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AGOSTINHO DE HIPONA, De Trinitate, IX

Introdução
Foi-nos proposto pelo professor alguns textos para fazer uma ficha de leitura, que
serve como um dos elementos para a avaliação desta unidade curricular de “Mistério de
Deus”. Eu escolhi o livro IX do De Trinitate de Santo Agostinho.
Fiz esta ficha de leitura, dividindo ela em três partes: primeiro procurarei demonstrar
passos que o nosso autor nos propõe para procurar a Trindade; no segundo ponto falarei da
imagem do homem que o autor fala para assim pode chegar a imagem da Trindade através de
três realidades: a mente, o amor e o seu conhecimento, e por fim falarei desta imagem da
Trindade na qual o nosso autor termina o livro.

Como procurar a Trindade


Segundo o autor, procuramos a Trindade que é Deus verdadeiro, supremo e único e
temos que o buscar como quem há de encontrar e encontremos como quem há de procurar
com uma fé sólida que é o início de um conhecimento, e assim com a fé, acreditemos que o
Pai e o Filho e o Espírito Santo são um só Deus, que o Pai não é o Filho, e que o Espírito
Santo não é o Pai nem o Filho, mas são Trindade de Pessoas em relação mútua, e são unidade
na igualdade da essência1.

A mente, o Amor e o Conhecimento


Aqui o autor não fala ainda do divino: Deus, Pai e Filho e Espírito Santo, mas usa a
imagem imperfeita do homem que é mais familiar e mais fácil ser compreendida pela mente, e
usa as três realidades: a mente, o amor e o conhecimento. Quando se ama alguma coisa, há
três coisas: eu, o amado e o amor, mas quando a mente se ama a si mesma evidencia duas
coias: a mente e o amor, e desta maneira querendo ser tal qual é, a vontade é igual à mente e o
amor igual àquele que ama, e assim sendo, o amor é substância e não é corpo, é espírito, a
mente não é corpo, mas é espírito. O Amor e a Mente são um único espírito e uma essência,
não são ditos relativamente, mas apontam para uma essência e na medida em que se reportam

1
Cf. AGOSTINHO DE HIPONA, De Trinitate, IX.1.1.
um ao outro, são duas coisas, mas pelo fato de serem ditas em relação a si mesmas, cada uma
é espírito e em conjunto um só espírito, cada uma é mente e em conjunto uma só mente2.
A mente não pode amar-se a si mesma se não se conhece a si mesma e não se conhece
se não se ama3, da mesma forma que quando a mente e o seu amor são duas coisas quando a
mente se ama a si mesma, assim também são duas coisas a mente e o seu conhecimento
quando a mente se conhece a si mesma. A mente, o seu amor e o seu conhecimento são três
coisas, e estas três coisas são uma só, e quando são perfeitas, são iguais4.
A mente pode amar outra coisa além de si com o amor com que se ama a si mesma.
Do mesmo modo a mente não se conhece somente a si, mas conhece também muitas outras
coisas. Por isso, a mente não tem em si, como num sujeito, o amor e o conhecimento, mas
estes existem de modo substancial, como a própria mente, porque, embora sejam ditos
relativamente em reciprocidade, cada um existe na sua substância individual5.
Embora aquele que ama ou conhece seja substância, o conhecimento seja substância, o
amor seja substância, mas aquele que ama e o amor, ou aquele que conhece e o conhecimento
sejam ditos em relação um ao outro. Se deixar de existir o amor com que a mente se ama,

2
Cf. AGOSTINHO DE HIPONA, De Trinitate, IX.2.2.

3
Cf. AGOSTINHO DE HIPONA, De Trinitate, IX.3.3.

4
Cf. AGOSTINHO DE HIPONA, De Trinitate, IX.4.4.

5
Cf. AGOSTINHO DE HIPONA, De Trinitate, IX.4.5.
deixa ela, ao mesmo tempo de amar. Se deixar de existir o conhecimento com que a mente se
conhece, deixa ela simultaneamente de se conhecer6.
Quando a mente se conhece totalmente, o seu conhecimento abrange o seu todo; e
quando se ama de modo perfeito, ama-se totalmente e o seu amor abrange todo o seu ser.
Estas três realidades, a mente, o amor e conhecimento têm a mesma essência, embora a
mesma mente se ame e se conheça, e os três existam de tal maneira que a mente não é amada
nem é conhecida por nenhuma das outras duas. Logo é forçoso que estas três realidades
pertençam a “uma única e mesma essência” e se estivessem fundidas como numa mistura, de
forma alguma seriam três, nem poderiam relacionar-se entre si7.
Naquelas três realidades, quando a mente se conhece e se ama, mantém-se a Trindade:
mente, amor, conhecimento; não se confunde em nenhuma mistura, embora não só cada uma
esteja em si mesma, mas estejam também todas reciprocamente em todas, seja cada uma nas
outras duas, sejam as duas em cada uma, e assim, tudo em todos. Cada uma destas coisas está
em si mesma e estão reciprocamente também umas nas outras8.

Imagem para a Trindade


A mente ao conhecer-se a si mesma é a única progenitora do seu conhecimento e o
facto de se conhecer gera um conhecimento de si igual a si, porque se não conhece menos do
que é, nem o seu conhecimento é de outra essência, não só porque ela própria conhece, mas

6
Cf. AGOSTINHO DE HIPONA, De Trinitate, IX.4.6.

7
Cf. AGOSTINHO DE HIPONA, De Trinitate, IX.4.7.

8
Cf. AGOSTINHO DE HIPONA, De Trinitate, IX.5.8.
também, porque se conhece a si própria, e quando se ama a si mesmo gera o amor de si, do
mesmo modo que ao conhecer-se gera também o seu conhecimento, e assim chegamos a
imagem da Trindade: a própria mente e o seu conhecimento, que é sua descendência e sua
palavra, de si gerada, e como terceiro, o amor, e estas três coisas são uma só coisa e uma só
substância. E a descendência não é inferior, na medida em que a mente se conhece na
proporção da sua grandeza, nem o amor é inferior na medida em que a mente se ama na
proporção em que se conhece e na proporção da sua grandeza9.

Conclusão
Ao chegar ao fim deste trabalho confesso que não foi fácil perceber o autor e por isso
tive que ler o texto várias. Os argumentos e os exemplos que o nosso autor usa são densos e
acaba por dificultar a compreensão do texto e o que o autor quererá dizer.
O trabalho foi desafiador, mas ao mesmo tempo importante para o meu conhecimento
e o aprofundamento no que diz respeito a Trindade segundo este autor.

9
Cf. AGOSTINHO DE HIPONA, De Trinitate, IX.12.18.

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