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Ecossistema Bucal

Ecossistema é o conjunto formado pelos seres vivos e os elementos ambientais, sendo assim, o ecossistema bucal é
representado pelos micro-organismos e o hábitat bucal.

Fatores abióticos e Fatores bióticos

Fatores abióticos: Na cavidade bucal o hábitat é representado pelas estruturas anatômicas da região, incluindo
mucosas de revestimento, dentes e sulco gengival.

Entre os fatores abióticos incluem-se temperatura, umidade, potencial hidrogênio-iônico (pH) e potencial de
oxidorredução (Eh).

Fatores bióticos: Constituídos pelos microorganismos que vivem no hábitat.

Estudo da influência do ambiente bucal sobre os microorganismos é denominado ecologia bucal. Ecologia pode ser
definida como o estudo da inter-relação dos seres vivos com o ambiente (do grego óikos significa “casa ou
habitação”).

Classificação da microbiota:

❑ Residente

▪ grupo relativamente fixo ;

▪ microbiota permanente, autóctone ou normal;

▪ estão presentes em números elevados (acima de 1%) em cada sítio específico.

❑ Suplementar

▪ estão sempre presentes, porém em baixo número (abaixo de 1%), e que podem aumentar, caso ocorram alterações
no meio ambiente.

❑ Transitória

▪ micro-organismos não patogênicos, ou potencialmente patogênicos, que habitam a pele ou a mucosa durante
horas, dias ou semanas.

▪ são geralmente de pouca importância, desde que a microbiota residente permaneça íntegra.

Aquisição da microbiota:

Poucas horas após o nascimento, micro-organismos podem ser encontrados: S. salivarius e S. mitior aparecem em
maior frequência, perfazendo 70% dos cultiváveis. No segundo dia de vida, em torno de 15% das crianças ainda
apresentam a cavidade bucal estéril. Estreptococos representam 98% dos viáveis e estafilococos aparecem em menor
número.

A erupção dos dentes introduz outros hábitats como as superfícies lisas, fóssulas e fissuras dos dentes e sulco
gengival.

Inicialmente, acompanhando a erupção dos primeiros dentes, fixa-se Streptococcus sanguis e Streptococcus mutans.

Sucessão microbiana: Alogênica e Autogênica

Alogênica

▪ É a substituição de um tipo de comunidade por outra porque o hábitat foi alterado por fatores não microbianos (por
exemplo, alterações nas condições locais do meio ou por modificações no hospedeiro).

▪ O nascimento é o primeiro dos eventos ambientais que influenciam a sucessão microbiana no interior da boca.

▪ Outras alterações podem resultar do crescimento do hospedeiro, erupção e perda de dentes, inserção de
restaurações dentárias e aparelhos, mudanças nos hábitos alimentares, procedimentos de higiene bucal, moléstias
nos tecidos moles ou duros da boca, doenças sistêmicas, mudanças hormonais, e uso de fármacos, entre outras
Autogênica

▪ Ocorre quando a comunidade residente altera o meio de tal forma que é substituída por outras espécies mais
adaptadas ao hábitat modificado.

▪ Desse modo, os pioneiros criaram um meio que é mais favorável para a proliferação dos invasores secundários ou
que resulta num hábitat que se torna cada vez mais desfavorável a eles próprios (por exemplo, pela remoção de
nutrientes ou pela formação de ácidos ou outros produtos inibitórios).

Mecanismo de aderência dos micro-organismos bucais: Adesivo e Não adesivo

Adesivo

▪ Na retenção adesiva os micro-organismos utilizam-se de mecanismos que possibilitam que se tornem-se aderidas à
superfície dos tecidos bucais.

▪ Os principais mecanismos de retenção são representados por: glicocálice bacteriano, presença de pili ou fímbrias,
adesinas, camada de hidratação, formação de polímeros bacterianos extracelulares, utilização de polímeros salivares
e a aderência entre micro-organismos de mesma espécie ou de espécies diferentes.

Não adesivo

▪ A retenção não adesiva ocorre por retenção mecânica nas fossas, fissuras de dentes, lesões de cárie, sulco gengival
ou bolsa periodontal. Exemplos: lactobacilos, espiroquetas, fungos e Prevotella melaninogenica.

Classificação dos micro-organismos quanto à atividade funcional

Acidogênicos:

▪ São representados por micro-organismos que elaboram ácidos a partir de carboidratos. Bactérias acidogênicas
estão frequentemente associadas com a etiologia da cárie dentária, pois a lesão de cárie consiste na
desmineralização dos tecidos duros dentários por ácidos orgânicos. Exemplos: lactobacilos e alguns estreptococos.

Acidúricos:

▪ São micro-organismos que sobrevivem em pH ácido. Bactérias acidúricas também estão frequentemente
relacionadas com cárie dentária. Esses micro-organismos toleram pH inferior a 5,5, que é próprio do ecossistema da
cárie. Exemplos: lactobacilos, certos estreptococos e leveduras.

Proteolíticos:

▪ Micro-organismos que utilizam proteínas para seu metabolismo. Degradam proteínas, podendo levar à destruição
tecidual. Estão geralmente associados com doença periodontal. Exemplos: Prevotella melaninogenica.

Grupo mutans

Streptococcus mutans:

O hábitat primário é a superfície dos dentes, onde a colonização é favorecida por dieta rica em sacarose. Produzem
polissacarídeos extracelulares (glicanos solúveis e insolúveis em água e frutanos) e intracelulares. Produzem ácidos
de vários carboidratos. Apresentam um de três antígenos polissacarídicos c, e ou f. São resistentes à bacitracina (0,2
UI/mL).

BIOFILMES MICROBIANOS
CONCEITOS

▪ Naturalmente, após a higienização dental, grupos de bactérias se aderem à superfície dental, formando uma
comunidade microbiana embebida em uma matriz de polímeros extracelulares derivada do metabolismo das células
e do meio ambiente (saliva).
▪ Essa comunidade microbiana que cresce aderida às superfícies dentais recebe o nome de biofilme dental (ou placa
dental bacteriana).

▪ A microbiologia se preocupa em estudar os mecanismos fisiológicos e de controle entre as formas microbianas


planctônicas (livre) e sésseis (biofilme), por sua grande importância nas atividades humanas.

FORMAÇÃO DO BIOFILME DENTAL

▪ A colonização de um habitat (no caso, a superfície dental) é um processo complexo que envolve não apenas
interações entre as bactérias e o hospedeiro, mas também interações interbacterianas.

▪ Quando as condições ambientais são favoráveis, esses MO crescem formando uma comunidade.

▪ À medida que a comunidade se desenvolve, as características do ambiente também são alteradas, mudando a
composição dessa comunidade microbiana, que também podem ser induzidas por mudanças no ambiente externo. ▪
Essa alteração na composição microbiana que ocorre em decorrência do tempo é chamada sucessão microbiana.

▪ Há um aumento na diversidade das populações na comunidade até que ela esteja em equilíbrio com seu ambiente,
o que recebe o nome de comunidade clímax. ▪ Essa estabilidade, representada pelo equilíbrio dinâmico entre a
microbiota e as condições ambientais locais, é denominada homeostasia microbiana.

▪ A formação do biofilme dental pode ser dividida em estágios:

a) formação de película adquirida (PA);

b) adesão de bactérias à superfície dental;

c) coagregação bacteriana;

d) multiplicação e sucessão microbiana.

FORMAÇÃO DO BIOFILME DENTAL - Formação da película adquirida

▪ Logo após a escovação dental, os dentes são naturalmente recobertos por uma camada proteica e acelular
(composta por glicoproteínas salivares, fosfoproteínas, lipídeos, proteínas do tipo amilase, lisozima, peroxidase, IgA e
IgG, mucinas, glicosiltransferases, proteínas ricas em prolina e até produtos de origem bacteriana) denominada
película.

▪ Essas moléculas formadoras da PA atuam como receptores, permitindo a adesão seletiva de determinados MO à
superfície dental.

FORMAÇÃO DO BIOFILME DENTAL - Adesão de bactérias à superfície dental

▪ Streptococcus sanguinis, S. oralis, S. mitis e S. gordonii são os


colonizadores primários e aderem à superfície dental até 2 horas após
a formação da película.

▪ Essas espécies representam 95% dos estreptococos e 56% da


microbiota inicial. Adesão de bactérias à superfície dental.

▪ S. sanguinis, S. oralis, S. mitis e S. gordonii são os colonizadores


primários e aderem à superfície dental até 2 horas após a formação
da película. ▪ Essas espécies representam 95% dos estreptococos e
56% da microbiota inicial.

▪ Além desses MO, a microbiota inicial também é composta por Actinomyces e bactérias Gramnegativas, como
Neisseria.

▪ EGM (estreptococos grupo mutans) representam apenas 2% ou menos dos estreptococos colonizadores iniciais.

▪ Haemophilus spp., Capnocytophaga spp., Prevotella spp. e Veillonella spp. também podem estar presentes.

▪ Existe uma fase adaptativa (sem multiplicação celular) antes que a colonização pelas bactérias prossiga.

▪ Um rápido aumento no número de bactérias só é observado depois de 8 a 12 horas. As bactérias se espalham pela
superfície em uma única camada.

▪ Em algumas regiões, os MO formam multicamadas, nas quais esses MO são embebidos em uma matriz
intermicrobiana.

ORMAÇÃO DO BIOFILME DENTAL - Coagregação bacteriana

▪ A coagregação é o reconhecimento célula a célula.

▪ Frequentemente envolve ligações do tipo lectina.

▪ As lectinas são proteínas expressas por alguns MO que permitem sua ligação a carboidratos localizados na
superfície de outras bactérias.

▪ Durante a formação do biofilme dental, notam-se que as bactérias do gênero Fusobacterium se coagregam com a
maior parte dos demais gêneros de bactérias.

FORMAÇÃO DO BIOFILME DENTAL - Multiplicação e sucessão bacteriana

▪ Uma vez estabelecidas na superfície dental, as bactérias começam a se


multiplicar, mas a taxa e crescimento muda à medida em que o biofilme
amadurece.

▪ Nas interações microbianas, as cadeias metabólicas desenvolvidas entre


as bactérias criam condições apropriadas para a colonização do biofilme
por outras espécies bacterianas.

▪ Um exemplo disso é o consumo de oxigênio pelas espécies aeróbicas e


anaeróbicas facultativas, o que favorece o crescimento de bactérias
anaeróbicas obrigatórias.
a. Associação: mediante atração física, as bactérias depositam-se sobre a superfície dental, ainda relativamente
livres.
b. Adesão: no início da colonização bacteriana, poucas bactérias são capazes de fixar-se fortemente, graças a
moléculas especiais receptoras de película (adesinas) presentes na superfície, sobretudo de estreptococos e
actinomicetos. Nessas primeiras bactérias colonizadoras irão fixar-se outros MO.
c. Proliferação: que é base para a formação de...
d. .Microcolônias: muitos estreptococos produzem polissacarídeos extracelulares (dextranos e levanos), que
servem como proteção às bactérias.
e. Biofilme (=placa aderida): as microcolônias agrupam-se formando complexos, o que favorece o metabolismo
das bactérias.
f. Crescimento/amadurecimento da placa: no biofilme forma-se um sistema circulatório. Os MO podem trocar
produtos metabólicos e fatores de resistência e virulência, a placa começa a agir como um organismo.
g. Crescimento/amadurecimento da placa: A quantidade de MO anaeróbios aumenta.
h. A defesa do hospedeiro é ativada por metabólicos e os componentes da parede celular expelidos (LPS). As
bactérias estão agora protegidas contra os fagócitos.

▪ Estima-se que a cavidade bucal seja composta por mais de 700 espécies bacterianas. ▪ Cada uma dessas, pode
se apresentar com fenótipo ou genótipos distintos, possuindo diferentes capacidades de virulência. ▪ A
comunidade microbiana bucal é a mais complexa do corpo humano.

▪ Em qualquer ecossistema, a homeostasia microbiana pode ser alterada por qualquer modificação em fatores
que são críticos para a manutenção da estabilidade ecológica.

▪ No caso da cavidade bucal, o principal fator responsável pela ruptura da homeostase microbiana é a dieta e má
higiene Bucal.

▪ No caso da placa dental ecológica, os MO potencialmente cariogêncos são pouco competitivos e estão
presentes em baixas concentrações.

▪ Quanto maior a frequência de ingestão de açúcares fermentáveis, mais tempo o pH do biofilme permanece
reduzido que reduz o crescimento de MO que não toleram esse ambiente.

▪ Os MO que são mais ácidos tolerantes tornam-se mais competitivos, tendo sua proporção elevada no biofilme.

COMPOSIÇÃO MICROBIANA DO BIOFILME DENTAL - Streptococcus mutans

▪ Bactéria cidúrica e acidogênica.


▪ Utiliza sacarose para a produção de polímeros extracelulares.

▪ Essa síntese ocorre pela ação das glicosiltransferases, enzimas produzidas pelo S. mutans que clivam moléculas
de sacarose (em glicose e frutose).

▪ Essas enzimas utilizam a glicose para sintetizar polímeros extracelulares (polissacarídeos extracelulares
insolúveis), que formam a matriz do biofilme.

▪ Os MO necessitam de mecanismos adaptativos que os tornem tolerantes a variações nas condições ambientais
como mudança de pH.

▪ Um dos mecanismos relacionados à aciduricidade do S. mutans é a atividade da bomba F-ATPase.

▪ Essa bomba está localizada na membrana celular dessas bactérias.

▪ Quando há metabolização dos açúcares presente na dieta, há produção de ácidos e os íons se difundem para o
meio intracelular bacteriano.

▪ A bomba F-ATPase (que é uma proteína) que bombeia esses íons para fora da célula, mantendo o pH
intracelular em níveis fisiológicos.

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