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Toxicologia e

Segurança Pública
Prof. Iverson Kech Ferreira

Indaial – 2021
1a Edição
Copyright © UNIASSELVI 2021

Elaboração:
Prof. Iverson Kech Ferreira

Revisão, Diagramação e Produção:


Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri


UNIASSELVI – Indaial.

F383t

Ferreira, Iverson Kech

Toxicologia e segurança pública. / Iverson Kech Ferreira –


Indaial: UNIASSELVI, 2021.

191 p.; il.

ISBN 978-65-5663-665-8
ISBN Digital 978-65-5663-660-3

1. Legislação. - Brasil. 2. Substâncias químicas. – Brasil. II.


Centro Universitário Leonardo da Vinci.
CDD 340

Impresso por:
Apresentação
Olá, acadêmico! Seja bem-vindo ao nosso estudo a respeito da
toxicologia e segurança pública no Brasil, em que iremos diversificar as
pesquisas, a partir do amplo tema da toxicologia e intoxicação, partindo para
a abrangente temática das drogas.

Os problemas com as substâncias químicas vão desde os simples e,


aparentemente inofensivos produtos encontrados em diversas prateleiras
de mercados e farmácias, até aos agrotóxicos presentes nos produtos que
fazem parte de nossa alimentação diária. Mas essa adversidade sofre um
expressivo aumento, quando produtos químicos passam a ser manuseados
pelo tráfico de drogas e pelo crime organizado, a partir da produção
de substâncias consideradas ilegais e extremamente contaminantes do
organismo. Verdadeiros venenos são produzidos e comercializados, e pela
sua qualidade altamente viciante, passam a ser um verdadeiro problema
social e de saúde pública, que deve ser combatido pelas políticas públicas.

Na primeira unidade, nós veremos como a toxicologia e sua formação


científica determina o que é droga ou veneno, a partir de análises e métodos
científicos diversos; os processos de intoxicação, e como o organismo humano
reage aos componentes mais invasivos aos seus sistemas. É importante
delimitar o que é droga licita e ilícita, portanto, como essa distinção é realizada
e qual é a importância, se faz presente em nossos estudos neste ponto. Você
analisará também a Lei nº 13.313/2006, considerada Lei de Drogas, abordando
seus destaques mais essenciais que tutelam o corpo social e a saúde pública,
contra o crime que se organiza em volta do tráfico de entorpecentes.

Na segunda unidade, nós iremos analisar como são realizadas as


políticas públicas sobre o tema das drogas no Brasil, e se conseguem refletir seus
intentos e suas possibilidades às pessoas que mais as necessitam. Também será
explorado como a Segurança Pública identifica e age nessas questões, e quais
seus modelos mais influentes para o combate às drogas. Veremos o impacto
que os entorpecentes e o vício podem causar no núcleo familiar, geralmente,
trazidas para dentro dos lares por adolescentes: alguns cooptados pelo crime
organizado, outros viciados pela droga que se distribui em nossa sociedade. As
questões sobre o tráfico e a crescente onda de violência, usualmente interligados
entre si, explodem nas comunidades mais carentes da sociedade, controladas
por um poder que governa com mãos de ferro as comunidades consideradas de
risco. Esse é o poder paralelo ao Estado, em crescente evolução.

E será na terceira unidade que entenderemos como a segurança


pública aborda o tráfico de entorpecentes, e como são realizadas as
patrulhas e missões de segurança contra o crime, seja em âmbito nacional ou
internacional. O narcotráfico é um perigo internacional, presente no mundo,
que se exibe sem fronteiras, um difícil inimigo a ser combatido.

Então, seja bem-vindo aos estudos e análises aqui apresentados! Uma


boa leitura e excelentes estudos!

Iverson Kech Ferreira


NOTA

Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para
você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novi-
dades em nosso material.

Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é


o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura.

O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagra-
mação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui
para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.

Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente,


apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilida-
de de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador.
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assun-
to em questão.

Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa
continuar seus estudos com um material de qualidade.

Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de


Desempenho de Estudantes – ENADE.
 
Bons estudos!
LEMBRETE

Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela


um novo conhecimento.

Com o objetivo de enriquecer seu conhecimento, construímos, além do livro


que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você
terá contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complemen-
tares, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento.

Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.

Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada!


Sumário
UNIDADE 1 — TÓXICOS: ESPÉCIES E SEUS USOS..................................................................... 1

TÓPICO 1 — AS ESPÉCIES DE TÓXICOS........................................................................................ 3

1 INTRODUÇÃO..................................................................................................................................... 3
2 TOXICOLOGIA E TOXIDADE......................................................................................................... 4
2.1 INTRODUÇÃO À TOXICOLOGIA.............................................................................................. 4
2.2 TOXICIDADE................................................................................................................................... 8
2.3 ESPECIALIDADES TOXICOLÓGICAS..................................................................................... 11
RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 15
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................... 16

TÓPICO 2 — OS PROCESSOS DE INTOXICAÇÃO..................................................................... 19

1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................... 19
2 A INTOXICAÇÃO.............................................................................................................................. 19
2.1 CLASSIFICAÇÃO DOS EFEITOS TÓXICOS............................................................................. 20
2.2 FORMAS DE INTOXICAÇÃO.................................................................................................... 21
RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 27
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................... 28

TÓPICO 3 — AS DROGAS................................................................................................................. 31

1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................... 31
2 DROGAS CONSIDERADAS LÍCITAS.......................................................................................... 32
3 DROGAS CONSIDERADAS ILÍCITAS........................................................................................ 36
3.1 TRATAMENTO NORMATIVO DAS DROGAS NA LEGISLAÇÃO NACIONAL.............. 40
3.2 A CONSTITUIÇÃO DE 1988 E AS DROGAS............................................................................ 41
3.3 A LEI Nº 11.343/2006..................................................................................................................... 42
3.4 PROCEDIMENTO PENAL (ARTS. 48 E 49) ............................................................................. 53
LEITURA COMPLEMENTAR............................................................................................................. 55
RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 59
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................... 60
REFERÊNCIAS....................................................................................................................................... 62

UNIDADE 2 — AS DROGAS E OS REFLEXOS NA VIOLÊNCIA SOCIAL............................. 65

TÓPICO 1 — POLÍTICAS, SEGURANÇA PÚBLICA E AS DROGAS....................................... 67

1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................... 67
2 POLÍTICAS PÚBLICAS E AS DROGAS....................................................................................... 68
3 SEGURANÇA PÚBLICA E AS DROGAS..................................................................................... 82
RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 95
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................... 96
TÓPICO 2 — DROGAS NAS FAMÍLIAS......................................................................................... 99

1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................... 99
2 IMPACTO DAS DROGAS NAS FAMÍLIAS.............................................................................. 103
3 USO DE DROGAS NA ADOLESCÊNCIA.................................................................................. 107
RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 110
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................. 111

TÓPICO 3 — FAVELIZAÇÃO E SEGREGAÇÃO......................................................................... 113

1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................. 113
2 QUESTÕES SOBRE O TRÁFICO DE DROGAS........................................................................ 117
3 A VIOLÊNCIA DO TRÁFICO NAS FAVELAS E COMUNIDADES..................................... 121
LEITURA COMPLEMENTAR........................................................................................................... 124
RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 127
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................. 128
REFERÊNCIAS..................................................................................................................................... 131

UNIDADE 3 — A AMEAÇA DO TRÁFICO................................................................................... 135

TÓPICO 1 — SEGURANÇA PÚBLICA E O TRÁFICO DE ENTORPECENTES.................... 137


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................. 137
2 DROGAS ILEGAIS E A SEGURANÇA PÚBLICA.................................................................... 138
2.1 INTELIGÊNCIA E INFORMAÇÕES........................................................................................ 140
3 O PLANO NACIONAL DE SEGURANÇA PÚBLICA E A AÇÃO POLICIAL.................... 147
RESUMO DO TÓPICO 1................................................................................................................... 152
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................. 153

TÓPICO 2 — O NARCOTRÁFICO INTERNACIONAL............................................................. 155


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................. 155
2 O BRASIL E O NARCOTRÁFICO INTERNACIONAL........................................................... 156
3 MULAS PARA O TRANSPORTE.................................................................................................. 160
4 TRANSPORTE E DISTRIBUIÇÃO DA DROGA....................................................................... 163
RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 168
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................. 169

TÓPICO 3 — A SECURITIZAÇÃO DAS FRONTEIRAS NACIONAIS.................................. 171

1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................. 171
2 REPRESSÃO DO TRÁFICO NAS FRONTEIRAS DO BRASIL............................................. 172
3 PROGRAMA DE PROTEÇÃO INTEGRADA DE FRONTEIRAS (PPIF)............................. 175
4 ENAFRON.......................................................................................................................................... 177
5 A OPERAÇÃO ÁGATA................................................................................................................... 179
LEITURA COMPLEMENTAR........................................................................................................... 182
RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 186
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................. 187
REFERÊNCIAS..................................................................................................................................... 189
UNIDADE 1 —

TÓXICOS: ESPÉCIES E SEUS USOS

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• articular os diferentes conceitos de classificação de tóxicos e a intoxicação;


• analisar a classificação dos efeitos tóxicos de substâncias venenosas;
• distinguir as espécies de tóxicos permitidos e não permitidos por lei;
• conhecer o conceito atual de intoxicação;
• identificar a norma penal legal contra as drogas.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade,
você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo
apresentado.

TÓPICO 1 – AS ESPÉCIES DE TÓXICOS


TÓPICO 2 – OS PROCESSOS DE INTOXICAÇÃO
TÓPICO 3 – AS DROGAS

CHAMADA

Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos


em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá
melhor as informações.

1
2
TÓPICO 1 —
UNIDADE 1

AS ESPÉCIES DE TÓXICOS

1 INTRODUÇÃO
Prezado acadêmico! Você, certamente, já ouviu falar das propriedades
dos elementos diversos, percebendo que na maioria das vezes, elas se diferem
por conta de sua natureza química, e qual a percepção do mundo perante
determinados elementos.

Então, como todos fazemos parte de um mesmo ecossistema, é


considerável a nossa assimilação quanto aos efeitos maléficos causados tanto em
nosso corpo ou na natureza, por algum componente que definimos como tóxico.
Dessa forma, havendo contato com determinado veneno, o organismo sente e
dará sua resposta; que pode muitas vezes ser fatal. E nem precisamos do contato
direto com o veneno, desde que exista uma exposição aos seus componentes mais
letais, algo que podemos não sentir a princípio.

Veja que os produtos considerados tóxicos vão desde um simples invólucro


contendo material de limpeza dos mais usuais, até produtos que são atirados
ao próprio alimento que nos sustenta, como os agrotóxicos. Não são difíceis de
encontrar casos, em que o uso de produtos químicos invasivos à saúde humana
alcançou índices de envenenamento, e, muitas vezes, até a morte. Observe os
casos das drogas sintéticas, aquelas produzidas em laboratórios, tanto lícitas
quanto ilícitas: ambas possuem efeitos diversos no organismo, pois produtos
químicos tendem a causar rejeição pelo corpo humano, quando utilizados em
quantidades superiores ao que está habituado. E o crescimento do consumo de
remédios e produtos que podem causar dependência, é uma constante no Brasil
(OLSON, 2013).

A partir do momento que esse uso se torna descontrolado, a princípio pelo


próprio corpo que agora pede e insinua pela droga, em uma simbiose que denota
a dependência, então há o efeito diverso daquele inicial planejado (OLSON, 2013).

Importa definir toxicologia a partir de suas próprias funções, ligadas


intermitentemente à advertência do uso de elementos que precisam ser estudados
e analisados, antes do contato com o mundo externo. Vamos iniciar analisando
toxicologia e toxicidade, bem como, o uso dos produtos diversos e alguns dos
mais importantes sintomas quando há o contato com as substâncias consideradas
tóxicas.

3
UNIDADE 1 — TÓXICOS: ESPÉCIES E SEUS USOS

2 TOXICOLOGIA E TOXIDADE
Há aqui uma diferença epistêmica de nomenclaturas. Note, prezado
acadêmico, que muitas vezes a importância das definições científicas, analisadas
por métodos rigorosos, levam o pesquisador a diversos caminhos em sua jornada
de descobrimento. Em poucas palavras, a diferença entre toxicologia e toxidade é
justamente a dose de um remédio que se experimenta.

A toxicologia faz a análise prévia das prováveis adversidades de um


produto no organismo, enquanto a toxicidade investigará a capacidade da
substância usada em causar algum malefício ao corpo, ou mesmo, ao planeta. E
essa interligação muito tênue possui uma característica importante de cuidado e
preservação, enquanto há o estudo químico de produtos diversos, e até onde esse
item pode chegar na grande biodiversidade do planeta, conhecida como vida.

2.1 INTRODUÇÃO À TOXICOLOGIA


Considerada como uma ciência multidisciplinar, pois se entrelaça com
muitos outros ramos de estudos científicos, como a química, biologia e a medicina,
define-se toxicologia a partir de sua função prioritária, de estudar os efeitos
adversos das inúmeras substâncias químicas sobre os organismos vivos. Assim,
a busca por uma compreensão rigorosa acerca dos efeitos tóxicos de inúmeros
produtos, e como se resolve a questão da intoxicação é uma constante nos estudos
toxicológicos (SHIBAMOTO, 2014).

O estudo das toxinas faz parte também de um ciclo evolutivo humano,


pois segundo o toxicologista e professor da Universidade da Califórnia, Takayuki
Shibamoto, tóxicos que uma vez “causaram doença e sofrimento devastadores à
humanidade, são atualmente empregadas como instrumentos para o estudo de
mecanismos básicos, e para o desenvolvimento de curas para doenças humanas
diversas, como hemorragia pós-parto, psicose e câncer” (SHIBAMOTO, 2014, p.
5). A toxicologia, portanto, estrutura-se de forma estreita aos vastos campos de
estudos da química e da biologia, em busca da compreensão específica dos efeitos
tóxicos.

Descoberto em cerca de 1500 a.C., o Papiro de Ebers é um dos documentos


mais antigos encontrado no Egito antigo e preservado até hoje, possui 110 páginas
e 20,3 metros de comprimento; mostrando entre outras coisas, como é possível
utilizar plantas medicinais como medicamento, trazendo um depositório de ervas
suficientes para o tratamento de algumas moléstias como a asma.

Tratamentos curiosos também eram difundidos no documento, como


amarrar um filhote de crocodilo no crânio, para curar a cefaleia, como vemos na
figura a seguir:

4
TÓPICO 1 — AS ESPÉCIES DE TÓXICOS

FIGURA 1 – OS TRATAMENTOS ANTIGOS E CURIOSOS

FONTE: Baptista (2003, p. 54)

Por consequência do uso de produtos tóxicos, descreve também o


manuseio da cicuta como veneno propriamente determinado ao uso de ceifar
vidas, bem como o acônito, utilizado em pontas de flechas dos guerreiros. Essa
substância era conhecida à época dos caçadores gregos como toxikon, daí a origem
da palavra toxicologia (OGA; CAMARGO; BATISTUZZO, 2008).

Também conhecidos naquela época, o ópio, chumbo e o cobre poderiam


ser utilizados de alguma maneira, tanto que a cicuta já era utilizada na Grécia
antiga como forma de envenenamento, causando a famosa e trágica morte de
Sócrates em 399 a.C., sentenciado a beber o liquido fatal. Nessa época, a morte
pela cicuta era uma forma de pena capital na Grécia (SHIBAMOTO, 2014).

Reza a lenda, que por volta de 75 a.C. Mitríades VI, rei do Ponto, território
hoje localizado na Turquia, desde criança tinha a obsessão por venenos e chegou
a ingerir pequenas quantidades de inúmeros tóxicos, desejando obter imunidade
contra eles, ao desenvolver resistência aos seus componentes. Ainda, segundo a
lenda, isso funcionou, pois certa vez foi capturado pelo rei inimigo e considerou
ingerir uma grande quantidade de veneno para não se fazer prisioneiro, mas não
conseguiu o efeito desejado. Daí o termo que usamos hoje para designar o uso de
doses significativas de toxinas no organismo, com a intenção de proteção contra
intoxicação causada por venenos diversos: o mitridato (SHIBAMOTO, 2014).

A Lex Cornlélia, criada pelo Imperador Cornélio, tinha o intuito de evitar


o envenenamento, muito comum na época de 82 a.C., tentando diminuir os casos
que se multiplicavam no Império Romano, de intoxicação e morte por venenos
dos mais diversos. No entanto, o que se viu foi o alastramento do uso desses
componentes nos anos que se seguiram, com Nero e Calígula.

5
UNIDADE 1 — TÓXICOS: ESPÉCIES E SEUS USOS

Philip von Hoheiheim, conhecido como Paracelso (1493-1541), fundou a


toxicologia, em um período às voltas com o surgimento do Renascimento, e é dele
a importante frase que se utiliza até os dias de hoje, formação do conceito básico
da toxicologia: “Todas as substâncias são venenos; não há nenhuma substância
que não seja um veneno. A dose certa é que diferencia o veneno de um remédio”
(SHIBAMOTO, 2014, p. 6).

Por volta de 1850, o início de uma era de uso de medicamentos


acompanhou a toxicologia experimental, e na década de 1900, com
a radioatividade e o uso de vitaminas diversas, alavancou o estudo
das poções retiradas de produtos químicos que passavam a ser
descobertos, testados e analisados, abrindo o caminho para a evolução
da toxicologia (PASSAGLI, 2018, p. 38).

Podemos definir toxicologia como a ciência que estuda os efeitos diversos


e nocivos que são decorrentes das interações e emprego de substâncias químicas
no organismo, a partir da exposição com o produto considerado e analisado
(SHIBAMOTO, 2014). Posta-se como grande desafio da toxicologia estabelecer
a segurança na utilização de substâncias químicas diversas, pois a resposta dada
pelos organismos, difere em muito um dos outros.

A toxicologia, portanto, é a ciência que estuda e verifica os efeitos


nocivos causados pelas substâncias químicas sobre os organismos vivos diversos
(ZAKRZEWSKI, 1994). Seus objetivos essenciais vão desde a identificação dos
riscos associados a alguma substância, e ao mesmo tempo, determinar em que
condições de exposição aos organismos esses riscos são ou foram induzidos
(SHIBAMOTO, 2014). Entretanto, ela não se vale apenas para a proteção dos
seres vivos e dos ambientes, ao analisar os efeitos causados pelas substâncias
que analisa, mas também estuda com intuito de desenvolver agentes químicos
considerados nocivos como pesticidas e drogas clinicas mais invasivas.

Através de suas análises há uma maior segurança para propiciar aos


manejadores de produtos, diversos métodos de ação diante da alta nocividade
dos produtos. Por interpretar os efeitos adversos das substâncias em organismos
vivos, tanto animais quanto humanos, e também quais os efeitos produzidos no
meio ambiente, as pesquisas e especializações dessa área são muito diversificadas
(KAASSEN, 2013).

Como são duas áreas que se envolvem em estudos sobre as propriedades


químicas e suas ações no organismo, a farmacologia e a toxicologia se distinguem.
Isso se dá, pois, a primeira irá analisar os efeitos considerados terapêuticos das
substâncias químicas, e como elas podem ser utilizadas com maior eficácia em
finalidades médicas diversas. Já a toxicologia, irá averiguar os efeitos adversos que
os organismos vivos estão propensos a correr em caso de contato com os produtos
químicos, ocorrendo o contrário então, da farmacologia (KAASSEN, 2013).

Os profissionais de toxicologia estão mais relacionados a medir o risco e


calcular a potencialidade de determinadas substâncias, através de ferramentas de
avaliação de risco.
6
TÓPICO 1 — AS ESPÉCIES DE TÓXICOS

DICAS

Prezado acadêmico! Veja que interessante entrevista da Conselheira do


Conselho Regional de Biomedicina, 5ª Região, de Porto Alegre (CRBM-5), Marina Venzon
Antunes, sobre a área da Toxicologia e sobre a sua carreira!

Toxicologia: à procura da dose perfeita


01-11-19

Você já deve ter ouvido que “a diferença entre o remédio e o veneno é a dose”. Pois essa é
uma variação popular da frase “a dose faz o veneno” do cientista Paracelso (1493-1541). Seja
qual for versão, as duas frases, de certa forma, resumem o conceito de toxicologia.
A toxicologia estuda a interação entre os compostos químicos e os seres vivos. Ao
observar esta relação, procura identificar em qual situação e em que quantidade a
substância química (seja ela natural ou sintética) começa a causar danos ao organismo.
Isso permite verificar não só quais são os efeitos adversos provocados por esta substância
como também estabelecer o uso seguro da mesma, além de desenvolver formas de
prevenção e de tratamento de contaminações.
A toxicologia tem um carácter multidisciplinar, pois relaciona-se com diversas outras áreas
tais como biologia, genética, fisiologia e farmacologia. Por isso, seu campo de atuação
também é bastante facetado. Alguns exemplos de linhas de atuação são a toxicologia
ambiental (que verifica o impacto de poluentes nos ecossistemas), a analítica (que
identifica fármacos ou drogas de abuso no sangue, saliva, cabelo e unhas, e auxilia no
desenvolvimento de tratamentos e prevenções de intoxicações), a ocupacional (que avalia
exposição dos trabalhadores a substâncias químicas) e a forense (que procura a presença
de agentes tóxicos em uma investigação criminal).
A conselheira do CRBM-5 Marina Venzon Antunes conta sua experiência na área, e
apresenta outras possibilidades de atuação para o biomédico habilitado em toxicologia.

– Como está o mercado para o biomédico nesta área?


Marina Antunes – É um mercado promissor. A demanda pela realização de exames
toxicológicos tem crescido nos últimos anos, como na realização de exames toxicológicos
ocupacionais e ambientais, além das análises toxicológicas em matriz capilar, que permitem
uma investigação retrospectiva do consumo de drogas devido a sua grande janela de
detecção, auxiliando na distinção entre história de consumo social ou abuso de substâncias
de forma crônica. No Brasil, o Conselho Nacional de Trânsito (CONTRAN) prevê exame
toxicológico realizado em cabelo, para aferir o consumo de substâncias psicoativas usadas
nos últimos 90 dias por motoristas profissionais.

– Quais características e habilidades o profissional deve ter para trabalhar nesta área?
MA – Assim como o profissional biomédico que atua em outras áreas, o biomédico
toxicologista deve, entre outros, prezar pela ética profissional, ser organizado, proativo,
manter-se constantemente atualizado, ter visão crítica, estar atento às inovações, ser
questionador.

– Qual o papel da toxicologia na saúde?


MA – A toxicologia tem um papel importante na promoção da saúde. Posso citar duas
áreas em que atuo: no monitoramento terapêutico de fármacos, buscando individualizar
o tratamento e, com isto, diminuir os riscos associados a terapia farmacológica; e também
nas análises toxicológicas ocupacionais, monitorando e minimizando o risco de toxicidade
em trabalhadores expostos às mais diversas substancias químicas no seu ambiente de
trabalho. Além destas, os estudos de toxicidade experimental são extremamente relevantes,
para levantar dados sobre potenciais riscos tóxicos de novas e já existentes substâncias.

7
UNIDADE 1 — TÓXICOS: ESPÉCIES E SEUS USOS

– Por que o interesse pela toxicologia? O que te atraiu?


MA – Durante a graduação realizei cursos e participei de congressos na área, que me
despertaram o interesse pela rotina do diagnóstico em análises toxicológicas. Tive
oportunidade de ingressar na pesquisa como acadêmica voluntária, o que foi essencial para
me aproximar e reconhecer-me na área. Enxerguei na toxicologia a oportunidade de atuar
no monitoramento terapêutico de fármacos, auxiliando na personalização do tratamento
farmacológico, buscando minimizar o risco de toxicidade ou mesmo de falha terapêutica em
pacientes com as mais diversas patologias.  Profissionalmente, atuei como responsável técnica
de laboratório prestador de serviços em análises toxicológicas na Feevale – universidade
em que, atualmente sou professora e pesquisadora -, onde pude desenvolver habilidades
relacionadas ao desenvolvimento e validação de métodos bioanalíticos. Esta é uma área de
grande inovação tecnológica, desafiadora em que nos deparamos com alta tecnologia.

– Em que pesquisa você está trabalhando no momento?


MA – Atualmente, em conjunto com o Hospital Municipal de Novo Hamburgo, estamos
realizando um estudo em que avaliamos o uso de substâncias psicoativas em vítimas
de trauma, de forma a contribuir para o entendimento da realidade atual sobre o uso de
álcool, drogas lícitas e ilícitas neste grupo de pacientes, levantando dados para fundamentar
ações em saúde pública de prevenção primária e secundária, reduzindo a mortalidade, a
morbidade e os custos desta doença.

FONTE: <http://crbm5.gov.br/toxicologia-a-procura-da-dose-perfeita/>. Acesso em: 16 jul. 2021.

Para que se avaliem os riscos, é importante então que se analise o potencial


de toxicidade que foi ingerida ou absorvida pelo organismo. E isso significa o
primeiro passo para os tratamentos diversos que podem salvar uma vida, em
caso de envenenamento.

2.2 TOXICIDADE
Se a dose certa é determinante para que se diferenciar o remédio ou o
veneno, conforme nos é explicado por Paracelso, então podemos definir qual a
quantidade excessiva de doses, ou o próprio potencial tóxico de uma substância,
que indicam sua toxicidade. E isso interpreta também a força de sua letalidade
perante o organismo afetado.

Dessa forma, toxicidade é a medida do potencial tóxico de uma substância,


analisada a partir de sua fórmula ou uso. Por ela é refletido o potencial do produto
que pode causar severos danos ao organismo vivo, detectando a quais tóxicos o
organismo foi exposto (SHIBAMOTO, 2014).

Essa análise é realizada pela avaliação da toxicidade, que irá compreender


todos os dados toxicológicos que uma substância química é composta, para enfim
classificá-la a fim de fornecer informações sobre os objetos avaliados (OLSON,
2013). Essa avaliação se perfaz em uma importância ímpar, quando diversos
componentes químicos possuem em suas fórmulas toxinas negativas, mas se
trabalhadas, podem se transformar em toxinas positivas, podendo ser utilizadas
medicinalmente no organismo humano.

8
TÓPICO 1 — AS ESPÉCIES DE TÓXICOS

Vamos agora considerar que a exposição a uma quantidade pequena


de um agente altamente tóxico pode ter pouca importância. Por
exemplo, a bactéria causadora do botulismo, o Clostridium botulinum, é
capaz de produzir quantidades fatais de toxina botulínica em produtos
enlatados que foram esterilizados de maneira inadequada. Essa toxina
bacteriana é uma das substâncias mais tóxicas conhecidas. No entanto,
a mesma toxina é utilizada terapeuticamente, por exemplo, para
tratar o colo espástico, e esteticamente na redução de rugas da pele
(SHIBAMOTO, 2014, p. 5).

O quadro a seguir demonstra as fases da toxicidade e suas classes que


variam conforme o produto e sua maior qualidade tóxica:

QUADRO 1 – CLASSE TOXICOLÓGICA


CLASSE I Extremamente tóxico Faixa Vermelha
CLASSE II Altamente tóxico Faixa Amarela
CLASSE III Medianamente tóxico Faixa Azul
CLASSE IV Pouco tóxico Faixa Verde
FONTE: O autor

A atividade de classificar mediante a potencial ameaça de intoxicação,


demonstrando através de cores que representam a força do produto serve como
uma advertência, que além de instrutiva, é também pedagógica, auxiliando na
identificação dos produtos mais tóxicos aos menos tóxicos. Há também o comum
símbolo encontrado em produtos de alta toxicidade, como agrotóxicos e até em
domissanitários, identificados por uma caveira com ossos cruzados.

Essa simbologia permite a interpretação dos produtos diversos, em qualquer


lugar do mundo, e é regulada pela diretiva de rotulagem de substâncias perigosas
realizada pela União Europeia, com intuito de padronizar mundialmente a mensagem.

QUADRO 2 – SINALIZAÇÃO DOS PERIGOS

9
UNIDADE 1 — TÓXICOS: ESPÉCIES E SEUS USOS

FONTE: Adaptado de https://bit.ly/3sdK4Ng Acesso em: 4 ago. 2021.

De acordo com os níveis de exposição ao produto químico, a toxicidade


pode ser aguda ou crônica.

A toxicidade aguda pode ser causada a partir de um curto espaço de tempo


de exposição ao produto, ou à administração de uma ou mais doses da substância
num período de 24 horas (BRITO, 1994). Segundo Barros e Davino (2003, p. 57),
“é considerada a dose única para determinar qual a potência da substância em
casos de ingestão ou envenenamento acidental, e as doses múltiplas para avaliar
os efeitos cumulativos”. Nesse sentido, é pela informação da dosagem inicial ou
recomendada que se identificam os casos possíveis a partir de uma superdosagem,
o que causa o envenenamento.

A toxicidade crônica resulta de repetidos e diários usos de uma


determinada substância, utilizando os dados de curto, médio e longo prazo. Esses
estudos são realizados para que se determinem os efeitos tóxicos após exposição
prolongada a doses cumulativas de alguma substância.

DICAS

O filme Erin Brockovich, uma mulher de talento, dirigido por Steven


Sodenbergh, lançado em 2000, com Julia Roberts, conta a história de uma determinada
técnica jurídica que descobre o que o cromo pode causar na saúde das pessoas. O cromo
(Cr) é um elemento químico usado em metalúrgicas. Para prevenir a corrosão dos canos
pelo tempo e pela passagem de água, uma empresa abastecedora de água de uma região
utiliza o material de forma ilegal, em grandes quantidades que se dispersam junto com o
líquido, utilizado pelas pessoas na comunidade. Muitas dessas pessoas estão doentes, e é aí
que entra a personagem principal. Importante destacar o uso de materiais que em grandes
quantidades podem ser considerados extremamente tóxicos, se consumidos.

Para Shibamoto (2014), sempre haverá o risco quando se trata do manuseio


e da estocagem de produtos químicos, principalmente daqueles em que suas
substâncias podem causar danos aos organismos.

Nesse sentido, o perigo é a capacidade que a substância tem em causar


algum efeito adverso, sendo armazenado ou manuseado; então determina-se o
risco, que é a probabilidade de o produto produzir danos, a partir de sua toxicidade
(SHIBAMOTO, 2014). Por esse motivo são importantes os Equipamentos de

10
TÓPICO 1 — AS ESPÉCIES DE TÓXICOS

Proteção Individual utilizados em empresas que lidam com produtos tóxicos,


pois o ambiente pode se tornar um propício diluente para que as substâncias
ajam no contato com o trabalhador, seja em sua estocagem (manuseio indireto),
ou em seu manuseio direto.

2.3 ESPECIALIDADES TOXICOLÓGICAS


Desenvolvida em vários ramos determinados pela sua especificação, a
toxicologia evoluiu muito desde suas origens e segue em crescimento, tendo em
vista as modernas tecnologias que suportam pesquisas em várias de suas áreas
especializadas.

Entre elas, destacamos as mais importantes ramificações da matéria, como


a toxicologia clínica, que previne, diagnostica e compõe o tratamento de pessoas
e animais expostos ao veneno, realizando sua função em clínicas e hospitais
(SHIBAMOTO, 2014).

Interligadas diretamente pelo seu objeto de estudo, a toxicologia de


medicamentos se destina aos remédios indicados aos tratamentos de algumas
doenças, mas que também tendem a causar efeitos colaterais e adversos em seus
pacientes, por inúmeros motivos. Esses efeitos são pesquisados e relatados para a
criação de novos fármacos que possam minimizar seus impactos nos tratamentos.

A toxicologia ambiental engloba o uso de agentes tóxicos na natureza e


qual a sua proporção intoxicante nos ambientes e nos organismos vivos. O impacto
dos poluentes químicos diversos no ecossistema, que influencia a vida natural de
diversos organismos componentes do ambiente é estudado pela ecotoxicologia,
que é a ramificação da toxicologia ambiental.

Muito importante por abranger estudos acerca da nossa segurança na


ingestão de alimentos, é a toxicologia alimentar, que analisa os diversos efeitos
adversos que são produzidos pelos produtos químicos dispersos em alimentos,
como os agrotóxicos. Essa área determina os organismos contaminantes em
alimentos produzidos ou processados pelo homem, enfocando nos efeitos tóxicos
de produtos diversos que podem estar presentes nos alimentos.

Para identificar e tratar de possíveis substâncias químicas presentes nos


ambientes de trabalho, geralmente realizados por atividades que permitem/
requerem alguma exposição ao produto, há a toxicologia ocupacional,
monitorando o ambiente bem como, o próprio trabalhador.

Para o professor Shibamoto a toxicologia regulatória identifica uma área


de estudos muito importante para a avaliação dos dados na tomada de decisões e
realização de protocolos de segurança:

11
UNIDADE 1 — TÓXICOS: ESPÉCIES E SEUS USOS

A toxicologia regulatória engloba a coleta, o processamento e a


avaliação de dados toxicológicos epidemiológicos e experimentais
para possibilitar a tomada de decisões baseadas na ciência e voltadas
para a proteção dos seres humanos contra os efeitos danosos de
substâncias químicas. Além disso, essa área da toxicologia auxilia no
desenvolvimento de protocolos padronizados e de novos métodos
analíticos para aprimorar continuamente a base científica dos
processos de tomada de decisões (SHIBAMOTO, 2014, p. 5).

Podemos avaliar, dessa forma, a toxicologia regulatória como uma forma


importante para os estudos das normas legais, quando desenvolve a avaliação
de informações diversas, que podem ser utilizadas pelo direito para avaliar a
legalização de determinados produtos que podem ou não ser aceitos. Junto à
toxicologia forense, formam o eixo de análises utilizadas pelo direito, na formação
de suas estruturações legais.

Outra área de imensa importância para o direito e para as investigações


criminais é a toxicologia analítica, pois é por ela que se identificam as substâncias
nocivas no organismo, por intermédio de exames diversos. Voltada a diagnosticar
e indicar tratamentos e prevenções das intoxicações, esse ramo consegue qualificar
e quantificar a substância absorvida pelo organismo, detectando também o
melhor tratamento, auxiliando a justiça nos casos de ingestão de drogas, quando
há overdoses que devem ser apuradas, ou crimes ocorridos sob a atuação de
determinada substância no corpo.

A toxicologia forense, envolve a busca por evidências que demonstram


a presença de substâncias químicas em investigações criminais, por meio de
análises biológicas na constatação do uso de drogas ou envenenamento, bem
como, determina o uso ilegal de agentes tóxicos. Portanto, podemos determinar
a toxicologia forense inserida no âmbito da toxicologia analítica, pois detecta a
partir de suas análises a quantificação de substâncias tóxicas em um organismo.

As substâncias mais tóxicas encontradas na tabela periódica, e que


conseguem uma rápida transformação do organismo atingido por intermédio
de sua ação, são os metais pesados. Consideram-se metais pesados aqueles que
possuem um número atômico elevado, que identifica a quantidade de prótons no
núcleo do átomo. Quanto mais prótons, mais mortal considera-se o elemento, isso
porque o átomo corresponde à menor porção que um elemento químico pode ser
dividido, e ainda, mantendo suas propriedades originais (AZEVEDO; CHASIN,
2003).

Situados na tabela periódica entre o Cobre e o Chumbo, veja quais são os


considerados mais mortais do mundo. Observe que quanto maior seu número
atômico, mais perigoso é o metal.

12
TÓPICO 1 — AS ESPÉCIES DE TÓXICOS

QUADRO 3 – METAIS PESADOS E CLASSIFICAÇÃO

FONTE: <http://www.ufrgs.br/lacad/toximetaispesados.html>. Acesso em: 16 jul. 2021.

13
UNIDADE 1 — TÓXICOS: ESPÉCIES E SEUS USOS

Pelo fato da força invasiva dessas substâncias químicas, utilizadas em


produtos de diversos usos e serventias, é necessária ampla e precisa atuação
dos órgãos responsáveis pela fiscalização. E é através da Divisão de Controle e
Fiscalização de Produtos Químicos (DCPQ) que a Policia Federal realiza e efetiva
o controle e fiscalização da fabricação, produção, armazenamento, compra,
venda, comercialização, importação e exportação, bem como do uso de produtos
químicos diversos, que podem também ser utilizados na elaboração de materiais
ilícitos, como as drogas de natureza sintética.

A Portaria nº 240, de março de 2019, estabelece os procedimentos para


o controle e fiscalização de produtos químicos, definindo também a atuação da
Policia Federal, que desenvolverá o controle dessas substâncias. Como veremos,
é a ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) que determinará o que se
considera droga ilícita, que não tem seu uso permitido.

DICAS

Indicação de livro: o professor titular de toxicologia da Universidade de São


Paulo (USP), Seizi Oga, lançou em conjunto com os professores Marcia Maria Camargo
e José Antônio Batistuzzo, o livro Fundamentos de Toxicologia. Lançado em 2008 pela
editora Atheneu, a obra já está em sua 4° edição, e é muito utilizada nas pesquisas acerca
do tema, por profissionais e estudantes da área.

No próximo tópico, nós iremos analisar os processos de intoxicação e a


partir deles, determinar quais são os efeitos tóxicos mais influentes no organismo,
causados pelos mais diversos componentes químicos utilizados, e que tem um
grande potencial de intoxicação.
14
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:

• Todas as substâncias são venenos; não há nenhuma substância que não seja um
veneno. A dose certa é que diferencia o veneno de um remédio, conforme nos
ensinou Paracelso.

• A toxicidade varia de acordo com os níveis de exposição ao produto químico,


podendo ser classificada pela avaliação da toxicidade como aguda ou crônica.

• São oito os ramos de especialização da toxicologia: toxicologia analítica,


toxicologia forense, toxicologia ocupacional, toxicologia regulatória, toxicologia
alimentar, toxicologia ambiental, toxicologia de medicamentos e toxicologia
clínica.

• Através da Divisão de Controle e Fiscalização de Produtos Químicos (DCPQ), a


Policia Federal realiza e efetiva o controle e fiscalização da fabricação, produção,
armazenamento, compra, venda, comercialização, importação e exportação e o
uso dos produtos químicos diversos.

15
AUTOATIVIDADE

1 Considerando as diversas áreas da toxicologia, cada uma influente


na verificação das análises da intoxicação, são reconhecidas como
especialidade toxicológicas para auferir métodos diversos, mas
especializados. A respeito dessas áreas específicas de investigação,
assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) A toxicologia regulatória, inserida no âmbito da toxicologia forense,


fornece subsídios para a regulação tanto do uso de substâncias diversas,
quanto métodos para confrontar sua toxicidade medicinalmente.
b) ( ) Toxicologia considerada como ocupacional é uma área de especialidade
que corresponde aos estudos nos ambientes profissionais diversos, que
podem ter contato com produtos químicos variados.
c) ( ) Venenos de animais peçonhentos não são analisados pelas especialidades
da toxicologia, uma vez essa área possuir sua própria definição em
estudos medicinais especializados.
d) ( ) Os alimentos, estudados pela toxicologia alimentar, enfocam seus
estudos na estocagem dos produtos, que devem ser realizadas distantes
de produtos consideravelmente tóxicos.

2 A simbologia padronizada pela União Europeia e utilizada em diversos


países, entre eles o Brasil, determina um aspecto pedagógico e visual para
a identificação dos produtos considerados tóxicos. Nesse sentido, analise
as questões:

( ) Não há necessidade em simbolizar elementos radioativos, pois estes não


são considerados a partir de sua toxicidade.
( ) A atividade de realizar a classificação serve como uma advertência, que
além de instrutiva é também pedagógica, auxiliando na identificação dos
produtos mais tóxicos aos menos tóxicos.
( ) Produtos domissanitários não possuem símbolos ou marcação diversa,
uma vez que o rótulo já indica os seus perigos e riscos.
( ) A simbologia permite a analise interpretativa das substâncias, realizadas
com intuito pedagógico e disciplinar.

Assinale a questão que identifique a sequência CORRETA:


a) ( ) F – V – F – F.
b) ( ) V – F – V – F.
c) ( ) F – V – F – V.
d) ( ) F – V – V – F.

3 Assinale a alternativa CORRETA:

I- Toxicidade aguda é resultante de repetições causadas em utilização diária e


constante de determinada substância.
16
II- A causa para a toxicidade aguda pode se dar em um curto espaço de tempo
a que o indivíduo fica exposto ao produto.
III- Os estudos de toxicidade crônica são determinantes para identificar os
efeitos tóxicos após exposição prolongada a doses cumulativas do produto.
IV- Tanto a toxicidade aguda ou crônica dependem do uso descomprometido
da substância tóxica em análise.

Estão corretas as questões:


a) ( ) Apenas a questão I está correta.
b) ( ) As questões I e II estão corretas.
c) ( ) As questões II e III estão corretas.
d) ( ) As questões III e IV estão corretas.

4 A necessidade de estudar a toxicologia surgiu devido ao crescente número


de materiais e produtos tóxicos existentes e criados pelo homem, capazes
de causar malefícios tanto ao organismo humano, quanto à natureza que
nos rodeia. Disserte sobre os ramos especiais da toxicologia e identifique
a importância de cada um deles:

5 Explique por que a toxicidade varia de acordo com os níveis de exposição


ao produto químico:

17
18
TÓPICO 2 —
UNIDADE 1

OS PROCESSOS DE INTOXICAÇÃO

1 INTRODUÇÃO
Prezado acadêmico! Neste tópico, nós iremos abordar quais são os
processos mais inerentes à intoxicação, para que possamos seguir nossos estudos a
respeito das drogas líticas e ilícitas. Nesse ínterim, entender como os componentes
diversos passam a agir no organismo através dos contatos, que podem ocorrer
de maneiras diversas, nos dão um grande respaldo quando o assunto exige o
domínio de determinados conceitos técnicos da área médica e biológica.

Por intermédio da classificação dos efeitos mais comuns no órgão humano,


o médico passa a entender antes mesmo da realização de exames diversos,
podendo assim agir preventivamente, tomando medidas ágeis para conter o mal
causado pela substância venenosa, antes mesmo dos resultados mais conclusivos
trazidos por exames especializados diversos.

É grande a importância em determinar a forma com a qual a intoxicação


foi causada, através de análises e investigações realizadas no pronto atendimento,
que costuma ser o primeiro contato do paciente com o profissional de saúde.

Seja bem-vindo a mais essa etapa de nossos estudos! Vamos lá!

2 A INTOXICAÇÃO
Diante dos diversos produtos químicos utilizados pelas sociedades,
a intoxicação passou a ser considerada, pela Organização Mundial da Saúde
(OMS), um problema de saúde pública de importância global. O número de
pessoas intoxicadas cresceu substancialmente, por determinados motivos, entre
eles o uso incipiente de remédios diversos, os tóxicos utilizados por empresas
alimentícias e de limpeza, e a comercialização criminosa de entorpecentes
(AZEVEDO; CHASIN, 2003).

Como vimos a toxicologia é considerada a “ciência dos efeitos adversos


de substâncias químicas sobre os organismos vivos” (BRUNTON, 2018, p. 25),
causados pelo contato com o material intoxicante. Entretanto, a partir das análises
qualitativas percebeu-se que a intoxicação pode ser causada por inúmeros
produtos, dispostos em qualquer lugar e de fácil acesso a todos.

19
UNIDADE 1 — TÓXICOS: ESPÉCIES E SEUS USOS

Neste tópico, veremos a principal classificação dos efeitos tóxicos diversos


causadas no organismo, bem como as formas mais comuns e analisadas pelos
cientistas a respeito da intoxicação.

2.1 CLASSIFICAÇÃO DOS EFEITOS TÓXICOS


Após a interação com o organismo, os produtos nocivos agem
quimicamente, alterando as funções normais do corpo. Mas os efeitos que cada
substância irá apresentar vai depender diretamente do organismo de cada um.
Assim, a intensidade dos efeitos dependerá de aspectos subjetivos da pessoa
exposta e do produto utilizado (AZEVEDO; CHASIN, 2003).

Podem-se classificar os efeitos a partir da quantidade de veneno e da


qualidade do organismo exposto, mas as características individuais do paciente
se perfazem em importantes informações para determinar as possibilidades
de efeitos mais fortes, causados pelo elemento tóxico. Entre elas, a idade, sexo,
estado de saúde, peso, e informações genéticas e médicas diversas são capazes de
informar a possibilidade de efeitos mais invasivos.

Entretanto, outras informações necessárias fazem parte do método de


análises e investigação médica, que intentam responder à quantidade de doses
ingeridas/absorvidas pelo organismo da substância química, o tempo que
durou o contato de exposição ao agente tóxico e qual a sua forma de entrada no
organismo (SHIBAMOTO, 2014).

Assim, obtemos quatro maneiras de classificar os efeitos tóxicos que
avaliam situações das quais são dependentes os diagnósticos médicos, na
confirmação do produto intoxicante em contato com o organismo e em seus
efeitos mais drásticos, a partir da manifestação de suas ações deletérias.

A classificação de acordo com o tempo de manifestação, pode ser


evidenciada por seus efeitos (SHIBAMOTO, 2014):

• Agudos: expõe a toxicidade através de sinais corpóreos, visíveis logo após a


exposição à substância.
• Crônico: após a exposição/intoxicação, os efeitos mais importantes são visíveis
após um determinado período de tempo, mas não logo após o contato.
• Efeito retardado: aqui há um período em que os efeitos se elaboram no
organismo, em um pequeno intervalo considerado latência, para demonstrar
seus efeitos principais.

Os efeitos também variam de acordo com o tipo de substância utilizada,


pois sua abrangência pode ser definida através do órgão atingido e manifestada
pelo seu adoecimento. Ocorre que algumas substâncias agem localmente, no
próprio local afetado no corpo, outras se distribuem pelo organismo, atingindo
órgão diverso daquele local de entrada no corpo.

20
TÓPICO 2 — OS PROCESSOS DE INTOXICAÇÃO

Assim é definida a classificação de acordo com a abrangência da atuação


do produto (SHIBAMOTO, 2014):

• Efeito local: ocorre no primeiro contato com o organismo, no caso de ações


causadas por substâncias corrosivas que causem queimaduras ou vermelhidão
local.
• Efeito sistêmico: aqui há necessidade de o produto percorrer o organismo,
atingindo algum órgão que defira do local do contato inicial.

Os danos ao organismo também são definidos pela ação do produto,


e por sua capacidade de invasão aos órgãos. Nesse sentido, são dois efeitos
produzidos que demonstram a classificação quanto à reversibilidade: ou o
órgão contaminado possui capacidade para regenerar-se, pois o dano não causou
tamanho prejuízo, sendo então possível a sua reestruturação natural ou por via de
remédios aplicados, ou então não é possível a regeneração do órgão afetado. Esses
efeitos são considerados reversíveis e irreversíveis, dispostos na classificação dos
efeitos tóxicos.

Há também a classificação feita de acordo com a interação de vários agentes


tóxicos com o organismo, que são considerados como (SHIBAMOTO, 2014):

• Efeito aditivo: o efeito da combinação de dois ou mais produtos no organismo,


é o mesmo da soma dos efeitos individuais dos agentes utilizados.
• Efeito sinérgico: o efeito da combinação dos agentes é ainda maior que a soma
do uso dos produtos tóxicos utilizados.
• Efeito potencializador: um agente tóxico, na interação com outro produto,
aumenta a toxicidade de ambas as substâncias utilizadas.
• Efeito antagônico: esse efeito ocorre quando as substâncias interferem na ação
uma da outra, invalidando-se e neutralizando-se, o que diminui o efeito ao
final; geralmente ocorre quando as substâncias possuem um menor potencial
de ofensividade ao organismo do paciente.

2.2 FORMAS DE INTOXICAÇÃO


A intoxicação pode ser ocasionada por duas formas: de maneira endógena
e exógena. Substâncias consideradas endógenas são produzidas pelo próprio
organismo, e purificadas pelo fígado, eliminadas pelos rins, tanto pelo suor,
quanto pela urina. A partir do momento que esses órgãos não conseguem realizar
sua ação depurante, temos a intoxicação endógena. Significa que o organismo
está produzindo em excesso algumas substâncias, como a ureia ou o líquido biliar
(OGA; CAMARGO; BATISTUZZO, 2008), causado por alguma disfunção desses
órgãos e ocasionando a intoxicação.

De outro lado temos a intoxicação exógena, motivada por produtos


nocivos exteriores ao organismo, e pode ocorrer por diversos fatores, entre eles,
pela inalação ou pelo contato direto com esses produtos (OGA; CAMARGO;

21
UNIDADE 1 — TÓXICOS: ESPÉCIES E SEUS USOS

BATISTUZZO, 2008). Essas intoxicações formam uma das principais causas de


atendimentos em emergências, pois a substância tóxica é capaz de desiquilibrar
fisiologicamente o organismo, através de perturbações bioquímicas que causam
sintomas diversos, podendo levar à morte. A intoxicação pode ser considerada
exógena aguda, quando há percepção de sinais e sintomas clínicos que se
demonstram alterados, devido à interação com a substância química (SANTOS;
CASTRO; TRIGO; KASHIWABARA, 2014).

Sintomas como a salivação e suor excessivos, hálito com forte odor, diarreia
e vômito, queda de temperatura, lesões na pele e até mesmo a inconsciência,
podem ser relatos que confirmam que uma pessoa pode estar passando por um
período de reprovação do organismo ao produto a que foi exposto; e esse é o
primeiro sintoma de uma intoxicação (OGA; CAMARGO; BATISTUZZO, 2008).

O uso de drogas e o contato direto com produtos, são grandes


destaques para a toxicologia, pois os agentes utilizados podem causar sintomas
diversos em pessoas diversas de forma diferente (SANTOS; CASTRO; TRIGO;
KASHIWABARA, 2014).

E
IMPORTANT

Veja, prezado acadêmico, que com a pandemia mundial da Covid 19, o número
de intoxicação aumentou, pelo uso prolongado de determinados produtos e pela própria
quarentena, identificando as crianças como grandes personagens de envenenamento
nesse período. Também destacamos algumas orientações, a fim de prevenção e cuidado
com o armazenamento de produtos altamente tóxicos, como os domissanitários (produtos
de limpeza):

Anvisa alerta sobre aumento de intoxicação por produtos de limpeza


A Agência pede mais atenção com as crianças
Publicado em 18/05/2020 - 08:06 Por Agência Brasil* - Brasília

A fim de reduzir os riscos à saúde causados pelo aumento da exposição tóxica por
produtos de limpeza no país, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) divulgou
a Nota Técnica (NT) 11/2020, que alerta a população sobre o crescimento dos casos de
intoxicação.
De acordo com a Anvisa, embora não haja informações que demonstrem o vínculo
definitivo entre a exposição e os esforços de higienização e desinfecção para evitar a
disseminação da covid-19, parece haver uma associação temporal com o aumento do uso
dos produtos.
O documento orienta também sobre o uso e o armazenamento adequados dos chamados
saneantes domissanitários, ou seja, os saneantes de uso domiciliar que contêm substâncias
ou preparações destinadas à higienização e à desinfecção.
A nota foi elaborada com base nos dados dos centros de Informação e Assistência
Toxicológica (CIATox). “Para se ter uma ideia do crescimento dos casos de intoxicação,
de janeiro a abril deste ano os CIATox receberam 1.540 registros de intoxicação devido a
produtos de limpeza envolvendo adultos, um aumento equivalente a 23,3%, comparado ao
mesmo período de 2019, e de 33,68%, com relação a 2018”, informa a Anvisa. 

22
TÓPICO 2 — OS PROCESSOS DE INTOXICAÇÃO

Crianças
No que se refere às crianças, foram registrados 1.940 casos, um aumento de 6,01% e de
2,7%, em relação a 2019 e 2018, respectivamente. De acordo com a Agência, os números
mostram que os acidentes domésticos envolvendo exposição tóxica a substâncias químicas
são mais frequentes com o público infantil e, portanto, há necessidade de dispensar mais
cuidados às crianças.

Orientações básicas
1- Mantenha os produtos de limpeza fora do alcance de crianças e animais. Esses produtos
podem atrair a atenção principalmente de crianças pequenas, entre 1 e 5 anos de idade.
2- Evite o armazenamento desses produtos em recipientes diferentes e não etiquetados. 
3- Supervisione as crianças, não permitindo que elas acessem os ambientes onde esses
produtos são guardados.
4- Não deixe detergentes e produtos de limpeza em geral embaixo da pia, ou no chão dos
banheiros.
5- Leia e siga as instruções descritas no rótulo de cada produto.
6- Evite a mistura de produtos químicos.
7- Garanta a ventilação quando manusear um desses produtos destinados à limpeza,
higienização e desinfecção.
8- Inutilize as embalagens vazias. Isso porque elas sempre ficam com resíduos, ou seja,
restos dos produtos. Jogue fora as embalagens vazias, preferencialmente valendo-se do
sistema de coleta seletiva, de modo a separá-las do lixo orgânico.
9- Em caso de emergências toxicológicas, não provoque vômito. Tenha em mãos o número
do Centro de Informação e Assistência Toxicológica, o CIATox: 0800-722-6001.

FONTE: <https://bit.ly/3AZOA5t>. Acesso em: 12 jul. 2021.

São consideradas substâncias mais comuns, encontradas nos exames em


pacientes intoxicados e que se apresentam nas unidades de emergência médica:

• Produtos químicos utilizados em limpeza doméstica e de laboratórios.


• Venenos utilizados nas residências, como raticida e aerossóis diversos.
• Entorpecentes e medicamentos em geral.
• Alimentos deteriorados.
• Gases tóxicos.

Todos esses casos fazem parte da intoxicação exógena, que será visto no
livro didático ao considerar o uso das drogas lícitas e ilícitas.

Dentre as vias de intoxicação de substâncias externas ao organismo, é


considerada principal a via respiratória, por apresentar possibilidades imensas
para a entrada do produto nocivo ao corpo, levando a nocividade para todos
os órgãos como pulmões e para a circulação sanguínea, afetando o cérebro
(DALL’ACQUA; ROSSI; COUTO; MOREIRA, 2011).

É pela via cutânea (pele), que os agentes nocivos podem encontrar a entrada ao
nosso corpo, disseminando através do tato e do contato com o maior órgão do corpo
humano, toda sua potencialidade. A via oral ou digestiva representa um grande risco
à saúde por conta da ingestão de produtos diversos, na intoxicação alimentar ou no
próprio uso de entorpecentes (DALL’ACQUA; ROSSI; COUTO; MOREIRA, 2011).

23
UNIDADE 1 — TÓXICOS: ESPÉCIES E SEUS USOS

O processo de intoxicação é dividido em quatro partes: a fase de exposição,


a toxicocinética, a fase toxicodinâmica e por último, a fase da exibição.

Já a fase toxicocinética, é aquela onde há a resposta direta do organismo


contra o tóxico invasor, fazendo funcionar toda a defesa até a eliminação dos
componentes através das vias respiratórias, pela pele ou pelo trato intestinal.
Essa é a primeira relação entre o organismo e a droga, numa tentativa de repelia
do intoxicante (DALL’ACQUA; ROSSI; COUTO; MOREIRA, 2011).

A fase toxicodinâmica representa o momento em que a substância, em


sua interação com o organismo, provoca modificações nas estruturas moleculares,
causando feridas ou comichão, inchaço ou vermelhidão em locais diversos da
epiderme. Essa fase representa a intoxicação, caracterizando-a externamente.

A quarta e última fase é conhecida por exibição, que é a confirmação


do problema por intermédio dos resultados clínicos e das análises laboratoriais
diversas, com a confecção dos exames necessários para identificar a causa da
intoxicação (DALL’ACQUA; ROSSI; COUTO; MOREIRA, 2011).

Para facilitar o desempenho dos profissionais médicos no atendimento


e nas identificações das inúmeras causas que existem de intoxicação, alguns
sinais e sintomas podem demonstrar o ocorrido, a partir de sua análise inicial
e superficial (SHIBAMOTO, 2014). Isso é muito importante para que se possa
dar o primeiro passo no tratamento, que requer a retirada dos componentes
químicos do corpo o mais célere possível. As análises seguem o rigoroso método
científico, determinando as interpretações para o problema, que mesmo após
de determinada sua causa, ainda podem ser variadas (DALL’ACQUA; ROSSI;
COUTO; MOREIRA, 2011).

O quadro, a seguir, demonstra determinados sinais que podem evidenciar


o tipo de intoxicação:

QUADRO 4 – PRINCIPAIS SINAIS E SINTOMAS DE INTOXICAÇÃO


Envenenamento por Envenenamento por Envenenamento por
ingestão contato inalação
Queimaduras, lesões ou Manchas na pele Respiração rápida
manchas nos lábios
Odores na respiração, corpo, Coceira Tosse
roupas.
Comichão e vermelhidão
Hálito com odor diferente Olhos irritados
intensa
Suor excessivo Irritação nos olhos Visão turva
Pigarro e salivação
Queixa de dor ao engolir Dores de cabeça excessiva
Temperatura da pele Sintomas gerais variam
Queixa de dor abdominal aumentada conforme o veneno inalado.
Náuseas, vômitos diarreia Dores nos olhos -
Sonolência, falta de reflexos Dores atrás dos olhos -

24
TÓPICO 2 — OS PROCESSOS DE INTOXICAÇÃO

Dores no musculo do
Convulsões -
pescoço
Alterações na pulsação,
respiração e temperatura - -
corporal
Aumento ou diminuição das - -
pupilas
FONTE: Adaptado de Klaassen e Watkins (2012).

No caso de intoxicação confirmada, a primeira ação deve ser ocupar-se


da manutenção das funções de vida do paciente. Muitos acidentes acontecem
envolvendo produtos domissanitários, mesmo dentro das casas, e as principais
vítimas são as crianças pequenas (SHIBAMOTO, 2014). O quadro a seguir
demonstra as orientações gerais em casos de intoxicação diversa:

QUADRO 5 – ORIENTAÇÕES GERAIS


Intoxicação por Intoxicação por
Orientações gerais Intoxicação pela pele inalação ingestão
Remover a vítima Lavar o local Remover a vítima Não provocar
para local arejado abundantemente para local arejado vômito
Lavar os olhos
Afrouxar as vestes durante 15 minutos e Não realizar boca a Não oferecer água
cobrir com pano sem boca
pressionar
Não deixar a
vítima sozinha, o Não esfregar o local Encaminhar ao Não oferecer leite
perigo de asfixia médico
aumenta
Não usar álcool ou
Deixar a vítima Não oferecer
medicamento a base
confortável líquido algum
de etileno
Transportar a
vítima em posição Encaminhar para
lateral para evitar serviço médico
o engasgar com
possível vômito
FONTE: <https://bit.ly/3CUABPO>. Acesso em: 12 jul. 2021.

A descontaminação deve ocorrer o mais rápido possível, por profissionais


médicos, ao determinar a possível causa do envenenamento. Algumas técnicas
como a indução de vômito, lavagem do conteúdo gástrico e sondagem nasogástrica,
utilizam o carvão ativado e produtos laxativos (DALL’ACQUA; ROSSI; COUTO;
MOREIRA, 2011), por esse motivo, o encaminhamento ao médico deve ser feito no
primeiro contato com a pessoa intoxicada; uma vez que produtos desintoxicantes
somente podem ser encontrados e manuseados por profissionais da saúde, nesses
casos.

25
UNIDADE 1 — TÓXICOS: ESPÉCIES E SEUS USOS

Segundo dados do IBGE, os medicamentos, os animais peçonhentos e os


produtos domissanitários são os principais causadores da intoxicação no país,
mas ainda existem outros produtos causadores de envenenamento, como os
agrotóxicos (IBGE, 2012). O Brasil, segundo IBGE (2012), é o país que mais se
utiliza desse produto no mundo, e são considerados como muito perigosos, na
classificação que vai desde pouco perigosos a altamente perigosos.

No tópico por vir, vamos nos concentrar no estudo das drogas, tanto
aquelas consideradas lícitas, quanto ilícitas. E veremos qual é o tratamento
normativo para esse tema que tanto traz discussões diversas, perfazendo-se em
uma grande temática na atualidade.

26
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:

• A classificação, de acordo com o tempo de manifestação, pode ser por seus


efeitos: agudos, crônicos e retardado.

• Os danos ao organismo também são definidos pela ação do produto e por sua
capacidade de invasão aos órgãos; esses danos são considerados reversíveis e
irreversíveis, dispostos na classificação dos efeitos tóxicos.

• Há uma classificação feita de acordo com a interação de vários agentes tóxicos


com o organismo, que são considerados como: efeito aditivo, efeito sinérgico,
efeito potencializador e efeito antagônico.

• A intoxicação pode ser ocasionada de duas formas: de maneira endógena e


exógena.

• O processo de intoxicação é dividido em quatro partes: a exposição, a fase


toxicocinética, a fase toxicodinâmica e a exibição.

• Para facilitar o desempenho dos profissionais médicos no atendimento e nas


identificações das inúmeras causas que existem de intoxicação, alguns sinais
e sintomas podem demonstrar o ocorrido a partir de sua análise, ainda que
inicial e superficial.

27
AUTOATIVIDADE

1 Quanto aos danos ao organismo, causados pela ação de produto invasivo


com sua capacidade tóxica considerada danos, assinale a questão que
indique a alternativa CORRETA:

I- São irreversíveis os eventos causados por produtos tóxicos a partir de


seus efeitos, entretanto, não dispõe de classificações próprias para essa
indicação.
II- São reversíveis aqueles danos causados por substância tóxica onde o órgão
se determina pela sua incapacidade de regeneração.
III- Efeito potencializador demonstra que a combinação de produtos
potencialmente invasivos no organismo aumenta a toxicidade de todos os
produtos utilizados.
IV- O efeito antagônico prevê que os produtos utilizados, por seu menor
potencial ofensivo, são anulados no organismo.

Está CORRETA a questão:


( ) As questões II e IV estão corretas.
( ) As questões II e III estão corretas.
( ) As questões I e III estão corretas.
( ) As questões III e IV estão corretas.

2 Quanto ao tempo de manifestação dos sinais ou efeitos após a intoxicação,


e, seguindo os ensinos das classificações referentes à análise, assinale F
para Falso e V para Verdadeiro:

( ) Os efeitos podem variar conforme a substância utilizada, podendo a


intoxicação atingir apenas determinado órgão ou todos os órgãos..
( ) Os efeitos agudos consideram a toxicidade através da exposição, quando
são visíveis após um período de tempo.
( ) Considera-se efeito agudo, aquele que expõe a toxicidade através dos
sinais visíveis logo após à exposição.
( ) O efeito que retarda a aparecer no organismo demonstra um tempo de
manifestação diferente, uma vez que logo após o contato é possível sua
visualização, após o período de dormência.

Assinale a alternativa que indica a assertiva CORRETA:


a) ( ) F – V – F – V.
b) ( ) F – V – F – F.
c) ( ) F – V – V – V.
d) ( ) V – F – V – F.

28
3 A respeito dos principais sintomas de intoxicação, responda à questão
CORRETA:

( ) Como não há um método de análises para a verificações de possíveis


causas de intoxicação, é importante que a desintoxicação ocorra o quanto
antes.
( ) O paciente envenenado por ingestão, usualmente apresenta queimaduras
e manchas nos lábios.
( ) Manchas na pele não são capazes de demonstrar qual forma de
envenenamento, mas sua avaliação é fundamental para o início do
tratamento.
( ) O envenenamento por inalação é representado pela temperatura
aumentada do organismo, como primeiro sintoma.
( ) Comichão e coceira indicam o sintoma essencial causado pela ingestão de
produtos tóxicos, conforme estudamos acima.

4 Podemos observar que os produtos domissanitários são causadores de


um número grande de intoxicação, principalmente pela sua facilidade
de aquisição, sua maneira de estocagem e armazenamento e seu uso
contínuo nas residências. As crianças são as principais vítimas desses
produtos, bem como, pessoas que se utilizam deles não se atentando ao
seu alto grau de invasividade no organismo humano. Como você acredita
que podemos lidar melhor com esse problema?

5 Sabemos que pode ocorrer a intoxicação endógena e a intoxicação


exógena, e que uma difere da outra. Disserte sobre as suas diferenças,
apontando exemplos de cada uma:

29
30
TÓPICO 3 —
UNIDADE 1

AS DROGAS

1 INTRODUÇÃO
Acadêmico, no Tópico 3, iremos abordar o universo das drogas; e você já
sabe, que todo fármaco produzido e vendido nas farmácias espalhadas mundo
afora, é considerado droga. Tanto que antigamente costumava-se chamar as
farmácias de drogarias. Mas não são apenas remédios, considerados drogas
lícitas, que possuem uma interação com o organismo, podendo alterar algumas
de suas funções.

O álcool, o açúcar, a cafeína e a nicotina também são capazes de,


dependendo da quantidade absorvida pelo organismo, causar disfunções em
órgãos diversos. Mas ainda assim, novas drogas surgem, com efeitos psicoativos
explosivos e muito tóxicos, podendo transformar não apenas o organismo, mas
também, todos ao redor que convivem com seu uso.

As drogas ilícitas, algumas tão fortes quanto as consideradas lícitas,


portanto mais invasivas, e outras com seus componentes menos ativos, são
usadas desde tempos antigos. Ocorre que na modernidade, a expansão dos
produtos químicos e o uso de novas drogas com a propensão de recreação, são
consideradas pelas normas legais como crime, e ainda assim, há o crescimento do
envolvimento com essas substâncias químicas.

Assim, importante passo que damos é reconhecer quais drogas são


consideradas ilícitas ou lícitas, e qual autoridade possui a atividade de classificá-
las. Somente com esse conhecimento podemos interpretar o que é considerado
droga para a legislação atuante nessa matéria.

Em um terceiro e último momento, veremos, neste tópico, como a


legislação penal brasileira foi se alterando com o passar dos anos, até chegar à Lei
nº 11.343/2006, que regula o caso das drogas. Estudaremos, então, os pontos mais
importantes para a área da segurança pública, da norma em vigor nos dias atuais.

Vamos lá!

31
UNIDADE 1 — TÓXICOS: ESPÉCIES E SEUS USOS

2 DROGAS CONSIDERADAS LÍCITAS


A intoxicação por medicamentos é algo muito comum. Remédios vendidos
em farmácias, indicados pelo médico responsável, possuem qualidades químicas
que diferem entre si pela alta quantidade de componentes diversos, que agem no
organismo através de doses referenciadas. Caso essas doses sejam maiores que a
quantidade indicada, então podemos ter a intoxicação.

Entretanto, o uso descontrolado de medicamentos é base da nossa


sociedade atual, causa da sociedade contemporânea, fluída e fragmentada, a
partir de seus medos, receios e angústias, das quais o sociólogo polonês Zygmunt
Bauman versa em toda a sua obra escrita (BAUMAN, 1998). A automedicação
passa a ser o carro chefe no consumismo de remédios, e mesmo o menos influente
medicamento pode causar dependências (SHIBAMOTO, 2014), assim como
outros produtos não considerados pela indústria farmacêutica, como o álcool e o
cigarro.

A junção entre fármacos e álcool, dependendo da dose e da quantidade de


bebida ingerida, pode causar a morte. Então temos dois produtos legais perante a
legislação, e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), detentores de
fatores químicos causadores de instabilidades no organismo humano.

Remédios são separados por tarjas, ou rótulos que os identificam como


mais ou menos invasivos, a partir de sua fórmula, o que intenta assegurar o uso
de medicamentos por quem realmente tem a necessidade da medicação. É função
da ANVISA a definição e aplicação desses rótulos, que os identifica pelas cores:
amarelas (identificadora dos produtos genéricos), tarja vermelha (indicadora da
necessidade de prescrição médica) e tarja preta (receitas médicas específicas para
o uso do medicamento).

Existem ainda os remédios sem tarja, reconhecidamente os de uso popular


sem necessidade de prescrição médica, menos invasivos, mas ainda assim, se
usados em altas doses podem causar dependência ou intoxicação.

DICAS

No site https://www.gov.br/anvisa/pt-br, da ANVISA, você encontra


informações sobre drogas e fármacos lícitos e ilícitos considerados pela agência, e também,
as informações acerca das vacinas diversas produzidas no País.

32
TÓPICO 3 — AS DROGAS

Lembre-se de que, como vimos, o que diferencia o remédio e o veneno é a


dose usada. Portanto, medicamentos diversos, para inúmeros fins também podem
causar um mal maior ainda, do que aquele que inicialmente pretendiam combater.
Veja no quadro a seguir a identificação das tarjas diversas em medicamentos,
definidas a partir de sua potencialidade no corpo humano:

QUADRO 6 – TABELA DE TARJAS EM MEDICAMENTOS


Sem tarja Tarja vermelha Tarja preta Tarja amarela
São os Estes possuem a Conhecidos como Indica aquele
medicamentos inscrição “Venda psicotrópicos, remédio
isentos de sob prescrição somente devem considerado
prescrição: médica”. São os ser vendidos genérico.
analgésicos, anticoncepcionais, com receituário
antiácidos, xaropes, antifúngicos, especial, por causar
antigripais, para hipertensão etc. dependência.
cefaleia, entre Podem causar Possuem
outros. efeitos colaterais e ação sedativa,
contraindicações geralmente
variadas. antidepressivos e
estimulantes.
FONTE: Adaptado de <https://bit.ly/3yT9mmn>. Acesso em: 3 ago. 2021.

Além dos remédios, outras drogas são consideradas drogas lícitas a partir
de sua composição química, e são capazes de obter uma interação não saudável
com o organismo. A Organização Mundial de Saúde (OMS), avalia e define
que droga é toda substância natural ou sintética, capaz de causar dependência
psicológica ou orgânica, a partir de seu uso. A organização também considera
essa situação um problema da saúde (OMS, 2021).

A rica e inigualável cana-de-açúcar que se transforma, após inúmeras


melhorias, no açúcar branquinho e refinado que utilizamos à mesa, é um dos
produtos mais tóxicos para o coração, aumentando o colesterol, alimentando
células que vêm a possuir enorme possibilidade de se transformarem em
cancerosas, entre outras situações, sendo um produto que se consome diariamente,
causador de malefícios no caso de seu uso irregular (SHIBAMOTO, 2014).

O álcool também é uma droga lícita, que possui um poder muito forte em
sua relação de dependência com o usuário, e na causa de problemas de saúde e
sociais diversos. Considerada uma droga com alto potencial ofensivo, a partir de
sua disseminação pelo organismo, consegue causar disfunções em vários sentidos
do ser humano.

Dados da OMS, datados de 2018, nos demonstram que os jovens são


grandes consumidores desse produto, e na tenra idade entre 15 e 19 anos, no
mundo todo, 25,6% dessa faixa etária consumiram álcool de alguma forma. O
número no Brasil, segundo a organização, é semelhante e segue a taxa de 26,8%

33
UNIDADE 1 — TÓXICOS: ESPÉCIES E SEUS USOS

de jovens consumidores do produto. Os números impressionam, quando jovens


dessa mesma faixa etária estão na estatística da organização como potenciais
viciados na droga, perfazendo o número de 13,9% das pessoas dessa idade,
enquanto no Brasil esse índice alcança os surpreendentes 15% (OMS, 2018).

Esse número preocupa quando pessoas mais jovens podem apresentar


reações contrárias a um saudável desenvolvimento cerebral, e seu uso precoce
pode causar além de uma dependência prematura, consequências inibidoras da
evolução dos lobos frontal e temporal, interligados diretamente à cognição e à
memória. Dessa forma, o consumo nocivo do produto pode vir a causar déficits
cognitivos interferindo na retenção das ideias, no aprendizado e na memória; o
que interfere na tomada de decisões, no controle físico e psicológico, e no próprio
uso do raciocínio.

Veja no quadro a seguir, a porcentagem de álcool inserida nos produtos


etílicos diversos. Esse número determina a capacidade, maior ou menor, de
problemas causados no organismo, já nos primeiros contatos.

QUADRO 7 – PORCENTAGEM APROXIMADA DE ETANOL EM ALGUNS PRODUTOS

FONTE: CVS do Estado de São Paulo (2017, s.p.)

Agora veja, prezado acadêmico, a quantidade de teor alcoólico das bebidas


mais conhecidas e comercializadas:

34
TÓPICO 3 — AS DROGAS

QUADRO 8 – O TEOR ALCOÓLICO DAS BEBIDAS MAIS COMERCIALIZADAS

FONTE: <https://bit.ly/3yQda88z>. Acesso em: 4 ago. 2021

Outra droga lícita, que também vem causando muitos estragos desde
os tempos mais antigos, é o cigarro. Instrumentalizador da nicotina, o produto
potencializa os efeitos da droga natural, juntando-os aos inúmeros produtos
químicos utilizados em sua produção, inalados diretamente ao pulmão através
das vias respiratórias. Segundo Varella (2011), a nicotina é uma substância
alcaloide, existentes em plantas e fungos, e que pode ser localizada em folhas de
tabaco que têm sua origem nas Américas do Sul, Central e Norte.

Ao ser absorvida, atinge o cérebro em poucos segundos e depois segue se


dissolvendo pelo sangue. Ao contato com os neurônios pode provocar sensação
de bem-estar, entretanto, quando seus receptores pressentem que a substância
está se esvaindo, há a provocação de um alto grau de ansiedade, o que caracteriza
a compulsão pelo produto (VARELLA, 2011).

Veja o uso de solventes, acetona, ou de cola de sapateiro, como um


exemplo influente do uso de drogas lícitas, disponíveis no mercado. Aqui há a
transformação de produtos químicos comuns no uso diário, para causadores
de sensações diversas. Os efeitos da exposição à substância podem ser
devastadores, geralmente utilizadas por jovens, crianças em situação de risco e
alta vulnerabilidade e adolescentes.

Segundo análises da Fiocruz (2021), esses produtos provocam tontura,


zunido nos ouvidos e formigamento dos membros, fazendo com que o coração
se torne sensível à adrenalina, e num movimento mais brusco, podem ocorrer
ataques cardíacos. Frequentemente grande parte dos jovens fazem ou já fizeram
uso dessa substância, de maneira esporádica e na curiosidade, experimentam.
Todavia, o que pode ocorrer é a pulsão pelo efeito, que seja mais prolongado e
prazeroso, o que pode fazer com que esses jovens busquem outras drogas mais
fortes.

35
UNIDADE 1 — TÓXICOS: ESPÉCIES E SEUS USOS

Pelas estatísticas trazidas pelo sítio de informações da Fiocruz, cerca 14%


dos jovens já utilizaram o produto. A curiosidade fica por parte de uma pesquisa
realizada na rede particular de ensino, que revelou um resultado importante para
se determinar o perfil do usuário: cerca de 20% dos alunos dessas instituições
alegam já ter utilizado um desses produtos, e isso nos demonstra que não são
unicamente os jovens de classes consideradas mais baixas, ou de situação de risco
e de rua, os usuários desse potencial e letal produto (FIOCRUZ, 2021).

A partir do momento em que estão liberadas certas drogas, como os


remédios, ou por exemplo a emblemática ritalina, que deve apenas ser utilizada
por aquela pessoa que precisa da droga, reconhecida a partir de análises clínicas
de seu médico, a responsabilidade passa a ser exclusivamente da pessoa que, sem
ordem médica passa a usá-la.

De toda forma, certas drogas como analgésicos e antiácidos entraram


para o rol de medicamentos utilizados numa forma de aceitação social, mesmo
que administrando sua posologia em pequenas quantidades, ainda assim se
considera droga. Nesse sentido, os produtos tóxicos liberados que se vendem nas
farmácias são aqueles que mais podem viciar o sujeito, pois uma vez utilizados
sem nenhum preconceito, contraindicação ou referência negativa, voltarão a ser
utilizados na maioria dos casos (BECKER, 2015).

Assim, os remédios e drogas psicotrópicos são produtos regulamentados


e comercializados, sejam depressivas ou estimulantes, mas que ainda assim
possuem o poder de perturbar o sistema nervoso central, são mais comuns do
que pensamos, uma vez que alguns deles podem ser encontrados até mesmo em
gôndolas de mercados:

Entre as [drogas] depressivas, encontramos o álcool etílico, os


inalantes anestésicos, os tranquilizantes, os sedativos e os narcóticos;
na categoria dos estimulantes, encontram-se as anfetaminas, os
anorexígenos, a cocaína, a cafeína, a nicotina e os antidepressivos;
na categoria dos perturbadores, encontram-se os alucinógenos, os
derivados da Cannabis e o Tetrahidrocanabinol (THC), assim como os
produtos voláteis (BEAUCHESNE, 2015, p. 25).

Esses produtos diversos concorrem junto com as drogas consideradas


ilícitas, mas muitos deles ainda possuem um alto potencial de dependência,
presentes nas prateleiras das farmácias e mercados espalhados mundo afora, ao
alcance de todos.

3 DROGAS CONSIDERADAS ILÍCITAS


Quando falamos em ilícito lembramos de algo fora da lei, ou alguma
situação típica aos códigos penais e a sua normatividade. Algo ilícito enseja a
discussão e o debate dos motivos que o tornam ilícito, por exemplo, matar
alguém. Aqui há o crime: de todos, o mais bárbaro, elencados em nosso Código

36
TÓPICO 3 — AS DROGAS

Penal. Mas quando há a normatização dos hábitos pessoais dos indivíduos, como
o uso de drogas que podem ser causadoras de um mal irreversível ao organismo
humano, existe o ânimo do Estado em diminuir os problemas diversos causados
pelos entorpecentes, e entre eles, a saúde e a violência.

As drogas ilícitas podem causar dependência tanto quanto o álcool e


a nicotina, como vimos anteriormente; mas elas também são capazes de gerar
laboratórios para a criação de substâncias mais potenciais, causadoras de danos
que podem ser mortais.

Segundo dados da Fiocruz, a cocaína é uma substância produzida e


enriquecida em laboratório, que pode causar danos ao tecido cerebral, e à
inteligência e cognição. Ocorre que a droga em questão gera certa tolerância ao
produto, sendo aceita cada vez mais pelo organismo, a partir de doses concentradas.
Para um maior estímulo, é preciso doses maiores, e isso torna a substância muito
perigosa. Nas estatísticas, “cerca de 40% dos usuários se tornam dependentes da
droga, sendo que 2% já a experimentaram, alguma vez” (FIOCRUZ, 2021, p. 1).
Da mesma forma é o produto conhecido como ecstasy:

Efeitos: as sensações imediatas são de euforia e perda de inibições.


Depois o corpo sofre com a queda de pressão e ânsia de vômito.
Uso contínuo: O corpo do usuário fica "acostumado" e, é necessário
aumentar as doses cada vez mais para sentir os efeitos. Devido
as oscilações de euforia e melancolia, podem levar a depressão.
O ecstasy é uma droga muito usada em casas noturnas de músicas
eletrônicas e devido as etapas de consumo, mais atividade física
por tempo prolongado, o perigo é ainda maior, pois a droga eleva a
temperatura do corpo e pode levar a morte.
Estatísticas: Não há estatísticas do uso entre os jovens brasileiros, mas
as constantes apreensões policiais mostram o uso crescente (FIOCRUZ,
2021, p. 1).

Umas das drogas mais influentes e usadas no mundo é a maconha.


Howard Becker, sociólogo de Chicago, afirma em seus estudos que o uso dessa
droga é muito comum entre jovens que necessitam confirmar seu lugar em seus
grupos, sendo aceitos aqueles que estão abertos a uma nova experiência com a
droga.

Por ser uma droga de fácil acesso, muitos desses jovens já fizeram seu uso,
dentro de seus grupos. Para o sociólogo, há uma grande possibilidade do jovem
nunca mais voltar a experimentar a droga, pois a indisposição e o desprazer após
os primeiros usos são capazes de fazer com que a pessoa nunca mais retorne à
substância. Subjetivamente, as concepções apreendidas são de que o produto não
atingiu o que prometia ou que a instabilidade causada no organismo não vale
uma segunda tentativa. Além desses temores, a convivência com a família e os
termos morais repartidos com os seus parentes, tornam o primeiro encontro após
o uso trágico de forma que não valha o risco (BECKER, 2015).

37
UNIDADE 1 — TÓXICOS: ESPÉCIES E SEUS USOS

Ainda, o fornecimento da droga geralmente é realizado por traficantes


conhecedores de seu ofício na distribuição de drogas ilícitas, o que se torna mais
difícil às pessoas que não estão envolvidas com grupos que usam drogas, obterem
o produto (BECKER, 2015). Becker (2015, p. 237) ainda afirma que:

Nenhuma pessoa continuou com o uso de maconha para prazer sem


aprender uma técnica que fornece suficiente dosagem para os efeitos
da droga aparecer. Somente quando isso aconteceu, aprendi que era
possível uma concepção da droga como um objeto que poderia ser
usado por prazer surgir. Sem essa concepção o uso de marihuana
(maconha) foi considerado sem sentido e não continuou.

Segundo a Fiocruz (s.d.), sobre seus estudos acerca da maconha:

Efeitos: Os efeitos são relativos. Em alguns usuários provoca euforia,


já em outros provoca angústia. No geral, a maconha proporciona um
relaxamento que pode levar a perda da noção do tempo e espaço.
Uso contínuo: As consequências podem ser distúrbios psicológicos,
como depressão, ansiedade e até síndrome do pânico. Um jovem
adolescente se torna apático e pode se tornar um adulto imaturo.
Estatísticas: Cerca de 1,1% faz o uso constate da maconha, sendo que
7,6% já experimentou.

Então, você pode notar que as drogas ilícitas são assim consideradas por
lei, e sua produção e venda ilegal são estimuladas pelo tráfico de drogas, um
crime que se organiza cada vez mais. No próximo tópico iremos analisar como o
direito se sobrepõe diante disso tudo, em suas normas mais importantes sobre o
tema drogas.

ATENCAO

Operação Heisenberg: liberando o mal e as drogas sintéticas

O sucesso da série Breaking Bad revela algumas questões interessantes para o estudo do


Direito no sentido de penalizar as pessoas por seus atos entendidos como crime, liberando,
de fato, o mal que existe de forma ameaçadora àquilo considerado como “bem” para a
sociedade.
De toda forma, a situação principal percebida como crime era a transformação de produtos
químicos em droga alucinógena, com demasiado poder de dependência, devido ao fundir
químico de certos componentes; alguns deles presentes em remédios vendidos nas
farmácias do dia a dia.
A transformação e enriquecimento da potente droga, considerada sintética por sua natureza
mixada, dava-se ao subtrair inúmeros componentes de algumas drogas psicoativas, como
antidepressivos e ansiolíticos, ou seja, eram criadas de forma mecânica aumentando a dose
de determinados ativos.
Essas substancias possuem, por essência, a capacidade de entreter o cérebro causando
alucinações diversas, e, dependendo do produto utilizado com mais ou menos veemência,
as ilusões ganham ou perdem sua força. No entanto, drogas sintéticas são um risco não
apenas à natureza humana e sua cognição que revela a realidade e a perda dela, mas

38
TÓPICO 3 — AS DROGAS

também, quando são utilizados compostos químicos que possuem em sua estrutura
variadas fontes químicas que se chocam entrando em desacordo, quando deveriam estar
em harmonia.
Destarte, um remédio utilizado para desobstruir vasos sanguíneos com intuito de passagem
do sangue ao coração com maior fluxo não deve ser prescrito em conjunto a outra droga
que interfere no organismo de forma contraria, explicitando os antagonismos entre si.
Grosso modo, o remédio para enxaqueca não deve ser ministrado em conjunto ou próximo
ao remédio para dores físicas e musculares, uma vez que um possui a negativa do outro.
Tratando-se de drogas com menor potencial de ofensividade ao organismo, nesse caso, as
duas soluções entrariam em desacordo e se anulariam, a princípio.
No entanto, diversos remédios que determinam o funcionamento de órgãos vitais para
a saúde, como rins, coração e cérebro, por exemplo, também possuem um poder muito
maior de penetração nos sentidos e nos reclames oriundos dos pacientes, que se utilizam
dessas drogas para uma melhor e mais saudável perpetuação de vida.
A mistura de componentes antagônicos e potentes é capaz de provocar, além do delírio
e alienação, problemas físicos como a parada de órgãos vitais para a vida; dessa forma
muito se encontram casos em que o usuário de drogas sintéticas teve em seus primeiros
sintomas o colapso de determinado(s) órgão(s), geralmente avaliado em necropsia. De
forma contraria aos medicamentos de pequeno impacto, aqui essas não se anulam.
Assim o é a metanfetamina, muito utilizada em alguns países anos atrás com intuitos
terapêuticos, mas que passou a ser banida devido ao seu devastador impacto no organismo.
Por outro lado, as anfetaminas, que possuem em seu cerne o efeito estimulante, auxiliam
pessoas que precisam de atenção em suas atividades, bem como, manter-se acordados.
As drogas semissintéticas, como o crack e heroína, são das mais devastadoras conhecidas
em uso e sua dependência é dinâmica. Soldados feridos em combate e viciados após
longos tratamentos nos anos sessenta por morfina, passam a utilizar drogas que relativizem
os efeitos da morfina.
A pasta de cocaína, que se ouve ser apreendida em diversos casos de operação policial, é o
tesouro do tráfico pois dela deriva após manuseio, o Oxi e a Merla, entre outras drogas que
substancialmente emanam do pó produzido pela folha de coca.
A revolução de Heisenberg foi transformar os remédios, sintéticos por definição, separando
seus componentes ativos, ou seja, aqueles causadores de ilusão, dormência, perda de
ansiedade, antidepressivos, e juntá-los em um coquetel altamente puro em suas raízes,
mas viciante ao extremo, como a morfina.
Analisando a conduta, certamente Heisenberg, como produtor daquilo que vicia causando
dependência e possivelmente a morte, deve ser vista de acordo aos propósitos do
personagem, que era especificamente o lucro, custe o que custar, em detrimento de uma
ordem estabelecida pelo não uso de medicamentos proibidos ao grande público, por
questão de saúde pública e geral.
Destarte, era Heisenberg o criminoso de fato, aquele que propicia e fabrica, e, além de tudo,
vende, distribui e altera os rótulos dos produtos de forma sistêmica ao juntá-los a outros
tão potentes quanto. Esse sim, deve ser tratado pelo direito das penas, pois ameaça as
estruturas saudáveis que existem na engenhosa máquina humana.
Todavia, o problema das drogas é revelado em Breaking Bad de forma mínima, uma vez não
ser esse o intuito do programa; mas sim, demonstrar o que situações como a frustração, a
iminente morte e o medo podem causar a uma mente dinâmica e engenhosa como a de
Heisenberg.
Trazendo à realidade, nota-se o problema ser tratado de forma exaustiva pelo Direito Penal,
quando esse nada entende de vícios, tanto induzidos quanto causados por uma vontade
própria, penalizando doentes e pessoas dependentes com um rigor até muitas vezes maior
do que trata os grandes traficantes e os grandes fabricantes desses produtos em geral, tão
nocivos à vida humana.

FONTE: FERREIRA, I. K. Crime, arte e literatura. Porto Alegre, Ed. Canal Ciências Criminais,
2019, p. 105.

39
UNIDADE 1 — TÓXICOS: ESPÉCIES E SEUS USOS

3.1 TRATAMENTO NORMATIVO DAS DROGAS NA


LEGISLAÇÃO NACIONAL
As drogas são tratadas pela legislação brasileira pela Lei Especial nº
11.343/2006, mas até chegar a esse momento, passaram por inúmeras mudanças
no decorrer do século XX. O Decreto n° 11.481/2015 foi por onde o Brasil aderiu de
maneira formal às resoluções da Conferência Internacional do Ópio, configurando
a política nacional quanto ao tema drogas (BATISTA, 1997).

Com relação à legislação anterior, no país, as Ordenações Filipinas, em seu


Código Criminal de 1830 destacam o regulamentar das substâncias venenosas,
mas sem nenhuma coerência pragmática para tratar do assunto drogas ilícitas
(BATISTA, 1997).

Mas, a primeira lei especifica sobre o tema foi sancionada pelo então
presidente Epitácio Pessoa, em julho de 1921. O Decreto nº 4.294 era composto
por 13 artigos que estabelecia penalidades aos contraventores na venda de
cocaína, ópio, morfina e seus derivados; “criou um estabelecimento especial para
internação dos intoxicados pelo álcool ou substâncias venenosas; estabeleceu
as formas de processo e julgamento e mandou abrir os créditos necessários”
(DIÁRIO OFICIAL DA UNIÃO, 1921, p. 13407). Já em 1940, ao editar-se o Código
Penal, ficou tipificado o crime de tráfico e de posse de entorpecentes, que passou
a ser punido de um a cinco anos, explicitando os crimes contra a saúde pública a
partir de então.

No ano de 1964 foi adicionado o verbo plantar, e em 1968 foram adicionadas


as ações preparar ou produzir, entretanto, as mesmas penas desses verbos seriam
aplicadas a quem trouxesse drogas para uso próprio. Época em que aumentaram
consideravelmente as prisões relacionadas aos entorpecentes, de acordo com o
IBGE.

Entre o período de 1961 até 1974, aumentou-se o número de presos no


país de 21.047 para 28.486, representando um aumento significativo de 35%.
Ainda informa o IBGE que, nesse mesmo período, os cativos por envolvimento
com as drogas, seja pelo uso ou pela comercialização ilegal, tiveram um aumento
exponencial de 649 para 1611, num crescimento de 148%. (IBGE, 1961 e 1974).
Mas foi em 1976 com a Lei nº 6.368 que, ainda que penas diferentes tenham sido
tratadas para traficantes e usuários, se tornando mais brandas para esses últimos
personagens, o país efetivou uma guerra às drogas com punições severas a quem
com elas estivesse envolvido.

Toda essa forma de política criminal e de criminalização, inclusive do


usuário ou do doente viciado em entorpecentes, era compatível com a política
norte-americana do presidente Richard Nixon (eleito em 1969, renunciando em
1974), quando em 1971 declarou os entorpecentes o inimigo mais importante do
seu país, criando uma política de tolerância zero (CARVALHO, 2014).

40
TÓPICO 3 — AS DROGAS

Em 1980 foi criado o Sistema Nacional de Prevenção, Fiscalização


e Repressão de Entorpecentes, normatizando o Conselho Nacional de
Entorpecentes, o COFEN, transformado no Conselho Nacional Antidrogas e a
Secretária Nacional Antidrogas em 1998, com a intenção de reformular o tema
para aperfeiçoar uma política de drogas genuinamente nacional, o que se fez em
2002 com a Política Nacional Antidrogas (BRASIL, 2021).

A Lei nº 11.343/2006 institui a nova política pública sobre drogas


prescrevendo diversas medidas para a prevenção ao uso indevido de entorpecentes,
trazendo entre seus principais destaques a diferenciação hermenêutica entre
usuário e traficante, o que se insere também na forma de punição entre um e outro.
Mas veja que de 1976 até a alteração mais contundente, em 2002, foram mais de
20 anos com a aplicação de uma política que efetivava a tolerância zero, mesmo
nos casos de usuários e doentes viciados, muito diferentes que os verdadeiros
criminosos que são os traficantes de drogas, em nível profissional.

Com a norma de 2006, em vigor nos dias atuais, mesmo com suas
imperfeições, ela consegue estabelecer uma nova forma de enxergar o problema
com as drogas, principalmente diferindo traficantes de usuários. Também faz
distinção entre o traficante de peso, considerado profissional do tráfico, com o
pequeno traficante, identificado como traficante eventual, prevendo sanções
menos severas. Ao dependente químico pode ser imposto tratamento médico
com a intenção de atenuação de alguma pena. De toda forma, tanto no Brasil
quanto em países diversos, o fato é que normas mais severas não conseguem
sucesso em sua função pedagógica de diminuição do tráfico de drogas, entretanto,
noutro sentido, normas e penalizações mais amenas podem incentivar o crime
organizado que se sustenta na impunidade (BATISTA, 1997).

Somente políticas públicas de qualidade voltadas para a educação, saúde


e crescimento coletivo da sociedade, em prol da promoção humana, podem
realmente ser capazes de incentivar a diminuição constante do tráfico e do uso
de drogas.

3.2 A CONSTITUIÇÃO DE 1988 E AS DROGAS


O caso das drogas é tratado com muita ênfase na Constituição Federal
de 1988, quando em seu artigo 5°, inciso XLIII, há a equiparação do tráfico ilícito
de entorpecentes aos crimes hediondos. Estes são inafiançáveis e insuscetíveis
de graça ou anistia, considerando um dos crimes mais prejudiciais para todo o
âmbito social no País, pois trata-se de afronta e ameaça direta à saúde nacional.

O artigo 144, que trata da defesa do Estado e das Instituições Democráticas,


especificamente sobre a normatização da Segurança Pública, no Capítulo III,
atribui como órgão essencial para a prevenção e o combate ao crime que se
organiza a partir das drogas, a Polícia Federal, em seu parágrafo primeiro:

41
UNIDADE 1 — TÓXICOS: ESPÉCIES E SEUS USOS

1º  A polícia federal, instituída por lei como órgão permanente,


estruturado em carreira, destina-se a:
II  -  prevenir e reprimir o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas
afins, o contrabando e o descaminho, sem prejuízo da ação fazendária
e de outros órgãos públicos nas respectivas áreas de competência
(BRASIL, 2002, p. 137) (Grifo nosso).

3.3 A LEI Nº 11.343/2006


No Brasil, é a ANVISA, conforme vimos, que determina quais são as
substâncias consideradas ilegais, e que, fazem parte do objeto do tráfico ilegal de
entorpecentes, a partir de sua comercialização ilícita. Portanto, importante passo
da normatização especializada sobre o assunto é considerar drogas as substâncias,
ou os produtos capazes de causar dependências, “assim especificados em lei ou
relacionados em listas atualizadas periodicamente pelo Poder Executivo da União”
(BRASIL, 2006, s.p.), conforme artigo 1°, parágrafo único da normatização. Dessa
forma, podemos entender que as previsões da lei de drogas possuem fundamento
na Portaria n° 344/1998 da ANVISA, que determina o que é entorpecente ou não.

DICAS

Você pode estudar a portaria 344, de maio de1998, que determina e aprova
o regulamento técnico da Vigilância Sanitária, acerca das substancias e medicamentos
sujeitos ao controle especial no site: https://bit.ly/3COlJTc .

Podemos observar que a lei de drogas atual estabelece um conteúdo


inovador, sendo um marco contemporâneo da dogmática jurídico penal, ao
flexibilizar a repressão expressiva da sua norma antecessora (PONTAROLLI,
2019). Entretanto, algumas críticas são constantes por boa parte da doutrina,
como a indefinição da lei quanto a sua própria interpretação do que seria
droga, transferindo ao Estado a responsabilidade e a possibilidade de auferir
seus aspectos conceituais. O aumento da pena para os crimes de tráfico não
traz distinção objetiva entre consumo e tráfico, o que pode gerar a seletividade
dos agentes envolvidos, ampliando os níveis de encarceramento por falta de
hermenêutica e pela ambiguidade.

Isso porque a lei traz em seu bojo artigos que definem tanto usuário
quanto traficante, mas que duplicam condutas que podem ser caracterizadas
tanto como uma coisa ou outra: Art. 28. “Quem  adquirir,  guardar,  tiver em
depósito, transportar ou trouxer consigo, para consumo pessoal, drogas sem
autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar será
submetido às seguintes penas [...]” e artigo Art. 33. “Importar, exportar, remeter,

42
TÓPICO 3 — AS DROGAS

preparar, produzir, fabricar,  adquirir, vender, expor à venda, oferecer,  ter em


depósito, transportar, trazer consigo,  guardar, prescrever, ministrar, entregar
a consumo ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem autorização ou
em desacordo com determinação legal ou regulamentar...” (grifo nosso), que
tentam definir usuário e traficante, respectivamente. Os verbos que se repetem
são núcleos da sentença que influenciam a caracterização, tanto de um quanto de
outro, a partir das perspectivas dos agentes envolvidos. Não havendo diferença
entre os dois tipos resta a ambiguidade que carreia a realidade e os atos dos
envolvidos para a repressão, que se utilizam dessa lacuna para, arbitrariamente
determinar o uso ou o tráfico e assim definir o usuário muitas vezes como
traficante (FERREIRA, 2020).

Seguindo o artigo 28, em seu parágrafo segundo, “para determinar se a


droga se destinava a consumo pessoal, o juiz atenderá à natureza e à quantidade
da substância apreendida, ao local e às condições em que se desenvolveu a ação,
às circunstâncias sociais e pessoais, bem como à conduta e aos antecedentes do
agente” (BRASIL, 2021).

Dessa forma, é fato que moradores de áreas pobres e consideradas de


risco pela segurança pública, são mais facilmente cooptados pela persecução
policial que jovens usuários que possuem uma situação financeira melhor. Ao ser
flagrado em periferia onde o tráfico é constante, o morador usuário desses locais
pode ser apontado como o traficante. A subjetividade existente dos mínimos
critérios expostos que constituem em definição entre usuário e traficante colabora
com a seletividade do sistema penal (MALAGUTI, 2003). Isso porque a norma
define tanto usuário quanto traficante da mesma forma.

Os critérios apontados para a definição entre usuários e traficantes são


seletivos, uma vez que para a determinação da droga para uso pessoal deve o
magistrado atentar ao “local e às condições em que se desenvolveu a ação”, bem
como, às “circunstâncias sociais e pessoais ou à conduta e aos antecedentes do
agente” (BRASIL 2021). O que determina uma interpretação evasiva carreada
de distinções subjetivas, medos e ideologias (FERREIRA, 2020). Nesse sentido,
preleciona Malaguti (2003, p. 134):

A visão seletiva do sistema penal para adolescentes infratores e a


diferenciação no tratamento dado aos jovens pobres e aos jovens
ricos, ao lado da aceitação social que existe quanto ao consumo de
drogas, permite-nos afirmar que o problema do sistema penal não é a
droga em si, mas o controle específico daquela parcela da juventude
considerada perigosa.

Vamos a partir de agora, analisar os pontos mais importante da Lei nº


11.343/2006, os quais tipificam os crimes e normatizam as penas, e ao combate
ao tráfico ilícito de entorpecentes, a partir da criminalização de suas condutas,
iniciando com o título Dos crimes e das penas, apresentados no Capítulo III da
lei. Note o quadro de comentários, que explica um por um dos artigos da norma:

43
UNIDADE 1 — TÓXICOS: ESPÉCIES E SEUS USOS

QUADRO 9 - DOS CRIMES E DAS PENAS, CAPÍTULO III DA LEI Nº 11.343/2006


CAPÍTULO III
Comentários
DOS CRIMES E DAS PENAS
Art. 27. As penas previstas neste Capítulo Os delitos contidos nesse capítulo são
poderão ser aplicadas isolada ou tratados de maneira diferente de outros
cumulativamente, bem como substituídas desvios relatados pelo Código Penal.
a qualquer tempo, ouvidos o Ministério Aqui não há pena privativa de liberdade,
Público e o defensor. sendo vedada o seu uso. Ao usuário de
drogas, outra modalidade de sanção deve
ser imposta, diferenciando da época de
uma tolerância zero que aplicava as mais
diversas sanções, também ao viciado.
Art. 28. Quem adquirir, guardar, tiver Note que as sanções previstas no artigo
em depósito, transportar ou trouxer 28 são despenalizadoras, aplicadas
consigo, para consumo pessoal, drogas geralmente ao usuário de drogas. Trata-se
sem autorização ou em desacordo com de crime de perigo coletivo, uma vez que é
determinação legal ou regulamentar exposta a saúde da coletividade, que pode
será submetido às seguintes penas: I - ser evidenciada ao dano maior. A diferença
advertência sobre os efeitos das drogas; II é o verbo vender. Aqui não há a presença
- prestação de serviços à comunidade; III da comercialização ou mesmo da produção
- medida educativa de comparecimento à da droga, o que é realizada pelos traficantes
programa ou curso educativo. considerados profissionais e pelo crime
§ 1º Às mesmas medidas submete-se quem, organizado. São penas restritivas de direitos
para seu consumo pessoal, semeia, cultiva para o usuário, no sentido pedagógico,
ou colhe plantas destinadas à preparação instrutivo e educacional, que servem para
de pequena quantidade de substância ou advertir sobre os efeitos das drogas no
produto capaz de causar dependência organismo, bem como, para demonstrar
física ou psíquica. que esse caminho pode levar, tanto ao
§ 2º Para determinar se a droga se destinava vicio quanto a uma carreira criminosa. A
a consumo pessoal, o juiz atenderá à tolerância da lei aqui é importante para o
natureza e à quantidade da substância tratamento do vício, o que antes ocorria
apreendida, ao local e às condições em que de forma contraria, quando se prendia
se desenvolveu a ação, às circunstâncias o usuário em celas junto aos detentos de
sociais e pessoais, bem como à conduta e crimes diversos.
aos antecedentes do agente.
§ 3º As penas previstas nos incisos II e III Preferencialmente, os serviços comunitários
do caput deste artigo serão aplicadas pelo serão realizados em centros de recuperação
prazo máximo de 5 (cinco) meses. e reestabelecimento da saúde de viciados
§ 4º Em caso de reincidência, as penas em drogas, ou em centros que exercem a
previstas nos incisos II e III do caput deste atividade educativa em escolas e institutos
artigo serão aplicadas pelo prazo máximo diversos.
de 10 (dez) meses.
§ 5º A prestação de serviços à comunidade
será cumprida em programas comunitários,
entidades educacionais ou assistenciais,
hospitais, estabelecimentos congêneres,
públicos ou privados sem fins lucrativos,
que se ocupem, preferencialmente, da
prevenção do consumo ou da recuperação
de usuários e dependentes de drogas.
§ 6º Para garantia do cumprimento das
medidas educativas a que se refere o caput,
nos incisos I, II e III, a que injustificadamente
se recuse o agente, poderá o juiz submetê-
lo, sucessivamente a: I - admoestação
verbal; II - multa.

44
TÓPICO 3 — AS DROGAS

§ 7º O juiz determinará ao Poder Público


que coloque à disposição do infrator,
gratuitamente, estabelecimento de saúde,
preferencialmente ambulatorial, para
tratamento especializado.
Art. 29. Na imposição da medida educativa Aqui o juiz atenta-se à culpabilidade do
a que se refere o inciso II do § 6º do art. agente e a reprovabilidade da sua conduta,
28, o juiz, atendendo à reprovabilidade fixando então o número de dias multa,
da conduta, fixará o número de dias- conforme o artigo nos explica, levando em
multa, em quantidade nunca inferior a consideração sempre o salário mínimo da
40 (quarenta) nem superior a 100 (cem), época dos fatos.
atribuindo depois a cada um, segundo a A multa será depositada em conta utilizada
capacidade econômica do agente, o valor para o combate nacional às drogas,
de um trinta avos até 3 (três) vezes o valor operado pelo Fundo Nacional Antidrogas,
do maior salário mínimo. em diversas políticas públicas no setor.
Parágrafo único. Os valores decorrentes da
imposição da multa a que se refere o § 6º do
art. 28 serão creditados à conta do Fundo
Nacional Antidrogas.
Art. 30. Prescrevem em 2 (dois) anos A perda do poder punitivo pelo Estado
a imposição e a execução das penas, prescreve em dois anos, o que significa que
observado, no tocante à interrupção do se ele não exercitar seu direito punir nesse
prazo, o disposto nos arts. 107 e seguintes prazo, não poderá mais fazê-lo. Essa regra
do Código Penal. segue também o disposto no artigo 107
do Código Penal, que traz como atividade
prescritiva para os crime de drogas a “morte
do agente; a retroatividade de lei que não
mais considera o fato como criminoso; e,
a prescrição, decadência ou perempção”
(BRASIL, 2008).
FONTE: O autor

O Título IV da Lei de Drogas evidencia a repressão à produção não


autorizada e ao tráfico ilícito de drogas, regrando proibitivamente a preparação
ou produção de drogas e a extração da matéria prima essencial para a sua
produção.

Assim, o artigo 31 prevê a licença para transportar essa matéria, uma vez
que é comum o uso de algumas de suas substâncias pela indústria farmacêutica,
para a produção de remédios legalizados:

É indispensável a licença prévia da autoridade competente para


produzir, extrair, fabricar, transformar, preparar, possuir, manter em
depósito, importar, exportar, reexportar, remeter, transportar, expor,
oferecer, vender, comprar, trocar, ceder ou adquirir, para qualquer
fim, drogas ou matéria-prima destinada à sua preparação, observadas
as demais exigências legais 9 (BRASIL, 2006, Art. 31).

Já o artigo 32 desse mesmo título invoca os procedimentos empregados


na destruição das plantações ou laboratórios que se destinam ao tráfico, ou
produção das drogas a serem comercializadas, devendo ser destruídas de forma

45
UNIDADE 1 — TÓXICOS: ESPÉCIES E SEUS USOS

imediata, pela autoridade competente: a polícia judiciária. Essa deverá colher o


suficiente para que ateste, em laudos periciais, a compleição química da substancia
apreendida, seja ela natural ou química:

As plantações ilícitas serão imediatamente destruídas pelo delegado


de polícia na forma do art. 50-A, que recolherá quantidade suficiente
para exame pericial, de tudo lavrando auto de levantamento das
condições encontradas, com a delimitação do local, asseguradas as
medidas necessárias para a preservação da prova; § 3º Em caso de ser
utilizada a queimada para destruir a plantação, observar-se-á, além
das cautelas necessárias à proteção ao meio ambiente, o disposto no
Decreto no 2.661, de 8 de julho de 1998, no que couber, dispensada
a autorização prévia do órgão próprio do Sistema Nacional do Meio
Ambiente – Sisnama. § 4º As glebas cultivadas com plantações ilícitas
serão expropriadas, conforme o disposto no art. 243 da Constituição
Federal, de acordo com a legislação em vigor (BRASIL, 2006, Art. 32).

Passaremos a analisar agora o Capítulo II da Lei nº 11.343/2006, que tipifica


os crimes e as condutas ilegais, interligadas ao tráfico de drogas:

QUADRO 10 – DOS CRIMES, CAPÍTULO II DA LEI Nº 11.343/2006


CAPÍTULO II
Comentários
DOS CRIMES
Art. 33. Importar, exportar, remeter, Trata-se do crime de tráfico de drogas
preparar, produzir, fabricar, adquirir, propriamente dito, em todas as suas fases
vender, expor à venda, oferecer, ter em e possibilidades e condutas consideradas
depósito, transportar, trazer consigo, ilegais, quando em conluio ao tráfico,
guardar, prescrever, ministrar, entregar mas não à posse para uso próprio. A
a consumo ou fornecer drogas, ainda que ação penal é oferecida pelo Ministério
gratuitamente, sem autorização ou em Público, através da manifestação e
desacordo com determinação legal ou externalização do crime, realizada pela
regulamentar: investigação criminal. O principal ente
Pena - reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze) tutelado é a saúde pública e os produtos
anos e pagamento de 500 (quinhentos) a ilegais possíveis de ensejar dependência
1.500 (mil e quinhentos) dias-multa. física ou psíquica, através do manuseio,
§ 1º Nas mesmas penas incorre quem: importação, venda, guarda, depositar,
I - importa, exporta, remete, produz, transportar, semear, cultivar, entre
fabrica, adquire, vende, expõe à venda, os verbos trazidos pela norma, estão
oferece, fornece, tem em depósito, tipificados como crime de tráfico de
transporta, traz consigo ou guarda, ainda drogas.
que gratuitamente, sem autorização ou
em desacordo com determinação legal ou
regulamentar, matéria-prima, insumo ou
produto químico destinado à preparação
de drogas;
II - semeia, cultiva ou faz a colheita,
sem autorização ou em desacordo com
determinação legal ou regulamentar, de
plantas que se constituam em matéria-
prima para a preparação de drogas;

46
TÓPICO 3 — AS DROGAS

III - utiliza local ou bem de qualquer


natureza de que tem a propriedade, posse,
administração, guarda ou vigilância, ou
consente que outrem dele se utilize, ainda
que gratuitamente, sem autorização ou
em desacordo com determinação legal
ou regulamentar, para o tráfico ilícito de
drogas.
IV - vende ou entrega drogas ou matéria-
prima, insumo ou produto químico
destinado à preparação de drogas, sem
autorização ou em desacordo com a
determinação legal ou regulamentar, a
agente policial disfarçado, quando presentes
elementos probatórios razoáveis de conduta
criminal preexistente.     
§ 2º Induzir, instigar ou auxiliar alguém ao
uso indevido de droga:        
Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, e
multa de 100 (cem) a 300 (trezentos) dias-
multa.
§ 3º Oferecer droga, eventualmente e
sem objetivo de lucro, a pessoa de seu
relacionamento, para juntos a consumirem:
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 1 (um)
ano, e pagamento de 700 (setecentos) a 1.500
(mil e quinhentos) dias-multa, sem prejuízo
das penas previstas no art. 28.
§ 4º Nos delitos definidos no caput e no § 1º
deste artigo, as penas poderão ser reduzidas
de um sexto a dois terços, desde que o
agente seja primário, de bons antecedentes,
não se dedique às atividades criminosas
nem integre organização criminosa.     
Art. 34. Fabricar, adquirir, utilizar, Aqui o legislador equipara as condutas
transportar, oferecer, vender, distribuir, realizadas pelo agente com a própria
entregar a qualquer título, possuir, conduta do traficante de drogas
guardar ou fornecer, ainda que profissional, uma vez que sem os objetos
gratuitamente, maquinário, aparelho, descritos no tipo, não haveriam drogas a
instrumento ou qualquer objeto destinado ser comercializadas. Assim, o crime pode
à fabricação, preparação, produção ou ser praticado por qualquer pessoa, mesmo
transformação de drogas, sem autorização aquela que não faz parte do crime de
ou em desacordo com determinação legal tráfico que se organiza. Apenas guardar
ou regulamentar: o maquinário, ou até mesmo pequenas
Pena – reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) anos, quantidades de matéria prima para o
e pagamento de 1.200 (mil e duzentos) a produtor, já incide na pena trazida pela
2.000 (dois mil) dias-multa. norma ao lado. Pode haver o concurso
de delitos, quando o agente causa dois
ou mais desses tipos descritos na norma,
aumentando assim a sua pena.

47
UNIDADE 1 — TÓXICOS: ESPÉCIES E SEUS USOS

Art. 35. Associarem-se duas ou Aqui o sujeito passivo, ou quem está


mais pessoas para o fim de praticar, sendo acometido pelo crime, é a sociedade
reiteradamente ou não, qualquer dos e a saúde pública é o objeto jurídico
crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1, e que a norma visa tutelar. Como o crime
34 desta Lei: pode ser praticado por qualquer pessoa,
Pena – reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) anos, reconhecemos nele o crime comum. Ao
e pagamento de 700 (setecentos) a 1.200 associarem-se duas ou mais pessoas,
(mil e duzentos) dias-multa. com intuito de praticar qualquer um dos
Parágrafo único. Nas mesmas penas do crimes dispostos nos artigos 33 e 34, então
caput deste artigo incorre quem se associa temos a conduta típica da associação. É
para a prática reiterada do crime definido necessário, porém, o vínculo para a ação,
no art. 36 desta Lei. que configure uma conduta reiterada pela
vontade livre e consciente de agir. Assim
sendo, os elementos essenciais para o
crime previsto nesse artigo são a reunião
de duas ou mais pessoas e o vínculo entre
elas para efetivar o tráfico, tendo sua ação
penal pública incondicionada, ou seja,
oferecida a queixa pelo Ministério Público,
que possui autonomia para tal.
Art. 36. Financiar ou custear a prática de Para que ocorra o tipo contra a saúde
qualquer dos crimes previstos nos arts. 33, pública, deve haver o financiamento
caput e § 1º, e 34 desta Lei: o custeio, através do pagamento das
Pena - reclusão, de 8 (oito) a 20 (vinte) despesas para verbos previsto no artigo
anos, e pagamento de 1.500 (mil e 33 ou caput do art. 34. O maior rigor
quinhentos) a 4.000 (quatro mil) dias- dado pelo legislador aqui sugere o
multa. traficante como agente do crime, sendo
ele o principal elemento de distribuição
de entorpecentes na sociedade. O crime
se consuma com o custeio e habitual
financiamento, de se prolonga pelo tempo,
tornando impossível a tentativa, uma vez
que o tráfico já é função essencial de quem
o custeia.
Art. 37. Colaborar, como informante, Conforme Nucci demonstra, grupo,
com grupo, organização ou associação organização e associação “são três termos
destinados à prática de qualquer dos que significam, na essência, o mesmo”,
crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1º, e (NUCCI 2013, p. 340). Desse modo,
34 desta Lei: qualquer qualidade que não evidenciar
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, a essência de informante, pode ser
e pagamento de 300 (trezentos) a 700 considerada como participação no crime
(setecentos) dias-multa. de tráfico de drogas descritos no (arts. 33,
caput, § 1º ou 34).
Art. 38. Prescrever ou ministrar, Quando falamos em prescrever, podemos
culposamente, drogas, sem que delas entender que a conduta descrita na
necessite o paciente, ou fazê-lo em norma somente pode ser realizada por
doses excessivas ou em desacordo com profissional da saúde, como dentista ou
determinação legal ou regulamentar: médico, sendo então considerado um
Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 2 crime próprio pois somente através desses
(dois) anos, e pagamento de 50 (cinquenta) profissionais habilitados é que se obtém a
a 200 (duzentos) dias-multa. prescrição. Note que se não for

48
TÓPICO 3 — AS DROGAS

Parágrafo único. O juiz comunicará a profissional da saúde então trata-se de


condenação ao Conselho Federal da tráfico de drogas. Aqui há o ministrar de
categoria profissional a que pertença o droga que o paciente não precisa, seja na
agente. quantidade da dose ou na própria receita.
Isso ocorre culposamente, quando não
Art. 39. Conduzir embarcação ou aeronave há intenção de causar vício ou sintoma
após o consumo de drogas, expondo a diverso, mas sim por imprudência,
dano potencial a incolumidade de outrem: imperícia ou negligencia do profissional,
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 3 que incidem no ato culposo do tipo
(três) anos, além da apreensão do veículo, descrito.
cassação da habilitação respectiva ou O artigo 39 trata-se da defesa da
proibição de obtê-la, pelo mesmo prazo coletividade, posta em risco após a pessoa
da pena privativa de liberdade aplicada, ingerir drogas e manusear os veículos
e pagamento de 200 (duzentos) a 400 dispostos no tipo.
(quatrocentos) dias-multa.
Parágrafo único. As penas de prisão e Pune-se aqui, no parágrafo único, também
multa, aplicadas cumulativamente com as a responsabilidade do agente, que deveria
demais, serão de 4 (quatro) a 6 (seis) anos zelar de sua profissão e dos outros que
e de 400 (quatrocentos) a 600 (seiscentos) dependem dela.
dias-multa, se o veículo referido no caput
deste artigo for de transporte coletivo de
passageiros.
Art. 40. As penas previstas nos arts. 33 a 37 Esses aumentos descritos no tipo serão
desta Lei são aumentadas de um sexto a aplicados nos casos do artigo 33 a 37, que
dois terços, se: vimos acima, somente. As circunstâncias
I - a natureza, a procedência da aqui ensejam o aumento da pena de
substância ou do produto apreendido e um sexto a dois terços e podem ocorrer
as circunstâncias do fato evidenciarem a entre si, o que significa que o magistrado
transnacionalidade do delito; irá computar as ações para auferir a
II - o agente praticar o crime prevalecendo- pena final. O inciso I trata do tráfico
se de função pública ou no desempenho transnacional, que atravessa fronteiras
de missão de educação, poder familiar, de diversos países, sendo preparado e
guarda ou vigilância; organizado, sendo competente para julgar
III - a infração tiver sido cometida o caso a Justiça Federal. Já o inciso II irá
nas dependências ou imediações de tipificar o crime cometido por aquele que
estabelecimentos prisionais, de ensino deveria combatê-lo. O personagem deve
ou hospitalares, de sedes de entidades ser funcionário público para que o tipo
estudantis, sociais, culturais, recreativas, seja realizado, pois o agente se aproveita
esportivas, ou beneficentes, de locais de sua função para praticar os delitos.
de trabalho coletivo, de recintos onde O terceiro inciso, que versa sobre os
se realizem espetáculos ou diversões estabelecimentos trazidos pelo legislador,
de qualquer natureza, de serviços de leva em consideração a facilidade de
tratamento de dependentes de drogas ou distribuir a drogas nesses locais, e se torna
de reinserção social, de unidades militares cada vez mais danoso quando há mais
ou policiais ou em transportes públicos; movimentação de pessoas. O inciso IV
IV - o crime tiver sido praticado com descreve o aumento da pena, caracterizada
violência, grave ameaça, emprego de pela violência ou grave ameaça. O inciso
arma de fogo, ou qualquer processo de V trata do tráfico entre os Estados da
intimidação difusa ou coletiva; Federação, sendo necessária o efetivo
V - caracterizado o tráfico entre Estados deslocamento entre as fronteiras estaduais.
da Federação ou entre estes e o Distrito O inciso VI demonstra a importância de
Federal; assegurar a saúde de criança e

49
UNIDADE 1 — TÓXICOS: ESPÉCIES E SEUS USOS

VI - sua prática envolver ou visar a atingir adolescente, pois é punido aquele que
criança ou adolescente ou a quem tenha, vendem fornece ou oferece esses produtos
por qualquer motivo, diminuída ou para esse grupo distinto. O inciso VII,
suprimida a capacidade de entendimento último desse artigo, refere-se ao aumento
e determinação; da pena para quem financiar a pratica do
VII - o agente financiar ou custear a prática tráfico de drogas, previsto no artigo 36.
do crime.
Art. 41. O indiciado ou acusado que Se o autor do delito colaborar de forma
colaborar voluntariamente com a voluntaria com a investigação que se
investigação policial e o processo criminal deslinda, há a possibilidade da delação
na identificação dos demais coautores ou ou colaboração premiada. Trata-se de
partícipes do crime e na recuperação total um método utilizado em persecuções de
ou parcial do produto do crime, no caso crimes cuja prática envolva organizações
de condenação, terá pena reduzida de um ou associações criminosas (NUCCI,
terço a dois terços. 2013). Para isso, a norma estabelece que
a colaboração deve ser voluntaria e o
seu objeto deve ser eficiente, dispostos
na Lei 9.807/1999, em seu artigo 13 e
14 (Programa de proteção às vítimas e
testemunhas, que veio a instituir a delação
premiada no ordenamento jurídico
brasileiro.
Art. 42. O juiz, na fixação das penas, Aqui há a expressa determinação ao
considerará, com preponderância sobre magistrado da causa se atentar, para
o previsto no art. 59 do Código Penal, a fixar a pena ao sentenciado por tráfico de
natureza e a quantidade da substância ou drogas, observando o artigo 59 do Código
do produto, a personalidade e a conduta Penal: O juiz, atendendo à culpabilidade,
social do agente. aos antecedentes, à conduta social, à
personalidade do agente, aos motivos, às
circunstâncias e consequências do crime,
bem como ao comportamento da vítima,
estabelecerá, conforme seja necessário e
suficiente para reprovação e prevenção do
crime: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de
11.7.1984).
I - as penas aplicáveis dentre as
cominadas; (Redação dada pela Lei nº
7.209, de 11.7.1984)
II - a quantidade de pena aplicável, dentro
dos limites previstos; (Redação dada pela
Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
III - o regime inicial de cumprimento da
pena privativa de liberdade; (Incluído pela
Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
IV - a substituição da pena privativa da
liberdade aplicada, por outra espécie de
pena, se cabível (BRASIL, 2008).

50
TÓPICO 3 — AS DROGAS

Art. 43. Na fixação da multa a que se O critério bifásico dias/multa adotado


referem os arts. 33 a 39 desta Lei, o juiz, pela norma demonstra que magistrado
atendendo ao que dispõe o art. 42 desta deve observar as circunstancias do artigo
Lei, determinará o número de dias- 59 do CP, visto no artigo acima, bem
multa, atribuindo a cada um, segundo as como, observar a condição econômica
condições econômicas dos acusados, valor do acusado para observar a multa a ser
não inferior a um trinta avos nem superior aplicada. Segundo a atribuição legal, o
a 5 (cinco) vezes o maior salário-mínimo. menor dia multa deve ser um trigésimo do
Parágrafo único. As multas, que em caso maior salário mínimo aplicado, enquanto
de concurso de crimes serão impostas o maior valor será de cinco vezes esse
sempre cumulativamente, podem ser salário.
aumentadas até o décuplo se, em virtude
da situação econômica do acusado,
considerá-las o juiz ineficazes, ainda que
aplicadas no máximo.
Art. 44. Os crimes previstos nos arts. Como há a proibição de anistia ou
33, caput e § 1º, e 34 a 37 desta Lei são indulto para esse crime, e também, sendo
inafiançáveis e insuscetíveis de sursis, considerado pela Lei 8.072/90 que o
graça, indulto, anistia e liberdade equipara aos crimes hediondos, faz com
provisória, vedada a conversão de suas que a pena seja cumprida em seu regime
penas em restritivas de direitos. inicial de forma fechada, e para progredir
Parágrafo único. Nos crimes previstos no ao próximo regime, deverá o sentenciado
caput deste artigo, dar-se-á o livramento cumprir 40% da pena, ou seja, dois
condicional após o cumprimento de dois quintos se for réu primário. Mas se for réu
terços da pena, vedada sua concessão ao reincidente, que já foi preso e sentenciado
reincidente específico. pelo mesmo crime ou similar, precisará
cumprir 60% da sua pena para progredir
de regime, ou seja, três quintos.
Art. 45. É isento de pena o agente que, em Trata-se da imputabilidade/
razão da dependência, ou sob o efeito, inimputabilidade. Assim, para que seja
proveniente de caso fortuito ou força punido, o agente deve ter a capacidade
maior, de droga, era, ao tempo da ação de entendimento e a motivação volitiva
ou da omissão, qualquer que tenha sido para o ato. Isso requer imputabilidade,
a infração penal praticada, inteiramente e para o Código Penal, menores de 18
incapaz de entender o caráter ilícito do anos são inimputáveis penalmente, bem
fato ou de determinar-se de acordo com como aqueles com limitação cognitiva.
esse entendimento. O tratamento médico que trata o artigo
Parágrafo único. Quando absolver o pode ser tanto o ambulatorial quanto
agente, reconhecendo, por força pericial, a internação para tratamento, o que irá
que este apresentava, à época do fato depender diretamente da análise do perito
previsto neste artigo, as condições médico nos casos em estudos.
referidas no caput deste artigo, poderá
determinar o juiz, na sentença, o seu
encaminhamento para tratamento médico
adequado.

51
UNIDADE 1 — TÓXICOS: ESPÉCIES E SEUS USOS

Art. 46. As penas podem ser reduzidas de Aqui o sujeito possui discernimento e
um terço a dois terços se, por força das capacidade para entender o faro, mas
circunstâncias previstas no art. 45 desta não claramente, sendo considerado
Lei, o agente não possuía, ao tempo da como fronteiriço pela lei penal, por ter a
ação ou da omissão, a plena capacidade capacidade de entendimento reduzida.
de entender o caráter ilícito do fato ou Isso faz com que sua pena seja também
de determinar-se de acordo com esse diminuída de um a dois terços, mas ainda
entendimento. assim, deve ser aplicada pelo juiz (NUCCI,
2013).
Art. 47. Na sentença condenatória, o A sentença prolatada pelo juiz deve conter
juiz, com base em avaliação que ateste também a avaliação que é realizada por
a necessidade de encaminhamento do agentes de saúde, atestando ou não a
agente para tratamento, realizada por necessidade de tratamento médico. Aqui
profissional de saúde com competência se aproveita da sentença privativa de
específica na forma da lei, determinará liberdade para um melhor tratamento
que a tal se proceda, observado o disposto médico em razão do vício.
no art. 26 desta Lei.

FONTE: O autor

Na unidade por vir, iremos tratar das Políticas Públicas na área das drogas, e
como ela é mecanizada no Brasil através do Sistema Nacional de Políticas Públicas
sobre Drogas (SISNAD), mas por ora, devemos tratar de algumas alterações influentes
na lei 11.343/2006, conhecida como Lei de Drogas, trazidas pela Lei 13.840/2019.

Uma dessas modificações foi justamente na interpretação do SISNAD. A


criação desse órgão pela Lei de Drogas instituía a sua finalidade na prevenção
do uso indevido de substâncias e na atenção e reinserção social de usuários e
dependentes de drogas. O conceito aprofundou-se com o parágrafo primeiro,
criado em 2019, e alocado no artigo 3º da Lei 11.343/2006, que diz:

[...] § 1º Entende-se por SISNAD o conjunto ordenado de princípios,


regras, critérios e recursos materiais e humanos que envolvem as
políticas, planos, programas, ações e projetos sobre drogas, incluindo-
se nele, por adesão, os Sistemas de Políticas Públicas sobre Drogas dos
Estados, Distrito Federal e Municípios (BRASIL, 2006).

Ainda, incluiu o parágrafo 2 que versa sobre a atuação conjunta entre


as Políticas Públicas realizadas pelo SISNAD com o Sistema Único de Saúde
(SUS) e com o Sistema Único de Assistência Social (SUAS), desenvolvendo ações
preventivas e práticas frente aos usuários de entorpecentes “[...] § 2º O Sisnad
atuará em articulação com o Sistema Único de Saúde – SUS, e com o Sistema
Único de Assistência Social – SUAS” (BRASIL, 2006, Art. 3º).

Essa modificação foi importante para identificar os órgãos que fazem parte
da estruturação da Política Pública afirmada pelo Estado. Nesse sentido, a Lei nº
13.840/2019 alterou também o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), inserindo
a responsabilidade das organizações civis na conscientização no caso das drogas:
52
TÓPICO 3 — AS DROGAS

É dever da instituição de ensino, clubes e agremiações recreativas e de


estabelecimentos congêneres assegurar medidas de conscientização,
prevenção e enfrentamento ao uso ou dependência de drogas ilícitas
(BRASIL, 1991, p. 12).

Veremos também, na próxima unidade, como são realizadas as internações


de pessoas com problemas com as drogas, que ser efetivada tanto voluntariamente,
quanto de forma involuntária. Mas isso, mesmo que esteja presente da Lei maior
sobre o assunto, se trata de um produto próprio das Políticas Públicas da área da
Saúde e da Sociabilidade, que também será analisada em nossos estudos.

3.4 PROCEDIMENTO PENAL (ARTS. 48 E 49)


Quanto ao Procedimento Penal, ele é disposto nos artigos 48 e 49, sendo a
sua importância a identificação da competência para os crimes de menor potencial
ofensivo, que serão julgados pela Lei nº 9099/95, que apresenta os Juizados
Especiais. Aqui houve uma das mais significativas considerações do legislador ao
procedimento despenalizador do direito penal, ao incutir a normatividade dos
Juizados nos julgamentos da Lei de Drogas (PONTAROLLI, 2019):

O procedimento relativo aos processos por crimes definidos neste Título


rege-se pelo disposto neste Capítulo, aplicando-se, subsidiariamente,
as disposições do Código de Processo Penal e da Lei de Execução
Penal. § 1º O agente de qualquer das condutas previstas no art. 28
desta Lei, salvo se houver concurso com os crimes previstos nos arts.
33 a 37 desta Lei, será processado e julgado na forma dos arts. 60 e
seguintes da Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995, que dispõe sobre
os Juizados Especiais Criminais.§ 2º Tratando-se da conduta prevista
no art. 28 desta Lei, não se imporá prisão em flagrante, devendo o
autor do fato ser imediatamente encaminhado ao juízo competente ou,
na falta deste, assumir o compromisso de a ele comparecer, lavrando-
se termo circunstanciado e providenciando-se as requisições dos
exames e perícias necessários.§ 3º Se ausente a autoridade judicial, as
providências previstas no § 2º deste artigo serão tomadas de imediato
pela autoridade policial, no local em que se encontrar, vedada a
detenção do agente.§ 4º Concluídos os procedimentos de que trata
o § 2º deste artigo, o agente será submetido a exame de corpo de
delito, se o requerer ou se a autoridade de polícia judiciária entender
conveniente, e em seguida liberado.§ 5º Para os fins do disposto no
art. 76 da Lei nº 9.099, de 1995, que dispõe sobre os Juizados Especiais
Criminais, o Ministério Público poderá propor a aplicação imediata
de pena prevista no art. 28 desta Lei, a ser especificada na proposta
(BRASIL, 2006).

O procedimento especial dos Juizados será aplicado, dessa forma, quando


o máximo da pena cominada não exceder a dois anos de privação de liberdade,
o que corrobora com a redação do artigo 61 da Lei nº 9099/95, identificando os
Juizados Especiais Criminais como competentes para processar esses casos.

Portanto, nos casos dos Juizados, ao responder às respostas a seguir tem-


se a competência para o julgamento:

53
UNIDADE 1 — TÓXICOS: ESPÉCIES E SEUS USOS

A pena excede a dois anos? Se sim, Justiça Criminal Comum


A pena não excede dois anos? Se não, Juizados Especiais Criminais

Além dos crimes que estão previstos no artigo 28 da Lei de Drogas, que
identifica o porte para consumo pessoal e o cultivo e colheita de plantas para
a preparação de drogas para o consumo pessoal, enquadram-se também nos
Juizados Especiais Criminais os tipos descritos nos artigos 33§ 3º (oferecer drogas
sem intuitos lucrativos), e 38 (ministrar e prescrever drogas). Entretanto, há
exceção que se configura quando há causa de aumento de pena, que faça com
que a sanção ultrapasse o máximo de dois anos, permitido para julgamento
despenalizador dos juizados. Já o artigo 49 diz que:

Tratando-se de condutas tipificadas nos arts. 33, caput e § 1º, e 34


a 37 desta Lei, o juiz, sempre que as circunstâncias o recomendem,
empregará os instrumentos protetivos de colaboradores e testemunhas
previstos na Lei nº 9.807, de 13 de julho de 1999 (BRASIL, 2006).

Como o tráfico de drogas é um crime que se organiza e está presente em


todos os Estados, cooptando diversas pessoas para suas ações, define-se pelo artigo
acima a importância de, embora os crimes previstos ultrapassem as penalidades
que definem o menor potencial ofensivo, irá depender do juiz identificar nesses
autores a possibilidade de testemunharem ou colaborarem com as investigações,
diminuindo suas penas.

Trata-se da Lei nº 9.807/1999, que define o programa de proteção à


testemunha, instituindo assim a colaboração premiada no processo penal, como
forma de diminuição ou causa de perdão da penalização.

Na próxima unidade convidamos você a analisar como as Políticas


Públicas no Brasil são realizadas, e a importância da Lei nº 13.343/2006 nessa
atribuição, onde perceberemos que o Título II, intitulado Do Sistema Nacional
de Políticas Públicas sobre Drogas, irá abranger estudos acerca dos princípios
e objetivos do Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre drogas, bem como,
os métodos utilizados para o tratamento de viciados e o trabalho para a sua
reinserção social.

Também veremos o grande impacto dos entorpecentes nas famílias, e o


seu uso que geralmente já começa na adolescência, muitas vezes com a cooptação
de crianças e adolescentes pelo crime organizado que conhecemos como Poder
Paralelo.

54
TÓPICO 3 — AS DROGAS

LEITURA COMPLEMENTAR

Você já ouviu falar sobre toxicologia?

Camilla Colasso

Quando você lê ou ouve o termo “toxicologia”, o que você pensa?


Normalmente, a palavra está associada a uma conotação negativa. Então, a
primeira impressão é sempre de uma substância ou algo nocivo para nós. Mas
isso não é necessariamente uma verdade. O termo abrange muito mais do que
essa simples análise. Vamos entender mais abaixo o que é toxicologia e as suas
aplicações no nosso dia a dia.

O que é toxicologia?

Trata-se de uma ciência que tem como objetivo compreender a interação


entre substâncias químicas e o organismo sob condições específicas de exposição.
Assim como também serve para mapear os efeitos nocivos que essa interação
provoca. Alguns exemplos de efeitos nocivos são: irritação ocular, danos hepáticos,
propagação de doenças (cirrose hepática e pulmonar), desenvolvimento de
câncer, entre outros.

Contexto histórico

Mas, antes de destrinchar o que é toxicologia na prática, vale lembrar


como se originou essa ciência. Afinal, desde a pré-história, o homem buscava
encontrar substâncias tóxicas que pudessem ser empregadas para caçar, guerrear
e assassinar. Uma busca incansável para conhecer venenos de animais e de
plantas tóxicas.
Para guerrear, há relatos desde 600 a.C. Na época, os atenienses já usaram
o conceito. Então, envenenaram um rio com raiz de Heléboro para que os inimigos
consumissem essa água contaminada. E o que acontecia? Após o consumo, os
seus adversários apresentavam intensa diarreia, pois a raiz é um drástico laxante.

E existiram outros casos:

• 429 a.C.: os espartanos queimaram enxofre para produzir fumos tóxicos e gases
sufocantes durante a Guerra do Peloponeso.
• 200 a.C.: Cartago derrotou os inimigos após contaminar tonéis de vinho com
Mandrágora, uma raiz que provoca sono narcótico. Depois da ingestão da
bebida pelos soldados inimigos, os cartagineses voltaram e os mataram.
• 190 a.C.: Aníbal, em uma batalha Naval contra Eumenes II, de Pérgamo,
lançou cobras venenosas nos conveses de navios inimigos para derrotar os
pergamenos. Ainda usou substâncias venenosas nas pontas de flechas para
dispará-las contra os inimigos.
55
UNIDADE 1 — TÓXICOS: ESPÉCIES E SEUS USOS

• Antigo Egito: Mitrídates, rei do Ponto, atualmente Turquia, entre 120 a 63 a.C.,
também pesquisava substâncias. Mas, na época, nem se sabia ainda o que é
toxicologia. Assim, o rei desejava conhecer os venenos e seus antídotos. Conta-
se que ele queria se imunizar contra um eventual envenenamento, o que ficou
conhecido como mitridatismo. Segundo relatos, após uma derrota na guerra,
ele tentou o suicídio por envenenamento. Porém, não houve efeito e ele pediu
que seu servo o matasse com uma espada.
• Grécia Antiga: a toxicologia se espalhava por lá. Utilizava-se como veneno uma
planta chamada cicuta (Conium maculatum) para execuções. O notório filósofo
Sócrates, por exemplo, foi envenenado com essa erva. Além desse episódio, a
mãe de Alexandre, o Grande, também se tornou uma famosa envenenadora.
Ela esteve envolvida nas mortes de homens e mulheres proeminentes. Nesta
época, os gregos chamavam de Toxikón o ato de impregnar flechas com veneno.
• Roma Antiga: era empregado como veneno o acônito (Aconitum napellus sp),
que possui um alcaloide tóxico, a aconitina. Desse momento histórico existem
relatos de muitos envenenamentos de pessoas da alta sociedade romana. As
envenenadoras famosas foram Agripnina e Locusta.

O combate aos venenos

Em outros países, a prática também era adotada. Na Itália, a madame


Giulia Toffana era uma envenenadora famosa. Então, desenvolveu a “Acqua
Toffana” que continha trióxido de arsênio em sua composição. Estima-se que ela
seja responsável por mais de 600 mortes.

Enquanto isso, na França, a envenenadora famosa foi Catherine Deshayes.


Ela criou o “Pó de herança”, contendo arsênio, aconita, beladona e ópio. Catherine
fornecia o pó para as mulheres proeminentes da sociedade envenenarem os seus
maridos.

Neste cenário, com muitas mortes por substâncias tóxicas, começou


um movimento contrário, combatendo a prática. Com isso, surgiu em 81 a.C.,
a primeira lei contra o envenenamento, chamada de “Lex Cornelia de sicarris et
veneficis”.

A evolução: dos venenos para a toxicologia

Com o decorrer da história, chegamos à fase científica da toxicologia.


Um personagem fundamental aqui foi o químico e médico espanhol, Mateo José
Buenaventura Orfila Rotger (conhecido como Mateu Orfila e Mathieu Orfila).
Inclusive, por seu papel relevante, foi nomeado como “pai da toxicologia”
escrevendo o Traité de Toxicologie.

Neste momento, o conceito de o que é toxicologia se consolidou, a ciência


ganhou força e houve avanços importantes na área. Confira alguns passos:

56
TÓPICO 3 — AS DROGAS

• A ciência da toxicologia separada da farmacologia.


• A toxicologia forense e os exames químicos de amostras biológicas.
• As análises toxicológicas descritas por Marsh (1836), Reinsh (1841), Frezenius
e Babo (1846).
• Os estudos dos mecanismos de ação da estricnina, monóxido de carbono, entre
outros.
• Ehrlich propôs a teoria dos receptores, mecanismo que é aceito até hoje.

Os estudos da toxicologia se aperfeiçoam e são desenvolvidos novos


antídotos. Por exemplo, o BAL, o nitrito e o tiossulfato de sódio para intoxicações
por cianeto. Além disso, novos tóxicos também são criados como os organoclorados
e organofosforados.

E foi após a Segunda Guerra Mundial que a toxicologia teve grande


desenvolvimento. Foram implementados diversos mecanismos de ação,
toxicologia comportamental, ecotoxicologia, entre outras áreas.

O que compõe a toxicologia?

Mas calma lá que vamos te ajudar a entender melhor o que é toxicologia e


como funciona esse processo. Por isso, veja alguns conceitos importantes:

Agente tóxico, toxicante ou xenobiótico: Substância, de estrutura química


definida, capaz de produzir um efeito nocivo através de sua interação com um
organismo vivo.
Toxicidade: Capacidade inerente da substância química de produzir
efeito nocivo após interação com organismo.
Droga: Toda substância capaz de modificar ou explorar o sistema
fisiológico ou estado patológico. Utilizada com ou sem intenção de benefício do
organismo receptor.
Fármaco: Substância de estrutura química definida, capaz de modificar
ou explorar o sistema fisiológico ou estado patológico, somente em benefício do
organismo receptor. Como conhecemos, é o princípio ativo de um medicamento,
que tem ação terapêutica cientificamente comprovada.
Intoxicação: Conjunto de sinais e sintomas que evidenciam o efeito nocivo
produzido pela interação entre agente tóxico e organismo.
Antídoto: Agente capaz de antagonizar os efeitos tóxicos das substâncias.
Ação tóxica: Maneira pela qual um agente tóxico exerce sua atividade
sobre as estruturas teciduais.

As aplicações da toxicologia

Como deu para perceber até aqui, compreender o que é a toxicologia e


como os agentes químicos agem no nosso corpo é fundamental. Serve, inclusive,
para estabelecer quais os cuidados que devemos ter quando entramos em contato
com agentes químicos.

57
UNIDADE 1 — TÓXICOS: ESPÉCIES E SEUS USOS

Mas quando falamos em agentes químicos, o que sempre vem na mente


da maioria das pessoas são produtos de uso industrial. Só que, na verdade,
estamos expostos a diversos produtos químicos. Eles vão desde os produtos de
limpeza que manuseamos em nossas casas, até produtos de higiene pessoal, para
a construção civil como cimento, colas adesivas e tintas.

Então, com essa explicação, é possível analisar a toxicologia aplicada a


diferentes setores.

1. Toxicologia aplicada na área ocupacional – ajuda a avaliar os perigos dos


produtos químicos manuseados nos ambientes de trabalho. Com isso, é
possível estudar o risco e propor as medidas de segurança necessárias para
que os trabalhadores não sofram danos à sua saúde.
2. Toxicologia aplicada na área social – é voltada para avaliar os efeitos nocivos
que as drogas de abuso e medicamentos (de uso não médico) provocam
nos usuários. Por exemplo, o que a cocaína provoca no organismo de um
dependente químico, assim como a heroína, o LSD e os demais.
3. Toxicologia voltada à dopagem – aqui observa-se o uso de substâncias químicas
como meios artificiais para alterar o desempenho físico e/ou intelectual de
atletas em competição. 
4. Toxicologia dos alimentos – visa estabelecer quais os efeitos nocivos causados
pela ingestão de alimentos. Os compostos químicos podem ser classificados
naqueles naturalmente presentes nos alimentos (cianogênicos, alcaloides), nos
contaminantes (micotoxinas, metais, praguicidas, hormônios), e nos aditivos
(conservantes, aromatizantes, corantes).
5. Toxicologia ambiental – tem objetivo de avaliar o impacto da contaminação
para o ambiente. Seja de forma acidental ou intencional, decorrente das
atividades humanas, como por exemplo a poluição do ar proveniente dos
automóveis e indústrias. Além de avaliar o impacto dos agentes químicos nos
organismos presentes nos ecossistemas.

Toxicologia e a sociedade

Como você pode perceber, entender o que é toxicologia é de grande


importância para a sociedade. Uma ciência fundamental para estabelecer um
equilíbrio na adoção e no uso de agentes químicos. Portanto, é possível colher os
benefícios que estes agentes trazem para as nossas vidas. Pois os químicos estão
presentes em tudo no dia a dia e, com isso, podemos aproveitar o melhor que
esses compostos podem nos oferecer

FONTE: <https://www.chemicalrisk.com.br/o-que-e-toxicologia/> Acesso em: 4 ago. 2021.

58
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:

• Há uma distinção muito tênue entre os efeitos de muitas drogas consideradas


lícitas e ilícitas.

• Drogas lícitas são aquelas comercializadas legalmente, já as ilícitas são drogas


ilegais, e sua classificação e identificação são feitas pela ANVISA.

• A Lei nº 13.343/2006 é uma norma infraconstitucional, recepcionada pela


Constituição Federal de 1988, que veio a padronizar normas a respeito do tema
drogas no Brasil.

• É necessário a distinção entre usuários (viciados) e traficantes profissionais.

• O procedimento especial dos Juizados será aplicado quando o máximo da pena


cominada não exceder a dois anos de privação de liberdade, o que corrobora
com a redação do artigo 61 da Lei nº 9099/95, identificando os Juizados Especiais
Criminais como competentes para processar casos de menor potencial ofensivo.

CHAMADA

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AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.

59
AUTOATIVIDADE

1 Tanto o artigo 28 quanto o artigo 33 da Lei nº 11.343/2006 definem usuário e


traficante a partir de determinados verbos que se repetem. Disserte sobre
a situação das condutas que os dois artigos realçam e qual o problema
interpretativo apresentado pela doutrina.

2 Segundo o artigo 28, parágrafo único: “para determinar se a droga se


destinava a consumo pessoal, o juiz atenderá à natureza e à quantidade
da substância apreendida, ao local e às condições em que se desenvolveu
a ação, às circunstâncias sociais e pessoais, bem como à conduta e aos
antecedentes do agente” (BRASIL, 2021). Nesse sentido, disserte sobre
o problema da análise subjetiva que pode ocorrer na interpretação da
norma e do caso concerto.

3 Verifique as questões a seguir:

a) A lei de drogas (11.343/2006) não aceita a competência dos tribunais que


apreciam as causas de menor potencial ofensivo, uma vez o tráfico de
drogas ser considerado um crime hediondo.
b) O artigo 28 e o artigo 33 trazem determinadas ambiguidades que geram
discussões doutrinárias cobre o tema.
c) A colaboração premiada, ou o programa de proteção às testemunhas
podem ser oficializados pelo magistrado, ao entender que o investigado
pode e quer auxiliar de forma voluntária nas investigações.
d) Em crimes de tráfico de drogas, pelos seus atos que assolam toda a
sociedade, somente se pode cessar a persecução penal através de indultos
ou anistia.

São verdadeiras as questões:


( ) Apenas a questão A é a verdadeira.
( ) As questões B e C são verdadeiras.
( ) As questões C e D são verdadeiras.
( ) As questões A e D são verdadeiras.

4 Sobre a questão da avaliação das drogas como substância ilícita ou lícita,


analise as questões a seguir:

I- Determinada pela sua importância, a Fiocruz analisa os dados sobre os


produtos ilícitos e lícitos, determinando uma listagem, aberta a todos, o
que considera como drogas ilícitas.
II- Há uma lacuna na lei de drogas, preenchida pela interpretação de uma
listagem exterior a ela, por um órgão governamental que indica o que é
ou não droga ilícita.

60
III- Drogas lícitas, vendidas nas farmácias e consideradas produtos
medicinais, podem ser comercializadas sem nenhuma distinção. Já a
produção e venda de drogas consideradas ilícitas é crime.
IV- A lei de drogas possui um caráter despenalizador, ao identificar o usuário
ou viciado, na pessoa que transporta pequenas quantidade de drogas.

Quais alternativas indicam as questões CORRETAS?


a) ( ) Estão corretas as afirmativas I e IV.
b) ( ) Estão corretas as afirmativas I e II.
c) ( ) Estão corretas as afirmativas II e III.
d) ( ) Estão corretas as afirmativas II e IV.

5 Assinale a alternativa CORRETA:

( ) Produtos naturais e medicinais, considerados drogas ilícitas, podem ser


produzidos em pequenas quantidades para o uso homeopático.
( ) As drogas ilícitas somente podem ser comercializadas em farmácias
especializadas, uma vez essas possuírem autorização legal para isso.
( ) Drogas ilícitas e produtos destinados para sua produção, somente podem
ser transportados através de licença especial, autorizada pela Polícia
Federal.
( ) As marcações contidas nos remédios vendidos pelas farmácias em geral,
consideradas instrutivas apenas, servem para determinar e explicitar
os riscos dos produtos, que legalizados podem ser comercializados
livremente.

61
REFERÊNCIAS
AZEVEDO, F. A.; CHASIN, A. A. M. Metais – Gerenciamento da Toxicidade.
São Paulo, Atheneu, 2003.

BARATTA, A. Criminologia crítica e crítica do direito penal. Introdução à


sociologia do direito penal. 6. ed. Rio de Janeiro: Revan, 2011.

BAPTISTA, C. M. M. et al. Cefaleia no Antigo Egito. Migrâneas cefaleias, v. 6, n.


2, p. 53-55. 2003.

BARROS, S. B. de M; DAVINO, S. C. Avaliação da toxicidade. In: OGA, Seizi.


Fundamentos de toxicologia. 2. ed. São Paulo: Atheneu, 2003.

BATISTA. N. A política criminal como derramamento de sangue. Revista


Brasileira de Ciências Criminais. Ano 5, nº 20. São Paulo: RT, 1997.

BAUMAN, Z. O mal-estar da pós-modernidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar,


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BEAUCHESNE, L. Legalizar as drogas para melhor prevenir os abusos.


Tradução de Nina Vincent Lannes e Tiago Coutinho Cavalcante. Rio de Janeiro:
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BECKER, H. Becoming a marihuana user. Chicago, University of Chicago Press,


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BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em 5 de


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BRASIL, 2021. Política Nacional sobre Drogas – Ministério da Justiça e


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64
UNIDADE 2 —

AS DROGAS E OS REFLEXOS NA
VIOLÊNCIA SOCIAL

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• conhecer e analisar a Política Pública de combate às drogas;


• propiciar um estudo da formação da esfera pública e do sistema político
moderno, considerando a relação entre drogas, Estado e direitos;
• favorecer a compreensão do exercício da atividade de Segurança Pública
contra as drogas sob a perspectiva de um Estado Democrático de Direito;
• analisar os impactos do uso de entorpecentes na estrutura familiar e seu
uso na adolescência;
• entender os conceitos de favelização e guetização e como isso enaltece a
função do tráfico de drogas.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade,
você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo
apresentado.

TÓPICO 1 – POLÍTICAS, SEGURANÇA PÚBLICA E AS DROGAS


TÓPICO 2 – DROGAS NAS FAMÍLIAS
TÓPICO 3 – FAVELIZAÇÃO E SEGREGAÇÃO

CHAMADA

Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos


em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá
melhor as informações.

65
66
TÓPICO 1 —
UNIDADE 2

POLÍTICAS, SEGURANÇA PÚBLICA E


AS DROGAS

1 INTRODUÇÃO
Acadêmico, abordaremos, nesta segunda unidade de nossos estudos sobre
as drogas, como determinadas ações de políticas públicas se tornam eficientes
quando tratam o tema como um problema de saúde pública. Os combates contra o
tráfico de drogas tornam-se dispendiosos quando não há um planejamento acerca
de suas ações por parte da segurança pública, que agem em ambientes controlados
pelo tráfico de drogas, brutalizando ainda mais as comunidades mais carentes e
estigmatizadas da sociedade, que é onde o crime organizado se esconde.

Mas é importante percebermos o crescimento gritante da violência nos


últimos anos, da busca por drogas mais sofisticadas criadas para causar uma
dependência mais significativa, e por trás disso, ainda há uma força intensa e
violenta dos comandantes do crime organizado que se escondem nas vielas das
comunidades mais desvalidas, que têm seus moradores combatentes de duas lutas
distintas: se por um lado a sobrevivência é uma busca diária em meio às desigualdades
gritantes no País, por outro, conviver com uma violência e com a vigília constante
dos traficantes se amolda aos mais significativos ideais que possamos ter do medo
e da falta de liberdade. Por isso, políticas públicas de segurança contra as drogas
precisam ser moldadas e estruturadas a partir da definição mais lúcida do que seja
traficante ou morador, usuário ou fornecedor do produto ilícito.

Nos últimos anos, o crescimento da violência nos centros urbanos, seja em


comunidades mais afastadas ou no ambiente mais urbanos das grandes cidades,
demonstraram que o tráfico vive presente nos diversos grupos que moldam a
sociedade. O homicídio relacionado ao tráfico de drogas ilícitas, demonstrado
em programas televisivos e nos testemunhos amedrontados de alguns poucos
cidadãos que relatam algo à polícia ou ao jornalismo, a violência nas comunidades
que partem de tribunais paralelos comandados pelo tráfico, fortalece o imaginário
social que a violência é o único e possível desfecho para conflitos sociais
determinados pelo envolvimento com as drogas. Em uma generalização, crimes
envolvendo traficantes e até mesmo usuários, passam a ser considerados normais
por grande parte da sociedade, que não convive com o medo diariamente em
suas próprias portas. Por outro lado, ao cidadão convivente com a violenta
interpelação dos controladores do tráfico nas favelas, ainda precisam adaptar-se
e coexistir com a força policial do Estado, que age muitas vezes com truculência
contra esses cidadãos que já sofrem pela simples presença do terror do tráfico em
suas esquinas e portas (REIS; HUNGARO; OLIVEIRA, 2014).

67
UNIDADE 2 — AS DROGAS E OS REFLEXOS NA VIOLÊNCIA SOCIAL

Entretanto, quando o crime começa a invadir os grandes centros das


cidades, há uma produção disseminada de políticas de segurança que surgem
com a única estratégia de caça aos envolvidos, sem planejamentos específicos
para o combate sério e producente ao real traficante, que é o perigo imediato
desse crime (REIS; HUNGARO; OLIVEIRA, 2014).

Mas veja que o consumo de drogas, como você pôde analisar na unidade
anterior, é crescente e estimulado, o que pode ser notado em divulgações de
produtos considerados lícitos para uso. A violência crescente nas famílias também
é produzida por drogas como o álcool e outras substâncias, que possuem um
caráter tão viciante quanto as substâncias consideradas ilícitas. Nesse sentido, há
o estímulo por grande parte do comércio, que realiza propagandas requintadas
para apresentar produtos viciantes e com um alto impacto na sobriedade de seus
usuários. Nessa dicotomia, a sociedade enxerga duas formas de causas de violência
extrema que necessitam de diversas estratégias para o enfrentamento; estratégias
essas que não se perfazem com a força policial e a persecução penal do Estado, que
deve deixar essa sua força para ser usada contra o crime organizado apenas.

Por esse motivo, é importante estudarmos as estruturas da política pública


sobre as drogas utilizadas pelo Estado atualmente, e como a segurança pública
age quando é chamada para esses conflitos, a partir de seu planejamento.

Ainda assim, o uso de drogas está em crescimento, impactando as


famílias, que muitas vezes convivem com essa experiência desde a adolescência
de seus filhos, cooptados na maioria das vezes pelos traficantes locais. E esse é
um grande desafio para o Estado, que somente pode ser realizado através de
educação, desenvolvimento e geração de oportunidades.

2 POLÍTICAS PÚBLICAS E AS DROGAS


Como você analisou na primeira unidade, existem muitos componentes
químicos que são avaliados a partir de sua força de causar dependência. Veja que
até mesmo o cigarro de palha, muito evidenciado na literatura brasileira como um
costume que brotou nos campos com a agricultura, teve seu uso em vertiginoso
crescimento dentro das cotidianidades das sociedades (VERÍSSIMO, 2013). Esse
costume, transformado em um ritual que estabelece uma prática considerada
cultural em diversas reuniões sociais, mantém um dos produtos que causam mais
dependência no mundo, nos entremeios da rotina coletiva. A nicotina, encontrada
nas folhas do tabaco, utilizada em cigarros de palha, em cigarros industrializados,
narguilés e nos charutos, considerada pelo Ministério da Saúde e pela Anvisa
como uma droga recreativa lícita, é usada também em pesticidas nos campos do
agronegócio, sob a forma do tartarato de nicotina (SHIBAMOTO, 2014).

Outros produtos considerados nocivos à saúde e vendidos sem restrições,


como o álcool e os remédios diversos, possuem em suas fórmulas, mesmo quando
adaptadas ao uso humano, os mesmos condicionantes e as mesmas essências

68
TÓPICO 1 — POLÍTICAS, SEGURANÇA PÚBLICA E AS DROGAS

do seu produto em estado bruto. E é por esse motivo que sua absorção pelo
organismo causa mudanças influentes na natureza química do corpo, podendo
alterar até mesmo a percepção da realidade.

Veja o caso do uso do álcool, causador da embriaguez. Considera-


se a embriaguez uma intoxicação em virtude de bebidas alcoólicas ou outra
substância que possua efeitos similares a quem dela se utiliza, que pode causar
desde uma excitação moderada até chegar a uma paralisia, ou mesmo, ao coma.
Na força dessas substâncias um importante fator físico revela a letalidade de seu
uso indiscriminado, que vem a ser considerada pela tolerância de cada um ao
produto utilizado. Assim, a intensificação do uso de remédios, mesmo aqueles
menos invasivos ao organismo humano, se avolumou nos últimos tempos.

As drogas vendidas em farmácias contra qualquer mal-estar do organismo


também possuem um efeito que mesmo leve, ainda pode gerar dependência
através da tolerância que o usuário desenvolve com seu uso prolongado. Para
manter o efeito e a sensação de bem-estar causado pelo remédio, doses mais altas
passam a ser necessárias, uma vez que o organismo já se tornou transigente à
droga (SHIBAMOTO, 2014). É por esse caminho que o vício se transforma em
uma realidade, ainda que negada pelo usuário, que não mais consegue viver sem
o medicamento por perto. E ainda, existe, como vimos na unidade anterior, o
problema das drogas ilícitas, sejam naturais ou criadas em laboratórios.

DICAS

Veja que interessante a série de reportagens levada ao ar pelo jornal da Record


em 2018, sobre os vícios e qual a probabilidade de a pessoa ficar viciada em algumas
substâncias, tendo o seu uso diário, como o álcool.
A primeira reportagem confirma o perigo do álcool e demonstra que grupos de apoio ao
combate ao vício intensificam seus trabalhos na pessoa do viciado, tentando o tratamento.
Na segunda reportagem, o drama de quem não consegue deixar de lado o cigarro, uma
vez que a nicotina é uma das drogas mais poderosas existentes, por atuar diretamente no
nosso sistema nervoso central.
A terceira análise feita pela série demonstra o vício nos remédios, que pode se transformar
em uma doença muito perigosa, afirmando ser essa uma doença urbana relacionada aos
problemas da vida pós-moderna. Os jogos de azar também fazem parte da análise realizada
pelos repórteres investigativos, quando demonstram por intermédio de pesquisas médicas
que o cérebro libera uma substância conhecida por dopamina, que causa a sensação de
euforia e prazer, no organismo do viciado em drogas. Esse drama passa a causar disfunções
físicas, mesmo o personagem não inserindo qualquer substância em seu organismo,
podendo ser encontrado na quarta reportagem.
Veja que a última reportagem trata de uma conversa com dependentes químicos em uma
clínica de reabilitação, e sua guerra diária contra o mal do vício.
As reportagens sob o título “Eu quero parar” podem ser encontradas na página:
https://bit.ly/3mBvb6z.

69
UNIDADE 2 — AS DROGAS E OS REFLEXOS NA VIOLÊNCIA SOCIAL

Como vimos, é essencial um tratamento especial por parte das políticas


públicas, pois esse é um tema que deve ser considerado como um problema
sanitário. Dessa forma, políticas públicas sobre drogas são incentivadas a
partir de um modelo que estabeleça distância dos conflitos causados entre a
segurança pública e as drogas, que ocorrem a partir da repressão ao tráfico de
drogas, causado pelo crime organizado.

O que se combate nas políticas de qualidade, acerca do problema causados


pelas substâncias que causam dependências e seu uso, é justamente que ocorra
o primeiro uso por intermédio de educação e possibilidades diversas como o
esporte, educação e conscientização de jovens e adultos.

O artigo 3° da Constituição Federal de 1988 pontua alguns objetivos


fundamentais a serem seguidos e apontados como essenciais, assim, nenhuma
norma, lei, ou até mesmo política pública pode trazer qualquer ponto contrário a
eles; então vejamos o que nos revela o artigo:

Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa


do Brasil:
I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;
II - garantir o desenvolvimento nacional;
III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades
sociais e regionais;
IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor,
idade e quaisquer outras formas de discriminação (BRASIL, 2002, p. 34).

A redução das desigualdades, por exemplo, segue os mais basilares


princípios de direitos humanos. Você já conhece, a política de aplicação desses
princípios no País, reconhecidamente pelas cotas raciais, bolsa família, luz
fraterna etc. Não se trata aqui de preconceito ou subjugo, mas de uma ação
afirmativa do Estado.

O Estado, através de ações afirmativas e que buscam assegurar o progresso


e a promoção humana, de grupos e indivíduos que necessitam da atenção estatal,
para garantia de seus direitos fundamentais, deve combater a vulnerabilidade
de pessoas e grupos considerados de risco. Esse é um dos requisitos para que
se atente e realize uma política pública de qualidade, ainda mais no âmbito das
drogas (REIS; OLIVEIRA, 2014).

A política pública que será a base do sistema brasileiro, necessita contemplar


a construção de uma “sociedade justa e solidária”, entender as desigualdades
sociais e regionais, e enfim, “promover o bem de todos, sem preconceitos de
origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação”,
conforme os comandos do artigo analisado acima (BRASIL, 2002, p. 34).

Nesse prisma, como vimos, a Lei nº 11.343/2006, a partir das mudanças


promovidas pela Lei nº 13.840/2019, cria o Sistema Nacional de Políticas Públicas
sobre Drogas (SISNAD), que objetiva coordenar atividades que se relacionam
com a prevenção do uso indevido de substâncias, mas ao mesmo tempo trata

70
TÓPICO 1 — POLÍTICAS, SEGURANÇA PÚBLICA E AS DROGAS

da repressão do tráfico ilícito dos entorpecentes. É pelo SISNAD que diferentes


órgãos governamentais possuem suas atribuições bem definidas em diversas ações
práticas no assunto das drogas. O Ministério da Justiça, por exemplo, é o órgão
que controla o SISNAD, mas é a Polícia Federal quem tem a responsabilidade de
executar demandas que previnam e combatam o tráfico ilícito.

Os órgãos que compõe o SISNAD são:

FIGURA 1 – COMPOSIÇÃO DO SISNAD

FONTE: <https://bit.ly/3mBKso6>. Acesso em: 4 ago. 2021.

ATENCAO

Lembre-se do que foi visto na unidade anterior, essa informação é essencial


para seus estudos: é a Polícia Federal quem possui a incumbência da prevenção e combate
de tráfico de drogas no País. Responsabilidade definida constitucionalmente, trazido pelo
artigo 144, II da CF/1988. Iremos analisar mais adiante esse texto de lei, por ora, importante
entender que a prevenção e reprimendas contra o tráfico ilícito de entorpecentes é realizada
por esse órgão em especifico.

O Sistema Nacional também identifica um importante aliado no combate


às drogas, mas de maneira a incutir uma estratégia no programa, voltada para a
prevenção do uso de entorpecentes, conhecido como Conselho Nacional sobre
Drogas (CONAD). Responsável por formular estratégias que proponham e causem
a redução da oferta de drogas, o CONAD possui um sentido descentralizador,
dando aos Estados e Municípios o estímulo ao combate às drogas com a criação
de Conselhos Estaduais e Municipais sobre drogas, que possam trabalhar a
partir de suas distintas realidades.
71
UNIDADE 2 — AS DROGAS E OS REFLEXOS NA VIOLÊNCIA SOCIAL

NTE
INTERESSA

Como vimos na unidade anterior, as drogas são divididas em três grupos,


não importando se lícitas ou ilícitas, desde que possuam substâncias químicas capazes de
desestruturar a percepção da realidade. São os grupos:
• Depressoras: fazem com que o cérebro tenha um ritmo de funcionamento mais lento,
como o álcool, os calmantes e os inalantes;
• Estimulantes: são as que aceleram a atividade cerebral, indicando ao indivíduo a sensação
de energia, ainda que momentânea; como a cocaína, o crack, a anfetamina, a cafeína e a
nicotina;
• Perturbadoras: são aquelas que causam distorções no natural funcionamento do cérebro,
provocando alterações na percepção como delírios e alucinações, como por exemplo, a
maconha, o LSD e o ecstasy.

É pelo CONAD que podemos identificar um planejamento que, mesmo


a curto prazo, busca identificar problemas causados tanto pela distribuição dos
entorpecentes, quanto pela doença causada em seus usuários, buscando agir em
duas frentes: determina controlar o poder do abastecimento do produto feito de
forma ilícita, e intenta atender ao usuário que é visto como potencial vítima do
tráfico de drogas.

Dessa forma, o CONAD elaborou o Plano Nacional de Políticas sobre Drogas


(PLANAD 2021/2025), considerando sua aplicação em um modelo estruturado em
um prazo de cinco anos, possuindo validade de atuação, prospecção e coleta de
resultados, atuando de 2021 até 2025. Não se pode afirmar que o planejamento tenha
uma atribuição a longo prazo, definida como essencialidade de planos específicos
(MATUS, 2005), mas possui em sua base os caracteres mais essenciais para o sucesso
de um planejamento, e entre eles, a descentralização de ações tomada de decisões,
o que proporciona segurança, tanto normativa quanto operacional, para qualquer
escolha de decisão no decorrer da organização inicial, desde que siga os basilares
princípios abrigados pelo plano oficial.

O Plano considera a complexidade e a transversalidade da política a


respeito das drogas que necessita da coordenação e apoio de diversas outras áreas,
com intuito de integralizar ações nacionais para o enfrentamento do problema.
Com isso, descentralizar as atividades, mas não o controle, é uma forma de
que se siga o planejamento inicial, mas também incuta aos entes da federação
a responsabilidade em possuir também um planejamento de combate às drogas
e auxílio ao viciado, em suas próprias realidades, e isso é uma estratégia que se
ocupa dos problemas considerados situacionais.

A estratégia é a arte de formular artifícios que encaminhem o seu plano ao


caminho pretendido, passando por atalhos mais benéficos para seus objetivos. De
todos os conceitos de estratégia, seja para empresas capitalistas que em busca de lucro
se deparam com a competividade e problemas pessoais internos, ou em modelos
72
TÓPICO 1 — POLÍTICAS, SEGURANÇA PÚBLICA E AS DROGAS

públicos de gestão sempre em busca de aprimorar a qualidade e a celeridade de


seus serviços, aquele plano que considera pontos específicos para a delineação de
um objetivo é o mais apropriado (CHIAVENATO, 2004). E o planejamento pode
ser visto a partir de uma visão mais espacial, quanto situacional, uma vez que é
realizado de uma maneira macro, atendendo a todos de forma igualitária. Por
esse motivo, existem dois planejamentos: o Nacional e o Estadual. Podemos então
deduzir, que o plano Nacional considera o macroambiente numa visão espacial,
enquanto o Estadual, leva em conta o microambiente em uma visão situacional.

O economista chileno Carlos MATUS (1931-1998) criou uma fórmula


para o pensamento estratégico que ficou conhecida por Planejamento Estratégico
Situacional. Em seu artigo intitulado O Plano como aposta, o economista disse: “Os
jogadores escolhem seu plano de jogo, mas não as circunstâncias em que devem realizá-lo”
(MATUS, 1991 p. 2). Através de suas diretrizes especiais e que desenvolvem uma
programação espacial e uniforme a todos os entes federados, também propõe a
descentralização de ações e tomada de ações, o que proporciona segurança, tanto
normativa quanto operacional, para qualquer escolha de decisões no decorrer do
jogo, desde que siga os basilares princípios abrigados pelo plano. Isso oportuniza
que os Estados, a partir de seu planejamento ambientado em seus domínios, crie
um plano estratégico situacional, conforme Matus identificou.

Como analisamos, o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas


foi uma criação da Lei nº 13.840/2019, que evidenciava a necessidade da criação de
uma política pública que versasse exclusivamente sobre o problema das drogas,
situando-a e delimitando-a em dois pontos estratégicos específicos: diminuir a
demanda e dessa forma reduzir os impactos causados pelo uso desses produtos
nocivos. Antes, com a lei de drogas apenas (Lei nº 11.343/2006), não havia objetivos
que formulassem um planejamento contra as drogas, que passa a ser estratégico a
partir das alterações vinculadas, pois se afirmam como um conjunto de propósitos
práticos; que são primordiais para o combate ao problema. Tendo então sua vigência
quinquenal, os seus principais objetivos são (PLANAD, 2021 p. 7):

• promover a interdisciplinaridade e integração dos programas, ações, atividades


e projetos dos órgãos e entidades públicas e privadas nas áreas de saúde,
educação, trabalho, assistência social, previdência social, habitação, cultura,
desporto e lazer, visando à prevenção do uso de drogas, atenção e reinserção
social dos usuários ou dependentes de drogas;
• viabilizar a ampla participação social na formulação, implementação e avaliação
das políticas sobre drogas;
• priorizar programas, ações, atividades e projetos articulados com os
estabelecimentos de ensino, com a sociedade e com a família para a prevenção
do uso de drogas;
• ampliar as alternativas de inserção social e econômica do usuário ou
dependente de drogas, promovendo programas que priorizem a melhoria de
sua escolarização e a qualificação profissional;
• promover o acesso do usuário ou dependente de drogas a todos os serviços
públicos;

73
UNIDADE 2 — AS DROGAS E OS REFLEXOS NA VIOLÊNCIA SOCIAL

• estabelecer diretrizes para garantir a efetividade dos programas, ações e


projetos das políticas sobre drogas;
• fomentar a criação de serviço de atendimento telefônico com orientações e
informações para apoio aos usuários ou dependentes de drogas;
• articular programas, ações e projetos de incentivo ao emprego, renda e
capacitação para o trabalho, com objetivo de promover a inserção profissional
da pessoa que haja cumprido o plano individual de atendimento nas fases de
tratamento ou acolhimento;
• promover formas coletivas de organização para o trabalho, redes de economia
solidária e o cooperativismo, como forma de promover autonomia ao usuário
ou dependente de drogas egresso de tratamento ou acolhimento, observando-
se as especificidades regionais;
• propor a formulação de políticas públicas que conduzam à efetivação das
diretrizes e princípios da PNAD;
• articular as instâncias de saúde, assistência social e de justiça no enfrentamento
ao abuso de drogas; e
• promover estudos e avaliação dos resultados das políticas sobre drogas.
• o plano terá duração de cinco anos a contar de sua aprovação.
• o poder público deverá dar a mais ampla divulgação ao conteúdo do Plano
Nacional de Políticas sobre Drogas.

Vale destacar que o PLANAD possui uma característica abrangente


no campo do uso de drogas e em seus tratamentos, considerando tanto os
produtos ilícitos quanto lícitos. Isso demonstra a importância pedagógica do
planejamento, indicando não somente identificar os problemas, mas combater as
inúmeras convergências que podem ser a causa do uso de substâncias cada vez
mais viciantes.

Se por um lado existe a Lei nº 11.343/2006, determinada por um viés


mais repressivo aos crimes ligados direta e indiretamente ao tráfico de drogas,
apresenta-se em outra circunstância o PLANAD, que articula com diversos
setores da sociedade, entre eles, institutos da sociedade civil organizada como
Organizações não Governamentais, com intuito de preservar e recuperar
dependentes químicos. A visão é formar uma dicotomia interpretativa entre o
que seja traficante e usuário, que permita tanto à segurança pública, quanto ao
poder judiciário assegurar um tratamento que vise desassociar o crime do vício.

A conformidade normativa do plano contra as drogas deve observar a


hierarquia das fontes normativas de direito, acentuando os princípios basilares
desenvolvidos pela Constituição de 1988. Portanto, tanto plano de política pública
ou de segurança pública de combate ao entorpecente devem estar em comum
acordo aos ditames das seguintes normatizações, no sentido a seguir:

• Constituição Federal de 1988.
• Lei de Drogas (11.343/2006).
• Lei do Fundo Nacional Antidrogas – FUNAD (Lei 7.560/1986).
• Acordos e convenções internacionais ratificados pelo Brasil, como os pactuados

74
TÓPICO 1 — POLÍTICAS, SEGURANÇA PÚBLICA E AS DROGAS

no âmbito da Comissão de Narcóticos das Nações Unidas (CND), da Comissão


Interamericana de Controle do Abuso de Drogas (CICAD) da Organização dos
Estados Americanos (OEA) e da Organização Mundial da Saúde (OMS).
• Decreto do SISNAD (Decreto nº 5.912/2006).
• Decreto da Pnad (Decreto nº 9.761/2019).
• Decreto do CONAD (Decreto nº 9.926/2019).
• Outros normativos relacionados a drogas.

As ações do PLANAD são garantidas através de sua metodologia que


prevê a revisão e a análise do plano, mesmo estando em vigor. É importante
considerar que as diretrizes possam ser apontadas para as mudanças que ocorrem
em uma velocidade considerável na modernidade, trazida por novas tecnologias
e inéditas formas de transformação dos produtos tóxicos, como o ecstasy e o LSD;
a partir de laboratórios cada vez mais eficientes.

Vale destacar o Fundo Nacional Antidrogas (FUNAD), disciplinado pela


Lei nº 7.560/1986, que possui a finalidade de financiamento das ações e projetos
que se relacionam à política das drogas. Como naquela época da referida norma
ainda engatinhávamos para a criação de políticas públicas que se referissem
diretamente ao problema das drogas, hoje todas as ações a esse respeito contam
com a presença do FUNAD. A norma esclarece que os recursos que compõem o
fundo nacional são provenientes de:

• Doações específicas estabelecidas no orçamento da União.


• Doações de organismos ou entidades nacionais, internacionais ou estrangeiras,
bem como de pessoas físicas ou jurídicas nacionais ou estrangeiras.
• Recursos provenientes da venda de bens de valor econômico, apreendidos em
decorrência do tráfico de drogas de abuso ou utilizado de qualquer forma em
atividades ilícitas de produção ou comercialização de drogas abusivas, bem como
os tenham sido adquiridos com recursos provenientes dos referidos crimes.
• Recursos provenientes de emolumentos e multas, arrecadados no controle e
fiscalização de drogas e medicamentos controlados, bem como de produtos
químicos utilizados no fabrico e transformação de drogas de abuso.
• Recursos de outras origens, inclusive os provenientes de financiamentos
externos e internos.
• Recursos oriundos do perdimento em favor da União dos bens, direitos e
valores objeto do crime de tráfico ilícito de substâncias entorpecentes ou drogas
afins.
• Valores decorrentes da imposição de multas para garantia de medidas
educativas relacionadas ao crime de aquisição, guarda, depósito, transporte e
porte de drogas para consumo pessoal, conforme o art. 29, Lei nº 11.343/06.
• Rendimentos de qualquer natureza decorrentes de aplicação do patrimônio do
FUNAD, incluídos os auferidos como remuneração (Lei nº 7.560/1986).

Note que os bens aprendidos por investigações da segurança pública e


que são configurados como estruturantes tanto do tráfico quanto da fabricação
das drogas, serão repassados ao fundo de combate ao crime que se organiza, bem

75
UNIDADE 2 — AS DROGAS E OS REFLEXOS NA VIOLÊNCIA SOCIAL

como, na prevenção contra o uso e no tratamento ao viciado. As multas aplicadas


pela lei de drogas às penas e as medidas educativas também serão convertidas
ao fundo nacional; que se determina como um importante aliado para a nova
política pública.

ATENCAO

A política pública, que será a base do sistema brasileiro, necessita contemplar


a construção de uma “sociedade justa e solidária”, entender as desigualdades sociais e
regionais, e enfim, “promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor,
idade e quaisquer outras formas de discriminação” (BRASIL, 2002, p. 34).

Veja os dados de evolução da arrecadação do FUNAD de 2016 até abril de


2021, disponibilizados pelo portal da justiça:

FIGURA 2 – FUNAD EM NÚMEROS: DE ONDE VEM O DINHEIRO?

FONTE: <https://bit.ly/3gz44pg>. Acesso em: 4 ago. 2021.

No entanto, para um planejamento como o referido, é necessário que os


objetivos sejam destacados. Especificar o plano a partir de situações que devem
ser avaliadas e definidas é importante em um País com o tamanho do Brasil,
possuindo características locais bem apresentadas. É intenção do plano abranger
dimensões estratégicas e táticas para a política sobre drogas, em seus aspectos
mais relevantes, como a prevenção, o tratamento ao viciado e a redução de oferta
do produto.

76
TÓPICO 1 — POLÍTICAS, SEGURANÇA PÚBLICA E AS DROGAS

Ao definir os problemas centrais que se relacionam ao tráfico e ao uso


de entorpecentes, pode-se então definir também uma visão estratégica, que são
identificados em seis eixos principais reconhecidos como os objetivos essenciais
do plano. Assim, entre os objetivos do PLANAD destacam-se:

• I - Prevenção: envolve ações de educação preventiva com foco no indivíduo e


no seu contexto sociocultural, buscando desestimular o uso inicial de drogas,
promover a abstinência e conscientizar e incentivar a diminuição dos riscos
associados ao uso, ao uso indevido e à dependência de drogas lícitas e ilícitas;
• II - Tratamento, Cuidado e Reinserção Social: abrange ações de atenção,
cuidado, apoio, mútua ajuda, recuperação, tratamento, proteção, promoção, e
reinserção social de usuários e dependentes de álcool e outras drogas;
• III - Redução da Oferta: consiste em ações de repressão da produção não
autorizada e do tráfico ilícito de drogas, além da regulação de substâncias
controladas e ações de desenvolvimento sustentável;
• IV - Pesquisa e Avaliação: engloba as ações de expansão do conhecimento
científico, desenvolvimento de indicadores, estatísticas e avaliação de políticas,
programas e projetos;
• V - Governança, Gestão e Integração: contempla as ações de coordenação e
integração, além da promoção da transparência e da realização da prestação de
contas da política sobre drogas para a sociedade.
• VI - Os objetivos estratégicos do plano devem refletir a mudança desejada na
sociedade, de forma a evidenciar o impacto social ou os principais resultados
da atuação governamental. Cumpre destacar que cada objetivo estratégico
pode fazer parte de apenas um eixo, mas um mesmo eixo pode conter vários
objetivos vinculados (PLANAD, 2020, p. 15).

As diretrizes apregoadas no Plano devem seguir o estipulado pela Política


Nacional sobre drogas, criada pela Lei de Drogas, como vimos. Esse ponto de
encontro se define pelas metas incorporadas pelo PLANAD, em comum acordo
à política pública, que determinaram etapas de envolvimento que devem ser
cumpridas. Para garantir a qualidade das práticas aprovadas para o plano são
definidas quatro fases primordiais:

FIGURA 3 – ETAPAS DO PANAD

FONTE: PLANAD (2020, p. 19)

A etapa de diagnóstico permite os estudos setoriais que abrangem as


atividades em uma visão holística a respeito da situação nacional. Assim, o
PLANAD instituiu em sua fase de diagnóstico, que um estudo mais aprofundado
acerca do tema deve ser realizado no País. Intitulado Análise Executiva da

77
UNIDADE 2 — AS DROGAS E OS REFLEXOS NA VIOLÊNCIA SOCIAL

Questão das Drogas no Brasil, o documento deve conter os problemas em sua


essencialidade, para que se possa estabelecer o PLANAD, de forma que tanto
órgãos federais, estaduais quanto municipais, possam laborar de maneira integral
para solucionar os problemas trazidos pelo diagnóstico.

Veja que em uma última análise desenvolvida “o tráfico e a produção não


autorizados de drogas, o consumo de drogas ilícitas e de álcool, o controle de tabaco
e os ativos criminais são algumas das questões destacadas” (BRASIL, 2021, p. 2).

Dessa forma, o PLANAD 2021/2025, que servirá para instruir as políticas


públicas de combate às drogas, possui os seguintes passos iniciais:

QUADRO 1 – OS PRINCIPAIS PASSOS DO PLANAD


Publicação do documento Intitulado
Diagnóstico Setorial Análise Executiva da Questão das Drogas
no Brasil.
Debates sobre o estudado pela análise
acima, na definição de intervenções
Elaboração e Aprovação integradas e coordenadas para o efetivo
alcance desejado, em âmbito social. Conta
com a participação dos Estados.
Materializar a execução do planejamento
definido no plano. Monitoramento por
conta do CONAD, sendo quadrimestral,
visando à garantia de acompanhamento
Execução e Monitoramento e adoção de providências de forma
tempestiva para o alcance dos resultados
desejados. Esse processo prevê a publicação
constante de Relatórios de Monitoramento
Quadrimestral do Planad (PLANAD, 2020).
Consiste na avaliação e na revisão do
plano, que ocorrerá todo início do ano,
até o ano de 2025. As análises situacionais
Avaliação e Revisão devem ser apresentadas, havendo a
necessidade de novas metas para o novo
plano após esse prazo, outras iniciativas
podem ser tomadas através desse estudo.
FONTE: O autor

Na fase analítica do diagnóstico, considerada o primeiro passo do programa,


é esperada a análise de como o tema das drogas serão tratados pelo poder público,
e em principal aspecto, pela força penal. Dessa forma, é necessário a identificação
na norma legal, em uma distinção entre usuários e traficantes. A importância disso
se dispõe na atribuição que a normatização dá ao usuário. As análises também são
realizadas a partir dos compromissos firmados pelo país com as resoluções, acordos
e políticas internacionais de combate às drogas, bem como, no estudo dos diversos
problemas sociais causados por esse mal, dentro de nossas fronteiras. Veja:

78
TÓPICO 1 — POLÍTICAS, SEGURANÇA PÚBLICA E AS DROGAS

FIGURA 4 – ESTRUTURA DA ANÁLISE EXECUTIVA DA QUESTÃO ACERCA DAS DROGAS NO PAÍS

FONTE: PLANAD (2021, p. 21)

O PLANAD foi aprovado em abril de 2019, após seus relatórios terem


cumprido sua missão de identificar problemas intrínsecos à situação das drogas, em
nível nacional, mas ainda assim, setorizando as informações e os dados; considerando
Estados e Municípios. Uma de suas grandes influências, foi destacar alguns sistemas
nacionais muito importantes para a vida social, como uma ferramenta a mais para
o combate e o controle do problema das drogas, em um nível que identifica a
essencialidade da prevenção e do tratamento. São atores do sistema, vinculados
pelo Plano Nacional e pelo Sistema Nacional de Políticas sobre Drogas:

• Sistema Único de Saúde – SUS;


• Sistema Único de Assistência Social – SUAS;
• Sistema de Garantia dos Direitos da Criança e do Adolescente – SGDCA;
• Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo – SINASE;
• Sistema Único de Segurança Pública – SUSP;
• Sistema Nacional de Trânsito – SNT;
• Sistema Brasileiro de Inteligência – SISBIN; 
• Forças Armadas Brasileira – FAB.

Importante que possamos identificar, através das políticas públicas, as


funções de seus personagens principais, e que podem servir de grande importância
para quem busca seus serviços de combate, prevenção e até mesmo, de proteção
contra a violência das drogas:

79
UNIDADE 2 — AS DROGAS E OS REFLEXOS NA VIOLÊNCIA SOCIAL

FIGURA 5 – FUNÇÃO DOS ÓRGÃOS ESTATAIS DIVERSOS NA POLÍTICA SOBRE DROGAS

80
TÓPICO 1 — POLÍTICAS, SEGURANÇA PÚBLICA E AS DROGAS

FONTE: <https://www.justica.gov.br/sisnad>. Acesso em: 4 ago. 2021.

Os órgãos representados anteriormente que laboram em âmbito federal,


possuem importância ímpar, pois cada um em suas aptidões e responsabilidades
levarão à política pública suas informações e ações qualitativas dentro de seus
saberes. Dessa forma, podemos entender que o plano nacional de combate às
drogas possui uma grande afinidade com a prevenção e com o tratamento, bem
como na educação de nossos jovens, a partir do envolvimento de setores públicos
que convergem justamente para atividades sociais de inclusão, como o Ministério
da Cidadania e o Ministério da Mulher, da família e dos direitos humanos.

Projetos socioeducativos e a prevenção da cooptação de crianças e


adolescentes pelas drogas e seu potencial são estruturados a partir da realidade de
cada Estado, mas com a ampla direção e organização Federal. Isso demonstra que
mais importante que criminalizar o uso de drogas e o usuário é um pensamento
ultrapassado de uma política de tolerância zero, que incumbia a força de polícia, o
direito penal e toda sua persecução contra esses personagens, que no fim acabam
sendo o ponto mais fragilizado dessa relação (FERREIRA, 2020).

81
UNIDADE 2 — AS DROGAS E OS REFLEXOS NA VIOLÊNCIA SOCIAL

A Lei nº 13.840/2019, que instituiu o SISNAD, como vimos acima,


também estabeleceu a Semana Nacional de Políticas sobre Drogas, comemorada
anualmente na quarta semana de junho. Assim, todos os anos, debates, encontros
e palestras devem ser difundidos nos mais diversos setores com a função de
esclarecer os problemas atuais trazidos pelas drogas, e prevenir por intermédio
da informação futuros usuários sobre o risco dos produtos que contêm alta
toxicidade e grande poder viciante. Assim, nessa semana específica de cada ano,
serão apresentadas as seguintes ações:

I - Difusão de informações sobre os problemas decorrentes do uso de


drogas;
II - Promoção de eventos para o debate público sobre as políticas sobre
drogas;
III - Difusão de boas práticas de prevenção, tratamento, acolhimento e
reinserção social e econômica de usuários de drogas;
IV - Divulgação de iniciativas, ações e campanhas de prevenção do uso
indevido de drogas;
V - Mobilização da comunidade para a participação nas ações de
prevenção e enfrentamento às drogas;
VI - Mobilização dos sistemas de ensino para a realização de atividades
de prevenção ao uso de drogas (BRASIL, 2019).

Ainda veremos como a Segurança Pública atua, levando em conta os


inovadores planos de tratamento e combate ao uso de drogas, em suas ações
contra o tráfico lícito de entorpecentes. Nesse caminho, o encontro com usuários
dos produtos ilícitos é uma realidade, que deve ser encarada pela segurança
pública como um problema de saúde, e não um caso de polícia.

3 SEGURANÇA PÚBLICA E AS DROGAS


No total, nós tivemos sete Constituições Federais escritas no País. Cada
uma delas representou normas e leis constitutivas de todo o direito nacional,
conforme as particularidades dos sistemas políticos e controladores do poder que
se apresentavam a cada época. A Constituição Federal de 1988 contribuiu para
solidificar legalmente a segurança pública dentro das bases que estruturam a
política e a regulamentação do serviço. Para o processo de redemocratização que
se realizava, todas as áreas envolvendo os serviços públicos, que são prestados
à população, deveriam possuir clareza, a partir da publicização de seus atos,
exercida por sua definição constitucional.

O texto constitucional inicia a partir do Título V, intitulado Da Defesa


do Estado e das Instituições Democráticas, a delinear os serviços de segurança
pública, pelos artigos 142 e 144. Respectivamente exércitos e demais polícias são
sancionados legalmente, a respeito de sua jurisdição e competência. Ainda assim, a
Carta Magna não especifica o significado de Segurança Pública, mas aponta o titular
da obrigação da incolumidade geral, bem como, os beneficiados por sua proteção,
o que a torna muito diferente de suas outras seis antecessoras. Vale destacar, o

82
TÓPICO 1 — POLÍTICAS, SEGURANÇA PÚBLICA E AS DROGAS

que você, acadêmico, certamente já deve ter percebido: que a Constituição é a


principal diretriz das estruturas dos profissionais de segurança pública, devendo
ela apontar a jurisdição de cada organização que componha a segurança, bem como
a competência. Nesse sentido, o artigo 22, transcrito logo abaixo, declara:

CF/88 Art. 22. Compete privativamente à União o legislar sobre:


[...] XXI - normas gerais de organização, efetivos, material bélico,
garantias, convocação e mobilização das polícias militares e corpos de
bombeiros militares;
XXII - competência da polícia federal e das polícias rodoviária e
ferroviária federais; (BRASIL, 2002, p. 41).

Percebemos que somente a União, por intermédio do Poder Legislativo,


pode legislar a respeito dos institutos elencados no artigo acima, não possuindo os
Estados capacidade legislativa sobre esses entes; isso é decorrente da capacidade
de competência que é atribuída a cada entidade, no caso, a União. Competência
significa o exercício da função jurisdicional, o que legitima a sua autoridade. Nesse
sentido, os Estados, pela competência concorrente, possuem a possibilidade de
aprimorar as Políticas Públicas no âmbito de drogas, mas não cria normas legais
penalizadoras acerca dos institutos relacionados acima.

Como analisamos no artigo 144 da CF/1988, compete à Polícia Federal


o combate ao tráfico ilícito de entorpecentes, no combate ao crime organizado.
Assim, toda e qualquer estratégia de segurança pública deve ser seguida pelos
Estados, que pode, por intermédio da descentralização, organizar suas ações de
segurança e combate ao tráfico de drogas, sempre de acordo com as estratégias
nacionais de segurança pública.

ATENCAO

Vamos analisar o artigo 144 que versa sobre a Segurança Pública no País.
Outrora, em fontes normativas constitucionais do passado, a segurança pública era utilizada
de forma genérica e sem alguma serventia ao real significado de proteção pública. Chegou
inclusive, a ser retratada como uma força das elites que controlavam o poder para dar
garantias e suporte ao seu controle, em épocas do Brasil Império e da ditadura. Com a
Carta Magna de 1988 se estabeleceu o entendimento de que a segurança pública e social
deve ser convalidada pelos princípios de uma nova constituição, regida pela ética iluminista
e humanitária, ao determinar os direitos humanos e das pessoas como seus primordiais
valores.

Capítulo III   
Da Segurança Pública
Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida
para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio,
através dos seguintes órgãos:
I - polícia federal;
II - polícia rodoviária federal;
III - polícia ferroviária federal;

83
UNIDADE 2 — AS DROGAS E OS REFLEXOS NA VIOLÊNCIA SOCIAL

IV - polícias civis;


V - polícias militares e corpos de bombeiros militares;
VI - polícias penais federal, estaduais e distrital.
    § 1º A polícia federal, instituída por lei como órgão permanente, organizado e mantido
pela União e estruturado em carreira, destina-se a:
I - apurar infrações penais contra a ordem política e social ou em detrimento de
bens, serviços e interesses da União ou de suas entidades autárquicas e empresas
públicas, assim como outras infrações cuja prática tenha repercussão interestadual ou
internacional e exija repressão uniforme, segundo se dispuser em lei;
II - prevenir e reprimir o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o contrabando
e o descaminho, sem prejuízo da ação fazendária e de outros órgãos públicos nas
respectivas áreas de competência;
III - exercer as funções de polícia marítima, aeroportuária e de fronteiras;
IV - exercer, com exclusividade, as funções de polícia judiciária da União.
    § 2º A polícia rodoviária federal, órgão permanente, organizado e mantido pela União
e estruturado em carreira, destina-se, na forma da lei, ao patrulhamento ostensivo das
rodovias federais.
    § 3º A polícia ferroviária federal, órgão permanente, organizado e mantido pela União
e estruturado em carreira, destina-se, na forma da lei, ao patrulhamento ostensivo das
ferrovias federais.
    § 4º Às polícias civis, dirigidas por delegados de polícia de carreira, incumbem, ressalvada
a competência da União, as funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais,
exceto as militares.
    § 5º Às polícias militares cabem a polícia ostensiva e a preservação da ordem pública; aos
corpos de bombeiros militares, além das atribuições definidas em lei, incumbe a execução
de atividades de defesa civil.
    § 5º-A. Às polícias penais, vinculadas ao órgão administrador do sistema penal da unidade
federativa a que pertencem, cabe a segurança dos estabelecimentos penais.
    § 6º As polícias militares e os corpos de bombeiros militares, forças auxiliares e reserva do
Exército subordinam-se, juntamente com as polícias civis e as polícias penais estaduais e
distrital, aos Governadores dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios.
    § 6º As polícias militares e corpos de bombeiros militares, forças auxiliares e reserva do
Exército, subordinam-se, juntamente com as polícias civis, aos Governadores dos Estados,
do Distrito Federal e dos Territórios.
    § 7º A lei disciplinará a organização e o funcionamento dos órgãos responsáveis pela
segurança pública, de maneira a garantir a eficiência de suas atividades.
    § 8º Os Municípios poderão constituir guardas municipais destinadas à proteção de seus
bens, serviços e instalações, conforme dispuser a lei.
    § 9º A remuneração dos servidores policiais integrantes dos órgãos relacionados neste
artigo será fixada na forma do § 4º do art. 39.
    § 10 A segurança viária, exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade
das pessoas e do seu patrimônio nas vias públicas:
I - compreende a educação, engenharia e fiscalização de trânsito, além de outras atividades
previstas em lei, que assegurem ao cidadão o direito à mobilidade urbana eficiente; e
II - compete, no âmbito dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, aos respectivos
órgãos ou entidades executivos e seus agentes de trânsito, estruturados em Carreira, na
forma da lei (BRASIL (1988).

Algumas considerações devem ser feitas ao artigo lido anteriormente.


O artigo 144, em seu início ou caput, traz a questão responsabilidade, e aqui é
dever do Estado a segurança pública, mas não se limita apenas a ele. Ao escrever
a norma, quis o legislador original incluir toda a sociedade, ou seja, a questão
segurança não é apenas referenciada para as polícias, mas sim, a todos os cidadãos

84
TÓPICO 1 — POLÍTICAS, SEGURANÇA PÚBLICA E AS DROGAS

também. Isso quer significar, que todos, a partir de sua conduta e de suas ações,
são responsáveis por uma convivência saudável e pela minimalização de atos
criminosos a partir dela. A partir daí, percebemos que como dever de todos, a
responsabilidade pela segurança é compartilhada entre os poderes, e cada esfera
de governo possui a sua incumbência para o aperfeiçoamento do setor. Assim,
Estados e Municípios também estão incluídos nessa responsabilidade.

Quanto à ordem pública, citada no texto constitucional, nos familiarizamos


com ela quando conseguimos exercer todas as suas atividades do cotidiano, sem
interferências causadas por qualquer tipo de desordem. A preservação da ordem
pública parte dos entes de segurança do Estado, evitando o caos ou o desarranjo
social, que como sabemos, pode ser causado por inúmeras situações como,
enchentes, alta taxa de criminalidade, incêndios etc.

A Policia Federal é um órgão autônomo, e mesmo sendo subordinado ao


Ministério da Justiça e ao Poder Executivo, esse órgão não deve sofrer as suas
interferências. Ela exerce atividades administrativas quando visa prevenir o tráfico
de drogas e contrabando, por exemplo, e atividades judiciárias, quando executa a
função de auxiliar a Justiça Federal em crimes contra a ordem política e social.

À União cabe, como vimos no artigo 144, realizar o policiamento e


segurança das fronteiras da Nação e ainda, o combate ao tráfico de drogas,
seja internacional ou interestadual, desempenhado pela Policia Federal. Já as
estradas e rodovias federais são asseguradas pela Polícia Rodoviária Federal, da
mesma forma que as ferrovias são fiscalizadas pela Polícia Ferroviária Federal.

A Policia Rodoviária Federal e a Ferroviária Federal são mantidas e


organizadas pela União, ou seja, pelo Governo Federal, e possuem características
de polícia ostensiva. Já os Policiais Civis, Polícias Militares e Bombeiros são
condicionados pelos Estado, esses últimos, prestam suas forças de defesa
como forças auxiliares e reservas do Exército. As polícias militares e civis têm
designação diferente uma da outra, a saber: prestam à Polícia Militar o serviço de
policiamento ostensivo, preventivo e repressivo, no patrulhamento e na garantia
da segurança pública. Segundo o artigo 42 da nossa Constituição confirma que
“os membros das Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares, instituições
organizadas com base na hierarquia e disciplina, são militares dos Estados, do
Distrito Federal e dos Territórios”.

Já a Policia Civil possui a característica da polícia judiciária, auxiliando


a justiça nas investigações de crimes, por intermédio de ações controladas pelo
Delegado de Polícia. Cabe a ela a apuração dos desvios criminais, mas não à
investigação de crimes causados por militares, pois a esses, existe o Direito
Penal Militar e a repreensão do próprio instituto. Então, podemos considerar o
seguinte: se a polícia civil possui a competência para exercer a função de polícia
judiciária dos Estados, por consequência, a Policia Federal tem a competência
para exercer, exclusivamente, as funções de polícia judiciária da União! Como o
crime de tráfico de drogas possui em sua característica o transporte de produtos

85
UNIDADE 2 — AS DROGAS E OS REFLEXOS NA VIOLÊNCIA SOCIAL

ilícitos entre as fronteiras dos Estados, todo ilícito nesse sentido aprendido pela
Polícia Rodoviária Federal nas estradas país afora, será levado ao conhecimento
da Polícia Federal para a abertura do inquérito contra o crime que se organiza, e
assim, dar início às investigações.

O artigo 144 da CF/1988 se inicia com a seguinte frase: “A Segurança


Pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a
preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio...”.
Assim podemos perceber, que é dever do Estado a segurança pública, por
intermédio do rol descrito no próprio artigo, das instituições de segurança
responsáveis por essa atividade. Entretanto, de nada vale ter uma Constituição
Cidadã, se você não conseguir transformar suas belas palavras em atitude, em
uma política pública que defenda o que preza a própria CF. Assim, é necessário
um Estado forte, que se faz por intermédio de uma democracia forte, que se
fortalece a medida da participação de todos. Um Estado fraco, se forma ao realizar
os desejos do mercado globalizado, e não mais que isso (BAUMAN, 2000). Ao
atentar apenas os desejos do mercado e do lucro, que se concretizam a partir
das grandes empresas e do sonho consumidor de uma sociedade complexa, “o
Estado aposta suas fichas na segurança contra qualquer situação que possa vir
a interferir na arte do consumir e nas atuações dos conglomerados comerciais,
geralmente estrangeiros” (FERREIRA, 2020, p. 89). Isso pode fazer com que
o Estado se torne fraco, deixando de lado as políticas públicas de inclusão, de
educação e saúde, de ressocialização etc., acarretando um distanciamento social,
contrário a tudo o que previu a Constituição em prol da segurança dos locais de
consumo e dos interesses das grandes empresas.

DICAS

Se você se interessou ou deseja entender mais sobre a complexidade da


sociedade, que vive agora o período conhecido como Pós-Modernidade, indicamos os
livros do sociólogo polonês Zygmunt Bauman. São mais de 30 obras, recomendamos as
seguintes:
BAUMAN, Zygmunt. O mal-estar da pós-modernidade. Rio de Janeiro, Ed. Zahar, 1998.
BAUMAN, Zygmunt. Em busca da política. Rio de Janeiro: Zahar, 2000. Excelente leitura!

Assim, é preciso cada vez mais a participação popular na democracia,


cobrando de nossos governantes políticas públicas, que tenham a real participação
da população, que respeitem as instituições públicas de segurança; inflando-as
com a real importância que elas possuem, pois, sua principal missão é a defesa
do cidadão. As políticas públicas de inclusão, educação e de ordem comunitária,
como vimos, afastam a criminalidade e possuem a intenção de unir a comunidade
e as instituições. Nota-se que, se isso tudo for deixado de lado, pode haver uma

86
TÓPICO 1 — POLÍTICAS, SEGURANÇA PÚBLICA E AS DROGAS

involução das conquistas já realizadas. É dever do Estado a Segurança Pública,


portanto, somente seus institutos podem garanti-la, a partir de seus efetivos,
mas é dever de todos a partir da civilidade e urbanidade, contribuir para a
incolumidade na vida em sociedade, e isso também é assegurar e preservar a
segurança de todos.

A busca pela diminuição da violência, por intermédio dos padrões


aceitos nos dias atuais, prevê a educação e o comprometimento da política local
com medidas de suporte ao seu cidadão, juntamente com possibilidades de
oportunidades diversas para o seu crescimento. E a segurança pública também
agradece e faz parte, de atos e políticas que valorizam a pessoa, ao invés de
estigmatiza-la. A falta de oportunidades e possibilidades, bem como, o
afastamento das comunidades dos setores públicos da vida cotidiana, realça a
segregação de comunidades inteiras, de pessoas e famílias.

As perspectivas para a segurança pública para o futuro somente podem


vir com o olhar atento para o passado; ao não cometermos os erros anteriores, de
deixar uma parte da população que vive em uma grande vulnerabilidade social
à sua sorte e desgarrados de qualquer atividade pelo Estado, que proporcione
convivência e alteridade. E é justamente aqui que as políticas de segurança pública
possuem um grande envolvimento, principalmente quando estamos tratando de
um tema tão considerável no País, como as drogas.

Nossa única política de enfrentamento contra as drogas no que diz respeito


à Segurança Pública, é a Lei de Drogas, como vimos no capítulo anterior (Lei nº
11.343/2006). É a partir dela, que o planejamento de segurança é realizado. Todas as
estratégias para desarticular o crime organizado são legalmente efetivadas a partir
da norma, gerando segurança jurídica aos seus idealizadores. Todavia, o problema
das drogas se confunde entre traficantes, usuários e a população mais carente no
âmbito social. São nas comunidades mais afastadas e débeis de nossa sociedade que
se esconde uma grande fatia criminosa, que compõe o tráfico e o remete para todo
o Brasil. Dessa forma, os órgãos e entidades realizadoras dos planejamentos devem
estar informados e possuir a noção de que situações de segurança pública que
envolvem drogas, espelham problemas sociais que sempre afetaram em especial as
populações mais carentes e vulneráveis; locais onde a institucionalidade e o Estado
são considerados fracos e inoperantes (REIS; OLIVEIRA, 2014). Locais esses que
servem de esconderijo para o traficante de drogas.

Tendo isso em vista, o Ministério da Justiça desenvolveu o Programa


Nacional de Segurança Pública com Cidadania (PRONASCI), que pretende ser
um marco no desenvolvimento de ações que visam ao combate à criminalidade.
Criado em 2007 pela Lei nº 11.530/2007, é intenção do programa articular políticas
de segurança com diversas ações sociais, priorizando a prevenção e dessa forma
minimizar as causas e os motivos que levam jovens e usuários à violência das
drogas; sem desconsiderar as estratégicas de ordenamento social e de segurança
pública. Veja o que ressalta o artigo 3°, que estabelece as diretrizes do programa
de segurança, que possui um forte viés social:

87
UNIDADE 2 — AS DROGAS E OS REFLEXOS NA VIOLÊNCIA SOCIAL

I - promoção dos direitos humanos, intensificando uma cultura de paz,


de apoio ao desarmamento e de combate sistemático aos preconceitos
de gênero, étnico, racial, geracional, de orientação sexual e de
diversidade cultural;
II - criação e fortalecimento de redes sociais e comunitárias;
III - fortalecimento dos conselhos tutelares;
IV - promoção da segurança e da convivência pacífica;
V - modernização das instituições de segurança pública e do sistema
prisional;
VI - valorização dos profissionais de segurança pública e dos agentes
penitenciários;
VII  -  participação de jovens e adolescentes, de egressos do sistema
prisional, de famílias expostas à violência urbana e de mulheres em
situação de violência;
VIII  -  ressocialização dos indivíduos que cumprem penas privativas
de liberdade e egressos do sistema prisional, mediante implementação
de projetos educativos e profissionalizantes;
IX  -  intensificação e ampliação das medidas de enfrentamento do
crime organizado e da corrupção policial;
X  -  garantia do acesso à justiça, especialmente nos territórios
vulneráveis;
XI  -  garantia, por meio de medidas de urbanização, da recuperação
dos espaços públicos;
XII  -  observância dos princípios e diretrizes dos sistemas de gestão
descentralizados e participativos das políticas sociais e resoluções
dos conselhos de políticas sociais e de defesa de direitos afetos ao
PRONASCI;
XIII  -  participação e inclusão em programas capazes de responder,
de modo consistente e permanente, às demandas das vítimas da
criminalidade por intermédio de apoio psicológico, jurídico e social;
XIV - participação de jovens e adolescentes, em situação de moradores
de rua, em programas educativos e profissionalizantes com vistas à
ressocialização e reintegração à família;
XV - promoção de estudos, pesquisas e indicadores sobre a violência,
que considerem as dimensões de gênero, étnicas, raciais, geracionais e
de orientação sexual;
XVI - transparência de sua execução;
XVII - garantia da participação da sociedade civil (PRONASCI, 2007, p. 15).

O artigo acima se refere também ao público alvo do PRONASCI,


observando jovens entre 15 a 29 anos à beira da criminalidade, que se encontram
ou já estiveram em conflito com a lei; presos ou egressos do sistema prisional;
e ainda os reservistas, passíveis de serem atraídos pelo crime organizado em
função do aprendizado em manejo de armas adquirido durante o serviço militar.
Segundo o Ministério da Justiça:

A execução do PRONASCI se dará por meio de mobilizações policiais


e comunitárias. A articulação entre os representantes da sociedade
civil e as diferentes forças de segurança – polícias civil e militar, corpo
de bombeiros, guarda municipal, secretaria de segurança pública –
será realizada pelo Gabinete de Gestão Integrada Municipais (GGIM).
O PRONASCI será coordenado por uma secretaria-executiva em nível
federal e regionalmente dirigido por uma equipe que atuará junto aos
GGIM e tratará da implementação das ações nos municípios. Para
garantir a realização das ações no país serão celebrados convênios,
contratos, acordos e consórcios com estados, municípios, organizações

88
TÓPICO 1 — POLÍTICAS, SEGURANÇA PÚBLICA E AS DROGAS

não-governamentais e organismos internacionais. A instituição


responsável pela avaliação e acompanhamento do Programa será a
Fundação Getúlio Vargas (FGV). Além da verificação dos indicadores,
ainda será feita a avaliação do contexto econômico e social. O controle
mais abrangente do Programa contará com a participação da sociedade
(www.mj.gov.br/pronasci).

NOTA

Política criminal é o “conjunto sistemático de princípios e regras através dos


quais o Estado promove a luta de prevenção e repressão das infrações penais. Compreende
também os meios e métodos aplicados na execução das penas e das medidas de segurança,
visando o interesse social e a reinserção do infrator” (DOTTI, 1999).

Um dos grandes avanços da Lei nº 11.343/2006, que convenciona toda


segurança pública no caso das drogas, foi distinguir quem são usuários e
quem são considerados traficantes. Aqui é considerado um modelo de justiça
restaurativa, proporcionando ao usuário identificado pela polícia em suas ações
ostensivas e investigativas, uma medida punitiva que possui finalidades didáticas
e terapêuticas, diferentes do tratamento que a lei punitiva cede ao traficante, que
é o real infrator nesses casos.

Veja que nossa política criminal remonta a década de 1940, com normas
incriminadoras, como o Código Penal escrito naquele ano, constituindo uma
política proibicionista e sistematizada. O artigo 281 tipificou o comércio
clandestino ou a facilitação do uso de entorpecentes. Salo de Carvalho aborda
as características históricas da política criminal nacional, a partir de 1940, com o
Código Penal e as normas que vieram em sequência, veja:

A característica marcante do Código Penal de 1940 é a tentativa, a partir


do ensaio da Consolidação das Leis Penais na década de 30, de preservar
as hipóteses de criminalização junto às regras gerais de interpretação e de
aplicação da lei codificada. No entanto, a partir do Decreto-Lei 4.720/42
(que dispõe sobre o cultivo), e com a publicação da Lei 4.451/64 (que
introduz ao art. 281 a ação de plantar), se inicia na legislação pátria – não
apenas no que diz respeito às drogas, mas aos entorpecentes de maneira
muito especial – amplo processo de descodificação, cujas consequências
serão drásticas para o (des)controle da sistematicidade da matéria
criminal (dogmática jurídico-penal) CARVALHO, 2013, p. 60).

Mas foi somente em 2006 que, criada a Lei de Drogas nº 11.343/2006, que
foi instituído o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre drogas, elaborando
um sistema preventivo do uso indevido e dando atenção aos usuários que passam
a ser reconhecidos como uma questão de saúde, mas não de polícia ou de direito

89
UNIDADE 2 — AS DROGAS E OS REFLEXOS NA VIOLÊNCIA SOCIAL

penal. Isso tem relação com o que é considerado por drogas, entendido pela lei
como substância ou produtos capazes de causar dependência química, que pode
ser qualquer remédio legalizado ou qualquer substância química de fácil ou
difícil acesso, como os entorpecentes vendidos pelo tráfico de drogas. E quem
determina o que é droga é a ANVISA através da Portaria SVS/MS n° 344/1198, em
seu artigo 66 (BRASIL, 1998), causando uma complementação, dessa forma, à Lei
de Drogas, que não identifica o que seja substância ilegal.

Assim, é necessária a portaria da ANVISA para que haja o entendimento


da norma essencial de drogas, havendo uma leitura conjunta tanto da portaria,
quanto da Lei nº 11.343/2006. Isso é o que chamamos, no direito, de norma penal
em branco, pois precisa do preenchimento de outro recurso para sua completa
interpretação. Perceba que o artigo 33 da Lei de Drogas traz a seguinte redação:

Art. 33. Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar,


adquirir, vender, expor à venda, oferecer, ter em depósito, transportar,
trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo ou
fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em
desacordo com determinação legal ou regulamentar: Pena - reclusão
de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos e pagamento de 500 (quinhentos) a
1.500 (mil e quinhentos) dias-multa (BRASIL, 2006) (grifo nosso).

Ao lermos a norma, não é possível encontrar em sua hermenêutica, qual


é o conceito de drogas, ou quais substâncias são consideradas ilegais para que
a lei seja aplicada. Em momento algum na norma analisada, têm-se as palavras
que definem entorpecentes como ecstasy ou ópio, ou mesmo, cola de sapateiro.
Isso torna a lei incompleta, que precisa de um suplemento, e é justamente isso
que identifica a norma penal em branco. A análise de usuário, que difere de
traficante, a norma também não expõe sua consideração, mas deixa em evidencia
os tratamentos diferentes entre um e outro.

A pena privativa de liberdade deve ser imposta ao traficante de drogas,


mas não ao usuário, mesmo a norma não os distinguindo. Da mesma forma,
usuário é todo individuo viciado em produtos químicos, sejam eles quais
forem, legais ou ilegais. Nessa hermenêutica, todo aquele que vende produtos
considerados drogas ilícitas pela ANVISA, e que percebe lucro é considerado
traficante de drogas.

Uma das contribuições mais essenciais da nova norma de drogas foi o fim
da pena privativa de liberdade, que antes era aplicada aos usuários de substância
ilícita, restando apenas penalizações, como vimos, pedagógicas e instrutivas como
a advertência ao uso de entorpecentes, a prestação de serviços à comunidade e
o comparecimento aos programas e cursos educativos, conforme o artigo 28, em
seus incisos I, II e III.

Veja que são aplicadas às condutas relacionadas à produção e ao comércio


de drogas ilícitas (tráfico), os dispositivos das Lei nº 8.072/1990. Esse é a norma
que dispõe sobre os crimes hediondos. Significa então que são equiparados aos

90
TÓPICO 1 — POLÍTICAS, SEGURANÇA PÚBLICA E AS DROGAS

crimes hediondos, aqueles ligados ao tráfico de drogas que hoje se faz de maneira
profissional no Brasil. Essa é uma norma considerada de emergência, devido ao
crescimento do crime organizado de tráfico (KARAM, 2010).

O Brasil é signatário de três convenções das Nações Unidas que refletem


o tema drogas, são elas:
• Convenção Única sobre Entorpecentes de 1961;
• Convenção sobre Substâncias Psicotrópicas de 1971;
• Convenção contra o Tráfico Ilícito de Entorpecentes e Substâncias Psicotrópicas
de 1988.

NTE
INTERESSA

Veja o que diz nossa doutrina acerca da política criminal de combate às drogas
no Brasil, nos estudos de Selma Pereira de Santana e Camila Ribeiro Hernandes:
Aplicabilidade da justiça restaurativa a usuários e dependentes de drogas ilícitas: uma
alternativa ao fracasso do sistema penal tradicional.

A política pública brasileira sobre drogas é comandada pela Secretaria Nacional de Políticas
Sobre Drogas - SENAD, criada pela Medida Provisória nº 1669/1998 e posteriormente
transferida para a estrutura do Ministério da Justiça pelo Decreto nº 7.426/ 2011, assim
como o Conselho Nacional de Políticas sobre Drogas – CONAD e a gestão do Fundo
Nacional Antidrogas – FUNAD.
Não há dúvidas, contudo, de que as políticas repressivas de combate às drogas adotadas
nas últimas décadas vêm produzindo resultados contrários ao que delas se esperam,
apontando para prejuízos e consequências mais graves e negativas do que o próprio efeito
nocivo dos entorpecentes.
Com efeito, o Brasil possui um enorme custo social e econômico decorrente da violência
associada ao combate ao tráfico de drogas, e a estratégia focada na repressão acarreta
no aumento da corrupção, da marginalização da juventude das periferias, na violação de
muitos direitos e no crescimento da população carcerária de baixo potencial ofensivo.
Conforme leciona Maria Lúcia Karam (2010, p. 2):

[...] A alegada negatividade da produção, da distribuição e do


consumo das drogas etiquetadas de ilícitas não só permanece
sendo uma das principais fontes de busca de legitimação
e de alimentação do agigantado poder punitivo, como,
frequentemente, tais atividades são associadas aos demais
fenômenos (reais ou imaginários) acenados para operar essa
legitimação.

Os últimos números publicados pelo Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias


– INFOPEN, de dezembro de 2014, informam que o país já ultrapassou a marca de 622 mil
pessoas privadas de liberdade em estabelecimentos penais, chegando a uma taxa de mais
de 300 presos para cada 100 mil habitantes. Com esse contingente, o país é a quarta nação
com maior número absoluto de presos no mundo, atrás apenas de Estados Unidos, China
e Rússia.

A lei de drogas é apontada como principal motor desse crescimento. De acordo com o
mesmo relatório, a posição destacada do Brasil na lista dos maiores países encarceradores
é fruto do elevado crescimento da população prisional nas últimas décadas, em especial

91
UNIDADE 2 — AS DROGAS E OS REFLEXOS NA VIOLÊNCIA SOCIAL

dos presos provisórios e das prisões relacionadas ao tráfico de drogas, principal motivo,
também, do encarceramento de mulheres, que registrou um aumento de mais de 567%
(quinhentos e sessenta e sete por cento) nos últimos quinze anos. Ao apontar a natureza
dos crimes cometidos por pessoas condenadas em privação de liberdade, o relatório
menciona que:

Se considerarmos os tipos penais propriamente ditos, temos


que os crimes de roubo e tráfico de entorpecentes respondem,
sozinhos, por mais de 50% das sentenças das pessoas
condenadas atualmente na prisão. É importante apontar o
grande número de pessoas presas por crimes não violentos,
a começar pela expressiva participação de crimes de tráfico
de drogas - categoria apontada como muito provavelmente a
principal responsável pelo aumento exponencial das taxas de
encarceramento no país e que compõe o maior número de
pessoas presas (MINISTÉRIO DA JUSTIÇA, 2014).

Ainda que com certa resistência, o reconhecimento de que a “guerra às drogas” fracassou,
como demonstrado, vem sendo incorporado dentro das instituições de poder, em âmbito
estrangeiro e nacional. O jurista Luís Carlos Valois, contudo, ressalta com muita propriedade
que “a principal dificuldade está mesmo na mudança de pensamento, na quebra do padrão
punitivista encarcerador que se espalhou em todos os níveis sociais, independentemente
do pensamento político” VALOIS, 2016, p. 526).
A partir do insucesso da política criminal sobre drogas adotada no Brasil, pois, prima-se
questionar a estratégia repressiva para, enfim, buscar meios alternativos de solução para
esses conflitos, indo além da resposta criminalizadora para regular de forma eficaz a
distribuição e o uso de substâncias entorpecentes ilícitas (SANTANA e HERNANDES, 2017).

FONTE: <https://bit.ly/3Dow8Fi>. Acesso em: 5 ago. 2021.

Assim, é importante relembrar os conceitos mais essenciais acerca das


políticas de segurança que vimos até agora:

QUADRO 2 – CONCEITOS ESSENCIAIS DA LEI DE DROGAS

É a principal corrente a ser seguida


Lei nº11.343/2006 quando se trata de políticas de segurança
contra a drogas no País.
Enquanto despenaliza atos dos usuários
(considerados viciados que devem
ser tratados pelo sistema de saúde,
Despenalizadora e penalizadora e não penal) criminaliza as condutas
de fabricação, exportação, venda,
comercialização entre outros, atribuídos
ao traficante.
Ao usuário a penalização é pedagógica
e instrutivas como a advertência ao uso
de entorpecentes, a prestação de serviços
Modelo de justiça restaurativa
à comunidade e o comparecimento aos
programas e cursos educativos, conforme
o artigo 28, em seus incisos I, II e III.

92
TÓPICO 1 — POLÍTICAS, SEGURANÇA PÚBLICA E AS DROGAS

Interpreta-se a lei de drogas (Lei nº


11.343/2006) em conjunto com a Portaria
Hermenêutica
SVS/MS n° 344/1198, que em seu artigo 66
identifica o que é droga.

Criado pelo Ministério da Justiça


pela Lei 11.530/2007, o Programa
Nacional de Segurança Pública com
Cidadania pretende ser um marco no
desenvolvimento de ações que visam o
combate à criminalidade. Tem intenção
de articular políticas de segurança com
PRONASCI diversas ações sociais, priorizando a
prevenção e dessa forma minimizar as
causas e os motivos que levam jovens
e usuários à violência das drogas;
sem desconsiderar as estratégicas de
ordenamento social e de segurança
pública, com diretrizes estabelecidas no
artigo 3.

Fica estabelecido pelo artigo 144 da


CF/1988 que a Polícia Federal possui a
Segurança pública
competência para investigar e agir contra
o crime de tráfico de entorpecentes.

Ficou estabelecido pelo artigo 22 da


CF que somente a União pode legislar
privativamente sobre a competência
da Policia Federal e nas organizações
estratégicas acerca de suas atividades.
Competência legislativa
Entretanto, cabe ao Estados e Municípios
aprimorar a Política de Segurança
Nacional contra as Drogas, em suas
realidades, não devendo contrariar a
política nacional.

A falta de políticas de qualidade


que visem a inclusão do cidadão em
sua ampla cidadania, considerando
aspectos mais essenciais dos direitos
fundamentais, elencados no Título II da
CF/1988 (igualdade, segurança, trabalho,
Políticas públicas
saúde, saneamento básico, etc.) causa o
distanciamento do cidadão e do Estado.
Políticas públicas devem evidenciar a
inclusão pela educação, possibilidades
diversas, saúde e prevenção ao crime que
se organiza.
FONTE: O autor

93
UNIDADE 2 — AS DROGAS E OS REFLEXOS NA VIOLÊNCIA SOCIAL

Mas as apreensões realizadas pela Polícia Federal de produtos entorpecentes


ilegais não param. O Anuário Brasileiro de Segurança Pública, idealizado pelo
Fórum Brasileiro de Segurança Pública, em conjunto com a Secretária Nacional
de Segurança Pública, publicado em 2020, nos dá uma ideia desses números. Veja
o que foi apreendido pelo policiamento somente no primeiro semestre de 2020:

FIGURA 6 – NÚMERO DE APREENSÕES DA PF NO PRIMEIRO SEMESTRE DE 2020

FONTE: <https://bit.ly/3sPcSfq>. Acesso em: 5 ago. 2021.

No próximo tópico, vamos entrar em um assunto muito importante que


revela o impacto das drogas nas famílias e seu uso na adolescência, o que causa
uma anomia em sociedades inteiras. Vamos lá!

94
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:

• A política pública, que é a base do sistema brasileiro, necessita comtemplar


a construção de uma sociedade justa e solidária, entender as desigualdades
sociais e regionais, e enfim, promover o bem de todos, sem preconceitos de
origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.

• Diferentes órgãos governamentais possuem suas atribuições bem definidas em


diversas ações práticas no assunto das drogas. O Ministério da Justiça, por exemplo, é
o órgão que controla o SISNAD, mas é a Polícia Federal quem tem a responsabilidade
de executar demandas que previnam e combatam o tráfico ilícito.

• A Lei nº 11.343/2006 é a principal idealizadora legal das Políticas Públicas e


Políticas de Segurança contra as drogas no Brasil.

• O Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas (SISNAD) objetiva coordenar


atividades que se relacionam com a prevenção do uso indevido de substâncias,
mas ao mesmo tempo trata da repressão do tráfico ilícito dos entorpecentes.

• Criado pelo SISNAD, o Conselho Nacional sobre Drogas (CONAD) é responsável


por formular estratégias para a redução da oferta de drogas, possuindo um
sentido descentralizador, dando aos Estados e Municípios o estimulo ao combate
às drogas com a criação de Conselhos Estaduais e Municipais sobre drogas, que
possam trabalhar a partir de suas distintas realidades.

• Plano Nacional de Políticas sobre Drogas (PLANAD 2021/2025), elaborado


pelo CONAD, possui um planejamento de cinco anos, que é renovável a partir
de seus resultados.

• É da Policia Federal a competência para combater o tráfico de drogas, estipulada


pela CF/1988, em seu artigo 144, inciso II.

• O PRONASCI é importante ferramenta para aliar a segurança pública e as


políticas públicas na prevenção das drogas.

• O crime de tráfico de drogas é considerado equiparado aos crimes hediondos.

95
AUTOATIVIDADE

1 Tendo em vista, as Políticas Públicas sobre as drogas, o Sistema Nacional


cria o CONAD, que é o Conselho Nacional sobre drogas. A respeito disso,
responda a alternativa CORRETA:

I- O CONAD é responsável pelo tratamento do viciado em drogas, não


identificando qual o tipo de substancia utilizada.
II- É função do CONAD identificar os abusos causados pelas investigações
acerca das drogas, que extrapolam os direitos e dignidades das pessoas
usuárias de entorpecentes.
III- Ao CONAD recai a responsabilidade de criar estratégias que causem
redução na oferta de drogas.
IV- A estratégia de política pública e de segurança criada pelo CONAF possui
uma relevância descentralizadora, pois Estados e Municípios podem agir
conforme suas idiossincrasias, desde que se atentem aos pontos principais
do plano e que apresentem os resultados conforme elaborado ao plano
nacional.

Estão CORRETAS as afirmativas:


a) ( ) IV e III.
b) ( ) II e III.
c) ( ) I e II.
d) ( ) II e IV.

2 Normas foram escritas para tratar dos problemas relacionados ao tráfico


de drogas, entretanto, políticas públicas de qualidade são necessárias para
tratar situações diversas, como as oportunidades aos jovens, a saúde e
educação, necessárias para afastar pessoas do poder do tráfico e do vício.
Nesse sentido, considere as afirmativas abaixo e identifique a questão
CORRETA:

a) ( ) Problemas com drogas devem ser tratados pelas políticas públicas,


a partir do entendimento de ser essa uma situação de crise sanitária,
principalmente, no tratamento para os usuários.
b) ( ) As políticas públicas sobre drogas não estabelecem distanciamento entre
os conflitos que ocorrem entre a segurança pública e o crime organizado,
pois sua função é meramente pedagógica.
c) ( ) A Lei nº 11.346/2006 possui um caráter penalizador, suas tipificações
consideram o usuário parte do tráfico de drogas.
d) ( ) Não há um Sistema Nacional centralizado de políticas públicas acerca
do tema drogas, por esse motivo os Estados estão autorizados a elaborar
seus próprios planos de ação.

96
3 A respeito do crime de tráfico de drogas tipificado pela Lei n.º 11.343/2006,
assinale V para Verdadeiro e F para as falsas:

( ) É correto afirmar que a competência para legislar sobre o tema drogas se


estende a todos os entes da federação, por atribuição legal.
( ) Não podemos afirmar que o crime de tráfico de drogas seja hediondo,
uma vez que sua equiparação não equivale ao mesmo peso de um crime
hediondo, por não ser um crime de maior gravidade no cenário nacional.
( ) A Lei nº 11.346/2006 responde a sua antecessora, dessa forma não pode ser
considerada a maior normatização contra as drogas que temos no País.
( ) Interpreta-se a lei de drogas em conjunto com a Portaria SVS/MS n°
344/1198, que em seu artigo 66 identifica o que é droga.

4 O PRONASCI, Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania,


possui grande importância no combate contra o uso de drogas, e tem uma
grande valia quando o assunto é a inclusão de todos no combate às drogas.
Disserte sobre o programa:

5 Qual é o motivo das políticas públicas e das ações afirmativas do Estado


serem tão essenciais para o combate ao crime que organiza no tráfico de
drogas, e para afastar futuros usuários cooptados pelo tráfico?

97
98
TÓPICO 2 —
UNIDADE 2

DROGAS NAS FAMÍLIAS

1 INTRODUÇÃO

Prezado acadêmico, esse é um tema que todos, alguma vez, já ouviu falar:
familiares preocupados, vidas se desmanchando por causa das drogas. E sejam
elas lícitas ou ilícitas, o problema é sempre o mesmo: como combater o mal do
vício. Como vimos na primeira unidade, os produtos lícitos com alto potencial
ofensivo ao organismo, e grande potencialidade viciante como o álcool e os
remédios, constituem um problema social imenso que se desenvolve a partir do
uso irrefreado. A busca pelo produto pelo viciado transforma-se em uma corrida
contra o tempo, em uma maratona onde ao final não se ganha medalha alguma,
muito pelo contrário, somente se perde.

São inúmeros os dados e pesquisas realizadas sobre o uso de drogas nas


famílias, e como esses produtos conseguem desestabilizar todos ao redor. É só ir ao
assistente de pesquisa na internet, que você pode visualizar muitos questionários
e observações acerca do problema, em diversas regiões do País. Isso ocorre pelo
motivo de o Brasil ser um dos maiores países do mundo em extensão territorial e em
número de população, e possuir um elevado quantitativo de viciados. E essa cifra
negativa que possuímos é alarmante. Segundo a Organização Mundial de Saúde
(OMS), datados de 2018, quando a entidade publicou a sua última pesquisa desses
fatores, cerca de 43 por cento da população mundial são bebedores de bebidas
alcóolicas diversas, sendo a média de consumo per capita de 6,4 por cento. Só que
no Brasil, ao considerar apenas seus dados essenciais sobre a matéria, vemos que o
consumo sobre para incrivelmente 7,8 por cento do consumo per capita nacional,
bem maior que o número de consumo mundial (CISA, 2018).

Esses dados somente aumentam, ou pioram, quando se trata da procura


por algumas drogas ilícitas no Brasil, como a cocaína e outras substâncias ilícitas
com a mesma força de toxicidade. O Relatório Mundial sobre as Drogas de 2020,
publicado recentemente pelas Nações Unidas (ONU), revelou que 269 milhões
de pessoas utilizaram drogas no mundo em 2018, havendo um considerável
aumento de 30 por cento se comparado com o relatório anterior, desenvolvido
em 2009. Segundo os dados estatísticos, mais de 35 milhões de pessoas sofrem, no
mundo, de transtornos associados ao uso de substâncias químicas (MPPR, 2020).

O relatório ressalta as últimas tendências quanto ao uso de drogas


mundialmente, indicando que a cannabis (maconha), é a substância mais
consumida no mundo, com uma estimativa de 192 milhões de pessoas que já

99
UNIDADE 2 — AS DROGAS E OS REFLEXOS NA VIOLÊNCIA SOCIAL

tiveram experiências com a droga. Mas os opioides são considerados mais nocivos
entre as drogas, e na última década o número de vítimas fatais causadas pelos
seus transtornos no organismo obteve uma alta considerável: de 71 por cento;
com um aumento de 92 por cento entre as mulheres usuárias, e entre os homens;
um aumento de 63 por cento.

E
IMPORTANT

Substâncias opiáceas são angariadas a partir do ópio. Elas podem ser produtos
naturais, não sofrendo modificação alguma, assim como a morfina e a codeína, mas
também podem receber modificações parciais em sua fórmula como a heroína, obtida da
morfina através de modificações químicas. Existem também as substâncias consideradas
totalmente sintéticas, que possuem ações semelhantes aos opiáceos naturais, como
a meperidina, o propoxifeno e a metadona. Todos esses produtos possuem um efeito
analgésico, pois retiram a dor; da mesma forma que possuem efeitos hipnóticos, que dão
sono. Devido a esses dois efeitos consideráveis, essas drogas são também chamadas de
drogas narcóticas.

FIGURA 7 – NÚMEROS DE 2018 DOS USUÁRIOS DE DROGAS

FONTE: <https://wdr.unodc.org/wdr2020/en/drug-use-health.html>. Acesso em: 5 ago. 2021.

O crescimento da procura e uso da cocaína e da metanfetamina está


mundialmente aumentando, como demonstra o relatório. Em 2018, cerca de 19
milhões de pessoas usaram a cocaína, e 27 milhões buscaram as anfetaminas
(MPPR, 2020). Um ponto importante para nossas análises que o relatório
das Nações Unidas identifica, é que em países em desenvolvimento o uso de
drogas aumentou entre os anos 2000-2018, mais que nos países considerados
desenvolvidos. Esse número reflete as preocupações que devemos ter no Brasil,
pois faz parte dos países emergentes no mundo.

100
TÓPICO 2 — DROGAS NAS FAMÍLIAS

Outra grande preocupação é que os jovens representam a maior parcela


consumidora das substâncias ilícitas, em crescimento. Esses constituem o grupo
populacional considerado como mais vulnerável aos efeitos colaterais das drogas,
uma vez estarem ainda em desenvolvimento, tanto físico quanto psíquico
(SHIBAMOTO, 2014).

O relatório das Nações Unidas também apontou algo que no Brasil é


uma realidade. Segundo seus estudos, a pobreza, a falta de oportunidades no
tocante à educação e a marginalização social de jovens residentes de áreas mais
estigmatizadas são fatores importantes a serem considerados ao aumento do
número de usuários; pois esses grupos enfrentam barreiras para acessar, na
maioria das vezes, os serviços de tratamento e até mesmo, educacionais, devido
à estigmatização.

O documento da ONU também identifica que fatores diversos de


proteção prestados pelo Estado nas mais simples condições de aplicação dos
direitos fundamentais, são capazes de assegurar um distanciamento de jovens
tanto do uso do produto, quanto do aliciamento causado pelo tráfico e pelo crime
organizado:

• bairros seguros;
• segurança física e inclusão social;
• ambiente escolar de qualidade;
• acesso aos centros de saúde;
• envolvimento dos responsáveis (pais, tutores) e monitoramento.

Por outro lado, contrapõem-se aos sistemas de proteção, que podem


manejados pelo Estado e suas instituições, quando há a falta de ações afirmativas
e um distanciamento do ente estatal perante seus cidadãos:

• A pobreza;
• Os conflitos sociais diversos/ as guerras; no Brasil, o combate ao tráfico de
drogas se delineia em uma guerra de fato, o que pode restringir direitos
humanos daqueles que não participam do conflito, mas vivem em condições
de proximidade a ele;
• Situação de rua ou refugiado;
• Desigualdade e exclusão social;
• Desorganização urbana;
• Fácil disposição dos produtos tóxicos;
• Problemas de saúde mental e física;
• Traumas da infância.

Assim, o relatório da ONU demonstra que pessoas que convivem com a


pobreza enfrentam um maior risco de desenvolver os transtornos diversos que se
relacionam com as drogas, em todas as suas vertentes, como o vício e a violência: “por
volta de 35,6 milhões de pessoas sofreram com transtornos decorrentes do uso de

101
UNIDADE 2 — AS DROGAS E OS REFLEXOS NA VIOLÊNCIA SOCIAL

drogas em 2018” (MPPR, 2020, p. 8), pois pobreza e a baixa qualidade da educação
e a ineficiência do Estado em políticas de integração social nas comunidades mais
carentes são capazes de aumentar o risco de problemas relacionados às drogas.

ATENCAO

Direitos fundamentais são considerados direitos enunciados


constitucionalmente, ou seja, fazem parte de uma ordem jurídica que declara uma
prerrogativa que é fundamental para o cidadão viver em sociedade. Por esse motivo,
diferenciam-se de Direitos Humanos, que são direitos de todas as pessoas, de todos os
povos e em todos os tempos, em caráter universal, inviolável e perdurável.
A CF/1988 elenca em seu Título II os Direitos e Garantias Fundamentais, referentes à
educação, saúde, trabalho, previdência social, lazer, segurança, proteção à maternidade e
assistência aos desamparados. Estão dispostos assim:
• Direitos e deveres individuais e coletivos (art. 5º, CF);
• Direitos sociais (art. 6º ao art. 11, CF);
• Direitos da nacionalidade (art. 12 e art. 13, CF);
• Direitos políticos (art. 14 ao art. 16, CF).

No que diz respeito à fácil disposição dos entorpecentes, o relatório demonstra


que somente nas Américas do Norte, Central e Latina, foram apreendidas a maior parte
da cocaína fabricada no mundo. Isso faz com que as Américas se tornem responsáveis
por 85% do total aprendido no ano de 2018. Segundo estatísticas, a América do Sul
foi responsável sozinha de 55% do total global de apreensão de cocaína, no mesmo
período. A quantidade aprendida pela Polícia Colombiana foi de impressionantes
35%, seguida do Equador com 6,1%, do Brasil com 6,0%, da Venezuela com 2,7% e do
Peru, com seus 1,6% (WORLD DRUG REPORT, ONU, 2020).

O Brasil, ainda segundo o relatório, teve um aumento considerável de 65% das


apreensões entre o período de 2017 e 2018, tendo registrado o número mais alto de sua
história em consideração à apreensão da cocaína, de 79 toneladas (WORLD DRUG
REPORT, 2020).

DICAS

Você pode ficar a par de todos os números que compõem o relatório da ONU
sobre as apreensões dos entorpecentes no mundo, no período entre 2015/2018 no site:
wdr.unodc.org / https://wdr.unodc.org/wdr2020/index.html.
Também pode ficar a par das apreensões no Brasil, bem como, dos números da segurança
pública no Anuário Brasileiro de Segurança Pública, no site: https://bit.ly/3gBC9F0.

102
TÓPICO 2 — DROGAS NAS FAMÍLIAS

Veja que em relação à violência, dados globais apresentados pelo recente


Relatório confirmam o seu crescimento, indicando que entre os anos 2012 e 2015 a
intoxicação pôde ser considerada como um influente fator de causa dos homicídios
ocorridos no período. Essas análises estatísticas foram fundamentadas em estudos
de dezessete países que nesse período de tempo relataram informações acerca dos
crimes envolvendo drogas. Elas indicam que, no período, em torno de 40 por cento
dos homicídios foram realizados sob influência de produtos que possuem em sua
composição substâncias psicoativas. O álcool foi identificado em 90% dos casos!
(WORLD DRUG REPORT, 2020). E quem sofre com tudo isso, são famílias inteiras.

2 IMPACTO DAS DROGAS NAS FAMÍLIAS


Importante salientarmos, prezado acadêmico, que o Relatório da ONU
ainda aponta que no ano de 2018 o consumo nocivo de álcool relaciona-se a 18%
dos casos de violência doméstica no mundo todo, naquele período. Isso sem falar
das drogas consideradas ilícitas e a dependência que elas causam, deturpando
todo o entendimento da realidade do viciado, que pode passar a desconsiderar
também aquelas pessoas que estão mais próximas a ele, como a família.

Pesquisas nacionais diversas demonstram como as drogas desestruturam


famílias inteiras, através da violência proporcionada por ela, tanto de forma direta
quanto indireta. E a tendência do uso, conforme o Relatório da ONU só aumenta:

FIGURA 8 – TENDÊNCIAS GLOBAIS DE USUÁRIO DE DROGAS NOS PERÍODOS DE 2006/2017

FONTE: <https://bit.ly/3sTjOIC>. Acesso em: 5 ago. 2021.

103
UNIDADE 2 — AS DROGAS E OS REFLEXOS NA VIOLÊNCIA SOCIAL

A orientação para familiares de dependentes químicos e o oferecimento


de tratamento como terapias e encontros em grupos, como ocorrem com os
grupos reconhecidos pela sigla AA – Alcoólicos Anônimos, distribuídos em
centros religiosos espalhados pelo País, ainda possui um reduzido destaque
precisando de mais atenção a esse público, segundo o psiquiatra Ronaldo
Laranjeira, em seu texto intitulado “Quando o álcool e a droga destorem
uma família” (LARANJEIRA, 2016). Segundo o citado autor, a dimensão dos
problemas causados por substâncias entorpecentes, lícitas e ilícitas, que causam
dependência, raramente são abordados pela mídia ou mesmo pelos governantes,
nem são analisadas por pesquisadores na proporção de deveriam ser estudadas.
Para ele, a família necessita de um apoio mais incisivo, pois é o primeiro pilar
na luta contra a dependência, e a mais afetada por ela. E ele tem razão. Dados
do LENAD Família, o Levantamento Nacional dos Dependentes Químicos no
Brasil informa que 57% dos familiares que estão em tratamento são também
responsáveis pela sua família (LENAD, 2013). Segundo o autor:

Aproximadamente metade dos jovens que têm entre 14 e 25 anos consome


bebidas alcoólicas, número que passa a 26% entre menores de idade,
de acordo com dados do INPAD. Já 36% dos jovens que informaram o
consumo fazem uso nocivo do álcool semanalmente. Passando para as
drogas ilícitas, a porcentagem da população jovem que afirmou ter usado
maconha chega a quase 5% (LARANJEIRA, 2016, p. 1).

Isso nos indica que o crescimento do consumo de drogas já se inicia na


adolescência, parte por curiosidade, outra boa parte, por incentivo ainda que
indireto. Os exemplos transmitidos pelos maiores, ou por seus responsáveis,
acabam fincando no jovem uma identidade com o uso de determinados produtos,
que já os conhecem costumeiramente, por ser utilizado dentro de sua própria casa
(REIS; OLIVEIRA, 2014). Os pais são ainda os melhores agentes de prevenção
que podem agir no combate às drogas, isso nos demonstra que a prevenção,
a orientação e o tratamento são as principais formas de combate às drogas,
entretanto:

Mas tais medidas só serão eficazes se os governos, em seus diversos


âmbitos, adotarem políticas claras de prevenção. Do jeito que o debate
é conduzido hoje, de forma improdutiva e sem ações concretas,
continuaremos apostando em políticas que simplesmente não dão
resultados. Agora, ações como a conscientização e educação da população
sobre uso de substâncias psicoativas, aliadas à oferta de atendimento de
qualidade contra a dependência química, essas sim, provocarão uma
profunda mudança em nosso país (LARANJEIRA, 2016, p. 1).

Um dos textos que buscam auxiliar as famílias de dependentes é


apresentado pela equipe do Hospital Santa Monica, especializado no tratamento
e internações de dependentes químicos, em Itapecerica da Serra, Estado de São
Paulo. Segundo seus estudos, é importante o contato aberto e livre entre os
familiares, para tentar iniciar o problema. Isso faz com que o primeiro passo seja
dado, que é assumir o problema com drogas:

104
TÓPICO 2 — DROGAS NAS FAMÍLIAS

O controle quanto ao uso das drogas:


Muitas vezes, a família acredita que pode controlar o vício do seu ente
querido, adotando punições muito duras ou sendo rígido demais ao
explicar sobre as consequências drásticas do vício, ocasionando mais
atritos e brigas de família.
Os membros da família precisam se conscientizar de que não é tão
simples controlar o vício de um dependente químico. No entanto,
dedicar tempo para incentivá-lo com carinho e buscar tratamento
especializado certamente evitará conflitos desnecessários.
Para entender melhor sobre essa questão, atente para algumas atitudes
fundamentais:
• converse com o familiar quando ele estiver sóbrio;
• destaque sua preocupação e amor;
• fale ao ente querido que você deseja oferecer todo o apoio possível;
• demonstre ao seu familiar que ele pode sempre contar com você;
• expresse sentimentos positivos em vez de acusá-lo;
• mostre firmeza e imponha limites;
• procure ficar calmo durante a conversa, evidenciando suas
preocupações e seu amor por ele.
Seguindo essas atitudes, certamente você vai contribuir para ajudar o
seu ente querido e manter a tranquilidade em seu lar (HSM, 2018, p. 1).

E é na família que se percebe que o apoio ao dependente pode identificá-


lo mais junto aos seus do que das drogas, uma vez que a assistência e o auxílio
são ordens de importância para a inclusão, enquanto a crítica ostensiva e a não
aceitação, a falta de conversa e a violência demonstram o caminho para a exclusão
do dependente, que passa então a envolver-se mais com as drogas que com a
própria família, que o rejeitou. Nesse sentido, a família:

É o cuidado, a proteção, o aprendizado dos afetos, a construção de


identidades e vínculos afetivos, visando uma melhor qualidade de
vida a todos os seus membros e a inclusão social em sua comunidade.
É a família quem, primeiro encoraja o usuário a se tratar. Muitas
vezes o dependente não consegue entender o quanto a família o quer
recuperado, mesmo que ela tome partido da situação, a fim de ajudá-
lo (ARAGÃO; MILAGRES; FLIGIE, 2009, p. 117).

Assim, os familiares são essenciais no tratamento contra as drogas,


precisando lidar com situações diversas como a crítica e a estigmatização social,
deve ficar ao lado do usuário, por desempenhar um papel fundamental no
tratamento da doença:

Nas últimas três décadas os pesquisadores têm reconhecido o papel


que as famílias podem desempenhar no tratamento por abuso/
dependência de substâncias psicoativas, em termos de prevenção e/ou
influência no curso do problema da dependência, ajudando a reduzir
os efeitos negativos em seus membros (MOREIRA, 2004, p. 117).

Desenvolvendo um papel importante na inclusão familiar no tratamento


de dependentes químicos, a Política Nacional sobre Drogas estabelece uma
diretriz formulada através da reinserção do paciente ao âmbito da família e social.
Todas as formas possíveis e legais de tratamento e readaptação são divulgadas
pelo plano, sem excluir a família:

105
UNIDADE 2 — AS DROGAS E OS REFLEXOS NA VIOLÊNCIA SOCIAL

Promover e garantir a articulação e integração em rede nacional


das intervenções para tratamento, recuperação, redução de
danos, reinserção social e ocupacional (Unidade Básica de Saúde,
ambulatórios, Centro de Atenção Psicossocial, Centro de Atenção
Psicossocial Álcool e Drogas, comunidades terapêuticas, grupos de
autoajuda e ajuda mútua, hospitais gerais e psiquiátricos, hospital-dia,
serviços de emergências, corpo de bombeiros, clínicas especializadas,
casas de apoio e convivência e moradias assistidas) com o Sistema
Único de Saúde e Sistema Único de Assistência Social para o usuário e
seus familiares, por meio de distribuição descentralizada e fiscalizada
de recursos técnicos e financeiros.
Desenvolver, adaptar e implementar diversas modalidades de
tratamento, recuperação, redução de danos, reinserção social e
ocupacional dos dependentes químicos e familiares às características
específicas dos diferentes grupos: crianças e adolescentes, adolescentes
em medida socioeducativa, mulheres, gestantes, idosos, pessoas em
situação de risco social, portadores de qualquer comorbidade, população
carcerária e egressos, trabalhadores do sexo e populações indígenas, por
meio da distribuição descentralizada de recursos técnicos e financeiros
(BRASIL, 2001).

São diretrizes importantes para a união familiar nesse momento tão


delicado, uma vez que o acompanhamento das famílias no tratamento deve ser
idealizado pelas políticas públicas, pois é essencial “que a família sinta que pode
fazer algo para ajudar o seu familiar a recuperar-se quando tal e possível e, mesmo
quando não é, que seja capaz de compreender a situação e acompanhar o paciente,
dando apoio, compreensão, carinho e dedicação” (LAZURE, 1994, p. 62).

A família possui um papel de destaque no “processo de recuperação do


dependente, buscando impedir que o problema avance e auxiliando no tratamento
mais adequado para a situação. Em alguns casos, isto torna-se particularmente
difícil pela fragilidade com que todos os seus membros cheguem a este ponto”
(LOPES, 1996, p. 78).

Muitas vezes, a influência de fatores externos ao dependente químico é


de primordial importância para que ele seja cooptado pelas drogas. Influências
psicológicas, a pressão da sociedade que cada vez se apresenta mais complexa,
fatores sociológicos e culturais, e entre outros, a preocupação pela aceitação do
indivíduo em grupos diversos (no caso dos adolescentes essa é uma motivação
genuína) repercute cada vez mais na pessoa que busca uma alternativa de fuga
nas drogas. O diálogo entre os familiares e a descoberta do uso e aceitação da
dependência, tanto pelo viciado, quanto pela família, enseja possibilidades de
tratamentos mais estabilizados e com maior chance de sucesso: “A evolução
positiva de um tratamento para dependentes químicos está relacionada com a
participação adequada dos familiares, pois a família é um sistema onde cada
membro está interligado, de forma que a mudança em uma das partes provoca
repercussões nos demais” (ARAGÃO; MILAGRES; FLIGIE, 2009, p. 119).

Dessa forma, podemos notar que a família e as pessoas responsáveis pelo


paciente em seu tratamento devem estar dispostas a atingir os objetivos em conjunto,
para realçar o vínculo e a confiança entre os personagens afetados por esse problema
mundial, que é a dependência química. Isso garante um melhor tratamento ao
familiar, sempre em conexão com os entes mais importantes de sua vida.
106
TÓPICO 2 — DROGAS NAS FAMÍLIAS

3 USO DE DROGAS NA ADOLESCÊNCIA


Segundo o Relatório das Nações Unidas de 2020, houve um crescimento
do consumo e uso de drogas por adolescentes entre 15 e 18 anos, considerando a
maconha, o álcool, o tabaco e até mesmo drogas mais potenciais como a cocaína,
envolvidas nesse processo. Para os pesquisadores os jovens são mais vulneráveis
ao uso de drogas constantes, por isso deve haver uma revisão intensa nos fatores
de risco e de proteção a essa faixa da população, pelas políticas públicas dos
países (MPPR, 2021).

Um dos fatores de proteção ao risco é a informação e a publicização do


tema das drogas na educação das crianças e adolescentes, para que esses possam
desenvolver habilidades de interpretação das situações diversas, de maneira
analítica e crítica, podendo assim definir que o uso de produtos entorpecentes
é extremamente prejudicial para suas vidas. Noutro tópico, o relatório também
demanda a necessidade de um rigor maior em regulamentos que possam limitar
o acesso de adolescentes a produtos como remédios psicoativos, tabaco e álcool
(MPPR, 2021).

Estudos recentes dos pesquisadores da Fiocruz indicam ainda que


a família possui um efeito durável para o desenvolvimento infantil e para o
alinhamento dos adolescentes com sua potencial identidade junto aos seus
grupos de convívio. Assim, a maneira qual o jovem é percebido e aceitado pela
sua própria família, irá estabelecer sua conduta perante grupos diversos, como
escola e amigos (GOFFMAN, 2008). Isso pode formar uma barreira que incentiva
o jovem a agir conforme regras pré-estipuladas em seu ciclo evolutivo, desde a
infância dentro do âmbito familiar.

Entretanto, os dados apresentados pelas pesquisas diversas sobre o uso


de produtos tóxicos por adolescentes são alarmantes. A Pesquisa de Vigilância de
Comportamentos de Risco Juvenil, realizada nos Estados Unidos com estudantes
do ensino médio destacou que em 2017 a prevalência do uso de maconha entre
os jovens estudantes foi de 19,8%. Por volta de 35,65 dos alunos do ensino médio
relataram já ter experimentado a cannabis por uma ou mais vezes na vida. No
mesmo relatório ainda se encontram as seguintes informações percentuais,
relatadas por estudantes de todo o ensino médio norte americano:

• Fármacos de prescrição (sem receita médica): 14,0%


• Inalantes (p. ex., cola, aerossóis): 6.2%
• Alucinógenos (p. ex., LSD, PCP, mescalina cogumelos): 6,6%
• Cocaína: 4.8%
• Esteroides anabolizantes (orais ou injetáveis): 2,9%
• Metanfetaminas (sem receita): 2,5%
• Heroína: 1.7% (KANN; HARRIS et al., 2017, p. 6).

107
UNIDADE 2 — AS DROGAS E OS REFLEXOS NA VIOLÊNCIA SOCIAL

Segundo o mesmo relatório, em todo o território estadunidense 1,5 dos


estudantes fizeram uso de agulhas para injetar de drogas no corpo, uma ou mais
vezes durante a vida. Adolescentes utilizam-se de produtos entorpecentes lícitos
e ilícitos, como o álcool e a maconha por diversos motivos, entre eles:

• para compartilhar uma experiência social ou se sentir parte de um grupo social;


• para aliviar o estresse;
• para buscar novas experiências e assumir riscos;
• para aliviar os sintomas dos transtornos de saúde mental (p. ex., depressão,
ansiedade).

No Brasil, em pesquisa realizada pelo IBGE, no segundo semestre de 2016


mais da metade dos jovens, cerca de 55% ou 1,44 milhão de alunos, relataram já
ter tomado ao menos uma dose de bebida alcóolica. A Sociedade Brasileira de
Pediatria identificou um salto de 41% nas internações e hospitalizações que são
motivadas pelo uso de substâncias psicoativas por adolescentes na faixa etária
entre 10 a 14 anos, na última década. Entre os produtos mais utilizados estão os
ansiolíticos, sedativos, maconha, alucinógenos, inalantes e o tabaco.

São definidos alguns fatores de risco que envolvem o uso dos produtos
intoxicantes, além da curiosidade e da afirmação perante a um grupo determinado;
entre eles, a falta de controle ou da presença dos pais na vida dos adolescentes, o
baixo autocontrole do menor, e os diversos transtornos mentais como a depressão,
o déficit de atenção e a hiperatividade, e, a síndrome do pensamento acelerado.
Mesmo atitudes parentais referentes ao uso de substâncias como o álcool e o
tabaco são poderosas influências aos menores e adolescentes, que possuem a
partir do exemplo um aliado argumentativo para seu uso do produto.

Todavia, com a modernidade e a grande globalização econômica, o Estado


passa a perder a sua soberania diante aos grandes conglomerados comerciais,
e frente ao mercado passa a ser mais um instrumento de ordem econômica,
financeira e de segurança para o mundo do capital. Isso faz com que perca sua
força de Estado Nação, pendendo mais para o mundo financeiro do que para
sua população, e quem mais sofre com isso são os mais carentes e necessitados
da atenção estatal (BAUMAN, 1998). Devido à sua condição definida a partir
de interesses econômicos internacionais, o Estado minimiza a sua participação
perante sua sociedade, que é realizada através das políticas públicas diversas. Isso
gera um abismo entre aqueles que possuem condições de realizar tratamentos
particulares aos seus filhos dependentes, e aqueles que não as possuem e que
necessitam do apoio dessas políticas públicas (FERREIRA, 2020). E vejam: essas
políticas públicas são retornos dos tributos pagos por cada cidadão, que passa
a utilizar daquilo que ele mesmo financiou. Por isso, a importância de cobrar e
questionar o paradeiro dos impostos, que devem retornar ao cidadão em forma de
política pública de qualidade, que se baseie na educação, saúde e oportunidades
diversas é essencial.

108
TÓPICO 2 — DROGAS NAS FAMÍLIAS

Mas, segundo Malaguti (2003), esse distanciamento do Estado para com


seus afazeres e preocupações mais essenciais, e que definem sua importância e
sua razão de ser, surgiu com força a partir do neoliberalismo que determinou a
juventude e seus problemas para o centro das ações criminológicas. Nesse sentido,
segundo a autora, “a destruição das políticas públicas, a falta de perspectiva de
trabalho e de estudos, em contraste com a energia juvenil fizeram com que grandes
contingentes de crianças e adolescentes passassem a ser tratados pela lógica
penal” (MALAGUTI, 2003, p. 75). Ainda segundo a autora: “No neoliberalismo o
Estado Penal vai dar conta da conflitividade social juvenil. No Brasil, a população
envolvida em conflitos, presa ou assassinada, vai-se constituir basicamente da
população pobre e negra, com idade entre 14 e 24 anos” (MALAGUTI, 2003, p.
76).

Afirma-se, nesse ponto, que em um país com grandes desigualdades


sociais históricas como o Brasil, o distanciamento do Estado para com sua Nação
é capaz de gerar ainda mais desequilíbrios sociais. E quem mais sente são as
famílias mais carentes e os jovens em busca de uma oportunidade.

Se para alguns cientistas sociais elementos como o forte vínculo com


os pais, o compromisso com a escola, o envolvimento com as atividades de
movimentos sociais diversos e a crença nas expectativas gerais, nas normas e
nos valores da sociedade são fatores para o distanciamento do uso e procura de
drogas pelos adolescentes, então, as políticas de educação e inclusão do Estado
são de extrema importância (GIDDENS, 1994).

109
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:

• O Relatório Mundial sobre as Drogas de 2020, publicado recentemente pelas


Nações Unidas (ONU), demonstra o crescimento mundial da procura e do uso
de drogas diversas pelos adolescentes.

• Em países em desenvolvimento, o uso de drogas aumentou entre os anos 2000-


2018, mais que nos países considerados desenvolvidos.

• A cannabis (maconha), segundo o relatório das Nações Unidas, é a substância


mais consumida no mundo, com uma estimativa de 192 milhões de pessoas
que já tiveram experiências com a droga.

• Jovens representam a maior parcela consumidora das substâncias ilícitas,


em crescimento. Esses constituem o grupo populacional considerado como
mais vulnerável aos efeitos colaterais das drogas, uma vez estarem ainda em
desenvolvimento, tanto físico quanto psíquico.

• A pobreza, a falta de oportunidades diversas, e a marginalização social de


jovens residentes de áreas mais estigmatizadas são fatores importantes a serem
considerados ao aumento do número de usuários; pois esses grupos enfrentam
barreiras para acessar, na maioria das vezes, os serviços de tratamento e até
mesmo, educacionais, devido à estigmatização.

• Pobreza e a baixa qualidade da educação e a ineficiência do Estado em políticas


de integração social nas comunidades mais carentes são capazes de aumentar
o risco de problemas relacionados às drogas.

• O Relatório da ONU aponta que no ano de 2018 o consumo nocivo de álcool


relaciona-se à 18% dos casos de violência doméstica no mundo todo.

• Os pais são ainda os melhores agentes de prevenção que podem agir no combate
às drogas, isso demonstra que a prevenção, a orientação e o tratamento são as
principais formas de combate às drogas.

• Desenvolvendo um papel importante na inclusão familiar no tratamento de


dependentes químicos, a Política Nacional sobre Drogas estabelece uma diretriz
formulada através da reinserção do paciente ao âmbito da família e social.

• Os jovens são mais vulneráveis ao uso de drogas constantes, por isso deve
haver uma revisão intensa nos fatores de risco e de proteção a essa faixa da
população, pelas políticas públicas dos países.

• O distanciamento do Estado para com sua Nação é capaz de gerar ainda mais
desequilíbrios sociais, e quem mais sente são as famílias mais carentes e os
jovens em busca de uma oportunidade.
110
AUTOATIVIDADE

1 Estudamos a importância da presença do Estado nas vidas das pessoas,


principalmente perante os grupos e comunidades mais carentes de nossa
sociedade, portanto, qual o motivo essencial que torna o Estado distante
de sua população, no que se refere à atenção às políticas públicas?

2 Produtos entorpecentes podem ser encontrados em qualquer lugar, desde


prateleiras de mercados, farmácias e em lojas de conveniências, como os
remédios e o álcool. Quais são os essenciais motivos pesquisados que
fazem com que adolescentes utilizem de produtos entorpecentes lícitos e
ilícitos, como o álcool e a maconha?

3 Levando em consideração o estudado em relação ao tema drogas, assinale


a alternativa CORRETA:

a) ( ) O Estado ganhou força com a modernidade e a globalização econômica


e pode assim realizar melhores políticas públicas de qualidade, segundo
os cientistas sociais.
b) ( ) O tema “drogas” deve ser combatido pelo Estado através de sua
segurança pública, não havendo distinção entre usuários e traficantes.
c) ( ) Para alguns cientistas sociais o forte vínculo com os pais, o compromisso
com a escola, o envolvimento com as atividades de movimentos sociais
diversos e a crença nas expectativas gerais, nas normas e nos valores da
sociedade são fatores para o distanciamento do uso e procura de drogas
pelos adolescentes.
d) ( ) No neoliberalismo o Estado Social enseja a proteção dos direitos dos
adolescentes, não havendo a participação do Estado Penal em nenhum
momento.

4 A violência das drogas é capaz de destruir famílias inteiras, sendo o


vício considerado uma das doenças mais influentes dos nossos tempos. A
respeito da prevenção, considere as afirmativas a seguir:

I - Bairros seguros não ensejam a proteção dos adolescentes pois as drogas


também estão presentes nesses lugares.
II - Conversar com o adolescente usuário sobre os problemas distancia a
família por conta da violência que a droga pode causar, a melhor tomada
de atitude é a internação primária.
III - Os pais são a melhor intervenção contra as drogas, tanto na prevenção
quanto no tratamento.
IV - Realizar constantes observações e revisões intensas nos fatores de risco e
proteção aos jovens são atos essenciais das políticas públicas nos países,
para combater esse problema.

111
( ) As afirmativas I e IV estão corretas.
( ) As afirmativas II e III estão corretas.
( ) As afirmativas II e IV estão corretas.
( ) As afirmativas III e IV estão corretas.

5 A cooptação e aliciamento dos menores pelo traficante profissional para o


seu serviço no tráfico de drogas é uma realidade dentro das comunidades
mais carentes. Nesse sentido, assinale V para Verdadeiro e F para as
questões consideradas Falsas:

( ) Alguns adolescentes e jovens passam a usar produtos químicos ilícitos


e entorpecentes para mitigar sintomas de doenças diversas, entre elas,
transtornos mentais.
( ) Ficou claro, pelas pesquisas, que jovens não buscam mais as drogas para
se sentirem aceitos por um agrupamento ou comunidade.
( ) As atitudes dos pais referentes ao uso de substâncias como o álcool e
o tabaco são poderosas influências aos menores e adolescentes, que
possuem a partir do exemplo um aliado argumentativo para seu uso do
produto.
( ) A maneira qual o jovem é percebido e aceito pela sua própria família, irá
estabelecer sua conduta perante grupos diversos, como escola e amigos,
distanciando-se das drogas a partir de um ambiente familiar saudável.

112
TÓPICO 3 —
UNIDADE 2

FAVELIZAÇÃO E SEGREGAÇÃO

1 INTRODUÇÃO
Alguns fatores são determinantes para o processo de favelização no
Brasil. Podemos citar, entre eles, o crescimento populacional, os movimentos
migratórios, o êxodo rural e a falta de alinhamento das políticas públicas ao
setor moradia e aos direitos fundamentais.

O crescimento urbano acelerado das cidades deve ser acompanhado com
planejamento, caso contrário, problemas de mobilidade e trânsito das pessoas
podem surgir, bem como, a favelização. Podem ser denominadas como favelas
as áreas de habitações irregulares, que sofrem pela carência em estruturas básicas
como luz, esgoto, coleta de lixo e serviços públicos diversos. Aqui há falta do
Estado e de suas políticas públicas, realizadas através dos tributos pagos pelos
seus cidadãos.

O processo de surgimento das favelas é denominado como favelização,


um movimento histórico que ocorre desde a abolição dos escravos no Brasil,
que depois de libertos foram esquecidos por qualquer forma de poder público
existente na época. Fruto da discriminação social e da segregação histórica, os
libertos ocuparam áreas afastadas das cidades, construindo moradias conforme
lhes era possível. Mas ao longo de todo o século XX, a partir do movimento
tecnológico que toma conta dos campos e das lavouras, indicando o caminho da
industrialização e mecanização dos processos de trabalho, muitos trabalhadores
rurais perderam sua renda, rumando para as cidades com o intuito de
sobrevivência, no movimento reconhecido por êxodo rural, muito comum nos
anos 1990.

A metropolização das grandes cidades e capitais, que se desenvolveram


nesse período, demonstra o grande fluxo de pessoas que abandonaram áreas sem
nenhum tipo de desenvolvimento social ou investimentos, rumando também
para os grandes centros. O esvaziamento de enormes áreas e pequenas cidades
do Nordeste brasileiro é uma indicação do fluxo de migração dentro do País, se
aliado aos números do crescimento populacional de cidades como São Paulo e
Rio de Janeiro, em meados do século XX.

O destaque do crescimento das favelas é o desenvolvimento das


desigualdades sociais, que são manifestadas nos espaços geográficos das
cidades, que passam a ser divididas entre os grupos antagônicos que se diferem
economicamente. O avolumamento das grandes cidades, que não eram capazes

113
UNIDADE 2 — AS DROGAS E OS REFLEXOS NA VIOLÊNCIA SOCIAL

de absorver em seus espaços populações diversas que para elas rumaram,


segue inversamente na proporção econômica e de oportunidades: quanto
maior o crescimento acentuado, menores as oportunidades. Os fatores para o
desenvolvimento das áreas de favelas nas grandes cidades podem ser todos,
interligados à falta de perspectiva do cidadão mais carente:

FIGURA 9 – FATORES PARA A FAVELIZAÇÃO

FONTE: <https://bit.ly/3knAunq>. Acesso em: 5 ago. 2021.

NOTA

Planta que deu origem ao nome favela:

FONTE: <https://bit.ly/3DqrmXV>. Acesso em: 5 ago. 2021.

A origem da palavra favela advém de uma planta que pode ser encontrada na caatinga
brasileira, que existe no Arraial de Canudos, construída em meio a alguns morros, sendo o
mais famoso o Morro da Favela, na cidade de Canudos.

114
TÓPICO 3 — FAVELIZAÇÃO E SEGREGAÇÃO

Conta a história que soldados que participaram da Guerra de Canudos, ao retornarem ao


Rio de Janeiro, deixaram de receber seus salários perdendo seus empregos, passando a se
estabelecer em casebres construídos por eles mesmos no Morro da Providência (RJ). Dessa
forma, o local de moradia dessas pessoas passou a ser reconhecido como favelas, em
referência ao Morro da Favela, onde esses soldados faziam campanha em Canudos. A partir
dos anos 1920, ficou impregnado culturalmente que todo local de moradias improvisadas
e sem nenhuma estrutura receberia o nome de favela (CUNHA, 2003).

Em 2010, no período do Censo daquele ano, o Instituto Brasileiro de


Geografia e Estatísticas (IBGE) criou um termo técnico para identificar as favelas
no país, que passaram a ser reconhecidas como “aglomerado subnormal”,
geralmente marcados pela insegurança de posse, uma vez existir a possibilidade
de despejo de seus moradores pelo poder público:

Aglomerado Subnormal é uma forma de ocupação irregular de


terrenos de propriedade alheia – públicos ou privados – para fins
de habitação em áreas urbanas e, em geral, caracterizados por
um padrão urbanístico irregular, carência de serviços públicos
essenciais e localização em áreas restritas à ocupação. No Brasil,
esses assentamentos irregulares são conhecidos por diversos
nomes como favelas, invasões, grotas, baixadas, comunidades,
vilas, ressacas, loteamentos irregulares, mocambos e palafitas,
entre outros (CASÉ, 1996, p. 14).

Um dos critérios para a composição de um assentamento reconhecido por


aglomerado subnormal é a irregularidade fundiária, não havendo uma estrutura
legal que identifique o usuário do espaço como o proprietário de fato daquelas
terras. Além disso, grupos passam a se esconder nos ambientes afastados e de
difícil acesso das favelas, para se manter distantes do olhar público, que não
adentra as comunidades carentes. Dessa forma, esses agrupamentos criminosos
engendram o tráfico de drogas a partir do domínio desses locais, utilizando-
se muitas vezes de violência e desrespeito aos direitos dos cidadãos residentes
desses locais.

A segregação é um conceito que define o isolamento de determinados


grupos que se distinguem entre si, por suas peculiaridades. Desde o distanciamento
racial demonstrada pelo racismo até pela segregação social, vivemos tempos de
desunião constante em uma modernidade que cada vez mais se torna desconexa
das atividades mais essenciais de sociabilidade (BAUMAN, 1998).

A segregação racial parte de um processo discriminatório entre as pessoas


a partir de características étnicas que são definidas através das características
individuais, que pode ser identificada como racismo. Isso demonstra uma
hostilidade entre os grupos, que se evidenciam antagônicos entre si, a partir da
não aceitação. É característica da segregação racial, a partir da discriminação que
a acompanha, causar diversos problemas como a desigualdade social no que se
refere às igualdades de oportunidades. Norberto Bobbio define o racismo da
seguinte forma:

115
UNIDADE 2 — AS DROGAS E OS REFLEXOS NA VIOLÊNCIA SOCIAL

Com o termo Racismo se entende, não a descrição da diversidade


das raças ou os grupos étnicos humanos, realizada pela antropologia
física ou pela biologia, mas a referência do comportamento do
indivíduo à raça a que pertence e, principalmente, o uso político de
alguns resultados aparentemente científicos, para levar à crença da
superioridade de uma raça sobre as demais. Este uso visa a justificar e
consentir atitudes de discriminação e perseguição contra as raças que
se consideram inferiores (BOBBIO, 2016, p. 1059).

Os grupos também são evidenciados e assim, estigmatizados, pelo seu


poder econômico, sua situação no mercado de trabalho e de moradia. Pessoas
moradoras de favelas e comunidades carentes são mais depreciadas que outras
quando na busca de oportunidades diversas nas grandes cidades, como o trabalho
(ELIAS; SCOTSSON, 2000).

Com a carência da presença das políticas públicas nesses locais, o poder


público se mostra na presença do Estado penal, em toda a força de sua persecução
criminal, através de seus institutos de segurança pública no combate ao tráfico
de drogas (MALAGUTI, 2003). Nesse sentido, cercado por uma guerra contra o
tráfico que está longe de uma conclusão, o cidadão se encontra imerso em uma
cruzada do Estado contra o seu inimigo de um lado, e por outro, o traficante
controlador e dominador dos seus locais de moradia. Não obstante, passa ele
morador a ser confundido também com aqueles que o Estado combate, numa
relativização de seus direitos individuais que se molda em um estado de exceção,
na guerra contra o tráfico.

Não bastassem as ações policiais, muitas vezes descoordenadas, o morador


de zonas segregadas ainda convive com a disputa de territórios realizadas por
facções rivais, que empreendem enfrentamentos com a maior violência possível. A
segregação, racial e social, ocasionam a distinção entre as pessoas que coexistem em
uma sociedade, que se confabula separada por agrupamentos muito bem definidos.
Esse afastamento entre os grupos, causados pelo racismo e pela não aceitação, é
causa do medo do outro, que passa a ser estigmatizado a partir de suas diferenças.

116
TÓPICO 3 — FAVELIZAÇÃO E SEGREGAÇÃO

DICAS

Uma indicação de um grande sucesso nacional nos cinemas, é o filme Cidade


de Deus, de 2002, dirigido por Fernando Meirelles e Katia Lund.

FONTE: <https://www.adorocinema.com/filmes/filme-45264/>. Acesso em: 5 ago. 2021.

O filme trata da formação da comunidade Cidade de Deus no Rio de Janeiro, em habitações


populares organizadas pelo Estado do Rio de Janeiro, em uma área distante da cidade,
para a população carente. Demonstra bem a higienização do Estado, quando pretende
distanciar e segregar determinados grupos de pessoas do convívio social, deixando-os
distantes dos centros e da mobilidade urbana.
Nota-se, também, como a falta de políticas sociais de inclusão, como a educação e a
saúde; podem acarretar o esquecimento de uma população inteira por parte do Estado.
Em sua falta, o poder paralelo, considerado como a força dos grupos de tráfico de drogas
toma conta da favela, comandando os passos e as vidas de todos. A disputa entre poderes
antagônicos de grupos armados que almejam coordenar o tráfico no local causa distúrbios
na vida social mais usual, como trabalhar e ir para a escola. E tudo isso é uma história real,
que conta a vida de personagens reais. Vale muito a pena assistir!

2 QUESTÕES SOBRE O TRÁFICO DE DROGAS


O crime se organiza de forma a desestabilizar tanto os locais de moradia
das pessoas carentes, quanto a investigação policial e a persecução penal do
Estado, em comunidades afastadas e dominados pelos criminosos. Vamos analisar
alguns pontos importantes sobre o tráfico de drogas no País e suas consequências.

A luta contra o crime de tráfico de drogas se demonstra seletiva e


criminalizadora de moradores de áreas de risco, principalmente entre a idade da
adolescência. A busca pelo traficante realizada pela persecução policial evidencia
muitas vezes a relativização dos direitos individuais do cidadão, e quando essa
investigação toma a propensão de uma guerra contra o tráfico, o estado de exceção

117
UNIDADE 2 — AS DROGAS E OS REFLEXOS NA VIOLÊNCIA SOCIAL

pode intermediar a quebra de direitos diversos. Estado de exceção é algo atípico,


que pode acontecer em grandes calamidades ou em guerras. Você já deve ter
ouvido falar que em guerras o toque de recolher era comum, ou que não havia
liberdades para o livre trânsito nas ruas, e isso era algo estipulado pelo próprio
governo, muitas vezes, para a segurança do seu cidadão. Em uma guerra contra o
tráfico, é comum termos formas desse estado de exceção, contra os moradores de
favelas gerenciadas pelos traficantes; que sofrem de um lado pela ação da polícia,
muitas vezes, com uma força excessiva, e por outro, da violência intimadora dos
vendedores do produto ilícito, que se escondem nas favelas (MALAGUTI, 2003).

A inclusão desse sistema encíclico de violência em uma comunidade é


capaz de gerar cada vez mais o estigma entre as pessoas, e dessa forma deteriorar
até mesmo a identidade dos moradores e a maneira qual eles se percebem como
cidadãos, pertencentes a uma sociedade. Isso influencia na exclusão da cidadania,
que é a mais importante característica da democracia (MALAGUTI, 2003).

NOTA

Estado de exceção é uma situação oposta ao Estado democrático de direito,


decretada pelas autoridades em situações de emergência nacional, como agressão efetiva
por forças estrangeiras, grave ameaça à ordem constitucional democrática ou calamidade
pública (WACQUANT, 2011). O Estado de exceção está fundamentado no artigo 136 da CF
de 1988 e deve ser anunciado pelo Presidente do Executivo, em casos de grave ameaça
ou emergência nacional. Aqui, direitos podem ser relativizados, como o direito de ir e vir,
direitos de liberdades, sigilo de comunicação, etc. Veja que em uma guerra permite-se
matar seus inimigos, isso pelo fato de estarmos em guerra. Se a política de segurança
pública identifica o combate às drogas como uma guerra de fato, os direitos de qualquer
um que esteja próximo a essa batalha, ou mesmo, perto das drogas, como nos casos dos
cidadãos moradores de áreas de risco, podem vir a ser relativizados; como na guerra.

Noutro sentido, dentro das comunidades, além da despersonalização da


cidadania e da estigmatização constante, há o jovem morador que entra para o
tráfico já na infância, muitas vezes, cooptado por uma força muito maior que está
sempre presente. Esse poder faz parte dos contatos diários do jovem com o traficante
que assume o controle da comunidade, e na falta de Estado e de possibilidades
diversas, é cooptado pela única força que conhece e que é capaz de movimentar sua
vida (MALAGUTI, 2003). Enquanto jovens de periferia, quando descobertos pelas
investigações policiais de tráfico de drogas são penalizados de forma pedagógica,
“jovens de elite resolvem seus problemas em outras instâncias, consideradas informais
e não segregadoras” (MALAGUTI, 2003, p. 70). Esse é outro grande problema, que
parte da criminalização constante do morador de favela e comunidades carentes
que convivem e sobrevivem ao tráfico; quando também passam a ser considerados
grandes traficantes pela força penal do Estado, o mesmo Estado que não se faz
presente em nenhum momento da vida dessas pessoas, “somente é chamado para
aplicar penas e correções” (MALAGUTI, 2003, p. 71).

118
TÓPICO 3 — FAVELIZAÇÃO E SEGREGAÇÃO

Mas o modus operandi (ou a maneira qual os traficantes agem normalmente),


se modifica com o passar dos tempos, não ficando mais apenas concentrada nas
comunidades, atuando também nos centros das grandes cidades, de toda forma
possível. Isso faz com que a violência, antes apenas restrita às comunidades,
passe a fazer parte da rotina das cidades. Seus pontos de encontro, como praças
e parques começam a ser utilizados pelo comércio ilícito, e por possuírem um
amplo local de convivência urbana e de grande movimentação, auxiliam no
escoamento dos vendedores do tráfico bem como, na venda para usuário mais
frequentes que encontram o produto mais facilmente do que ter que subir os
morros das comunidades.

NTE
INTERESSA

Note o modus operandi do tráfico de drogas, que se atualiza para tentar iludir
as investigações policiais diversas, utilizando até mesmo novas maneiras de cobrança pelo
produto, trazida pela tecnologia que cada vez se desenvolve mais. O texto é da Polícia
Federal do Distrito Federal:

APREENSÃO NO DF

FONTE: <https://bit.ly/3jiYPM6>. Acesso em: 5 ago. 2021

Polícia Civil do Distrito Federal prende traficante que arremessava droga pela janela
Segunda, 28 junho 2021 11:26
A Polícia Civil do Distrito Federal, por meio da 31ªDP (Planaltina) prendeu na sexta-feira
(25) homem de 22 anos pelo crime de tráfico de drogas. O traficante recebia pagamentos
realizados diretamente à conta bancária, na modalidade PIX, e arremessava a droga para os
clientes, que aguardavam na rua.
Os policiais começaram a trabalhar a partir de denúncias e, após investigação, identificaram
o traficante: um homem com passagens por tráfico de drogas, roubos, receptação e
também homicídio, crime pelo qual cumpria pena em regime de prisão domiciliar. Sem
deixar a residência, o traficante não se expunha, recebendo pagamentos por PIX e atirando
a droga pela janela.
Monitorando o investigado, os policiais não só confirmaram o modus operandi levantado
na fase preliminar da investigação como também flagraram o traficante atirando uma
porção de cocaína, pela janela, para um cliente.

119
UNIDADE 2 — AS DROGAS E OS REFLEXOS NA VIOLÊNCIA SOCIAL

Quando os agentes invadiram o apartamento o traficante tentou se desfazer da droga –


atirando-a pela janela – mas o ato foi flagrado por outro policial que acompanhava a ação
do lado de fora. Na residência foram encontradas várias porções de maconha e cocaína,
além de objetos relacionados à prática do crime, tais como balança de precisão, dinheiro e
caderneta com anotações de vendas.
Após a lavratura do procedimento, o autuado foi recolhido à carceragem da PCDF e
encaminhado à Justiça.
Assessoria de Comunicação/DGPC
FONTE: <https://bit.ly/3jiYPM6>. Acesso em: 5 ago. 2021.

A maneira de atuar do tráfico de drogas influência muito as vidas das


pessoas ao redor, trazendo inseguranças no dia a dia das comunidades com a
presença do traficante e de seus colaboradores, e nos grandes centros urbanos
levando um sentimento de vulnerabilidade ao morador e transeunte. Essa
periculosidade, que é constante nas comunidades e guetos mais afastados, e
agora presente na vida das cidades, aumenta a violência e também a percepção
da insegurança pelos moradores, que se enclausuram em suas casas, condomínios
e apartamentos, deixando através do medo a realizar uma das mais importantes
facetas da vida em sociedade, que é a interação com o outro.

Um dos grandes problemas analisados pela criminologia, é a criminalização


primária do desvio. O jovem cooptado pelo tráfico de drogas e investigado pela
polícia, ao fazer parte da malha penal pode ter a sua identidade cristalizada como
traficante, tanto pelos membros das comunidades quanto pelas instituições de
segurança do Estado. Uma vez estando na persecução penal do Estado, a etiqueta
“reincidente” ou “maus antecedentes” o acompanhará por toda a vida, e o
rótulo passa a moldar sua identidade social e o seu reconhecimento. Ademais, o
processo de criminalização, para ZAFFARONI é exclusivamente seletivo, quando
se entende que em “todas as sociedades contemporâneas que institucionalizaram
ou formalizaram o poder (Estado), selecionam um reduzido número de pessoas
que submetem a sua coação, com o fim de impor-lhes uma pena. Esta seleção se
chama criminalização” (ZAFFARONI; BATISTA, 2003, p. 43).

ATENCAO

É importante analisarmos que dois grupos antagônicos disputam seu lugar nas
comunidades carentes dominadas pelo tráfico de drogas, que são os próprios traficantes
e as milícias. Essas milícias são formadas por policiais militares na ativa ou aposentados,
pessoas com conhecimento de armas, seguranças particulares etc., que formam grupos
armados ilegais. Há anos, as milícias eram exaltadas por autoridades públicas como um
modelo de segurança comunitária, que exercia a pacificação nas favelas e bairros de risco.
Era uma alternativa viável contra a violência, exercendo um domínio territorial, retirando das
mãos de traficantes o controle dos locais. Entretanto, com o passar dos anos, transformou-
se em um poder paralelo ao poder do Estado, que passou a travar intensas batalhas
contra o tráfico de drogas, para controlar o território e a comunidade, com o objetivo de
buscar o lucro através da ameaça aos moradores, da cobrança de “impostos de segurança”,

120
TÓPICO 3 — FAVELIZAÇÃO E SEGREGAÇÃO

impondo sua força nos locais onde estão presentes. Agora existem dois poderes ilegais que
se confrontam nas portas dos moradores desses locais, formados pelas milícias e pelos
traficantes. Veja, na figura a seguir, os números essa disputa.

A DISPUTA ILEGAL

FONTE: Relatório final (2021, s.p.)

O Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos (GENI/UFF)


Observatório das Metrópoles (IPPUR/UFRJ), publicou em janeiro de 2021 um relatório sobre
a atuação das milícias no Estado do Rio de Janeiro intitulado: Relatório Final: A expansão
das milícias no Rio de Janeiro; o uso da força estatal, mercado imobiliário e grupos
armados. Vale a pena conferir no endereço: https://bit.ly/3sSCxnw.

Dessa forma, entender que o indivíduo rotulado pela primeira vez como
desviante ou traficante, mesmo esse tendo gastado pouco tempo de sua vida
nessa atividade, pode vir a ser a real exclusão de qualquer oportunidade futura
que venha a aparecer, por conta do seu histórico policial e de sua identidade que
agora passa a ser reconhecida como criminosa (BECKER, 2008).

Luckmann traz a ideia de que a identidade é elemento da realidade


subjetiva, situando-se numa relação dialética com a realidade, revelando que
“a identidade é formada por processos sociais. Uma vez cristalizada é mantida,
modificada ou mesmo remodelada pelas relações sociais” (BERGER, 1990, p. 228).
Dessa forma, a manutenção da identificação do sujeito ao tráfico de drogas será
difícil de ser apagada. Nesse sentido, a falta do Estado e de políticas públicas de
qualidade, bem como, de segurança pública estratégica para o enfrentamento do
traficante de drogas, é capaz de moldar realidades através da força violenta do
traficante nas vidas das pessoas das comunidades mais carentes.

3 A VIOLÊNCIA DO TRÁFICO NAS FAVELAS E COMUNIDADES


Além da influência nas vidas de todos ao redor e da aproximação das
famílias, muitas vezes de maneira violenta e trágica, o tráfico de drogas é capaz
de moldar toda a estrutura da comunidade, que passa a ser identificada por todos
através do medo e da brutalidade advinda das ações criminosas.
121
UNIDADE 2 — AS DROGAS E OS REFLEXOS NA VIOLÊNCIA SOCIAL

Isso convém ao tráfico a partir de seu conceito de segurança própria, pois


uma vez temido passa a considerar seu território uma área distante do poder
do Estado, e se reconhece como a única força legitimada em sua área. Dessa
forma, a criação de um poder paralelo ao Estado, que toma conta das regiões por
ele dominadas, contribuem para a formação de uma nova autoridade, que age
com pulso de ferro. Na figura do traficante, o poder paralelo possui suas mais
intrínsecas características, sempre identificadas pela violência e pelo medo.

NTE
INTERESSA

Segundo um relatório da Polícia Civil do Rio de Janeiro, somente naquela cidade


o tráfico de drogas domina 81% dos territórios de favela e a milícia ocupa outros 19%. O
relatório também aponta que o Estado fluminense possui em sua conta 44 mil policiais, e
por outro lado, tem 56 mil criminosos em liberdade ou em investigação. Veja na reportagem:

RJ tem 1,4 mil favelas dominadas por criminosos

Por Leslie Leitão e Carlos de Lannoy, RJ2

Tráfico domina 81% desses territórios e a milícia está em 19% das favelas. RJ tem 56,6 mil
criminosos em liberdade, mais que o efetivo da PM, que tem 44 mil policiais.
Um relatório da Polícia Civil sobre a violência no Rio, que o RJ2 teve acesso com
exclusividade, mostra uma radiografia inédita da atuação das milícias e do tráfico de drogas.
O levantamento encaminhado ao Ministério da Justiça e ao Supremo Tribunal Federal
mostra que o crime organizado atua em 1.413 comunidades do Rio. O tráfico domina 81%
desses territórios e a milícia está em 19% das favelas.
A facção de traficantes mais numerosa controla 828 favelas, uma segunda está em 238
comunidades e uma terceira administra 69. Já a milícia está em 278 favelas, mais que as
outras duas quadrilhas de traficantes do Rio.
Segundo a polícia, o Rio tem cerca de 56.600 criminosos em liberdade, portando armas de
fogo de grosso calibre. Esse número é mais que todo o efetivo da Polícia Militar, que tem
44 mil PMs no Rio, sendo que apenas 22 mil trabalham na atividade fim, em patrulhas e
operações de enfrentamento à violência.
Facção de traficantes mais numerosa controla 828 favelas (59%), uma segunda está em 238
comunidades e uma terceira administra 69. Já a milícia está em 278 favelas.
O mapa mostra uma guerra por territórios e todo tipo de negócio. Investigações recentes
demonstram que milicianos também estão comercializando drogas em seus redutos. Por outro
lado, traficantes de drogas estão praticando atividades típicas de milícia em suas áreas de domínio.

Veja alguns apontamentos do relatório:


• Facção de traficantes mais numerosa controla 828 favelas;
• Polícia estima que o Rio tenha 56.600 criminosos em liberdade;
• 895 criminosos de altíssima periculosidade têm mandados de prisão em aberto;
• Inquéritos apontam 9.762 de crimes relacionados à violência doméstica.

O relatório cita ainda reportagens que dão uma dimensão da violência provocada pelo
crime nas comunidades. Uma fotografia mostra a ação de criminosos repartindo a carga
roubada ao lado de uma creche, no Complexo da Maré.
O estudo diz que mais da metade dos homicídios investigados na capital, na Baixada
Fluminense e na Região Metropolitana do Rio, desde 2016, tem ligação com o crime
organizado.

122
TÓPICO 3 — FAVELIZAÇÃO E SEGREGAÇÃO

O levantamento afirma ainda que o crime conta com a colaboração de 51 mil presos
ligados às facções. O número de bandidos soltos assusta: 895 criminosos de altíssima
periculosidade têm mandados de prisão em aberto.
Levantamento mostra número de inquéritos que envolvem a violência no RJ.
São chefes e integrantes da hierarquia de facções criminosas que utilizam as favelas como
verdadeiros bunkers. Diante desse cenário, as investigações são intermináveis (veja os
inquéritos a seguir):
• 675 inquéritos policiais de associação ou organização criminosa;
• 4.137 de estupro;
• 830 de extorsão;
• 5.522 de homicídio doloso;
• 3.452 de roubos;
• 2.200 de tráfico de drogas e associação para o tráfico;
• 9.762 de crimes relacionados à violência doméstica

FONTE: <https://glo.bo/3gDzCdD>. Acesso em: 5 ago. 2021.

Além da estereotipação constante do morador de favelas ou comunidades


de risco e da violência que já vimos aqui analisada, há também a dificuldade
de encontrar, por meio das instituições oficiais, proteção contra toda e qualquer
violência. O Estado possui sua dificuldade ao adentrar áreas dominadas pelo
tráfico para atender a qualquer tipo de situação, mesmo que não envolva drogas.
Por isso é muito comum ouvirmos que a lei que impera nesses ambientes é a lei
do tráfico.

Outro sintoma causado por toda essa violência, marcação dos sistemas de
vigilância e do medo da sociedade, é também o reconhecimento de moradores
dessas regiões pela alcunha de favelado e morador de áreas de risco. Isso dificulta
muito a entrada no mercado de trabalho adultos responsáveis por famílias
inteiras. Segundo Malagutti (2003), isso se torna mais difícil ainda quando é o
jovem adolescente de favelas quem busca sua colocação profissional nas instâncias
oficiais, a chance torna-se quase nula, por conta do estereótipo e da exclusão.

Na próxima unidade, nós iremos analisar como a segurança pública é


desenvolvida para o combate ao tráfico de drogas, e quais as grandes dificuldades
do combate ao narcotráfico que está em crescimento no País. A segurança das
fronteiras é essencial para o afastamento dos produtos ilícitos e intoxicantes que
muitas vezes já vêm prontos para a comercialização nos centros e comunidades
das cidades.

123
UNIDADE 2 — AS DROGAS E OS REFLEXOS NA VIOLÊNCIA SOCIAL

LEITURA COMPLEMENTAR

O que mudou com a nova Política Nacional sobre Drogas (PNAD)

Em abril, a nova Política Nacional sobre Drogas (PNAD) foi aprovada


pelo governo federal. Uma das principais mudanças refere-se ao tratamento
dos dependentes químicos, com a adoção da abstinência como abordagem
preferencial. Até então, a estratégia privilegiava a redução de danos (RD). Outra
novidade é o estímulo às comunidades terapêuticas.

A política anterior estava em vigor desde 2002 e replicava um modelo


adotado por países como Portugal e Canadá. O propósito da RD é diminuir os
riscos de danos biológicos, psicossociais e econômicos aos quais estão expostos
os dependentes químicos. A distribuição de seringas individuais (principalmente
para evitar transmissão do vírus HIV) é a principal medida.

O tratamento tem como base a informação, o atendimento médico e a


garantia de acesso a políticas públicas. A abordagem não visa retirar a droga do
usuário, mas possibilitar a superação do vício de acordo com a necessidade e a
vontade individual, considerando os fatores genéticos e ambientais envolvidos.
Apesar disso, o abandono da adição é desejável.

Já a terapia de abstinência cessa o uso da droga pelo dependente químico.


Durante esse período, podem ser administrados medicamentos que atenuem
os efeitos da falta da substância que era consumida pelo paciente. Os sintomas
incluem agitação, irritação e mal-estar. Para isso, é necessário o tratamento
adequado e equipes especializadas.

Os profissionais envolvidos devem trabalhar as motivações e objetivos


de vida do paciente, buscando construir um projeto terapêutico e de reabilitação
cognitiva e social. Leitos hospitalares devem estar disponíveis para acolher,
proteger e tratar os dependentes.

O tratamento que passa a ser adotado a partir de agora parte da premissa


que o dependente químico não reúne condições para controlar o uso de substâncias
nocivas. “Em razão desse descontrole, ele não vai conseguir dosar minimamente o
uso da droga para evitar os danos”, defende Quirino Cordeiro, secretário nacional
de cuidados e prevenção às drogas do Ministério da Cidadania, em entrevista ao
jornal Folha de S. Paulo.

Visões distintas:
A nova PNAD é analisada por diferentes pontos de vista entre organizações
de classe envolvidas diretamente no tratamento de usuários de drogas. O
Conselho Federal de Medicina (CFM) e a Associação Brasileira de Psiquiatria
(ABP), por exemplo, são favoráveis à mudança.

124
TÓPICO 3 — FAVELIZAÇÃO E SEGREGAÇÃO

A justificativa das entidades está na ineficiência do método de redução de


danos. “A RD acabou não atingindo aquilo que se buscava. Essa nova política está
alinhada ao que a pensamos”, explica Carmita Abdo, presidente da ABP.

Em entrevista ao jornal O Globo, Sabrina Presman, psicóloga e presidente


da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e Outras Drogas (Abead), explica
que, embora a ênfase e a meta a partir da nova PNAD sejam a abstinência, as
medidas de redução de danos não estão totalmente excluídas. A troca de seringas,
a terapia de substituição de opioides e a testagem de HIV ainda são previstas na
nova PNAD.

“Se o paciente não está motivado a parar, a gente incentiva a redução de


danos”, complementa Sabrina, que também é diretora de uma clínica particular
de atendimento a dependentes químicos. Ela afirma, ainda, que não existe um
tratamento aplicável a todos os pacientes. “A dependência química é uma doença
multifatorial. Não há uma estratégia única”, acrescenta.

Contrário às novas diretrizes, entende que o cuidado aos dependentes


químicos deve ser realizado em parceria com políticas públicas, com a adoção de
ações de diversas áreas de conhecimento.

Comunidades terapêuticas
Outra mudança diz respeito ao local preferencial para o atendimento, que
anteriormente eram os ambulatórios dos Centros de Atendimento Psicossocial
(Caps). A internação compulsória figurava como último recurso. Agora, a nova
PNAD incentiva o encaminhamento do paciente para as chamadas comunidades
terapêuticas (CTs).

Em geral, essas organizações já promovem a abstinência. Cerca de 82%


delas são vinculadas a igrejas e organizações religiosas, segundo o Instituto
de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Seu foco não é o tratamento, mas o
acolhimento dos dependentes químicos por meio de uma rotina de atividades
religiosas.

O desenvolvimento do lado espiritual seria um auxílio à terapia. Em


entrevista ao Jornal do Comércio, de Porto Alegre, Pedro Ferreira, membro da
Comissão Nacional de Estudos de Dependência Química da ABP, destaca bons
resultados alcançados pela estratégia. “Estudos recentes de neurociências têm
apontado para redução de compulsão por drogas em pacientes que passam a
desenvolver o que chamam de despertar espiritual”.

No mês de março, o Ministério da Cidadania ampliou o número de


vagas gratuitas para dependentes químicos nas CTs e assinou três portarias que
instituem o cadastramento, a fiscalização e a certificação das entidades.

125
UNIDADE 2 — AS DROGAS E OS REFLEXOS NA VIOLÊNCIA SOCIAL

Dados gerais:
O Brasil é o país com o segundo maior índice de consumo de cocaína
no mundo, atrás apenas dos Estados Unidos. Cerca de 6,1% da população já fez
uso da substância ao menos uma vez na vida. Ainda assim, a droga ilícita mais
utilizada é a maconha.

Em 2016, por exemplo, 11,1% dos brasileiros afirmaram ter feito uso de
maconha ao menos uma vez na vida – e 5,9% haviam consumido nos 12 meses
anteriores. Os dados são do Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (II Lenad).

A dependência química se configura quando o usuário apresenta alteração


de estado psíquico, comportamental e, algumas vezes, físico. O uso torna-se
abusivo quando é contínuo ou periódico e com o objetivo de experimentar seus
efeitos e/ou evitar o desconforto da privação.

FONTE: <https://bit.ly/3Boen7z>. Acesso em: 5 ago. 2021.

126
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:

• O crescimento populacional, os movimentos migratórios, o êxodo rural e


a falta de alinhamento das políticas públicas ao setor moradia e aos direitos
fundamentais, são fatores determinantes para o processo de favelização no
Brasil.

• O crescimento urbano acelerado das cidades deve ser acompanhado com


planejamento, caso contrário, problemas de mobilidade e trânsito das pessoas
podem surgir, bem como, a favelização.

• Aglomerado subnormal é uma forma de ocupação irregular de terrenos de


propriedade alheia, públicos ou privados, para fins de habitação em áreas
urbanas.

• A segregação pode ser tanto racial quanto social.

• A busca pelo traficante pela persecução policial evidencia muitas vezes a


relativização dos direitos individuais do cidadão, e quando essa investigação
toma a propensão de uma guerra contra o tráfico, o estado de exceção pode
intermediar a quebra de direitos diversos.

• A falta do Estado e de políticas públicas de qualidade, bem como, de segurança


pública estratégica para o enfrentamento do traficante de drogas, é capaz de
moldar realidades através da força violenta do traficante nas vidas das pessoas
das comunidades carentes.

• Há grande dificuldade de o morador de áreas de risco encontrar, por meio das


instituições oficiais, proteção contra toda e qualquer violência, bem como, seu
emprego.

CHAMADA

Ficou alguma dúvida? Construímos uma trilha de aprendizagem


pensando em facilitar sua compreensão. Acesse o QR Code, que levará ao
AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.

127
AUTOATIVIDADE

1 Estudamos, neste tópico, a respeito do movimento de favelização e quais os


fatores determinantes para que isso ocorra. Descreva qual é a importância que
as políticas públicas têm no sentido de se evitar o surgimento de construções
de risco e áreas consideradas insalubres para a moradia humana.

2 O crescimento do tráfico de drogas e da violência que ele acarreta é uma


preocupação constante. Mas as pessoas que convivem próximo a ele são
as mais violentadas em seus direitos. Qual é o motivo do tráfico de drogas
estar ligado às favelas e comunidades mais carentes no Brasil?

3 Como vimos, o êxodo rural pode ser um fator determinante para o grande fluxo
de pessoas dentro das cidades mais centrais, a partir dos anos 1990. Mas outros
são fatores essenciais para o crescimento das áreas de risco. Nesse diapasão,
assinale V para Verdadeiro e F para as questões que considere Falsas:

( ) Os ambientes reconhecidos como aglomerados subnormais são capazes


de desenvolver a presença do Estado a partir de irregularidades na
legalização da posse das terras.
( ) O êxodo rural foi um movimento ambientado no século XX, mais
precisamente nos anos 1990, quando os agricultores rumaram para as
cidades em busca de tecnologias para a colheita.
( ) A falta de planejamento do Estado acarretou também na sua impotência
para lidar com o problema da superlotação das cidades.
( ) Um dos destaques do crescimento das favelas é o desenvolvimento das
desigualdades sociais, que são manifestadas nos espaços geográficos das
cidades, que passam a ser divididas entre os grupos antagônicos que se
diferem economicamente.

4 A favelização e segregação possuem inúmeros destaques característicos,


e a violência do tráfico de drogas em ambientes de favelas é crescente
e se refere também às faltas de oportunidades de emprego formal
dos trabalhadores moradores dessas áreas, causadas até mesmo pela
segregação e exclusão pelo medo e pelo preconceito. Nesse sentido é
CORRETO:

a) ( ) É comum jovens de comunidades carentes de comunidades serem


julgados por instâncias diferentes do direito penal e policial
em ocorrências com o tráfico de drogas, como as instituições
despenalizadoras do direito.
b) ( ) O tráfico não é capaz de desestabilizar a identidade dos moradores das
comunidades carentes frente à sociedade, uma vez que essa identidade
é realizada pela própria pessoa somente.
c) ( ) Relativizar direitos é comum na luta contra o tráfico de drogas e deveria
ser legalizada pelo Estado para o combate mais bem-sucedido.
128
d) ( ) Além da esteriotipação constante do morador de favelas ou
comunidades de risco e da violência; há também a dificuldade de
encontrar, por meio das instituições oficiais, proteção contra toda e
qualquer violência e até mesmo trabalho formal.

5 Comunidades mais carentes e mais afastadas dos grandes centros são as


que mais sofrem com o tráfico de drogas, com as milícias e com a falta
do Estado. Analise as questões referente aos problemas sociais diversos
e analise as questões e identifique as afirmativas CORRETAS:

I- É na figura do traficante que o poder paralelo possui suas mais intrínsecas


características, sempre identificadas pela violência e pelo medo.
II- Perfaz-se em um dos grandes problemas analisados pela criminologia, a
criminalização primária do desvio.
III- As favelas não são vistas de forma diferente às outras comunidades na
sociedade, somente aquelas que possuem o tráfico de drogas em seu
meio.
IV- Estereotipar e identificar alguém como morador de área de risco é algo
que deve ser realizado por todos e pelo Estado, para um maior controle
do tráfico de drogas e de seus personagens.

Estão corretas as questões:

a) ( ) As questões I e II estão corretas.


b) ( ) As questões II e III estão corretas.
c) ( ) As questões I e IV estão corretas.
d) ( ) As questões II e IV estão corretas.

129
130
REFERÊNCIAS
ARAGÃO, A. T. M; MILAGRES, E.; FLIGIE, N. B. Qualidade de vida e
desesperança em familiares de dependentes químicos. Psico-USF, v. 14, n. 1,
p. 117-123, jan./abr. 2009. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/pdf/psicousf/
v14n1/v14n1a12.pdf. Acesso em: 5 ago. 2021.

BAUMAN, Z. O mal-estar da pós-modernidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998.

BAUMAN, Z. Em busca da política. Rio de Janeiro: Zahar, 2000.

BECKER, H. S. Outsiders. Estudos de sociologia do desvio. Rio de Janeiro:


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BERGER, P. L. L. T. A construção social da realidade. Petrópolis: 8. ed. Vozes, 1990.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em 5 de


outubro de 1988. 29. ed. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2002.

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134
UNIDADE 3 —

A AMEAÇA DO TRÁFICO

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• identificar as estratégias da segurança pública que permitem uma análise


do tráfico de entorpecentes;
• conhecer os caminhos do narcotráfico internacional;
• refletir sobre a ameaça do tráfico de drogas nas sociedades modernas;
• articular a construção de conhecimentos e domínio na utilização das
informações acerca da segurança pública e da influente questão do tráfico
de drogas.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade
você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo
apresentado.

TÓPICO 1 – SEGURANÇA PÚBLICA E O TRÁFICO DE ENTORPECENTES


TÓPICO 2 – O NARCOTRÁFICO INTERNACIONAL
TÓPICO 3 – A SECURITIZAÇÃO DAS FRONTEIRAS NACIONAIS

CHAMADA

Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos


em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá
melhor as informações.

135
136
TÓPICO 1 —
UNIDADE 3

SEGURANÇA PÚBLICA E O TRÁFICO


DE ENTORPECENTES

1 INTRODUÇÃO
Prezado acadêmico! Chegamos até aqui através de análises distintas, que
trazem em seu objeto de estudo preocupações acerca da saúde social e como
lidamos com a grande presença de produtos altamente viciantes em nossa vida.

É importante entendermos que qualquer solução que contenha substâncias


intoxicantes e que podem causar distúrbios no organismo, também são capazes de
viciar. A partir disso, vimos em um primeiro momento que até mesmo remédios
com baixo potencial ofensivo ao organismo, que causam aprazimento diante
a algumas dores físicas, e mesmo psicológicas, são extremamente sedutores
ao sistema orgânico: primeiro, mesmo que em baixa concentração algumas
substâncias que espalham a letargia sobre o corpo, com a finalidade medicinal,
podem causar o vício físico e psíquico dessa sensação causada pelo remédio; em
um segundo plano, através da fácil aquisição desses medicamentos dispostos nas
farmácias do dia a dia, torna-se muito comum o consumo de substâncias químicas
que muitas vezes não precisamos, mas que adequamos ao nosso modo de vida.

Partamos então para matérias mais consistentes em sua formulação,


capazes de transformar o organismo em questões de minutos, e nesse tempo
moldar toda a realidade ao redor, através de seus componentes indutivos que
derivam de substâncias estimulantes e perturbadoras, que burlam a perfeita
cognição, causando distorções ao natural funcionamento cerebral. Essas,
consideradas mais invasivas também podem ser encontradas facilmente em locais
definidos, como vimos. E a transformação do remédio, que antes servia como um
defensor do organismo, pode ser tão intensa ao ponto de que o sistema físico
de alguém necessite de mais doses desse produto, para se sentir normal. Vimos
que isso se dá através da alta potencialidade de intoxicação desses produtos, e
ainda assim, são preparadores de sensações diferentes ao organismo humano,
que muitas vezes se acostuma com sua ação viciante.

Bebidas alcóolicas e remédios são uma parte desses produtos conforme


estudamos nas unidades anteriores. Outra parte se perfaz pelos produtos
ilícitos, alguns naturais e outros transformados pela mistura de componentes
em laboratórios do tráfico. E é aqui que continuaremos nesta terceira e última
unidade dos nossos estudos acerca da toxicologia e segurança pública, pois há
aqui uma transformação que podemos notar: todos os produtos que viciam,
quando alteradas suas fórmulas mais usuais para que seu poder inebriante e
aliciante seja mais invasivo e penetrante ao organismo e sua noção de realidade,

137
UNIDADE 3 — A AMEAÇA DO TRÁFICO

são utilizados na produção ilegal de entorpecentes. Produtos esses que servem


para viciar com mais intensidade e com mais letalidade (veja a grande procura dos
viciados em crack pelo produto altamente viciante, e ao mesmo tempo mortal), e
para financiar as riquezas dos grandes traficantes do país e do mundo.

Vimos, na unidade anterior, os países com maior taxa de apreensão e


comércio de drogas ilícitas, que se concentram na América Latina; todos países em
desenvolvimento e que tem em comum o clima e o solo altamente produtivo para a
plantação de produtos que desenvolvem drogas potentes (SHIBAMOTO, 2014). Esses
produtos desestabilizadores, se vendidos pelos traficantes sem nenhuma penalização,
podem ser capazes de espalhar-se pelo convívio social com mais facilidade e
transformar um organismo saudável em doente, em questões de algumas doses. Sem
falar na maneira insalubre da produção dessas drogas, feitas em laboratórios sem
condições nenhuma, muitas vezes em locais sem higiene, clandestinamente.

Tendo isso em vista, a segurança pública tem aqui duas finalidades muito
bem definidas: diminuir a demanda de drogas ilícitas a partir da quebra da
alimentação dos produtos essenciais para a produção dos entorpecentes, e segundo;
combater o tráfico de drogas sob uma maneira mais inteligente. Essa maneira
somente pode ser possível através da junção da segurança pública com as políticas
públicas de qualidade contra o tráfico de drogas, na conscientização, educação e no
conceito de ampla cidadania a todos os personagens da sociedade, que possam se
sentir seguros com a presença da segurança pública, e amparados pela assistência
das políticas públicas do Estado. Perceba que todos os impostos pagos diariamente
devem ser devolvidos ao cidadão em forma de políticas públicas de qualidade.

Nesse sentido, iremos analisar como a segurança age em relação ao tráfico


de drogas nesse primeiro momento. Vamos lá!

2 DROGAS ILEGAIS E A SEGURANÇA PÚBLICA


Como vimos na unidade anterior, é o artigo 144 da Constituição Federal
de 1988 quem declara a competência da Polícia Federal para a investigação e
o combate específico ao tráfico de drogas. E a Polícia Federal utiliza de meios
inerentes a sua prática para conseguir atingir seus objetivos no caso das drogas
ilegais, que é descobrir e inutilizar os insumos usados para a fabricação das
substâncias. Mas para isso, depende muito da influência que a sua parceira, a
Polícia Rodoviária Federal, possui no conhecimento das estradas e das vias mais
escondidas que existem em nosso País continente. Esse dueto das polícias gera
resultados interessantes, quando consegue desestabilizar a estrutura do tráfico,
que é a distribuição do produto em nível nacional.

Por outro lado, a diminuição na entrada dos insumos nos laboratórios


do tráfico gera uma demanda pelos produtos considerados matéria-prima
para a droga, e isso pode expor cada vez mais os traficantes que partem em
busca de outras formas de abastecer e suprir seus laboratórios. Essa não é uma

138
TÓPICO 1 — SEGURANÇA PÚBLICA E O TRÁFICO DE ENTORPECENTES

competência absoluta, entretanto. A Polícia Federal é competente aos crimes


de tráfico internacional, por se portar como uma polícia com incumbências
nacionais e não estaduais, como as polícias civis e militares, portanto, houve uma
descentralização através dos Planos Nacionais de Segurança Pública, que prevê
que cada Estado da Federação possua, através de suas próprias normatizações,
seu próprio plano de segurança pública.

E veja que isso é muito perspicaz, uma vez que somos um país de grandeza
continental, possuindo cada Estado suas próprias culturas, idiossincrasias e
trejeitos próprios, bem como, problemas situacionais bem definíveis. Assim, é
prioridade que cada plano Estadual siga o planejamento nacional, escrito em
2017 pelo Sistema Único de Segurança Pública, que possui um planejamento
que considera o tempo de 2018 até o ano de 2028. A atuação das polícias de forma
descentralizada e conjunta é capaz de desarticular as atividades do tráfico de
drogas a partir de sua inteligência, ou seja, de planos específicos para esse setor,
mas que possuam bases bem claras quanto à missão e aos locais de abordagens,
sejam nas estradas ou nas comunidades.

Segundo a agência de notícias do Estado do Paraná, somente no


primeiro trimestre do ano de 2021, mais de 60 toneladas de drogas diversas
foram apreendidas pelas polícias, contra 24,9 toneladas no mesmo período que
compreende o ano anterior. O balanço da Secretaria de Estado da Segurança
Pública paranaense apresenta um aumento de 148%, ou de 36,8 toneladas a
mais em 2021 em relação ao ano anterior. Isso significa que as ações preventivas
das forças de segurança pública se qualificam através de estratégias integradas
(AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS DO PR, 2021).

NTE
INTERESSA

Notícia escrita pelo editorial da página da Agência de Notícias do Paraná não


pode passar despercebida. Preste atenção nos números das apreensões bem na forma de
serviço dos agentes da segurança pública, destacados a seguir:
Apreensões de drogas aumentam quase 150% no primeiro trimestre
Publicado em maio de 2021.
As forças de segurança pública do Paraná apreenderam de janeiro a março deste ano
61,7 toneladas de drogas, enquanto que no mesmo período do ano passado foram 24,9
toneladas. O aumento foi de 148%, ou 36,8 toneladas a mais. O balanço da Secretaria de
Estado da Segurança Pública, divulgado nesta terça-feira (18), engloba o resultado das ações
preventivas da Polícia Militar e também de repressão qualificada da Polícia Civil.
O secretário da Segurança Pública, Romulo Marinho Soares, afirma que as forças policiais
estão usando a estratégia e a inteligência contra o tráfico de drogas e destaca a continuidade
do trabalho durante o período da pandemia.
“O desempenho é resultado da integração das forças de segurança nas operações realizadas”,
disse o secretário. “Essas ações continuarão e serão reforçadas, com intensificação da
fiscalização e investigação para conseguirmos aumentar ainda mais essas apreensões”.
Foram apreendidas maconha, cocaína e crack. As polícias Militar e Civil apreenderam
60.675 quilos de maconha, um aumento de 162,7% em relação ao primeiro trimestre de

139
UNIDADE 3 — A AMEAÇA DO TRÁFICO

2020 (com 23.095 quilos). Neste ano, o mês que registrou a maior quantidade de maconha
apreendida foi janeiro, com 26,7 toneladas.
Também foram apreendidos 782,3 quilos de cocaína, sendo 444,4 quilos a menos que
no comparativo com 2020, que teve pouco mais de 1,2 mil quilos apreendidos, o que
resulta em queda de 36,23%. Março foi o mês com a maior quantidade apreendida, com
652,3 quilos. Já as apreensões de crack tiveram queda de 42,59% – de 590,8 quilos no ano
passado para 339,7 quilos neste ano.
O mês de 2021 que teve a maior quantidade de drogas apreendidas, somando maconha,
cocaína e crack, foi janeiro, com 26,7 toneladas. Enquanto março foi o mês que teve a menor
quantidade: 16.326 quilos, o que representa 10.446 quilos a menos que o primeiro mês de 2020.
Operações pontuais – O subcomandante da Polícia Militar do Paraná, coronel Rui Noé
Barroso Torres, falou sobre as principais missões que ajudaram no combate ao tráfico de
droga no Estado. “Dentro das operações executadas no trimestre, duas foram pontuais para
o combate ao tráfico de drogas, a Operação Pronta Resposta e a Operação Tático Móvel.
Elas são um suplemento ao reforço do policiamento nas ruas, não em Curitiba e Região
Metropolitana de Curitiba, mas também a nível de estado”, afirmou.
A Operação Pronta Resposta é formada por policiais militares atuantes no serviço ostensivo,
preparados para prestar rápido atendimento em ocorrências de maior risco, como furtos a
agências bancárias e explosão de caixas eletrônicos, roubos e outros delitos. Já a Operação
Tático Móvel é composta por equipes de Rondas Ostensivas Tático Móvel (ROTAM) e do
Batalhão de Operações Especiais (BOPE) que reforçam o policiamento ostensivo visando
locais com maior incidência de crimes, como homicídios e tráfico de drogas.
Na Polícia Civil os destaques são as operações de repressão qualificada, caracterizadas
por ações cirúrgicas, que têm como foco principal a desestruturação e desarticulação de
organizações criminosas atuantes no Estado.
O delegado-geral da Polícia Civil, Silvio Jacob Rockembach, lembrou que houve aumento
nas apreensões nos últimos dois anos e afirma aponta que a tecnologia foi um dos fatores
para este desempenho.
“Foi investido muito em tecnologia e o uso dela, voltado à atividade de inteligência, tem dado
à Polícia Civil mais velocidade nas análises, no cruzamento de dados e na identificação de
quadrilhas ou grupos atuantes no tráfico de drogas no Estado. Esse investimento, essa agilidade
e o uso da tecnologia, aliado à capacitação do policial, principalmente, no que se refere à
aplicação de técnicas estruturadas na análise de inteligência tem dado resultado”, destacou.
Drogas sintéticas – Segundo os dados do relatório, o recolhimento de LSD subiu 172,4% no
primeiro trimestre de 2021 – de 2.363 pontos em 2020 para 6.437 pontos neste ano. O mês
de janeiro foi o que registrou a maior quantidade de LSD apreendida, com 3.425 pontos. Já
o número de apreensões de ecstasy caiu de 14,1 mil para 8.123 comprimidos apreendidos
em 2020, queda de 42%.

FONTE: Agências de Notícias do Paraná. Apreensões de drogas aumentam quase 150% no


primeiro trimestre. Disponível em: <https://bit.ly/3ynICcA>. Acesso em: 6 ago. 2021.

O exemplo exibido é apenas um modelo de atividade policial descentralizada,


mas que necessita da união das forças policiais, tanto repressivas e de campo,
quanto de inteligência e investigação para um melhor sucesso das operações.

2.1 INTELIGÊNCIA E INFORMAÇÕES


Para que exista o sucesso no trato com as drogas ilícitas e sua
comercialização, núcleos de inteligência de delegacias especializadas no combate
às drogas são fundamentais. Esses núcleos de investigação são capazes de gerar,
através de informações estratégicas relevantes, uma resposta das forças de
140
TÓPICO 1 — SEGURANÇA PÚBLICA E O TRÁFICO DE ENTORPECENTES

segurança pública mais assertiva e menos invasiva a quem não esteja determinado
ao tráfico de drogas. É função desse núcleo coletar, reunir e disseminar informações
de qualidade sobre a dinâmica do tráfico de drogas, e através dela estabelecer
algumas prioridades estratégicas para realizar as operações.

Mas para isso, é essencial a presença de agentes dedicados e especializados


somente para esse fim, que determine a obtenção de informações detalhadas sobre
o modus operandi do traficante, em todas as fases da sua ação, o que inclui dinâmicas
diversas e matérias diferentes entre si, como o cultivo da maconha e o local utilizado
para esse fim, o tráfico especializado internacional e o interestadual, bem como,
conhecimento e estudos sobre os mercados locais e internos das cidades.

Segundo o Caderno Temático de Referência da Polícia Judiciária no


enfrentamento às drogas ilegais, realizado pela Secretária Nacional de Segurança
Pública (SENASP) no ano de 2014, alguns objetivos são importantes para que
os serviços de inteligência possam atingir a plenitude de suas funções contra a
cadeia econômica do tráfico de drogas, que se mostra suficiente em sua atuação.
São alguns desses objetivos:

• servir de fonte central de informação sobre o tráfico de drogas no âmbito local,


estadual, interestadual e internacional na qual a adoção de políticas será baseada;
• apoiar outras organizações policiais e do sistema de justiça criminal a coletar
e analisar dados de inteligência confiáveis e válidos, que possam ser usados
taticamente na repressão e prevenção ao tráfico de drogas no âmbito local,
estadual, interestadual e internacional;
• realizar investigações sobre as atividades do tráfico de drogas e do crime
organizado, e sobre as pessoas que delas participam, recolhendo provas
necessárias para planejar e realizar com sucesso intervenções de repressão e
prevenção contra essas atividades (SENASP, 2014, p. 48).

Potencializar a produtividade das operações policiais de segurança


pública, através da inteligência, compreende a orientação e encaminhamento
das forças de repressão para os locais e áreas mais críticas de tráfico de drogas e
crimes a ele associados. Veja a seguir o detalhamento dos núcleos de inteligência,
interpretados pelo relatório do SENASP:

FIGURA 1 – DETALHAMENTO DOS NÚCLEOS DE INTELIGÊNCIAS

141
UNIDADE 3 — A AMEAÇA DO TRÁFICO

FONTE: SENASP (2014, p. 49)

Núcleos especializados são de extrema importância para combater as drogas,


uma vez que a inteligência passa a laborar unicamente através das investigações
que enfatizam a busca por dados e informações qualificadas. Bem usadas, essas
referências são capazes de contornar embates e lutas dispendiosas travadas por
policiais militares especializados, contra um grupo também especializado e muito
bem munido, mas que passa a ser monitorado por bases mais dinâmicas, como a
investigação de qualidade. Segundo o relatório da SENASP:

A inovação institucional mais relevante e eficiente no enfrentamento


ao tráfico de drogas ilegais e aos crimes associados segundo os policiais
civis nos estados e nos grupos focais foi o núcleo de inteligência da
delegacia de drogas. Os policiais enfatizaram a capacidade de obtenção
e de análise de informações do núcleo de inteligência sobre a dinâmica
e a evolução das atividades dos traficantes das diversas organizações
criminosas (seja no cultivo de drogas, no tráfico internacional, no
tráfico interestadual ou no mercado local). Segundo os participantes a
efetividade da Polícia Judiciária na investigação e repressão dos crimes
associados ao tráfico de drogas, como: a evasão de divisas, golpes
de financiamento, crimes contra o patrimônio, homicídio doloso e
culposo, lavagem de dinheiro, enriquecimento ilícito e corrupção
dependem primordialmente dos recursos tecnológicos, das técnicas
de investigação e da capacitação da equipe do núcleo de inteligência
(SENASP, 2014, p. 49).

Tendo sua nascente nas polícias civis, ou mais precisamente nas policias
judiciárias, os núcleos de informação e inteligência servem de apoio para uma
repressão ao ilícito, mais centralizada no que realmente é preciso.

142
TÓPICO 1 — SEGURANÇA PÚBLICA E O TRÁFICO DE ENTORPECENTES

Como vimos, o tráfico se utiliza de ambientes como as favelas e morros,


onde vivem comunidades de milhões de habitantes que integram uma sociedade
geralmente controlada pelo traficante e seus aliciadores, mas que não interagem em
outras importâncias da vida com esses meliantes. O volume das informações sobre o
crime organizado trazido pelo trabalho policial de investigação consegue articular as
forças da persecução penal e de repressão aos grupos que realmente fazem parte do
ilícito, mas não dos moradores que são vítimas de toda a violência desses meliantes.

FIGURA 2 – AS BOAS PRÁTICAS DOS NÚCLEOS DE INTELIGÊNCIA

FONTE: SENASP (2014, p. 49)

As informações são de extrema importância para o serviço de organização


na área investigativa e para que os eventos produzidos para a segurança social
sejam determinantes para o enfrentamento dos perigos diversos que sociedades
inteiras convivem. A utilização intensiva das informações que chega aos núcleos
é capaz de criar um planejamento consciente e desenvolver estratégias específicas
para cada caso:

143
UNIDADE 3 — A AMEAÇA DO TRÁFICO

A finalidade da análise criminal é o estudo sistemático e abrangente


do crime e dos fenômenos associados (informações urbanas,
sociodemográficas, econômicas, espaciais e temporais) visando a
produção de conhecimento relativa à identificação de padrões espaciais,
temporais, do modus operandi dos criminosos. Seu objetivo primordial
é subsidiar as ações dos gestores da polícia (análise criminal tática) e das
intervenções (análise criminal operacional) (SENASP, 2014, p. 49).

Os sistemas de informações interligados devem estar disponíveis a todas


as delegacias de inteligência policial, mas fica evidente que seus dados devem
ser transmitidos na mesma velocidade que chegam, para que cada central possa
tomar as atitudes convenientes.

FIGURA 3 – COMO FUNCIONA O SISTEMA DE INFORMAÇÕES

FONTE: SENASP (2014, p. 49)

A digitalização dos processos e dos boletins de ocorrências, bem como o


uso das tecnologias que avançaram muito nas últimas duas décadas são utilizadas
como estratégias para as organizações policiais identificarem os problemas mais
rapidamente. É nesse sentido que todos os inquéritos abertos em delegacias
diversas, que mantenham em seu objeto de investigações as drogas, precisam
estar digitalizados e acessíveis aos policiais e delegados de outros centros, para
que possam identificar informações que muitas vezes se cruzam num mesmo
inquérito, e que podem ajudar a deslindar casos diversos.

FIGURA 4 – A IMPORTÂNCIA DA DIGITALIZAÇÃO DOS INQUÉRITOS

144
TÓPICO 1 — SEGURANÇA PÚBLICA E O TRÁFICO DE ENTORPECENTES

FONTE: SENASP (2014, p. 53)

A inteligência no setor de segurança é descentralizada, e cada Estado,


dessa forma, possui sua central capacitada unicamente para as análises
investigativas. Isso pressupõe uma maior autonomia aos Estados, através de sua
polícia judiciária, em investigar os crimes organizados, entre eles, o tráfico de
drogas. Assim, mesmo sendo competência da Polícia Federal o combate ao tráfico
de entorpecentes, não significa que compete exclusivamente todo e qualquer ato
investigativo contra as drogas à Polícia Federal. As polícias judiciárias possuem
dentro de seus Estados, a responsabilidade de investigação e ação, contra as
drogas, seguindo todos os planejamentos nacionais e estaduais contra o crime que
se organiza. Entretanto, é competência da Polícia Federal o tráfico internacional
de drogas.

Com a descentralização das investigações que são realizadas por cada


Estado da Federação, há a geração dados que são tratados pela inteligência
criminal. Mas não se resume apenas na coleta de informações diversas em um
local pré-definido, seus dados devem ser tratados a partir da análise de técnicos
especializados, que transformam os números em informações qualificáveis.
Segundo Fernandes (2007, p. 6), inteligência criminal significa:

[...] conjunto de medidas e ações adotadas objetivando adquirir


e armazenar informações de interesse da Segurança Pública, da
investigação policial, almejando medidas persecutórias na constituição
de provas ou mesmo na prevenção, a fim de se entender um contexto
e panorama criminoso, os fatos praticados pelos delinquentes, a
identificação destes e o respectivo histórico, para reprimir ou antever,
assessorando, a tomada de decisões, resguardando e salvaguardando
todas as informações e entendimentos oriundos destas, assim como a
própria instituição, de investidas adversas.

A variedade de drogas que são ofertadas diariamente, principalmente
as drogas consideradas sintéticas (ecstasy, anfetaminas, metanfetaminas, LSD,
mefedrona, entre outras), determina demandas diferentes e ações próprias por
parte das polícias, entre elas, parceiras das delegacias especializadas em drogas
e que se espalham pelos Estados. Isso porque o tráfico resulta em grandes
quantidades de dinheiro que muitas vezes são transportados entre contas
diferentes, bem como, a lavagem de dinheiro que se transforma em modus operandi
dos traficantes (REIS; OLIVEIRA, 2014).

145
UNIDADE 3 — A AMEAÇA DO TRÁFICO

O mapeamento das organizações criminosas é essencial prática para que as


ações policiais possam ocorrer nos locais onde de fato o crime se deslinda, tendo o
máximo cuidado para não envolver nas atividades policiais cidadãos que moram em
comunidades que são criminalmente usadas pelos traficantes. A repressão da oferta de
drogas como a maconha nos centros urbanos é uma das preocupações da segurança
pública, que usa da inteligência para descobrir campos de cultivos ilegais da planta.

Mas a repressão ao cultivo das drogas ilegais serve também para estabelecer
junto aos conviventes com a violência das drogas, uma relação de confiança ao
mobilizar as forças de segurança nas comunidades afetadas pelos danos causados
pela violência extrema do crime organizado. As informações estratégicas servem
para que a força policial e suas equipes ajam diretamente nas áreas de plantio
e cultivo da maconha e da coca, bem como, desvendar os depósitos onde se
armazenam as drogas, seus insumos e inclusive, armas utilizadas para o tráfico de
drogas (REIS; OLIVEIRA, 2014).

O artigo 32 da Lei de drogas (Lei nº 11.343/2006), que instituiu o Sistema


Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas (SISNAD), estudadas na unidade
anterior, identifica as plantações ilegais como grande alvo, junto ao crime organizado,
por se tratar de um bem para o tráfico, que pode se resumir em milhares de reais.
Assim, é pela definição legal que todas as plantações ilícitas encontradas pela
polícia devem ser destruídas de imediato, sendo uma pequena parte da planta
recolhida para as verificações laboratoriais e exames periciais. Isso pelo fato que
ao reduzir os insumos e a matéria-prima para a produção de drogas, ou mesmo a
oferta de drogas como a maconha, intenta-se erradicar não apenas seu consumo e a
produção pelos plantadores das ervas, mas também a distribuição desses produtos.

FIGURA 5 – ERRADICAÇÃO O CULTIVO DA MACONHA

FONTE: SENASP (2014, p. 60)

146
TÓPICO 1 — SEGURANÇA PÚBLICA E O TRÁFICO DE ENTORPECENTES

Ainda lembramos de drogas como as anfetaminas e metanfetaminas que


são produzidas da folha da coca e plantadas em locais muitas vezes de difícil acesso
e são combatidas em toda a América Latina. A pasta de cocaína, que se ouve ser
apreendida em diversos casos de operação policial, é o tesouro do tráfico, pois dela
deriva, após manuseio, o Oxi e a Merla, entre outras drogas que substancialmente
emanam do pó produzido pela folha de coca (FERREIRA, 2019).

Extremamente viciante e de fácil plantio e colheita, localizadas normalmente


nas fronteiras do Peru bem como em demais países latino-americanos, chegou à
Amazônia, onde recentemente foram encontrados plantações e laboratórios de
manuseio de transformação da pasta da coca. Você pode ler mais a respeito a
seguir:

DICAS

A notícia que você pode encontrar no site a seguir, intitulado Conexão


Tocantins demonstra a preocupação das forças de segurança pública e principalmente da
saúde pública brasileira com o alto número de consumo de cocaína. Isso envolve a alta
produção da droga, mas também a facilidade com a qual ela pode ser encontrada nas ruas
das grandes cidades nacionais. Veja em: https://bit.ly/3BlnAgI

3 O PLANO NACIONAL DE SEGURANÇA PÚBLICA E A AÇÃO


POLICIAL
O Plano Nacional de Segurança Pública (PLANAD) possui um planejamento
a longo prazo e visa identificar os problemas organizacionais no País, e assim, trazer
mais celeridade para os processos investigativos também. Em 2018, o Plano Nacional
de Segurança Pública e Defesa Social (PNSPDS) foi instaurado, e pelo princípio
estratégico em suas ações, já se inicia pelo longo prazo da tomada e aplicação das
suas intervenções, quando seu planejamento possui um período mais estendido de
tempo: de 2018 a 2028, implantada pelo Sistema Único de Segurança Pública.

Na apresentação do novo plano, em junho de 2018, o então Ministro da


Segurança Raul Jungmann, em sua apresentação, declara a criação do Sistema
Único de Segurança Pública:

A Política Nacional de Segurança Pública que ora se inicia com a


implantação do Sistema Único de Segurança Pública (SUSP), para ser
submetida à sociedade e aos órgãos envolvidos na sua implementação,
nasce para se consolidar como instrumento de Estado. Aprovado pelo
Congresso Nacional depois de anos de estudo, o SUSP é um primeiro e
largo passo para o resgate do imenso passivo que o país construiu por
mais de um século na segurança pública (SUSP PORTAL, 2018, p. 1).

147
UNIDADE 3 — A AMEAÇA DO TRÁFICO

Ainda em suas palavras, esclarece os ideais específicos para o planejamento


que se idealiza contra o crime organizado, como uma das principais atribuições
do plano apresentado: “Nossas extensas fronteiras com 10 países incluem quatro
produtores mundiais de drogas, que têm no Brasil o segundo mercado consumidor
mundial. O crime organizado tornou-se assim um flagelo insuportável para toda
a sociedade” (SUSP PORTAL, 2018 p. 1).

Por se tratar de um plano realizado em pleno ápice do paradigma


tecnológico, sua estrutura é especificada a partir do conceito de uma polícia
moldada pelos novos aparatos da engenharia digital:

O SUSP tem capacidade de desenvolver essa governança através


da padronização de dados, integração tecnológica, de inteligência
e operacional, encontrando no Conselho Nacional de Segurança
Pública um colegiado com competência para debater e validar uma
política nacional para o setor e promover o acompanhamento social
das atividades de segurança pública e defesa social, respeitadas as
instâncias decisórias e as normas de organização da administração
pública (SUSP PORTAL, 2018, p. 1).

Segundo relatado no Plano, eram estimados para o ano de 2018 recursos


na ordem de 1 bilhão de reais para a segurança pública. Para o ano de 2022,
ficou projetado a quantia de 4,3 bilhões “para investimento e custeio destinados
aos estados e municípios – preferencialmente mediante indicadores objetivos,
públicos e verificáveis” (SUSP PORTAL, 2018, p. 1). Um dos principais intuitos do
plano é a produção de estatísticas criminais que sejam confiáveis, na responsável
“produção de dados, informações e análises indispensáveis à formulação de
uma política pública setorial e seu monitoramento por parte da sociedade e do
Parlamento” (SUSP PORTAL, 2018, p. 1).

Dessa forma, o Plano Nacional traz em suas diretrizes as importâncias que


observa como essenciais no combate à criminalidade, e os princípios que devem
estar em uníssono com a Constituição Federal de 1988. O Plano atual instituiu o
Sistema Único de Segurança Pública e a Política Nacional de Segurança Pública
e Defesa Nacional, que enfatiza determinados princípios importantes, que são
essenciais para o atual Plano e que devem ser seguidos pelo próximo plano. São eles:

• respeito ao ordenamento jurídico e aos direitos e garantias individuais e coletivos;


• proteção, valorização e reconhecimento dos profissionais de segurança pública;
• proteção dos direitos humanos, respeito aos direitos fundamentais e promoção
da cidadania e da dignidade da pessoa humana;
• eficiência na prevenção e repressão das infrações penais;
• redução de riscos em situações de emergência e desastres;
• participação e controle social;
• resolução pacífica de conflitos;
• uso comedido e proporcional da força;
• publicidade das informações não sigilosas;
• simplicidade, informalidade, economia procedimental e celeridade no serviço
prestado.

148
TÓPICO 1 — SEGURANÇA PÚBLICA E O TRÁFICO DE ENTORPECENTES

Podemos citar como as grandes conquistas acerca do Plano Nacional


de 2017 a descentralização, ou seja, Estados devem possuir também seus planos
de combate ao crime organizado desde que sigam seus basilares princípios, e, o
considerável longo prazo do plano.

Para qualquer Plano Estadual, prezado acadêmico, tudo aquilo que foi
tratado no Plano Nacional, vale. O que traz a diferença entre eles, é o âmbito da
atuação, enquanto o primeiro possui seu âmbito nacional, o segundo é estadual.
Mesmo percebendo e recebendo influências do plano nacional, o plano estadual
possui determinadas particularidades, e essas você já sabe que podem ser
percebidas através das diversas características de cada região.

A criação da Secretaria Nacional de Segurança Pública, o SENASP, em


1997, demonstra a preocupação com os estudos acerca da segurança pública,
percebendo que com o crescimento da criminalidade, a abordagem deveria ser
realizada de forma sistêmica e holística. A Secretaria Nacional de Segurança
Pública assevera a autonomia dos entes federativos, mas assume o importante
papel de condução do plano elaborado nacionalmente, induzindo as políticas
públicas de segurança aos planos estaduais, bem como, ressaltando o princípio
da cooperação entre os governos federais e estaduais.

De acordo com a SENASP (2014), sua relação com os Estados a partir


do Plano Nacional de Segurança Pública deve se pautar não apenas pelo mero
financiamento passivo de projetos específicos, mas passa a propor uma dinâmica
de maior parceria e cooperação em torno da elaboração e implantação de planos
estaduais de segurança pública sistêmicos, isto é, abrangentes e integrados. Então:

• Cada Estado, portanto, possui seu próprio plano de Segurança Pública,


que pode ser estudado e analisado a partir de seus sites de informação. É
imprescindível que o plano de segurança estadual, além de seguir os preceitos
do Plano Nacional para ser considerado, deve possuir um planejamento com
ações firmadas aos propósitos elencados nos princípios constitucionais.

Notamos que o planejamento nacional, incentivador dos planos Estaduais


a partir dos princípios e diretrizes se fortalece através de dois pontos importantes
que interagem entre si: as políticas públicas de qualidade de combate ao uso de
drogas, que geram oportunidades diversas a todos os cidadãos, e a atuação das
policias repressivas no campo de ação, ou seja, nas comunidades e locais carentes
e afastados do poder público, mas dominados pelo tráfico.

A ação policial deve concretizar os direitos fundamentais elencados na


Constituição de 1988, que vimos na unidade anterior; respeitando os direitos das
pessoas moradoras dos locais cooptados pela violência do tráfico, e para isso, a
investigação anterior é fundamental (REIS; OLIVEIRA, 2014).

149
UNIDADE 3 — A AMEAÇA DO TRÁFICO

NOTA

Quer saber mais sobre o SUSP?


A criação do Sistema Único de Segurança Pública (Susp) é um marco divisório na história
do país. Implantado pela Lei nº 13.675/2018, o Susp dá arquitetura uniforme ao setor em
âmbito nacional e prevê, além do compartilhamento de dados, operações e colaborações
nas estruturas federal, estadual e municipal. Com as novas regras, os órgãos de segurança
pública, como as polícias civis, militares e Federal, as secretarias de Segurança e as guardas
municipais serão integrados para atuar de forma cooperativa, sistêmica e harmônica. Como
já acontece na área de saúde, os órgãos de segurança do SUSP já realizam operações
combinadas. Elas podem ser ostensivas, investigativas, de inteligência ou mistas e contar
com a participação de outros órgãos, não necessariamente vinculados diretamente
aos órgãos de segurança pública e defesa social – especialmente quando se tratar de
enfrentamento a organizações criminosas.
O Sistema Único de Segurança Pública (SUSP) tem como órgão central o Ministério da
Segurança Pública e é integrado pelas polícias Federal, Rodoviária Federal; civis, militares,
Força Nacional de Segurança Pública e corpos de bombeiros militares.
Além desses, também farão parte do SUSP: agentes penitenciários, guardas municipais e
demais integrantes estratégicos e operacionais do segmento da Segurança Pública. A lei do
SUSP cria também a Política Nacional de Segurança Pública e Defesa Social (PNSPDS) para
fortalecer "as ações de prevenção e resolução pacífica de conflitos, priorizando políticas de
redução da letalidade violenta, com ênfase para os grupos vulneráveis".
A Política será estabelecida pela União e está prevista para valer por dez anos. Caberá aos
estados, ao Distrito Federal e aos municípios estabelecerem suas respectivas políticas a
partir das diretrizes do Plano Nacional. A segurança pública continua atribuição de estados
e municípios.
A partir de agora, a União criará as diretrizes que serão compartilhadas em todo o País.
As unidades da Federação assinarão contratos de gestão com a União, que obrigará o
cumprimento das metas como a redução dos índices de homicídio e a melhoria na
formação de policiais.

FONTE: <https://bit.ly/3DukNnn>. Acesso em: 9 ago. 2021.

As ações policiais trazidas pelo Plano Nacional diferem daquelas antes


entendidas pelos paradigmas anteriores, que afirmavam a polícia militar bélica e
extremamente capaz de reprimir a criminalidade através unicamente da violência.
Agora a perspectiva é a da Polícia Comunitária, um padrão muito utilizado mundo
afora e que leva as polícias para dentro das comunidades que ela deseja proteger.
Longe ainda de ser uma realidade no Brasil, principalmente, nas comunidades
mais afastadas do poder público e cooptadas pelo tráfico de drogas, o plano indica
o novo paradigma como um passo para o futuro das ações policiais.

150
TÓPICO 1 — SEGURANÇA PÚBLICA E O TRÁFICO DE ENTORPECENTES

ATENCAO

A POLÍCIA COMUNITÁRIA é reconhecida como uma filosofia, a Polícia


Comunitária, ou Cidadã, é uma nova interação entre as estratégias policiais que se redefinem
e os diversos problemas oriundos da criminalidade na sociedade e no Estado moderno. A
prática das ações e a interação com a sociedade, deve ser concretizada visando à vivência
cotidiana, e a partir dela definir os problemas de segurança mais prementes na sociedade:

A polícia comunitária é uma filosofia de policiamento


personalizado de serviço completo, onde o mesmo policial
patrulha e trabalha na mesma área numa base permanente, a
partir de um local descentralizado, trabalhando numa parceria
preventiva dos cidadãos para identificar e resolver os problemas
(TROJANOWICZ; BUCQUEROX, 1994, p. 10).

Veja que a definição dada acima inclui de toda importância a parceria preventiva e na
interatividade com os cidadãos, que labora com o poder legitimador da entidade e sua base
ideológica. Para Fernandes, trata-se de um:

[...] serviço policial que se aproxime das pessoas, com nome e


cara bem definidos, com um comportamento regulado pela
frequência pública cotidiana, submetido, portanto, às regras de
convivência cidadã, pode parecer um ovo de Colombo (algo
difícil, mas não é). A proposta de Polícia Comunitária oferece uma
resposta tão simples que parece irreal: personalize a polícia, faça
dela uma presença também comum (FERNANDES, 1994, p. 10).

Essa alternativa ao modelo tradicional de segurança pública altera todo o entendimento


do que sejam os sintomas do crime, quando a posição da polícia não se isola, mas integra
parte da população que intenta defender. Nesse sentido, prezado acadêmico, veja que a
polícia cidadã apresenta em suas formas a importante função multidisciplinar, que acentua
a resolução de conflitos da comunidade em sua raiz, ou seja, no próprio local conflituoso.
Muitas vezes, o desvio ou crime, pode ser solucionado pelo próprio agente policial, de
maneira extrajudicial, mas junto à própria coletividade.

151
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:

• Houve uma descentralização através dos Planos Nacionais de Segurança


Pública, que prevê que cada Estado da Federação possua, através de suas
próprias normatizações, seu próprio plano de segurança pública.

• É função dos núcleos de informações coletar, reunir e disseminar informações


de qualidade sobre a dinâmica do tráfico de drogas, e através dela estabelecer
algumas essenciais prioridades estratégicas para realizar as operações.

• Núcleos especializados são de extrema importância para combater as drogas,


uma vez que a inteligência passa a laborar unicamente através das investigações
que enfatizam a busca por dados e informações qualificadas.

• A descentralização das investigações que são realizadas por cada Estado da


Federação, gera dados que são tratados pela inteligência criminal.

• O Plano Nacional de Segurança Pública (PLANAD) possui um planejamento a


longo prazo e visa identificar os problemas organizacionais.

• O Plano Nacional de Segurança Pública traz a Polícia Comunitária, uma nova


forma de entender os problemas das comunidades e combater o crime através
do envolvimento dos agentes com a comunidade.

152
AUTOATIVIDADE

1 Para o combate contra o crime organizado, a união das polícias deve


priorizar as investigações de inteligência, que conseguem apontar os
locais de crime, assim como as pessoas envolvidas. Nesse sentido, observe
as questões a seguir e assinale aquela que corresponde à informação
VERDADEIRA:

I- A competência para as investigações no tráfico de drogas é exclusiva da


Polícia Federal.
II- A descentralização trazida pelo Plano Nacional de Segurança Pública
determina que cada membro da União possua seu próprio plano de
segurança pública, desde que siga os princípios do plano nacional.
III- Ainda que descentralizado, a competência para investigações criminais e
de ação contra o tráfico de drogas é exclusiva da Polícia Federal.
IV- Compete aos Estados e Municípios, bem como, a Polícia Federal, Civil e
Militar, o combate contra o crime de tráfico de drogas em uma união de
forças.

( ) As questões I e III estão corretas.


( ) As questões II e III estão corretas.
( ) As questões I e IV estão corretas.
( ) As questões II e IV estão corretas.

2 O Plano Nacional de Segurança Pública (PLANAD) demonstra a


importância da descentralização da segurança, que através dele é
realizada em cada ente da Federação, a partir de suas próprias análises
e estatísticas. Também assume que os núcleos de inteligência podem ser
o diferencial, em todo o trabalho policial. Assim, assinale a alternativa
CORRETA:

a) ( ) Aos Núcleos de Inteligência compete disseminar ações estratégicas a


partir de suas investigações, entretanto, não são fundamentais para o
combate às drogas por possuírem uma dinâmica estática, laborando
apenas dentro das delegacias.
b) ( ) O núcleo de inteligência tem a única função de coletar e retransmitir
informações.
c) ( ) Delegacias especializadas no combate contra as drogas e seu comércio
ilícito necessitam do núcleo de inteligência policial para estabelecer
prioridades estratégicas nas ações tomadas.
d) ( ) Através do Plano Nacional e a descentralização da segurança pública
quando cada Estado elabora seu plano interno, não há mais necessidade
de núcleos de inteligência dentro das delegacias.

153
3 O Plano atual instituiu o Sistema Único de Segurança Pública e a Política
Nacional de Segurança Pública e Defesa Nacional, enfatiza determinados
princípios importantes, que são essenciais para o atual Plano e que devem
ser seguidos pelo próximo plano. Entre eles estão:

a) ( ) Proteção dos direitos humanos, respeito aos direitos fundamentais e


promoção da cidadania e da dignidade da pessoa humana.
b) ( ) O uso da força policial descomedido em situações diversas.
c) ( ) A relativização das garantias individuais e direitos coletivos frente ao
crime de narcotráfico.
d) ( ) A resolução penal dos conflitos diversos.

4 O Caderno Temático de Referência da Polícia Judiciária realizado pela


Secretária Nacional de Segurança Pública (SENASP), no ano de 2014, que
trata do enfrentamento às drogas ilegais, demonstra que é importante
a análise de alguns objetivos para a atuação contra o crime organizado.
Identifique-os e verse sobre eles:

5 Vimos a necessidade de a segurança pública possuir um plano efetivo


de estratégia e serviços, com intuito de padronizar as ações em todos
os lugares do País, facilitando assim as investigações diversas. Quais
são as estratégias e técnicas que devem ser incorporadas pelo setor de
inteligência, nas investigações sobre o crime organizado do tráfico de
drogas e narcotráfico?

154
TÓPICO 2 —
UNIDADE 3

O NARCOTRÁFICO INTERNACIONAL

1 INTRODUÇÃO
Quando falamos sobre o tema narcotráfico internacional envolvemos
todas as substâncias ilícitas conhecidas e que causam dependência. Acontece que
para atravessar as fronteiras dos países e se tornar um bem muito lucrativo aos
traficantes, a droga mais usualmente utilizada pelos narcotraficantes é a cocaína.
Isso por que sua pasta, como vimos, além de ser a produtora de outras substâncias
dopantes, é uma droga de difícil manuseio e somente laboratórios que se
especializam em sua transformação conseguem refinar o produto (SHIBAMOTO,
2014). Com seus preços altos, é muito comum vermos nos noticiários apreensões
desse tipo de entorpecente que reúnem quantias absurdas de dinheiro. Por esse
motivo, unicamente monetário por parte dos traficantes, a cocaína é muito usada
no tráfico internacional.

Vamos aqui analisar o modus operandi (forma de operar) do tráfico internacional,


que é conhecido hoje como o tráfico profissional mais bem remunerado. Veremos
que as rotas para a distribuição das drogas passam por diversas formas de transporte
e por inúmeras regiões até chegar ao seu âmbito final.

Trata-se de um tema complexo, principalmente para as áreas de


segurança pública dos países diversos da América Latina, tornando-se um
tema transcendental e intercontinental, através da globalização dos narcóticos
pelo mundo. E esse dilema é um problema que diversos países desenvolvidos
e subdesenvolvidos estão enfrentando, pois a universalidade das drogas
atualmente significa um fenômeno não apenas cultural do nosso tempo, mas um
grande problema de saúde, acima de tudo. Para Hopenhayn, a droga:

Invade a diplomacia, a política interna e exterior, a economia de


subsistência, o debate acadêmico e a atividade policial. Ocupa
manchetes da imprensa de maneira cotidiana e abre perguntas
fundamentais no campo da cultura, da psicologia social e da
criminologia. Põe em questão os alcances da soberania nacional
e os limites dos direitos e liberdades individuais. Cada uma das
fases do processo que vai desde a produção de drogas ilícitas até o
seu consumo e a lavagem de dinheiro abre uma multiplicidade de
problemas de controle e regulação, todos sujeitos a divergências de
opinião (HOPENHAYN, 1998, p. 11).

Um dos grandes problemas é quantificar o impacto das drogas, uma vez


que as ações dos seus distribuidores são diversificadas e espalhadas mundo afora,
podemos entender o narcotráfico como uma das atividades econômicas informais,

155
UNIDADE 3 — A AMEAÇA DO TRÁFICO

ainda que ilícita, que mais se desenvolve e a tendência é uma só: aumentar e
desenvolver. Colômbia, Bolívia e Peru são os três países latinos americanos que
mais cultivam e fabricam a matéria-prima da cocaína, abastecendo os mercados
internacionais de insumos e da droga para consumo já pronta.

Com a globalização, os serviços de transporte ficam cada vez mais


próximos das pessoas e da possibilidade de utilizar-se de rotas dentro das
matas e florestas que somente os traficantes conhecem, a distribuição passa a ser
gradual ao mesmo tempo em que é dinâmica. Muitas ações policiais envolvendo
as fronteiras, em conjunto com as atividades do exército ao patrulhar as florestas
voltam com o prêmio do tráfico, que prontamente incinerados, deixam de
abastecer mais um bairro ou comunidades inteiras.

Só para termos uma ideia, em meados da década de oitenta a ONU apontou


em um relatório que o narcotráfico era a atividade mais destacada nos países latino
americanos. Ainda estimou um fato surpreendente; que o capital movimentado
pela venda das drogas girava em torno de 400 bilhões de dólares anuais já no final
do milênio. Essa movimentação equivale " acerca do dobro da renda da indústria
farmacêutica mundial, ou a umas dez vezes o total de toda a assistência oficial
para o desenvolvimento", segundo o relatório (ONU, 1998, p. 3, grifo nosso).

2 O BRASIL E O NARCOTRÁFICO INTERNACIONAL


Os dados acerca do narcotráfico no Brasil revelam a expansão do uso do
território nacional como passagem para a droga escoar pelo continente e chegar
na Europa. Entretanto, as normatizações acerca do tema já existem desde 1976,
mas o agravamento da situação nos últimos anos passou a ocupar mais os debates
das autoridades e da sociedade em si. Mesmo a norma mais atual a respeito das
drogas, que estudamos na unidade anterior, não é capaz de desencorajar essa
atividade milionária.

São três os fatores essenciais que devem ser estudados ao tratarmos o


tema narcotráfico, entre eles, a economia, o combate das forças do Estado contra
o crime organizado e o crescimento do uso de drogas por parte da população:

• Primeiramente, a relevância política e econômica que o tema


assumiu no cenário internacional e regional. As drogas, afetando todos
os países e projetando-se no território brasileiro, levam importantes
parceiros, particularmente os Estados Unidos e a União Europeia, a
desenvolverem políticas em relação às quais tanto o governo como
diferentes segmentos da sociedade brasileira se viram instados a
posicionar-se.

• Em segundo lugar, o narcotráfico associou-se e pôde nutrir-se das


mudanças e dos problemas que acometem a sociedade brasileira, como
por exemplo, o enfraquecimento do Estado, o aumento do desemprego,
do subemprego com correspondente incremento e diversificação
da economia informal em todo o país. Vale dizer, a deterioração da

156
TÓPICO 2 — O NARCOTRÁFICO INTERNACIONAL

condição econômica e social de parte da população, a marginalização


crescente de segmentos sociais no processo de desenvolvimento, o
intenso crescimento dos centros urbanos, tudo isso se atrela às drogas
e aos elevados índices de criminalidade.

• Por último, a incorporação de camadas populares ao mundo do


consumo de drogas anteriormente reservado principalmente a
pessoas das classes média e alta. Isso sem esquecer o translado do
narcotráfico para as cidades de médio porte no interior dos Estados
do Sudeste e do Centro-Sul do país. Não menos importante neste
trabalho é o relato de fatos que testemunham a incapacidade ou
inoperância do próprio Estado no cumprimento de muitas de suas
funções básicas em matéria de prevenção e repressão, permitindo
o alastramento da corrupção, disseminada nas esferas pública e
privada (PROCÓPIO FILHO, 1997 p. 1).

É comum o narcotráfico possuir um sistema de ligação com outras


atividades consideradas ilegais, como a lavagem de dinheiro e o comércio
clandestino de armas de fogo, entre outros. O que acontece é que o próprio tráfico
é capaz de fazer surgir, em suas intermediações, outros grupos criminosos que se
organizam a partir do comércio ilícito. Assim é comum o narcotráfico constituir-
se em ramo central de outras organizações criminosas que surgem próximo a
ele. No Brasil, ainda existe o tráfico fragmentado, que gera guerras entre facções
rivais, o que causa muita violência dentro das cidades e até mesmo, dos presídios
e cadeias pertencentes ao Estado, mas não controlados por ele.

Uma das características do narcotráfico internacional é justamente o


oposto do que ocorre em nossas terras nacionais: há uma estratégia muito bem
articulada, geridas por cartéis que assumem a direção do tráfico, e controlam
com força e violência toda a operação (ZALUAR, 1994). Lá, o narcotráfico é
centralizado a partir dos mais fortes produtores da droga, não havendo disputas
locais tão intensas como ocorrem nas comunidades mais carentes do Brasil.

A questão da segurança pública nesse sentido é o de enfatizar as suas


forças na investigação dos locais de acesso das drogas no País, enquanto que
no caso do tráfico de drogas interno ou caseiro, a função é também combater as
ingerências dos grandes traficantes que se escondem nas favelas, utilizando de
sua população como um escudo contra a força policial e a persecução do Estado.
Nesse sentido, a segurança pública deve estar bem mais preparada para entender
quem é o traficante e quem é o morador das comunidades, sofredor das mazelas
espalhadas pelos criminosos (ZALUAR, 1994).

Mesmo com a crise dos cartéis colombianos que se iniciou com a prisão e
quebra de poderosos monopólios da droga latino-americana, ainda existem máfias
internacionais que controlam o tráfico internacional e se utilizam do território
brasileiro para transportar para a Europa os produtos colombianos e peruanos. A
máfia italiana, bem como a máfia da União Corsa, que se situa na França, sempre
foram apoiadores das rotas internas dentro do Brasil para que a droga chegue ao
ponto de embarque para o velho continente (PROCÓPIO FILHO, 1997.

157
UNIDADE 3 — A AMEAÇA DO TRÁFICO

Outra grande questão influente é que para escapar do monitoramento


das forças de segurança, o narcotráfico se move para o interior das florestas e dos
Estados brasileiros. Utilizando-se de aeroportos clandestinos e pistas de pouso em
fazendas cooptadas apenas para esse fim, também se aproveita do transporte de
madeira e gado dessas propriedades para levar, através de “fundo falso” e outros
subterfúgios, a droga para as grandes cidades. Ex mortuam tus, es es! Ucta, mora.

NTE
INTERESSA

Narcotráfico
Por Wagner de Cerqueira e Francisco
Graduado em Geografia

O narcotráfico é caracterizado pela venda de substâncias ilícitas, sendo, portanto, uma atividade
ilegal. O faturamento obtido através da venda dessas substâncias é extraordinário, conforme
estudo realizado pela Organização das Nações Unidas (ONU) estima-se que a renda anual
de drogas ilegais seja de 400 bilhões de dólares, correspondendo a aproximadamente 8% do
comércio internacional, superando a indústria automobilística e a atividade turística no Brasil.
Um bom exemplo para demonstrar a lucratividade do narcotráfico é a produção da cocaína. Na
Colômbia, país responsável por 75% da produção de cocaína mundial, um quilo do produto puro é
vendido por 1.500. Nos Estados Unidos, nação que possui o maior mercado consumidor de drogas,
o quilo da cocaína é vendido a 25.500 no atacado. Após passar por várias alterações (malhação), o
quilo dessa cocaína rende 110 mil através dos consumidores, ou seja, um lucro de 108.500 dólares.
A coca (matéria-prima da cocaína) é cultivada em larga escala em três países sul-americanos:
Bolívia, Peru e, principalmente, na Colômbia. De acordo com a ONU, essas três nações são
responsáveis pela produção de cerca de mil toneladas de cocaína por ano.
As drogas são distribuídas para os mercados consumidores das mais diferentes formas. O
tráfico é realizado através de aviões, caminhões, carros, ônibus, barcos, entre outros.
O envio de grandes quantidades de drogas é normalmente realizado por meio de contêineres,
misturados com fumo, soja, arroz, etc. O mercado é amplo e expande-se a cada ano, cerca de
5% da população mundial é usuária de drogas ilícitas, sendo a maconha, a mais consumida.
Conforme o relatório sobre Estratégia Internacional de Controle de Narcóticos, o Brasil é o
principal exportador de drogas para os Estados Unidos. O país possui condições favoráveis
para o narcotráfico, pois tem um grande mercado consumidor (atualmente é o segundo
maior do mundo), posição geográfica estratégica para o transporte internacional de drogas
e faz fronteira com três dos grandes produtores de cocaína e maconha. Cerca de 10% do
dinheiro arrecadado pelo narcotráfico fica em terras brasileiras.

APREENSÃO DE COCAÍNA

FONTE: <https://bit.ly/38vBxw1>. Acesso em:10 ago. 2021.

158
TÓPICO 2 — O NARCOTRÁFICO INTERNACIONAL

Além da venda de substâncias ilícitas, os narcotraficantes estão envolvidos com roubos de carros,
bancos, caixas eletrônicos, tráfico de armas, crianças, órgãos humanos, prostituição, pornografia
infantil, sequestros, lavagem de dinheiro, financiamento de campanhas políticas etc.
Essa é uma atividade bem lucrativa, no entanto, como em qualquer outra atividade ilegal, o
narcotráfico é responsável por um grande número de assassinatos e detenções. Estima-se
que 20% dos presos brasileiros estejam envolvidos com o tráfico de drogas, sendo que com
as mulheres, essa proporção é bem maior – 60% das presidiárias.

FONTE: FRANCISCO, W. de C. e. Narcotráfico. Brasil Escola. Disponível em: <https://bit.ly/38vBxw1>.


Acesso em: 8 jul. 2021.

O tráfico de drogas e o narcotráfico são consideradas organizações


criminosas que são geridas pela busca de lucro, a partir da violência e da
força. Mesmo não sendo especificado pelo Código Penal, somente com a Lei nº
12850/2013 é que fica inserido no contexto legal nacional o conceito de organização
criminosa. E em seu parágrafo primeiro descreve:

1º Considera-se organização criminosa a associação de 4 (quatro) ou


mais pessoas estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão
de tarefas, ainda que informalmente, com objetivo de obter, direta ou
indiretamente, vantagem de qualquer natureza, mediante a prática de
infrações penais cujas penas máximas sejam superiores a 4 (quatro)
anos, ou que sejam de caráter transnacional (BRASIL, 2013).

Sua essência, contudo, é de que a organização se faz com passos e tarefas


muito bem definidas, onde cada personagem possui o seu papel dentro da
organização, que visa ao lucro acima de tudo. Entretanto, Bitencourt (2012) nos
agracia com seu conceito mais especializado sobre as organizações criminosas,
que podem, para ele, ser consideradas como se um modelo empresarial fosse,
onde todas as fases são estrategicamente determinadas pela empresa, como o
pagamento, controle de estoque e serviço de entregas e até mesmo, recursos
humanos. Ocorre que aqui, tudo isso acontece de maneira informal.

Para Mingardi (1996, p. 34) são quinze as características mais importantes


para que possamos definir as organizações criminosas:

1) prática de atividades ilícitas; 2) atividade clandestina; 3) hierarquia


organizacional;4) previsão de lucros; 5) divisão de trabalho;6) uso
da violência; 7) simbiose com o Estado; 8) mercadorias ilícitas; 9)
planejamento empresarial; 10) uso da intimidação; 11) venda de
serviços ilícitos; 12) relações clandestinas; 13) presença da lei do
silêncio; 14) monopólio da violência; 15) controle territorial.

Assim, é definível que o crime que se organiza, como o narcotráfico, é


mutável a partir das tendências dos mercados internacionais e nacionais, elaborando
diversos mecanismos de intimidação pela força e violência, para obter o controle dos
locais que devem ser emancipados para o uso e distribuição da droga, para um maior
lucro. Nesse pensamento, para que o tráfico possa laborar de forma mais suficiente,
um grande número de personagens é envolvido em seus esquemas; pessoas essas

159
UNIDADE 3 — A AMEAÇA DO TRÁFICO

que fornecem informações que possam beneficiar o traficante, por esse motivo, é
comum as investigações policiais encontrar agentes públicos que informam o tráfico,
dificultando até mesmo o trabalho da persecução penal (MINGARDI, 1996).

Como se trata de uma organização criminosa muito bem definida e


pautada pela busca do lucro no mercado informal, qualquer ato cometido por
essa força é considerado uma atitude ilegal e ilícita. Mas para que a empresa
das drogas possa fazer rodar as suas engrenagens, é preciso um protagonista
essencial que servirá para distribuir a droga, fazer com o produto chegue aos
locais onde são aguardados. Por esse motivo, é comum que esses “empresários”
se utilizem de pessoas cooptadas para a disseminação das drogas. Nesse caso, se
é mais facilitado distribuir os produtos pelos aeroportos internacionais ou pelas
estradas, o tráfico irá utilizar de mulas para o transporte.

3 MULAS PARA O TRANSPORTE


A cocaína processada na Bolívia é transportada através dos Estados
brasileiros, como Mato Grosso e Mato Grosso do Sul para o Rio de Janeiro e São
Paulo, por intermédio de pessoas que escondem a substância. No Rio, a droga
passa a ser distribuída aos traficantes controladores do morro advindos de
organizações como o Comando Vermelho. São eles que distribuem o produto
ao consumidor final, através de uma rede de “funcionários”, geralmente jovens
moradores dos locais utilizados pelo tráfico (DOWDEY, 2002).

Mas para que o produto chegue aos locais definidos, pessoas são usadas
para isso. Como vimos, o fato de transportar drogas com intuito de entrega em
qualquer local, transportando-os e acondicionando-os, já se configura como crime
de tráfico de entorpecentes. Isso pode ocorrer de diversas formas, como é comum
observarmos noticiários na televisão de pessoas que consomem as cápsulas da
droga, para levá-las em segurança a outros locais. Outras nem sabem, muitas
vezes, que estão levando drogas.

DICAS

Dois filmes superinteressantes que você pode assistir para ter uma ideia
do poder do tráfico, da sua facilidade em mexer com a vida das pessoas ao redor, e
principalmente, de se envolver com a cotidianidade das pessoas. O filme Um contra todos
(2016) é uma série de televisão, adaptada ao cinema em um longa-metragem, sobre a
história real do advogado Carlos Eduardo Fortuna, envolvido em 2001 em uma acusação
de tráfico de drogas.
O crime hediondo ao advogado somente foi-lhe imputado após investigações da Polícia
Federal, em conjunto com a Polícia Civil, que descobriram ser a sua residência depósito
para uma tonelada de maconha. Ocorre que o acusado contratou serviços de pedreiro e
por acaso, a droga realmente apareceu em meio às obras da casa, escondida por traficantes
que estavam sendo de perto vigiados.

160
TÓPICO 2 — O NARCOTRÁFICO INTERNACIONAL

Outro filme muito interessante é A mula, que conta a história de um homem que se
encontra com problemas financeiros, e resolve se envolver com o transporte de drogas
ilegais, na fronteira do México com os Estados Unidos. Usando de toda sua simpatia
consegue enganar os agentes federais, mas o seu problema não são os agentes e sim os
violentos traficantes que lhe contrataram. E o mais importante: as duas histórias narradas
nesses dois filmes, são verdadeiras!

Mula é a forma pejorativa de tratar a pessoa que leva a carga destinada


a algum lugar, referindo-se ao animal de carga, ou seja, é aquele que transporta
a droga. Para Souza (2013, p. 9) a importância em definir tem referência com “a
necessidade de se diferenciar entre os distintos papéis ocupados pelas pessoas
que se envolvem com o tráfico de drogas”.

161
UNIDADE 3 — A AMEAÇA DO TRÁFICO

Essa mão de obra extremamente barata e descartável é capaz de abastecer


o mercado do tráfico dentro dos morros cooptados pelos traficantes, que levam
o produto ao mercado consumidor nas grandes cidades. Uma boa parte dessas
pessoas recrutadas estão passando por severos apertos financeiros e mesmo,
problemas de saúde que precisam da pecúnia para resolver seus problemas
que muitas vezes, não podem esperar. São pessoas provenientes de lugares sem
condições de uma vida com dignidade, sem nenhuma intervenção do Estado no
tocante às políticas públicas de qualidade, sem nenhuma participação social e
alienada do conceito mais autêntico de cidadania. Para Machado (2019), muitas
vezes, a pessoa não está consciente do que carrega para outro lugar, sabendo
apenas que precisa entregar determinado pacote.

Todo esse serviço é monitorado pelos agenciadores que exercem uma


função de coação, fazendo com que a pessoa que transporta o produto não desista
de sua lide, por medo ou receio da polícia. Menores de idade e principalmente
mulheres são números crescentes no transporte dessa carga. Aqui se estampa a
situação vulnerável dessas pessoas, muitas vezes exploradas pelo crime. Por esse
motivo, mais importante ainda políticas públicas de qualidade que percebam a
trabalhem com a mulher e o menor, dentro do tráfico de drogas, diferenciando-
os dos traficantes profissionais, estes sim, criminosos natos (BATISTONE;
NEPOMUCENO, 2016.

Transportar drogas, como vimos no artigo 33 da Lei nº 11.343/2006


realça o crime de tráfico de drogas, e é quanto a isso que nossos investigadores
e juízes, na ocasião determinada do julgamento dessas pessoas, devem levar
em consideração. Nem sempre essa personagem integra a facção criminosa,
que se organiza através dos seus próprios objetivos. Esse é o entendimento do
Informativo 602, do Supremo Tribunal de Justiça, que considera o entendimento
dos julgados reiterados (jurisprudência) do Supremo Tribunal Federal, quanto ao
caso das “mulas” nos processos envolvendo o narcotráfico:

Diante da jurisprudência hesitante desta Corte, entende-se por bem


acolher e acompanhar o entendimento uníssono do Supremo Tribunal
Federal, no sentido de que a simples atuação como “mula” não induz
automaticamente a conclusão de que o agente integre organização
criminosa, sendo imprescindível, para tanto, prova inequívoca do
seu envolvimento, estável e permanente, com o grupo criminoso.
(BRASIL, Superior Tribunal de Justiça. Quinta Turma. HC 387.077/SP,
Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 06/04/2017).

Nesse caso, fica claro que é necessário comprovar que a pessoa que está
transportando o produto, integra, de fato, a organização criminosa de forma
permanente.

162
TÓPICO 2 — O NARCOTRÁFICO INTERNACIONAL

4 TRANSPORTE E DISTRIBUIÇÃO DA DROGA


Como vimos anteriormente, as pessoas que servem como mulas para
o narcotráfico são capazes de abastecer mercados inteiros, se obtiver sucesso
na entrega dos produtos. Entretanto, com o crescimento das plantações e no
desenvolvimento de laboratórios ilícitos para o refinamento das drogas, em
especial a cocaína, é certo que o produto chegará ao consumidor de alguma
forma (MAGALHÃES, 2000). Não obstante, outro fato de grande importância
é que nenhuma normatização, convenção ou lei em contrário irá coibir o uso e a
procura de substâncias ilícitas por seus usuários (BECKER, 2008). Como vimos, o
problema das drogas e vícios refere-se mais à saúde pública que propriamente à
penalização ou ao direito penal.

O que deve haver, substancialmente, é a evolução e melhoria por meio


das forças públicas e entre elas, as políticas públicas, das oportunidades diversas
aos adolescentes, jovens e jovens adultos, como estudos e a entrada no mercado
de trabalho, e a concretização dos direitos fundamentais elencados na nossa
Constituição. Por outro lado, através da força de segurança pública e a união de
seus esforços, haja o combate à distribuição de insumos para a fabricação das
drogas e a destruição de laboratórios clandestinos e plantações diversas, que
geram a solução já pronta para o consumo (BATISTONE; NEPOMUCENO, 2016).
A droga transportada entre os Estados é realizada pelos cartéis de droga que
fazem o produto atingir países da Europa via África e Brasil, e Estados Unidos
tendo como entrada geralmente o México.

A UNODC é o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e crimes,


criada pela ONU em 1997. Esse braço da Organização trata exclusivamente dos
estudos acerca das drogas e seu consumo no mundo, mas também coordena
pesquisas específicas que consideram os números qualitativos e estatísticos da
produção e distribuição das substâncias, determinando assim as ações policiais
especializadas mundo afora. Os números que vemos e interpretamos através dos
nossos estudos, foram em sua maioria projetados por especialistas da UNODC,
que se envolvem com a inteligência policial no combate e controle das drogas,
como vimos no capítulo anterior.

Os Estados Unidos, segundo os números trazidos pela UNODC, é o principal


mercado consumidor da cocaína e relatados no Relatório Mundial sobre as Drogas
da ONU em 2020. Entretanto, o relatório também indica as portas de entradas da
droga em determinados locais do mundo determinando que “os fluxos do tráfico são
principalmente direcionados a partir dos países produtores de cocaína na região dos
Andes rumo a América do Norte ou via América Central para o México ou via Caribe
para os Estados Unidos” (WORLD DRUG REPORT 2020, p. 1).

O relatório ainda indica que os primeiros anos do milênio foram


preponderantes para o crescimento do consumo e assim, a profissionalização do
narcotráfico a nível mundial:

163
UNIDADE 3 — A AMEAÇA DO TRÁFICO

A África tem sido afetada por significativas cargas de cocaína vindas


da América do Sul para a Europa nos últimos anos. As quantidades
traficadas via África para a Europa, porém, parecem ter diminuído
em 2008 e 2009, e parcialmente retomadas em 2010.Estimativas de
2009 sugerem que algo em torno de 35 toneladas métricas de cocaína
podem ter saído da América do Sul para a África e que 21 toneladas
métricas realmente chegaram à Europa. A maior parte do resto
parece ter sido consumido localmente. Além disso, há indícios de
que países do Oeste Africano estão sendo usados para armazenar
cocaína, posteriormente traficada em pequenas quantidades para a
Europa (WORLD DRUG REPORT 2020, p. 1).

DICAS

Como vimos, você pode navegar pelo UNODC Brasil na página https://www.
unodc.org/lpo-brazil/pt/index.html, e lá encontrar diversos dados interessantes sobre os
produtos ilícitos no País.
Mas também pode se inteirar do assunto pelo Observatório Brasileiro de Informações
Sobre Drogas, vinculado ao Ministério da Cidadania, que observa inúmeros projetos e
campanhas em nível nacional de combate ao uso das drogas, na prevenção. Há também
informações de como são realizados os tratamentos e reinserção social do dependente,
bem como as pesquisas do uso de drogas no País, como o Observatório do Crack, que
indica a posição dos Estados no nível de consumo da droga. Essas estatísticas são capazes
de influenciar políticas públicas de qualidade para o combate às drogas, e políticas criminais
de combate ao traficante: http://mds.gov.br/obid.

Uma das formas mais usuais de transporte das drogas que partem do
Brasil para a Europa são os aeroportos clandestinos, sendo o Brasil detentor
de enormes espaços, muitos deles não supervisionados pela Polícia Federal ou
outras investigações, segundo Magalhães (2000, p. 35):

No Pará, herança dos garimpos de ouro, há 3 mil. No estado de São


Paulo, levantamento da Secretaria de Segurança contabilizou 366
"aeroportos clandestinos” em 166 cidades. O espaço para pouso
e decolagem de aeronaves carregadas de drogas, a rigor, não é
necessário. As de pequeno e médio porte sobrevoam fazendas a baixa
altitude e jogam os pacotes. É o padrão no interior de São Paulo.

Entretanto, em ações especializadas para a entrega da droga, essa é


despejada em alto mar, muitas vezes, para o recolhimento de embarcações do
tráfico. Nessas operações robustas, a cocaína é acondicionada em contêineres,
“escondida em meio a remessas de produtos exportados, como fumo, frangos,
soja, arroz, eletrônicos – tudo o que servir ao disfarce elaborado pelos traficantes”
(MAGALHÃES, 2000, p. 36).

164
TÓPICO 2 — O NARCOTRÁFICO INTERNACIONAL

Chegando à Europa, ela é repassada aos traficantes locais que a revendem


ao seu público e, muitas vezes, distribuem para seus pequenos contatos do
tráfico para que esses vendam o produto entre os seus. Isso faz com que a
droga sempre tenha uma movimentação, não ficando muito tempo parada em
apenas um estabelecimento, o que dificulta o trabalho de investigação policial
(MAGALHÃES, 2000).

No Brasil, a tendência de entrada de drogas como a cocaína é bem


mais exercida no Norte do país, devido às grandes fronteiras com os estados
internacionais produtores do produto, e como vimos, à dificuldade da segurança
pública nacional em ocupar os espaços imensos de fronteiras. A precaução e
prevenção ocorrem em locais distintos, como nas cidades fronteiriças e em rotas
já conhecidas pela polícia, mas, ainda assim, devido ao tamanho das fronteiras,
mulas e entregadores encontram brechas disponíveis para a sua passagem em
segurança (MAGALHÃES, 2000, p. 34):

Uma das mais escancaradas portas de entrada de cocaína no Brasil


é o município de Tabatinga (AM), fronteira terrestre com a cidade
colombiana de Letícia, onde há um radar instalado, mantido e
protegido por fuzileiros navais norte-americanos. Tabatinga fica
numa das margens do rio Solimões. Na outra, está o Peru. Essa área é
chamada de Alto Solimões. Do Pará, no norte do país, ao Paraná, no
Sul, uma extensa faixa fronteiriça brasileira é território livre para o
ingresso de abundantes carregamentos de droga.

Assim, quanto mais próximo às fronteiras e aos Estados Internacionais,


mais facilmente a droga produzida pelo narcotráfico adentra o país e se instala
através dos traficantes. No Rio de Janeiro, a droga é entregue ao traficante
que controla as comunidades em uma paramilícia extremamente armada e
especializada em táticas de guerra nos morros que comanda.

FIGURA 6 – A ROTA DO TRÁFICO

FONTE: <https://glo.bo/3kuGhI4>. Acesso em: 10 ago. 2021.

165
UNIDADE 3 — A AMEAÇA DO TRÁFICO

Em São Paulo e em outras capitais, é entregue aos Comandos


especializados, como o PCC (Primeiro Comando da Capital) e o CV (Comando
Vermelho); verdadeiras máfias que atuam com força e violência (WORLD DRUG
REPORT, 2020). Mas a principal porta de entrada para o narcotráfico é o norte do
País, e ao atingir o centro, e principalmente; o sudeste e o sul do Brasil, maior a
probabilidade da substância se espalhar pelo mercado nacional:

A tendência é, quanto mais acima (Pará, Roraima, Amazonas,


Acre e Rondônia) entra a cocaína, maior a chance de o seu destino
ser o exterior. Se a porta for Mato Grosso do Sul e Paraná, haverá
mais possibilidades de a escala final ser o mercado nacional. Isso é
tendência, não a regra (MAGALHÃES, 2000, p. 34).

No sentido capitalista, a produção e venda de drogas é um negócio tão


lucrativo quanto qualquer outro. Como se trata de um empreendimento ilícito,
todo o seu aparato será envolvido na força e o vencedor será aquele que conseguirá
controlar seu território e a distribuição de seu produto. Quanto mais venda, como
sabemos, mais lucro. E para isso os “grupos armados, ou facções, submetem as
comunidades das favelas urbanas aos seus interesses políticos e econômicos por
meio da dominação territorial ou paramilitar” (SOUZA, 2007 p. 38). Veja no fluxo
a seguir, como a cocaína chega até o consumidor final:

CARTÉS INTERNACIONAIS REFINO E MULAS E VAPORES


(distribuidores e
(Colômbia) DISTRIBUIÇÃO ENTREGADORES vendedores locais)

GERENTE DO TRÁFICO DONOS DO MORRO


USUÁRIOS
OU GERENTE DA BOCA OU COMANDOS

DICAS

A Confederação Nacional de Municípios estabeleceu estudos sobre o uso


do crack no Brasil. É uma droga extremamente viciante, em sua composição podem
ser encontrados inúmeros produtos que possuem substâncias que diferem uma das
outras, naquilo que estudamos na unidade 1 de Toxicologia, onde podem existir causas
de superpotencialidade dos produtos no organismo humano, levando a diversos efeitos
colaterais, muitos deles ainda não conhecidos pelos cientistas, uma vez que o crack
pode ser produzido em qualquer lugar, utilizando-se de qualquer produto. Veja o mapa
produzido pelos estudos do observatório, que aponta cada região do País e sua situação
com problemas relacionados ao crack:

166
TÓPICO 2 — O NARCOTRÁFICO INTERNACIONAL

PROBLEMAS RELACIONADOS AO CRACK

FONTE: <http://www.crack.cnm.org.br/observatorio_crack/>. Acesso em: 10 ago. 2021.

Você pode selecionar seu Estado ou cidade para saber qual é o nível de situações que
ocorrem envolvendo a droga, considerada uma das mais viciantes e potentes no Brasil, no
site: http://www.crack.cnm.org.br/observatorio_crack/.

Conforme Souza (2001), o potencial desenvolvimento do narcotráfico


nos últimos anos demonstra que conexões importantes foram criadas entre os
produtores da droga com os comerciantes, e esses últimos com seus fregueses,
que são os consumidores. Todo esse rito foi capaz de moldar uma malha muito
expansiva da atividade do tráfico, que parte desde a plantação até o consumo
final. Isso tudo representa uma forte cadeia mercantil inserida nas atividades
mais comuns da economia, todavia, nesse caso representa mais um risco para a
saúde pública mundial e o crescimento da riqueza dos grandes traficantes, que
formam as organizações criminosas (SOUZA, 2001).

167
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:

• São três os fatores essenciais que devem ser estudados ao tratarmos o tema
narcotráfico: a economia, o combate das forças do Estado contra o crime
organizado e o crescimento do uso de drogas por parte da população.

• Os números que vemos e interpretamos através dos nossos estudos foram em


sua maioria projetados por especialistas da UNODC, que se envolvem com a
inteligência policial no combate e controle das drogas.

• No sentido capitalista, a produção e venda de drogas é um negócio tão lucrativo


quanto qualquer outro, só que toda a sua atividade é considerada ilícita.

• Mula é a forma pejorativa de tratar a pessoa que leva a carga destinada a algum
lugar, referindo-se ao animal de carga, ou seja, é aquele que transporta a droga.

• Deve haver o crescimento de políticas públicas que percebam e trabalhem


com a mulher e o menor, dentro do tráfico de drogas utilizados como mulas,
diferenciando-os dos traficantes profissionais, os criminosos natos.

• Deve existir a evolução e melhoria por meio das forças públicas no quesito de
políticas públicas de qualidade, das oportunidades diversas aos adolescentes,
jovens e jovens adultos, como estudos e a entrada no mercado de trabalho, e a
concretização dos direitos fundamentais elencados na nossa Constituição.

• Através da força de segurança pública e a união de seus esforços, deve haver o


combate à distribuição de insumos para a fabricação das drogas e a destruição
de laboratórios clandestinos e plantações diversas, que geram a solução já
pronta para o consumo.

168
AUTOATIVIDADE

1 O Brasil possui fronteiras com diversos países, em grandes extensões que


percorrem muitos quilômetros. As operações do narcotráfico utilizam-se
desses e de outras possibilidades para a expansão do negócio. Assinale a
alternativa CORRETA:

a) ( ) Chile, Colômbia e Peru são identificados como os três países latinos


americanos que fazem fronteiras com o Brasil, que mais cultivam cocaína.
b) ( ) A globalização dos serviços de transporte trouxe facilidades para o
narcotráfico expandir seus negócios.
c) ( ) As rotas de matas e florestas não são utilizadas pelo tráfico de drogas
por serem quase intransponíveis.
d) ( ) A droga apreendida pela Polícia Federal ou outro órgão competente não
pode ser incinerada, pois o local de plantio é prova para o direito penal.

2 Observamos nos últimos anos a crescente presença do Estado Penal,


através das suas forças de segurança pública, quando o assunto é drogas.
Por esse motivo, importante a identificação de quem é o usuário ou viciado
no produto entorpecente, e quem de fato é o traficante profissional. Qual
o motivo do problema das drogas e vícios ser mais propriamente um
desafio à saúde pública do que de segurança pública?

3 Como todo produto, as drogas precisam de uma logística para a sua


distribuição pelas diversas partes do globo. Utilizar-se de pessoas para o
transporte é uma solução para a distribuição, encontrada pelos traficantes.
Disserte sobre as mulas no tráfico de drogas:

4 A UNODC é o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e crimes, criada


pela ONU em 1997. Ela trata exclusivamente dos estudos acerca das drogas e
seu consumo no mundo, como também coordena pesquisas específicas que
consideram os números qualitativos e estatísticos da produção e distribuição
das substâncias, determinando assim as ações policiais especializadas
mundo afora. Assinale V para Verdadeiro e F para as questões Falsas:

( ) A UNODC é uma organização militar que tem por função a investigação e


análises de dados de inteligência, para definir o planejamento do combate
ao tráfico organizado nas fronteiras.
( ) A extensão das fronteiras do Brasil é um empecilho para a organização do
combate ao narcotráfico, por esse motivo, ele não é realizado pelas forças
de segurança pública, somente pelo Exército.
( ) São fatores essenciais que devemos ter em consideração ao analisar o
narcotráfico: a economia, o combate das forças do Estado contra o crime
organizado e o crescimento do uso de drogas por parte da população.
( ) Os números trazidos por especialistas da UNODC servem no combate e
controle das drogas.
169
5 São diversas as situações que envolvem o tráfico de drogas, e como você
estudou, até mesmo pessoas mais carentes são utilizadas pelo traficante.
Além das dificuldades imensas encontradas pela polícia, em buscar
esses criminosos que se escondem em locais mais afastados e de difíceis
acessos, existe também a facilidade com a qual os produtos entram no
Brasil, pelas suas enormes fronteiras. Nesse sentido, observe as questões
abaixo e assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) A drogas são sempre movimentadas a partir dos traficantes, o que


dificulta o trabalho de investigação policial, pois não fica muito tempo
em um estabelecimento.
b) ( ) As fronteiras internacionais ao Norte do Brasil não geram dificuldades
à segurança pública nacional ao combate das drogas, uma vez haver
planejamento a ser seguido para esse fim.
c) ( ) A tendência da entrada da cocaína ao Brasil é mais exercida ao Sul,
devido às grandes fronteiras com os estados internacionais produtores
do produto.
d) ( ) Mulas, em todos os casos, devem ser repreendidas pelo direito penal
pelo crime de tráfico de drogas, conforme artigo 33 da Lei nº 11.343/2006.

170
TÓPICO 3 —
UNIDADE 3

A SECURITIZAÇÃO DAS FRONTEIRAS NACIONAIS

1 INTRODUÇÃO
Como já dissemos, o Brasil é um País continente; em extensão territorial, só
fica atrás de Rússia, Canadá, China e Estados Unidos. Dos doze países presentes
na América do Sul, dez são fronteiriços do Brasil: Uruguai, Argentina, Paraguai,
Bolívia, Peru, Colômbia, Venezuela, Guiana, Suriname, e com o Departamento
Ultramarino Francês da Guiana. Apenas Chile e Equador não possuem laços
limítrofes com o nosso país. Isso corresponde a exatos 16.886 quilômetros de
fronteira com nossos vizinhos latino americanos, que precisam ser vistoriados
para a garantia da soberania nacional e das normas brasileiras que tipificam as
drogas ilícitas e sua movimentação econômica como um crime equiparado aos
crimes hediondos.

Mas não é somente toda essa extensão que temos que ficar de olho. A segurança
das fronteiras marítimas também é importante. Toda a faixa que compreende as
fronteiras no mar abrange desde o Estado do Amapá, até o extremo sul do país, no
Rio Grande do Sul, estabelece uma extensão de 7.300 quilômetros. Isso faz com que
o nosso país seja o décimo sexto país com maior área litorânea no mundo. Não fosse
somente isso, a fronteira marítima corresponde também ao que chamamos de mar
territorial, que é um território por um acordo internacional que diz que o país deve
exercer sua soberania em uma parte do oceano. No Brasil, o oceano Atlântico fica
delimitado a 12 milhas náuticas, o que corresponde a 22,2 quilômetros de extensão,
que é definida a partir da costa indo em direção ao oceano. Toda essa delimitação foi
legalizada pela Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, realizada em
Montego Bay, na Jamaica em 1982, da qual o Brasil é signatário.

Mas ainda que o tráfico internacional possa se utilizar de embarcações


marítimas para trazer a droga para o país, ou transportar entre Norte a Sul o
produto via oceano Atlântico, o maior problema para a fiscalização ainda se
encontra nas fronteiras terrestres, por ser por essas rotas que se dá a maioria dos
transportes para o Brasil da droga, constituindo-se em um modus operandi muito
bem definido para o narcotráfico (MAGALHÃES, 2000).

E não são apenas as drogas, os problemas encontrados nas fronteiras, mas


também o contrabando de armas de fogo, com a presença das Forças Armadas
Revolucionárias de Colômbia (FARCs), o contrabando de animais silvestres e de
mercadorias entre países. Veja na figura a seguir o mapa com as fronteiras por
terra, do Brasil com seus vizinhos latino americanos:

171
UNIDADE 3 — A AMEAÇA DO TRÁFICO

FIGURA 8 – EXTENSÕES DE NOSSAS FRONTEIRAS

FONTE: <https://ppgefcpan.ufms.br/en/apresentacao/>. Acesso em: 10 ago. 2021.

2 REPRESSÃO DO TRÁFICO NAS FRONTEIRAS DO BRASIL


A Constituição Federal de 1988 traz em seu artigo 144, como vimos
anteriormente, a competência da Polícia Federal para a repreensão do crime de
tráfico de drogas e do tráfico internacional de narcóticos. Ela também delimita, em
seu parágrafo primeiro, inciso III, que o órgão federal de polícia exerça a função
de polícia marítima, polícia aérea e de fronteira. Isso determina legalmente que
a competência da Polícia Federal para a proteção das fronteiras do Brasil com
outros países é uma das suas funções mais importantes.

Entretanto, a grande extensão do País nos faz lembrar o caput do artigo


144 da CF/88, quando estabelece ser dever do Estado a Segurança Pública, mas
direito e responsabilidade de todos. Nesse sentido, a união de órgãos diversos
de segurança pública é essencial para tratar dessa área tão imensa. Dentro de seus
territórios, a polícia civil dos Estados da Federação atua normalmente nas áreas
de fronteira, em sua jurisdição elucidando crimes que ocorrem no interior de
suas divisas. Da mesma forma trabalha a Policia Militar, que atua na prevenção
e na repressão ao crime. Quando o ato ilícito atravessa as fronteiras dos Estados,
mesmo que internacionais, a Polícia Federal é quem tem a competência e é quem
deve assumir a investigação dos crimes.

172
TÓPICO 3 — A SECURITIZAÇÃO DAS FRONTEIRAS NACIONAIS

Mas tratando-se do narcotráfico, que ocorre entre as fronteiras imensas


do Brasil, o Exército Brasileiro possui uma importância muito grande na proteção
da soberania nacional, frente às milícias do tráfico internacional, que muitas
vezes invadem o território para impor sua vontade por intermédio da força e
da violência. Para regular a sua atividade de proteção nas fronteiras foi criado o
Programa de Proteção Integrada de Fronteiras (PPFIF).

O combate nas fronteiras contra o narcotráfico significa estancar o lucro


dos traficantes. Para Euzébio, isso pode significar mexer com economias de
cidades fronteiriças inteiras, como é o caso de Tabatinga na Amazônia, com 55
mil habitantes, e Letícia, na Colômbia, com cerca de 40 mil habitantes (EUZÉBIO,
2011). O narcotráfico entre os dois países, que envolveu essas cidades, foi
primordial para o povoamento do local e o desenvolvimento econômico, sendo
a fonte de recursos mais relevante da região. Na região, a droga produzida é
escoada através do Rio Solimões e do Rio Amazonas. Ciente dessa situação, a
Secretária de Segurança Pública do Estado, em conjunto com a Polícia Federal,
implantou no local uma base de prevenção, situada no encontro com o Rio Javari
e Solimões para estancar a remessa do produto ao Brasil, advindo da cidade de
Letícia, na Colômbia, e da cidade de Santa Rosa, no Peru (EUZÉBIO, 2011).

Mas não somente as pequenas cidades da região Amazônica estão na mira


do tráfico de drogas. Como vimos, a grande faixa de fronteiras entre o Brasil
e seus vizinhos impossibilita uma efetiva repressão contra o crime organizado.
Para que se desenvolva um planejamento preventivo e repressivo por parte
das forças de segurança pública dos Estados, da Polícia Federal e com o apoio
do Exército, em 1979 a partir da Lei nº 6.634, foi criada a matéria que resolve
sobre a Faixa de Fronteira. Ali, as fronteiras passam a ser divididas em arcos,
que são reconhecidas através dos Estados que as compõem. Isso facilita a divisão
de pessoal e deslocamento de equipamentos e na definição dos locais que são
preparados os pontos de repressão táticos.

Assim, as fronteiras são divididas nesse formato:

QUADRO 1 – DIVISÃO DAS FRONTEIRAS ENTRE ARCOS


ARCO NORTE ARCO CENTRAL ARCO SUL
Abrange as fronteiras
Abrange as fronteiras do Abrange as fronteiras do
do PARANÁ, SANTA
AMAPÁ, PARÁ, RORAIMA, MATO GROSSO E MATO
CATARINA E RIO
AMAZONAS E ACRE. GROSSO DO SUL.
GRANDE DO SUL.
FONTE: O autor

A importância em definir as fronteiras a partir de sua divisão é significativa,


uma vez que as atividades que ocorrem no Arco Norte são intensas e a transição
realizada com o Arco Central é capaz de enviar os produtos tóxicos para todos os
Estados brasileiros (EUZÉBIO, 2011).

173
UNIDADE 3 — A AMEAÇA DO TRÁFICO

Nesse sentido, é importante para a defesa do território monitorar através da


descentralização que os arcos realizam, pois assim se pode ter uma maior autonomia
na tomada de decisões, embasadas nos estudos dos respectivos locais de ocorrência.
Decisões como número de efetivo de agentes de segurança pública, o percentual de
estrutura fica necessária para atender a todos e os locais de repressão e averiguação
das cargas que atravessam as fronteiras são além de práticas, econômicas.

FIGURA 9 – OS ARCOS DAS FRONTEIRAS

FONTE: <https://journals.openedition.org/confins/22262>. Acesso em: 10 ago. 2021.

174
TÓPICO 3 — A SECURITIZAÇÃO DAS FRONTEIRAS NACIONAIS

Descendo para a Região Sul, temos a tríplice fronteira entre os estados


nacionais da localidade com Paraguai, Argentina e Uruguai, em uma extensão de
1300 quilômetros. O Estado do Paraná possui ao norte fronteiras com Mato Grosso
do Sul e ao oeste, fronteira com Pedro Juan Caballero e Capitán Bado, no Paraguai,
áreas controladas pelo crime organizado de entrada de armas, drogas e contrabando.

Dessa forma, é necessário tanto a repressão e prevenção entre os arcos


norte e sul, pois há a drenagem dos entorpecentes para todo o país por esse
caminho, quanto nas fronteiras com esses países, que são usados pelos traficantes
como porta de entrada da droga para o Brasil. Chegando aos portos marítimos, o
produto alcança a Europa e a Ásia.

3 PROGRAMA DE PROTEÇÃO INTEGRADA DE FRONTEIRAS


(PPIF)
Para a regulação das Forças Armadas e sua participação na proteção das
fronteiras, foi estabelecido o Programa de Proteção Integrada de Fronteiras (PPIF),
que intenta fortalecer a prevenção, controle, fiscalização e a repressão aos delitos
transfronteiriços, instituído pelo governo federal. As fronteiras nacionais se constituem
em posição estratégica muito importante. O Ministério da Integração Regional indica
que desenvolver as áreas fronteiriças do País é um importante objetivo da política
nacional e internacional, através da evolução e progresso desses locais.

Mas essas regiões ainda são subdesenvolvidas economicamente, causa


da dificuldade de acesso a bens e serviços públicos, de uma área abandonada
por muitos anos pelo Estado, constituída de diversos problemas de segurança
pública e condições de cidadania inexistentes (BRASIL, 2009).

DICAS

Em 2009, O Ministério da Integração Nacional criou o Programa de Promoção


do Desenvolvimento de Faixa de Fronteiras, PDFF, que intenta a integração nacional dos
locais de fronteiras, que como vimos, estão distantes das cidades de grande mobilidade. A
planilha traz como destaques do plano o desenvolvimento regional através da valorização
da economia local e da perspectiva sociocultural, que deve ser priorizada. A planilha pode
ser encontrada no site da Secretária de Programas Regionais, e contêm vários programas
interessantes que, saindo do papel em forma de políticas públicas, podem valorizar mais os
locais de fronteiras, muitas vezes esquecidos pelo poder público: http://ois.sebrae.com.br/
wp-content/uploads/2013/06/cartilha-faixa-de-fronteira.pdf.

175
UNIDADE 3 — A AMEAÇA DO TRÁFICO

Portanto, a presença do Estado nessas regiões é muito importante e


necessária, para o desenvolvimento e cidadania das pessoas que lá habitam.
Pensar nesses pontos de fronteiras não apenas como regiões importantes para
a segurança pública, mas também, como locais que como todos as outras
localidades no Brasil, necessitam do Estado e da integração nacional a partir do
desenvolvimento social é mais necessário ainda.

Na área da segurança, a Constituição de 1988 trouxe em seu artigo 20 §


2, a faixa de fronteira, estabelecendo a largura de cento e cinquenta quilômetros
ao longo do limite terrestre, ou seja, fronteira adentro, como área fronteiriça.
Isso corresponde a 13,8% do território nacional, considerada “fundamental para
defesa do território nacional”, e vindo a ser agraciada pelo programa do PPIF,
instituído pelo Decreto Federal 8.093/2016 (BRASIL, 2002, p. 71).

Trata-se de um importante passo para a defesa do território, com a


coordenação e integração de todos os entes que fazem parte da segurança
pública, inclusive a atuação do exército nacional nas fronteiras. Suas diretrizes
mais essenciais são (BRASIL, 2019, p. 1):

• I- a atuação integrada e coordenada dos órgãos de segurança pública, dos


órgãos de inteligência, da Secretaria da Receita Federal do Brasil do Ministério
da Fazenda e do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas, nos termos da
legislação vigente; e
• II- a cooperação e integração com os países vizinhos.

Perceba que a atuação integrada entre os órgãos manejados pela Secretária


de Segurança Pública e o Exército é uma das suas diretrizes, bem como, a
cooperação com os países vizinhos. São objetivos do PPIF:

• I- integrar e articular ações de segurança pública, de inteligência, de controle


aduaneiro e das Forças Armadas com as ações dos Estados e Municípios
situados na faixa de fronteira, incluídas suas águas interiores, e na costa
marítima;
• II- integrar e articular com países vizinhos as ações previstas no inciso I;
• III- aprimorar a gestão dos recursos humanos e da estrutura destinada à
prevenção, ao controle, à fiscalização e à repressão a delitos transfronteiriços; e
• IV- buscar a articulação com as ações da Comissão Permanente para o
Desenvolvimento e Integração da Faixa de Fronteira – CDIF (BRASIL, 2019, p.
1).

Entre seus objetivos está a integração das forças de segurança para um


propósito bem acentuado, que é restringir o crime que se organiza nas fronteiras:

• I- integrar e articular ações de segurança pública, de inteligência, de controle


aduaneiro e das Forças Armadas com as ações dos Estados e Municípios
situados na faixa de fronteira, incluídas suas águas interiores, e na costa
marítima;

176
TÓPICO 3 — A SECURITIZAÇÃO DAS FRONTEIRAS NACIONAIS

• III- aprimorar a gestão dos recursos humanos e da estrutura destinada à


prevenção, ao controle, à fiscalização e à repressão a delitos transfronteiriços
(BRASIL, 2019, p. 1).

As ações promovidas pelo plano visam estruturar as fronteiras para o


fortalecimento da segurança, com a presença estatal mais acentuada nas regiões,
bem como, a integração das forças que atuam na segurança com o Sistema
Brasileiro de Inteligência (SISBIN). Dessa forma, sua missão é definida na análise
dos crimes reiterados na região.

Missão do PPIF

A missão síntese do PPIF é restringir a ocorrência de delitos transfronteiriços.


Os principais crimes fronteiriços no Brasil são:

• contrabando;
• lavagem de dinheiro;
• mineração ilegal;
• narcotráfico;
• tráfico de armas;
• tráfico de pessoas; e
• tráfico de recursos naturais (BRASIL, 2019, p. 1).

Esse decreto possibilita a união das forças de segurança, entre elas, a


real atuação das Forças Armadas no combate contra o crime organizado nas
fronteiras. E veja que muitas vezes, é o profissional militar que se encontra em
regiões distantes como as estudadas, para treinamentos em selva. Legalizar e unir
as forças foi então, intenção maior do PPIF que analisamos. Mas foi necessário
um planejamento para colocar tudo isso em ordem, que veio em 2011 com o
ENAFRON.

4 ENAFRON
A Estratégia Nacional de Segurança Pública nas Fronteiras (ENAFRON),
partiu da Secretária Nacional de Segurança Pública, que realizou um
levantamento preciso através da inteligência e dos panoramas econômicos e
sociais, dos problemas mais comuns das fronteiras nacionais. Lançado em 2011,
o planejamento é estruturado a partir das análises estatísticas dos crimes que se
organizam nas regiões fronteiriças; e ano a ano há um encontro entre os líderes
de cada instituição de segurança para tratar desses assuntos, com a finalidade
atualizar a gestão estratégica a ser aplicada (ENAFRON, 2011).

Essas análises foram realizadas a partir de cada região, que foi


minuciosamente tratada no plano estratégico. A partir disso, algumas
recomendações foram repassadas e devem ser seguidas até hoje, pelas forças de
segurança e pelas políticas públicas do Estado. Entre elas:

177
UNIDADE 3 — A AMEAÇA DO TRÁFICO

• Estimular uma maior participação dos atores sociais nas definições de políticas
de Segurança Pública, nacionais e estaduais, adotadas nos municípios de
fronteira que conhecem melhor a realidade cotidiana local, podendo contribuir
para um desenho mais eficaz de política pública na área.
• Nacionalizar, qualificar e publicizar a produção de dados criminais, a nível
municipal e estadual, especialmente sobre apreensão de drogas, armas e outras
mercadorias ilícitas, distinguindo as fontes (polícia federal, polícia rodoviária
federal, polícias estaduais).
• Reconhecer que a maior parte dos conflitos locais e dos problemas de segurança
pública dos municípios de fronteira, especialmente em suas áreas urbanas ou
densamente povoadas, não decorre da existência de tráfico transfronteiriço
em grande escala, nacional ou internacional. Nesse sentido, é preciso tratar
esses problemas segundo a experiência policial em lidar com crimes urbanos
convencionais, como o furto, o roubo, os conflitos interpessoais, a violência
doméstica e contra a mulher, os crimes sexuais etc. Nesse sentido, é fundamental
disseminar padrões de policiamento comunitário nos municípios de fronteira,
visando à segurança local.
• Mapeamento das diversas formas de organização da sociedade civil nos
municípios de fronteira com vistas a ampliar os espaços de participação nas
políticas de segurança nacionais e estaduais.
• Estimular uma maior participação das diversas formas da sociedade civil
organizada nas definições de políticas de Segurança Pública, apoiando-se
sobre os seus conhecimentos da realidade local.
• Políticas de descentralização do governo central como forma de extensão da
capilaridade administrativa da União, com atuação de funcionários exteriores
às comunidades, que rompam os arranjos políticos locais. Toda forma de
atuação judiciária e investigativa deve ser feita nesse sentido, como, por
exemplo, o combate ao tráfico atacadista de drogas.
• Políticas de desconcentração do governo central como forma de delegação dos
poderes centrais para o âmbito local, com atuação de funcionários que sejam
parte das comunidades de pertencimento e apoiem-se nas experiências de vida
dos habitantes. Toda forma de atuação preventiva deve ser feita nesse sentido,
como, por exemplo, o combate ao tráfico varejista e à delinquência juvenil.
• Infraestrutura urbana pode ser uma maneira de fortalecer os laços entre os
habitantes com vistas à promoção da vida comum, através do alargamento de
calçadas, da ampliação da iluminação pública, do estímulo às praças públicas etc.

DICAS

Você pode acessar todo o conteúdo do plano Estratégico de Segurança Pública


nas Fronteiras pelo site: https://bit.ly/3gIF4vu

178
TÓPICO 3 — A SECURITIZAÇÃO DAS FRONTEIRAS NACIONAIS

Fazem parte da operacionalidade do ENAFRON os seguintes órgãos e


Estados nacionais:

FIGURA 10 – PARTICIPANTES DO ENAFRON


Estrutura de Gestão Operacional Liderança Institucional

FONTE: ENAFRON (2011, s.p.)

5 A OPERAÇÃO ÁGATA
O Decreto nº 8.903, de 2016, que criou o Programa de Proteção Integrada
de Fronteiras (PPIF), que vimos logo acima, estruturou também a Operação
Ágata, que integra o Plano Estratégico Nacional de Fronteiras (ENAFRON),
oportunizado para prevenir e restringir a ação criminosa na divisa do Brasil com
os outros dez países sul-americanos.

NTE
INTERESSA

Exército inicia nova fase da Operação Ágata no Paraná


20 de maio, 2021 – 10:10 (Brasília)

Em meados do mês de maio de 2021, foi iniciada uma fase da Operação Ágata nas margens
do Rio Paraná e no lago Itaipu, no Paraná.
A operação é uma ação conjunta das Forças Armadas brasileiras em coordenação com
outros órgãos federais e estaduais na faixa de fronteira para combater delitos transfronteiriços.
Cerca de 850 militares estão envolvidos em ações preventivas e repressivas aos ilícitos
transfronteiriços, por meio de estabelecimento de postos de bloqueio e de controle de
estradas e patrulhas terrestres e fluviais. Durante todo o período da operação, estão sendo
cumpridos os protocolos de segurança para prevenção à covid-19.
FONTE: <https://bit.ly/3jtl6Hd>. Acesso em: 10 ago. 2021.

179
UNIDADE 3 — A AMEAÇA DO TRÁFICO

Desde então, coordenado pelo Estado Maior Conjunto das Forças Armadas
(EMCFA), o patrulhamento e a segurança dos quase 17 mil quilômetros de
fronteiras terrestres do País contam com o projeto das Forças Armadas. Marinha,
exército e aeronáutica realizam diversas missões táticas que são destinadas a coibir
o narcotráfico, o contrabando e o descaminho, o tráfico de armas e munições, bem
como, crimes ambientais, imigração e garimpos ilegais.

O patrulhamento do espaço aéreo e as inspeções de rios e estradas que


dão acesso ao país são as principais estratégias utilizadas pelas forças armadas.
Segundo o site do Ministério da Defesa:

Além da Defesa, a Ágata envolve a participação de 12 ministérios e


20 agências governamentais. O planejamento e a mobilização são
feitos de forma integrada, com articulação contínua entre militares
das Forças Armadas e agentes de segurança pública nos níveis federal,
estadual e municipal. Participam desse esforço a Polícia Federal,
Polícia Rodoviária Federal, Força Nacional de Segurança Pública,
Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Ibama, Funai, Receita
Federal e órgãos de segurança dos estados das regiões de fronteira.
Todos sob coordenação e orientação do EMCFA (BRASIL, 2013).

Para diminuir a entrada desses produtos altamente viciantes e intoxicantes,


a operação conta com planos que definem o próximo passo a ser tomado, de natureza
episódica a partir dos problemas encontrados nos locais de fronteira. Sendo uma
das principais operações de inteligência e repressão no País contra as drogas, Ágata
1, 2 e 3 iniciou em 2011 nas fronteiras entre Brasil, Colômbia, Paraguai, Argentina,
Uruguai, Peru e Bolívia, nos Estados do Amazonas, Acre, Rondônia, Mato Grosso
e Mato Grosso do Sul. Já a Ágata 4, 5 e 6 ocorreram nas fronteiras entre Brasil e
Venezuela, Guiana, Suriname, Guiana Francesa, Argentina, Uruguai, Paraguai. Os
Estados do Amazonas, Pará, Amapá, Roraima, Mato Grosso do Sul, Paraná, Santa
Catarina e Rio Grande do Sul fizeram parte dessa etapa de Ágata.

Por fim, estamos atualmente no projeto Ágata 21, que tem por objetivo
assegurar a soberania nacional frente ao narcotráfico internacional nas cidades
fronteiriças do Estado do Paraná, com as fronteiras entre Argentina e Paraguai.
Mas segundo o Ministério da Defesa, Ágata também possui uma missão de
assistência social:

No contexto da Operação Ágata Amazônia, o Comando Conjunto atua


na ação social às populações ribeirinhas. A comitiva do Ministério da
Defesa verificou o trabalho do Navio de Assistência Hospitalar Carlos
Chagas, uma das quatro embarcações da Marinha utilizadas para esse
fim, conhecidos na região como navios da esperança. "São navios que
conduzem equipes médicas aos ribeirinhos das comunidades de baixa
renda. Médicos, dentistas, farmacêuticos, enfermeiros realizam os
atendimentos", explicou o Almirante Ralph (BRASIL, 2013).

Ainda segundo o Ministério da Defesa Nacional, o trabalho de assistência


social é aproveitado e realizado através dos profissionais que fazem parte do
combate dos ilícitos nas fronteiras, como médicos, pesquisadores, militares e
profissionais de saúde de diversas áreas, como a odontologia (BRASIL, 2013).

180
TÓPICO 3 — A SECURITIZAÇÃO DAS FRONTEIRAS NACIONAIS

Isso nos indica e demonstra, mais uma vez, que o combate ao ilícito e ao
traficante de drogas profissional é uma necessidade, mas mais premente ainda é
a presença do Estado Social de Direito e de todo o seu aparato, que se confirma
através das políticas públicas de qualidade, advindas dos impostos de cada
brasileiro. Por esses mecanismos há a possibilidade de apresentar aos povos mais
afastados das grandes capitais o significado de cidadania, gerando oportunidades
diversas em prol da promoção humana.

FIGURA 1 – NAVIO DE ASSISTÊNCIA HOSPITALAR CARLOS CHAGAS, UMA DAS QUATRO


EMBARCAÇÕES DA MARINHA UTILIZADAS PARA ASSISTÊNCIA SOCIAL

FONTE: <https://bit.ly/3Bnbvrq>. Acesso em: 19 ag. 2021.

181
UNIDADE 3 — A AMEAÇA DO TRÁFICO

LEITURA COMPLEMENTAR

Entenda como atua a 'Zona Franca' do narcotráfico no Amazonas

Waldick Junior

Manaus – Considerado atividade criminosa, o tráfico de drogas funciona


como uma 'Zona Franca' no Amazonas. Sem pagamento de impostos, o mercado
ilícito praticamente só rende lucro para os patrões que fazem negócios na região.
O principal polo desta rede econômica é Manaus, mas há ligações importantes no
interior, especialmente em cidades na fronteira do estado, como Tabatinga e São
Gabriel da Cachoeira. 

Segundo o Escritório das Nações Unidas Sobre Drogas e Crimes (UNODC),


a 'economia das drogas' chega a movimentar 40% das atividades ilegais do crime
organizado, como tráfico de armas, de pessoas e lavagem de dinheiro.
 
As facções que atuam nesta prática funcionam como verdadeiras empresas
multinacionais de drogas, fazendo negócios entre vários países e continentes.
Dentro destas corporações ilegais há ainda mecanismos e estruturas de poder
bem definidos, com cargos e possibilidade de promoção de carreira.

Empresários do crime

Os grupos mais conhecidos que atuam no Amazonas são o Primeiro


Comando da Capital (PCC), Comando Vermelho (CV) e a agora 'falida' Família
do Norte (FDN). Esta última surgiu em Manaus, cresceu e dominou o Amazonas,
mas foi atacada e perdeu o domínio da região para o CV em 2020. 

Fontes policiais confirmaram o Comando Vermelho como a principal facção


que atualmente desenvolve negócios no Amazonas. O grupo teve origem no Rio de
Janeiro, cidade que hoje tem ligação direta com Manaus na rota de drogas.

O CV tem uma estrutura bem definida de poder. Os líderes supremos,


como diz o nome, estão no topo e atuam como CEO da facção. Decidem o futuro
dos negócios, como territórios a serem conquistados e novos produtos a serem
vendidos. Abaixo estão os conselheiros de regiões, sendo divididos nas cidades
onde o CV tem 'escritório' e atuam como subchefes do crime. Nesta posição, têm
poder de voto em reuniões que decidem sobre a entrada de novos membros ou a
conquista de territórios menores, como bairros. 

Por último, há os traficantes locais. Estes vendem as drogas para o comércio


doméstico, ou seja, em bairros de diferentes cidades. Além deles, há outros cargos
menores, como os aviõezinhos (transportadores de pequenas porções de droga) e
os vigias que alertam sobre a polícia, caso circule próximo das bocas.
 
182
TÓPICO 3 — A SECURITIZAÇÃO DAS FRONTEIRAS NACIONAIS

Fornecimento e caminho da droga

A região amazônica se tornou uma "divisão internacional do trabalho"


das drogas. O Amazonas, por exemplo, é tido como porta de entrada para os
entorpecentes. Os principais municípios nessa teia de negócios são Tabatinga,
que faz fronteira terrestre com Letícia (Colômbia) e fluvial com Santa Rosa (Peru).
As informações são do artigo 'Ameaça e caráter transnacional do narcotráfico na
Amazônia brasileira', escrito por Aiala Colares Couto. As informações também são
de conhecimento do Departamento de Investigação sobre Narcóticos (Denarc),
da Polícia Civil do Amazonas.

"Traficantes importam o Skank, também conhecido como super maconha, da


Colômbia. Do outro lado, no Peru, vem a pasta base de cocaína. Boa parte da droga que
circula no Brasil tem origem nesses pontos".

Paulo Mavignier, titular do Departamento de Investigação sobre


Narcóticos (Denarc) da Polícia Civil do Amazonas.

A partir da entrada da droga na fronteira do Amazonas, os entorpecentes


são enviados para Manaus ou Belém (PA), em sua maioria. O caminho para chegar
até esses pontos é feito por via fluvial, mas também existem rotas terrestres e aéreas. 

Do total de 16 rios de grandes extensões na região, há pelo menos 12


sendo utilizados por traficantes. Os principais são: Solimões, Amazonas, Uaupés,
Içá, Japurá, Envira e Juruá. 

ROTAS DO TRÁFICO NO AMAZONAS

FONTE: <https://bit.ly/3sX9bVb>. Acesso em: 10 ago. 2021.

183
UNIDADE 3 — A AMEAÇA DO TRÁFICO

Além disso, o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes


(Dnit) afirma que existem 65 rodovias na região amazônica. Segundo mapeamento,
42 delas são usadas para escoamento de cocaína e maconha. 

A via aérea é utilizada por pequenos aviões que transportam cargas até
áreas com estradas. Para o pouso, são construídas pistas clandestinas em meio à
floresta, ou então, utilizadas fazendas como fachada. A informação é de policiais
federais que atuam no combate ao tráfico de drogas.

  Um dos métodos mais comuns para a aquisição dessas drogas é o


chamado consórcio. Por esse meio, traficantes se unem, pedem uma porcentagem
dos entorpecentes e pagam todos juntos um só frete.
 
"A droga chega em Manaus, um carregamento, e cada traficante tem uma
parte. Alguns têm 50 kg, por exemplo. Aí eles dividem com os gerentes, os quais,
por sua vez, abastecem as 'bocas' da cidade com os entorpecentes", esclarece o
delegado Mavignier. 

Manaus, o polo de produção

A chegada dos ilícitos em Manaus ocorre especialmente pela via fluvial.


Um dos pontos mais cobiçados para essa ação é a orla do bairro Compensa, Zona
Oeste, onde surgiu a Família do Norte (FDN). O local faz beirada com o Rio
Negro, por onde também circulam as drogas. Atualmente a região é ocupada
pelo Comando Vermelho.

"Às vezes a droga chega mais acima, ali por Manacapuru, por exemplo.
Eles retiram a carga e guardam em um sítio e vão soltando aos poucos pela
estrada. Outros vão direto para o estado do Pará, através da rota até Santarém",
elucida o titular do Departamento de Investigação sobre Narcóticos (Denarc).

Segundo o delegado, em Manaus, as drogas passam por um processo


de modificação antes de serem exportadas. A maconha é dividida em tabletes
menores e a cocaína, se for pura, é alterada por químicos. Esses trabalhos ocorrem
em lugares chamados laboratórios de drogas. É o que explica também o tenente
Thiago Silva, da Ronda Ostensiva Cândido Mariano (Rocam), da Polícia Militar
do Amazonas.

Exportação e lucro

Após a modificação das drogas ocorrida em Manaus, os entorpecentes


ganham o país e o mundo. Há caminhos fluviais que levam até Belém, de onde
os ilícitos pegam a estrada a caminho do Rio de Janeiro, São Paulo e estados do
Nordeste, como o Ceará. "Deste último local, as drogas são exportadas para países
da Europa", comenta o tenente da Rocam.

184
TÓPICO 3 — A SECURITIZAÇÃO DAS FRONTEIRAS NACIONAIS

  De acordo com a pesquisa do artigo de Aiala Colares Couto, já mencionado,


os principais países que recebem drogas da região amazônica estão localizados
na Europa e no continente africano.  

Segundo o Departamento de Investigação sobre Narcóticos (Denarc), a


maconha mais comum que chega a Manaus - e é exportada - é do tipo Skank. O
quilo desse entorpecente sai por R$ 7 mil, em média. Os valores podem sofrer
alterações a depender da escassez do produto no mercado. 

Apreensões recordes

Para tentar reduzir o avanço da Zona Franca do narcotráfico, forças


policiais do Amazonas estão em ação com a operação Jatuarana, protagonizada
pelo Departamento de Repressão ao Crime Organizado (DRCO) e apoiada por
oito forças de segurança, dentre elas o Grupo Força Especial de Resgate e Assalto
(Fera) e a Força Nacional de Segurança.

A operação está na segunda fase, sendo a primeira realizada em 25 de


junho e a última no dia 28 do mesmo mês. Somando as apreensões dos dois dias,
a PCAM recolheu pouco mais de 1,5 toneladas de cocaína no Lago do Macaco,
bairro Puraquequara, Zona Leste de Manaus. Segundo a Polícia Civil, o prejuízo
ao tráfico é de R$ 25 milhões, a somar também a apreensão de uma lancha blindada
e dois fuzis. Apesar das operações, o tráfico na região ainda segue a todo vapor.

FONTE: Rotas do tráfico no Amazonas. https://bit.ly/3sX9bVb. Waldick Junior, 2021. Acesso em:
10 ago. 2021.

185
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:

• O maior problema para a fiscalização se encontra nas fronteiras terrestres, por


ser por essas rotas que se dá a maioria dos transportes para o Brasil da droga,
constituindo-se em um modus operandi muito bem definido para o narcotráfico.

• A união de órgãos diversos de segurança pública é essencial para tratar das


áreas de fronteiras.

• Não são apenas as drogas que são encontrados nas fronteiras, mas também
o contrabando de armas de fogo, com a presença das Forças Armadas
Revolucionárias de Colômbia (FARCs) e o contrabando de animais silvestres e
de mercadorias entre países.

• As fronteiras passam a ser divididas em arcos, que são reconhecidas através


dos Estados que as compõe: Arco Norte, Arco Central e Arco Sul.

• O PPIF integrou as Forças Armadas às atividades de combate ao narcotráfico


nas fronteiras.

• O Decreto nº 8.903, de 2016, criou o Programa de Proteção Integrada de


Fronteiras (PPIF) e estruturou também a Operação Ágata, que integra o Plano
Estratégico Nacional de Fronteiras (ENAFRON).

CHAMADA

Ficou alguma dúvida? Construímos uma trilha de aprendizagem


pensando em facilitar sua compreensão. Acesse o QR Code, que levará ao
AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.

186
AUTOATIVIDADE

1 Locais fronteiriços usualmente são reconhecidos como lugares distantes,


até mesmo da presença dos fatores políticos que decidem os rumos
de determinada região ou cidade. Para a inclusão desses lugares mais
distantes na agenda das políticas públicas, são necessárias ações de
integração por parte do Estado. Na sua opinião, qual é a importância das
políticas públicas de qualidade e da presença do Estado nos locais de
fronteiras, mais afastados dos grandes centros?

2 O crescimento do tráfico e narcotráfico também se dá pela mão de obra


barata e cooptada, na maioria das vezes, em locais mais carentes e
ambientes insalubres da sociedade, onde a presença do Estado é mínima.
Qual é a necessidade da inclusão social e da ampla cidadania no combate
ao narcotráfico?

3 É importante a definição das competências das Polícias na averiguação


dos crimes diversos, entre eles, o tráfico de entorpecentes, bem como, a
ratificação e validação das Forças Armadas no combate ao tráfico. Assinale
a alternativa CORRETA:

a) ( ) É competência da Polícia Federal os crimes de menor potencial ofensivo


ocorrido nos Estados.
b) ( ) Compete à Polícia Federal exclusivamente a repreensão dos crimes de
narcotráfico internacional.
c) ( ) O PPIF organizou e legalizou os trabalhos das Forças Armadas no
combate aos crimes ocorridos nas fronteiras.
d) ( ) O exército não deve se envolver nos crimes que não sejam aqueles de
narcotráfico nas fronteiras, pois é competência exclusiva das policias
militares e civis.

4 A Estratégia Nacional de Segurança Pública nas Fronteiras (ENAFRON)


foi criada pela Secretária Nacional de Segurança Pública, que realizou um
levantamento preciso através da inteligência e dos panoramas econômicos
e sociais, dos problemas mais comuns das fronteiras nacionais. Assim,
analise as questões a seguir e assinale a alternativa correta:

I- O ENAFRON recomenda que os dados criminais sejam nacionalizados e


repassados a todas as secretarias de segurança do País, para auxiliar na
captura de criminosos que componham o crime organizado.
II- Não fazem parte do ENAFRON as Secretárias Estaduais de Segurança
Pública dos Estados, por este ser um projeto do Governo Federal, dessa
forma, centralizado.
III- A divisão entre as polícias, estabelecida pelo ENAFRON, indica que
cada ente público de segurança deve ser responsável por sua área de
competência apenas.
187
IV- Políticas de desconcentração do governo central como forma de delegação
dos poderes centrais para o âmbito local, é uma recomendação estabelecida
pelo ENAFRON.

Estão CORRETAS as alternativas:

( ) As questões I e IV estão corretas.


( ) As questões II e IV estão corretas.
( ) As questões I e III estão corretas.
( ) As questões III e IV estão corretas.

5 As ações das forças de segurança no Brasil passaram a ser padronizadas


por intermédio do plano de segurança nacional, e, por conta do Programa
de Proteção Integrada de Fronteiras (PPIF). Nesse sentido, assinale V
para Verdadeiro e F para as questões Falsas:

a) ( ) Somente a Polícia Federal possui competência para fiscalizar as


fronteiras.
b) ( ) A união entre as forças de segurança pública é necessário para o
combate ao crime que se organiza nas fronteiras.
c) ( ) A assistência aos ribeirinhos e população de cidades afastadas não
é realizada pelas forças armadas por ser competência das políticas
públicas.
d) ( ) O PPIF regulamenta a competência da Polícia Militar na repressão de
crimes entre as fronteiras.

188
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