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Faculdade CAL de Artes Cênicas

Bacharelado em Teatro

TRABALHO
Corpo e Movimento I:
Conscientização Corporal
Prof. Paulo Trajano

Bárbara Mazzoleni Candido

Babi Mazzo | BT37

Rio de Janeiro, abril de 2021


Seriam todos os seres humanos expressivos? Ou somente aqueles que escolheram traçar seus
caminhos profissionais e pessoais através da arte? Após ler o fragmento do texto do livro “O Papel do
Corpo no Corpo do Ator”, escrito por Sônia Machado de Azevedo, pude perceber que todos somos
seres expressivos. O que diferencia o ator daquele que não opta pela arte dramática
profissionalmente, é aquisição de consciência do mesmo. O corpo para o ator é mais um, senão o
principal, de seus instrumentos de trabalho, a via de comunicação para com o espectador.
Entretanto, o texto elucida que jamais devemos trabalhar o corpo de maneira isolada, sem pensar em
sua totalidade de ações, pensamentos e sensações, afinal o corpo somos nós, em comunhão. É
importante destacar a não separação do corpo e da mente, já que estes, apartados, seriam nulos.
A consciência artística citada é comparada à de uma criança, que se relaciona com a
surpresa, com o novo, com o espontâneo. Quanto mais trabalhamos nossos corpos, identificamos em
suas memórias, afetos. A memória afetiva presente em cada músculo, em cada impulso ou cada
inibição nos revela algo novo, e que pode posteriormente, ser usado em cena, por isso é tão
significativo que criemos consciência de maneira meticulosa. Só a partir da vivência corporal, se
chega na verdade da personagem.
A primeira etapa necessária é reconhecer suas limitações físicas e se perceber no
movimento. Por vezes, esse processo é de difícil identificação, principalmente por não estarmos
acostumados a nos atentar aos detalhes, que à primeira vista, podem parecer insignificantes, mas
fazem toda a diferença na lapidação de uma criação, trazendo organicidade. A postura, por
exemplo, revela muito sobre nós, e nossas tensões ao longo dos anos. Por vezes, nossos pés não
sabem pisar corretamente, observando cada fatia do fluxo. Entretanto, nada disso se corrige da noite
para o dia, é necessária uma reeducação corporal, e esta não pode ser feita, se antes não houver
uma análise corporal, para então assim, a retirada de antigos hábitos ruins – que podem ter sido
causados por marcas de amor, desamor, medo e repressão - e que impedem a boa mobilidade.
É de grande relevância, a noção de movimento interior, pois sem ele, o movimento exterior,
fica vazio e sem vida. De nada adianta, estarmos nos mexendo, sem que exista alma. Temos de ter
também, um corpo disponível, que consiga receber estímulos (tanto externos quanto externos) e
reagir a eles sem desorganizar o foco inicial, canalizando as energias que entram e saem. Todo esse
processo é, sem dúvidas, bastante solitário. Não há como se satisfazer em poucas horas coletivas
semanais, é preciso do esforço individual, que gera enfim, a disponibilidade corpórea, que dispõe da
postura correta, da flexibilidade e sem tensões excessivas. Sinteticamente, a quebra de hábitos e a
ampliação do sensorialidade são fundamentais.
Posterior a isso, dá-se início a pesquisa de movimentos não cotidianos, que exploram o não
óbvio e a ampliação, através do improviso. A repetição também é uma ferramenta de enorme
importância, pois ela nos permite que o corpo vá entrando em contato com o mundo interior,
deixando as moções mais orgânicas. Pesquisar as possibilidades através das variações de tempo, de
energia e de emoções pode ser um bom caminho. É crucial ressaltar que cada ator, com o tempo,
vai descobrindo seu método pessoal de pesquisa, juntando todas as técnicas com que ele teve
contato e montando seu próprio repertório.
Há um trecho do texto que muito me chamou atenção: “Todo movimento verdadeiro, ou
seja, resultante de impulso enformado, será belo e adequado, quando nele se puder ver, para muito
além dos limites da carne, a vida que a anima, que lhe dá razão de ser.”, pois potencializa a ideia de
reunião do plano físico e das emoções.
A imaginação nos permite adentrar no espírito de jogo e na simbologia – que foi nos retirada
quando partimos da fase infantil para a adulta, sendo reprimidos e tendo nossos movimentos
limitados. O ator é desafiado a recuperar o que foi perdido, voltando ao corpo-criança e fugindo do
pensamento lógico.
O desprendimento da expressividade, dos clichês, e aliança com a neutralidade ajuda, para
que a partir daí, inicie-se uma metamorfose – a criação da personagem. A criação de frases, o
compor e o descompor, as acentuações, as pausas, o fluxo, nos levam a vivência da partitura. A
dramaticidade, a narrativa e a transcendência são pontos imprescindíveis para o domínio corporal e
psicofísico do ator. Nada disso tem relevância, se o artista não está presente, e a presença se dá por
meio da imagem, da energia e do ritmo.
O papel do corpo no corpo do ator nada mais é que a autodisciplina, a concentração, a
consciência, a segurança e a disponibilidade para a experimentação. Só se tornará um bom ator,
aquele que se desafiar e aprender a dirigir-se como criador, cuidando dos detalhes, da sua atenção
e também, da sua saúde. Sem corpo, o ator não é nada.

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