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Manual de Orientação
Departamento Científico de Neurologia
(2019-2021)
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Sinais de alerta na avaliação neurológica da criança e do adolescente
Durante a avaliação pediátrica preliminar, Quadro 1. Sinais de alerta para todas as idades
dois recursos são fundamentais: os marcos do
desenvolvimento e os sinais de alerta. Cabe aqui Forte preocupação dos pais
a distinção entre estes dois conceitos que não
Perda de habilidades adquiridas previamente
são sinônimos. Os marcos representam as prin-
cipais habilidades e funções que caracterizam a Ausência de resposta a estímulos sonoros ou
progressão do desenvolvimento e, como regra, visuais
as crianças as adquirem dentro de faixas etárias
Interação precária com pessoas do convívio
esperadas, previstas em diferentes instrumentos
diário (p. ex., pais, irmãos, professora)
de triagem. Por exemplo, o Teste de Triagem do
Desenvolvimento de Denver (TTDD) II prevê que Contato visual nulo ou escasso
a deambulação independente ocorrerá até 15
Alteração persistente do humor, p. ex.,
meses de idade.
irritabilidade, rispidez, apatia, retraimento
Os sinais de alerta, por outro lado, levantam
Diferença acentuada entre os lados do corpo
a suspeita de anormalidade em uma área ou eta-
quanto à força, tônus ou movimentos
pa específica do desenvolvimento, logo surgem
numa idade subsequente àquela da aquisição Hipotonia ou hipertonia significativa com
do marco de desenvolvimento relacionado. Por prejuízo na aquisição de habilidades motoras
exemplo, a ausência de deambulação indepen-
dente se torna um sinal de alerta por volta de
dois anos de idade. De modo semelhante, o mar- Os distúrbios do desenvolvimento são par-
co de sorriso social surge até dois meses de ida- ticularmente frequentes: 1% a 3% das crianças
de, mas o sinal de alerta da sua ausência se torna têm atraso global do desenvolvimento e 1% é
relevante entre 4 e 6 meses. diagnosticado com transtorno do espectro au-
tista. Além disso, problemas relacionados com o
As habilidades são adquiridas sequencial-
desenvolvimento e comportamento acometem
mente, então a criança aprende a sentar sem
20% a 25% das crianças pequenas e, se não de-
apoio antes de permanecer em pé ou deambular,
tectados e tratados, poderão evoluir para trans-
mas o ritmo de aquisição varia de uma criança
tornos graves2. O conceito de sinais de alerta
para outra. Ademais, a habilidade de engatinhar
nos ajuda a promover a detecção diligente de
é adquirida em idades amplamente variáveis, e
tais distúrbios, dentre outros, levando a inter-
algumas crianças com desenvolvimento normal
venções precoces e maximização das chances
jamais engatinham1.
de recuperação. Assim, o pediatra deve tê-los
Os sinais de alerta geralmente se tornam em mente enquanto obtém uma anamnese com-
clinicamente relevantes em idades específicas, pleta e realiza exame físico minucioso.
mas existem também aqueles cuja relevância
não depende da idade, isto é, sua presença sem-
pre deve servir de argumento para investigar o
Sinais de alerta detectáveis
paciente (Quadro 1). na anamnese
A presença de sinais de alerta deve ser in-
terpretada à luz dos achados do exame físico e A anamnese pediátrica deve incluir história
do contexto clínico geral do paciente. Portanto, detalhada do desenvolvimento, citando a idade
a definição de um diagnóstico baseia-se não nos de aquisição dos principais marcos do desenvol-
sinais de alerta encontrados, mas na investiga- vimento. Pode ser oportuno classificar as habili-
ção suscitada por estes. dades adquiridas pela criança em áreas ou esfe-
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Prosódia atípica (voz monótona, entonação O PC normal é definido como uma medida
incomum, ritmo irregular, timbre atípico) situada entre dois desvios-padrão (DP) acima
e dois DP abaixo da média para a idade e sexo
Não coordena o olhar, a expressão facial, os ou entre os percentis 2,5 e 97,5. O crescimento
gestos e os sons acima das linhas normais indica um aumento ex-
cessivo do conteúdo intracraniano que pode ser
Comportamento visual atípico
causado por hidrocefalia, hematoma subdural,
Não atende quando chamado coleção subdural, aumento do parênquima ce-
rebral de origem metabólica, genética ou ainda
Ausência de expressões afetuosas e alegres
macrocefalia familiar. O crescimento abaixo das
Não demonstra interesse ou diversão linhas normais sugere comprometimento do te-
cido cerebral que pode ser secundário a várias
Não mostra objetos para outra pessoa causas, entre elas, a hipóxia, malformações con-
gênitas, infecções congênitas ou adquiridas.
Repetição de movimentos com objetos
A medida do perímetro craniano deve ser re-
Estereotipias ou posturas incomuns do corpo
alizada com fita métrica não extensível ao redor
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Sinais de alerta na avaliação neurológica da criança e do adolescente
e) quando ocorre hipertensão intracraniana po- mato. O crescimento craniano se dá pelo aumen-
de-se pensar em causas idiopáticas pseudo- to de volume encefálico, que, devido à abertura
tumor cerebral ou por aumento do conteúdo das suturas (Figura 1), possibilita o crescimento
intracraniano como em caso de edema cere- do crânio como um todo, tal qual a pressão do ar
bral, hidrocefalia, hemorragias ou neoplasias, enchendo um balão de festa. O fechamento pre-
infecções, anormalidades metabólicas como maturo destas suturas (craniossinostose) pode
intoxicação por chumbo, deficiência de vita- determinar cranioestenose e a alterações impor-
mina A e galactosemia. Neoplasias intracra- tantes do formato craniano. Craniossinostoses
nianas incluem lesões císticas, tumores e abs- podem estar associadas a outras malformações
cessos. Nestes casos devem ser considerados congênitas e síndromes genéticas, entretanto
a clínica de hipertensão intracraniana já des- sua maior causa segue sendo idiopática14.
crita anteriormente e os déficits neurológi-
O fechamento precoce de cada uma das sutu-
cos. Por exemplo, déficits motores associados
ras causa formato específico (Figura 2):
a dificuldades de linguagem e epilepsia nas
lesões supratentoriais; comprometimento de • Sagital: é a forma mais frequente, leva ao au-
pares cranianos, déficits motores, ataxia nas mento do diâmetro ântero-posterior e à dimi-
lesões de fossa posterior. nuição do diâmetro biparietal do crânio, que
assume a forma de um barco (escafocefalia).
• Coronal: Provoca uma assimetria frontal. Exis-
3. Alterações no formato do crânio
te uma proeminência fronto-temporal do lado
Além da avaliação do tamanho, a avaliação do contralateral à sutura afetada, causando tam-
crescimento craniano inclui a análise do seu for- bém uma assimetria facial.
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Sinais de alerta na avaliação neurológica da criança e do adolescente
• Sinal de Kernig: Resposta em flexão da articu- nóstico de meningite infecciosa e realize a no-
lação do joelho, quando a coxa é colocada em tificação às autoridades competentes. A menin-
certo grau de flexão, relativamente ao tronco. gite é uma doença de notificação compulsória
Há duas formas de se pesquisar esse sinal: individual, ou seja, são notificados caso por
a) paciente em decúbito dorsal - eleva-se o caso, principalmente pela equipe de saúde do
tronco, fletindo-o sobre a bacia; há flexão da primeiro atendimento. Assim, todos os casos
perna sobre a coxa e desta sobre a bacia, b) pa- suspeitos ou confirmados de meningite devem
ciente em decúbito dorsal - eleva-se o membro ser notificados às autoridades competentes,
inferior em extensão, fletindo-o sobre a bacia; sendo esta registrada no Sistema de Informa-
após pequena angulação, há flexão da perna ção de Agravos de Notificação (Sinan), por meio
sobre a coxa. Essa variante chama-se, também, do preenchimento da Ficha de Investigação de
manobra de Laségue. Meningite
• Sinal de Brudzinski: É a flexão involuntária da
perna sobre a coxa e desta sobre a bacia, ao se
tentar fletir a cabeça do paciente. A criança hipotônica
Crianças no primeiro ano de vida poderão
não apresentar os sinais clássicos de irritação
O tônus muscular é definido como o estado
de tensão permanente da musculatura esquelé-
meníngea. Nesta faixa etária, outros sinais e
tica, podendo ser avaliado através da resistência
sintomas permitem a suspeita diagnóstica, tais
obtida pelo examinador durante a movimenta-
como: febre, irritabilidade ou agitação, choro
ção passiva dos membros ao nível de suas arti-
persistente, grito meníngeo (a criança grita ao
culações20.
ser manipulada, principalmente, quando se flete
as pernas para trocar a fralda), há recusa alimen- No Quadro 3 estão resumidas as variações
tar, acompanhada ou não de vômitos, convulsões fisiológicas que ocorrem no tônus muscular, re-
e abaulamento da fontanela. lacionadas à prematuridade e/ou idade depen-
dente durante o primeiro ano de vida21.
Os principais sintomas associados que po-
dem acompanhar os sinais de irritação meningo- As alterações no tônus muscular constituem
-radicular são: cefaleia, fotofobia, hiperacusia, uma das manifestações clínicas mais comuns
febre, calafrios, náuseas, vômitos, irritabilidade, observadas em lactentes com atraso no desen-
confusão mental, delírio, coma, convulsão e pe- volvimento neurológico. Clinicamente, um lac-
téquias. tente hipotônico pode apresentar redução da
movimentação espontânea. Os membros infe-
Em vigência de sinais de irritação meningo-
riores também tendem a realizar uma abdução
-radicular, o diagnóstico mais comum é o de
completa, fazendo com que as faces laterais das
meningite de caráter infeccioso, entretanto,
pernas e coxas encostem-se à mesa de exame.
algumas condições podem simular esse diag-
Esta redução da movimentação pode determi-
nóstico e devem ser consideradas, tais como:
nar alterações no formato do crânio, como um
abscesso retrofaríngeo, mastoidite, adenopa-
achatamento da região occipital (braquicefalia).
tias cervicais, parkinsonismo medicamentoso,
Quando estas crianças são colocadas em posi-
miosite, trauma e processos expansivos da fos-
ção supina, a porção cefálica não se sustenta, os
sa posterior.
ombros caem para a frente e os membros pen-
Ao se deparar com um paciente com sinais dem passivamente. No Quadro 4 estão algumas
de irritação meningo-radicular, é necessário manobras semiológicas para detecção de hipo-
que o pediatra considere prontamente o diag- tonia22.
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Resposta à tração: é a medida mais sensível do tônus postural, podendo ser utilizada na avaliação
de RN prematuros em unidades de terapia intensiva neonatal. A manobra consiste em se segurar
as mãos e puxar o lactente em direção a uma posição supina. O RN a termo levanta a cabeça
imediatamente junto ao corpo e quando se chega à posição sentada, a cabeça mantém-se
ereta, alinhada ao eixo do corpo por alguns segundos. Durante o teste da tração, é possível ao
examinador sentir certa resistência por parte do lactente, bem como observar a flexão dos ombros,
joelhos e tornozelos.
A resposta à tração não está presente em RN prematuros com menos de 33 semanas de gestação.
Suspensão vertical: a fim de executar a manobra de suspensão vertical, o examinador coloca ambas
as mãos sob as axilas do lactente e, sem envolver o tórax, levanta-o em linha reta. Os músculos dos
ombros devem ter força o suficiente para exercer pressão contra as mãos do examinador e permitir
que o lactente se suspenda verticalmente sem deslizar. Enquanto suspenso, a cabeça fica ereta em
linha média com flexão dos joelhos, quadril e tornozelos.
Ao se suspender um lactente hipotônico, a cabeça cai para frente, os membros inferiores pendem
e o lactente parece deslizar por entre as mãos do examinador devido à fraqueza da musculatura
escapular.
Suspensão horizontal: quando suspenso horizontalmente, o lactente normal mantém a cabeça e a
coluna eretas e flexiona os cotovelos, quadril, joelhos e tornozelos. O RN a termo, saudável, realiza
esforço intermitente para manter a cabeça ereta, a coluna reta e os membros fletidos contra a
gravidade, enquanto que lactentes hipotônicos tendem a se “dobrar” sobre as mãos do examinador
com a porção cefálica e os membros pendendo de maneira flácida.
Sinal do “cachecol”: caracterizado como ausência de resistência à movimentação passiva do braço
sob o tórax em direção ao ombro oposto (o cotovelo passa facilmente a linha média, sem formação
de ângulos articulares).
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Sinais de alerta na avaliação neurológica da criança e do adolescente
Hipotonia Central
Presença de fatores de risco para encefalopatias hipóxico-isquêmicas;
Rebaixamento do nível de consciência;
Crises epilépticas;
Hipotonia de predomínio axial;
Força preservada;
Punhos cerrados;
Reflexos osteotendíneos normais ou exaltados;
Resposta adutora cruzada no teste de suspensão vertical;
Alterações dismórficas;
Presença de outras malformações em outros órgãos ou no próprio sistema nervoso central;
Atraso cognitivo associado.
continua...
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... continuação
Hipotonia periférica
História familiar de doença neuromuscular;
Hipotonia generalizada;
Movimentos antigravitacionais reduzidos ou ausentes;
Reflexos osteotendíneos reduzidos ou abolidos;
Atrofia muscular;
Fasciculações musculares;
Ptose palpebral associada a movimentos oculares restritos;
Hipomimia facial;
Palato em ogiva;
Respiração diafragmática;
Presença de retrações ou deformidades articulares;
Luxação do quadril;
Desenvolvimento cognitivo relativamente preservado.
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Sinais de alerta na avaliação neurológica da criança e do adolescente
pode ser útil na avaliação inicial desses quadros. Hipotonia Central Sindrômica
Para melhor elucidação diagnóstica, pode-se
A identificação de três ou mais características
dispor de exames mais detalhados, como tomo-
dismórficas está fortemente relacionada a mal-
grafia computadorizada ou ressonância magnéti-
formações, sugerindo uma hipotonia de causa
ca de crânio.
sindrômica. A Tabela 1 resume as características
principais das síndromes genéticas associadas à
hipotonia.
Tabela 1. Características das síndromes associadas a hipotonia
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Hipotonia Periférica
mais grave do tônus e associada a um quadro
A hipotonia periférica representa o grupo de
mais grave de fraqueza muscular20.
doenças relacionadas ao comprometimento das
unidades que compõem a unidade motora, cor- A Tabela 2 enfatiza os aspectos clínicos de
respondendo a menor porcentagem dos casos. algumas doenças de maior relevância etiológi-
Em geral está relacionada a comprometimento ca para a síndrome do lactente hipotônico.
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Sinais de alerta na avaliação neurológica da criança e do adolescente
Padrão Idade de
Doença Quadro clínico Diagnóstico Tratamento
genético início
Distrofia Recessivo 2 a 6 anos de Atraso no desenvolvimento Níveis de CPK 50 Tratamento suportivo
Muscular de ligado ao X idade neuromotor; a 100x acima do Acompanhamento
Duchenne (Xp21); 30% Fraqueza progressiva, fadiga normal (níveis caem interdisciplinar
a 50% não ao deambular, correr ou subir com o aumento da
têm história gravidade da doença); Corticoterapia:
escadas;
familiar e Diagnóstico Prednisona/prednisolona
apresentam Marcha “anserina”; (0,75mg/kg/d), por via
efetuado por teste
mutações Levantar miopático de Gowers; molecular: PCR oral, uso contínuo ou;
espontâneas Comprometimento maior da (detecta mutações Prednisona/prednisolona,
musculatura proximal; mais comuns por VO intermitente
Pseudohipertrofia de duplicação/deleção); (0,75mg/kg/d a cada
panturrilhas; MLPA (detecta 10 dias);
Na 2ª década: escoliose maior número Deflazacort 0,9 mg/kg/d VO
progressiva, miocardiopatia e de mutações por uso contínuo;
fraqueza respiratória deleção/duplicação Para 15% dos pacientes
abrangendo quase com DMD que
todos os éxons); apresentam mutações
Sequenciamento nonsense encontra-se
total do gene. em comercialização do
Eletroneuromiografia medicamento Ataluren
(ENMG) com padrão (preparado administrado
miopático. por via oral que permite a
leitura do código genético
por um stop códon
prematuro do mRNA.
Distrofia Recessivo Variável: da Similar ao anterior porém com Similar ao anterior. Tratamento suportivo.
Muscular ligado ao X infância à idade apresentação clínica mais Quadro clínico
de Becker (Xp21) adulta branda extremamente variável
(início tardio) com os pacientes
mantendo a deambulação
por 15 a 20 anos após
início dos sintomas.
Expectativa de vida
normal.
Distrofia Autossômico Variável: da Envolvimento lento, CPK frequentemente Tratamento
Muscular de dominante, infância à idade progressivo e simétrico acima de 5.000 UI/L; interdisciplinar, suportivo.
Cinturas recessivo ou adulta da musculatura proximal ENMG com padrão
ligado ao X (caracteristicamente da cintura miopático;
escapular e pélvica).
Ressonância
magnética
de membros
podem revelar
o envolvimento
muscular seletivo
Distrofia Herança Final da 1ª à 5ª Fraqueza facial bilateral; CPK leve a Tratamento suportivo
Fáscio- autossômica década de vida fraqueza da musculatura moderadamente
Escápulo- dominante escapular e da musculatura elevada
Umeral (gene D4Z4 dorsiflexora dos tornozelos; (< 1.500 UI/L)
(Landouzy- cromossomo Critérios suportivos: assimetria Biópsia muscular:
Dejénerine) 4q35); em dos déficits motores; deltoides Variação no tamanho
10% a 30% e antebraço são poupados; das fibras musculares,
dos casos são aumento do tecido
esporádicos 89% apresentam deficiência
intelectual, 75% surdez conectivo endomisial,
neurossensorial e 60% alterações
doença de Coats (vasculopatia inflamatórias.
retiniana). Confirmação pela
Critérios de exclusão: ptose avaliação genética
palpebral; fraqueza da molecular.
musculatura ocular extrínseca;
rash cutâneo; miotomia.
continua...
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Padrão Idade de
Doença Quadro clínico Diagnóstico Tratamento
genético início
Miopatia Herança Variável Fraqueza e hipotonia associada Biópsia muscular: Tratamento suportivo
Nemalínica autossômica Em sua forma a reflexos tendinosos presença de inclusões
dominante mais comum profundos deprimidos ou filamentares
(mutações no (forma ausentes; agregadas que
gene NEB em congênita Fraqueza muscular mais lembram bastões.
50% dos casos típica) ocorre pronunciada na região cervical
e no gene hipotonia (musculatura flexora), facial e
ACTA1 em 15 moderada região proximal dos membros;
a 25% dos chamando a
casos) Formas congênitas graves
atenção apenas associadas a artrogripose
pelo atraso e insuficiência respiratória
na aquisição neonatal com óbito antes do
dos marcos do primeiro ano de vida
desenvolvi-
mento.
Miopatia Recessiva Período Ptose palpebral CPK normal Tratamento suportivo
Miotubular ligada ao X neonatal Oftalmoplegia e ENMG com
(Xq27) padrão miopático
Fraqueza grave e simétrica. inespecífico
Dificuldades de sucção,
deglutição e insuficiência Diagnóstico por
respiratória desde o biópsia muscular
nascimento;
Miopatia do Maioria Infância à idade Hipotonia moderada notada CPK normal; Tratamento suportivo;
Core Central autossômica adulta logo após o nascimento; ENMG com padrão Dantrolene utilizado
dominantes; Luxação congênita do quadril é miopático; para abortar quadros de
alguns casos um achado frequente; Fraqueza hipertermia maligna.
esporádicos lentamente progressiva Biópsia muscular
autossômicos costuma se iniciar aos 5 característica: áreas
recessivos. anos de vida (fraqueza maior bem demarcadas
nos segmentos proximais de agregados
Etiologia: miofibrilares,
mutações no dos membros afetando
predominantemente os exibindo graus
gene RYR1 variáveis de
localizado no membros superiores); Reflexos
tendinosos ausentes; degeneração nas
cromossomo porções centrais das
19q13. Motilidade ocular extrínseca, fibras musculares
expressão facial e deglutição tipo 1;
são normais;
Análise de
Risco de hipertermia maligna sequenciamento
não devendo se ter extrema genético identifica
cautela ao se administrar cerca de 50% dos
anestésicos. pacientes.
Doença de Herança Forma infantil Forma infantil: Início antes dos Eletrocardiograma: Tratamento por
Pompe autossômica ou tardia 12 meses de idade (média de 4 intervalo PR curto, equipe interdisciplinar
recessiva. meses); hipotonia generalizada complexo QRS de alta especializada;
Gene e profunda; fraqueza muscular; amplitude. Terapia com reposição
localizado no dificuldades alimentares; Dosagem da enzimática com
cromossomo retardo no crescimento; atividade da enzima alglicosidase ácida assim
17q25.2-25.3 dificuldades respiratórias e; α-glicosidase ácida que o diagnóstico for
cardiomiopatia hipertrófica em fibroblastos. estabelecido.
Forma tardia: ampla Biópsia muscular:
variabilidade clínica. Início fibras musculares
antes do primeiro ano de com grandes
vida sem cardiomiopatia vacúolos repletos de
associada ou início em idade glicogênio.
variável caracterizada por
fraqueza muscular proximal e Testagem molecular
insuficiência respiratória sem
envolvimento cardíco.
continua...
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... continuação
Padrão Idade de
Doença Quadro clínico Diagnóstico Tratamento
genético início
Amiotrofia Herança Tipo 0: pré- Tipo 0 ou 1A: Forma mais Em alguns locais é Tratamento suportivo por
Espinhal autossômica natal (sobrevida grave e precoce, podendo se possível a triagem equipe interdisciplinar
recessiva. Em inferior a 6 apresentar com diminuição dos neonatal pela especializada é
95% dos casos meses) movimentos fetais. Fraqueza pesquisa genética fundamental;
ocorre uma Tipo 1: antes muscular global ao nascimento; por reação de cadeia Tratamentos direcionados
mutação em dos 6 meses de não há ganho dos marcos do de polimerase à fisiopatologia da doença
homozigose do idade desenvolvimento; artrogripose; (PCR) permitindo incluem:
gene SMN no insuficiência respiratória ao o diagnóstico pré-
cromossomo 5 Tipo 2: 6 a 18 nascimento é comum. sintomático; - Nusinersena
e; em 2% dos meses de idade - Onasemnogene-
Tipo 1: Fraqueza muscular Em indivíduos
casos ocorre Tipo 3: acima progressiva com início sintomáticos, abeparvovec-xioi (terapia
mutação de dos 18 meses antes dos 6 meses de idade; suspeita-se de AME com reposição enzimática).
novo até a idade hipotonia marcada pelo pobre pelo quadro clínico Esses tratamentos podem
adulta. controle cefálico, além de não (perda de ganhos interromper a evolução
ser possível o sustento vertical desenvolvimentais, da doença devendo ser
pelas axilas ao exame físico; fraqueza muscular instituídos antes do
crianças acometidas não são proximal maior que surgimento dos sintomas.
capazes de se sentar; o tórax a distal, hipotonia,
assume uma conformação de hiporreflexia,
sino; fasciculações em língua; fasciculações de
insuficiência respiratória aos língua) e se confirma
2 anos de idade. o diagnóstico por
Tipo 2: Pacientes acometidos exame genético
capazes de sentar, porém específico.
nunca de andar; início do
quadro entre 7 e 18 meses de
idade; escoliose progressiva
grave; fraqueza intercostal;
doença pulmonar restritiva;
contraturas articulares;
distúrbios gastrointestinais
(discinesia esofágica, distúrbios
de mastigação e deglutição);
distúrbios miccionais.
Tipo 3: Tipicamente os
pacientes atingem todos os
marcos do desenvolvimento;
musculatura respiratória é
pouco afetada e a escoliose
acontece em menor grau;
poliminimioclonia (mioclonias
posturais irregulares mais
acentuados durante os
movimentos voluntários)
Modificado das referências 22,33-35
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Para auxiliar na investigação do paciente com hipotonia sugerimos seguir o algorítmico proposto
por Moraes & Gurgel-Gianetti20.
Neuroimagem CK
Músculo → Biópsia
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Sinais de alerta na avaliação neurológica da criança e do adolescente
isquêmicos são mais frequentes do que os he- 1,3/100.000 crianças e adolescentes menores
morrágicos. Os fatores de risco mais comuns de 18 anos e raramente ocorre em menores de
são cardiopatias congênitas, sepse, meningi- 2 anos de idade. A apresentação clássica da SGB
te/encefalite e doença falciforme36,37. Dentre é a fraqueza simétrica e parestesia de membros
as manifestações clínicas focais observam-se inferiores, iniciada geralmente em pododáctilos,
hemiparesia (67% a 90%), alterações na fala com evolução ascendente, podendo acometer
(20% a 50%), alterações visuais (10% a 15%) membros superiores e, em casos graves, múscu-
e ataxia (10%). Crises convulsivas representam los da respiração. Os sintomas mais predominan-
o sinal neurológico mais frequente na popula- tes em crianças são dor e dificuldade de marcha.
ção neonatal; também estão presentes em cerca Dois terços dos pacientes desenvolvem os sin-
de 15% a 25% dos AVCs isquêmicos, principal- tomas de 2 a 4 semanas após um quadro, geral-
mente em crianças menores de 6 anos de idade. mente benigno, de infecção respiratória ou gas-
O reconhecimento da causa será fundamental trointestinal. A plasmaferese e a imunoglobulina
para decidir sobre possibilidade de tratamento endovenosa são opções de tratamento. Cerca de
antiplaquetário ou anticoagulante, correção de 90% a 95% das crianças recuperam-se comple-
cardiopatia e /ou doença falciforme, entre ou- tamente entre 6 e 12 meses 41,42.
tras38,39.
Mielite Transversa
Tumores
Trata-se de síndrome neurológica aguda, cau-
Os tumores do sistema nervoso central (SNC) sada por lesão desmielinizante na medula espi-
podem causar diferentes sintomas, já que de- nhal, com início abrupto de sintomas motores,
pendem da idade da criança, do local de inva- autonômicos e sensitivos (geralmente seguindo
são, da possibilidade de compressão de estrutu- um ou mais dermátomos). Pode estar associada
ras adjacentes pelo efeito de massa, ou mesmo com quadro de esclerose múltipla e neuromielite
por obstrução do fluxo do líquido cefalorraqui- óptica, porém a forma mais comum manifesta-se
diano, resultando em hidrocefalia. Cefaleia é a após quadro viral. Os sintomas motores incluem
apresentação clínica mais comum. Porém, alte- paraparesia progressiva, que pode evoluir para
rações na marcha, náuseas e vômitos são vistos membros superiores. Já os sintomas sensitivos
em tumores de fossa posterior; da mesma for- incluem dor, disestesia e parestesia. Dentre os
ma, alterações na coordenação, marcha e pa- sintomas autonômicos, urgência miccional, in-
ralisia de nervos cranianos são sinais de alerta continência urinária e constipação são frequen-
para tumores de tronco cerebral. Ataxia e crises tes. Na presença destes sintomas, é fundamen-
convulsivas também podem estar presentes, po- tal realizar ressonância magnética de encéfalo e
rém alterações agudas/subagudas de comporta- neuroeixo. O tratamento de escolha geralmente
mento (apesar de menos frequentes) devem ser é a corticoterapia43-44.
consideradas. O sinal do “sol poente” (desvio
dos olhos para baixo) é um importante sinal de Encefalomielite Disseminada Aguda (ADEM)
alerta para quadro de hidrocefalia obstrutiva40.
ADEM é uma doença desmielinizante do sis-
tema nervoso central, geralmente precedida por
Síndrome de Guillain-Barré (SGB)
infecção ou vacinação, podendo causar diferen-
Quadro de natureza autoimune, que cau- tes sintomas neurológicos. Ocorre secundaria-
sa desmielinização aguda no sistema nervoso mente a desregulação autoimune desencadea-
periférico. A clínica mais frequente é a de pa- da em indivíduos predispostos geneticamente
ralisia flácida aguda, arreflexia e dissociação ou por outros agentes ambientais. A prevalên-
albumino-citológica no líquor. Apesar da inci- cia é baixa, de 0,2-0,4/100.000 ao ano. Quadro
dência ser menor em crianças, acomete cerca de febril pode estar presente em 50% a 75% das
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nos quadros de ataxias (congênitas, metabóli- b) manobra índex-objeto (colocar a ponta do in-
cas, infecciosas ou pós-infecciosas, tóxicas ou dicador em um objeto)
tumorais)
c) manobra índex-índex (colocar a ponta de um
b) Marcha anserina ou de pato: observa-se acen- indicador na ponta do outro)
tuação da lordose lombar e oscilação da bacia
d) movimentação rápida e alternada das mãos
para um lado e para o outro. Ocorre quando
(movimentos sucessivos de pronação e supi-
há fraqueza da cintura pélvica, como nas po-
nação das mãos)
lirradiculoneurites e na distrofia muscular
progressiva. As alterações da coordenação apendicular
manifestam-se por dismetria (observa-se o tre-
c) Marcha ceifante: o paciente, ao andar, apre-
mor terminal), por disdiadococinesia (incapaci-
senta um movimento semicircular com os
dade de fazer movimentos rápidos e alternados)
pés. Ocorre nas lesões piramidais como nos
ou pela decomposição dos movimentos.
pacientes com paralisia cerebral.
A coordenação motora pode ser avaliada
d) Marcha escarvante: o paciente caminha le-
também por provas neuroevolutivas específicas
vantando excessivamente a perna, flexio-
para cada idade e facilmente reproduzidas em
nando a coxa para evitar que o pé se arraste
consultório como: copiar figuras geométricas,
pelo solo, já que não consegue dorsifletir o
desenho de figura humana, atividades cotidianas
pé. Ocorre nas lesões do nervo fibular (neu-
como tirar e vestir a roupa, amarrar os laços dos
rite e polineuropatias sensitivo-motora he-
sapatos, além de subir e descer escadas.
reditárias).
Dessa forma, quadros cerebelares, resul-
Alterações da coordenação motora tantes de processos metabólicos, traumáticos,
infecciosos ou tumorais expansivos, bem como
A função da coordenação motora é propor- dispraxias motoras podem impactar e alterar a
cionar uma atividade motora acurada, coorde- coordenação motora e o pediatra deverá estar
nada e harmônica. Para isso, o cerebelo atua na atento a esse importante item do exame.
integração de informações do sistema piramidal,
extrapiramidal e sensorial. Lesões em qualquer
Ataxia Cerebelar Aguda
um desses sistemas podem determinar uma al-
teração da coordenação motora. Quadro autolimitado, após quadro infeccio-
so que acomete geralmente crianças entre 2 e
A avaliação da coordenação motora varia
5 anos de idade. É a causa mais comum de ata-
com a idade, no lactente, a partir dos 4 meses
xia na população pediátrica. Diversos agentes
de vida, pode-se observar a preensão voluntá-
infecciosos estão relacionados a esse quadro,
ria palmar que inicialmente é ulnar, evoluindo
incluindo vírus coxsackie, enteroviroses, herpes
para rádio-palmar aos 7-8 meses e para pinça
simples 1 e 6, Epstein- Barr, Mycoplasma pneu-
fina ao final do primeiro ano. Todavia, apanhar
moniae, caxumba, rubéola e parvovírus B19. Ca-
um objeto sem errar o alvo amadurece ao longo
sos secundários a infecção por varicela tiveram
dos dois primeiros anos, torna-se cada vez mais
importante diminuição após a introdução no
refinado e é um sinal de alerta quando altera-
calendário vacinal49. Importante observar que o
do. A partir da idade pré-escolar a coordenação
diagnóstico de ataxia cerebelar aguda só pode
apendicular é examinada pelas seguintes ma-
ser firmado após exclusão de outros quadros,
nobras:
tais como infecções do SNC, ingestão de drogas,
a) manobra índex-nariz (colocar a ponta do distúrbio metabólico ou patologias neurodege-
indicador no nariz) - fidedigna a partir dos nerativas. O tratamento é apenas de suporte, já
4 anos que a evolução é autolimitada.
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Redução ou perda súbita do tônus muscular sem evento tônico ou mioclônico precedendo. Duração
Atônica de aproximadamente 1 a 2 segundos, envolvendo a musculatura da cabeça, tronco, queixo ou
membros.
Início súbito, interrupção das atividades em curso, olhar vazio e possivelmente um breve desvio
Ausência dos olhos para cima. Normalmente o paciente permanece arresponsivo. Duração de segundos com
rápida recuperação.
Atividade motora mais ou menos coordenada, sempre imitam um movimento voluntário e podem
Automatismo consistir em uma continuação inapropriada da atividade motora que estava em curso antes do início
da crise (ex: movimento mastigatório).
Súbita flexão, extensão ou uma mistura de ambas dos músculos proximais e tronco, mais sustentada
Espasmos que uma mioclonia mas não tão mantida como nas crises tônicas. Pode ocorrer associado,
careteamento, queda da cabeça ou movimentos oculares sutis. São recorrentes em salvas.
Tônica Uma contração muscular crescente e sustentada com duração de segundos a minutos.
Modificado das referências 51 e 52, Tradução pela Comissão de Consenso da Liga Brasileira de Epilepsia (http://epilepsia.org.br/)
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na cama ou levantar e caminhar, fala inco- A avaliação clínica também pode indicar se
erente, agitação extrema, gritos e sinais a condição é neurodegenerativa ou suge-
autonômicos (dilatação pupilar, expressão rir uma etiologia adquirida ou hereditária.
de medo, sudorese, rubor, taquicardia, res- Deve-se investigar causas frequentes como
piração ofegante), o episódio tem duração a) distonia adquirida induzida por medica-
variável e cessa abruptamente. mento, b) torcicolo congênito, c) secundária
a distúrbios neurometabólicos, como a aci-
8) Síncope: perda transitória da consciência
duria glutárica tipo I, d) encefalopatia bilir-
associada à redução da perfusão cerebral ou
rubínica aguda, e) distonia idiopática tran-
queda na saturação de oxigênio ou ambos. A
sitória da infância e f) torcicolo paroxístico
faixa etária mais atingida é a adolescência.
benigno da infância, entre outros55.
Entre os fatores precipitantes é possível ci-
tar alterações posturais e perturbação emo- 11) Tremor: é um sinal neurológico muito fre-
cional. Os sintomas pré-sincopais incluem quente e afeta em torno de 0,5% a 5% da
tontura, náusea, sensação de calor, zumbi- população em geral. A fisiopatologia do tre-
do nos ouvidos, sensação de desconforto mor essencial não é clara. Entretanto, deve-
abdominal ou sensação de “apagão”. Estes -se tentar fazer o diagnóstico diferencial
sintomas são seguidos de confusão mental considerando os diferentes tipos (tremor
e perda de consciência. Associadamente relacionado com a doença de Parkinson ou
pode ocorrer desvio ocular para cima, in- outros distúrbios extrapiramidais, tremor
continência urinária, e tremores. cerebelar, tremor induzido por medicamen-
tos/drogas ou tremor psicogênico)56.
9) Tiques: Certamente um dos movimentos in-
voluntários mais frequentes da infância que 12) Discinesias: as discinesias paroxísticas po-
ocorre em até 20% dos escolares. Iniciam dem iniciar na infância e seguir na vida adul-
entre 4 e 8 anos. Os tiques podem ser moto- ta. São caracterizadas por movimentos invo-
res (piscamento, caretas, flexões de cabeça- luntários anormais que iniciam subitamente,
-pescoço, torções de braço e/ou ombro) ou do tipo coreia, atetose, balismo, distonia ou
vocais (ruídos de limpar garganta, chiados, uma combinação. Podem ser precipitados
tosse, fungar). Geralmente são precedidos por exercícios físicos prolongados, abuso de
de uma sensação de urgência com alívio álcool ou cafeína, estresse emocional ou fa-
após o movimento. Têm curso com períodos diga. As crises têm duração variável, durando
de maior e menor intensidade, desapare- de segundos a hora exsitem formas idiopáti-
cem durante o sono e pioram em situações cas (familiar e esporádica) e sintomáticas57.
de estresse ou ansiedade. O Quadro 9 apresenta sinais/sintomas que
auxiliam no diagnóstico diferencial de eventos
10) Distonias: são movimentos involuntários,
não epilépticos e epilépticos.
onde ocorre uma contração dos músculos
agonistas e antagonistas, simultaneamente, Também é importante ressaltar que alguns
que causam torções e movimentos repeti- distúrbios dos movimentos podem estar asso-
tivos ou posturas anormais. Quanto mais ciados ao uso de drogas/medicamentos. Tiques
precoce a idade de início, mais generalizada e estereotipias podem piorar com uso de metil-
e grave a condição tende a ser. Na infância, fenidato. Crises oculogíricas podem estar asso-
as distonias são classificadas de acordo com ciadas ao uso de carbamazepina, domperidona e
dois eixos complementares, as caracterís- metoclorpramida. Discinesia tardia: movimentos
ticas clínicas (idade de início, distribuição rítmicos de língua, face, tronco ou extremidade
corporal, padrão temporal e características podem estar associados ao uso crônico de rispe-
associadas) e a etiologia (inclui a doença ridona. Estado distônico pode ser secundário à
do sistema nervoso e a hereditariedade). retirada de baclofeno ou benzodiazepínicos.
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Sinais de alerta na avaliação neurológica da criança e do adolescente
Quadro 9. Sinais sugestivos de eventos paroxísticos não epilépticos que auxiliam no diagnóstico diferencial com crises
epilépticas
Manobras de autoproteção
Imobilidade
Opistótono
Exame físico na hora do evento com reflexo corneano preservado, pupilas reativas, resistência
à abertura ocular, preservação de mecanismos de autoproteção, resposta a demanda verbal.
Evitar o uso de nomenclaturas mais antigas e pejorativas tais como crise histérica, crise
conversiva, crises dissociativas, pseudo-crise.
Modificado da referência 54
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