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Hematologia e

Imunologia Básica
Prof.a Liziara Silva Fraporti

Indaial – 2020
1a Edição
Copyright © UNIASSELVI 2020

Elaboração:
Prof.a Liziara Silva Fraporti

Revisão, Diagramação e Produção:


Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri


UNIASSELVI – Indaial.

F838h

Fraporti, Liziara Silva

Hematologia e imunologia básica. / Liziara Silva Fraporti. – Indaial:


UNIASSELVI, 2020

216 p.; il.

ISBN 978-65-5663-016-8

1. Hematologia. - Brasil. 2. Imunologia. – Brasil. Centro Universitário


Leonardo Da Vinci.

CDD 616.15

Impresso por:
Apresentação
Olá, acadêmico! Vamos iniciar nossos estudos na disciplina de
Hematologia e Imunologia Básica. Este livro está dividido em três unidades
e, em cada uma delas, abordaremos assuntos distintos e específicos da
Hematologia e Imunologia. Além disso, o livro apresentará a Hematologia e
a Imunologia aos estudantes que nunca estudaram esse assunto.

O livro é organizado de maneira que seja fácil o entendimento,


seguindo uma cronologia nos assuntos. Na primeira unidade, abordaremos a
hematologia. A hematologia consiste no estudo das células sanguíneas. Nesta
unidade apresentaremos como elas são formadas, suas características e funções.
Estudaremos também a importância da Hematologia na área biomédica.

Na segunda unidade, a abordagem será na Imunologia Básica,


iremos aprender conceitos dentro da imunologia, vamos conhecer células
que atuam na defesa imunológica do organismo. Também iremos aprender
outros mecanismos importantes na defesa do nosso corpo humano, como
os anticorpos, que são proteínas que atuam na defesa do nosso organismo,
conferindo proteção.

O estudo da imunologia é muito importante dentro da área da


saúde, é através do estudo da imunologia que entenderemos como o corpo
humano está preparado para combater determinadas doenças; também é
através da imunologia que entendemos o funcionamento das vacinas, que
conferem a proteção contra determinadas enfermidades. É através dos
exames imunológicos que o profissional da área da saúde pode identificar
várias doenças que auxiliarão no diagnóstico, prevenção e a terapêutica de
determinadas doenças.

Na terceira unidade, aprofundaremos o sistema imunológico,


vamos aprender como o sistema de defesa reage diante de determinado
microrganismo. Iremos aprender que, para cada tipo de microrganismo
(bactérias, vírus, parasitas ou fungos), o sistema imunológico gera um tipo
de resposta efetora específica para a sua eliminação. Nesta unidade, também
iremos aprender sobre as alergias, hipersensibilidades e doenças autoimunes.
Você já deve ter ouvido falar que existem doenças em que nosso organismo
começa a reagir contra ele mesmo! Nesta unidade, entenderemos como
ocorrem esses mecanismos! E para finalizar o nosso estudo, aprenderemos
sobre a imunologia dos transplantes, e como ocorre as rejeições.

Pronto para explorar esse universo fascinante da Hematologia e


Imunologia? Será uma jornada de muito aprendizado e conhecimento! Bons
Estudos!

Profa. Liziara Silva Fraporti

III
NOTA

Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para
você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há
novidades em nosso material.

Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é


o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura.

O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.

Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente,


apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade
de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador.
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto
em questão.

Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa
continuar seus estudos com um material de qualidade.

Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de


Desempenho de Estudantes – ENADE.
 
Bons estudos!

UNI

Olá acadêmico! Para melhorar a qualidade dos


materiais ofertados a você e dinamizar ainda mais
os seus estudos, a Uniasselvi disponibiliza materiais
que possuem o código QR Code, que é um código
que permite que você acesse um conteúdo interativo
relacionado ao tema que você está estudando. Para
utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos
e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar
mais essa facilidade para aprimorar seus estudos!

IV
V
LEMBRETE

Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela


um novo conhecimento.

Com o objetivo de enriquecer seu conhecimento, construímos, além do livro


que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá
contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementares,
entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento.

Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.

Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada!

VI
Sumário
UNIDADE 1 – INTRODUÇÃO À HEMATOLOGIA BÁSICA..........................................................1

TÓPICO 1 – INTRODUÇÃO ÀS CÉLULAS SANGUÍNEAS............................................................3


1 INTRODUÇÃO........................................................................................................................................3
2 FISIOLOGIA DO SISTEMA CIRCULATÓRIO ...............................................................................4
3 HEMATOPOESE......................................................................................................................................4
4 ÓRGÃOS HEMATOPOIÉTICOS.........................................................................................................8
4.1 MEDULA ÓSSEA ..............................................................................................................................8
4.2 TIMO....................................................................................................................................................9
4.3 BAÇO...................................................................................................................................................9
4.4 LINFONODOS..................................................................................................................................10
5 CÉLULAS SANGUÍNEAS MADURAS.............................................................................................11
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................14
AUTOATIVIDADE..................................................................................................................................15

TÓPICO 2 – SÉRIE ERITROCITÁRIA.................................................................................................17


1 INTRODUÇÃO......................................................................................................................................17
2 ERITROPOESE.......................................................................................................................................18
3 CARACTERÍSTICAS E FUNÇÃO DAS HEMÁCIAS....................................................................19
4 HEMOGLOBINAS HUMANAS.........................................................................................................20
5 ANEMIAS ...............................................................................................................................................22
5.1 ALTERAÇÕES ERITROCITÁRIAS ...............................................................................................22
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................27
AUTOATIVIDADE..................................................................................................................................28

TÓPICO 3 – SÉRIE LEUCOCITÁRIA...................................................................................................29


1 INTRODUÇÃO......................................................................................................................................29
2 LEUCOPOESE .......................................................................................................................................30
2.1 GRANULÓCITOS............................................................................................................................30
2.2 AGRANULÓCITOS.........................................................................................................................32
3 PRINCIPAIS ALTERAÇÕES LEUCOCITÁRIAS ...........................................................................33
4 LEUCEMIAS .........................................................................................................................................34
RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................39
AUTOATIVIDADE..................................................................................................................................40

TÓPICO 4 – HEMOSTASIA E COAGULAÇÃO................................................................................41


1 INTRODUÇÃO......................................................................................................................................41
2 PLAQUETAS E TROMBOCITOPOESE ...........................................................................................41
3 HEMOSTASIA E COAGULAÇÃO....................................................................................................43
4 DISTÚRBIOS DA HEMOSTASIA.....................................................................................................48
4.1 DISTÚRBIOS NA HEMOSTASIA PRIMÁRIA.............................................................................49
4.2 DISTÚRBIOS DA HEMOSTASIA SECUNDÁRIA (COAGULOPATIAS) . .............................49
LEITURA COMPLEMENTAR................................................................................................................53
RESUMO DO TÓPICO 4........................................................................................................................58
AUTOATIVIDADE..................................................................................................................................59

VII
UNIDADE 2 – CONSIDERAÇÕES SOBRE À IMUNOLOGIA BÁSICA.....................................61

TÓPICO 1 – CONHECENDO O SISTEMA IMUNE: PROPRIEDADES GERAIS DAS


RESPOSTAS IMUNES.....................................................................................................63
1 INTRODUÇÃO......................................................................................................................................63
2 CONHECENDO O SISTEMA IMUNE ............................................................................................64
2.1 CÉLULAS DO SISTEMA IMUNE..................................................................................................66
2.2 MOLÉCULAS DO SISTEMA IMUNE...........................................................................................74
2.3 TECIDOS LINFOIDES E SUAS FUNÇÕES..................................................................................75
3 RESPOSTAS IMUNOLÓGICAS .......................................................................................................78
3.1 IMUNIDADE INATA .....................................................................................................................79
3.2 IMUNIDADE ADAPTATIVA.........................................................................................................86
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................90
AUTOATIVIDADE..................................................................................................................................92

TÓPICO 2 – APROFUNDANDO O SISTEMA IMUNOLÓGICO.................................................95


1 INTRODUÇÃO......................................................................................................................................95
2 ANTÍGENO E ANTICORPOS ...........................................................................................................95
2.1 ANTICORPOS: ESTRUTURA, SÍNTESE E FUNÇÕES...............................................................96
3 MEMÓRIA IMUNOLÓGICA ..........................................................................................................100
4 SISTEMA COMPLEMENTO.............................................................................................................103
5 COMPLEXO DE HISTOCOMPATIBILIDADE.............................................................................112
5.1 PROCESSAMENTO E APRESENTAÇÃO DE ANTÍGENOS...................................................114
RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................117
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................119

TÓPICO 3 – PROPRIEDADES GERAIS DA IMUNIDADE ADAPTATIVA..............................121


1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................................121
2 IMUNIDADE CELULAR E MOLECULAR.....................................................................................121
2.1 ATIVAÇÃO DOS LINFOCITOS T – IMUNIDADE CELULAR...............................................121
2.2 ATIVAÇÃO DOS LINFOCITOS B – IMUNIDADE HUMORAL.............................................127
LEITURA COMPLEMENTAR..............................................................................................................129
RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................131
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................132

UNIDADE 3 – IMUNOLOGIA APLICADA.....................................................................................135

TÓPICO 1 – RESPOSTA IMUNOLÓGICA AOS MICRORGANISMOS...................................137


1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................................137
2 IMUNIDADE AOS MICRORGANISMOS ...................................................................................137
2.1 IMUNIDADE CONTRA BACTÉRIAS EXTRACELULARES..................................................138
2.2 IMUNIDADE CONTRA BACTÉRIAS INTRACELULARES..................................................142
2.3 IMUNIDADE CONTRA VÍRUS..................................................................................................145
2.3.1 Vírus da imunodeficiência humana (HIV) . ......................................................................148
2.4 IMUNIDADE CONTRA PARASITAS.........................................................................................151
2.5 IMUNIDADE AOS FUNGOS ......................................................................................................155
RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................157
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................159

VIII
TÓPICO 2 – HIPERSENSIBILIDADE E DOENÇAS AUTOIMUNES.........................................163
1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................................163
2 DOENÇAS AUTOIMUNES: CONCEITOS....................................................................................163
2.1 CARACTERÍSTICAS IMUNOLÓGICAS DAS DOENÇAS AUTOIMUNES ........................164
3 HIPERSENSIBILIDADES: MECANISMOS E CLASSIFICAÇÕES .........................................168
3.1 HIPERSENSIBILIDADE IMEDIATA: TIPO I..............................................................................168
3.1.1 Doenças relacionadas com a hipersensibilidade do Tipo I..............................................171
3.2 HIPERSENBILIDADE POR ANTICORPOS: TIPO II................................................................174
3.2.1 Doenças relacionadas à hipersensibilidade do Tipo II.....................................................176
3.3 HIPERSENSIBILIDADE MEDIADA POR IMUNOCOMPLEXOS: TIPO III.........................178
3.3.1 Doenças relacionadas com a hipersensibilidade do Tipo III...........................................179
3.4 HIPERSENSIBILIDADE POR CÉLULAS T: TIPO IV................................................................181
3.4.1 Doenças relacionadas com a hipersensibilidade do Tipo IV...........................................182
RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................184
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................185

TÓPICO 3 – IMUNOLOGIA E TRANSPLANTES...........................................................................187


1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................................187
2 TRANSPLANTES ...............................................................................................................................187
2.1 TIPOS DE TRANSPLANTES........................................................................................................188
2.2 IMUNOLOGIA DOS TRANSPLANTES ....................................................................................189
2.3 REJEIÇÃO: TIPOS DE REJEIÇÃO E TRATAMENTOS.............................................................192
LEITURA COMPLEMENTAR..............................................................................................................195
RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................200
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................201

REFERÊNCIAS........................................................................................................................................203

IX
X
UNIDADE 1

INTRODUÇÃO À HEMATOLOGIA
BÁSICA

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• conhecer os fundamentos da citologia sanguínea: órgãos


hematopoiéticos, hematopoiese, constituição do sangue e principais
características celulares;
• entender a série eritrocitária, as principais alterações das hemácias e
as doenças a elas associadas e conhecer os principais tipos de anemias;
• estudar as células que compõem a série leucocitária, suas
características e funções, desvios fisiológicos e patológicos e
principais tipos de leucemias e linfomas;
• compreender os mecanismos de hemostasia e coagulação sanguínea,
as principais alterações envolvidas e suas implicações clínicas;
• capacitar o aluno da fundamentação teórica necessária para a futura
execução de procedimentos laboratoriais para o diagnóstico clínico.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em quatro tópicos. No decorrer da
unidade, você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o
conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – INTRODUÇÃO ÀS CÉLULAS SANGUÍNEAS


TÓPICO 2 – SÉRIE ERITROCITÁRIA
TÓPICO 3 – SÉRIE LEUCOCITÁRIA
TÓPICO 4 – HEMOSTASIA E COAGULAÇÃO

CHAMADA

Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos


em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá
melhor as informações.

1
2
UNIDADE 1
TÓPICO 1

INTRODUÇÃO ÀS CÉLULAS SANGUÍNEAS

1 INTRODUÇÃO
Olá, acadêmico! Seja bem-vindo à primeira unidade do nosso Livro Didático
em Hematologia e Imunologia Básica! Nesta primeira unidade focaremos nos
conteúdos da disciplina de Hematologia e, nas duas unidades seguintes, abordaremos
os assuntos de Imunologia e Reações de Hipersensibilidade, respectivamente.

A Hematologia é a especialidade clínica que estuda os componentes


do sangue, principalmente, as células sanguíneas e os órgãos onde o sangue é
produzido, que são chamados de órgãos hematopoiéticos. O sangue é composto
por elementos celulares (eritrócitos, leucócitos e plaquetas) e por uma parte
líquida denominada plasma, que é composta em mais de 90% de água, além de
proteínas, eletrólitos e outras substâncias. Você sabia, acadêmico, que o volume
de sangue corporal varia ao longo da vida? É isso mesmo! O volume de sangue
existente no sistema circulatório é chamado volemia e tem relação com a idade,
o peso e a massa corporal do indivíduo. Um adulto pode ter de 4 a 6 litros de
sangue no organismo.

O sangue desempenha diversas funções vitais no nosso organismo,


como o transporte de oxigênio, nutrientes, hormônios, fatores de coagulação e
células de defesa, além da remoção de dióxido de carbono e outros resíduos do
metabolismo. É por isso que o estudo da hematologia é tão importante para o
profissional da área da saúde, em especial para o biomédico, pois é através do
exame hematológico (conhecido como hemograma) que podemos identificar
alterações no sangue periférico e relacioná-las com diversas doenças.

É importante ressaltar, acadêmico, que a hematologia é um assunto


fascinante, mas também bastante complexo. Por isso, sua participação e
comprometimento com a disciplina serão essenciais para o seu aprendizado.
Além do livro didático, procure ler as atividades de leituras complementares e
fazer os exercícios de autoatividades para uma melhor fixação do assunto que
será abordado neste tópico. Vamos lá?

3
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À HEMATOLOGIA BÁSICA

2 FISIOLOGIA DO SISTEMA CIRCULATÓRIO


O sangue é um tecido conjuntivo líquido que circula pelos vasos
sanguíneos, sendo impulsionado, principalmente, pela ação de bombeamento
do coração. Tem como função o transporte de nutrientes; transporte de oxigênio
para as células; retira dos tecidos o dióxido de carbono e os resíduos metabólicos;
contém células e outras substâncias que combatem infecções; transporta
hormônios e fármacos; é termorregulador. O sangue concentra o sistema de defesa
do organismo contra doenças e a invasão de patógenos, participa do equilíbrio
e da distribuição da água, regula o pH através do sistema de tampões, controla
a coagulação sanguínea e regula a temperatura corporal. O sistema sanguíneo
é formado por um conjunto complexo de transporte, que compreende os vasos
sanguíneos e um sistema de bombeamento, o coração (HOFFBRAND, 2013). As
funções do sistema circulatório estão representadas na Figura 1.

FIGURA 1 – FUNÇÕES DO SISTEMA CIRCULATÓRIO

FONTE: <http://midia.atp.usp.br/imagens/redefor/EnsinoBiologia/Fisio/2011-2012/top06_fig01w.jpg>.
Acesso em: 28 fev. 2020.

3 HEMATOPOESE

De acordo com Abbas (2015), a hematopoese é responsável pela produção


de todas as células do sangue. Esse processo ocorre, inicialmente, durante o
desenvolvimento fetal nas ilhotas sanguíneas do saco vitelino e no mesênquima
para-aórtico; depois, durante o desenvolvimento fetal se deslocam para o fígado
entre o terceiro e quarto mês de gestação e, finalmente, se localizam na medula
óssea. A medula óssea é o sítio mais importante a partir do 6º e 7º mês de vida
fetal. Após o nascimento, a hematopoese ocorre principalmente na medula dos
ossos chatos, e na puberdade, no esterno, nas vértebras dos ossos chatos, no osso
ilíaco e nas costelas.

4
TÓPICO 1 | INTRODUÇÃO ÀS CÉLULAS SANGUÍNEAS

A hematopoese é um processo de produção, diferenciação e maturação


das células sanguíneas, separados em: eritropoese, leucopoese e trombocitopoese.
De acordo com Hoffbrand (2013), a hematopoese inicia-se com uma célula
tronco pluripotente, do inglês, stem cell, também conhecida como célula tronco
hematopoiética (Figuras 2 e 3).

FIGURA 2 – CÉLULAS-TRONCO HEMATOPOIÉTICAS

FONTE: <https://www.coladaweb.com/wp-content/uploads/2014/12/20170313-celula-
tronco2.jpg>. Acesso em: 28 fev. 2020.

5
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À HEMATOLOGIA BÁSICA

DICAS

As células-tronco podem ser classificadas, em função de sua origem, em


embrionárias ou não embrionárias (células-tronco adultas e células-tronco de cordão
umbilical) ou potencialidade, isto é, capacidade de diferenciação em totipotentes,
pluripotentes e multipotentes.

• As células totipotentes podem dar origem a qualquer tipo de célula ou de tecido


que compõe o embrião e que o sustenta durante seu desenvolvimento uterino. A
divisão das células totipotentes resulta na formação das células pluripotentes (células-
tronco embrionárias), que se originam da massa interna do blastocisto (SCHWINDT
et al., 2005; SILVA JÚNIOR et al., 2009) e são um pouco mais limitadas na sua
diferenciação quando comparadas às células totipotentes. À medida que as células
pluripotentes se especializam, passam a constituir tecidos específicos e tornam-se mais
restritas, denominando-se multipotentes ou células-tronco adultas (células-tronco
hematopoiéticas e mesenquimais), cuja função é a reparação e manutenção tecidual
(SILVA JÚNIOR et al., 2009). As células-tronco de cordão umbilical compreendem um
conjunto de células-tronco tipo-embrionárias e tipo-adultas, isto é, pluripotentes e
multipotentes, respectivamente (NELSON et al., 2009).

FIGURA 3 – PROPRIEDADES DAS CÉLULAS-TRONCO HEMATOPOIÉTICAS

Multiplicação

Autor- Diferenciação
renovação

(a)

Células
maduras

Células-tronco Células progenitoras Precursores


multipotentes comprometidos

(b)

Figura1.3 (a) Com a diferenciação crescente, as células da medula óssea perdem a capacidade de autorreno-
vação à medida que amadurecem. (b) Uma única célula-tronco produz, depois de múltiplas divisões (mostradas
pelas linhas verticais), > 106 células maduras.

FONTE: Hoffbrand (2013, p. 4)

As células-tronco hematopoiéticas têm a capacidade de autorrenovação, ou


seja, também podem se diferenciar em diversas populações de células progenitoras
que darão origem às principais linhagens celulares. A diferenciação das células-
tronco hematopoiéticas é estimulada por substâncias chamadas citocinas,
também conhecidas como Fatores de Crescimento ou Fatores Estimuladores de
Colônias (CSF), produzidos por células do estroma medular e extramedular. É
importante lembrar, acadêmico, que, para que a hematopoiese ocorra de forma

6
TÓPICO 1 | INTRODUÇÃO ÀS CÉLULAS SANGUÍNEAS

correta é necessário, como pré-requisito, a existência de um microambiente


medular adequado que seja capaz de sintetizar os fatores de crescimento ou
fatores estimuladores de colônias necessários para a sobrevivência das células
progenitoras e para a sua diferenciação. Quando a medula óssea é danificada ou
quando uma demanda excepcional para a produção de novas células sanguíneas
ocorre, o fígado e o baço frequentemente se tornam locais de hematopoese
extramedular (HOFFBRAND, 2013).

Em termos celulares, diante de estímulos dados pelos fatores de


crescimento hematopoiético, as células-tronco hematopoiéticas se diferenciam
em células-tronco multipotentes, ainda capazes de se diferenciar em todas as
células sanguíneas. Essas células multipotentes, por sua vez, se diferenciam
em células progenitoras comprometidas com uma das linhagens celulares que
darão origem às células sanguíneas maduras. Existem dois tipos de células
progenitoras: progenitores linfoides, células comprometidas com a linhagem
linfoide responsáveis pela formação dos linfócitos T e B; e progenitores mieloides,
células comprometidas com a linhagem mieloide responsáveis pela formação
dos eritrócitos, granulócitos (neutrófilos, eosinófilos, basófilos) e monócitos. Na
Figura 4, podemos observar a hematopoese e o desenvolvimento das principais
linhagens sanguíneas (HOFFBRAND, 2013).

FIGURA 4 – HEMATOPOESE
Autor- cKIT+
Célula-tronco
Células-tronco

-renovação Sca-1+
hematopoética LIN–

Receptores para fator de crescimento independentes de linhagens


Progenitor
multipotente
Precursores comprometidos

Receptores para fator de crescimento específicos para linhagens (p. ex.: receptor para eritropoietina

Célula Célula CFU-Mix CFU-b/M/E


pró-B pró-T

Linfopoiese
Célula em divisão

Célula Célula CFU-G CFU-M CFU-eo CFU-b CFU-Mg CFU-E


pré-B pré-T
Precursores tardios
e formas maduras

linhagem esplênica

Mieloblasto Monoblasto Eosinófilo Basófilo Megacari- Eritroblasto


Marcadores de

imaturo imaturo oblasto

Célula B Célula T Neutrófilo Monócito Eosinófilo Basófilo Plaqueta Eritrócito

FONTE: ABBAS (2015, p. 77)


7
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À HEMATOLOGIA BÁSICA

4 ÓRGÃOS HEMATOPOIÉTICOS
Os órgãos hematopoiéticos são órgãos responsáveis pela produção,
diferenciação e maturação das células sanguíneas. Também são conhecidos
como órgãos linfoides ou tecidos linfoides. Os órgãos hematopoiéticos podem
ser classificados como órgãos geradores ou órgãos linfoides primários e órgãos
periféricos ou órgãos linfoides secundários. Os órgãos linfoides primários são
responsáveis pela produção das células, onde ocorre a diferenciação e maturação
celular, e compreendem a medula óssea (responsável pela produção de todas
as células sanguíneas) e o timo (responsável pela maturação dos linfócitos T).
Já os órgãos periféricos ou órgãos linfoides secundários são órgãos de defesa,
onde as respostas dos linfócitos aos antígenos estranhos são iniciadas, e incluem
o baço, os linfonodos, o sistema imunológico cutâneo e o sistema imunológico
das mucosas (ABBAS, 2015).

Caro acadêmico, agora iremos discorrer brevemente sobre cada órgão


hematopoiético e sua função na hematopoese.

4.1 MEDULA ÓSSEA


O principal órgão hematopoiético ou linfoide primário é a medula óssea.
Esse órgão é responsável pela produção de quase todas as células sanguíneas
maduras circulantes, também é responsável pela maturação do linfócito B. Na
medula óssea que encontramos a célula-tronco pluripotente ou célula-tronco
hematopoiética (ABBAS, 2015). Na Figura 5, podemos observar onde encontramos
a medula óssea, e a sua principal função.

FIGURA 5 – MEDULA ÓSSEA E A HEMATOPOESE

Medula óssea

Células-tronco
hematopiéticas

Plaquetas Célula-mãe
mielóide
Eosinófilos
Hemácias Célula-mãe
linfóide

Basófilos
Monócitos
Linfócito T Linfócito B
Neutrófilos

FONTE: <https://static.todamateria.com.br/upload/55/77/5577187f1af40-medula-ossea.jpg>.
Acesso em: 28 fev. 2020.
8
TÓPICO 1 | INTRODUÇÃO ÀS CÉLULAS SANGUÍNEAS

4.2 TIMO
Outro órgão linfoide primário é o timo, esse órgão é responsável pela
maturação dos linfócitos T. Veja bem, caro acadêmico, quem produz o linfócito T
é a medula óssea, mas o timo é responsável pela sua maturação, ou seja, é onde a
célula adquire a competência funcional. De acordo com Abbas (2015), o timo é um
órgão bilobado situado no mediastino anterior, cada lóbulo é dividido pelo septo
fibroso em múltiplos lóbulos, e cada lóbulo consiste em um córtex externo e uma
medula interna. Na puberdade, o timo atrofia, não aumenta mais de tamanho e
não perde a sua função. Na Figura 6 podemos observar a posição anatômica do
timo no corpo humano.

FIGURA 6 – POSIÇÃO ANATÔMICA DO TIMO

Glândula Timo

FONTE: <http://1.bp.blogspot.com/_QW1kJWMUIec/S9U_jzsi2WI/AAAAAAAAD9o/
bWSMhwruDpU/s400/si2141.jpg>. Acesso em: 28 fev. 2020.

4.3 BAÇO
Como um dos representantes dos órgãos linfoides secundários, vamos
falar um pouco sobre o baço. O baço tem um importante papel hematológico
e imunológico, é o principal órgão onde iniciam as respostas imunológicas a
antígenos provenientes do sangue. É dividido em dois tipos de tecidos esplênicos:
a polpa branca, a qual tem uma função imunológica e contém células que medeiam
as respostas imunológicas (linfócitos T e B); e a polpa vermelha, que tem função
hematológica por destruir os eritrócitos velhos e danificados. Na polpa vermelha
encontram-se muitas células como: eritrócitos, macrófagos, células dendríticas e
plasmócitos (WOOD, 2013). Na Figura 7, podemos observar a estrutura do baço.

9
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À HEMATOLOGIA BÁSICA

FIGURA 7 – ESTRUTURA DO BAÇO

O baço

Cápsula Polpa vermelha Polpa branca

Veia Seio
trabecular venoso

Artéria
Seção transversal da polpa branca trabecular Seção longitudinal da polpa branca

Coroa de células B
Centro germinal
Zona marginal
Zona perifolicular
Camada linfoide
periarteriolar
Arteríola central

Polpa vermelha

FONTE: Murphy (2014, p. 20)

4.4 LINFONODOS
Outros representantes dos órgãos linfoides secundários são os linfonodos. A
pele, os epitélios e os órgãos contêm numerosos vasos linfáticos que absorvem e drenam
o líquido (linfa) dos espaços entre as células dos tecidos e drenam para os linfonodos.
Os linfonodos são órgãos encapsulados, vascularizados e estão conectados em série
ao longo dos vasos linfáticos, conforme a Figura 8. A função de coletar os antígenos e
entregar para os linfonodos é efetuada pelos vasos linfáticos (ABBAS, 2015).

10
TÓPICO 1 | INTRODUÇÃO ÀS CÉLULAS SANGUÍNEAS

FIGURA 8 – SISTEMA LINFÁTICO E LINFONODOS

FONTE: Abbas (2015, p. 83)

TUROS
ESTUDOS FU

Os órgãos hematopoiéticos possuem funções hematológicas e imunológicas,


nas Unidades 2 e 3, deste livro, voltaremos a falar sobre eles!

5 CÉLULAS SANGUÍNEAS MADURAS


Caro acadêmico, até aqui enfatizamos a fisiologia do sistema circulatório,
aprendemos sobre a hematopoese e sobre os órgãos hematopoiéticos. Como
vimos, o objetivo da hematopoese é produzir células sanguíneas maduras capazes
de desempenhar diversas funções no nosso organismo. Agora estudaremos as

11
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À HEMATOLOGIA BÁSICA

células maduras que compõem o sistema hematológico e imunológico. Neste


tópico iremos apenas apresentar as células sanguíneas, nos Tópicos 2 e 3, desta
unidade, iremos aprofundar o estudo das células, suas funções e sua importância
dentro da hematologia.

O sangue é composto por elementos celulares (também chamados de


elementos figurados) e pelo plasma. Os elementos celulares, de acordo com
Zago (2013), são divididos em três diferentes grupos: a série eritrocitária, a série
leucocitária e a série plaquetária (Figura 9).

FIGURA 9 – ELEMENTOS CELULARES DO SANGUE

Glóbulos Vermelhos
Leucócito
Basófilo
Leucócito
Neutrófilo
Plasma
(60%)
Leucócito
Plaquelas
Eosinófilo

Glóbulos
Brancos

Plasma Glóbulos
Vermelhos
Linfócito
Monócito

FONTE: <https://static.todamateria.com.br/upload/co/mp/componentesdosangue.jpg>. Acesso


em: 6 jan. 2020.

A série eritrocitária ou vermelha é constituída pelos eritrócitos, que


também são chamados de hemácias ou glóbulos vermelhos. São células anucleadas,
de formato bicôncavo, constituídas por membrana plasmática e citoplasma. São
as células em maior número no sangue e são responsáveis pelo transporte de
gases como oxigênio e gás carbônico (FAILACE, 2009).

A série leucocitária ou branca é constituída por diferentes células que


são genericamente chamadas de leucócitos ou glóbulos brancos. Os leucócitos
formam o grupo mais distinto de células sanguíneas, pois cada subtipo possui
funções especificas e, em conjunto com outras células, desempenham o papel de
defesa imunológica do organismo. Os leucócitos são subdivididos em: neutrófilos
(multinucleado, os mais numerosos na circulação sanguínea); eosinófilos
(binucleado, células relacionadas a defesa de a micro-organismos parasitários, e
em reações de hipersensibilidades e alergias); basófilos (uninuclear, são leucócitos
menos numerosos, e participam de processos alérgicos); monócitos (uninuclear,
os maiores leucócitos encontrados no sangue, o seu aumento se deve a processos
inflamatórios e infecciosos); linfócitos (uninuclear, são células divididas em linfócitos

12
TÓPICO 1 | INTRODUÇÃO ÀS CÉLULAS SANGUÍNEAS

T e linfócitos B, relacionado à imunidade celular e humoral, respectivamente). Os


leucócitos são divididos em células granulares (que possuem grânulos no seu
interior) e agranulares (ausência de grânulos) (ZAGO, 2013).

A série plaquetária, por sua vez, é constituída pelas plaquetas ou


trombócitos e desempenham um papel fundamental na coagulação sanguínea.
As plaquetas são pequenos fragmentos citoplasmáticos anucleados, derivados
de células grandes chamado de megacariócitos presentes na medula óssea. Sua
principal função é fazer parte da hemostasia (equilíbrio sanguíneo), trombose e
coagulação sanguínea (ZAGO, 2013).

E
IMPORTANT

Escolhemos um recorte do site Revista Pesquisa Fapesp: O que é, o que é? O


baço, escrito por Ana Maria Caetano de Faria, Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

No meio de uma corrida, às vezes uma pontada no lado esquerdo do abdome obriga
a reduzir o ritmo. Chamada de “dor no baço”, na realidade trata-se de um espasmo do diafragma.
Este músculo e o baço estão conectados por um ligamento que pode causar dor quando
distendido. Geralmente basta diminuir a intensidade do esforço para ela passar. O baço tem
como principais funções: retirar de circulação as hemácias e as plaquetas velhas, armazenar o
ferro subtraído das hemácias e produzir anticorpos. Em casos graves de traumas, e para quem
apresenta raras doenças hemorrágicas ou de coagulação como anemia hemolítica ou púrpura
trombocitopênica, pode ser necessário extrair o baço. De modo geral, a sua ausência não
compromete a qualidade de vida. Quando removido, outros órgãos se encarregam de suas
atividades. O fígado retira as hemácias velhas do sangue e a medula óssea se responsabiliza
pela maior parte da produção dos anticorpos. Ele é mais importante na infância, período em
que ocorre a maturação do sistema imune e da reatividade imunológica. Ainda antes, no feto,
o baço é um dos principais produtores de células sanguíneas (leucócitos e hemácias). Pesquisas
recentes, porém, indicam que quem retira o baço corre mais risco de desenvolver sepse quando
infectado por bactérias como pneumococos, meningococos e hemófilos. Por isso, os médicos
agora evitam a extração completa do órgão. Deixa-se ao menos uma fração dele mesmo em
traumas causados por acidentes.

FONTE: FARIA, A. M. C. de. O que é, o que é? O baço. Revista Pesquisa Fapesp. 2012.
<https://revistapesquisa.fapesp.br/2012/05/11/o-que-e-o-que-e-6/>. Acesso em: 6 jan. 2020.

13
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:

• O sangue é um tecido conjuntivo líquido que circula pelos vasos sanguíneos,


sendo impulsionado, principalmente, pela ação de bombeamento do coração.

• O sangue tem como função o transporte de nutrientes; transporte de oxigênio


para as células; retira dos tecidos o dióxido de carbono e os resíduos metabólicos;
contém células e outras substâncias que combatem infecções, transporta
hormônios e fármacos, é termorregulador.

• A fase celular que é constituído por três diferentes linhagens celulares: série
eritrocitária, série leucocitária, e série plaquetária.

• O plasma sanguíneo é composto em mais de 90% de água, e ainda contém proteínas,


eletrólitos, gorduras, glicose, hormônios e numerosas outras substâncias.

• O processo de produção, diferenciação e maturação das células sanguíneas é


denominado hematopoese.

• A hematopoese inicia-se com uma célula tronco pluripotente, também


conhecida como célula tronco hematopoiética, essa célula tem capacidade de
autorrenovação e diferenciação em diversas populações distintas de células.

• Os órgãos hematopoiéticos são órgãos responsáveis pela produção,


diferenciação e maturação das células sanguíneas.

• Os órgãos linfoides primários são responsáveis pela produção das células,


onde ocorre a diferenciação e maturação celular: a medula óssea e o timo, são
exemplos desses órgãos.

• Os órgãos periféricos ou órgãos linfoides secundários, são órgãos de defesa,


onde as respostas dos linfócitos aos antígenos estranhos são iniciadas, são
definidos como órgãos linfoides secundários, o baço, os linfonodos, o sistema
imunológico cutâneo e o sistema imunológico das mucosas.

14
AUTOATIVIDADE

1 De acordo com os seus conhecimentos adquiridos sobre a hematopoese,


assinale (V) para as alternativas verdadeiras e (F) para as falsas:

( ) É responsável pela proliferação e diferenciação de elementos figurados


do sangue.
( ) Para que a hematopoese ocorra é necessário um microambiente
medular adequado, capaz de produzir fatores de crescimento ou fatores
estimuladores de colônias.
( ) A hematopoese inicia-se com uma célula tronco hematopoiética, uma
célula que não tem capacidade de autorrenovação e diferenciação.
( ) As células-tronco são divididas em função da sua origem em embrionárias e
não embrionária; ou pela sua potencialidade (capacidade de diferenciação).

a) ( ) V – V – V – V.
b) ( ) V – V – F – V.
c) ( ) F – V – F – V.
d) ( ) V – V – V – V.

2 Com relação aos órgãos linfoides, analise as afirmações a seguir e assinale a


alternativa CORRETA.

I- O baço é um órgão linfoide secundário, responsável pelo armazenamento


de um grande número de linfócitos B.
II- Os órgãos linfoides primários: medula óssea e timo, sendo o primeiro
órgão citado responsável pela produção de todas as células sanguíneas e
maturação de todas, inclusive células B e T.
III- O timo é um órgão linfoide que evolui ao longo da vida do ser humano.
Essa evolução está associada ao aumento nos níveis de corticosteroides
observados na adolescência e em situações como gravidez e estresse.
IV- O órgão responsável pela produção de todas as células do sistema
sanguíneo é o órgão linfoide primário, conhecido como medula óssea.

Assinale as alternativas corretas:


a) ( ) I e II.
b) ( ) II e IV.
c) ( ) III e IV.
d) ( ) I e IV.

3 Qual é a diferença entre os órgãos hematopoiéticos primários e secundários?

15
16
UNIDADE 1
TÓPICO 2

SÉRIE ERITROCITÁRIA

1 INTRODUÇÃO
Este tópico tem como objetivo apresentar a você, acadêmico, as células da
série vermelha do sangue, as hemácias ou também conhecidas como eritrócitos.
Serão abordadas as funções das hemácias e as suas correlações clínicas nas doenças
do sangue. Estudar as células sanguíneas e suas funções é de extrema importância
para a interpretação de exames hematológicos. O eritrograma é um exame que
analisa os eritrócitos e faz parte do exame laboratorial mais importante na área
médica, o hemograma. Além de monitorar a saúde, esse exame pode diagnosticar
doenças hematológicas, como anemia, leucemias, entre outras.

A série vermelha é composta pelas células anucleadas, denominadas de


hemácias, eritrócitos ou glóbulos vermelhos. São as células mais numerosas do
sangue e sua quantidade pode variar de acordo com a idade e o sexo, localizam-
se, em condições fisiológicas, no interior dos vasos sanguíneos e são ricas em
hemoglobina.

É importante ressaltar a necessidade da sua participação, acadêmico,


lendo a leitura complementares e os UNIs e realizando as autoatividades, visando
a uma melhor fixação do assunto que será abordado neste tópico. Lembre-se de
que após formado a emissão do laudo de um exame realizado por você será
crucial no diagnóstico, tratamento e cura de uma patologia.

Vamos lá?
Bons estudos!

17
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À HEMATOLOGIA BÁSICA

2 ERITROPOESE
De acordo com Zago (2013), um adulto, em condições normais, produz cerca
de 200 bilhões de glóbulos vermelhos por dia, substituindo número equivalente
de células destruídas e, assim, mantendo estável a massa total de hemácias do
organismo. A produção desses glóbulos vermelhos, pelo organismo é denominado
eritropoese. As hemácias são as células mais numerosas no sangue, a medula óssea
normal produz em média, de 400 a 500 mL de hemácias a cada 30 dias.

A partir de uma célula tronco, a eritropoese passa pelas células progenitoras


ou as unidades formadoras de colônias granulocíticas, eritroides, monocíticas e
megacariocíticas. O proeritroblastos é o primeiro precursor eritroide, uma célula
grande, com citoplasma azul-claro, com núcleo central. Esta célula passa por
várias divisões celulares e formam os eritroblastos. Estas células sofrem diversas
transformações (eritroblastos basófilos, eritroblastos policromáticos, eritroblastos
ortocromáticos, reticulócitos medulares, reticulócitos circulantes) até perderem o
núcleo e se diferenciarem em hemácias. Os reticulócitos (Figura 10) são células
maiores que as hemácias, retendo no citoplasma traços de basofilia, dando uma
coloração de policromatofilia (ZAGO, 2013).

FIGURA 10 – RETICULÓCITO NO ESFREGAÇO SANGUÍNEO

FONTE: <https://classconnection.s3.amazonaws.com/692/flashcards/2700692/jpg/
retic1359866581848.jpg>. Acesso em: 28 fev. 2020.

A eritropoese é regulada por um hormônio chamado de eritropoetina


(EPO), produzido em 90% por células renais e 10% por células do fígado, sendo
esse o principal fator de crescimento que regula a eritropoese. A produção
deficiente da EPO pode estar relacionada com algumas doenças, por exemplo, as
anemias, as quais iremos apresentar no decorrer deste tópico. Além da estimulação
da EPO, outros fatores também são necessários para a eritropoese, como: ferro,
ácido fólico, vitamina B12 e hemoglobina (ZAGO, 2013).

18
TÓPICO 2 | SÉRIE ERITROCITÁRIA

3 CARACTERÍSTICAS E FUNÇÃO DAS HEMÁCIAS


As hemácias, assim como vimos anteriormente, são células anucleadas,
com formato de disco bicôncavo, que medem cerca de 7,5 a 8,0 µm de diâmetro,
conforme demonstrado na Figura 11. A membrana do eritrócito em excesso
permite que a célula altere sua forma na passagem pelos capilares, sem sofrer
distensão ou rotura, e lhe confere o formato bicôncavo (FAILACE, 2009).

FIGURA 11 – ESTRUTURA DA HEMÁCIA

FONTE: <https://www.biologianet.com/histologia-animal/hemacias.htm>. Acesso em: 7 mar. 2020.

Os eritrócitos têm vida média de 120 dias na circulação, ao final desse


processo suas membranas se tornam frágeis e as hemácias velhas são removidas
da circulação. A contagem dos eritrócitos e a observação da sua morfologia
são realizados através de técnicas laboratoriais (FAILACE, 2009). Na Figura 12
podemos observar os eritrócitos em lâminas de esfregaço sanguíneo, e no Quadro
1, apresentamos os valores de referências dos eritrócitos.

QUADRO 1 – VALORES DE REFERÊNCIA DOS ERITRÓCITOS

Contagem de Eritrócitos
Homens 4,52 – 5,90 milhões/µl
Mulheres 4,10 – 5,10 milhões/µL

FONTE: Adaptado de Silva (2016)

19
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À HEMATOLOGIA BÁSICA

FIGURA 12 – ERITRÓCITOS NORMAIS EM ESFREGAÇO SANGUÍNEO

FONTE: Zago (2013, p. 4)

Caro acadêmico, vimos até aqui como é a estrutura de uma hemácia,


agora precisamos saber quais são as suas funções no organismo. A principal
função dos eritrócitos é o transporte de oxigênio dos pulmões para os tecidos,
mantendo a perfusão tissular adequada, e de transportar o gás carbônico dos
tecidos aos pulmões. A hemoglobina, principal proteína das hemácias (cerca de
95%), é responsável por essas funções (ZAGO, 2013).

4 HEMOGLOBINAS HUMANAS
A hemoglobina é uma metaloproteína, formada por globina e grupamento
heme. O heme é o resultado da combinação de um átomo de ferro com uma
molécula de porfirina. A hemoglobina é o principal componente das hemácias,
segundo Hoffbrand (2013), cada hemácia contém cerca de 640 milhões de
moléculas de hemoglobina.

As globinas, são estruturas no qual as cadeias ocupam os cantos, sendo


mantidas em união por pontes fracas. A hemoglobina é constituída por um
arranjo de quatro cadeias: alfa (metade das cadeias) e a outra metade (beta, delta
ou gama), Figura 13. No adulto há predomínio da hemoglobina com duas cadeias
alfa e duas beta: denominada hemoglobina A. Também existe uma pequena
porcentagem de hemoglobina com alfa e delta, denominada hemoglobina A2.
No feto encontra-se uma hemoglobina com dissociação gasosa adequada às
trocas próprias da vida intrauterina: hemoglobina F, ou hemoglobina fetal (alfa
e gama). Decresce após o nascimento e é apenas encontrada como traços no
adolescente e na vida adulta (ZAGO, 2013).

20
TÓPICO 2 | SÉRIE ERITROCITÁRIA

QUADRO 2 – HEMOGLOBINAS

HEMOGLOBINA COMPOSIÇÃO
A 2 globinas α + 2 globinas β
A2 2 globinas α + 2 globinas δ
F 2 globinas α + 2 globinas γ

FONTE: A autora (2019)

FIGURA 13 – ESTRUTURA DA HEMOGLOBINA

FONTE: <https://www.infoescola.com/wp-content/uploads/2008/06/hemoglobina.jpg>.
Acesso em: 28 fev. 2020.

A principal função da hemoglobina é o transporte de oxigênio (artérias)


e gás carbônico (veias), permitindo as trocas gasosas necessárias ao metabolismo
orgânico. Cada molécula de hemoglobina fixa 4 moléculas de oxigênio ao ferro
e constitui a oxihemoglobina. No transporte de gás carbônico, a hemoglobina
fixa o gás carbônico sobre ligamentos aminados laterais da globina, constituindo
a carbaminohemoglobina. A concentração normal de hemoglobina em um
indivíduo adulto é de 14 a 18 g/dL para homens; 11 a 16 g/dL para mulheres;
crianças de 6 a 12 anos 11,5 a 15,5 g/dL (FAILACE, 2009).

O ferro é um dos elementos mais comuns que podemos encontrar na


superfície da Terra, mesmo assim, sua deficiência é a causa mais comum de
anemia. Em regiões mais carentes a ingestão diária de ferro costuma ser insuficiente
(HOFFBRAND, 2013). O ferro é obtido através da alimentação, um adulto saudável
e bem nutrido contém de 3 a 4 gramas de ferro no organismo, distribuído sob a
forma de hemoglobina (65%), como ferritina (proteína de reserva de ferro localizada
no fígado) e hemossiderina (forma pigmentada de armazenamento de ferro)
(29%), como mioglobina (4%), em diversas enzimas celulares ou livre no plasma
sanguíneo (0,3%). O ferro é absorvido na mucosa do jejuno, após é liberado para
a circulação onde se liga à transferrina (proteína que carreia o ferro). Quando há
sobrecarga de ferro no organismo ocorre a diminuição de sua absorção, bem como
armazenamento de ferro (ferritina ou de hemossiderina) nas células do sistema
mononuclear fagocitário (da medula óssea, do baço e do fígado), no parênquima
hepático e no músculo esquelético (ZAGO, 2013).

21
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À HEMATOLOGIA BÁSICA

5 ANEMIAS
A anemia é definida como a diminuição da concentração de hemoglobina
no sangue, de acordo com a idade e o sexo. Segundo Zago (2013), anemia é
caracterizada por diminuição do hematócrito, da concentração de hemoglobina,
ou da quantidade de hemácias por unidade de volume. O hematócrito é o
percentual ocupado por eritrócitos no sangue, os valores variam de 40 a 50% para
homens e 35 a 45% para as mulheres, sendo um dos principais indicadores na
avaliação clínica dos indivíduos (FAILACE, 2009).

Podemos diferenciar as anemias em: anemias verdadeiras e anemias


relativas. As anemias verdadeiras são caracterizadas pela diminuição do número
total de hemácias no organismo; podem ter como origem: hemorragia aguda,
diminuição da produção de eritrócitos e diminuição da sobrevida dos eritrócitos.
As anemias relativas, por sua vez, são caracterizadas pela diluição sanguínea, pelo
aumento do volume plasmático, sem correspondente aumento das hemácias. Pode
ser decorrente de: gestação, hiper-hidratação, doenças crônicas, hiperproteinemia e
administração de fluídos intravenosos (ZAGO, 2013).

5.1 ALTERAÇÕES ERITROCITÁRIAS


Diversas alterações nos eritrócitos podem ser encontradas em um exame
hematológico e elas podem estar relacionadas a diversas doenças. As alterações
eritrocitárias podem ser de tamanho (anisocitose), de forma (pecilocitose
ou poiquilocitose) de coloração (anisocromia), além de inclusões celulares.
Denomina-se anisocitose alterações no tamanho dos eritrócitos, e ocorre quando
há presença de micrócitos (eritrócitos pequenos) e macrócitos (eritrócitos
grandes). A anisocitose é uma característica da maioria das anemias, as quais
podem ser classificadas em normocítica (presença de eritrócitos em tamanho
normal), microcítica (presença de eritrócitos pequenos) e macrocítica (presença
de eritrócitos grandes), a qual é determinado pelo valor do VCM (volume
corpuscular médio), este parâmetro avalia o tamanho das hemácias (medido por
unidade de fentolitro – fL) (SILVA, 2016). No Quadro 3, podemos observar os
valores de referência do VCM.

22
TÓPICO 2 | SÉRIE ERITROCITÁRIA

QUADRO 3 – CLASSIFICAÇÃO DAS ANEMIAS DE ACORDO COM OS VALORES DE VCM

Valores de VCM* Anemias


80 a 100 fentolitros Normocítica
Abaixo de 80 fentolitros Microcíticas
Acima de 100 fentolitros Macrocíticas
*Seus valores variam de acordo com a faixa etária, mas
não variam entre os sexos
FONTE: Adaptado de Zago (2013)

As anemias microcíticas podem ter como origem: distúrbios na produção


do ferro, por exemplo (anemia ferropriva, doenças crônicas); distúrbios nas
porfirinas e no heme (casos de anemias sideroblásticas); e distúrbios na síntese
da globina (casos da talassemia e hemoglobinopatias). Já as anemias macrocíticas
podem ter origem devido: deficiências da vitamina B12 e deficiência de folato.
Uma discreta macrocitose é uma característica fisiológica da gravidez, também
encontrada em idosos (ZAGO, 2013).

A anisocromia (coloração ou grau de hemoglobinização diferentes nas


hemácias) é outro parâmetro importante relacionado às anemias, que podem
variar entre hipocromia, normocromia, hipercromia e policromasia. O termo
normocromia refere-se à coloração normal das hemácias, róseo com uma zona
central clara, observando a concavidade da célula, significando que essas hemácias
possuem a quantidade normal de hemoglobina. O termo hipocromia refere-se às
hemácias de coloração pálida ou descoradas, significa quantidade insuficiente de
hemoglobina nas hemácias, normalmente aparecem nas anemias por deficiência
ou falta de absorção e armazenamento de ferro. Já o termo hipercromia refere-se
às hemácias intensamente coradas nas quais não se consegue observar a zona
central clara, isso se deve a uma grande quantidade de hemoglobina na célula
e ocorre em casos de esferocitose hereditária e observada na anemia hemolítica
autoimune. O termo policromasia refere-se à coloração róseo-azulada dos
eritrócitos imaturos, particularmente os reticulócitos jovens (ZAGO, 2013).

Outro parâmetro importante observado na classificação morfológica


das anemias é a presença de poiquilócitos no sangue (hemácias de formas
anormais), caracterizando a poiquilocitose. Podemos identificar a pouquilocitose
em um exame laboratorial, quando há presença dessas células em 25% ou mais da
contagem total de hemácias. No Quadro 4, podemos identificar algumas formas
anormais de hemácias (HOFFBRAND, 2013).

23
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À HEMATOLOGIA BÁSICA

QUADRO 4 – VARIAÇÕES NA FORMA DAS HEMÁCIAS (POIQUILOCITOSE)

Nome Forma Correlações clínicas


• Hemácias em forma de foice
Drepanócitos • Adquirem essa forma devido • Doenças falciformes
à presença da Hemoglobina S
• Hemácias em forma de
esferas • Anemias hemolíticas
Esferócitos
• Não se observa a zona central autoimunes
e perdem a concavidade
• Eliptocitose hereditária
• Formas ovaladas e elípticas
Eliptócitos/ • Encontradas em pequenas
• Defeito genético nas
ovalócitos quantidades nas talassemias,
proteínas do citoesqueleto da
anemia ferropriva e anemia
célula
megaloblástica
• Apresenta uma dupla • Podem ser encontrados nas
Condrócitos concavidade; hemoglobinopatias (SS, SC),
(hemácias em alvo) • A hemoglobina é visualizada talassemias, hepatopatias, em
(codócitos) na parte central, o que lhe dá pacientes esplenectomizados e
o aspecto “em alvo” na anemia ferropriva
• Comum na mielofibrose
Dacriócitos (forma • Forma de gota ou lágrima • Pode ser encontrado também
de lágrima) nas talassemias, anemias
hemolíticas e em pacientes
esplenectomizados
• Encontrados em hepatopatias,
sangue de recém-nascidos e na
• Halo central semelhante a
Estomatócitos estomatocitose hereditária, uma
uma boca de peixe
anemia hemolítica congênita
muito rara
• Se a fragmentação for
significativa, o paciente irá
apresentar manifestações de
• Hemácias fragmentadas
anemia hemolítica
Esquizócitos • Causadas por traumas
• Pode aparecer na Coagulação
mecânicos
intravascular disseminada (CIVD,
púrpura trombocitopênica
trombótica (PTT)

FONTE: A autora (2020)

24
TÓPICO 2 | SÉRIE ERITROCITÁRIA

Observe na Figura 14 as variações nas formas das hemácias.

FIGURA 14 – VARIAÇÕES NA MORFOLOGIA DAS HEMÁCIAS

Eliptócitos/Ovalócitos Esferócitos Dacriócitos

Drepanócitos Estomatócitos Esquizócitos


FONTE: Adaptado de <https://www.biomedicinapadrao.com.br/2012/01/alteracao-morfologica-
das-hemacias.html>. Acesso em: 6 jan. 2020.

Os eritrócitos podem, ainda, apresentar inclusões devido à presença de


remanescentes do material nuclear ou de mitocôndrias, ou à presença de micro-
organismos no seu interior. Vamos descrever algumas inclusões eritrocitárias
importantes (observe a Figura 15):

a) Corpúsculos de Howell-Jolly: são remanescentes de material nuclear presentes


no interior dos eritrócitos, apresentam-se como pequenos, basofílicos e
geralmente únicos. Normalmente aparecem em doenças falciformes.
b) Pontilhado basófilo: são pequenas e numerosas inclusões contendo RNA
dispersas no citoplasma dos eritrócitos, podem aparecer em anemias
hemolíticas e megaloblásticas.
c) Corpúsculos de Pappenheimer: refere-se a inclusões basofílicas, pequenas,
compostas de hemossiderina. Estão presentes em casos de sobrecarga de ferro.
d) Anéis de Cabot: referem-se a restos nucleares semelhantes a anéis azulados que
podem ser observados nas anemias megaloblásticas, nas anemias hemolíticas e
após esplenectomia.

25
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À HEMATOLOGIA BÁSICA

FIGURA 15 – INCLUSÕES ERITROCITÁRIAS

FONTE: Adaptado de Zago (2013)

TUROS
ESTUDOS FU

Caro acadêmico, no Tópico 3 iremos falar um pouco sobre os tipos de anemias


encontradas. Estudar os termos de anisocitose, anisocromia e poquilocitose é de extrema
importância. É preciso saber diferenciar cada termo e correlacionar as doenças clínicas.

26
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:

• As células sanguíneas e as suas funções são de grande importância para a


interpretação de exames hematológicos.

• A série eritrocitária é composta pelas células anucleadas, denominadas de


hemácias, eritrócitos ou glóbulos vermelhos.

• A eritropoese, passa pelas células progenitoras ou as unidades formadoras


de colônias de granulocíticas, eritroides, monocíticas e megacariocíticas. É
importante conhecer a síntese de produção das hemácias.

• As hemácias são células anucleadas, com formato de disco bicôncavo, e medem


cerca de 7,5 a 8,0 µm de diâmetro.

• A hemoglobina é um grupo de globinas relacionadas entre si, ligadas a um grupo


prostético (heme), responsável pela função respiratória destas substâncias.

• A anemia é definida como a diminuição da concentração de hemoglobina no


sangue abaixo dos valores normais, de acordo com a idade e o sexo.

• A anemia se caracteriza pela diminuição do hematócrito, da concentração de


hemoglobina no sangue, ou da concentração de hemácias por unidade de volume.

• Anisocitose significa alteração no tamanho das hemácias, já o termo Anisocromia


significa alteração na coloração das hemácias.

• A presença de hemácias de formas anormais, de qualquer forma possível,


que perfaçam 25% ou mais da contagem total de hemácias, denomina-se
pouquilocitose.

• Existem vários tipos de anemias, é importante saber o que cada uma causa, e
como diagnosticá-las.

27
AUTOATIVIDADE

1 Anisocitose é uma alteração apresentada em quais células?


a) ( ) Hemácias.
b) ( ) Leucócitos.
c) ( ) Eritroblastos.
d) ( ) Reticulócitos.
2 Preencha corretamente as lacunas com os seus respectivos significados:
I- Anisocitose.
II- Anisocromia.
III- Pouquilocitose.
( ) Alteração nas formas das hemácias.
( ) Alteração na coloração das hemácias.
( ) Alteração no tamanho das hemácias.
Assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) I – II – III.
b) ( ) II – I – III.
c) ( ) III – II – I.
d) ( ) III – I – II.
3 (FUNDASUS, 2015) Apresenta características de célula anucleada. É
constituída basicamente por uma membrana plasmática lipoproteica e um
citosol cujo conteúdo se restringe à proteína hemoglobina. Essa célula é
conhecida como:
FONTE: PICCOLI, A. 3.000 questões para concursos de patologia clínica. Rio de Janeiro:
Editora Rubio, 2012.

a) ( ) Eritrócito maduro.
b) ( ) Hemoglobina madura.
c) ( ) Plaqueta madura.
d) ( ) Monoblasto maduro.
4 (UFCG, 2016) Os glóbulos vermelhos são formados na medula óssea, em um
processo chamado eritropoiese, regulado pelo hormônio:
FONTE: PICCOLI, A. 3.000 questões para concursos de patologia clínica. Rio de Janeiro:
Editora Rubio, 2012.

a) ( ) Adrenalina.
b) ( ) Eritropoietina.
c) ( ) Insulina.
d) ( ) Eritroadrenalina.
5 A proteína responsável pelo transporte de ferro na síntese de hemoglobina é:
a) ( ) Globulina.
b) ( ) Ferritina.
c) ( ) Protoporfirina.
d) ( ) Transferrina.

28
UNIDADE 1
TÓPICO 3

SÉRIE LEUCOCITÁRIA

1 INTRODUÇÃO
Caro acadêmico, aprendemos até aqui sobre a hematopoese, sobre a série
eritrocitária e apresentamos as anemias. Agora estudaremos mais um assunto
importante dentro da hematologia, a série leucocitária ou série branca.

A série leucocitária é o grupo mais heterogêneo de células sanguíneas e


diferem tanto do ponto de vista morfológico quanto fisiológico. Os leucócitos
ou glóbulos brancos são células de defesa do nosso organismo, combatendo
micro-organismos invasores (bactérias, vírus, fungos, parasitas), pois são células
capazes de migrar para os locais onde a sua ação seja necessária.

Os leucócitos são divididos em dois grupos: granulócitos (neutrófilos,


eosinófilos e basófilos) e agranulócitos (monócitos e linfócitos). O granulócitos
apresentam granulações no citoplasma, com núcleo multiforme e segmentado; já
os agranulocitos possuem o citoplasma mais homogêneo, núcleo único e uniforme.
Os valores normais dos leucócitos e seus subtipos podem ser observados na
Tabela 1, descrita por Zago (2013).

29
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À HEMATOLOGIA BÁSICA

TABELA 1 – VALORES DE REFERÊNCIAS DOS LEUCÓCITOS

FONTE: Zago (2013, p. 5)

2 LEUCOPOESE
Aprendemos, até aqui, que a produção da série eritrocitária é chamada
de eritropoese, já a produção da série leucocitária, denominamos de leucopoese.
Como vimos no Tópico 1, todas as células sanguíneas se originam de uma célula
precursora chamada de célula-tronco hematopoiética, encontrada na medula
óssea. Segundo Abbas (2015), as células-tronco hematopoiéticas dão origem a dois
tipos de linhagens celulares, uma linhagem linfoide que dará origem aos linfócitos
T e B, e uma linhagem mieloide que dará origem aos neutrófilos, eosinófilos,
basófilos, monócitos e ainda às hemácias e plaquetas. A leucopoese divide-se em
granulopoese: onde ocorre a formação dos neutrófilos, eosinófilos e basófilos;
monocitpoese: onde ocorre a formação dos monócitos e; linfopoese: onde ocorre
a formação dos linfócitos e as células NK – Natural killer. A síntese dessas células
depende de citocinas e fatores estimuladores de crescimento de colônias. A seguir
abordaremos cada célula leucocitária, sua formação, estrutura e funções.

2.1 GRANULÓCITOS
Granulócitos é o nome genérico dado às células sanguíneas que contêm
grânulos no seu citoplasma, ou seja, os neutrófilos, eosinófilos e basófilos. A
granulopoese, por sua vez, é o nome dado à síntese dos granulócitos e começa com
a célula precursora chamada mieloblasto. O mioblasto é uma célula imatura que
durante o processo de maturação se diferencia em promielócito. Os promielócitos
se diferenciam em mielócito, e posteriormente em metamielócito, para então
ocorrer a diferenciação em bastonetes, células com núcleo com aspecto de
bastão encurvado. Por fim, ocorre a diferenciação nas células polimorfonucleares
(granulócitos). No decorrer do tópico falaremos um pouco sobre cada célula,
suas características e funções. Na Figura 16 podemos observar a síntese para a
produção das células polimorfonucleares (HOFFBRAND, 2013).

30
TÓPICO 3 | SÉRIE LEUCOCITÁRIA

FIGURA 16 – FORMAÇÃO DOS NEUTRÓFILOS, EOSINÓFILOS E BASÓFILOS

Mieloblasto Pró-mielócito Mielócito Metamielócito

Formação dos
Neutrófilos, Eosinófilos
e Basófilos

Bastonetes Neutrófilos Eosinófilos Basófilos

FONTE: Adaptado de <https://hematologia.farmacia.ufg.br/news?tags=Atlas>.


Acesso em: 7 jan. 2020.

Segundo Hoffbrand (2013), os neutrófilos possuem grande importância


para a defesa do organismo, sendo as células mais numerosas do sangue
periférico. O neutrófilo maduro possui de 3 a 4 lóbulos, cromatina densa,
citoplasma abundante com grânulos finos que ajudam na degradação do
patógeno. Possui a característica de ser uma célula fagocitária, sendo importante
na eliminação de bactérias e fungos. A sobrevida dos neutrófilos no sangue é de 6
a 10 horas, quando recrutados para locais de inflamações essas células aumentam
sua concentração plasmática em 4 a 5 vezes, o que chamamos de neutrofilia. Os
neutrófilos são as primeiras células a chegar no local da inflamação, realizando no
tecido a fagocitose, ou seja, englobam e ingerem os micro-organismos invasores.

Os eosinófilos são células semelhantes aos neutrófilos, exceto pelos


grânulos citoplasmáticos maiores e de cor avermelhada-alaranjada, quando
corados. São na maioria das vezes bilobulados, com cromatina densa e constituem
de 1-6% dos leucócitos do sangue. Atuam no sistema imunológico na defesa
contra parasitas helmínticos e nos mecanismos de alergia, como asma, nesses
casos essas células encontram-se em concentrações aumentadas, caracterizando
uma eosinofilia. O tempo dessas células no sangue é maior de que os neutrófilos,
de 8 a 12 horas, a maioria dessas células vive nos tecidos ao invés do sangue,
principalmente na pele, pulmões e vias áreas, locais onde atuarão nos processos
alérgicos, onde podem sobreviver de 8 a 12 dias (ABBAS, 2015). Nas unidades 2
e 3, abordaremos melhor a função dos eosinófilos e sua atuação nesses processos.

Os basófilos são os leucócitos menos numerosos na corrente sanguínea,


correspondendo a 1% do total dos leucócitos. Possuem núcleo arredondado
obscurecido por grânulos de coloração azul escuro ou roxo. Participam de
processos alérgicos com a função de liberação de histamina e heparina. A liberação
de heparina no local da invasão de patógenos evita a formação de coágulos,
permitindo a fácil penetração dos neutrófilos nessa área. Já a liberação de
histamina no local da inflamação produz vasodilatação, aumentando o diâmetro
dos vasos capilares, facilitando a migração dos neutrófilos. Quando essas células
chegam aos tecidos elas transformam-se em mastócitos (WOOD, 2013).
31
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À HEMATOLOGIA BÁSICA

2.2 AGRANULÓCITOS
A monocitopoese é a síntese dos monócitos, a qual começa por uma célula
precursora chamada de monoblasto. Essa célula se diferencia em pró-monócito
e posteriormente se divide em dois monócitos que passam a circular no sangue.
Os monócitos são os maiores leucócitos, segundo Hoffbrand (2013), e possuem
um núcleo grande, central e endentado; citoplasma abundante de coloração
acinzentado ou azul claro. Quando migram para os tecidos são chamados de
macrófagos (células fagocitárias) e desempenham um papel muito importante
no sistema imunológico contra os micro-organismos invasores, a fagocitose. No
sangue os monócitos são células imaturas, quando necessário elas migram dos
vasos sanguíneos no local da inflamação, adentram os tecidos e terminam sua
maturação se transformando em macrófagos teciduais. Na Figura 17, podemos
observar a síntese de formação dos monócitos.

Embora os macrófagos se distribuam por todo o organismo, existe


uma maior concentração dessas células no fígado (células de Kupffer); baço;
pulmões (macrófagos alveolares); sistema nervoso central (micróglia); e ossos
(osteoclastos). Os macrófagos participam da fagocitose das bactérias, e são células
apresentadoras de antígenos aos linfócitos T (ABBAS, 2015). Nas unidades 2 e 3
deste livro didático, conheceremos melhor os principais papéis dos macrófagos
na resposta imunológica.

FIGURA 17 – FORMAÇÃO DOS MONÓCITOS

FONTE: Adaptado de <https://hematologia.farmacia.ufg.br/news?tags=Atlas>.


Acesso em: 7 jan. 2020.

A linfopoese é a síntese de linfócitos, os quais são produzidos nos tecidos


linfoides e estão em menor quantidade nos tecidos hematopoiéticos da medula
óssea. A célula precursora da síntese dos linfócitos é o linfoblasto, que se diferencia
em pró-linfócito, para então se diferenciar em linfócito, com citoplasma escasso e
basofílico (roxo), núcleo com cromatina condensada. Os linfócitos B maturam na
medula óssea e circulam na corrente sanguínea até adquirirem reconhecimento
de antígenos, quando ativados se diferenciam em plasmócitos, que são células
produtoras de anticorpos e terão grande importância na resposta imunológica
humoral. Já os linfócitos T, maturam no órgão linfoide timo, nesse órgão o linfócito

32
TÓPICO 3 | SÉRIE LEUCOCITÁRIA

T vai adquirir a sua competência funcional, que é capacidade de reconhecer os


diferentes antígenos e controlar a produção de anticorpos pelo sistema de defesa
(ABBAS, 2013). Na Figura 18 é apresentada a síntese dos linfócitos.

Os linfócitos são os leucócitos mais complexos e as principais células de


defesa do nosso sistema imunológico, pois são a base da imunidade adquirida ou
adaptativa. Os linfócitos B tem um importante papel na imunidade humoral, já
os linfócitos T são as principais células efetoras da imunidade celular, tem uma
importante função no sistema imune, que é o reconhecimento de antígenos por
células apresentadoras de antígenos, há dois tipos de célula T; a célula T CD4+
(Auxiliar ou Helper) e a célula T CD8+ (Citotóxico), ambas com papéis importantes
na resposta imunológica, que serão aprofundados mais adiante.

FIGURA 18 – FORMAÇÃO DOS LINFÓCITOS

FONTE: Adaptado de <https://hematologia.farmacia.ufg.br/news?tags=Atlas>.


Acesso em: 7 jan. 2020.

3 PRINCIPAIS ALTERAÇÕES LEUCOCITÁRIAS


Os leucócitos podem apresentar alterações leucocitárias reacionais
(devido a processos de infecções virais, infecções bacterianas, uso de alguns
medicamentos), ou alterações hereditárias (HOFFBRAND, 2013). Neste tópico
abordaremos as principais alterações leucocitárias (observe a Figura 19):

a) Anomalia de Pelger-Huët: trata-se de uma alteração hereditária, uma anomalia


incomum, sem significado clínico, leucócitos com dois lobos.
b) Anomalia de May-Hegglin: trata-se de uma alteração hereditária, os neutrófilos
contem inclusões basófilas de RNA.
c) Granulações tóxicas: pequenas formações em grânulos que aparecem no
citoplasma dos neutrófilos, normalmente aparecem em casos de infecções
bacterianas.
d) Vacuolização citoplasmática: ocorrência em processos bacterianos, trata-se de
pequenos espaços circulares brancos, no citoplasma.
e) Corpúsculo de Dohle: são pequenas áreas de citoplasma, redondas ou ovais,
que se coram em azul suave, ocorrem em processos bacterianos.
f) Linfócitos atípicos: ocorrência em infecções virais, são linfócitos ativados ou
reativos que participam ativamente da resposta imune.

33
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À HEMATOLOGIA BÁSICA

FIGURA 19 – PRINCIPAIS ALTERAÇÕES LEUCOCITÁRIAS

4 LEUCEMIAS
As leucemias são um tipo de câncer que afeta o sistema hematopoiético.
Seu início acontece por uma mutação em uma única célula precursora na medula
óssea, a qual pode ocorrer por diferentes agentes causadores, como substâncias
químicas, radiação, tabagismo etc. As leucemias são divididas de duas formas.
A primeira é de acordo com a linhagem afetada, podendo ser mieloide (quando
afeta eritrócitos, granulócitos e plaquetas) ou linfoide (quando envolve linfócitos).
A segunda divisão é de acordo com a maturação da célula afetada, podendo
ser agudas ou crônicas (ZAGO, 2013). Os critérios iniciais de diagnósticos
são baseados nos achados morfológicos, citoquímicos e imunofenotipagem
das células neoplásicas no sangue periférico e medula óssea, os quais podem
determinar a linhagem que está envolvida, fase de maturação e a diferenciação
em que se encontra (SILVA, 2016).

Nas leucemias agudas, a célula precursora mutada (chamada blasto


leucêmico) adquire duas características importantes: a capacidade de se
dividir de forma descontrolada, dando origem a novas células alteradas, e a
incapacidade de se diferenciar em células sanguíneas maduras normais. Como
resultado, essas células alteradas se acumulam em grande quantidade na medula
óssea e chegam a atingir o sangue periférico. Uma vez na corrente sanguínea,
as células leucêmicas podem invadir outros tecidos, como o fígado e o baço, e
causar metástase (surgimento de um câncer em um tecido que não deu origem ao
tumor) (SWERDLOW et al., 2016).

Além disso, como resultado do acúmulo de células alteradas na


medula óssea, esta deixa de produzir as células maduras normais, o que leva à
diminuição de eritrócitos, granulócitos e plaquetas (Figura 20 e 21). A diminuição

34
TÓPICO 3 | SÉRIE LEUCOCITÁRIA

na concentração das células sanguíneas normais é a principal causa dos sintomas


das leucemias: maior risco de infecções (diminuição dos leucócitos), anemia
(diminuição das hemácias), manchas roxas na pele e problemas de coagulação
(diminuição das plaquetas) (SWERDLOW et al., 2016).

FIGURA 20 – MICROSCOPIA DO SANGUE NORMAL X LEUCEMIA

FONTE: <https://richet-storage.s3.amazonaws.com/uploads/imagens/RICHET_imagem-blog-
leucemia.png>. Acesso em: 28 fev. 2020.

FIGURA 21 – SANGUE PERIFÉRICO DE UM PACIENTE COM LEUCEMIA LINFOIDE AGUDA

FONTE: <https://www.biosanas.com.br/uploads/img/itens_area_atuacao/13/
e20e050a554e2af4b3542c25f6a85b3e.jpg>. Acesso em: 28 fev. 2020.
35
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À HEMATOLOGIA BÁSICA

E
IMPORTANT

Estimativas de novos casos: 10.800, sendo 5.940 homens e 4.860 mulheres


(INCA, 2018).
Número de mortes: 6837, sendo 3.692 homens e 3.145 mulheres (ATLAS DE
MORTALIDADE POR CÂNCER, 2015).

As leucemias crônicas afetam células precursoras que mantêm a capacidade de


maturação, ou seja, essas células afetadas conseguem se diferenciar em células maduras.
Porém, apesar de as células leucêmicas terem um aspecto maduro, elas perdem a sua
funcionalidade e não conseguem desempenhar sua função no organismo (ZAGO,
2013). As leucemias crônicas têm uma progressão mais lentas que as leucemias agudas
(HOFFBRAND, 2013).

Quando é causada por células precursoras bem diferenciadas, evolui mais


lentamente com tratamento mais brando ou, às vezes, nem precisa de tratamento.
As leucemias crônicas são classificadas em: Leucemia Linfoide Crônica (LLC) – tem
o desenvolvimento mais lento, acomete indivíduos com mais de 55 anos, e raramente
afeta crianças; Leucemia Mieloide Crônica (LMC) – afeta as células mieloides, tem
desenvolvimento mais devagar, e acomete mais adultos. As duas doenças têm
sintomas comuns, de anemia, fraqueza, esplenomegalia (LMC) e leucocitose. A doença
normalmente é descoberta pelos médicos, a partir dos exames de rotina (hemograma),
lentamente a leucemia crônica se agrava, e com o passar do desenvolvimento da
doença, os linfonodos começam a ficar inchados (SWERDLOW et al., 2016).

O percentual de blastos no sangue periférico e na medula óssea permanece


ainda como uma importante ferramenta para a avaliação de progressão da
doença, seja para uma doença mielodisplásica/mieloproliferativa (SILVA, 2016).
Na Figura 22, podemos observar um esfregaço sanguíneo de uma leucemia
mieloide crônica.

36
TÓPICO 3 | SÉRIE LEUCOCITÁRIA

FIGURA 22 – ESFREGAÇO DO SANGUE PERIFÉRICO DE UMA LMC

FONTE: <https://www.msdmanuals.com/pt/profissional/hematologia-e-oncologia/
leucemia/leucemia-mieloide-cr%C3%B4nica-lmc>. Acesso em: 28 fev. 2020.

DICAS

Visite o site do Instituto Nacional do Câncer – INCA, para aprofundar os seus


conhecimentos sobre leucemia e linfoma, disponível no link https://www.inca.gov.br/.

37
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À HEMATOLOGIA BÁSICA

Caro acadêmico, você conhece o REDOME, Registro Nacional de Doadores


Voluntários de Medula Óssea?

O Registro Nacional de Doadores Voluntários de Medula Óssea (REDOME) foi


criado em 1993, em São Paulo, para reunir informações de pessoas dispostas a doar medula
óssea para quem precisa de transplante. Desde 1998, é coordenado pelo Instituto Nacional
de Câncer José Alencar Gomes da Silva (INCA), no Rio de Janeiro.

Com mais de 4.000 milhões de doadores cadastrados, o REDOME é o terceiro maior


banco de doadores de medula óssea do mundo e pertence ao Ministério da Saúde, sendo o
maior banco com financiamento exclusivamente público. Anualmente são incluídos mais
de 300 mil novos doadores no cadastro do REDOME. O registro americano conta com
quase 7,9 milhões e o alemão, com cerca de 6,2 milhões. Ambos foram desenvolvidos e são
mantidos com recursos primordialmente privados.

O Centro de Transplantes de Medula Óssea (CEMO/INCA) é responsável pela


coordenação técnica e a Fundação do Câncer pela operação do REDOME, conforme
publicado na Portaria nº 2.600, de 21 de outubro de 2009, do Ministério da Saúde.

Agora que você já conhece sobre o REDOME, que tal se tornar um doador de
sangue ou medula óssea? Procure o hemocentro do seu estado e agende uma consulta de
esclarecimento ou palestra sobre a doação.

FONTE: BRASIL. Registro nacional de doadores voluntários de medula óssea. Redome,


c2020. Disponível em: <http://redome.inca.gov.br/>. Acesso em: 3 ago. 2019.

38
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:

• A séria branca ou glóbulos brancos são os grupos mais heterogêneos de células


sanguíneas, diferem-se tanto no ponto de vista morfológico quanto fisiológico.

• Os leucócitos são células de defesa do nosso organismo, combatendo micro-


organismos invasores (bactérias, vírus, fungos, parasitas).

• Leucopoese é o nome dado a produção das células da série branca.

• A granulopoese é o nome dado à síntese dos granulócitos. Que começa com a


célula precursora dos neutrófilos, eosinófilos e monócito.

• A morfologia e função de cada célula da série branca.

• O neutrófilo maduro possui de 3 a 4 lóbulos, cromatina densa, citoplasma


abundante com grânulos finos que ajudam na degradação do patógeno.

• Os eosinófilos possuem grânulos citoplasmáticos maiores e de cor vermelho-


alaranjada, quando corados. São na maioria das vezes bilobulados, com
cromatina densa e constituem de 1-6% dos leucócitos do sangue.

• Os basófilos são os leucócitos menos numerosos na corrente sanguínea,


correspondendo a 1% do total dos leucócitos.

• Os monócitos possuem um núcleo grande, central e endentado; citoplasma


abundante de coloração acinzentado ou azul claro. Quando saem para os
tecidos são chamados de macrófagos.

• Os linfócitos são os leucócitos mais complexos e as principais células de defesa


do nosso sistema imunológico, essas células são a base da imunidade adquirida
ou adaptativa.

• Os linfócitos B fazem parte da imunidade humoral, já os linfócitos T da


imunidade celular.

• As leucemias são divididas em: agudas ou crônicas, que por sua vez são
divididas em linfoides e mieloides.

39
AUTOATIVIDADE

1 Sabe-se que a especificidade das respostas imunológicas se deve aos linfócitos.


Morfologicamente semelhantes, essas células formam subconjuntos bem
diferentes em suas funções. Entre os linfócitos, o único tipo capaz de
produzir anticorpos é o:

a) ( ) Linfócito B.
b) ( ) Linfócito TCD4.
c) ( ) LinfócitoTCD8.
d) ( ) Macrófagos.

2 Célula de núcleo grande e arredondado, com chanfradura lateral que ocupa


quase toda a célula com cromatina densa e citoplasma escasso e basofílico.
Essas características peculiares são:

a) ( ) Eosinófilo.
b) ( ) Neutrófilos.
c) ( ) Linfócitos.
d) ( ) Monócitos.

3 Célula com grânulos citoplasmáticos maiores e de cor vermelho-alaranjada,


quando corados, são, na maioria das vezes, bilobulados com cromatina
densa. Atuam no sistema imunológico na defesa contra parasitas helmínticos
e nos mecanismos de alergia, como asma e processos alérgicos?

a) ( ) Eosinófilo.
b) ( ) Neutrófilos.
c) ( ) Linfócitos.
d) ( ) Monócitos.

4 Os granulócitos são produzidos na medula óssea, na qual se originam de


células progenitoras e precursoras. A linhagem granulocítica é constituída
por três tipos celulares, são eles:

a) ( ) Células-tronco, monócitos e linfócitos.


b) ( ) Neutrófilos, monócitos e eosinófilos.
c) ( ) Eosinófilos, basófilos e neutrófilos.
d) ( ) Promonócitos, basófilos e neutrófilos.

5 Quando se encontram corpúsculos de Döhle nos leucócitos, sabemos tratar-


se de um paciente com:

a) ( ) Anemias.
b) ( ) Infecções bacterianas.
c) ( ) Infarto recente.
d) ( ) Mononucleose infecciosa.

40
UNIDADE 1
TÓPICO 4

HEMOSTASIA E COAGULAÇÃO

1 INTRODUÇÃO
Este tópico, acadêmico, tem como objetivo abordar as células responsáveis
pela hemostasia, trombose e coagulação sanguínea, conhecidas como plaquetas
ou trombócitos. Neste tópico conheceremos a morfologia, fisiologia e função
das plaquetas; bem como os componentes do sistema hemostático, as vias de
coagulação, além dos distúrbios da coagulação.

Denominamos hemostasia o equilíbrio entre mecanismos pró-coagulantes e


anticoagulantes, associados a fibrinólise. O bloqueio de uma hemorragia, envolve
diversos fatores vasculares, plaquetas e plasma. Neste tópico também iremos estudar
os mecanismos reguladores na hemostasia e as anormalidades hemostáticas.

2 PLAQUETAS E TROMBOCITOPOESE
Segundo Zago (2013), as plaquetas ou trombócitos são fragmentos
citoplasmáticos formadas a partir de uma célula gigante medular chamada de
megacariócito e não possuem núcleo. Seu tamanho pode variar de um indivíduo para
outro, sendo de aproximadamente 2,9 a 4,3 µm, e espessura entre 0,6 e 1,2 µm. No
esfregaço sanguíneo apresenta-se como uma célula arredondada ou ovoide, citoplasma
azul-claro com grânulos vermelho-purpúreos homogeneamente distribuídos. Na
figura 23 podemos observar as plaquetas, em um esfregaço sanguíneo.

Os valores de referência, conforme Hoffbrand (2013), é 250.000 plaquetas a cada


µL sangue (limites de 150.000/µL a 400.000/µL); em média as plaquetas sobrevivem de
7 a 10 dias. A função das plaquetas está relacionada com a manutenção e integridade
vascular, na formação do tampão plaquetário e na estabilização da hemostasia. Isso
irá depender das suas propriedades de adesão e agregação, as plaquetas são capazes
de liberar substâncias que têm propriedades vasoconstritoras, enquanto outras agem
como enzimas e hormônios, com propriedades vasodilatadoras. As plaquetas são
fundamentais aos processos de interrupção da perda sanguínea (hemorragia), da
formação e da retração do coágulo.

41
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À HEMATOLOGIA BÁSICA

FIGURA 23 – PLAQUETAS EM UM ESFREGAÇO SANGUÍNEO

FONTE: Adaptado de <https://hematologia.farmacia.ufg>. Acesso em: 12 jan. 2020.

A trombocitopoese é a síntese das plaquetas, sendo estimulada pela


trombopoetina. As plaquetas são fragmentos dos megacariócitos, cada um pode
formar de 2 a 3 mil plaquetas. A célula precursora da síntese da trombocitopoese é
o megacarioblasto, após a célula se diferencia em pró-megacariócito, e por fim se
diferencia em megacariócito; que possui citoplasma granuloso e acidófilo, núcleo
polilobulado (4 a 8 lobos), ocorre demarcação do citoplasma para produção das
plaquetas e presença de plaquetas agrupadas na zona marginal. A síntese da
produção das plaquetas é observada na Figura 24. As plaquetas formam-se pela
fragmentação das extremidades das extensões do citoplasma dos megacariócitos,
na Figura 25, podemos observar como ocorre a formação das plaquetas a partir
dos megacariócitos (ZAGO, 2013).

FIGURA 24 – SÍNTESE DA PRODUÇÃO DE PLAQUETAS

Megacarioblasto Pró-megacariócito Megacariócito

FONTE: Adaptado de <http://academia.ciencia.tecnologia>. Acesso em: 12 jan. 2020.

42
TÓPICO 4 | HEMOSTASIA E COAGULAÇÃO

FIGURA 25 – DIAGRAMA DA PRODUÇÃO DE PLAQUETAS PELOS MEGACARIÓCITOS

FONTE: Hoffbrand (2013, p. 316)

3 HEMOSTASIA E COAGULAÇÃO
Segundo SILVA (2016), a hemostasia pode ser definida como o equilíbrio
entre a hemorragia e a trombose, ou seja, o sangue deve correr no sistema
circulatório de maneira fluida. Não pode extravasar e nem coagular: a primeira
situação caracteriza um quadro de hemorragia, e a segunda, de trombose. Caso
ocorra uma das duas situações, o organismo humano deve ter mecanismos que
inibam o extravasamento sanguíneo ou a formação de trombos.

Hemostasia é, como já vimos, o equilíbrio entre mecanismos pró-


coagulantes e anticoagulantes, ou seja, segundo Hoffbrand (2013), a resposta
hemostática normal ao dano vascular depende da interação entre a parede do
vaso, as plaquetas circulantes e os fatores de coagulação sanguínea. A Figura 26
exemplifica todos os eventos envolvidos, desde o dano vascular até o tampão
hemostático estável, neste tópico iremos estudar esses importantes eventos, que
fazem parte da hemostasia e coagulação.

43
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À HEMATOLOGIA BÁSICA

FIGURA 26 – EVENTOS ENVOLVIDOS NO DANO VASCULAR

Dano vascular

Exposição de colágeno
Adesão de plaquetas

Fator
tecidual
Ativação plaquetária
Alteração da forma, secreção dos
grânulos e ativação de GPIIb/IIIa
Serotonina Fosfolipídio
plaquetário
Vasoconstrição Cascata da
Tromboxano A2, ADP coagulação
sanguínea

Agregação plaquetária

Trombina
Diminuição Tampão
do fluxo sanguíneo hemostático primário

Fibrina

Tampão
hemostático estável

FONTE: Hoffbrand (2013, p. 315)

A hemostasia é realizada através da combinação de três processos: começa


com a hemostasia primária (onde ocorre a contração dos vasos e a adesão e
coagulação plaquetária), a hemostasia secundária (onde ocorrem as vias de cascata de
coagulação), e a fibrinólise (onde ocorre a hemostasia definitiva). Os componentes do
sistema hemostático são: os vasos sanguíneos (endotélio), as plaquetas, as proteínas
da coagulação (fatores), os anticoagulantes naturais (TFPI, Proteína C, Proteína S,
Antitrombina) e as proteínas do Sistema Fibrinolítico (HOFFBRAND, 2013).

Discorreremos agora um pouco sobre os três processos da hemostasia. O


processo inicial da coagulação é desencadeado pela lesão vascular, chama-se de
hemostasia primária. Imediatamente inicia-se a vasoconstrição, que é a formação
da rolha/tampão hemostática primária, onde ocorrerá a ação de mediadores
endoteliais pró-coagulantes, como: Fator Tecidual, Fator de von Willebrand
(VWF) e inibidor do ativador do plasminogênio (PAI-1). Na hemostasia primária
tem a participação das plaquetas, dos vasos sanguíneos e das células endoteliais
(FRANCO RF, 2001; SILVA 2016).

A formação da rolha/tampão hemostático primário, vai depender de


alguns fatores:

1º Adesão plaquetária: fixação de plaquetas a superfícies não plaquetárias; (Figura 27).


2º Atividade secretora: liberação de substâncias contidas nos grânulos densos e alfa.
3º Agregação plaquetária: fixação de plaquetas ativadas a uma outra plaqueta.

44
TÓPICO 4 | HEMOSTASIA E COAGULAÇÃO

FIGURA 27 – AÇÃO DA PLAQUETA NA HEMOSTASIA PRIMÁRIA

FONTE: Silva (2016, p. 327)

A hemostasia secundária é caracterizada pela coagulação, irá ocorrer a


ativação dos fatores de coagulação através da conversão da pró-trombina em
trombina; a trombina converte fibrinogênio (solúvel) em fibrina (insolúvel).
Os fatores de coagulação são identificados por número romanos, incluindo 10
fatores (SILVA, 2016).

A coagulação de sangue envolve um sistema de amplificação, no qual poucas


substâncias de iniciação ativam em sequência, por proteólise (quebra de proteínas),
uma cascata de proteínas precursoras circulantes (fatores enzimáticos da coagulação),
formando a trombina. Esta por sua vez, converte o fibrinogênio solúvel do plasma
em fibrina; o funcionamento dessa cascata requer uma concentração localizada de
fatores de coagulação circulantes nos sítios de lesão (HOFFBRAND, 2013).

A via da coagulação do sangue iniciada pelo fator tecidual (TF) na


superfície da célula. Quando o plasma entra em contato com o TF, o
fator VII liga-se ao TF. O complexo TF e VII ativado (VIIa) ativa X e
IX. O inibidor da via TF (TFPI) é um inibidor importante de TF/VIIa.
O complexo VIIIa e IX a amplia muito a produção de Xa a partir de X.
A geração de trombina a partir de protrombina pela ação do complexo
Xa-Va conduz a formação de fibrina. A trombina também ativa XI
(linha pontilhada), V e XIII. A trombina separa VIII do seu carreador
fator von Willebrand (VWF), aumentando muito a formação de VIIIa-
IXa e, assim, de Xa-Va (HOFFBRAND, 2013, p. 321).

Na Figura 28 podemos observar como ocorre a cascata da coagulação,


onde em verde-claro representa as serino-proteases; e em amarelo, os cofatores.
A Figura 29, também esquematiza o modelo de cascata de coagulação baseado
em superfícies celulares.

45
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À HEMATOLOGIA BÁSICA

FIGURA 28 – CASCATA DA COAGULAÇÃO

FONTE: Hoffbrand (2013, p. 321)

FIGURA 29 – NOVO MODELO DA CASCATA DA COAGULAÇÃO BASEADO


EM SUPERFÍCIES CELULARES

X
VIIa
Va

FT Xa
Iniciação II
Célula expressando
(nas células que o fator tecidual
expressam o FT)
FT VIIa
IIa (Trombina)

IXa IX

Amplificação
(na superfície das VIIIa VIIIa + FvW Va V XIa XI
plaquetas ativadas)

IXa IX

II
Va
Propagação (Complexo
(na superfície das protrombinase) +
plaquetas ativadas) Xa IIa (Trombina)

IXa + VIIIa

(Complexo
tenase) X

Fibrinogênio Fibrina

FONTE: Ferreira et al. (2010, p. 418)

46
TÓPICO 4 | HEMOSTASIA E COAGULAÇÃO

A célula endotelial forma uma barreira entre plaquetas e fatores de


coagulação e os tecidos conectivos subendoteliais. As células endoteliais produzem
substâncias que podem iniciar a coagulação, causar vasodilatação, inibir a agregação
plaquetária e a hemostais, e ainda ativar a fibrinólise. Podemos observar na Figura
30, como atuam essas substâncias produzidas pelas células endoteliais.

FIGURA 30 – SUBSTÂNCIAS PRODUZIDAS PELAS CÉLULAS ENDOTELIAIS

FONTE: Hoffbrand (2013, p. 321)

Em condições normais, os vasos sanguíneos devem constituir um sistema


não trombogênico capaz de desencadear os processos que iniciem a coagulação e
que, após a recuperação da lesão anatômica, possam remover o coágulo (fibrina
estável) e restabelecer a circulação local (fibrinólise). O esquema da fibrinólise
está representado na Figura 31. (HOFFBRAND, 2013).

FIGURA 31 – ESQUEMA DO SISTEMA FIBRINOLÍTICO

FONTE: Adaptado de Hoffbrand (2013)

47
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À HEMATOLOGIA BÁSICA

4 DISTÚRBIOS DA HEMOSTASIA
De acordo com Suely Meireles Rezende (2010), os distúrbios da hemostasia
abrangem diversas condições clínicas, podendo ser de gravidade variável em diversos
locais do corpo. Podem ser classificadas em congênitas e adquiridas, dividindo-
se em distúrbios vasculares e plaquetários (hemostasia primária); e distúrbios da
coagulação (hemostasia secundária). Na Figura 32, podemos ver a diferença entre as
doenças vasculares/plaquetárias e as doenças por fatores de coagulação.

FIGURA 32 – DIFERENÇAS CLÍNICAS ENTRE DOENÇAS PLAQUETÁRIAS/VASCULARES E


DOENÇAS DA COAGULAÇÃO

FONTE: Hoffbrand (2013, p. 331)

Alterações na hemostasia primária caracterizam por doenças hemorrágicas


chamadas de púrpuras; já as alterações na hemostasia secundária caracterizam-
se pelas doenças hemorrágicas denominadas de coagulopatias (SILVA, 2016). A
Figura 33 representa a hemostasia e todos os fatores que para ela concorrem,
definindo-os entre hemostasia primária e secundária.

FIGURA 33: FATORES QUE CONCORREM PARA O EQUILÍBRIO HEMOSTÁTICO

Vasos sanguíneos Plaquetas Células endoteliais


Hemostasias 1a e 2a Hemostasias 1a e 2a Hemostasias 1a e 2a

HEMOSTASIA

Fatores da coagulação Sistema fibrinolítico


Hemostasias 2a Hemostasias 2a

Inibidores fisiológicos
Mecanismos antifibrinolítico
da coagulação
Hemostasias 2a
Hemostasias 2a

FONTE: Silva (2016, p. 318)

48
TÓPICO 4 | HEMOSTASIA E COAGULAÇÃO

4.1 DISTÚRBIOS NA HEMOSTASIA PRIMÁRIA


Neste item abordaremos os distúrbios vasculares e plaquetários, que
podem ser divididos ainda em hereditários e adquiridos. Os distúrbios vasculares
ocorrem quando há um extravasamento espontâneo de sangue, por defeitos nos
vasos ou no tecido conectivo, geralmente não é grave, e nos exames de triagem
aparecem normais. As manifestações clínicas são: petéquias (pequenos pontos
vermelhos no corpo, causado por uma pequena hemorragia de vasos), equimoses
(hematomas subcutâneos), sangramento nas mucosas. Podemos dividir os
distúrbios vasculares em: distúrbios vasculares hereditários: teleangiecstasia
(vasos capilares finos) hemorrágica hereditária, doenças do tecido conectivo,
hemangioma cavernoso gigante; e distúrbios vasculares adquiridos: equimose
na mulher em idade fértil, púrpura da senilidade, púrpura associada a infecções,
escorbuto, púrpura do uso de esteroides (HOFFBRAND, 2013).

Jáos distúrbios plaquetários, que podem ser caudadas por menor produção
de plaquetas, aumento de produção das plaquetas e defeito na função das plaquetas,
são manifestados em algumas doenças como: trombocitopenia e púrpura cutânea. A
PTI (Púrpura Trombocitopênica Idiopática) age de forma autoimune, pode ocorrer
de forma aguda ou crônica, é considerada idiopática, mas pode estar relacionada
a outras doenças (Lúpus, AIDS, Helicobacter pylori). A PTI crônica tem um início
insidioso e com manifestações discretas (petéquias, equimoses, menorragia), os
sangramentos só ocorrem em casos mais severos e o diagnóstico é realizado através
da contagem de plaquetas que fica entre 10.000 e 100.000/uL. A hemoglobina e
leucograma estarão normais, exceto em anemia ferropriva por perda sanguínea. A
PTI aguda é mais comum em crianças, especialmente após vacinação ou infecção
(varicela, mononucleose). Em 5 a 10% dos casos tornam-se crônicos e o diagnóstico
é realizado por exclusão de outras doenças (HOFFBRAND, 2013).

4.2 DISTÚRBIOS DA HEMOSTASIA SECUNDÁRIA


(COAGULOPATIAS)
A hemofilia A está relacionada a deficiência do fator VIII; enquanto que a
hemofilia B está relacionada à deficiência do fator IX ou Christmas; e a doença de
Von Willebrand (VWD) está relacionada à deficiência do fator VWD, essas são os
distúrbios secundários mais frequentes, as outras doenças relacionadas a fatores
de coagulação são mais raras (HOFFBRAND, 2013).

Falaremos agora um pouco sobre a hemofilia A, que é a mais comum


das deficiências hereditárias e tem herança ligada ao sexo (cromossomo X).
As manifestações clínicas incluem: hemorragias, hematomas musculares e
hemartroses que podem levar a deformidades articulares, neuropatia, necrose
isquêmica, e raramente, hemorragia intracerebral. Na Figura 34 podemos
observar como ocorre a doença. O diagnóstico é realizado através de exames para

49
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À HEMATOLOGIA BÁSICA

diagnóstico dos distúrbios da coagulação, também são realizados testes genéticos


para detecção de portadores de alterações gênicas e diagnóstico pré-natal em
gestantes. Na Figura 35, descrevemos alguns testes usados no diagnóstico de
distúrbios da coagulação (HOFFBRAND, 2013).

FIGURA 34 – HERANÇA LIGADA AO SEXO, HEMOFILIA A

FONTE: Hoffbrand (2013, p. 346)

FIGURA 35 – TESTES DIAGNÓSTICOS USADOS NA DETECÇÃO


DE DISTÚRBIOS DA COAGULAÇÃO

FONTE: Hoffbrand (2013, p. 328)

50
TÓPICO 4 | HEMOSTASIA E COAGULAÇÃO

A hemofilia B, ou Doença de Christmas, ocorre por deficiência do fato IX.


As manifestações clínicas são idênticas à hemofilia A, diferencia-se na dosagem
de fator IX. O tratamento ocorre de forma semelhante, porém o fator IX purificado
tem maior sobrevida (dura mais tempo no organismo do paciente), levando o
paciente a fazer menos infusões.

A Doença de Von Willebrand, por sua vez, atinge mais as mulheres e ocorre
a diminuição do nível plasmático ou função anormal do fator vWF devido a uma
mutação gênica. O fator vWF é sintetizado por células endoteliais e megacariócitos
e tem duas funções principais: mediar a adesão das plaquetas ao subendotélio
lesionado; e manter os níveis plasmáticos do fator VIII ao ligar-se a ele, retardando
a sua degradação. As manifestações clínicas apresentadas são: sangramentos leves
a moderados que variam com a intensidade da doença; hematomas; sangramentos
menstruais prolongados; sangramentos nasais; sangramentos excessivos após
pequenos cortes; gengivorragia; e equimoses. O diagnóstico da Doença de Von
Willebrand é realizado através de exames laboratoriais, onde serão apresentados:
teste de sangramento anormal; níveis de vWF e fator VIII baixos; TTPa prolongado; e
agregação plaquetária defeituosa (HOFFBRAND, 2013).

DICAS

Se você é uma pessoa com hemofilia, ou se o seu filho tem hemofilia, é importante
que tenha atenção em diversos aspetos. Faça uma observação diária da sua condição, e
inclua na sua rotina esta prática. Na hemofilia moderada, tal como na hemofilia grave, é
possível que ocorram perdas de sangue (hemorragias) sem causa aparente ou que resultem
de um ferimento ligeiro. No caso da hemofilia ligeira, raramente os pequenos acidentes do
dia-a-dia provocam perdas de sangue (hemorragias). Se o seu filho tem hemofilia moderada
deve observá-lo cuidadosamente, todos os dias:

51
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À HEMATOLOGIA BÁSICA

Verificar inchaços ou Observar o tamanho e o


Observar a pele da criança nódoas negras movimento dos braços e pernas

Músculos e articulações
contraídos e inchados Sensação de calor

Membro dorido de difícil Inchaço ou nódoa negra, Perdas de sangue na


movimentação devido a pancada na cabeça boca ou língua

Perdas de sangue
Sangue nas fezes ou urina nasais frequentes

FONTE: Disponível em: <https://www.unidospelahemofilia.pt/viver-com-hemofilia/


recomendacoes-para-o-dia-a-dia/#1457826271084-bfe468fd-137c>. Acesso em: 4 ago. 2019.

52
TÓPICO 4 | HEMOSTASIA E COAGULAÇÃO

LEITURA COMPLEMENTAR

HEMOFILIAS: FISIOPATOLOGIA, DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO

Roberta Truzzi Colombo


Gerson Zanusso Júnior
Introdução

A hemofilia, uma coagulopatia hereditária, caracteriza-se pela deficiência


da atividade coagulante do fator VIII (hemofilia A) ou IX (hemofilia B). Esta
doença é decorrente de alterações nos genes codificantes destes fatores. Assim,
sua ocorrência no sexo masculino é quase exclusiva, devido ao fato de o homem
apresentar somente um cromossomo X. Porém, as mulheres atuam como
portadoras, quando apresentam um dos cromossomos X marcado com o gene
hemofílico (ALMEIDA, 2008).

A hemofilia A, conhecida como clássica, atinge cerca de 85% dos pacientes,


enquanto a hemofilia B, conhecida como Fator Christmas, atinge cerca de 15%
dos pacientes (RODRIGUES, 2005).

A prevalência das hemofilias nos diversos grupos étnicos é de


aproximadamente 1:10.000 e 1:40.000 a 50.000 nascimentos masculinos (3,4).
Assim, a cada 10 mil indivíduos do sexo masculino nascidos 1-2 são afetados
com a doença (CHAVES; RODRIGUES, 2009). No Brasil, em 2007, foi traçado
um panorama da distribuição de todas as coagulopatias hereditárias, pela
Coordenação de Política Nacional de Sangue e Hemoderivados (CPNS), com base
em informações encaminhadas pelos Estados. O estudo apontou a existência de
8.168 pacientes cadastrados, dos quais 6.885 portadores de hemofilia A e 1.283
portadores de hemofilia B (MANSO, 2011).

As hemofilias podem decorrer de fatores hereditários ou adquiridos.


As formas adquiridas são mais raras, podendo resultar do desenvolvimento de
alo-anticorpos, associados a doenças autoimunes, câncer ou causas de origem
idiopática (PIO et al., 2009). A hemofilia A adquirida é uma alteração rara da
coagulação sanguínea, que consiste no aparecimento de anticorpos circulantes
contra a atividade pró-coagulante do fator VIII. Essa condição pode ser relatada
em associação com doenças como artrite reumatoide, lúpus eritematoso sistêmico
e Síndrome de Sjögren. Este tipo de hemofilia tem sido relatada em idosos sadios,
mulheres no pós-parto, além de ser relacionada ao uso de fármacos como a
penicilina (FREIRE et al., 2009).

Tanto a hemofilia A, como a hemofilia B apresentam as mesmas características


genéticas e clínicas, apresentando as mesmas anormalidades em testes de triagem
(BERNARD; LÉVY, 1998). Para diferenciá-las é necessário fazer a dosagem das
atividades dos anticoagulantes dos fatores VIII e IX em ensaios específicos. Isso se
faz necessário porque o sangramento com frequência é tratado com concentrados
de plasma contendo um dos fatores, mas não ambos (RAPAPORT, 1990).

53
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À HEMATOLOGIA BÁSICA

A classificação clínica das hemofilias baseia-se nos níveis plasmáticos


de antígeno (Ag) ou atividade coagulante do fator deficiente. Podem ocorrer
hemorragias sob a forma de hematúria, epistaxe, melena/hematêmese, ou se
apresentarem como hematomas, sangramentos retroperitoniais e intra-articulares
(hemartroses), que constituem um dos aspectos mais característicos das formas
graves da doença (BRASIL, 2011).

Em indivíduos que apresentam hemofilia A grave (aproximadamente 50%


dos casos), um processo hemorrágico pode ocorrer espontaneamente, enquanto, em
pacientes com hemofilia moderada (cerca de 10% dos casos) apresentam um fenótipo
intermediário. Pacientes portadores da forma leve da doença (30 a 40% dos casos)
sofrem hemorragias pós-trauma ou pós-cirurgia (CHAVES; RODRIGUES, 2009).

Sendo a hemofilia uma doença que atinge um número considerável de


pacientes, este trabalho teve por objetivo realizar uma revisão bibliográfica sobre
a fisiopatologia, classificação, formas de diagnóstico, tratamento convencional e
avanços da biotecnologia.

Histórico da doença

O caso mais antigo da doença é relatado no Talmude (FEDERAÇÃO


BRASILEIRA DE HEMOFILIA, 2011). Neste são encontrados dois relatos de famílias
que perderam seus dois primeiros filhos após o acontecimento de uma intensa
hemorragia. Devido o desconhecimento real da causa, os rabinos sugeriam que este
fato acontecia somente com mulheres que se casavam duas vezes (MACEDO, 2005).

O relato mais conhecido da história da hemofilia é o da Família Real inglesa,


que com o passar dos séculos, espalhou-se pela Europa em consequência de vários
casamentos realizados pelos descendentes da Rainha Vitória (ASSOCIAÇÃO
PORTUGUESA DE HEMOFÍLICOS, 2011).

Fisiologia da coagulação

Quando a parede de um vaso sanguíneo é lesada, inicia-se um processo


denominado hemostasia, que tem por função impedir a perda de sangue
(CARNEIRO; JUNQUEIRA, 2004). A hemostasia é provocada por meio de diversos
mecanismos: (a) constrição vascular, (b) formação de tampão de plaquetas, (c)
formação de coágulo sanguíneo, como resultado da coagulação do sangue, e (d)
eventual crescimento de tecido fibroso no coágulo, para o fechamento permanente
do orifício do vaso (GUYTON; HALL, 2006).

A primeira etapa do processo de hemostasia consiste na constrição imediata


dos vasos danificados, diminuindo temporariamente o fluxo e a pressão dentro do
vaso, auxiliando na formação do tampão plaquetário. Em seguida, as plaquetas
ligam-se ao colágeno exposto e tornam-se ativas liberando citocinas dentro da
área e torno da lesão. Simultaneamente, o colágeno exposto e fatores presentes nos
tecidos iniciam uma série de reações conhecidas como cascata da coagulação. Nesta

54
TÓPICO 4 | HEMOSTASIA E COAGULAÇÃO

cascata, proteínas inativas do plasma são convertidas em enzimas ativas. A enzima


trombina converte o fibrinogênio em fibrina reforçando o tampão plaquetário que
passa a ser conhecido como coágulo (SILVERTHORN, 2005).

No processo de coagulação do sangue, participam várias substâncias


denominadas fatores da coagulação. Muitos são pró-enzimas sintetizadas pelo
fígado e que se transformam em enzimas durante o processo de coagulação
(CARVALHO, 2008). A coagulação é dividida em duas vias: uma via intrínseca,
que inclui os seguintes fatores: XII, XI, IX, VIII, precalicreína, e cininogênio de
alto peso molecular, e uma via extrínseca, que inclui o fator VII. Estas duas vias
unem-se em uma via comum, que compreende os seguintes fatores: V, X, II e I,
cuja função é criar a trombina, que converte o fibrinogênio em fibrina formando
um coágulo estável (SILVERTHORN, 2005).

O sistema intrínseco compreende os fatores da coagulação presentes


no plasma associados ao cálcio e plaquetas. Possivelmente, o contato com
uma superfície estranha diferente do endotélio vascular remove do sangue
u inibidor da coagulação. Assim, o fator XII atua enzimaticamente, ativando
progressivamente os fatores XI, IX, VII, V e X da coagulação. O sistema extrínseco
tem função de ativar o fator VII, e este atua enzimaticamente sobre os fatores V
e X. A hemostasia depende, portanto, da integridade de cada um dos fatores da
coagulação (CARVALHO, 2008).

Fisiopatologia da coagulação

A coagulação do sangue compreende uma série de reações bioquímicas


sequenciais envolvendo a interação de proteínas, comumente referidas como
fatores da coagulação, além de células, particularmente as plaquetas e íons.
Este processo leva à formação de um coágulo, cujo principal componente é
a fibrina. Na deficiência de um destes fatores da coagulação pode ocasionar
doenças hemorrágicas, ou coagulopatias. As principais manifestações clínicas
destas doenças são os sangramentos espontâneos ou após um trauma ou cirurgia
(PIO et al., 2009). As hemofilias A e B, com a doença de von Willebrand, são as
coagulopatias hereditárias de maior prevalência na população mundial e resultam
em sangramentos prolongados. As hemofilias A e B caracterizam-se pela redução
da atividade dos fatores da coagulação VIII e IX, respectivamente. A hemofilia A
é responsável por 75% a 80% dos casos, e a hemofilia B, por 20% a 25%.

Manifestações clínicas

A gravidade das manifestações hemorrágicas nas hemofilias varia de


acordo com o grau de deficiência do fator. São encontrados três graus de severidade
da doença: grave, moderado e leve (OLDRA, 2003). Os portadores de hemofilia
severa possuem atividade coagulante de fator VIII ou IX abaixo de 1% do normal,

55
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À HEMATOLOGIA BÁSICA

os portadores de hemofilia moderadamente severa possuem atividade entre 1 a 5%


do normal e os portadores de hemofilia leve possuem atividade entre 5 e 30% do
normal. Estes dados refletem a existência de diferentes alelos anormais, capazes de
manter níveis diferentes de atividade de fator VIII ou IX (RAPAPORT, 1990).

As hemorragias ocorrem principalmente sob a forma de hematomas e


hemartroses. As hemartroses de repetição quando não tratadas estão associadas à
degeneração articular, chamadas de artropatia hemofílica, tendo como conseqüência
dor, deformidades articulares e impotência funcional grave (BRASIL, 2011).

Podem ocorrer hemorragias sob forma de hematúria, epistaxe, melena/


hematêmese, ou se apresentarem como hematomas, sangramentos retroperitoniais
e intra- -articulares (hemartroses), que constituem um dos aspectos mais
característicos das formas graves da doença. Nos casos de hematúria o sangramento
pode prolongar- -se por semanas, mas a avaliação da perda sanguínea somente
pelo aspecto da urina é precária, devido a diluição do sangue. Geralmente,
as hemorragias desencadeadas por trauma iniciam-se entre uma a três horas
após o trauma e podem durar vários dias e, dificilmente, cedem à pressão local,
diferentemente das hemorragias resultantes de defeito vascular, que são imediatas,
cedem em poucas horas e respondem a tratamento local (BRASIL, 2009).

A hemartrose consiste no extravasamento de sangue para o interior da


articulação ou para a cavidade sinovial. É o elemento clínico mais caraterístico
da hemofilia e inicia-se geralmente em articulações que suportam o peso na
fase em que a criança está aprendendo a andar (OLDRA, 2003; SAY, 2003). As
áreas mais afetadas pelas hemartroses são as articulações do joelho, tornozelo,
cotovelo, ombro e coxo-femoral. Devido o sangue permanecer fluido dentro das
articulações, há possibilidade de formação de cistos hemorrágicos e danificação
da membrana sinovial (BRASIL 2011).

Portadores de hemofilia, quando sujeitos a pequenos golpes, movimentos


bruscos ou até contrações musculares violentas podem provocar hemorragias
subcutâneas, musculares ou intramusculares. Após detecção da hemorragia, a
mesma deve ser tratada o mais rápido possível, pois um tratamento tardio pode
provocar complicações à saúde. As hemorragias mais freqüentes são no sistema
nervoso, nas cavidades oral e nasal, no pescoço e urina (RODRIGUES et al., 2008).

CONCLUSÃO

Como observado, a hemofilia acomete um número elevado de pacientes,


portanto faz-se necessário aperfeiçoar o acesso à informação tanto da população
como da comunidade científica, visando diagnósticos precoces que possibilitem
uma elevada expectativa de vida aos pacientes.

O diagnóstico desta doença baseia-se na história clínica do paciente e


familiares com manifestações hemorrágicas apresentadas, principalmente sob
a forma de hemartroses e hematomas, que variam de acordo com a gravidade
da doença.

56
TÓPICO 4 | HEMOSTASIA E COAGULAÇÃO

O diagnóstico laboratorial é fundamental para se determinar a


deficiência do fator específico da coagulação, bem como, anular outras possíveis
coagulopatias. Ensaios quantitativos para os fatores VIII e IX estabelecem o tipo
e a gravidade da hemofilia. No coagulograma, os resultados do TP apresentam-
se normais e o tempo de sangramento também, podendo sofrer prolongamento
em aproximadamente 20% dos pacientes, principalmente os que apresentam
deficiência grave. A principal prova de triagem é o TTPA que se encontra alterado.

O tratamento é realizado pela reposição de fatores deficientes, no


entanto, o desenvolvimento de inibidores pode tornar esse tratamento ineficaz.
As alternativas para o tratamento desta doença é o uso da biotecnologia para
surgimento de novos medicamentos e a terapia gênica que proporcionaria a
produção endógena contínua dos fatores deficientes, protegendo o paciente de
sangramentos espontâneos.

A profilaxia, como realização de exercícios físicos, também é um


tratamento fundamental para o paciente hemofílico. Este não consiste na cura da
doença, mas evita o aparecimento de sintomas como hemorragias, mas deve ser
iniciado ainda na infância do paciente.

FONTE: COLOMBO, R. T.; ZANUSSO JÚNIOR, G. Hemofilias: fisiopatologia, diagnóstico e


tratamento. Infarma Ciências Farmacêuticas, v. 25, n. 3, 2013. Disponível em: http://revistas.cff.
org.br/?journal=infarma&page=article&op=download&path%5B%5D=494&path%5B%5D=460.
Acesso em: 9 mar. 2020.

57
RESUMO DO TÓPICO 4
Neste tópico, você aprendeu que:

• As plaquetas são fragmentos citoplasmáticos anucleados de tamanho variado,


entre 2,9 e 4,3 µm, e espessura entre 0,6 e 1,2 µm.

• Os valores de referência são de uma contagem de 250.000/µL (limites de


150.000/µL a 400.000/µL); em média as plaquetas sobrevivem de 7 a 10 dias.

• A função das plaquetas é de atuar na manutenção e integridade vascular, na


formação do tampão plaquetário e na estabilização da hemostasia.

• A trombocitopoese é o nome dado à síntese da produção das plaquetas, é


estimulada pela trombopoetina.

• As plaquetas formam-se pela fragmentação das extremidades das extensões do


citoplasma dos megacariócitos.

• Hemostasia é o equilíbrio entre mecanismos pró-coagulantes e anticoagulantes,


associados à fibrinólise.

• A hemostasia é realizada através da combinação de três processos: começa


com a hemostasia primária (onde ocorre a contração dos vasos e a adesão e
coagulação plaquetária), a hemostasia secundária (onde ocorrem as vias de
cascata de coagulação) e a fibrinólise (onde ocorre a hemostasia definitiva).

• Em condições normais, os vasos sanguíneos devem constituir um sistema não


trombogênico capaz de desencadear os processos que iniciem a coagulação e
que, após a recuperação da lesão anatômica, possam remover o coágulo (fibrina
estável) e restabelecer a circulação local (fibrinólise).

• Alterações na hemostasia primária caracterizam doenças hemorrágicas


chamadas de púrpuras; já as alterações na hemostasia secundária caracterizam-
se pelas doenças hemorrágicas denominadas de coagulopatias.

CHAMADA

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58
AUTOATIVIDADE

1 As plaquetas são corpúsculos anucleados, que têm forma de disco. Todas


as alternativas a seguir dizem respeito às diferentes funções das plaquetas,
exceto:

a) ( ) Formação de tromboplastina, que transforma o fibrinogênio em fibrina.


b) ( ) Produção de adrenalina e serotonina, que são substâncias vasoconstritoras.
c) ( ) Fagocitose de vírus, partículas inertes e bactérias.
d) ( ) Formação de um tampão de aglutinação, que pode fechar um vaso lesionado.

2 Assinale a alternativa correta que corresponda às fases da coagulação


sanguínea:

a) ( ) Fase vascular, fase plaquetária, fase plasmática.


b) ( ) Fase tamponamento, fase plaquetária, fase vascular.
c) ( ) Fase vascular, fase tamponamento, fase plasmática.
d) ( ) Fase leucocitária, fase plaquetária, fase vascular.

3 Na hemofilia A e na doença de Von Willebrand encontram-se deficiências


do seguinte fator:

a) ( ) V.
b) ( ) VII.
c) ( ) VIII.
d) ( ) IX.

4 A hemofilia é uma doença hematológica hereditária em que o portador


possui uma deficiência em fatores de coagulação. Pode ser do tipo A e do
tipo B, nas quais a deficiência do fator de coagulação ocorre em:

a) ( ) Tipo A: fator XI – Tipo B: fator X.


b) ( ) Tipo A: fator VIII – Tipo B: fator IX.
c) ( ) Tipo A: fator XII – Tipo B: fator XI.
d) ( ) Tipo A: fator XII – Tipo B: fator IX.

59
UNIDADE 2

CONSIDERAÇÕES SOBRE
IMUNOLOGIA BÁSICA

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• conhecer as células do sistema imune através de aulas teóricas e práticas;

• obter conhecimento dos órgãos do sistema imunológico e as suas


principais funções imunológicas;

• conhecer as principais propriedades do sistema imune e suas interações


na resposta imunológica;

• compreender os mecanismos das diferentes respostas imunológicas.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em quatro tópicos. No decorrer da unidade,
você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo
apresentado.

TÓPICO 1 – CONHECENDO O SISTEMA IMUNE: PROPRIEDADES


GERAIS DAS RESPOSTAS IMUNES

TÓPICO 2 – APROFUNDANDO O SISTEMA IMUNE

TÓPICO 3 – PROPRIEDADES GERAIS DA IMUNIDADE ADAPTATIVA

CHAMADA

Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos


em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá
melhor as informações.

61
62
UNIDADE 2
TÓPICO 1

CONHECENDO O SISTEMA IMUNE:


PROPRIEDADES GERAIS DAS RESPOSTAS
IMUNES

1 INTRODUÇÃO
Olá, acadêmico! Seja bem-vindo à segunda unidade do nosso Livro
Didático em Hematologia e Imunologia Básica! Nesta unidade, focaremos nos
conteúdos da disciplina de Imunologia Básica.

Você sabia que o nosso corpo possui células, moléculas e inúmeros


eventos celulares e moleculares que nos protegem de doenças, agentes estranhos
e até mesmo contra as nossas próprias células quando elas começam a agir contra
o próprio organismo? Nós denominamos essas defesas de Sistema imunológico.
O Sistema imunológico tem como principal função defender o nosso organismo
contra substâncias estranhas por meio de diferentes mecanismos de defesa, mas
ele é muito mais do que isso! Abordaremos detalhadamente cada mecanismo de
ações que compreendem o Sistema, além de conhecer todas as células e órgãos
envolvidos nesse sistema.

A imunologia é uma matéria muito importante, pois ela nos ensina como
ocorre a proteção do nosso organismo às doenças e as estratégias que foram
desenvolvidas pela ciência ao longo dos anos para melhorar nossa imunidade
quanto indivíduo e quanto sociedade. Você sabia que, quando somos vacinados,
a proteção obtida pela vacina é graças a ação do sistema imunológico? Você sabia
que a imunologia é estudada há muitos anos, desde as primeiras pestes descritas
nas civilizações? Que o AIDS (sigla em inglês para Síndrome da Imunodeficiência
Adquirida), é uma doença que afeta o sistema imunológico deixando o indivíduo
como o sistema imunológico comprometido? E ainda, que existem doenças
chamadas autoimunes, em que o próprio organismo ataca as células do corpo? É
por isso que o estudo da imunologia é tão importante para o profissional da área
da saúde, em especial para o biomédico, pois é através de exames imunológicos
que podemos identificar várias doenças que irão auxiliar no diagnóstico, na
terapêutica e no levantamento epidemiológico de diversas doenças.

Caro acadêmico, vale ressaltar que essa matéria, além de fascinante e


instigante, é bem complexa. Por isso, a sua participação e comprometimento
com a disciplina serão essenciais para o seu aprendizado. Além do livro didático,
procure ler as atividades de leituras complementares e fazer os exercícios de
autoatividades para uma melhor fixação do assunto que será abordado neste
tópico. Vamos lá?

63
UNIDADE 2 | CONSIDERAÇÕES SOBRE IMUNOLOGIA BÁSICA

2 CONHECENDO O SISTEMA IMUNE


A Imunologia é o estudo do Sistema imunológico que compreende os
mecanismos responsáveis por oferecer defesa ao nosso corpo contra doenças
causadas por bactérias, fungos, vírus e parasitas. O Sistema imune é composto por
células e moléculas especializadas e por tecidos e órgãos que reagem à presença
de micro-organismos invasores. Apesar de o papel primário do sistema imune
ser o de nos defender contra os micro-organismos infecciosos, é importante ter
em mente que a Imunologia consiste em muito mais do que isso. As alergias e
as doenças autoimunes, por exemplo, também estão relacionadas com o estudo
dessa disciplina, pois são causadas pelo mau funcionamento do nosso Sistema
Imune (WOOD, 2013).

O termo imunidade é derivado da palavra latina imunitas, que se refere


à proteção contra processos legais oferecida aos senadores romanos
durante seus mandatos. Historicamente, a imunidade significa proteção
contra doenças e, mais especificamente, doenças infecciosas. As células
e moléculas responsáveis pela imunidade constituem o sistema imune,
e sua resposta coletiva e coordenada à entrada de substâncias estranhas
é denominada resposta imune (ABBAS, 2015, p. 21).

Os micro-organismos que causam doenças são chamados de patógenos, e


o indivíduo infectado por esses patógenos é chamado de hospedeiro. Lembre-se
de que nem todos os micro-organismos causam doenças, por exemplo, no nosso
intestino temos inúmeras bactérias que auxiliam a digerir alimentos. A esses
micro-organismos “do bem”, damos o nome de comensais. Por outro lado, caro
acadêmico, na natureza existem inúmeros patógenos, ou seja, micro-organismos
capazes de causar doenças: há pelo menos 350 doenças listadas como causas de
infecções e, algumas dessas doenças, como a diarreia, podem ser causadas por
muitas bactérias diferentes, além de vírus e parasitas. Além disso, o número de
patógenos humanos está crescendo por causa das novas doenças infecciosas
emergentes (WOOD, 2013).

DICAS

Doenças emergentes: são definidas como o surgimento ou a identificação


de um novo problema de saúde ou um novo agente infeccioso, por exemplo, a febre
hemorrágica pelo vírus Ebola, a AIDS, a hepatite C, dengue, H1N1. A maioria dessas infecções
são de origem viral, o problema dessas viroses é complexo, porém pode-se reconhecer
que, em sua maioria, essas viroses são desencadeadas por atividades humanas, as quais
modificam o meio ambiente.

FONTE: <http://www.fiocruz.br/biossegurancahospitalar/dados/material2.htm>.
Acesso em: 13 mar. 2020.

64
TÓPICO 1 | CONHECENDO O SISTEMA IMUNE: PROPRIEDADES GERAIS DAS RESPOSTAS IMUNES

Para fins didáticos, ou seja, para facilitar o aprendizado, as respostas


imunológicas contra agentes infecciosos que compreendem os nossos mecanismos
de defesa são divididas em duas etapas. Quando uma pessoa entra em contato com
um antígeno (agente infeccioso ou agentes estranhos) pela primeira vez, as defesas
iniciais contra a infecção são barreiras físicas e químicas, como a pele e proteínas
antimicrobianas secretadas na superfície das mucosas, que tentam impedir a
entrada de micro-organismos patógenos no corpo. O termo antígeno refere-se a
todas as substâncias, tais como: proteínas, moléculas, micro-organismos, que são
considerados estranhos para o nosso organismo (MURPHY, 2014).

Essa primeira defesa, que compreende as barreiras físicas, químicas e


biológicas e as células e moléculas nelas envolvidas, é chamada de Imunidade
Inata. A resposta imune inata ocorre rapidamente após a exposição a um agente
infeccioso, por isso dizemos que ela é uma resposta imediata. A segunda resposta
é chamada de Imunidade Adaptativa. A imunidade adaptativa é considerada
uma resposta tardia, pois leva dias em vez de horas para se desenvolver, mas
é capaz de eliminar as infecções de maneira mais eficiente devido às funções
especificas das células envolvidas (MURPHY, 2014).

Você, acadêmico, deve se perguntar: como o nosso organismo é capaz de


evitar a entrada de bactérias e vírus? Por que algumas doenças só “pegamos” uma
vez na vida? Como as vacinas nos protegem? O que acontece com o nosso corpo
quando ficamos doentes? Para responder a todas estas dúvidas, precisamos nos
aprofundar no estudo da imunologia e, neste tópico, vamos começar aprendendo
sobre as células imunes e os tecidos linfoides.

65
UNIDADE 2 | CONSIDERAÇÕES SOBRE IMUNOLOGIA BÁSICA

NOTA

Marco histórico da Imunologia!

Considerado o Pai da Imunologia, Edward Jenner demonstrou, em 1796, que


a inoculação com varíola bovina poderia proteger contra a doença humana. Jenner
observou que vacas leiteiras que tinham se recuperado da doença nunca mais contraíram
a forma mais grave. Em suposição a essa observação, Jenner injetou o material de uma
pústula (ferida) de Sarah Nelmes, uma leiteira que estava desenvolvendo a varíola bovina,
no braço de um menino de 8 anos de idade, James Phipps. O menino teve um pouco
de febre e algumas lesões, mas não desenvolveu a infecção da varíola completa, tendo
uma recuperação rápida. Jenner injetou novamente o material de uma pústula, dessa vez
de outra pessoa, e foi observado que a doença não desenvolveu no garoto. O tratado de
Jenner é um marco na vacinação, e recebeu esse nome do latim vaccinus, ou a partir de
vacas (ABBAS, 2015). As descobertas de Jenner foram audaciosas e de sucesso, porém
passaram-se quase dois séculos até que a vacinação contra a varíola tornasse universal.
Em 1979, a organização mundial em saúde (OMS) anunciou a erradicação da varíola, com
certeza um dos maiores triunfos na medicina moderna (MURPHY, 2014).

FONTE: MURPHY, K. Imunobiologia de Janeway. 8. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014.

FIGURA – EDWARD JENNER

FONTE: Murpth (2014, p. 1)

2.1 CÉLULAS DO SISTEMA IMUNE


Acadêmico, você viu na introdução desse tópico que o nosso corpo possui
mecanismos de proteção contra agentes infecciosos e os danos que eles causam,
e contra substâncias nocivas, como toxinas de insetos. A partir de agora você irá
entender como essa proteção é conferida por uma variedade de células efetoras e
moléculas que, juntas, constituem o Sistema Imune. Na Unidade 1, estudamos as
células sanguíneas e você aprendeu sobre os leucócitos, sua importância e como
eles são originadas em tecidos e órgãos hematopoiéticos, como a medula óssea e
o timo. Neste tópico, estudaremos o papel desses leucócitos presentes no sangue
na defesa contra doenças, ou seja, no Sistema Imunológico.
66
TÓPICO 1 | CONHECENDO O SISTEMA IMUNE: PROPRIEDADES GERAIS DAS RESPOSTAS IMUNES

As células que constituem o sistema imune normalmente estão presentes


de forma circulante no sangue e na linfa e residem em tecidos e órgãos específicos,
definidos como órgãos linfoides (No Tópico 1, Unidade 1, você estudou esses
órgãos, volte para revisá-los, caso você tenha alguma dúvida). A linfa é um líquido
esbranquiçado, originário do sangue, que circula nos vasos linfáticos e transporta
glóbulos brancos. Segundo Abbas (2015), a organização anatômica dessas células
e a sua habilidade na circulação e nas trocas entre sangue, linfa e tecidos são de
extrema importância para a ativação das respostas imunes.

As principais células envolvidas na Imunidade inata são os macrófagos,


neutrófilos e outros granulócitos, células dendríticas e células Natural Killer
(chamadas de células NK). Já as principais células da Imunidade Adaptativa são
os linfócitos. É importante lembrar, acadêmico, que essa divisão entre resposta
imune inata e adaptativa é feita para facilitar o seu entendimento, mas que ambas
as respostas ocorrem de forma interligada no nosso corpo. Por isso, algumas
células, como as células dendríticas, participam tanto da resposta imune inata
quanto da adaptativa, observe a Figura 1 (CRUVINEL et al., 2010).

FIGURA 1 – CÉLULAS DO SISTEMA IMUNOLÓGICO

FONTE: <https://www.ourofinosaudeanimal.com/media/uploads/ckuploads/2018/08/21/
figura-2.png>. Acesso em: 12 jan. 2020.

Começaremos apresentando as células do sistema imune inato. Algumas


dessas células estão localizadas em tecidos e órgãos linfoides, mostrando-
se prontas para responder quando um agente estranho invade o nosso corpo
(WOOD, 2013). As primeiras células que agem na resposta imunológica são os
neutrófilos e os macrófagos. Essas células, assim como as células dendríticas,
são denominadas de fagócitos e têm a função de englobar, ingerir e destruir
micro-organismos e de se livrar dos tecidos lesionados durante o processo. Os
fagócitos são, portanto, leucócitos que protegem o corpo através da ingestão de
partículas estranhas, bactérias e células mortas. A habilidade de uma célula de
englobar, ingerir e destruir micro-organismos é conhecida como fagocitose e
você pode observar como esse processo ocorre na Figura 2 (ABBAS, 2015). As
respostas dos fagócitos na defesa do hospedeiro consistem em alguns eventos

67
UNIDADE 2 | CONSIDERAÇÕES SOBRE IMUNOLOGIA BÁSICA

sequenciais: primeiro ocorre o recrutamento das células para os locais de infecção


(um processo denominado quimiotaxia), em seguida ocorre o reconhecimento e
ativação das células fagocíticas pelos micro-organismos e, finalmente, a ingestão
e destruição dos micro-organismos pela fagocitose (ABBAS, 2015).

As células fagocitárias podem captar e remover bactérias e células mortas


do hospedeiro ou restos de tecidos. A fagocitose é um mecanismo muito importante
dentro da resposta imune, e os dois principais tipos de células fagocitárias são:
neutrófilos e macrófagos. A fagocitose ocorre em 4 etapas (Figura 2): primeiro
ocorre a ligação dos fagócitos à partícula a ser fagocitada; segundo ocorre a
ingestão da partícula através de projeções da célula para englobar a bactéria;
terceiro o fagócito mata a bactéria ingerida; e por último ocorre a degradação da
bactéria por enzimas proteolíticas (WOOD, 2013).
FIGURA 2 – ETAPAS DA FAGOCITOSE

FONTE: <https://biologiaresolvida.com.br/wp-content/uploads/2019/06/Fagocitose.png>.
Acesso em: 13 mar. 2020.

Macrófagos: os macrófagos são as células mais importantes no início da


resposta imunológica e atuam como sentinelas para detectar e combater agentes
infecciosos. Sua função de sentinela ou de células guardiãs é possível porque,
ao contrário dos neutrófilos, os macrófagos podem permanecer nos tecidos por
meses ou anos, sempre alerta à presença de antígenos infecciosos. São células
abundantes na maioria dos tecidos, por exemplo, no fígado, pulmões, baço e até
mesmo no cérebro (Figura 3) (ROITT, 2013). Os macrófagos são a forma madura
dos monócitos, células que circulam no sangue periférico e que você aprendeu

68
TÓPICO 1 | CONHECENDO O SISTEMA IMUNE: PROPRIEDADES GERAIS DAS RESPOSTAS IMUNES

na Unidade 1. Quando os monócitos saem do sangue e migram para os tecidos


(a saída da célula para o tecido denomina-se diapedese), eles se diferenciam em
macrófagos, que são células aptas para combater micro-organismos invasores
através da fagocitose (MURPH, 2014).

FIGURA 3 – PRODUÇÃO E DIFERENCIAÇÃO DOS MACRÓFAGOS PRESENTES NOS TECIDOS E


PRODUÇÃO E ATIVAÇÃO DOS MONÓCITOS PRESENTES NO SANGUE PERIFÉRICO

Na Figura (A) podemos observar como ocorre a diferenciação dos macrófagos


residentes nos tecidos e órgãos (cérebro, fígado, pulmão e baço) e na Figura (B)
podemos observar como ocorre a diferenciação de monócito para macrófago.
FONTE: Abbas (2015, p. 53)

Neutrófilos: embora os macrófagos teciduais sejam as primeiras células


a responderem contra os patógenos, normalmente eles não são suficientes para
sozinhos combater a infecção; logo, é necessário recrutar outras células do sistema
imune para auxiliá-los. Assim, quando um tecido é infectado por micro-organismos
invasores, mensagens químicas (chamadas de agentes quimiotáticos) são enviadas
às células no sangue com o objetivo de fazer com que elas saiam da corrente
sanguínea e entrem no tecido infectado para combater o patógeno. Uma dessas
células são os monócitos, como já vimos no decorrer desse tópico. Outra célula
capaz de deixar a corrente sanguínea e entrar no tecido danificado ou infectado, é o
neutrófilo (WOOD, 2013). Os neutrófilos são as células mais numerosas na resposta
imunológica e constituem entre 60-70% dos leucócitos circulantes no sangue. Estão
entre as primeiras células a migrarem dos vasos para os tecidos atraídos por agentes
quimiotáticos e são ativados por diversos estímulos, como produtos bacterianos e
substâncias chamadas citocinas e quimiocinas.

69
UNIDADE 2 | CONSIDERAÇÕES SOBRE IMUNOLOGIA BÁSICA

Assim como os macrófagos, os neutrófilos têm a capacidade de capturar e


destruir agentes estranhos por fagocitose. Os neutrófilos possuem outra capacidade
importante: como você deve lembrar da Unidade 1, os neutrófilos são um tipo de
granulócitos, ou seja, são células que contêm grânulos no seu interior. Durante
a resposta a micro-organismos invasores, os neutrófilos sofrem degranulação,
liberando três classes de grânulos no meio extracelular (CRUVINEL et al., 2010).
Esses grânulos destroem os patógenos de maneira eficiente pois contém enzimas
de degradação e outras substâncias antimicrobianas (MURPHY, 2014).

Eosinófilos e basófilos: os eosinófilos e basófilos são granulócitos menos


numerosos, mas também possuem grânulos que contêm uma variedade de
enzimas e proteínas tóxicas, que são liberadas quando as células são ativadas. Essas
células possuem mediadores inflamatórios e antimicrobianos e são importantes
na defesa contra parasitas helmintos e reações alérgicas (MURPHY, 2014; ABBAS,
2015). No decorrer dessa unidade, vamos compreender os mecanismos dos
eosinófilos na defesa contra parasitas helmínticos; e na Unidade 3; aprenderemos
sobre as reações alérgica e a ação dos eosinófilos e basófilos.

Mastócitos: os mastócitos (Figura 4) são células originadas na medula


óssea e presentes na pele e na mucosa epitelial e contém abundantes grânulos
citoplasmáticos cheios de histamina e outros mediadores inflamatórios. Os
mastócitos com os macrófagos, são conhecidos como “sentinelas” nos tecidos,
onde reconhecem produtos microbianos e respondem a eles produzindo citocinas
e outros mediadores que induzem a inflamação (ABBAS, 2015). O termo citocina,
abrange um grande número de pequenas proteínas que têm função semelhante à
proteína dos hormônios; ou seja, elas são responsáveis pela comunicação entre as
células do sistema imune (WOOD, 2013).

FIGURA 4 – MASTÓCITOS

FONTE: <https://2.bp.blogspot.com/-J44wv49z-aQ/V21H1R0Z_OI/AAAAAAAALmY/
fGL8MuvG7v0weE38w-V6xYRAJULIW8-BwCLcB/s400/neutr%25C3%25B3filo.jpg>.
Acesso em: 13 mar. 2020.

70
TÓPICO 1 | CONHECENDO O SISTEMA IMUNE: PROPRIEDADES GERAIS DAS RESPOSTAS IMUNES

Células dendríticas: as células dendríticas (Figura 5) são formadas


principalmente na medula óssea e seu nome origina-se das inúmeras projeções
membranares longas (ou dendritos) que essas células possuem (ROITT, 2013) e que
têm a função de fagocitose. Elas são conhecidas como células apresentadoras de
antígenos (APC) ao lado dos linfócitos B e dos macrófagos. As APCs (Figura 6) têm
a capacidade de capturar os antígenos (micro-organismos ou agentes estranhos),
e apresentar aos linfócitos T; essa apresentação irá fornecer sinais que estimularão
a proliferação e diferenciação dos linfócitos durante a resposta imune adaptativa
(ABBAS, 2015). Por serem células especializadas na captura e apresentação de
antígenos para os linfócitos, as células dendríticas são consideradas uma ponte
entre a imunidade inata e a adaptativa: elas são atraídas e ativadas por elementos
da resposta inata e promovem a ativação da resposta imune adaptativa. Elas estão
presentes em tecidos linfoides e tecidos periféricos, como pele, fígado e intestino.
Nesses locais, elas capturam antígenos e se tornam ativadas; quando isso acontece,
as células dendríticas migram para os linfonodos onde processam e apresentam
antígenos proteicos ou lipídicos aos linfócitos T (CRUVINEL et al., 2010).

FIGURA 5 – AS CÉLULAS DENDRÍTICAS COMO ELO ENTRE A IMUNIDADE INATA E ADQUIRIDA

FONTE: Murphy (2014, p. 8)

71
UNIDADE 2 | CONSIDERAÇÕES SOBRE IMUNOLOGIA BÁSICA

FIGURA 6 – ESQUEMATIZAÇÃO DAS CÉLULAS APRESENTADORAS DE ANTÍGENOS

1 Englobamento do vírus 3 Processamento


do antígeno Encomenda
vírus pra você!

antígeno

Célula
dendrítica
Linfócito T
Célula
4 Apresentação
dendrítica
2 Antígenos do vírus dentro da do antígeno
célula apresentadora de antígeno

Célula dendrítica apresentando um vírus para


um linfócito T, ativando-o.

FONTE: <https://www.drcarlosleao.com.br/wp-content/uploads/2019/07/24-0-300x180.jpg>.
Acesso em: 12 jan. 2020.

Células natural Killer (NK): as células NK, também chamadas de células


linfoides inatas do Tipo 1 (ABBAS, 2015), têm origem na medula óssea a partir
de um progenitor comum aos linfócitos e constituem de 5% a 20% das células
mononucleares do sangue. Essas células são uma importante linha de defesa
inespecífica, pois podem reconhecer e matar células infectadas por vírus, bactérias
e protozoários, bem como células tumorais (Figura 7). As células NK também
recrutam neutrófilos e macrófagos e ativam as células dendríticas e os linfócitos
da resposta imune adaptativa (MURPHY, 2014).

FIGURA 7 – CÉLULAS NATURAL KILLER E AS SUAS FUNÇÕES

Libera grânulos líticos que matam algumas


células infectadas por vírus

FONTE: Adaptado de Murphy (2014)

72
TÓPICO 1 | CONHECENDO O SISTEMA IMUNE: PROPRIEDADES GERAIS DAS RESPOSTAS IMUNES

Até aqui, acadêmico, vimos a importância das células envolvidas na


imunidade inata (sendo que algumas delas também atuam na imunidade
adquirida). Agora abordaremos os linfócitos B e T, as células especializadas da
imunidade adquirida. Os linfócitos são as células que representam a imunidade
adquirida. Como você viu na Unidade 1, os linfócitos B e T são originários de
um progenitor linfoide comum da medula óssea, que dá origem aos linfócitos
antígeno-específicos do sistema imune adquirido e a um tipo de célula que
responde à presença de infecção, mas não de forma específica, portanto, é
considerado parte do sistema imune inato (célula natural killer) (MURPHY, 2014).

A resposta imunológica específica para cada tipo de patógeno produzida


pelo sistema imune só é possível devido aos linfócitos e seus receptores de
antígenos variáveis presentes na superfície da célula (MURPHY, 2014). Para
descrever sobre essas células, antes precisamos compreender dois termos: o que
são linfócitos virgens e linfócitos efetores. Linfócitos virgens são linfócitos T
que ainda não foram ativados por nenhum tipo de antígeno, ou seja, ainda não
entraram em contato com nenhum patógeno. Já os linfócitos que tiveram contato
com antígenos, tornando-se ativados e diferenciados em linfócitos totalmente
funcionais, são chamados de linfócitos efetores (MURPHY, 2014).

O papel dos linfócitos efetores é mediar a imunidade adquirida e eles


são divididos em dois tipos: os linfócitos B (células B) e os linfócitos T (células
T). Os linfócitos B são produzidos, maturados e diferenciados na medula óssea
e, quando ativados, se diferenciam em células chamadas plasmócitos, que têm
como função a produção de anticorpos (ABBAS, 2014). Essa célula é responsável
por um tipo de resposta adquirida chamada de Imunidade humoral. Já os
linfócitos T são responsáveis pelo que chamamos de imunidade celular. São
células produzidas na medula óssea, mas que amadurecem no timo (WOOD,
2013). Quando uma célula T é ativada, ela prolifera e se diferencia em um dos
diferentes tipos funcionais de linfócitos T efetores.

Os linfócitos T efetores são divididos em células T auxiliares ou células


TCD4+ e células T citotóxicas ou células TCD8+. As células T auxiliares CD4+ são
células que produzem sinais que influenciam no comportamento e atividade de
outras células. Elas fornecem os sinais para as células B estimuladas por antígenos
que influenciam sua produção de anticorpos, e para os macrófagos, permitindo
que se tornem mais eficientes para matar os patógenos capturados. Já as células
T citotóxicas CD8+ matam células infectadas com vírus ou micro-organismos
intracelulares. Além destes dois tipos de células T, ainda temos as células T
reguladoras que têm a função de reprimir a atividade dos linfócitos e auxiliam no
controle das respostas imunológicas. No decorrer do desenvolvimento de uma
resposta imune, algumas células B e T são ativadas pelo antígeno, diferenciando-
se em células de memória, que são os linfócitos responsáveis pela imunidade de
longa duração, que podem ser produzidas após doença ou vacinação (MURPHY,
2014). No Tópico 3, abordaremos, novamente, esses tipos de células e suas
funções. Na Figura 8 podemos observar como ocorre a maturação dos linfócitos.

73
UNIDADE 2 | CONSIDERAÇÕES SOBRE IMUNOLOGIA BÁSICA

FIGURA 8 – MATURAÇÃO DOS LINFÓCITOS


Órgãos linfoides Sangue, Órgãos linfoides
geradores linfa periféricos

Linfócitos B
maduros
Recirculação
Precursor Linhagem
linfoide de linfócito
comum B Linfonodos
Medula óssea Linfócitos
Baço
B imaturos
Tecidos
Linhagem linfoides
de linfócito mucoso
T e cutâneo
Linfócitos
Timo T imaturos
Linfócitos Recirculação
T imaturos

FONTE: Abbas (2015, p. 65)

NTE
INTERESSA

Linfócitos T Reguladores: várias evidências demonstram a importância das


diferentes populações de LT reguladores na manutenção da autotolerância imunológica e
no controle das respostas autoimunes. Assim, há grande interesse no estudo dessas células
e de sua potencial aplicação no tratamento das doenças autoimunes. As células com função
imunorreguladora apresentam como característica básica a capacidade de produção de
citocinas imunossupressoras, como IL-4, IL-10 e TGF-β. Atuam em uma complexa rede de
mecanismos reguladores destinados a assegurar a modulação das respostas imunológicas
frente aos diversos antígenos provenientes de agentes infecciosos, tumores, aloantígenos,
autoantígenos e alérgeno (MESQUITA et al., 2010).

2.2 MOLÉCULAS DO SISTEMA IMUNE


Segundo Abbas (2015), diferentes tipos de moléculas que reconhecem
micro-organismos e promovem respostas inatas existem em forma solúvel no
sangue e nos fluidos extracelulares. Essas moléculas fornecem defesa inicial
contra patógenos que estão presentes do lado de fora das células do hospedeiro
em algum estágio do seu ciclo de vida. As moléculas efetoras solúveis atuam de
duas maneiras principais: (1) através da ligação aos micro-organismos, elas agem
como opsoninas e aumentam a habilidade dos macrófagos, neutrófilos e células
dendríticas em fagocitar os micro-organismos; (2) após a ligação aos micro-
organismos, os mediadores solúveis da imunidade inata promovem respostas
inflamatórias que trazem mais fagócitos para os locais de infecções e eles também
podem matar diretamente os micro-organismos.

74
TÓPICO 1 | CONHECENDO O SISTEMA IMUNE: PROPRIEDADES GERAIS DAS RESPOSTAS IMUNES

Entre essas moléculas solúveis estão as proteínas do sistema complemento,


que abordaremos detalhadamente no Tópico 2, desta unidade. O sistema
complemento consiste em várias proteínas plasmáticas que trabalham juntas para
opsonizar os micro-organismos e promover o recrutamento de fagócitos para o
local de infecção e, em alguns casos, matar diretamente os micro-organismos.

Na Fiura 9, podemos observar células e moléculas solúveis do sistema


imunológica que serão discutidas no decorrer dessa unidade.

FIGURA 9 – CÉLULAS E MOLÉCULAS SOLÚVEIS DO SISTEMA IMUNOLÓGICO


Células e moléculas solúveis do sistema imunológico
Componente Imunidade adquirida Imunidade adquirida

Células Fagócitos (células Linfócitos T, B e NK/T


dendríticas, macrófagos Células dendrícas
e neutrófilos) ou apresentadoras de
Células natural- antígenos (APCs)
killer (NK)
Mastócitos, basófilos
e eosinófilos
Moléculas solúveis Complemento Anticorpos
Proteínas de fase aguda Citocinas
Citocinas Quimiocinas
Quimiocinas

FONTE: Adaptado de Cruvinel et al. (2010)

2.3 TECIDOS LINFOIDES E SUAS FUNÇÕES


Caro acadêmico, na Unidade 1, abordamos os órgãos hematopoiéticos que
também são chamados de órgãos linfoides. Agora, neste tópico, nesta unidade,
apresentaremos para você a importância desses órgãos ou tecidos linfoides dentro
do sistema imunológico.
O Sistema imune consiste em uma série de órgãos e vasos que os
conectam e, como vimos na Unidade 1, esses órgãos são divididos em órgãos ou
tecidos linfoides primários e órgãos ou tecidos linfoides secundários. Os dois
órgãos linfoides primários no ser humano são a medula óssea e o timo; já o baço,
linfonodos e vasos linfáticos, e os tecidos associados à mucosas – MALT – são
considerados como secundários, observe a Figura 10 (WOOD, 2013).

75
UNIDADE 2 | CONSIDERAÇÕES SOBRE IMUNOLOGIA BÁSICA

FIGURA 10 – ANATOMIA DO SISTEMA IMUNOLÓGICO


Órgãos Linfóides Órgãos Linfóides
Primários Secundários

Amígdalas
e adenóides

Timo

Baço

Placas de Peyer
Apêndice
Linfonodos
Medula óssea Vasos linfáticos

FONTE: <https://bioferasblog.files.wordpress.com/2016/01/bfb04-
apresenta25c325a725c325a3o1wer.jpg?w=768>. Acesso em: 13 mar. 2020.

Tecidos linfoides primários: como já aprendemos, a medula óssea contém


as células precursoras de todas as células sanguíneas, através de um processo
chamado hematopoese. Quando nascemos, a hematopoese ocorre principalmente
nos ossos do esqueleto, mas com o decorrer da puberdade se torna restrita aos
ossos chatos, principalmente no esterno, nas vértebras, no osso ilíaco e nas
costelas. Quando a medula óssea fica danificada, ou quando a demanda de células
é maior, a produção de novas células ocorre no fígado e no baço, onde tornam
locais de hematopoese extramedular (ABBAS, 2015). O timo é o principal local de
maturação de células T. As células T desenvolvem-se a partir de precursores da
medula óssea, chamadas de protimócitos. Essas células se direcionam da medula
óssea pela corrente sanguínea e entram no timo para completar a sua maturação,
onde tornam-se uma célula T funcional (WOOD, 2013).

NOTA

A Síndrome de DiGeorge (SDG) é um distúrbio congênito resultante de defeito


embrionário, resultante de problemas na migração e no desenvolvimento das células e
tecidos durante o crescimento fetal. Essa doença pode levar ao subdesenvolvimento ou
ausência do timo. É uma patologia com uma incidência mundial de 1 caso para cada
3.000-4.000 nascimentos, uma incidência relativamente alta; porém pouco se sabe sobre
essa doença, sua progressão. O portador dessa doença normalmente possui um número
mais baixo de células T, por isso crianças com menos de dois anos diagnosticadas com
SDG, possuem infecções recorrentes, pelo fato do número baixo de células T e pelo sistema
imune ainda não estar completamente maduro.

FONTE: DiGeorge Syndrome. Disponível em: <http://primaruimmune.org/about-primary-


immunodeficiency-diseases/types-of- pidd/diorge-syndrome>. Acesso em: 7 set. 2019.

76
TÓPICO 1 | CONHECENDO O SISTEMA IMUNE: PROPRIEDADES GERAIS DAS RESPOSTAS IMUNES

Tecidos linfoides secundários: como já vimos na Unidade 1, o baço é um


órgão ou tecido linfoide do tipo secundário, com os linfonodos e as MALT.

O baço está localizado no lado esquerdo do abdômen e tem como


principal função imunológica iniciar as respostas imunes adquiridas aos
antígenos originados do sangue. Esse órgão é projetado para filtrar antígenos
do sangue, a fim de que células T e B possam encontrar o antígeno e responder,
assim iniciando uma resposta imune (WOOD, 2013). Os macrófagos da polpa
vermelha do baço servem como um importante filtro para o sangue, removendo
micro-organismos, células danificadas, células recobertas de anticorpo
(opsonizadas) e micro-organismos. Indivíduos que não têm o baço são suscetíveis
a infecções disseminadas com bactérias encapsuladas, tais como pneumococos e
meningococos. Já a polpa branca contém as células que medeiam as respostas
imunes adaptativas aos antígenos originados no sangue, e são encontrados
muitos linfócitos (ABBAS, 2015).

Vários vasos linfáticos encontram-se em estruturas especializadas


chamadas de linfonodos, situados ao longo do sistema linfático por todo o corpo
e, assim, têm acesso aos antígenos encontrados nos epitélios. A função de coletar
os antígenos e entregar para os linfonodos é efetuada pelos vasos linfáticos.
Existem cerca de 500 linfonodos no corpo humano; um linfonodo é cercado por
uma cápsula fibrosa, sob a qual existe um sistema sinusal cercado por células
reticulares, com pontes cruzadas por fibrilas de colágeno e outras proteínas da
matriz extracelular e preenchido com linfa, macrófagos, células dendríticas e
outros tipos celulares (ABBAS, 2015). Vale lembrar da grande importância dos
linfonodos, quando estão aumentados no nosso organismo, servem como um
alerta clínico de que o nosso sistema imune pode estar com alguma doença.

Para concluir os tecidos linfoides, vamos aprender sobre o sistema imune


associado às mucosas. Esses sistemas vêm cada vez mais sendo estudados e
aprofundados dentro da imunologia. Segundo Abbas (2015), os componentes
dos sistemas imunes relacionados com as mucosas gastrintestinal e brônquica
são denominados tecido linfoide associado à mucosa (MALT) e estão envolvidos
nas respostas imunes aos antígenos e micro-organismos ingeridos e inalados. Os
tecidos mucosos também contêm tecidos linfoides secundários não encapsulados,
mas organizados sob a barreira epitelial, que incluem linfócitos B e T, células
dendríticas e macrófagos. Estas coleções de células imunes frequentemente
denominadas tecido linfoide associado à mucosa (MALT) são locais nos quais
respostas imunes adaptativas especializadas para uma determinada mucosa em
particular são iniciadas. As respostas imunes adaptativas em sistemas imunes
associados a barreiras epiteliais também são induzidas em linfonodos drenantes
que estão localizados fora dos tecidos das barreiras. O MALT compreende um
grande número de componentes do sistema imune em termos celulares, dentre os
quais o maior é o sistema linfoide associado ao intestino, composto pelas placas
de Peyer (Figura 11). Outros exemplos de MALT são as amígdalas, as adenoides
e o apêndice (WOOD, 2013).

77
UNIDADE 2 | CONSIDERAÇÕES SOBRE IMUNOLOGIA BÁSICA

FIGURA 11 – ESQUEMATIZAÇÃO DO SISTEMA IMUNE INTESTINAL

Vilosidades Bactérias comensais

Linfócitos Lúmen
intraepiteliais intestinal
Célula M
Muco
Célula epitelial
intestinal Célula caliciforme
Célula
dendrítica
Epitélio
Cripta Placa mucoso
Linfático de Peyer
IgA
Drenagem aferente
linfática
Folículo
Lâmina
própria
Célula B Macrófago
Célula Plasmócito
dendrítica Células
Peptídios de Paneth Célula T
antimicrobianos Mastócito

Mesentério
Linfonodo
mesentérico

Na Figura podemos observar como se desenvolve o sistema imune


gastrointestinal. O sistema gastrintestinal, como outros tecidos de mucosas,
é composto de uma estrutura tubular revestida por uma camada de células
epiteliais contínuas sobre uma membrana basal que serve como uma
barreira física ao ambiente externo. Abaixo do epitélio, localiza-se o tecido
conjuntivo frouxo do intestino denominado lâmina própria, que contém
vasos sanguíneos, vasos linfáticos e tecidos linfoides associados à mucosa. A
submucosa é uma camada de tecido conjuntivo denso que conecta a mucosa
às camadas de músculo liso.

FONTE: ABBAS (2015, p. 675)

3 RESPOSTAS IMUNOLÓGICAS
Agora que você já aprendeu sobre as células do sistema imune e sobre os
tecidos linfoides, podemos aprofundar um pouco mais o sistema imunológico.
Aprendemos no início desta unidade que existem dois tipos de resposta imunes.
A resposta imune inata ou natural, que é a primeira resposta ativada quando
entramos em contato com um antígeno; e a resposta imune adquirida ou
adaptativa, que se desenvolve mais tarde e que necessita da ativação dos linfócitos.
Agora vamos estudar cada uma dessas imunidades, suas características, e células
que contribuem para a eficiência da resposta imune. Vamos lá?

78
TÓPICO 1 | CONHECENDO O SISTEMA IMUNE: PROPRIEDADES GERAIS DAS RESPOSTAS IMUNES

3.1 IMUNIDADE INATA


A resposta natural ou inata, como já aprendemos, é a primeira resposta
que o organismo é capaz de ativar. Podemos também chamar de sistema imune
inato os mecanismos preexistentes capazes de prevenir infecções por patógenos
ou ainda criar uma defesa imediata contra agentes estranhos. Assim, as barreiras
físicas, químicas, as células imunes e algumas proteínas, fazem parte dessa defesa
inicial do nosso organismo (WOOD, 2013).

Segundo Abbas (2015), a imunidade inata desempenha três funções


essenciais que nos protegem contra micro-organismos e lesões teciduais: primeiro,
é a resposta inicial aos micro-organismos que previne, controla ou elimina a
infecção do hospedeiro por muitos patógenos; segundo, os mecanismos imunes
inatos podem eliminar células danificadas e assim iniciar o processo de reparo
tecidual; terceiro, a imunidade inata é capaz de estimular as respostas imunes
adquiridas e pode influenciar a natureza das respostas adquiridas para torná-las
otimamente efetivas contra diferentes tipos de micro-organismos.

Antes de aprofundarmos as funções do sistema imune inata, precisamos


aprender que existem muitas barreiras físicas e químicas que tornam mais
difíceis para os patógenos penetrarem no corpo (Figura 12). Essas barreiras são
consideradas nosso primeiro mecanismo de defesa. Dentro das barreiras de defesa
do sistema inato, podemos chamar a atenção para as barreiras epiteliais que
formam barreiras físicas entre os micro-organismos no meio ambiente externo e o
tecido do hospedeiro (Figura 13). Além disso, as células epiteliais produzem agentes
químicos antimicrobianos (defensinas e catelecidinas), que impedem a entrada
dos micro-organismos no corpo (ABBAS, 2015). As defensinas são peptídeos
antimicrobianos encontrados nas secreções das mucosas e peles; e as catelecidinas
são peptídeos antibacterianos descobertos como defesa aos insetos (WOOD, 2013).
A quebra dessas barreiras epiteliais, como picadas de insetos, cortes, queimaduras,
mordidas de animais etc., quebram a primeira barreira do sistema imune inato
que é barreira física epitelial e tornam-se portas de entrada para patógenos. Ainda
alguns micro-organismos penetram as mucosas dos tratos respiratórios, intestinais
e genitourinário, podendo causar algumas doenças (WOOD, 2013).

79
UNIDADE 2 | CONSIDERAÇÕES SOBRE IMUNOLOGIA BÁSICA

FIGURA 12 – PORTA DE ENTRADA DE PATÓGENOS NO CORPO (A) E BARREIRAS DE


DEFESAS FÍSICAS E QUÍMICAS NO CORPO (B)
Mucosa respiratória – Químicos/bioquímicos Físicos
influenza Mucosa ciliada (respiratória)
Picada de mosquito – Glândula secretora
malária de muco
Lisozima nas
lágrimas/suor Célula epitelial
ciliada
Célula caliciforme
Cílios

Uso de drogas IV
Mucosa não ciliada (tratos GI, GU)
HCI no estômago
Mucosa do intestino – Ácido graxos
Salmonella produzidos por
Muco Célula caliciforme
Cortes, queimaduras – glândulas
tétano sebáceas na pele Célula epitelial
Ácido láctico e
ácido propiônico na
vagina, trato urinário
Pele Camada de
queratina
Mordida de Peptídeos
animais – raiva antimicrobianos
Penetração na pele (muitos locais
intacta – tênia do corpo)

Derme Epiderme

FONTE: Adaptado de Wood (2013)

FIGURA 13 – ESQUEMATIZAÇÃO DO SISTEMA IMUNE CUTÂNEO

Microrganismos comensais
e patogênicos
Epiderme

Queratinócitos
Célula de Langerhans
epidérmica
Linfócito intraepitelial
(CD8+)
Queratinócitos basais
Derme

Mastócito

Macrófago

Linfócito T (CD4+)
Vaso
linfático
Vênula pós-capilar Célula dendritica
Drenagem para o da derme
linfonodo regional

FONTE: Abbas (2015, p. 710)

Já sabemos que existem barreiras físicas e químicas que atuam na defesa


do sistema imune inato e já aprendemos sobre as células do sistema imune e suas
funções. Você deve lembrar, acadêmico, que os principais componentes celulares
do sistema imune são os neutrófilos e macrófagos, que são células fagocitárias;

80
TÓPICO 1 | CONHECENDO O SISTEMA IMUNE: PROPRIEDADES GERAIS DAS RESPOSTAS IMUNES

as células dendríticas que são células apresentadoras de antígenos; e as células


NK que atuam na defesa contra células anormais e matam células infectadas por
vírus (MURPHY, 2014). Agora iremos conhecer onde essas células irão atuar e
quais os eventos que compõem a resposta imune inata.

O sistema inato é capaz de reconhecer estruturas moleculares que são


produzidas pelos patógenos microbianos, ao qual podemos chamar de “padrões
moleculares associados aos patógenos” (PAMPs). Os PAMPs são produzidos
somente pelo patógeno e não pelo hospedeiro, são invariáveis entre micro-
organismos da mesma classe, para cada tipo de micro-organismo é expresso um
PAMP diferente, e são essenciais para a sobrevivência do patógeno; podemos
citar como exemplo: membranas que revestem o patógeno, ácidos nucleicos do
patógeno, características de algumas proteínas, entre outros exemplos. Além dos
PAMPs, o sistema imune inato também reconhece moléculas endógenas que são
produzidas ou liberadas de células danificadas ou mortas; essas substâncias são
chamadas de “padrões moleculares associados ao dano” (DAMPs). Os DAMPs
são produzidos como resultados de danos celulares provocados por infecções,
mas também podem indicar a ocorrência de lesões celulares assépticas causadas
por diversos mecanismos, como toxinas, queimaduras, traumas (ABBAS, 2015).

Você deve se perguntar como o sistema imune inato é capaz de


reconhecer essas substâncias PAMPs e DAMPs. Esse reconhecimento é graças
aos vários tipos de receptores celulares, presentes em diferentes localizações nas
células, e moléculas solúveis no sangue e secreções mucosas, que são capazes de
reconhecer os PAMPs e DAMPs. Esses receptores recebem o nome de “receptores
de reconhecimento padrão” (PRRs), eles atuam na opsonização e ativação
do sistema complemento (detalharemos esse sistema no Tópico 2), induzem a
resposta inflamatória, e ativam a fagocitose (ABBAS, 2015).

81
UNIDADE 2 | CONSIDERAÇÕES SOBRE IMUNOLOGIA BÁSICA

DICAS

O termo opsonização significa fixar opsoninas; que são proteínas que podem se
ligar a moléculas em micróbios e receptores em leucócitos para facilitar o reconhecimento
de patógenos, e atuar ativando a fagocitose (WOOD, 2013).

OPSONIZAÇÃO

Bactéria
extracelular Opsonização

Ingestão pelo macrófago

Digestão no
lisossomo

FONTE: <http://reniellyfisio.blogspot.com/2011/02/relacao-entre-opsonizacao-e-fagocitose.html>.
Acesso em: 13 mar. 2020.

Os PRRS são expressos na superfície, em vesículas fagocíticas e no citosol


de vários tipos celulares, todos sendo localizações onde os micro-organismos
podem estar presentes (ABBAS, 2015). Todos os PRRs ativam uma resposta na
célula após o reconhecimento do seu PAMP particular, o reconhecimento de
ligantes microbianos por PRRs leva à ativação de diversas vias de sinalização que
levam a respostas inflamatórias e antivirais, conforme a Figura 14.

82
TÓPICO 1 | CONHECENDO O SISTEMA IMUNE: PROPRIEDADES GERAIS DAS RESPOSTAS IMUNES

FIGURA 14 – RECONHECIMENTO DOS PRRS E PAMPS

FONTE: Roitt (2013, p. 5)

Existem diferentes tipos de PRRs, nesse livro didático, abordaremos a


importância da principal classe de receptores, os receptores do tipo Toll (TLR),
representado na Figura 15. Alguns desses receptores ativam a célula a responderem
diferenciando e/ou secretando vários fatores que irão contribuir para a resposta
imune contra o patógeno (WOOD, 2013). Os TLRs reconhecem produtos de uma
grande variedade de patógenos, assim como moléculas expressas ou liberadas
por células estressadas ou em processo de morte.

83
UNIDADE 2 | CONSIDERAÇÕES SOBRE IMUNOLOGIA BÁSICA

FIGURA 15 – ESTRUTURA DE UM TLR

FONTE: Roitt (2013, p. 11)

Se um micro-organismo invade um tecido com sucesso, os macrófagos


podem reconhecê-lo com um ou mais PRRs, e tentar fagocitá-lo e destruí-lo.
Normalmente, não há macrófagos suficientes presentes em um tecido para
fagocitar e remover todos os patógenos, então são ativados os macrófagos
teciduais que iniciam uma resposta imune para trazer mais fagócitos para o local
da infecção através da corrente sanguínea. Essas células e proteínas que chegam
ao local da infecção, ajudam a combater o patógeno, e essa resposta é conhecida
como resposta inflamatória, que tem como objetivo recrutar células e outros
fatores da corrente sanguínea aos tecidos, para ajudar a remover os patógenos e
células mortas (WOOD, 2013).

O movimento das células para os locais de infecção deve ser cuidadosamente


controlado para que as células cheguem apenas onde sejam necessárias. Para esse
controle de movimento das células para dentro de locais específicos dos tecidos,
temos o auxílio das moléculas de adesão, elas estão presentes em leucócitos e células
endoteliais, e interações entre as moléculas de adesão permitem que o leucócito se
ligue ao endotélio, como parte de migração celular. Essas interações são reguladas
pelas quimiocinas (fatores quimiotáticos), atuam na célula fazendo com que ela se
mova da corrente sanguínea para o tecido (WOOD, 2013).

84
TÓPICO 1 | CONHECENDO O SISTEMA IMUNE: PROPRIEDADES GERAIS DAS RESPOSTAS IMUNES

Resumidamente, a resposta inflamatória tem quatro eventos importantes


(Figura 16): primeiro ocorre a vasodilatação, aumentando os fluxos sanguíneos
na área e aumentando o fornecimento de células e fatores; segundo, ocorre a
ativação das células endoteliais que revestem os vasos sanguíneos, aumentando
as moléculas de adesão, fazendo com que os leucócitos se fixem ao endotélio,
promovendo a migração celular; terceiro, ocorre o aumento da permeabilidade
vascular, tornando mais fácil para as células e proteínas passar através das paredes
dos vasos sanguíneos e entrar no tecido, e por último, a ação das quimiocinas
(fatores quimiotáticos), que são produzidos para atrais as células para dentro dos
tecidos (WOOD, 2013).

FIGURA 16 – ESTÁGIOS INICIAIS DA MIGRAÇÃO DOS LEUCÓCITOS PARA


OS LOCAIS DE INFLAMAÇÃO

FONTE: <https://www.researchgate.net/profile/Wesley_Souza2/publication/26979689/figure/
fig1/AS:492794830692353@1494502851986/Figura-3-Eventos-leucocitarios-na-inflamacao-
Durante-o-processo-inflamatorio-os.png>. Acesso em: 13 mar. 2020.

85
UNIDADE 2 | CONSIDERAÇÕES SOBRE IMUNOLOGIA BÁSICA

NTE
INTERESSA

MARCO HISTÓRICO – FAGOCITOSE

FONTE: Roitt (2013, p. 9)

3.2 IMUNIDADE ADAPTATIVA


Até aqui aprendemos que a imunidade inata é a primeira defesa
imunológica do nosso organismo, respondendo rapidamente contra o agente
estranho. Em contrapartida, a resposta imune adaptativa demora mais tempo
para responder, porém gera uma resposta específica para cada agente infeccioso.

No Tópico 3, desta unidade, abordaremos mais detalhadamente esse


tipo de resposta imunológica. Neste momento é importante que você conheça
as duas características principais da imunidade adaptativa: esse tipo de resposta
aumenta a cada contato com o antígeno estranho, um fenômeno é conhecido como
memoria imunológica (Figura 17), e é mediada pelos linfócitos B e linfócitos T,
sendo que as respostas imunológicas mediadas pelas células B são conhecidas
como imunidade humoral; e as respostas mediadas pelas células T são conhecidas
como imunidade celular (ROITT, 2013).

86
TÓPICO 1 | CONHECENDO O SISTEMA IMUNE: PROPRIEDADES GERAIS DAS RESPOSTAS IMUNES

FIGURA 17 – ESPECIFICIDADE DA RESPOSTA IMUNE ADQUIRIDA

FONTE: Adaptado de Abbas (2015)

Tanto a imunidade humoral quanto a imunidade celular têm características


fundamentais que refletem as propriedades dos linfócitos que medeiam essas
respostas. No Quadro 1 podemos observar essas características importantes na
resposta adquirida.

QUADRO 1 – PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DAS RESPOSTAS IMUNES ADQUIRIDAS

Característica Significado Funcional


Garante que antígenos distintos desencadeiem respostas
Especificidade
específicas.
Capacita o sistema imunológico a responder a uma grande
Diversidade
variedade de antígenos.
Conduz a respostas intensificadas a exposições repetidas ao
Memória
mesmo antígeno.
Aumenta o número de linfócitos antígenos-específicos para
Expansão Clonal
que se mantenham atualizados com os micróbios.
Gera respostas que são ideais para a defesa contra diferentes
Especialização
tipos de micróbios.
As respostas imunes diminuem com o passar do tempo fazendo
Autolimitação e Homeostasia
com que p sistema imune retorne ao estado basal.
Evita lesão do hospedeiro durante respostas a antígenos
Tolerância à antígenos próprios
estranhos.

FONTE: Adaptado de Abbas (2015)

87
UNIDADE 2 | CONSIDERAÇÕES SOBRE IMUNOLOGIA BÁSICA

NOTA

Imunidade ativa e passiva

Você já se perguntou qual é a diferença entre soros e vacinas?


A imunidade protetora contra os micro-organismos geralmente é induzida pela
resposta do hospedeiro aos micro-organismos. A forma da imunidade que é induzida pela
exposição a um antígeno é chamada de imunidade ativa, essa imunidade mimetiza uma
infecção real, assim o sistema imunológico desempenha um papel ativo contra o micro-
organismo; um exemplo claro desse tipo de imunidade é as vacinas. Já a imunidade passiva,
trata-se da transferência adotiva de anticorpos ou linfócitos T específicos, essa imunidade
confere resistência rapidamente sem a necessidade de esperar o desenvolvimento de uma
resposta imunológica ativa; um exemplo são os soros. Uma particularidade da imunidade
ativa é que ela é capaz de desenvolver memória imunológica. Na figura a seguir, podemos
observar as diferenças entre a imunidade ativa e passiva.

FIGURA – DIFERENÇA ENTRE A IMUNIDADE ATIVA E PASSIVA

FONTE: <https://docplayer.gr/docs-images/86/94825741/images/4-1.jpg>.
Acesso em: 24 mar. 2019.

88
TÓPICO 1 | CONHECENDO O SISTEMA IMUNE: PROPRIEDADES GERAIS DAS RESPOSTAS IMUNES

DICAS

O sistema imunológico do recém-nascido

Lílian Martins Oliveira Diniz


Bruna de Campos Guimarães e Figueiredo

Os recém-nascidos e lactentes jovens apresentam seu sistema imunológico


imaturo, o que os torna mais suscetíveis aos agentes infecciosos presentes nesse período.
Sabe-se que os neonatos são mais vulneráveis às infecções que as crianças e os adultos.
Diferenças observadas na imunidade inata e adaptativa são responsáveis pelo prejuízo das
defesas do neonato. Os defeitos da imunidade adaptativa requerem o contato prévio com
antígenos, enquanto o sistema inato não necessita de experiência imunológica prévia.
A imunidade inata é a primeira linha de defesa contra os patógenos e é composta pela
resposta de granulócitos, monócitos, macrófagos, células dendríticas e natural killer. Alguns
patógenos responsáveis pelas infecções intraútero, intraparto e pós-parto estimulam
a resposta imune fetal e neonatal. Esses agentes incluem o estreptococo do grupo B, a
Escherichia coli, a Listeria monocytogenes, o herpes simples, o citomegalovírus, o vírus
Epstein-Barr, o vírus varicella-zoster, o vírus respiratório sincicial, o Toxoplasma gondii e a
Candida albicans. O melhor entendimento do funcionamento do sistema imunológico no
período neonatal é capaz de tornar o médico apto a desempenhar medidas preventivas e
terapêuticas que melhorem os cuidados das infecções durante esse período. Essa revisão
tem como objetivo discutir avanços recentes e o entendimento atual da imunidade do
recém-nascido, dando ênfase aos aspectos imunológicos relacionados à acentuada
susceptibilidade às infecções, as quais são responsáveis por significante morbimortalidade
no período neonatal.

Palavras-chave: Sistema Imunológico; Recém-Nascido; Lactente; Infecção; Imunidade


Inata; Substâncias Nocivas.

FONTE: DINIZ, L; FIGUEIREDO, B. O sistema imunológico do recém-nascido. Revista


Médica de Minas Gerais, v. 24, n. 2, p. 233-240, 2014.

89
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:

• O sistema imunológico tem a função de defender o corpo contra doenças


causadas por bactérias, fungos, vírus e parasitas.

• Os micro-organismos que causam doenças são chamados de patógenos, e o


indivíduo infectado por esse patógeno é chamado de hospedeiro.

• O termo antígeno refere-se a todas as substâncias, tais como: proteínas, moléculas,


micro-organismos, que são considerados estranhos para o nosso organismo.

• As principais células envolvidas na Imunidade Inata são os macrófagos, neutrófilos


e outros granulócitos, células dendríticas e células natural killer (chamadas de
células NK). Já as principais células da Imunidade Adaptativa são os linfócitos.

• As células dendríticas são conhecidas como células apresentadoras de antígenos


(APC) e têm a capacidade de capturar antígenos e apresentá-los aos linfócitos T, o
que irá fornecer sinais que estimularão a proliferação e diferenciação dos linfócitos.

• As células naturais killer (NK), também chamadas de células linfoides inatas


do Tipo 1, podem reconhecer e matar células anormais, como células tumorais
e algumas células infectadas por vírus.

• O papel dos linfócitos é mediar a imunidade adquirida.

• Quando uma célula T é ativada ela prolifera e diferencia-se em um dos diferentes


tipos funcionais de linfócitos T efetores: linfócitos TCD4+ e Linfócitos TCD8+.

• Os vasos linfáticos encontram-se em estruturas especializadas chamadas de


linfonodos, e tem a função de coletar os antígenos e entregar para os linfonodos
e efetuada pelos vasos linfáticos.

• As MALT são sistemas imunes regionais associando as mucosas, que protegem


as barreiras das mucosas gastrintestinal, broncopulmonar e geniturinária, bem
como do sistema imune cutâneo (pele).

• Existem dois tipos de resposta imunes: a resposta imune inata ou natural, que
é a primeira resposta ativada quando entramos em contato com um antígeno;
e a resposta imune adquirida ou adaptativa, que se desenvolvem mais tarde e
necessitam da ativação dos linfócitos.

90
• O sistema inato é capaz de reconhecer estruturas moleculares que são
produzidas pelos patógenos microbianos, ao qual podemos chamar de Padrões
moleculares associados aos patógenos (PAMPs).

• A imune adaptativa demora mais tempo para responder, porém essa resposta
é específica para cada agente infeccioso.

• Memória imunológica é a capacidade de o organismo reconhecer uma resposta


a um antígeno previamente já conhecido pelo organismo.

91
AUTOATIVIDADE

1 Muitas vezes, o sistema imunológico detecta células cancerosas e as elimina


com grande rapidez. Este trabalho é desempenhado por células denominadas:

a) ( ) Auxiliares CD4.
b) ( ) Plasmócitos.
c) ( ) Mastócitos.
d) ( ) Destruidoras Naturais (Natural Killer – NK).

2 Sabe-se que a especificidade das respostas imunológicas se deve aos linfócitos.


Morfologicamente semelhantes, essas células formam subconjuntos bem
diferentes em suas funções. Entre os linfócitos, o único tipo capaz de produzir
anticorpos é o:

a) ( ) Linfócito B.
b) ( ) Linfócito TCD4.
c) ( ) LinfócitoTCD8.
d) ( ) Células NK.

3 A vacinação e a soroterapia proporcionam, respectivamente:

a) ( ) Imunidade ativa e imunidade passiva.


b) ( ) Imunidade ativa e imunidade adquirida.
c) ( ) Imunidade passiva e imunidade ativa.
d) ( ) Imunidade inata e imunidade adaptativa.

4 O meio ambiente está repleto de agentes infecciosos que podem causar


várias doenças nos seres humanos. A maioria das infecções, entretanto, é
de curta duração, uma vez que existe um sistema imunológico que combate
os agentes infecciosos. As respostas imunológicas são mediadas por uma
variedade de células e por moléculas solúveis secretadas por elas. Sobre tais
células, relacione o tipo de célula à sua definição:

I- Célula B
II- Célula T
III- Eosinófilo
IV- Neutrófilo
V- Mastócitos

( ) diferenciam-se em plasmócitos, que produzem e secretam na forma


solúvel, grande quantidade de anticorpos.
( ) situam-se próximos aos vasos sanguíneos em todos os tecidos e possuem
grânulos contendo uma serie de mediadores que produzem inflamação
nos tecidos.

92
( ) Células fagocitárias de vida curta, constituem a maioria dos leucócitos
sanguíneos.
( ) apreendem e lesionam parasitas extracelulares grandes, como helmintos.
( ) destroem células do hospedeiro infectadas por vírus ou outros parasitas
intracelulares. Sua atividade depende da liberação de citocinas e
interação célula-célula.

Assinale a sequência correta:


a) ( ) I, III, IV, V, II.
b) ( ) I, V, IV, III, II.
c) ( ) III, V, I, IV, II.
d) ( ) II, III, I, V, IV.
e) ( ) V, I, IV, III, II.

5 A afirmação a seguir: são populações especializadas de células com a função


de capturar antígenos microbianos e outros antígenos, apresentá-los aos
linfócitos e fornecer sinais que estimulem a proliferação e diferenciação desses
linfócitos. Este conceito está relacionado a qual tipo de células? E quais os
tipos celulares envolvidos nessa função?

93
94
UNIDADE 2 TÓPICO 2

APROFUNDANDO O SISTEMA
IMUNOLÓGICO

1 INTRODUÇÃO
Caro acadêmico! Aprendemos, no primeiro tópico, as células do sistema
imunológico, suas funções, como os tecidos imunológicos agem no nosso
organismo e como atuam as respostas imunes inatas e adaptativas. Podemos notar
até aqui que a imunologia é uma matéria bem complexa, mas bastante instigante,
fazendo com que no decorrer da matéria criamos mais questionamentos sobre
como funciona a defesa imunológica do nosso corpo.

Neste tópico, conheceremos três assuntos importantes para o bom


funcionamento do sistema imunológico. Conheceremos os mecanismos de defesa
do nosso organismo; abordaremos os anticorpos e as suas funções, como ocorre
a memória imunológica do nosso organismo, qual a importância do complexo de
histocompatibilidade e conheceremos a importância do sistema complemento.

Vamos aprofundar no sistema imunológico, conhecer cada proteína,


cada estrutura e como elas atuam no sistema de defesa. Para isso preciso do seu
comprometimento com essa disciplina, para que possamos juntos aprender essa
fascinante matéria. Preparados para mais uma etapa?

2 ANTÍGENO E ANTICORPOS
Os anticorpos são proteínas circulantes produzidas pelos linfócitos B,
mais especificamente, pelos plasmócitos em resposta à exposição a estruturas
estranhas conhecidas como antígenos. Podemos denominar antígeno qualquer
substância ou agente estranho que invada o nosso organismo.

Os antígenos podem ser proteínas, carboidratos, lipídios, ácidos


nucleicos ou pequenos agrupamentos químicos conhecidos como
haptenos, ou seja, na verdade qualquer coisa pode ser um antígeno.
Os antígenos podem ser componentes dos micro-organismos, dos
agentes infecciosos maiores (como vermes parasitas), das substâncias
ingeridas (tais como alimentos), das substâncias inaladas (pólen),
dos órgãos ou dos tecidos transplantados, ou até do nosso próprio
organismo (antígenos "próprios") (ROITT, 2013, p. 37).

Os anticorpos são incrivelmente diversos e específicos em suas habilidades


de reconhecer estruturas moleculares estranhas e constituem os mediadores da
imunidade humoral (imunidade mediada pelas células B) contra todas as classes

95
UNIDADE 2 | CONSIDERAÇÕES SOBRE IMUNOLOGIA BÁSICA

de micro-organismos. Também são conhecidos como Imunoglobulinas (Ig), e


podem ser apresentados em duas formas: conectados na superfície da membrana
dos linfócitos B e secretados no plasma, secreções mucosas, no líquido intersticial,
tecidos e mucosas (ABBAS, 2015).

2.1 ANTICORPOS: ESTRUTURA, SÍNTESE E FUNÇÕES


Os anticorpos ligam-se a agentes estranhos ao corpo, que podem estar na
superfície de algum patógeno ou ser produtos solúveis, como toxinas secretadas
por patógenos. Como já vimos, esses agentes estranhos são chamados de antígenos,
que são quase sempre macromoléculas, como proteínas, lipídios, ácidos nucleicos,
e até mesmo açúcares. Uma molécula de anticorpo não consegue se ligar em todo o
antígeno, e sim uma pequena parte que vamos denominar como epítopo antigênico
(Figura 18), essa ligação ocorre modelo “chave-fechadura” (WOOD, 2013).

FIGURA 18 – MODELO DE ANTÍGENO, EPÍTOPO E ANTICORPO

FONTE: <https://www.estudopratico.com.br/wp-content/uploads/2015/02/antigenos-e-anticorpos.jpg>.
Acesso em: 13 mar. 2020.

A estrutura do anticorpo é simétrica e composta de duas cadeias leves


idênticas e duas cadeias pesadas idênticas. Ambas as cadeias, leve e pesada, contêm
uma série de unidades homólogas repetidas, cada uma com cerca de 110 resíduos de
aminoácidos de comprimento, que se dobram independentemente em um motivo
globular que é chamado de domínio Ig (ABBAS, 2015). As imunoglobulinas ou
anticorpos, possuem dois componentes principais um conhecido como região variável
(Fab), encarregada de ligar-se ao epítopo antigênico (função de reconhecimento dos
antígenos), e outra conhecida como região constante (Fc), utilizada para ligar-se ao
complemento, aos fagócitos, às células NK e a outros elementos (função efetora);
conforme podemos observar na Figura 19 (ROITT, 2013).

Segundo Roitt (2013), através da região Fab (fragmento de ligação ao


antígeno) do anticorpo, ocorre a ligação ao antígeno específico do micróbio e tem
composição variável em cada anticorpo. Já a região Fc (fragmento cristalisável) é

96
TÓPICO 2 | APROFUNDANDO O SISTEMA IMUNOLÓGICO

idêntica em todos os anticorpos da mesma classe/subclasse e ativa funcionalmente


o complemento (via clássica com os anticorpos lgM e lgG) e as células fagocitárias
(com o anticorpo lgG, por ligação aos receptores Fc [FcR] existentes na superfície
do fagócito). Iremos estudar no decorrer deste tópico sobre o sistema complemento
e qual é a importância dele no sistema imunológico. Na Figura 20 podemos
observar como ocorre a ligação do anticorpo ao antígeno.

FIGURA 19 – ESTRUTURA DO ANTICORPO – REGIÃO FAB E REGIÃO FC

FONTE: Adaptado de Roitt (2013)


FIGURA 20 – A MOLÉCULA DO ANTICORPO LIGA O ANTÍGENO AOS OUTROS COMPONENTES
DA RESPOSTA IMUNE

FONTE: Roitt (2013, p. 37)

97
UNIDADE 2 | CONSIDERAÇÕES SOBRE IMUNOLOGIA BÁSICA

Agora que aprendemos como é a estrutura de um anticorpo, iremos


conhecer como esses anticorpos são produzidos. Segundo Roitt (2013), cada
linfócito B está programada para produzir um e apenas um tipo específico de
anticorpo. Ao ser estimulado a produzir seu anticorpo, o linfócito B expõe uma
versão transmembrana desses anticorpos em sua superfície, que atuam como
receptores para o antígeno específico. Resumidamente, podemos descrever como
ocorre a diferenciação da célula B, para uma célula produtora de anticorpos,
denominada de plasmócito. Isso ocorre quando um antígeno entra no organismo,
acaba se deparando com numerosos linfócitos B, cada qual com anticorpos
diferentes e seus sítios de reconhecimento específicos e próprios. Esse antígeno
liga-se apenas aos receptores com os quais consegue combinar-se perfeitamente.
Fazendo com que os linfócitos B cujos receptores estão ligados aos antígenos
recebam um sinal ativador, se transformando em plasmócitos (Figura 21).

FIGURA 21 – ATIVAÇÃO E DIFERENCIAÇÃO DO LINFÓCITO B

FONTE: Adaptado de Abbas (2015)

Caro acadêmico, você deve se perguntar, qual é a função dos anticorpos


no nosso corpo? Os anticorpos possuem algumas funções efetoras, como a
neutralização dos micro-organismos ou produtos microbianos tóxicos, são
capazes de ativar o sistema complemento, conseguem opsonizar os patógenos
a fim de que se possa aumentar a fagocitose, e ainda opsonizam patógenos para
serem destruídos por células NK (ABBAS, 2015).

As moléculas de anticorpos podem ser divididas em classes (isótipos) e


subclasses distintas, com base nas diferenças na estrutura das regiões constantes.
Há cinco classes de anticorpos humanos, chamados de imunoglobulinas do tipo
IgM, IgG, IgD, IgA e IgE (Figura 22); e existem variações levemente diferentes em
IgG e IgA que são chamadas de subclasses (IgA1, IgA2, IgG1, IgG2, IgG3 e IgG4)
(ABBAS, 2015). Essas classes de imunoglobulinas possuem a estrutura básica
de quatro cadeias do anticorpo, mas diferem quanto as suas cadeias pesadas
denominadas γ, α, µ, δ e ε. Nas regiões Fc, as diferenças são mais marcantes, e
resultam na ativação de diferentes funções efetoras depois da ligação ao antígeno
(ROITT, 2013). As funções de cada imunoglobulina dentro do nosso corpo estão
apresentadas no Quadro 2.

98
TÓPICO 2 | APROFUNDANDO O SISTEMA IMUNOLÓGICO

FIGURA 22 – CLASSES (ISÓTIPOS) DE IMUNOGLOBULINAS

FONTE: <https://www.3tres3.com.pt/artigos/sistema-imunitario-e-imunidade-imunidade-
humoral-especifica-1-2_10960/>. Acesso em: 13 mar. 2020.

QUADRO 2 – FUNÇÕES DOS DIFERENTES ISÓTIPOS DE IMUNOGLOBULINAS

Isótipo (Ig) Funções


Faz parte da Imunidade das mucosas, presente na saliva, lágrimas, secreções
IgA
nasais, suor, presente no colostro (leite materno).
Anticorpo encontrado principalmente na superfície das células B como
IgD receptor antigênico combinado com IgM, onde provavelmente ajuda a
controlar a ativação e a supressão dos linfócitos.
IgE Defesa contra parasitas helmínticos, hipersensibilidade imediata.
Opsonização, ativação do complemento, citotoxicidade mediada por células
dependentes de anticorpo, imunidade neonatal.
A imunidade neonatal ocorre através do transporte da IgG da mãe para o
feto, esse anticorpo persiste no sangue do bebê recém-nascido por algum
IgG
tempo e parece ser importante para a proteção direta da criança contra
os patógenos. Além disso, a presença do anticorpo materno facilita o
desenvolvimento da imunidade celular da criança pequena porque atenua,
em vez de impedir por completo, a exposição aos patógenos (ROITT, 2013).
IgM Receptor a antígeno de célula B virgens, ativação do complemento

FONTE: Adaptado de Abbas (2015)

99
UNIDADE 2 | CONSIDERAÇÕES SOBRE IMUNOLOGIA BÁSICA

3 MEMÓRIA IMUNOLÓGICA
Você já ouviu falar de memória imunológica? Ainda não? É o que
abordaremos agora! Memória imunológica compreende os eventos gerados
após a primeira exposição a um antígeno para que, quando o organismo entrar
em contato com esse antígeno uma segunda vez, o sistema imune seja capaz de
responder mais rapidamente (WOOD, 2013). Segundo Murphy (2014), durante
o processo de desenvolvimento de uma resposta imunológica, algumas células
B e T são ativadas pelo antígeno, diferenciando-se em células de memória, que
são os linfócitos responsáveis pela imunidade de longa duração. Essas células
de memória, que podem ser produzidas após doença ou após a vacinação irão,
prontamente, diferenciar-se em células efetoras em uma segunda exposição a seu
antígeno específico.

Esse primeiro contato com o antígeno é chamado de Resposta Primária. A


resposta imune primária é lenta, porque necessita de tempo para que os linfócitos
virgens sejam ativados, proliferem-se e sofram diferenciação em quantidades
suficientes para desencadear a resposta imunológica. Essa proliferação e
diferenciação dos linfócitos é chamada de Expansão Clonal. A resposta primária
também não é muito intensa e tem um intervalo de duração curto. Quando o
corpo entra em contato com esse mesmo antígeno uma segunda vez, inicia-se
uma resposta muito mais rápida e intensa chamada Resposta Secundária. A
eficiência da resposta secundária existe graças às células de memória que foram
produzidas na resposta imune primária e que já estão prontas para combater o
antígeno invasor em futuras infecções. Podemos observar isso na Figura 23, e no
Quadro 3 (ROITT, 2013).

Agora que você aprendeu o que é memória imunológica, saiba que ela
é a base das vacinas, além de também conferir proteção contra determinada
doença! Um exemplo claro é a vacina do vírus da Hepatite B. Essa vacina é
formada por uma proteína da superfície de membrana do vírus da Hepatite B.
Quando tomamos a primeira dose, o sistema imune reconhece esse antígeno da
superfície viral e desenvolve uma resposta imunológica como se o organismo
estivesse doente, porém sem desenvolver a doença propriamente dita. Dessa
forma, o corpo gera células efetoras e células de memória que estarão presentes
em futuras infeções, caso a pessoa entre em contato com o vírus. Porém a primeira
dose não é suficiente para que o organismo esteja totalmente protegido, por isso
precisamos tomar uma segunda dose que irá ativar as células de memória. Como
resultado dessa segunda dose, será gerada novamente uma resposta imunológica
com o desenvolvimento de mais células efetoras e de memória e, a cada dose, o
organismo confere mais imunidade contra o vírus da Hepatite B.

100
TÓPICO 2 | APROFUNDANDO O SISTEMA IMUNOLÓGICO

FIGURA 23 – DESENVOLVIMENTO DAS CÉLULAS DE MEMÓRIA

FONTE: Abbas (2015, p. 41)

QUADRO 3 – CARACTERÍSTICAS DAS RESPOSTAS PRIMÁRIA E SECUNDÁRIA

Características Resposta primária Resposta secundária


Pico de resposta Menor Maior
Aumento relativo da IgG e, sob
Isótipo de anticorpo Normalmente IgM>IgG algumas circunstâncias da IgA
ou IgE
Afinidade menor do que a
Afinidade do anticorpo Afinidade maior do que a média
média
Induzido por Todos os imunógenos Somente antígenos proteicos

FONTE: Adaptado de Abbas (2015)

101
UNIDADE 2 | CONSIDERAÇÕES SOBRE IMUNOLOGIA BÁSICA

ANTÍGENOS DO GRUPO SANGUÍNEO ABO

Os antígenos eritrocitários ou antígenos ABO foi o primeiro sistema de


aloantígenos (moléculas reconhecidas como estranha ao organismo, derivadas
de um indivíduo geneticamente diferente), ser definido em mamíferos.
Todos os indivíduos normais sintetizam um núcleo glicano comum, que está
ligado, principalmente, às proteínas da membrana plasmática. A maioria dos
indivíduos possuem uma fucosiltransferase que adiciona uma porção de fucose
a um resíduo não terminal de açúcar do glicano e os glicanos fucosilados são
chamados de antígeno H. Um único gene no cromossomo 9 codifica a enzima
glicosiltransferase que pode modificar ainda mais o antígeno H. Existem três
variantes alélicas deste gene. O produto do alelo O é desprovido de atividade
enzimática. A enzima codificada pelo alelo A transfere uma porção terminal
N-acetilgalactosamina para o antígeno H e o produto do gene do alelo B
transfere uma porção galactose terminal. Os indivíduos que são homozigotos
para o alelo S não podem anexar açúcares terminais para o antígeno H e
expressam apenas o antígeno H.

Em contraste, os indivíduos que possuem um alelo A (homozigoto


AA, heterozigotos AO, ou heterozigotos AB) formam o antígeno A pela
adição do terminal N-acetilgalactosamina em alguns dos seus antígenos H.
Da mesma forma, os indivíduos que expressam um alelo B (homozigotos BB,
heterozigotos BO, ou heterozigotos AB) formam o antígeno B, adicionando
a galactose terminal a alguns de seus antígenos H. Os heterozigotos AB
formam antígenos A e B de alguns de seus antígenos H. A terminologia foi
simplificada para que se diga que os indivíduos OO têm o tipo sanguíneo O;
Indivíduos AA e AO são de sangue de tipo A; os indivíduos BB e BO são o
tipo de sangue B; e os indivíduos AB são o tipo de sangue AB. As mutações
no gene que codifica a fucosiltransferase que produz o antígeno H são raras;
pessoas que são homozigotas para tal mutação são ditas ter o grupo sanguíneo
de Bombaim e não podem produzir antígenos H, A, B ou e não podem receber
sangue tipo O, A, B ou AB.

Os indivíduos que expressam um determinado antígeno do grupo


sanguíneo A ou B são tolerantes a este antígeno, mas os indivíduos que não
expressam este antígeno produzem anticorpos naturais que reconhecem o
antígeno. Os indivíduos que expressam antígenos A ou B são tolerantes a estas
moléculas e não produzem anticorpos anti-A e anti-B, respectivamente. No
entanto, os indivíduos dos grupos sanguíneos O e A produzem anticorpos
IgM anti-B, e os indivíduos dos grupos sanguíneos O e B produzem anticorpos
IgM anti-A. Os indivíduos incapazes de produzir antígenos do núcleo H
produzem anticorpos contra os antígenos H, A, e B.

102
TÓPICO 2 | APROFUNDANDO O SISTEMA IMUNOLÓGICO

Na transfusão clínica, a escolha dos doadores de sangue para um


receptor específico é baseada na expressão de antígenos do grupo sanguíneo e
nas respostas de anticorpos contra eles. Se um paciente recebe uma transfusão
de hemácias a partir de um doador que expressa o antígeno não expresso
em suas hemácias, isso pode resultar em uma reação de transfusão (descrita
anteriormente). Segue-se que os indivíduos AB podem tolerar transfusões
de todos os potenciais doadores e são, portanto, chamados de receptores
universais; da mesma forma, os indivíduos O podem tolerar transfusões
apenas de doadores O, mas podem fornecer sangue para todos os receptores
e, portanto, são chamados de doadores universais. Em geral, as diferenças em
grupos sanguíneos menores levam à lise de hemácias só depois de repetidas
transfusões desencadearem uma resposta do anticorpo secundário.

FONTE: ABBAS, A. K. Imunologia celular e molecular. 8. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2015.

4 SISTEMA COMPLEMENTO
Uma das funções importantes dos anticorpos, além das que já foram
descritas nos tópicos anteriores, é a capacidade de ativar o sistema complemento,
que é um dos principais mecanismos efetores da imunidade humoral e na
imunidade inata. Segundo Wood (2013), o sistema complemento consiste em
uma cascata de proteínas precursoras inativas que, conforme vão sendo ativadas,
tornam-se capazes de ativar as outras proteínas na sequência. Esse sistema
consiste em um conjunto de proteínas séricas e de superfície celular que interagem
uma com as outras, de maneira regulada e eficiente, com a finalidade de eliminar
micro-organismos (ABBAS, 2015). Mais de 30 proteínas plasmáticas fazem parte
do sistema do complemento e elas são produzidas principalmente pelo fígado.
Na ausência de infecção, essas proteínas circulam na forma inativa. Na presença
de patógenos ou de anticorpos ligados a patógenos, o sistema do complemento
torna-se "ativado'' (MURPHY, 2014).

103
UNIDADE 2 | CONSIDERAÇÕES SOBRE IMUNOLOGIA BÁSICA

As proteínas do complemento são proteínas plasmáticas normalmente


inativas; essas proteínas só serão ativadas em determinadas condições para gerar
produtos que medeiam várias funções efetoras do complemento. A ativação do
complemento envolve a proteólise sequencial de proteínas para gerar complexos
de enzimas com atividade proteolítica (ABBAS, 2015).

NOTA

O sistema complemento foi descoberto em 1894 pelo Dr. Jules Bordet. Através
de um experimento utilizando soro fresco contendo antibacterianos à temperatura de 37
oC, observou a lise bacteriana. Já se o soro fosse aquecido a 56o C ou mais, a capacidade
lítica era perdida. Bordet pode concluir que o soro deveria conter outro componente
termolábil que auxilia ou complementa a função lítica dos anticorpos, a esse componente
foi dado, o nome complemento.

Existem três vias do sistema complemento: a via clássica, a via das lectinas
e a via alternativa. Todas essas vias convergem para uma via final comum. Neste
tópico, iremos nos aprofundar nessas vias do sistema complemento.

Acadêmico, aprenderemos como as três vias do sistema complemento


são ativadas. Como vimos anteriormente, o sistema complemento faz parte
da resposta imune inata e adaptativa, ou seja, ele pode ser ativado por micro-
organismos/patógenos ou por anticorpos. A forma como o sistema complemento
é ativado é importante para podermos classificar o tipo de via, observe a Figura 24.
A via de ativação do sistema complemento chamada de via alternativa, é ativada
sobre a superfície das células microbianas na ausência de anticorpos. A via das
lectinas, por sua vez, é ativada por uma proteína plasmática chamada lectina, que
se liga aos resíduos de manose presentes nas superfícies celulares microbianas.
Essas duas vias fazem parte do sistema imune inato. Já a via clássica faz parte da
imunidade humoral e é ativada pela presença de anticorpos ligados a antígenos
(ABBAS, 2015). Os principais componentes das vias do sistema complemento são
proteínas chamadas de C1-C9 que foram numeradas na ordem de descoberta. A
primeira proteína descoberta pertence à via clássica e são identificadas pela letra
C seguida de um número, e os componentes foram numerados de acordo com a
ordem de sua descoberta, em vez de sua sequência da reação (MURPHY, 2014).

104
TÓPICO 2 | APROFUNDANDO O SISTEMA IMUNOLÓGICO

FIGURA 24 – VIAS DE ATIVAÇÃO DO SISTEMA COMPLEMENTO

FONTE: A autora

Além da forma como cada via é ativada, é de extrema importância conhecer


alguns eventos centrais do sistema complemento. Como vimos, as vias de ativação
diferem na forma de como são iniciadas, mas todas elas resultam na geração
de complexos capazes de clivar a proteína mais abundante do complemento,
a proteína C3. Através da proteólise dessa proteína, são gerados produtos
biologicamente ativos. Dentre esses produtos ativos destaca-se o C3b que se liga
a superfícies celulares microbianas ou ao anticorpo ligado ao antígeno. A partir
da clivagem (quebra) de C3 em C3b, as três vias convergem para a via comum
que culmina com a formação do complexo de ataque à membrana (MAC), o qual
promove a lise da célula-alvo e favorece a eliminação do agente infeccioso. A
ativação do complemento depende da geração de dois complexos proteolíticos: a
C3convertase, que cliva C3 em dois fragmentos denominados C3a e C3b; e a C5-
convertase, que cliva C5 em C5a e C5b (ABBAS, 2015). A partir de agora iremos
abordar resumidamente cada via de ativação do sistema complemento.

• Via alternativa: ocorre uma clivagem espontânea da proteína C3, levando a


formação da C3-convertase e a geração de fragmentos C3b. Quando o C3b é
depositado na superfície de micro-organismos, ele se liga ao Fator B. O fator B
por sua vez é clivado por uma serinoproteina (fator D), liberando o fragmento
Ba e o fragmento Bb que permanece ligado ao C3b. O complexo C3bBb, é
conhecido como C3-convertase da via alternativa, que irá clivar mais proteínas
C3, para produzir mais C3b, que irão se ligar a superfície dos micro-organismos,
formando a C5-convertase, que tem como função clivar as proteínas C5, em
C5a e C5b, o fragmento C5 é o evento iniciador das etapas finais do sistema
complemento, que iremos abordar mais adiante (ABBAS, 2015). Observe o
Quadro 4 sobre a função de cada proteína presente na via alternativa.

105
UNIDADE 2 | CONSIDERAÇÕES SOBRE IMUNOLOGIA BÁSICA

• Via clássica: essa via se inicia com a ligação da proteína C1 aos domínios
CH2 de IgG ou aos domínios CH3 de moléculas de IgM que estão ligadas ao
antígeno. C1r e C1s são serinoproteases e C1q liga-se a porção Fc dos anticorpos.
O C1s ativado cliva a proteína seguinte na cascata, C4, para gerar C4b e C4a.
O C4 é homólogo a C3, da via alternativa. Esta ligação de C4b assegura que
a ativação da via clássica prossiga sobre uma superfície celular ou complexo
imune. Seguindo a cascata o C2 é clivado em C2a e C2b; o C2a permanece
fisicamente associado a C4b na superfície da célula. O complexo resultante,
C4b2a, é a C3-convertase da via clássica; que tem a capacidade de se ligar e
clivar proteoliticamente proteínas C3. A clivagem de C3 resulta na remoção do
fragmento pequeno C3a; e C3b. Algumas das moléculas de C3b geradas pela
C3-convertase da via clássica ligam-se à convertase (como na via alternativa) e
formam um complexo C4b2a3b. Este complexo funciona como a C5-convertase
da via clássica; cliva C5 e inicia as etapas terminais da ativação do complemento
(ABBAS, 2015). Observe o Quadro 5 sobre a função de cada proteína presente
na via clássica.
• Via das lectinas: essa via é desencadeada pela ligação de polissacarídios
microbianos a lectinas circulantes, tais como a lectina ligadora de manose
plasmática (MBL) ou as ficolinas, sempre na ausência de anticorpos. Ocorre
a ligação de MASP 1 e MASP 2 a resíduos de manose. As MASPs são
estruturalmente homólogas às proteases C1r e C1s e apresentam função similar,
a saber, a clivagem de C4 e de C2 para ativar o complemento. A MASP2 é a
protease que cliva C4 e C2. Os eventos subsequentes nesta via são idênticos aos
que ocorrem na via clássica (ABBAS, 2015). Observe o quadro 6 sobre a função
de cada proteína presente na via das lectinas.

QUADRO 4 – PROTEÍNAS DA VIA ALTERNATIVA

Proteína Função
C3b liga-se à superfície do micro-organismo, onde funciona
como uma opsonina e como um componente da C3-convertase e
C3
da C5-convertase;
C3a estimula a inflamação (anafilatoxina)
Bb é uma serino-protease; enzima que ativa C3-convertase e C5-
Fator B
convertase
Fator D Serino-protease plasmática, cliva Fator B quando se liga ao C3b

Properdina Estabiliza as C3-convertase (C3bBb) nas superfícies microbianas

FONTE: Adaptado de Abbas (2015)

106
TÓPICO 2 | APROFUNDANDO O SISTEMA IMUNOLÓGICO

QUADRO 5 – PROTEÍNAS DA VIA CLÁSSICA

Proteína Função

C1(C1qr2s2) Inicia a via clássica

C1q Liga-se a porção Fc do anticorpo que está ligado ao antígeno

C1r Serino-protease, cliva C1s para torná-la uma protease ativa

C1s Serino-protease, cliva C4 e C2


C4b liga-se covalentemente à superfície de um micro-organismo ou
célula, onde há um anticorpo ligado e o complemento ativado C4b liga-se
C4
a C2 para clivagem por C1s
C4a estimula a inflamação (anafilatoxina)
C2a é uma serino-protease e funciona como a enzima ativa da C3-
C2
convertase e da C5-convertase para clivar C3 e C5
C3b liga-se à superfície antigênica e ao complexo C4b2a;
C3
C3a estimula a inflamação (anafilatoxina)

FONTE: Adaptado de Abbas (2015)

QUADRO 6 – FUNÇÃO DAS PROTEÍNAS DA VIA DAS LECTINAS

Proteína Função

Aglutina, opsonina, fixadora de complemento


Proteína plasmática
MASP 1
Forma complexos com MASP2 e com colectinas ou ficolinas
e ativa MASP3
MASP 2 Forma complexo com lectinas, especialmente a ficolina-3
Aglutina, opsonina, fixadora de complemento
MASP 3 Proteína plasmática
Associa-se as colectinas ou ficolinas e MASP1 e cliva C4
Lectina ligadora Aglutina, opsonina, fixadora de complemento
de manose Lectina da família das colectinas
Aglutina, opsonina, fixadora de complemento
L-ficolina
Proteína secretada por macrófagos ativados

FONTE: Adaptado de Abbas (2015)

Caro acadêmico, observe a Figura 25, nela podemos visualizar


como a cascata de complemento ocorre nas três vias de ativação!

107
UNIDADE 2 | CONSIDERAÇÕES SOBRE IMUNOLOGIA BÁSICA

FIGURA 25 – VIAS DE ATIVAÇÃO DO SISTEMA COMPLEMENTO

FONTE: Abbas (2015, p. 635)

Todas as vias de ativação do sistema complemento convergem para


uma via comum, que é a etapa final de ativação do sistema complemento. As
C5-convertases geradas pelas vias alternativa, clássica ou das lectinas iniciam a
ativação dos componentes da via terminal do sistema complemento (ABBAS, 2015).
Observe a Figura 26, nela podemos perceber como ocorre a etapa final do sistema
complemento até a formação do MAC, que tem como função causar a lise da célula,
no Quadro 7 podemos observar as funções de cada proteína nessa etapa final.

108
TÓPICO 2 | APROFUNDANDO O SISTEMA IMUNOLÓGICO

FIGURA 26 – ETAPA FINAL DA VIA DE ATIVAÇÃO DO SISTEMA


COMPLEMENTO E FORMAÇÃO DO MAC

FONTE: Adaptado de Abbas (2015)

QUADRO 7 – PROTEÍNAS DA ETAPA FINAL DA ATIVAÇÃO DO COMPLEMENTO

Proteína Função

C5b inicia a montagem do complexo de ataque à membrana


C5
C5a estimula a inflamação (anafilatoxina)

C6 Componente do MAC, liga-se a C5b e aceita C7

C7 Componente do MAC, liga-se a C5b6 e insere-se nas membranas lipídicas

C8 Componente do MAC, liga-se a C5b, 6, 7 e inicia a ligação e polimerização de C9

Componente do MAC, liga-se a C5b, 6, 7, 8 e polimeriza-se para formar poros na


C9
membrana

FONTE: Adaptado de Abbas (2015)

Aprendemos as três vias de ativação do sistema complemento e seus


processos até a etapa final e formação do MAC. Afinal, para que serve a ativação
do sistema complemento? O sistema complemento possui três principais
funções: primeiro, promover a fagocitose dos micro-organismos sobre os quais
o complemento é ativado; segundo, estimular a resposta inflamatória; e terceiro,
induzir a lise de micro-organismos através da formação do MAC (ABBAS, 2015).
Na Figura 27, você pode observar que a fagocitose ocorre devido a presença de
receptores para o fragmento C3b na superfície de algumas células fagocitárias.

109
UNIDADE 2 | CONSIDERAÇÕES SOBRE IMUNOLOGIA BÁSICA

O fragmento C3b opsoniza patógenos que são reconhecidos por esses receptores
de superfície, e assim promovem a fagocitose. A resposta inflamatória, por
sua vez, ocorre devido as porções C3a e C5a do sistema complemento, que são
anafilatoxinas, ou seja, ativam mastócitos e neutrófilos para os locais de infecção
promovendo a inflamação. Finalmente, a lise celular ocorre através da formação
das proteínas C5-C9 que irão formar o MAC na superfície do micro-organismo,
assim destruindo a parede do patógeno (WOOD, 2013).

FIGURA 27 – FUNÇÕES DO SISTEMA COMPLEMENTO

FONTE: Abbas (2015, p. 661)

É importante saber que apesar da sua importância, o sistema complemento


deve ser regulado para evitar danos às células e tecidos normais do nosso corpo.
Segundo Wood (2013), a regulação do sistema complemento ocorre em dois
níveis: (1) regular a quantidade de atividade do complemente; (2) regular o
local de atividade do sistema complemento. Por exemplo, se o local de ativação
do complemento é a superfície de um micro-organismo, é importante que os
componentes da ativação do complemento não se espalhem para células vizinhas.
A regulação do complemento é mediada por diversas proteínas circulantes e
de membrana celular. No Quadro 8, podemos observar alguns reguladores da
ativação do sistema complemento.

110
TÓPICO 2 | APROFUNDANDO O SISTEMA IMUNOLÓGICO

QUADRO 8 – REGULADORES DA ATIVAÇÃO DO SISTEMA COMPLEMENTO

Receptor Interage com Função

Inibidor de C1 Inibidor da serinoprotease; liga-se a C1r e


C1r, C1s
(C1 INH) C1s e os dissocia de C1q
Serinoprotease; cliva C3b e C4b usando o
Fator I C4b, C3b
Fator H, MCP, C4BP ou CR1 como cofatores
Liga-se a C3b e desloca Bb. Cofator para a
Fator H C3b
clivagem de C3b mediada pelo Fator I
Proteína ligadora Liga-se a C4b e desloca C2. Cofator para a
C4b
de C4 clivagem de C4b mediada pelo Fator I
Proteína cofatora
Cofator para a clivagem de C3b e de C4b
de membrana C3b, C4b
mediadas pelo Fator I
(MCP, CD46)
Fator de
aceleração do Desloca o C2a de C4b e Bb de C3b
C4b2a, C3bBb
decaimento (dissociação da C3-convertase)
(DAF)
Bloqueia a ligação de C9 e evita a formação
CD59 C7, C9
do MAC.

FONTE: Adaptado de Abbas (2015)

NOTA

Deficiência do sistema complemento

As deficiências genéticas das proteínas do complemento e de proteínas reguladoras


são as causas de várias doenças humanas. Foram descritas deficiências herdadas e
espontâneas em muitas das proteínas do complemento em humanos. Foram descritas
deficiências genéticas em componentes da via clássica, incluindo C1q, C1r, C4, C2 e C3. As
deficiências em componentes da via alternativa, incluindo properdina e Fator D, resultam
em aumento da suscetibilidade à infecção por bactérias piogênicas. Também foram
descritas deficiências em componentes da via terminal do complemento, incluindo C5, C6,
C7, C8 e C9; o único problema clínico consistente nesses pacientes é uma propensão para
infecções disseminadas por bactérias do gênero Neisseria, incluindo Neisseria meningitidis
e Neisseria gonorrhoeae, indicando que a lise bacteriana mediada pelo complemento é
particularmente importante para a defesa contra esses organismos (ABBAS, 2015).

111
UNIDADE 2 | CONSIDERAÇÕES SOBRE IMUNOLOGIA BÁSICA

5 COMPLEXO DE HISTOCOMPATIBILIDADE
O complexo principal de histocompatibilidade, chamado MHC (major
histocompatibility system), é um conjunto de mais de 200 genes, dos quais cerca de
20% estão associados à imunidade. Em humanos esses genes estão localizados
no cromossomo 6 e recebem o nome de antígenos leucocitários humanos, ou
HLA (human leukocyte antigen). Esses genes codificam proteínas altamente
especializadas que se encontram na superfície das células e que possuem um
papel importante na apresentação de antígenos. A tarefa de apresentar antígenos
associados a células da resposta imune inata para o seu reconhecimento por
células TCD4+ e CD8+ é desempenhada por proteínas do MHC. Isso acontece
porque os receptores dos linfócitos T não são capazes de reconhecer diretamente
os antígenos, esse reconhecimento só pode ser feito quando é apesentado ao
linfócito T por células apresentadoras de antígeno. Essa apresentação é feita por
meio de proteínas MHC (ABBAS, 2015). Por essa função, o MHC estabelece um
elo entre a resposta inata e a resposta adaptativa.

Os genes do MHC e as proteínas codificadas por eles foram divididos em


três classes, chamadas de Classe I, Classe II e Casse III. Neste tópico, abordaremos
as Classes I e II.

As moléculas de MHC de Classe I são glicoproteínas expressas na


superfície celular da maioria das células nucleadas, e participam da apresentação
de antígenos aos linfócitos T CD8+. A molécula de MHC de Classe II, também
são formadas por glicoproteínas, e são encontradas em células do sistema imune
como monócitos/macrófagos, células dendríticas e linfócitos B, e participam da
apresentação de antígenos aos linfócitos T CD4+ (WOOD, 2013). A estrutura das
moléculas de MHC são formadas por uma fenda extracelular, onde os peptídeos
irão se ligar, e domínios transmembranas plasmáticas. Essa fenda de ligação é
polimórfica, e os domínios são não polimórficos para a ligação das células CD4+ e
CD8+ (Figura 28). As características das moléculas do MHC de Classe I e Classe II
são apresentadas no Quadro 9.

112
TÓPICO 2 | APROFUNDANDO O SISTEMA IMUNOLÓGICO

FIGURA 28 – ESTRUTURA DAS MOLÉCULAS DO MHC DA CLASSE I E CLASSE II

* Fenda extracelular ou fenda de ligação: local onde ocorre a ligação do peptídeo.


* Domínio transmembrana ou domínio tipo Ig: uma região transmembrana contendo
aminoácidos hidrofóbicos pelos quais a molécula é ancorada na membrana celular.

FONTE: Adaptado de Abbas (2015)

QUADRO 9 – CARACTERÍSTICAS DAS MOLÉCULAS DO MHC DA CLASSE I E CLASSE II

Característica MHC da Classe I MHC da Classe II

Cadeias polipeptídicas α microglobulina β2 αeβ

Localização dos resíduos


Domínios α1 e α2 Domínios α1 e β1
polimórficos

Local de ligação de CD8 se liga principalmente CD4 se liga a um bolsão criado


correceptor da célula T ao domínio α3 por partes dos domínios α2 e β2

Tamanho da fenda de Acomoda peptídios de 8-11 Acomoda peptídios de 10-30


ligação do peptídio resíduos resíduos ou mais

Nomenclatura

Humanos HLA-A, HLA-B, HLA-C HLA-DR, HLA-DQ, HLA-DP

Camundongos H-2K, H-2D, H-2L I-A, I-E

FONTE: Abbas (2015, p. 287)

113
UNIDADE 2 | CONSIDERAÇÕES SOBRE IMUNOLOGIA BÁSICA

NTE
INTERESSA

Antígeno leucocitário humano (hla)

O MHC humano foi descoberto através de pesquisas em indivíduos que


receberam múltiplas transfusões de sangue e pacientes que receberam transplantes de
rim continham anticorpos que reconheciam células dos doadores de sangue ou de rins
e que as mulheres multíparas tinham anticorpos circulantes que reconheciam células
paternas. As proteínas reconhecidas por estes anticorpos foram chamadas de antígenos de
leucócitos humanos (HLA) (leucócitos, porque os anticorpos foram testados pela ligação
a leucócitos de outros indivíduos e antígenos, porque as moléculas eram reconhecidas
por anticorpos). O HLA é muito importante para os transplantes, pesquisas realizadas
em camundongos, demonstraram que a herança de determinados alelos HLA é um dos
principais determinantes da aceitação ou rejeição de enxertos.

ANTÍGENO LEUCOCITÁRIO HUMANO

FONTE: Adaptado de Abbas (2015)

5.1 PROCESSAMENTO E APRESENTAÇÃO DE ANTÍGENOS


Agora que aprendemos sobre as moléculas do MHC, você deve estar se
perguntando como essas moléculas atuam na resposta imune? Como será que elas
participam do processo de apresentação de antígenos? É isso que aprenderemos
agora, qual a importância do MHC na resposta imunológica.

Como vimos no tópico anterior, as células T reconhecem somente


antígenos ligados a moléculas do MHC as quais são expressas nas células
apresentadoras de antígeno. Para que servem essas células? As APCs atuam
para ativar células imaturas ou células T efetoras previamente diferenciadas.
As células dendríticas são as APCs mais eficazes para a ativação de células T
imaturas, e são responsáveis por iniciar as respostas das células T. Elas têm
como principal função capturar e apresentar antígenos aos linfócitos T, dando
início à resposta primária de ativação dessas células. Já os macrófagos e os
linfócitos B também atuam como APCs, mas principalmente para as células

114
TÓPICO 2 | APROFUNDANDO O SISTEMA IMUNOLÓGICO

TCD4+, previamente ativadas. As células dendríticas, macrófagos e linfócitos


B expressam moléculas do MHC de Classe II e de outras moléculas envolvidas
na estimulação das células T e são capazes de ativar os linfócitos TCD4+; são
chamadas de APCs profissionais (ABBAS, 2015). Na Figura 29, podemos
observar as diferentes funções de células apresentadoras de antígenos. No
Tópico 3, abordaremos essas células e a sua função na resposta imunológica.

FIGURA 29 – FUNÇÕES DAS CÉLULAS APRESENTADORAS DE ANTÍGENOS

FONTE: Adaptado de Abbas (2015)

A célula dendrítica (DC) serve para duas importantes funções na ativação


das células T: (1) participa do processamento de antígeno. Os antígenos proteicos
microbianos são capturados pelas DCs residentes nos tecidos de entrada do nosso
organismo; essas células transportam esses antígenos até os linfonodos, e através
da ação de quimiocinas (CCR7) atraem essas células para os locais de células T nos
linfonodos. As células T específicas para os complexos peptídeos-MHC exibidos
pelas DCs são ativados, sendo iniciada a resposta imunológica. (2) coestimulação
para a resposta completa das células T. As moléculas ligadas às membranas das APCs
destinadas a ativar as células T são chamadas coestimuladoras, pois funcionam em
conjunto com o antígeno para estimular as células T (Figura 30). As APCs também
secretam citocinas que desempenham papéis críticos na diferenciação de células
T em células efetoras (ABBAS, 2015). Na Figura 31 podemos observar o papel das
células dendríticas na captura e apresentação de antígenos.

115
UNIDADE 2 | CONSIDERAÇÕES SOBRE IMUNOLOGIA BÁSICA

FIGURA 30 – ATIVAÇÃO DE UMA CÉLULA T

FONTE: Adaptado de Abbas (2015)

FIGURA 31 – O PAPEL DAS CÉLULAS DENDRÍTICAS NA CAPTURA E


APRESENTAÇÃO DE ANTÍGENOS

FONTE: Adaptado de Abbas (2015)

116
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:

• Os anticorpos são proteínas circulantes produzidas pelos linfócitos B, mais


especificamente, pelos plasmócitos em resposta à exposição a estruturas
estranhas conhecidas como antígenos.

• A estrutura do anticorpo é simétrica e composta de duas cadeias leves idênticas


e duas cadeias pesadas idênticas.

• As imunoglobulinas ou anticorpos, possuem dois componentes principais


um conhecido como região variável (Fab), encarregada de ligar-se ao epítopo
antigênico (função de reconhecimento dos antígenos).

• A outra região do anticorpo é conhecida como região constante (Fc), utilizada


para ligar-se ao complemento, aos fagócitos, às células NK e a outros elementos
(função efetora).

• Quando um antígeno entra no organismo, acaba se deparando com numerosos


linfócitos B, cada qual com anticorpos diferentes e seus sítios de reconhecimento
específicos e próprios.

• Existem cinco classes em humanas, chamadas de Imunoglobulinas do tipo


IgM, IgG, IgD, IgA e IgE.Cada classe de imunoglobulina irá desempenhar uma
função no nosso organismo.

• O primeiro contato com o antígeno podemos denominar de Resposta primária.

• Quando o corpo entra em contato com o mesmo antígeno, a resposta será muito
mais rápida e intensa (resposta secundária).

• O sistema complemento é um dos principais mecanismos efetores da imunidade


humoral e é também um importante mecanismo efetor da imunidade inata,
esse sistema consiste em um conjunto de proteínas séricas e de superfície
celular que interagem uma com as outras, de maneira regulada e eficiente, com
a finalidade de eliminar micro-organismos.

• O sistema complemento possui três principais funções: primeiro, promover


a fagocitose dos micro-organismos sobre os quais o complemento é ativado;
segundo; estimular a resposta inflamatória; e terceiro, induzir a lise de micro-
organismos através da formação do MAC.

117
• O complexo principal de histocompatibilidade (MHC) são proteínas
especializadas e essas moléculas se encontram na superfície das células;

• O MHC possui três principais funções no sistema imunológico: (1) participam


da resposta imune, ligando-se a peptídeos reconhecidos pelos linfócitos T;
(2) estão envolvidos na rejeição no caso de; (3) algumas doenças possuem
marcadores envolvidos com o MHC, pré-disposição a doenças autoimunes.

118
AUTOATIVIDADE

1 A região de ligação do anticorpo com as células apresentadoras de antígenos


(APC) é:

a) ( ) Porção Fc.
b) ( ) Porção Fab.
c) ( ) Cadeia leve.
d) ( ) Receptor de manose.

2 Com relação aos anticorpos, podemos afirmar que as regiões:

a) ( ) Fab ligam-se a antígenos.


b) ( ) Fab ativam mecanismos efetores.
c) ( ) Fc bloqueiam toxinas.
d) ( ) Fc bloqueiam micro-organismos.

3 Classifique como verdadeiras (V) ou falsas (F) as afirmativas em relação as


imunoglobulinas e assinale a alternativa CORRETA:

( ) A IgA secretora é o principal anticorpo protetor da mucosa de uma criança


de 5 meses amamentada somente com leite materno.
( ) A IgM é o principal anticorpo sérico de um paciente ao entrar em contato
com o bacilo tetânico, um ano após reforço da vacina antitetânica.
( ) A IgA está envolvida nas alergias respiratórias, como asma.
( ) A IgG heteróloga é o anticorpo que predomina no sangue do recém-
nascido.

Assinale a sequência CORRETA:


a) ( ) F – V – V – F.
b) ( ) V – F – F – V.
c) ( ) F – V – F – V.
d) ( ) V – F – F – V.

4 Na via de ativação do complemento conhecido como via da lectina, a lectina


de ligação à manose (MBL) liga-se a qual estrutura?

a) ( ) A resíduos de manose, promovendo uma sequência à da via alternativa


do complemento.
b) ( ) A anticorpos, promovendo uma ativação semelhante à ativação proposta
pela via clássica.
c) ( ) Ao Lipopolissacarídio (LPS) bacteriano, promovendo uma ativação
duradoura e autoestimulante.
d) ( ) A resíduos de manose, promovendo uma ativação em cascata semelhante
à via clássica.

119
5 O sistema complemento auxilia na resposta imunológica por:

I- Mediar os processos inflamatórios.


II- Atrair células fagocíticas.
III- Ativar células fagocíticas.

Estão CORRETAS as afirmativas:


a) ( ) I e II.
b) ( ) I e III.
c) ( ) II e III.
d) ( ) I, II e III.

6 Escolha a alternativa que melhor completa, respectivamente, as lacunas do texto:


Quando dizemos que as proteínas que entram no citoplasma das células são
provenientes de micro-organismos fagocitados, ou produzidas por patógenos,
como vírus, e os peptídeos produzidos são transportados para o retículo
endoplasmático, estamos nos referindo à via de MHC Classe __________; e o
complexo peptídeo-MHC é reconhecido pelos linfócitos __________.

a) ( ) I, TCD8.
b) ( ) II, TCD8.
c) ( ) II, TCD4.
d) ( ) I, TCD4.

7 Sobre o sistema do complemento, responda:

a) O que diferencia a ativação do sistema do complemento da via clássica


para a via alternativa?
b) Cite as funções do sistema complemento?

120
UNIDADE 2 TÓPICO 3

PROPRIEDADES GERAIS DA IMUNIDADE


ADAPTATIVA

1 INTRODUÇÃO
Acadêmico, aprendemos até aqui como o sistema imunológico é composto,
suas células, proteínas, moléculas e os conceitos de antígeno e anticorpos.
Foram dois tópicos de muitas descobertas e aprendizado! Neste tópico, vamos
aprofundar o estudo da imunidade adaptativa, que foi introduzida em alguns
momentos no decorrer desta unidade. Iremos conhecer como ela atua sobre a
imunidade celular e na imunidade humoral, sua ativação e as células que atuam
nessas duas respostas imunológicas. Preparados? Vamos lá!

2 IMUNIDADE CELULAR E MOLECULAR


No Tópico 1 desta unidade, aprendemos que existem dois tipos de
respostas imunológicas: a imunidade inata, que é a resposta imediata, e a
imunidade adaptativa ou adquirida que é mais tardia, porém mais específica.
A resposta imune adaptativa é mediada por linfócitos T e B, atua em sequência
a uma resposta imune inata em curso e, como veremos, amplifica e reforça a
resposta imune inata pela oferta de citocinas, anticorpos e moléculas citotóxicas.
A resposta imune adaptativa mediada por linfócitos T é chamada de imunidade
celular, nela, as células T ativadas diferenciam-se em células efetoras capazes de
secretar diversos padrões de citocinas. Já a resposta imune adaptativa mediada
por linfócitos B é chamada de imunidade humoral e, de modo semelhante, as
células B ativadas diferenciam-se em plasmócitos capazes de secretar diferentes
classes de anticorpos (ROITT, 2013). Neste tópico, conheceremos como ocorrem
essas respostas específicas.

2.1 ATIVAÇÃO DOS LINFOCITOS T – IMUNIDADE CELULAR


Você deve se perguntar, por que precisamos ativar os linfócitos T?
Respondendo a esta dúvida, precisamos ativar as células T para gerar um pool
(conjunto) de linfócitos T virgens que dará origem a muitas células efetoras
funcionais capazes de eliminar o antígeno. Além disso, a ativação de células T
gera células de memória que duram anos e que estão sempre preparadas para
reagir rapidamente contra aquele antígeno específico caso ele seja reintroduzido
no organismo (ABBAS, 2015).

121
UNIDADE 2 | CONSIDERAÇÕES SOBRE IMUNOLOGIA BÁSICA

A ativação inicial de linfócitos T ocorre nos órgãos linfoides secundários,


como os linfonodos. Nesses órgãos, os linfócitos T normalmente encontram-se
circulantes e podem encontrar os antígenos apresentados por células dendríticas
maduras. Os clones de linfócitos T, cada um com uma especificidade diferente,
são gerados no timo antes da exposição ao antígeno; linfócitos T imaturos, que
não reconheceram ou responderam aos antígenos, circulam pelo corpo em um
estado de repouso e adquirem poderosas capacidades funcionais apenas após sua
ativação (Figura 32). A proliferação de linfócitos T e sua diferenciação em células
efetoras e de memória requerem reconhecimento do antígeno, coestimulação e
citocinas. O antígeno é sempre o primeiro sinal necessário para a ativação dos
linfócitos, garantindo que a resposta imune resultante é específica para o antígeno.
Uma vez que os linfócitos TCD4+ e CD8+ reconhecem os complexos MHC-
peptídios exibidos pelas APCs (CD4+ reconhece MHC classe II e CD8+, MHC
classe I), eles podem responder apenas a antígenos proteicos, a fonte natural de
peptídios, ou a substâncias químicas que modificam proteínas (ABBAS, 2015).

FIGURA 32 – ATIVAÇÃO DE CÉLULAS T IMATURAS E EFETORAS PELO ANTÍGENO

FONTE: Abbas (2015, p. 463)

As células T ativadas se diferenciam em células efetoras no local da infecção


para que possam erradicar o micro-organismo. As células efetoras TCD4+ expressam
moléculas de superfície e secretam citocinas que ativam outras células (linfócitos B,
macrófagos e células dendríticas). Assim, as células TCD4+ ativam os macrófagos
que irão matar micro-organismos fagocitados; recrutam leucócitos para os locais
de infecção para estimular a inflamação; e podem atuar na ativação de células
B, para que se diferenciem em plasmócitos (WOOD, 2013). Enquanto as células
T CD4+ imaturas produzem principalmente interleucina-2 (IL-2) na sua ativação,
células efetoras T CD4+ são capazes de produzir um grande número e variedade de

122
TÓPICO 3 | PROPRIEDADES GERAIS DA IMUNIDADE ADAPTATIVA

citocinas que têm diversas atividades biológicas. Mais adiante, iremos abordar as
funções específicas da célula TCD4+. A IL-2, estimula a sobrevivência, proliferação
e diferenciação de células T ativadas por antígeno, é necessária para a sobrevivência
e o funcionamento das células T reguladoras (células responsáveis pelo equilíbrio e
manutenção do sistema imunológico) (ABBAS, 2015).

As células TCD4+ possuem subtipos de células, e cada subtipo secretam


um conjunto de citocinas, os quais irão provocar reações diferentes de defesa.
Agora iremos aprender quais são esses subtipos de células TCD4+ e suas atuações
no sistema imunológico.

Existem três grandes subgrupos de células T CD4+ efetoras, chamadas


de TH1, TH2 e TH17, e essas células funcionam na defesa do hospedeiro
contra diferentes tipos de agentes patogênicos infecciosos e estão envolvidas
em diferentes tipos de lesões de tecidos em doenças imunológicas (Figura 33).
As citocinas produzidas na resposta imune inata ou adaptativa aos antígenos
promovem a diferenciação das Células TCD4+ virgens em células TH1, Th2 ou
TH17. Esse processo de diferenciação é chamado de polarização da célula T, e
podemos dividir em três etapas: (1) indução: ocorre a transcrição do gene específico
da citocina da diferenciação na direção de cada subtipo; (2) comprometimento
estável: os genes que codificam as citocinas de cada se tornam mais acessíveis
para a transcrição; (3) amplificação: cada subtipo de células efetoras diferenciadas
promove seu próprio desenvolvimento e podem suprimir o desenvolvimento
de outros subtipos. A diferenciação de cada subtipo é induzida pelos tipos de
patógenos que cada subtipo possa combater melhor (ABBAS, 2015).

FIGURA 33 – PROPRIEDADES DOS SUBGRUPOS TH1, TH2, TH17

FONTE: Abbas (2015, p. 506)

123
UNIDADE 2 | CONSIDERAÇÕES SOBRE IMUNOLOGIA BÁSICA

TH1: a diferenciação da célula TH1 é induzida principalmente pelas


citocinas IL-12 e IFN-γ, em resposta a micro-organismos que ativam as células
dendríticas, macrófagos, e células NK. Essas citocinas irão ativar os fatores de
transcrição T-bet, STAT1 e STAT4, para que ocorra a diferenciação em TH1. A
célula TH1 tem como principal função ativar macrófagos para ingerir e destruir
micro-organismos, mas também tem como função a estimulação para a produção
de anticorpos que irão opsonizar micro-organismos para que ocorra a ativação
do complemento (Figura 34). Cada citocina secretada pelas células TH1 irá
desempenhar uma função dentro da resposta imunológica. (ABBAS, 2015). O
IFN-γ ativa os macrófagos para que aumentem a fagocitose, e, consequentemente,
a morte celular, essa citocina também ativa as células B, para que possam produzir
anticorpos que atuarão na opsonização de micro-organismos, ativando o sistema
complemento e a fagocitose.

FIGURA 34 – DESENVOLVIMENTO DA CÉLULA TH1 E SUAS FUNÇÕES

FONTE: Adaptado de Abbas (2015)

TH2: a diferenciação das células TH2 é induzida pela IL-4 produzido por
mastócitos, eosinófilos e basófilos, células TCD4+. A IL-4 irá ativar os fatores de
transcrição STAT 6, que induz expressão de GATA3. As células TH2 estimulam
as reações que servem para erradicar infecções por helmintos mediadas por IgE,
mastócitos e eosinófilos, e também tem atuação em casos de alergias, observe
a Figura 35 (ABBAS, 2015). Cada citocina secretada pelas células TH2, irá

124
TÓPICO 3 | PROPRIEDADES GERAIS DA IMUNIDADE ADAPTATIVA

desempenhar uma função na resposta imunológica. A IL-4 irá ativar as células B


para que produzam anticorpos que atuaram na degranulação dos mastócitos; A
IL-4, juntamente com a IL-13, ativarão o aumento da secreção de muco intestinal e
peristaltismos, é um mecanismo de defesa para tentar expulsar o hemilto; A IL-5
ativa os eosinófilos, que irão atuar na eliminação dos helmintos; A IL-4 com a IL-
10, ativarão os macrófagos para trabalharem na reparação tecidual.

FIGURA 35 – DESENVOLVIMENTO DA CÉLULA TH2 E SUAS FUNÇÕES

FONTE: Adaptado de Abbas (2015)

TH17: a diferenciação das células TH17 é estimulado pelas citocinas IL-


6, IL-1, TGF-β e IL-23, produzidas por células dendríticas fagocitaram certas
bactérias e fungos. Essas citocinas ativarão os fatores de transcrições RORγt e
STAT3. A IL-23 é responsável pela sobrevida da célula TH17. A principal função
efetora das células TH17 é induzir a inflamação neutrofílica, que serve para
destruir bactérias e fungos extracelulares (WOOD, 2013). Observe a Figura 36,
nela podemos observar como ocorre a diferenciação em TH17 e suas funções.
Cada citocina secretada pelas células TH17, irão desempenhar uma função na
resposta imunológica. A IL-17 irá ativar outras citocinas que atuarão na resposta
inflamatória do tecido, recrutando mais locais para o local da inflamação; e a IL-
22 tem como função aumento o poder da barreira epitelial.

125
UNIDADE 2 | CONSIDERAÇÕES SOBRE IMUNOLOGIA BÁSICA

FIGURA 36 – DESENVOLVIMENTO DA CÉLULA TH17 E SUAS FUNÇÕES

FONTE: Adaptado de Abbas (2015)

As células efetoras CD8+ são citotóxicas e destroem diretamente as células


infectadas por vírus ou células tumorais. Além das células efetoras na ativação do
linfócito T, são produzidas células T de memória específicas para o antígeno, que
pode persistir por anos, mesmo por toda a vida (WOOD, 2013). A diferenciação de
Linfócitos TCD8+ em células citotóxicas ocorre através da estimulação dos antígenos,
que envolve a participação de células dendríticas e, possivelmente, dos linfócitos
TCD4+. Sua principal função é reconhecer antígenos de micro-organismos que residem
no citosol das células infectadas e as destruir, através de grânulos citoplasmáticos
contendo perforinas e granzinas. Na Figura 37, podemos observar como ocorre a
diferenciação das células citotóxicas (MURPHY, 2014).

126
TÓPICO 3 | PROPRIEDADES GERAIS DA IMUNIDADE ADAPTATIVA

FIGURA 37 – INDUÇÃO DA RESPOSTA CITOTÓXICA

FONTE: Abbas (2015, p. 543)

2.2 ATIVAÇÃO DOS LINFOCITOS B – IMUNIDADE HUMORAL


A imunidade humoral é mediada por anticorpos, produzidos por células B,
abordaremos agora os eventos celulares e moleculares da resposta imune humoral,
particularmente os estímulos que induzem a proliferação e a diferenciação de
células B; e como esses estímulos influenciam o tipo de anticorpo produzido.
Segundo ABBAS (2015), a ativação de células B resulta em sua proliferação, o que
leva à expansão clonal dessas células, seguida por sua diferenciação e culminando
na geração de plasmócitos secretores de anticorpos e em células B de memória. O
tipo e a quantidade de anticorpos produzidos pelos plasmócitos após a ativação
dos linfócitos B variam de acordo com o tipo de antígeno que induz a resposta
imune, o envolvimento ou não de células T, a exposição prévia ou não ao antígeno
e o local anatômico no qual ocorre a ativação.

127
UNIDADE 2 | CONSIDERAÇÕES SOBRE IMUNOLOGIA BÁSICA

Existem dois tipos de antígenos que podem gerar respostas de anticorpos: (1)
antígenos multivalentes microbianos, através de receptor de célula B; (2) antígenos
proteicos microbianos, quando a resposta é dependente de linfócitos T (ABBAS, 2015).

As células B devem ser ativadas, o que acarreta um processo de proliferação


e diferenciação, conhecido como expansão clonal, que culmina na geração de
plasmócitos com produção de imunoglobulinas com alta afinidade para o epítopo
antigênico que originou a resposta (Figura 38). Para ativação, é preciso que o BCR
(receptor) ligue-se a um epítopo antigênico, o que desencadeia uma sequência de
eventos intracelulares. Os LB funcionam também como células apresentadoras de
antígeno, após interiorizarem e processarem o Ag ligado ao receptor de superfície
(BCR). Os peptídeos gerados pelo processamento são expressos na membrana
dos LB ligados às moléculas do complexo maior de histocompatibilidade (MHC)
Classe II, para apresentação aos LTCD4+ (auxiliares) (MESQUITA et al., 2010).

FIGURA 38 – ATIVAÇÃO E DIFERENCIAÇÃO DA CÉLULA B

FONTE: Abbas (2015, p. 536)

128
TÓPICO 3 | PROPRIEDADES GERAIS DA IMUNIDADE ADAPTATIVA

LEITURA COMPLEMENTAR

MECANISMOS EFETORES DA RESPOSTA IMUNE NA INFECÇÃO


POR BORDETELLA PERTUSSIS

Thiago Moraes Silva de Araújo


Thayse Moraes Silva de Araújo
Kledson Lopes Barbosa

A coqueluche é uma doença infecciosa aguda, transmissível, com predileção


pelo trato respiratório, caracterizada por paroxismos de tosse seca e considerada
uma importante causa de morbidade e mortalidade infantil (BRASIL, 2009). Trata-
se de uma afecção altamente contagiosa (HEWLETT et al., 2014) e, por isso, torna
os indivíduos suscetíveis alvos potenciais para aquisição da doença (GIOVANNI
et al., 2015). Além disso, verifica-se que a coqueluche continua sendo uma doença
de ocorrência global, mesmo diante dos programas de vacinação assegurados
e eficazes. No entanto, as características de virulência do agente etiológico são
responsáveis por sua invasão no trato respiratório, que pode em sua forma mais
grave, evoluir para um quadro letal no hospedeiro (AUSIELLO; CASSONE, 2014).

No Século XX, foi estabelecido que essa enfermidade afetava o homem


devido à ação de uma bactéria, sendo inicialmente denominada Haemophilus
pertussis, porém, atualmente, reclassificada como Bordetella pertussis. A bactéria
foi primeiramente isolada em 1906, por Jules Bordet e Octave Gengou, motivo
pelo qual é também conhecida como bacilo de Bordet-Gengou (STANCIK, 2010).

Durante a década 1980, no Brasil, foram notificados cerca de 40 mil


casos de coqueluche anualmente, tendo um coeficiente de incidência maior do
que 30/100.000 habitantes (BRASIL, 2006). Após a introdução da vacina contra a
coqueluche no país, uma brusca redução na ocorrência da doença foi observada.
Dados da WHO (2014) registram que a infecção por B. pertussis ainda afeta países
em desenvolvimento. No entanto, a partir de 1980, verificou-se que a população
vacinada subiu de 30% para 90%, e como resultado desta imunização, detectou-se
redução dos indicadores de infecção de quase 2 milhões para aproximadamente
161.500 casos ao ano. Com a utilização da vacina antipertussis, acreditava-se que a
incidência da morbidade permaneceria em baixos níveis, ou até mesmo, poderia
ser erradicada. Entretanto, a doença volta a dar sinais consistentes de infecção,
mesmo com o uso da vacina DTP (Difteria, Tétano e Coqueluche) introduzida no
Brasil por volta de 1983 (BRASIL, 2003; TREVIZAN; COUTINHO, 2008).

O ressurgimento da síndrome coqueluche tem gerado bastante


preocupação em muitos países, principalmente entre os que apresentam altos
níveis de vacinação. Hoje em dia, questiona-se sobre a eficácia da vacina acelular e
seu espectro em controlar a doença em nível populacional, assim como discorrem
Burns et al. (2014). Apesar da imunização contra a coqueluche acontecer desde os
primeiros anos de vida, estima-se que, haja atualmente, 50 milhões de casos com
300.000 mortes em todo o mundo (LIBSTER; EDWARDS, 2012).
129
UNIDADE 2 | CONSIDERAÇÕES SOBRE IMUNOLOGIA BÁSICA

A resposta imunológica do hospedeiro tem demonstrado ser capaz de


promover a proteção contra a infecção por B. pertussis, desempenhando papel
importante no controle e colonização do patógeno. Por outro lado, quando
a resposta não é eficiente, a colonização da bactéria potencializa-se em seu
hospedeiro, e este tipo de infecção está associada aos altos índices de mortalidade.
Os diferentes tipos de micro-organismos, por exemplo, bactérias, fungos, vírus
entre outros, por sua vez, são combatidos por diferentes componentes da resposta
imune. Nesse caso, associam-se linhas de defesa responsáveis por suprimir a
infecção causada por esses patógenos: imunidade inata, adaptativa celular ou
humoral (MACHADO et al., 2004).

Com base no aumento do número de casos da doença que desafia o cenário


vacinal do país, comumente evidenciado pelos elevados índices epidemiológicos
significativos, a presente revisão bibliográfica objetivou descrever os mecanismos
efetores da resposta imunológica do hospedeiro, bem como os mecanismos
de evasão da resposta imune pela B. pertussis. Para tanto, realizou-se buscas
bibliográficas em plataformas digitais na internet, tais como: Science Direct,
Bireme, Lilacs e plataforma CAPES, que permitiram a seleção e análise dos artigos
referente à proposta de estudo. Não houve restrições de cronologia e idioma
de publicação. As estratégias utilizadas para inclusão dos artigos neste estudo
foram artigos originais e de revisão, publicados nas versões inglês e português,
disponíveis por completo nas bases eletrônicas. O critério de exclusão utilizado
foi para artigos incompletos.

[...]

FONTE: ARAÚJO T. M. S. de; ARAÚJO, T. M. S. de; BARBOSA, K. L. Mecanismos efetores da resposta


imune na infecção por Bordetella Pertussis. Arq. Cienc. Saúde UNIPAR, Umuarama, v. 23, n. 2, p.
145-153, maio/ago. 2019.

CHAMADA

Ficou alguma dúvida? Construímos uma trilha de aprendizagem


pensando em facilitar sua compreensão. Acesse o QR Code, que levará ao
AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.

130
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:

• As células T ativadas diferenciam-se em células efetoras capazes de secretar


diversos padrões de citocinas; do mesmo modo, as células B ativadas
diferenciam-se em plasmócitos capazes de secretar diferentes classes de
anticorpos.

• Nos órgãos linfoides secundários ocorre a ativação inicial de linfócitos T, nesses


órgãos essas células normalmente circulam e podem encontrar os antígenos
apresentados por células dendríticas maduras.

• Clones de linfócitos T, cada um com uma especificidade diferente, são gerados


no timo antes da exposição ao antígeno.

• A proliferação de linfócitos T e sua diferenciação em células efetoras e de


memória requerem reconhecimento do antígeno, coestimulação e citocinas.

• As células TCD4+ ativam os macrófagos que irão matar micro-organismos


fagocitados; recrutam leucócitos para os locais de infecção para estimular a
inflamação; e podem atuar na ativação de células B, para que se diferenciem
em plasmócitos.

• As células efetoras CD8+ são citotóxicas e destroem as células infectadas por


vírus ou células tumorais.

• Existem três grandes subgrupos de células T CD4+ efetoras, chamadas de TH1,


TH2 e TH17.

• A célula TH1 tem como principal função ativar os macrófagos para que
fagocite e destruam os micro-organismos; também estimulam a produção de
anticorpos que irão opsonizar micro-organismos para que ocorra a ativação do
complemento.

• As células TH2 estimulam as reações que servem para erradicar infecções por
helmintos mediadas por IgE, mastócitos e eosinófilos, e também tem atuação
em casos de alergias.

• As células TH17 é induzir a inflamação neutrofílica, que serve para destruir


bactérias e fungos extracelulares.

• A imunidade humoral é mediada por anticorpos secretados, produzidos por


células B.

131
AUTOATIVIDADE

1 Marque a alternativa INCORRETA:

a) ( ) As células B de memória vivem por longos períodos, recirculam nos


gânglios linfáticos e baço e respondem rapidamente a exposições
subsequentes a antígenos e com secreção de Acs de alta afinidade.
b) ( ) Na resposta primária dos anticorpos o pico de resposta é menor, mas
com uma afinidade maior os Acs.
c) ( ) A resposta secundária dos anticorpos é provocada quando o mesmo
antígeno estimula células B de memória.
d) ( ) As repostas das células B a antígenos polissacarídicos não necessitam
da ativação inicial de linfócitos T.

2 Marque a alternativa INCORRETA:

a) ( ) Os macrófagos apresentam antígenos para linfóticos T efetores na fase


da imunidade celular.
b) ( ) As células dendríticas são fundamentais para o processamento de
antígenos e coestimulação para resposta completa a linfócitos T efetores.
c) ( ) As células dendríticas tem a capacidade de ingerir células infectadas por
vírus ou células tumorais e apresentar antígenos ou células tumorais e
apresentar antígenos dessas células em moléculas de MHC classe I para
linfócitos TCD8+.
d) ( ) A função das moléculas coestimulatórias é regular e assegurar que a
resposta do Linfócito B seja iniciada no tempo certo, além de assegurar
a expansão clonal e diferenciação.

3 A Interleucina-2 tem uma função muito importante na resposta imunológica?

a) ( ) Ativação dos Linfócitos B e diferenciação em plasmócitos.


b) ( ) Proliferação e diferenciação de células T efetoras e de memória.
c) ( ) Induz a diferenciação da célula TCD4+ em célula Th1.
d) ( ) Induz a diferenciação da célula T em efetora TCD8.

4 Em relação à resposta imunológica a agentes infecciosos, assinale a afirmativa


INCORRETA:

a) ( ) Nas infecções bacterianas, a fagocitose e o sistema complemento têm


importante papel na eliminação dos micro-organismos.
b) ( ) A opsonização é um eficiente mecanismo de defesa das bactérias.
c) ( ) A resposta imunológica celular às infecções virais depende de células
que possuem antígenos de classe I do MHC.
d) ( ) Nas infecções parasitárias causadas por helmintos, há um aumento na
secreção de anticorpos da classe IgE que estariam relacionados com a
imunidade protetora.
132
5 Assinale a alternativa que apresenta as características que distinguem uma
célula Th1 de uma Th2:

a) ( ) A célula Th1 expressa a molécula CD8, enquanto Th2 expressa CD4.


b) ( ) O conjunto de citocinas produzidas por células Th1 e Th2 é diferente,
ocorrendo (entre outras citocinas) produção de IL-4 pela Th2 e Interferon
gama pela Th1.
c) ( ) A célula Th2 é importante para ativação de macrófagos, já que secreta
grande quantidade de IL-5.
d) ( ) A célula Th1 é necessária para a produção de IgE, já que secreta grandes
quantidades de interferon gama.

6 O diagrama a seguir mostra as citocinas envolvidas na diferenciação de


células TCD4 helper (A, B, C) e a citocina principal produzida pela Th (D,
E, F). Correlacione as citocinas com os rótulos da tabela a seguir:

Descreva as Citocinas
correspondentes as letras:

A:

B:

C:

D:

E:

F:

7 (UNICAMP/SP) Notícias recentes veiculadas pela imprensa informam


que o surto de sarampo foi devido à diminuição do número de pessoas
vacinadas nos últimos anos. As autoridades sanitárias também atribuíram
o alto número de crianças com sarampo com menos de um ano, ao fato de
muitas mães nunca terem sido vacinadas contra o sarampo.

FONTE: <https://www.professor.bio.br/search.asp?search=vacina>. Acesso em: 13 de mar. 2020.

a) Se a mãe já foi vacinada ou já teve sarampo, o bebê fica temporariamente


protegido contra a doença? Por quê?
b) Por que uma pessoa que já teve sarampo ou foi vacinada fica permanente
imune a doença? De que forma a vacina atua no organismo?

133
134
UNIDADE 3

IMUNOLOGIA APLICADA

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• compreender como ocorre a resposta imunológica frente aos micro-


organismos;

• obter conhecimento dos tipos de hipersensibilidades;

• conhecer as principais doenças autoimunes e a sua resposta


imunológica no organismo;

• compreender os mecanismos da imunologia nos transplantes.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em quatro tópicos. No decorrer da
unidade, você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o
conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – RESPOSTA IMUNOLÓGICA AOS MICRO-


ORGANISMOS

TÓPICO 2 – HIPERSENSIBILIDADE E DOENÇAS AUTOIMUNES

TÓPICO 3 – IMUNOLOGIA DOS TRANSPLANTES

CHAMADA

Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos


em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá
melhor as informações.

135
136
UNIDADE 3
TÓPICO 1

RESPOSTA IMUNOLÓGICA AOS MICRO-


ORGANISMOS

1 INTRODUÇÃO
Olá, acadêmico! Seja bem-vindo à terceira unidade do nosso Livro Didático
em Hematologia e Imunologia Básica! Nesta terceira unidade, nós focaremos em
conteúdos mais aplicados dentro da resposta imunológica.

Aprenemos que o sistema imunológico é responsável pela defesa do nosso


corpo e que há diferentes tipos de respostas que o sistema imune é capaz de gerar
para proteger o nosso organismo da maioria dos patógenos que encontramos
na natureza. Aprenderemos, neste tópico, que para cada tipo de microrganismo
(bactérias, vírus, parasitas ou fungos), o sistema imunológico gera um tipo de
resposta efetora específica para a sua eliminação. Para isso, vale ressaltar que
esta matéria além de fascinante e instigante, é bem complexa. Por isso, a sua
participação e comprometimento com a disciplina serão essenciais para o seu
aprendizado. Além do livro didático, procure ler a leitura complementar, fazer as
autoatividades, além de assistir às trilhas de aprendizagem! Vamos lá?

2 IMUNIDADE AOS MICRORGANISMOS


As respostas de defesa antimicrobianas do hospedeiro, apesar de
numerosas e variadas, existem algumas características comuns que devemos
ressaltar: (1) A defesa contra os micro-organismos é mediada pelos mecanismos
efetores da imunidade inata e adaptativa; (2) o sistema imunológico responde de
maneira especializada, distinta e eficaz aos diferentes tipos de agentes infecciosos;
(3) a sobrevivência e a patogenicidade dos micro-organismos em um hospedeiro
são criticamente influenciadas pela capacidade dos micro-organismos para evadir-
se ou resistir aos mecanismos efetores da imunidade; (4) os micro-organismos
podem estabelecer infecções latentes ou persistentes, nas quais a resposta imune
controla, mas não elimina o microrganismo e, o microrganismo sobrevive sem
propagar a infecção; (5) em respostas aos micro-organismos, podem ocorrer
lesões teciduais (ABBAS, 2015).

Aprendemos na Unidade 2, que os agentes infecciosos capazes de causar


doenças são chamados de patógenos e o indivíduo infectado por um patógeno
é chamado de hospedeiro. Dentre as diversas classes de micro-organismos, você
também aprendeu que existem bactérias (extracelulares e intracelulares), vírus,

137
UNIDADE 3 | IMUNOLOGIA APLICADA

parasitas e fungos. Nesta unidade, você verá que, para cada um desses micro-
organismos, nosso sistema imunológico é capaz de desenvolver uma resposta
imune efetora específica. Aprenderemos, agora, como ocorre cada uma dessas
respostas. Vamos lá!

2.1 IMUNIDADE CONTRA BACTÉRIAS EXTRACELULARES


As bactérias extracelulares possuem uma característica muito importante:
são capazes de se replicar fora das células hospedeiras, por exemplo, no sangue,
em tecidos conjuntivos, nos espaços teciduais e nos lúmens das vias aéreas e do
trato gastrointestinal. Existem muitas bactérias extracelulares patogênicas e a
doença por elas causada se desenvolve por meio de dois mecanismos: (1) essas
bactérias induzem uma resposta inflamatória, o que resulta na destruição dos
tecidos no local da infecção; (2) essas bactérias produzem toxinas que levam a
diversos efeitos patológicos (ABBAS, 2015).

A resposta imune contra as bactérias extracelulares ativa primeiramente a


imunidade inata e, após, a imunidade adquirida. Os principais mecanismos de
imunidade inata contra bactérias extracelulares são a ativação do complemento, a
fagocitose e a resposta inflamatória. O sistema complemento é ativado pela presença
de peptidoglicanos, lipopolissacarídeos e resíduos de manose na parede celular de
algumas bactérias. O contato com essas substâncias ativa o sistema complemento pela
via alternativa ou via da manose e, como resultado, ocorre a opsonização e fagocitose
aumentada das bactérias. Uma vez ativado o sistema complemento, ocorrerá a
formação do complexo de ataque à membrana (MAC), levando à lise bacteriana. A
ativação de células fagocitárias (neutrófilos e macrófagos) ocorre através de receptores
de superfícies dessas células que são capazes de reconhecer substâncias presentes nas
superfícies bacterianas; como foi abordado na Unidade 2 (receptores TLRs e PAMPs).
A resposta inflamatória ocorre quando células dendríticas e fagócitos são ativados
pelas bactérias, e secretam citocinas que induzem a infiltração de leucócitos nos locais
de inflamação (ABBAS, 2015).

Na imunidade adaptativa, a imunidade humoral, aquela mediada por


anticorpos, é predominante. A imunidade humoral tem três características
importantes no combate a bactérias extracelulares: bloqueia a infecção, elimina
as bactérias e neutraliza suas toxinas. Os mecanismos efetores utilizados pelos
anticorpos para combater essas infecções incluem neutralização, opsonização e
fagocitose e ativação do complemento pela via clássica. Com a imunidade humoral,
os antígenos proteicos de bactérias extracelulares também ativam as células T
CD4+ auxiliares (imunidade celular), que produzem citocinas que induzem a
inflamação local, aumentam as atividades fagocíticas e microbicidas de macrófagos
e neutrófilos e estimulam a produção de anticorpos (MURPHY, 2014). Na Figura
1, podemos observar as respostas imunológicas adaptativas a micro-organismos
extracelulares. Na imagem (A) da Figura 1, ocorre o reconhecimento das bactérias
extracelulares pelas células B, levando a ativação dessas células e diferenciando-se
em plasmócitos. Os plasmócitos secretam anticorpos que atuarão na neutralização

138
TÓPICO 1 | RESPOSTA IMUNOLÓGICA AOS MICRO-ORGANISMOS

de toxinas e bactérias; os anticorpos irão opsonizar bactérias que serão reconhecidos


pelos fagócitos, ativando a fagocitose; e ainda esses anticorpos ativarão a via clássica
do complemento, levando as três principais funções do sistema complemento:
ativação da fagocitose, o aumento da resposta inflamatória e lise bacteriana, como
já foi visto na Unidade 2 em sistema complemento. Na imagem (B) da Figura 1,
através das células apresentadoras de antígenos aos linfócitos T auxiliares CD4+, e,
consequentemente, a produção de citocinas que atuarão na inflamação; ativação de
macrófagos e produção de anticorpos (ABBAS, 2015).

FIGURA 1 – RESPOSTA IMUNOLÓGICA ADAPTATIVA DAS BACTÉRIAS EXTRACELULARES

FONTE: Abbas (2015, p. 786)

Em resposta às bactérias extracelulares, o organismo responde com um


intenso processo inflamatório, que pode levar a um choque séptico. O choque
séptico é uma consequência patológica grave, caracterizada por um colapso
circulatório e coagulação intravascular disseminada. As mesmas reações de
neutrófilos e macrófagos que agem para erradicar a infecção também causam
danos teciduais através da produção local de espécies reativas de oxigênio
e enzimas lisossomais (produtos responsáveis por eliminar/destruir micro-
organismos). O choque séptico é uma consequência patológica grave da infecção
disseminada por algumas bactérias Gram-negativas e bactérias Gram-positivas.
Na Figura 2, podemos observar as consequências de um choque séptico.

139
UNIDADE 3 | IMUNOLOGIA APLICADA

FIGURA 2 – EVOLUÇÃO PARA UM CHOQUE SÉPTICO

LPS ou ácido teicóico presente na parede bacteriana

Produção aumentada de TNF, IL-1, IL-6, IL-8 por macrófagos e neutrófilos

Produção de (NO) por células fagocíticas, células endoteliais e


miócitos

Diminuição do tônus muscular e do débito cardíaco

HIPOTENSÃO

CHOQUE

LPS* (lipopolissacarídeos); NO* (óxido nítrico)


FONTE: A autora (2019)

As citocinas

As citocinas são polipeptídios de estrutura diversa com função de


moléculas mensageiras que podem transmitir sinais de um tipo celular para
outro e, entre outras coisas, instruem a célula que recebe o sinal a proliferar-
se, diferenciar-se, secretar outras citocinas, migrar ou morrer. Até hoje foram
descritas muitas citocinas diferentes e, sem dúvida, ainda há algumas a
serem descobertas. No quadro, a seguir, iremos apresentar alguns tipos de
citocinas e sua função.

140
TÓPICO 1 | RESPOSTA IMUNOLÓGICA AOS MICRO-ORGANISMOS

Citocina Função
Coestimula a ativação de células T por aumento da produção de citocinas,
IL-1α, IL-1β entre elas a IL-2 e seu receptor; estimula a proliferação e a maturação de
células B; citotoxicidade de NK; induz febre.
Induz a proliferação de células T e B ativadas; estimula a citotoxicidade de
IL-2
NK e a destruição de células tumorais e bactérias por monócitos.
Induz células Th2; estimula a proliferação de células B, T e macrófagos ativados;
IL-4 diminui a produção de IL-12 e, portanto, inibe a diferenciação de Th1; aumenta
a fagocitose de macrófagos; induz a permuta de classe para lgG1 e lgE.
Induz a proliferação de eosinófilos e de células B ativadas; induz a permuta
IL-5
de classe para lgA.
IL-8 Medeia a quimiotaxia e a ativação de neutrófilo.
Inibe a secreção de IFNy pelas células Th1 de camundongo e de IL-2 por Th1
do ser humano; diminui a produção de MHC Classe II e citocinas (incluindo
IL-10
IL-12) por monócitos, macrófagos e células dendríticas, assim inibindo a
diferenciação de Th1; inibe a proliferação de T; estimula a diferenciação de B.
Citocina essencial para diferenciação de Th1; induz a proliferação e a produção
IL-12
de IFNy por Th1, TCD8+ e NK; estimula a citotoxicidade por NK e TCD8+.
Inibe a ativação e a secreção de citocinas por macrófagos, coativa a
IL-13
proliferação de B; aumenta MHC Classe lI.
Pró-inflamatória; estimula a produção de citocinas, incluindo TNF, IL-1β,
IL-17
IL-6, IL-8, G-CSF.
IL-20 Regulação das respostas inflamatórias cutâneas.
IL-22 Inibe a produção de IL-4 por Th2.
Proliferação e produção de IFNy por Th1, induz a expansão e a sobrevivência
IL-23 de células TH17, indução de citocinas pró-inflamatórias, como IL-1, IL-6,
TNF por macrófagos.
IL-24 Indução de TNF, 1 L-1, IL-6, atividade antitumoral.
Citotoxicidade tumoral; caquexia (emagrecimento); induz a secreção de
TNF (TNFα)
citocinas; induz E-selectina no endo; ativa macrófagos; antivirais.
Citotoxicidade tumoral; estimula a fagocitose por neutrófilos e macrófagos;
TNFβ
implicada no desenvolvimento de órgãos linfoides; antivirais.
Inibe a replicação viral; estimula o MHC Classes I e lI; ativa macrófagos;
IFNy induz permuta de classe para lgG2a; antagoniza várias ações da IL-4; inibe a
proliferação de Th2.
Pró-inflamatório por, por exemplo, quimioatração de monócitos e macrófagos,
TGFβ mas também anti-inflamatório por, por exemplo, inibição da proliferação de
linfócitos; induz a permuta para lgA; promove o reparo tecidual.

FONTE: Adaptado de Roitt (2013)

141
UNIDADE 3 | IMUNOLOGIA APLICADA

2.2 IMUNIDADE CONTRA BACTÉRIAS INTRACELULARES


As bactérias intracelulares facultativas têm como característica importante
a capacidade de sobreviver e até mesmo se replicar dentro de um fagócito (por
exemplo: o macrófago). A manutenção dessas bactérias dentro de um fagócito
constitui um mecanismo de escape ou de defesa do micro-organismo, pois, uma
vez dentro de uma célula do hospedeiro, a bactéria fica inacessível a anticorpos
circulantes e células fagocitárias (ABBAS, 2015).

Muitos micro-organismos vivem dentro das células do hospedeiro, onde


se encontram fora do alcance dos anticorpos humorais. Os parasitas
intracelulares obrigatórios como os vírus precisam replicar-se dentro das
células; já os parasitas intracelulares facultativos como Mycobacterium e
Leishmania, conseguem replicar-se dentro das células (principalmente
macrófagos), mas não precisam fazer isso; eles preferem a vida intracelular
porque isso lhes confere proteção (ROITT, 2013, p. 48).

A resposta imune inata às bactérias intracelulares envolve as células
fagocitárias (inicialmente neutrófilos e posteriormente macrófagos) e as células
natural killer (NK). Em situações normais, os fagócitos ingerem e destroem
diretamente os micro-organismos circulantes, mas as bactérias intracelulares
patogênicas são resistentes à degradação dentro dos fagócitos, portanto, não são
destruídas. No entanto, as bactérias intracelulares ativam as células NK através
da produção da citocina IFN-γ (Interferon-gama) que, por sua vez, ativa os
macrófagos e promove a morte da bactéria fagocitada. Os macrófagos, por outro
lado, produzem IL-12 (interleucina-12), que irá ativar as células NK. Observe a
ilustração dessa relação entre células NK e macrófagos na Figura 3. Assim, na
resposta imune inata a bactérias intracelulares, as células NK proporcionam a
defesa inicial contra estes micro-organismos, antes do desenvolvimento da
imunidade adaptativa (ABBAS, 2015).

FIGURA 3 – EVENTOS DA IMUNIDADE INATA DAS BACTÉRIAS INTRACELULARES

Óxido nítrico: é uma molécula que em macrófagos atua como um potente


agente microbida (matar micro-organismos ingeridos).

FONTE: A autora (2019)

142
TÓPICO 1 | RESPOSTA IMUNOLÓGICA AOS MICRO-ORGANISMOS

Na imunidade adaptativa às bactérias intracelulares ocorre a predominância


da imunidade celular, através do recrutamento e ativação de fagócitos mediados
por células T. A resposta contra esses micro-organismos consistirá em dois tipos de
reação: (1) Células T CD4+ diferenciam-se em células efetoras TH1 sob a influência
da IL-12 (interleucina-12) produzida por macrófagos e células dendríticas durante
a resposta imune inata. As células T efetoras, por sua vez, expressam o receptor
chamado de ligante de CD40 e secretam IFN-γ, e esses dois estímulos ativam os
macrófagos. Os macrófagos ativados induzem a produção de várias substâncias
microbicidas, incluindo espécies reativas de oxigênio (EROS), óxido nítrico (NO) e
enzimas lisossomais; como podemos observar na Figura 4; (2) as bactérias fagocitadas
estimulam a resposta de células TCD8+ se os antígenos bacterianos estiverem no
citosol ou se as bactérias escaparem dos fagossomos e entrarem no citoplasma da
célula infectada, onde não são mais suscetíveis aos agentes microbicidas, e para a
sua eliminação devem ser destruídas pelos CTLs; esse evento pode ser observado
no Figura 5 (ABBAS, 2015).

FIGURA 4 – EVENTOS DA IMUNIDADE ADQUIRIDA ÀS BACTÉRIAS INTRACELULARES

FONTE: A autora (2019)

143
UNIDADE 3 | IMUNOLOGIA APLICADA

FIGURA 5 – COOPERAÇÃO DE CÉLULAS T CD4+ E T CD8+ NA DEFESA CONTRA


MICRO-ORGANISMOS INTRACELULARES

FONTE: Adaptado de Abbas (2015)

A ativação dos macrófagos que ocorre em defesa aos micro-organismos


intracelulares é capaz de causar lesão tecidual, uma das características que vimos
ser possível encontrar nas respostas de defesa antimicrobianas do hospedeiro. A
lesão tecidual ocorre devido à intensa ação das espécies oxidativas de oxigênio,
oxido nítrico e enzimas lisossomais produzidas pelos macrófagos ativados. Esta
lesão pode ser resultado de reações de hipersensibilidade do tipo tardia (DTH)
aos antígenos de proteína microbiana (WOOD, 2013). A hipersensibilidade
do tipo Tardia (TDH) é uma resposta inflamatória prejudicial resultante da
ativação de células T e mediada por citocinas. Iremos aprender no decorrer
dessa unidade as hipersensibilidades.

144
TÓPICO 1 | RESPOSTA IMUNOLÓGICA AOS MICRO-ORGANISMOS

NTE
INTERESSA

A tuberculose é um exemplo de infecção causada por uma bactéria intracelular


em que a imunidade protetora e a hipersensibilidade patológica coexistem e a resposta
do hospedeiro contribui significativamente para a doença. Em uma infecção primária por
M. tuberculosis, os bacilos se multiplicam lentamente nos pulmões e causam apenas uma
inflamação leve. A infecção é contida por macrófagos alveolares (e, provavelmente, também
por células dendríticas). Mais de 90% dos pacientes infectados permanecem assintomáticos,
mas as bactérias sobrevivem nos pulmões, principalmente dentro de macrófagos. Cerca
de 6 a 8 semanas após a infecção, os macrófagos atingiram os linfonodos de drenagem
e as células T CD4+ são ativadas. As células T CD8+ podem também ser ativadas mais
tarde. As células T CD4+ produzem IFN-γ, o que ativa os macrófagos e aumenta a sua
capacidade de destruir os bacilos fagocitados. O TNF produzido pelas células TCD4+ e
macrófagos também desempenha um papel na inflamação local e na ativação de mais
macrófagos. A reação das células T CD4+ é adequada para controlar a disseminação
bacteriana, porém o M. tuberculosis é capaz de sobreviver no interior dos macrófagos,
pois os componentes de sua parede celular inibem a fusão dos vacúolos fagocíticos
com os lisossomos. Como resultado, as bactérias continuam a provocar as respostas das
células T. A ativação prolongada das células TCD4+ leva à formação de granulomas que
podem cercar as bactérias e são frequentemente associados à necrose central, chamada
de necrose caseosa, que é causada por produtos de macrófagos tais como enzimas
lisossomais e EROS. Os granulomas necrosantes e a fibrose (cicatrizes) que acompanham
a inflamação granulomatosa são importantes causas de lesão tecidual e da doença clínica
na tuberculose.

Pessoas previamente infectadas apresentam reações cutâneas de DTH


(hipersensibilidade do tipo tardia) ao teste cutâneo realizado em laboratório com uma
preparação de antígeno bacteriano (derivado proteico purificado, ou PPD). Os bacilos
podem sobreviver durante muitos anos e estão contidos sem quaisquer consequências
patológicas, mas podem ser reativados a qualquer momento, especialmente se a resposta
imunológica se torna incapaz de controlar a infecção (ABBAS, 2015).

2.3 IMUNIDADE CONTRA VÍRUS


Os vírus possuem como particularidade serem micro-organismos
intracelulares obrigatórios que utilizam os componentes do ácido nucleico e a
maquinaria da síntese de proteínas do hospedeiro para se replicar e se espalhar.
Os vírus são capazes de infectar diversos tipos de células utilizando moléculas
de superfície presentes em células normais como receptores. Depois de entrar
nas células, os vírus podem causar lesão tecidual e doenças virais. A replicação
viral também interfere na síntese de proteínas e nas funções normais da célula,
levando à morte da célula infectada (ABBAS, 2015). No Quadro 1, podemos
observar alguns tipos de vírus e as doenças que eles causam.

145
UNIDADE 3 | IMUNOLOGIA APLICADA

QUADRO 1 – DOENÇAS VIRAIS

Vírus Exemplos de doenças


Pólio Poliomielite
Gripe (influenza) Pneumonia da gripe
Raiva Encefalite rábica
Herpes simples Várias infecções herpéticas
Hepatite B e C Hepatites virais
HIV AIDS

FONTE: A autora (2019)

O objetivo das respostas imunes inatas e adaptativas contra os vírus é


bloquear a infecção e eliminar as células infectadas. A imunidade inata aos vírus
consiste na inibição da infecção pelos interferons do Tipo I (IFNs tipo I) e a morte das
células infectadas pela célula NK. Os interferons do tipo I, tem a função de proteger
a célula para que não seja infectada, além de colaborar com a resposta imune
adaptativa. Os interferons inibem a replicação viral, aumentam a expressão de MHC
de Classe I, e ainda ativam células NK e células TCD8+. Os IFNs do tipo I, conferem
a proteção contra as infecções virais; conforme podemos observar na Figura 6 (A)
(WOOD, 2013). As células NK destroem as células infectadas por vírus, pois são
capazes de reconhecer ligantes nas células infectadas e matarem essas células. Dessa
forma, as células NK eliminam reservatórios de infecções (erradicação da infecção
estabelecida), como pode ser observado na Figura 6 (A) (ABBAS, 2015).

A imunidade adaptativa é mediada por anticorpos que bloqueiam a


ligação do vírus e a sua entrada nas células hospedeiras, chamados de anticorpos
antivirais ou neutralizantes, e por células citotóxicas (CTLs), que eliminam a
infecção matando as células infectadas pelo vírus. A resposta imune adaptativa
ocorre através das células apresentadoras de antígenos, via MHC de Classe
I às células TCD8+, consequentemente ativando-as. Essas células exercerão
citotoxicidade através do reconhecimento de antígenos virais nas células alvos
através da liberação de granzimas e perforinas (enzimas que quebram proteínas)
(MURPHY, 2014). A ação das CTLs confere a erradicação da infecção estabelecida.
Durante a resposta imune adquirida há também ativação das células T CD4+,
que vão colaborar com as células B na produção de anticorpos antivirais ou
neutralizantes. Esses anticorpos terão as seguintes funções: atuar como anticorpos
que evitam a ligação do vírus e a entrada nas células do hospedeiro; atuar na
opsonização de partículas virais para facilitar a fagocitose; e, por último, são
capazes de ativar o sistema complemento e, assim, promover a fagocitose e a lise
direta aos vírus com envelope lipídicos. Esses anticorpos conferem a proteção
contra a infecção, como podemos observar na Figura 6 (B) (ABBAS, 2015).

146
TÓPICO 1 | RESPOSTA IMUNOLÓGICA AOS MICRO-ORGANISMOS

FIGURA 6 – EVENTOS DA IMUNIDADE INATA E ADQUIRIDA AOS VÍRUS

FONTE: Adaptado de Abbas (2015)

É importante ter em mente, acadêmico, que os vírus são os micro-


organismos que mais desenvolvem mecanismos de evasão do sistema imunológico.
Mecanismo de evasão são estratégias desenvolvidas pelo microrganismo para
escapar ou driblar o sistema imunológico do hospedeiro a fim de continuarem a
sobreviver no seu interior (MURPHY, 2014).

Os vírus podem, por exemplo, alterar os seus antígenos para não serem
mais reconhecidos pelas respostas imunológicas, conforme mostra a Figura 7. Na
figura podemos observar dois tipos de vírus influenza, o vírus humano e o vírus
aviário, os genomas desses vírus podem sofrer mutações (rearranjos genéticos) e
criar novos vírus, que são totalmente distintos para o organismo, evitando assim a
detecção imunológica. Um exemplo disso é o caso da H1N1 que foi uma pandemia
em 2009, foi criado através de rearranjos de vírus de suínos, aves e vírus humanos
em suínos e em seguida repassado aos seres humanos (ABBAS, 2015).

Alguns vírus ainda inibem a apresentação de antígenos via MHC de Classe


I, através da produção de proteínas que bloquearão as etapas de processamento,
transporte e apresentação de antígenos; podem ainda produzir moléculas
homólogas a citocinas que são secretadas por células infectadas, inibindo a
imunidade natural e adquirida, essas moléculas atuarão como antagonistas
competitivos; muitas infecções virais crônicas, por exemplo, vírus da Hepatite C
(HCV); vírus do HIV; estão associadas à falha das respostas das CLTs, levando
a persistência viral; e ainda alguns vírus podem infectar e destruir ou inativar
células imunocompetentes, como é o caso do vírus do HIV (ABBAS, 2015).

147
UNIDADE 3 | IMUNOLOGIA APLICADA

FIGURA 7 – GERAÇÃO DE NOVAS CEPAS DE VÍRUS INFLUENZA POR RECOMBINAÇÃO


GENÉTICA (MUDANÇA ANTIGÊNICA)

FONTE: Abbas (2015, p. 807)

2.3.1 Vírus da imunodeficiência humana (HIV)


A história do HIV começou na década de 1980, quando um conjunto de
doenças incomuns começou a ser observado com frequência em certos grupos de
pessoas. As principais doenças eram um tipo de pneumonia causada pelo fungo
Pneumocystis carinii e um tumor chamado de sarcoma de Kaposi. Os primeiros
afetados por essas doenças eram usuários de drogas injetáveis, homens que faziam
sexo com homens e hemofílicos. Foi observado que essas pessoas tinham níveis
baixos de células TCD4+ e os sintomas sugeriam que um agente transmissível era
responsável pelo mal. Em 1982, o termo síndrome da imunodeficiência adquirida,
ou AIDS, foi usado pelo Centro de Controle de Doenças (CDC), em Atlanta, EUA.
Em 1983, o vírus que causa a AIDS foi isolado em um linfonodo de uma pessoa
infectada e foi chamado de vírus da imunodeficiência humana, ou HIV. Em 1986,
uma segunda linhagem desse vírus foi identificada e foi chamado de HIV-2. Os dois
tipos de vírus se diferem em relação à virulência e a sua distribuição geográfica: o
HIV-2 é menos virulento e é encontrado no oeste da África (WOOD, 2013).

O HIV é um retrovírus da Família Retrovidae, do Gênero Lentivirus causador


da síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS), que é uma DST que, quando
presente, faz com que os indivíduos necessitem de atendimento dos profissionais
da saúde, exames e tratamento medicamentosos para acompanhamento da doença,
sendo estes oferecidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) (BRASIL, 2015).

148
TÓPICO 1 | RESPOSTA IMUNOLÓGICA AOS MICRO-ORGANISMOS

O vírs HIV apresenta estrutura em forma de envelope lipoproteico formado


por uma bicamada fosfolipídica, na qual ficam inseridas proteínas e enzimas
que auxiliam no processo de ligação do vírus na célula alvo. Sua conformação
genética é constituída por duas fitas de RNA simples e, por isso, para se replicar
o vírus precisa da ação de uma enzima chamada transcriptase reversa, que atua
produzindo uma cópia de DNA a partir de seu RNA genético, incorporando esse
material genético no hospedeiro (ALVES, 2014). O ciclo viral do vírus do HIV
envolve o que chamamos de células-alvo, que são células de defesa que apresentam
uma molécula de CD4 em sua superfície, como os linfócitos T CD4+, macrófagos e
células dendríticas. A molécula de CD4 medeia a entrada do vírus na célula, agindo
como um receptor, pois possui alta afinidade pela glicoproteína viral gp120. Além
da interação gp120-CD4, ocorre a ação de correceptores como CCR5 e CXCR4 que,
ao sofrerem alterações conformacionais, facilitam a entrada viral (FERREIRA et al.,
2010), conforme podemos observar na Figura 8.

FIGURA 8 – CICLO DE VIDA DO HIV

FONTE: Abbas (2015, p. 1035)

Após a invasão do vírus nas células do sistema imune, inicialmente, o


paciente manifesta uma infecção aguda, que é quando a viremia atinge seu ponto
máximo e ocorre a diminuição de células T CD4+. Nessa primeira fase, os sintomas
são semelhantes aos de uma gripe (febre, cefaleia, dor de garganta, aumento dos
linfonodos), essa fase é caracterizada por sintomas inespecíficos. Em seguida, o

149
UNIDADE 3 | IMUNOLOGIA APLICADA

paciente pode apresentar um período de latência, período compreendido entre a


infecção pelo vírus e o início dos sintomas e sinais característicos pelo vírus do
HIV. A fase sintomática ocorre quando finalmente há uma diminuição drástica de
CD4 e aumento da viremia, ocorre a progressão da doença, nessa fase é comum
os sintomas de diarreia, febre, suores noturnos e o emagrecimento repentino.
Posteriormente, ocorre a AIDS com o aparecimento de doenças oportunistas
e neoplasias (BRASIL, 2013). Nesse período, a infecção causa consequências
imunológicas, como falha no sistema imune e progressão para AIDS durante o
transcurso da infecção (ALVES, 2014). No Gráfico 1, podemos observar como
ocorre o curso da doença do HIV.

GRÁFICO 1 – FASES DA DOENÇA DO HIV

FONTE: Brasil (2018, p. 54)

O diagnóstico do HIV pode ser feito através do teste rápido, que é um


exame que não precisa ser feito necessariamente em um laboratório, a leitura
e interpretação são realizadas em 30 minutos, o resultado é obtido a partir da
detecção de antígenos e/ou anticorpos do vírus no sangue do paciente. Quando o
teste sorológico rápido apresentar resultado negativo, mas o médico desconfia que
o paciente esteja em período de janela imunológica, é necessária a utilização de
métodos moleculares para a detecção do genoma viral. Os métodos moleculares
e sorológicos mais utilizados são os testes de ácidos nucleicos (NAT) e o teste
imunoenzimático (ELISA). Utiliza-se também a avaliação da carga viral, que
é quantidade de cópias virais no sangue do indivíduo infectado, e é realizada
a contagem de TCD4+ e TCD8+, que é fundamental no acompanhamento da
progressão da doença e se a terapia antirretroviral é indicada ao portador do
vírus HIV (BRASIL, 2018).

150
TÓPICO 1 | RESPOSTA IMUNOLÓGICA AOS MICRO-ORGANISMOS

O tratamento Antirretroviral (TARV) do HIV, segundo o Ministério da


Saúde, deve ter início imediato a descoberta da soropositividade da doença. Devem
ser informados ao paciente os riscos e benefícios do tratamento, e que iniciado
não pode ser interrompido. Atualmente, são usados como medicamentos para
o HIV, substâncias que atuam inibindo a transcriptase reversa, impedindo que
o vírus se replique, podemos citar: lamivudina, tenofovir, ziduvodina, abacavir.
Ainda existem substâncias que atuam nas enzimas protease, bloqueando sua ação
e impedindo a criação de novas cópias virais (exemplos: atazanavir, darunavir),
algumas substâncias inibem a entrada do vírus nas células TCD4+ (enfuvirtida);
também tem as que inibem a enzima integrase responsável pela inserção do DNA
do HIV no DNA humano (dolutegravir), e ainda as que atuam inibindo a entrada
do vírus nas células de defesas, impedindo a sua replicação (maraviroc). A
terapia inicial deve sempre incluir três tipos de ARV (antirretrovirais). No Brasil,
o esquema inicial consiste em dois ARV inibidores da transcriptase reversa,
associando com um ARV inibidor de integrasse (BRASIL, 2018).

2.4 IMUNIDADE CONTRA PARASITAS


Doenças parasitárias humanas são causadas pela infecção do homem com
parasitas de animais, tais como protozoários, helmintos e ectoparasitas (Quadro
2). Tais parasitas são responsáveis por maiores taxas de morbidade e mortalidade
do que qualquer outra classe de organismos infecciosos, particularmente nos países
em desenvolvimento (ABBAS, 2015). Mais de 100 vermes parasitas diferentes
podem infectar o homem e, coletivamente, podem infectar muitos tecidos ou
órgãos, incluindo o cérebro, olhos, intestino, fígado, vasos linfáticos, músculos e
pele. As infecções por parasitas apresentam uma resposta imunológica diferente
dos demais micro-organismos, apresentando problemas especiais para o sistema
imunológico. Como se pode notar, alguns parasitas como os helmintos são os
maiores patógenos que podem infectar o organismo humano, podendo gerar
fortes respostas imunes causando muitos danos ao hospedeiro, que se esforça em
eliminar esse tipo de patógeno (WOOD, 2013).

As respostas imunes contra os parasitas são projetadas para eliminá-


los quando possível, sem muito dano ao hospedeiro, ou para controlá-los em
infecções crônicas. Entretanto, para a maior parte das infecções parasitárias, não
está claro como eles são eliminados ou controlados. Ocorrendo uma combinação
de mecanismos imunológicos e fisiológicos (WOOD, 2013).

151
UNIDADE 3 | IMUNOLOGIA APLICADA

QUADRO 2 – TIPOS DE PARASITAS

Tipo de
Características Alguns exemplos
parasita
• Entamboema coli
• Entamoeba histolytica
• São organismos unicelulares; • Toxoplasma gondii
Protozoários • podem causar doenças intestinais • Trypanossoma spp.
e extraintestinais. • Plasmodium spp.
• Leishmania spp.
• Giardia lamblia
• São organismos multicelulares
• Ascaris lumbircoides
que contêm sistemas internos e
órgãos; • Trichuris trichiura
• dividem-se em • Ancylostoma duodenale
nematódeos,filárias, cestódeos e • Necator americanos
Helmintos
trematódeos. • Enterobius vermiculares
• São muito maiores que os • Strongyloides stercorlais
protozoários, popularmente • Taenia spp.
conhecidos como “vermes,
• Wuchereria bancrofti
lombrigas”.
• carrapatos
• ácaros
• São parasitas que se estabelecem
Ectoparasitas • aracnídeos
no interior do corpo.
• pulgas
• piolhos

FONTE: Zeibg (2014)

A resposta imunológica aos parasitas vai depender da sua classe


(protozoário ou helminto). A principal resposta inata aos protozoários é a
fagocitose, mas muitos desses parasitas são resistentes a esta resposta imune
e podem se replicar mesmo dentro de macrófagos, assim burlando o sistema
imunológico. Alguns protozoários expressam moléculas de superfície que são
reconhecidas por receptores Toll-like (TLRs) e ativam os fagócitos. As espécies
de Plasmodium (o protozoário responsável pela malária), o Toxoplasma gondii (o
agente que causa a toxoplasmose), e espécies de Cryptosporidium (o principal
parasita que causa a diarreia em pacientes infectados pelo HIV), todos expressam
lipídios na sua superfície celular que podem ativar receptores TLR2 e TLR4. E,
assim, ativar as células fagocitárias para destruir os protozoários, esse mecanismo
de defesa do nosso sistema imunológico age pelo reconhecimento dos receptores
TLRs (ABBAS, 2015), estudamos na Unidade 2, deste livro didático).

Na resposta inata aos helmintos, os fagócitos também podem atacar os helmintos,


secretando substâncias microbicidas. Porém a maioria dos parasitas helmínticos tem o
tegumento da sua pele muito resistente, e são muito grandes para serem fagocitados, o
que os torna resistente a esse tipo de resposta (fagocitose) (ABBAS, 2015).

152
TÓPICO 1 | RESPOSTA IMUNOLÓGICA AOS MICRO-ORGANISMOS

A imunidade adaptativa aos parasitas protozoários é mediada por células,


em particular pela ativação de macrófagos por citocinas derivadas de células T
CD4+ TH1. Por exemplo, no caso de protozoários como Leishmania e Toxoplasma,
parasitas que residem dentro de macrófagos o papel das células TH1 é ativar os
macrófagos para destruir os invasores; através da produção de INF-γ e TNF, que
atuam na ativação dos macrófagos (MURPHY, 2014). Por outro lado, a ativação
das células TH2 pelos protozoários resulta no aumento da sobrevivência do
parasita e na exacerbação de lesões devido às ações supressoras de citocinas TH2
(IL-10, IL-4, IL-12) que atuarão na inibição da ativação dos macrófagos; conforme
podemos observar na Figura 9 (ABBAS, 2015).

FIGURA 9 – PAPEL DAS CÉLULAS T E DAS CITOCINAS NA RESPOSTA


ADAPTATIVA AOS PROTOZOÁRIOS

FONTE: Adaptado de Abbas (2015)

Já na imunidade inata no caso de parasitas helmintos, os fagócitos podem


secretar substâncias microbicidas para matar os organismos que são muito grandes
para serem fagocitados. No entanto, muitos helmintos possuem a pele espessa, o
que os tornam resistentes aos mecanismos de fagocitose. Em vista disso, a defesa
de parasitas helmintos é mediada, principalmente, pela imunidade celular, pela
ativação de células TH2, caracterizada pela produção de anticorpos da classe IgE
e a ativação de eosinófilos. A imunidade celular acontece porque os helmintos
estimulam a diferenciação de células TCD4+ imaturas em células efetoras TH2, que
secretam IL-4, IL-5 e IL-13. A IL-4 estimula a produção de IgE, a qual se liga aos
receptores de eosinófilos e de mastócitos; já IL-5 estimula o desenvolvimento dos

153
UNIDADE 3 | IMUNOLOGIA APLICADA

eosinófilos e ativa os eosinófilos (ABBAS, 2015). A IgE reveste os parasitas e os


eosinófilos se ligam à IgE e são ativados para liberar seus conteúdos granulares,
conhecida como proteína básica principal, que destroem os helmintos. As ações
combinadas de mastócitos e eosinófilos também contribuem para a expulsão dos
parasitas do intestino. Podemos observar esses eventos, voltando à Unidade 2, na
Figura 35. A IL-13 também induz a produção excessiva de muco, e isso também
pode promover a expulsão dos vermes do intestino ou pulmões, a Figura 10
esquematiza os eventos para a expulsão dos helmintos do intestino (WOOD, 2013).

As respostas imunológicas adaptativas contra parasitas também podem


contribuir para a lesão tecidual e, nesse caso, os macrófagos estimulados pela
IL-4 e IL-13, irão atuar no reparo tecidual desses locais (ABBAS, 2015). Como
vimos, uma característica marcante da resposta imune a helmintoses, tais como
Trichinella spiralis em seres humanos é a eosinofilia e o alto nível de anticorpos
IgE produzidos. Em seres humanos, os níveis séricos de IgE podem elevar-se de
valores normais aproximados de 100 ng/mf para até 10.000 ng/mf (ROITT, 2013).

FIGURA 10 – EXPULSÃO DOS HELMINTOS DO INTESTINO


INTESTINO
Primeiro, o parasito é lesionado por
anticorpos IgG que entram no lúmen
intestinal, talvez em consequência
da inflamação mediada por IgE e
Antígeno Citocinas
possivelmente auxiliados por células.
Citocinas como IL-4, IL-13 e TNF
liberadas por ativação antígeno-
IgE IgG Estimulação das
células caliciformes
específica das células T que estimulam
a proliferação de células caliciformes e
a secreção de muco, o qual recobre o
Resposta
inflamatória verme lesionado e facilita sua expulsão
do corpo por aumento da motilidade
intestinal induzida por mediadores de
mastócitos,

Nematódeo

Lúmen intestinal

Lesão por anticorpos Expulsão

FONTE: Adaptado de Roitt (2013)

No Quadro 3, podemos observar alguns exemplos de parasitas e suas


respostas imunológicas.

154
TÓPICO 1 | RESPOSTA IMUNOLÓGICA AOS MICRO-ORGANISMOS

QUADRO 3 – EXEMPLO DE PARASITAS E RESPOSTAS IMUNOLÓGICAS

Principal resposta
Parasita Doenças
imunológica
Protozoários
Plasmodium spp Malária Anticorpos e CTLs CD8+
Células TH1 CD4+ ativam
Leishmania donovano Leishmaniose macrófagos para destruir
parasitas fagocitados
Entamoeba histolytica Amebíase Anticorpos, fagocitose
Destruição mediada por
Schistossoma spp. Esquitossomose
eosinófilos e macrófagos
Filária Filariose Imunidade mediada por células

FONTE: Abbas (2015)

2.5 IMUNIDADE AOS FUNGOS


Segundo Abbas (2015), as infecções por fungos, também chamadas de
micoses, são importantes causas de morbidade e mortalidade em seres humanos.
Algumas infecções fúngicas são endêmicas, ou seja, doenças que afetam muitas
pessoas e estas infecções são normalmente causadas por fungos presentes no
ambiente e cujos esporos contaminam os humanos. Outras infecções fúngicas são
chamadas de oportunistas, pois os agentes causadores causam doenças brandas
ou não manifestam doença em indivíduos sadios, mas podem infectar e causar
doença grave em pessoas imunocomprometidas (pessoas que têm o sistema
imune mais fraco); no Quadro 4 podemos observar alguns exemplos de fungos.

QUADRO 4 – TIPOS DE FUNGOS

Fungo Doença
Pneumocystis carinii Pneumonia
Cryptococcus neoformans Meningite
Candida albicans Candidíase
Histoplasma capsulatum Histoplasmose

FONTE: Adaptado de Wood (2013)

Diferentes fungos infectam os seres humanos e podem viver em tecidos


extracelulares e dentro de fagócitos. Portanto, as respostas imunológicas a estes
micro-organismos são frequentemente combinações das respostas a bactérias
extracelulares e intracelulares. De forma geral, a imunidade inata contra fungos
intracelulares é mediada pelas células fagocitárias (neutrófilos e macrófagos).
Os neutrófilos presumivelmente liberam substâncias fungicidas, tais como as
espécies reativas de oxigênio e enzimas lisossomais e fagocitam os fungos para a
morte intracelular. Em virtude disso, pacientes com neutropenia, como pacientes

155
UNIDADE 3 | IMUNOLOGIA APLICADA

com câncer, HIV soropositivos, são extremamente suscetíveis a infecções por


fungos oportunistas (ABBAS, 2015). A fagocitose após a ativação de macrófagos
via IFN-γ e TNF mediada pelas células TH1, é um importante papel de defesa
nas micoses, entretanto, segundo Roitt (2013), alguns fungos (por exemplo,
Histoplasma capsulatum) são capazes de residir muito bem em macrófagos, e
acabam burlando o sistema imune, e tornando-se doenças resistentes.

Já a imunidade adaptativa contra os fungos é mediada por células TCD4+


e é diferente para fungos intracelulares e extracelulares. Para fungos intracelulares
ocorre predominantemente uma resposta celular do tipo TH1. A fagocitose ocorre
após a ativação de macrófagos por IFNy e TNF mediada por células TH1 (ROITT,
2013). Já os fungos extracelulares provocam fortes reações do tipo TCD4+ TH17.
As células TH17 migram do tecido linfoide em que foram produzidas e pela
corrente sanguínea migram para os locais da infecção, onde são estimuladas
pelo antígeno a produzir várias citocinas, dentre elas IL-17 e IL-17F. Essas
citocinas estimulam queratinócitos ou células epiteliais pulmonares a produzir
quimiocinas que recrutam neutrófilos para o local da infecção. Outra citocina
produzida é a IL-22, que estimula a produção de peptídeos antimicrobianos por
queratinócitos. A ação coordenada desses tipos celulares e fatores produzidos
resultem na eliminação desses fungos extracelulares (WOOD, 2013).

156
RESUMO DO TÓPICO 1

Neste tópico, você aprendeu que:

• A defesa contra os micro-organismos é mediada pela imunidade inata e


adquirida.

• O sistema de defesa age de maneira especializada, distinta e eficaz aos diferentes


tipos de agentes infecciosos.

• A sobrevivência de um micro-organismo no corpo humano depende dos


mecanismos de evasão desse micro-organismo.

• Os micro-organismos podem viver em estado de latência ou persistência no


corpo.

• Pode ocorrer lesões teciduais no hospedeiro devido à intensa resposta


inflamatória contra o patógeno.

• A principal resposta da imunidade inata contra bactérias extracelulares são a


ativação do complemento, a fagocitose e a resposta inflamatória. Já na imunidade
adaptativa, a imunidade humoral, aquela mediada por anticorpos, é predominante.

• A principal resposta da imunidade inata contra às bactérias intracelulares


envolve as células fagocitárias (inicialmente neutrófilos e posteriormente
macrófagos) e as células natural killer (NK). Já a principal resposta da imunidade
adquirida contra as bactérias intracelulares é a imunidade celular, mediada
pelas células T CD4+ que diferenciam-se em células efetoras TH1.

• Em infecções virais o objetivo das respostas imunes inatas e adaptativas contra


os vírus é bloquear a infecção e eliminar as células infectadas.

• A imunidade inata aos vírus consiste na inibição da infecção pelos interferons


do Tipo I (IFNs tipo I) e a morte das células infectadas pela célula NK. Já a
imunidade adquirida é mediada por anticorpos que bloqueiam a ligação do
vírus e a sua entrada nas células hospedeiras, chamados de anticorpos antivirais
ou neutralizantes, e por células citotóxicas (CTLs).

• A resposta imunológica aos parasitas vai depender de que classe esse parasita
pertence (protozoário ou helminto).

• A defesa de parasitas helmintos é mediada, principalmente, pela imunidade


celular, pela ativação de células TH2, caracterizada pela produção de anticorpos
da classe IgE e a ativação de eosinófilos.

157
• As respostas imunológicas aos fungos são frequentemente combinações das
respostas a bactérias extracelulares e intracelulares.

• A defesa de fungos extracelulares envolve as células do tipo TCD4+ TH17.

158
AUTOATIVIDADE

1 De acordo com as afirmativas a seguir sobre a resposta imunológica das


bactérias extracelulares, assinale a alternativa CORRETA:

I- Na imunidade inata ocorre a ativação do sistema complemento pela via


alternativa ou das lectinas, fagocitose e reação inflamatória, já na imunidade
adquirida ocorre como principal resposta a imunidade humoral com o
bloqueio da infecção através dos anticorpos, eliminação do microrganismo
e neutralização das toxinas.

PORQUE

II- A reação dos neutrófilos e macrófagos pode levar a danos teciduais devido
à intensa produção das células com as espécies reativas de oxigênio.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) As duas afirmações são verdadeiras e a segunda justifica a primeira.
b) ( ) As duas afirmações são verdadeiras e a segunda não justifica a primeira.
c) ( ) A primeira afirmação é verdadeira e a segunda é falsa.
d) ( ) A primeira afirmação é falsa e a segunda é verdadeira.
e) ( ) As duas afirmações são falsas.

2 Resposta celular estimulada por bactérias intracelulares resistentes, que


infectam macrófagos é mediada por duas respostas:

a) ( ) Resposta por macrófagos e células NK na imunidade inata;


Resposta por CD4+ do Tipo TH1 e Resposta de Linfócitos TCD8+
na Imunidade Adquirida.
b) ( ) Ativação do sistema complemento, fagocitose e inflamação na imunidade
inata; Resposta TCD4+ do tipo TH2 na Imunidade Adquirida.
c) ( ) Ativação do sistema complemento, fagocitose e inflamação na imunidade
inata; Resposta por linfócitos TCD8+ na Imunidade adquirida.
d) ( ) Resposta TCD4+  do tipo TH1 na Imunidade Inata e Resposta por
macrófagos e células NK na Imunidade adquirida.
e) ( ) Resposta mediada por células NK e IFNs do Tipo I na Imunidade Inata
e Resposta por linfócitos TCD8+ na Imunidade adquirida.

3 As respostas celulares aos fungos desenvolvem uma resposta imunológica


inata e adquirida respectivamente. Assinale a alternativa CORRETA:

159
a) ( ) Mediada por neutrófilos e macrófagos na Imunidade Natural e
Resposta por CD4+ do Tipo TH1 (protetora) e Resposta CD4+ do tipo
TH17 (estimulam a inflamação e destroem os fungos), na imunidade
adquirida.
b) ( ) Ativação do sistema complemento, fagocitose e inflamação na imunidade
inata; resposta TCD4+ do tipo TH1 na Imunidade Adquirida.
c) ( ) Mediada por neutrófilos e macrófagos na Imunidade Natural e Resposta
por macrófagos e células NK na Imunidade adquirida.
d) ( ) Resposta mediada por células NK e IFNs do Tipo I na Imunidade Inata
e Resposta por linfócitos TCD8+ na Imunidade adquirida.

4 Citocinas são proteínas de baixo peso molecular, que exercem suas ações
em concentrações muito pequenas e interagem com células através de
receptores específicos e de alta afinidade. Sobre citocinas envolvidas na
resposta imune, classifique (V) para verdadeiro ou (F) para falso. A seguir,
assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:

( ) IL-2 está envolvida na proliferação de células T.


( ) IFN-γ está envolvida na ativação de macrófagos.
( ) IL-23 responsável pela manutenção das células TH2.
( ) TGF-β induz diferenciação de células CD4 para a subclasse TH1.
( ) IL-5 responsável pela ativação de eosinófilos na resposta TH2.

a) ( ) V – F – V – F – V.
b) ( ) V – V – F – F – V.
c) ( ) F – F – V – V – F.
d) ( ) F – V – F – V – V.
e) ( ) V – V – V – V – F.

5 (ENADE/2013) Alguns Nematelmintos, como os Strongyloides stercoralis,


apresentam ciclo pulmonar. Tosse, dispneia e eosinofilia são sintomas
associados a essa parasitose. Em casos assim, além dos exames coproscópicos,
é indicada também dosagem de:

FONTE: Adaptado de <https://www.aprovaconcursos.com.br/questoes-de-concurso/


questao/644648>. Acesso em: 24 mar. 2020.

a) ( ) IgE e eosinófilos devido a resposta TH2.


b) ( ) IgA e infiltrado celular composto por macrófagos devido a resposta TH2.
c) ( ) IgM e eosinófilos devido a resposta TH1.
d) ( ) IgG e eosinófilos devido a resposta Th1.
e) ( ) IgE e eosinófilos devido a resposta celular independente.

160
6 A imunidade inata contra os vírus é mediada pelos Interferons do Tipo
I e pelas células NK na Imunidade Inata, na Imunidade Adquirida são
produzidos anticorpos antivirais. Quais são as funções dos Interferons do
Tipo I e qual é a função dos anticorpos antivirais produzidos na Defesa
Imunológica dos vírus?

7 Descreva a resposta imunológica adquirida estimulada por micro-


organismos parasitários helmínticos, citando as células e citocinas que são
estimuladas na resposta.

161
162
UNIDADE 3
TÓPICO 2

HIPERSENSIBILIDADE E DOENÇAS
AUTOIMUNES

1 INTRODUÇÃO
Caro acadêmico, você já deve ter ouvido falar que existem algumas
doenças em que o nosso organismo começa a agir contra ele mesmo. Isso é o
que ocorre nas doenças autoimunes, ou seja, doenças em que há uma resposta
imunológica contra um ou mais autoantígenos. Autoantígenos são chamados os
antígenos próprios do nosso corpo aos quais o nosso sistema imune responde e,
normalmente, são proteínas que constituem os nossos tecidos e órgãos.

A primeira doença que foi identificada como tendo origem autoimune


foi a tireoidite de Hashimoto, na década de 1950. Essa doença é caracterizada
pela produção de anticorpos contra a proteína da tireoide tiroglobulina, o que
leva a uma destruição de grande parte do tecido glandular, levando ao mau
funcionamento da glândula (WOOD, 2013).

Nesse tópico, aprenderemos as hipersensibilidades, ou seja, conheceremos


as diferentes maneiras pelas quais as respostas imunes inapropriadas podem causar
doenças. Aprenderemos, também, os tipos de hipersensibilidades e as doenças
relacionadas. Preparados para mais um tópico da fascinante de imunologia?

2 DOENÇAS AUTOIMUNES: CONCEITOS


As doenças autoimunes se manifestam quando o nosso sistema imune
ataca o nosso próprio corpo. Os anticorpos produzidos contra autoantígeno,
são chamados de autoanticorpos e os linfócitos cujos receptores de antígenos
são específicos para autoantígenos são chamados de células autorreativas.
Quase todas as doenças autoimunes envolvem a produção de células TCD4+
autorreativas e, dependendo da doença, pode haver também a produção de
células TCD8+ autorreativas e células B autorreativas (WOOD, 2013).

As doenças autoimunes englobam um grupo distintos de doenças, cuja


causas não são totalmente estabelecidas, podendo envolver fatores de vias
moleculares ou celulares do organismo e o seu sistema imunológico. Alguns
fatores têm sido descritos como gatilho das doenças autoimunes como fatores
genéticos, status hormonal, exposição a xenobióticos, infecções por bactérias e
vírus, fatores ambientais e estresse (COSTA; SILVA JÚNIOR; PINHEIRO, 2019).

163
UNIDADE 3 | IMUNOLOGIA APLICADA

Segundo Wood (2013), cerca de 5% da população em países industrializados


são afetados por algum tipo de doença autoimune. Existe uma variedade enorme
dessas doenças e elas podem afetar praticamente todos os tecidos e órgãos. As
doenças autoimunes têm uma prevalência maior em países desenvolvidos, com
uma predominância maior em mulheres (COSTA; SILVA; JUNIOR; PINHEIRO,
2019). No Quadro 5, apresentamos alguns tipos de doenças autoimunes,
relacionando o sistema biológico afetado e os efeitos principais.

QUADRO 5 – DOENÇAS AUTOIMUNES

Sistema Biológico afetado Doença Efeitos principais


Destruição e mau
Tireoide Tireoide de Hashimoto
funcionamento da tireoide
Estimulação e funcionamento
Tireoide Doença de Grave
excessivo da tireoide
Ilhotas de Langerhans Diabetes mellitus Destruição das células β
(pâncreas) dependente da insulina (células produtoras de insulina)
Glândula adrenal Doença de Addison Insuficiência renal
Células vermelhas Anemia hemolítica
Anemia
(hemácias) autoimune
Trombocitopenia
Plaquetas Sangramento anormal
autoimune
Sistema nervoso central Esclerose múltipla Paralisia progressiva
Junção neuromuscular Miastenia grave Fraqueza muscular progressiva
Sinóvia Artrite reumatoide Destruição progressiva
Lúpus eritematoso
Sinóvia Deformidade
sistêmico
Lúpus eritematoso
Glomérulo Glomerulonefrite
sistêmico

FONTE: Wood (2013)

2.1 CARACTERÍSTICAS IMUNOLÓGICAS DAS


DOENÇAS AUTOIMUNES
Os tipos de respostas imunes em doenças autoimunes não são diferentes
das respostas imunes montadas para combater os micro-organismos. Durante
uma resposta autoimune o sistema imunológico também produz células efetoras
e moléculas que atacam partes do nosso organismo. Dentro dessas células efetoras
podemos incluir células TCD4+ e TCD8+ (WOOD, 2013).

As doenças autoimunes apresentam diversas características gerais que


são importantes para a definição de seus mecanismos implícitos:

• As doenças autoimunes podem ser sistêmicas (envolve vários órgãos) ou


órgão-específicos, dependendo da distribuição dos autoantígenos que são

164
TÓPICO 2 | HIPERSENSIBILIDADE E DOENÇAS AUTOIMUNES

reconhecidos; como ocorre no caso do lúpus eritematoso sistêmico, que é uma


doença que pode afetar vários locais do corpo. Ao contrário da diabetes do
Tipo 1 que afeta apenas as células do pâncreas.
• Vários são os mecanismos efetores responsáveis pela lesão do tecido em
diferentes doenças autoimunes. Esses mecanismos incluem a formação de
complexos imunológicos (antígeno-anticorpos), autoanticorpos pré-existentes
circulantes e linfócitos T autorreativos. Abordaremos no decorrer desse tópico
sobre cada mecanismo.
• As doenças autoimunes tendem a ser crônicas, progressivas e de autoperpetuação
(torna-se contínuo). As razões para essa autoperpetuação podem ser devido: (1)
aos autoantígenos que disparam essas reações são persistentes e, uma vez que a
resposta imunológica se inicia, muitos mecanismos amplificadores que são ativados
perpetuam essa resposta; (2) uma resposta iniciada contra um autoantígeno que
lesiona tecidos pode resultar na liberação e alteração de outros antígenos teciduais,
na ativação de linfócitos específicos para esses outros antígenos e na exacerbação da
doença (ABBAS, 2015).

Fatores genéticos e ambientais podem contribuir para o desenvolvimento


de doenças autoimunes. Por ter componentes genéticos elas tendem a ser mais
comuns entre indivíduos de uma família, logo se um membro da família tem
uma doença autoimune, existe uma probabilidade de outro membro da família
ter a mesma doença. Uma resposta autoimune também pode ser iniciada por um
evento ambiental e causar um dano tecidual muitos anos antes da pessoa começar
a desenvolver os sintomas clínicos. Os principais tipos de fatores ambientais
associados às doenças autoimunes são: agentes infecciosos, drogas, toxinas e
poluentes (WOOD, 2013).

Afinal, acadêmico, como ocorre uma doença autoimune? Podemos dizer


que a doença autoimune ocorre quando há uma falha dos mecanismos normais
de tolerância imunológica que resultam em reações contra as células e tecidos do
próprio organismo. Podemos definir tolerância imunológica quando o organismo
não deve reagir contra antígenos do próprio indivíduo (não responsividade a
antígenos próprios – autotolerância), definimos também que quando um antígeno
induz tolerância é chamado de tolerógeno (ABBAS, 2015).

A tolerância central ocorre na maturação dos linfócitos no qual o encontro


com o antígeno pode levar à morte celular ou à substituição de um receptor de
antígeno autorreativo por outro que não apresente esta condição. Isso ocorre
nos órgãos geradores (por exemplo: timo). Esses órgãos contêm autoantígenos
e antígenos internos. A tolerância periférica desencadeia-se quando linfócitos
maduros reconhecem autoantígenos e morrem por apoptose ou quando se tornam
incapazes de serem ativados pela reexposição àquele antígeno, como podemos
observar na Figura 11 e 12 (ABBAS, 2015).

A autotolerância necessita que o sistema imune esteja apto para diferenciar


linfócitos autorreativos de não autorreativos. O sistema imune utiliza marcadores
de “próprio” e “estranho” para identificar linfócitos T autorreativos, porém
alguns desses linfócitos escapam da eliminação e deixam o timo, podendo depois
ser ativados e desencadear uma doença autoimune (MURPHY, 2014).

165
UNIDADE 3 | IMUNOLOGIA APLICADA

FIGURA 11 – MECANISMOS DA TOLERÂNCIA CENTRAL E PERIFÉRICA

FONTE: Abbas (2015, p. 729)

FIGURA 12 – MECANISMO DE TOLERÂNCIA PERIFÉRICA DAS CÉLULAS T

FONTE: Adaptado de Abbas (2015)

166
TÓPICO 2 | HIPERSENSIBILIDADE E DOENÇAS AUTOIMUNES

A autoimunidade resulta da combinação de algumas das três


anormalidades imunológicas principais (Figura 13):

• Tolerância ou regulação defeituosas – a falha dos mecanismos de autotolerância


em células T ou B leva ao desequilíbrio entre ativação e controle de linfócitos.
É a causa subjacente de todas as doenças autoimunes (Figura 13); a perda
da autotolerância pode ocorrer quando linfócitos autorreativos não foram
deletados ou inativados, durante ou após a sua maturação.
• Apresentação anormal de autoantígenos – essas anormalidades podem incluir
expressão aumentada e persistência de autoantígenos que são normalmente
degradados ou alterações estruturais nesses antígenos, resultantes de
modificações enzimáticas ou de estresse ou lesão celular; isso resulta em
apresentações de epítopos antigênicos que normalmente não estão presentes.
Assim, o sistema imune não pode ser tolerante a esses epítopos, desenvolvendo
autorrespostas.
• Inflamação ou resposta imunológica inata inicial – conforme já abordado, a
resposta imunológica inata é um forte estímulo para a ativação subsequente
de linfócitos e para a geração de respostas imunológicas adaptativas. Infecções
ou danos às células podem suscitar reações imunológicas inatas locais com
inflamação. Essas reações podem contribuir para o desenvolvimento de doença
autoimune, talvez pela ativação de APCs, que se sobrepõem aos mecanismos
regulatórios, resultando em ativação excessiva de células T (ABBAS, 2015).

FIGURA 13 – ANORMALIDADES IMUNOLÓGICAS QUE LEVAM À AUTOIMUNIDADE

FONTE: A autora (2019)

167
UNIDADE 3 | IMUNOLOGIA APLICADA

Os tratamentos atuais das doenças autoimunes têm como objetivo reduzir


a ativação imune e as consequências prejudiciais da reação autoimune. Os agentes
farmacológicos incluem aqueles que bloqueiam a inflamação, tais como anticorpos
contra citocinas e integrinas, e aqueles que bloqueiam a ativação de linfócitos ou os
destroem. Um futuro objetivo da terapia é inibir as respostas de linfócitos específicos
para antígenos próprios e induzir a tolerância dessas células (ABBAS, 2015).

3 HIPERSENSIBILIDADES: MECANISMOS E
CLASSIFICAÇÕES
O termo hipersensibilidade surgiu da definição clínica de imunidade
como uma sensibilidade. O conceito de sensibilidade baseia-se na observação
de que um indivíduo que tenha sido exposto a um antígeno exibe uma reação
detectável, ou torna-se sensível a encontros subsequentes com esse antígeno
(memória imunológica) (ABBAS, 2015).

Em situações normais as respostas imunes eliminam os agentes infecciosos


sem provocar graves lesões aos tecidos do hospedeiro. Porém, essas respostas
são, algumas vezes, controladas de maneira inadequada, inapropriadamente
direcionadas aos tecidos do hospedeiro ou desencadeadas por micro-organismos
comensais ou antígenos ambientais, os quais geralmente são inofensivos
(ABBAS, 2015). Por exemplo, embora os anticorpos possam oferecer proteção
contra algumas doenças, há situações em que a produção excessiva de anticorpos
contra antígenos inofensivos acaba resultando em patologias. Esse fenômeno é
conhecido como hipersensibilidade.

Existem quatro tipos de hipersensibilidades: a hipersensibilidade do Tipo


I é a mais comum e também é conhecida como alergia; a hipersensibilidade do Tipo
II é causada por anticorpos citotóxicos contra componentes do tecido normal; a
hipersensibilidade do Tipo III é causada pela deposição de complexos antígenos-
anticorpos em vasos sanguíneos de vários tecidos; e a hipersensibilidade do Tipo
IV é uma resposta imunológica tardia e não envolve anticorpos, mas sim células T
(WOOD, 2013). Em seguida, abordaremos, de maneira detalhada, cada um desses
tipos de hipersensibilidade.

3.1 HIPERSENSIBILIDADE IMEDIATA: TIPO I


Podemos definir as reações de hipersensibilidade do Tipo I como reações
alérgicas causadas pela produção de IgE contra antígenos inócuos. O anticorpo IgE
é produzido pelas células plasmáticas (plasmócitos) localizadas nos linfonodos
que drenam o sítio de entrada do antígeno, ou localmente, nos sítios de reações
alérgicas (que em geral são tecidos de mucosa ou da derme) (MURPHY, 2014).

168
TÓPICO 2 | HIPERSENSIBILIDADE E DOENÇAS AUTOIMUNES

A hipersensibilidade do Tipo I também é conhecida como hipersensibilidade


imediata, porque ela começa rapidamente, poucos minutos após o contato com o
alérgeno (antígeno estranho que causa alergia), e tem importantes consequências
patológicas (hipersensibilidade). A resposta imediata que se caracteriza pela
introdução do alérgeno, que estimula as células TCD4+TH2 a produzirem IL-4 e
produção de IgE, após a resposta imediata ocorre o desenvolvimento mais lento
do componente inflamatório chamado de reação de fase tardia, caracterizado
pela acumulação de neutrófilos, eosinófilos e macrófagos (ABBAS, 2015).

Todas as reações alérgicas compartilham características comuns, embora


sejam diferentes nos tipos de antígenos que provocam essas reações e em suas
manifestações clínicas e patológicas. Aprenderemos as bases imunológicas das
alergias. O desenvolvimento da alergia ocorre em vários estágios, o primeiro
é a sensibilização. A sensibilização ocorre na exposição ao alérgeno e envolve
a produção do anticorpo IgE. A produção de anticorpos IgE ocorre através da
ativação das células T CD4+, que se diferenciam em células TH2, células TFH
(células T foliculares auxiliares) produtoras de IL-4, que, por sua vez, estimulará
as células B a secretarem IgE (ABBAS, 2015; WOOD, 2013). Os anticorpos IgE
produzidos ligam-se aos mastócitos através dos receptores Fc. Os mastócitos são
encontrados na maioria dos tecidos e dois tipos de células podem ser identificados
em humanos: os mastócitos de mucosas e os mastócitos de tecidos conjuntivos.
A exposição inicial ao alérgeno não envolve normalmente sintoma, mas os
anticorpos IgE permanecem ligados aos mastócitos por meses ou anos. Após uma
nova exposição ao alérgeno, este se liga a IgE específica para o alérgeno unida ao
Fc em mastócitos. Isso causará uma reação cruzada que resulta na ativação dos
mastócitos. A Figura 14 demonstra os eventos das reações de hipersensibilidade
do Tipo I (ou alergias) (ABBAS, 2015; WOOD, 2013).

A consequência imediata da ativação dos mastócitos é a sua degranulação


(liberação do conteúdo dos grânulos) e a liberação dos mediadores pré-formados dos
grânulos de mastócitos (aminas vasoativas, mediadores lipídicos, citocinas). Observe
o Quadro 6, sobre os mediadores inflamatórios liberados pelos mastócitos. Esses
mediadores causam a vasodilatação, aumento da permeabilidade vascular, contração
de músculos lisos e secreção de muco, assim como outros efeitos (WOOD, 2013).

169
UNIDADE 3 | IMUNOLOGIA APLICADA

FIGURA 14 – SEQUÊNCIA DE EVENTOS DAS REAÇÕES DE HIPERSENSIBILIDADE DO TIPO I

FONTE: Adaptado de Abbas (2015)

QUADRO 6 – MEDIADORES INFLAMATÓRIOS LIBERADOS PELOS MASTÓCITOS

Mediador Principais efeitos biológicos


Pré-formado (liberado após a degranulação)
Histamina Vasodilatação, aumento da permeabilidade vascular
Enzimas (proteases) Degradação da membrana endotelial do vaso sanguíneo
Fator quimiotático de eosinófilo Atração de eosinófilos do sangue
Fator quimiotático de neutrófilo Atração de neutrófilos do sangue
Fator de necrose tumoral α Inflamação
Recém-sintetizado após ativação do mastócito
Prostaglandinas Vasodilatação, agregação de plaquetas
Leucotrienos Aumento da permeabilidade vascular, secreção de muco
Fator de ativação de plaquetas Agregação e degranulação de plaquetas
Fator de necrose tumoral α Inflamação

FONTE: Wood (2013)

170
TÓPICO 2 | HIPERSENSIBILIDADE E DOENÇAS AUTOIMUNES

3.1.1 Doenças relacionadas com a


hipersensibilidade do Tipo I
As respostas alérgicas podem ser identificadas nos sítios de alérgenos
(ponto de contato do alérgeno) ou espalhadas pelo corpo quando se tornam
sistêmicas. Os sintomas clínicos dependem de onde os mastócitos estão situados
e podem resultar em asma, febre do feno, alergias alimentares, anafilaxias, entre
outros. Agora, abordaremos alguns tipos de reações alérgicas.

A asma é um tipo de reação alérgica de resposta imediata e tardia que


apresenta como principal sintoma a falta de ar. A falta de ar é provocada pelo
estreitamento das grandes vias aéreas, uma condição chamada de broncoespasmo.
Os ataques asmáticos são decorrentes da liberação de histaminas, leucotrienos e
prostaglandinas, que causam contração da musculatura lisa das vias respiratórias
(brônquios) e estimulam a produção de muco, o que contribui para o estreitamento.
A reação de fase tardia resulta em um exsudato inflamatório de neutrófilos,
eosinófilos, basófilos, macrófagos e plaquetas que acabam bloqueando as vias
aéreas (WOOD, 2013).

FIGURA 15 – REAÇÃO ALÉRGICA: ASMA

FONTE: <https://www.saudebemestar.pt/media/86848/asma.jpg>. Acesso em: 17 mar. 2020.

171
UNIDADE 3 | IMUNOLOGIA APLICADA

DICAS

Acadêmico, indicamos para leitura de apoio um estudo da asma e suas respostas


imunológicas, o artigo “As células Th17 e seu papel na fisiopatologia da Asma”. Acesse o link:
http://www.cnad.edu.br/revista-ciencia-atual/index.php/cafsj/article/view/329.

A rinite alérgica, também conhecida como febre do feno, é uma reação


do tipo imediata a alérgenos comuns, tais como: pólen de plantas, ácaros, pelos
de animais, entre outros. Os sintomas são caracterizados por nariz bloqueado e
com coriza (rinorreia), tosse, espirros e coceira nos olhos, o que é resultado da
ativação de mastócitos no nariz e na conjuntiva do olho. A rinite alérgica é talvez
a alergia mais comum dentro das reações alérgicas. Os anti-histamínicos são os
medicamentos mais utilizados para o tratamento da rinite alérgica, que bloqueiam
a ação da histamina (ABBAS, 2015; WOOD, 2013).

As alergias alimentares também são reações alérgicas imediatas que se


manifestam como coceiras, edema do tecido, peristaltismo reforçado intestinal,
aumento da secreção de fluido epitelial, e sintomas associados ao inchaço da
orofaringe, vômitos e diarreia. Os sintomas são decorrentes da ativação de
mastócitos no intestino, o que causa as contrações da musculatura lisa intestinal.
A inflamação da mucosa pode permitir que os alérgenos dos alimentos entrem
na corrente sanguínea, podendo ativar mastócitos em outros locais e causar asma
e alergias de pele (eczema). As reações alérgicas alimentares têm sido muito
estudadas, mas já se sabe que determinadas classes de alimentos têm mais casos
de alergias envolvidos, como é o caso dos amendoins, crustáceos e moluscos,
leite, ovos, entre outros alimentos, porque esses alimentos podem possuir na
sua composição múltiplas proteínas alergênicas. Os indivíduos podem ser
suficientemente sensíveis a esses alérgenos de maneira que as reações sistêmicas
graves podem ocorrer em resposta a até mesmo pequenas ingestões acidentais.
Ocasionalmente pode ocorrer uma anafilaxia (forma grave de uma resposta alérgica
sistêmica) devido uma alergia alimentar (ABBAS, 2015; WOOD, 2013).

DICAS

Sugerimos a leitura de um artigo sobre as alergias alimentares e o sistema


imunológico “Alergia alimentar: sistema imunológico e principais alimentos envolvidos”.
Acesse o link: http://formsus.datasus.gov.br/novoimgarq/16061/2420660_218117.pdf.

172
TÓPICO 2 | HIPERSENSIBILIDADE E DOENÇAS AUTOIMUNES

As alergias de pele (urticárias ou dermatites de contato) são resultantes


da ativação de mastócitos na pele, o que que resulta em vasodilatação e aumento
da permeabilidade vascular. Isso causa aumento do fluxo sanguíneo e edema,
desencadeando manchas vermelhas com coceiras que, em casos crônicos, podem
causar erupções na pele (eczema), conforme mostra a Figura 16. As alergias de
pele são um distúrbio comum da pele que pode ser causada por uma reação de
fase tardia de um alérgeno na pele. Na reação de fase tardia cutânea, o TNF, a
IL-4 e outras citocinas, provavelmente derivadas de células TH2 e mastócitos,
agem sobre as células endoteliais para promover a inflamação (ABBAS, 2015;
WOOD, 2013). Na figura 17, podemos observar as alergias e o seu tratamento.

FIGURA 16 – ALERGIAS DE PELE

FONTE: <https://static.tuasaude.com/media/article/y2/3s/dermatite-de-contato_304_l.webp>.
Acesso em: 17 mar. 2020.

As reações anafiláticas são as formas mais perigosas das alergias. Trata-


se do resultado de uma reação alérgica sistêmica e pode ser fatal. Pode causar
sintomas similares aos vistos em reações alérgicas localizadas ou pode levar ao
choque anafilático (edema laríngeo). As manifestações mais leves são as urticárias,
as formas mais severas são o inchaço dos lábios, língua e laringe, náuseas, vômitos
e asma. O choque anafilático causa um inchaço severo da laringe, asma severa e
hipotensão severa pela perda massiva de fluido de sangue para os tecidos, que
pode levar a um colapso circulatório (WOOD, 2013).

173
UNIDADE 3 | IMUNOLOGIA APLICADA

FIGURA 17 – ALERGIAS E SEUS TRATAMENTOS

Ativação de Leucotrienos,
Alergênio CLL5, CL11 Recrutamento de eosinófilos + células Th2
Síntese macrófagos
etc.
de IgE Ativação do Histamina, Anafilaxia Inflamação
mastócito leucotrienos etc. local crônica

Mecanismo
Rinite
alérgica Asma

Urticária Eczema
Alergia a atópico
alimentos
mAb anti-IgE mAb anti-IgE Inibidores
Afastamento Antagonistas
Tratamento Hipossensi- Estimular a esta- mediadores da fase
do alergênio tardia
bilização bilização celular

A figura demonstra as alergias e o seus tratamentos e as áreas de respostas locais e sistêmicas. Os


eventos com a anafilaxia local são demonstrados em verde e a inflamação crônica em vermelho.

FONTE: Roitt (2015, p. 417)

A hipersensibilidade tardia foi descoberta e descrita como uma resposta


alérgica após a realização de um teste dérmico. Em uma resposta tardia, diferente de
uma hipersensibilidade imediata, o inchaço e a vermelhidão levam de 24 a 72 horas
para aparecer, e essa hipersensibilidade não envolve anticorpos. A hipersensibilidade
de contato é um tipo de resposta tardia, ocorre em resposta a substâncias químicas
com a pele, após a exposição repetitiva da substância química, ocorre um eczema na
área de contato e uma vermelhidão, envolvendo prurido e inchaço, ocorrendo de
24 a 72 horas após o contato com a substância, podemos definir clinicamente essa
hipersensibilidade como Dermatite de contato (WOOD, 2013).

3.2 HIPERSENBILIDADE POR ANTICORPOS: TIPO II


A hipersensibilidade do Tipo II envolve a produção de anticorpos da classe
IgG ou IgM que reagem com antígenos em células ou tecidos. Os anticorpos IgG e
IgM podem causar lesão tecidual por meio da ativação do sistema complemento,
recrutando células inflamatórias e interferindo nas funções celulares normais.
Alguns desses anticorpos são específicos para antígenos de determinadas células
ou da matriz extracelular e são encontrados ligados a essas células ou tecidos ou
como anticorpos livres na circulação (ABBAS, 2015). Os mecanismos efetores das
doenças causadas por anticorpos ocorrem em três etapas:

1) Opsonização e fagocitose: os anticorpos IgG ou IgM opsonizam as células


e podem ativar o sistema complemento, gerando produtos do complemento
que também opsonizam células, o que leva à fagocitose dessas células por
meio dos receptores de Fc ou receptores para C3b nos fagócitos.
2) Inflamação: os anticorpos recrutam os leucócitos pela ligação aos receptores
de Fc ou pela ativação do complemento e, então, liberam subprodutos que são
quimiotáticos para leucócitos.

174
TÓPICO 2 | HIPERSENSIBILIDADE E DOENÇAS AUTOIMUNES

3) Funções celulares anormais: os anticorpos que se ligam a receptores celulares


normais ou outras proteínas podem interferir nas funções destes receptores
ou proteínas e causar doença sem inflamação ou dano tecidual (ABBAS, 2015).
Observe a Figura 18:

FIGURA 18 – MECANISMOS EFETORES DE DOENÇAS CAUSADAS POR ANTICORPOS

FONTE: Abbas (2015, p. 918)

175
UNIDADE 3 | IMUNOLOGIA APLICADA

3.2.1 Doenças relacionadas à hipersensibilidade do Tipo II


Os anticorpos que causam doenças específicas de células ou de tecido
geralmente são autoanticorpos produzidos como parte de uma reação autoimune,
mas, algumas vezes, esses anticorpos são específicos para micro-organismos. No
Quadro 7 estão listadas algumas doenças causadas por anticorpos específicos
para células ou tecidos (ABBAS, 2015).

QUADRO 7: DOENÇAS CAUSADAS POR ANTICORPOS ESPECÍFICOS PARA


CÉLULAS OU TECIDOS

Manifestações
Doença Antígeno-alvo Mecanismo da doença
clínicas
Anemia Opsonização e fagocitose
Proteínas da membrana Hemólise e
Hemolítica das hemácias, lise mediada
das hemácias anemia
autoimune pelo complemento
Púrpura
Proteínas da membrana Opsonização e fagocitose
trombocitopênica Sangramentos
de plaquetas de plaquetas
autoimune
Antígeno da parede
celular de estreptococos;
Febre reumática Inflamação e ativação de Miocardite e
o anticorpo reage
aguda macrófagos artrite
cruzadamente com o
anticorpo miocárdico
Anticorpo inibe a ligação
Fraqueza
de acetilcolina, regulando
Miastenia Graves Receptor de acetilcolina muscular,
negativamente os
paralisia
receptores
Estimulação dos receptores
Doença de Graves
Receptor TSH TSH mediada por Hipertireoidismo
(hipertireoidismo)
anticorpos
Diabetes insulino- Anticorpo inibe a ligação
Receptor de insulina Diabete melito
resistentes de insulina

FONTE: Adaptado de Abbas (2015)

Existem três grandes complicações associadas à hipersensibilidade do Tipo


III: as reações por transfusões de sangue, doença hemolítica do recém-nascido e a
hipersensibilidade induzida por fármacos.

Reações transfusionais: se durante uma transfusão sanguínea alguém


receber um tipo de sangue (grupo sanguíneo) incompatível com o seu, ele
desenvolverá anticorpos que se ligam as hemácias transfundidas. O IgM é muito
bom em fixar complemento e essa fixação resulta na ativação da via clássica de
complemento e da lise de hemácias transfundidas. Isso pode resultar na liberação de
grandes quantidades de hemoglobina, que pode ser metabolizada para bilirrubina
no sangue (tóxica em altos níveis). Isso leva o indivíduo a ter sintomas de febre,
calafrios, náuseas, vômitos, dores no peito e nas costas (WOOD, 2013).

176
TÓPICO 2 | HIPERSENSIBILIDADE E DOENÇAS AUTOIMUNES

Na doença hemolítica do recém-nascido: a complicação está no antígeno


Rhesus (Rh) presente nas hemácias, a maioria das pessoas são Rh+, mas existem
pessoas que não têm esse antígeno e são Rh-. Durante o nascimento, o sangue
fetal pode entrar em contato com a corrente sanguínea da mãe. Se a mãe for Rh(-
) e tiver um bebê Rh(+), ela pode ser imunizada contra o antígeno Rh durante o
nascimento da criança e produzir anticorpos IgG ao Rh. Se a mãe tiver outro bebê
Rh(+) (segunda gestação), esses anticorpos IgG anti-Rh atravessam a placenta e
ligam-se às hemácias do feto, que podem resultar em opsonização das hemácias e
fagocitose, destruindo o baço e o fígado do feto (Figura 19). Em casos mais severos
pode ser fatal (WOOD, 2013).

A hipersensibilidade induzida por fármacos ocorre devido a algumas


substâncias ou metabólitos poderem se ligar a hemácias ou plaquetas. Embora
esses fármacos sejam muito pequenos para ativar uma resposta imune, eles
podem se ligar a autoproteínas e criar um antígeno que parece estranho ao
sistema imune. Em uma pequena parcela de pessoas, esse novo antígeno estimula
a formação de anticorpos contra o fármaco. O fármaco penicilina, pode se ligar
às hemácias, resultando em anemias, a quinidina pode se ligar às plaquetas e
causar trombocitopenia. Normalmente, quando se retira o fármaco os sintomas
desaparecem (WOOD, 2013).

FIGURA 19 – DOENÇA HEMOLÍTICA DO RECÉM-NASCIDO

Mulher
Rh-(rr)
Mulher sensibilizada
produz grande quantidade
de anticorpos anti-Rh

Organismo materno
produz anticorpos
anti-Rh

Passagem de Passagem
hemácias fetais de anticorpos
(Rh+) para o anti-Rh para a
sangue da mãe circulação fetal
Criança Criança
Rh+ Rh+

1ª GRAVIDEZ PARTO 2ª GRAVIDEZ

FONTE: <http://www.minutoenfermagem.com.br/uploads/posts/114/eritroblastose-fetal.jpg>.
Acesso em: 17 mar. 2020.

177
UNIDADE 3 | IMUNOLOGIA APLICADA

3.3 HIPERSENSIBILIDADE MEDIADA POR


IMUNOCOMPLEXOS: TIPO III
A hipersensibilidade do Tipo III é causada por imunocomplexos que são
formados de antígenos-anticorpos. Esses imunocomplexos são depositados nos
tecidos, particularmente nas paredes dos vasos sanguíneos, causando lesões. As
doenças mediadas por imunocomplexos tendem a ser sistêmicas e afetam vários
órgãos e tecidos, embora sejam mais suscetíveis nos rins e nas articulações (ABBAS,
2015). Observe a Figura 20, que demonstra como pode ocorrer uma doença
mediada por imunocomplexo. Os imunocomplexos circulantes se depositam na
parede de vasos sanguíneos, onde ativarão as proteínas do sistema complemento,
e consequentemente, o recrutamento e ativação de células inflamatórias no vaso
sanguíneo, levanto a uma resposta inflamatória intensa no vaso, no caso da
imagem (vasculite).

FIGURA 20 – TIPOS DE DOENÇAS MEDIADAS POR IMUNOCOMPLEXO

FONTE: Adaptado de Abbas (2015)

Normalmente, é comum confundirem hipersensibilidade do Tipo II


e hipersensibilidade do Tipo III, pois ambas apresentam as mesmas classes
de anticorpos (IgG e IgM) e ativação de complemento que leva ao processo
inflamatório. A diferença entre elas consiste na natureza do antígeno: na
hipersensibilidade Tipo II o antígeno é expresso no tecido-alvo da doença; já na
hipersensibilidade Tipo III, o antígeno não está associado ao tecido-alvo, e sim na
formação de imunocomplexos; assim, a doença é determinada pelos locais onde
os imunocomplexos se depositam, normalmente em pequenos vasos sanguíneos,
nas articulações ou nos rins (WOOD, 2013).

178
TÓPICO 2 | HIPERSENSIBILIDADE E DOENÇAS AUTOIMUNES

3.3.1 Doenças relacionadas com a


hipersensibilidade do Tipo III
O exemplo histórico de uma doença por imunocomplexo é a doença do
soro. O soro de alguns animais (por exemplo: cavalos, coelhos) foi usado como
tratamento e produção de vacinas contra algumas doenças como difteria ou
tétano. Com você viu na Unidade 2, o soro é produzido através da introdução
de uma grande dose de antígenos específicos para determinadas doenças em
animais; levando à formação de anticorpos contra esse antígeno. Quando a
pessoa recebe uma dose dessa vacina, e pelo fato do soro vir de outra espécie, suas
proteínas estimulam uma forte resposta de anticorpos, se a pessoa receber uma
segunda dose desse soro, os anticorpos ligam-se a proteínas do soro, formando
imunocomplexos, consequentemente, esses imunocomplexos se depositam nas
paredes de vasos sanguíneos, especialmente nos rins, pele e articulações, onde
ativam complemento, levando a uma forte resposta inflamatória (WOOD, 2013).

Outro exemplo de hipersensibilidade do Tipo III é a doença de Arthus,


uma forma localizada de vasculite experimental por imunocomplexos. Essa
reação ocorre a partir da injeção de um antígeno em um animal imunizado. Os
anticorpos circulantes ligam-se aos antígenos formando imunocomplexos que
irão se depositar em pequenas artérias, levando a uma vasculite e até necrose
tecidual. A relevância clínica dessa hipersensibilidade é limitada; pode ocorrer
em um indivíduo que recebeu uma dose de reforço de uma vacina, podendo
desenvolver uma inflamação no local da injeção, em decorrência do acúmulo
local de imunocomplexos, como em uma reação de Arthus (ABBAS, 2015).

179
UNIDADE 3 | IMUNOLOGIA APLICADA

DICAS

Vale relembrar a diferença entre soro e vacina – aprendemos sobre a Imunidade


Ativa e Passiva na Unidade 2.

VACINA VS SORO

FONTE: A autora (2019)

O lúpus eritematoso sistêmico (LES) é uma doença autoimune em que os


imunocomplexos de antígenos e anticorpos nucleares (anticorpos contra ácidos
nucleicos e nucleoproteínas) depositam-se nos rins, nos vasos sanguíneos, na pele
e em outros tecidos. Os anticorpos nucleares, também conhecidos como fator
antinuclear, são anticorpos que estão mais elevados em pessoas com doenças
autoimunes. O antígeno alvo do LES é o DNA e as nucleoproteínas. A doença pode
causar erupções na pele, nefrite, artrite, vasculite, glomerulonefrite e os outros
sintomas. Existe a teoria de que no LES ocorre uma falha na tolerância central e
periférica de linfócitos; e a patogenia pode estar relacionada às células apoptóticas
(que sofrem apoptose – morte programada) não serem removidas eficientemente
(ABBAS, 2015; ROITT, 2013).

180
TÓPICO 2 | HIPERSENSIBILIDADE E DOENÇAS AUTOIMUNES

FIGURA 21 – SINTOMAS DO LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO

ÚLCERAS
ORAIS
PELE
- RASH MALAR
- LÚPUS DISCOIDE

CARDIOVASCULAR
- HIPERTENSÃO
- PERICARDITE
PULMÕES - MIOCARDITE
- PLEURITE - INFLAMAÇÃO DA - ENDOCARDITE
PLEURA - INFARTO
- PNEUMONITE - INFLAMAÇÃO DO
PULMÃO GASTROINTESTINAL
- EMBOLIA PULMONAR - PANCREATITE
- HEMORRAGIA PULMONAR - HEPATITE
- ISQUEMIA INTESTINAL

SANGUE
- ANEMIA
RINS - PLAQUETAS BAIXAS
- INSUFICIÊNCIA RENA - LEUCÓCITOS BAIXOS
- SANGUE NA URINA - TROMBOSE
- URINA MUITO ESPUMOSA - VASCULITE

MÚSCULOS E ARTICULAÇÕES
- DOR MUSCULAR
- DOR NAS ARTICULAÇÕES
QUEDA DE CABELO - ARTRITE
FEBRE
DOR DE CABEÇA

FONTE: <https://newslab.com.br/wp-content/uploads/2017/07/Lupussintomas-01-01-1024x724.png>.
Acesso em: 17 mar. 2020.

3.4 HIPERSENSIBILIDADE POR CÉLULAS T: TIPO IV


A hipersensibilidade do Tipo IV, também conhecida como
hipersensibilidade tardia, é encontrada em muitas reações alérgicas a agentes
infecciosos, na dermatite de contato resultante de sensibilização a determinadas
substâncias químicas simples e na rejeição a transplantes (ROITT, 2013). As
hipersensibilidades do Tipo IV são mediadas por linfócitos T que induzem
inflamação e matam diretamente as células-alvo, causando lesão no tecido. O
principal tipo de linfócito T ativado nas reações de hipersensibilidades do Tipo
IV são as células auxiliares CD4+, as quais secretam citocinas que promovem
a inflamação e ativam leucócitos, especialmente neutrófilos e macrófagos. As
células T auxiliares também estimulam a produção de anticorpos que danificam
os tecidos e induzem a inflamação, observado na Figura 22 (A). Os CTLs
(citotóxicas) contribuem para a lesão de tecidos em determinadas doenças,
observados na Figura 22 (B) (ABBAS, 2015).

181
UNIDADE 3 | IMUNOLOGIA APLICADA

FIGURA 22 – MECANISMOS DAS DOENÇAS MEDIADAS POR CÉLULAS T

FONTE: Abbas (2015, p. 927)

3.4.1 Doenças relacionadas com a


hipersensibilidade do Tipo IV
Acredita-se que muitas doenças autoimunes são específicas de órgãos,
causadas pela interação de células T autorreativas com autoantígenos, o que leva
à liberação de citocinas e inflamação. Este pode ser o mecanismo de base da artrite
reumatoide (AR), da esclerose múltipla, do diabetes melito do Tipo 1, da psoríase
e de outras doenças autoimunes (ABBAS, 2015). No Quadro 8, podemos observar
algumas doenças mediadas por células T.

182
TÓPICO 2 | HIPERSENSIBILIDADE E DOENÇAS AUTOIMUNES

QUADRO 8 – DOENÇAS MEDIADAS POR CÉLULAS T

Especificidade das Mecanismos principais de lesão


Doença Patologia
células T tecidual
Pode estar relacionado
Doença sistêmica Inflamação mediada por
Artrite ao colágeno ou
que afeta pequenas citocinas produzidas pelas
reumatoide proteínas próprias
circulações células Th1 e Th17
citrulinadas
Inflamação mediada por
citocinas produzidas pelas
Esclerose Doença autoimune Antígenos proteicos células Th1 e Th17.
múltipla do SNC na mielina (neurônios) Destruição da bainha de mielina
nos neurônios por macrófagos
ativados
Antígenos das
Doença crônica células β das ilhotas
Diabete Inflamação por células T
em que o pâncreas pancreáticas (insulina,
Melitos do Destruição das células das
produz pouca ou descarboxilase do
Tipo 1 ilhotas por CTLs
nenhuma insulina. ácido glutâmico,
outros)
Doença Bactérias entéricas
Doença de Crohn e Inflamação mediada pelas
intestinal Antígenos próprios?
a colite ulcerativa citocinas TH1 e TH17
inflamatória (Não se sabe ainda)
Antígenos cutâneos Inflamação mediada por
Psoríase Doença cutânea
desconhecidos citocinas derivadas de células T

FONTE: Adaptado de Abbas (2015) e Roitt (2013)

183
RESUMO DO TÓPICO 2

Neste tópico, você aprendeu que:

• As doenças autoimunes se manifestam quando o nosso sistema imune ataca o


nosso próprio corpo.

• As doenças autoimunes englobam um grupo distintos de doenças, cujas causas


não são totalmente estabelecidas, podendo envolver fatores de vias moleculares
ou celulares do organismo e o seu sistema imunológico.

• Alguns fatores têm sido descritos como gatilho das doenças autoimunes como
fatores genéticos, status hormonal, exposição a xenobióticos, infecções por
bactérias e vírus, fatores ambientais e estresse.

• Tolerância imunológica: quando o meu organismo não deve reagir contra


antígenos do próprio indivíduo.

• Autotolerância: não responsividade a antígenos próprios.

• Hipersensibilidade: o termo surgiu da definição clínica de imunidade como


uma sensibilidade.

• Existem quatro tipos de hipersensibilidades: a hipersensibilidade do Tipo I é a


mais comum e também é conhecida como alergia; a hipersensibilidade do Tipo
II é causada por anticorpos citotóxicos contra componentes do tecido normal; a
hipersensibilidade do Tipo III é causada pela deposição de complexos antígenos-
anticorpos em vasos sanguíneos de vários tecidos; e a hipersensibilidade do
Tipo IV é uma resposta imunológica tardia e não envolve anticorpos, mas sim
células T.

• A hipersensibilidade do Tipo I também é conhecida como hipersensibilidade


imediata, porque ela começa rapidamente, poucos minutos após o contato com
o alérgeno.

• As reações anafiláticas são as formas mais perigosas das alergias. Trata-se do


resultado de uma reação alérgica sistêmica e pode ser fatal.

184
AUTOATIVIDADE

1 As doenças por hipersensibilidades são comumente classificadas de acordo


com o tipo de resposta imunológica e o mecanismo efetor responsável pela
lesão tecidual e celular. A hipersensibilidade do Tipo III é também chamada:

a) ( ) Hipersensibilidade imediata.
b) ( ) Hipersensibilidade mediada por anticorpos.
c) ( ) Hipersensibilidade mediada por linfócitos T.
d) ( ) Hipersensibilidade mediada por imunocomplexos.
e) ( ) Hipersensibilidade mediada pelo complemento.

2 As hipersensibilidades são distúrbios causados por respostas imunológicas.


Existem quatro tipos de hipersensibilidades, de acordo com os tipos,
assinale a alternativa INCORRETA:

a) ( ) Hipersensibilidade do Tipo I é mediada por mastócitos e anticorpos do


tipo IgE.
b) ( ) Hipersensibilidade do tipo III, é mediada por anticorpos do tipo IgG e
IgM, contra antígenos de superfície e recrutando e ativando leucócitos.
c) ( ) Hipersensibilidade do tipo II, é mediada por anticorpos do tipo IgG e
IgM, contra antígenos de superfície e recrutando e ativando leucócitos.
d) ( ) Hipersensibilidade do tipo III, é mediada por imunocomplexos
autoimunes.
e) ( ) Hipersensibilidade do Tipo IV trata-se de uma hipersensibilidade
tardia, mediada pelas células T, ocorrendo a ativação de macrófagos e
destruição direta de células-alvo.

3 A autoimunidade é característica de falha de qual mecanismo imunológico?

a) ( ) Ativação de Linfócitos T e B.
b) ( ) Ativação de complemento.
c) ( ) Estímulo de células apresentadoras de antígenos (APC).
d) ( ) Produção de anticorpos.
e) ( ) Tolerância Imunológica.

4 Fred tem febre do feno ou rinite alérgica, que piora em setembro (primavera).
O que isso sugere em relação à causa provável do sintoma e como você
tentaria identificar ao que Fred é alérgico?

5 Quais são as características principais que distinguem hipersensibilidade


do Tipo II de tipo III?

185
186
UNIDADE 3
TÓPICO 3

IMUNOLOGIA E TRANSPLANTES

1 INTRODUÇÃO
Acadêmico, para finalizar esse livro didático, aprenderemos sobre o
papel do sistema imunológico envolvendo os transplantes. O principal motivo
da importância de se compreender como o sistema imunológico funciona tem
a ver com sua aplicação prática no desenvolvimento de tratamentos e formas
de prevenção de doenças. Uma dessas formas de tratamento que envolve a
manipulação do sistema imune são os transplantes.

No ano de 1933, foi realizado o primeiro transplante no mundo e, em


1964, esse tipo de procedimento foi inaugurado no Brasil com um transplante renal
realizado no Hospital dos Servidores do Estado do Rio de Janeiro. As técnicas de
transplantação e fármacos imunossupressoras evoluíram muito desde então, a fim
de que se possa dar uma melhor qualidade de vida ao transplantado. O transplante
clínico para tratar doenças humanas tem aumentado continuamente durante os
últimos 45 anos. O transplante de células células-tronco hematopoiéticas, rins,
fígados e corações é muito utilizado atualmente e o transplante de outros órgãos,
como pulmão e pâncreas está se tornando mais frequente (ABBAS, 2015). Por
outro lado, a demanda de órgãos para transplante não para de crescer e a relação
entre a quantidade de pacientes que ingressam na lista de espera e os órgãos
disponibilizados é cada vez mais desproporcional (COELHO, BONELLA, 2019).

Segundo a Associação Brasileira de transplantes de órgãos (ABTO),


de janeiro a setembro de 2019 houve uma melhora nas taxas de doações e de
transplantes de alguns órgãos, mas ainda não é o ideal para tratar todos os doentes
da fila de espera (RBT, 2019). Nesse tópico, iremos aprender como o sistema
imune age, para prevenir a rejeição aos enxertos; também abordaremos os tipos
de transplantes e abordagens terapêuticas. Vamos lá!

2 TRANSPLANTES
O transplante de órgãos envolve a transferência de tecidos, células ou órgãos
que podemos chamar de enxerto; de um local anatômico para outro, podendo ser
na mesma pessoa ou entre pessoas diferentes (WOOD, 2013). O indivíduo que
fornece o enxerto, é denominado de doador, e o indivíduo que recebe o enxerto é
chamado de receptor. No caso da transferência de células do sangue circulante ou
plasma de um indivíduo para outro, podemos chamar de transfusão (ABBAS, 2015).

187
UNIDADE 3 | IMUNOLOGIA APLICADA

O transplante de órgãos constitui um procedimento para tratar uma


variedade de doenças. No Quadro 9 podemos observar os tipos de transplantes
clínicos e as principais doenças tratadas (WOOD, 2013).

QUADRO 9 – TIPOS DE TRANSPLANTES CLÍNICOS

Transplante Doença tratada


Rim Nefrite, complicações de diabetes
Coração Insuficiência cardíaca
Pulmão/coração+pulmão Fibrose cística
Pâncreas Diabetes mellitus dependente de insulina
Fígado Defeitos congênitos do fígado, hepatite, cirrose
Córnea Catarata
Pele Queimaduras
Medula óssea Defeitos hematopoiéticos congênitos
Rosto Ataques de animais, câncer

FONTE: Adaptado de Wood (2013)

Sabemos que nem todos os transplantes têm sucesso, apesar de o transplante


clínico envolver uma série de testes e preparações entre o doador e o receptor. A
falha de um transplante ocorre principalmente devido ao risco de uma rejeição ao
enxerto. O termo rejeição foi descrito por Peter Medawar e outros pesquisadores
que estudavam um modelo de transplante de pele em animais. Eles evidenciaram
nas suas pesquisas uma falha no enxerto de pele causada por uma forte resposta
inflamatória, a qual denominaram de rejeição. Os pesquisadores puderam concluir
que a rejeição ao enxerto é o resultado de uma resposta imunológica adaptativa
envolvendo a memória e especificidade dos linfócitos (ABBAS, 2015).

DICAS

Para saber mais sobre os transplantes no Brasil, visite o site da Associação


Brasileira de transplantes de órgãos: http://www.abto.org.br.

2.1 TIPOS DE TRANSPLANTES


Para começar a falar sobre como o sistema imune age nos transplantes
precisamos entender que eles são divididos em diferentes categorias ou tipos,
podendo ser entre indivíduos e entre espécies. Podemos definir os transplantes
em quatro tipos: autoenxerto, isoenxerto, aloenxerto e xenoenxerto (ROITT, 2013).
Agora, descreveremos cada um desses tipos.
188
TÓPICO 3 | IMUNOLOGIA E TRANSPLANTES

• Autoenxerto: transplante de tecido de um local para o outro no mesmo indivíduo;


podemos citar o transplante de pele saudável para áreas comprometidas de
vítimas de queimaduras; também podemos citar ponte safena e o transplante
de medula óssea. Por ser realizado com tecidos de um mesmo indivíduo, o
risco de rejeição é menor (WOOD, 2013).
• Isoenxerto: transplante entre indivíduos singênicos (constituição genética
idêntica), tais como irmãos gêmeos idênticos. Como os indivíduos são
geneticamente idênticos, normalmente não há rejeição (ROITT, 2013).
• Aloenxerto: transplante entre indivíduos alogênicos (membros da mesma
espécie, mas geneticamente diferentes), por exemplo, entre seres humanos.
Nesse caso, o enxerto sofre rejeição na ausência de uma terapia imunossupressora
(ROITT, 2013). Como é a categoria mais comum de transplantes, a abordaremos
mais adiante.
• Xenoenxerto: transplante entre indivíduos de espécies diferentes, por exemplo,
macaco para o humano, porco para o humano. Nesse tipo de enxerto ocorre
uma forte resposta de rejeição (WOOD, 2013).

Também precisamos conhecer alguns outros termos dentro da imunologia


dos transplantes. As moléculas ou antígenos que são reconhecidas como estranhas
em enxertos são chamadas de aloantígenos e aquelas nos xenoenxertos são
chamadas xenoantígenos. Os linfócitos e anticorpos que reagem contra os
aloantígenos ou xenoantígenos são descritos como alorreativo ou xenorreativo,
respectivamente (ABBAS, 2015).

2.2 IMUNOLOGIA DOS TRANSPLANTES


Estudaremos, a partir de agora, como o nosso sistema imune se comporta
diante de um enxerto. Discutiremos os mecanismos moleculares e celulares de
alorreconhecimento, com ênfase sobre a natureza dos antígenos do enxerto que
estimulam respostas alogênicas e as propriedades da resposta dos linfócitos. Os
aloantígenos provocam tanto respostas imunológicas celulares quanto humorais.
Os antígenos que estimulam a resposta imunológica adaptativa contra aloenxertos
são proteínas de histocompatibilidade (MHC), codificadas por genes polimórficos
que diferem entre os indivíduos (ABBAS, 2015), estudamos sobre essas proteínas
na Unidade 2.

No transplante de tecidos que contêm células nucleadas, as respostas das


células T às moléculas do MHC altamente polimórficas quase sempre disparam
uma resposta contra o órgão enxertado. A compatibilidade entre o tipo de MHC do
doador e do receptor aumenta o índice de sucesso dos enxertos; porém, a identidade
perfeita só é possível quando o doador e o receptor são gêmeos idênticos e, nesses
casos, o risco de rejeição é muito menor (MURPHY, 2014).

189
UNIDADE 3 | IMUNOLOGIA APLICADA

O estudo da rejeição foi abordado pela primeira vez em experimentos


com camundongos. Foram transplantadas pele entre linhagens de
camundongos. Em autoenxertos (mesmo animal ou pessoa), a pesquisa obteve
100% de sucesso; em indivíduos da mesma espécie, geneticamente idênticos, o
enxerto teve 100% de sucesso também. Entretanto, quando a pele é enxertada
entre dois indivíduos da mesma espécie, mas geneticamente diferentes, sem
parentesco, o enxerto é inicialmente aceito, porém, após 10 a 13 dias, é rejeitado.
Observe a Figura 23 (MURPHY, 2014).

FIGURA 23 – REJEIÇÃO DO TRANSPLANTE DE PELE


Um segundo enxerto de Células T tranferidas aceleram a rejeição de
Pele enxertada em Pele enxertada em pele do mesmo doador é um doador sensibilizado para um
um receptor singênico um receptor alogênico realizado no mesmo receptor receptor virgem
MHCa MHCa MHCa MHCa

MHCa MHCb MHCb MHCb sensibilizado ao MHCa MHCb virgem

O enxerto é rapidamente O enxerto mostra rejeição O enxerto mostra rejeição


O enxerto é tolerado rejeitado (rejeição de acelerada (rejeição de acelerada (rejeição de
primeira instância) drgunda instância) drgunda instância)

% de
sobrevivência
do enxerto

Dias após a realização do enxerto

FONTE: Murphy (2014, p. 653)

A resposta imune aos aloenxertos ocorre primeiramente pelo reconhecimento


dos aloantígenos pelas células T. As pesquisas iniciais sobre os transplantes
demonstraram que as células T do receptor do enxerto reconhecem as moléculas
de MHC intactas (não processadas no enxerto) o que chamamos de reconhecimento
direto dos aloantígenos. Outros estudos posteriores mostraram que, por vezes,
as células T do receptor do enxerto reconhecem apenas as moléculas de MHC
no contexto de moléculas de MHC do receptor, o que implica que as moléculas
de MHC do receptor devem apresentar proteínas de MHC de enxerto alogênico
para as células T do receptor. Este processo é chamado reconhecimento indireto
e é essencialmente o mesmo que envolve o reconhecimento de qualquer antígeno
proteico externo (por exemplo, antígenos microbianos). Observe, na Figura 24, a
ilustração do reconhecimento direto e indireto de aloantígenos. Podemos observar
que, no caso do reconhecimento direto, as moléculas de MHC intacta exibidas pelas
células do enxerto são reconhecidas pelas células T receptoras sem a necessidade
de processamento pelas APCs do hospedeiro. Já no reconhecimento indireto, as
moléculas de MHC (alogênicas) do doador são capturadas e processadas pelas
APCs do receptor e os peptídios derivados das moléculas de MHC alogênicas são
apresentados em associação a moléculas de MHC (ABBAS, 2015).

190
TÓPICO 3 | IMUNOLOGIA E TRANSPLANTES

FIGURA 24 – RECONHECIMENTO DOS ALOANTÍGENOS

FONTE: Abbas (2015, p. 832)

A ativação dos linfócitos, então, ocorre quando estes reconhecem os


aloantígenos: os linfócitos são ativados para proliferar, diferenciar-se e executar
funções efetoras que podem danificar os enxertos. As etapas de ativação dos
linfócitos aos aloantígenos são semelhantes às das reações a antígenos microbianos,
que aprendemos no Tópico 1, dessa unidade. A resposta das células T a um
enxerto de órgãos pode ser iniciada nos gânglios linfáticos que drenam o enxerto.
No caso do alorreconhecimento direto, as células dendríticas do doador migram
para tecidos linfoides secundários no enxerto, onde apresentam as moléculas de
MHC alogênicas para as células T do hospedeiro. No caso do alorreconhecimento
indireto, as células dendríticas do receptor que entraram no aloenxerto transportam
as proteínas do MHC do doador para os tecidos linfoides secundários e apresentam
os peptídios derivados destas proteínas do MHC alorreativas de células T do
hospedeiro. Em ambos os casos, as células T tornam-se ativadas e diferenciam-
se em células efetoras. As células T efetoras alorreativas migram para o enxerto,
tornam-se reativado por aloantígenos e medeiam os danos, conforme ilustrado na
Figura 25 (ABBAS, 2015).

Após a ativação dos linfócitos, cada célula irá desempenhar uma função
na rejeição contra o enxerto. As células T alorreativas CD4+ se diferenciam em
células efetoras produtoras de citocinas que danificam o enxerto por meio de
inflamação mediado por citocinas. Já as células T alorreativas CD8+ se diferenciam
em células T citotóxicas (CTLs), que são responsáveis por matar células nucleadas
no enxerto. Enquanto isso, as células B alorreativas são ativadas para a produção
de aloanticorpos contra aloantígenos (ABBAS, 2015).

191
UNIDADE 3 | IMUNOLOGIA APLICADA

FIGURA 25 – ATIVAÇÃO DAS CÉLULAS T ALORREATIVAS

Sensibilização: ocorre quando os linfócitos virgens (naives) encontram os aloantígenos e são


induzidos à expansão clonal.

FONTE: Abbas (2015, p. 838)

2.3 REJEIÇÃO: TIPOS DE REJEIÇÃO E TRATAMENTOS


As respostas de rejeições de enxertos têm sido classificadas em três tipos
principais: hiperaguda, agudas e crônicas (WOOD, 2013). Podemos observar no
Quadro 10, as características de cada tipo de rejeição.

192
TÓPICO 3 | IMUNOLOGIA E TRANSPLANTES

QUADRO 10 – TIPOS DE REJEIÇÕES

Tipo de Evolução
Causa Caraterísticas
Rejeição temporal
Os anticorpos ligam-se ao endotélio
dos vasos sanguíneos do enxerto e
O receptor
provocam ativação do complemento,
tem anticorpos
Hiperaguda Minutos recrutamento dos neutrófilos, agregação
preexistentes
das plaquetas e coagulação do sangue.
contra o enxerto.
A rejeição deve ser prevenida por
compatibilidade
As células T citotóxicas atacam as
Ativação dos células do doador que expressam o
linfócitos MHC estranho. As células T auxiliares
(equivalente a e os linfócitos B colaboram com a
Aguda Vários dias
resposta imune produção de anticorpos contra os
primária dos aloantígenos.
linfócitos). Sem a imunossupressão o enxerto será
rejeitado em 7 a 20 dias.
Os mecanismos não estão totalmente
esclarecidos. Podem envolver linfócitos,
Vários fagócitos, anticorpo e complemento.
mecanismos Uma das principais mudanças
Crônica Meses a anos imunes ou patológicas é o espessamento das
recidiva da paredes arteriais do enxerto, o que pode
doença original. levar a oclusão da artéria e isquemia,
por fim grande parte do enxerto fica
sem suprimento e para de funcionar.
Sinais de perigo após os transplantes: febre, hipertensão, edema, aumento súbito de peso,
mudança de ritmo cardíaco e dor no local do transplante.

FONTE: Adaptado de Abbas (2015), Roitt (2014) e Wood (2013)

Existem três maneiras que devem ser tomadas para prevenir a rejeição de
um enxerto. Primeiramente, o doador e o receptor precisam ter o tipo sanguíneo
compatível, para que não ocorra complicação de compatibilidade sanguínea. Em
seguida são realizados testes de pesquisa de anticorpos irregulares no soro do
receptor para verificar se o receptor possui anticorpos preexistentes contra o doador.
A segunda etapa para aumentar o sucesso de um transplante é correlacionar o HLA
do receptor e doador através de uma tipagem tecidual. Quanto mais correlações
houver de HLA, mais chance o transplante tem de ser bem-sucedido. Na Unidade
2, estudamos o HLA humano. A terceira etapa na prevenção à rejeição aos enxertos
é o uso de fármacos imunossupressores, que envolvem o emprego de fármacos ou
anticorpos que inibem a resposta imune dos linfócitos T contra o enxerto. Embora
esses fármacos inibam a rejeição dos enxertos, eles também inibem a resposta aos
patógenos; isso faz com que pessoas transplantadas apresentem um maior risco
de infecções e o desenvolvimento de tumores (WOOD, 2013).

193
UNIDADE 3 | IMUNOLOGIA APLICADA

Apesar das pesquisas em transplantes avançarem na atualidade,


ainda existem limitações envolvendo o seu sucesso. Os estudos requerem o
desenvolvimento de aperfeiçoamento das técnicas cirúrgicas, o aprimoramento
de uma equipe de transplante multidisciplinar e bem treinada; precisa-se do
desenvolvimento de melhores imunossupressores, e ainda se precisa trabalhar
com a diminuição das taxas de rejeição dos tecidos transplantados e aumento da
sobrevida dos enxertos (ABBAS, 2015).

194
TÓPICO 3 | IMUNOLOGIA E TRANSPLANTES

LEITURA COMPLEMENTAR

MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS DO LÚPUS ERITEMATOSO


SISTÊMICO (LES)

Daiane Caroline Enderle


Daniela Silva Machado
Karla Nunes Mendes
Fabricio Moreira Costa
Ana Claudia Guilhen Carvalho

1 INTRODUÇÃO

O Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES) é uma patologia inflamatória


crônica que atinge todos sistemas do corpo, de caráter autoimune e de origem
desconhecida, podendo estar relacionado com fatores ambientais, hormonais e
genéticos. É predominante em pessoas do sexo feminino, que estejam em período
fértil, de raça asiática e negra (SKARE, 2007).

Evolui apresentando manifestações clínicas como polimorfismo, com


evolução crônica, com tempo de exacerbação e remissão. Pode apresentar como
sintomas sistêmicos, artrite, pneumonia, hiperatividade reticuloendotelial,
serosite, nefrite, miosite, vasculite, manifestações mucocutâneas, hemocitopenias
imunológicas e vários quadros neuropsiquiátricos (SHUR; GLADMAN, 2017).

Esta doença atinge principalmente as células sanguíneas, as articulações,


a pele, as membranas serosas, os vasos sanguíneos, o cérebro e os rins. Por isso,
é considerada uma doença multissistêmica (FREIRE; SOUTO; ACONELLI, 2011).

Existem dois tipos de lúpus reconhecidos: o cutâneo, que é aquele que causa
manchas ou eritemas geralmente avermelhados na pele, normalmente aparecem
em regiões que tem maior exposição solar, e o lúpus sistêmico, que acomete os
órgãos internos (BRASIL, 2011).

O LES é uma doença grave, que pode levar à morte. As infecções são as
principais responsáveis pelos casos de mortes de pacientes com lúpus, por isso, é muito
importante o diagnóstico precoce e o tratamento (SKARE et al., 2016). A ocorrência
de infecções em pacientes com lúpus é maior naqueles que fazem administração de
imunossupressores, principalmente glicocorticoides (JEON et al., 2009).

O objetivo principal deste estudo foi analisar, através de revisões


bibliográficas, as manifestações clínicas, diagnóstico, tratamentos e quais as
complicações que podem agravar a situação do LES.

195
UNIDADE 3 | IMUNOLOGIA APLICADA

2 METODOLOGIA

O trabalho foi desenvolvido como uma revisão bibliográfica da literatura


sobre o Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES). As bases de dados foram Google
Acadêmico, Lilacs, Scielo, EBSCO, Leis e Portarias vigentes no país, utilizando
livros, artigos, teses, encartes e sites do ano de 2007 até o ano de 2017. Os materiais
utilizados foram nacionais e internacionais, levantando informações sobre
manifestações clínicas, diagnóstico, tratamentos e quais as complicações que podem
agravar a situação do LES.

3 DESENVOLVIMENTO

Todos os seres humanos apresentam um sistema de defesa, que está sempre


em alerta para tentar combater a entrada de qualquer substância imunogênica no
nosso organismo. No entanto, nosso sistema imunológico pode falhar e ao invés de
combater esses antígenos, ele passa a os reconhecer como parte do próprio organismo,
levando ao desenvolvimento das doenças autoimunes (VIANNA et al., 2010).

O Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES) faz parte dessas doenças ocasionadas


por uma falha imunológica. O LES é uma patologia crônica, autoimune,
multissistêmica, inflamatória e de origem pouco conhecida. É predominante em
mulheres, de raça negra e em idade reprodutiva (ABBAS et al., 2008).

Mesmo sem saber ao certo quais as causas do desenvolvimento do Lúpus,


existem alguns fatores que tem ligação com o desenvolvimento da doença, como
os fatores genéticos, hormonais e ambientais. A falta de equilíbrio na produção de
anticorpos faz com que ele ataque as proteínas próprias do organismo causando
inflamação em diversos órgãos. Os sintomas mais frequentes no paciente são febre
baixa, perda de apetite, desânimo, anemia, comprometimento articular, renal,
cardiovascular e neurológico, cansaço e perda de peso. Esses sintomas podem acontecer
com maior ou menor intensidade de acordo com a fase da doença (BRASIL, 2011).

O LES, na maioria dos casos, está associado a grande produção de diversos


anticorpos diferenciados; em sua maioria são anticorpos que agem contra os
antígenos nucleares (ds – DNA, Sm, RNP, Ro, La, dentre outros), e com a presença
de complexos imunes que ocasionara a inflamação crônica e a lesão do tecido
(ABDULAHAD et al., 2011).

No LES, as células apoptóticas acabam apresentando um papel importante no


desencadeamento da doença, devido as alterações das funções normais das células,
que acabam comprometendo a remoção total das dos restos apoptóticos, que tem
ligação com o desenvolvimento do LES. As células B, que são as responsáveis pela
produção dos autoanticorpos, também tem contribuição para o desenvolvimento
da doença. As moléculas CD40L e BLyS, que interferem na ativação das células B,

196
TÓPICO 3 | IMUNOLOGIA E TRANSPLANTES

apresentam-se em valores acima dos normais em pacientes com Lúpus. As células


T reguladoras é responsável pelo controle da autoimunidade, e está associada ao
desencadeamento do LES. Outro agente que apresenta interferência nos casos
de LES são os receptores toll-like e Fc, que estão diretamente relacionados com a
ativação das células B e com o seu controle (FONSECA, 2009).

O diagnóstico do LES é realizado por meio de diversos exames. O principal


exame realizado para o diagnóstico é a detecção de anticorpos que reagem com
os compostos nucleares, como DNA, ribonucleoproteína e histonas. A técnica de
imunofluorescência indireta é a mais indicada nestes casos, pois ela é capaz de
detectar os anticorpos específicos dessa doença, que são os anticorpos antifita
dupla hélice do DNA (BALESTIERI, 2006; ABBAS et al., 2008).

O LES é uma doença que apresenta muitas variações no seu desenvolvimento


e nos sintomas e por isso é considerada de difícil diagnóstico na fase inicial (FREIRE;
SOUTO; ACONELLI, 2011).

3.1 DIAGNÓSTICO

Para fazer o diagnóstico de LES consideram-se os critérios clínicos, que


é manifestado ao longo do tempo, e laboratoriais. Uma das coisas que complica
este diagnóstico é o amplo diagnóstico diferencial, especialmente na faze inicial. A
doença se manifesta pelas lesões cutâneas em mulheres jovens nos seus períodos
férteis, mas existe uma grande variedade de sintomas (ASSIS; BAAKLINI, 2009).

O American College of Reumatology estabelece 11 critérios no diagnóstico do


LES, e o paciente precisa apresentar quatro para poder ser considerado doente.
São eles: eritema malar, lesão discoide, fotossensibilidade, úlceras orais/nasais,
artrite, serosite, comprometimento renal, alterações neurológicas e anticorpos
antinucleares. Embora seja raro, alguns pacientes com LES podem não apresentar
quatro dos onze critérios citados (SATO et al., 2002).

A Ressonância Magnética (RM) é um dos exames mais indicados para


diagnosticar LES em pacientes com alterações neuropsiquiátricas, possibilitando um
diagnóstico precoce e conseguindo fazer um tratamento adequado. Na realidade, os
mecanismos patológicos das lesões cerebrais nestes doentes ainda não estão claros;
no entanto, existem várias teorias que os tentam explicar, para as quais a imagem
por RM também assume um papel importante (CARNEIRO et al., 2006).

Os anticorpos são as evidências mais importante nos exames laboratoriais


para o diagnóstico do LES. Os fatores nucleares (FAN) estão presentes em quase
todos os casos de doença ativa e reagem com componentes do núcleo; não são
específicos para LES, no entanto, em nenhum outro caso possui frequência e título
tão elevado (OMONTE; LENZ; BATISTA, 2006).

197
UNIDADE 3 | IMUNOLOGIA APLICADA

3.2 TRATAMENTO

Não existe um tratamento específico para LES, pois não se tem um


protocolo padrão para todos os pacientes. Desta forma, uma série de medidas, entre
medicamentos e normas, são empregadas para que se tenha uma boa qualidade
de vida (OMONTE; LENZ; BATISTA, 2006).

De acordo com SATO et al. (2002), algumas medidas gerais devem ser
adotadas como parte importante da abordagem terapêutica, tais como: oferecer
informações gerais sobre a doença, o seu diagnóstico e tratamento, fornecer
acompanhamento psicológico, incentivar a prática de atividade física regular,
exceto nos períodos de atividade sistêmicas da doença, no qual é aconselhável
o repouso. Ainda é de fundamental importância indicar uma dieta balanceada,
evitando muito sal, carboidrato e lipídios, bem como evitar uma exposição ao sol
por um longo tempo e evitar o tabagismo.

O tratamento medicamentoso é prescrito por meio das manifestações


clínicas e a gravidade da doença. Anti-inflamatórios não esteroides (AINH)
são utilizados no tratamento de artralgias, artrite, febre e serosite, pericardite e
pleurites leves. Os antimaláricos também são indicados e os corticosteroides são
utilizados para manifestações mais graves e quando os medicamentos acima não
forem eficazes. A dosagem destes deve ser controlada para minimizar os efeitos
colaterais que podem trazer ao paciente (VELÁZQUEZ, 2005; POLESE, 2009).

Antimaláricos como a cloroquina e o difosfato de cloroquina são indicados


para reduzir a atividade da doença e com isso evitar os corticosteroides. Os
antimaláricos são essenciais e devem ser administrados por pelo menos seis meses
após o controle da doença. Corticosteroides como a prednisona são administrados
nas formas mais agudas da doença (CARNEIRO et al., 2008; SATO et al., 2002).

A melhoria dos sintomas geralmente é notada após vários dias de tratamento.


Na maioria dos doentes, os anti-inflamatórios são os únicos medicamentos
necessários para controlar a doença (MARCK, 2008; POLESE, 2009).

A fisioterapia é de extrema importância no tratamento do LES, pois por meio de


exercícios e manobras específicas consegue-se a manutenção e a melhora das funções
cardiorrespiratórias e musculares. A fisioterapia visa sempre a melhora da funcionalidade
dos pacientes, minimizando os sintomas que a doença apresenta (POLESE, 2009).

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O LES é uma doença grave que não tem cura, que requer muitos cuidados e
tratamento adequado. Por ser uma doença multissistêmica, atinge diversos órgãos e
contribui para o desenvolvimento de outras complicações. É uma patologia que não tem
causa específica, apenas alguns fatores que contribuem para o seu desencadeamento.

198
TÓPICO 3 | IMUNOLOGIA E TRANSPLANTES

Apesar de ser uma doença não muito conhecida, ela pode levar o paciente à
morte, se não for descoberta a tempo ou se o paciente não fizer o tratamento corretamente.

A preparação dos profissionais da área da saúde para fornecer o cuidado


e as informações adequadas para o paciente é fundamental para que ele realize os
exames necessários e o tratamento de forma correta, buscando proporcionar para
esses pacientes melhora na qualidade de vida, e menores efeitos ocasionados pela
imunossupressão crônica.

FONTE: ENDERLE, D. C. et al. Manifestações clínicas do lúpus eritematoso sistêmico (LES).


Facider Rerista Científica, Colider, n. 12, 2019. Disponível em: <http://sei-cesucol.edu.br/revista/
index.php/facider/article/view/182/210>. Acesso em: 26 jan. 2020.

199
RESUMO DO TÓPICO 3

Neste tópico, você aprendeu que:

• O transplante de órgãos envolve a transferência de tecidos, células ou órgãos


que podemos chamar de enxerto; de um local anatômico para outro, podendo
ser na mesma pessoa ou entre pessoas diferentes.

• O indivíduo que fornece o enxerto é denominado de doador, e o indivíduo que


recebe o enxerto é chamado de receptor.

• A falha de um transplante ocorre principalmente devido ao risco de uma


rejeição ao enxerto.

• Podemos definir os transplantes em quatro tipos: autoenxerto, isoenxerto,


aloenxerto e xenoenxerto.

• Os antígenos que estimulam a resposta imunológica adaptativa contra


aloenxertos são proteínas de histocompatibilidade (MHC), codificadas por
genes polimórficos que diferem entre os indivíduos.

• A compatibilidade entre o tipo de MHC do doador e do receptor aumenta o


índice de sucesso dos enxertos.

• A resposta imune aos aloenxertos ocorre primeiramente pelo reconhecimento


dos aloantígenos pelas células T.

• Existem três tipos principais de rejeição: hiperaguda, agudas e crônicas.

• Sinais de alerta após os transplantes: febre, hipertensão, edema, aumento


súbito de peso, mudança de ritmo cardíaco e dor no local do transplante.

• A prevenção à rejeição aos enxertos é o uso de fármacos imunossupressoras,


que envolve o emprego de fármacos ou anticorpos que inibem a resposta imune
dos linfócitos T contra o enxerto.

CHAMADA

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pensando em facilitar sua compreensão. Acesse o QR Code, que levará ao
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200
AUTOATIVIDADE

1 Os transplantes são métodos de tratamento usado amplamente para a


substituição de órgãos e tecidos que não funcionam por órgãos e tecidos
saudáveis. Sobre a resposta imunológica aos enxertos, classifique (V) para
sentenças verdadeiras e (F) para as falsas:

( ) Rejeição: é a resposta imunológica aumentada (inicialmente local)


envolvendo, na maioria das vezes, os antígenos HLA do órgão
transplantado, tendo como consequência uma reação inflamatória contra
o enxerto.
( ) A forma mais comum de transplantes é o aloenxerto, que ocorre entre dois
indivíduos não geneticamente idênticos, mas da mesma espécie, não há
desenvolvimento da resposta imunológica, ou seja, não há rejeição.
( ) A rejeição do enxerto é prevenida por drogas imunossupressoras, que são
eficientes, mas podem permitir que o receptor apresente maior risco de
infecção.
( ) Xenoenxerto: trata-se dos transplantes entre indivíduos de espécies
diferentes, o enxerto é fortemente rejeitado.
( ) A rejeição hiperaguda é um processo de lesão do parênquima do enxerto
e dos vasos sanguíneos mediada por células T alorreativas e anticorpos,
pode ocorrer dias ou meses após o transplante;

Assinale a sequência CORRETA:


a) ( ) V – V – V – F – F.
b) ( ) V – F – V – F – F.
c) ( ) V – F – V – V – V.
d) ( ) V – F – V – V – F.
e) ( ) F – F – F – F – V.

2 É um tipo de resposta ao enxerto, pode ocorrer por vários dias e envolve


ativação dos linfócitos (equivalente a resposta imune primária dos linfócitos).
As células T citotóxicas atacam as células do doador que expressam o MHC
estranho. As células T auxiliares e os linfócitos B colaboram com a produção
de anticorpos contra os aloantígenos. Esse tipo de rejeição é chamado de:

a) ( ) Hiperaguda.
b) ( ) Aguda.
c) ( ) Crônica.

201
3 Em geral, a rejeição do enxerto envolve qual tipo de componente do sistema
imunológico?

a) ( ) Sistema complemento.
b) ( ) Sistema de coagulação.
c) ( ) Neutrófilos.
d) ( ) Linfócitos T.

4 Quais são os sinais clínicos nos quais o paciente e o médico devem ficar
atentos após um transplante?

5 Homem, 33 anos, fez um transplante renal há quatro anos, no entanto, o rim


transplantado apresentou fibrose e o processo de rejeição foi aumentando.
Um novo transplante foi realizado e o doador foi seu primo de primeiro
grau. Duas horas depois da cirurgia, o paciente apresentou febre e dores
abdominais intensas. A partir desses sintomas, podemos suspeitar que:

6 O que são fármacos imunossupressores?

202
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