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endodontia e dentística clínica 1

traumatismos DENTáRIos
Tipos, características e métodos de diagnóstico
O que é um traumatismo? 1˚ PASSO: ANAMNESE (exame subjetivo)
– São lesões de extensão, intensidade e gravidade • Identificação • O que aconteceu?
variáveis, de origem acidental ou intencional, causada • Quando? • Como?
por uma agressão térmica, química ou mecânica que • Onde? • Por que?
atuam no dente, cuja magnitude supera a resistência • Condições gerais de • Nível de consciência?
encontrada nos tecidos ósseo, muscular e dentário saúde? • Histórico
decorrentes de acidentes, espancamentos, brigas, entre
outros; afetando assim a região da boca e dos dentes; 2˚ PASSO: ASSEPSIA
– Os traumas dentários são inesperados, acidentais e – Objetiva avaliar a extensão da lesão(s), evitar infecção,
requerem um atendimento de urgência, sendo um eliminar corpos estranhos e favorecer à cicatrização;
atendimento peculiar a cada experiência; – Realizado com soro fisiológico ou Clorexidina 0,12% e gaze.
– O cuidado imediato e a continuidade do tratamento 3˚ PASSO: DIAGNÓSTICO
odontológico são decisivos no prognóstico à para • Exame clínico + Radiográfico
evitar alteração de cor do dente acometido pelo trauma, • Um correto diagnóstico, com precisão, influencia
sensibilidade/dor e a perda dentária; diretamente no tratamento, nas orientações e no
– São lesões em que o tempo do trauma até o momento prognóstico
a ser tratado interfere diretamente no prognóstico. Obs: hoje em dia usa-se muito da Teleodontologia –
Obs: Apesar de a queda ser a causa mais prevalente para os diagnóstico remoto
traumas dentários em crianças, outros motivos estão
frequentemente associados, como atividades esportivas, EXAME CLÍNICO:
ciclismo, violência e acidentes de trânsito. – HISTÓRIA MÉDICA: Possíveis doenças, medicações, alergias,
Obs: O trauma dental é a 2˚ doença bucal mais frequente! vícios , gravidez.
– HISTÓRIA DO TRAUMA: Conhecer, saber como, quando e
Prevenção de traumas dentais onde ocorreu o acidente.
Ø As ações preventivas relacionadas aos traumas dentais – EXAME EXTRA-ORAL: Análise de sinais visíveis de laceração
podem ser realizadas tanto no âmbito individual quanto facial, edemas, fragmentos de objetos, disformia facial.
no coletivo: Investigar dores na articulação temporomandibular,
– Promover a adequação das condições físicas dos locais de indicadores de luxação ou fraturas.
circulação da comunidade, incluindo principalmente os – EXAME INTRA-ORAL: tecidos moles (inspeção e a palpação)
espaços coletivos como creches, escolas, instituições de e tecidos duros / sustentação (Avaliar e anotar o grau de
longa permanência, centros de saúde e calçadas; mobilidade dos elementos dentarias; Checar e localizar a
– Informar a comunidade sobre como proteger os elementos fratura do elemento dentário ou ósseo; Teste de vitalidade
dentais; pulpar)
– Utilizar protetores bucais e faciais adequados a cada
esporte durante a atividade física; EXAME RADIOGRÁFICO
– Evitar hábitos deletérios, que podem gerar sobrecarga e – O exame deve sempre ser feito na consulta inicial, para
fratura do elemento dental; orientar o reposicionamento do dente traumatizado,
– Realizar correção ortodôntica; avaliar a estrutura dentária remanescente e verificar quais
Fatores associados ao tipo e gravidade da lesão, as dentes foram envolvidos. Nas sessões subseqüentes, será
sequelas e prognóstico: útil para análise da consolidação de fraturas, análise da
• Tipo e o momento do tratamento de emergência evolução/cura das lesões, bem como para observação do
fornecido surgimento/interrupção dos processos de reabsorção.
• Direção e intensidade da força
• Estágio de desenvolvimento dentário CLASSIFICAÇÃO DOS
• Idade TRAUMATISMOS DENTÁRIOS
1. Traumas do tecido dentário e tecido pulpar
Fatores clínicos predisponentes: Overjet acentuado e 2. Traumas dos tecidos periodontais
proteção labial 3. Trauma da gengiva e mucosa oral
4. Traumas do tecido ósseo de suporte

Obs: um tratamento adequado, orientação correta e


prognóstico bom dependem de 3 passos: ANAMNESE,
ASSEPSIA E DIAGNÓSTICO
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1. TRAUMA DOS TECIDOS FRATURA CORONORRADICULAR
DENTÁRIOS E À POLPA (mineralizados) • Fratura envolvendo esmalte, dentina e cemento, com
• Fratura coronária perda de estrutura do dente, com ou sem exposição da
Trinca de esmalte
Fratura coronária de esmalte
polpa;
Fratura coronária de esmalte-dentina • Fratura da coroa que se estende abaixo da margem
• Fratura coronária complicada gengival (sem exposição da polpa);
Fratura coronária de esmalte-dentina-polpa • Teste de percussão sensível para o fragmento coronal
• Fratura coronorradicular
Fratura coronorradicular sem envolvimento da polpa
que apresenta mobilidade gengival (sem exposição da
Fratura coronorradicular com envolvimento da polpa polpa);
• Fratura radicular • Teste de sensibilidade pulpar ao frio geralmente
positivo para fragmento apical gengival (sem exposição
TRINCA DE ESMALTE da polpa)
• Fratura incompleta do esmalte, sem perda de estrutura • TRATAMENTO: Sem exposição pulpar deve-se
dentária; imobilizar o fragmento.
• Não há sensibilidade à percussão.
• Precisa de monitoramento, para verificar se prejudicou FRATURA CORONORRADICULAR
o ligamento periodontal. COM ENVOLVIMENTO DA POLPA
• TRATAMENTO: não necessita de tratamento. • Fratura envolvendo esmalte, dentina e cemento,
FRATURA CORONÁRIA DE ESMALTE expondo a polpa;
• Fratura completa do esmalte com perda de estrutura; • Teste de percussão com sensibilidade;
• Sem exposição dentinária; • Fragmento coronal móvel;
• Sensibilidade ao frio geralmente é positivo; • Sensibilidade ao frio.
• Sem mobilidade; • TRATAMENTO: com exposição pulpar fazer
• TRATAMENTO: Restauração. pulpectomia e manutenção do fragmento em posição
FRATURA CORONÁRIA DE ESMALTE-DENTINA através da colagem provisória com resina composta.
• Fratura completa do esmalte e dentina com perda de
estrutura, sem exposição pulpar; FRATURA RADICULAR
• Dente com hipersensibilidade provocada; • Segmento coronal pode estar móvel, podendo ser
• Teste de percussão sem sensibilidade; deslocado;
• Sem mobilidade; • Possível sensibilidade à percussão e sangramento do
• Teste de sensibilidade pulpar ao frio geralmente sulco gengival;
positivo; • Testes de sensibilidade pode apresentar resultados
• TRATAMENTO: Restauração em resina composta, negativos inicialmente, indicando dano pulpar
colagem de fragmento viável e restauração com transitório ou permanente;
ionômero de vidro. • Descoloração transitória da coroa (vermelho ou cinza)
FRATURA CORONÁRIA DE ESMALTE-DENTINA-POLPA pode ocorrer;
• Fratura completa do esmalte e dentina com perda de • O fragmento coronal pode apresentar-se extruído.
estrutura, com exposição pulpar; • Quanto à direção: horizontais, verticais (único
• É denominada complicada, pois demanda maior tratamento é exodontia) e oblíquas.
intervenção e proservação • TRATAMENTO: deve ser imediato. Reposicionar o
• Sem mobilidade; fragmento coronário através de firme pressão digital à
• Teste de percussão: sem sensibilidade; verificar radiograficamente a redução da fratura à
• Polpa exposta sensíveis a estímulos ao frio. contenção semi-rígida à checar oclusão e ajustar para
• TRATAMENTO: fazer tratamento conservador quando a corrigir toques prematuros e deixar em infra-oclusão à
exposição for curta em menos de 24 horas (capeamento período mínimo de imobilização: 1 mês (fratura apical),
pulpar, curetagem ou pulpotomia) e Radical com 4 meses (fratura cervical) à controle clínico e
exposição longa (tratamento endodôntico); radiográfico nesse período.
• Deve-se controlar hemorragia sem aplicar nenhum
hemostático; Obs: A maioria das lesões dentárias, tanto na dentição
decídua quanto na dentição permanente, acometem os
• Traumatismo a nível de terço cervical deve-se fazer
incisivos centrais superiores e o segundo grupo de dentes
reabilitação com pino + tratamento endodôntico.
mais acometido são os incisivos laterais superiores.

Obs: Traumatismo sem exposição pulpar com polpa


avermelhada = capeamento pulpar + restauração
Traumatismo sem exposição pulpar com polpa enegrecida
= tratamento endodôntico
A: fratura de esmalte; B: fratura de esmalte e dentina; C: fratura de esmalte-
dentina- polpa.
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2. TRAUMA DOS TECIDOS • LUXAÇÃO INTRUSIVA: Deslocamento do elemento
PERIODONTAIS dental em relação ao osso do processo alveolar.
• Concussão Clinicamente, a coroa se apresenta encurtada e existe
• Subluxação
• Luxação extrusiva
sangramento gengival.
• Luxação lateral TRATAMENTO: rizogênese incompleta aguardar a
• Luxação intrusiva erupção espontânea. Em casos de rizogênese completa e
• avulsão busca tratamento tardiamente, realizar
reposicionamento ortodôntico. Quando o atendimento é
• CONCUSSÃO: Lesão de tecidos de suporte sem perda ou de urgência, realizar reposicionamento cirúrgico.
deslocamento do elemento dental. Pode levar a
Metaplásia Cálcica da polpa. • AVULSÃO: Deslocamento total do elemento dental.
TRATAMENTO: ajuste oclusal e deixar o dente em Clinicamente, o alvéolo dental fica vazio ou preenchido
infraoclusão. Dieta mole por 7 a 14 dias. Medicação com coágulo sanguíneo. O prognóstico depende do
antinflamatória/analgésica. Acompanhamento clínico e tempo extra-alveolar, do meio de armazenamento
radiográfico/tomográfico. dental (leite) e do manuseio do dente (não lavar o dente).
TRATAMENTO: preparo do paciente e do alvéolo sem
• SUBLUXAÇÃO: Lesão dos tecidos de suporte com limpar as paredes do alvéolo à exame radiográfico à
presença de hemorragia gengival. Afetam os tecidos de remoção cuidadosa do coágulo à reposicionamento do
sustentação e as estruturas pulpares. Laceram as fibras dente à imobilização flexível à tratamento
do ligamento periodontal, causando sangramento e endodôntico radical, com trocas de medicação
edema. Tem mobilidade mas não desloca o elemento intracanal.
dentário.
TRATAMENTO: imobilização flexível por um período 3. TRAUMAS DO TECIDO MOLE
máximo de 15 dias à ajuste oclusal à dieta mole à (GENGIVA E MUCOSA ORAL)
medicação anti-inflamatória à acompanhamento clínico • Contusão
e radiográfico/tomográfico. • Abrasão
• Laceração
• LUXAÇÃO EXTRUSIVA: O elemento dental se desloca Os Traumatismos à gengiva ou à mucosa apresentam-se
parcialmente no sentido axial do alvéolo dental. como:
Presença de sangramento e aparência do dente – CONTUSÃO(menor dano)
alongado. Grande mobilidade dentária. Lesão associada a um intenso quadro hemorrágico, com
Radiograficamente há o aumento do espaço do formação de edema e hematoma, porém sem ruptura da
periodonto apical. pele ou mucosa
TRATAMENTO: cuidados iniciais à reposicionamento Tratamento: aplicação de compressa fria e prescrição de
atraumático do dente à verificação radiográfica à medicação analgésica quando necessário
imobilização flexível por 2 semanas à alívio oclusal à – ABRASÃO (‘’ralado’’)
reposicionamento tardio tem grande dificuldade Sem ruptura do tecido. Associada a sujeita oriunda do local
digitalmente, pode ser necessário um tratamento do acidente.
ortodôntico à acompanhamento clínico e TRATAMENTO: limpeza da área com gaze embebida em
radiográfico/tomográfico. solução salina ou anti-séptica e alguns casos raspagem com
bisturi.
• LUXAÇÃO LATERAL: Deslocamento irregular do – LACERAÇÃO (maior dano)
elemento dental do alvéolo dental que pode ser Ruptura mais profunda de tecido conjuntivo e deve-se
acompanhada por fratura ou esmagamento do osso observar se há corpos estranhos na lesão.
alveolar. Há a ruptura de osso alveolar. Como houve TRATAMENTO: limpeza e remoção cuidadosa de todos os
ruptura do feixe vasculonervoso a nível de forame apical, fragmentos, irrigação da ferida com solução salina e sutura
deve-se fazer tratamento endodôntico. por planos, sob anestesia local, complementada pela
TRATAMENTO: reposicionamento atraumático do dente injeção de anestésico contendo adrenalina no interior da
à firme pressão digital no fundo de vestíbulo em direção ferida.
incisal à posteriormente fazer a pressão em direção
apical à compressão vestibular e lingual/palatina à 4. TRAUMA DO TECIDO ÓSSEO DE SUPORTE
verificação radiográfica/tomográfica à contenção semi- • A fratura envolve o osso alveolar e pode se estender ao osso
rígida por 4 semanas à ajuste oclusal adjacente (maxila e mandíbula);
àreposicionamento tardio fazer tratamento • Observa-se comumente mobilidade e deslocamento do
ortodôntico. segmento com diversos dentes em movimento ao mesmo
tempo;
• Frequentemente nota-se interferência oclusal:
• Testes de sensibilidade podem ou não ser positivos.
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REFERÊNCIAS
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Traumatology guidelines for the management of traumatic
dental injuries: 2. Avulsion of permanent teeth. Dental
Traumatology, v. 28, n. 2, p. 88–96, abr. 2012.
BARROS, ÍRIS R. V.; PEREIRA, K. R.; SANTOS, A. L. C. M.; VÉRAS, J.
G. T. DE C.; PADILHA, E. M. F.; PEREIRA, K. R.; LESSA, S. V.; LINS, F.
F. Traumatismos dentários: da etiologia ao prognóstico, tudo
que o dentista precisa saber. Revista Eletrônica Acervo Saúde, n.
45, p. e3187, 2 abr. 2020.
Bitencourt, Sandro & Wanderli, Daiana & Oliveira³, Reis & Terra,
Aline & Jardim, Biazon. (2015). ABORDAGEM TERAPÊUTICA DAS
FRATURAS DENTÁRIAS DECORRENTES DO TRAUMATISMO
DENTÁRIO THERAPEUTIC APPROACH OF FRACTURE DENTAL
CAUSED OF DENTAL TRAUMA. Revista Regional de Araçatuba,
Associação Paulista de Cirurgiões Dentistas. 24-29.
Petti, S, Glendor, U, Andersson, L. World traumatic dental injury
prevalence and incidence, a meta-analysis—One billion living
people have had traumatic dental injuries.
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TRINCA DE ESMALTE DENTES DECÍDUOS DENTES PERMANENTES

Características clínicas Linha de fratura incompleta visível no dente Linha de fratura incompleta visível no dente

Radiografia diagnóstica Não indicada Periapical. Não se evidencia alterações

Tratamento Não há necessidade Geralmente, não há necessidade

Acompanhamento clínico- Não há necessidade Não há necessidade


radiográfico

FRATURA CORONÁRIA DE DENTES DECÍDUOS DENTES PERMANENTES


ESMALTE

Características clínicas Perda da camada de esmalte do dente. Fratura Perda da camada de esmalte do dente
completa do esmalte com perda de estrutura

Radiografia diagnóstica Não há necessidade Oclusal, periapical e laterais

Tratamento Polimento nas bordas da fratura Polimento, colagem ou restauração do dente

FRATURA CORONÁRIA DE DENTES DECÍDUOS DENTES PERMANENTES


ESMALTE-DENTINA

Características clínicas Perda visível da camada de esmalte e dentina Perda visível da camada de esmalte e dentina

Radiografia diagnóstica Não há necessidade Oclusal, periapical e laterais. Alguns casos em


tecidos moles lacerados

Tratamento Restauração com CIV ou resina Colagem, restauração com CIV ou resina

FRATURA CORONÁRIA DE DENTES DECÍDUOS DENTES PERMANENTES


ESMALTE-DENTINA-POLPA

Características clínicas Fratura envolvendo esmalte e dentina com perda Fratura envolvendo esmalte e dentina com perda da
da estrutura dentária e exposição da polpa estrutura dentária e exposição da polpa

Radiografia diagnóstica Oclusal Oclusal, periapical e laterais. Alguns casos em


tecidos moles lacerados

Tratamento Capeamento direto, pulpotomia ou extração. Capeamento ou pulpotomia parcial.

FRATURA DENTES DECÍDUOS DENTES PERMANENTES


CORONORRADICULAR

Características clínicas Fratura envolvendo esmalte, dentina e cemento Fratura envolvendo esmalte, dentina e cemento com
com perda da estrutura dentária não envolvendo perda da estrutura dentária não envolvendo polpa.
a polpa. Dor à percussão e mastigação Dor à percussão e mastigação

Radiografia diagnóstica Oclusal. Oclusal, periapical e laterais. Alguns casos


tomografia.

Tratamento Remoção do fragmento e restauração ou Estabilização do fragmento. Remoção do fragmento


extração que dependerá da maturidade e e restauração provisória, gengivectomia, extrusão,
cooperação da criança. Cuidados pós ortodôntica, cirúrgica, decoronação e extração.
atendimento Cuidados pós atendimento.

FRATURA RADICULAR DENTES DECÍDUOS DENTES PERMANENTES

Características clínicas Dor à percussão, possível mobilidade e extrusão. Dor à percussão, possível mobilidade e extrusão.
Alteração cromática para cinza ou rosa Sangramento no sulco gengival. Alteração cromática

Radiografia diagnóstica Oclusal e periapical Oclusal, periapical e laterais.

Tratamento Quando não há deslocamento, apenas Reposicionamento e contenção semi-rígida por 4


acompanhar. Dependendo da posição da fratura semanas nos terços apical e médio. No terço cervical,
ao longo da raiz, indica-se o reposicionamento, contenção rígida por 4 meses. Cuidados pós
possível contenção ou exodontias. atendimento.

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