os jovens estão crível é não crível, então é crível, é maravilhosa, é
tendo problemas reais de relacionamentos inter- sensacional. A gente vai mudar às vezes a lingua-
pessoal, relacionamento verdadeiro, olho no olho, gem, às vezes nós vamos mudar o material, nós
porque há muito tempo eles se perderam, as nos- vamos mudar a plataforma, nós vamos mudar o
sas crianças perderam um pouco isso porque a jeito de comunicar, mas nós precisamos mudar,
gente deixou por algum motivo também que elas porque fazer mais do mesmo não dá mais. Então,
fossem, os pais deixaram que elas fossem para a nós precisamos abrir o nosso coração e receber
internet muito mais cedo sem rigor, sem limites. isso com alegria, porque é um novo tempo que o
Então eles sofrem também por conta disso. Senhor tem nos dado. Então faça cursos mesmo,
Então, nós precisamos ter no nosso cora- se aprimore, vai lá, fuça na internet. Gente, não
ção que é hora de mudar sim, nós vamos mudar a tem jeito melhor do que a gente aprender do que
forma de fazer educação cristã, nós vamos mudar fuçando. Você começa a fuçar você vai entenden-
o ambiente de fazer educação cristã, não é mais do, às vezes você erra, mas não tenha medo, não
só entre quatro paredes, mas agora é no mundo, é tenha medo de errar, na mudança nós não pode-
em qualquer cidade, é de qualquer lugar. E vamos mos ter medo de errar. Se errou, faz de novo, faz
mudar também o material, porém a essência não de novo e está tudo bem, é um tempo novo para
muda, porque Deus já nos deu o que nós temos todo mundo. Se você precisar de ajuda chama al-
que ensinar. Certo? guém, mas não desista, esteja aberto para isso, a
Então, a educação, os princípios do Reino mudança faz parte do aprendizado, ela nos coloca
já estão aqui escrito e nós não precisamos muda- em aprendizado.

p r o g r a m a d e at u a l i z a ç ã o e m e d u c a ç ã o c r i s tã | 60
"Quando um líder, ou um
professor, um educador, não
tem autonomia, ele trabalha
sem alegria, ele trabalha
sem motivação, ele não
tem criatividade,
ele fica bloqueado"

E como professores, falando de educação, alinhados nós vamos caminhar juntos. Porque
nós sabemos que nós estamos ensinando, mas imagina, olhando para o corpo, nós somos par-
também estamos aprendendo. É uma troca, no te do corpo de Cristo, ok. Se o pé fala assim, eu
Reino de Deus é assim, afinal de contas eu ouvi vou para a direita, o pé direito fala eu vou para
desde criança que eu não ia receber diploma de a direita e o pé esquerdo fala eu vou para a es-
formada para o céu, que nunca na vida eu ia fa- querda vai dar bom? Não, não vai. Ou a gente vai
lar, não, agora eu cheguei no meu limite, eu nunca rachar o corpo no meio, ou nós vamos cair, não é?
mais vou aprender nada com a palavra de Deus. Não tem como. Então, alinhar a visão é certeiro,
Então eu estou aprendendo e eu estou ensinando, precisa acontecer dentro do contexto da educação
é uma troca. cristã, dentro de um contexto da vida do corpo
Mas também precisamos ter alinhamento de Cristo. Nós precisamos ter essa questão. Mas
de visão. Está aí, nós fazemos parte de um corpo, principalmente quando a gente vai pensando so-
e se nós não estivermos alinhados trabalhando bre como fazer educação cristã, que material usar,
na mesma visão então a nossa vida vai ficar um vamos alinhando a nossa visão.
pouquinho mais difícil. Mas o que vocês estão fa- O terceiro ponto é autonomia. Camila, au-
zendo aqui hoje, o que nós estamos fazendo aqui tonomia, mas aí ficou perigoso porque a gente vai
hoje, é justamente ajustar o foco, alinhar a visão. dar autonomia? Cada um vai fazer o que quiser.
E isso é de Deus, e quando nós fazemos isso Deus Mas a gente não falou de alinhar a visão? Se nós
se alegra e ele derrama criatividade, ele derrama alinharmos a visão o que nós vamos estar fazendo
mesmo oportunidade para que a gente ensine. A é dar liberdade para as pessoas, para elas enten-
educação cristã ela é feita não só na escola bíblica, derem a necessidade do público delas utilizando
ela é feita a qualquer momento, porque ela é feita os talentos que Deus deu para cada uma delas. E
através da nossa vida, através da vida do cristão, isso é muito importante, muito importante. Por-
aquele que conhece Jesus faz a educação cristã que Deus não nos fez iguais, justamente ele nos
quando ele respira. Isso é uma realidade. colocou num corpo para que nós pudéssemos nos
Então, nós precisamos lembrar que somos completar. Então, trabalhar alinhado na mesma
parte de um corpo, se estamos, se nós estivermos visão não quer dizer que não podemos trabalhar

p r o g r a m a d e at u a l i z a ç ã o e m e d u c a ç ã o c r i s tã | 61
de forma autônoma, pelo contrário, nós vamos ter vamos até relativamente bem internautas assim,
liberdade, porque nós vamos fazer saber qual é o bem online, pessoas bem para frente, com relação
nosso público, nós vamos entender o nosso pú- ao todo da modernidade, da internet mesmo. Mas
blico e nós vamos trabalhar com os talentos que aí a gente viu que isso não era tão real assim, e
Deus nos dá. nós precisávamos ensinar, inclusive porque fomos
Quando um líder, ou um professor, um parar na internet, então nós precisávamos ensinar
educador, não tem autonomia, ele trabalha sem os nossos membros. E isso foi uma necessidade
alegria, ele trabalha sem motivação, ele não tem que nós vimos, que nós precisávamos ensinar os
criatividade, ele fica bloqueado. E o que nós pre- nossos membros a participarem do culto online.
cisamos para que a educação cristã aconteça é Esse foi o nosso primeiro ato. E eu quero compar-
justamente de líderes educadores, pastores, que tilhar com vocês, porque dentro do que nós esta-
estejam, que possam se sentir, tenham autonomia mos conversando, saber fazer a leitura das pessoas
para fazer o seu ministério avante, crescendo. com quem nós estamos trabalhando, dos mem-
E o quarto é o trabalho em equipe. Porque bros da nossa igreja, dos nossos alunos, é muito
apesar de nós sermos especiais em nossas habili- importante. Porque senão a gente corre o risco de
dades, certo, também precisamos levar em conta falar o que eles não querem ouvir ou o que eles
que somos incompletos. Por isso fomos colocados não precisam ouvir. Então estar atento a necessi-
juntos para formar um corpo. Porque onde eu sou dade dos nossos membros e dos nossos alunos é
falha o pastor Rodrigo me completa, o pastor José extremamente importante, porque só de nós ou-
Antônio, José Roberto me completa, Nenrod me virmos eles a gente já tem também meio caminho
completa, e assim a gente vai se completando e a andado. Aí a resposta está fácil, sabe, a ação vem
gente vai formando a beleza da unidade do corpo de forma muito natural.
de Cristo. É a unidade na diversidade, é o traba- Então, nós criamos aí uma campanha, e
lho em equipe. Então, naquilo que eu sou limitada hoje em dia gente a maior parte das pessoas têm
sempre haverá alguém com capacidade para me um celular e tem um WhatsApp vocês concor-
complementar. Encontre pessoas ao seu redor, dam? São pouquíssimas pessoas que não têm um
não antes sozinho, pessoas que te completam, celular e não tem um WhatsApp, a menos que vo-
pessoas que vão te ajudar a crescer, que vão olhar cês me convençam de que na realidade de vocês
para um ponto onde às vezes você fala assim eu - eu posso estar errada – a maior parte da popula-
não sei o que fazer. Olhe ao seu redor, eu tenho ção não tenha um celular e um WhatsApp. Então,
a convicção de que Deus está colocando pessoas qual foi a nossa decisão? Vamos criar uma forma
à sua volta para trabalhar junto com você. Então de ensinar. Então, nós fizemos cinco dicas para
encontre mesmo seus pares e veja a criatividade participar dos cultos online. Só para vocês verem
fluir com naturalidade. eu vou passar rapidinho, e nós vamos fazendo te-
E agora então considerando esses quatro linhas assim, está vendo? Sempre colocando ali
pontinhos que são importantes, eu vou trazer o canal da igreja, ensinando o pessoal como que
aqui um pouquinho para vocês da nossa expe- daria para a gente trabalhar, olha, separe esse tem-
riência. O pastor Rodrigo falou que eles inspiram po, você não irá só assistir ao culto, mas participar
na gente, mas eu vi muita coisa ali que a gente não também cantando, lendo a Bíblia e orando junto.
tem feito não viu, já estamos precisando olhar um Porque as pessoas falavam assim: é no
pouco mais para vocês agora então. Eu vou come- YouTube? Então eu vou sentar ali e vou só ver,
çar a pedir cola. vou só assistir. Não, é culto, continua sendo culto.
No começo da pandemia nós nos achá- Se continua sendo culto eu continuo cultuando.

p r o g r a m a d e at u a l i z a ç ã o e m e d u c a ç ã o c r i s tã | 62
E o culto reformado é aquele que faz os membros 10 pontos. Você vai estimulando a criança a estar
participarem, cultuarem, servirem juntos. Então, naquele culto, então nós podemos fazer isso. Eu
reúna. Segundo, reúna a sua família para partici- posso, a pregação é a mesma, a criança enquan-
par, porque a gente acredita no culto doméstico. to ela ouve a pregação, é claro que, o desafio do
Então por que não? Se a família vai para a igreja pastor foi ficando cada vez mais difícil, de trazer
junto, por que não assistir o culto junto em casa a contextualização inclusive numa linguagem boa
também? Aí coloca: não teremos um conteúdo para criança. Mas gente, desenhos incríveis que
específico para as crianças, mas o culto é para to- as crianças foram fazendo enquanto ouviam a
dos. Aí o que nós fizemos? Colocamos dentro do pregação porque elas tinham que desenhar o que
culto uma atividade, um momento onde o litur- o pastor estivesse pegando, a gente muitas vezes
gista, que foi o que o pastor Rodrigo falou, de você subestima as nossas crianças e elas são maravilho-
adaptar à realidade, então adaptar a liturgia para sas. Elas estão anos-luz na nossa frente com rela-
aquela necessidade. Aí era um momento onde o ção ao que a gente muitas vezes acredita que elas
liturgista falava diretamente com as crianças: você estão entendendo ou não.
que está em casa, é criança, nós temos uma ativi- Aí concentre-se no que está sendo trans-
dade especial para você, então corre lá, pega isso, mitido, deixa o celular de lado, pegue a sua Bíblia.
faz aquilo, estamos mandando o link aqui especial Claro que quem assiste no celular não tinha como
para você ver qual é a tarefa. Ou então depois: tira deixar o celular de lado, não é. Mas essa ideia de
uma foto e posta no Instagram, tira uma foto e pegar a Bíblia, pegar um caderno, fazer anotação,
manda no WhatsApp da igreja. Enfim, vai ganhar isso deixa a gente mais concentrado, mais jun-

"É a unidade na diversidade, é o trabalho em equipe. Então,


naquilo que eu sou limitada sempre haverá alguém com
capacidade para me complementar"

p r o g r a m a d e at u a l i z a ç ã o e m e d u c a ç ã o c r i s tã | 63
to. Antes de começar o culto compartilhe o link de vocês, mas vocês podem avaliar, muitos pais
em seus grupos de WhatsApp e em outras redes preferem usar o conteúdo que nós escrevemos
sociais, vamos fazer missão, repartir a palavra, o infanto-juvenil para que em família eles possam
que é bom para mim eu compartilho, então eu conversar. Nós estimulamos isso nos membros da
mando para frente. O culto online é a forma que nossa igreja, porque a gente tem visto a necessida-
encontramos para manter nossa comunhão e o de, para que os pais voltem a ministrar também as
nosso compromisso com a família da fé. Acom- crianças. Mas vi que a realidade de vocês é de que
panhe ao vivo, então a nossa ideia é, se você está os pais muitas vezes não são membros da igreja,
ao vivo você está no chat, você pode compartilhar certo?
ali, você pode dar um glória a Deus, um amém, Agora você imagina um filho chegar para
um aleluia, você pode escrever o seu nome e di- o pai assim: pai, você pode fazer comigo esse culto
zer da onde você é, falar um oi para um irmão. E doméstico aqui, fazer a leitura para mim? Eu não
isso também é um desafio para alguns pastores, estou conseguindo ler direito. A criança vai estar
porque a gente está tudo bem se os nossos irmãos evangelizando o seu pai e a sua mãe, e o Reino vai
escreverem no chat às vezes: oi fulano, e aí, como estar ganhando. A criança é o maior evangelista
é que você está? Um abraço. Porque é comunhão, que existe, porque ela de forma simples e natural
culto é comunhão. E nós estamos aprendendo um ela alcança os pais de um jeito poderoso, na sim-
novo momento. plicidade dela. Então crie mesmo essa questão de
Em segunda instância nós pensamos o se- levar material para a criança também, de acesso
guinte, puxa vida, o nosso pessoal foi para dentro fácil para a criança. Se não é pelo WhatsApp, tudo
de casa, o que nós vamos fazer? Então, a gente en- bem se for escrito à mão, a igreja, a IPI do Brasil
sinou primeiro como participar do culto, aí vimos está fazendo uma série de material incrível, mara-
que eles estavam com muito medo, muito medo, vilhoso, eu e o Daniel a gente está fazendo parte
então nós criamos um material que nós enviamos da construção de parte desse material. Quando eu
pelo WhatsApp para as famílias da igreja. Como vi o primeiro material gente. Eu fiquei encantada,
que foi isso? A pessoa tinha que registrar o núme- porque é muito legal a gente poder trabalhar mes-
ro do WhatsApp da igreja no seu celular, e aí ela mo, vendo que a nossa igreja está considerando
mandava quero participar da campanha ‘Em Casa as crianças, os adolescentes e os jovens, não só os
com Jesus’. Quando ela mandava essa mensagem adultos. Os adultos têm um check diferente, que
no WhatsApp da nossa igreja, automaticamen- quando a gente vai ministrar o adulto nós precisa-
te ela era cadastrada e enviada para uma lista de mos fazer com que ele traga de dentro dele aquilo
transmissão que existe no WhatsApp. Essa lista de que ele já conhece, aquilo que ele já sabe, as ex-
transmissão quando nós começamos a campanha, periências que ele tem. E eu acho que foi o pas-
nós mandávamos diariamente o conteúdo dessa tor Silas, se eu não estiver enganada, que falou do
campanha, que era um culto doméstico. Porém Educere, não foi? Se eu estiver errada alguém me
gente, foi muito, muito legal, porque nós fizemos corrija aí. Mas o que é Educere? É tirar de dentro.
essa campanha tanto para os adultos quanto no Eu fiz o curso de Escola Bíblica Dominical,
conteúdo infanto-juvenil, porque nós realmente o primeiro que teve, online, da IPI do Brasil, foi
entendemos que nós podemos trabalhar o con- até um protótipo para começar a faculdade on-
teúdo para ambas as realidades. Existem adultos line, o ensino EAD. Foi um protótipo anterior, e
que vão fazer sozinhos, mas existem pais que vão lá a gente aprendeu sobre Andragogia, então se
ter os seus filhos em casa. Então, na nossa rea- você está trabalhando com adultos estude um
lidade aqui, não sei se é exatamente a realidade pouquinho essa questão da Andragogia, porque

p r o g r a m a d e at u a l i z a ç ã o e m e d u c a ç ã o c r i s tã | 64
Andragogia é você usar o que a pessoa já tem de um tempo maravilhoso e incrível.
conhecimento, as experiências dela, da vida diária Depois desse, inclusive surgiu, olha, a
dela, e trazer isso para fora de forma que ela con- gente está precisando, a gente está sentindo uma
siga ver na palavra o que ela está fazendo de, que necessidade de conversar sobre namoro. Aí nós
está ok, de acordo com os princípios bíblicos, e o fomos pensar, mas será que o problema está no
que não está ok com os princípios bíblicos. Mas namoro mesmo, o que eles querem saber do na-
com a criança é a pedagogia mesmo, é o Educa- moro? Fomos fazer pesquisas, fomos fazer, hoje
re, que é você nutrir, é amamentar, e foi também em dia tem o Google Forms, se vocês quiserem,
algo que o pastor Silas comentou aqui com vocês. eu ouvi alguém perguntando como saber o que o
Então, nós fomos para dentro das casas por meio pessoal quer aprender, ou qual a forma, o quanto
desse material pelo WhatsApp. Foi assim que nós eles estão retendo, o Google Forms gente é uma
começamos a ir mais fundo, e foi uma campanha ferramenta super prática, fácil, bem fácil de traba-
que deu muito bom com o pessoal. lhar mesmo. Você eu mando o link para a galera,
Além disso o que nós fomos trabalhando você constrói lá as perguntas que você quiser, ele
aí? Nós sentimos uma necessidade de estudo bí- te dá gráficos e tudo mais, e é simples e é gratui-
blico, estudo bíblico mesmo, e os nossos jovens, to. Então dá para fazer, você tem condição, assim
a nossa galera estava morrendo de vontade de como a gente, de descobrir o que a galera quer
conversar um pouco sobre alguns temas e eles aprender.
mandavam para a gente assim, eles me chamam E aí nós fizemos o RNI, que é o curso de
de Cacão aqui está bom? Então eu vou falar relacionamento, namoro e identidade. Nós enten-
como eles falam: Cacão, a gente queria muito es- demos que para falar de namoro não dá para não
tudar os profetas menores, e a gente sabe muito falar sobre relacionamento, e aí a gente falou do
pouco deles. É para já. Então, toda quarta-feira relacionamento em três vertentes: relacionamen-
nós nos reuníamos, aqui a gente colocou só uma to com Deus, comigo mesmo e com o próximo,
fotinho para exemplificar, mas nós tivermos ir- para depois eu falar que quando eu descubro o
mão cerca de 70, 80 adolescentes e jovens e adul- relacionamento eu descubro a minha identidade,
tos estudando com a gente os profetas menores. e aí então eu vou para o namoro. Se eu inverter
Toda quarta-feira, 20 horas, um encontro de esta ordem não vai dar certo. Então coisas que a
uma hora e meia. E é importante a gente pensar gente foi trabalhando com o nosso pessoal diante
o seguinte, lembra que eu falei, a essência nós te- de uma necessidade que a gente foi encontrando.
mos, então nós temos a palavra. Como que nós Nós temos aqui também os nossos peque-
vamos comunicar então? Uma dica, por exem- nos grupos ou células, e nós temos nos encontra-
plo, eles queriam estudar os profetas menores, do pelo Zoom, pelo Meet, enfim, por essas ferra-
então a gente falava, olha, em uma semana, tinha mentas. E aí a gente ficou, o que fazer, como nós
que dividir, vamos lá, pegava um profeta e falava vamos para o Zoom trabalhar gente, porque puxa
essa semana vocês vão estudar, vão ler todos os vida, está todo mundo cansado do online, o que
capítulos do profeta X, Oseias, por exemplo. Aí eu mais ouço, está todo mundo cansado do onli-
eles liam, então eles já tinham lido todo o profeta ne, e para os jovens daqui, as crianças eu falo para
Oseias, chegavam para o momento de comparti- eles assim: vocês podem parar de falar que vocês
lhar, quando a gente ia trazer para eles algumas estão cansados do online porque vocês viveram
coisas eles traziam as dúvidas deles. E aí ficava no online. Quando a gente brigava, falava para
mais fácil a gente conseguir explicar e explanar vocês saírem do online vocês não queriam, então
sobre aquilo que eles estavam aprendendo. Foi agora vocês também não podem reclamar do on-

p r o g r a m a d e at u a l i z a ç ã o e m e d u c a ç ã o c r i s tã | 65
line. É um trato aqui com a galera. É na brincadei-
ra, mas é uma forma de atraí-los.
E nos grupos pequenos a gente pensou:
qual vai ser o nosso desafio: Simples, o tempo tem
que ser reduzido, no online tem que ser reduzido,
não dá para a gente ficar falando, falando, falando,
falando, porque chega uma hora que cansa, assim
como vocês provavelmente já estão cansados de
me ouvir e pedindo pelo amor de Deus para aca-
bar logo com isso tudo. Então, na célula a gente
tem feito da seguinte forma, o conteúdo que é
trabalhado, por exemplo, no domingo, a gente es-
timula o líder, olha como é construído o material
para as células. O conteúdo trabalhado no do-
mingo é feito um editorial, esse editorial eles tem
acesso pelo site da igreja ou pelo WhatsApp, en-
fim, pediu para a secretária da igreja ela envia. Se
entrar no site da igreja está lá fácil também. Mas
nós criamos um roteiro de célula onde a gente faz
perguntas para ajudar na discussão das células.
Porque a gente entende que o grupo pequeno, ou
a célula, não é o lugar de nós estudarmos a Bíblia
no sentido de estudo bíblico. Então você não pre-
cisa ter uma pessoa que domina a Bíblia para ir lá
e ensinar a Bíblia. Não. Nós precisamos conversar
acerca do assunto que foi tratado no domingo.
Então a gente linka o culto que é online, então a
gente faz o povo ir assistir o culto, para depois nas
células discutir a respeito.
Um exemplo, recentemente eu preguei
"o tempo no online sobre lâmpada, qual lugar da lâmpada, esse era o
tem que ser reduzido, meu tema. E aí o pessoal falou assim: faz aí uma
pergunta para a gente poder discutir na sala. Eu
não dá para a gente
falei, claro, faço sim, bem simples, ao invés de
ficar falando, falando, você chegar e falar assim: ah, no culto a pastora
falando, falando, Camila falou isso, isso e isso, pergunta o seguinte:
porque chega uma hora se você tiver uma lâmpada onde você vai colocá-
-la? Em tal lugar. Ok. A lâmpada sem energia fun-
que cansa"
ciona? Não. Se nós como cristãos, no texto bíblico
que a pastora falou, somos a lâmpada, quem é a
luz, quem é energia, quem que proporcionam a
luz da lâmpada? É Jesus. Então, a gente sem Jesus
nós somos só um recipiente. E aí a gente vai traba-

p r o g r a m a d e at u a l i z a ç ã o e m e d u c a ç ã o c r i s tã | 66
educação, que são materiais que a gente pode lan-
lhando isso, entende? Transformando, por meio çar mão e que são muitos produtivos, tanto para a
de perguntas, fazendo com que a pessoa traga célula quanto para o culto online, está bom gente,
para a realidade dela. Então os pequenos grupos quanto para estudo bíblico, tudo que é online.
acontecem. A nossa terceira idade, ai, agora, os nossos
Uma outra ferramenta legal, um material velhinhos não vão conseguir ir para a internet,
bacana que a gente pode usar é um site chama- eles não sabem mexer. Não sabem. Alguns deles
do yesHEis, fica a dica aí para vocês, gente. São nem tinham celular. Então, o que nós fizemos?
vídeos super curtos, super curtos mesmo, de um Uma campanha na igreja de arrecadação, envol-
minuto, dois minutos no máximo, de evangelismo vemos quase que a cidade gente, sem brincadeira,
ou de conteúdos que muitas vezes a gente quer quem tem um celular smartphone para doar. E os
trabalhar. Então você quer fazer um desperta- celulares foram chegando, não precisava ser um
mento no pessoal ali no grupo da célula, quer dar celular mega novo, era só um celular que acessas-
uma pausa, ou como a gente tem aprendido nas se o YouTube, para que aquele senhor ou aquela
metodologias ativas, que é uma coisa que vocês senhora tivessem acesso ao culto online. E aí nós
podem pesquisar também, metodologias ativas é ensinávamos a mexer, e eles aprenderam inclu-
muito legal, a gente tem estudado isso aqui, e a sive a fazer o encontro, o culto da terceira idade
nossa coordenadora da área de educação cristã ela pelo WhatsApp. Antes o WhatsApp fazia com no
pega muito no nosso pé, porque se ela não pegar máximo 9 pessoas, se eu não estiver enganada e
no nosso pé a gente volta a fazer o que era antes. agora já dá para fazer com 50 pessoas, gente, olha
Então, ela fica no nosso pé o tempo todo: cadê... que bom. Porque as ferramentas também estão
aqui a gente chama de turn the key, é a virada de aumentando, elas também estão nos dando mais
chave. Em toda aula nós temos que ter uma vira- condição de trabalharmos.
da de chave, ou em cada encontro de célula nós Então a terceira idade foi para o WhatsA-
temos que ter uma virada de chave. pp. E eles são o máximo, gente, quando a gente faz
Por quê? O nosso raciocínio vai cansando, o culto no WhatsApp é um barato, eu me divirto,
nós temos um limite de prestar atenção, e quando eu falo que é o culto que eu mais gosto de parti-
nós vamos cansando a gente para de se interessar. cipar, é o culto da terceira idade pelo WhatsApp,
E aquele momento se torna desinteressante para porque eles são muito divertidos. E eles são muito
a gente, e a gente não quer mais e acabou, fecha- participativos, eles estão achando o máximo estar
mos o filtro. Então ter viradas de chave às vezes no online.
é coisa simples, às vezes é você, você está num E como é que funciona o material para a
conteúdo e aí faz uma pergunta: como foi a sua terceira idade? Bíblia. Bíblia, na linguagem deles.
semana, não sei o que... Vamos lá, uma pergunta Recentemente eu fui falar para eles sobre, que é
bem simples, se eu perguntasse para vocês agora, tempo ainda de crescer, tempo de amadurecer,
eu parasse tudo e falasse assim: conte para mim tempo de frutificar. E aí o que eu fiz? Usei o vi-
um momento da sua semana onde você precisou sual, peguei uma planta, falei um pouco sobre Je-
chamar a atenção de alguém por algo bonito que sus dizer que ele é a videira e nós os ramos, e que
ela fez. Pronto, eu já captei a sua atenção de volta, nós, todo aquele que dá fruto o pai limpa, enfim.
entende, é o turn the key, é a virada de chave, onde Eu peguei uma plantinha, trouxe uma planta aqui
você traz a pessoa de novo para você e depois você do meu lado e falei assim: olha aqui essa planti-
retoma o conteúdo que você estava para conti- nha, gente, se essa plantinha aqui que eu tenho na
nuar. Então são metodologias que funcionam na minha mão pedir para mim uma bicicleta, vocês

p r o g r a m a d e at u a l i z a ç ã o e m e d u c a ç ã o c r i s tã | 67
acham que eu vou dar uma bicicleta para ela? Aí gente é trazer a juventude ou trazer os mais novos
todo mundo: não. Eu falei: pois é, porque ela não para a liturgia do culto. Porque todas as idades
vai frutificar se eu der uma bicicleta para ela, ela gostam de ver essa galera ali e eles se envolvem,
não vai saber o que fazer com uma bicicleta. Se ela eles chamam os amigos, eles participam juntos e
pedir para mim um chiclete, eu vou dar um chi- é um tempo incrível. Então aqui eu tenho Pedro
clete? Não. Agora, se ela pedir para mim sol, para Viana, Júlia Assis, Beatriz Mattioli e todos eles lí-
frutificar, eu vou dar? Vou. Se ela pedir para mim deres de célula, e o Senhor vai levantando.
adubo? Vou. Por quê? Porque é exatamente isso Então, é tempo de mudar. Tempo de mu-
que a palavra está dizendo. Então usar recursos dar. Agora, nós precisamos ter no coração o se-
visuais também são muito importantes, dentro guinte, que quando a nossa mudança se tornar
daquilo, do material que a gente está usando, den- fácil considere que é hora de mudar de novo. Se
tro do texto bíblico que a gente vai trabalhar, tra- tornou fácil bora mexer o caldo, vamos descobrir
zer essas questões são muito legais. Porque você o que precisamos fazer para mudar de novo. Por-
atrai a pessoa. Mas lançar mão dos materiais que que com Deus o verbo mudar acontece.
estão sendo colocados. Então é isso.
Outro lance que a gente pegou e que tem
funcionado super, a gente falou de trazer a juven-
tude para nos ajudar na tecnologia, certo? A como
fazermos, como mexermos com a tecnologia. Mas
o que também está dando super certo aqui para a Reva. Camila Palhão Zemuner

"É tempo de mudar. Tempo de mudar. Agora, nós precisamos ter no


coração o seguinte, que quando a nossa mudança se tornar fácil
considere que é hora de mudar de novo"

p r o g r a m a d e at u a l i z a ç ã o e m e d u c a ç ã o c r i s tã | 68
PALESTRANTES
Profa. Simony dos Anjos
1 Pedágoga – Doutoranda pela USP – Professora na Escola Dominical

Rev. Silas Oliveira


2 Mestre em Educação – Ministro da Educação da IPIB – Professor da FATIPI

Rev. Rogrigo Gasque


3 Pedagogo e Pastor da 1ª IPI de Presidente Prudente – Membro da SEC
(Secretaria de Educação Cristã da IPIB – Responsável pela Educação Cristã na
IPI de Presidente Prudente.

Rev. Prof. Dr. Júlio Paulo T. M. Zabatiero


4 Doutor em Antigo Testamento – Professor da FATIPI.

Rev. Prof. Dr. José Roberto Cristofani


5 Doutor em Antigo Testamento – Secretário de Educação Cristã da
Igreja Presbiteriana Independente do Brasil

Reva. Camila Palhão Zemuner


6 Bacharel em Teologia – Pastora da 1ª IPI de Londrina – Superintendente de
Células.

MEDIADORES
Rev. Nenrod Douglas Santos
7 Presb. David Santiago
Secretários de Educação Cristã do Presbitério Bahia

Você também pode gostar