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SEGURANÇA NO TRATAMENTO
DE ÁGUA PARA HEMODIÁLISE
INTRODUÇÃO
A água é um elemento essencial para o cuidado do paciente em hemodiálise.
O tratamento de água de uma unidade de diálise é um procedimento com-
plexo, com inúmeras etapas e um elemento de segurança para o paciente e
equipe assistencial.
Atualmente, o tratamento de água em uma unidade de hemodiálise é re-
gulamentado e parâmetros de segurança estão bem definidos em legislação
específica. A água é o solvente utilizado para preparar o dialisato juntamente
com eletrólitos. Durante uma típica sessão de hemodiálise, o sangue do pa-
ciente é exposto a um volume aproximado de 120 a 192 litros durante 4 ho-
ras, separado apenas por uma membrana semipermeável. Esse volume é de
três a cinco vezes maior do que o volume corporal total e muitas vezes maior
do que o volume plasmático. Qualquer contaminação na água pode resultar
em sérias consequências para o paciente.
Muitas complicações já foram descritas relacionadas a problemas com a
água. O Brasil vivenciou tragédia de repercussão mundial relacionada à con-
taminação por microcistina que resultou em mortes na cidade de Caruaru,
em 19961, e levou à revisão da regulamentação no País.
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LEGISLAÇÃO
No Brasil, a resolução do Ministério da Saúde/Agência Nacional de Vigilância
Sanitária número 11, de 13 de março de 2014, estabelece os requisitos de
Boas Práticas para o funcionamento dos serviços de diálise. A seção VIII é
referente à qualidade da água2. As unidades são fiscalizadas pela Vigilância
Sanitária e é importante que documentos comprobatórios de todos os pro-
cedimentos e exames estejam disponíveis para conferência. A Vigilância Sa-
nitária tem sido parceira na segurança do paciente, demandando que a qua-
lidade da água seja adequada. É também uma instituição fundamental para
auxiliar na resolução de crises e contingências previsíveis e não previsíveis.
A resolução determina que a potabilidade da água recebida da rede
pública seja verificada diariamente e que o cloro residual livre mínimo seja
conferido. Mesmo que não seja regulamentado, é importante acompanhar
o cloro total, pois se tivermos a presença de cloramina na água, essa não
será detectada pelo ensaio de cloro livre. A água da rede pública (Ponto A
na Fig. 9.1) pode conter níveis de cloro/cloramina de até 5mg/l, quando o
mínimo solicitado é de 0,2mg/l (no caso de fonte de água alternativa como,
por exemplo, poço artesiano ou carro pipa, o nível deverá ser de 0,5mg/l).
Água
potável
Filtro
Abrandador Ultravioleta
Multimeios
Filtro de Filtro de
carvão carvão
A B C D ativado ativado
Looping de F
máquinas Reservatório
Osmose
de Ultravioleta
reversa
água tratada
Pontos de utilização I H G
J
de máquinas
Figura 9.1 Exemplo de sistema de tratamento de água. Figura de autoria de Leonardo Marchionni (reprodução autorizada
pelo autor). As letras são possíveis locais de coleta para avaliação da qualidade da água. Os pontos H (ponto da sala de pro-
cedimento) e J (retorno da alça de distribuição) são obrigatórios na rotina. A água de cada máquina antes do filtro deve ser
testada pelo menos uma vez ao ano.
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100 UFC/ml
Contagem de bactérias
Obs: se > 50 UFC/ml, ações Mensal
heterotróficas
devem ser tomadas
BACTERIEMIA/REAÇÕES PIROGÊNICAS
O paciente com bacteriemia ou pirogenias costuma apresentar calafrios, se-
guidos de febre e sintomas sistêmicos conforme a gravidade do quadro.
Hipotensão e mal-estar são frequentes.
O mais importante é a prevenção. O quadro 9.2 lista medidas que são im-
portantes para prevenir a ocorrência de bacteriemias e pirogenias na unidade.
Por outro lado, na ocorrência dos eventos, ações são necessárias. O qua-
dro 9.3 lista alguma das ações em caso de bacteriemia ou pirogenia.
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Evento
Febre/Calafrios
Hemoculturas, cultura
Manejo conforme Considerar avaliar
da máquina pré-filtro
quadro clínico endotoxinas
e do cateter
Considerar:
Interromper sessões
Desinfecção do sistema
Comunicar responsáveis técnicos
e técnico encarregado
Consultar outras unidades
Comunicar autoridades sanitárias
CONCLUSÃO
O tratamento de água é elemento central e básico na segurança do paciente
em hemodiálise. Os cuidados com a água são vinculados à legislação espe-
cífica e fiscalizados pelas autoridades sanitárias. É responsabilidade da uni-
dade assegurar a qualidade da água utilizada nos procedimentos dialíticos e
estar atenta para possíveis intercorrências.
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