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Capítulo 3

Derivadas e Integrais no Campo


dos Complexos

Seção 1
Derivadas e diferenciabilidade
Nesta seção, vamos discutir as derivadas no contexto dos números complexos.
Vamos observar que não há diferenças significativas no contexto das regras de
derivação.

1.1 Derivadas no campo complexo

1.1.1 Definição

Seja definida num domínio D e , a derivada de em é

definida como o limite , observando que h é complexo.

Se esse limite existe, dizemos que é diferenciável em . Se é


diferenciável em cada ponto de D, dizemos que é diferenciável em D.

É usual também escrever o limite da definição como:

ou .

1.1.2 Propriedades básicas


As propriedades usuais de diferenciação no conjunto dos reais continuam
válidas para funções no conjunto dos complexos. Existe, porém, uma diferença
significativa entre as duas definições: o limite na definição de é de

75
Capítulo 3

dimensão 2. Por essa razão, muitos resultados do cálculo de varáveis reais não
se aplicam ao cálculo de variáveis complexas.

Por exemplo, a função real é , mas a função complexa


.

1.1.3 Exemplos
(1) Calcular a derivada da função .

A função dada está definida em todo o campo dos complexos, vamos então
calcular a derivada para qualquer valor , lembrando que C representa o
conjunto dos complexos.

Usando a definição temos:

Observe que chegaríamos neste mesmo resultado se usarmos a regra de


derivação usada no campo dos reais. Isto sempre poderá ser feito, desde que
tenhamos a garantia da veracidade.

(2) Calcular a derivada de .

Neste caso a função também está definida em todo o campo dos complexos,
mas vamos precisar analisar com mais cuidado, lembrando que estamos
fazendo cálculo de limites com variável complexa e cada variável complexa tem
duas dimensões. Portanto, ao analisar ou , temos que considerar
que há infinitas maneiras ou infinitos caminhos que devemos considerar. A
partir da definição da derivada em um ponto vamos mostrar que a derivada
não existe usando a análise por caminhos, ou seja o limite da definição

não existe.

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Números e Funções Complexas

(3) Observe o cálculo das seguintes derivadas usando as regras de derivação:

(a)

(b)

(c)

1.2 Função Analítica

1.2.1 Definição

Seja definida num domínio D e . Dizemos que é analítica em


se para algum número , tal que o disco aberto está contido em D,
é diferenciável em cada ponto do disco.

As funções analíticas também são denotadas por funções regulares ou


funções holomorfas.

Usualmente na identificação de uma função analítica usamos as equações de


Cauchy-Riemann, discutidas a seguir.

1.2.2 Equações de Cauchy-Riemann


As Equações de Cauchy-Riemann foram descobertas pelo matemático
francês Cauchy (1789-1857) e se tornaram fundamentais na teoria das funções
analíticas por meio dos estudos do matemático alemão Riemann (1826-1866),
apresentados em sua tese de doutorado.

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Capítulo 3

Essas equações são equações diferenciais descritas pela relação entre duas
derivadas parciais envolvendo as funções e estabelecidas como
parte real e parte imaginária da função complexa . Temos:

Sua importância na análise complexa está no estudo das funções analíticas e são
usadas a partir de dois teoremas.

Teorema 1 (condição necessária): As partes real e imaginária de uma função


analítica satisfazem as equações de Cauchy-Riemann,

e , em cada ponto em que é analítica.

Demonstração:

Considerando que a função complexa dada por é


analítica, podemos considerar uma aplicação dependente das variáveis
reais x e y.

O quociente de Newton que aparece na definição da derivada pode ser escrito como:

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Números e Funções Complexas

Vamos agora calcular o limite fazendo . Como existe, temos que


existe o limite do quociente de Newton, ou seja,

Vamos, então, analisar os limites por caminhos diferentes, pois esses deverão ter
resultados iguais a .

Vamos considerar o caminho ao longo da reta , ou seja, . Temos:

Vamos agora considerar o caminho ao longo da reta , ou seja, .


Temos:

Diante dos resultados obtidos, temos:

Decorre de forma imediata as equações de Cauchy-Riemann:

e .

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Capítulo 3

Teorema 2 (condição suficiente): Se duas funções reais unívocas e


de variáveis reais x e y possuem derivadas parciais de primeira ordem contínuas,

tais que e , em um dado domínio D, então a função complexa

é analítica em D.

A demonstração deste teorema pode ser encontrada em textos de análise


complexa, como, por exemplo, em Soares (2014).

Fique atento para o uso correto dos teoremas, pois estamos diante de uma
condição necessária no Teorema 1 e de uma condição suficiente no Teorema 2.

As equações de Cauchy-Riemann podem ser escritas na forma polar,


considerando-se que e :

e com .

Teorema 3 (uso da forma polar): Sejam e reais e univalentes em


cada ponto z de uma vizinhança de um ponto a qual, juntamente com suas
derivadas parciais primeiras em relação a , apresentará funções contínuas
satisfazendo às condições de Cauchy-Riemann em coordenadas polares nesse
ponto, onde . Então, a derivada da função existe no ponto

e é dada por: .

A demonstração deste teorema segue o raciocínio similar à demonstração dos


teoremas desta seção.

1.2.3 Pontos singulares


É possível observar que em algumas funções complexas vamos ter pontos
em que a função não é analítica. Esses pontos são denominados de pontos
singulares, ou ainda, diz-se que a função tem uma singularidade.

Os pontos singulares são classificados e categorizados sendo que a sua


descoberta pode requerer, em alguns casos, considerações adicionais que não
são abordadas neste texto em função da dimensão estabelecida pela unidade de
aprendizagem curricular.

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Números e Funções Complexas

Para uma singularidade isolada, em um ponto de uma função ,a


verificação está relacionada com a análise de uma vizinhança do ponto. Se existe
um , tal que o círculo não contém pontos singulares diferentes do
, então este único ponto é uma singularidade isolada.

Um exemplo típico acontece em algumas funções racionais, por exemplo, uma


singularidade da função está no ponto .

Se tivermos uma situação em que , então é um ponto

singular e neste caso é classificado como um polo de ordem n. Se o valor de n for 1,


o polo é simples.

No caso da função , o ponto singular é um polo simples, pois

Para a função , vamos ter que é um polo de ordem 4, pois

1.2.4 Exemplos

(1) Verificar se as seguintes funções são analíticas:

(a)

Vamos aplicar as equações de Cauchy, considerando-se que e


.

Temos:

Portanto, valem as equações de Cauchy-Riemann e, como estamos diante de


derivadas contínuas em todo o plano complexo, a função dada é analítica em
todo o plano complexo.

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Capítulo 3

A derivada da função fica:

(b)

Vamos aplicar as equações de Cauchy, considerando-se que e


.

Temos:

Portanto, valem as equações de Cauchy-Riemann e, como estamos diante de


derivadas contínuas em todo o plano complexo, a função dada é analítica em
todo o plano complexo.

(2) Calcular as derivadas das seguintes funções:

(a)
Aplicando as regras de derivação temos:
.

(b)

Podemos aqui analisar usando as equações de Cauchy-Riemann.

Vamos aplicar as equações de Cauchy, considerando-se que e


.

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Números e Funções Complexas

Temos:

Portanto, valem as equações de Cauchy-Riemann e, como estamos diante de


derivadas contínuas em todo o plano complexo, a função dada é analítica em
todo o plano complexo.

1.3 Funções Harmônicas

1.3.1 Definição e notações


Quando lidamos com funções analíticas é usual encontrarmos com funções

ou que satisfazem a equação , sendo que a

função g é uma função real definida num domínio D do plano real.

A equação é denominada equação de Laplace e também

pode ser representada por . A expressão é


denominada de Laplaciano.

Se ou é solução da equação de Laplace, isto é, vale a relação

, dizemos que é uma função harmônica.

Sempre que estamos diante de uma função analítica num domínio D, podemos afirmar
que as funções e são harmônicas em D. Assim, as funções harmônicas
aparecem sempre aos pares ou também podemos dizer na forma conjugadas.

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Capítulo 3

1.3.2 Exemplos
Mostre que a função dada é harmônica em algum domínio e apresente a
harmônica conjugada :

(1)

Temos as derivadas parciais de primeira e segunda ordem:

Assim, , portanto a função é harmônica.

Vamos agora encontrar a harmônica conjugada.

Usando a equação de Cauchy-Riemann, podemos escrever um sistema para resolver:

Usando a primeira equação, temos

Aplicando o procedimento inverso da derivação, ou seja, fazendo a integração,


vamos ter:

Observe atentamente que a integral é em y, pois a derivada é em relação a y.


Dessa forma, para este momento x é considerado uma constante, portanto a
nossa constante de integração pode ser uma função em x.

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Números e Funções Complexas

Encontramos um protótipo para o valor da conjugada v, pois temos ainda que


definir a função h(x). Temos que:

Vamos levar esse resultado para a segunda equação do sistema das equações de
Cauchy-Riemann:

Portanto, a função conjugada de é dada por


A função analítica pode ser definida como:

(2)

Temos as derivadas parciais de primeira e segunda ordem:

Assim, , portanto a função é harmônica.

Vamos agora encontrar a harmônica conjugada.

Usando a equação de Cauchy-Riemann, podemos escrever um sistema para resolver:

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Capítulo 3

Usando a primeira equação, temos

Aplicando a inversa da derivação, ou seja, fazendo a integração, vamos ter que:

Encontramos um protótipo para o valor da conjugada v, pois temos ainda que

definir a função h(x). Temos que:

Vamos levar este resultado para a segunda equação do sistema das equações de
Cauchy-Riemann:

Portanto, a função conjugada de é dada por


A função analítica pode ser definida como:

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Números e Funções Complexas

1.4 Diferenciabilidade das funções elementares

1.4.1 Derivada das funções elementares


Segue um resumo sobre a diferenciabilidade das funções elementares. Os
resultados podem ser verificados utilizando-se definições, propriedades e
teoremas já discutidos.

(1) Função polinomial

A função polinomial é dada por , sendo


com .

As funções polinomiais são analíticas em todo o campo complexo. Para achar as


derivadas, é possível utilizar as regras de derivação já conhecidas.

Uma função polinomial também é dita função inteira, exatamente pelo fato de
ser derivável em todos os pontos complexos.

(2) Função racional

A função racional é dada por , sendo e funções polinomiais.

As funções racionais são analíticas em todo o campo complexo, exceto nos


pontos em que .

(3) Função exponencial

A função exponencial é dada por . É uma função analítica


em todo o campo complexo.

(4) Funções trigonométricas

De forma similar ao campo dos reais, as funções trigonométricas complexas são


estabelecidas e valem as seguintes considerações:

•• as funções seno e cosseno são analíticas em todo o campo complexo;


•• as funções tangente e secante são analíticas em todos os pontos do
campo complexo, exceto nos pontos em que ;
•• as funções cotangente e cossecante são analíticas em todos os
pontos do campo complexo, exceto nos pontos em que .

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Capítulo 3

(5) Funções hiperbólicas

As funções seno hiperbólico e cosseno hiperbólico são analíticas em todo o


campo complexo.

(6) Função logarítmica

Nos pontos em que , ou seja, um número real negativo, vamos ter


. A parte imaginária dessa função não é contínua em ,
pois seu valor em é igual a , ao passo que seu valor é diferente em outros pontos
de uma vizinhança de . Portanto, a derivada não existe para .

Se considerarmos os demais pontos, vamos poder constatar que valem as equações


de Cauchy-Riemann e que, neste caso, é analítica. A verificação pode ser feita se
utilizamos a forma polar de Cauchy-Riemann, com e , ou seja, .
Assim, a derivada é dada por:

Assim, vamos ter a validade da fórmula:

com .

(b) Para a função definida como , considerando


que , sendo que é qualquer ângulo fixado em radianos,
podemos constatar que a derivada é dada por

com .

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Números e Funções Complexas

1.4.2 Proposições

Proposição 1: Se a função complexa definida em um domínio D é


diferenciável em um ponto , então é contínua em .

Proposição 2: Seja um conjunto aberto e sejam f e g funções analíticas em

D, são válidas as seguintes propriedades:

(a) se é analítica em D, então


para quaisquer números complexos a e b;

(b) se é analítica em D, então ;

(c) se com é analítica em D, então

(d) se com n, um número natural, é analítica em D, então


.

Proposição 3 (Regra da Cadeia): Sejam e funções


analíticas nos abertos A e B respectivamente, tais que , então a
função composta definida por é analítica em A e
.

Demonstração:

Vamos considerar que e vamos também definir a função h da seguinte


forma:

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Capítulo 3

A função h está definida num disco aberto centrado e é contínua em , pois g


é derivável em e .

Além disso, , pois f é contínua em .

Se vale a relação .

Vamos agora reescrever a expressão anterior utilizando Temos:

Dividindo tudo por temos:

Vamos fazer o limite:

1.4.3 Análise de uma função analítica


Temos várias maneiras para analisar uma função sob o ponto de vista da
diferenciabilidade. Veja algumas considerações auxiliares para a escolha da análise.

(1) Uma condição necessária, mas jamais suficiente, para que uma
função seja analítica em um domínio D, é que a função seja
contínua em D.
(2) As condições de Cauchy-Riemann também são necessárias, mas
não suficientes para que uma função seja analítica.
(3) O Teorema 1 da subseção 1.2.2 apresenta condições suficientes
para a analiticidade em um conjunto D, observando-se que as
hipóteses do teorema devem ser válidas para todos os pontos de D.
(4) A aplicação direta das fórmulas de derivação deve ser cuidadosa
diante da análise dos pontos em que são aplicáveis. Por exemplo,
no caso de uma função do tipo racional, temos que observar que o
seu domínio não admite os pontos em que o denominador se anula.

90
Números e Funções Complexas

(5) Quando uma função é analítica em algum ponto de cada vizinhança


de um ponto , exceto no próprio ponto , então é chamado
ponto singular, ou estamos diante de uma singularidade da função.

1.4.4 Exemplos
(1) Dada a função , mostrar que e sua
derivada existem em todos os pontos e calcule essas derivadas.

Vamos verificar a validade das equações de Cauchy-Riemann, considerando que


temos e . Assim:

Portanto, valem as equações de Cauchy-Riemann. As derivadas apresentadas


são contínuas para todos os valores de x e y, portanto, em acordo com o Teorema
2 de 1.2.2, a derivada de primeira ordem existe e é igual a:

Fazendo agora a mesma análise a partir dessa derivada, considerando que agora
temos e , vamos ter:

Novamente temos a validade das equações de Cauchy-Riemann e as derivadas


são contínuas em todo o plano complexo. Portanto, podemos escrever:

Observem que neste exemplo vale a relação .

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Capítulo 3

(2) Analisar a diferenciabilidade da função .

A função dada pode ser escrita como:

Assim, temos que e . Vamos aplicar as equações

de Cauchy-Riemann e de imediato já constatamos que não é válida. Veja que:

Portanto, a função dada não é analítica em pontos do plano complexo.

(3) Provar que a derivada da função é igual a .

Podemos utilizar duas maneiras diferentes para mostrar essa relação.

Inicialmente vamos utilizar o fato de que a função dada pode ser reescrita como:

Dessa forma, podemos verificar as equações de Cauchy-Riemann, considerando


que e . Temos:

Essas funções são contínuas em todo o campo dos complexos, portanto, a


derivada da função pode ser estabelecida como:

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Números e Funções Complexas

Outro método possível para mostrar a validade é considerando-se que

Considerando-se que podemos aplicar as regras de derivação nas funções


exponenciais, podemos escrever:

1.5 Atividades de autoavaliação


(1) Mostrar que tem derivada apenas na origem.

(2) Analisar a diferenciabilidade das seguintes funções:

(a)

(b)

(c)

(3) Calcular as derivadas das seguintes funções se existirem:

(a)

(b)

(4) Verificar se as seguintes funções são analíticas:

(a) (b)

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Capítulo 3

(5) Verificar se as seguintes funções são harmônicas e, em caso afirmativo,


encontrar a harmônica conjugada:

(a)
(b)
(c)
(d)

(6) Deduzir as equações de Cauchy-Riemann na forma polar.

(7) Usar regras de derivação para calcular as derivadas das seguintes funções:

(a)
(b)

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Números e Funções Complexas

Seção 2
Integrais no campo dos complexos
O estudo das integrais no campo dos complexos tem o seu ponto de partida nas
integrais curvilíneas, entretanto as técnicas de integração do cálculo diferencial
e integral no contexto dos reais estarão presentes desde o início. Por isso é de
fundamental importância o domínio das integrais discutidas no contexto dos reais.

2.1 Primitiva de uma função complexa

2.1.1 Definição
Se e são funções analíticas e , então é dita uma
primitiva ou integral indefinida de denotada por .

A constante C é uma constante complexa.

Observe que vamos precisar da garantia de que as funções são analíticas


e então valem todas as propriedades discutidas no contexto real, assim
como as técnicas de integração.

2.1.2 Integral definida


É usual encontrarmos aplicações que envolvem função complexa que dependem
apenas de uma variável. Por exemplo, ao discutir o conceito de fasor – número
complexo que representa a amplitude e fase de uma senoide – na Engenharia
Elétrica, discute-se funções do tempo que contêm números complexos. Ficamos
diante de funções complexas cuja variável independente é o tempo, portanto uma
variável real. Nesse caso, temos que analisar a função complexa f de uma variável
real t, denotada por com , sendo u e v funções reais
contínuas por partes da variável real t no intervalo limitado .

Nesse caso, a integral definida da função f é calculada usando:

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Capítulo 3

2.1.3 Exemplos
Calcular as seguintes integrais indefinidas no campo dos complexos:

(a) .

(b) .

(c) .

2.2 Curvas no plano complexo


Para trabalhar com curvas no plano complexo, é fundamental que façamos uma
definição mais precisa do termo “curva” que se adapte ao conceito mais intuitivo
que temos a partir do significado da palavra curva.

Para os nossos propósitos, vamos optar por uma definição mais formal
que associe uma curva com um conjunto de pontos do plano, de modo
que possamos definir a integral de uma função contínua ao longo da curva,
independentemente da maneira pela qual a curva seja descrita por uma função.

É interessante considerar que vamos trabalhar com curvas ditas “lisas” ou “suaves”
no sentido formal da geometria, ou seja, curvas que não tem pontos angulosos.

2.2.1 Definições
Curva C no plano complexo – é um conjunto de pontos com
sendo x e y funções contínuas da variável t no intervalo .

Podemos escrever , .

O ponto é chamado ponto inicial de C, e o ponto é um ponto terminal de C.

Curva fechada – uma curva C é dita fechada se .

Curva que se intercepta – se existem dois valores distintos de t, denotados


como com em , tais que , diz-se que a
curva C se intercepta. Um arco que não se intercepta é dito um arco simples, ou
arco de Jordan.

Uma curva fechada que não se intercepta diz-se uma curva fechada simples ou
curva de Jordan.

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Números e Funções Complexas

Curva suave – uma curva diz-se suave ou polida se existe e é contínua e não
se anula para nenhum .

É importante observar que as curvas delineiam caminhos e a sua orientação é


dada pelo sentido de crescimento da variável t.

2.2.2 Exemplos
Analisar as seguintes curvas:

(a) para .

Podemos fazer a representação dessa curva considerando que com .

A Figura 3.1 apresenta esta curva, que é uma curva suave – ou também dita uma
curva simples ou curva de Jordan (não se intercepta).

Figura 3.1 – Curva para

(b) para .

Podemos fazer a representação dessa curva considerando que com .

A Figura 3.2 apresenta esta curva, que é um segmento orientado, portanto


também é uma curva suave, ou também dita uma curva simples ou curva de
Jordan (não se intercepta).

97
Capítulo 3

Figura 3.2 – para

(c) para .

Podemos fazer a representação dessa curva que representa uma semi-elipse. A


Figura 3.3 apresenta esta curva, que é uma curva suave e denotada também com
curva de Jordan (não se intercepta).

Figura 3.3 – para

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Números e Funções Complexas

(d) para .

Na Figura 3.4, tem-se a circunferência de raio r.

Figura 3.4 – para

(e) para .

Na Figura 3.5, tem-se uma circunferência de raio r centrada em z0.

Figura 3.5 - para

99
Capítulo 3

(f) para

Na Figura 3.6, tem-se um segmento de reta orientado tendo como ponto inicial
e ponto final .

Figura 3.6 - para

2.3 Integrais curvilíneas

2.3.1 Definição

A integral curvilínea da variável complexa z de um ponto a um ponto é


definida em termos dos valores nos pontos de um arco C que se estende de
ponto A ao ponto B. Seu valor pode depender da escolha do arco C bem como
de , A e B.

Seja C um caminho que se estende de A até B e escrevemos , então,


quando z está sobre C, temos , com , sendo
e contínuas e suas derivadas contínuas por partes. Tem-se que
quando e quando . Considerando f contínua por partes sobre C,

definimos a integral curvilínea como , ou ainda,

100
Números e Funções Complexas

Valem propriedades semelhantes as do contexto real.

2.3.2 Teorema da Integral de Cauchy


Antes de enunciar o Teorema da Integral de Cauchy é importante formalizar o
conceito de Domínios simplesmente conexos.

Dizemos que um domínio simplesmente conexo D é uma região aberta conexa,


de modo que todo caminho fechado contido em D envolve somente pontos de
D. Para exemplificar, observe que a Figura 3.8 mostra um domínio simplesmente
conexo e as Figuras 3.9 e 3.10 apresentam domínios que não são simplesmente
conexos. Observe que temos “buracos” no domínio.

Figura 3.7 – Domínio simplesmente conexo

Figura 3.8 – Domínio com um (1) buraco

101
Capítulo 3

Figura 3.9 – Domínio com mais de um buraco

Teorema de Cauchy: se valem as seguintes hipóteses:

(1) D é um domínio simplesmente conexo;

(2) é analítica em D;

(3) C é uma curva fechada qualquer em D.

Então, .

Com as hipóteses do Teorema de Cauchy, podemos calcular integrais a partir de


dois resultados que podem ser demonstrados.

•• Para quaisquer pontos a e b do domínio D, e quaisquer caminhos


e que inicia em a e termina em b, vale que .

•• Existe uma função F(z), analítica em D, tal que em todo


o ponto de D.

Outros teoremas podem ser enunciados como consequências do Teorema de Cauchy


e com resultados bastante práticos para lidarmos com as funções complexas.

102
Números e Funções Complexas

Diante da validade das condições do Teorema de Cauchy e supondo que é um


ponto qualquer no interior de C, podemos ter as seguintes conclusões:

(1)

(2) Para cada n, inteiro positivo, possui uma derivada de ordem n em , dada por:

(3) Para cada n, inteiro positivo, é analítica em D.

2.3.3 Exemplos
O Teorema de Cauchy estabelece facilidades para lidarmos com as funções
analíticas num caminho fechado ou no interior de um caminho fechado, pois
os valores de função e todas as suas derivadas podem ser plenamente
determinados para todos os pontos interiores de uma curva fechada C de um
domínio simplesmente conexo. A partir desses resultados, vários cálculos podem
ser realizados de forma mais simples. Vejam os exemplos a seguir:

(1) Calcular as integrais:

(a) sendo C: |z| = 1

A curva dada é um círculo de raio 1 e neste caso podemos escrever:

Assim,

(b) Dado um número r positivo, seja o círculo centrado na origem de raio r, ou

seja, . Calcule , sendo que n é um inteiro qualquer.

Fazendo:

103
Capítulo 3

Aplicando na integral, temos:

(2) ao longo do segmento de reta AB com A = (0,0) e B = (1,1).

Estamos diante de um segmento de reta dado por dois pontos. Vamos


formalizar esse segmento que inicia no e tem a direção dada por
. Assim, .

Aplicando os valores temos:

Fazendo a derivada temos:

Portanto,

(3) ao longo da poligonal ABC com A = (0,0), B = (1,0) e C = (1,1).

104
Números e Funções Complexas

A Figura 3.7 apresenta a poligonal dada. Considerando-se que temos pontos


angulosos, vamos fazer participação para poder aplicar o cálculo da integral.

Figura 3.10 – Poligonal ABC

Vamos ter a formalização da poligonal:

Assim,

(4) Calcular ao longo:

(a) da parábola de (1,1) até (2,4).

Vamos parametrizar, considerando que:

105
Capítulo 3

Ou

Assim,

(b) do segmento de reta de (1,1) até (2,4).

Vamos parametrizar, considerando que:

Ou

Assim,

Após a realização dos exemplos, podemos voltar para fazer uma análise

106
Números e Funções Complexas

interessante. Observem que os exemplos (2) e (3) têm o cálculo da integral


sobre caminhos diferentes que têm o mesmo ponto de partida e o

mesmo ponto de chegada. Os resultados obtidos foram diferentes.

Agora observem o exemplo (4) itens (a) e (b) com a integral , novamente com

caminhos diferentes, mas com pontos de partida e de chegada iguais. Veja que

agora os resultados foram iguais.

Por que isto acontece?

Isso acontece simplesmente pela natureza da função do integrando. Para que


tenhamos o mesmo resultado, temos que estar diante de uma função analítica.
Veja que a função não é analítica em todo o campo complexo, mas a
função é analítica. Assim, sempre que você estiver diante de um exemplo
para resolver, faça a análise da analiticidade da função do integrando, pois
podemos dar respostas mais rápidas a partir desse resultado.

2.4 Atividades de autoavaliação


(1) Calcular ao longo:

(a) do segmento de z = 0 a z = 2 +i;


(b) do caminho OAB com O = (0,0), A = (2,0) e B = (2,1);
(c) do caminho fechado OABO com O = (0,0), A = (2,0) e B = (2,1).

(2) Calcular , sendo e C o caminho:

(a) semicírculo superior do círculo |z| = 1 de z = -1 a z = 1;


(b) semicírculo inferior do círculo |z| = 1 de z = -1 a z = 1.

(3) Calcular , sendo C o segmento de z = 0 a z = 1+i.

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Capítulo 3

(4) Calcular a integral indefinida .

(5) Calcular a integral .

(6) Calcular a integral .

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