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CRIMES DIGITAIS: EVOLUÇÃO DOS CRIMES E A APLICAÇÃO DO DIREITO.

DIGITAL CRIMES: EVOLUTION OF CRIMES AND THE APPLICATION OF LAW

Gilsimar Pinheiro da Silva1


Orientadora: Profª Islamara da Costa.2

RESUMO: O presente trabalho tem por finalidade a análise pertinente ao contexto


social atual devido ao aumento de novos usuários da internet, das redes sociais e
todas as ferramentas disponíveis, causado pelo isolamento social provocado pela
pandemia do Covid-19 que obrigou a muitos que não faziam o uso da internet a utiliza-
la no seu cotidiano, para o trabalho home-office, para pagamentos e transações
financeiras, o que provocou um aumento vertiginoso dos crimes digitais praticados em
todo o território brasileiro, onde os cibercriminosos viram a oportunidade de
cometerem mais golpes, trazendo consigo inúmeros prejuízos a sociedade, a
economia, bem como prejuízos psicológicos que muitas das vezes são irreparáveis, e
a busca pela a evolução do nosso ordenado jurídico no mesmo ritmo que o crime
virtual evolui e a aplicação de leis mais duras para coibir uso da internet para
cometimento desses atos delituosos que são diários no nosso cotidiano. Expondo
relevante necessidade da atualização no nosso arcabouço jurídico e pelo
endurecimento das penas a serem aplicadas, tornando-se mais específica e eficaz
para que possa inibir qualquer tipo de ato ilícito praticado no ambiente virtual ou que
se utilize de meios remotos. Foram utilizadas várias fontes de informações para a
elaboração deste trabalho, bem como a consulta de outros artigos científicos, sites e
reportagens, biografias e a legislação.

Palavra-chave: Crimes Digitais; Aplicação do Direito; Código Penal;

ABSTRACT: The purpose of this work is to analyze the current social context due to
the increase in new internet users, social networks and all available tools, caused by
the social isolation caused by the Covid-19 pandemic that forced many who did not do
the same use of the internet to use it in their daily lives, for home-office work, for
payments and financial transactions, which caused a vertiginous increase in digital
crimes practiced throughout the Brazilian territory, where cybercriminals saw the
opportunity to commit more scams, bringing with it countless damages to society, the
economy, as well as psychological damages that are often irreparable, and the search
for the evolution of our legal system at the same pace that virtual crime evolves and
the application of tougher laws to curb use of the internet to commit these criminal acts
that are daily in our daily lives. Exposing a relevant need for updating our legal
framework and for toughening the penalties to be applied, making it more specific and
effective so that it can inhibit any type of illicit act practiced in the virtual environment
or that uses remote means. Several sources of information were used for the
elaboration of this work, as well as the consultation of other scientific articles, websites
and reports, biographies and legislation.

Keywords: Digital Crimes; Application of Law; Penal Code;

1
Graduando em Direito pela Universidade Potiguar – E-mail: gpsimar@yahoo.com.br.
2
Mestranda em Psicologia, pela Universidade Potiguar, Especialista em Direito Tributário pela
Faculdade de Direito na Universidade Potiguar – E-mail: islamara.costa@unp.br
2

1.INTRODUÇÃO

Este trabalho é motivado pelo crescente números de novos golpes aplicados


no ambiente digital pelo aumento novos usuários da internet e a capacidade da
legislação de responder à altura coibindo e punindo os criminosos, no combate ao
crime cibernético.
O escritor Percival Henriques (Pássaros voam em bando) diz que “A internet
não é mais um projeto acadêmico. Em um passado remoto, dois computadores
conectados, distantes um do outro, transportaram com sucesso a letra “L” e a letra
“O”. Em 2015, mais de 3,2 bilhões de pessoas enviam e recebem pacotes de bytes;
ou melhor, trocam conhecimentos, pesquisam, expressam sentimentos, articulam
ações, organizam eventos, compram, vendem, enganam, roubam, gritam, vigiam ou
são vigiadas”.
O Brasil tem 152 milhões de usuários de internet o que corresponde a 81% da
população do país com 10 anos ou mais, segundo TIC Domicílios 2020. Esse aumento
no número de usuários na internet proporcionou facilidades para que os
cibercriminosos passem 24 horas por dia, desenvolvendo sites falsos, links de
sorteios, mensagens com vírus, estelionato virtual, fake news e demais ataques,
exemplos de alguns meios que são utilizados para cometimentos de crimes.
O perfil dos criminosos são geralmente, na maioria das vezes, delinquentes de
oportunidade e os delitos praticados por agentes que tem sua ocupação profissional
ligada a área de informática. Baseada em pesquisa empírica o perfil indica ser jovens,
inteligentes, educados, com idade entre 16 e 32 anos, do sexo masculino, magros,
caucasianos, audaciosos, e aventureiros, com inteligência bem acima da média e
movidos pelo desafio da superação do conhecimento, além do sentimento do
anonimato, que bloqueia seus parâmetros de entendimento para avaliar sua conduta
ilegal, sempre alegando ignorância do crime e, simplesmente, uma brincadeira.
Com o aumento dos novos golpes, surge a necessidade de aplicação de leis
específicas da nossa legislação brasileira que possa repreender de forma mais dura,
crimes praticados no meio virtual bem como trazer punições mais severas que sejam
capazes de intimidar os infratores na tentativa de diminuir os prejuízos causados pelos
frequentes ataques.
O que o ordenamento jurídico pode contribuir para a diminuição dos ataques
dos criminosos a sociedade?
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Milhares de pessoas em todo o Brasil são atacadas diariamente por golpistas


que tentam roubar seus dados, só em 2020, o Brasil foi o país mais atingido por
tentativas de roubo de dados pessoais ou financeiros de pessoas na internet, prática
denominada em inglês phishing. Com as essas informações, golpistas prejudicam a
vítima de diversas forma, seja acessando recursos ou enganado pessoas se fazendo
passar por ela. As tentativas de golpes se dão por diversos meios, inclusive de
situações atuais, como no caso do cadastramento do auxílio emergencial, cadastro
para vacinação, tentativas de golpe usando o PIX e através do WhatsApp, onde o
aplicativo é clonado.
Desde a aprovação da Lei 12.737/2012, conhecida como a Lei Carolina
Dieckmann, motivada por crime cometido no ambiente virtual, esse foi o primeiro
passo para tipificação de crimes virtuais. O ordenamento jurídico possibilitou a
tipificação de crime virtual e fixou a punição aos infratores, mesmo assim o número
de crimes usando a rede mundial de computadores não parou de aumentar, trazendo
consigo prejuízos sociais e econômico gerando a sensação de insegurança e
percepção da ineficiência das medidas jurídicas adotadas para combater o crime
cibernéticos.
O presente trabalho pretende apresentar dados e informações que mostram
que a Lei 12.737/2012 não conseguiu coibir os crimes digitais e analisar a necessidade
do endurecimento das penas contra crimes digitais e analisar a expectativa da Lei
14.155/2021 como avanço da legislação no combate ao crime cibernético e demais
atos que geram insegurança, medo, prejuízos muito das vezes irreversível.
O trabalho utilizará o método dialético, quantitativo e qualitativo, buscando
apresentar dados e informações específicas sobre a evolução dos crimes digitais,
mostrando a evolução do direito penal contra os crimes virtuais, por meio da análise
filosófica e de referenciais teóricos de artigos, códigos e outros trabalhos sobre a
mesma questão jurídica.

2.CONCEITO E AUMENTO DOS CRIMES DIGITAIS

Crimes digitais ou cibernéticos são atos delituosos cometidos no ambiente


virtual através da informática em geral e segundo Rocha (2017, p. 13), cita que os
crimes cibernéticos se trata de “condutas ilícitas realizadas por algum tipo de
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dispositivo tecnológico (...) por entender-se que as realizações das condutas são
dadas em um ambiente virtual”.
Rosa (2002, p. 53-54), traz de forma explanada o conceito de crime de
informática com sendo:

[...] É a conduta atente contra o estado natural dos dados e recursos


oferecidos por um sistema de processamento de dados, seja pela
compilação, armazenamento ou transmissão de dados, na sua forma,
compreendida pelos elementos que compõem um sistema de tratamento,
transmissão ou armazenagem de dados, ou seja, ainda, na forma mais
rudimentar; 2. o Crime de Informática é todo aquele procedimento que atenta
contra os dados, que faz na forma em que estejam armazenados,
compilados, transmissíveis ou em transmissão; 3. Assim, o Crime de
Informática pressupõe does elementos indissolúveis: contra os dados que
estejam preparados às operações do computador e, também, através do
computador, utilizando-se software e hardware, para perpetrá-los; 4. A
expressão crimes de informática, entendida como tal, é toda a ação típica,
antijurídica e culpável, contra ou pela utilização de processamento automático
e/ou eletrônico de dados ou sua transmissão 5. Nos crimes de informática, a
ação típica se realiza contra ou pela utilização de processamento automático
de dados ou a sua transmissão. Ou seja, a utilização de um sistema de
informática para atentar contra um bem ou interesse juridicamente protegido,
pertença ele à ordem econômica, à integridade corporal, à liberdade
individual, à privacidade, à honra, ao patrimônio público ou privado, à
Administração Pública, etc.

Com o aumento dos novos golpes, surge a necessidade de aplicação da


legislação do ordenamento jurídico brasileiro que possa repreender de qualquer forma
os crimes praticados no meio virtual, bem como intensificar as investigações e trazer
punições mais duras que sejam capazes de intimidar os infratores puni-los. Pois ainda
existe uma enorme lacuna quanto as punições e investigações relacionadas aos
delitos no âmbito digital, segundo Alves, em seu livro Crimes Digitais (2020), os crimes
virtuais, que são praticados no meio virtual, na maioria das vezes, não deixa rastro,
que seja capaz de identificar o autor da ilicitude, mostrando o quanto frágil é a nossa
legislação em relação a esses crimes.
Com um número maior de acessos e transações via internet e mais tempo de
utilização das redes sociais e visita a sites sem segurança aparente, permitiram que
muitos usuários caíssem em vários golpes, como a clonagem do aplicativo de
mensagens WhatsApp, que só em 2020 mais de 5 milhões de contas foram clonadas,
e que no Brasil já são mais de 150 milhões de vítimas só em 2021, vítimas de phishing,
golpe que engana as vítimas com sites e aplicativos falsos, como mostra a estimativa
do DFNDR - LAB, Laboratório Especializado em Cibersegurança da Psafe.
5

Com um maior número de adeptos da internet e milhões de informações


transitando diariamente, criminosos passaram a praticarem ataques constantes aos
internautas, pois em 2019, o número de usuários que utilizavam a internet já chegava
a 82,7% dos domicílios segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE) conforme gráfico abaixo:

Gráfico 1 – Número de domicílios que utilizam internet

Será possível saber a identidade do criminoso?

A falta de identidade é assustadora. Você não consegue explicar isso. Torna-


se mais difícil culpar alguém. Ninguém sabe quem é essa pessoa. Todd, EUA.
(SYMANTEC CORPORATION. Relatório de Crimes Cibernéticos
NORTON: O impacto humano, 2018, p. 09).

Sem serem conhecidos ou encontrados, os cibercriminosos continuam


tentando roubar e se apropriar de dados pessoais de suas vítimas e cometerem seus
delitos, e segundo a plataforma Consumidor.gov.br o número de consumidores que
tiveram dados pessoais ou financeiros consultados, coletados, publicados ou
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repassados sem autorização mais que dobrou em relação ao mesmo período do ano
passado.
Segundo Corrêa (2002, p. 42), a internet é um campo extremamente abastecido
de informações valiosíssimas e de imensurável valor, o que se torna altamente atraem
a ataques e por ser um ambiente de fácil acesso, de inúmeras possibilidades e com
muitos usuários que diariamente utilizam a internet, não só para passar o tempo, mas
sim para o trabalho, atividades acadêmicas etc. Também utilizado para transações
financeiras, como nunca visto antes devido ao período da pandemia do Covid-19,
onde milhões de brasileiros se isolaram e começaram a usar os meios remotos de
atendimento de todas as esferas, com envio de informações de pessoais e
compartilhamento de dados. O que possibilitou que criminosos investissem mais
tempo e novas estratégias para aplicar novos golpes, pois há uma enorme quantidade
de informações sendo transitadas na rede mundial de computadores, e por sinal
informações valiosas
E com essa visão de obter tais informações e lucrarem com isso em 2021
aconteceu dois mega vazamentos de dados privados onde foram expostos milhões
de dados de pessoas vivas e de pessoas já falecidas, e os dois casos foram
descobertos pela Psafe - Empresa de Segurança Cibernética, dados que estavam à
venda para outro grupo de criminosos, demonstrando assim a vulnerabilidade do
sistema.
Segundo o ministro Humberto Martins, em entrevista ao seminário virtual
Criminalidade em tempos de Covid-19, "Cabe ao Estado brasileiro aprimorar seu
arcabouço normativo para impedir que esses crimes sejam praticados, evitando
prejuízos financeiros e patrimoniais às pessoas, às empresas e ao próprio poder
público", declarou, pois os criminosos passaram a praticar fraudes eletrônicas ao
perceber o uso intenso da internet no período da pandemia.
Por isso é necessário que tenhamos uma legislação a altura dos crimes que
são praticados, uma legislação que acompanhe o ritmo dos infratores para inibir a alta
de golpes que são todos os dias investidos não só aos usuários da internet, bem como
as empresas públicas e privadas, que tem sido alvo de constantes ataques, cresce o
número de usuários e acessos e se multiplicam os golpes.

2.1 TIPOS DE CRIMES


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Quem nunca recebeu um e-mail que lhe deixou desconfiado? Um sms


informando que você ganhou alguma promoção quando na verdade você nem sequer
participou? Algum e-mail pedindo para você atualizar seus dados de uma instituição
financeira, quando muita das vezes você nem possui conta na determinada instituição
que está no e-mail?
Isso é o que acontece corriqueiramente com todos nós que utilizamos essa
ferramenta incrível chamada internet, nos conectamos através dela pelo notebook,
computador, celular, tablet e estamos ligados 24hs por dia, seja em casa, no trabalho,
escola, nos estabelecimentos comerciais que frequentamos, sem falar das redes
sociais, e com o advento da pandemia o mundo inteiro precisou se logar por mais
tempo a internet do que antes.
Segundo Cassanti (2014, p. 6):

Toda atividade onde um computador ou uma rede de computadores é


utilizada como uma ferramenta, base de ataque ou como meio de crime é
conhecido como cibercrime. Outros termos que se referem a essa atividade
são: crime informático, crimes eletrônicos, crime virtual ou crime digital.

A maior ferramenta para aplicação desses ataques é rede mundial de


computadores onde a quantidade de golpes é longa e diariamente os criminosos se
aproveitam de oportunidades do cotidiano dos usuários para aplicarem seus golpes,
casos como do Auxílio Emergencial, cadastro para vacinação, pacote de dados de
internet gratuito, promoções em sites, atualizações de informações etc. De acordo
com o Centro de Denúncias de Crimes Cibernéticos do Federal Bureau of
Investigation (FBI), durante a pandemia que ainda assola todo o planeta, houve um
aumento de 300% de ataques cibernéticos nas principais economias.
Existe golpes que são mais aplicados, como a fraude através do envio de e-
mail e pelas redes sociais, o roubo e o uso indevido de identidade e informações
pessoais, clonagem de cartões e roubo de informações financeiras e de posse dessas
informações os dados são vendidos, a prática da extorsão no ambiente virtual,
exigindo dinheiro para evitar o ataque, espionagem e invasão de servidores de
empresas e órgãos federais e suas autarquias.
A quantidade golpes não se limita somente a esses acima citados, segundo
dados do DFNDR Lab, Laboratório Especializados em Crimes Virtuais, em 2018 no
primeiro trimestre aconteceram mais 56 milhões de tentativas de golpes por meio de
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links maliciosos, que equivale a mais 26 mil tentativas de ataques de fraude por dia
ou 620 por hora.
Vale destacar um dos golpes mais comuns utilizados pelos criminosos, o
phishing, que traduzido significa “pescar”, golpe delituoso que tem a finalidade de
roubar dados, como nome completo, documentos de identificação, bem como sua
numeração, contas bancárias, senhas e seus códigos de segurança.
Abaixo listo os phishing utilizados:

Blind Phishing

Iniciamos pelo mais comum entre todos. O “Blind Phishing” acontece por
disparo de e-mails em massa, onde os criminosos contam com a ingenuidade e
desconhecimento de parte dos destinatários acerca desse tipo de golpe na internet,
que geralmente, por exemplo, o e-mail ter algum link ou anexo tendencioso para que
o receptor baixe um vírus em seu dispositivo.

Smishing

Phishing realizado pelo envio de disparos de SMS para celulares. Geralmente


são mensagens com informações de que a vítima está endividada ou ganhou um
sorteio inesperado, fazendo com que a vítima tome decisões imediatas.

Scam

Os golpes do tipo “scam” são tentativas através de links ou arquivos


contaminados onde os criminosos tentam conseguir informações de vítimas.
Nesse tipo de Phishing, o contato se dá por exemplo do telefone, e-mail, sms
ou pelas redes sociais.

Clone Phishing

Esse phishing é responsável por clonar um site original para atrair os usuários
induzindo a vítima a se comportar como se estivesse em um ambiente seguro.
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Spear Phishing

É um ataque direcionado a um indivíduo ou a um grupo de vítimas em


específico. Que tem como objetivo acessar informações sigilosas de um banco de
dados específico, arquivos confidenciais ou financeiros.

Whaling

O termo vem da palavra whale que, em inglês, significa “baleia”, que mira
empresários e executivos de cargos estratégicos para conseguir dados confidenciais.

Vishing

Mecanismos de voz que é utilizado para aplicar golpes na internet. Geralmente


se cria uma sensação de urgência através de chamada de voz para que o usuário
rapidamente tome medidas e forneça informações.

Pharming

Por intermédio do pharming, um site legítimo pode ser manipulado para


direcionar usuários para outro site e que podem instalar softwares maliciosos nos
computadores dos visitantes. Sendo capaz ainda de coletar dados pessoais, tais como
senhas ou informações financeiras.
Ataque sagaz, uma vez que um servidor de DNS é comprometido, os usuários
mesmo com dispositivos protegidos e livres de malwares podem se tornar vítimas.
Visto que somos alvos constantes de ataques cibernéticos é mister que nossa
legislação acompanhe com o mesmo ritmo dos novos crimes não tipificados no
ordenamento, para enquadrar quem pratica algum tipo de ilicitude através dos meios
digitais e trazer segurança aos usuários que estão logados no ambiente digital.

3. APLICAÇÃO DA LEGISLAÇÃO AOS CRIMES DIGITAIS


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Antes de uma lei específica para os crimes atuais o judiciário já combatia e


punia os crimes cibernéticos aplicando o Código Penal (CP) e o Código Civil (CC),
e se utilizava de leis específicas como a Lei 9.296 que tipifica o crime nas
interceptações de comunicação em sistema de telefonia, informática e telemática e
a Lei 9.609 que trata sobre a propriedade intelectual de programas de computadores.
Em 2012 a partir do caso da atriz Carolina Dieckman, houve evolução na
legislação a respeito dos crimes cibernéticos, pois a mesma foi vítima de ataque de
cibercriminoso, tendo seu computador invadido por um hacker tendo suas fotos
íntimas divulgadas sem o seu consentimento, causando assim um prejuízo
psicológico e a imagem da citada, tornando esse fato de grande repercussão na
mídia, vindo a ser posteriormente aprovada a Lei 12.737/2012, conhecida até hoje
como Lei Carolina Dieckman, que tipificou como crime a invasão de dispositivo,
sendo acrescido no Decreto-Lei nº 2848 com os artigos 154-A e 154-B do Código
Processual Penal (CPP).

Art. 154-A. Invadir dispositivo informático alheio, conectado ou não à rede de


computadores, mediante violação indevida de mecanismo de segurança e
com o fim de obter, adulterar ou destruir dados ou informações sem
autorização expressa ou tácita do titular do dispositivo ou instalar
vulnerabilidades para obter vantagem ilícita: Pena - detenção, de 3 (três)
meses a 1 (um) ano, e multa.
§ 1º Na mesma pena incorre quem produz, oferece, distribui, vende ou
difunde dispositivo ou programa de computador com o intuito de permitir a
prática da conduta definida no caput.
§ 2º Aumenta-se a pena de um sexto a um terço se da invasão resulta prejuízo
econômico.

Mesmo após a implementação da Lei 12.737/2012, o número de crimes


tiveram uma diminuição em 2013 no total de 352.925 incidentes e dispararam em
2014 com 1.047.031 incidentes reportados CERT.br, e segundo a Kaspersky Lab,
uma das maiores empresas de segurança de TI do mundo, informou ter registrado o
bloqueio de mais de 6,2 bilhões de ataques maliciosos em computadores e
dispositivos móveis por seus antivírus em 2014 — um bilhão a mais que em 2013, em
um demonstração de que a tipificação do crime virtual ainda necessitava de
aperfeiçoamento.
A nossa Constituição Federal no Art. 5º trata das garantias de inviolabilidade
da intimidade, privacidade, honra e a imagem da pessoa no mundo real e a Lei
12.965/14, conhecida como Marco Civil da Internet assegura tais garantias e
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estabelece princípios, direitos e deveres quanto ao uso da internet em todo o território


brasileiro.

Art. 3º A disciplina do uso da internet no Brasil tem os seguintes princípios: I


- garantia da liberdade de expressão, comunicação e manifestação de
pensamento, nos termos da Constituição Federal;
II - Proteção da privacidade;
III - Proteção dos dados pessoais, na forma da lei;
IV - Preservação e garantia da neutralidade de rede;
V - Preservação da estabilidade, segurança e funcionalidade da rede, por
meio de medidas técnicas compatíveis com os padrões internacionais e pelo
estímulo ao uso de boas práticas;

Para Alves (2020) são assegurados a todos usuários da internet princípios


norteadores das relações ocorridas na rede. Estes princípios buscam garantir que o
contato entre as pessoas na Internet ocorra de modo que não haja injustiças,
sustentando o direito à liberdade, privacidade e bom funcionamento do serviço de
Internet contratado.
Será que a nossa privacidade está sendo preservada no ambiente virtual, que
o nosso sigilo eletrônico continua inviolável e que somos invioláveis no mundo digital
como devemos ser no mundo real, como versa a nossa Constituição Federal de 1988
em seu Art. 5º Inciso X?
Mas mesmo diante de toda evolução da nossa legislação em relação aos
crimes virtuais (cibernéticos), vimos o direito de muitos serem violados através da
internet, nos mostrado mais uma vez a insuficiência das leis e de suas penas, sendo
necessário mais uma vez acompanhar o ritmo desses crimes.

3.1 ENDURECIMENTO DA LEGISLAÇÃO

Com a necessidade de endurecer as penas e de tornar a lei aplicável em mais


casos tipificados foi sancionada a Lei 14.155 de 27 de maio de 2021, trazendo consigo
endurecimento das penas em seus Artigos:

Art. 1º O Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal),


passa a vigorar com as seguintes alterações:
“Art. 154-A. Invadir dispositivo informático de uso alheio, conectado ou não à
rede de computadores, com o fim de obter, adulterar ou destruir dados ou
informações sem autorização expressa ou tácita do usuário do dispositivo ou
de instalar vulnerabilidades para obter vantagem ilícita:
§ 4º-B. A pena é de reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa, se o furto
mediante fraude é cometido por meio de dispositivo eletrônico ou informático,
conectado ou não à rede de computadores, com ou sem a violação de
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mecanismo de segurança ou a utilização de programa malicioso, ou por


qualquer outro meio fraudulento análogo.
§ 4º-C. A pena prevista no § 4º-B deste artigo, considerada a relevância do
resultado gravoso:
I – Aumenta-se de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços), se o crime é praticado
mediante a utilização de servidor mantido fora do território nacional;
II – Aumenta-se de 1/3 (um terço) ao dobro, se o crime é praticado contra
idoso ou vulnerável.
Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
§ 2º Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços) se da invasão
resulta prejuízo econômico.
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.

Tornando a Lei de violação de dispositivo informático mais dura em suas


penalidades e a definição de crime a fraude eletrônica e a de estelionato:

Fraude eletrônica
§ 2º-A. A pena é de reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa, se a
fraude é cometida com a utilização de informações fornecidas pela vítima ou
por terceiro induzido a erro por meio de redes sociais, contatos telefônicos ou
envio de correio eletrônico fraudulento, ou por qualquer outro meio
fraudulento análogo.
§ 2º-B. A pena prevista no § 2º-A deste artigo, considerada a relevância do
resultado gravoso, aumenta-se de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços), se o
crime é praticado mediante a utilização de servidor mantido fora do território
nacional.
Estelionato contra idoso ou vulnerável
§ 4º A pena aumenta-se de 1/3 (um terço) ao dobro, se o crime é cometido
contra idoso ou vulnerável, considerada a relevância do resultado gravoso.
Art. 2º O art. 70 do Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941 (Código de
Processo Penal), passa a vigorar acrescido do seguinte § 4º:
§ 4º Nos crimes previstos no art. 171 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de
dezembro de 1940 (Código Penal), quando praticados mediante depósito,
mediante emissão de cheques sem suficiente provisão de fundos em poder
do sacado ou com o pagamento frustrado ou mediante transferência de
valores, a competência será definida pelo local do domicílio da vítima, e, em
caso de pluralidade de vítimas, a competência firmar-se-á pela prevenção.”
(NR)

A proposta de modificação da lei é punir com mais rigor os cibercriminosos


que se utilizam da rede mundial de computadores para aplicarem ataques contra os
usuários da internet tentando roubar, extorquir, se apropriar de informações alheias
todos os dias.
O especialista em direito digital do Dr. Luiz Augusto D'Urso, advogado do
escritório D'Urso e Borges Advogados Associados, avaliou a importancia da
alteração, pois houve um crescimento exorbitante das invasões e golpes pela
Internet, principalmente durante a pandemia. Segundo o próprio advogado:

"O problema é que muitas invasões causavam prejuízos gigantescos, até


com vazamentos de dados acessados, sendo que as penas para estas
invasões eram de apenas 3 meses a 1 ano. Agora, com este aumento, nota-
13

se uma resposta penal muito mais proporcional, com penas de reclusão de


1 a 4 anos, podendo chegar em até 5 anos, se houver obtenção de
conteúdos sigilosos."

Essa mudança no ordenamento jurídico é vista como ponto positivo, pois


houve aumento para o crime de estelionato por meios eletrônicos, com pena de
reclusão de 4 a 8 anos e o aumento de 1/3 ao dobro da pena se o crime é praticado
contra idoso ou vulnerável, esperando assim que haja efeito imediato na inibição da
prática delituosa.
A proposta é tornar o uso da internet mais seguro, diminuir o crescente
número de ataques e responsabilizar quem usa a internet para cometimentos de
crimes, com aplicação de penas mais duras.

4.CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho tem por finalidade apresentar que no ambiente digital


existe uma facilidade enorme para criminosos oportunistas conseguirem cometer seus
delitos, trazendo prejuízos ao cidadão de bem, pois o número de adeptos da internet
aumenta a cada dia e consequentemente o número de operações e transações que
são realizadas, também foi possível ver a que legislação foi mudando ao ponto que
ela se tornava insuficiente para tipificar e coibir a ação criminosa no mundo virtual.
A primeira mudança se deu com a Lei 12.737/2012, conhecida como a Lei
Carolina Dieckman, após a invasão do seu computador violando sua privacidade e
intimidade caso que repercutiu no país inteiro e a Lei 12.965/14, conhecida como
Marco Civil da Internet, trouxe a garantia dos mesmos direitos já garantidos no mundo
real. Mesmo com tais mudanças e a evolução da legislação vimos que os crimes
cometidos no ambiente virtual continuaram a serem praticados, e com o grande
número de pessoas conectadas a internet, facilitou aplicação de novos golpes e o seu
aumento com os dados apresentados.
Já entre 2020 e 2021 no auge da pandemia de Covid-19, onde muitas pessoas
passaram mais tempo em casa e utilizando a internet vimos a intensificação dos
ataques cibernéticos o que nos trouxe uma mudança mais significativa em nosso
ordenamento jurídico, onde foi aprovada a Lei 14.155/21, que trouxe um
endurecimento das penas e tipificação de novos crimes, como fraude eletrônica e
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estelionato contra idoso ou vulnerável, prevendo penas mais severas e que podem
ser até aumentadas, como no caso do estelionato contra idoso ou vulnerável.
Por fim a expectativa é que essa modificação na legislação possa coibir a
progressão desses ataques criminosos aplicando-se a penalidade mais severa e
causando no agente infrator temor em praticar um novo delito, assim esperando-se
diminuir consideravelmente a estatística negativas, dos prejuízos econômicos, sociais
e psicológicos, trazendo consigo as garantias fundamentais estabelecidas na nossa
Constituição Federal de 88 em seu Art. 5º.

REFERÊNCIAS

ALVES, Mateus de Araújo. Crimes Digitais: Análise da criminalidade digital sob a


perspectiva do direito processual penal e do instituto da prova – São Paulo - Editora
Dialética, 2020.

ALVES, Rubens Fellipe Lima. Crimes Virtuais: Uma análise sobre os crimes
Cibernéticos e a dificuldade na aplicação da legislação/ Rubens Fellipe Lima Alves. -
João Pessoa, 2019. Disponível em: https://bdtcc.unipe.edu.br/wp-
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http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 15
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