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3º MÓDULO - O ADVOGADO DIANTE DA EVOLUÇÃO DIGITAL

O Direito Digital ou Eletrônico tem passado por inúmeras transformações nos


últimos anos. Nos anos 2000, tínhamos a edição da lei 9.983 que alterava o Código
Penal e tipificava alguns crimes cometidos pela internet, como o "peculato
informático".

Em 2001 o Conselho Europeu formulou o primeiro tratado internacional sobre


o tema, a Convenção de Budapeste. Porém não falávamos de Startups, fintechs,
edutechs, lawtechs e de aplicativos mobile há 15 anos atrás. (O mercado de aplicativos
nasceu junto com o boom do IPhone em 2007). Advogado especializado em direito
eletrônico e digital tinha um campo mais limitado, atuando em questões de softwares,
contratos e termos de uso de websites e nos primeiros crimes cometidos por meio do
computador. Algumas questões envolvendo e-commerce e a embrionária relação de
consumo na internet.

Alguns anos depois a demanda aumentou, as formas e modalidades de crimes


digitais também. A sensação de anonimato veio por terra e a sociedade é mais
esclarecida em termos de crimes informáticos e digitais, sobre o que fazer e como agir.
Por outro lado, o número de crimes não diminuiu nada. Crimes virtuais afetam 42
milhões de brasileiros. O país é o quinto do mundo em fraudes digitais. 51% das
empresas do Brasil já sofreram sequestro de sistemas. Se voltássemos nos anos 2000,
certamente projetaríamos o cenário atual com mais regulamentações sobre o tema e
com maior contribuição dos provedores de acesso e serviços na apuração da autoria
de crimes informáticos.

Existe legislação e as pessoas são responsabilizadas por condutas no mundo


digital e na internet. Por outro lado, todas as disputas jurídicas sobre quebra de sigilo e
obtenção de dados de conexão, cadastrais e de acesso a aplicação de pessoas que
fazem mau uso da internet recaem quase sempre no Marco Civil da Internet, lei
12.965/14, pendente de regulamentação em vários pontos e mesmo na lei 12.737/17,
a Lei Carolina Dieckmann ou de crimes informáticos, que pune igualmente a Invasão de
dispositivo informático.

O Marco Civil foi regulamentado em 2016 pelo decreto 8.771/16, porém sabe-
se que não regulamenta todos os pontos da legislação.

Neste contexto, é quase consenso para os advogados especialistas em direito


digital que as leis atuais são em parte suficientes para tutelar vítimas dos mais variados
crimes competidos através do computador ou outro dispositivo informático. O maior

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problema é muitas vezes a falta da cooperação dos provedores de aplicação,
necessários a apuração da autoria.

Já sabemos que a sensação de que a internet é uma terra sem lei está
mudando. Muitos já responderam ou respondem por crimes informáticos, por ações
que achavam ser "brincadeira", ou "inconsequentes" Constatamos igualmente um
amadurecimento do Judiciário. Há 15 anos atrás alguns juízes nomeavam um perito
em informática para esclarecer a ele o que era um endereço IP. Hoje são raros estes
episódios e a jurisprudência avançou muito.

Por outro lado, como já citamos, aumentou a ênfase de provedores de serviços


e aplicações em lutarem até as últimas instâncias para não cumprirem ordens judiciais.
São times jurídicos inteiros, em sustentações orais, desde o caso mais simples ao mais
complexo, sem contar grupos destinados a defender direitos dos provedores junto ao
legislativo, constantemente.

E os ânimos neste ponto são bem acirrados. O país já coleciona decisões de


bloqueio de aplicativos, como o WhatsApp (uma audiência pública foi realizada no STF
para discutir o tema).

O Brasil é o país que mais notifica o Google para remoção de conteúdos,


liderando o ranking desde 2011. O volume de reclamações em delegacias não
especializadas cresce e por outro lado, não existe especialização e pessoas suficientes
para atender a todos os casos. Faltam profissionais na área.

Todos estes fatores somados ao crescimento de novos meios de comunicação e


a onda de negócios digitais influenciados pela mentalidade das Startups faz como que
este universo da advocacia no direito digital tenda a crescer cada vez mais. Cresceu a
demanda e procura por escritórios especializados em tecnologia e digital, por agências
de marketing digital por exemplo, buscando respaldo em suas ações variadas e de
"inbound marketing", bem como por startups, afiliados em negócios digitais e fábricas
de aplicativos. Continua em alta os crimes contra honra, a calúnia, a injúria e a
difamação. Igualmente, ameaças e extorsões são cada vez mais comuns, sobretudo
com a onda ransomware, ataques que criptografam os discos e exigem resgates,
muitas vezes em moeda digital. De destacar, o direito digital não envolve só crimes
cibernéticos, mas se relaciona com todas as demais áreas do direito, a medida em que
a sociedade é cada vez mais informacional.

Do mesmo modo, com a multiplicação de cursos e pós-graduações em direito


digital e da tecnologia da informação, a concorrência também ficou maior do que há
quinze ou dez anos atrás. Razão pela qual espera-se deste profissional mais do que
breves noções ou "paixão" em tecnologia, redes, protocolos, mas de fato que entenda

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como tudo funciona, sobretudo em quebras de sigilo, onde um erro de interpretação
ou cálculo de fuso-horários por exemplo, pode ser fatal. Deseja-se deste profissional
que conheça técnicas de coleta de provas eletrônica, mas principalmente, é preciso ter
em mente que advogar em direito digital exige um dinamismo fora do comum em
comparação com outras áreas do direito, o que demandará dos profissionais
atualização constante e muitas horas dedicadas ao estudo de novas tecnologias.

Na verdade, todos os advogados hoje devem entender de tecnologia, razão


pela qual é comum que muitos se enveredem para as causas do direito digital e não
somente usem a informática jurídicas para terem escritórios mais eficientes e
atrativos.

Para crescerem, empresas e pessoas precisam estar juridicamente preparadas


para o mundo digital. Continuarão a existir pessoas se expondo indevidamente, que
não leem termos de uso, lesadas por golpes banais e não tão banais e trocando a
privacidade por infoprodutos ou outras recompensas que posteriormente poderão se
transformar em grande dor de cabeça. Continuarão a existir pessoas, jovens e adultos,
acreditando na sensação de impunidade, e outras sofrendo pelo cyberbullying, que foi
potencializado com a tecnologia e internet.

Novas tendências e tecnologias com BYOD, IOT, chatbots, Inteligência Artificial,


Blockchain, Criptomoedas, dentre outras, demandarão mais ainda o profissional do
Direito Digital. Este deve ser capaz de "pensar fora da caixa" e de dar soluções ágeis
para manutenção da segurança jurídica das operações, no dinamismo que elas
acontecem.

O Advogado especialista em direito digital nunca foi tão essencial. Não só para
defender vítimas de crimes digitais, apurar autoria de crimes e buscar justiça diante de
fotos danosos cometidos no ciberespaço, mas tem grande propósito: por meio de sua
atuação, sempre diligente e atenta aos rumos das tecnologias e suas consequências,
conscientizar e educar a sociedade para riscos do mundo digital, contribuindo para
uma sociedade mais evoluída e segura. Acredito que com isso respondo à pergunta do
título deste artigo.

Fonte:http://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI262792,11049-
Vale+a+pena+ser+um+advogado+especializado+em+Direito+Digital+O+que

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5 CAMPOS DE ATUAÇÃO NA ÁREA DE DIREITO DIGITAL

O Direito Digital é uma das áreas de maior ascensão na advocacia atual. Este
ramo era classificado, há pouco tempo, entre as áreas de “novos direitos”, quando se
falava em uma “advocacia do futuro”. A popularização da Internet e seu caráter
simplificado e colaborativo, especialmente em razão da facilidade de uso das redes
sociais e aplicativos de comunicação, tornaram as questões jurídicas tecnológicas uma
parte integrante do cotidiano.

Com o aumento da demanda por serviços jurídicos na área — e até mesmo com
a “concorrência” dos novos robôs-advogados — os advogados podem se perguntar:
quais atividades um advogado pode realizar no Direito Digital? Pensando nisso,
elaboramos uma lista de cinco campos de atuação para advogados “digitalistas”.

CIVIL LITIGIOSO

Esta é uma das atuações mais amplas no Direito Digital, pois lida com uma
gama enorme de questões civis transportadas para a “vida digital”. Na verdade, a
classificação como área “civil”, aqui, é mais para contrastar com a área penal. Por isso,
não se restringe às causas cíveis, mas também trabalhistas e previdenciárias.

Nessas áreas, o advogado deve ficar atento a conceitos novos ou mesmo já


existentes, mas que possuem nova roupagem. Privacidade, intimidade e honra estão
entre os conceitos potencializados pelo contexto eletrônico. Já a reputação, por
exemplo, possui ainda pouca discussão jurídica, mas é essencial na presença das
pessoas on-line.

O campo mais movimentado nessas áreas relaciona-se com o dano moral e,


também, com a justa causa trabalhista. Ou seja, o advogado, aqui, precisa dominar
mais os aspectos do comportamento humano, para elaborar seus argumentos em
torno de conceitos abstratos que a legislação prevê.

CRIMINAL

Há discussões homéricas nos meios jurídicos, a respeito do que chamamos de


“crimes cibernéticos”. Advogados que pendam para uma atuação na área penal, terão
grande interesse no tema, e deverão elaborar suas defesas com base em
conhecimento mais técnico.

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Embora haja uma quantidade grande de peritos na área de Tecnologia da Informação
(T.I.), muitas vezes se torna difícil e caro que o advogado obtenha laudos e consultorias
especializadas. Por isso, quando mais “curioso” for o advogado em torno de assuntos
tecnológicos, melhor poderá organizar seus argumentos e convencer os juízes.

Não confundir essa área com a parte acadêmica em Direito Penal Digital.
Muitos advogados entram em estudos acadêmicos nessa área, o que é muito
importante, mas vai em direção contrária aos esforços de defesa processual, acabando
por abordar políticas criminais.

CONTRATOS

É uma área empolgante, porque envolve principalmente jovens


empreendedores que tiveram uma ideia e, agora, precisar se proteger juridicamente
no mercado. Você certamente já ouviu falar de startups, aquelas empresas iniciantes,
de baixo orçamento, mas com ideias geniais que podem explodir e gerar grandes
lucros em pouco tempo, rompendo com padrões e criando novos produtos e serviços
que todo mundo vai querer comprar e contratar.

O advogado que atua nessa área deverá ter noção de negócios e um bom
preparo em terminologia relacionada ao tema. Saber o que significa “investidor-anjo”,
“bootstrapping” e “due diligence” é só o começo.

Os contratos de transferência de tecnologia também entram nessa área.

CONSULTORIA

A consultoria em Direito Digital envolve um pouco de tudo, devendo o


advogado ter conhecimento global sobre todos os aspectos possivelmente envolvidos
na atividade do cliente.

Diferente da atuação judicial e da técnica contratual, a consultoria é mais


preventiva, preparando o cliente para aquilo que vier. O consultor em Direito Digital
poderá, também, atuar na preparação de outros advogados e departamentos jurídicos,
ajudando-os a se atualizarem e terem melhor preparo para atender seus respectivos
clientes.

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O perfil do advogado consultor, nessa área, é de alguém que sempre pensa à
frente. Dominar o inglês é essencial, para que tenha acesso a livros e textos mais
avançados e possa trazer aos clientes novas ideias e estratégias.

COMPLIANCE

A expressão inglesa “to comply with”, em tradução livre, significaria “estar em


conformidade com”. Com as leis anticorrupção, hoje cada vez mais famosas em todo o
mundo, potencializou-se a figura do chamado “compliance officer”, que é a pessoa que
comandará um processo intenso e contínuo de análise da adequação das empresas à
legislação geral e específica ao setor.

Para o Direito Digital, o compliance também é importante, principalmente com


as discussões e publicações legais sobre a área, a exemplo, no Brasil, do Marco Civil da
Internet.

O advogado que queira atuar nessa área deve ter um preparo adicional em
administração de empresas e linguagem corporativa. Consideramos esta como sendo
uma das áreas mais difíceis para atuação do advogado, pois há ainda pouco material,
escassos cursos de qualidade e uma concorrência forte, principalmente porque há
executivos de empresas que, sem serem advogados, já atuam no ramo e têm
conhecimento prático e poder de negociação amplos.

Se há algum tempo o Direito Digital era considerado, por alguns, como uma
área nada diferente do Direito Civil em geral, com essas possibilidades de atuação
vemos que a história é bem diferente! É claro que a atuação em uma dessas
subdivisões não exclui as demais, e exigem variadas habilidades (como boas técnicas
de escrita jurídica), mas é interessante olhar cada uma com atenção e ver que todas
são amplas o suficiente para exigir do advogado muito esforço e dedicação.

DIREITO DIGITAL

O Direito Digital é uma área que está com tudo hoje em dia. Não é por menos,
já que praticamente tudo está conectado: nosso trabalho, nossos relacionamentos,
nossos passatempos. Aliás, você só está lendo este artigo por estar conectado à
internet, por exemplo.

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E essa conectividade em tudo o que vivemos não nasceu do dia pra noite. Foi
com o passar dos anos que a internet foi se desenvolvendo até se transformar no que
é hoje.

Mas assim como ela trouxe grandes vantagens para a sociedade, trouxe
também novas demandas e conflitos ao Judiciário. Muito disso aconteceu porque
quando surgiu o universo virtual não havia regras específicas, e as leis tiveram de
acompanhar as mudanças.

E assim como já existiam crimes na vida real, começaram a surgir os crimes


virtuais – ou cibercrimes -, que vão desde criação de vírus até velhos delitos trazidos
para a web, como estelionato, plágio, exploração sexual e outros.

Para combater estes crimes e para proteger o cidadão, surgiu então o Direito
Digital. Além do mais, recentemente foi sancionada a lei do Marco Civil da Internet no
Brasil, que movimentou ainda mais mercado no país.

O Marco Civil da Internet (Lei Nº 12.965/14) regula o uso da Internet no Brasil


por meio da previsão de garantias, princípios e direitos e deveres para quem usa a
rede.

Entre os princípios estão:

Garantia da liberdade de expressão;

Proteção da privacidade e dos dados pessoais;

Neutralidade da rede;

Liberdade dos modelos de negócio.

Para o advogado que quer trabalhar com Direito Digital, o Marco Civil da
Internet é uma cartilha obrigatória.

LEI GERAL DE PROTEÇÃO DE DADOS PESSOAIS

Apesar da criação do Marco Civil da Internet, ainda há muito chão pela frente.
Um dos caminhos que o Brasil está percorrendo é a da criação de uma Lei Geral de
Proteção de Dados Pessoais.

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Além do Marco Civil, temos também a Política de Dados Abertos do Governo
Federal e o Programa Brasil Inteligente, mas essa legislação vigente ainda não trata da
segurança jurídica adequada às empresas e usuários/consumidores.

Isso acontece muito com o tratamento de dados relacionados às novas


tecnologias, Ou seja: há muito o que ser discutido e desenvolvido no Direito Digital, o
que reforça que ela é uma área mais atual do que nunca, em constante transformação.

COMO O DIREITO DIGITAL SE APLICA EM ALGUMAS SITUAÇÕES

Trazendo agora para um lado mais prático, há algumas situações comuns em


que o Direito Digital se aplica.

Se você quer trabalhar na área, alguns pontos que precisa dominar são:

Proteção de informação de empresas;

Vazamento de imagens e vídeos pessoais;

Direito ao esquecimento;

Propriedade intelectual.

O Direito Digital é realmente sedutor. E uma das coisas mais legais que o fazem
ser assim é o fato de ser muito novo e de exigir constante atualização e estudo –
hábitos fundamentais para todo advogado de sucesso.

Fonte: https://www.rodrigopadilha.com.br/advocacia/direito-digital

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