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MAIS QUE TIOS DA SALINHA

Apostila por Caio Vinícius Correa Mater

I – Estamos apenas patinando?


Introdução

Em tudo que fazemos, há objetivo. Se não há objetivo, algo está errado. Somos criaturas criadas com propósito,
com intenção. Logo, devemos viver da mesma forma: com propósito e intenção.

Sobre o ser humano, a Declaração Doutrinária da Convenção Batista Brasileira – e essa é uma doutrina que
inferimos da Bíblia – nos diz que este foi “criado para a glorificação de Deus”1. Este é nosso objetivo, nosso
propósito: glorificar a Deus em tudo que fazemos.

E, se você está lendo isso, é porque você deseja glorificar a Deus através de um ministério com crianças. Este é
nosso objetivo aqui, aprender a glorificar a Deus através do ministério infantil ou com juniores.

Ocorre que, antes de começarmos, é necessária certa abstração. Precisamos analisar o que vem sendo feito e,
principalmente, como está sendo feito:

1) Será que estamos atingindo o alvo?

2) Será que a igreja, de forma geral, está glorificando a Deus através do ministério com crianças?

3) Ou será que estamos patinando, como um carro preso no barro, gastando tempo e energia sem sairmos do
lugar?

São perguntas relevantes e que devem ser feitas antes de mais nada. Aqui, Francis Chan nos diz que:

“Nosso maior medo não deveria ser de fracassar, mas de ter sucesso nas coisas que realmente não importam.”

De maneira semelhante, Jesus, em Mateus 8:36 (NAA) diz:

“De que adianta uma pessoa ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?”

Às vezes, nos esforçamos, nos desgastamos, movemos céus e terras, mas, por algum motivo, não chegamos mais
perto do objetivo, do principal. Podemos ter sucesso naquilo que não importa, sem chegar perto de nosso
propósito. E este é o questionamento que faremos hoje: será que estamos apenas patinando?

1
http://www.convencaobatista.com.br/siteNovo/pagina.php?MEN_ID=22
1
A Missão do Ministério com Crianças

Feita essa introdução, rebobinemos um pouco. Qual é a missão do ministério com crianças? Seguramente, deve
ser uma extensão do propósito de cada indivíduo, qual seja, glorificar a Deus. E essa missão, aplicada ao
ministério, é simples e milenar. O autor do livro que estamos estudando diz (Dan Lovaglia, p. 16):

“Há apenas uma missão integral da igreja transmitida ao longo da história. É expressa de diversas maneiras em uma
ampla variedade de métodos. Ela abrange muitas dimensões da vida espiritual no relacionamento com Deus por
meio da fé em Cristo. Mesmo assim, a essência do chamado e da visão é a mesma. Essa missão é verdade para
pessoas de todas as idades, de bebês a adultos. Aplica-se a qualquer um que humildemente se apresente diante de
Deus Pai pelo perdão dos pecados e pela vida eterna.”

Essa missão é o que Jesus disse e ordenou antes de ascender aos céus (Mateus 28:18-20 NAA):

“Jesus, aproximando-se, falou-lhes, dizendo: — Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra. Portanto, vão e
façam discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a
guardar todas as coisas que tenho ordenado a vocês. E eis que estou com vocês todos os dias até o fim dos tempos.”

A missão é ir e fazer discípulos, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a
guardar tudo aquilo que Jesus ordenou. A isso damos o nome de discipulado.

E o que seria discipulado? Várias definições podem ser dadas:

1) “Discipulado é a transformação ao longo da vida de alguém que decide confiar em Cristo para a salvação e tornar-se igual
a ele em todos os sentidos. Isso acontece individualmente no contexto da comunidade por meio do cultivo de atitudes,
convicções, práticas e relacionamentos que honram a Deus” (Dan Lovaglia, p. 17).

2) “O discipulado cristão é um relacionamento de mestre e aluno baseado no modelo de Cristo e seus discípulos, no qual o
mestre reproduz tão bem no aluno a plenitude da vida que tem em Cristo que o aluno é capaz de treinar outros para que
ensinem outros” (A Formação de um Discípulo, Keith Phillips, p. 20)

3) “[...] Ajudar outras pessoas a seguir Jesus. [...] Outra definição possível seria: discipular é exercer uma boa influência
espiritual sobre alguém, de modo deliberado, de forma que essa pessoa se torne mais parecida com Cristo” (Discipulado:
como ajudar outras pessoas a seguir Jesus, Mark Dever, p. 15)

Gosto bastante da definição de Mark Dever. Ela revela algo importante e que precisamos reconhecer: que todos
nós exercemos influência. Em seu livro, ele diz ainda:

“Todos inevitavelmente seremos influenciados por outras pessoas e assim influenciaremos outras pessoas. ‘As más
companhias corrompem os bons costumes’, diz Paulo (1Co 15.33), e ‘um pouco de fermento leveda toda a massa’
(5.6). As pessoas à sua volta o influenciarão, para o bem ou para o mal. E você, por sua vez, afetará as pessoas à sua
volta, para o bem ou para o mal. [...] A única questão que lhe resta é: como você usará sua influência?”
(Discipulado: como ajudar outras pessoas a seguir Jesus, Mark Dever, p. 29, grifei)

Prosseguindo, dessas definições podemos extrair algumas ideias. O discipulado:

1) Não é algo novo, e sim, algo estabelecido pelo ministério de Cristo;

2) É um relacionamento de mestre e aluno;

3) Acontece no contexto da comunidade, por meio de relacionamentos que honram a Deus; e

4) Pressupõe continuidade, de forma que o discipulando posteriormente se torne discipulador.

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Estamos avançando?

“Em muitos ambientes de igreja e ministério infantil, as rodas giram, mas sem movimento ou impulso para a frente.
[...] Os líderes da igreja estão divididos em prioridades, e deixamos de ter certeza do que mais importa” (Dan
Lovaglia, p. 19)”

Em vista do exposto, devemos formular a seguinte pergunta: estamos avançando? Além disso, à luz das
características de discipulado que estudamos, podemos questionar:

1) Quão novo é o que estamos fazendo? Deveria ser assim?

2) Estamos construindo relacionamentos intencionais entre mestres e alunos?

3) Os relacionamentos construídos honram a Deus?

4) Haverá continuidade da influência que exercemos?

“Ao pensar nas crianças que você serve e nos influenciadores de crianças ao seu redor, você pode honestamente
dizer que está contente com seu ministério? Ou Deus está desafiando você a fazer algo além das coisas
potencialmente boas que está vendo hoje? O que está impedindo você de liderar através dos desafios que o ministério
infantil e a igreja estão enfrentando?” (Dan Lovaglia, p. 21)

Se o que nós estivermos fazendo não estiver firmado na ideia de discipulado, na ordem de Cristo, de influenciar
crianças para que elas influenciem outras, então não avançaremos. Na verdade, estaremos patinando, investindo
tempo, disposição e até mesmo dinheiro naquilo que não leva a nada.

Conclusão

Como disse Nelson Mandela:

“A história nos julgará pela diferença que fazemos no cotidiano das crianças.” (citado por Dan Lovaglia, p. 22)

Neste primeiro encontro, pudemos repensar alguns aspectos do ministério com crianças e, principalmente,
entender sua missão. Nosso propósito é ir e fazer discípulos. É discipular. É construir relacionamentos duradouros
que futuramente redundarão em novos relacionamentos e assim por diante.

Agora,

“É hora de parar de divagar e de parar de esperar para ver se as crianças estão crescendo e se tornando discípulos
produtivos. Precisamos ter um novo olhar sobre o que estamos fazendo e alinhar o ministério às abordagens bíblicas,
renovadoras, testadas pelo tempo e ensinadas por Jesus.” (Dan Lovaglia, p. 27).

Que Deus nos abençoe.

II – Cuidando da lacuna do discipulado


Introdução

Pois bem. Até aqui, estabelecemos o objetivo do ministério com crianças: glorificar a Deus através do discipulado.
Agora, precisamos compreender que temos um “problema”: precisamos discipular e discipular bem.

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E por que isso? Porque temos um problema de evasão. As pessoas têm, cada vez mais, se afastado da igreja e,
consequentemente, da fé.
E, para lidar com isso, veremos quatro modelos ministeriais, bem como alguns problemas comuns a serem
enfrentados.

Modelos Ministeriais

“Em 2006, o educador Michael Antony comparou quatro abordagens modernas para trabalhar com crianças em seu
livro Four Perspectives to Children’s Spiritual Formation [Quatro perspectivas para a formação espiritual das
crianças, tradução livre]” (Dan Lovaglia, p. 33)

Essas quatro abordagens parecem resumir os tipos de ministérios existentes, veja (Dan Lovaglia, p. 34):

1) Cinema e TV:

“Provem e vejam que o Senhor é bom; bem-aventurado é quem nele se refugia”. (Salmos 34:8 NAA)

Modelos de engajamento ativo orientados pela mídia influenciam as experiências sensoriais para mover o
coração e as mãos em direção à participação na história de Deus.

2) Reflexão e resposta:

“Jesus estava orando em certo lugar e, quando terminou, um dos seus discípulos lhe pediu: — Senhor, ensine-nos a orar
como também João ensinou os discípulos dele.” (Lucas 11:1 NAA)

Modelos contemplativo-reflexivos enfatizam a formação do caráter, além de simplesmente transmitir


informações bíblicas.

3) Peça teatral e descoberta:

“Sejam praticantes da palavra e não somente ouvintes, enganando a vocês mesmos.” (Tiago 1:22 NAA)

Modelos prático-participativos oferecem oportunidades para a fé em ação ser encontrada nas Escrituras e
vivenciada.

4) Mente e memória:

“Procure apresentar-se a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da
verdade.” (2 Timóteo 2:15 NAA)

Modelos analítico-instrutivos acreditam que o conhecimento bíblico é a base para o desenvolvimento de


crenças e ações piedosas.

Ante o exposto, há algum modelo ministerial ideal? Não necessariamente. Conforme explica o autor do nosso
livro:

“Esses quatro modelos e os métodos que fluem deles não concorrem um com o outro. Os líderes de ministério infantil
geralmente escolhem modelos com base em antecedentes ministeriais, filosofia de ministério, talentos, personalidade
ou cenário. Às vezes, esses modelos existem apenas porque foram herdados de um líder de ministério infantil
anterior. Embora uma combinação equilibrada dos quatro modelos pareça ideal, é improvável encontrá-la na
prática.” (Dan Lovaglia, p. 33)

O importante é que o modelo seja escolhido de forma consciente, levando em conta o objetivo do ministério
com crianças. Devem ser considerados, ainda, os antecedentes ministeriais, a filosofia de ministério, os talentos,
a personalidade e o cenário existente.

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Potenciais Problemas

“O que é comum a todos os recursos de discipulados direcionados a crianças e famílias é o desejo sincero de conter
a maré dos dados perturbadores. Mas a fonte do problema é tão incerta quanto as soluções propostas.” (Dan Lovaglia,
p. 35)

É claro que a prática ministerial é rodeada de problemas. Alguns deles, que abordaremos agora, são as mudanças
culturais, os pais medrosos, o conteúdo superficial e a liderança descuidada da igreja.

1) Mudanças culturais:

“As crianças estão se afastando da igreja e/ou do fundamento da fé devido a mudanças na cultura mais ampla? Qual é o
papel da tecnologia e da mídia? Existe uma correlação entre o nível de disfunção no lar e a intensidade no compromisso
de uma criança com Cristo? Que impacto a vida em ambientes rurais, suburbanos ou urbanos tem na fé das crianças e
famílias?” (Dan Lovaglia, p. 35)

2) Pais medrosos:
“O que aconteceu com os bons velhos tempos, quando toda família tinha uma Bíblia em casa e realmente a lia (ou assim
pensávamos)? Como as crianças podem se comprometer a caminhar com Cristo se praticam esportes todas as noites da
semana? Por que os pais são tão preguiçosos quando se trata de ajudar na igreja?” (Dan Lovaglia, p. 36)

3) Conteúdo superficial:
“Por que tanta coisa lá fora é muito complicada de seguir? Ou muito simplista? Por que fazemos tanto trabalho de
preparação toda semana, especialmente quando temos apenas meia dúzia de crianças aparecendo, e elas estão entediadas
com o conteúdo?” (Dan Lovaglia, p. 36)

4) Liderança descuidada da igreja:


“Por que a liderança da igreja trata o ministério infantil como uma creche de domingo? Que possibilidade existe de termos
um ministério sólido de discipulado sem um orçamento? [...] Por que os meus professores preparam as aulas no
estacionamento a caminho da igreja toda semana?” (Dan Lovaglia, p. 37)

São todas perguntas difíceis, mas que precisamos pensar e meditar se queremos ter um ministério que efetivamente
honre a Cristo.

Conclusão

Neste encontro, pudemos perceber que há um problema de evasão, crianças e adultos que se afastam da igreja.
Vimos ainda, os quatro modelos ministeriais que podem nos ajudar a enfrentar esse problema, bem como outros
problemas possíveis.
“Espero que, neste capítulo, você perceba que a lacuna no discipulado – nossa falha em fazer discípulos permanentes
de Jesus – é um problema complexo. Não há soluções simples ou respostas fáceis. [...] Algo está faltando. [...] Você
será ousado o suficiente, humilde o suficiente para levantar essas questões? Você abraçará, apoiará e defenderá os
princípios e as práticas que levarão ao discipulado para a vida toda?” (Dan Lovaglia, p. 47)

Que Deus nos dê coragem.

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III – Pontos de dor no ministério infantil atual
Introdução

“No pain, no gain”, dizem as camisetas de academia. “Sem dor, sem ganho”. E é verdade, para que haja
crescimento muscular, certa dose de dor é necessária. E isso também se aplica à vida. O crescimento, muitas vezes,
não vem dissociado de dor e de sofrimento.
A vida ministerial também não é diferente, sendo comparada, pelo autor do livro que estudamos, à uma corrida:
“Correr para ficar em forma e administrar um ministério têm mais semelhanças do que você imagina. Os pontos
problemáticos são uma parte natural do discipulado e da liderança. E a maneira de lidarmos com as inevitáveis
pressões afetará as crianças, os pais e os líderes a quem servimos, para melhor ou para pior.” (Dan Lovaglia, p. 51)

Na verdade, essa é uma metáfora bem comum na Bíblia, que compara a vida de fé a uma corrida. Após citar os
vários heróis da fé, Hebreus 12:1-2 (NAA) diz:
“Portanto, também nós, visto que temos a rodear-nos tão grande nuvem de testemunhas, livremo-nos de todo peso e
do pecado que tão firmemente se apega a nós e corramos com perseverança a carreira que nos está proposta, olhando
firmemente para o Autor e Consumador da fé, Jesus, o qual, em troca da alegria que lhe estava proposta, suportou a
cruz, sem se importar com a vergonha, e agora está sentado à direita do trono de Deus.”

De maneira semelhante, Paulo diz, em Atos 20:24 (NVI):


“Todavia, não me importo, nem considero a minha vida de valor algum para mim mesmo, se tão somente puder
terminar a corrida e completar o ministério que o Senhor Jesus me confiou, de testemunhar do evangelho da graça
de Deus.”

Assim, temos que a vida de discipulado é como uma corrida que nos é proposta, e, sendo uma corrida, não vem
desacompanhada de dores:
“Todo atleta encontra tensão física e mental, e um nível saudável de estresse é bom para nós, na verdade. Ele nos
leva além dos nossos limites, para que possamos crescer e nos desenvolver. No entanto, quando o estresse é
inesperado ou excessivamente grave, problemas potencialmente debilitantes criam raízes.” (Dan Lovaglia, p. 57)

Por causa disso, precisamos estar atentos aos principais pontos de dores, a fim de corrermos com qualidade em
direção ao alvo que nos é proposto. Para isso, hoje estudaremos alguns pontos de dores comuns.

Líderes Fadigados

Um dos principais problemas a serem enfrentados é a fadiga. Correr cansa, e isso é natural. Todavia, é necessário
prestar atenção se estamos apenas nos cansando, de forma saudável, ou se estamos nos exaurindo, dando tudo que
temos e somos, sem sermos adequadamente recarregados.
O ministério com crianças precisa de líderes, é claro. Mas precisa de líderes saudáveis, que possam transmitir sua
saúde àqueles que discipulam. Para cuidar dos outros, é necessário cuidar de si. Um líder fadigado, exaurido,
desmotivado, é prejudicial ao ministério.
“É sua a responsabilidade de cuidar de você mesmo no longo prazo. Isso terá um impacto nas pessoas ao seu redor.
Encontre alguém que possa ajudá-lo a revisar objetivamente os seus compromissos e a abordagem do ministério em
seu próprio benefício e em benefício daqueles que lidera.” (Dan Lovaglia, p. 60)

Aqui, algumas perguntas são relevantes:


1) É sustentável o seu ritmo atual?
2) Como os influenciadores de crianças podem se manter e evitar o esgotamento?
3) Qual o seu nível de fadiga e dos formadores de discípulos ao seu redor?
Lembre-se:
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“Rápido é divertido, frenético é caro. Se sua agenda estiver completamente cheia, é difícil caminhar bem com Deus
e com outras pessoas.” (Dan Lovaglia, p. 60)

Orçamento Escasso

Talvez não seja o caso, mas muitos ministérios enfrentam problemas financeiros. Por óbvio, os recursos destinados
ao ministério com criança não são infinitos, e precisam ser administrados com sabedoria e inteligência.
Podemos até não ter dinheiro suficiente, mas isso não é, nem de longe, o mais importante.
“Sim, haverá crianças que, esperando algo épico, ficam desanimadas com a igreja por causa de artesanato bobo e
lições bíblicas pobremente apresentadas. Por outro lado, a presença de adultos e adolescentes preocupados que
investem tempo, contato visual, ouvido atento e amor genuíno levará a conexões relacionais que podem ter uma
recompensa eterna. Não se esqueça: as crianças são atraídas a Cristo por Cristo. Isso é mais poderoso do que
qualquer coisa que você possa comprar.” (Dan Lovaglia, p. 63, negritei)

Por fim, duas perguntas para reflexão:


1) Quanto dinheiro faz um ministério bem-sucedido?
2) Quais fatores além de dinheiro garantem que as crianças tenham ótimas experiências com Deus?

Programas Complexos

“Uma das melhores lições que aprendi através do ministério infantil ao longo dos anos é que as coisas funcionam
melhor quando você as mantém simples. Programas excessivamente complexos drenam energia do ministério. Cada
camada de complexidade traz um potencial adicional para distrair a atenção daqueles que servem longe das pessoas
às quais são chamados a alcançar, discipular e servir. Com o tempo, à medida que as estruturas ministeriais se tornam
cada vez mais complexas, mais e mais a sua ‘energia ministerial’ é redirecionada para manter o programa em exe-
cução, não para a vida das crianças.” (Dan Lovaglia, p. 66)

Aqui, cabe uma observação: será que estamos apenas mantendo um programa em execução, apenas patinando, ou
estamos fazendo a diferença?
Muito é exigido do ministério com crianças. Esperam de nós várias apresentações e programações especiais. Dia
das Mães, dos Pais, da Família, do Amigo... Mas nada disso deve ser o cerne. O programa é secundário, discipular
crianças, honrando e glorificando a Deus, é o principal.
“Simplicidade é o objetivo. O propósito do ministério infantil nunca é o próprio programa – é glorificar a Deus e
servir às crianças e suas famílias. Programas complexos não tornam o ministério significativo; eles criam loucura no
ministério.” (Dan Lovaglia, p. 66-67)

Para refletir:
1) O que, no seu ministério, crianças, pais e líderes consideram “bom ter” e o que consideram que é “preciso ter”?
2) Quais aspectos da sua programação poderiam ser removidos sem diminuir a eficácia do engajamento ou do
discipulado?

Conteúdo Superficial

“O fundador do Young Life, Jim Rayburn, disse certa vez: ‘É um pecado entediar uma criança com o evangelho de
Jesus Cristo.’”. (Dan Lovaglia, p. 69)

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Infelizmente, isso é o que muitas vezes fazemos. Insistimos em contar historinhas, Adão e Eva, a arca de Noé,
Davi e Golias, sem nos aprofundarmos nas implicações destas histórias. Falamos de Adão e Eva sem falarmos
sobre a doutrina da Queda, sobre Noé sem falar sobre o juízo de Deus, sobre Davi sem falar do seu descendente.
E assim seguimos, contando historinhas superficiais, sem boa teologia. E isso é um erro. Segundo Charles
Spurgeon (p. 9):
“As crianças necessitam principalmente aprender a doutrina, o preceito e a vida do evangelho; precisam que a
verdade divina lhes seja ensinada com clareza e convicção.”

Não negligencie as crianças sob seus cuidados. Elas são inteligentes e capazes de entender grande parte da palavra
de Deus. Como bem disse Spurgeon (p. 10):
“Por que as doutrinas mais altas lhes devem ser negadas, as doutrinas da graça? [...] Se há alguma doutrina difícil
demais para uma criança, é antes por culpa do conceito que o mestre tira dela, do que por falta de capacidade do
pequeno para recebê-la, contanto que a criança esteja realmente convertida a Deus.

Compete a nós tornar a doutrina simples; essa será a parte principal de nosso trabalho. Ensinar aos pequenos a
verdade inteira e nada senão a verdade; pois a instrução é o grande desejo da natureza da criança.”

Assim sendo:
“Cada sermão, cada lição deverá ser um sermão que alimente, e uma lição que alimente. [...] Deve haver doutrina,
doutrina sólida, sadia, evangélica para ser alimento de verdade.” (Charles Spurgeon, p. 30-31)

Para terminarmos esta seção, seguem duas perguntas para reflexão:


1) Qual é a prevalência de conteúdo bíblico no seu currículo para crianças?
2) O que você faz para equipar as crianças a lutarem com fé, em vez de alimentá-las com fragmentos da história
de Deus?

Conclusão

Aprendemos que nosso ministério e nossa vida de fé são como corridas. Assim sendo, há obstáculos, dores e
sofrimento a serem enfrentados. Para bem lidarmos com eles, estudamos quatro pontos de dor do ministério com
crianças, quais sejam, líderes fadigados, orçamento escasso, programas complexos e conteúdo superficial.
Depois disso:
“Não podemos mais continuar executando os mesmos programas que nos dão os mesmos resultados enquanto as
crianças crescem entediadas e desistem. Com intencionalidade e persistência, devemos nos elevar acima do status
quo para trazer nova vida ao ministério infantil. O objetivo é assumir e viver a missão que Jesus nos deu. Queremos
envolver as crianças na palavra de Deus junto com o povo de Deus para fazer discípulos de Jesus.” (Dan Lovaglia,
p. 76)

Que Deus nos capacite.

IV – A perturbadora abordagem de Jesus ao discipulado


Introdução

Jesus tinha um jeito diferente de fazer as coisas. Ele frequentemente deixava as pessoas perplexas. Em Marcos
9:33-37 (NAA), lemos uma das situações em que Jesus causou perplexidade:
“Chegaram, então, a Cafarnaum. Estando em casa, Jesus perguntou aos discípulos: — Sobre o que vocês estavam
discutindo no caminho? Mas eles se calaram, porque, no caminho, tinham discutido entre si sobre quem era o maior.
E Jesus, assentando-se, chamou os doze e lhes disse: — Se alguém quer ser o primeiro, será o último e servo de
todos. Trazendo uma criança, colocou-a no meio deles e, tomando-a nos braços, disse-lhes: — Quem receber uma

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criança, tal como esta, em meu nome, recebe a mim; e quem receber a mim, não é a mim que recebe, mas aquele
que me enviou.”

Nessa passagem,
“[...] os discípulos estão discutindo entre si, disputando uma posição no Reino, e pedem a Jesus que intervenha e
desempate o jogo. Em vez de escolher favoritos, Jesus senta-se com os discípulos num momento de ensino. Ele
explica que destaque e privilégio na família de Deus não funcionam da maneira que eles estão pensando. Em
vez disso, faz algo inesperado. Jesus chama uma criança e explica que essa criança – uma pessoa sem direitos,
autoridade ou poder naquela cultura – é a primeira a entrar no Reino de Deus. Ele está os incentivando a não valorizar
o que o mundo valoriza, a buscar humildade em vez de hierarquia.” (Dan Lovaglia, p. 82-83, sem grifos no
original)

Sendo líderes e cuidadores de crianças, somos frequentemente tentados ao holofote, à hierarquia, a mandar. Às
vezes queremos uma posição de autoridade e superioridade em relação àqueles que ensinamos. Todavia, isso não
é correto.
Jesus nos chama a uma abordagem de discipulado que é perturbadora, que desafia os padrões mundanos. Uma
abordagem em que os últimos são os primeiros e os que servem, como escravos, serão depois glorificados por
Deus.
Além disso,
“Há um ponto adicional que aprendemos com o exemplo de Jesus. É que cuidar de crianças, amar crianças e ministrar
a crianças é algo muito bom. É precioso para Deus. A ilustração de Jesus denuncia como posição e importância são
definidos no mundo. Isso nos lembra que quem está sentado no banco dianteiro, na frente e no comando, recebendo
toda a atenção, não é o que importa.” (Dan Lovaglia, p. 83)

O que importa é glorificar a Deus, discipulando com humildade, seguindo o exemplo do mestre.
Para isso, hoje exploraremos os requisitos para se tornar um discipulador.

Requisitos para Discipular

O primeiro e mais importante requisito para se tornar um discipulador é ser, você mesmo, um discípulo. A. W.
Tozer disse: “somente um discípulo pode fazer um discípulo” (cit. por Dan Lovaglia, p. 85).
Parece óbvio, mas muitas vezes não é. Muitas vezes focamos tanto em discipular, ensinar e liderar que nos esque-
cemos de ser discípulo.
“Olhe para Pedro. Ou Mateus. Ou a mulher samaritana junto ao poço. Pense no centurião romano. Maria. Ou o
apóstolo Paulo. Percorra a lista de pessoas no Novo Testamento que encontraram Cristo. Jesus rompeu algo na vida
deles, algo que tinha que acontecer antes que eles pudessem ministrar aos outros. [...]

Para nos tornarmos formadores de discípulos relacionais, precisamos primeiro ter um encontro face a face com Deus
pela fé em Cristo.” (Dan Lovaglia, p. 85, sem grifos no original)

Você precisa ter sido impactado por Cristo para que Ele o use para impactar outras pessoas. Para tanto, você
precisa ter sido:

1) Abalado pelo chamado convincente de Jesus: é necessário que nós tenhamos sido chamados por Cristo,
atraídos por seu grande amor, e convidados a uma vida diferente.

“[...] Jesus regularmente convidava as pessoas a dar uma reviravolta na vida em resposta a Deus. E, embora nem
todos sejamos chamados a mudar para outro país ou vender tudo o que temos para viver com os pobres, devemos
esperar que seguir a Jesus seja caro. Isso exigirá que mudemos. Uma vez que um indivíduo se afasta do pecado, está
em uma jornada de arrependimento. Isso significa que o curso dele na vida foi interrompido e agora está seguindo
uma nova direção guiada pelo Espírito Santo.” (Dan Lovaglia, p. 88).

2) Abalado pelo exemplo desafiador de Jesus: em segundo lugar, devemos nos sentir desafiados pelo exemplo
de Jesus. Na última ceia, o Mestre disse:

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“Ora, se eu, sendo Senhor e Mestre, lavei os pés de vocês, também vocês devem lavar os pés uns dos outros. Porque
eu lhes dei o exemplo, para que, como eu fiz, vocês façam também.” (João 13:14-15 NAA)

Nesse texto,

“O Mestre e líder que estava com eles havia três anos, aquele que eles amavam e respeitavam, se rebaixava para
servir seus seguidores. E Ele faz isso assumindo o mais humilde dos trabalhos. [...] Ele se humilhou diante dos
discípulos e assumiu o papel do servo esquecido do período noturno. Ao fazer isso, Jesus demonstrou que o amor
não é uma realização egoísta; é um presente que serve e sacrifica. Ele expressou esse amor e depois desafiou seus
seguidores a fazerem da mesma forma.” (Dan Lovaglia, p. 89-90)

Precisamos seguir o exemplo de nosso Senhor, o Servo Sofredor.

3) Abalado pela presença consistente de Jesus: quando Jesus ascendeu aos céus, Ele disse: “e eis que estou
com vocês todos os dias até o fim dos tempos” (Mateus 28:20, “b”, NAA).

Jesus está sempre conosco. Todavia, nem sempre nós estamos com Jesus. Na vida ordinária, podemos perder
a chance de estarmos conectados com Jesus, através da leitura da palavra e da oração. Portanto, é necessário
que o discipulador se esforce, a fim de estar constantemente abalado pela presença de Cristo.

4) Abalado pelo claro convite de Jesus: “Tome sua cruz e siga-me”, “vinde a mim todos os que estão cansados”
... Os convites de Jesus são incrivelmente simples e claros.

“Em sua abordagem ‘siga-me’ de discipulado, Jesus estava comprometido com a criatividade e a simplicidade pelo
bem da eternidade. Isso era verdade para o estilo de vida, os ensinamentos e os relacionamentos dele. Cristo cortou
as complexidades dos mundos interno e externo das pessoas, atraindo-as e redirecionando sua trajetória.” (Dan
Lovaglia, p. 92)

Não complique aquilo que deveria ser simples. Viva uma vida simples, na presença de Jesus.

Conclusão

Resumindo, para discipular devemos ter sido abalados (i) pelo chamado convincente de Jesus, (ii) pelo exemplo
desafiador dEle, (iii) por sua presença consistente e (iv) por seu claro convite. E tudo isso é importante:
“O chamado, o exemplo, a presença e o convite de Jesus transformam os corações humanos diariamente. Antes de
fazer a transição para um modelo de ministério, faça uma análise introspectiva. O que Deus tem a dizer a você? Em
que área você mais precisa crescer? O que o está segurando? Abra-se para ser abalado de novas maneiras como líder
de ministério infantil relacional, mas primeiro como discípulo.” (Dan Lovaglia, p. 94, sem grifos no original)

Que Deus nos ajude.

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