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Aristóteles

Aristóteles e a Ciência (Parte II)

A ASTRONOMIA: O COSMO HIERARQUIZADO

A observação do movimento dos astros é muito antiga. Povos


como os babilônios já manifestavam esse interesse dois ou três mil
anos antes de Cristo. Com frequência esses conhecimentos eram
usados na astrologia para prever o destino, fundamentados na
relação entre os astros e o comportamento humano. São os gregos
que, pela primeira vez, explicam racionalmente o movimento dos
astros e procuram entender a natureza do cosmo.
Apesar da ênfase grega na razão, persistiu ainda certa mística
nessas explicações, porque a cosmologia grega se sustenta na
concepção estática do mundo, que associa a perfeição ao repouso.
Enquanto na física prevalece a noção de movimento como
imperfeição, o mesmo não ocorre com os corpos celestes, que são
perfeitos.
Além disso, os gregos privilegiavam o círculo como forma
perfeita, diferente do movimento retilíneo dos corpos terrestres. O
movimento circular não tem início nem fim, porque volta sobre si
mesmo e continua sempre, é movimento sem mudança. Acrescente-
se a isso a concepção do Universo finito, limitado pela esfera do Céu,
fora do qual não há lugar, nem vácuo, nem tempo.
Contudo, de onde vem o movimento inicial? Só pode ser de
Deus, o Primeiro Motor Imóvel e Ato Puro e que determina o
movimento da última esfera, a esfera da estrelas fixas, transmitido
por atrito às esferas contíguas, até a Lua, na última esfera interna.
No centro acha-se a Terra, também esférica, mas imóvel.

O MODELO GEOCÊNTRICO E A HIERARQUIZAÇÃO DO COSMO

Na astronomia da Antiguidade e da Idade Média, prevaleceu o


modelo geocêntrico, da Terra imóvel no centro do Universo. Essa
tradição começou com Eudoxo (séc. IV a.C.), um dos discípulos de
Platão. Foi confirmada por Aristóteles emais tarde por Cláudio
Ptolomeu (séc. II).
Além do geocentrismo, outra característica importante na
cosmologia aristotélica é a hierarquização do cosmo: o Céu tem uma
natureza superior à da Terra. Sob essa perspectiva, o Universo está
dividido em:
• Mundo Supralunar – Constituído pelos Céus, que
incluem, na ordem, a Lua, Mercúrio, Vênus, Sol, Marte, Júpiter,
Saturno e, finalmente, a esfera das estrelas fixas: esses corpos são
formados por uma substância desconhecida por nós, o éter cristalino,
inalterável, imperecível, transparente e imponderável (que não se
confunde com a substância química hoje conhecida); o éter é
também chamado de quinta-essência, em contraposição aos quatro
elementos; os corpos celestes são incorruptíveis, perfeitos, não
sujeitos a transformações; o movimento das esferas é circular, o
movimento perfeito;
• Mundo sublunar: corresponde à região da Terra que,
embora imóvel, é o local dos corpos em constante mudança, portanto
perecíveis, corruptíveis, sujeitos a movimentos imperfeitos, como o
retilíneo para baixo e para cima; os elementos constitutivos são os
quatro elementos (terra, água, ar e fogo).
A TEORIA DAS QUATRO CAUSAS

De acordo com Aristóteles: “Tudo o que se move é


necessariamente movido por outro”. O Devir consiste na tendência
que todo ser tem de realizar a forma que lhe é própria.
Há quatro sentidos para causa: material, formal, eficiente e
final.
Por exemplo, numa estátua:

 A causa material é aquilo de que a coisa é feita (o mármore);


 A causa eficiente é aquela que dá impulso ao movimento (o
escultor que a modela);
 A causa formal é aquilo que a coisa tende a ser (a forma que a
estátua adquire);
 A causa final é aquilo para o qual a coisa é feita (a finalidade
de fazer a estátua: a beleza, a glória, a devoção religiosa etc.).

Essas são as causas que explicam o movimento, que para Aristóteles


é eterno.

DEUS: PRIMEIRO MOTOR IMÓVEL

Toda a estrutura teórica da filosofia aristotélica desemboca no


divino, numa teologia. A descrição das relações entre as coisas leva
ao reconhecimento da existência de um ser superior e necessário, ou
seja, Deus. Porque, as coisas são contingentes – pois não têm em si
mesmas a razão de sua existência –, é preciso concluir que são
produzidas por causas exteriores a elas. Ou seja, todo ser
contingente, e assim por diante. Para não ir ao infinito na sequência
de causas, é preciso admitir uma primeira causa, por sua vez
incausada, um ser necessário (e não contingente).
Esse Primeiro Motor Imóvel (por não ser movido por nenhum
outro) é também um puro ato (sem nenhuma potência). Segundo
Aristóteles, Deus é Ato Puro, Ser Necessário, Causa Primeira de todo
existente. No entanto, com Deus pode mover, sendo imóvel? Porque
Deus não é o primeiro motor como causa eficiente, mas sim como
causa final. Deus move por atração, ele tudo atrai, como “perfeição”
que é.

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