Você está na página 1de 4

Os dois Santos de nome João

 13 de setembro de 2017  Rodrigo de Oliveira Menezes  3 Comentários Grande Loja da Escócia, Ritos e


Rituais, Robert Coopes, Santo André, São João, São João Batista, São João Evangelista
Por Robert Cooper

Traduzido por Rodrigo Menezes

Alguns de vocês perceberam que postamos recentemente um evento – o Festival de


Santo André – no Facebook e já perguntaram: Por que Santo André?

Nós acreditamos que cada Grande Loja no mundo entende que São João é seu Santo
Patrono. Esse não é o caso da Grande Loja da Escócia. Abaixo vou tentar explicar os
motivos.

A Reforma Escocesa de 1559-60 varreu o Catolicismo Romano do Cristianismo e


inaugurou a nova religião protestante, que tem uma visão diferente de como Deus deve
ser adorado. Lá se foi toda forma de adoração Católica (como a Missa), imagens de
santos, símbolos Católicos e outras parafernálias da Igreja. Elas foram substituídas por
uma maneira muito diferente; mais simplista, plana e tudo isso ocorreu no período da
escrita dos Estatutos de Schaw (1598 e 1599). William Schaw, o homem que por muitos
é conhecido como o pai da Maçonaria Moderna, pois foi ele que iniciou o processo que
levou a Maçonaria como a conhecemos hoje.

Muitas Lojas recebem o nome de um Santo em particular (normalmente Santos bem


conhecidos do local) e frequentemente ouvimos referentes aos Santos de nome João
com a Maçonaria. Alguns podem estar mais familiarizados com o símbolo do ponto no
meio do círculo, suportados (pela direita e esquerda) por duas linhas paralelas (veja a
imagem). Se, entretanto, a religião do país foi completamente modificada na Reforma,
porque os símbolos da antiga crença ainda permanecem no Oficio Moderno por
referência a vários Santos?
Por que esses dois Santos em particular, São João Batista e São João Evangelista, são
normalmente referenciados pela Maçonaria nesse papel em especial? Não estamos
falando da fé religiosa ou do aspecto teológico aqui (veremos isso mais a frente).
Estamos falando do motivo que esses santos ainda estão conosco na Maçonaria atual.

O Manuscrito Edinburgh Register House (1696) é o mais antigo ritual Maçônico


conhecido no mundo, e está escrito em Escocês – o que fica claro pela retórica, sintaxe,
escrita, etc. Esse ritual e outros muito similares a ele (por exemplo o
Manuscrito Airlie (1705) e o Manuscrito Chetwode Crawley (c. 1710)) são também
escoceses e foram descritos e analisados em outros artigos (veja o texto Airlie MS no
Volume 117 da AQC – the anual jornal of Lodge Quatour Coronati, nº 2076). A
primeira menção ao São João, e devo revelar qual deles daqui a pouco, está no texto da
obrigação (que é extremamente significativa), nesses primeiros rituais. Parte da
obrigação pede que o candidato diga: “Eu Juro por São João, e o esquadro e o
compasso…” Isso significa que 140 depois da Reforma (1559), São João ainda era
usado no juramento dos Maçons durante a cerimônia e este Santo estava emparelhado
com o Esquadro e o Compasso.
Antes de discutirmos qual São João Maçônico é descrito, quero voltar aos nossos
Maçons anteriores a Reforma para tentar entender o que estavam fazendo e em qual
lugar, se alguma prece a São João existia em suas atividades.

Na Idade Média, a maior parte dos negócios, especialmente as de força econômica,


formaram Guildas (na Escócia elas eram normalmente conhecidas como Incorporações).
Sem entrar em grandes detalhes, comércios como
os Baxters (padeiros), Wobsters (tecelãos), etc., eram permitidos a participar de forma
limitada nas atividades do município. Isso foi útil quando o assunto relacionado ao
Ofício, a Maçonaria, era debatido. Por exemplo, a incorporação podia negociar horas de
trabalho e salários e outras condições de emprego com o conselho da cidade. Em troca
da pequena representação política, as Incorporações deviam concordar em aceitar certas
responsabilidades. Por exemplo, eles tiveram que concordar em controlar seus
aprendizes, e tiveram que concordar em aceitar a responsabilidade de melhorar seus
ensinamentos. A pré-reforma da Igreja começou uma mudança muito grande na vida
das pessoas. Os horários dos dias eram estruturados em torno do tempo dos rituais da
Igreja, dos dias sagrados, etc. Era comum que grupos como comerciantes combinassem
de pagar a manutenção de uma parte, ou ocasionalmente, de uma igreja inteira em
particular. Pessoas ricas ocasionalmente recebiam a responsabilidade de um lugar
específico da Igreja. Essas ‘partes particulares’ de uma igreja eram geralmente
corredores laterais dedicados a um santo onde as orações seriam oferecidas. Quando os
Maçons atingiram o status de uma Incorporação em Edimburgo, em 1475, a eles foi
dada a responsabilidade de manutenção dos corredores laterais dedicado a São João
Evangelista dentro da Catedral de São Giles. Isso significava que eles tinham que
manter o corredor limpo e arrumado, em boa ordem, reparar qualquer dano e fazer uma
doação anual de cera para velas. O custo foi considerado ao longo de um ano. Em outras
palavras, os Maçons encontravam-se lá regularmente, não só para ouvir as orações
sendo ditas pelas almas dos Maçons falecidos, mas também discutiam os costumes
relevantes para o seu Ofício. Naturalmente, se seguiu dessa forma, porque o corredor foi
dedicado a São João, o Evangelista, cujo dia da festa é o de 27 de dezembro, que se
tornou a data anunciada para todos os Maçons se reunirem juntos. Na sequência, era
sensato usar o período após a conclusão das cerimônias religiosas para conduzir os
trabalhos relevantes ao ofício da Maçonaria – prestar contas, pagar taxas anuais,
planejar o futuro, sugerir mudanças de acordos e regras de regulamentação, e o mais
importante: Iniciar Aprendizes e fazer Companheiros de Ofício. O dia 27 de Dezembro
se mantêm como o principal dia no calendário da Maçonaria Escocesa. É por esta razão
que hoje, a Maioria das Lojas Escocesas continuam a celebrar o dia 27 de Dezembro e
não o dia 24 de Junho – o dia da festa de São João Batista. Depois da reforma, muitos
elementos religiosos relacionados aos Santos, incluindo os corredores dedicados a eles,
foram abolidos e isso significava que os Maçons não tinham mais responsabilidades
religiosas, como manter o “seu” corredor na Catedral de St. Giles. No entanto, eles
ainda precisavam realizar seus encontros anuais e logicamente continuaram a realizar a
Assembleia Geral Ordinária (AGM) no dia 27 de Dezembro de cada ano. Isso pode ser
encontrado nos registros (incluindo os do Conselho da Cidade de Edimburgo por
exemplo), onde está data está registrada como encontro regular dos Maçons antes da
Reforma.
Quando William Schaw (1550-1602), o pai da Maçonaria Moderna, reorganiza as Lojas
Escocesas, eles mantêm nos registros das Lojas que o dia 27 de Dezembro continuaria a
ser o encontro anual. Nós agora chamamos esse encontro de “Instalações” (geralmente
no dia 27 de dezembro) ou seja, quando o novo Mestre de uma Loja foi eleito e
instalado na cadeira da Loja.

É claro, portanto, que São João Evangelista foi o santo padroeiro dos Maçons
Escoceses, mas a questão que continua é saber por que foi ele o escolhido? Existem
algumas possíveis razões religiosas e teológicas, mas estas devem ser objeto de uma
discussão posterior. No entanto, para nós esse é um entendimento muito simples.
Quando os pedreiros se tornaram uma Incorporação, pode ter ocorrido que uma Igreja
tenha selecionado a próxima vaga disponível para ela, e bateu de ser uma dedicada a
São João Evangelista! Se isso for verdade, então foi a igreja que “nos atribuir” esse
santo, em vez de haver uma razão religiosa para os Maçons selecioná-lo como seu Santo
Padroeiro.

O que então São João Batista e Santo André, ambas figuras da Maçonaria Moderna, não
são tão proeminentes na Maçonaria Escocesa? Quando a Grande Loja foi estabelecida
em Londres, já se sabia que “São João” era o “santo padroeiro”. Não havia dúvidas
sobre isso, mas haviam dúvidas sobre qual deles – o Evangelista ou o Batista? Quando
configuraram a nova organização, como a Grande Loja tinha que escolher entre um dia
no meio do inverno, quando os dias eram escuros, curtos, frios e muitas vezes
molhados, ou um dia no meio do verão, com dias mais quentes e mais tempo de horas
do sol, qual dia você escolheria? Nossos irmãos Ingleses podem automaticamente
assumir que ninguém seria louco o suficiente para escolher o dia 27 de dezembro, ou se
eles soubessem que a Escócia usou o dia da festa de São João Evangelista, eles
“fecharam os olhos” nesse fato inconveniente e escolheram São João Batista, cujo dia
da festa está no auge do verão – 24 de junho de cada ano.

Quando Lojas em Edimburgo decidiram que a Escócia deveria ter sua própria Grande
Loja, prestaram bastante atenção nos procedimentos usados para a formação da Grande
Loja em Londres, e também adotaram o dia da festa de São João Batista. Infelizmente,
aqueles que organizaram a Grande Loja da Escócia, não levaram em conta as tradições
dos Maçons Escoceses, incluindo o seu patrono – João o Evangelista. O principal efeito
disso é que a maioria das Lojas de Maçons na Escócia não tomaram partido da
formação da nova Grande Loja, pois acreditavam que seria errado ignorar séculos de
tradição e adotar um novo Santo Padroeiro que parecia ter sido escolhido “para eles”
pelos Maçons Ingleses.
A nova Grande Loja da Escócia tinha um grande pepino nas mãos. Se persistisse com o
dia de São João Batista como a data para seu encontro anual e instalação de novos
Veneráveis Mestre, iria ofender todos os Maçons Operativos, Lojas que ela estava
ansiosa para trazer sobe sua tutela. Da mesma forma, se optasse por São João
Evangelista, arriscava mudar todas as regras das Lojas Especulativas que estiveram tão
envolvidas na organização e apoiaram sua criação desde o início. Também seria
considerado um fato fundamental que estava completamente errado. De qualquer forma
sobre São João, eles iriam chatear um grupo ou outro. Em um típico movimento
pragmático escocês, um acordo foi alcançado – não se adotou nem São João Evangelista
ou João Batista! Ao invés disso, o Santo Patrono da Escócia – Santo André. É por isso
que, embora a Maçonaria Escocesa seja conhecida como a Maçonaria de São João, a
Grande Loja da Escócia não usa nenhum santo!  Em vez disso, o dia da festa de Santo
André, 30 de novembro, é a data da instalação do Grão Mestre da Grande Loja da
Escócia, que é seguido pelo Festival de Santo André.

Publicado originalmente na página oficial da Grande Loja da Escócia:

The Grand Lodge of Antient Free and Accepted Masons of Scotland (A Grande Loja
dos Maçons Antigos Livres e Aceitos da Escócia)

https://ritoserituais.com.br/2017/09/13/os-dois-santos-de-nome-joao/

Você também pode gostar