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LIDERANÇA, CULTURA E
COMPORTAMENTO
ORGANIZACIONAL
Capítulo 2. PESSOAS FELIZES
PRODUZEM MAIS?
Douglas Murilo Siqueira
INICIAR
Introdução
Talvez você esteja se perguntando qual o motivo do título deste capítulo. Será que é
possível “ser feliz” no trabalho? E, o que seria a “felicidade” nesse contexto? Ganhar
mais? Ser reconhecido? Qual o papel de seu líder e das pessoas que o rodeiam para
que alcance o sentimento de “felicidade” na organização e em suas atividades? Você
fica com um sentimento de “angústia” ao perceber que no dia seguinte ao seu
descanso tem de trabalhar? Perceba que destacamos a palavra tem, pois aqui fica o
sentido de obrigação e, o que é uma obrigação, pode gerar um sofrimento. É muito
importante que você, como futuro Administrador, exercite a observação, ou seja,
perceba os comportamentos das pessoas, o que elas falam, a energia que emanam
para os outros e para elas mesmas, quais sentimentos elas transmitem em seu dia a
dia (Raiva? Amor? Alegria? Ansiedade? Tristeza? Rancor? Insatisfação? Raça?
Entusiasmo? Vontade? Energia? etc.). São inúmeros os sentimentos e a forma com
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que os expressamos. Lembre-se, “o corpo fala”. E fala muito mais que mil palavras.
Agora, lembre-se que as pessoas são únicas. Em nosso planeta, com mais de 6
bilhões de seres humanos, não encontrará uma única pessoa que seja igual à você.
Mesmo os gêmeos univitelinos têm personalidades distintas. Nesse sentido, seria
possível um gestor obrigar que todos tivessem sentimentos semelhantes de “garra”,
“energia” e “entusiasmo” após o dia de descanso de seu pessoal? Mas, então, como
fazer para buscar um ambiente que propicie prazer em estar nele e com as pessoas
que lá se encontram? Vamos buscar algumas respostas neste capítulo, entendendo
um pouco mais as emoções, já que somos seres emocionais. Primeiro, iremos
entender que não é somente a inteligência medida em QI que garante o sucesso. É
importante a pessoa desenvolver as chamadas Inteligência Emocional (IE) e Social
(IS). Além disso, temos outro fator que interfere no ambiente, que são as diferentes
personalidades, que influenciam diretamente nos comportamentos individual e
coletivo. É fácil perceber pessoas assertivas, passivas e outras agressivas, em
diferentes intensidades. Algumas mais e outras menos resilientes. Algumas que
confiam mais e outras nem tanto. Portanto, conhecer mais sobre os tipos de
comportamentos, sobre as inteligências (IE e IS) e sobre confiança, fará com que
aguce sua percepção para a tomada de decisões e ações que envolvem pessoas,
além de refletir sobre si mesmo e seus comportamentos.
2.1.1 Emoções
Robbins (2006) ensina que emoções, sentimentos e humores, apesar de soarem
muito semelhante aos nossos ouvidos, possuem significados diferentes.
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Figura 1 - Sentimentos,
emoções e humores. Fonte: Elaborada pelo autor, 2018.
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mais intensos. Agora, por que saber essa diferença? Simples, a emoção tem um
“objeto” e “motivo”, os quais podemos identificar e, se tivermos inteligência,
podemos gerenciar melhor.
E é isso que vamos entender, mas antes de falarmos sobre a Inteligência Emocional,
vamos entender primeiro como as emoções podem influenciar no comportamento
organizacional.
VOCÊ SABIA?
Que o fisiologista William Sheldon (1898-1977) tem uma teoria de que o físico está relacionado com
a personalidade? Para ele, pessoas com tendência à gordura (endomorfia) tem relação com postura
e movimentos relaxados, comodidade física, equilíbrio emocional etc. Já as com tendência à
musculatura (mesomorfia) apresentam postura mais assertiva, gosto por aventura física,
competitivas etc. Por fim, as com tendência à magreza (ectomorfia) tem gosto pela privacidade,
mais socialmente isoladas, restrição emocional etc.
Atenção: Não é difícil nos depararmos com pessoas que, mesmo sem saber,
utilizam a teoria de Sheldon para justificar processos seletivos, de méritos,
promoção ou quaisquer outros. Esse comportamento merece muita atenção, pois
poderá esbarrar na ética, haja vista que a visão estereotipada induzirá à
discriminação, podendo cometer injustiças.
Ambiente: um fator importante que molda a personalidade de uma pessoa, e,
com isso, suas emoções diante das diversidades, é o ambiente. As normas
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legenda em português. Para tanto, basta clicar na figura de engrenagem que aparece no rodapé, lado
direito, e selecionar o idioma nativo. Acesse: <https://www.youtube.com/watch?v=gBkIyJ7kf_I
(https://www.youtube.com/watch?v=gBkIyJ7kf_I)>.
Quadro 1 - As cinco dimensões do modelo Big Five. Fonte: Elaborado pelo autor, baseado em
ROBBINS, 2006.
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(https://www.youtube.com/watch?v=JsNmDEvx3CY)>.
Empatia
Você já deve ter ouvido que ser empático é “se colocar no lugar do outro”. Cuidado!
Imagine “sentir o que o outro sente”. Quais seriam os diversos sentimentos que
deveriam se sentidos que não são seus. Ter a tristeza do outro? A insegurança? A
raiva ou o medo? Seria impossível atuar assim.
Para a I.E., ser empático é entender, de forma ponderada, o sentimento dos outros.
Para ilustrar, considere que uma organização contrate dois novos gestores. Um
deles, sabendo da insegurança dos componentes de sua equipe, promove reuniões
individuais para escutar e entender os anseios e inseguranças, a fim de restabelecer
um ambiente de relações de confiança, saudável e seguro. Já o outro gestor resolve
iniciar suas atividades, delegando e estabelecendo metas e objetivos. Qual dos dois
utilizou a empatia? O primeiro, claro. E, qual dos dois terá mais credibilidade para
reter e desenvolver talentos? O primeiro. E, qual deles têm mais talento para
entender os problemas dos clientes? Acertou, o primeiro. O líder empático, além de
desenvolver e reter talentos e melhorar os relacionamentos internos e com os
demais stakeholders, promove, de forma incremental, mudanças que melhoram a
organização.
Habilidades sociais
Mais do que ser gentil, ter habilidades sociais é conduzir as pessoas para um direção
planejada. São pessoas que possuem uma grande rede de relacionamentos e
conhecidos e têm facilidade em desenvolver afinidades. Para Goleman (2014), esse
componente agrega os demais elementos, haja vista que a pessoa deve saber
controlar suas emoções, entender o outro e ser otimista e automotivada. São
consideradas pessoas com competências em desenvolver e conduzir equipes, além
das habilidades de persuasão. São entusiastas e perseverantes. Outro fator que faz
com que as habilidades sociais destaquem o bom líder, é o fato de que elas ajudam
a influenciar as pessoas a realizar o trabalho e a gerar resultados.
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Figura 2 - Criança A e criança B. Fonte: Aaron Amat/Ana Blazic Pavlovi, Shutterstock, 2018.
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demonstram pouca iniciativa, geralmente dizem “sim” para quem lhe pede algo e,
consequentemente, “não” para si mesmo. Essa dicotomia gera um conflito interno,
o qual pode levar para a infelicidade. Afinal, quem pode estar bem consigo mesmo
vivendo em conflito constante? Mas como esse comportamento pode influenciar na
organização? Simples, um funcionário descontente consigo mesmo, poderá
reproduzir esse comportamento no ambiente, na produção e na qualidade.
Para ilustrar, imagine uma situação em que o gestor pede a seu funcionário para
fazer hora-extra, mas desconhece que é o dia da avaliação final na faculdade dessa
pessoa, que se perder, deverá refazer a disciplina. Por outro lado, o funcionário não
é claro o suficiente para explicar que não poderia ficar ou até mesmo dar
alternativas, cedendo ao pedido sem muito esforço. Podemos nos perguntar: como
será a reação desse funcionário quando seu líder não estiver presente? Será que vai
assumir sua responsabilidade em ter dito sim sem argumentar ou vai colocar a
culpa no líder e na empresa? E, se ele optar em não assumir sua responsabilidade,
será que não daria sua versão para seus pares, familiares e até clientes,
demonstrando seu descontentamento? Todos têm comportamento passivo, pois é
necessário utilizá-lo, conscientemente, mas se for uma constante, merece ser
repensado.
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VOCÊ SABIA?
O que é Grau de Assertividade? Ele varia conforme a situação em que a pessoa estiver envolvida.
Pode ser alto ou baixo. Ter um baixo grau, não significa que a pessoa é passiva, mas sim que,
dependendo da situação, pode agir com um comportamento passivo (abrindo mão de seus
direitos), ou mesmo agressivo, sendo inflexível e rígido. Quanto existe alto grau de assertividade, o
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indivíduo procura não se deixar levar pela pressão da situação. Pensa antes de falar, procura a
melhor opção, tem um controle emocional mais refinado, sabe escutar e ouvir e sabe ser flexível
quando necessário.
2.2.5 Resiliência
A administração é uma ciência relativamente nova e que tomou emprestado vários
conceitos de outras ciências, como a resiliência. Utilizado na física e na psicologia,
para a primeira é a capacidade que um corpo tem de, após ser submetido a um
processo de estresse, retornar ao seu estado original ou sofrer ruptura. Para a
segunda, é a capacidade do indivíduo em superar seus problemas sem ceder à
pressão e ter força e coragem para superar as diversidades. Na administração, está
muito ligado aos processos de gestão de mudanças, onde exige uma forte dose de
controle emocional para lidar com as ações que não ocorrem conforme o
planejado.
VOCÊ O CONHECE?
Steve Jobs pode ser considerado um bom exemplo de resiliência. Ao longo de sua vida, passou por três
momentos delicados, os quais poderiam tê-lo feito desistir, mas soube se reerguer. O primeiro ao ser
adotado, pois seus pais biológicos não tinham condições de criá-lo. O segundo, já tendo fundado e na
função de presidente da Apple, foi demitido de sua própria empresa. Criou forças e fundou a Pixar, que
fez muito sucesso. Posteriormente, foi negociada com a Apple e Jobs retomou seu posto de presidente.
O terceiro momento foi quando descobriu um câncer no pâncreas. Não desistiu e procurou vencê-lo.
Infelizmente foi levado pela doença, mas lutou até o final.
Como podemos notar, a visão das três ciências para o termo resiliência são muito
próximas. Praticamente o que muda é o objeto de estudo para qual o termo foi
empregado. Em resumo, ser resiliente, seja na psicologia ou na administração, é
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para uns e seja motivo de ficar na equipe, para outros. Mas e para produtos, serviços
e empresas? Será que o tipo de confiança é o mesmo? Podemos afirmar que não.
Então, o que é confiança? Por ser um tema estudado por várias ciências e diversos
investigadores, a complexidade em fechamos uma definição única não é pequena,
todavia, um dos conceitos mais utilizados na literatura é “a disposição de uma
parte ficar vulnerável às ações da outra parte com base na expectativa que a outra
desempenhe uma ação particularmente importante para o confiante,
independente da capacidade de monitorar ou controlar a outra parte”. (MAYER et
al., 1995, p.712)
Vamos explicar melhor usando os termos da definição. Imagine que seu melhor
amigo lhe peça dinheiro emprestado, com a promessa de pagar em um mês, e você
empresta, pois confia. A parte vulnerável nessa situação não é seu amigo, mas sim
você, que confia nele, ou seja, não irá controlá-lo, como, por exemplo, enviar
mensagens diárias sobre o prazo de pagamento, mas tem a expectativa de que ele
irá cumprir a ação de lhe pagar. Ocorre que, se a expectativa da promessa não for
realizada, ou seja, se seu amigo atrasa ou não paga, pode abalar a relação de
confiança e, se ele precisar novamente, provavelmente você dará alguma desculpa
para não emprestar. Portanto, confiança engloba os sentimentos de
vulnerabilidade de quem confia; incertezas de que a promessa será cumprida e
riscos de não ser realizada a promessa.
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Figura 4 -
Componentes da confiança. Fonte: Elaborada pelo autor, baseado em MAYER; DAVIS; SCHOOMAN
(1995) e PIRSON; MALHOTRA (2010).
Agora, vamos entender cada um dos componentes propostos por Mayer; Davis;
Schooman (1995) e Pirson; Malhotra (2010).
Benevolência: corresponde à relação de boa vontade entre as partes. Ocorre
quando não existe somente uma visão com retorno financeiro ou algum tipo
de recompensa externa. Em uma organização que atua com mentoria, por
exemplo, é comum perceber essa relação.
Habilidade técnica: competências e habilidades que permitem uma parte
influenciar a outra por sua visão técnica-instrumental. Por exemplo, pode ser
uma pessoa ou empresa que você procura porque acredita que seus
conhecimentos e habilidades em determinada função se destacam em
relação às demais.
Habilidade gerencial: competências e habilidades que permitem uma parte
influenciar a outra em decorrência das habilidades na gestão. Atitudes
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Figura 5 - Componentes da I.S. Fonte: Elaborado pelo autor, baseado em GOLEMAN, 2007.
Como já deve ter percebido, a I.E está presente na I.S., já que estamos dentro de um
mesmo organismo vivo e um mesmo cérebro. Agora, vamos entender as principais
habilidades da I.S.
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CASO
Em um bairro, as crianças costumam jogar bola todos os finais de semana e já se conhecem há
tempos. Como não possuem uniformes, distinguem os times em “com camisa” e “sem camisa”. A
escolha dos participantes para cada time tem início a partir dos dois capitães, iniciando por parte
do garoto que ganha o par ou ímpar. Um garoto que recentemente mudou para o bairro, resolveu
participar do jogo, mas ficou como o último a ser escolhido. Com pouca familiaridade com a bola,
não era bem aceito pelos demais, principalmente por um deles, que o repudiava com sarcasmo e
voz de desprezo. Nessa situação, o garoto novo, poderia partir para um confronto direto, mas
resolve parar, pensar e volta-se para o grupo e responde: “pessoal, tenho visto vocês jogarem bola e
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já sei que são ótimos e é por isto que gostaria de jogar. Para, quem sabe, ser como vocês um dia.
Mas gostaria que soubessem que sou muito bom com jogos eletrônicos e posso ensinar muitos
truques também”.
Perceba no caso, que o novo componente, poderia ter partido para o confronto,
mas o que fez foi transformar uma visível pressão social em uma possível relação de
amizade (I.S.), gerenciando suas emoções (I.E), com assertividade e transformando
uma relação hostil em algo positivo.
Síntese
Esperamos que tenha gostado do capítulo. Vimos vários assuntos que, se bem
geridos, poderão melhorar o desempenho profissional e a vida
pessoal. Respondendo ao título do capítulo, pessoas felizes produzem mais e
melhor. Aliás, tudo que fazemos felizes, fazemos melhor.
Neste capítulo, você teve a oportunidade de:
entender as diferenças entre os conceitos de sentimento, emoções e humores
e o quanto as emoções influenciam em nossa vida pessoal e profissional;
fazer uma reflexão importante sobre a personalidade e seus traços e a
influência das emoções na formação da personalidade, originária da biologia,
mas principalmente do ambiente e das situações;
explicar a importância da I.E. no contexto organizacional e pessoal e o
controle das emoções, fundamental para quem quer ser um líder de
excelência;
conhecer mais a fundo os conceitos das emoções, personalidade e I.E.
avançamos para os tipos de comportamentos, onde ressaltamos que a
assertividade e a resiliência são fatores chaves para um bom relacionamento,
firme e duradouro;
entender o conceito do que seria confiar em alguém ou em um organização;
investigar um pouco o conceito da I.S., que ajuda a construir e manter os
relacionamentos.
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