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(IHS) Teologia As cinco vias de São Tomás ─ p. 1 de 6

AS CINCO VIAS DE SÃO TOMÁS


(Provas da existência de Deus)

Fonte: Pe. Antonio Royo Marín, OP. Dios y su obra. Madrid: BAC, 1963, pp. 11 a
20 (Imprimatur: + Fr. Francisco, OP, Bispo de Salamanca).

Primeira via: o movimento

A primeira via para demonstrar a existência de Deus pode formular-se do seguinte


modo:
O movimento do universo exige um Motor Primeiro imóvel, que é precisamente
Deus.
São Tomás de Aquino (Suma Teológica I 2,3):
AÉ inegável, e consta por testemunho dos sentidos, que no mundo há coisas que se
movem. Pois bem: tudo o que se move é movido por outro, já que nada se move a não ser
enquanto está em potência com relação aquilo para o que se move. Por outro lado, mover
requer estar em ato, já que mover não é senão fazer passar algo da potência ao ato, e isto
não o pode fazer senão o que já está em ato, do mesmo modo que o quente em ato C o
fogo C faz com que um madeiro, que está quente só em potência, passe a estar quente em
ato.
Ora bem: não é possível que uma mesma coisa esteja, ao mesmo tempo, em ato e
em potência em relação a algo; só em relação a diversas coisas; e assim, o que é quente
em ato não pode estar quente em potência para esse mesmo grau de calor, mas só para
outro grau de calor mais alto, ou seja, que em potência está ao mesmo tempo frio. É, pois
impossível que uma mesma coisa seja ao mesmo tempo e do mesmo modo motor e
móvel, ou que se mova a si mesma. É preciso concluir, por conseguinte, que tudo o que se
move é movido por outro. Mas se este outro é, por sua vez, movido por um terceiro, este
terceiro necessitará outro que o mova a ele, e este a outro, e assim sucessivamente. Mas
não se pode proceder indefinidamente nesta série de motores, porque então não haveria
nenhum motor primeiro e, por conseguinte, não haveria motor nenhum, pois os motores
intermediários não movem senão em virtude do movimento que recebem do primeiro, da
mesma maneira que um bastão não se move se a mão não o impulsiona. É necessário, por
conseguinte, chegar a um MOTOR PRIMEIRO que não seja movido por ninguém, e este
é o que todos conhecemos como Deus@. (...)
No mundo que nos rodeia há uma infinitude de coisas que se movem. É um fato
que não precisa demonstração: basta abrir os olhos para contemplar o movimento por
todos os lados.
Ora bem: pondo de lado o movimento dos seres vivos, que, precisamente em
virtude da própria vida, têm um movimento imanente que lhes permite crescer ou ir de
um lado para outro sem outra influência aparente a não ser a de sua própria natureza ou a
de sua própria vontade, é um fato claro e indiscutível que os seres inanimados (ou seja,
todos os que pertencem ao reino mineral) não podem mover-se a si mesmos, e pelo
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contrário necessitam que alguém os mova. Se ninguém move uma pedra, esta
permanecerá quieta e inerte por toda a eternidade, já que ela não pode mover-se a si
mesma, já que carece de vida e, por isso mesmo, está desprovida de todo o movimento
imanente.
Apliquemos então este princípio tão claro e evidente ao mundo sideral e
perguntemo-nos quem pôs e põe em movimento essa máquina colossal do universo
estelar, que não tem em si mesma a razão do seu próprio movimento, já que se trata de
seres inanimados pertencentes ao reino mineral; e por mais que queiramos multiplicar os
motores intermediários, não teremos remédio senão chegar a um Motor Primeiro imóvel
incomparavelmente mais potente do que o próprio universo, já que o domina com poder
soberano e o governa com infinita sabedoria. Verdadeiramente, para demonstrar a
existência de Deus basta contemplar o espetáculo maravilhoso de uma noite estrelada,
sabendo que esses pontinhos luminosos espalhados pela imensidade dos espaços como pó
de brilhantes são sóis gigantescos que se movem a velocidades fantásticas, apesar da sua
aparente imobilidade. (...)

Hillaire (La Religión demostrada, 100 ed. -Barcelona, 1955, pp. 6-7), diz:
AÉ um princípio admitido pelas ciências físicas e mecâ nicas que a matéria não
pode mover-se por si mesma: uma está tua não pode abandonar o seu pedestal; uma
máquina não pode mover-se sem uma força motriz; um corpo em repouso não pode por si
mesmo colocar-se em movimento. Esse é o chamado princípio da inércia. Logo é
necessário um motor para produzir o movimento.
Pois bem: a terra, o sol, a lua, as estrelas, percorrem órbitas imensas sem jamais se
chocarem umas contra as outras. A terra é um globo colossal de quarenta mil quilômetros
de diâmetro, que realiza, segundo afirmam os astrônomos, uma rotação completa sobre si
mesma no espaço de um dia, movendo- se (os pontos situados sobre o equador) com a
velocidade de vinte e oito quilômetros por minuto. Num ano dá uma volta completa ao
redor do sol, e a velocidade com que anda é de uns trinta quilômetros por segundo. E
sobre a terra, os ventos, os rios, as marés, a germinação das plantas, tudo proclama a
existência do movimento.
Todo o movimento supõe um motor; mas como não se pode supor uma série
infinita de motores que comuniquem o movimento uns aos outros, posto que um número
infinito é tão impossível como um bastão sem extremidades, é preciso chegar
necessariamente a um Ser primeiro que comunique o movimento sem tê-lo recebido; é
preciso chegar a um Motor primeiro imóvel. Ora bem, este primeiro Ser, esta Causa
primeira do movimento, é Deus, quem recebe com razão o nome de MOTOR PRIMEIRO
do Universo.
Admiramos o gênio de Newton, que descobriu as leis do movimento dos astros;
mas que inteligência não foi necessária para estabelecê-las, e que poder para lançar no
espaço e mover com tanta velocidade e regularidade estes inúmeros mundos que
constituem o universo?...@

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Segunda via: a causalidade eficiente
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Este segundo procedimento para demonstrar a existência de Deus pode


formular-se, sinteticamente, da seguinte maneira:
As causas eficientes segundas pedem necessariamente a existência de uma Causa
Primeira eficiente à qual chamamos Deus.
CAUSA EFICIENTE -Entende-se em filosofia por causa eficiente aquela que, ao
atuar, produz um efeito diferente de si mesma. Assim o escultor é a causa eficiente da
estátua esculpida por ele; o pai é a causa eficiente do seu filho.
CAUSA EFICIENTE SEGUNDA -Entende-se por causa eficiente segunda toda
aquela que, por sua vez, foi gerada por outra causa eficiente anterior. E assim o pai causa
eficiente de seu filho, mas, por sua vez, é efeito de seu próprio pai, que foi quem o trouxe
à existência como causa eficiente anterior. Neste sentido são causas segundas todas as do
universo, exceto a Causa Primeira incausada, cuja existência vamos investigar.
São Tomás de Aquino (Suma Teológica I 2,3):
AVemos que no mundo do sensível há uma determinada ordem entre as causas
eficientes; mas não achamos e não é possível achar alguma coisa que seja sua própria
causa, pois em tal caso teria que ser anterior a si mesma, e isto é impossível. Ora bem:
também não se pode prolongar de modo indefinido a série das causas eficientes, porque,
em todas as causas eficientes subordinadas, a primeira é causa da intermediária e esta é
causa da última, sejam poucas ou muitas as intermediá rias. E já que, suprimida uma
causa, se suprime o seu efeito, se não existisse entre as causas eficientes uma que seja a
primeira, também não existiria a última nem a intermediária. Logo, se se prolongasse
indefinidamente a série de causas eficientes, não haveria causa eficiente primeira, e,
portanto, nem efeito último nem causa eficiente intermediária, coisa inteiramente falsa.
Por conseguinte, é necessário que exista uma Causa Eficiente Primeira, à qual chamamos
Deus.@ (...)
Hillaire (op.cit., pp 8-9):
AAs ciências físicas e naturais ensinam-nos que houve um tempo em que não
existia nenhum ser vivo sobre a terra. Donde saiu, pois, a vida que agora existe nela: a
vida das plantas, a vida dos animais, a vida do homem?(1)
A razão diz-nos que nem sequer a vida vegetativa de uma planta e menos ainda a
vida sensitiva dos animais, e muitíssimo menos a vida intelectiva do homem, puderam
brotar da matéria. Porquê? Porque ninguém dá o que não tem; e como a matéria carece de
vida, não pode dá-la.
Os ateus encontram-se encurralados por este dilema: ou a vida nasceu
espontaneamente sobre o globo, fruto da matéria por geração espontânea; ou é preciso
admitir uma causa diferente do mundo, que fecunda a matéria e faz brotar a vida. Ora

1(?) Para contrarrestar a força demonstrativa do argumento da aparição da vida sobre a terra, alguns
racionalistas lançaram a hipótese de que tinham caído sobre ela germes vivos procedentes de outros astros. Mas
esta suposição, inteiramente arbitrária e gratuita, não tem valor algum, já que, nesse caso, seria preciso investigar a
origem da vida nesses outros astros C o que nos levaria de todos os modos à necessidade de um Primeiro Vivente
C e seria preciso explicar, além do mais, como conservaram estes germes a vitalidade submetidos à ação dos raios
ultravioletas e atravessando os espaços interplanetários, cuja temperatura é de 273 graus abaixo de zero.(Nota do
autor.)
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bem: depois das experiências concludentes de Pasteur, já não há sábios verdadeiros que se
atrevam a defender a hipótese da geração espontânea; a verdadeira ciência estabelece que
nunca um ser vivo nasce sem um germe vital, semente, ovo ou renovo, proveniente de
outro ser vivo da mesma espécie.
Mas qual é a origem do primeiro ser vivo de cada espécie? Remontai quanto
quiserdes de geração em geração: sempre será preciso chegar a um primeiro criador, que é
Deus, causa primeira de todas as coisas. É o velho argumento do ovo e da galinha; mas
não é por ser velho que deixa de ser incômodo para os ateus@.

***

Terceira via: a contingência dos seres

O argumento fundamental da terceira via para demonstração da existência de Deus


pode formular-se sinteticamente do seguinte modo:
A contingência das coisas do mundo nos leva com toda certeza ao conhecimento da
existência de um Ser Necessário que existe por si mesmo, ao qual chamamos Deus.
a) SER CONTINGENTE é aquele que existe, mas poderia não existir. Ou também,
aquele que começou a existir e deixará de existir algum dia. São assim todos os seres
corruptíveis do universo.
b) SER NECESSÁRIO é aquele que existe e não pode deixar de existir; ou
também, aquele que, tendo a existência de si e por si mesmo, existiu sempre e não deixará
jamais de existir.
São Tomás (Suma Teológica I 2,3):
AA terceira via considera o ser possível ou contingente e o necessário, e pode
formular-se assim: Encontramos na natureza coisas que podem existir ou não existir, pois
vemos seres que se engendram ou produzem e seres que morrem ou se destroem, e,
portanto, têm possibilidade de existir ou de não existir.
Ora bem: é impossível que os seres de tal condição tenham existido sempre, já que
o que tem possibilidade de não ser houve um tempo em que de fato não existiu. Logo, se
todas as coisas existentes tiveram a possibilidade de não ser, houve um tempo em que de
fato nenhuma existiu. Mas, se isto fosse verdade, agora também não existiria coisa
nenhuma, porque o que não existe não começa a existir a não ser em virtude do que já
existe, e, portanto, se nada existia, foi impossível que começasse a existir alguma coisa, e,
conseqüentemente, não existiria nada agora, coisa evidentemente falsa.
Por conseguinte, nem todos os seres são meramente possíveis ou contingentes, mas
forçosamente há de haver entre os seres algum que seja necessário. Mas de duas uma: este
ser necessário ou tem a razão da sua necessidade em si mesmo ou não a tem. Se a sua
necessidade depende de outro, como não é possível admitir uma série indefinida de coisas
necessárias cuja necessidade depende de outras C segundo vimos ao tratar das causas
eficientes C é forçoso chegar a um Ser que exista necessariamente por si mesmo, ou seja,
que não tenha fora de si a causa de sua existência necessária, mas que seja causa da
necessidade dos demais. E a este Ser absolutamente necessário chamamos Deus.@ (...)
Que o ser necessário se identifica com Deus é coisa clara e evidente, tendo em
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conta algumas das características que a simples razão natural pode descobrir com toda a
certeza nele. Eis aqui as principais, segundo Hillaire (op.cit., pp 14-15):

A1 O SER NECESSÁRIO É INFINITAMENTE PERFEITO. É evidente pelo


mero fato de existir em virtude de sua própria essência ou natureza, o qual supõe o
conjunto de todas as perfeições possíveis e em grau supremo. Porque possui a plenitude
do ser e o ser compreende todas as perfeições: é pois infinitamente perfeito.
2 NÃO HÁ MAIS DO QUE UM SER NECESSÁRIO. O Ser necessário é
infinito; e dois infinitos não podem existir ao mesmo tempo. Se são diferentes, não são
infinitos nem perfeitos, porque nenhum dos dois possui o que pertence a outro. Se não são
diferentes, não formam senão um ser.
3 O SER NECESSÁRIO É ETERNO. Se não tivesse existido sempre, ou se
tivesse que deixar de existir, evidentemente não existiria em virtude de sua própria
natureza. Já que existe por si mesmo, não pode ter nem princípio, nem fim, nem sucessão.
4 O SER NECESSÁRIO É ABSOLUTAMENTE IMUTÁVEL. Mudar é adquirir
ou perder algo. Mas o Ser necessário não pode adquirir nada, porque possui todas as
perfeições; e não pode perder nada, porque a simples possibilidade de perder algo é
incompatível com a sua suprema perfeição. Logo é imutável.
5 O SER NECESSÁRIO É ABSOLUTAMENTE INDEPENDENTE. Porque não
precisa de ninguém, basta-se perfeitamente a si mesmo; já que é o Ser que existe por si
mesmo, infinito, eterno, perfeitíssimo.
6 O SER NECESSÁRIO É UM ESPÍRITO. Um espírito é um ser inteligente,
capaz de pensar, de entender e de querer; um ser que não pode ser visto nem tocado com
os sentidos corporais. Ao contrário da matéria, que tem as características opostas.
O Ser necessário tem que ser forçosamente espírito, não corpo ou matéria. Porque,
se fosse corporal, seria limitado em seu ser, como todos os corpos. Se fosse material seria
divisível e não seria infinito. Também não seria infinitamente perfeito, porque a matéria
não pode ser o princípio da inteligência e da vida, que estão mil vezes por cima dela.
Logo o Ser necessário é um Ser espiritual, infinitamente perfeito e transcendente.@ (...)

***

Quarta via: os diferentes graus de perfeição

São Tomás (Suma Teológica, I 2,3):


AA quarta via considera os graus de perfeição que há nos seres. Vemos nos outros
seres que uns são mais ou menos bons, verdadeiros e nobres do que outros, e o mesmo
acontece com as diferentes qualidades. Mas, o mais e menos se atribui às coisas segundo
a sua diferente proximidade do máximo, e por isto se diz que uma coisa está tanto mais
quente quanto mais se aproxima do calor máximo. Portanto, deve existir algo que seja
veracíssimo, nobilíssimo, ótimo, e, por isso, ente ou ser supremo; pois, como diz o
Filósofo, o que é verdade máxima tem o mais alto valor. Ora bem: o máximo em qualquer
gênero é a causa de tudo o que naquele gênero existe, e assim o fogo, que tem o máximo
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calor, é causa do calor de tudo o que é quente. Existe, por conseguinte, algo que é para
todas as coisas existentes causa do seu ser, de sua bondade e de todas as suas demais
perfeições. E a esse Ser perfeitíssimo, causa de todas as perfeições, chamamos Deus@.
Como se vê, a estrutura da argumentação desta quarta via é inteiramente similar às
anteriores. Partindo de um fato experimental completamente certo e evidente C a
existência de diversos graus de perfeição nos seres C a razão natural remonta à
necessidade de um ser perfeitíssimo que tenha a perfeição em grau máximo, ou seja que a
tenha por sua própria essência e natureza, sem a ter recebido de ninguém, e que seja, por
isso mesmo, a causa ou manancial de todas as perfeições que encontramos em graus
muito diversos em todos os demais seres. Ora bem: esse Ser perfeitíssimo, origem e fonte
de toda a perfeição, é precisamente o que chamamos Deus.

***

Quinta via: a finalidade e ordem do universo

São Tomás (Suma Teológica I 2,3):


AA quinta via é tomada do governo do mundo. Vemos, com efeito, que coisas que
carecem de conhecimento, como os corpos naturais, operam para um fim, o que se
comprova observando que sempre, ou a maior parte das vezes, trabalham da mesma
maneira para conseguir o que mais lhe convém; donde se deduz que não tendem a seu fim
por casualidade ou ao acaso, mas operando intencionalmente.
Ora bem: é evidente que o que carece de conhecimento não tende a um fim se não
o dirige alguém que entenda e conheça, do mesmo modo que o arqueiro dispara a flecha
rumo ao alvo. Logo existe um Ser inteligente que dirige todas as coisas naturais a seu fim,
e a este chamamos Deus.@

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