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LABORATÓRIO DE MÁQUINAS ELÉTRICAS II – IPUC – PUC MINAS

AULA PRÁTICA DE PARALELISMO DE MÁQUINAS SÍNCRONAS


ÁLVARO AUGUSTO FERREIRA DUARTE

1. INTRODUÇÃO
Levando-se em conta que máquinas síncronas são um tipo dentre diversos outros
tipo de geração (conversão) de energia, faz-se necessário o paralelismo de tais
equipamentos quando a carga a ser alimentada demanda uma determinada quantidade
de energia maior do que a potência de uma única fonte geradora. Desta forma,
associando-se duas ou mais (consideravelmente mais) máquinas síncronas, é possível
obter-se potência suficiente para que uma determinada carga seja alimentada.
A associação em paralelo se faz necessária, uma vez que tal associação não varia
a tensão fornecida (desde que todos os elementos geradores possuam a mesma tensão
de saída, como será abordado adiante) e possibilita um aumento de corrente fornecida,
consequentemente a potência fornecida, dado o produto: 𝑆 = 𝑉. 𝐼 [𝑉𝐴].
2. OBJETIVO
Entender como se dá o paralelismo, quais são as condições necessárias e como
se conectar uma nova unidade conversora a uma barra infinita .
3. GRANDEZAS
Supõe-se uma carga a ser alimentada por uma bateria, a qual fornece uma tensão
𝐸1 . A mesma, porém, não é suficiente para atender a carga em sua totalidade, desta
forma, vê-se a necessidade de se especificar uma segunda bateria de tensão 𝐸2 . Para
tal faz-se uma malha de paralelismo (em vermelho):

Figura 1: Funcionamento esperado em um paralelismo de fontes.

Ao se jumpear os terminais positivos das fontes entre si, e os terminais negativos


das fontes entre si, deve-se ter o completo conhecimento do que está sendo proposto,
uma vez que corre-se o risco de se induzir correntes de curto circuito altíssimas nestes
condutores, já que suas impedâncias são muito pequenas.
Conexão realizada, haverá então, pela Lei de Kirchhoff das correntes, uma soma
das correntes provenientes de cada fonte (𝐼1 e 𝐼2 ) em uma corrente 𝐼𝐷 = 𝐼1 + 𝐼2 (Corrente
demandada).
Pensando-se nas correntes 𝐼1 e 𝐼2 individualmente, vê-se que a corrente 𝐼1 não
interfere na malha de 𝐸2 e vice versa. Caso isso ocorresse, a bateria 𝐸2 funcionaria como
carga da bateria 𝐸1 ou vice versa, respectivamente, onde circularia, em sentido horário
ou anti-horário a corrente 𝐼𝐶 (Corrente de circulação).
Pega-se um ímã em forma de um diapasão, faz-se um orifício na parte inferior
média do mesmo, introduz-se uma haste com uma manivela em uma ponta e, na outra,
apoia-se uma agulha magnética de massa desprezível, a qual pode-se girar e
movimentar livremente sem atrito. Desta forma, o polo norte magnético da agulha será
atraído pelo polo sul magnético do ímã e o polo sul magnético da agulha será atraído
pelo polo norte magnético do ímã, tendendo o sistema para o equilíbrio nessa posição.

Figura 2: Circulação de uma corrente de circulação na malha de paralelismo.

É imprescindível então que a corrente de circulação seja zero, ou o mais próximo


de zero possível, uma vez que sua presença significa um curto-circuito. Como corrente
elétrica é um fruto de diferença de potencial, as fontes precisam obrigatoriamente possuir
tensões instantaneamente iguais e opostas. Devem ser opostas, uma vez que, caso não
fossem, as correntes iriam se realimentar (a corrente que sairia do polo positivo de uma
fonte, iria ao polo negativo da outra).
4. CONDIÇÕES DE PARALELISMO
Saindo-se do ambiente CC, e indo para o ambiente CA, deve-se ter um maior
cuidado nessa análise. Em corrente contínua, apenas a igualdade das tensões é
suficiente para se garantir um paralelismo, porém agora serão necessárias outras
condições. Lembrando de transformadores, as condições de paralelismo são:
• A mesma relação de transformação, ou a mesma tensão secundária eficaz;
• Mesmo deslocamento de fases;
• A mesma relação de impedância, de modo que um transformador de maior
potência forneça mais energia que um de menor potência, evitando-se assim,
sobrecargas individuais;
• O somatório das potências de cada transformador deve ocorrer quando o fator de
potência dos enrolamentos (𝑐𝑜𝑠𝜃𝑡 ) sejam iguais.
Tais condições em transformadores garantem a condição de tensões
instantaneamente iguais e opostas na malha de paralelismo.
Expandindo o raciocínio para máquinas síncronas, agora uma máquina rotativa,
para se haver tensões instantaneamente iguais e opostas:
• A mesma forma de onda. É importante apenas quando se acopla a máquina no
sistema. Para se determinar essa condição, utiliza-se um gerador de funções para
se gerar uma onda pura e simétrica e se compara com a onda amostrada da
máquina síncrona funcionando a vazio. Qualquer distorção entre a onda da
máquina síncrona e a onda comparativa acima de 5% indica que a forma de onda,
ou fator de forma, está inadequada para se colocar a máquina em paralelismo.
Desta forma, é possível que duas ondas de mesmo período, mesma frequência,
mesma amplitude, mesmo comprimento de onda, mesma velocidade de
propagação, e que estejam em fase possuam valores instantâneos muito
diferentes, uma vez que as formas de onda podem não ser iguais. Por exemplo:

Figura 3: Formas de onda.

• Mesma sequência de fases. Caso a sequência de fases não seja igual, significa
que haverá, em algum momento, uma tensão induzida pela carga no rotor da
máquina, provocando uma força que contrarie sua origem de elevado módulo, o
que danificaria o rotor da máquina. Para se garantir essa condição, utiliza-se um
frequencímetro, aparelho que identifica, através de luzes piscantes, que as fases
estão sincronizadas.
• Mesma tensão eficaz. Como não é possível se identificar a tensão instantânea,
garante-se, pelo menos, que as tensões eficazes são iguais.
• Mesma frequência de giro da concessionária. A frequência aqui é imperativa
perante a velocidade, uma vez que a velocidade é dependente da frequência,
biunívoca e bicontinuamente, e do número de polos da máquina. Desta forma,
permite-se que máquinas de diferentes polos possam ser conectadas à rede,
desde que possuam a mesma frequência. É difícil se ajustar a frequência, então
na prática propõe-se frequências praticamente iguais. Ou seja, devem ser o
mais próximo possível.
• Posição de fases. De modo que não haja correntes de circulação na malha de
paralelismo, como visto anteriormente.
Atenta-se ao fato de que, uma ligação equivocada de uma máquina à barra da
concessionária faz com que a máquina sofra as consequências, uma vez que a barra é
infinitamente maior do que a unidade.
5. CONEXÃO DE UMA UNIDADE SÍNCRONA A UMA BARRA INFINITA
Imaginando-se uma unidade geradora dotada de um determinado número de
máquinas síncronas, deve-se planejar em tempo hábil a conexão de uma delas à barra
da concessionária, de modo a se garantir que todas as condições anteriores estejam
atendidas. Deve-se também conectar uma máquina de cada vez, uma vez que essa
manobra requer uma grande atenção aos detalhes, evitando-se assim grandes correntes
de curto-circuito na malha de paralelismo, ou outras interferências indesejadas. Garante-
se essa individualidade fazendo com que a usina possua apenas um painel de controle
de paralelismo, de modo a atender uma máquina de cada vez (conectar ou desconectar).
Para se conectar uma máquina à barra, deve-se fornecer a ela potência mecânica
e corrente de excitação suficientes para que se leve a máquina à mesma condição da
concessionária. Só então que se deve conectá-la à barra, proporcionando uma conexão
então suave, equilibrada, ou seja, flutuando, sem que a mesma esteja em ação motora
ou geradora (somatório de forças e torques iguais a zero). O torque líquido deverá ser
zero, como um motor possui torque acelerante e um gerador possui torque frenante,
percebe-se que a máquina não deverá possuir nenhuma dessas identidades.
Esteja a máquina abaixo pronta para ser ligada ao barramento da CEMIG, estando
a mesma submetida a uma potência mecânica e uma corrente de excitação 𝐼𝑓 , a qual se
varia controlando o reostato em série.
• Controlador de tensão: Variando 𝐼𝑓 , varia-se a força magnetomotriz no rotor
⃗⃗⃗ 𝜑𝑟 e a força eletromotriz induzida ⃗⃗⃗⃗
𝐹𝑟 , a qual varia o fluxo rotórico ⃗⃗⃗⃗ 𝐸𝑓 .
• Controlador de frequência: Mais potência mecânica implica maior giro do
120.𝑓
eixo do rotor, logo, velocidade implica frequência. 𝑅𝑃𝑀 = .
𝑃

Coloca-se um voltímetro duplo, para se aferir a diferença de tensão entre tensão


da CEMIG e a tensão da máquina. Ao seu lado coloca-se um frequencímetro duplo, para
se aferir a diferença de frequência entre a frequência da CEMIG e a frequência da
máquina. Como a corrente de excitação deve ser zero, e a mesma é produto de uma
diferença de potencial, coloca-se três lâmpadas incandescentes 𝐿1 , 𝐿2 e 𝐿3 para se
verificar a sincronia entre o funcionamento da máquina e da concessionária. Se houver
qualquer diferença entre as tensões da concessionária e as tensões da máquina, as
lâmpadas se acenderão. Então, se não houver sincronismo entre as fases R, S ou T da
concessionária e as da máquina, as lâmpadas 𝐿1 , 𝐿2 e 𝐿3 irão se acender
respectivamente.
Coloca-se também um sequencímetro na linha da concessionária e outro na linha
da máquina, para que qualquer irregularidade na sequência de fases possa ser
identificada e corrigida em tempo hábil, evitando-se infortúnios na planta.
Figura 4: Esquema de ligação do painel de controle para se acoplar uma máquina síncrona à rede da concessionária.

6. PROCEDIMENTO
Pega-se a ficha de sincronização e conecta-se à máquina, desta forma, conecta-
se os terminais da máquina nos instrumentos do painel de controle. Começa a se injetar
potência mecânica na máquina síncrona, de modo a provocar o movimento do eixo da
máquina, fazendo com que haja uma pequena tensão induzida e frequência. Injeta-se
potência mecânica no eixo da máquina até que a frequência produzida pela mesma seja
igual à frequência da rede da concessionária. Nesta hora, toda a potência mecânica
fornecida à máquina é suficiente para suprir as suas perdas rotacionais (ventilação e
atrito), atingindo o equilíbrio com a barra.
Aumenta-se então a corrente de campo 𝐼𝑓 ao se variar o reostato, aumentando a
tensão induzida, até que a mesma atinja o mesmo valor que a tensão da rede da
concessionária. Nesta hora, toda a potência elétrica fornecida à máquina é suficiente
para que a mesma se magnetize, de tal maneira que ela produza uma tensão igual à
tensão da rede e supra as perdas elétricas e perdas Joule do circuito de campo da
máquina, atingindo o equilíbrio com a barra.
Com a máquina funcionando em comportamento singelo, é desejável que, com o
aumento da corrente de campo, a frequência caia um pouco (Lei de Faraday,
contrariando sua causa), sendo necessária a correção, fornecendo um pouco mais de
potência mecânica à máquina.
Neste momento, as lâmpadas irão piscar simultaneamente, indicando a sincronia
entre as tensões da rede e da máquina. Quanto mais lentamente as mesmas piscarem,
significa que mais próxima a frequência da máquina estará da frequência da
concessionária.
Caso as fases estejam invertidas, os sequencímetros irão acusar sentidos
diferentes. Nessa hora, é aconselhável que se pare a manobra de modo a verificar as
ligações das fases e verificar a sincronia.
Quando as lâmpadas estiverem apagadas, indicando a ausência de corrente de
circulação, liga-se o disjuntor e conecta-se a máquina ao barramento da concessionária,
fazendo com que a máquina entre flutuando na máquina, onde não há transferência de
potência da máquina para a rede ou vice-versa. Na flutuação, a corrente de armadura
deverá ser zero, para que o torque líquido seja zero, não haja transferência de potência
e o ângulo de carga seja também zero.
A partir do momento em que a máquina se encontrar conectada à barra, vencida
a flutuação, é possível fazer com que a máquina então funcione como um motor ou como
um gerador, retirando ou fornecendo potência elétrica para a mesma, respectivamente.

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